ESCOLA DE MÃOS
ESCOLA DE Mร OS Universidade Federal do Cearรก Curso De Arquitetura e Urbanismo
Ana Beatriz Ribeiro Gomes Professora Orientadora: Solange Maria de Oiliveira Sschramm Professor Convidado: Luis Renato Bezerra Pequeno Arquiteto Convidado: Antonio Custรณdio dos Santos Neto
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Universidade Federal do Ceará Biblioteca Universitária Gerada automaticamente pelo módulo Catalog, mediante os dados fornecidos pelo(a) autor(a)
R367e
Ribeiro Gomes, Ana Beatriz. Escola de Mãos : Centro de ensino e aperfeiçoamento para os artesãos do Juazeiro do Norte / Ana Beatriz Ribeiro Gomes. – 2018. 125 f. : il. color. Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) – Universidade Federal do Ceará, Centro de Tecnologia, Curso de Arquitetura e Urbanismo, Fortaleza, 2018. Orientação: Profa. Dra. Solange Maria de Oliveira Schramm. 1. Artesanato, Juazeiro do Norte, Indústria calçadista, Bairro Frei Damião .. I. Título. CDD 720
“O contato com os produtores culturais e com suas realizações, além de ser um valor em si mesmo, constitui o primeiro passo para que as pessoas comuns, engajadas em diferentes profissões e atividades se transformem, elas também, em produtores culturais. Aliás, acerca desse assunto, talvez seja mais acertado dizer que antes de tudo torna-se necessário alertar às pessoas de que elas, de uma forma ou de outra, já são produtores de cultura, sem que disso tenham uma consciência muito nítida. Trata-se, enfim, de tornar claro para os indivíduos o potencial criador de que são portadores, assim como de favorecer sua concretização.”
Lina Bo Bardi
Lista de Imagens Figura 1: Árvore resistente em sítio do Juazeiro do Norte. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes pág. 19
Figura 45: Imagem da artesã Maria Cândido em sua casa. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes pág. 47
Figura 2: Bolsas feitas de palha de milho. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes pág. 23
Figura 46: Tintas usadas na pintura das esculturas. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes pág. 47
Figura 3: Amostras de couro tingido de Espedito Seleiro. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes pág. 24
Figura 47: Esculturas prontas na parede de sua casa. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes pág. 47
Figura 4: Esculturas de barro de Maria Cândido. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes pág. 26
Figura 48: Barro moldado esperando secar. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes pág. 47
Figura 5: Foto de José Lourenço: Ana Beatriz Ribeiro Gomes pág. 28
Figura 49: Formas desenhadas em pedra santana. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes pág. 48
Figura 6: Local de trabalho da Lira Nordestina. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes pág. 28
Figura 50: Formas em pedra santana cortadas. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes pág. 48
Figura 7: Matrizes que são vendidas como ímã de geladeira. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes pág. 29
Figura 51: Formas em pedra santana em balde de água para serem lavadas. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes pág. 48
Figura 8: Matriz. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes pág. 29
Figura 52: Espaço usado para polir as pedras. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes pág. 48
Figura 9: Matriz. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes pág. 29
Figura 53: Possibilidades de escultura com pedras. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes pág. 49
Figura 10: Foto de Beto esculpindo. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes pág. 31
Figura 54: Amostras de pedras encontradas no Cariri. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes pág. 49
Figura 11: Homem esculpido por artesão. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes pág. 31
Figura 55: Indústria de calçado em Juazeiro do Norte. Foto: http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/suplementos/cariri-regional/demissaoatinge-o-setor-calcadista-1.1243506 pág. 51
Figura 12: Esculturas de umburana. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes pág. 31 Figura 13: Local de trabalho dos artesãos. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes pág. 32 Figura 14: Local de trabalho dos artesãos. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes pág. 32 Figura 15: Umburana armazenada ao ar livre. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes pág. 33 Figura 16: Serradeira para cortar os caules da madeira em pedaços menores. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes pág. 33 Figura 17: Ferramentas de esculpir a umburana. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes pág. 33 Figura 18: Entrada do Centro Mestre Noza. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes pág. 33 Figura 19: Peças do Museu do Centro Mestre Noza. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes pág. 34 Figura 20: Peças do Museu do Centro Mestre Noza. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes pág. 34 Figura 21: Máscaras de argila feitas por família local que vende sua arte no Centro Mestre Noza. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes pág. 34 Figura 22: Foto do artesão Luciano. Ana Beatriz Ribeiro Gomes pág. 36 Figura 23: Fôrmas de madeira para emoldurar a palha. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes pág. 36 Figura 24: Base de madeira para dar forma à palha. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes pág. 36 Figura 25: Arames galvanizados que servem como “esqueleto” para objeto de palha. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes pág. 37 Figura 26: Cestas feitas de palha e milho. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes pág. 37 Figura 27: Serradeira para cortar as bases de madeira. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes pág. 37 Figura 28: Palha sendo trançada na estrutura. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes pág. 37 Figura 29: Mulheres retirando a “renda” do caule da bananeira. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes pág. 38 Figura 30: Faces do caule da bananeira retirados. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes pág. 38 Figura 31: Plantação de bananeiras do sítio Cabeceiras. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes pág. 38 Figura 32: Mulheres transformando caule da bananeira em palha sob a sombra do pé de manga. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes pág. 39 Figura 33: Palha enrolada e seca. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes pág. 40 Figura 34: Renda do caule da bananeira. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes pág. 40 Figura 35: Possibilidade de produto final. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes pág. 41 Figura 36: Foto da artesã de bonecas de pano Francisca Piancó: Ana Beatriz Ribeiro Gomes pág. 43 Figura 37: Molde de boneca de pano. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes pág. 43 Figura 38: Bonecas de pano prontas. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes pág. 43 Figura 39: Artesão Espedito Seleiro. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes pág. 43 Figura 40: Moldes de pés para produzir as sandálias. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes pág. 43 Figura 41: Ferramentas usadas pelo artesão. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes pág. 43 Figura 42: Sandálias expostas em sua loja. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes pág. 44 Figura 43: Local de trabalho de Espedito Seleiro. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes pág. 44 Figura 44: Produtos de couro feitos por Espedito e seus alunos. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes pág. 44
Figura 56: Indústria de calçado Juazeiro do Norte. Foto: www.blogcariri.com.br/2014/02/juazeiro-do-norte-ce-seminario-debate.html pág. 52 Figura 57: Indústria de calçado em Juazeiro do Norte Foto: www.exclusivo.com.br/_conteudo/2017/01/negocios/212776-ceara-mao-de obra-elogistica-sao-pontos-positivos.html pág. 52 Figura 58: Indústria calçadista Juazeiro do Norte. Foto: http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/negocios/online/fortalezaregistrou-o-maior-pib-do-nordeste-em-2014-diz-ibge-1.1669069 pág. 53 Figura 59: Walter Gropius Foto: http://www.sytyson.com/biographie-de-walter-gropius/ pág. 57 Figura 60: Bauhaus por dentro. Foto https://pt.wikiarquitectura.com/construção/edificio-da-bauhaus-em-dessau/#lg=1&slide=17 pág. 57 Figura 61: Buhaus em Dessau. Foto https://www.archdaily.com.br/br/805820/classicos-da-arquitetura-bauhaus-dessau-walter-gropius pág. 57 Figura 62: Peças de exposição. Foto: https://www.galeriadaarquitetura.com.br pág. 58 Figura 63: Exposição CRAB. Foto: https://www.galeriadaarquitetura.com.br pág. 58 Figura 64: CRAB fachada. Foto: https://www.galeriadaarquitetura.com.br pág. 58 Figura 65: Resultado de trabalho feito na escola. Foto http://www.portoiracemadasartes.org.br pág. 59 Figura 66: Alunos trabalhando. Foto: http://diariodonordeste.verdesmares.com.br pág. 59 Figura 67: Fachada da escola. Foto: http://mapa.cultura.ce.gov.br/espaco/231/ pág. 59 Figura 68: Imagem aérea das cobertas. Foto: Bo Bardi, 1999. pág. 60 Figura 69: Salão para festividades. Foto: Bo Bardi; 1999. pág. 60 Figura 70: Fachada da igreja. Foto: Bo Bardi, 1999 pág. 60 Figura 71: Local das oficinas criativas. Fonte: https://www.ar7e.com.br pág. 61 Figura 72: Corredor entre os galpões. Foto: BO BARDI (1996) pág. 61 Figura 73: Interior de um galpão. Fonte: https://www.ar7e.com.br pág. 61 Figura 74: Módulos da escola Yotoco. Fonte: https://www.archdaily.com.br pág. 62 Figura 75: Entrada da escola Yotoco. Fonte:https://www.archdaily.com.br pág. 62 Figura 76: Implantação da escola Yotoco. Fonte:https://www.archdaily.com.br pág. 62 Figura 77: Planta da casa. Fonte https://es.wikiarquitectura.com/edificio/casa-marika-alderton/ pág. 63 Figura 78: Casa Marika por dentro. Fonte:https://es.wikiarquitectura.com/edificio/casa-marika-alderton/ pág. 63 Figura 79: Aberturas casa Marika. Fonte: https://es.wikiarquitectura.com/edificio/casa-marika-alderton/ pág. 63 Figura 80: Beata Maria de Araújo. Fonte: http://cearaemfotos.blogspot.com/ pág. 67 Figura 81: Imagem do Padre Cícero com políticos. Foto : Memorial Padre Cícero. pág. 67 Figura 82: Imagem de Juazeiro do Norte em 1911. Fonte: http://www.juazeiro.ce.gov.br/Cidade/Historia/ pág. 67 Figura 83: Estrada em Juazeiro do Norte. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes. pág. 68 Figura 84: Casa em região rural de Juazeiro do Norte. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes. pág. 68 Figura 85: Caminhos verdes em Juazeiro do Norte. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes pág. 68
Lista de Mapas Figura 86: Juazeiro na década de 30. Foto: http://cearaemfotos.blogspot.com/ pág. 70
Mapa 1: Localização do Cariri no Ceará. pág. 66
Figura 87: Juazeiro entre 1920 e 1940. Foto: http://cearaemfotos.blogspot.com/ pág. 70
Mapa 2: Principais equipamentos sociais do Juazeiro do Norte. pág. 77
Figura 88: Horto em 1969. Foto: http://www.juazeiro.ce.gov.br/Cidade/Historia pág. 70
Mapa 3: Equipamentos sociais do Bairro Frei Damião. pág. 84
Figura 89: Foto de toalhas com imagem do Padre Cícero em época de romaria. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes. pág. 71
Mapa 4: Área trabalhada do Bairro Frei Damião. pág. 89
Figura 90: Foto de pipoqueiro em época de romaria. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes. pág. 71
Mapa 5: Áreas verdes. pág. 91
Figura 91: Foto da Igreja do Socorro em época de romaria. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes. pág. 71
Mapa 6: Implantação escolhida. pág. 93
Figura 92: Fiéis na procissão de Nossa Senhora das Candeias. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes. pág. 72 Figura 93: Fiéis na procissão de Nossa Senhora das Candeias. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes. pág. 72 Figura 94: Velas usadas na procissão de Nossa Senhora das Dores. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes. pág. 72 Figura 95: Grupo de reisado. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes pág. 73 Figura 96: Bacamarteiros da paz. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes. pág. 73 Figura 97: Ex-voto. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes. pág. 74 Figura 98: Fotos 3x4 de fiéis tirada no Museu Vivo do Padre Cícero. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes pág. 74 Figura 99: Binóculo de fotos. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes. pág. 74 Figura 100: Foto da estátua do Padre Cícero na Colina do Horto. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes. pág. 74 Figura 101: Bairro Frei Damião. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes. pág. 78 Figura 102: Bairro Frei Damião. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes. pág. 78 Figura 103: Bairro Frei Damião. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes. pág. 78 Figura 104: Morada e comércio no Bairro Frei Damião. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes. pág. 80 Figura 105: Bairro Frei Damião. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes. pág. 80 Figura 106: Ruas do Bairro Frei Damião. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes. pág. 81 Figura 107: CRAS por fora. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes pág. 81 Figura 108: Vista do sol poente no Bairro Frei damião. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes. pág. 81 Figura 109: CRAS por dentro. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes. pág. 82 Figura 110: Atividade do CRAS com idosos. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes. pág. 82 Figura 111: Atividade artesanal do CRAS com mulheres. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes. pág. 82 Figura 112: PSF próximo à cozinha comunitária. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes. pág. 83 Figura 113: Distrito industrial. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes. pág. 83 Figura 114: Distrito industrial. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes. pág. 83 Figura 115: Pólo de convivência social. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes. pág. 83 Figura 116: Foto da líder comunitária Jô.Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes. pág. 85 Figura 117: Foto de cartaz sobre a história do bairro. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes. pág. 85 Figura 118: Entrada Principal. Perspectiva de: Ana Beatriz Ribeiro Gomes. pág. 112 Figura 119: Entrada do café. Perspectiva de: Ana Beatriz Ribeiro Gomes. pág. 115 Figura 120: Praça multiuso. Perspectiva de: Ana Beatriz Ribeiro Gomes. pág. 116 Figura 121: Praça Infantil. Perspectiva de: Ana Beatriz Ribeiro Gomes. pág. 116 Figura 122: Terreiro. Perspectiva de: Ana Beatriz Ribeiro Gomes. pág. 118 Figura 123: Pátio Interno. Perspectiva de: Ana Beatriz Ribeiro Gomes. pág. 118 Figura 124: Exposição. Perspectiva de: Ana Beatriz Ribeiro Gomes. pág. 120 Figura 125: Refeitório. Perspectiva de: Ana Beatriz Ribeiro Gomes. pág. 120 Figura 126: Ateliê. Perspectiva de: Ana Beatriz Ribeiro Gomes. pág. 122 Figura 127: Sala de Aula Teórica. Perspectiva de: Ana Beatriz Ribeiro Gome pág. 122
AGRADECIMENTOS Muitas mãos fizeram parte deste trabalho, mas o primeiro nome que vem à minha cabeça é Solange. Obrigada por acreditar nesse projeto e por me fazer olhar com seus olhos, por me fazer sentir o projeto ser real de alguma forma e por me surpreender a cada consulta. Todo dia eu te via maior. Te admiro muito. Obrigada Yuri, por estar comigo em todas as descobertas feitas no Cariri, por visitar toda aquela gente forte e sorridente. Sem você eu não teria conseguido iniciar tudo isso e muito menos conhecido o que conheci. Agradeço imensamente aos artesãos entrevistados. Pelo sorriso no rosto, pelo conhecimento compartilhado e por me fazerem pertencer àquele mundo de alguma forma só de estar ali imersa, escutando suas histórias, encantada com tudo aquilo. Vocês foram o que me levou a começar tudo isso, e me fizeram acreditar que o que eu buscava poderia ser encontrado ali, e que a partir daquele momento tudo fazia sentido. Obrigada às assistentes sociais do CRAS do Bairro Frei Damião, especialmente à Fábia, por compartilhar a realidade vivida no bairro em estudo, e por ter esperança de que um dia tudo pode ser melhor. Obrigada, Érica, por toda ajuda dada e por ser uma amiga que eu posso contar; Anna, pelas respostas tão gentis; Rod, Paulinha e Mamá, por compartilharem os dramas desse trabalho juntos; Assis, por suportar meus altos e baixos e mesmo assim estar ao meu lado; mãe, por ser minha mãe e acreditar em mim mais do que eu mesma; pai, por me fazer rir, e isso é muito importante; e Lana, por fazer eu me enxergar. Queria agradecer por fim ao conjunto, ao semestre, ao tempo, e a todo conhecimento adquirido. Hoje eu vejo tudo que envolve o Cariri com muito mais respeito. Tenho muito mais amor pelo lugar que foi minha morada, por toda a história que cerca o clima seco, a buchada de bode, a umburana, o Padre Cícero, a fé, o reisado, o couro, a palha de milho. Sou mais sensível graças a este trabalho, que me fez entrar em contato com um mundo que eu não conhecia e que faz parte de quem eu sou e de onde eu vim.
