Walte r B ar retto Jr.
O Fim do Dinheiro O fim dos cartĂľes O fim dos bancos O fim do sistema financeiro
Serå o avanço do capitalismo
O sistema capitalista vive sob constantes crises, gerando graves
conflitos sociais e claramente precisa de mudanças. A proposta é retirar todo o dinheiro de circulação e as pessoas continuarem fazendo as mesmas coisas que sempre fizeram: trabalhando, estudando, consumindo, se divertindo, somente sem a utilização do dinheiro. No livro, de forma prática e objetiva, o autor mostra que com o fim do dinheiro o capitalismo avança, a produtividade aumenta e os conflitos sociais são drasticamente reduzidos, a meritocracia passa a ser a mola propulsora do desenvolvimento, o mundo fica mais justo e humano e as pessoas serão mais felizes. BAIXE O E-BOOK GRATUITO www.ofimdodinheiro.com www.theendofmoney.org www.elfindeldinero.com
CONTRIBUA COM O DEBATE The end of money
ECONOMIA
ISBN (13) 978-85-920526-0-7
Lendo o discurso que o Papa Francisco fez no Encontro Mundial dos Movimentos Populares, em Santa Cruz de la Sierra, no dia 9 de julho de 2015, o autor tomou a decisão de escrever este livro, fruto de uma análise que já tinha realizado sobre o avanço que teria o sistema capitalista com o fim do dinheiro, o fim dos cartões, o fim dos bancos, o fim do sistema financeiro. “Se é assim – insisto – digamo-lo sem medo: Queremos uma mudança, uma mudança real, uma mudança de estruturas. Este sistema é insuportável: não o suportam os camponeses, não o suportam os trabalhadores, não o suportam as comunidades, não o suportam os povos... E nem sequer o suporta a Terra, a irmã Mãe Terra como dizia São Francisco”. (Papa Francisco) A necessidade de mudança no nosso sistema capitalista parece ser um pensamento dominante nesse início de século, o sistema capitalista mundial está certamente com problemas e vive sob constantes crises financeiras, as crises se alternam entre países, regiões, continentes, porém, todas elas, com maior ou menor grau de intensidade, têm gerado graves conflitos sociais. “Está -se a castigar a terra, os povos e as pessoas de forma quase selvagem. E por trás de tanto sofrimento, tanta morte e destruição, sente s-e o cheiro daquilo que Basílio de Cesareia chamava ‘o esterco do diabo’: reina a ambição desenfreada de dinheiro. O serviço ao bem comum fica em segundo plano. Quando o capital se torna um ídolo e dirige as opções dos seres humanos, quando a avidez do dinheiro domina todo o sistema socioeconômico, arruína a sociedade, condena o homem, transforma o- em escravo, destrói a fraternidade inter h- umana, faz lutar povo contra povo e até, como vemos, põe em risco esta nossa casa comum.” (Papa Francisco) Nas reflexões do autor veio a pergunta: qual o grande gerador dos conflitos no sistema capitalista? E a resposta foi rápida e clara: o “dinheiro”. E o que acontecerá se decretarmos o fim do dinheiro, o fim dos cartões, o fim dos bancos, o fim do sistema financeiro?
Para sua surpresa, com o fim do dinheiro o sistema capitalista funcionará com mais eficiência, a produtividade aumentará e os conflitos serão drasticamente reduzidos, a meritocracia passará a ser a mola propulsora do desenvolvimento, a sociedade ficará mais justa e, certamente, as pessoas serão mais felizes. “A primeira tarefa é pôr a economia a serviço dos povos. Os serem humanos e a natureza não devem estar a serviço do dinheiro. Digamos NÃO a uma economia de exclusão e desigualdade, onde o dinheiro reina em vez de servir. Esta economia mata. Esta economia exclui. Esta economia destrói a Mãe Terra”. (Papa Francisco) O fim do dinheiro será o avanço do sistema capitalista! “Esta economia é não apenas desejável e necessária, mas também possível. Não é uma utopia, nem uma fantasia. É uma perspectiva extremamente realista. Podemos consegui-la. Os recursos disponíveis no mundo, fruto do trabalho intergeneracional dos povos e dos dons da criação, são mais que suficientes para o desenvolvimento integral de ‘todos os homens e do homem todo’”. (Papa Francisco) De forma prática e objetiva O Fim do Dinheiro apresenta os caminhos para a nova sociedade. Provavelmente você vai ter muito a contribuir com essa nova ideia: o fim do dinheiro!
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CONTRIBUA COM O DEBATE The end of money
Walter Barretto Jr.
Brasileiro, nasceu em 1966, formado em arquitetura e urbanismo e empresário.
Walter Barretto Jr.
Copyright © 2016 by Walter Barretto Jr. All rights reserved. 1ª edição — Janeiro de 2016 Grafia atualizada segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, que entrou em vigor no Brasil em 2009 Capa e Projeto Gráfico Marcelo Barreto Diagramação Alan Maia Revisão Marcia Benjamim
DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Barretto Junior, Walter O fim do dinheiro : o fim dos cartões : o fim dos bancos : o fim do sistema financeiro : será o avanço do capitalismo. / Walter Barretto Jr.. ‑‑ 1. ed. -- Salvador, BA : Ed. do Autor, 2016. ISBN: 978-85-920526-0-7 1. Capitalismo 2. Capitalismo – Aspectos sociais 3. Crise econômica 4. Crise econômica e financeira 5. Dinheiro 6. Sistema financeiro I. Título. 16-00081 Índices para catálogo sistemático 1. Capitalismo : Economia 330.15
Impresso no Brasil Printed in Brazil
CDD: 330.15
AGRADECIMENTO Agradeรงo as aulas que tive com meu pai, economista e humanista.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...................................................................................................................9 O FIM DO DINHEIRO......................................................................................................11 O SISTEMA DEMOCRÁTICO.................................................................................... 15 OS PROBLEMAS GERADOS PELO DINHEIRO.............................................. 25 GANHAR DINHEIRO É UMA HABILIDADE ESPECÍFICA...........................27 O QUE MUDA?............................................................................................................... 29 OS RISCOS DE O DINHEIRO SER MAIOR DO QUE TODOS NÓS..........37 POR UMA SOCIEDADE MAIS PRODUTIVA..................................................... 41 AVANÇOS TECNOLÓGICOS x AVANÇOS HUMANOS................................ 43 POR QUE O DINHEIRO EXISTE?.......................................................................... 45 AS VANTAGENS............................................................................................................47 O PLANETA MARTE....................................................................................................57 COMO IMPLANTAR A MUDANÇA....................................................................... 59
Walter Barretto Jr.
O PREJUÍZO VAI FICAR PEQUENO..................................................................... 63 A LIVRARIA..................................................................................................................... 65 QUERO TER MAIS TEMPO PARA LER..............................................................69 O SISTEMA DEMOCRÁTICO E O SISTEMA FINANCEIRO.........................71 PROPOSTA RADICAL.................................................................................................73 POR QUE O FIM DO DINHEIRO?...........................................................................75 A SABEDORIA DOS MAIS VELHOS.....................................................................77 A MENTE DOS JOVENS.............................................................................................79 PRESERVAR A TERRA............................................................................................... 81 DISCURSO DO PAPA AOS MOVIMENTOS POPULARES (TEXTO INTEGRAL)...... 83
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INTRODUÇÃO
Certamente muitos concordam que o sistema capitalista nesse início de século XXI está com problemas, as crises econômicas serão ainda mais constantes e a cada momento mais prejudiciais aos países e a população como um todo. A sociedade precisa estudar soluções para o aprimoramento do sistema capitalista, pautado em regimes democráticos, fazendo assim uma transição entre o modelo atual para um modelo mais justo, humano e com aumento de produtividade. Sabemos também que o grande motivador dos conflitos no siste‑ ma capitalista é o “dinheiro”, fato que me fez pensar em retirá‑lo de circulação e assim estudar as consequências do funcionamento da nova sociedade com o fim do dinheiro, o fim dos cartões, o fim dos bancos, o fim do sistema financeiro. Fica claro que acontece “o avanço do sistema capitalista” exata‑ mente após a retirada do dinheiro de circulação. A sociedade fun‑ ciona melhor, com mais eficiência, a produtividade aumenta e os conflitos sociais são drasticamente reduzidos, a meritocracia passa a ser a mola propulsora do desenvolvimento, a sociedade fica mais justa e humana e certamente as pessoas serão mais felizes, então vejamos como seria essa nova sociedade com “O Fim do Dinheiro”.
O FIM DO DINHEIRO
Imaginemos uma sociedade onde o dinheiro não exista e todos vivam praticando um consumo consciente, sempre compatível com sua importância na sociedade. O nosso objetivo nessa nova sociedade é retirar todo o dinheiro de circulação e as pessoas continuarem fazendo as mesmas coisas que sempre fizeram, somente sem a utilização do dinheiro. Se sou médico, continuarei indo para o hospital que trabalho e con‑ tinuarei trabalhando normalmente, somente no final do mês não receberei salário. Continuarei também indo ao supermercado todos os dias que forem necessários e farei minhas compras normalmente, somente na saída não pagarei. E o funcionário do supermercado vai me atender como sempre me atendeu e eu o atenderei no hospital como sempre o atendi, e não pagarei a conta do supermercado e ele não pagará a conta do hospital, porque o dinheiro não mais existirá. E as pessoas continuarão fazendo tudo o que fazem, trabalhando, consumindo, se divertindo, cuidando da saúde, da mente, somente sem a utilização do dinheiro.
Walter Barretto Jr.
Esse raciocínio valerá para todas as pessoas e para todos os setores da sociedade: o público, o privado e também para o terceiro setor; para os poderes executivo, legislativo e judiciário; para os funcio‑ nários e empresários de uma empresa privada, os funcionários do setor público e do terceiro setor; para as crianças e os aposentados, para todo o conjunto da sociedade. Esse sistema é o comunismo? Lógico que não! É o avanço do sistema capitalista. Nesta nova sociedade, as pessoas que produzem mais e são mais importantes para a coletividade continuarão consumindo mais. O médico tomará o vinho francês da região de Bordeaux, produto que o funcionário do supermercado não deverá tomar. Por que falei “não deverá” ao invés de “não poderá”? Porque se o funcionário do supermercado for à loja especializada em vinhos e levar para sua casa um vinho da tradicional região francesa, ele sim vai degustar esse vinho, porém, neste caso, ele poderá estar furtando a sociedade e poderá ser julgado e punido pelos poderes constituídos, exatamente como na nossa sociedade atual. Continuarão existindo as pessoas que trabalharão para o esta‑ do, os que preferirão trabalhar na iniciativa privada e os que se dedicarão ao terceiro setor, exatamente como acontece na nossa sociedade atual, a única diferença é que nenhum deles receberá remuneração: o funcionário não receberá salário e o empresário não terá o lucro em dinheiro.
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O Fim do Dinheiro
Para implementar o fim do dinheiro precisamos de uma sociedade mais avançada do ponto de vista humano? Certamente que sim! Temos capacidade de avançar na questão humana? Certamente que sim, também! E qual terá que ser o avanço nas questões humanas? O cidadão terá que ter uma grande percepção do seu valor como pessoa, da sua importância para o conjunto da sociedade e fazer uma análi‑ se do que é necessário e do que lhe dá prazer consumir para, com base na sua importância e nas suas necessidades e desejos, fazer um consumo consciente, consumo este que acontecerá sem a troca de dinheiro pelo produto ou serviço prestado.
O SISTEMA DEMOCRÁTICO
Com o fim do dinheiro teremos uma sociedade mais livre e avança‑ da, uma sociedade mais democrática e justa com todos os cidadãos. A sociedade continuará com sua estrutura exatamente como ela funciona hoje. As atribuições e responsabilidades de cada setor também continuarão as mesmas, porém com muitos avanços e simplificações no seu funcionamento, devido à retirada do dinheiro de circulação. Uma das bases do sistema democrático é a igualdade de direitos e de oportunidades para todos, e nós sabemos que no sistema ca‑ pitalista atual — onde o dinheiro assume um papel de muita im‑ portância —, muitas vezes se compromete os princípios básicos, interferindo inclusive nos destinos dos povos com a desigualdade enorme entre as pessoas; com a interferência do dinheiro no siste‑ ma de votação para escolha dos líderes que conduzem os destinos dos países; com as injustiças sociais que comprometem a vida de muitos, ou seja, o dinheiro do nosso sistema capitalista interfere de forma nociva nos pilares básicos do sistema democrático.
Walter Barretto Jr.
