Oficina de Gravura
2005
O Centro de Pesquisa em Gravura, Instituto de Artes, UNICAMP propõe, para o programa Ciências nas Férias, uma atividade didática e de difusão de conhecimento através de uma oficina de gravura concebida e coordenada pela Profa. Dra. Lygia Arcuri Eluf e conduzida por alunos do curso de graduação e pósgraduação em Artes Plásticas. Nosso objetivo é levar aos estudantes de ensino médio das escolas públicas de Campinas informações sobre os meios de gravação e impressão de imagens em duas das técnicas tradicionais: a xilogravura e a linoleogravura. Os alunos aprenderão a gravar, imprimir e encadernar as gravuras produzidas. Além da oficina estão programadas pequenas palestras onde serão introduzidos os conteúdos específicos sobre os procedimentos gráficos e sobre a pesquisa em arte na Universidade. Pretendemos ainda com esse trabalho resgatar a importância da imagem impressa como meio de transmissão de conhecimento e como ferramenta fundamental para a história do homem.
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Apresentação: introdução histórica Existem dois procedimentos principais de gravura: a gravura em relevo e a gravura em encavo, ou em côncavo. No final do século XIV e início do XV surge na Europa a xilogravura , a técnica mais conhecida de gravura em relevo, que é executada sobre madeira. Não se sabe exatamente quando ou onde surgiram as primeiras manifestações gráficas dessa natureza. E provável que a nova técnica tenha surgido simultaneamente em diversos lugares da Europa. Antes do fim do século XV surge a águaforte, a principal técnica da gravura em encavo. Se voltarmos no tempo, nos primórdios da imagem gravada e impressa, remeteremos nossa conversa para a descoberta dos tipos móveis, em 1440, que permitiu a impressão de palavras, e consequentemente a impressão de livros. Na metade da década seguinte imprimiu-se a Bíblia de Gutenberg. Em 1480 surge o primeiro livro impresso de botânica ilustrado por xilogravuras feitas a partir de imagens desenhadas no século IX, que guardavam pouca ou quase nenhuma relação com os objetos que representavam. Em 1485 publicou-se o primeiro tratado de botânica com imagens desenhadas utilizando-se como modelo as próprias plantas. Em 1486 surge a primeira impressão a três cores e no século seguinte saiam das prensas européias, em quantidades cada vez maiores, livros ilustrados de todos os tipos: arquitetura, botânica, anatomia, zoologia, técnicas e ofícios. A estampa impressa havia iniciado sua tarefa de transmitir um tipo de informação que antes disso nunca havia circulado. Os livros com simbolos e palavras que se repetem e se estruturam numa ordem que também se repete: essa impressão e repetição exata de manifestações gráficas tem um valor incalculável para as idéias, o conhecimento, a ciência e a tecnologia. Trata-se de um fenômeno sem precedentes: os homens começaram a se acostumar com as imagens que repetiam as mesmas informações e começa a ser possível a transmissão de uma informação visual invariável de coisas que as palavras são incapazes de descrever ou definir. Nos séculos seguintes a gravura foi se tornando aos poucos um dos mais importantes meios expressivos para diversos artistas. Surgiram novas técnicas, novos procedimentos. Todas as inovações técnicas que surgiram foram resultado não apenas de uma necessidade de veicular novas informações, mas também, e principalmente, resultado de necessidades expressivas especificas que nos legaram imagens de grande valor estético.
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Xilogravura do Ars Moriendi, um exemplo da impress達o tabular (imagem e texto na mesma matriz). A arte de Bem morrer. Impresso em Ulm, na Alemanha, por volta de 1450.
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Os países mais atrasados do mundo são e tem sido aqueles que não aprenderam a aproveitar plenamente as possibilidades de manifestação e comunicação gráficas. Muitas das idéias e características de nossa civilização ocidental estão intrinsecamente relacionadas com nossa capacidade para repetir exatamente essas comunicações gráficas, fundamentais para o desenvolvimento científico e tecnológico além da difusão de idéias e cultura.
Vista da cidade de Nuremberg, do livro “Crônica do Mundo”, impresso nesta cidade em 1493. Conhecido como as Crônicas de Nuremberg, o livro possui mais de mil xilogravuras.
