7 minute read

A revolução no mundo dos transportes faz-se com cortiça

Sabia que metros de superfície, automóveis, comboios, barcos e até aviões utilizam a cortiça como material isolante térmico, acústico e antivibrático? São seculares as ideias que levaram à mobilidade que hoje conhecemos, por isso lançamos as perguntas: o que pensariam Santos Dumond ou os irmãos Wright se soubessem que a cortiça, esse material que veda garrafas de vinho, faria também parte de aeronaves um século depois dos primeiros dirigíveis sobrevoarem o solo? Ou explicar a Karl Benz e a Henry Ford que os seus primeiros automóveis iriam passar a ser, muitas décadas mais tarde, elétricos e responsáveis por uma mudança na sustentabilidade mundial? Para saber mais, convidamos-vos a apertar os cintos de segurança e a desfrutar desta viagem.

Fruto de um contínuo investimento em I&D+i, a cortiça é hoje usada quer em elementos estruturais (tais como painéis interiores e exteriores, pavimentos e bancos), quer nos componentes de interiores de diversos meios de transporte. Apesar de nem sempre visível, podemos encontrá-la em automóveis, autocarros e comboios de alta velocidade, assim como em navios e aviões. Olhemos para números: em 2020, mais de um quinto dos automóveis novos vendidos na União Europeia eram elétricos ou híbridos, o que representa um crescimento de 170 por cento em relação ao ano anterior. Em agosto de 2022, noticiava o portal português ECO que os carros «híbridos convencionais (sem tomada exterior de carregamento) foram mais vendidos do que as unidades exclusivamente a gasóleo, segundo os dados da Associação Automóvel de Portugal (ACAP)».

Números que representam uma realidade cada vez mais transversal a nível global e que têm um grande impacto na forma de pensar e construir por parte dos gigantes automóveis, a par do conceito de sustentabilidade, cada vez mais o termo do presente. As grandes marcas do setor têm vindo a apostar em transportes «eco-friendly», contribuindo para o futuro sustentável do nosso planeta, através da utilização de materiais com uma pegada de carbono negativa. Por isso, a cortiça, enquanto material 100% natural, reciclável e sustentável, vem responder precisamente a este desafio.

Não é por isso de estranhar que o setor da mobilidade seja cada vez mais uma das áreas prioritárias para a Corticeira Amorim, que integra já vários consórcios constituídos por empresas com competências em diferentes áreas tecnológicas.

«A mobilidade foi um dos setores com maior crescimento em 2022, e com rentabilidade claramente acima da média», admite João Pedro Azevedo, CEO da Amorim Cork Composites, unidade de negócio do grupo que operacionaliza este setor. «É uma área em fortíssima transformação e estamos a trabalhar com vários parceiros em algumas oportunidades.»

Mas porquê colocar cortiça em barcos, aviões ou automóveis?

Simples. As propriedades da cortiça aliadas à capacidade técnica e à tecnologia de ponta da Corticeira Amorim cumprem plenamente os requisitos de qualquer sistema de transporte do presente e do futuro, tornando-os mais leves, mais confortáveis e, claro, mais eco eficientes. Especialmente concebidos para responder a este último desígnio, as vantagens dos componentes em cortiça incluem a leveza, a durabilidade e a resistência ao fogo e a altas temperaturas. Já o isolamento térmico, acústico e antivibrático proporciona incomparáveis níveis de segurança e de conforto, a par de uma redução significativa do consumo de energia.

