Ana Ruivo portfolio

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PORTFÓLIO Ana Ruivo



PORTFÓLIO Neste Portfólio procuro m ostrar os m o m entos m ais representativos do meu percurso na arquitectura. Apresento trabalhos e experiências que moldaram o meu posicionamento, desde trabalhos realizados ainda no âmbito académico, passando pelo período de realização de um estágio e posteriormente de colaboração com o Instituto Tibá no Brasil, várias parcerias e consultorias realizadas a nível pessoal, e finalmente pelas experiências na Cooperativa Sítio da qual sou membro fundador. Mesmo sendo um percurso ainda curto, alguns valores já se realçam: Um grande envolvimento na dimensão prática da construção e a tentativa de conhecer em profundidade os materiais; uma preocupação com a utilização de materiais e tecnologias ecológicos; a tentativa de me envolver em projectos que possam contribuir para a criação de economias locais controláveis pelos membros das comunidades residentes.

Mas voltando ao início…



ESAP Porto, 2000-2008

Fiz o curso de Arquitectura na ESAP, Porto. Desde cedo organizei-me em grupo partilhando um espaço de trabalho e podendo assim produzir num ambiente criativo e intenso sempre partilhando capacidades, dificuldades e objectivos. Para alÊm dos projectos de arquitectura, desenvolvemos muitas outras capacidades e ideias.



ESAP FÁBRICA SOCIAL - Trabalho de fim de curso, 2008 Trabalho de Grupo (Pedro C, Samuel C. e Samuel Rodrigues)

Este é o último exercício que desenvolvi em contexto académico. Tive a liberdade de definir o projecto tanto a nível programático com em termos de solução espacial. Pude então definir todo o caminho e, por isso, é o projecto académico com o qual mais me identifico. O trabalho teve uma fase desenvolvida em grupo e outra individualmente. O projecto que escolhemos enquanto grupo foi a reabilitação de uma fábrica abandonada no centro do Porto. “O cliente”, o escultor José Rodrigues, pretendia transformar todo o complexo num centro dedicado à criatividade. Tivemos a oportunidade de instalarmos o nosso espaço de trabalho no próprio edifício da fábrica, tornando todo o processo muito mais experimental e prático. Enquanto desenvolviamos o exercício, começaram obras obras de reabilitação da fábrica que podemos acompanhar. A vivência destas duas realidades - a de um exercício académico e a de uma obra concreta - foi muito enriquecedora.



ESAP FÁBRICA SOCIAL - Trabalho de fim de curso, 2008 Trabalho de Grupo (Pedro C, Samuel C. e Samuel Rodrigues)

Situada no centro de um típico quarteirão do sec. XIX, a fábrica encontra-se junto a uma grande mancha verde que ganhou coerência pelo abandono generalizado dos terrenos centrais. Qualificar e expandir este “jardim” a todo o quarteirão foi a nossa principal estratégia. Em vez de um plano urbano extensivo, propusemos elementos pontuais que reunissem, a nível espacial e programático, as condições para promover uma regeneração endógena. Propusemos um campus dedicado à criatividade. A imagem que nos serviu de referência foi a das catedrais medievais. Obras em constante reconstrução que apenas faziam sentido quando integradas com unidades de produção, ensino, trabalho, serviços e habitação. Estes estaleiros funcionavam como verdadeiras escolas de formação holística, fundadas na prática das várias dimensões da vida em comunidade. Promoviam uma verdadeira capacitação e participação dos trabalhadores na transformação destas pequenas cidades. A Fábrica seria a Catedral, uma Obra Aberta para promover a capacitação dos residentes na participação activa da reabilitação da Fábrica, do tecido envolvente e do jardim. Propusemos assim quatro programas para edifícios em volta da fábrica: A reabilitação de casas do bairro para residências de artistas; a criação de um parque de estacionamento e um conjunto de novos ateliers; a reabilitação de uma unidade da Fábrica para um laboratório de fabricação e um Centro de Estudos do Meio Ambiente. Como elemento estruturante deste campus, uma rua no céu que sobrevoa a Fábrica que criaria uma nova entrada, novas formas de circulação e funciona como elemento simbólico da “obra aberta”, uma grua ou uma teia de suporte para equipamentos técnicos ou intervenções artísticas. Este trabalho foi reconhecido com o Prémio Vission a “Melhor Integração Social” em 2009.