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Imagem: construção e transmissão de conhecimento
Para que possamos compreender a importância da construção de imagens como forma de conhecimento e de construção da cultura e do pensamento humano é importante tratar brevemente de uma característica específica do ser humano que vem a ser a capacidade de simbolizar. Dito de maneira bastante simples, a habilidade de apreender por meio dos sentidos formas do mundo e construir simbolos que as representem. O homem desenvolveu muitas maneiras de simbolizar estas formas do mundo que apreende, mas de todas elas as mais importantes são as palavras e as imagens visuais. Sendo que, destas, a única que écapaz de captar características muito particulares de cada objeto é a imagem visual. Este método de construção do símbolo "imagem", é feito a partir da apreensão de informações através do sentido da visão; a apreensão deste símbolo pelo homem também acontece por meio da visao. O mesmo não ocorre com as palavras que são construídas a partir de informações que nos chegam através de diferentes sentidos e podem ser apreendidas tanto pela visão como pela fala. Este assunto é bastante complexo e o mais importante é deixar enfatizado que o desenvolvimento da capacidade de simbolizar através de imagens deu ao homem a possibilidade de organizar conhecimentos, tanto de ordem genérica (como as classificaçôes botânicas feitas por meio de desenhos) e de ordem específica (como as pinturas de artistas representado seus próprios retratos).
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A possibilidade de elaborar conhecimentos específicos do mundo através da construção de imagens ganhou uma nova dimensão com o surgimento dos procedimentos gráficos, uma vez que isto significou a possibilidade de transmitir os simbolos construídos com as imagens para um maior número de pessoas em diferentes lugares.
Dois exemplos de xilogravura de topo: uma de 1515, O Rinoceronte, por Albrecht Dürer (1471-1528), e a outra do Livro de Aves da Inglaterra, publicado entre 1797-1804, por Thomas Bewick (1753-1828)
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1- A matriz é desenhada com imagem invertida, repare neste caso que a imagem que será gravada será a letra “F”. 2- Depois de gravada com as goivas a matriz ficará com a imagem em relevo. 3- Com o rolo carregado de tinta a matriz é entintada. 4- Quando a matriz já tiver com tinta suficiente, ela receberá o papel que será depositado sobre a matriz. 5- Através de pressão, quer seja por uma colher, quer seja por uma prensa, a tinta é transferida da matriz para o papel. 6- O resultado final é a imagem impressa no papel.
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Procedimentos técnicos Equipamentos básicos de gravação Não se faz uma gravura em relevo sem um material que sirva como matriz, e sem ferramentas cortantes que façam a gravação neste material. Na gravura em relevo utiliza-se tradicionalmente como matriz, ou a madeira, ou o linóleo. No caso desta oficina, o material utilizado como matriz será o linóleo, que é uma mistura de pó de cortiça, resinas e óleo de linhaça, prensados em alta temperatura, sobre um tecido de juta, ficando muito parecido com borracha. As ferramentas utilizadas para se fazer os cortes, ou seja, a gravação, são as goivas. Na realidade, convencionou-se a chamar informalmente o conjunto de ferramentas utilizadas na gravura como goivas, porém nem todas se chamam goivas, sendo utilizadas também a faca e o formão para gravar. O formão é uma ferramenta que tem a sua lâmina reta, servindo para desbastar bordas e fundos, principalmente em matrizes de madeira, sendo pouco útil na gravação do linóleo. A faca é usada principalmente para contornos que se exige o máximo de nitidez. A goiva é como um formão, mas com lâmina curva, que pode ser em forma de “V” ou em forma de “U”. A goiva em “V” é usada para contornos e linhas, e a em “U” é usada principalmente para grandes áreas. Estas ferramentas precisam estar sempre bem afiadas para se conseguir uma boa gravação. Como equipamento adicional, para garantir a liberdade das mãos durante a gravação, sem a necessidade de uma mão ficar segurando a matriz, e principalmente para a segurança do gravador, e dos seus dedos, recomenda-se usar sempre um apoio para a matriz, também chamado de madeira em “S”.