SUMÁRIO
4 Lugar
1 Começo
Introdução
1.1
4.1 Juazeiro do Norte: Essência Tradição e História
Justificativa
1.2
4.2 Bairro Frei Damião
Objetivos gerais
1.3
4.3 História do bairro
Objetivos específico
1.4
2 Mãos
5 Projeto
5.1 Premissas projetuais Panorama geral do artesanato
2.1
5.2 Projeto
Políticas públicas no artesanato Nordestino e Cearense
2.2
5.3 Programa
Programa de desenvolvimento do artesanato no estado do Ceará- PDA
2.3
5.4 Materiais construtivos
Entrevistas
2.4
5.5 Conforto ambiental
Artesanato no Juazeiro do Norte
2.5
Entrevista com artesãos locais
2.6
Mudanças no artesanato
2.7
Artesanato e design
3.1
Estudos de casos:
3.2
Obras arquitetônicas de referência:
3.3
3 Forma
Bibliografia
COMEÇO
1.1 Introdução
Específicos:
A Escola de Mãos, como o próprio nome diz, vem valorizar o trabalho manual, feito em pequena escala, em um ritmo mais lento, um trabalho sensível, que envolve cultura, tradição e resistência. O projeto consiste numa escola que ofereça aulas teóricas e práticas referentes às áreas do design e artesanato, situada no Bairro Frei Damião, na cidade Juazeiro do Norte. O intuito é estimular a formação artística da população do bairro, objetivando, também, sua qualificação profissional . O projeto vem fortalecer e valorizar um dos personagens mais importantes do Cariri: o mestre artesão.
Criação de galpões de produção manual onde o artista aprenda fazendo. Dentre as atividades oferecidas podemos destacar trabalhos com: palha, madeira, argila, couro e pedras. Toda essa produção teria um intuito de levar o artesanato e a produção em pequena escala com maior força para o mercado consumidor. As aulas práticas seriam ministradas pelos mestres artesãos do Cariri.
Outra vertente complementar da escola seria o trabalho manual voltado para a terra e o verde, onde seria ensinado à população do bairro uma melhor conscientização ambiental, de forma a estimular o cultivo de plantas que sirvam de matéria-prima para o trabalho artesanal, árvores nativas da cidade, como o próprio Juazeiro, a fim de que a paisagem nativa volte a aparecer.
Além do ensino da prática do artesanato, os alunos teriam salas direcionadas para aulas teóricas, onde seria trabalhado o aprimoramento da população em relação ao empoderamento do artesanato e o quão forte e proveitoso isso pode ser. Além disso, aulas teóricas sobre design, funcionalidade, cores, texturas formas seriam oferecidas aos alunos, lecionadas por designers formados, para darem uma roupagem mais atual e bem pensada para o que for produzido.
1.2 Justificativa Juazeiro do Norte é uma cidade que teve o artesanato ligado a sua origem, consistindo comum grande fator de crescimento econômico e social. Todavia, a crescente massificação de produtos industriais, assim como as fábricas calçadistas e a produção em larga escala de produtos descartáveis vem invadindo a região gradativamente, gerando uma concorrência desleal com os artesãos e seus produtos. A questão é que o artesanato vem cada vez mais perdendo seu valor e seu lugar, assim como os próprios juazeirenses não entendem a grandeza, a riqueza e a força do que é feito em pequena escala e de como isso pode vir a ser algo maior. As práticas manuais são feitas por pessoas mais velhas em sua maioria, não existe um local de ensino para jovens e é muito provável que essas formas de produção sejam perdidas e esquecidas com o tempo. A questão observada nas entrevistas feitas é que não existe nenhum órgão que estimule a disseminação desses saberes, assim como não existe uma instituição que se preocupe de fato com a formação e aprimoramento da criatividade desses artesãos. Em pesquisa de campo já realizada, foi observado que existem duas instituições: Ceart , que oferece cursos de uma semana para grupos interessados em aprender algum ofício, mas, em contrapartida não estimulam o “olhar de designer” do artesão, não ajudam a melhorar sua formação artística; eles apenas mandam um trabalho para ser produzido, que os artesãos precisam cumprir com maestria. O artesão não tem o direito de pensar, apenas de fazer. O SEBRAE, por sua vez, estimula o empreendedorismo dos artesãos de forma a levá-los para as grandes feiras de artesanato, mas também oferece algumas capacitações. O Bairro escolhido para o projeto é o Frei Damião, cuja população é oriunda de um grupo do Movimento Sem Terra, os quais tomaram a região em 1990, mas, hoje, todos têm seus lotes de terra perante a lei. O bairro apresenta altos índices de criminalidade, assim como muitos problemas sociais que acometem as áreas mais marginalizadas da cidade. Em algumas visitas ao Centro de Referência de Assistência Social, CRAS, do bairro, pôde-se perceber a grande ociosidade dos jovens, a falta de áreas de convívio, a carência de ligações afetivas da comunidade e a falta de equipamentos sociais. Tudo isso compromete muito negativamente a vida no bairro como um todo. Dessa forma, a Escola de Mãos surge para preencher alguns vazios do bairro, a fim de atingir principalmente os jovens adolescentes, trazendo a oportunidade de uma formação artística e de um futuro melhor.
1.3 Objetivos Gerais: A essência da Escola de Mãos é atuar como uma semente que pode ser replicada nas casas dos moradores do bairro: aprender na escola e ser capaz de produzir em casa. Dessa forma, a ideia é produzir um ambiente que tem como força principal formar pessoas capazes de produzir e pensar o artesanato de forma atual, limpa e inteligente, tendo como missão a resistência e preservação do artesanato no Cariri. Além disso, resgatar características naturais do bairro que foram eliminadas com o tempo, implantando uma maior consciência ambiental na população, a fim de melhorar a qualidade de vida.
A médio prazo o objetivo é que a população consiga se organizar e passe a produzir em casa o que aprendeu na escola e, com isso, dê espaço aos novos
19 alunos. A escola teria o papel de ponto inicial formador de muitos artistas que possam obter sua independência financeira e entrar no mercado de trabalho, aumentar o contato e melhorar a relação entre os jovens a fim de melhorar o convívio social. Além do viés artístico, a escola teria um papel de resgatar a paisagem natural do bairro, de forma a mostrar à população o quão positivo pode ser ter uma relação de maior respeito com a natureza. O objetivo é a recomposição parcial da vegetação que fazia parte da paisagem original do terreno, proporcionando o plantio de espécies como o juazeiro, que nomeia a cidade, além de ter uma área voltada para o plantio de matéria-prima que seria usada na própria escola como: palha de milho, palha de bananeira, carnaúba para esculpir. Um dos principais objetivos é que a escola seja concebida a partir de critérios de efetiva sustentabilidade , partindo das potencialidades do lugar, onde seus aspectos construtivos e ideológicos apresentem equilíbrio com o meio inserido.
Figura 1: Árvore resistente em sítio do Juazeiro do Norte. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes
MÃOS
O seguinte capítulo tem o intuito de expor com maior profundidade os assuntos que cercam o universo do artesanato, bem como sua origem, características e mostrar, por fim, uma visão crítica do que é feito para a sua manutenção futura.
2.1 Panorama geral do artesanato
2.2 Políticas públicas no artesanato Nordestino e Cearense
“o artesanato é obra material do artesão, fruto do seu trabalho realizado através das mãos na confecção de objetos destinados ao conforto do homem, carregados de expressões da cultura, onde a máquina, se utilizada, será apenas ferramenta, nunca fator determinante para sua existência”. (Córdola: 2013)
Com tal raciocínio, o uso passa a ser mais importante do que a beleza, a tradição cultural ou a resistência que um produto pode carregar. Ao comprar, não é pensado que algum objeto tenha sido produzido em uma fábrica em que as condições de trabalho são desumanas, utilizando matérias-primas nocivas ao meio-ambiente e que concorre de forma desleal com o pequeno produtor. O pensamento é o seguinte: um produto de plástico é muito mais útil, prático e barato; consequentemente melhor do que um produto de barro. Portanto, o artesanato, produzindo suas mercadorias em escala reduzida e com materiais alternativos encontrou dificuldade em competir com linhas de montagem de produtos industriais em larga escala. É interessante analisar, ainda segundo Córdoba (2013), que o artesanato é uma forma justa de distribuição de renda, afinal, nesse sistema, o artesão domina todas as etapas de produção e trabalha de forma autônoma, em seu tempo, desenvolvendo suas habilidades cumprindo metas e adquirindo lucros pessoais. Diferentemente, os operários fabris precisam estar empregados para trabalhar, dependem de uma terceira pessoa, o empresário, que por sua vez se beneficia e lucra através da exploração de seu empregado e sua jornada exaustiva de trabalho. Em se tratando da origem do artesanato, segundo (Grangeiro; Júnior: 2013), os primeiros objetos artesanais foram criados na Era Neolítica (6000 anos a.C.) Nesse período a humanidade começava a manusear e criar utensílios como pedras polidas para criar ferramentas, fibras animais e vegetais tecidas para aquecimento corporal e recipientes de cerâmica criados para cozinhar e armazenar recursos. Na Idade Média, durante os séculos X, XI e XII os artesãos que moravam ao redor dos castelos trocavam seus produtos por artigos agrícolas, e assim o sistema artesanal de manufatureiro ia surgindo e crescendo prosperamente, abastecendo os burgos que se formavam. Do século XII ao século XV surgiram as corporações de ofício, ou guildas: instituições formadas por artesãos e comerciantes que discutiam sobre seus interesses e protegiam seu mercado, ambicionando crescimento econômico. Existiram várias corporações de ofício, como, por exemplo, alfaiates, sapateiros, carpinteiros, ferreiros e construtores (Grangeiro; Junior apud Martins 1973). De acordo com Júnior(2001), nas guildas existiam regras para entrar e havia controle sobre a quantidade, qualidade e preço dos produtos. Normalmente o preço era tabelado, chamado de “preço justo”. Artigos semelhantes não podiam ser vendidos na mesma cidade e a qualidade dos produtos era similar, o que aniquilava qualquer concorrência e garantia bons resultados financeiros. Além disso, havia uma hierarquia sobre quem trabalhava, onde o mestre era dono da oficina, da matéria-prima e das ferramentas e dominava a técnica, o oficial eram contratados mediante salário e o aprendiz era o aluno, que trabalhava para aprender e não era pago. Com a Revolução Industrial todo esse histórico de artesanato voltado para trabalhos em baixa escala, de origem familiar, com carga cultural e histórica embutidos foi colocado de lado. Agora a massificação, a mecanização da produção em larga escala e a divisão do trabalho em linhas de montagem com péssimas condições de trabalho são colocados em evidência. Na segunda metade do século XIX, surgem grupos de arte e ofícios, ou movimento Art and Crafts, que representa uma resistência à mecanização da produção. William Morris foi o líder do movimento que defendia a premissa da arte “feita pelo povo e para o povo”, onde o artesão teria o papel de artista, criador e produtor de sua obra. Dessa forma, surgem inúmeras associações de produção de móveis, tapetes, estofados, prata, entre outros. Hoje a herança de escolas que ensinam na prática algum ofício foi difundida pelo mundo, inclusive no Brasil como o Liceu de Artes e Ofícios que teve sede em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia. Em Fortaleza existe a Escola de Artes e Ofícios Thomaz Pompeu Sobrinho.
De acordo com Lemos (2011), políticas de incentivo ao artesanato no Brasil começaram a acontecer na década de 1960, graças a programas encabeçados pela Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste – SUDENE e pelo Banco do Nordeste do Brasil – BNB. Na década de 1970, o Governo do estado do Ceará concebeu uma política de gestão voltada para o setor artesanal, por meio do trabalho do Departamento de Artesanato e Turismo, órgão vinculado à Secretaria da Indústria e Comércio. Posteriormente foi criada a Empresa Cearense de Turismo- EMCETUR . Em 1981 são criados o FUNDART e a CEART, com o intuito de centralizar, difundir e comercializar os produtos artesanais, priorizando o mercado turístico. No ano de 2003, a Secretaria do Trabalho e Empreendedorismo (SETE) começou a orientar o Programa Cearense de Artesanato. Os resultados do programa promoveram estruturas para melhorar a produção e comercialização.Em 2007 a Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social (STDS) implanta projetos e desenvolve ações do Programa de desenvolvimento do Artesanato do Estado do Ceará (PDA), com o objetivo de melhorar a qualidade da produção artesanal, preservando aspectos culturais e adotando medidas que insiram o artesanato como atividade econômica no contexto de globalização, a fim de assegurar a vida do artesão. Apesar disso, segundo Cordoba (2013), é necessário refletir que na atual realidade não se vê em nenhum estado nordestino qualquer discussão que fortifique efetivamente o artesanato, que se preocupe com a formação intelectual, que melhore as condições de trabalho, com a qualidade de seus produtos, que invista no trabalho artístico e que valorize de fato a figura do artesão, desmistificando a sua ligação com o turismo e protegendo-os da exploração intermediária. Fora isso, não existem locais que proliferem estes saberes culturais, não existem locais no Juazeiro do Norte ou mesmo no Cariri, berço de grandes formas artesanais do país, que garantam a permanência dessas práticas com locais de ensino. Por tais motivos, tendo em vista o descaso com a realidade do artesão, o trabalho proposto oferece um equipamento que garante a transmissão de tais práticas manuais para gerações futuras, assim como garante o conhecimento teórico e embasado.
Figura 2: Bolsas feitas de palha de milho. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes
Nos anos 90, de acordo com Córdola (2013), com a escalada neoliberal no mundo, as atividades artesanais perdem consideravelmente seu valor e tal prática saiu do nosso repertório econômico-social. Isso se deve ao fato de que, no capitalismo, incentiva-se a compra exacerbada, rápida e programada para não instigar nenhum raciocínio no ato da compra de produtos, que, por sua vez, são vazios de expressão e apresentam preços baixos, estimulando sua massificação.
23
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2.3 Programa de desenvolvimento do artesanato do estado do Ceará - PDA
2.4 Vista à Ceart e ao SEBRAE 2.4.1 Visita à CEART de Juazeiro do Norte Entrevista com as técnicas Ivone e Janise | 25.01.2018
O PDA é uma política pública orientada pela STDS, que tem por objetivo afirmar e valorizar o artesanato no Ceará, mantendo-o como forma de cultura, talento e tradição viva e crescente do estado. Para isso, ele desenvolve projetos para qualificar o artesão, incentiva comercialização do artesanato, faz a gestão da CEART e gerencia o FUNDART, de forma a assegurar a profissão de artesão e garantir a qualidade de vida dos mesmos. O artesanato no Ceará é uma atividade muito antiga que mostra suas raízes populares. Dessa forma, é uma prática muito rica e diversificada ao redor de todo estado, que apresenta uma especificidade de matéria-prima em cada região. Dentre elas podemos observar: - Argila: do barro são modeladas as mais diferentes formas, criando produtos para decoração e úteis para o dia a dia, como moringas, potes, lixeiras, conjuntos de panelas, travessas e pratos. - Fios e tecidos: para vestir ou decorar ambientes, são inúmeras as opções entre roupas, toalhas, colchas e mantas, de bordado à máquina e à mão, crochê, filé, labirinto, renda, tecelagem e rechiliê, além de bonecos artesanais. - Madeira: mais forte na região Sul do estado, o artesanato em madeira pode ser esculpido ou torneado, apresentado em forma de móveis, bandejas, esculturas, jogos americanos e outras peças. - Fibra vegetal: do milho, da carnaúba, do sisal e do coqueiro são aproveitadas as fibras naturais ou coloridas para a confecção de caixas, luminárias, cestas, chapéus, bolsas e flores decorativas. - Couro: seja para a composição em retalhos, sapataria ou selaria, o artesanato em couro é um dos mais ricos do estado. Os desenhos remetem a estilos centenários que não saem da moda e a durabilidade e o conforto são os principais atrativos para o consumidor. - Papel: coleções de xilogravura (técnica de impressão a partir de uma matriz de madeira) remetem à literatura de cordel e tem como tema a vida sertaneja. São originais e uma ótima opção para uso ou presente. É importante destacar que hoje o artesanato é uma das profissões com grande potencial de geração de emprego e renda do estado, incluindo a mulher e o jovem no mercado de trabalho e fixando o artesão no seu local de origem, de forma a contribuir fortemente com a consolidação da identidade cultural do Ceará.