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ESAP FÁBRICA SOCIAL - Trabalho de fim de curso, 2008 Residência para artistas - Trabalho Individual

Esta habitação para artistas serviria de suporte à Fábrica Social. Pretendia-se que se afirmasse como um modelo de regeneração do tecido urbano tradicional do quarteirão da Fontinha. À semelhança de muitos quarteirões da cidade do Porto, este encontra-se numa situação de impasse, bem patente no envelhecimento do edificado e da população sendo agora definido por um acentuado isolamento, tão espacial como social, em relação às áreas urbanas com maior vitalidade. Assim, aposta-se numa intervenção assente em soluções simples que possam desencadear um processo orgânico de regeneração urbana, estimulador de reacções endógenas e capaz de promover a diversidade da continuidade. A minha proposta visa promover plataformas de trocas entre indivíduos e grupos social e culturalmente diversificados, com o objectivo de esbater as distâncias sociais e provocar enriquecimentos mútuos. Este princípio fundamenta tanto a definição do programa, como a solução espacial e urbana. A fim de combater a fragmentação do espaço urbano, a proposta passa pela colmatação de um vazio urbano, através de uma dupla lógica; Por um lado a introdução de um novo ritmo que reinventa o existente e, simultaneamente, contraria a lógica de fechamento do quarteirão e por outro, a “reciclagem” uma tipologia urbana que tem fortes ligações à memória colectiva do lugar é outra.







TIBÀ Estágio e Colaboração - 2009

Depois de terminar o curso fiz um estágio no TIBÁ, Brasil. Esta instituição, fundada por Johan van Lengen continua o trabalho desenvolvido na criação do livro Manual do Arquitecto Descalço. Depois de 25 anos de trabalho o Tibá é uma fazenda reflorestada que aloja uma equipa residente e serve de ponto de encontro para especialistas e curiosos em aprender tecnologias de construção. Dedica-se á realização de projectos de relevância social e comunitária e à realização de workshops centrados em várias tecnologias de construção simultaneamente ecológicas e apropriáveis por pessoas não especializadas. Estes eventos cobrem temas como construção com terra (várias técnicas), construção com bambu, coberturas verdes, saneamento ecológico entre outros. Durante um ano tive a possibilidade de integrar esta equipa de trabalho, estando envolvida em vários projectos e de, inicialmente participar nos workshops passando, mais tarde a ministrar parte deles. Esta experiência foi como um novo curso e uma oportunidade de aprendizagem de novos valores, técnicas e materiais fundada não só na teoria mas, principalmente, na prática. www.tibarose.com



TIBÀ Estufa de Bambu, Rio de Janeiro – Brasil, 2009

Esta estrutura foi a primeira que foi proposta e desenhada por mim como objecto de um workshop de construção com bambu. Nesta zona do Brasil, a época das chuvas é no verão e esta estufa era necessária, não para manter o calor como é costume nos climas temperados, mas para evitar que as chuvas torrenciais destruíssem a horta. Trata-se portanto de uma protecção contra a água mas que deve ser muito bem ventilada para não sobre aquecer. Depois da experiência anterior (com a oficina de adobes), tentei explorar novas possibilidades deste material, nomeadamente a sua utilização não apenas enquanto varas mas como ripas que, mais finas e flexíveis, permitem a construção de novas formas. As primeiras propostas eram complexas e exigentes, mas o projecto foi ficando mais simples ao ser adaptado aos timings, ao material e à mão-de-obra disponíveis. Mesmo assim foi explorada a versatilidade do bambu usando varas inteiras, e ripas enquanto soluções estruturais e de acabamento.


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Os adobes utilizados são "acústicos". As curvas, orientadas para o interior, evitam a reverberação tão perturbante dentro das cúpulas.


23 TIBÁ Dome de Adobe, Rio de Janeiro – Brasil, 2009 Com Arq. Gernot Minke

Um dos temas que sempre me interessou e foi a construção com terra. Este pequeno edifício foi uma oportunidade de aprendizagem há muito esperada. Foi construído durante um workshop de Construção com Terra com o Professor Gernot Minke, uma autoridade em matéria de construção com terra de renome mundial. Neste caso, tratei de todos os preparativos para o workshop como moldes, guias de assentamento, fundação e a produção dos mais de 3000 adobes que constituem o edifício. Os seis dias de construção desta cúpula de adobe com 4,5m de diâmetro, com cerca de 25 pessoas mais o Professor Minke, foram muito intensos e capacitantes. Proporcionou o entendimento das idiossincrasias do trabalho de construção com terra – desde os detalhes para evitar o efeito de capilaridade até à coordenação de grandes equipas de trabalho.


