A permeabilidade espacial e o uso multifuncional como promotores da qualidade de vida

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A permeabilidade espacial e o uso multifuncional como promotores da qualidade de vida

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urbanidade A partir de uma intensa ação de investimentos imobiliários voltada para um público com um estilo de vida exclusivo e que busca ascensão social e privacidade, as cidades tem se tornado palco para a construção de condomínios e loteamentos fechados reconhecidos pela segurança e segregação. Entretanto, esses tipos de ocupação têm gerado a perda da qualidade dos espaços públicos, e consequentemente a diminuição das relações sociais, acarretando a insegurança e o abandono. A proliferação dessa tipologia na cidade prejudica o estabelecimento da urbanidade. O conceito de urbanidade, segundo Douglas Aguiar (AGUIAR, 2012) refere-se à qualidade do espaço urbano e a sua capacidade de “acolher pessoas”. Para o autor, espaços com urbanidade são acolhedores e dotados de “cortesia”. Em contrapartida, espaços de baixa urbanidade são inóspitos, compostos por quadras extensas, contornadas por grandes muros, cuja arquitetura não permite qualquer diálogo com o espaço urbano circundante. Com o intuito de que a cidade seja melhor explorada para o cotidiano das pessoas, e consequentemente ofereça qualidade de vida aos seus cidadãos, esta pesquisa reconhece a importância da compacidade do território. Assim, parte-se do reconhecimento de que a arquitetura multifuncional produz impactos urbanos positivos, pois é uma tipologia arquitetônica que abriga a diversidade, suportando o alto adensamento e estimulando a urbanidade nas concepções espaciais urbanas. O conceito adotado na proposta prevê um local aprazível, dotado de urbanidade, que contemple as necessidades cotidianas das pessoas. A proposta parte do princípio da utilização da arquitetura multifuncional adensada juntamente com espaços verdes para descanso, contemplação, caminhadas e lazer como suporte para promover a vitalidade espacial. O partido do projeto propõe a quadra aberta com edifícios que se aproximem da escala humana, conectados diretamente ao espaço público. A proposta é mostrar a possibilidade de um espaço leve, livre, descontraído e atraente aos interesses imobiliários.

multifuncionalidade O ensaio projetual apresenta uma contraproposta ao modelo explorado pelo mercado imobiliário. Busca estabelecer uma relação mais positiva entre o empreendimento e o espaço urbano circundante, de forma a contribuir para a sua qualidade. O complexo multifuncional contempla uma nova forma de ocupar e utilizar a cidade, enriquecendo o espaço urbano pela encontro e utilização do mesmo por diferentes pessoas, abrigando e promovendo as atividades diversas. O complexo convida as pessoas a se apropriaram do espaço público, por meio da qualidade física, dos usos e das áreas de lazer livre e cultura, promovendo a vitalidade, segurança e conexão dos espaços públicos e privados, impulsionando o convívio social.

Perspectiva Geral do Complexo Multifuncional

AGUIAR, D. Urbanidade e a qualidade da cidade. Rio de Janeio: 2012. Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/12.141/4221> Acesso em: 31 mar. 2014


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inserção urbana

BR 101 RODOVIA GO VERNADOR MÁRIO CO VAS

O município da Serra, localizado na Região Metropolitana da Grande Vitória, tornou-se alvo de intensos investimentos imobiliários. Grande parte dos novos empreendimentos imobiliários configura-se como condomínios fechados e a segregadores, configurando o uso monofuncional residencial, limites amuralhados, repetição de blocos e monotonia das fachadas. AVENIDA ELDES SCHERRER

A área escolhida está situada em uma área central do município em um terreno de esquina, sendo limitada pela BR-101, Rodovia Governador Mário Covas, e pela Avenida Eldes Scherrer Souza. A área escolhida situa-se na extremidade de uma quadra, caracterizando-se como um terreno de duas frentes.

AVENIDA PIUMA

A gleba reflete o modelo de ocupação disperso, sendo valorizada pelas importantes conexões viárias, entretanto, caracterizada por quadras extensas e vazios urbanos, o que desestimula os percursos a pé, prioriza o uso do automóvel e colabora para a sensação de insegurança.