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Gravação Antes de iniciar a gravação da matriz de linóleo, transfere-se o desenho feito em uma folha de papel para a matriz, ou desenha-se diretamente no linóleo, ficando esta escolha a critério do artista. No caso de haver um desenho feito previamente, a maneira mais fácil de transferi-lo para a matriz é com o auxílio de um papel carbono. O primeiro passo, antes de iniciar a gravação, é colocar corretamente a madeira em “S” sobre a mesa de trabalho, e sobre ela a matriz devidamente apoiada. Tendo o desenho na matriz como guia, iniciase o processo de gravação com a escolha da goiva mais adequada para cada tipo corte. A correta manipulação das goivas é fundamental para se obter bons resultados e evitar acidentes. O ideal é segurar a goiva com o auxílio das duas mãos, ficando para a madeira em “S” a função de segurar a matriz, entretanto se o gravador não se adaptar a esta forma de trabalhar, é importante lembrar que a mão que segura a matriz não deve ficar nunca na frente da goiva. Os cortes não precisam ser profundos, a não ser que sejam em grandes áreas brancas que poderão ser sujas pelo rolo. A incisão superficial facilita o domínio da goiva, pois evita que ela escape de forma brusca da matriz e acabe fazendo cortes indesejados.
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Papel e Tinta Na gravura em relevo podem ser usados os mais diferentes tipos de papéis. O papel deve ser escolhido em função da técnica de impressão usada. Quando a impressão for manual, recomendam-se papéis mais finos, que aderem à matriz entintada facilmente e absorvem a tinta com pouca pressão. O papel de seda e o papel jornal são normalmente utilizados em provas intermediárias e o papel japonês na edição final. Na prensa, utilizam-se papéis mais encorpados e resistentes como, por exemplo, o papel canson, ou papéis similares. As tintas para imprimir xilogravura e linoleogravura podem ser à base de água ou à base de óleo. No Oriente é mais comum a utilização das tintas à base de água, e no Ocidente as tintas à base de óleo, principalmente as tintas gráficas, usadas em tipografia ou off-set.
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Impressão A impressão é o estágio final dentro dos processos de gravura, tendo como resultado final a obtenção de uma estampa impressa. A impressão nada mais é do que a transferência da imagem gravada na matriz para o papel. Existem duas maneiras de se imprimir uma gravura em relevo: impressão manual e impressão com prensa. Cada uma delas apresenta características que precisam ser observadas e seguidas para se obter uma boa estampa. O primeiro detalhe a ser observado é o tipo de papel mais adequado para cada tipo de impressão. Em princípio é possível imprimir em qualquer tipo de papel, porém a qualidade da estampa pode ser afetada com o uso de um papel inadequado. Definido o papel, prepara-se a tinta para a impressão que pode ser à base de óleo ou à base de água. A tinta é colocada com uma espátula sobre um vidro e levemente batida. Depois uma parte é espalhada com um rolo de borracha até formar uma camada de tinta, fina e uniforme sobre o vidro. No processo de entintagem corre-se o rolo carregado de tinta sobre a matriz, em várias direções até que a matriz esteja com uma cobertura uniforme de tinta. Ao invés de sobrecarregar o rolo com tinta de uma só vez, é recomendável entintar a matriz com uma camada de tinta mais fina, e voltar a carregar o rolo com tinta, tantas vezes quantas necessárias, até que ela esteja completamente entintada.
Estando a matriz entintada, coloca-se o papel com a sua face para baixo, caso ele tenha lado, sobre o bloco de linóleo. O papel deverá ser levemente pressionado com a mão, do centro para fora, a fim de eliminar eventuais bolhas de ar e garantir a fixação do papel. Para conseguir a mesma posição da imagem no papel em todas as cópias, existem sistemas de registro que marcam a posição da matriz e do papel.
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Para se fazer uma impressão manual utiliza-se uma colher de madeira, que será esfregada sobre o papel fixado na matriz, em todas as direções com movimentos rotativos e pressão constante. Dependendo da transparência do papel, é possível perceber se a impressão está ficando boa ou falhada e voltar com a colher nas áreas imperfeitas. Se o papel for pouco, ou nada transparente, a solução é levantar um lado do papel, sem que o outro lado descole completamente da matriz e assim ver se a impressão está perfeita, caso contrário é só voltar o papel e reforçar com a colher. Esta ação visa a transferência da tinta da matriz para o papel, que em seguida é retirado já impresso. Na impressão manual é possível controlar na pressão colocada na colher a quantidade de tinta que será transferida para o papel, conseguindo assim áreas mais fortes, mais carregadas de tinta, e áreas mais claras com variados tons. Para se fazer uma impressão em prensa vertical é preciso colocar o papel sobre a matriz entintada, que deve ser colocada sobre uma prancha de papelão resistente, ou de madeira com as marcas de registro. Esse procedimento facilita o transporte até a prensa. Sobre tudo se coloca um pedaço de feltro e então é feita a pressão. A prensa vertical é constituída de duas chapas de ferro, horizontais e paralelas, que pressionam o papel contra a matriz através da pressão que uma chapa exerce sobre a outra. A de cima, móvel, desce através da torção de um grande parafuso. Para a impressão na prensa de cilindros, ou horizontal, as marcas de registro poderão estar diretamente na mesa da prensa que irá receber a matriz com o papel. A prensa de cilindros é constituída de dois cilindros de ferro entre os quais passa uma chapa de metal, rígida e bem nivelada, que funciona como uma espécie de mesa da prensa. A matriz entintada com o papel é colocada nesta mesa com um pedaço de feltro sobre tudo. A pressão exercida de um cilindro contra o outro faz com que a mesa se mova de um lado para o outro, quando os cilindros são postos para girar por meio de um motor, ou manualmente. A prensa de cilindros exerce uma pressão mais forte, sendo, portanto, importante tomar cuidado com a regulagem da pressão para que a matriz não seja danificada e o papel deslocado na passagem pelos cilindros. Feita a impressão, o papel é colocado para secar.