Na nova sociedade teremos mais liberdade para escolher onde tra‑ balhar e como servir à coletividade. Continuaremos tendo pessoas com espírito empresarial que serão os donos dos seus negócios; te‑ remos os que têm vocação para trabalhar no setor público e assim o farão; teremos os que preferirão os empregos na iniciativa privada; teremos ainda mais pessoas dedicadas ao terceiro setor e teremos também, como toda sociedade tem, os que não vão querer produ‑ zir ou pouco produzirão e serão sustentados integralmente ou em parte pela sociedade produtiva, exatamente como funciona hoje, porém, nosso sistema de consumo mínimo será mais eficiente e jus‑ to. Viveremos todos muito melhor. Sem o dinheiro veremos que a sociedade dará oportunidades iguais a todos e a meritocracia será o norte que definirá o caminho que cada cidadão irá tomar e, desta forma, a nova sociedade será um avanço também para o regime democrático, numa sociedade mais justa e humana, mais equilibrada no acesso às oportunidades, mais livre para o cidadão decidir o que fazer, onde trabalhar, como gerar mais benefícios para a coletividade; teremos sim uma sociedade mais democrática com o fim do dinheiro.
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O Fim do Dinheiro
O SETOR PÚBLICO Os poderes do sistema capitalista — Executivo, Legislativo e Judiciário —, continuarão existindo na nova sociedade e com as mesmas funções e importâncias, como se vê abaixo: • O poder Executivo será formado pelos gestores dos serviços públicos que serão eleitos pelo voto popular, assim como os funcionários públicos de carreira, exatamente como funciona hoje no sistema democrático. Da mesma forma como todos na sociedade, eles não receberão remuneração e poderão consu‑ mir livremente, logicamente respeitando o equilíbrio entre a sua importância na sociedade e o total do seu consumo. • O poder Legislativo também manterá as mesmas caracterís‑ ticas que temos hoje na nossa sociedade, e os seus represen‑ tantes, da mesma forma como os representantes do poder Executivo, consumirão conforme todos os outros cidadãos. • O poder Judiciário terá um grande avanço, porque haverá uma redução de processos devido a não existência dos roubos e dos conflitos entre pessoas e empresas, conflitos na maioria das vezes gerados pela existência do dinheiro. O poder Judiciário, dentre todas as atribuições atuais, terá que julgar, quando de‑ mandado, a relação entre o consumo de um cidadão e os bene‑ fícios gerados por ele para a sociedade, fruto do seu trabalho, para analisar se é justo o consumo do referido cidadão.
Walter Barretto Jr.
Ou seja, continuaremos com todos os três poderes do regime de‑ mocrático e com exatamente as suas mesmas atribuições atuais, porém teremos avanços na simplificação da gestão dos poderes e na redução dos problemas sociais, como veremos a seguir. Com o fim do dinheiro um grande avanço que teremos no setor pú‑ blico será a não existência dos impostos, simplesmente porque não haverá mais dinheiro, porém o sistema público continuará prestan‑ do os mesmos serviços que a sociedade demanda hoje, porque não terá que pagar os salários dos funcionários públicos e os produtos e serviços que o estado precisar, a sociedade produtiva fornecerá, também sem custo para o estado. Na nossa sociedade atual cabe ao estado a responsabilidade de re‑ distribuir a riqueza gerada, cobrando dos que mais produzem para viabilizar um padrão mínimo de vida para os menos favorecidos. Na sociedade sem dinheiro essa questão será um dos grandes avan‑ ços do Estado que permitirá que qualquer cidadão, mesmo os que nada produzem, tenha o direito ao consumo mínimo de produtos e serviços, e assim teremos uma sociedade mais justa e humana. E você poderá estar se perguntando: de onde virá a produção para todos consumirem? Veremos lá na frente.
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O Fim do Dinheiro
O SETOR PRIVADO O setor privado não terá alteração no seu sistema de funciona‑ mento, exceto a eliminação do dinheiro na troca entre produtos e serviços. As empresas continuarão sendo geridas pelos seus proprietários e a sua produção será fruto do trabalho dos seus funcionários que, em conjunto, produzirão e fornecerão os seus produtos e serviços. A única diferença é que os sócios da empresa não terão o lucro e os seus funcionários não receberão os salários. As empresas não receberão dos seus clientes o dinheiro, fruto da remuneração do produto ou serviço prestado, porém também não terão que pagar as despesas que hoje possuem: matéria‑prima, salários, impostos, aluguel, transporte, publicidade etc. Com o fim do dinheiro serão mantidas todas as transações comer‑ ciais que existem no sistema atual, somente não haverá o paga‑ mento em dinheiro nas transações. Muito mais simples! Na nova sociedade, o trabalhador do setor privado continuará também realizando a sua função na empresa exatamente como faz hoje, somente não receberá o salário; em contrapartida, pode‑ rá consumir os produtos que achar necessários e prazerosos, desde que sejam compatíveis com a sua capacidade de produção, man‑ tendo assim o equilíbrio do sistema.
Walter Barretto Jr.
Imaginemos um conjunto de empresas privadas e pessoas que hoje se relacionam comercialmente, começando do campo até a cidade: um empresário é proprietário de uma fazenda que possui planta‑ ção de tomate e faz toda a gestão do seu negócio, unindo equipe de funcionários para trabalhar nas máquinas e no campo, tendo sua equipe a função de cuidar da colheita e entregar a sua produção de tomate; essa produção passará para uma empresa transportadora que será gerida pelo seu proprietário e sua equipe de funcionários fará chegar o tomate até a indústria; nela, seus funcionários, sob a liderança dos empresários industriais, trabalharão no beneficia‑ mento do tomate chegando ao produto final para consumo que é o extrato de tomate; novamente teremos outra transportadora para levar o produto — o extrato de tomate — até o supermerca‑ do; o supermercado será de propriedade de um empresário co‑ merciante que cuidará de toda a sua gestão, tendo uma equipe de profissionais como seus funcionários; o extrato de tomate, exposto na prateleira do supermercado, será o fim da linha de um ciclo de produção quando o cliente entrar no supermercado e, sem dinheiro na transação, escolher o produto e levar para sua casa. Como pode‑ mos ver o sistema de produção nessa nova sociedade é exatamen‑ te igual ao da nossa sociedade atual, exceto com uma diferença: não terá a circulação do dinheiro nas trocas dos produtos e serviços. Dessa forma, com o fim do dinheiro entre as empresas, pessoas e o estado, os empresários terão uma gestão simplificada porque não será necessário fazer a gestão financeira das suas empresas, focan‑ do assim suas energias no planejamento, no produto, no marketing, no avanço tecnológico, no atendimento ao cliente e outras áreas que farão sua empresa ser mais eficiente e útil para a sociedade.
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O Fim do Dinheiro
E por que a minha empresa teria que produzir mais e melhor se eu como empresário não terei o lucro em dinheiro, fruto desta eficiên‑ cia? Porque o seu consumo e o de sua família, empresários na nova sociedade, terá que ser compatível com o valor do seu trabalho na sociedade, ou seja, quanto mais e melhor a sua empresa produzir, você e sua família poderão se beneficiar consumindo os produtos e serviços que acharem por bem consumir, exatamente como funcio‑ na na sociedade atual: os empresários que produzem mais e me‑ lhor podem consumir mais. E por que eu, funcionário, terei que trabalhar sem receber salário? Exatamente pelo mesmo motivo do empresário, os funcionários que tiverem mais responsabilidades na sua atividade, que mais trabalharem e que, portanto, mais produzirem poderão se bene‑ ficiar consumindo mais produtos no seu dia a dia, do que outro funcionário em função menos qualificada ou que queira trabalhar menos horas por mês. E se eu que sou funcionário de uma empresa e achar que devo me tornar empresário, como devo fazer? Exatamente como faria na sociedade atual, só que de forma mais fácil pela não existência do dinheiro. Você terá que montar o plano de negócios, executá‑lo, colocar o produto ou serviço à disposição da sociedade, e traba‑ lhar para o seu produto ser bem‑aceito por todos. Tendo sucesso no novo negócio a empresa continuará colaborando com a socie‑ dade e você e sua família poderão consumir produtos e serviços compatíveis com o que você estará gerando de riqueza na sua empresa para a sociedade, exatamente como no sistema atual, somente sem o dinheiro.
Walter Barretto Jr.
E se eu for empresário e resolver que quero ser funcionário de uma empresa, como devo fazer? Se sua empresa for útil para a sociedade você provavelmente encontrará alguém que queira substituí‑lo como empresário, se o negócio não gerar benefícios mais à sociedade, a empresa pode ser desativada, exatamente como funciona hoje no sistema capitalista, com a diferença que você passaria a sua empresa sem receber o dinheiro fruto da transferência, e no caso de desativá ‑la não teria a possibilidade de você ficar devedor. Depois você procu‑ raria emprego para continuar trabalhando e sendo útil à sociedade. Nos dois casos acima o consumo de todos os envolvidos no processo terá que ser compatível com a riqueza gerada para a sociedade: o em‑ presário que transfere a empresa próspera poderá consumir mais do que o empresário que desativou a empresa que não tinha mais utili‑ dade para o conjunto da sociedade, exatamente como funciona hoje. Fica claro que sem o dinheiro teremos um capitalismo gerador de mais oportunidades a todos, gerador de oportunidades para quem deseja produzir mais, sem as travas que o dinheiro submete ao desenvolvi‑ mento dos negócios e ainda teremos menos traumas nos fechamentos das atividades que não mais são úteis para o conjunto da sociedade. As pessoas mais ambiciosas — com capacidade de liderança, com iniciativa para empreender — terão muito mais oportunidades na nova sociedade do que têm no capitalismo atual, que limita e difi‑ culta, em muitos casos, o surgimento de novos empresários somen‑ te pela falta do capital para iniciar o negócio. Outra questão que vai impulsionar o setor produtivo na nova socie‑ dade será a educação focada unicamente na meritocracia, assunto que trataremos adiante.
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O Fim do Dinheiro
O TERCEIRO SETOR No terceiro setor teremos um avanço especial! Com o fim do dinheiro as instituições de auxílio às pessoas ne‑ cessitadas irão consumir os produtos necessários para que eles tenham uma vida digna. O consumo de alimentação, as neces‑ sidades ligadas à saúde, o lazer e tudo o mais que torna nossa vida saudável e prazerosa estará à disposição para o consumo dos mais necessitados. Dando um exemplo prático, o líder de um asilo para idosos terá o direito de pegar nos supermercados, farmácias, feiras populares, lo‑ jas de vestuário, todos os produtos necessários para que os idosos tenham uma vida digna, sem pagar por nenhum produto porque não existirá mais o dinheiro. E por que o dono do supermercado entregará o quilo de fei‑ jão para o asilo sem cobrar nada? Primeiro porque não existirá mais o dinheiro, e segundo porque o empresário do agronegó‑ cio e o agricultor e as empresas de transporte nada cobrarão para abastecer o supermercado da quantidade de feijão neces‑ sária para que todos daquela região o consumam. Muito sim‑ ples não é? E se não tiver alimento para todos? E se não tiver remédio para todos? E se não tiver vestuário para todos? Continuando a leitura você verá que teremos o aumento de produção para suprir todas as necessidades da sociedade contemporânea.
OS PROBLEMAS GERADOS PELO DINHEIRO
Quantas pessoas passam privações das necessidades básicas para a sobrevivência? Todos poderão consumir com equilíbrio e terão di‑ reito à alimentação e saúde básica. Quantas pessoas hoje vivem angustiadas por causa do dinheiro? Não teremos mais que ficar fazendo conta do saldo em bancos e consumo nos cartões de crédito e tomando empréstimos para su‑ prir eventualidades. Quantas pessoas vivem hoje preocupadas com sua aposentadoria? Todos trabalharão até quando tiverem saúde, energia e disposição para trabalhar e servir a sociedade, e continuarão consumindo até o último dia de vida. Quantas brigas em famílias e entre amigos são geradas por causa do dinheiro? As amizades serão mais preservadas e as famílias fica‑ rão livres desse risco de desentendimento. Quantas pessoas sofrem traumas, ou mesmo morrem, fruto de as‑ saltos? No mundo sem dinheiro, e com o consumo livre, não tere‑ mos mais os roubos e os assaltos.
GANHAR DINHEIRO É UMA HABILIDADE ESPECÍFICA
Tem pessoas na nossa sociedade que sabem ganhar dinheiro e ou‑ tras que claramente não sabem como ganhá‑lo. Ganhar dinheiro é uma habilidade específica, desvinculada de certa forma da impor‑ tância do trabalho gerado pelo cidadão à coletividade. Todos nós certamente conhecemos pessoas que são extrema‑ mente importantes para a sociedade e terminam tendo dificuldades financeiras pela falta de habilidade com o dinheiro, pela falta de habilidade para ganhar o dinheiro, e conhecemos outras pessoas também que em todo negócio que faz ganham muito dinheiro e os negócios não necessariamente são importantes para a sociedade, na dimensão do dinheiro ganho por elas. Nada de errado no exemplo acima, temos que parabenizar as pes‑ soas que sabem ganhar dinheiro. Esse é o sistema capitalista vigen‑ te e as regras atuais é que geram muitas vezes essas injustiças com algumas pessoas.
Walter Barretto Jr.