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25 TIBÁ Trabalho com os Indios Patachó Hã Hã Hãe – Brasil, 2009

Por várias vezes tive a oportunidade de realizar workshops na Bahia na ONG Esperança de Terra. Esta instituição organiza e dá formação a tribos de índios cuja cultura se encontra ameaçada pela falta de território e pela fragmentação social que esta provoca. O TIBÁ foi chamado para tratar o tema do saneamento e da construção com terra. Um dos maiores problemas de algumas das tribos é a transmissão de doenças através da água que se deve em parte a um inexistente sistema de saneamento. As sanitas secas e os filtros de águas cinzas desenvolvidos por Johan van Lengen há já alguns anos são uma resposta apropriável e elimina totalmente a emissão de efluentes. Estas soluções, normalmente acolhidas com resistência, foram aplicadas e muito reconhecidas por estas comunidades. Quanto à construção com terra, estas tribos continuam a construir com terra mas algumas das técnicas foram-se perdendo com o tempo. O nosso trabalho consistiu em refinar as técnicas resgatando algum conhecimento indígena e introduzindo testes e técnicas recentes Este trabalho foi realmente gratificante por ter um impacto imediato e palpável na comunidade utilizadora destas soluções.


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Com a forte degradação social à qual estas comunidades estão sujeitas, muitos dos conhecimentos sobre o acabamento de construções de pau-a-pique (técnica de construção com terra) foram perdidos.


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A reintrodução destes conhecimentos permitiu um aumento imediato qualidade da construção evitando uma degradação permatura e o aparecimeto de insectos e outras pragas.


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29 TIBÁ Instituto Baleia Jubarte – Brasil, 2009

Este foi um dos primeiros projectos de carácter comercial em que estive envolvida. O cliente foi o Instituto Baleia Jubarete – Bahia e o programa era uma oficina para crianças onde se realizam actividades manuais e culturais ligados à preservação dos ecossistemas. Trabalhando num projecto já existente, foi pedido ao Tibá que o tornasse numa proposta realmente ecológica incorporando na arquitectura os valores a serem transmitidos às crianças. Já no local, com a obra a arrancar, foi necessário planear a construção de uma cobertura verde, de um sistema de recolha de água das chuvas, paredes de terra (adobes e pau-a-pique), de um W.C. com sanitas secas e um filtro de águas cinzas e para além de tudo isso foi necessária uma (radical) adaptação aos materiais e técnicas construtivas disponíveis no local. O edifício é constituído por dois volumes simples: um hexagonal com os espaços de trabalho organizado num piso térreo e numa mesanine; e outro de planta rectangular onde se situa o W.C. com as sanitas secas . Um tanque de recolha de águas da chuva e um filtro de águas cinzas orbitam em volta destes dois volumes. Mas o que foi realmente inspirador neste edifício foi a forma como este foi construído. Na obra estavam apenas cinco trabalhadores; rapidamente percebemos que, com os prazos que tínhamos não conseguiríamos terminar a obra a tempo especialmente com os vários trabalhos a realizar de construção em terra necessários (adobes e pau-a-pique)… Assim resolvemos fazer um apelo a voluntários, pessoas que tivessem tido contacto com o TIBÁ, para que viessem trabalhar connosco em troca de alimentação e, acima de tudo, aprendizagem. No Brasil chama-se a isto organizar um “mutirão”. É um conceito interessante e que mostra que neste país subsistem ainda alguns hábitos típicos de uma comunidade coesa e fundada na inter-ajuda. A obra foi realizada com equipas de voluntários e de trabalhadores num interessante ambiente de aprendizagem, partilha e interacção. Foi uma experiência realmente marcante.