AVENID

A IRIR I

Apresentação da área de estudo

LEGENDA:

1/5000

VAZIOS URBANOS ÁREAS DE ABANDONO ÁREAS VERDES ESTACIONAMENTO INSTITUCIONAL

COMERCIAL SERVIÇOS RESIDENCIAL UNIFAMILIAR INDÚSTRIAS RESIDENCMULTIFAMILIAR

1-TORRE COMERCIAL

3-CENTRO UNIVERSITÁRIO

2-CENTRO COMERCIAL

4-SUPERMERCADO

LEGENDA:

1/5000

LOTES QUADRAS VIAS ÁREAS VERDES

5-INDÚSTRIA

USO E OCUPAÇÃO - A análise de uso do solo revelou a predominância dos espaços privados em detrimento dos espaços públicos. O cenário local caracteriza-se por uma forma de ocupação segregadora, representada pelos condomínios fechados, shopping centers e áreas de lazer privativas.

Fotos retratam a realidade local

0 PAVIMENTOS 1 A 3 PAVIMENTOS 4 A 7 PAVIMENTOS 8 OU MAIS PAVIMENTOS ÁREAS VERDES 1-935 pes/ha 2-880 pes/ha

MALHA URBANA - Os passeios públicos são monótonos, pouco arborizados e não garantem conforto. As grandes extensões de muros opacos, bem como as longas distâncias, desestimulam a caminhada e proporcionam a insegurança. É nítida a priorização do veículo no desenho urbano.

1/5000

LEGENDA:

3-840 pes/ha 4-1.001 pes/ha

GABARITO E DENSIDADE - Observa-se que a área passa por um processo de transformação e verticalização, devido aos intensos investimentos imobiliários em condomínios multifamiliares e de serviços, estimulando o aumento da densidade construtiva e habitacional.

O plano diretor induz, por meio dos índices urbanísticos, o crescente adensamento e verticalização, devido à alta taxa de ocupação e o alto índice de coeficiente de aproveitamento, possibilitando maior fluxo de pessoas e melhor aproveitamento da infraestrutura urbana. Nota-se, portanto, a deficiência do plano diretor na proposição de parâmetros que estimulem a integração entre espaços privados e públicos, que incentivem a vitalidade urbana.

1/5000

LEGENDA: VIA ARTERIAL

PONTO DE ÔNIBUS

EIXO REGIONAL E METROPOLITANO

SENTIDO FLUXO VEÍCULOS

VIAS COLETORAS

PRINCIPAL ACESSO

FLUXO INTENSO DE PEDESTRES/ TRÁFEGO PESADO E INTENSO FLUXO INTENSO DE PEDESTRES/ TRÁFEGO MODERADO E RÁPIDO

HIERARQUIA VIÁRIA E FLUXOS - Pode-se concluir que os eixos viários prioritários funcionam como uma barreira e divisor de diferentes perfis de uso e ocupação. A área é contemplada por eixos importantes na conexão metropolitana e alimentada por transportes públicos.


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implantação quadra aberta Diretrizes projetuais: -Edifícios dispostos de forma independente e periférica; -Eixos semi-públicos entre o espaço público e os espaços privados dos edifícios; -Entradas distintas de veículos para o subsolo, permitindo a liberação do térreo; -Diversidade tipológica: tipos “barra” e “compacto”. O complexo propõe a criação de 12 blocos, com altura máxima correspondente a 15 pavimentos, sendo a altura variável pela composição volumétrica escalonar. Os blocos permitem a distribuição dos usos verticalmente e ao longo do terreno, de forma a gerar a complementação usual interna e externa ao complexo, a fim de aumentar a densidade qualificada construtiva e populacional do contexto urbano, para que dessa maneira o entorno possa ser enriquecido e valorizado pela diversidade.

Elevação - BR 101 Rodovia Governador Mário Covas

Proposta de Implantação para o Complexo Multifuncional Diagrama de aplicação de parâmetros urbanísticos

Elevação - Avenida Eldes Scherrer Plano de massa - volumetria proposta inserida no meio urbano

praça linear Atua como um eixo para onde os fluxos convergem e onde diferentes tipos de usuários podem se encontrar, promovendo a diversidade social. Em complemento são criados caminhos internos, espaços de transição entre o espaço público e os edifícios, que permitem que o comércio e os serviços aconteçam de forma aberta e interativa. LEGENDA PROPOSTA DE IMPLANTAÇÃO: 1 - PRAÇA LINEAR 2 - PLAYGROUND 3 - JARDIM ARTÍSTICO 4 - ÁREA EXTERNA RESTAURANTES 5 - ÁREA EXTERNA RESTAURANTES HOTEL 6 - ÁREA EXTERNA EVENTOS HOTEL 7 - PRAÇA DAS ÁGUAS 8 - PRAÇA INSTALAÇÕES EFÊMERAS 9 - PRAÇA DAS LUZES 10 - BICICLETÁRIO 11 - PONTO DE ÔNIBUS 12 - PONTO DE TÁXI 13 - PRAÇA DE ALIMENTAÇÃO