Porém, na sociedade que propomos, na sociedade sem dinheiro, a regra do jogo vai mudar. Vai ter o direito de consumir mais, de usu‑ fruir do conforto da vida contemporânea quem mais gerar benefí‑ cios, riquezas, quem mais for útil para a sociedade e essas injustiças que hoje assistimos de desequilíbrio entre a importância gerada para a sociedade e o valor ganho será drasticamente eliminada com o fim do dinheiro. Teremos a relação entre o trabalho e o prazer do consumo mais justa e equilibrada, uma das bases do sistema capitalista, fato que gerará mais riqueza para todos.
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O QUE MUDA?
NA FAMÍLIA Vamos imaginar uma família onde moram todos juntos: um casal, dois filhos e uma senhora idosa. Como essa família fará a gestão do consumo dos seus cinco membros? Considerando que a senhora idosa não trabalha mais e as crianças não podem trabalhar, por serem menores de idade e estarem es‑ tudando, e que apenas o casal trabalhe, teremos que imaginar o quanto de valor o casal produz de benefício para a sociedade, mais o quanto de valor a senhora idosa gerou enquanto produzia, e este benefício para a coletividade terá que ser o valor máximo a ser con‑ sumido pelos cinco integrantes da família. Muito simples, somaremos os benefícios dos que produzem e dos que já produziram e dividiremos pelo total de pessoas da família, tudo isso feito sem cálculo matemático nem conta de somar e diminuir, somente usando o bom senso, o espírito de coletividade, evitando o desperdício, fazendo comparações com outros grupos semelhantes, pensando sempre no coletivo, pensando sempre em produzir mais do que consumir, pensando sempre no bem ‑estar de todos.
Walter Barretto Jr.
NO DIREITO À PROPRIEDADE Sim, com o fim do dinheiro todos poderão ser proprietários de em‑ presas e imóveis, desde que essa propriedade gere benefícios para a sociedade, ou seja útil para os indivíduos. E se eu for dono de uma fazenda e nada entender, nem gostar de fazenda, e deixar a terra improdutiva? Nesse caso, você terá que escolher outra pessoa ou conjunto de pessoas para tornar a sua fa‑ zenda produtiva e transferir a propriedade. Então o sistema é comunista? Mais uma vez, lógico que não! Se a fazenda tem um dono, um proprietário, e não é propriedade do es‑ tado, o sistema não é comunista, é o avanço do sistema capitalista. O sistema capitalista não prega a produção? Então, tem algum sentido para a coletividade eu ser dono de uma fazenda e nada produzir, nem permitir que alguém produza? Analisando a base de pensamento do capitalismo, com certeza não! Se eu sou dono de uma terra produtiva, se a sociedade estiver pre‑ cisando dos produtos agrícolas, se as sementes, as máquinas para plantar e colher, a equipe para trabalhar nas máquinas e na terra estão à minha disposição para eu produzir sem custo, dependendo apenas da minha disposição e capacidade de fazer a gestão como empresário agricultor, se mesmo assim, eu nada quiser fazer com a terra e nada deixar que outro faça, esse pensamento claramente é um pensamento egoísta e, na nova sociedade, teremos que ter um pensamento coletivo e eu terei sim que ceder a terra para outro ou outros que queiram produzir, para o bem da coletividade, para o bem do capitalismo que prega a produção e a riqueza.
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O Fim do Dinheiro
Estão percebendo que todos nós, coletivamente, seremos mais ri‑ cos e prósperos? Que a proposta de retirada do dinheiro é o avanço do sistema capitalista? E se meus pais são proprietários de uma fazenda produtiva e eu quiser continuar na atividade agrícola, e meus pais quiserem se aposentar, essa fazenda passará para a minha propriedade? Exatamente! Desde que a família queira continuar produzindo para o bem da sociedade, a família continuará sendo a sua proprietária, exatamente como funciona na sociedade atual. Então, se uma família, por exemplo, tem uma fazenda produtiva como propriedade e na sucessão familiar não tenha nenhuma pes‑ soa no grupo que queira manter a fazenda produzindo, esses fami‑ liares sucessores terão que colocar o negócio disponível para que outra pessoa ou grupo de pessoas mantenha a terra produtiva. E esses familiares, que transferiram o direito de administrar a fa‑ zenda, serão então prejudicados? Lógico que não! Na nova so‑ ciedade, todos têm que procurar exercer funções que considerem prazerosas, ou seja, temos que fazer o que gostamos para fazermos melhor. Se eles não sentem prazer em trabalhar na gestão de uma fazenda poderão escolher outra atividade empresarial ou profissão que lhes deixem mais felizes e que, consequentemente, gerem mais benefícios para o conjunto da sociedade.
Walter Barretto Jr.
Vamos agora imaginar um proprietário de dois imóveis residenciais, porém, que só necessita de um imóvel para morar. O que ele fará com o outro imóvel? Deixará fechado ou cederá para alguém usar? É claro que para o melhor funcionamento do sistema capitalista o imóvel não deverá ficar vazio e sim deverá ser ocupado, senão ve‑ jamos: o investimento na construção do imóvel foi realizado, a in‑ fraestrutura urbana está disponível, os centros urbanos devem ter sua estrutura ocupada antes de se fazerem novos investimentos, e se existem pessoas precisando morar naquela região, por que ficar um imóvel fechado? E o aluguel que o dono do imóvel recebe na sociedade atual, ele vai perder? Vamos inverter a pergunta, se não existirá mais o dinheiro, se o dono do imóvel poderá consumir sem pagar, para que receber o aluguel? Lógico, mais uma vez, para o bom funcionamento do sistema capi‑ talista, não terá espaço na nova sociedade para pessoas que vivem de renda do capital acumulado, seja ele imóveis, dinheiro, terras, ações, e desta forma todos serão incentivados a produzir, a conti‑ nuar produzindo, e todos nós teremos mais riqueza para distribuir e poderemos sempre consumir mais.
NO DIREITO À HERANÇA A herança em dinheiro lógico que acabará com o fim do dinheiro, fi‑ cando somente a herança dos negócios, desde que a família queira continuar produzindo, e dos imóveis utilizados pela família e com‑ patíveis com a sua produção.
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O Fim do Dinheiro
O que então os filhos poderão herdar dos pais? Os filhos ou de‑ pendentes terão a preferência pelo direito de dar continuidade a projetos que os seus pais possuírem. Como exemplo, podemos citar um empresário comerciante, proprietário de uma loja de materiais de construção; quando esse comerciante achar que está chegando o momento de parar de trabalhar e se aposentar, ele terá que es‑ colher quem vai substituí‑lo nessa função e, caso ele considere um dos seus sucessores preparado para assumir, poderá sim transferir a propriedade da sua loja para um filho. Caso, entre os seus herdei‑ ros, o empresário perceba que nenhum deles tem vocação para dar continuidade ao negócio, ou mesmo nenhum deles queira exercer essa função, o empresário escolherá uma pessoa, ou conjunto de pessoas, que ele achar mais qualificada para continuar adminis‑ trando a tal casa de materiais de construção. Em caso de falecimento dos pais, o que acontecerá com a residên‑ cia da família? A própria família terá que analisar se eles produzem para a coletividade um valor compatível com o referido imóvel. Se produzirem, poderão continuar residindo na casa, caso contrário, se mudarão para um imóvel compatível com os benefícios que eles geram para a sociedade. Nesse novo formato de herança, não mais existirá o jovem filho de pais ricos que, herdando muitos recursos dos pais, poderá ter uma vida farta e improdutiva. Todos devem produzir para garantir o consumo dos bens que acharem necessários e prazerosos, todos devem se capacitar para produzir para o conjunto da sociedade e, desta forma, teremos uma sociedade mais justa e pessoas mais produtivas e felizes.
Walter Barretto Jr.
ACÚMULO DE CAPITAL FINANCEIRO Não existindo mais o dinheiro, não existindo mais a possibilidade de acúmulo de capital financeiro, toda a riqueza gerada, fruto da produção da sociedade, que era acumulada em forma de dinheiro, será distribuída imediatamente para a sociedade, tornando toda a sociedade mais justa e mais equilibrada no que diz respeito às ne‑ cessidades básicas de consumo, com resultado positivo para todos. Pensando bem, para que uma pessoa precisa falecer com uns bi‑ lhões de dólares na conta? Para nada, não é verdade! Então, o que os ricos, os bilionários, os empresários de sucesso que‑ rem em vida? Pode perguntar a todos eles: querem ter o prazer de produzir, o prazer de realizar, o prazer de servir à sociedade. Eles querem o prazer do poder, o prazer de tomar as decisões e interferir na sociedade e, no caso do fim do dinheiro, todos esses desejos dos empresários serão ainda mais atendidos. Sem o dinheiro circulando, a capacidade empresarial ficará vincu‑ lada somente à capacidade de gestão do negócio, de inovação, de liderança, a capacidade de ter novas ideias, de adequar os produtos às necessidades da sociedade, tudo isso que os empresários sabem fazer muito bem, e serão ainda mais demandados pela nova gera‑ ção que chega e quer mais e melhores produtos e serviços.
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O Fim do Dinheiro
Com o fim do dinheiro e o avanço do sistema capitalista teremos mais e mais competentes empresários, mais preparados na ques‑ tão educacional, tema que trataremos à frente, mais oportuni‑ dades para o início da carreira empresarial pela não existência do dinheiro como trava e mais motivação pela oportunidade do traba‑ lho coletivo, que todos nós sabemos, quando é iniciado contamina de forma positiva a todos.
NAS RELAÇÕES AFETIVAS O que muda nas relações afetivas entre as pessoas quando implan‑ tarmos a nova sociedade sem dinheiro? Como não haverá mais herança em dinheiro e toda herança em pro‑ priedade estará vinculada à capacidade de produção no presente, não existirá mais sentido a manutenção de uma relação onde um dos pares esteja interessado no que poderá vir a receber quando do falecimento do outro. A vida a dois será desfrutada diariamente. Se num determinado casal, um gera mais valor à sociedade do que o outro poderá, se for a vontade do casal, somar os benefícios gerados pelos dois e ter o consumo partilhado por eles; dessa forma, a pessoa a qual o seu trabalho gerar menos valor à sociedade se beneficiará de um consumo maior enquanto estiver na relação afetiva, porque, com o fim desta relação, cada um, de forma isolada, terá que consumir conforme a sua produção para o conjunto da sociedade.
Walter Barretto Jr.
E o sexo? Segundo os médicos, o estresse é muito prejudicial à ati‑ vidade sexual e todos nós sabemos que o dinheiro muitas vezes provoca briga entre os casais e ainda, sem a gestão do dinheiro, cer‑ tamente teremos mais tempo livre, ou seja, o sexo vai melhorar com o fim do dinheiro. E você imaginava quando leu o título do livro O Fim do Dinheiro que até o sexo iria melhorar? Eu quando comecei a escrever também não imaginava não!
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OS RISCOS DE O DINHEIRO SER MAIOR DO QUE TODOS NÓS
O CONSUMO MAIOR DO QUE A PRODUÇÃO E se uma parte significativa da sociedade resolver consumir mais do que produz e isto levar à ruptura do sistema? Para isso aconte‑ cer, teremos que acreditar que, na nossa sociedade, possuímos uma quantidade elevada de pessoas desonestas. O fim do dinheiro exige, e isto é condição essencial, uma sociedade formada por pessoas mais preocupadas com o coletivo ao invés do individualismo. Será que conseguiremos? Eu acredito que sim!
Walter Barretto Jr.
E por que eu acredito que conseguiremos? A grande maioria da so‑ ciedade já percebeu que o modelo atual do capitalismo se exauriu, muitos já perceberam que a vida não pode ser focada apenas no dinheiro, uma grande quantidade de pessoas sabe que o dinheiro gera muitos conflitos, das relações pessoais até entre os povos, que o mundo precisa mudar e temos que encontrar esses caminhos, que o homem por natureza tem vontades e ambições específicas, que precisamos construir uma sociedade mais equilibrada e jus‑ ta para o bem de todos, que precisamos encontrar um norte para seguir e fazer uma transição sem traumas do sistema atual para o um sistema que gere mais riqueza e mais paz para todos e, quando a maioria perceber que essa mudança só virá com a mudança de mentalidade, com a mudança do pensamento individualista para o pensamento coletivo, todos nós abraçaremos essa causa e cami‑ nharemos para um futuro melhor. Nesse mundo melhor o consumo não será a base da felicidade, será a liberdade, a produtividade, a vontade de realizar mais pelo coleti‑ vo e nós já pensamos assim de certa forma, quer ver: Na sociedade sem dinheiro, você vai preferir não trabalhar ou você vai optar por um trabalho que te dê prazer e que seja útil para a coletividade? Certamente você preferirá ser útil à nova sociedade, vivendo assim numa sociedade mais justa, mais equilibrada, sem os desconfortos que o dinheiro gera, trabalharemos ainda mais pelo prazer de tra‑ balhar, gerando mais riquezas, base do sistema capitalista.
