TGI | Lugar e memória: do córrego Guaraú à fábrica São Pedro em Itu/SP

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CAPÍTULO 6 . BIBLIOGRAFIA

LUGAR E MEMÓRIA

DO CÓRREGO GUARAÚ À FÁBRICA SÃO PEDRO EM ITU/ SP

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LUGAR E MEMÓRIA D O C Ó R R E G O G U A R A Ú À FÁ B R I C A SÃO PEDRO EM ITU - SP A N A F L Á V I A S A LV A D O R

TRABALHO DE GRADUAÇÃO INTEGRADO Instituto de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo - IAU USP COMISSÃO DE ACOMPANHAMENTO PERMANENTE Prof. Dr. David Moreno Sperling Prof. Dr. Joubert José Lancha (orientador) Prof. Drª. Luciana Bongiovanni Martins Schenk Prof. Drª. Simone Helena Tanoue Vizioli COORDENADORA DO GRUPO TEMÁTICO Prof. Drª Aline Coelho Sanches Corato

São Carlos, novembro de 2018



F O L H A D E A P R O VA Ç Ã O

LUGAR E MEMÓRIA D O C Ó R R E G O G U A R A Ú À FÁ B R I C A SÃO PEDRO EM ITU - SP Trabalho de Graduação Integrado apresentado ao Instituto de Arquitetura e Urbanismo da USP – Campus de São Carlos. A N A F L Á V I A S A LV A D O R

B A N C A E XA M I N A D O R A

Prof. Drª Aline Coelho Sanches Corato

Prof. Dr. Joubert José Lancha

Professor Convidado Aprovado em:

/12/2018


I

Nesse momento de fechamento de um ciclo dedico e agradeço: À minha família por todo o carinho, apoio, ensinamentos e por nunca deixarem de acreditar em meus sonhos. Devo a vocês a pessoa que me tornei. À minha avó por todos os momentos juntas, a saudade será eterna. Ao André por acreditar mais em mim do que eu mesma. Seu amor e companheirismo nesses anos foram essenciais. Aos professores do IAU por todo o conhecimento transmitido e em especial à Aline e Joubert pela dedicação em minha orientação. E por fim, a todos os amigos que contribuíram para que essa trajetória fosse mais leve.

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AGRADECIMENTOS


RESUMO

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O presente trabalho buscou discorrer a respeito das inquietações surgidas ao longo de toda a graduação ao se pensar na atuação do profissional de arquitetura e urbanismo no contexto atual. Como elemento norteador é trabalhada a ótica dos indivíduos, seja relacionada à natureza, ao lugar ou à arquitetura que os cerca e no que tange a temas como memória, história e pertencimento. As premissas teóricas foram fundamentais ao atuarem como disparadoras de questionamentos que contribuíram para as propostas projetuais apresentadas. A elas se seguiu um estudo aprofundado da cidade de Itu, localizada no interior do Estado de São Paulo, que visou à sua compreensão tanto em relação a seu passado quanto a seu presente. Com a união dessas reflexões surgiu o interesse de pensar como a cidade poderia ser em seu futuro, visando à melhoria da qualidade de vida e ao aumento da oferta de espaços públicos que promovam a interação entre os moradores. Dessa forma, propuseramse as diretrizes para a constituição de um possível sistema de espaços livres ao longo dos córregos existentes, permeados por equipamentos públicos culturais, educacionais e esportivos. Uma das diretrizes apresentadas

é a proposta de intervenção na antiga Companhia de Fiação e Tecelagem São Pedro, patrimônio histórico da cidade escolhido como tema de desenvolvimento e detalhamento do presente Trabalho de Graduação Integrado. Tendo em vista os princípios da Carta de Veneza e da teoria do restauro crítico de Brandi, realizou-se um estudo detalhado da história e situação atual da fábrica, que possibilitou o entendimento do bem em sua plenitude e fundamentou as ações de intervenção tomadas. Dessa forma, propõe-se a implantação de uma biblioteca-parque no complexo fabril, abrangendo, além do acervo de livros espaços expositivos e de coworking, teatro, cinema, ateliers, salas de aula, museu, café e restaurante. O intuito é que esses espaços sejam dedicados aos indivíduos que habitam a cidade de Itu, e que favoreçam a convivência, o sentimento de pertencimento e valorizem a história do município.

