Índice . Prefácio………………………………. 2 . Poemas de Manuel Alegre…………… 4 . Poemas……………………………….. 6 . Músicas………………………………. 10
Prefácio Este livro foi proposto pela professora da disciplina de português e constitui um conjunto de diversos poemas de diferentes autores sobre o 25 de Abril. Visto que a escolha do tema era inteiramente livre, nós decidimos escolher este tema, pois é uma época histórica do nosso país bastante importante e que nunca deixa de ser actual, achámos também que existia um vasto conjunto de textos sobre o assunto retratando aos olhos de cada poeta a sociedade de então. São muitos os poemas que fazem parte deste livro, escritos por poetas de bastante prestigio no nosso país, como Manuel Alegre, Sophia de Mello Breyner Andersen, José fanha, entre outros. Mas não é só de poemas que este livro é formado, mas também de algumas canções escritas naquela altura (década de 70), as quais ainda hoje são ouvidas e admiradas por muita gente.
ABRIL DE ABRIL Manuel Alegre
A Rapariga do País de Abril
Era um Abril de amigo Abril de trigo Abril de trevo e trégua e vinho e húmus Abril de novos ritmos novos rumos.
Habito o sol dentro de ti descubro a terra aprendo o mar rio acima rio abaixo vou remando por esse Tejo aberto no teu corpo.
Era um Abril comigo Abril contigo ainda só ardor e sem ardil Abril sem adjectivo Abril de Abril. Era um Abril na praça Abril de massas era um Abril na rua Abril a rodos Abril de sol que nasce para todos. Abril de vinho e sonho em nossas taças era um Abril de clava Abril em acto em mil novecentos e setenta e quatro. Era um Abril viril Abril tão bravo Abril de boca a abrir-se Abril palavra esse Abril em que Abril se libertava. Era um Abril de clava Abril de cravo Abril de mão na mão e sem fantasmas esse Abril em que Abril floriu nas armas.
Manuel Alegre
E sou metade camponês metade marinheiro apascento meus sonhos iço as velas sobre o teu corpo que de certo modo é um país marítimo com árvores no meio. Tu és meu vinho. Tu és meu pão. Guitarra e fruta. Melodia. A mesma melodia destas noites enlouquecidas pela brisa no País de Abril. E eu procurava-te nas pontes da tristeza cantava adivinhando-te cantava quando o País de Abril se vestia de ti e eu perguntava atónito quem eras. Por ti cheguei ao longe aqui tão perto e vi um chão puro: algarves de ternura. Qaundo vieste tudo ficou certo e achei achando-te o País de Abril.
Abril de Sim Abril de Não Manuel Alegre Eu vi Abril por fora e Abril por dentro vi o Abril que foi e Abril de agora eu vi Abril em festa e Abril lamento Abril como quem ri como quem chora. Eu vi chorar Abril e Abril partir vi o Abril de sim e Abril de não Abril que já não é Abril por vir e como tudo o mais contradição. Vi o Abril que ganha e Abril que perde Abril que foi Abril e o que não foi eu vi Abril de ser e de não ser. Abril de Abril vestido (Abril tão verde) Abril de Abril despido (Abril que dói) Abril já feito. E ainda por fazer.
Explicação do País de Abril Manuel Alegre País de Abril é o sítio do poema. Não fica nos terraços da saudade não fica nas longas terras. Fica exactamente aqui tão perto que parece longe. Tem pinheiros e mar tem rios tem muita gente e muita solidão dias de festa que são dias tristes às avessas é rua e sonho é dolorosa intimidade. Não procurem nos livros que não vem nos livros País de Abril fica no ventre das manhãs fica na mágoa de o sabermos tão presente que nos torna doentes sua ausência. País de Abril é muito mais que pura geografia é muito mais que estradas pontes monumentos viaja-se por dentro e tem caminhos veias - os carris infinitos dos comboios da vida. País de Abril é uma saudade de vindima é terra e sonho e melodia de ser terra e sonho território de fruta no pomar das veias onde operários erguem as cidades do poema. Não procurem na História que não ven na História. País de Abril fica no sol interior das uvas fica à distância de um só gesto os ventos dizem que basta apenas estender a mão. País de Abril tem gente que não sabe ler os avisos secretos do poema. Por isso é que o poema aprende a voz dos ventos para falar aos homens do País de Abril. Mais aprende que o mundo é do tamanho que os homens queiram que o mundo tenha: o tamanho que os ventos dão aos homens quando sopram à noite no País de Abril.
Liberdade Sérgio Godinho Viemos com o peso do passado e da semente esperar tantos anos torna tudo mais urgente e a sede de uma espera só se ataca na torrente e a sede de uma espera só se ataca na torrente Vivemos tantos anos a falar pela calada só se pode querer tudo quanto não se teve nada só se quer a vida cheia quem teve vida parada só se quer a vida cheia quem teve vida parada Só há liberdade a sério quando houver a paz o pão habitação saúde educação só há liberdade a sério quando houver liberdade de mudar e decidir quando pertencer ao povo o que o povo produzir.