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O Fim do Dinheiro
O DINHEIRO É O MEU TRABALHO ATUAL Com o fim do dinheiro, o fim dos cartões, o fim dos bancos, o fim do sistema financeiro, se uma pessoa trabalha numa função que será extinta na nova sociedade, o que ela passará a fazer e como se sustentará? Na transição entre o sistema atual e o novo sistema, essas pessoas, que estão em posições que se tornarão desnecessárias, migrarão para outras áreas e isto gerará uma riqueza enorme para toda a so‑ ciedade, lógico que nessa transição essas pessoas poderão continu‑ ar consumindo normalmente até sua nova colocação na sociedade. Com a eliminação do dinheiro e a simplificação da gestão teremos uma economia de hora de trabalho para uma considerável parcela da sociedade, fato que gerará espaço para o aumento de produti‑ vidade, para o direcionamento de pessoas para o terceiro setor ou, ainda, para ampliar o tempo de lazer de todos.
POR UMA SOCIEDADE MAIS PRODUTIVA
O sistema financeiro mundial possui na sua estrutura competentes profissionais, grandes empresas e muita inteligência agregada, sem dúvida é um dos setores da nossa sociedade mais próspero e essa inteligência e riqueza precisa ser aproveitada na nova sociedade. Sabemos também que, para o bem do sistema capitalista, temos que privilegiar o setor produtivo e reduzir ao máximo o setor meio e, desta forma, estimular a geração de riqueza e simplificar a produção. Com o fim do dinheiro faremos um grande avanço na simplifica‑ ção da produção e eliminaremos muitos processos e muita energia dispensada na gestão do dinheiro, e esses profissionais de extrema competência que hoje estão no setor financeiro saberão focar sua inteligência para os setores produtivos, para o aumento da riqueza, para a simplificação dos processos, para o crescimento do terceiro setor e a redução das desigualdades. Teremos grandes profissionais colaborando de forma mais direcionada para a coletividade. Dá para imaginar o quanto teremos de aumento de produtividade quando todos do setor financeiro forem trabalhar no setor produti‑ vo? Quanto teremos de novos negócios? De novas ideias? Será um avanço enorme para o sistema capitalista eliminar todo o setor financeiro e focar no setor produtivo.
AVANÇOS TECNOLÓGICOS x AVANÇOS HUMANOS
É completamente desnecessário listarmos aqui os avanços da socie‑ dade atual na área tecnológica. Hoje temos inteligência para desen‑ volver projetos que ultrapassam os limites do nosso planeta Terra. Também é desnecessário dizer que as desigualdades sociais e humanas no mundo ainda estão com atraso secular. Por que tanto avanço na área tecnológica e tamanho atraso nas questões humanas? Claramente, nas questões humanas não nos desenvolvemos tan‑ to quanto na área tecnológica, pois temos ainda conflitos entre os povos e um mundo muito violento e desumano com parte repre‑ sentativa da população; em contrapartida, parte da população do mundo usufrui de conforto que nas últimas décadas foram sobre‑ maneira incorporados.
Walter Barretto Jr.
Para viabilizar a nova sociedade, teremos, sim, que avançar na questão humana da mesma forma que nas últimas décadas avan‑ çamos na questão tecnológica. Para avançarmos nas questões hu‑ manas, precisamos apenas focar nossa inteligência para essa área e, certamente, evoluiremos muito nessa questão que ainda, e de forma inexplicável, é menosprezada pela maioria das pessoas. Precisamos de uma sociedade mais avançada para implantar o fim do dinheiro? Sim, porém, estamos aqui exatamente para avançar, e temos que acreditar na capacidade de adaptação e avanço das pessoas. O homem é capaz de avançar!
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POR QUE O DINHEIRO EXISTE?
O dinheiro existe pela falta de confiança entre as pessoas nas relações comerciais, falta de confiança que na nossa sociedade atual é um fato. Então, por que acreditar que é possível retirar o dinheiro do sistema capitalista? Exatamente porque acreditamos no avanço da sociedade, no avan‑ ço das relações entre pessoas e empresas, na necessidade imediata de avançarmos na área humana sob pena de continuarmos num mundo com conflitos frequentes. Esses conflitos frequentes são desde os de dimensões e efeitos mun‑ diais: entre povos, países, regiões; e até os pequenos conflitos gerados pelo dinheiro na vida das pessoas. Essa soma de problemas gerados pelo dinheiro, dos grandes aos pequenos, das relações comerciais às relações pessoais, tem dimensão extraordinária e é inclusive de difícil dimensionamento com relação ao mal gerado à toda a sociedade. Vamos avançar sim, vamos criar uma sociedade mais justa e de maior confiança entre as pessoas, uma sociedade onde não precise de uma moeda para nos regular e limitar.
AS VANTAGENS
TRABALHAR POR PRAZER Todos nós sabemos que é muito importante, para se ter qualidade de vida, que a pessoa trabalhe com prazer. Como na nova sociedade não haverá remuneração em dinheiro pelo trabalho, as pessoas tenderão a escolher suas atividades e profis‑ sões com base no que mais gostam de fazer, o que termina gerando resultados mais eficientes para a sociedade e pessoas mais felizes. Quantas vezes já vimos jovens escolhendo a profissão pela expec‑ tativa de resultado financeiro maior? Esse caminho, o de definir os estudos e seguir a carreira profissio‑ nal tendo a questão financeira como prioridade, nós sabemos que não é saudável para a pessoa e, consequentemente, também pre‑ judicial para a sociedade. Com o fim do dinheiro esse pensamento tenderá a diminuir e as pessoas tenderão a escolher suas profissões com base na vocação pessoal e nos benefícios que poderá gerar para a sociedade e assim, certamente, teremos profissionais mais competentes e motivados.
Walter Barretto Jr.
NO SETOR EDUCACIONAL No setor educacional teremos grande avanço com o fim do dinheiro. Continuaremos tendo as escolas e universidades públicas e priva‑ das. Nas públicas nenhuma mudança acontecerá porque já não existe o pagamento em dinheiro por parte do aluno. Nas escolas e universidades privadas teremos grande mudança, vejamos: As escolas privadas, administradas pelos seus proprietários, empre‑ sários do setor de educação, não cobrarão mais pelo curso simples‑ mente porque não haverá mais dinheiro, exatamente como todas as outras empresas, e terminaremos tendo todo o setor de educa‑ ção sem custo para os seus estudantes e familiares. Com as escolas privadas passando a não cobrar pelo ensino, o cri‑ tério de seleção dos seus alunos será simplesmente a competência, ou seja, sem ter que pagar, qualquer aluno pode escolher livremen‑ te a escola ou universidade que achar melhor cursar, tendo apenas que ter competência para ser o selecionado entre os que tomarem a mesma decisão. No setor educacional teremos unicamente a meritocracia como se‑ leção para o ingresso nas escolas e universidades, fato que gerará enorme justiça e mobilidade social e, consequentemente, mais pro‑ dutividade e riqueza para toda a sociedade.
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O Fim do Dinheiro
Com o fim do dinheiro, o médico continuará morando melhor do que o porteiro do hospital, terá direito a viagens maravilhosas enquanto o porteiro do hospital não poderá se hospedar em hotéis de luxo. O médico tomará vinhos franceses e o porteiro tomará sua cerveja feliz da vida. O médico poderá usar roupas exclusivas e o porteiro terá que usar as roupas produzidas em série para as grandes massas, e as massas italianas do médico certamente serão mais deliciosas do que o macarrão do almoço do porteiro, porém, quando os filhos dos dois chegarem à escola e à universidade, os dois disputarão a vaga nas mesmas condições, terão a mesma oportunidade, e o melhor será o médico no futuro. O mérito como base para a educação vai gerar uma riqueza para a sociedade incalculável, somado a isso a facilidade para o empre‑ endedorismo e o estímulo ao trabalho prazeroso, tudo somado, princípios do sistema capitalista, teremos ao longo do tempo uma sociedade muito mais culta, rica, produtiva, educada e feliz.
Walter Barretto Jr.
MAIS SEGURANÇA E MENOS ARMAS Os assaltos acabarão e muitas mortes serão evitadas, porque, ao invés de o ladrão apontar a arma para o cidadão e roubar seu carro, por exemplo, correndo o risco de morte e de traumas, ele simples‑ mente entrará na concessionária, será atendido educadamente pelo vendedor e sairá guiando pelas ruas da cidade, sem a violência de um assalto. Não estou dizendo que a atitude dele está corre‑ ta, indo até uma concessionária e pegando um produto, sem que ele tenha produzido algo de igual ou maior valor para a sociedade, apenas estou dizendo que os males de pegar na empresa que ven‑ de o produto são infinitamente inferiores aos males dos assaltos. Com menos assaltos, a venda de armas se reduzirá e consequente‑ mente a sua produção. O que substituirá os assaltos, roubos e a corrupção será o indivíduo consumir da sociedade mais do que ele produz, porém este procedi‑ mento irregular é muito menos maléfico para a sociedade. Quanto vale para o indivíduo a segurança de circular livremente sem o risco do assalto? Quanto vale caminharmos numa socieda‑ de onde o dinheiro não existe e assim os roubos também não mais existirão? Quantas famílias choram seus parentes perdidos, fruto da existência do dinheiro? Quantas vidas serão poupadas com o fim do dinheiro? Com o fim do dinheiro teremos a redução da violência e as pessoas poderão circular livremente.
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O Fim do Dinheiro
O estado também reduzirá, e muito, o consumo de produtos, ser‑ viços e horas de trabalho por causa da não existência dos roubos e assaltos, as polícias direcionarão sua inteligência e energia para ações sociais de prevenção dos conflitos entre as pessoas. Será um grande avanço na segurança pública.
O TRÁFICO DE DROGAS O consumo de drogas, na sociedade atual, está muito ligado à exis‑ tência do dinheiro e a expectativa de lucro das pessoas que produ‑ zem e comercializam as drogas. Com o fim do dinheiro as pessoas que trabalham para se beneficia‑ rem do resultado financeiro que a comercialização das drogas gera, deverão direcionar seus esforços para outra atividade, ou mesmo, por índole, entrarão no grupo de pessoas que consumirão sem pro‑ duzir, fato que, se analisarmos friamente, causará prejuízo muito menor à nossa nova sociedade. Em paralelo a essa grande vantagem, teremos o terceiro setor, com todos os recursos disponíveis: seja de mão de obra, alimentos e ma‑ teriais, para enfrentar esse grande mal da humanidade que é o con‑ sumo de drogas e a destruição do futuro de muitos jovens.
Walter Barretto Jr.
Nós sabemos que parte das pessoas que procuram as drogas se‑ gue este caminho por não encontrarem estímulos e oportunidades na nossa sociedade atual, com a nova sociedade teremos um setor educacional com mais oportunidades para os jovens e a atividade empresarial de mais fácil acesso a todos, ou seja, uma soma de fa‑ tores que certamente fará com que haja uma redução de pessoas seguindo o caminho das drogas. O fim do dinheiro e o avanço do sistema capitalista será a mola pro‑ pulsora para a redução do consumo de drogas.
CONSUMO CONSCIENTE Tendência da sociedade atual, o consumo consciente será impul‑ sionado com o fim do dinheiro, muitos dos produtos poderão ser compartilhados já que nenhum de nós comprará e não será o pro‑ prietário dos produtos e sim cessionários. Na nova sociedade as pessoas que consumirem mais do que produ‑ zem serão recriminadas pelos demais, e algumas ficarão constran‑ gidas mudando seu perfil de consumo para se adequar, passando a consumir o que é justo. Enquanto outras não, continuarão con‑ sumindo mais do que produzem, cometendo o crime de prejudicar a sociedade de uma forma geral, comportamento que pode vir a gerar punição por parte do estado. Com o fim do dinheiro teremos que ter a consciência no ato do con‑ sumo. O meio ambiente agradecerá!
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O Fim do Dinheiro
CULTURA DO NÃO DESPERDÍCIO Na sociedade atual o desperdício está em todas as áreas: recursos naturais, tempo, energia do trabalho, alimentação, conhecimen‑ to e muito do que temos de valioso poderia ser otimizado ou reutilizado, fazendo com que as pessoas vivessem num mundo melhor. Na nova sociedade o desperdício será mais recriminado do que é hoje porque hoje o que eu desperdiço é produto de minha pro‑ priedade e foi pago com o meu dinheiro, com o avanço do sistema capitalista e o fim do dinheiro os produtos serão gerados pela socie‑ dade e não serão cobrados, ou seja, o cidadão que pegar um produ‑ to para ele e não utilizar estará fazendo isso com um produto que não é sua propriedade, apenas está à sua disposição se de fato ele quiser consumir e não desperdiçar. Com o fim do dinheiro, a sociedade dará um grande passo em todas as áreas, para a redução do desperdício e, consequentemente, para a vida num mundo melhor. O meio ambiente agradecerá!
Walter Barretto Jr.