Palavras chave: memória, pertencimento, sistema de espaços livres, patrimônio industrial, bibliotecaparque


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PREMISSAS

INDIVÍDUO: ARQUITETURA NATUREZA

LUGAR, E

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LUGAR

ITU: PASSADO PRESENTE

GUARAÚ

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DIRETRIZES PARA UM FUTURO SISTEMA DE ESPAÇOS LIVRES

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E

OS INDIVÍDUOS E O LUGAR

14

A CIDADE DO PASSADO

26

PROPOSTA E DIRETRIZES

46

OS INDIVÍDUOS E A ARQUITETURA

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A CIDADE DO PRESENTE

32

TRECHO I

52

OS INDIVÍDUOS E A NATUREZA

20

TRECHO II

54

TRECHO III

56


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SÃO PEDRO

UMA FÁBRICA MEMÓRIAS

DE

5|

INTERVENÇÃO

6|

BIBLIOGRAFIA

BIBLIOTECA - PARQUE

58

154

104

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

60

PROPOSTA

106

BIBLIOGRAFIA

156

COMPANHIA DE FIAÇÃO E TECELAGEM SÃO PEDRO

64

DIRETRIZES

112

LISTA DE FIGURAS

158

RECONHECIMENTO DO CONJUNTO

74

INTERVENÇÃO

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I


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PREMISSAS

INDIVÍDUOS : LUGAR, ARQUITETURA E NATUREZA


LUGAR E MEMÓRIA | DO CÓRREGO GUARAÚ À FÁBRICA SÃO PEDRO EM ITU/SP

A cidade sensível é aquela responsável pela atribuição de sentidos e signif icados ao espaço e ao tempo que se realizam na e por causa da cidade. É por esse processo mental de abordagem que o espaço se transforma em lugar, ou seja, portador de um signif icado e de uma memória. (PESAVENTO, 2007, p.14)

INDIVÍDUOS

LUGAR

12

ARQUITETURA

NATUREZA


CAPÍTULO 1 . PREMISSAS | INDÍVIDUO: LUGAR, ARQUITETURA E NATUREZA

Por meio da proeminência da dimensão humana, busca-se demonstrar que é partir do uso, do ato de habitar, seja um espaço público na cidade ou uma obra arquitetônica, que tais espaços adquirem significado para os indivíduos, constituindo a chamada “cidade sensível” (Pesavento, 2007). Espaços onde as pessoas se reconhecem e dos quais se sentem parte favorecem um uso mais prolongado. Quanto mais pessoas utilizarem um espaço, maiores serão as chances de encontro e de estabelecimento de conexão entre os indivíduos. Assim, com a valorização das necessidades dos indivíduos, cidades e arquiteturas tornariam-se mais vivas, favorecendo as trocas e o sentimento maior de pertencer a uma comunidade. Os indivíduos, enquanto agentes ativos e tensionadores da realidade, deveriam ser vistos como a finalidade última da arquitetura e para os quais as cidades seriam pensadas. Afinal, a cidade, para existir, pressupõe a existência das relações estabelecidas por seus moradores no espaço. A ideia de a cidade ser formada não apenas

por seu caráter sólido e construído, mas também pelas pessoas, desloca a arquitetura do campo do objeto para o campo das relações. Deixa-se de ver a arquitetura como a simples edificação e se passa a abordá-la como o conjunto de relações que se desenvolvem entre os habitantes e o espaço, sendo as edificações as mediadoras. Acredita-se que o reúso de espaços e edifícios antigos e subutilizados para a configuração de locais de apropriação e convívio é um campo de abordagem da arquitetura e das questões de memória e pertencimento que possui grande potencial de desenvolvimento. Essas edificações são a materialização da memória de tempos passados no presente e correspondem a uma oportunidade de valorização da própria memória dos indivíduos por meio de sua utilização e conservação. Visando ao aprofundamento dessas reflexões, nas páginas seguintes são trazidas três chaves distintas, porém complementares, que expressam a relação estabelecida pelos indivíduos com o lugar, a arquitetura e a natureza. 13