Figura 3: Amostras de couro tingido de Espedito Seleiro. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes
A Ceart foi criada no Governo de Virgílio Távora por sua esposa Luíza Távora, em 1979, e tem como público alvo grupos produtivos e artesãos individuais. Atualmente é vinculada à STDS e dirigida pelo já mencionado PDA. Oferece atividades diversas aos artesãos com o intuito de fortalecer e perpetuar o artesanato, tais como: capacitações de gestão empreendedora e tecnológica para a fabricação de novos produtos, viabilização da participação dos artesãos em feiras e eventos, qualificação, organização da produção e comercialização do artesanato. A Ceart trabalha em parceria com os artesãos do Ceará. Para que haja esse vínculo, o artesão precisa se cadastrar na Ceart, passando por um teste de habilidade onde ele produz ao vivo alguma peça sua. Em seguida, o artista recebe uma carteirinha de identidade profissional, que identifica como e com o que o artesão trabalha. Automaticamente, o artesão recebe uma carteirinha do PAB, que é uma identificação estadual do Programa dos Artesãos do Brasil, que o registra como profissional. Com essa identificação o artesão recebe alguns benefícios , como a isenção de impostos em notas fiscais, por exemplo. Com esse registro e a carteirinha os artesãos podem trabalhar de fato com a Ceart. Para que isso aconteça deve haver o interesse de pelo menos vinte artistas com no mínimo dezesseis anos. O grupo procura a Ceart através de um ofício descrevendo seu trabalho e suas necessidades. As técnicas do Juazeiro do Norte vão visitar o local de produção e conferem se tudo está de acordo com a descrição daquele ofício. Elas analisam o trabalho e a demanda e enviam para a sede principal em Fortaleza a decisão acerca do auxílio a ser concedido aos artesãos. Em seguida, a Ceart se prontifica a levar um designer e um mestre artesão, que, por sua vez, vão trabalhar no aperfeiçoamento das técnicas do grupo aprendiz. O curso ocorre durante uma semana e, em seguida, é oferecido um outro sobre gestão, no qual os artistas tem noções de mercado, custos e valores para atribuírem preços adequados aos seus produtos. No trabalho da Ceart, contrata-se um designer que cria uma coleção com a ajuda do mestre artesão. Nesta coleção são padronizadas cinco peças desenhadas pelo designer e em seguida são produzidas pelo mestre artesão. Nesta fase os artesãos não são consultados, pois eles entram apenas como mão de obra. Finalizada a produção, a coleção é enviada para a Ceart de Fortaleza que vai aprovar ou mudar algum detalhe na coleção, como cor/tecido. Ao serem finalizados os ajustes, o mestre artesão vai passar uma semana com os aprendizes ensinando como os produtos devem ser feitos, mostrando o nível de detalhe e a técnica. Passada a semana de aula os aprendizes agora terão um período para produzir e assim a Ceart compra o que foi produzido. O valor justo do que é produzido pelos artesãos é obtido através do curso de gestão que a Ceart oferece.
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2.5 Artesanato no Juazeiro do Norte
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De acordo com Grangeiro (2015), o Padre Cícero chegou a Juazeiro do Norte com o desejo de desenvolver a região estimulando o trabalho e a oração. Após o episódio da beata Maria de Araújo, a cidade passa a acolher diversos tipos que ali fazem moradia. O lugarejo torna-se um celeiro de mão de obra com pessoas que desejam melhorar suas condições de vida. Percebendo as habilidades manuais do povo, a força do artesanato no estímulo à economia e a devoção à sua pessoa, Padre Cícero toma algumas atitudes que incentivam a comercialização do produto artesanal. Um episódio muito conhecido até hoje na cidade remonta a um conselho que Padre Cícero dera a um morador recémchegado. O padre diz que o romeiro deveria fabricar candeeiros mesmo sem saber se iria vender. O fato aconteceu próximo da Procissão de Nossa Senhora das Candeias. O sacerdote orienta os fiéis a portar um candeeiro comprado a certo vendedor por ele indicado, pois seriam bentos. Tal fato é uma das inúmeras atitudes que o padre tomava para estimular a atividade artesanal na região, que, em determinada época, era tão conhecida por essa prática que foi chamada de “Cidade Oficina”, em um período em que havia ruas inteiras de ourives e sapateiros. Na época o artesanato era a principal atividade econômica. Com o passar do tempo e dos interesses do mundo globalizado, chegou o momento em que as indústrias começam a chegar na região, por volta de 1990. Tal conjuntura muda completamente a realidade, modo de vida e costumes do lugar. Panelas que antes eram de barro agora podem ser de alumínio, mais resistentes e mais funcionais. A sandália de couro é trocada pela sandália de borracha, o gibão de couro e o cavalo são substituídos pela jaqueta de couro e a moto, a boneca de pano é trocada pelo brinquedo de plástico.
Figura 4: Esculturas de barro de Maria Cândido. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes
2.4.2 Visita ao SEBRAE de Juazeiro do Norte Conversa com Édio Callou | 24.01.2018 O SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às micro e pequenas Empresas - é uma entidade privada sem fins lucrativos que vê os artesãos como potenciais empreendedores trabalhando hoje com o objetivo de fortalecer e disseminar a produção local pelo país. Atualmente, o SEBRAE apresenta três projetos para o ano de 2018: Turismo Sustentável no Geoparque, Brasil Original e o Comércio Varejista. A rodada de negócios é uma ação do Projeto Turismo Sustentável no Geoparque, que traz os maiores empresários compradores das principais lojas de artesanato do país para comprarem os produtos locais. O SEBRAE também leva os artesãos para feiras em outros estados. Para que o artesão possa se unir ao SEBRAE é necessário apresentar algum documento que prove seu envolvimento com o artesanato, como a carteira nacional do artesão, ligada ao PAB, Programa de Artesanato do Brasil ou o MEI, Microempreendedor Individual. Finalmente, o trabalho do SEBRAE é dividido em três eixos principais: gestão, comércio e design, com isso ele oferece palestras, oficinas, cursos técnicos e consultorias para que o produtor melhore seu trabalho e sua linha de produção, sendo capaz de vender seu trabalho a um preço justo e rentável. Além disso, o SEBRAE seleciona artistas para feiras nacionais e internacionais oferecendo um estande de venda, custeando passagem e estadia em estado diferente para que o artesão possa vender seu trabalho.
O capitalismo não deixa brecha para o trabalho manual. As máquinas tomam o lugar do homem, pois são mais rápidas, não recebem salário, não descansam e não reivindicam direitos trabalhistas. Quando a sociedade e os interesses mudam, os que não podem lutar contra este fenômeno precisam se adaptar à realidade, e foi o que aconteceu com o artesanato do Juazeiro. Grangeiro (2015) diz que a mudança de hábitos culminou com a perda de valores que representavam a tradição da cultura sertaneja nordestina. Os próprios produtores passaram a negar o que é deles e a se interessar pelo que vem de fora. Como pode um personagem viver sem seu cenário? Sem seu lugar? Sem o que o faz ser personagem? Foi isso o que aconteceu com o que era mais forte no Juazeiro: desvalorizaram sua essência, desvalorizaram sua raiz, desvalorizaram o trabalho feito por mãos. Além da vinda das indústrias, alguns aspectos do trabalho artesanal contribuíram para que ele estancasse com o tempo: inacessibilidade da matéria-prima, pois muitas vezes é escassa e necessita de coleta cuidadosa para ser usada, como é o caso da palha de milho, ou muitas vezes ela pode estar sendo extinta, como é o caso da madeira de umburana. Outro aspecto é o ambiente de trabalho, que, muitas vezes é a residência do artesão, o que restringe a disponibilidade para o ofício, que conflita com os trabalhos domésticos. Um terceiro aspecto é a comercialização do produto, que geralmente é feita de forma que desvaloriza o produto, dada a informalidade e os preços baixos da venda. Além de tudo, ainda existem os atravessadores, historicamente conhecidos, que são as pessoas que compram o produto diretamente do artesão e vendem por preços superfaturados. Hoje o Juazeiro do Norte continua sendo o maior polo de artesanato, tanto em quantidade quanto em diversidade de produtos, agindo como uma forte resistência ao modo de produção dos dias atuais. Alguns grupos foram entrevistados, a fim de entender quem são, como trabalham e como vivem os artesãos do Juazeiro do Norte nos dias de hoje.
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29 2.6 Entrevistas com artesãos Com o intuito de entender a realidade dos artesãos do Cariri, decidi fazer entrevistas pessoalmente nos seus locais de trabalho, a fim de entender com maior profundidade o tema do trabalho e mergulhar no universo do artesanato. As conversas tinham como base compreender como os artesãos trabalhavam, qual o local, quais seus materiais de trabalho e quais suas histórias de vida. As visitas foram feitas nas cidades de Juazeiro do Norte, Crato, Barbalha e Nova Olinda. É importante destacar que muitos dos artesãos estão vinculados a associações.
2.6.1 Visita à Lira Nordestina | 20.12.2017 Conversa com Xilógrafo José Lourenço Juazeiro do Norte Esse foi o primeiro dia de descoberta do mundo dos artesãos do Cariri. Cheguei na Lira Nordestina, situada hoje no prédio Vapt Vupt, lugar onde documentos pessoais são produzidos no Juazeiro do Norte de forma rápida. Logo de início pude perceber um descaso com o local destinado à Lira, pois o caminho estava coberto de insetos pelo chão e paredes, mas a má impressão foi transformada pelo sorriso e alegria do homem simpático que eu conheci na entrada do local, que, por sua vez se prontificou em responder às minhas perguntas. Ali era José Lourenço, xilógrafo famoso no Cariri, que cuidava daquele lugar com amor e dedicação. Figura responsável pela disseminação e resistência dessa arte no Cariri. Logo perguntei sobre a história da xilogravura e do início de tudo aquilo. Prontamente, Zé Lourenço, como é conhecido, fala de como tudo começou: O romeiro José Bernardo da Silva, alagoano que se mudou para o Juazeiro do Norte em 1926 graças à fama da terra santa, começou a vender cordéis por conselho do Padre Cícero. Em 1932 ele compra suas primeiras máquinas tipográficas e cria a Tipografia São Francisco. Em 1949, José Bernardo compra o direito de publicar as obras dos maiores poetas de cordel do Brasil: Leandro Gomes de Barros e João Martins de Athayde e, em 1950, sua tipografia vira a maior editora de Cordel do Brasil, exportando para todo o país. Com o passar do tempo, nos anos sessenta a venda de folhetos cai bastante e, em 1972, José Bernardo falece. Em 1988 o Governo do Estado do Ceará compra a Tipografia São Francisco, que hoje está sob os cuidados da Universidade regional do Cariri.
Figura 5: Foto de José Lourenço: Ana Beatriz Ribeiro Gomes
Figura 6: Local de trabalho da Lira Nordestina. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes
José Lourenço fala também das dificuldades do trabalho, onde a matéria-prima é a maior carência. A questão é que a melhor madeira para se trabalhar é a de umburana, árvore não produzida nem encontrada no Ceará. Atualmente a madeira é importada de Pernambuco, mas não existe nenhum incentivo governamental para que a árvore seja plantada aqui, o que quebra o ciclo produtivo. Além disso, Zé fala da falta de incentivo para que essa prática seja disseminada pelos jovens juazeirenses e comenta que o plantio deveria ser incentivado por agricultores e fazendeiros locais, tendo em vista que é uma árvore que existia no Juazeiro do Norte nos seus primórdios. Atualmente, a Lira Nordestina é composta por oito artesãos fixos e os produtos ofertados por eles são os mais diversos possíveis. José Lourenço afirma que, para sobreviver, foi preciso diversificar a produção. Logo, pode-se encontrar camisas, sandálias, azulejos que são resultado do escaneamento de xilogravuras, e os próprios cordéis. Além disso, estão sendo vendidas as próprias matrizes das xilogravuras, algo que não era feito antigamente, dada a importância da peça no processo de produção. Em se tratando dos materiais usados, podese destacar as goivas e estiletes, que servem para talhar a madeira, folhas de papel carbono para marcar a madeira, lixas para polir e rolos de xilogravura para pintar as matrizes. Figura 7: Matrizes que são vendidas como ímã de
geladeira. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes Figura 8: Matriz. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes Figura 9: Matriz. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes
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31 2.6.2 Visita ao Centro Mestre Noza | 21.12.2017 Conversa com escultor Adalberto Soares: Beto | Juazeiro do Norte A visita ao Centro Mestre Noza aconteceu de modo informal e teve ajuda do escultor Adalberto Soares da Silva, mais conhecido como Beto, que trabalha no centro Mestre Noza há trinta e cinco anos. Beto estava esculpindo a imagem de um Mateo, personagem famoso dos reisados, quando o abordei para uma conversa sobre a história do centro e dos artesãos. Beto conta que aprendeu o ofício de talhar a madeira com seu irmão, que por sua vez já trabalhava no centro e foi ensinado pelo antigo mestre “Cizim”, um dos pioneiros do centro de artesãos. Logo, Beto começou a talhar imagens aos poucos em sua casa, com as dicas do irmão, e ao vender a primeira peça, começou a tomar gosto pelo trabalho. Com pouco tempo associou-se ao Centro Mestre Noza e aos poucos foi aperfeiçoando sua técnica com a ajuda dos outros colegas de trabalho. Ele conta que o mais difícil é o rosto, pela delicadeza dos traços e dos detalhes. No início seu irmão fazia o rosto de suas peças e em troca ele fazia o acabamento das dele. Fala brincando “nada é de graça, né menina, nem pra família”. Ainda hoje Beto trabalha esculpindo as peças de madeira e assim como os outros colegas auxilia no ensino de jovens artesãos. Em se tratando das ferramentas utilizadas podemos citar: serrote, usado normalmente no início da produção para cortar em tamanhos adequados de forma grosseira a madeira; machadinha, ferramenta que lembra um machado pequeno mas com uma ponta cortante; formão, que é uma espécie de espátula afiada que pode apresentar tamanhos diversos e pode ser uma adaptação de uma faca; goiva, que juntamente com o boril apresenta formatos diferentes por terem uma lâmina curva e pontuda que lembra uma semi circunferência.
Agora falemos um pouco da matéria-prima. A madeira utilizada pelos artistas é a umburana, árvore atualmente concentrada na Bahia e Pernambuco. O último é hoje o estado que abastece o Centro Mestre Noza. A umburana existe de dois tipos: de espinho e de cheiro. A melhor de se esculpir é a de espinho, por apresentar uma casca mais fina e tronco mais espesso, o que facilita o trabalho. A umburana mais apropriada de se trabalhar é a madura: mais velha, mais seca e mais macia, mais fácil, portanto, de cortar. Apesar dessas qualidades, “a umburana é uma caixinha de surpresa” como diz Beto. Apresenta problemas pois pode ter uma casca aparentemente saudável, mas ao ser cortada o miolo pode apresentar buracos e falhas que podem comprometer uma escultura, assim como a casca pode apresentar deformidades e estar danificada por insetos, mas seu interior pode estar intacto. Todavia, mesmo com tais incertezas não existe madeira que possa substituir a maciez da umburana. Após produzida a peça ela deve passar pelo acabamento. Há artistas especializados nisso, e para o acabamento, existem alguns processos: inicialmente, peças que apresentam defeitos devido a buracos ou falhas da própria umburana são preenchidas. Tal preenchimento é feito por uma mistura de cola branca e pó de umburana, comprado em serrarias locais. Com a mistura feita as falhas são preenchidas e a peça fica completa no molde desejado. Após isso, a escultura é polida com lixas para construção e, na última etapa, usa-se a cera de umburana para o polimento da peça. Atualmente a cera não está sendo encontrada com facilidade. Dessa forma, artistas usam uma mistura de cola de sapateiro Figura 10: Foto de Beto esculpindo. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes Figura 11: Homem esculpido por artesão. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes Figura 12: Esculturas de umburana. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes
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33 O centro Mestre Noza é uma associação de artesãos que trabalham em sua maioria com esculturas de madeira e normalmente reproduzem grandes nomes que marcaram a história do Nordeste como: Padre Cícero, Patativa do Assaré, Luíz Gonzaga, Lampião, Santo Antônio, Antônio Conselheiro entre outros. Atualmente apenas homens trabalham na associação com a madeira; outros artesãos trabalham com palha e barro fornecem seus trabalhos para o centro, mas a produção é feita em suas próprias casas. Dentre elas podemos citar a Família Cândido e a Família Mouro que trabalham com esculturas em barro. Outro grupo que é associado ao centro é um grupo de mulheres da palha, coordenados pela Luíza que trabalham no caminho do Horto. É interessante observar que a grande maioria dos artesãos presentes aprenderam o oficio ali mesmo, com os artesãos que lá trabalham. O local de trabalho é embaixo de árvores, ao redor de um pátio coberto, imersos em centenas de esculturas produzidas por eles mesmos e por artesãos que já não estão mais ali. O local apresenta salas que funcionam como museu, onde as peças são relíquias, e lojinhas onde os trabalhos estão à venda.
Figura 15: Umburana armazenada ao ar livre. Foto: Ana
Beatriz Ribeiro Gomes
Figura 16: Serradeira para cortar os caules da madeira
em pedaços menores. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes
Figura 13: Local de trabalho dos artesãos. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes Figura 14: Local de trabalho dos artesãos. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes
Figura 17: Ferramentas de esculpir a umburana. Foto:
Ana Beatriz Ribeiro Gomes Figura 18: Entrada do Centro Mestre Noza. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes
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Figura 19: Peças do Museu do Centro Mestre Noza.
Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes Figura 20: Peças do Museu do Centro Mestre Noza. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes Figura 21: Máscaras de argila feitas por família local que vende sua arte no Centro Mestre Noza. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes
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37 2.6.3 Visita à Associação dos Artesãos Irmãos e Amigos da Arte Monsenhor Murilo | 22.12.2017 Conversa com o escultor de palha Luciano Bezerra Juazeiro do Norte A conversa ocorreu na casa de Luciano, local onde as estruturas de madeira e aço galvanizado, que, por sua vez, dão forma aos futuros produtos cobertos por palha, são criados pelo próprio Luciano. Luciano conta que tudo teve início na Associação de Artesãos da Mãe das Dores em 1984. Essa associação unia artesãos que tinham como produto principal cartões feitos de fibra, tecido, casca de banana e palha de milho que eram estampadas por imagens religiosas como o Padre Cícero, a beata Maria de Araújo ou elementos do cotidiano dos juazeirenses. A Associação tinha vínculos com as irmãs da Igreja Matriz de Nossa Senhora das Dores e as irmãs holandesas Teresa Guimarães e Annete Dumoullin que ajudavam nos ensinamentos e na coordenação da associação. Essas missionárias estrangeiras eram associadas a uma instituição internacional chamada Tito de Alencar que, por sua vez, era a maior compradora dos cartões produzidos no Juazeiro. Nesta época, o pároco e coordenador da igreja matriz era Padre Murilo, que, por sua vez, doou um terreno para concentrar a produção da Associação de Artesãos Mãe das Dores. Da década de 2000 houve uma queda na exportação internacional , dessa forma, os artesãos tiveram que se voltar para o mercado local na busca de retomar suas vendas. Foi nesse período que surge a ideia de produzir objetos com palha de milho. A partir dessa data, a associação começa a investir em cursos e parcerias com a CEART e o SEBRAE, a produção começa a se diversificar, novas formas e variações de produtos são criadas, a palha começa a ser tingida e, dessa forma, surge a produção de palha no Cariri.
O único empecilho da produção é a matéria-prima: a palha de milho.No início dos trabalhos a palha era adquirida gratuitamente com agricultores locais. Hoje porém a colheita é feita muitas vezes por máquinas que danificam a palha, impossibilitando a sua utilização para o artesanato. A saída encontrada foi pagar pela palha produzida na cidade de Caririaçu, onde existem muitos agricultores de milho. Luciano ensinou como a palha deveria ser colhida, ensacada e armazenada para seu uso artesanal. Atualmente é a matéria-prima da associação e todos se beneficiam com o aprendizado.
Figura 22: Foto do artesão Luciano. Ana Beatriz Ribeiro Gomes
Figura 23: Fôrmas de madeira para emoldurar a palha.
Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes
Pode-se afirmar que a Associação de Artesãos Mães das Dores foi a pioneira do trabalho com palha de milho no Ceará. A partir de cursos e workshops com a mais experiente artesã Tecla Cosme e seus alunos mais competentes como o próprio Luciano Bezerra, o ensino foi disseminado e hoje artesãos individuais ou outras associações que surgiram em outras cidades como Caririaçu abastecem os mercados e feiras do estado e do país.
Figura 24: Base de madeira para dar forma à palha.
Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes
utilizado que serve como “esqueleto” são os arames galvanizados, que ficam dentro da trama de palha e se incorporam ao objeto. Para trabalhar com os arames e conseguir a forma desejada, Luciano usa uma máquina chamada “ponteadeira”, que serve para unir os vértices dos objetos. A madeira utilizada para a produção das formas é a madeira de reflorestamento pinus e compensados de madeira para produzir elementos mais delicados. Para o corte dessas madeiras usa-se a serradeira. Figura 25: Arames galvanizados que servem como “esqueleto” para objeto de palha. Foto:
Em se tratando do processo produtivo, para a criação da maioria Ana Beatriz Ribeiro Gomes dos objetos são necessárias fôrmas de madeira, retiradas quando o Figura 26: Cestas feitas de palha e milho. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes objeto está pronto. Juntamente da madeira, alguns pregos são colocados Figura 27: Serradeira para cortar as bases de madeira. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes para que a palha se ligue à fôrma de modo que não solte. Outro material Figura 28: Palha sendo trançada na estrutura. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes
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39 2.6.4 Visita à Associação de pequenos agricultores e moradores do sítio Cabeceiras Conversa com as mulheres da palha de bananeira | 28.01.2018 | Barbalha Figura 29: Mulheres retirando a “renda” do caule da bananeira. Figura 30: Faces do caule da bananeira retirados.
Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes
Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes
A visita aconteceu no Sítio Cabeceiras, próximo à cidade de Barbalha. No caminho do local, seu Francisco, proprietário do sítio, me disse para avistar uma motocicleta verde parada à esquerda da pista. Ele estaria ali para me encontrar, e assim foi feito. Seu Francisco veio ao meu encontro com sorriso largo: “estacione ali na sombra, minha filha, tem umas mulheres trabalhando ali embaixo da árvore”. Ao sair do carro avistei um grupo de sete mulheres embaixo da sombra de uma mangueira trabalhando sobre uma mesa improvisada. As mulheres estavam retirando o tronco da bananeira a fim de separar a palha, uma cena muito bonita de se ver. Ao me aproximar perguntei o que elas estavam fazendo, como faziam aquilo e dona Maria do Carmo, esposa de Seu Francisco, me respondeu: “Primeiramente tiramos o tronco da bananeira, depois retiramos as faces” (o tronco de bananeira parece um palmito, é preenchido por capas). Uma segunda pessoa corta a face em pedaços menores e agora elas vão retirar a “renda da bananeira” (parte que preenche o interior das capas, miolo). A renda é usada também após seca no artesanato. As duas extremidades que envolvem o miolo são as palhas propriamente ditas da bananeira. Existe uma mais resistente que a outra, que no caso é usada para formar os fios, e é a parte externa. Já a menos resistente, a parte interna da capa, é usada em toda sua extensão também na produção. Para retirar o miolo, as mulheres usam facas para rasparem a face sobre a mesa e o que resta é a palha. Após separadas, as palhas são colocadas para secar no sol, enroladas e guardadas em sacos para as produções futuras.
Figura 31: Plantação de bananeiras do sítio Cabeceiras. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes
Figura 32: Mulheres transformando caule da bananeira em palha sob a sombra do pé de manga. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes
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41 Quando a palha é retirada para produzir as peças, é molhada para que amoleça e possa ser trabalhada de forma mais fácil. Normalmente a palha menos resistente é usada de modo semelhante à técnica da palha e milho, onde estruturas de arame são feitas e a palha é usada para envolvê-las, o que é feito com cola. Normalmente são feitos cestos e caixas. A parte da palha mais resistente, o fio, é usada para produzir bolsas e elementos decorativos com a técnica de crochê. A diferença das bolsas de milho e de bananeira, pelo que pude observar é a maleabilidade, pois os artigos feitos com palha de bananeira são mais delicados, suaves ao toque e tem mais movimento, além disso não são tingidos ainda. A associação hoje apresenta sete mulheres e dois homens, que ajudam a cortar o tronco das bananeiras. Seu Francisco é o dono da terra e ele foi procurar a CEART do Juazeiro do Norte em 2015 em busca de algum curso para as mulheres daquela região. A CEART ofereceu o curso de palha de bananeira, pois era uma técnica pouco explorada na região. Hoje as mulheres se reúnem normalmente à tarde para fazerem a extração da palha e os trabalhos de fabricação de produtos é feito individualmente em suas casas. Figura 33: Palha enrolada e seca. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes
Figura 35: Possibilidade de produto final. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes
Figura 34: Renda do caule da bananeira. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes
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43 2.6.5 Conversa com bonequeira Francisca Piancó | 29.01.2018 | Crato
Era uma segunda-feira por volta de onze horas quando eu encontrei no Crato uma feirinha de artesanato, e lá estava dona Francisca em sua barraquinha conversando com sua vizinha de barraca, Cícera. Logo me apresentei, pois gostaria de saber mais sobre o trabalho e a história das bonecas de pano. Dona Francisca faz parte da Associação das Bonequeiras do Pé de Manga, que foi onde ela aprendeu em 2007 a fazer as bonecas. Ela disse que hoje, onde fica a Igreja Batista do Crato, existia uma casa com um grande terreno e vários pés de manga. Tal casa era do pai de Elisete, senhora que uniu em média quinze mulheres para produzirem mil bonecas de lã. Dessa união surgiu a associação, onde as mulheres faziam do quintal seu ambiente de trabalho. Lá elas varriam, levavam mesas, cadeiras e materiais para produzir e passavam as tardes fazendo bonecas. Hoje o número de associadas diminuiu bastante e Dona Francisca é a única veterana. Ela conta que já fizeram quatro bonecas de um metro e sessenta para o São João de Nova Olinda. Nesse trabalho eles usaram uma criança como molde do corpo e o processo era igual às miniaturas: faz-se o molde no tecido, corta a frente e as costas da boneca, em seguida ela é toda costurada para a frente se unir às costas, mas a cabeça não é costurada, para que seja virada ao avesso. Depois de virada, na imperfeição da cabeça é colocado o cabelo, que cobre o defeito, e em seguida são acrescentados as roupas e o rosto. Tudo feito à base de linha e tecido.
2.6.6 Visita ao mestre do couro Espedito Seleiro | 20.01.2018 | Nova Olinda
A visita aconteceu em sua oficina, onde estava Espedito e um ajudante que fazia parte da família. Depois de me apresentar, perguntei sobre o lugar, sobre como era dividido e ele me explicou que o necessário para se produzir são inicialmente mesas grandes para desenhar e cortar o couro nos moldes, máquinas de costurar para unir as peças e mesas resistentes para se moldar as sandálias conforme os moldes dos pés. Ele ressalta a importância de uma boa faca amolada, como a lâmina rabo de peixe, que é a que ele usa para recortar o couro Em se tratando do couro ele afirma que trabalha com todo couro existente, de qualquer animal, mas o mais usado são os couros de bode e de boi por oferecer outros tipos de material em um só: raspa, pelica, camurça, sola, vaqueta.
Figura 36: Foto da artesã de bonecas de pano Francisca Piancó:
Ana Beatriz Ribeiro Gomes Figura 37: Molde de boneca de pano. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes Figura 38: Bonecas de pano prontas. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes Figura 39: Artesão Espedito Seleiro. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes Figura 40: Moldes de pés para produzir as sandálias. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes Figura 41: Ferramentas usadas pelo artesão. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes
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Espedito conta que começou seu trabalho com couro ainda criança, com oito anos ajudando seu pai e avô que eram seleiros. Desde essa época Espedito faz selas e depois passou a vestir um vaqueiro por inteiro, fazia o sapato, perneira, guarda-peito, luva, gibão e o chapéu. Todavia com o passar do tempo as pessoas não usavam mais roupas de couro, acabou o vaqueiro, cangaceiro, o tropeiro. Dessa forma Espedito se viu obrigado a mudar de especialidade, e hoje trabalha com sandália, bolsa e cinto e é um dos mestres mais conhecidos no Cariri por seu desenho característico. Ao lado de sua oficina fica o museu do Couro, que ilustra toda sua história. Sua loja e sua casa, onde mora com toda sua família, ficam na mesma rua, unidos por uma praça central. Espedito afirma a importância do trabalho coletivo, e por isso sempre esteve empenhado em transmitir seu saber para os outros, dessa forma ele sempre tem companhia e ajuda os que se interessam pelo ofício a ter uma profissão. Ali funciona uma associação oficina/escola que ensina grupos pequenos, principalmente a família do mestre. Figura 42: Sandálias expostas em sua loja. Foto:
Ana Beatriz Ribeiro Gomes Figura 43: Local de trabalho de Espedito Seleiro. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes Figura 44: Produtos de couro feitos por Espedito e seus alunos. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes
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47 2.6.7 Visita à Mestra em Artesanato em cerâmica Maria Cândido | 19.01.2018 Juazeiro do Norte
A visita aconteceu na casa da família Cândido no centro do Juazeiro do Norte. A casa é um mostruário de todos as etapas produtivas, onde pode-se observar as esculturas prontas, o barro cru, as peças secando e as que serão pintadas envolvendo toda a casa. Prontamente perguntei como foi o início de tudo aquilo, e dona Maria respondeu que começou fazendo brinquedos de barro para seus filhos, pois não tinha dinheiro para os comprar. Inicialmente ela usava o barro de um barreiro de uma casa próxima, fazia cavalinhos, vaquinhas, burrinhos. Quando acabou o inverno, dona Maria manda seu marido João comprar o barro e começou a fazer objetos para vender nos armazéns. Então pintava e fazia objetos que remetiam à cultura local. Com o tempo os mercados locais começaram a encomendar seu trabalho e logo as esculturas começaram a dar retorno financeiro. Com isso Maria passou o ensinamento para seus filhos, seu marido saiu do trabalho para ajudar no manuseio do barro, até que dezoito pessoas da família estavam trabalhando juntas com as esculturas. Posteriormente Maria de Lourdes passa a trabalhar com esculturas coladas a placas, e as chama de “tema”. Em 1987, ela é chamada para expor seu trabalho no Rio de Janeiro, e a partir daí sua produção passou a crescer gradativamente, marcando seu trabalho na cultura popular. No final de 2004 dona Maria de Lourdes recebe o título de Mestra da Cultura. Hoje o número de pessoas que trabalham com Maria caiu bastante, mas ela ainda continua produzindo e vendendo sua arte sob encomenda. No livro dos mestres afirma: “o barro é o valor que eu encontro para sobreviver. É o valor, é a felicidade e uma luz de Deus ter me guiado e ter feito com que eu possa criar que nem criei a família e viver, que nem eu tô vivendo através do barro.”
Figura 45: Imagem da artesã Maria Cândido em sua casa.
Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes
Figura 46: Tintas usadas na pintura das esculturas. Foto:
Ana Beatriz Ribeiro Gomes Figura 47: Esculturas prontas na parede de sua casa. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes Figura 48: Barro moldado esperando secar. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes
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49 2.6.8 Conversa com a artesã de pedras Mônica Estevão Bezerra | 18.01.2018 Juazeiro do Norte
A Associação dos Lapidários Artesãos Minerais e Ourives da Região do Cariri (ALAMOCA) surgiu em 2007 e tem como presidente a artesã Mônica, com quem eu conversei. Ela está à frente há mais de dez anos do projeto Jóias do Cariri, desenvolvido pela organização. O trabalho nasceu de uma parceria da Prefeitura Municipal de Juazeiro do Norte, em 2004, com o centro de Gemologia da Universidade Federal de Campina Grande, UFCG, que por sua vez doou equipamentos e maquinário para trabalhos com pedras para lapidar, polir e formatar a Pedra Cariri. Hoje a associação funciona no mesmo prédio da CEART do Juazeiro do Norte, e oferece cursos para os interessados na área. Mônica já trabalha há 25 anos com jóias, fez diversos cursos incluindo artesanato mineral e já ganhou o Prêmio Sebrae Mulher de Negócios, em 2012.Ela conta que a produção hoje é feita apenas sob encomenda ou para apresentar em feiras de joias. Figura 53: Possibilidades de escultura com pedras. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes
Figura 49: Formas desenhadas em pedra santana. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes
Figura 50: Formas em pedra santana cortadas. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes
Figura 54: Amostras de pedras encontradas no Cariri. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes
Figura 51: Formas em pedra santana em balde de água para serem lavadas.
Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes
Figura 52: Espaço usado para polir as pedras.
Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes
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51 2.7 Mudanças no artesanato Os tópicos seguintes deste capítulo falam sobre a chegada da indústria no interior do Ceará, especialmente a indústria calçadista, como e porque isso se deu e qual a ligação direta entre o fato e as políticas nacionais e regionais . Por fim, faz-se uma análise sobre o perfil dessas empresas no Juazeiro do Norte.