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EdifĂ­cio comunitĂĄrio local

Casa tradicional local


37 Projecto / Consultoria Complexo de Águas Termais, Nhafuba – Moçambique, 2010 Com Tibá

Mais uma vez em parceria com o TIBÁ, fui convidada a projectar e orientar o arranque da construção e fazer consultoria para um pequeno complexo de apoio a uma nascente de águas termais. Este edifício situa-se em Nhafuba, uma pequena aldeia a cerca de 5 horas de viagem de Quelimane em que não há electricidade, água canalizada ou qualquer tipo de telecomunicação. A comunidade local mantém um estilo de vida praticamente intocado pela nossa cultura ocidental. O cliente foi a ONG ZBL que tem como objectivo o desenvolvimento do turismo justo, conciliado com a dinamização das comunidades locais. A experiência foi realmente interessante pois mais do que um projecto ou a condução de uma obra, este trabalho transformou-se numa verdadeira partilha de saberes. A primeira fase do trabalho foi o de levantamento das soluções construtivas tradicionais e a compreensão dos vários detalhes utilizados. O projecto para o complexo foi realizado, tendo sempre este levantamento como referência, respeitando também o tipo de espaço e linguagem dos edifícios, para que a integração visual e social fosse bem sucedida. Para além disso, os meios disponíveis eram muito escassos e só esta atitude permitiu a construção de espaços interessantes e confortáveis, em perfeita harmonia com a cultura e ambiente em que se inserem. A fase de construção foi também embebida deste espírito de troca e aprendizagem. Os adobes e os revestimentos, por exemplo, foram feitos segundo as receitas locais, o que consistiu mais uma experiência enriquecedora. Foram introduzidas as várias soluções de saneamento e c oló g ic o e alg u m a s t é c n ic a s d e c o n d u ç ã o d a s várias fases de obra. Esta construção funcionou com o u m edifício escola, materializando uma troca de ideias, saberes e cultura. O p r o j e c t o e n c o n t r a - s e a g o r a n a f a s e f i n al da sua construção.


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Sanita seca construĂ­da na obra


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Os fardos são um material que mesmo sendo simples de trabalhar e produzir têm características de isolamento térmico impressionantes.


41 Construção / Parceria Dome de Palha, Hrubí Sur – Eslováquia, 2010 Com Gernot Minke

A construção deste edifício foi realizada no quadro de um workshop organizado e orientado pelo Professor Gernot Minke. Desempenhei a função de coordenadora de equipas de trabalho compostas por pessoas vindas de toda a Europa. O edifício que realizamos ao longo de 5 semanas, onde funciona agora um escritório de arquitectura, é uma cúpula construída em fardos de palha estruturais (projectada por Gernot Minke, é a única no mundo com estas características). Este material, a palha, tem uma capacidade de isolamento térmico notável, comparável à dos materiais químicos convencionalmente utilizados na construção (poliestireno extrudido por exemplo). Tem portanto sido alvo de investigação, em especial nos países nórdicos (pelas baixas temperaturas registadas), como um material de construção. Pode ser utilizado como enchimento, em edifícios com estruturas noutros materiais ou como elementos estruturais. Sendo uma técnica com alguma complexidade, especialmente quando a palha é utilizada enquanto estrutura, esta obra foi uma oportunidade para adquirir experiência e estar envolvida numa realização complexa e exigente, levada a cabo com grande rigor e qualidade. O edifício é um campo de teste (monitorizado por vários sensores) e simultaneamente um espaço funcional.


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45 Construção / Parceria 6 Unidades Habitacionais, Wangelin - Alemanha, 2011 Com Gernot Minke

Esta é mais uma obra na construção da qual participei a convite do Professor Gernot Minke e construída em forma de workshop. A particularidade deste edifício é que é o primeiro edifício de palha estrutural a ser construído na Alemanha que cumpre plenamente os códigos legais de construção. Este é portanto um importante exemplo da potencialidade deste material, especificamente no que toca ao desempenho de isolamento térmico (cuja exigência é muito elevada neste país) mas também no que toca ao desempenho estrutural, de segurança entre outros. É uma demonstração prática de que edifícios construídos com materiais naturais como a terra e a palha podem cumprir padrões de exigências mesmo em ambientes climáticos e legais rigorosos. Para que o edifício fosse bem sucedido e uma vez que grande parte do trabalho foi levado a cabo por formandos (não necessariamente especializados) foram necessários grande rigor e muita atenção aos pormenores construtivos. Embora tenha estado envolvida apenas na fase estrutural da obra foi mais um importante momento de aprendizagem no que toca à qualidade do trabalho e à organização das equipas de obra.