LEGENDA USOS PROPOSTA DE MPLANTAÇÃO: BLOCO 1-COMÉRCIOS/SERVIÇOS. TORRE ESCRITÓRIOS DE GRANDE PORTE BLOCO 2-COMÉRCIOS/SERVIÇOS. TORRE ESCRITÓRIOS DE PEQUENO PORTE BLOCO 3-HOTEL BLOCO 4-COMÉRCIOS/SERVIÇOS. TORRE ESCRITÓRIOS DE PEQUENO PORTE BLOCO 5-BIBLIOTECA PÚBLICA. TORRE APARTAMENTOS 1, 2 3 QUARTOS BLOCO 6-COMÉRCIOS/SERVIÇOS. TORRE APARTAMENTOS 1 E 2 QUARTOS BLOCO 7-COMÉRCIOS/SERVIÇOS. TORRE ESCRITÓRIOS DE GRANDE PORTE BLOCO 8-COMÉRCIOS/SERVIÇOS. TORRE APARTAMENTOS 2 E 3 QUARTOS BLOCO 9-COMÉRCIOS/SERVIÇOS. TORRE APARTAMENTOS 3 E 4 QUARTOS BLOCO 10-COMÉRCIOS/SERVIÇOS. TORRE ESCRIT. PEQ. E GRANDE PORTE BLOCO 11-CENTRO CULTURAL BLOCO 12-SETOR DE SERVIÇO BLOCO 13-ÂNCORAS GASTRÔNOMICAS

Corte transversal - distribuição vertical programática


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fluxos e percursos A implantação do complexo no terreno foi pensada de forma a possibilitar a criação de diversos percursos no interior da quadra, estimulados pelo estabelecimento de atividades comerciais, de serviços e lazer no pavimento térreo.

permeabilidade espacial

é conferida pela falta de obstáculos para percorrer e acessar o complexo de maneira confortável, estimulada pelos marcos visuais e massas de vegetação que atraem o olhar do usuário, ampliado pelo uso de vidros e afastamentos entre as edificações. Para concepção de um espaço urbano de qualidade, foram utilizados parâmetros incentivados pelo novo Plano Diretor de São Paulo, tais como:

fruição pública

é percebida pela criação de galerias de serviços e comércios, no pavimento térreo, integradas com uma praça linear de uso público.

fachada ativa

é verificada pela diminuição nos fechados ao longo das vias e da utilização mentos verticais e recuos dos edifícios no to térreo para melhor interação com o nível do

de plade elepavimenpedestre.

uso misto

explorado no térreo por atividades comercias e de serviços, em troca do ganho construtivo, viabilizando a verticalização.

Vista Praça Linear integrada ao setor residencial

desincentivo ao automóvel

a área é bem servida de infraestrutura urbana, e as vias Rodovia Governador Mário Covas e Av. Eldes Scherrer estão presentes no estudo de trajeto do BRT. Sugere-se a aplicação do critério máximo de vagas indicado pela legislação paulista, incentivando o uso do transporte público e das bicicletas e valorizando o pedestre.

Vista Praça Linear

Vista do comlexo a nível do usuário pela Av. Eldes Scherrer


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espacialidade e ambiência A proposta preocupou-se com a escala humana fornecendo um espaço propício a atividade humana e que permita diversas experiências por meio da multifuncionalidade, proporcionando a

equidade social.

Na praça linear são concentrados bancos de descanso, bancos escultóricos para rápidas paradas, mesas unidas a pergolados que dividem espaço com gramados, cercas vivas, arbustos florais para promover um ambiente tranquilo,

vidativo

con-

e cortês para as pessoas. Nesse espaço são contemplados marcos visuais que tratam a paisagem gerando para o observador uma perspectiva diferente da usual. Os cursos d’água com jatos de água, utilizados para orientar o percurso do pedestre, também foi utilizado para trazer frescor a área. A proposta programática para o complexo conta com galerias de serviços e comércios no pavimento térreo, associadas a torres habitacionais, de escritórios, hotel e edifício cultural de ensino e lazer, conectados pelo

co.

espaço semi-públi-

Nessas galerias são encontrados usos como bistrôs, cafés, lanchonetes, farmácias, lojas de vestuários e acessórios, floricultura, bancos e entre outros essenciais para o cotidiano das pessoas, permitindo o encontro, a parada e o descanso, prolongando a “vida” dos espaços privados ao espaço público. Dessa maneira percebe-se que a proposta reflete as características da sociedade contemporânea graças ao programa diversificado da arquitetura multifuncional e espaço público conector, permitindo relações sociáveis, ativas, comunicativas e abertas.