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Edição Edição em gravura significa o conjunto de estampas que foram impressas, uma ou mais vezes, a partir de uma matriz. As estampas são selecionadas pela qualidade da impressão e são assinadas e numeradas. Convencionalmente utiliza-se o canto inferior direito para assinatura do artista e o canto inferior esquerdo para a numeração. Estas marcações são todas feitas a lápis. A numeração corresponde ao número de cada exemplar dentro da edição e é anotado como uma fração, onde o numerador indica o número do exemplar e o denominador o total da edição. Por exemplo, em uma edição de 30 cópias, a primeira estampa será a cópia 1/30, a segunda será a 2/30, até a última que será a 30/30. Além da numeração existem outros termos, próprios da gravura, que podem ser anotados no canto inferior esquerdo da imagem. P.A. (prova de artista) – corresponde geralmente a 10% a mais da edição, que são impressas para ficarem com o artista. P.C. (prova de cor) – corresponde à prova impressa para estudos de cor, antes de iniciar a edição. P.E. (prova de estado) – são as provas impressas durante o processo de gravação da matriz, para que o artista possa acompanhar o andamento da imagem e orientar as alterações ou correções a serem feitas, até que a matriz esteja pronta para a edição. P.I. (prova de impressor) – cópia reservada para o impressor da edição, quando esta não é feita pelo próprio artista. B.P.I. (boa para imprimir) – cópia que é impressa, acompanhada pelo artista, para que sirva como modelo de qualidade para o impressor imprimir todas as demais. H.C. (hors commerce) – termo francês que indica que o exemplar está fora de mercado, ou seja, não está a venda. Todas estas inscrições também podem ser numeradas, mas nestes casos ela será com algarismos romano, tendo na frente a indicação de que tipo de prova é aquela. ( por exemplo: P.E. IV/X, ou seja, num total de 10 provas de estado, esta é a quarta).
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1- Uma matriz é gravada somente com o contorno da imagem, que servirá de guia para a confecção das demais matrizes. Na seqüência de impressões, esta matriz será a última a ser impressa. 2- Na segunda matriz é gravada a área que compreende a folha, sendo aqui esta a primeira matriz impressa dentro da seqüência de impressões. 3- Na terceira matriz foi gravada a área da fruta e esta foi a segunda matriz impressa. 4- Com as cores da fruta e da folha impressas, a matriz com o contorno é impressa sobre as demais cores, formando a imagem completa.
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1- A matriz é desenhada. 2- Baseado no desenho, a matriz é cortada e separada como se fosse um quebracabeça. 3- Cada parte é entintada individualmente com a cor correspondente. Depois que cada parte foi entintada, juntam-se as partes reconstituindo assim a matriz. 4- A matriz é impressa então no papel, dando origem a uma imagem colorida.
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Evandro Carlos Jardim. S I BR3 xilogravura
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Amir Brito Cad么r. s/t xilogravura, 30 x 45 cm. 2003
Paula Almozara. Vista do penhasco. xilogravura,16 x 16 cm. 1997
Marcio PĂŠrigo. s/t. xilogravura
Nori Figueiredo. xilogravura,1992. ( 7X10 cm). Gravada em guatambu de topo, madeira brasileira que substitui o buxo europeu.