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Sess達o de capacita巽達o de M達o-de-obra local.


47 Consultoria / Parceria Ecobairro Muquinquim, Guadalupe - São Tomé e Príncipe Para Baixo Impacto Arquitetura.

Fui convidada a ir a São Tomé e Príncipe para fazer consultoria para a construção de um “ecobairro” de 10 casas promovido pelo PNUD (ONU) e pelo Governo São Tomense e projectado pelo escritório Baixo Impacto Arquitectura (BR). Um dos objectivos subjacentes a este projecto é a introdução da construção com terra na ilha, uma vez que o material mais amplamente utilizado é a madeira que tem promovido um rápido desflorestamento do território. Os edifícios foram projectados com estrutura em adobe e revestimentos de terra crua. Uma vez que nesta ilha uma grande parte dos solos é muito arenosa, dois trabalhos principais foram-me atribuídos: fazer uma análise (empírica) das possibilidades locais e acertar as misturas de terra e fibras para as diferentes funções; treinar mão-de-obra local para o trabalho com este material e organizar / optimizar o processo de produção. Os resultados foram muito positivos não só nos resultados objectivos da obra, assim como foi possível observar que, após duas semanas de transmissão de conhecimentos, os trabalhadores da obra da ilha (em que a construção em terra era virtualmente inexistente) estavam já a utilizar adobes para melhorarem as suas próprias condições de habitação. Outro factor que nos indica o sucesso deste trabalho em São Tomé, foi a subsequente criação de duas unidades de produção de adobes, instaladas em antigas roças de cacau, que se encontram actualmente em pleno funcionamento.


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51 Projecto / Parceria Concurso Umbria Gallery, Avigliano Umbro – Itália Com Cannatà & Fernandes. (Menção Honrosa)

O programa, uma galeria de arte, definia um espaço multiusos, a renovação parcial de um edifício pré-existente (o resto continuaria a ser uma habitação privada) em Bed&Breakfast e uma galeria de exposição “Open Air”. Esta galeria foi o nosso ponto de partida. Para assegurar alguma segurança numa galeria constantemente aberta, e evitar que se tornasse num obstáculo visual à paisagem, propusemos que fosse como que uma grande trincheira na qual pudessem ser organizados vários tipos de percursos, exposições ou espectáculos (recorrendo a paredes e coberturas removíveis) e simultaneamente de onde saísse toda a terra para a produção de adobes necessária à construção dos restantes edifícios. A textura dos adobes seria o elemento unificador de todo o projecto. Este material permitiria que escolas, associações e a comunidade em geral fossem integradas na construção do próprio edifício, sendo, desde o seu início, um espaço de dinamização social, encontro e aprendizagem. Na zona de tensão entre o edifício multiusos e o Bed&Breakfast propusemos uma pala criada com elementos prefabricados mas reciclados (madeira e lonas plásticas) que serve de momento de chegada em que se revela a paisagem e onde se faria a distribuição para os vários espaços do conjunto. Um aglomerado de árvores protegeria a habitação privada do espaço público de exposição. A estrutura dos edifícios seria feita exclusivamente em blocos de terra crua (com a adição ou revestimento de cal nas zonas mais sensíveis a águas) e seria utilizada para as lajes a solução de abóbada catalã (abobadas extremamente baixas mas capazes de cobrir vãos de vários metros). Revestimentos de cal seriam utilizados no interior de todos os espaços, tornando-os mais apropriáveis pelos artistas e as suas exposições.


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Serviços, cozinha e espaços técnicos

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Bed & Breakfast

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Áreas polivvalentes

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Habitação privada pré-existente


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57 Cooperativa Sítio Portugal, 2011