2.7.1 Indústria calçadista no Brasil Segundo Santos (2002), na década de 90 o ramo calçadista no Brasil começou a investir fortemente em sua produtividade com intenção de fazer frente à concorrência externa. As medidas tomadas em destaque foram a terceirização de trabalho e o deslocamento das fábricas para o Nordeste. Nesta época, tanto o mercado externo quanto o interno, apresentavam-se como concorrentes crescentes, o que levou os empresários do Sul e do Sudeste do país buscarem redução de custos. Dessa forma, as grandes empresas calçadistas se deslocaram em peso para o Nordeste em busca de mão de obra barata e de incentivos governamentais dos estados que queriam aumentar as ofertas de emprego. O Nordeste apresenta, ainda, localização privilegiada em relação aos Estados Unidos, que por sua vez é maior importador destes produtos. Os maiores concorrentes internacionais eram os Tigres Asiáticos: China, Indonésia e Tailândia, que apresentavam vantagens competitivas melhores que o Brasil, ou baixo valor de seus produtos, graças à sua mão de obra barata. Dessa forma os EUA começam a priorizar a compra dos concorrentes, gerando uma crise do ramo no Brasil. Além disso, com o plano real de 1994 as exportações caíram muito, ao contrário do que aconteceu com as importações, levando empresários a acirrarem as buscas pelo barateio de seus produtos. De acordo com Santos (2002), de todas as empresas de calçados no Ceará, 90% são pequenas ou microempresas, enquanto os outros 10% são as indústrias do Sul e Sudeste que migraram para o Ceará, responsáveis por 30% dos empregos gerados no estado.Em se tratando de valores, segundo Brandão e Rosa (1997), no Brasil os salários para os empregados em empresas calçadistas normalmente são de 15% do valor da produção de calçados. No Nordeste paga-se normalmente um salário mínimo por empregado, diferente das empresas do Sul do país que chegam a pagar dois ou dois salários e meio. Dessa forma, barateado a mão de obra os empresários conseguiriam baratear o custo de suas sandálias e assim competir no mercado internacional.
de Desenvolvimento Industrial, que seria o incentivo fiscal para estimular a vinda de novas indústrias. Em seguida, o Plano Plurianual, liderado por Ciro Gomes, tende a manter os objetivos do primeiro plano, bem como a consolidar complexos de indústrias de ramos tradicionais como têxtil, confecções, couro e calçado e implantar polos industriais em mini distritos no interior do estado. A consolidação desse plano acontece com a reeleição de Tasso Jereissati, que cria então o Programa de Promoção Industrial e Atração de Investimentos, em vigor nos dois planos seguintes. O Plano de Desenvolvimento Sustentável mostrou com seu princípio o incentivo à melhoria da mão de obra no interior do estado, criando renúncias de ICMS e instituições de ensino, como o Centro de Ensino Tecnológico (CENTEC) e os Centros Vocacionais Tecnológicos (CVT). O quarto e último plano, Consolidando o Novo Ceará, reafirmava e fortalecia todos os princípios dos anos passados. O Plano dessas gestões políticas ambicionava, e foi bem-sucedido, em levar a indústria para o interior do estado. Tratouse de um planejamento econômico de médio e longo prazo, muito importante para o desenvolvimento capitalista cearense, diminuindo sua dependência do setor agrícola ao fomentar importantes incentivos industriais.
2.7.3 Indústria calçadista no Juazeiro do Norte Fabio Beserra, em sua tese de mestrado, teve a oportunidade de visitar dezoito indústrias calçadistas no Juazeiro do Norte e pôde fazer uma análise profunda sobre suas tipologias, funcionalidade e situação. Dessa forma ele pôde dividi-las em quatro tipos: Primeiramente pode-se observar as pequenas oficinas que ainda usam o couro como matéria-prima e são a grande resistência dos calçados artesanais que representam a origem, a história e a cultura da região. Essas oficinas normalmente ficam nos fundos das residências ou no centro da cidade e são vendidas em sua maioria na cidade local. Um segundo perfil é o das pequenas indústrias que existem há menos de dez anos, com menos de cem empregados e que usam materiais sintéticos em sua produção, o maquinário é de origem brasileira, inclusive fabricado no Juazeiro do Norte e seu mercado consumidor é voltado para o Brasil, especialmente o Nordeste. A maioria da matéria-prima vem do Sul ou Sudeste, a origem do capital é local e os donos não tiveram isenção ou investimento do setor público para existirem. Um terceiro perfil é o das pequenas ou médias empresas que podem produzir calçados a partir do couro ou de materiais sintéticos. Todas já contam mais de dez anos de existência, número de empregados variando de 100 a 700 pessoas, a produção é exportada para todo o Brasil e para os Estados Unidos, Europa e América do Sul. O maquinário vem em sua maioria da China e elas receberam incentivos estaduais e municipais para chegarem aos municípios.
2.7.2 Políticas públicas de incentivo à industrialização no interior do Ceará Para compreender de fato o que levou o Juazeiro do Norte a ser uma potência calçadista do país é importante que se entenda a situação política que levou Tasso Jereissatti, Governo do Estado na época, depois do longo período da Ditadura Militar, promover a interiorização das indústrias no Ceará.Segundo Beserra (2007), Tasso entendia que o poderio dos coronéis era incompatível com um projeto de desenvolvimento econômico do Estado realmente efetivo; era preciso ser feito um “projeto civilizatório para o Ceará”. Tasso fazia parte do CIC (Centro industrial do Ceará), grupo de empresários empenhados em desenvolver o Estado de modo a impulsionar as relações capitalistas, assim como seus próprios negócios. De acordo com Nunes (2002), o período de poder de Tasso foi dividido em quatro mandatos e quatro planos, divididos em: Plano de Mudanças (1987-1990), Plano Plurianual (1991-1994), Plano de Desenvolvimento Sustentável (1995-1998) e Consolidando um Novo Ceará (1999-2002), todos com foco em intensificar a industrialização do estado; e é nesse âmbito que a análise do período será feita. O Plano de Mudanças ambicionou interiorizar a indústria do estado, com o intuito de diminuir as desigualdades regionais, aumentar a oportunidade de emprego e renda nos interiores, bem como conter o êxodo rural. Além disso, reativa-se o Fundo Figura 55: Indústria de calçado em Juazeiro do Norte. Foto: http://diariodonordeste.verdesmares.
com.br/suplementos/cariri-regional/demissao-atinge-o-setor-calcadista-1.1243506
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53 O outro tipo de pequenas ou médias empresas é a de sandálias micro porosas e as de placas de borracha em EVA, as sintéticas. Nessas indústrias as mulheres são a maior parte da mão de obra pois o trabalho é mais minucioso por envolver tintas, linhas, enfeites, além de ser necessário revisar o produto. Os homens ocupam o trabalho de transporte e nas caldeiras. Por fim, cabe destacar a Grendene, que não se enquadra nas outras empresas, mas é um grande destaque da região. Trata-se de uma empresa de padrões internacionais vinda do Rio Grande do Sul para o Nordeste em busca de baratear sua produção e voltar a competir no mercado externo, tendo em vista a abertura comercial brasileira em 1990 que afetou o mercado interno, deixando muitos produtos internacionais entrarem no Brasil. Outros fatores já mencionados como desorganização sindical, disponibilização do terreno, treinamento da mão de obra e concessão de impostos foram essenciais para essa mudança. Outra característica marcante dessas empresa é a sazonalidade do emprego, afinal a empresa contrata o empregado por oito meses do ano e durante os outros quatro meses do ano os demite temporariamente. Ainda segundo Beserra (2007), em se tratando das condições de trabalho da grande maioria dessas indústrias, pode-se observar o grande descaso: as fábricas são galpões com teto de amianto ou ferro, que nos meses mais quentes, que vão de setembro a dezembro, a temperatura sobe vertiginosamente, o que, somado ao calor derivado das máquinas e à ausência total ou parcial de exaustores e ao odor de cola e PVC, torna o local de trabalho prejudicial à saúde do empregado. Além disso, muitos desses locais não apresentam uma área sequer para a alimentação e descanso, não há rigor quanto ao uso de equipamentos de segurança e a grande maioria não oferece transporte para os empregados. Muitos precisam morar perto das fábricas. Algo importante de concluir é que com essa quantidade exorbitante de indústrias calçadistas no Cariri, principalmente em Juazeiro do Norte, o Ceará passa a ser um local de oferta de emprego, causando uma reversão no senso comum que o qualificava como local de exportação de mão de obra barata para as indústrias do Sul e Sudeste. Todavia, tendo em vista as condições de trabalho e a remuneração que varia de um a dois salários mínimos e a realidade de apenas 25% dos empregados com carteira assinada, não houve uma reversão real nesta situação. O trabalhador pobre, apesar de considerar justo e ficar feliz por receber um salário no final do mês, é explorado pelos grandes empresários que se beneficiam de ingenuidade, fraquezas e necessidades do empregado. Por fim, o ciclo capitalista continua enriquecendo cada vez mais os empresários e engolindo o trabalhador aos poucos.
Figura 58: Indústria calçadista Juazeiro do Norte. Foto: http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/
cadernos/negocios/online/fortaleza-registrou-o-maior-pib-do-nordeste-em-2014-diz-ibge-1.1669069 Figura 56: Indústria
de calçado Juazeiro do Norte. Foto: www.blogcariri.com.br/2014/02/ juazeiro-do-norte-ce-seminariodebate.html
Figura 57: Indústria de calçado em Juazeiro do Norte Foto: www.exclusivo.com.br/_
conteudo/2017/01/negocios/212776-ceara-mao-de obra-e-logistica-sao-pontos-positivos.html
FORMA
O seguinte capítulo pretende mostrar a importância de um estudo teórico para o desenvolvimento artístico de qualquer profissional criativo junto do trabalho prático. Com isso, são retratados estudos de caso de escolas com metodologias inspiradoras para o projeto proposto, assim como projetos arquitetônicos que influenciaram o resultado final do trabalho
“Na verdade, a arte não é um ramo da ciência que que possa ser aprendida passo a passo em um livro. Só é possível intensificar o talento artístico inato quando a pessoa toda é influenciada pelo exemplo do mestre e por seu trabalho.”
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Gropius 1997
3.1 Artesanato e design
Figura 59: Walter Gropius Foto: http://www.sytyson.
com/biographie-de-walter-gropius/
Figura 60: Bauhaus por dentro. Foto https://pt.wikiarquitectura.com/
construção/edificio-da-bauhaus-em-dessau/#lg=1&slide=17
De acordo com Burdek (2006), existem inúmeras teorias acerca do design, mas o autor afirma alguns problemas que o design sempre deve atender: priorizar o uso e o fácil manejo dos produtos; visualizar progressos tecnológicos; tornar transparente a produção, consumo e reutilização e por fim promover serviços de comunicação e quando necessário evitar produtos sem sentido. Segundo o site oficial do SEBRAE,[1] voltado para práticas metodológicas, o design colabora para o desenvolvimento do artesanato ao adicionar conceitos funcionais aos produtos, além de auxiliar na sua produção e no seu valor agregado. Dessa forma, observa-se que o design pode solucionar muitos problemas do artesão, de forma a inová-lo, afinal o produto será pensado como um todo: forma e função.
3.2 Estudos de casos: Análise de metodologia, espaços e programas 3.2.1 BAUHAUS: Metodologia de ensino O intuito desta análise foi absorver como era o sistema de ensino dos alunos, a fim de se basear em tal método para usar na escola proposta. Segundo Gropius (1997), o currículo ali era dividido em três partes: observação, onde se estudava a natureza e diversos materiais; representação, onde técnicas construtivas, desenhos de projetos e produção de modelos eram praticados; e por fim a composição, onde assuntos como teoria da cor, do espaço e do desenho eram estudados. Todo estudante da Bauhaus precisava escolher uma oficina para ali trabalhar. O aluno era lecionado por dois mestres: um do artesanato e outro do design, afinal, os dois profissionais se complementavam. Um dominava a técnica produtiva enquanto o outro o lado artístico. O artesanato era tido como um meio de educação insubstituível, pois a meta desta escola era formar designers, que por seus conhecimentos no que tange aos materiais e aos processos de trabalho, fossem capazes de influir na produção de uma época. A estrutura da formação era constituída de todos os componentes essenciais do projeto e da técnica, a fim de que o aluno tivesse uma perspectiva da totalidade de suas produções futuras. Em seguida a formação era baseada no aprofundamento e ampliação dos saberes.
Figura 61: Buhaus em Dessau. Foto https://www.archdaily.com.br/br/805820/classicos-da-arquitetura-bauhaus-dessau-walter-gropius
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59 3.2.2 CRAB: Programa O objetivo deste tópico foi entender os ambientes deste centro de artesanato, que serviu como referência para a construção do programa adotado para a escola proposta.
3.2.3 Escola de Artes e Ofício Thomaz Pompeu: Cursos e espaços Segundo o site da Secretaria de Cultura, órgão responsável pela formação profissional em restauração e em conservação do patrimônio cultural do Ceará, a escola apresenta um espaço voltado para o aprendizado artístico na cidade de Fortaleza gratuito. É também um lugar de sociabilidade, promovendo encontros entre os jovens e acolhendo crianças e adolescentes nos diferentes espaços do equipamento. Hoje é vinculada à Secretaria da Cultura do Estado e é administrado pelo Instituto Dragão do Mar
Segundo o site do Centro Sebrae de Referência do Artesanato Brasileiro (CRAB), é um polo de desenvolvimento criativo e comercial localizado no Centro do Rio de Janeiro. Tem a missão de ampliar a comercialização das peças produzidas pelos artesãos, além de promover a capacitação empresarial dos artesãos e de colaborar para o aprimoramento da cadeia produtiva e qualificação das atividades. O programa é dividido da seguinte forma: Térreo: a Loja Evento distribuída em sete grandes Figura 62: Peças de exposição. Foto: ambientes, destinados à exposição e à venda dos https://www.galeriadaarquitetura.com.br produtos artesanais de todas as categorias, e o Espaço Gastronômico. Primeiro andar: aqui estão localizados o Espaço Conexões e o Espaço Exposições. O Espaço Conexões é um local constituído de Midiateca, Praça e Café. O Espaço de Exposições apresentada exposições de olhares sobre o artesanato e suas possíveis conexões com outras formas de expressão.
Salas de aula, ateliês, ilha digital com computadores conectados à internet, além de uma biblioteca com mais de 1.500 livros para consulta local formam os ambientes que oferecem atividades de formação. A escola oferece cursos que envolvem cerâmica, bordado, couro, madeira, xilogravura e restauro e um aspecto interessante observado em visita feita é a existência de salas ligadas ao jardim do lugar. As salas de aula são em sua maioria abertas para o jardim, criando ambientes descontraídos e ventilados, apresentam mesas largas, ferramentas e prateleiras para guardar os materiais.
Figura 65: Resultado de trabalho feito na escola. Foto http://www.portoiracemadasartes.org.br
Segundo andar: Estão localizados o Espaço Oficina, destinado à capacitação, formação e experimentação e apresenta um calendário com cursos para diferentes perfis e públicos; Espaço experimental; o Espaço das Crianças e o Espaço Multiuso, que comporta o auditório. Figura 64: CRAB
fachada. Foto: https://www.galeriadaarquitetura.com.br
Figura 63: Exposição CRAB. Foto:
https://www.galeriadaarquitetura.com.br
Figura 67: Fachada da escola. Foto: http://mapa.
cultura.ce.gov.br/espaco/231/
Figura 66: Alunos trabalhando. Foto: http://diariodonordeste.verdesmares.com.br
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61 3.3 Obras arquitetônicas de referência 3.3.1 Igreja Divino Espírito Santo do Cerrado, Uberlândia Lina Bo Bardi Segundo BO BARDI (1999), a igreja foi construída em um sistema de mutirão, realizando-se, assim, um trabalho em conjunto entre arquiteto e mão de obra. Constitui-se de um conjunto dividido em quatro níveis: o mais alto guarda a área de celebração, o segundo é a moradia para três religiosas e administração, o terceiro, um salão para festividades e reuniões e o quarto e mais baixo, a quadra de futebol. Na realização desse projeto, foram utilizados materiais do próprio local. O volume arredondado da Igreja foi referência para o projeto proposto, cuja estrutura é sustentada no telhado por oito pilares em madeira, dispostos regular e ortogonalmente. A estrutura do volume apresenta vigas e pilares em concreto armado, aparentes na fachada, com fechamento externo em alvenaria também aparente. A igreja não possui forro, ficando aparentes a estrutura do telhado em madeira e o revestimento em telhas capa-e-canal.
Segundo BO BARDI (1996), o Sesc Pompeia nasceu onde antes funcionava uma fábrica de geladeira, constituída por galpões de concreto. Lina resolve manter a rua interna como a espinha dorsal do projeto, guiada pelos galpões, reciclando as construções antigas ao dar a elas um novo uso. Os galpões agora tem seus espaços internos liberados, sob cobertas de estrutura de madeira e telhas de barro e vidro. Aí são distribuídos administração, restaurante, grande espaço de encontro e exposição e ateliês, onde acontecem oficinas de criatividade. Figura 68: Imagem aérea das cobertas. Foto: Bo Bardi, 1999.