Oficina de gravura em relevo: xilogravura e linoleogravura
Materiais básicos - Placas de madeira ou linóleo - Goivas, facas, formões e instrumentos cortantes - Pedra para afiar as ferramentas - Tinta para impressão - Espátulas para a preparaçao da tinta - Placa de vidro para a preparação da tinta - Rolo de impressão para a entintagem da matriz - Colher de pau para a impressão manual - Varal para secagem das estampas ou secadeira
Material de limpeza: - Avental - Jornal - Estopa - Escovas, sabão em barra ou pasta - Aguarrás
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GLOSSÁRIO APOIO PARA MATRIZ [ madeira em S ] – Instrumento que segura a matriz na mesa de trabalho, conferindo ao gravador maior liberdade, já que ele não precisará ficar segurando a matriz, além de ser um importante equipamento de segurança no trabalho com a gravura em relevo. BAREN – Instrumento de forma circular, com base plana, feito originalmente de bambu, revestido na sua parte inferior por um material levemente macio e coberto por uma folha de esparto, amarrada na sua parte superior. O baren é usado na impressão manual da gravura em relevo, sendo desenvolvido originalmente pelos japoneses para a impressão de suas xilogravuras.
BURIL – Instrumento de aço temperado, usado na gravação da madeira ou do metal. O buril consiste em uma pequena barra de aço com a ponta cortada numa inclinação de 45°, apresentando uma seção em forma de losango, ou quadrada e raiada na sua face inferior. Esta barra é fixada em um cabo de madeira em forma de cogumelo. Sua forma é feita especialmente para que se possa empunhá-lo da melhor maneira possível. COLHER DE MADEIRA – Colher usada
na impressão manual da gravura em relevo. Pode-se usar qualquer colher, mas as de madeira são melhores, pois deslizam melhor sobre o papel durante a impressão. As colheres feitas especialmente para gravura, apresentam a face que seria originalmente côncava, totalmente plana, criando assim uma face que também poderá ser usada para impressão, além da face convexa. CONTRA-PROVA – Prova realizada a partir de uma imagem já impressa, ou seja, a matriz da contra-prova é uma estampa recém impressa, que poderá ser impressa em uma nova folha de papel, ou em uma matriz de metal ou madeira. A contraprova gera uma imagem que é o inverso da estampa que lhe deu origem, que por sua vez já é o inverso da matriz, tendo assim uma imagem igual à da matriz. CORDEL – Pequenos livros popu lares, tradicionais no nordeste brasileiro, sobre os mais variados temas. Normalmente ilustrados com xilogravuras, os livros apresentam pequenos formatos, já que sua manufatura é praticamente artesanal. A xilogravura é executada de forma primitiva e improvisada, quase sempre por artesãos. E.P.I. – Sigla que significa Equipamento de Proteção Individual. Os equipamentos de proteção são necessários sempre que se trabalha com ferramentas, máquinas, ou substâncias, que coloquem em risco a integridade física ou a saúde da pessoa. No ateliê de gravura, o uso de e.p.i. é necessário, sempre que se utiliza produtos químicos nos processos de gravação. EDIÇÃO [ tiragem ] – Consiste no conjunto
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de estampas impressas a partir de uma ou mais matrizes. Numa edição as estampas devem ser idênticas, estarem numeradas e assinadas. ENTINTAGEM – Etapa do processo de impressão de uma matriz, onde a tinta é depositada sobre a matriz, e posteriormente transferida para o papel mediante pressão. Diferentes tipos de matrizes e técnicas exigem diferentes tipos de entintagem. E S PÁT U L A – I n s t r u m e n t o u s a d o geralmente, na preparação da tinta para impressão. ESTAMPA [ gravura ] – Imagem obtida através da transferência da imagem gravada na matriz, devidamente entintada, para um suporte adequado (normalmente é papel). FORMÃO – Ferramenta cortante utilizada na xilogravura, com a extremidade plana. FROTAGEM – Do francês frotter, que significa esfregar e que designa uma técnica de decalque, pela qual se tira uma impressão direta de um motivo, de uma textura ou imagem em relevo, mediante a colocação de uma folha de papel sobre ele e, a seguir, esfregando de maneira suave e precisa com um crayon ou lápis macio. GOIVA – Ferramenta cortante utilizada na xilogravura, com a extremidade em forma de “U”, ou de “V”.