REDUZIR O CONSUMO A filosofia que defendemos do novo sistema capitalista, que pre‑ ga o pensamento coletivo em detrimento do pensamento indivi‑ dualista, tende a levar as pessoas para uma redução gradual do consumo de alguns produtos que podem ser compartilhados. Essa prática de compartilhamento já é bem difundida entre os jovens que tem uma visão de mundo mais avançada e que estão focando mais no consumo dos produtos de qualidade. Muitos hoje já procuram consumir no setor de alimentos produtos de melhor qualidade e que fazem mais bem à saúde, e isso tem mudado inclusive a forma de agir de grandes marcas e empresas, focando os seus produtos na qualidade de vida. Na indústria automobilística os carros que menos poluem serão o futuro; os carros menores serão a tendência e, mais ainda, o trans‑ porte coletivo em detrimento do transporte individual. No setor médico, estamos avançando muito mais na medicina pre‑ ventiva, cuidando do corpo e da mente; cuidando para ter uma vida saudável, base para uma boa saúde. Em todos os setores o avanço é sempre pela qualidade de vida, pre‑ servação da natureza, mais saúde, menos estresse, trabalho pra‑ zeroso, tempo para o lazer, pensamento que vai de encontro com o fim do dinheiro e o consequente avanço do sistema capitalista.
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O Fim do Dinheiro
Teremos também uma redução real de produtos e serviços que são necessários hoje para a gestão do dinheiro. Imaginem quanto gas‑ tamos da riqueza do mundo para a circulação, controle, gestão e fiscalização do dinheiro? Quantas horas dispensadas por milhares de pessoas por causa da existência do dinheiro? O fim do dinheiro certamente gerará uma redução enorme do consumo de produtos e serviços que deixarão de existir pela ausência do dinheiro. O meio ambiente agradecerá!
MERITOCRACIA Vale registrar que, com o fim do dinheiro e o fim da sua influência nas relações comerciais e pessoais, a sociedade vai passar a ser re‑ gida pela meritocracia. As pessoas mais importantes para a sociedade terão mais valor e poderão consumir mais e não haverá mais a influência do dinheiro alterando a ordem natural do capitalismo que é privilegiar os melhores, os mais competentes, os mais úteis para a sociedade. Na nova sociedade teremos um capitalismo mais eficiente, um capitalismo que privilegiará a geração de riqueza e bem‑estar para todos, o verdadeiro capitalismo.
O PLANETA MARTE
O homem chegou a Marte! Levaremos o dinheiro para Marte? Para levarmos o dinheiro teremos que levar também as agências bancárias, os cartões de crédito, as empresas de plano de saúde, de seguro de vida e aposentadoria, os equipamentos de informática e os sistemas de controle financeiro para as empresas, os profissionais da área financeira; os caixas eletrônicos; as equipes de segurança para evitar o roubo do dinheiro; os cofres; a cobrança de impostos; os salários; o lucro e até as filas para esperarmos o pagamento nos pontos comerciais. Parece que é melhor não levarmos o dinheiro para Marte. E por que não? Porque não é necessário e, além disso, se levarmos o nosso sistema atual de dinheiro para Marte, estaremos incorporan‑ do um ingrediente complicador na vida em Marte. Então, como funcionaria a ocupação de Marte sem o dinheiro?
Walter Barretto Jr.
Levaremos para Marte as pessoas que tenham como contribuir para a nova sociedade que se forma, por exemplo: levaremos professores, médicos e suas equipes de apoio; engenheiros, pes‑ soas que cuidarão da manutenção; representantes dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário; atores, artistas, garçons, chefes de cozinha, agricultores, cientistas, todos os tipos de profissionais que compõem uma sociedade e todos trabalharão sem receber di‑ nheiro, porém poderão consumir o que acharem necessário e pra‑ zeroso, desde que seu consumo seja compatível com a importância que tem na sociedade. Simples assim! Quem se candidata a participar dessa nova sociedade mais huma‑ na e justa em Marte? E se você chegou à conclusão que, de fato, não temos que levar o di‑ nheiro para Marte, acredita agora que podemos estudar caminhos para melhorar o nosso planeta Terra, e um deles, certamente um dos mais revolucionários e de melhor benefício para todos, será o fim do dinheiro? Temos sempre que acreditar na capacidade de evolução da espé‑ cie humana.
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COMO IMPLANTAR A MUDANÇA
Colocando os pés na terra! A pergunta que devemos nos fazer agora é a seguinte: seremos mais felizes ou não com o fim do dinheiro? Se chegarmos à conclusão que a mudança será benéfica para a sociedade poderemos assim combinar em avançar para que um dia a sociedade tenha uma forma mais humana e prazerosa de lidar com o consumo. E essa mudança seria implantada de uma só vez ou por etapas? Sugiro a implantação por etapas. Vejamos a seguir.
Walter Barretto Jr.
PRIMEIRA FASE GERAL Começaríamos pelo terceiro setor, permitindo que todas as insti‑ tuições de apoio aos mais necessitados possam utilizar as pessoas e os produtos necessários, sem que para isso tenham que desem‑ bolsar recursos. Os funcionários dessas instituições de caridade também poderiam consumir sem que tivessem que pagar pelos produtos consumidos. Nesse caso específico, já faremos uma revo‑ lução humana na nossa nova sociedade, acabando com a fome e com a miséria, reduzindo e muito as injustiças sociais. Todas as instituições de caridade, todas as pessoas carentes, todas as pessoas que não trabalham e nada produzem, poderão consu‑ mir livremente os produtos básicos para uma vida digna: alimentos, remédios, vestuário, lazer e tudo que um cidadão, independente da sua capacidade de produção, merece ter, para o bem geral da sociedade. Alguém duvida que essa medida reduzirá a violência no mundo e nos levará ao caminho da paz? Quanto bem‑estar geraremos para os mais necessitados? Quanto vale isso para toda a humanidade?
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O Fim do Dinheiro
A ÁFRICA Ainda na primeira fase teremos que atacar a fome e a miséria da África, continente com os maiores problemas sociais do nosso planeta. Na África muito terá que ser feito. Teremos que fazer um planejamento das necessidades de consumo básico da sua população e chamarmos os grandes agentes mun‑ diais para, instalando bases na própria África, implantarem suas unidades que produzirão para o consumo interno. Essa produção suprirá a população da África dos itens essenciais para uma vida digna e para um crescimento intelectual. Teremos a produção de alimentos, a indústria do agronegócio, a indústria far‑ macêutica, a de vestuário e a implantação de um projeto educacio‑ nal para treinar a sua população para a produção e também para o desenvolvimento sustentável do continente africano. Essa ação que hoje é praticamente impossível de ser realizada porque as empresas operam tendo o lucro financeiro como con‑ dição, e analisando friamente o sistema capitalista atual o pen‑ samento muitas vezes tem que ser esse mesmo, sem o lucro as empresas quebram gerando transtornos para todos, porém, com o fim do dinheiro, o pensamento dominante e gerador do direito de consumir será gerar benefício para a sociedade, então, montar um negócio na África para fornecer produtos e serviços para uma população hoje desassistida atende e muito os princípios básicos da nova sociedade que propomos e é esse o avanço que daremos no sistema capitalista.
Walter Barretto Jr.
Vejamos de forma prática: se eu quero ter uma empresa com alta rentabilidade na nova sociedade terei que fazer negócios que ge‑ rem o máximo de benefícios possíveis para o conjunto da socieda‑ de. E então, me responda essa pergunta: na nova sociedade qual a fábrica de remédios que dará mais lucro, mais benefícios para a população, uma implantada nos Estados Unidos ou uma fábrica de remédios implantada na Zâmbia? Na Zâmbia, lógico! Então os seus proprietários e funcionários poderão consumir mais do que os da fábrica dos Estados Unidos, diferentemente do padrão de capita‑ lismo atual.
SEGUNDA FASE O segundo passo seria avançar no setor público, fazendo com que os funcionários públicos trabalhassem sem receber o salário, e os produtos necessários para o pleno funcionamento das atividades públicas seriam fornecidos pelas empresas que também nada rece‑ beriam do estado. Na implantação dessa fase os impostos seriam eliminados do sistema.
TERCEIRA FASE A terceira e última fase implantaríamos no setor privado e, assim, teríamos todo o sistema funcionando sem a necessidade do dinhei‑ ro, ou seja, será o fim do dinheiro. Essa terceira fase poderá ser im‑ plementada no mesmo momento da segunda fase.
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O PREJUÍZO VAI FICAR PEQUENO
Fazendo uma análise unicamente financeira no sistema atual e comparando com a nova sociedade, chegamos facilmente à con‑ clusão que o consumo além do valor produzido por parte de uma parcela da sociedade com o fim do dinheiro será infinitamente menor do que os recursos perdidos no nosso sistema atual, pelo simples fato de que hoje o desvio de recursos é ilimitado, podendo ultrapassar milhares de vezes a capacidade de consumo de deter‑ minada pessoa, enquanto que na nova sociedade o ladrão terá que consumir o fruto do roubo em vida. A sociedade também fiscalizará de forma muito fácil os cidadãos, analisando o trabalho que exercem para o conjunto da socieda‑ de e seus hábitos de consumo, o que resultará em denúncias que serão investigadas pelo estado, diferentemente dos recursos em dinheiro cuja fiscalização exige maior complexidade e a presença única do estado.
Walter Barretto Jr.
E se não tiver alimentos, remédios e vestuário para todos? Com o desenvolvimento do setor produtivo, com uma educação de qua‑ lidade e proporcionando igualdade de acesso, com a simplificação dos processos, com a energia do setor financeiro direcionada para o setor produtivo, com o fim das terras improdutivas, com o fim das patentes, com a necessidade de ampliação da oferta, com o incen‑ tivo ao espírito empreendedor, teremos sim muito mais produção e consequentemente muito mais alimentos, mais remédios, mais roupas e mais riqueza será produzida para todos.
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A LIVRARIA
Com o fim do dinheiro teremos uma tendência maior ao comparti‑ lhamento devido à redução da sensação de propriedade. Vamos dar o exemplo de uma livraria. Na sociedade atual, quando queremos um livro, o caminho mais utilizado é ir a uma livraria e comprar o referido livro. Na nova so‑ ciedade faremos exatamente assim, porém, na saída da livraria, não pagaremos pelo livro. Essa mudança entre pagar e não pagar o livro tem um efeito psicológico grande sobre a pessoa: quando eu pago o livro, ele é de minha propriedade, quando eu não pago o livro ele é meu enquanto eu estiver com a posse, porém, clara‑ mente, o livro é fruto do trabalho de várias pessoas que convivem comigo em sociedade.
Walter Barretto Jr.
E o que deve acontecer de diferente no comportamento da pessoa depois que ler o livro? Se o livro foi pago existe uma probabilidade maior de o leitor colocá‑lo na estante de sua casa e deixá‑lo por um bom tempo, parado, sem uso, sem gerar conhecimento nem rique‑ za; agora, se eu apenas pegar o livro na livraria, sem pagar, porque o dinheiro não mais existirá, a tendência será de eu achar, o que é a pura verdade, que aquele livro não é meu, apenas foi colocado pela sociedade à minha disposição para a leitura e, depois de lido, devol‑ verei à livraria para que outras pessoas façam o mesmo. Simples assim! E sabe quanto nós ganhamos com isso? • Cada livro publicado poderá ser impresso em menor quanti‑ dade porque haverá o compartilhamento. • Reduzindo a produção por livro poderemos aumentar a quantidade de publicações. • Propagação maior do conhecimento, porque hoje muitas pessoas não leem determinados livros por não terem recur‑ sos para comprar. Vale registrar que esse ganho é de efeito positivo incalculável.
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O Fim do Dinheiro
Vamos para um exemplo prático: na nova sociedade, vou o dia que quiser à livraria ou peço para entregarem em minha casa o livro que eu quiser ler. Posso pegar o livro e levar para o trabalho, viajar com ele, deixar na minha casa enquanto leio e consulto, ou seja, pos‑ so ficar com o livro quantos dias quiser e ainda com quantos livros eu desejar, e vamos supor que eu leia sempre três livros ao mesmo tempo e que durante a minha vida eu consiga ler mais de dois mil livros, quanto a sociedade investirá em mim para eu ler os mais de dois mil livros? O investimento da sociedade em mim será de ape‑ nas três livros. Ou seja, com baixo investimento da sociedade, com o compartilhamento dos livros, e eu terei acesso a todos os livros que quiser, todo o tempo de minha vida, custando muito pouco a todos. E todos nós faremos assim, poderemos ler todos os livros do mundo, e o que não deveremos fazer é reter o livro em casa, sem ninguém ler, sem ninguém consultar, sem nenhuma utilidade, sem difundir o conhecimento e, para alegria de quem gosta de ler, as livrarias serão o gabinete de nossa casa. E você tem ideia da quantidade de pessoas que hoje, no nosso sis‑ tema capitalista atual, se priva de ler e de adquirir conhecimento por não ter condição financeira para comprar um livro? Sendo bem objetivo, esse não é o conceito do capitalismo. O sistema capitalista prega exatamente o contrário, a difusão do conhecimento para o aumento da produtividade e da riqueza e, mais uma vez, chegamos à conclusão que a retirada do dinheiro de circulação nos levará ao avanço do sistema capitalista.