Na área automóvel, a Mazda celebrou o seu centenário em 2020 com o lançamento do SUV compacto MX-30, veículo 100 por cento elétrico da gigante japonesa, no qual o condutor pode encontrar a cortiça integrada no revestimento da consola. Selecionada pelo facto de tratar-se de uma matéria-prima natural, reciclável e sustentável, contribuindo, assim, para reduzir a pegada ambiental do novo modelo da insígnia nipónica, esta solução fornecida pela Amorim Cork Composites confere-lhe conforto, impermeabilidade e isolamento térmico, acústico e antivibrático. Já em 2021, a Amorim Cork Composites volta a centrar em si as atenções quando é lançado o novo MINI Strip. A cortiça usada neste exemplar único feito à medida pelo construtor germânico, e que conta ainda com a assinatura do reconhecido estilista britânico Paul Smith, é integrada no tampo do tabliê, palas de sol e portas. Utilizando técnicas de moldação, as caraterísticas naturais da cortiça como a leveza, a elasticidade e a suavidade ao toque unem-se, proporcionado uma sensação de bem-estar, beleza natural e comodidade no interior do automóvel. Uma solução que, tendo presente a resiliência, a compressibilidade e a resistência ao atrito deste material único, também está preparada para resistir às exigências do quotidiano. Passamos para a Renault. Em 2022, a cortiça da Corticeira Amorim foi utilizada no interior dos novos carros 100 por cento elétricos Mobilize, a marca de mobilidade urbana do grupo francês. Integrada nos bancos dos modelos Mobilize Duo e Mobilize Solo, e também no painel interior traseiro deste último veículo, a cortiça foi selecionada pelo facto de tratar-se de uma matéria-prima natural e sustentável, conferindo ao Mobilize Duo e ao Mobilize Solo conforto, bem-estar e leveza. Isto para além de contribuir ativamente para a promoção de um design singular, disruptivo e inovador, para o incremento de elevados índices de sustentabilidade e para o reforço das práticas de economia circular. De resto, e empregando técnicas de termoformação, a solução de cortiça usada em ambos os automóveis é combinada com materiais reciclados.

Mas a colaboração da Amorim Cork Composites com a indústria automóvel não fica por aqui. Tirando o máximo partido das propriedades únicas da combinação da cortiça com borracha (corkrubber), a empresa produz ainda soluções de vedação e selagem de alta performance, capazes de suportar as condições extremas de resistência, calor e pressão dos motores dos automóveis, como são os casos das gamas de produtos Techseal e Accoseal. Insígnias usadas, sobretudo, em cárteres de óleo, tampas para válvulas, radiadores e transmissões automáticas, mas também para amortecimento e isolamento de ruído e vibrações para engrenagens e sistemas de para-brisas. Utilizações não visíveis no imediato mas que conferem as garantias de segurança junto da indústria especializada.

Menor peso, custo e consumo energético Do latim mobilitāte - propriedade do que é móvel ou do que obedece às leis do movimento; facilidade de deslocação entre um lugar e outro – nenhuma outra definição assenta tão bem como a proposta para definir os projetos recentes da empresa no setor ferroviário.Comecemos pela frota nacional de comboios Alfa Pendular da CP – Comboios de Portugal. Para este efeito, a Amorim Cork Composites desenvolveu compósitos de cortiça utilizados nos pisos inferiores das carruagens, o Alucork.

De estrutura leve e constituída por um painel em sanduíche – núcleo de cortiça folheado de duas camadas de alumínio – esta solução resulta numa redução significativa do peso (cerca de 40%) em comparação com os compósitos usados atualmente. Esta utilização permite ainda uma diminuição de consumo energético e dos custos dos comboios de alta velocidade. O Alucork pode ainda ser encontrado no Inspiro, o metro de última geração da Siemens, inaugurado em 2013 na Polónia. A cortiça é igualmente utilizada no MONOCAB, projeto que tem como objetivo oferecer uma segunda vida às linhas ferroviárias inutilizadas existentes nas zonas rurais da Alemanha. Veículo ferroviário compacto e autónomo que desloca-se apenas num rail do carril, o MONOCAB é mais um exemplo da revolução em curso no setor da mobilidade. Por último, de referir que nos transportes coletivos rodoviários, a Corticeira Amorim participou também no projeto iBUS, que juntou empresas portuguesas de cortiça, couro, design e engenharia no desenvolvimento de autocarros mais leves, confortáveis e autossuficientes. Com materiais da Amorim Cork Composites, um compósito com núcleo de cortiça foi usado nas tampas das bagageiras, reduzindo o peso destas até 50 por cento e aumentando a sua resistência. E, ainda, no piso e em painéis laterais, com melhorias no isolamento térmico e acústico.