um verniz usado na gravura, como isolante na gravura em metal, ou como selador na gravura em relevo. GRAVAÇÃO DIRETA – Processo em que a gravação é determinada pela ação direta, do artista ou gravador, sobre a matriz. É pelas mãos do gravador, com o auxílio de uma ferramenta, que a matriz é gravada. GRAVAÇÃO INDIRETA – Processo em que a gravação é determinada pela ação de um mordente, que grava a matriz quimicamente. Por mordente, entendese qualquer substância que, em contato com a matriz, provoque a corrosão da mesma, cabendo neste caso, ao gravador, determinar previamente quais serão as áreas que ficarão expostas à ação do mordente. As áreas que não serão corroídas são protegidas com um verniz isolante. GRAVURA – Termo que se refere ao ato de gravar em material rígido através de cortes e incisões, gerando uma matriz. O termo também se refere às estampas produzidas, ou a atividade artística. GRAVURA EM RELEVO – Processo de gravura que se caracteriza pela gravação de uma matriz plana, através da retirada de material da matriz com ferramenta cortante, determinando assim as áreas que irão receber a tinta, ou seja, a superfície plana da matriz, ficando as áreas entalhadas preservadas, sem receber tinta. GRAVURA ORIGINAL – Gravura criada pelo próprio artista, exclusivamente para este fim. GRAVURA DE REPRODUÇÃO – Gravura executada por um artesão a partir de uma imagem, de um artista ou não, reproduzida por meio da gravura.
GOMA-LACA [ asa de barata ] – Resina depositada por insetos, em várias espécies de árvores na Índia. A goma-laca produz
IMPRESSÃO – Etapa das artes gráficas, em que a tinta depositada na matriz é transferida para o suporte (papel).
IMPRESSOR – Profissional que tem a função de imprimir as gravuras (a edição) para um artista, ou para um editor. LINOLEOGRAVURA [ gravura em relevo ] – Processo de gravura em relevo, que tem como matriz uma placa de linóleo. L I N Ó L E O – Material, parecido com borracha, feito a partir de pó de cortiça, prensado em alta temperatura, com óleo de linhaça sobre um tecido de juta. Criado originalmente como piso, há muito tempo, hoje ele também é usado na gravura. MADEIRA DE FIO – Madeira que tem seu corte no sentido longitudinal do tronco.Tem como característica principal deixar os veios da madeira visíveis, dependendo do tipo de madeira.
NUMERAÇÃO – A numeração de uma estampa consiste na marcação numérica da estampa. A numeração é feita através de uma fração, no canto inferior esquerdo, ficando o canto direito reservado para a assinatura. Na fração, o numerador representa o número da estampa, e o denominador o total da tiragem. Portanto, uma estampa com numeração 3/50 significa que esta obra é a terceira de um total de cinqüenta. PAPEL – Principal suporte para impressão de gravura. Conhecido pelos chineses há muito tempo, só chegou na Europa em meados do século XIV, após percorrer um longo caminho. Sua chegada na Europa foi fundamental para o desenvolvimento da gravura, já que a impressão em pergaminho não dava bons resultados. PRENSA – Equipamento desenvolvido para exercer pressão sobre um material. Na gravura, esta pressão é responsável pela transferência, da tinta da matriz, para o papel. Para a impressão da gravura em relevo, existe a prensa vertical, e o tórculo calcográfico.
MADEIRA DE TOPO – Madeira que tem seu corte no sentido transversal ao eixo do tronco. Tem como características principais permitir uma cobertura de tinta uniforme, já que os veios da madeira não aparecem, e também permite gravações muito finas e delicadas devido a dureza da madeira cortada desta forma.
MATRIZ – Material usado para a gravação de imagens e posterior impressão. Uma matriz permite várias impressões, gerando cópias de uma mesma imagem.
PRENSA VERTICAL [ prensa, prelo vertical ] – Prensa constituída por duas pranchas rígidas, horizontais e paralelas, que são pressionadas uma contra a outra, pela torção de um grande parafuso, preso na prancha de cima que é móvel. A matriz entintada é colocada entre as pranchas, com o papel por cima, com uma ou duas camadas de feltro, recebendo então a pressão.
PROVA – Consiste na estampa impressa, em algum estágio da gravação, para verificação de seu andamento (imagem, cor, etc.). Em alguns casos, também se adota o termo prova para estampas impressas a partir de uma matriz já finalizada, com algum fim, fora da edição.
o outro, passando com a matriz sobre os cilindros com pressão, acontecendo assim a impressão.