Walter Barretto Jr.
E aí você me diz “mas no futuro será que todos lerão na internet e nem livraria existirá mais”? Grande engano pensar assim! Com o fim do dinheiro teremos uma vida mais prazerosa. Certamente o ato de ir a uma livraria, encontrar e fazer amigos, discutir opções de leitura e debater os temas que nos interessam sempre fizeram parte do prazer da leitura, situações que a vida atual e o corre‑corre, muitas vezes nos priva.
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QUERO TER MAIS TEMPO PARA LER
Quantas horas você ganhará para ler com o fim do dinheiro? Vamos ver a lista de atividades e o esforço dispendido que você tem hoje para conviver com o dinheiro: • Uma vez por mês analiso o saldo da minha conta corrente; • Uma vez por mês analiso minhas despesas no cartão de crédito; • Várias vezes por mês tenho que pagar minhas contas pela internet; • Todos os dias me dirijo a alguma loja e tenho que ficar es‑ perando o caixa operar o pagamento da conta e ainda em algumas lojas tenho que aguardar na fila; • Nos restaurantes sempre fico aguardando a conta para pagar; • Uma vez por ano faço uma análise geral sobre as aplicações dos recursos financeiros;
Walter Barretto Jr.
• Uma vez por ano renovo meus seguros de carro, casa e vida; • Uma vez por ano faço uma análise sobre o meu plano de previdência; • Quando preciso fazer um financiamento tenho que calcular as taxas de juros e negociar os valores do empréstimo; • Várias vezes ao mês perco tempo em sites de compras digi‑ tando o número do meu cartão de crédito; • Duas vezes por ano tenho que entrar em algum sistema para mudar uma senha que esqueci; • Se estou sem dinheiro tenho que discutir com minha família para cortar as despesas; • Se estou com muito dinheiro tenho que discutir com minha família as possíveis aplicações do dinheiro; • Tenho que fazer cursos, assistir palestras e ler livros sobre a gestão do dinheiro na vida contemporânea — esse foi o pior de todos! A pergunta que nós devemos nos fazer agora é a seguinte: seremos mais felizes ou não com o fim do dinheiro?
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O SISTEMA DEMOCRÁTICO E O SISTEMA FINANCEIRO
Vamos fazer uma comparação entre o avanço do sistema demo‑ crático nas últimas décadas no mundo, e os problemas econômicos que vivemos na nossa sociedade. O sistema democrático avançou muito. Há pouco tempo muitos países viviam regimes ditatoriais onde a população não tinha a li‑ berdade de escolher os seus líderes e, consequentemente, os seus destinos. Hoje temos, na maioria dos países, regimes democráticos onde as votações para os liderem políticos são livres, transparentes, equilibradas e o voto do rico e do pobre têm o mesmo peso, e assim esses líderes, para se manterem no poder, têm que atender ao con‑ junto da sociedade. Já no sistema financeiro estamos muito atrasados. Poucos e grandes investidores mundiais que, representando fundos de in‑ vestimentos e empresas de avaliação de crédito, podem alterar o destino de um país, de uma nação, de milhares de pessoas, apenas com um movimento de recursos financeiros ou mesmo apenas com um rebaixamento do crédito de um país, ou mesmo somente com previsões na imprensa sobre o futuro de um país ou de uma região.
Walter Barretto Jr.
Quer dizer que poucos atores mundiais, que não foram eleitos nem escolhidos pelo conjunto da sociedade, podem sim prejudicar uma sociedade formada por cidadãos que estão trabalhando, produzin‑ do, estudando, vivendo com suas famílias, tendo uma vida real e digna? Sim. De fato há algo de errado na nossa sociedade. O sistema democrá‑ tico está sendo influenciado de forma negativa pelo sistema finan‑ ceiro. E o que dizer da influência do sistema financeiro nos atores políticos que, muitas vezes, são forçados a tomar medidas com base no pensamento econômico vigente e não com base no pensa‑ mento da sociedade que o elegeu. Com certeza o meio político tem que se fortalecer em relação ao mercado financeiro e um bom caminho para que isso aconteça po‑ derá ser com o fim do dinheiro.
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PROPOSTA RADICAL
Você achou o fim do dinheiro uma proposta muito radical? E você acha que o mundo com tantos problemas como o nosso, com crises econômicas constantes, somente mudando de região e exigindo sacrifícios enormes dos seus povos; com jovens sem conseguirem o primeiro emprego; com a miséria e a fome matando em pleno século XXI; com guerras constantes para consumir a produção de armas e para retirar as riquezas naturais das regiões; com guerras civis e tantos países com muita violência urbana; com o egoísmo vencendo o pensamento coletivo; com o terrorismo assustando, matando e tirando a liberdade; com falta de liberdade para circu‑ lar com segurança em muitas partes do mundo; com movimentos financeiros de especuladores que quebram países e geram preju‑ ízos enormes para famílias; com o dinheiro sendo a mola mestra e a prioridade em muitas das decisões tomadas no mundo e mais outros problemas, você imaginaria resolver ou começar a resolver tantos ou parte desses problemas com uma solução simples e de fácil implementação? A proposta é radical sim! Só que eu acho que a saída de cena do dinheiro pode ser o melhor caminho para o avanço do sistema capitalista e para começarmos a vislumbrar tempos melhores. E mais uma vez registro que nós temos uma enorme capacidade de superação, precisamos somente direcionar esforço e inteligência para o caminho certo.
POR QUE O FIM DO DINHEIRO?
• Porque limita o espírito empreendedor, exigindo para o de‑ senvolvimento dos negócios o capital; • Porque simplificará a gestão das empresas e seus integran‑ tes terão mais tempo para dedicar as questões produtivas; • Porque eliminará a renda fruto do acúmulo de riqueza, in‑ centivando sempre a produção; • Porque o custo do dinheiro atualmente inviabiliza muitas empresas importantes para a sociedade; • Porque as injustiças causadas no desequilíbrio da remunera‑ ção prejudicam a produção; • Porque o capitalismo sem o dinheiro leva a meritocracia; • Porque a inteligência dispendida no setor financeiro será direcionada ao setor produtivo e para o terceiro setor; • Porque simplificará a gestão do estado, aumentando assim a qualidade dos serviços prestados à população; • Porque reduzirá os processos judiciais;
Walter Barretto Jr.
• Porque o dinheiro dificulta o pensamento coletivo, o consumo coletivo e, consequentemente, prejudica o meio ambiente; • Porque gastamos muito tempo no nosso dia a dia com a gestão pessoal do dinheiro, tempo esse que poderia ser dire‑ cionado para a produtividade e para o lazer; • Para eliminar os roubos e assaltos, e assim reduziremos o con‑ sumo de armas e evitaremos muitos traumas e até mortes; • Porque com o fim do dinheiro o tráfico de drogas reduzirá drasticamente; • Porque a herança é geradora de conflitos familiares e em alguns casos estimula o ócio; • Porque o dinheiro desequilibra as oportunidades educacio‑ nais, limitando o desenvolvimento futuro da sociedade; • Porque o dinheiro reduz o acesso à cultura; • Para o terceiro setor operar com eficiência e assim reduzir a fome e a miséria no mundo; • Porque prejudica a relação entre as pessoas, entre as famí‑ lias, entre os amigos; • Para a sociedade produzir mais e gerar mais riqueza; • Para as pessoas serem mais felizes;
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A SABEDORIA DOS MAIS VELHOS
Os mais velhos sabem que a vida passa e passa rápido e se tem uma coisa que não devemos fazer é complicá‑la. A gestão do dinheiro hoje certamente é um dos maiores incômo‑ dos para quem já caminhou muito e quer uma vida mais feliz e em paz e, certamente, o fim do dinheiro será apoiado com vigor por todos eles.
A MENTE DOS JOVENS
Você já notou que os jovens pensam muito de forma coletiva? Você já notou que os jovens gostam do bom consumo, do consumo dos produtos de qualidade? O fim do dinheiro vem exatamente para atender aos novos habi‑ tantes do mundo, que nascem hoje se preocupando com a coletivi‑ dade e com a qualidade e quantidade dos bens consumidos. Na nova sociedade todos certamente consumirão menos, porque, com a liberdade de consumir, com a facilidade de consumir, com a nova forma de ver o mundo, a usar mais o compartilhamento de produtos, esse caminho mais focado no humano e menos no mate‑ rial, esse caminho é um caminho sem volta. Os jovens querem o fim da fome e da miséria, os jovens querem o fim dos conflitos, o fim das tensões sociais, os jovens querem a paz. Os jovens querem consumir os produtos que não agridam a nature‑ za e que façam bem ao corpo, os jovens querem manter a saúde em forma e querem evitar o estresse.
Walter Barretto Jr.
Os jovens querem ampla disponibilidade a todas as formas de educação e cultura. Os jovens querem um mundo mais equilibrado ambientalmente, mais rico em natureza e com seus ecossistemas preservados. Os jovens querem o capitalismo com pensamento coletivo!
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PRESERVAR A TERRA
E o que todos nós juntos queremos? O que todos nós dessa imensa Terra mais queremos? Apenas o bem comum e a preservação do nosso planeta Terra. Um bom passo poderá ser dado com o fim do dinheiro.
DISCURSO DO PAPA AOS MOVIMENTOS POPULARES (TEXTO INTEGRAL) Versão integral do discurso do Papa Francisco aos Movimentos Populares reunidos na Bolívia: (Bolívia, Santa Cruz — Expo Feira, 9 de Julho de 2015) http://pt.radiovaticana.va/news/2015/07/10/discurso_do_papa_aos_movimentos_populares_(texto_integral)/1157336
Boa tarde a todos! Há alguns meses, reunimo-nos em Roma e não esqueço aquele nosso primeiro encon‑ tro. Durante este tempo, trouxe-vos no meu coração e nas minhas orações. Alegra-me vê-vos de novo aqui, debatendo os melhores caminhos para superar as graves situações de injustiça que padecem os excluídos em todo o mundo. Obrigado Senhor Presidente Evo Morales, por sustentar tão decididamente este Encontro. Então, em Roma, senti algo muito belo: fra‑ ternidade, paixão, entrega, sede de justiça. Hoje, em Santa Cruz de la Sierra, volto a sen‑ tir o mesmo. Obrigado! Soube também, pelo Pontifício Conselho “Justiça e Paz” presidi‑ do pelo Cardeal Turkson, que são muitos na Igreja aqueles que se sentem mais próximos dos movimentos populares. Muito me alegro por isso! Ver a Igreja com as portas abertas a todos vós, que se envolve, acompanha e con‑ segue sistematizar em cada diocese, em cada comissão “Justiça e Paz”, uma colaboração real, permanente e comprometida com os movimentos populares. Convido-vos a todos, bispos, sacerdotes e leigos, juntamente com as organizações sociais das periferias urbanas e rurais a aprofundar este encontro. Deus permitiu que nos voltássemos a ver hoje. A Bíblia lembra-nos que Deus escuta o clamor
do seu povo e também eu quero voltar a unir a minha voz à vossa: terra, tecto e trabalho para todos os nossos irmãos e irmãs. Disse-o e repito: são direitos sagrados. Vale a pena, vale a pena lutar por eles. Que o clamor dos excluídos seja escutado na América Latina e em toda a terra. 1. Comecemos por reconhecer que precisa‑ mos duma mudança. Quero esclarecer, para que não haja mal-entendidos, que falo dos problemas comuns de todos os latino-ame‑ ricanos e, em geral, de toda a humanidade. Problemas, que têm uma matriz global e que actualmente nenhum Estado pode resolver por si mesmo. Feito este esclarecimento, pro‑ ponho que nos coloquemos estas perguntas: — Reconhecemos nós que as coisas não an‑ dam bem num mundo onde há tantos cam‑ poneses sem terra, tantas famílias sem tecto, tantos trabalhadores sem direitos, tantas pessoas feridas na sua dignidade? — Reconhecemos nós que as coisas não an‑ dam bem, quando explodem tantas guerras sem sentido e a violência fratricida se apode‑ ra até dos nossos bairros? Reconhecemos nós que as coisas não andam bem, quando o solo, a água, o ar e todos os seres da criação estão sob ameaça constante? Então digamo-lo sem medo: Precisamos e queremos uma mudança.
Walter Barretto Jr.
Nas vossas cartas e nos nossos encontros, relataram-me as múltiplas exclusões e injus‑ tiças que sofrem em cada actividade laboral, em cada bairro, em cada território. São tan‑ tas e tão variadas como muitas e diferentes são as formas próprias de as enfrentar. Mas há um elo invisível que une cada uma destas exclusões: conseguimos nós reconhecê-lo? É que não se trata de questões isoladas. Pergunto-me se somos capazes de reconhe‑ cer que estas realidades destrutivas corres‑ pondem a um sistema que se tornou global. Reconhecemos nós que este sistema impôs a lógica do lucro a todo o custo, sem pen‑ sar na exclusão social nem na destruição da natureza?