O formato arredondado no projeto proposto neste trabalho de conclusão de curso é o local onde ficam expostos todos os produtos feitos da escola. A ideia foi trabalhar uma forma mais forte, de destaque, que fechasse o projeto de forma a colocar em evidência o que é produzido ali, e marcasse a memória dos moradores, criando um verdadeiro símbolo no bairro. Figura 69: Salão para festividades. Foto: Bo Bardi; 1999. Figura 70: Fachada da igreja. Foto: Bo Bardi, 1999
3.3.2 Sesc Pompeia, São Paulo Lina Bo Bardi
Figura 71: Local das oficinas criativas. Fonte: https://www.ar7e.com.br
A inspiração dessa obra veio dos galpões mantidos por Lina. Eles foram a base para a criação dos cinco ateliês da escola proposta. Afinal, vãos grandes, coberta alta que permite a interação do ambiente coberto e janelas transparentes contribuem para a criação de um local agradável e inspirador. A forma que se repete no projeto de Lina demonstra que ali se concentra alguma atividade de produção pelo ar fabril mantido, no caso da escola proposta seria a criação artesanal. A existência das tesouras metálicas, vista no projeto de Lina, foi usada nos outros ambiente do projeto proposto, ao se observar a integração causada por elas. Afinal, com a coberta independente do espaço coberto por ela, as paredes podem se desconectar do teto, causando ambientes mais fluidos e unidos. As oficinas de criatividade oferecidas ali, e o próprio local que une os ambientes também serviram Figura 73: Interior de um galpão. Fonte: https://www.ar7e.com.br
Figura 72: Corredor entre os galpões. Foto: BO BARDI (1996)
de inspiração. Segundo o site do Sesc São Paulo, as oficinas de criatividade oferecidas atuam como locais de sensibilização artística por meio de ações e estímulos à reflexão, ao convívio e à troca de conhecimento para um aprendizado que privilegia o processo criativo. Assim, as oficinas têm o objetivo de propiciar descobertas de potencialidades, construindo instrumentos para sua expressão, tanto no terreno do sensível como no intelectual, contribuindo para a formação da subjetividade.
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3.3.3 Escola de música Yotoco, Valle del Cauca, Colômbia. Espacio Colectivo Arquitectos Segundo o site ArchDaily, proposta do projeto foi criar uma forma que possa se adaptar a outros contextos e programas. Neste caso, o primeiro protótipo apresenta um átrio central que funciona como pátio, cujo perímetro é rodeado por módulos de ensinamentos, práticas e socialização para a comunidade. Além disso, os módulos são separados, havendo um espaço entre eles que representam pausas para promover o isolamento acústico. Observa-se também que suas paredes são dispostas de forma a quebrar o paralelismo, Figura 74: Módulos da escola Yotoco. Fonte: https://www.archdaily.com.br a fim de melhorar a acústica das salas. O projeto proposto neste TFG objetivou criar uma forma não linear, que marcasse o panorama do bairro, e que dialogasse com o espaço externo, por criar fachadas dinâmicas. Desta forma, a Escola Yotoco foi uma inspiração pelo seu formato e a existência de pausas entre seus módulos, que no caso da escola proposta surgiu como jardins internos. Além disso, a escala que dialoga com o entorno, usada na escola Yotoco, que por sua vez também se encontra em um bairro marginalizado, também serviu de inspiração
3.3.4 Casa Marika-Alderton, Austrália. Glenn Murcutt
Segundo o site ThoughtCo, a casa é um protótipo econômico e sustentável, criada pelo artista aborígene Banduk Marika e o arquiteto Glenn Murcutt no Norte da Austrália, região de temperatura elevada, que pode chegar a quarenta graus celsius. Sua característica marcante é o fato de se abrir em todas as direções através de persianas, inclinadas para baixo a fim de gerar sombra, luz e fluxo de ar. Esta casa inspira o projeto proposto pelas sua aberturas generosas, o que foi usado nos ateliês. A ideia de imergir os ateliês no verde e tornar as salas conectadas entre si foi possível graças às sua grandes portas de correr e à porta que se abre para o grande terreiro. Além disso o uso de longos beirais e o fato das paredes não chegarem ate o teto foram aspectos da casa Marika usados no projeto proposto com o intuito de proteger a escola do calor e permitir a saída do calor.
Figura 77: Planta da casa. Fonte https://es.wikiarquitectura.com/edificio/casa-marika-alderton/
Figura 75: Entrada da escola Yotoco.
Fonte:https://www.archdaily.com.br
Figura 78: Casa Marika por dentro. Fonte:https://es.wikiarquitectura. Figura 76: Implantação da escola Yotoco.
Fonte:https://www.archdaily.com.br
com/edificio/casa-marika-alderton/ Figura 79: Aberturas casa Marika. Fonte: https://
es.wikiarquitectura.com/edificio/casa-marika-alderton/
O LUGAR
Desenho de folhas de árvore juazeiro
Este capítulo tem o intuito de apresentar o local de estudo. Tendo em vista que o trabalho se passa no Juazeiro do Norte, foi necessário um mergulho no município, na sua história, na sua cultura e no seu presente. No capítulo presente expomos também o bairro estudado, onde será proposto o projeto, assim como as mudanças ocasionadas pela chegada das indústrias calçadistas na região.
67 4.1 Juazeiro do Norte: essência, tradição e história[2] Juazeiro do Norte, com uma população estimada em 249,9 mil habitantes, 96% dela ocupando a zona urbana. Segundo o censo do IBGE de 2010, é o terceiro município mais populoso do Ceará. Juntamente com a cidade do Crato, localizada a 10 quilômetros de distância de Juazeiro do Norte e Barbalha a 7,5 quilômetros de Juazeiro do Norte, as três cidades formam o Triângulo CRA-JU-BAR, área instigada pela proximidade de três centros urbanos efervescentes. Segundo o IBGE, juntas elas apresentam 420 mil habitantes. O município de Juazeiro do Norte ocupa 248,22 km² e está localizado no sul do Ceará a 540 km de distância da capital Fortaleza. A partir da Lei Complementar Estadual nº 78, de 29 de junho de 2009, o CRA-JU-BAR junta-se a mais outras seis cidades (Caririaçu, Farias Brito, Jardim, Missão Velha, Nova Olinda e Santana do Cariri) para formarem o Cariri, ou RMC – Região Metropolitana do Cariri. Dentro da RMC Juazeiro do Norte apresenta grande destaque com PIB de R$ 2,35 Bi, que equivale a 52,7% do PIB total da RMC e quinto PIB do estado do Ceará, que, por sua vez vem basicamente da indústria calçadista e do comércio local.
Segundo Grangeiro (2015), a região do Cariri foi colonizada por exploradores vindos da Bahia no fim do século XVI. A pecuária era a atividade econômica dominante na época e somente no século seguinte a agricultura ocupou esta posição, estando o cultivo da cana de açúcar em destaque. A região adquiriu esse nome graças à tribo indígena que habitava a região: os Kariris. De acordo com o livro Madeira Matriz (CARVALHO:1998), em meados do século XIX, tropeiros costumavam passar pelo trecho Missão Velha-Crato. Uma área sombreada por pés de Juazeiro passou a ser um ponto de parada para os que procuravam descanso para si e para seus burros de carga. Com o tempo o ponto passou a ser um marco conhecido, uma parada obrigatória localizada na fazenda Tabuleiro Grande, futuramente sítio Juazeiro, sesmaria pertencente ao português Leandro Bezerra Monteiro. Posteriormente este sítio ganha sua primeira capela em homenagem a Nossa Senhora das Dores, cujo primeiro vigário fora Padre Pedro Ribeiro. Surgem em seguida vielas desalinhadas que precediam a futura Vila de Juazeiro do Norte. O Padre desempenhava um papel moralizador na região opondo-se a comportamentos promíscuos a fim de promover a cultura e paz dos habitantes. O povoado cresce com o tempo e outros padres chegam à região com a mesma missão. Figura 80: Beata Maria de Araújo. Fonte:
http://cearaemfotos.blogspot.com/
Figura 81: Imagem do Padre Cícero com políticos.
Foto : Memorial Padre Cícero.
Figura 82: Imagem de Juazeiro do Norte em 1911. Fonte: http://www.juazeiro.ce.gov.br/Cidade/Historia/
Mapa 1: Localização do Cariri no Ceará.
Ceará Cariri Crajubar Juazeiro do Norte
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69 A vila era como uma floresta tomada por pés de juazeiro. Árvore de alto porte, copada, protegida por espinhos e com folhas verdes mesmo nas piores secas, as raspas do seu tronco servem como sabão natural. Sua espuma é indicada para o tratamento de cabelos e o caule da árvore age no combate a cárie. De acordo com Neto (2009), Padre Cícero Romão Batista nasceu em 1844 no Crato tendo se ordenado padre no seminário de Fortaleza. Em 1871 retorna a sua cidade natal, quando celebra a primeira missa no povoado de Juazeiro. Em seguida torna-se o primeiro padre daquele povoado. Nessa época começam seus trabalhos de catequização e incentivo ao trabalho do povo na vila, então formada por duas ruas, uma escola e 32 prédios simples. Padre Cícero aconselhava os moradores a ter em suas casas um altar e uma oficina; ou seja, incentivava conjuntamente trabalho e religiosidade a fim de debelar a promiscuidade, a vadiagem e o banditismo encontrados na cidade e estimular o desenvolvimento econômico daquele povoado. A distância entre o vilarejo e os centros urbanos e as intensas estiagens foram fatores que impulsionaram o trabalho local e a produção, forçando os habitantes a produzirem para sobreviver. Foi sob tais condições que os trabalhos artesanais puderam emergir como forma de subsistência na região. Nesse contexto de crescimento um fato extraordinário modificou por completo o futuro da cidade surgida a partir da sombra de árvores de Juazeiro. Em uma das missas celebradas por Padre Cícero a hóstia oferecida à Beata Maria de Araújo teria se transformado em sangue na sua boca. Este acontecimento se repetiu várias vezes, o que gerou uma inquietação na cidade que passou a ser conhecida dentro e fora do Nordeste pelo “Milagre da Hóstia”. Romeiros, aventureiros e peregrinos se instalam no povoado que cresce significativamente. Esse fluxo migratório gerado pelos milagres consistem um divisor de águas na história do povoado.. Segundo da Silva (2013), é importante analisar o caráter ambivalente da figura do Padre Cícero enquanto muitos consideravam-no “padrinho”, pessoa afetuosa, humilde e carismática que costumava chamar os romeiros de “amiguinhos”, uma segunda posição enxerga no padre um homem esperto e articulado politicamente, que tinha muitos aliados importantes ligados às oligarquias fundiárias do Estado.
Figura 83: Estrada em Juazeiro do Norte. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes.
Figura 84: Casa em região rural de Juazeiro do Norte. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes.
Ainda de acordo com da Silva (2013), outra informação relevante a ser destacada era o efeito destruidor do quadro de secas no Ceará dado o despreparo das pessoas diante da escassez e da forma como a questão foi resolvida. De 1877 a 1879 o Nordeste viveu uma das maiores secas de sua História. Foram três anos de falta d’água e de alimentos, perda de plantação e morte de rebanho, acompanhados de uma epidemia de varíola que matou 180 mil pessoas no Ceará. A capital, Fortaleza, por exemplo, que tinha 30 mil habitantes na época chegou a receber 200 mil retirantes que vinham em busca de sobrevivência na capital. Por ter vivenciado tais dramas, padre Cícero sabia da importância de se manter uma relação de respeito com o semiárido e da necessidade de obras hídricas e assistencialistas no Nordeste. Dessa forma, o padre solicitou ajuda dos governantes para reverter a situação de estiagem prolongada, incentivando a criação de açudes e reservatórios de água. Além disso, o padre criou onze mandamentos a serem seguidos para a obtenção de qualidade de vida na região e para a garantia da sobrevivência: 1 - Não derrube o mato. Nem mesmo um só pé de pau. 2 - Não toque fogo no roçado. Nem na caatinga. 3 - Não cace mais. Deixe os bichos viverem em paz. 4 - Não crie o boi nem os bodes soltos. Faça cercados. Deixe o pasto descansar para se refazer. 5 - Não plante de serra acima. Nem faça roçado em ladeira muito em pé. Deixe o mato protegendo a terra, para que a água não arraste a sua riqueza. 6 - Faça uma cisterna no oitão de sua casa, para guardar a água da chuva. 7 - Represe os riachos, de 100 em 100 metros, ainda que seja com pedra solta. 8 - Plante cada dia pelo menos uma árvore. Um pé de caju, de sabiá, ou qualquer outra. Até que o sertão todo seja uma mata só. 9 - Aprenda a tirar proveito das plantas da caatinga, tais como a maniçoba, a favela, a jurema, e tantas outras. Elas podem ajudar você a conviver com a seca. 10 - Se obedecer esses preceitos, a seca vai se acabando aos poucos. O gado vai melhorando e o povo terá sempre o que comer. Se não obedecer, dentro de pouco tempo o sertão todo vai virar um deserto só. 11 - Mas, se não obedecer, dentro de pouco tempo o sertão todo vai virar um deserto só.
Passado o período de estiagem e uma vez que os moradores, agora treinados ao trato com a seca, o Juazeiro do Norte continuava a crescer, segundo Neto (2009), o que fazia com que os impostos pagos à cidade do Crato crescessem gradativamente. Esse foi o elemento que desencadeou o desejo separatista, culminando na Guerra de Emancipação de 1907 a 1911. Liderada por Padre Cícero, e após negociações com o Governador da época Nogueira Accioly, em 22 de julho de 1911, o Juazeiro do Norte se emancipa politicamente tornando-se finalmente um município independente sob os cuidados de Padre Cícero, tornado prefeito.
Figura 85: Caminhos verdes em Juazeiro do Norte. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes
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71 Figura 86: Juazeiro na década de 30.
Foto: http://cearaemfotos.blogspot.com/
Figura 87: Juazeiro entre 1920 e 1940.
Foto: http://cearaemfotos.blogspot.com/
Figura 89: Foto de toalhas com imagem do Padre Cícero em época de romaria. Figura 90: Foto de pipoqueiro em época de romaria. Foto: Ana Beatriz Ribeiro
Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes.
Gomes.
Figura 91: Foto da Igreja do Socorro em época de romaria. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes. Figura 88: Horto em 1969. Foto: http://www.juazeiro.ce.gov.br/Cidade/Historia
Fica claro, portanto, que o crescimento do Juazeiro do Norte tem ligação indiscutível com o Padre Cícero. É interessante observar que mesmo depois de sua morte, em 1934, muitos fiéis vem todos os anos à terra que por muitos ainda é tida como ambiente de fé e piedade, o que acaba estimulando o mercado local. De acordo com Grangeiro (2015) e com Araújo (2006), Juazeiro foi a única cidade que triplicou sua população de 1920 a 1970 em relação às cidades vizinhas no Ceará, Pernambuco e Paraíba, e ano após ano as romarias invadem a cidade para visitarem lugares como a Igreja de Nossa Senhora das Dores, Santo Sepulcro, a casa do Padre Cícero, o Luzeiro e a estátua do Padre Cícero, construída em 1970. Atualmente, pelo menos cinco romarias por ano, se destacam em Juazeiro do Norte. São elas: Romaria de Nossa Senhora das Candeias (02 de fevereiro); Romaria do Aniversário de Nascimento do Padre Cícero (24 de março); Romaria do Aniversário de Morte do Padre Cícero (20 de julho); Romaria de Nossa Senhora das Dores (15 de setembro); e Romaria de Finados (02 de novembro). Nestes dias, o artesanato local vive seus melhores dias. É interessante destacar, por fim, que as atividades artesanais atualmente estão marginalizadas, desde a década de 2000, quando o artesanato desapareceu do cálculo do PIB Municipal, devido a alguns fatores que serão discutidos nos próximos textos.
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Ribeiro Gomes.
Figura 94: Velas usadas na procissão de Nossa Senhora das Dores. Foto: Ana Beatriz
Ribeiro Gomes.
Ana Beatriz Ribeiro Gomes.
Figura 93: Fiéis na procissão de Nossa Senhora das Candeias. Foto: Ana Beatriz Figura 92: Fiéis na procissão de Nossa Senhora das Candeias. Foto:
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Neste trabalho, a fim de compreender de fato o que se passa em uma romaria, foi feito uma visita no dia dois de Fevereiro deste ano à procissão das luzes, na Romaria de Nossa Senhora das Candeias, caracterizada por ser acompanhada por romeiros que carregam velas ou candeeiros em suas mãos . Na oportunidade foi possível vivenciar e sentir o que se passa com aqueles fiéis, ver a fé que sai das suas vozes em cantos que ecoam pela cidade por horas. No evento alguns grupos folclóricos se apresentam e rodeiam o centro da cidade junto dos fiéis, indo a frente da procissão. Dentre os grupos pode-se ver os Bacamarteiros da paz e o Reisado. Figura 95: Grupo de reisado. Foto: Ana
Beatriz Ribeiro Gomes
Figura 96: Bacamarteiros da paz. Foto:
Ana Beatriz Ribeiro Gomes.