Há mar e mar, há ir e voltar Zarpamos agora numa outra direção, e nela não podemos levar «à letra» a mítica frase de Luís Vaz de Camões quando de cortiça e mar se fala: «Por mares nunca dantes navegados». O ACM30, material 100 por cento natural, reutilizável e reciclável, destaca-se como uma solução particularmente valiosa numa construção sustentável, em conformidade com as normas de segurança da indústria naval . Esta solução de decking primário da Amorim Cork Composites tem a certificação IMO/MED que garante um compromisso permanente com a qualidade do produto e a segurança dos clientes para iates comerciais e embarcações offshore e de passageiros, incluindo também navios de cruzeiro. Vejamos por exemplo a utilização de um inovador compósito de cortiça impregnada de plutónio na construção de decks primários para navios de passageiros que permitiu à alemã MV Werften reduzir em sete toneladas o peso das suas unidades de luxo de cruzeiros fluviais (em alguns casos, em 50 por cento).

Graças à criação de uma tecnologia de pré-fabricação precisa, a solução torna-se economicamente vantajosa, pois permite reduzir expressivamente o tempo de montagem do deck, algo que está a atrair também a indústria de iates de luxo.

Ainda em alto mar, em 2014, o grupo português associou-se também à viagem do navegador Ricardo Diniz até São Salvador da Bahia, no Brasil. O veleiro contava com uma série de áreas em cortiça, começando pela cabine e respetivo piso, passando por algumas das partes laterais da embarcação, e terminado no deck, onde foi aplicado um tapete de cortiça aglomerada (com uma base de borracha reciclada) apto a manter a temperatura inalterada apesar da exposição solar e a garantir grande aderência mesmo em condições adversas. E não nos esqueçamos de Garrett McNamara quando colocou as ondas gigantes da Nazaré no «Guiness World Records». Este recorde levou a uma posterior parceria entre a Amorim e a Mercedes Benz para a construção de um modelo de prancha de surf que aguentasse a pressão gigantesca da massa de água da Nazaré. Nas palavras do surfista havaiano, «sendo Portugal o maior produtor do mundo de cortiça, faz todo o sentido usar este material para produzir uma prancha de alta performance para a Nazaré. Quando surfamos ondas gigantes é preciso uma prancha flexível, mas com alta resistência para que não possa quebrar.»

Acelerar a descarbonização na aviação Frederick Royce e Charles Rolls transportam-nos até 2022 quando a Rolls-Royce produziu o «Spirit of Innovation» (Espírito de Inovação), o avião100 por cento elétrico mais rápido do mundo. Isto resultado de uma parceria de longo prazo entre a Rolls-Royce, construtora automóvel inglesa, a YASA, fabricante inglesa de motores elétricos, e a Electroflight, especialista britânica em armazenamento de energia para aviação e cliente da Corticeira Amorim neste projeto. A Electroflight projetou todo o sistema de propulsão (powertrain ) e o sistema de bateria integrado para o «Spirit of Innovation», usando três motores elétricos de fluxo axial, YASA 750 R, e mais de 6.000 células cilíndricas, Murata VTC6 18650 NCA. A empresa necessitava, então, de um material para a caixa da bateria que não fosse apenas estruturalmente robusto, mas também leve e extremamente resistente ao fogo. Nesse sentido, a Electroflight trabalhou em estreita colaboração com a Amorim Cork Composites para desenvolver um aglomerado de cortiça à prova de fogo para o interior da caixa da bateria. A invenção única, agora patenteada, teve o benefício adicional de ser feita de materiais naturais sustentáveis – um componente vital tendo em conta o objetivo geral do projeto governamental do Reino Unido denominado ACCEL: acelerar a descarbonizaçao da aviaçao. Também é ao mesmo tempo mais um exemplo do papel que a cortiça terá nessa alteração de paradigma, colocando ao dispor dos meios de transporte o seu infinito conjunto de atributos nos domínios da sustentabilidade.Assim, na Amorim somos terra, água e ar.

This article is from: