Party Lights - Intervenção no Centro de Brasília

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Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Brasília Trabalho Final de Graduação Aluna: Ana Clara Daher Orientadores: André Costa / Eliel Americo


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Cidade planejada para o trabalho ordenado e eficiente, mas ao mesmo tempo cidade viva e aprazível, própria ao devaneio e à especulação intelectual, capaz de tornar-se, com o tempo, além de centro de governo e administração, num foco de cultura dos mais lúcidos e sensíveis do país. COSTA, Lúcio


O trabalho proposto tem como objetivo, o uso noturno, por certo período de tempo, da plataforma rodoviária através de instalações luminosas que abrangem não só a plataforma rodoviária mas também as laterais dos setores de diversão norte e sul. Tendo como inspiração o relatório do Plano Piloto e a idéias de Lúcio Costa em transformar o ce tro da cidade em que se assemelhasse ao centro de grandes metrópoles como Londres e Nova York o trabalho fará uso de instalações luminosas como forma de reconfiguração e reapropriação dos vazios planejados característicos da Plataforma Rodoviária. expressivo-simbólica através da criação


A luz como modificadora do espaço marca a dimensão expressivo-simbólica através da criação de um espaço não só de contemplação mas também de permanência, diferente da memória dos usuários diários da Plataforma Rodoviária. A instalação tem como uma de suas diretrizes criar uma escala intermediária na cidade através da criação de espaços de contemplação e permanência ao se propor uma arquitetura que não cria barreiras físicas, mas modifica a percepção pré existente de tal lugar.



PARTE I

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Em 1956 é lançado o concurso para a criação da nova capital do país, Brasília, no qual se tem como ganhadora a proposta enviada por Lúcio Costa constituída por um relatório e alguns croquis do que seria o Plano Piloto, segundo William Holdford, que foi membro do júri, “o relatório não contém uma só palavra destituída de propósito” e a proposta “mesmo apresentada na forma de esboço mostra o que é necessário saber”.

Acho que vou participar do concurso de Brasília...

Arrasa!

MÃE! EU GANHEI!

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“Nasceu do gesto primário de quem assinala um lugar ou dele toma posse: dois eixos cruzando-se em ângulo reto, ou seja, o próprio sinal da cruz” com essa comparação Lucio Costa dá início ao relatório do Plano Piloto que conta com mais outros 22 pontos. O cruzamento de dois eixos perpendiculares resume de forma simples o que deveria ser uma capital. No eixo norte-sul,denominado rodoviário, localizamse as funções necessárias para a manutenção da vida cotidiana de uma

cidade moderna como as habitações e pequenos comércios. No eixo lesteoeste, ou monumental, organizam-se as fUnções administrativas da capital do país.

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No centro destes dois eixos está localizada a rodoviária do plano piloto, um grande vazio planejado que através da sua articulação em diferentes níveis se assenta na topografia. Com suas vistas leste-oeste privilegiadas, de um lado a torre de TV, do outro a Esplanada dos Ministérios, a plataforma rodivária conecta os fluxos tanto de automóveis quanto de pedestres que desejam atravessar a cidade no sentido norte-sul.

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A Plataforma Rodoviária é o cerne do Plano Piloto de Lucio Costa. Sua implantação no ponto ideal do cruzamento dos dois eixos definidos por Lucio Costa, se transforma e se apresenta como um pr jeto arquitetônico complexo e de grandes dimensões. A Plataforma é o ponto fucral do tecido urbano de Brasília, determinando um lugar privilegiado, constituindo-se como a gênese do desenho urbano do projeto de Lucio Costa. Neste sentido, ela e se configura como uma infraestr tura urbana fundamental para a consolidação do tecido urbano do Plano Piloto, articulando diretamente os setores conexos e se inscrevendo como espaço estratégicos para o funcionamento do Plano Piloto. ROSSETTI, Eduardo Pierrotti

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Mais de 700.000 pessoas transitam pela plataforma rodoviária todos os dias, a maior parte deles na comutação pendular diária que traz dezenas de trabalhadores para a capital planejada, das cidades satélites e outras cidades que compõem sua área metropolitana. (Saboia, 2012, p.27)

Seus fluxos de pedestres e de automóveis são distribuídos entre os três níveis da plataforma rodoviária de maneira a permitir a livre circulação de pedestres entre seus diferentes níveis: A rodoviária em si, seu mezanino e a plataforma superior, através de escadas e escadas rolantes, que em seus primeiros era uma tipo de atração turística que demonstrava a modernidade da nova capital.

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No nível inferior, uma passagem subterrânea, ou buraco do tatu como foi apelidado, permite a passagem de automóveis no sentido norte sul da cidade, em seu nível térreo encontram-se as paradas de ônibus, juntamente com alguns comércios inst lados ao longo da rodoviária e as vias de tráfico que cortam a cidade no sentido leste-oeste. Em seu nível superior vias de apoio e estacionamentos foram instaladas no lugar do que o previsto por Lucio Costa : uma grande

plataforma liberta do tráfego que não se destine ao estacionamento ali, remanso onde se concentrou logicamente o centro de diversões da cidade, com os cinemas, os teatros, os restaurantes. (Costa, 1995, p. 285)

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Inspirado por grandes centros urbanos como Londres, Nova Iorque e Paris, Lucio Costa sugere que o centro da capital do país seria “ uma mistura em termos adequa dos de Piccadilly Circus, Times Square e Champs Élysées”. Imaginando-se um centro moderno, responsável por conectar as duas metades simétricas da cidade, então separadas em outros pontos.

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Os setores de diversões norte e sul começaram a ser construídos em 1962 - concluídos somente em 1980 - constituem-se como delimitadores da plataforma rodoviária, através de dois monólitos dispostos simetricamente nas marginais da rodoviária, enquadrando em seu centro a torre de TV. O Setor de Diversões Sul a primeira vista aparenta ser um único monolito, contudo, na realidade ele é composto por oito edificações externas que circundam as nove edificações internas, ocupando um total de 18.551,20m2.

Esta divisão interna resultou na criação de diversas ruelas que se aproximam do descrito no relatório, “as várias casas de espetáculo estarão ligadas entre si por travessas no gênero tradicional da rua do Ouvidor, das vielas venezianas ou de galerias cobertas (arcades) e articuladas a pequenos pátios com bares e cafés, e “loggias” na parte dos fundos com vista para o parque”(Costa, 1995, p. 285).

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Durante os primeiros anos de funcionamento o CONIC contava com cinemas de arte, cafés e boutiques para atender o público que atendia o local. Durante a década de 70 surgiram-se novas áreas de entretenimento, levando o setor de diversões a falência. Atualmente a ocupação e uso dessa área foram restringidos a atividades comerciais,

prestação de serviços e uso institucional. No Setor de Diversões Sul existem atualmente dois espaços responsáveis por promover eventos noturnos, o SubDulcina, revitalizado o espaço voltou a receber eventos noturnos e hoje funciona também como um expositor de arte urbana, o segundo, o Espaço Galleria, completa seus 44

anos de funcionamento, proporcionando ao centro de Brasília uma das poucas opções de eventos noturnos. Além destes dois espaços a Praça Central do Conic também recebe eventos esporadicamente.

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Iniciado em 1971 o Setor de Diversões Norte se distanciou ainda mais de seu conceito inicial, este foi concebido como um único monólito, o primeiro shopping center da nova capital federal (Conjunto Nacional de Brasília - CNB). Tendo este se estabelecido como um importante polo de comércio devido a sua proximidade a rodoviária. O Setor de Diversões Norte contou em seus anos iniciais com painéis luminosos de neon que compunham sua fachada, contudo estes foram retirados no início da década de 90.


Devido as mudanças no plano original de Lúcio Costa percebe-se uma apropriação social do espaço através dos usuários que ocupam o espaços com grandes fluxos durante o dia mas acarreta um esvaziamento durante o período noturno. O que ficou claro como problema, desde logo, é a ausência de uma escala in-

pátios internos. Ocorre que, como sabemos, isso não saiu do papel. Tanto por razões de praticidade, quanto porque era o elemento menos desenvolvido do plano de Costa. Dicotômico em essência, o seu desenho não chegou a incorp rar convincentemente a escala intermediária, que tanta falta ainda faz a Brasília.” WISNIK, Guilherme

termediária: o lugar do comércio, da agitação da vida na rua, do encontro e do conflito. Tudo, enfim, que deu munição ao falso mito de que Brasília não tem esquinas. Essa escala intermediária, no entanto, estava prevista no plano de Costa. Chamada de “gregária”, ela devia existir como um anel em torno da plataforma rodoviária (o encontro entre os eixos) e assumiria uma forma vernacular, com alusões à rua do Ouvidor e às vielas venezianas, formada por galerias cobertas e

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Apesar de fugir da pre-concepção de Lucio Costa, o desenvolvimento ao longo dos anos 70 dos setores de diversão ajudou a caracterizada como um centro urbano simbólico da metrópolis, a rodoviária do Plano Piloto abriga em sua arquitetura diversas narrativas coletivas e pessoais que “caracterizam não só a Brasília modernista, mas também a Brasília das cidades

Satélites” (Saboia, 2012, p.25).

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PARTE II

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A luz faz-se necessária para que a matéria possa se tornar visível. As possibilidades de percepção do espaço, das formas e dos vazios, da nossa realidade em si fazse em função da existência do fenômeno da luz. As formas arquitetônicas trabalham de forma a captar, diluir, refletir e emitir a luz, sendo esta talvez, o elemento com maior influência no espaço.

(…) com um só espaço, idêntico em dimensão, construção, utilização e contexto, desfilaram na nossa imaginação, turvo primeiro, de seguida claríssima e finalmente gloriosamente colorido, três espaços diferentes e um só (o original) o espaço verdadeiro. Através da mudança de um só material, a luz. Apenas com a mudança da sua quantidade e qualidade (…). KANH, Louis I

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As luzes como parte integrante da arquitetura são responsáveis por conferir um caráter imagético as construções pré existentes, seja através da iluminação natural ou artificial as luzes são responsáveis por destacar texturas, cores e formas, podem definir espaços ou transformá-los completamente. A iluminação adequada ajuda a preencher o vazio existente entre a arquitetura e nossa percepção.

A iluminação artificial permitiu ao homem o controle total sobre o espaço em que vivemos e como o percebemos, tornandose parte essencial da arquitetura por não só modificar espaços mas também caracterizando-os. A cidade e a arquitetura vem cada vez mais sendo modificados por intervenções luminosas responsáveis por proporcionar uma nova identidade ao espaço através de sua atuação na dimensão expressivo simbólica, ajudando a proporcionar um sentimento de pertencimento e criar novas relações de memória entre o usuário e o espaço físico.

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Através dessa intervenção artístico-arquitetônica pretende-se resgatar as idéias propostas no plano de Lúcio Costa no qual se tem a o centro da cidade como responsável por abrigar a diversão e a cultura. “Eu sempre repeti que essa plataforma rodoviária era o traço de união da metrópole […] É um ponto forçado, em que toda essa população que mora fora entra em con-

tato com a cidade. Então eu senti esse movimento, essa vida intensa dos verdadeiros brasilienses […] E o “centro de compras”, então, fica funcionando até meia noite… Isto tudo é muito diferente do que eu tinha imaginado para esse centro urbano, como uma coisa requintada, meio cosmopolita. Mas não é.” (COSTA, Lúcio.1987)


As luzes como forma de intervenção arquitetônica são responsáveis por reconfigurar o uso do espaço e seus fluxos, preenchendo os grandes vazios característicos do centro da

cidade e que deixam a desejar em se criar uma escala humana da cidade. Através do uso de luzes pretende-se preencher tais vazios e construir novos espaços e usos, sem a necessidade de uma construção física que mudaria permanentemente o caráter do centro da cidade.

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A escolha de tal conceito tem como objetivo agregar às narrativas e configurações já existentes no centro da cidade novas experiências noturnas. Através do caráter imaterial da luz cria-se uma nova forma de apropriação do espaço, criando-se novas memórias afetivas entre o usuário e o espaço construído da rodoviária, que terá seu uso alterado por certo período de tempo.

A intervenção luminosa na rodoviária acontecerá em quatro áreas diferentes, sendo estas a plataforma inferior da rodoviária, o buraco do tatu, as praças localizadas em frente ao Conjunto Nacional e CONIC e, por último, a área localizada entre os dois prédios.

Levando em considerações o espaço edificado e suas limitações a intervenção pretende reconfigurar centro urbano simbólico de Brasília através do caráter imaginativo da luz. Idéia esta apresentada no Plano Piloto de Lúcio Costa ao se comparar o centro da capital com centros de outras cidades como Londres (Picadilly Circus) e Nova Iorque (Times Square).


Tal reconfiguração tem como intuito a criação de novas narrativas pessoais e coletivas apartir da reapropriação do espaço, ajudando a criar um senso de identidade entre o centro de Brasília e seus usuários.

A primeira parte da intervenção, por esta ser a primeira visível, manifesta-se através da colocação de 20 canhões de luz em cada praça da plataforma superior da rodoviária. Os canhões, cada um com potência de 5000W criarão um rasgo luminoso no céu que pode chegar até 10km de distância, marcando simbolicamente o eixo de cruzamento regulador do plano piloto, seu centro, onde a cidade nasce, permitindo que este seja visualizado a quilômetros que distância.

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Ao se aproximar da rodoviária começa-se então a se notar os outros pontos da intervenção, distribuídos em seus três diferentes níveis, trazendo diferentes sensações e experiências visuais ao se caminhar ao longo da intervenção, percebendo-se a reconfiguração do espaço construído em seu total. A imaterialidade da luz

possibilita trazer uma nova percepção da rodoviária, ao passo que esta destaca e transforma elementos antes pouco percebidos a luz natural. Os pontos luminosos que ocupam a rodoviária durante a noite criam novas narrativas afetivas entre o usuário e o espaço construído e reconfigurado.


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No buraco do tatu a intervenção tem como intuito criar um percurso sensorial para o visitante que decide cruzar este. Para as partes expostas do buraco do tatu o serão usados utilizados 4,980km de tubos led fixadas nas estruturas laterias do passagem. Nos dois túneis em si a intervenção acontecerá através da utilização de 80 máquinas de laser (tarm Laserray

Tripan) 50 luzes spot (Chauvet dj LFS-75DMX) e mais 60 Beamer 6 FX da Chauvet Dj, responsável por criar luzes focais, difusas. Para que os raios de luz fiquem mais visíveis foramse utilizados 100 máquinas de fumaça distribuídos ao longo do túnel juntamente com as estruturas luminosas, a produção de fumaça densifica o ar do ambiente possibilitando a maior propagação da luz no ambiente. Nas saídas de cada túnel grandes

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“cortinas” de lona translucida dificultam a saída da fumaça do túnel, tornando seu interior mais denso.

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A medida que o usuário percorre o caminho do buraco do tatu este passará por dois momentos distintos ao passo que as luzes leds instaladas ajudam a guiar o caminho para então total imersão na cor.

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Nas duas pontas do buraco do tatu, 200 canhões de luz instalados na estrutura da plataforma superior são responsáveis por marcar a entrada/ saída da intervenção. As luzes apontadas para o chão criam planos momentâneos, transformando o espaço a cada nova combinação de luzes.

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Na plataforma inferior tem-se dois pontos focais principais. 50 luzes scan e 10 lasers instalados na estrutura da plataforma superior e pilares, de maneira a se preencher o espaço vazio que estas se tornam durante a noite. Nas estruturas das lojas já existentes da

plataforma inferior foram instalados painéis led articulados, de modo que estes possam ser dobrados e suspendidos para a utilização das lojas durante o dia. Para que isso ocorra roldanas foram usadas juntamente com um motor para articular os painéis sem que grande trabalho manual seja


necessário. Tais painés são responsáveis por grande mudança física no período noturno do espaço, uma vez que as lojas, com os painéis baixados, tornam-se somente estrutura para uma nova experiência visual a ser assistida.

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A quarta parte da intervenção, engloba a área entre o Conjunto Nacional e CONIC, como também suas laterais para a instalação de canhões laser, cerca de 100 em cada fachada, que quando acesos,

marcam o local no qual Lucio Costa propunha em seu relatório uma passagem que conectaria os setores de diversão sul e norte. No meio de tal área uma estrutura de apoio e contemplação foi

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instalada uma estrutura de apoio, permitindo não só o posicionamento das cabines de controle necessárias para execução da intervenção

mas também um espaço de contemplação para as diferentes escalas de Brasília.

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A esfera, mutável como o resto da intervenção, utiliza-se de encaixes tipo “tesoura”criadas por Chuck Hoberman que permitem a esta crescer e quadruplicar seu tamanho quando suas partes estão tencionadas. Uma tela com diferentes pontos de luzes led

foram fixadas as estruturas principais da esfera de modo a permitir que está possa emitir A estrutura conta com, além da esfera, mais quatro partes essenciais: o poste central de sustentação que

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conta com oito estruturas de locomoção, que através da tecnologia Maglev são capazes de movimentar e estruturar os outros componentes da estrutura. Ligado a estrutura central, uma segunda estrutura externa foi utilizada como

apoio para dar sustentação a esfera quando esta se encontra aberta.

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Localizado no interior da esfera encontra-se um piso no qual estão instalados as cabines de suporte para a intervenção. A estrutura para o piso é composta por hexágonos e pentágonos encaixados entre si por um sistema de dobradiças de modo que este possa se “fechar" quando a esfera se

contrair. Por último dois elevadores permitem o acesso a estrutura do piso. Para que o acesso seja feita é necessário subir por escada presa ao elevador para então passar por aberturas na estrutura do piso para seu acesso. A esfera, que se abre ao longo do dia é responsável por marcar o tempo e


transformação do cenário do centro do Plano Piloto, marcando simbolicamente o centro cosmopolita e iluminado idealizado por Lúcio Costa.

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