— redentora. Porque é dela que precisamos. Sei que buscais uma mudança e não apenas vós: nos diferentes encontros, nas várias via‑ gens, verifiquei que há uma expectativa, uma busca forte, um anseio de mudança em todos os povos do mundo. Mesmo dentro da mino‑ ria cada vez mais reduzida que pensa sair be‑ neficiada deste sistema, reina a insatisfação e sobretudo a tristeza. Muitos esperam uma mudança que os liberte desta tristeza indivi‑ dualista que escraviza.
Queremos uma mudança nas nossas vidas, nos nossos bairros, no vilarejo, na nossa rea‑ lidade mais próxima; mas uma mudança que toque também o mundo inteiro, porque hoje a interdependência global requer respostas globais para os problemas locais. A globali‑ zação da esperança, que nasce dos povos e cresce entre os pobres, deve substituir esta globalização da exclusão e da indiferença.
O tempo, irmãos e irmãs, o tempo parece exaurir-se; já não nos contentamos com lutar entre nós, mas chegamos até a assanhar-nos contra a nossa casa. Hoje, a comunidade científica aceita aquilo que os pobres já há muito denunciam: estão a produzir-se danos talvez irreversíveis no ecossistema. Está-se a castigar a terra, os povos e as pessoas de for‑ ma quase selvagem. E por trás de tanto so‑ frimento, tanta morte e destruição, sente-se o cheiro daquilo que Basílio de Cesareia cha‑ mava “o esterco do diabo”: reina a ambição desenfreada de dinheiro. O serviço ao bem comum fica em segundo plano. Quando o ca‑ pital se torna um ídolo e dirige as opções dos seres humanos, quando a avidez do dinheiro domina todo o sistema socioecónomico, ar‑ ruína a sociedade, condena o homem, trans‑ forma-o em escravo, destrói a fraternidade inter-humana, faz lutar povo contra povo e até, como vemos, põe em risco esta nossa casa comum.
Hoje quero reflectir convosco sobre a mudan‑ ça que queremos e precisamos. Como sabem, recentemente escrevi sobre os problemas da mudança climática. Mas, desta vez, quero falar duma mudança noutro sentido. Uma mudança positiva, uma mudança que nos faça bem, uma mudança — poderíamos dizer
Não quero alongar-me na descrição dos efeitos malignos desta ditadura subtil: vós conhecei-los! Mas também não basta assi‑ nalar as causas estruturais do drama social e ambiental contemporâneo. Sofremos de um certo excesso de diagnóstico, que às ve‑ zes nos leva a um pessimismo charlatão ou a
Se é assim — insisto — digamo-lo sem medo: Queremos uma mudança, uma mudança real, uma mudança de estruturas. Este sistema é insuportável: não o suportam os campone‑ ses, não o suportam os trabalhadores, não o suportam as comunidades, não o suportam os povos.... E nem sequer o suporta a Terra, a irmã Mãe Terra, como dizia São Francisco.
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O Fim do Dinheiro
rejubilar com o negativo. Ao ver a crónica ne‑ gra de cada dia, pensamos que não haja nada que se possa fazer para além de cuidar de nós mesmos e do pequeno círculo da família e dos amigos. Que posso fazer eu, recolhedor de papelão, catador de lixo, limpador, reciclador, frente a tantos problemas, se mal ganho para co‑ mer? Que posso fazer eu, artesão, vendedor ambulante, carregador, trabalhador irregular, se não tenho sequer direitos laborais? Que posso fazer eu, camponesa, indígena, pesca‑ dor que dificilmente consigo resistir à propa‑ gação das grandes corporações? Que posso fazer eu, a partir da minha comunidade, do meu barraco, da minha povoação, da minha favela, quando sou diariamente discrimina‑ do e marginalizado? Que pode fazer aquele estudante, aquele jovem, aquele militante, aquele missionário que atravessa as favelas e os paradeiros com o coração cheio de so‑ nhos, mas quase sem nenhuma solução para os meus problemas? Muito! Podem fazer muito. Vós, os mais humildes, os explorados, os pobres e excluídos, podeis e fazeis muito. Atrevo-me a dizer que o futuro da humanida‑ de está, em grande medida, nas vossas mãos, na vossa capacidade de vos organizar e pro‑ mover alternativas criativas na busca diária dos “3 T” (trabalho, tecto, terra), e também na vossa participação como protagonistas nos grandes processos de mudança nacio‑ nais, regionais e mundiais. Não se acanhem! 2. Vós sois semeadores de mudança. Aqui, na Bolívia, ouvi uma frase de que gosto muito: “processo de mudança”. A mudan‑ ça concebida, não como algo que um dia chegará porque se impôs esta ou aquela opção política ou porque se estabeleceu esta ou aquela estrutura social. Sabemos,
amargamente, que uma mudança de estru‑ turas, que não seja acompanhada por uma conversão sincera das atitudes e do coração, acaba a longo ou curto prazo por burocra‑ tizar-se, corromper-se e sucumbir. Por isso gosto tanto da imagem do processo, onde a paixão por semear, por regar serenamente o que outros verão florescer, substitui a ansie‑ dade de ocupar todos os espaços de poder disponíveis e de ver resultados imediatos. Cada um de nós é apenas uma parte de um todo complexo e diversificado interagindo no tempo: povos que lutam por uma afirma‑ ção, por um destino, por viver com dignida‑ de, por “viver bem”. Vós, a partir dos movimentos populares, assumis as tarefas comuns motivados pelo amor fraterno, que se rebela contra a injus‑ tiça social. Quando olhamos o rosto dos que sofrem, o rosto do camponês ameaçado, do trabalhador excluído, do indígena oprimido, da família sem tecto, do imigrante perse‑ guido, do jovem desempregado, da criança explorada, da mãe que perdeu o seu filho num tiroteio porque o bairro foi tomado pelo narcotráfico, do pai que perdeu a sua filha porque foi sujeita à escravidão; quando recordamos estes “rostos e nomes” estre‑ mecem-nos as entranhas diante de tanto sofrimento e comovemo-nos…. Porque “vi‑ mos e ouvimos”, não a fria estatística, mas as feridas da humanidade dolorida, as nossas feridas, a nossa carne. Isto é muito diferente da teorização abstracta ou da indignação elegante. Isto comove-nos, move-nos e pro‑ curamos o outro para nos movermos juntos. Esta emoção feita acção comunitária é in‑ compreensível apenas com a razão: tem um plus de sentido que só os povos entendem e que confere a sua mística particular aos ver‑ dadeiros movimentos populares.
Walter Barretto Jr.
Vós viveis, cada dia, imersos na crueza da tormenta humana. Falastes-me das vossas causas, partilhastes comigo as vossas lutas. E agradeço-vos. Queridos irmãos, muitas vezes trabalhais no insignificante, no que aparece ao vosso alcance, na realidade injusta que vos foi imposta e a que não vos resignais opondo uma resistência activa ao sistema idólatra que exclui, degrada e mata. Vi-vos trabalhar incansavelmente pela terra e a agricultura camponesa, pelos vossos territórios e co‑ munidades, pela dignificação da economia popular, pela integração urbana das vossas favelas e agrupamentos, pela auto-constru‑ ção de moradias e o desenvolvimento das infra-estruturas do bairro e em muitas activi‑ dades comunitárias que tendem à reafirma‑ ção de algo tão elementar e inegavelmente necessário como o direito aos “3 T”: terra, tec‑ to e trabalho. Este apego ao bairro, à terra, ao território, à profissão, à corporação, este reconhecer-se no rosto do outro, esta proximidade no dia‑ -a-dia, com as suas misérias e os seus hero‑ ísmos quotidianos, é o que permite realizar o mandamento do amor, não a partir de ideias ou conceitos, mas a partir do genuíno encon‑ tro entre pessoas, porque não se amam os conceitos nem as ideias; amam-se as pes‑ soas. A entrega, a verdadeira entrega nasce do amor pelos homens e mulheres, crianças e idosos, vilarejos e comunidades... Rostos e nomes que enchem o coração. A partir destas sementes de esperança semeadas paciente‑ mente nas periferias esquecidas do planeta, destes rebentos de ternura que lutam por subsistir na escuridão da exclusão, crescerão grandes árvores, surgirão bosques densos de esperança para oxigenar este mundo. Vejo, com alegria, que trabalhais no que aparece ao vosso alcance, cuidando dos 86
rebentos; mas, ao mesmo tempo, com uma perspectiva mais ampla, protegendo o arvo‑ redo. Trabalhais numa perspectiva que não só aborda a realidade sectorial que cada um de vós representa e na qual felizmente está enraizada, mas procurais também resolver, na sua raiz, os problemas gerais de pobreza, desigualdade e exclusão. Felicito-vos por isso. É imprescindível que, a par da reivindicação dos seus legítimos direitos, os povos e as suas organizações sociais construam uma alternativa humana à globalização exclu‑ siva. Vós sois semeadores de mudança. Que Deus vos dê coragem, alegria, perseverança e paixão para continuar a semear. Podeis ter a certeza de que, mais cedo ou mais tarde, vamos ver os frutos. Peço aos dirigentes: sede criativos e nunca percais o apego às coisas próximas, porque o pai da mentira sabe usurpar palavras nobres, promover modas intelectuais e adop‑ tar posições ideológicas, mas se construirdes sobre bases sólidas, sobre as necessidades re‑ ais e a experiência viva dos vossos irmãos, dos camponeses e indígenas, dos trabalhadores excluídos e famílias marginalizadas, de certeza não vos equivocareis. A Igreja não pode nem deve ser alheia a este processo no anúncio do Evangelho. Muitos sacerdotes e agentes pastorais realizam uma tarefa imensa acompanhando e promoven‑ do os excluídos em todo o mundo, ao lado de cooperativas, dando impulso a empreen‑ dimentos, construindo casas, trabalhando abnegadamente nas áreas da saúde, des‑ porto e educação. Estou convencido de que a cooperação amistosa com os movimentos populares pode robustecer estes esforços e fortalecer os processos de mudança. No coração, tenhamos sempre a Virgem Maria, uma jovem humilde duma pequena
O Fim do Dinheiro
aldeia perdida na periferia dum grande im‑ pério, uma mãe sem teto que soube trans‑ formar um curral de animais na casa de Jesus com uns pobres paninhos e uma montanha de ternura. Maria é sinal de esperança para os povos que sofrem dores de parto até que bro‑ te a justiça. Rezo à Virgem do Carmo, padro‑ eira da Bolívia, para fazer com que este nosso Encontro seja fermento de mudança. 3. Por último, gostaria que reflectíssemos, juntos, sobre algumas tarefas importantes neste momento histórico, pois queremos uma mudança positiva em benefício de todos os nossos irmãos e irmãs. Disto estamos certos! Queremos uma mudança que se enriqueça com o trabalho conjunto de governos, mo‑ vimentos populares e outras forças sociais. Sabemos isto também! Mas não é tão fácil definir o conteúdo da mudança, ou seja, o programa social que reflicta este projecto de fraternidade e justiça que esperamos. Neste sentido, não esperem uma receita deste Papa. Nem o Papa nem a Igreja têm o mo‑ nopólio da interpretação da realidade social e da proposta de soluções para os problemas contemporâneos. Atrever-me-ia a dizer que não existe uma receita. A história é construída pelas gerações que se vão sucedendo no hori‑ zonte de povos que avançam individuando o próprio caminho e respeitando os valores que Deus colocou no coração. Gostaria, no entanto, de vos propor três gran‑ des tarefas que requerem a decisiva contribui‑ ção do conjunto dos movimentos populares: 3.1 A primeira tarefa é pôr a economia ao ser‑ viço dos povos. Os seres humanos e a natureza não devem estar ao serviço do dinheiro. Digamos NÃO a uma economia de exclusão e desigualdade, onde o dinheiro reina em vez de servir. Esta
economia mata. Esta economia exclui. Esta economia destrói a Mãe Terra. A economia não deveria ser um mecanismo de acumulação, mas a condigna administra‑ ção da casa comum. Isto implica cuidar zelo‑ samente da casa e distribuir adequadamente os bens entre todos. A sua finalidade não é unicamente garantir o alimento ou um “deco‑ roso sustento”. Não é sequer, embora fosse já um grande passo, garantir o acesso aos “3 T” pelos quais combateis. Uma economia verda‑ deiramente comunitária — poder-se-ia dizer, uma economia de inspiração cristã — deve garantir aos povos dignidade, “prosperidade e civilização em seus múltiplos aspectos”.[1] Isto envolve os “3 T” mas também acesso à educação, à saúde, à inovação, às manifesta‑ ções artísticas e culturais, à comunicação, ao desporto e à recreação. Uma economia justa deve criar as condições para que cada pessoa possa gozar duma infância sem privações, desenvolver os seus talentos durante a juven‑ tude, trabalhar com plenos direitos durante os anos de actividade e ter acesso a uma dig‑ na aposentação na velhice. É uma economia onde o ser humano, em harmonia com a na‑ tureza, estrutura todo o sistema de produção e distribuição de tal modo que as capacida‑ des e necessidades de cada um encontrem um apoio adequado no ser social. Vós — e outros povos também — resumis este anseio duma maneira simples e bela: “viver bem”. Esta economia é não apenas desejável e ne‑ cessária, mas também possível. Não é uma utopia, nem uma fantasia. É uma perspectiva extremamente realista. Podemos consegui-la. Os recursos disponíveis no mundo, fruto do tra‑ balho intergeneracional dos povos e dos dons da criação, são mais que suficientes para o de‑ senvolvimento integral de “todos os homens e