REGISTRO – Sistema usado durante o processo de impressão para manter a estabilidade da matriz em relação ao papel, e vice-versa, com o objetivo de imprimir uma imagem sempre na mesma posição, em todos os papéis, ou fazer sucessivas impressões no mesmo papel. ROLO DE ENTINTAGEM – O rolo de entintagem consiste em um cilindro de borracha, gelatina ou couro, que tem a função de esticar, recolher e espalhar a tinta sobre a matriz.
X I LO G R A F I A [ xilogravura, gravura em relevo ] – Processo de gravura em relevo, que tem como matriz uma placa de madeira. A palavra xilografia, ou xilogravura, tem sua origem na palavra xylon, de origem grega, que significa madeira, mais a palavra gravura.
SECADOR DE PAPEL – Equipamento usado para que a estampa recém impressa fique descansando enquanto a tinta seca. Existem vários modelos, podendo-se usar até um varal como secador de papel. TÓRCULO CALCOGRÁFICO [ prensa, prensa de cilindro ] – Prensa constituída por dois cilindros, colocados um sobre o outro, com uma mesa de metal entre eles. A mesa de metal se movimenta de um lado para outro, através da rotação dos cilindros que são girados por um motor, ou manualmente, por uma manivela. A pressão é colocada sobre o cilindro superior, que não é fixo. Ajustada a pressão, em função da altura da matriz, a mesma é colocada sobre a mesa de metal, devidamente entintada, e sobre ela é colocado o papel e uma ou duas camadas de feltro. A mesa é movimentada de um lado para
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BIBLIOGRAFIA AIDAR, Flavia. Recursos Educativos em Artes - gravura. Ação Cultural Itaú, Editora Laboratório do Olhar, 1990. BERSIER, Jean E. La Gravure: les procedes, l’histoire. Paris: BergerLevrault, 1990. BRUNNER, Felix. A Handbook of Graphic Reproduction. Zurique: Arthur Niggli, 1984. COSTELLA, Antonio. Introdução à gravura: história da xilogravura. Campos do Jordão: Ed. Mantiqueira, 1984. GASCOIGNIE, Bamber. How to ldentify Prints. Londres: Thames and Hudson, 1995. HERSKOVITS, Anico. Xilogravura: arte e técnica. Porto Alegre: Tchê!, 1986. KOSSOVITCH, Leon. LAUDANNA, Mayra. Gravura: arte brasileira do século XX. São Paulo: Cosac e Naify/ Itaú Cultural, 2000. MARTINS, ltajahy. Gravura - arte e técnica. São Paulo: Laserprint: Fundação Nestlé de Cultura, 1987. PARDO, Francisco Fernandez. Antologia del Grabado Europeo: de Durero a Goya. San Sebastián: Instituto Cervantes, 2001. ROSS, John; ROMANO, Clare. The Complete PrintMaker. Nova York: The Free Press, 1972 Bibliografia sugerida BEUTTEN-MULLER, Alberto. Gravura brasileira: história e crítica. São Paulo: Banespa Cultural, 1990. CAMARGO, Iberê. A gravura. Porto Alegre: Sagra-DC Luzzato, 1992. FERREIRA, Heloisa Pires (coordenação). Gravura brasileira hoje: depoimentos. Rio de Janeiro: SESC, 1995-1997. FERREIRA, Orlando da Costa. Imagem e letra: introdução à bibliografia brasileira - a imagem gravada. São Paulo: Ed. da USP, 1994. GOMBRICH, E. H. A História da Arte. São Paulo: Martins Fontes. HIND, A. M. A history of Ecthing and Engraving. Nova Iorque: Dover, 1963. IVINS, Jr. W. M. Prints and Visual Communication. Cambridge. Massachussets: M.I.T., 2001. JANSON, H. W. A História da Arte — Panorama das Artes Plásticas e da Arquitetura da Pré-história à Atualidade. São Paulo: Martins Fontes. McMURTRIE, Douglas. O Livro: impressão e fabrico. Lisboa: Fundação Calouste Gubenkian, 1997. SILVA, Oswaldo. Gravuras e gravadores em madeira: origem, evolução e técnica da xilografia. Rio de Janeiro: Impr. Nacional, 1941.
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Equipe de Realização: Coordenação: Prof. Dra. Lygia Arcuri Eluf Projeto gráfico e edição: Amir Brito Cadôr Textos: Lygia Arcuri Eluf, Ynaia Barros e Danillo Roberto Perillo
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