No início de 2011, fundei a cooperativa Sítio, juntamente com Samuel Rodrigues e Pedro Monteiro. O objectivo é contribuir para a criação, organização e transmissão de soluções que contribuam para que os indivíduos e comunidades possam gerir, de forma resiliente, livre e abundante a realidade que habitam. O âmbito das respostas em que investimos articula-se em pleno com comunidades de menor escala, capazes de integrar actividades de produção no seu espaço de acção diária. As comunidades de carácter rural apresentam, no imediato, um maior potencial para a implantação de soluções que promovam uma maior equidade social e uma melhor integração nos ecosistemas naturais. Assim, no sentido de dinamizar economias de vizinhança e de cooperação com um impacto positivo sobre os processos naturais procuramos desenvolver duas grandes áreas de actividade que se entrelaçam de forma permanente e dinâmica: Tecnologias apropriáveis – tecnologias que aplicam a ciência e a arte na conquista de uma crescente autonomia em relação ao mercado. Pela sua importância na criação do ambiente que habitamos, as técnicas de construção e de arquitectura serão um dos nossos focos principais. A actuação, obrigatoriamente faseada, será então num primeiro momento, centrada na criação de um espaço onde se possam realizar workshops e acções de formação. Até este momento realizamos, entre outros, cinco workshops de Construção com Terra, e várias consultorias técnicas em projectos que envolviqm técnicas de construção com terra, sanemento ecológico e outros.

www.sitiocoop.com


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59 Projecto / Construção Banco de Sementes, Mangualde – Portugal, 2011 Cooperativa Sítio

Este pequeno projecto é o primeiro elaborado e construído em Portugal pela cooperativa Sítio. O programa, um pequeno armazém de apoio a actividades agrícolas – ferramentaria, oficina de trabalho com plantas e banco de sementes -, implicava um espaço extremamente simples. Houve assim oportunidade para projectar um protótipo de estrutura em terra crua. Este pequeno edifício foi pensado como um modulo que, individualmente o u m ultiplic a d o, p o d e a c olh e r o u tr o s p r o g ra m a s

A forma de abóbada foi escolhida pela sua simplicidade. Trata-se de uma estrutura laminar em que um único elemento cria o espaço: a parede torna-se tecto e volta a ser parede. Um único material, o adobe, é suficiente para a estrutura de todo o edifício. Os custos, o te m p o e os m eios necessários à sua construção podem assim ser reduzidos. Para além disto, o espaço criado é confortável e aconchegante. A secção desta abóbada é uma catenária. Esta é a forma criada por uma corrente quando suspensa pelos dois extremos. Quando espelhada, esta forma pode ser usada para criar os arcos e abóbadas mais eficientes na medida em que transportam todas as forças enquanto compressão (as forças sob as quais os adobes funcionam melhor) ao longo de toda a estrutura. Quanto aos materiais e pormenores utilizou-se também uma estratégia de simplicidade.


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65 Em Projecto Unidades de Habitação Ecológicas, Apropriáveis e Autónomas

No âm bito do trabalho para a Cooperativa Sítio desenvolvi, em conjunto com a equipe restante, soluções habitacionais que incorporem a capacidade de dar respostas economicamente eficientes, ecologicamente correctas e socialmente justas. Neste sentido desenvolvemos Unidades modulares e adaptáveis de Habitação ecológicas, apropriáveis e autónomas.


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Elemento

Descrição

Fase

Rebocos de Terra Crua ou de Cal

V

Rebocos de Terra Estabilizada

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Espaço 1

Acabamentos interiores

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Estrutura

Abobada Catenária de Adobes

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Isolamento térmico

Placas de Fibras Naturais com Argila ou Cal

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Acabameto exterior

Paredes e Cobertura Verdes

*

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Pavimento

Terra Compactada

**

Tadellakt

*

Cobertura Ajardinada

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"

"

humidos

humido

Cobertua plana

Saneamento 9

Águas Negras

Bason desenvolvido no Tibá

***

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Águas Negras

Fossa Bio-Septica

V

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Aguas Cinzas

Filtro Biológico de Águas Cinzas com Lagonagem

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Recolha de água

Filtro de Recolha e Mineralização

V

de Águas Pluviais

Energia 13

Produção de electricidade

Eólica Hugh Piggott

V

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Aquecimento de águas

Painel Solar

*

15

"

interior

Massonery Stove

*

16

"

"

Pavimento Radiante

*

Climatização 17

Energia geotérmica

Poço Canadiano

V

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Ventilação

Ventilação Cruzada

V

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Energia solar

Jardim de Inverno

*

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"

Parede de Trombe

*

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"

"

Orientação Solar

V

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Cálculo e Gestão de Ensombreamentos

V

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Solução comprovada na prática por repetição Prototipo Funcional Testes Iniciados Informação Recolhida e Projecto Idealizado


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Ana Ruivo anasmruivo@gmail.com (+351) 919294478 Skype: ana.ruivo


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