Vista área de estar na galeria de serviços

Corte Longitudinal do Complexo


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torre comercial A torre comercial possui 15 pavimentos com salas de grande porte e salas de pequeno porte, oferecendo áreas de convívio coletivo em 2 pavimentos. No pavimento térreo funcionam 3 restaurantes, lojas, quiosques, bares e o setor administrativo do edifício, próximo ao hall de acesso e controle das torres. O bloco é constituído por duas torres interligadas por passarelas em pavimentos alternados, com núcleos de circulação vertical distintos para cada uma das torres.

Bloco 2 - estudo a nível preliminar

Galeria de comércios e serviços com áreas de estar da torre comercial

Pavimento térreo torre comercial

Planta-baixa segundo pavimento tipo

Planta-baixa quinto pavimento tipo

Planta-baixa quarto pavimento tipo

Planta-baixa sétimo pavimento tipo


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torre residencial O edifício possui 10 pavimentos e terraços-jardim para lazer privativo. No pavimento térreo funciona um cybercafé, a biblioteca municipal e as áreas administrativas. O cybercafé possui um espaço de estudo e encontros ao ar livre, propiciando tranquilidade, lazer e contemplação da paisagem . Os demais pavimentos são compostos por unidades habitacionais de 01, 02 e 03 quartos. Os apartamentos possibilitam a integração dos ambientes e a organização espacial de acordo com o caráter familiar de cada unidade, sendo possível a articulação de diferentes layouts. PLANTAS SETORIAIS

Vista da torre residencial multifamiliar, ao fundo setor corporativo LEGENDA SETORIZAÇÃO: CIRCULAÇÃO

Pavimento térreo torre residencial

CIRCULAÇÃO VERTICAL ÁREAS TÉCNICAS TERRAÇOS - JARDINS TIPO 1 TIPO 2 TIPO 3 TIPO 4 TIPO 5 TIPO 6 TIPO 5 TIPO 6

Bloco 5 - estudo a nível preliminar ÁREA TÉCNICA AR-CONDICIONADO

Bloco 2 - estudo a nível preliminar

Amostra de plantas-baixas dos apartamentos tipo da torre residencial


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materialidade identidade visual

verificada pelo uso das cores e panos de vidro. Essa estratégia procurou amenizar o impacto visual do adensamento construtivo e das extensas fachadas, para proporcionar leveza, transparência e ritmo ao complexo, proporcionando maior ganho visual e iluminação para o interior dos edifícios.

sistema construtivo

misto constituído por lajes protendidas com pilares de concreto e drywall para garantir a flexibilidade dos espaços. O sistema adotado já foi pensado para a viabilidade dos pavimento de garagem por meio de uma malha 5x5m. As fachadas são compostas por peles de vidro e fechamentos metálicos móveis e fixos que variam de acordo com o uso do edifício.

torres comerciais

são compostas por uma fachada dupla, adotando-se primeiramente a pele de vidro com vidros semi-reflexivos na cor cinza, e em seguida placas de aço galvanizadas modulares fixas com pintura eletrostática, que unidas a grelhas metálicas funcionam como uma área técnica para os condensadores de ar-condicionado. Nas vedações internas são utilizados painéis de drywall para flexibilidade dos espaços. Quanto ao conforto ambiental, além do uso de fachadas duplas, são utilizados brises horizontais automatizados para diminuição da carga térmica sobre o edifício.

torres residenciais

são estabelecidas nas vedações externas o uso de paredes de concreto pré-moldado in loco com pintura branca, esquadrias em alumínio e vidro e peles de vidro. Nas vedações internas são utilizados painéis de drywall com isolamento acústico garantindo a variação dos ambientes, além de alvenaria estrutural nas áreas de circulação vertical. Na fachada desses edifícios são encontradas venezianas corrediças de alumínio com pintura eletrostática para privacidade e conforto térmico das unidades habitacionais, e venezianas fixas para proteção das áreas técnicas.

Perspectiva Geral do Complexo Multifuncional


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