Para Aquém de Abril Francisco Duarte Entardeceram nos umbrais da aurora as memórias do teu rosto Abril... Nunca mais soprou o vento depois de Novembro a vida petrificou-se na inconstância do rio... não mais navegam o teu sorriso de florestas virgens Hoje passeio atónito na neblina das montanhas fluir no tempo na inércia da aventura sonhar parado no caminho em movimento vir à estrada e saber oscilar no horizonte ser a terra o mar o sol e a boca cantar poema aberto esperança viva olhar o homem disperso e cantá-lo com a herança do ventre reinvento-me e não passo da superfície deste mar austero nos flancos do dia arde o inatingível torno a inventar (o desfraldar das areias vai-se consumindo até que o sol nasça)
De Coração e Raça Sérgio Godinho "Sou português de coração e raça Não há talvez maior fortuna e graça" Sou português de coração e raça meio século comido pela traça fechados numa caixa e agora ou vai ou racha e agora ou vai ou racha Agora vamos é ser donos do nosso trabalhar em vez de andar para alugar com escritos na camisa e o dinheiro que desliza do salário para a despesa compro cama vendo mesa deito contas à pobreza Sou português de coração e raça meio século comido pela traça fechados numa caixa e agora ou vai ou racha e agora ou vai ou racha Agora vamos é ser donos do nosso produzir em vez de ter que partir com escritos numa mala e a idade que resvala do nascimento para a morte vou para o leste perco o norte e o meu corpo é passaporte Sou português de coração e raça meio século comido pela traça fechados numa caixa e agora ou vai ou racha e agora ou vai ou racha
25 de Abril Sophia de Mello Breyner Andresen Esta é a madrugada que eu esperava O dia inicial inteiro e limpo Onde emergimos da noite e do silêncio E livres habitamos a substância do tempo.
Eu Sou Português Aqui José Fanha Eu sou português aqui em terra e fome talhado feito de barro e carvão rasgado pelo vento norte amante certo da morte no silêncio da agressão. Eu sou português aqui mas nascido deste lado do lado de cá da vida do lado do sofrimento da miséria repetida do pé descalço do vento. Nasci deste lado da cidade nesta margem no meio da tempestade durante o reino do medo. Sempre a apostar na viagem quando os frutos amargavam e o luar sabia a azedo. Eu sou português aqui no teatro mentiroso mas afinal verdadeiro na finta fácil no gozo no sorriso doloroso no gingar dum marinheiro. Nasci deste lado da ternura do coração esfarrapado eu sou filho da aventura da anedota do acaso campeão do improviso trago as mão sujas de sangue
que empapa a terra que piso. Eu sou português aqui na brilhantina em que embrulho, do alto da minha esquina a conversa e a borrasca eu sou filho do sarilho do gesto desmesurado nos cordéis do desenrasca. Nasci aqui no mês de Abril quando esqueci toda a saudade e comecei a inventar em cada gesto a liberdade. Nasci aqui ao pé do mar duma garganta magoada no cantar. Eu sou a festa inacabada quase ausente eu sou a briga a luta antiga renovada ainda urgente. Eu sou português aqui o português sem mestre mas com jeito. Eu sou português aqui e trago o mês de Abril a voar dentro do peito.
O Dia da Liberdade José Jorge Letria Este dia é um canteiro com flores todo o ano e veleiros lá ao largo navegando a todo o pano. E assim se lembra outro dia febril que em tempos mudou a história numa madrugada de Abril, quando os meninos de hoje ainda não tinham nascido e a nossa liberdade era um fruto prometido, tantas vezes proibido, que tinha o sabor secreto da esperança e do afecto e dos amigos todos juntos debaixo do mesmo tecto.
GRÂNDOLA VILA MORENA
E Depois do Adeus Paulo de Carvalho
José Afonso
Grândola, vila morena Terra da fraternidade O povo é quem mais ordena Dentro de ti, ó cidade Dentro de ti, ó cidade O povo é quem mais ordena Terra da fraternidade Grândola, vila morena Em cada esquina um amigo Em cada rosto igualdade Grândola, vila morena Terra da fraternidade Terra da fraternidade Grândola, vila morena Em cada rosto igualdade O povo é quem mais ordena À sombra duma azinheira Que já não sabia a idade Jurei ter por companheira Grândola a tua vontade.
Quis saber quem sou O que faço aqui Quem me abandonou De quem me esqueci Perguntei por mim Quis saber de nós Mas o mar Não me traz Tua voz. Em silêncio, amor Em tristeza e fim Eu te sinto, em flor Eu te sofro, em mim Eu te lembro, assim Partir é morrer Como amar É ganhar E perder Tu vieste em flor Eu te desfolhei Tu te deste em amor Eu nada te dei Em teu corpo, amor Eu adormeci Morri nele E ao morrer Renasci E depois do amor E depois de nós O dizer adeus O ficarmos sós Teu lugar a mais Tua ausência em mim Tua paz Que perdi Minha dor que aprendi De novo vieste em flor Te desfolhei... E depois do amor E depois de nós O adeus O ficarmos sós