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do homem todo”.[2] Mas o problema é outro. Existe um sistema com outros objectivos. Um sistema que, apesar de acelerar irresponsa‑ velmente os ritmos da produção, apesar de implementar métodos na indústria e na agri‑ cultura que sacrificam a Mãe Terra na ara da “produtividade”, continua a negar a milhares de milhões de irmãos os mais elementares direitos económicos, sociais e culturais. Este sistema atenta contra o projecto de Jesus. A justa distribuição dos frutos da terra e do trabalho humano não é mera filantropia. É um dever moral. Para os cristãos, o encargo é ainda mais forte: é um mandamento. Tratase de devolver aos pobres e às pessoas o que lhes pertence. O destino universal dos bens não é um adorno retórico da doutrina social da Igreja. É uma realidade anterior à pro‑ priedade privada. A propriedade, sobretudo quando afecta os recursos naturais, deve es‑ tar sempre em função das necessidades das pessoas. E estas necessidades não se limitam ao consumo. Não basta deixar cair algumas gotas, quando os pobres agitam este copo que, por si só, nunca derrama. Os planos de assistência que acodem a certas emergências deveriam ser pensados apenas como respos‑ tas transitórias. Nunca poderão substituir a verdadeira inclusão: a inclusão que dá o trabalho digno, livre, criativo, participativo e solidário. Neste caminho, os movimentos populares têm um papel essencial, não apenas exigin‑ do e reclamando, mas fundamentalmente criando. Vós sois poetas sociais: criadores de trabalho, construtores de casas, produtores de alimentos, sobretudo para os descartados pelo mercado global. Conheci de perto várias experiências, onde os trabalhadores, unidos em cooperativas e 88
outras formas de organização comunitária, conseguiram criar trabalho onde só havia sobras da economia idólatra. As empresas re‑ cuperadas, as feiras francas e as cooperativas de catadores de papelão são exemplos desta economia popular que surge da exclusão e que pouco a pouco, com esforço e paciência, adopta formas solidárias que a dignificam. Quão diferente é isto do facto de os descar‑ tados pelo mercado formal serem explorados como escravos! Os governos que assumem como própria a tarefa de colocar a economia ao serviço das pessoas devem promover o fortalecimento, melhoria, coordenação e expansão destas formas de economia popular e produção co‑ munitária. Isto implica melhorar os processos de trabalho, prover de adequadas infra-es‑ truturas e garantir plenos direitos aos traba‑ lhadores deste sector alternativo. Quando Estado e organizações sociais assumem, juntos, a missão dos “3 T”, activam-se os prin‑ cípios de solidariedade e subsidiariedade que permitem construir o bem comum numa de‑ mocracia plena e participativa. 3.2 A segunda tarefa é unir os nossos povos no caminho da paz e da justiça. Os povos do mundo querem ser artífices do seu próprio destino. Querem caminhar em paz para a justiça. Não querem tutelas nem interferências, onde o mais forte subordina o mais fraco. Querem que a sua cultura, o seu idioma, os seus processos sociais e tradições religiosas sejam respeitados. Nenhum poder efectivamente constituído tem direito de pri‑ var os países pobres do pleno exercício da sua soberania e, quando o fazem, vemos novas formas de colonialismo que afectam seria‑ mente as possibilidades de paz e justiça, por‑ que “a paz funda-se não só no respeito pelos
O Fim do Dinheiro
direitos do homem, mas também no respeito pelo direito dos povos, sobretudo o direito à independência”.[3] Os povos da América Latina alcançaram, com um parto doloroso, a sua independência po‑ lítica e, desde então, viveram já quase dois séculos duma história dramática e cheia de contradições procurando conquistar uma in‑ dependência plena. Nos últimos anos, depois de tantos mal-en‑ tendidos, muitos países latino-americanos viram crescer a fraternidade entre os seus po‑ vos. Os governos da região juntaram seus es‑ forços para fazer respeitar a sua soberania, a de cada país e a da região como um todo que, de forma muito bela como faziam os nossos antepassados, chamam a “Pátria Grande”. Peço-vos, irmãos e irmãs dos movimentos populares, que cuidem e façam crescer esta unidade. É necessário manter a unidade con‑ tra toda a tentativa de divisão, para que a região cresça em paz e justiça. Apesar destes avanços, ainda subsistem factores que atentam contra este desen‑ volvimento humano equitativo e coarctam a soberania dos países da «Pátria Grande» e doutras latitudes do Planeta. O novo co‑ lonialismo assume variadas fisionomias. Às vezes, é o poder anónimo do ídolo dinhei‑ ro: corporações, credores, alguns tratados denominados “de livre comércio” e a im‑ posição de medidas de “austeridade” que sempre apertam o cinto dos trabalhadores e dos pobres. Os bispos latino-americanos denunciam-no muito claramente, no docu‑ mento de Aparecida, quando afirmam que “as instituições financeiras e as empresas transnacionais se fortalecem ao ponto de subordinar as economias locais, sobretudo debilitando os Estados, que aparecem cada
vez mais impotentes para levar adiante pro‑ jetos de desenvolvimento a serviço de suas populações”.[4] Noutras ocasiões, sob o nobre disfarce da luta contra a corrupção, o narcotráfico ou o terrorismo — graves males dos nossos tempos que requerem uma ac‑ ção internacional coordenada — vemos que se impõem aos Estados medidas que pouco têm a ver com a resolução de tais problemá‑ ticas e muitas vezes tornam as coisas piores. Da mesma forma, a concentração mono‑ polista dos meios de comunicação social que pretende impor padrões alienantes de consumo e certa uniformidade cultu‑ ral é outra das formas que adopta o novo colonialismo. É o colonialismo ideológico. Como dizem os bispos da África, muitas vezes pretende-se converter os países po‑ bres em “peças de um mecanismo, partes de uma engrenagem gigante”.[5] Temos de reconhecer que nenhum dos graves problemas da humanidade pode ser resolvi‑ do sem a interacção dos Estados e dos povos a nível internacional. Qualquer acto de en‑ vergadura realizado numa parte do Planeta repercute-se no todo em termos económicos, ecológicos, sociais e culturais. Até o crime e a violência se globalizaram. Por isso, nenhum governo pode actuar à margem duma respon‑ sabilidade comum. Se queremos realmente uma mudança positiva, temos de assumir humildemente a nossa interdependência. Mas interacção não é sinónimo de imposição, não é subordinação de uns em função dos interesses dos outros. O colonialismo, novo e velho, que reduz os países pobres a meros for‑ necedores de matérias-primas e mão de obra barata, gera violência, miséria, emigrações forçadas e todos os males que vêm juntos... precisamente porque, ao pôr a periferia em
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função do centro, nega-lhes o direito a um desenvolvimento integral. Isto é desigualda‑ de, e a desigualdade gera violência que ne‑ nhum recurso policial, militar ou dos serviços secretos será capaz de deter. Digamos NÃO às velhas e novas formas de colonialismo. Digamos SIM ao encontro entre povos e culturas. Bem-aventurados os que trabalham pela paz. Aqui quero deter-me num tema importan‑ te. É que alguém poderá, com direito, dizer: “Quando o Papa fala de colonialismo, es‑ quece-se de certas acções da Igreja”. Com pesar, vo-lo digo: Cometeram-se muitos e graves pecados contra os povos nativos da América, em nome de Deus. Reconheceramno os meus antecessores, afirmou-o o CELAM e quero reafirmá-lo eu também. Como São João Paulo II, peço que a Igreja “se ajoelhe diante de Deus e implore o perdão para os pecados passados e presentes dos seus fi‑ lhos”.[6] E eu quero dizer-vos, quero ser muito claro, como foi São João Paulo II: Peço humil‑ demente perdão, não só para as ofensas da própria Igreja, mas também para os crimes contra os povos nativos durante a chamada conquista da América. Peço-vos também a todos, crentes e não crentes, que se recordem de tantos bispos, sacerdotes e leigos que pregaram e pregam a boa nova de Jesus com coragem e mansidão, respeito e em paz; que, na sua passagem por esta vida, deixaram impressionantes obras de promoção humana e de amor, pondo-se muitas vezes ao lado dos povos indígenas ou acompanhando os próprios movimentos populares mesmo até ao martírio. A Igreja, os seus filhos e filhas, fazem parte da identida‑ de dos povos na América Latina. Identidade que alguns poderes, tanto aqui como noutros 90
países, se empenham por apagar, talvez por‑ que a nossa fé é revolucionária, porque a nos‑ sa fé desafia a tirania do ídolo dinheiro. Hoje vemos, com horror, como no Médio Oriente e noutros lugares do mundo se persegue, tortu‑ ra, assassina a muitos irmãos nossos pela sua fé em Jesus. Isto também devemos denun‑ ciá-lo: dentro desta terceira guerra mundial em parcelas que vivemos, há uma espécie de genocídio em curso que deve cessar. Aos irmãos e irmãs do movimento indígena latino-americano, deixem-me expressar a minha mais profunda estima e felicitá-los por procurarem a conjugação dos seus povos e culturas segundo uma forma de convivência, a que eu chamo poliédrica, onde as partes conservam a sua identidade construindo, jun‑ tas, uma pluralidade que não atenta contra a unidade, mas fortalece-a. A sua procura desta interculturalidade que conjuga a reafir‑ mação dos direitos dos povos nativos com o respeito à integridade territorial dos Estados enriquece-nos e fortalece-nos a todos. 3.3 A terceira tarefa, e talvez a mais impor‑ tante que devemos assumir hoje, é defender a Mãe Terra. A casa comum de todos nós está a ser sa‑ queada, devastada, vexada impunemente. A covardia em defendê-la é um pecado grave. Vemos, com crescente decepção, sucederem‑ -se uma após outra cimeiras internacionais sem qualquer resultado importante. Existe um claro, definitivo e inadiável imperativo éti‑ co de actuar que não está a ser cumprido. Não se pode permitir que certos interesses — que são globais, mas não universais — se impo‑ nham, submetendo Estados e organismos in‑ ternacionais, e continuem a destruir a criação. Os povos e os seus movimentos são chama‑ dos a clamar, mobilizar-se, exigir — pacífica
O Fim do Dinheiro
mas tenazmente — a adopção urgente de medidas apropriadas. Peço-vos, em nome de Deus, que defendais a Mãe Terra. Sobre este assunto, expressei-me devidamente na carta encíclica Laudato si. 4. Para concluir, quero dizer-lhes novamen‑ te: O futuro da humanidade não está unica‑ mente nas mãos dos grandes dirigentes, das grandes potências e das elites. Está funda‑ mentalmente nas mãos dos povos; na sua capacidade de se organizarem e também nas suas mãos que regem, com humildade e convicção, este processo de mudança. Estou convosco. Digamos juntos do fundo do co‑ ração: nenhuma família sem tecto, nenhum
camponês sem terra, nenhum trabalhador sem direitos, nenhum povo sem soberania, nenhuma pessoa sem dignidade, nenhuma criança sem infância, nenhum jovem sem possibilidades, nenhum idoso sem uma ve‑ neranda velhice. Continuai com a vossa luta e, por favor, cuidai bem da Mãe Terra. Rezo por vós, rezo convosco e quero pedir a nosso Pai Deus que vos acompanhe e abençoe, que vos cumule do seu amor e defenda no cami‑ nho concedendo-vos, em abundância, aquela força que nos mantém de pé: esta força é a esperança, a esperança que não decepciona. Obrigado! E peço-vos, por favor, que rezeis por mim.
[1] JOÃO XXIII, Carta enc. Mater et Magistra (15 de Maio de 1961), 3: AAS 53 (1961), 402. [2] PAULO VI, Carta enc. Popolorum progressio, 14. [3] PONTIFÍCIO CONSELHO “JUSTIÇA E PAZ”, Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 157. [4] V CONFERÊNCIA GERAL DO EPISCOPADO LATINO-AMERICANO E DO CARIBE (2007), Documento de Aparecida, 66. [5] JOÃO PAULO II, Exort. ap. pós-sinodal Ecclesia in Africa (14 de Setembro de 1995), 52: AAS 88 (1996), 32-33. Cf. IDEM, Carta enc. Sollicitudo rei socialis (30 de Dezembro de 1987), 22: AAS 80 (1988), 539. [6] JOÃO PAULO II, Bula Incarnationis mysterium, 11.
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CONTRIBUA COM O DEBATE The end of money
Walter Barretto Jr. Brasileiro, nasceu em 1966, formado em arquitetura e urbanismo e empresรกrio.