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75 O Horto também foi visitado, e lá pode-se dizer que é o local mais popular da cidade, que por sua vez está localizado sobre uma colina, no alto do Juazeiro do Norte, onde fica o Monumento em homenagem ao Padre Cícero Romão Batista, com 27 metros de altura. Além disso, existe um museu vivo do Padre Cícero no local, onde muitos fiéis fazem os ex-votos, a fim de alcançar alguma graça, o que deixa o ambiente rodeado por fotos e esculturas. Figura 97: Ex-voto. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes. Figura 98: Fotos 3x4 de fiéis tirada no Museu Vivo do
Padre Cícero. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes
Figura 99: Binóculo de fotos. Foto: Ana Beatriz Ribeiro
Gomes.
Figura 100: Foto da estátua do Padre Cícero na Colina do
Horto. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes.
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77
Em se tratando da distribuição dos equipamentos sociais da cidade nos dias de hoje, pode-se observar que em sua maioria são distribuídos na região central e nos bairros mais abastados da cidade. Além disso, pode-se observar a concentração de todos os serviços próximos às três avenidas que se unem formando a rotatória destacada no mapa. Tal rotatória direciona para a cidade de Barbalha, na direção Sul, centro do Juazeiro do Norte, sentido norte e para a cidade do Crato, sentido oeste. É interessante destacar que a região religiosa, que concentra as romaria fica mais ao Norte da cidade, ligada ao centro e ao Horto, onde os romeiros se concentram quando visitam a cidade. O bairro estudado, que será apresentado no próximo tópico, está localizado em uma região que é claramente marginalizada do que a cidade oferece, próximo apenas das indústrias, como pode ser visto no mapa.
Bairro a ser trabalhado Indústria Comércio Serviço Religioso Saúde Educação Rotatória 100
Mapa 2: Principais equipamentos sociais do Juazeiro do Norte.
500
78
79 4.2 Bairro Frei Damião hoje
De acordo com o censo do IBGE de 2010, o bairro apresenta 14.677 pessoas, a maior parte da população (53,4%) está entre 15 e 64 anos. A Grande maioria é composta por jovens (35,1%) enquanto apenas 5,5% é composta por idosos. A diferença entre homens e mulheres é mínima: 49.93% são mulheres e 50.07% são homens. Segundo os assistentes sociais do bairro, a população de adultos, jovens e adolescentes, principalmente mulheres, encontram-se em sua maioria desempregadas, sobrevivendo basicamente do programa de transferência de renda Bolsa Família, e com pouca ou nenhuma escolaridade. O Bairro está dividido em ZR3 e Z32. Em se tratando de equipamentos sociais, o bairro é muito precário. Não apresenta nenhuma área de convivência como praças ou parques, isso faz com que os ambientes de
socialização se resumem a pequenos restaurantes e bares. Além disso, como foi mostrado no mapa do Juazeiro do Norte, é clara a distribuição dos equipamentos da cidade na parte Norte, tornando todas as necessidades da população do bairro Frei Damião inacessíveis.
Figura 101: Bairro Frei Damião.
Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes.
Figura 102: Bairro Frei Damião.
Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes.
Figura 103: Bairro Frei Damião.
Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes.
80
81 O bairro dispõe de duas grandes escolas: Escola de Ensino Fundamental e Médio Caic Dom Antônio Campelo de Aragão e a Escola de Ensino Fundamental Mário da Silva Bem, localizadas lado a lado. Neste mesmo quarteirão funciona uma Unidade Básica de Saúde e uma creche. As outras escolas do bairro são a Escola Municipal de Ensino Fundamental Professora Cícera Maria dos Santos e as escola de ensino infantil: Escola Municipal de Ensino Infantil Adalgisa Gomes de Figueiredo, Escola Municipal de Ensino Infantil Professora Nair Silva e o Educandário Futuro Feliz. O bairro apresenta um Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), uma unidade pública estatal que oferece atividades de assistência social para comunidades vulneráveis. São elas: palestras, oficinas, filmes, ajuda psicológica e atividades recreativas para as crianças. Normalmente o CRAS está localizado em áreas marginalizadas e precárias, com problemas sociais graves, de modo que age nas relações familiares e dentro da comunidade com o intuito de enfrentar problemas como violência no bairro, trabalho infantil, falta de transporte, ausência de espaços de lazer. O Bairro recebeu neste ano uma nova sede do CRAS, mas o prédio não apresenta as acomodações adequadas ou suficientes para toda a população que se almeja atingir. Atualmente oferece ao público uma sala multiuso, uma cantina e uma área livre de tamanho reduzido que impossibilita qualquer atividade recreativa.
Figura 104: Morada e comércio no Bairro Frei Damião. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes.
Figura 105: Bairro Frei Damião. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes.
Figura 108: Vista do sol poente no Bairro Frei damião. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes.
Figura 106: Ruas do Bairro Frei Damião. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes.
Figura 107: CRAS por fora. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes
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83 O bairro possui também uma cozinha comunitária, onde pessoas em situações mais precárias podem se cadastrar no CRAS para ter direito a uma refeição (almoço) por dia de segunda a sexta-feira. O objetivo da cozinha é manter a sobrevivência das famílias mais precárias do bairro, mas com o objetivo de tirálas dessa situação de dependência com o auxílio das atividades sociais do CRAS, que por sua vez trabalha a capacidade de desenvolver o lado profissional dessas pessoas através de oficinas e palestras, estimulando-as a entrar no mercado de trabalho.
O Polo de convivência social Doutora Rosiane Limaverde é um novo centro com quadra poliesportiva inaugurado no bairro em fevereiro. Oferece atividades ligadas à informática, à cultura, à arte, à dança, ao teatro e ao esporte, todas voltadas para o público de 16 a 26 anos, com o propósito de ocupar os jovens após o horário letivo, em tempo integral. Está localizado próximo à cozinha comunitária e em frente a uma segunda Unidade Básica de Saúde , que por sua vez atende o público dessa região da extremidade do bairro. Cabe ressaltar que na extremidade sudoeste do bairro encontra-se o distrito industrial, região formada por indústrias de materiais de construção de modo geral e por depósitos. Por tais motivos, tendo em vista o descaso com a situação do bairro e a falta de qualquer equipamento que estimule a convivência das diferentes faixas etárias dos moradores , observa-se a urgente necessidade de uma praça , que será proposta neste trabalho, juntamente com a escola.
Figura 109: CRAS por dentro. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes. Figura 110: Atividade do CRAS com idosos. Foto: Ana Beatriz
Ribeiro Gomes.
Figura 112: PSF próximo à cozinha comunitária. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes.
Figura 113: Distrito industrial. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes.
Figura 111: Atividade artesanal do CRAS com mulheres. Foto:
Ana Beatriz Ribeiro Gomes.
Figura 114: Distrito industrial. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes.
Figura 115: Pólo de convivência social. Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes.
84
85 4.3 História do Bairro frei Damião Segundo entrevista feita com uma moradora do bairro, Jô, a história do bairro Frei Damião começou nos anos 90, quando um grupo de pessoas sem-terra lutava contra a desigualdade e clamava por pão, trabalho e moradia. Tal movimento resultou na maior ocupação de terra da cidade: o bairro Mutirão da Vila. Esta organização surgiu na comunidade Santa Tereza e tinha como liderança Dr. Santana, Argemiro Teófilo e outros membros do Partido dos Trabalhadores (PT). O movimento mobilizou mais de 4000 pessoas, obtendo com isso força e reconhecimento, gerando certos atritos com a opinião pública e criando adversários entre a elite política. Depois de várias tentativas de negociação frustrada com o poder público local, os participantes decidiram invadir e ocupar o terreno de Nossa Senhora das Dores, que ia do Rio Salgadinho até o início de Barbalha. Tal atitude resultou na perseguição política ao Dr. Santana e de Argemiro Teófilo. Alarmada por este tipo de conduta, a Igreja decidiu negociar, doando 34 hectares de terra, divididos em 3.884 lotes de casas medindo 6x20, entregues ao povo pelos dirigentes do movimento. Hoje o Mutirão é o maior bairro popular do Juazeiro e ao longo do tempo, com o modelo administrativo aplicado na cidade, os serviços públicos não conseguem ofertar melhorias para a qualidade de vida da comunidade. O nome Mutirão da Vida faz referência à forma como o bairro foi construído, em sistema de Mutirão, pelas pessoas do movimento.
Figura 116: Foto da líder comunitária Jô.Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes.
Mapa 3: Equipamentos sociais do Bairro Frei Damião. Indústria
Cozinha comunitária
Pólo de convivência social
Rua corredor
Unidade Básica de Saúde
CRAS
Escola de ensino funamental e médio
Terreno trabalhado
Escola de ensino fundamental e infantil
100
200
Figura 117: Foto de cartaz sobre a história do bairro. 500
Foto: Ana Beatriz Ribeiro Gomes.
O PROJETO
O seguinte capĂtulo tem por objetivo apresentar o projeto, explicando as decisĂľes tomadas, o programa proposto e o que levou ao resultado final.
5.1 Programa
5.2 Entender o projeto
89
Tabela do programa da Escola de Mãos
Terreiro Jardim do Ateliê Pátio Praça multiuso Praça Infantil Estacionamento Espelho dágua
Retangular
51 m² 34 m² 18 m²
1 1 1
18 m² 3,5 m² 15,5 m² 5,5 m² 36 m²
1 1 1 1 2
10 m² 10 m² 13 m² 12,5 m² 15 m² 26 m² 45 m² 24 m² 24 m² 205 m² 5,5 m²
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
183 m² 30 m² 91,5 m² 2700 m² 66 m² 1700 m² 2650 m² 780 m² 940 m² 370 m²
5 5 4 1 8 1 1 1 1 1
E SC O LA
Como a escola apresenta uma proposta única de projeto uma proposta diferenciada de programa, este não pôde seguir nenhum padrão, mas atendeu às demandas que objetivavam criar um local agradável, capaz de oferecer estímulos criativos, ambientes confortáveis para a criação e capazes de oferecer uma boa formação para os alunos. Com isso, o programa foi dividido nos três seguintes blocos: Circular: a oca comporta um café, a região de venda e de exposição das produções feitas na escola e banheiros. Leque: O bloco em formato de leque oferece cinco ateliês, que comportam vinte alunos cada, e todos têm um mezanino onde as matérias-primas ficam armazenadas, pias para a higienização e armários para guardar materiais. Os outros dois blocos oferecem quatro salas de aula teórica, duas salas por bloco, capazes de oferecer aula para 24 alunos cada. Retangular: Este bloco, chamado de apoio, é composto por biblioteca, que comporta salas de estudo e acervo de livros voltados para temas como arte artesanato e design. Além disso comporta banheiros masculinos e femininos, um refeitório e as salas de administração e serviço.
RIA C HO
M SILVA BE MA RIO DA
C AIC DE SA DE E B` SIC A UN ID AD
E ZE S DE ME N
Ateliê Depósito de matéria-prima Sala de aula teórica
1 1 1
UZA S DE SO
Biblioteca Acervo e Consulta Estudo Coletivo Empréstimo e Hemeroteca Administração e Serviço Diretoria e Sala dos Professoras WC Estar dos Funcionários Depósito de Material de Limpeza Banheiros Coletivos Alimentação Recepção de Alimentos Pré Higienização Despensa Seca Apoio Refrigerado Nutricionista Pré-Preparo Cocção Higienização dos Utensílios Higienização das Louças Sala de Refeições Depósito de Material de Limpeza
160 m² 400 m² 20 m²
IN O MA RT
Leque
Café Exposição WC
Quantidade
C ISC RU A FR AN
Verde
Área
SA RA IVA RU A AN A
Circular
Ambiente
C RA S
M AT O S DE RU A J O
˙ S FR AN
A 5
10
15
20
25
Mapa 4: Área trabalhada do Bairro Frei Damião
O terreno escolhido inicialmente era limitado pela Rua Ana Saraiva de Menezes, mas foi decidido que para a dimensão que o equipamento teria, mais interessante fechá-la e criar um desvio em uma rua paralela (Mapa 4). A decisão foi tomada com objetivo de serem criadas áreas de convivência ao redor do equipamento, tendo em vista a escassez de locais que estimulem o lazer e a convivência dos moradores, e consequentemente o vínculo entre eles. Foi decidido, então, oferecer praças que podem ser apropriadas por diferentes grupos, a fim de dar um novo uso ao espaço urbano. PRAÇA INFANTIL
TERREIRO
PÁTIO
Além disso, foi observado que o terreno tinha um desnível considerável, e que, em época de chuva, toda a água do bairro escorria para sua parte mais baixa. Logo, percebeu-se que ali possivelmente seria um braço de água, hoje interrompido pela Rua Ana Saraiva de Menezes. Dessa forma, tal informação influenciou ainda mais na decisão de fechar a rua, contribuindo para a preservação da região, com o intuito de recuperar o trecho do riacho então obstruído. JARDIM
PRAÇA MULTIUSO
5
10
15
20
25
O trabalho acredita muito no poder da união, no poder da cooperação, tendo em vista sobretudo o histórico de luta e de conquista dos moradores que fundaram o bairro. Cooperativas, forças unidas e diálogo são a chave para melhorar a convivência da área, para discutir suas demandas e lutar por melhorias. Acredita-se que ter ambientes que proporcionem tais relações pode mudar interações e consequentemente o futuro daquelas pessoas. Logo de início foi pensado em trabalhar o verde e usar os preceitos que Padre Cícero aconselhava em seus mandamentos, colocados no capítulo anterior, para que a comunidade pudesse implantar em suas vidas novos hábitos que respeitassem a natureza e que aproveitassem o que ela tem a oferece
5
10
15
20
25
91
Áreas verdes Um primeiro fato que chama a atenção ao se observar uma imagem aérea do bairro Frei Damião: a ausência de áreas verdes. Pensando nessa carência, foram propostos os seguintes espaços: praças para todas as faixas etárias circundarão a escola; um pátio central e um terreiro. Nas praças foi decidido trabalhar com árvores de copas altas, assim como árvores frutíferas, a fim de tornar o ambiente convidativo e estimular a relação do bairro com a natureza. Tendo em vista o terreno e sua inclinação gradativa até chegar na área alagável, foi decidido quebrar a grande praça em quatro níveis, objetivando respeitar o relevo do terreno natural e dar dinamicidade aos seus usos. O terreiro seria uma área voltada para o abastecimento de matéria-prima da escola, na área limitada pela região alagável. Tendo em vista a carência e a dificuldade de obtenção de tais materiais, e entendendo como é importante o artesão ter do seu lado a fonte de sua arte, viu-se em tal terreno uma forma de manter, garantir e consolidar a produção dos futuros artesãos. Dessa forma, no terreiro seriam cultivadas mudas de umburana, voltada para as esculturas em madeira; milho, para a produção com sua palha, e o fruto poderia ser usado na alimentação da escola; banana para a obtenção da palha obtida através do caule, além do fruto. Dessa forma, o problema do acesso a algumas matérias-primas, observada na realidade atual dos artesãos do Cariri, seria solucionada para os estudantes do espaço proposto. Em se tratando do pátio interno, foi pensado em um tratamento semelhante ao das praças, com árvores de copa generosa, para oferecer áreas sombreadas e agradáveis para os alunos, que por sua vez teriam ali um local que propiciaria o convívio e a troca dos alunos. O pátio funcionaria como elo de todo o universo que rodeia aquela escola. A ideia inicial seria plantar as árvores: Pau-Branco-do-Sertão e o cajueiro devido o seu rápido crescimento e suas copas generosas, assim como outras árvores frutíferas como a seriguela e o juazeiro
PRAÇA INFANTIL TERREIRO
PÁTIO JARDIM PRAÇA MULTIUSO
Mapa 5: Áreas verdes
5
10
15
20
25
U ZA S DE SO
90
E S O U ZA R T IN S D
92
C RA S
MATO S DE R UA J O
˙ S F RA N
A 5
10
15
20
25
93
O Projeto arquitetônico Em se tratando da implantação, objetivou-se trabalhar com blocos independentes, que se unem pelo uso de cobertas de telha de barro. A ideia era trabalhar com formas diferentes e lúdicas que, de acordo com seu design, trariam maior ou menor impacto, a fim de brincar com o imaginário dos alunos, e não gerar esquinas convencionais com pouco espaço. Ambicionase a longa extensão dos recuos, a fim de que a forma pousasse no terreno de forma confortável, deixando o prédio imerso no verde, que, por sua vez, será consolidado com o tempo, com o crescimento das espécies a serem plantadas. Sobre a parte construída, tudo teve início nos ateliês produtivos, em forma de leque. O partido surgiu da ideia de posicionar os ateliês de forma que se comunicassem entre si, a fim de proporcionar integração entre as produções, a troca de ideias entre os alunos, a possibilidade de parcerias produtivas, e a inspiração uns dos outros. A existência dos jardins intercalados surgiu justamente para proporcionar tal uso, e sua existência funciona também como um respiro, uma área de transição entre o mundo do couro e o mundo da palha, por exemplo. As portas de correr que abraçam as laterais dos edifícios servem como uma forma de tê-los isolados ou abertos e o fato de serem painéis permitem seu uso como murais expositivos. É necessário destacar a posição estratégica dos ateliês, pois, tendo em vista que a ventilação natural vem em sua maioria pelo leste, foi desejado que todas as salas tivessem o privilégio de receber tal ventilação natural, contribuindo para o conforto térmico, a fim de criar um ambiente agradável para as atividades propostas. A implantação objetivou dar uma forma mais especial para as salas de aula, o coração da escola, onde estava a produção da arte, a valorização do artesanato, o cuidado com a matéria-prima, a formação de jovens, o surgimento de artistas e a transformação daquelas pessoas. Ali seria o mundo dos futuros artistas, palco da integração entre mestre artesão e aluno, da interação entre jovens com realidades diversas, com sonhos e desejo de um futuro melhor. O bloco retangular serve de apoio, onde as outras funções da escola aconteceriam, por isso apresenta uma forma mais PRAÇA INFANTIL silenciosa, para dar força aos outros edifícios. Ali ficam a biblioteca e o refeitório, além de outros serviços. O objetivo é que TERREIRO o refeitório possa oferecer alimentação para os alunos que ali estudam e que possa ser um incentivo para uma alimentação mais natural e saudável. Deve-se expor que a fachada exposta ao Sol poente é um jardim longitudinal, que barra o calor, PÁTIO protegendo o corredor desse bloco. O terceiro e último bloco tem forma circular, remete às ocas indígenas e teve como influência principal a igreja do JARDIM Espírito Santo do Cerrado. O objetivo de tal implantação foi dar uma forma mais especial ao local onde seriam expostos todos PRAÇA MULTIUSO os trabalhos artísticos, criando um ambiente homogêneo, que surge devido seu formato regular . Ao lado funcionaria um café e ambos existiriam independente da escola. Por consequência a oca está integrada às praças e é voltada para toda a população, assim como possíveis turistas. Foi desejado que o café tivesse vista para o córrego e para o terreiro, a fim de mostrar para os visitantes o potencial natural do lugar. Por fim, as três formas são integradas por uma laje de formato orgânico que articula os blocos e gera sombra na entrada principal e na área do café. Além disso, a circulação interna é feita através de um corredor coberto por telha de barro e com vista para o pátio, que contorna internamente o projeto, apresentando formato que dinamiza o passeio. Em relação aos acessos, foi decidido fazer uma entrada principal pela rua Francisco Martins de Souza, que direciona o pedestre tanto para a “Oca”, quando para a entrada da escola. O outro acesso é voltado para o serviço, por onde entrariam os alimentos para o refeitório e os empregados da escola. A cerca que limita o terreiro também teria um acesso por onde as matérias-primas chegariam aos ateliês.
5 5
10
15
20
25
Mapa 6: Implantação escolhida.
10
15
20
25
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95 Detalhe de portas de corres dos ateliês
5.3 Aspectos Construtivos
Detalhe das portas de correr do ateliê
Quanto aos materiais foi decidido usar pilares e vigas de concreto, tendo em vista a facilidade da mão de obra que trabalha com esse sistema na região. As paredes são de alvenaria, mas em alguns momentos podem agir como paredes portantes.
1,14
1,14
1,14
1,10
2,30
Em relação às cobertas foi decidido trabalhar com telhas de barro, terças metálicas pintadas de marrom e caibros de madeira em todos os blocos a fim de trazer um caráter telúrico ao projeto. Na oca e no bloco de apoio foi necessário o uso de tesouras metálicas, com o intuito de soltar a coberta do pavimento térreo, deixando o local mais amplo e confortável. Em se tratando do corredor coberto que une os blocos, foi usado telha de barro também, mas seus pilares são de madeira.
1,14
O piso utilizado no pátio foi da pedra Santana, original da região de Santana do Cariri, a fim de valorizar os materiais locais.
0,05
Ventilação nos blocos
As cores usadas no projeto tem como referência as obras do arquiteto Luis Barragán, que trabalhava com volumetria, cores vibrantes, e seu arranjo com o entorno.
Ventilação nos blocos Ventilação nos blocos
5.4 Conforto térmico A ideia foi trabalhar de forma mais natural possível e trazer para a escola um ambiente inspirado no local de trabalho das mulheres da palha de bananeira, colocado no capítulo 2. Um local com tranquilidade e conforto criado pela simples existência de uma sombra de pé de manga.
0,05
0,05
Em se tratando da transparência presente, foi usada uma longa parede de cobogós que deixa o jardim e o corredor do bloco de apoio à mostra. Na oca foram usadas abertura através de tijolos desencontrados, assim como na parede que rodeia a escola.
Ventilação dos blocos calor
GSEducationalVersion
ventilação
O conforto térmico foi pensado no sentido de direcionar a ventilação natural. Dessa forma, foram pensadas aberturas que permitissem o vento entrar e sair por aberturas mais altas, levando o ar quente embora e permitindo a ventilação cruzada. Além disso, a presença do verde ao redor e dentro do prédio favorece uma maior umidificação do ambiente, além das sombra criada pelas árvores. As telhas de barro usadas em toda a construção são ótimas para a saída de ar graças à irregularidade se suas formas, deixando aberturas que deixam o ar quente e leve escapar. Além disso, o fato das cobertas terem quase total independência das paredes abaixo, e o fato de os pés direitos terem alturas generosas faz com que a massa de ar quente se concentre acima das pessoas, tornando o local mais agradável.
calor
ventilação
ventilação
calor ventilação
N
3
Legenda H
1 Terreiro 2 Jardim do Ateliê 3 Pátio Interno 4 Espelho D'água 5 Praça Multiuso 6 Praça Infantil 7 Estacionamento 8 Bicicletário 9 CRAS 10 Acessos à Escola
0
C
G
2
2 G
6
1 2
A
4
-1
2
0
10
0
2 D A -0,15
4
3
F
2 B
D
Rua Franci
2 E B
C
sco Martin s de Souza
10 5
E H
2
10
F
DESENHOS TÉCNICOS
2
0
9
-0,8
7
8
0.5
1
1,8
sé de Rua Jo
Matos
França
Planta de Coberta ESC 1:500 5
GSEducationalVersion
10
15
20
25
N
3
Legenda H
1 Café 2 Exposição 3 Banheiro 4 Ateliê 5 Sala de Aula Teórica 6 Biblioteca 7 Administração e Serviço 8 Refeitório 9 Apoio do Refeitório 10 Jardim Interno 11 Circulação
3
C
G 1
Ref . FG
2
4
G 4 1
-1
A
4
1
4 0
1
0
4
1
D A -0,15
4
F
6 1
6
11 7
B
6
7
Rua Franci
7
5
5
3 3
D 7 11
11
B
C
sco Martin
E
5
5
8
s de Souza
10 9
9 Re f.
9
Re
f.
11
f.
Re
f.
Re
f.
Re f.
Re f.
Re
9
9
9
E 11
H
9
9
2
9
9
F -0,8 0
0,5
1
1,8
sé de Rua Jo
Matos
França
Planta do Térreo ESC 1:500 5
GSEducationalVersion
10
15
20
25
Bloco Leque TE LHA DE BARRO
2,1
TE LHA DE BARRO
TE RÇ A ME TÁLIC A
C AIBRO DE MADE IRA
4,10
C AIBRO DE MADE IRA
4,8
TE RÇ A ME TÁLIC A
2,0
BRISE S DE MADE IRA
1,0
7,9
BRISE S DE MADE IRA
PO RTAS E M VIDRO DE C O RRE R
VE N E ZIAN A
PO RTAS E M MADE IRA DE C O RRE R
VE N E ZIAN A
PO RTAS E M VIDRO DE C O RRE R
TE RÇ A DE MADE IRA
VE N E ZIAN A
PO RTAS E M VIDRO DE C O RRE R
VE N E ZIAN A
PO RTAS E M MADE IRA DE C O RRE R
VE N E ZIAN A
PO RTAS E M VIDRO DE C O RRE R
VE N E ZIAN A
MÃO FRAN C E SA
2,80
2,30
MÃO FRAN C E SA
PO RTA BASC ULAN TE COM C O N TRAPE SO
PILAR DE MADE IRA
3,8
0,8
DE PÓ SITO DE MATÉ RIA-PRIMA
PO RTA BASC ULAN TE COM C O N TRAPE SO
PILAR DE MADE IRA
ATE LIÊ
SALA DE AULA TE Ó RIC A
SALA DE AULA TE Ó RIC A
Corte A: Ateliê Escala: 1/250
Corte B: Salas de Aula Teórica Escala: 1/250 24
12
A ±0,00
8
B
1
±0,00
3
3
1
PROJEÇÃO DA COBERTA
PROJEÇÃO DA COBERTA
Planta Baixa do Ateliê Escala: 1/250 Térreo
Planta Baixa das Salas de Aula Teórica Escala: 1/250 5,15
A
A
3,0
8
2 1
Planta Baixa do Ateliê Escala: 1/250 1º andar
8
A
12
Legenda 1. Ateliê 2.Depósito de Matéria -prima 3. Salas de Aula Teórica
B
4,8
Bloco Circular
LAJ E DE C O N C RE TO
0,12
0,6
TE RÇ A ME TÁLIC A
TE SO URA ME TÁLIC A
2,60
2,60
TIJ O LO S DE SE N C O N TRADO S
E XPO SIÇ ÃO
C AFÉ
Corte G: Escala: 1/250
Coberta de telha de barro
7,0
Terça Metálica 3
15,0
Peça Metálica de Amarração
8,0
Tesouras Metálicas
±0,00
G
G
FG
30,0
Ref.
Vigas de concreto
2 1
15,0
Parede de alvenaria
Pilares de concreto
Laje
Planta Baixa do Bloco Circular Escala: 1/250 PROJEÇÃO DA LAJE DE CONCRETO
Legenda 1. Café 2. Exposição 3. WC
Bloco Retangular
BRISE S DE C O N C RE TO
2,40
4,1
3,5
4,1
3,5
1,1
BRISE S DE C O N C RE TO
C AIBRO DE MADE IRA
PE RG O LADO DE C O N C RE TO TE RÇ A ME TÁLIC A
FO RRO DE G E SSO
SALA DE E STUDO S
J ARDIM IIN TE RN O
PILAR DE MADE IRA
C O RRE DO R
AC E RVO BIBLIO TE C A
SALA DE E STUDO S
J ARDIM IN TE RN O
C O RRE DO R
2,80
PARE DE DE C O BO G Ó
3,2
2,6 AC E RVO BIBLIO TE C A
TE SO URA ME TÁLIC A
FO RRO DE G E SSO
3,2
2,6
PARE DE DE C O BO G Ó
J ARDIM IIN TE RN O
PILAR DE MADE IRA
0,40
PE RG O LADO DE C O N C RE TO
RE FE ITÓ RIO
Corte E Escala: 1/250
Corte D Escala: 1/250
1,1
0,8
Legenda C AIBRO S DE MADE IRA
BRISE S DE C O N C RE TO
2,40
Biblioteca FO RRO DE G E SSO
FO RRO DE G ESSO
PARE DE DE C O BO G Ó
1. Acervo e Consulta
6,1
0,60
TE SO URAS ME TÁLIC AS
2,60
2.Estudo Coletivo C O RRE DO R
PRÉ -HIG IE N IZAÇ ÃO
DE SPE N SA
N UTRIC IO N ISTA
PRÉ -PRE PARO
HIG IE N IZAÇ ÃO
RE FE ITÓ RIO
WC C O LE TIVO
WC C O LE TIVO
WC
DIRE TO RIA
C O RRE DO R
HE ME RO TE C A
3. Empréstimo e Hemeroteca
SALA DE E STUDO S
Corte F Escala: 1/250
Administração de Serviços 4 Diretoria e Sala dos Professores 5 WC 6 Estar dos Funcionários
E
D
7 Depósito de Material de Limpeza 8 Banheiros Coletivos PROJEÇÃO DO PERGOLADO DO JARDIM
21 5
F
11
14
4
3
12 Apoio Refrigerado
2
10,35 Ref.
18
Ref.
7
15
17
6
2,7
14 Pré-Preparo 17 Higienização das Louças
1
18 Sala de Refeições
Ref.
8,30
18
2,6
3,95
3,8
4,5
1,4
10,5
19 Depósito de Material de Limpeza 20 Jardim interno PROJEÇÃO DA COBERTA
Planta Baixa do Bloco Retangular Escala: 1/250
D
2,76
8
±0,00
E
1,4
8
15 Cocção
Ref. Ref.
Ref.
12
11 Despensa Seca 13 Nutricionista
9
19
10 Pré Higienização F
16
Ref.
14,50
10
13
9 Recepção de Alimentos
1,5 0,15
20 21
Alimentação
2,50
60
Corte H
Corte C
Cortes Perspectivados
PERSPECTIVAS
112
113
Figura 118: Entrada Principal.
Perspectiva de: Ana Beatriz Ribeiro Gomes.
114
115
Figura 119: Entrada do cafĂŠ.
Perspectiva de: Ana Beatriz Ribeiro Gomes.
116
117
Figura 120: Praรงa multiuso.
Perspectiva de: Ana Beatriz Ribeiro Gomes. Figura 121: Praรงa
Infantil. Perspectiva de: Ana Beatriz Ribeiro Gomes.
118
119
Figura 122: Terreiro. Perspectiva de: Ana
Beatriz Ribeiro Gomes.
Figura 123: Pรกtio Interno. Perspectiva de:
Ana Beatriz Ribeiro Gomes.
120
121
Figura 124: Exposição. Perspectiva de:
Ana Beatriz Ribeiro Gomes.
Figura 125: Refeitório. Perspectiva de:
Ana Beatriz Ribeiro Gomes.
122
123
Figura 126: AteliĂŞ. Perspectiva
de: Ana Beatriz Ribeiro Gomes.
Figura 127: Sala de Aula TeĂłrica.
Perspectiva de: Ana Beatriz Ribeiro Gome
124
125
CONCLUSÃO “Acho que todo ser humano sábio é capaz de exprimir-se criativamente. Não me parece, de modo algum, que o problema consista em saber se há capacidade criativa latente, mas antes em como se pode ativá-la.” GROPIUS, Walter. “L’Architecture d’Aujourd’hui, Paris, fev de 1950. Pode-se concluir com este trabalho que o artesanato carrega parte fundamental da identidade e da essência do Juazeiro do Norte, embora seu futuro seja incerto. Quem serão os mestres artesãos em dez anos? Quem fará ou ensinará artesanato? Quem serão os futuros aprendizes? Um lugar que repense a forma de olhar o artesanato dos próprios locais é necessidade primordial para a região. Entender que o Cariri é uma fonte de matéria-prima e consequentemente de possibilidades de trabalho manual é algo que precisa ser assimilado e transmitido. Além disso, todos temos um lado criativo, precisamos apenas desenvolvê-lo para que floresça. Vejo o trabalho artesanal, depois do estudo feito, como uma exceção ao sistema industrial vivido hoje. O artesão não precisa de muito. Diante das entrevistas feitas foi observado uma relação muito forte entre agricultura e trabalho, onde muitos artesãos produzem sua matéria-prima, afinal dominam o cultivo, colheita, manuseio e venda do que criam. O artesão não tem horário fixo de trabalho, não tem um patrão. O que foi observado foi um senso coletivo forte, onde muitos trabalham em associação, cada um com sua tarefa, todos se ajudando, trocando conhecimento e crescendo em suas práticas. Hoje no Ceará não existe um órgão que se preocupe com a perpetuação da prática do artesanato, não existe um órgão que invista na formação artística e no desenvolvimento do potencial criativo do artesão. Como criar, reinventar ou melhorar um trabalho criativo se não há estímulos? Se não há um local de ensino e de embasamento teórico sobre o que já se explora no artesanato no Brasil e no mundo e o que pode ainda ser explorado? Nesse intuito, a Escola de Mãos proposta neste trabalho vem suprir tal carência dessa região localizada em um bairro onde os moradores não têm nenhuma perspectiva de futuro melhor, um bairro carente de estrutura, de espaços de convivência e de qualquer estímulo à criatividade. A Escola de Mãos tem a principal preocupação de fazer jovens se interessarem por tal arte e por consequência mantê-la viva, defendendo o legado do artesanato cearense.
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Fontes Utilizadas
Kelson
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