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OS INDIVÍDUOS E O LUGAR

A cidade é sempre um lugar no tempo, na medida em que é um espaço com reconhecimento e significação estabelecidos na temporalidade; ela é também um momento no espaço, pois expõe um tempo materializado em uma superfície dada. (PESAVENTO, 2007, p.15)

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Partindo-se do contexto contemporâneo, é possível perceber que se vive em um período marcado por transformações que ocorrem em ritmo acelerado, em que a realidade se torna cada vez mais instável, flexível e efêmera. Esse momento em que o caráter efêmero das relações atuais fica explícito é denominado por Bauman (2001) de “modernidade líquida”. Segundo o autor, estaríamos vivendo uma nova dinâmica dos espaços públicos estruturada na individualidade, marcada pelo medo urbano e a insegurança. Bauman (2001) divide os espaços públicos modernos em duas categorias opostas que, para ele, afastam-se do modelo ideal do espaço civil. Por um lado, apresenta os espaços públicos que se tornam cada vez menos suscetíveis a longas permanências, sendo apenas lugares de passagem e pouco convidativos para neles se estar. Em uma segunda categoria encontram-se aqueles destinados ao consumo, “lugares que encorajam a ação e não a interação” (Bauman 2001, p.114). Esses espaços públicos reafirmam o individualismo existente na sociedade da modernidade


CAPÍTULO 1 . PREMISSAS | INDÍVIDUO: LUGAR, ARQUITETURA E NATUREZA

líquida ao não incentivarem a vivência entre os indivíduos, mas as mais breves e superficiais interações possíveis. Ao mesmo tempo em que se observa a relação superficial entre os indivíduos e o espaço, percebe-se que ela ocorre na própria constituição desses locais. Tendo em vista o pensamento de Muñoz (2008), pode-se dizer que na atualidade se vivenciam as consequências do processo de globalização na constituição das cidades por meio da configuração de “paisagens urbanais” devidas ao processo denominado pelo autor de “urbanalização”. Esse processo seria uma forma de urbanização banal do território, caracterizada pela sobreposição de práticas globais às características locais. As diferenças existentes na paisagem urbana seriam geridas de forma que se tornassem cada vez mais padronizadas e simplificadas. Sendo assim, as paisagens urbanais são produzidas com total independência de seu locus concreto, sem expressar as complexidades, conflitos e diferenças que nela residem. No limite, associando-se as visões de Bauman e de Muñoz, pode-se falar de uma constituição simplificada do território na contemporaneidade que favorece um desinteresse cada vez maior dos indivíduos em relação ao espaço que os cerca. A tendência à individualidade

no espaço urbano faz com que a cidade deixe de ser o espaço dedicado aos habitantes e suas relações e passe a ser uma mera imagem consumível que não se vincula às particularidades de uma dada localidade e das relações ali estabelecidas pela população ao longo do tempo. Perante essa realidade líquida marcada por um turbilhão de mudanças em que a dissolução das relações sociais é propiciada, a individualidade é favorecida e as cidades se tornam cada vez mais uma imagem padronizada, questiona-se de que forma a arquitetura deveria ser pensada assumindo a necessidade de se tornar mais flexível e de proporcionar maior interação entre os indivíduos, sem que as particularidades locais, as existências e as camadas temporais sejam suprimidas.

HABITAR: DO ESPAÇO AO LUGAR Evitar a produção simplificada das cidades e da arquitetura é o que se busca quando se pretende que um local deixe de ser apenas mais um espaço na cidade e passe a adquirir significado para os usuários, criando vínculos de identidade e pertencimento. Dessa forma, surge a importância da própria noção de habitar 15


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que, como desenvolvida por Braga (2017), seria um ato cotidiano de uso dos espaços. O uso traria sentido ao local ao estabelecer vivências que fizessem com que o indivíduo se reconhecesse no espaço. Como aborda Pesavento (2007, p.14), “a cidade é um fenômeno que se revela pela percepção de emoções e sentimentos dados pelo viver urbano”. Para a autora, esse processo de significação do espaço, no qual ele passa a ser portador da memória do indivíduo, permite que ele se transforme em lugar: a chamada “cidade sensível”.

se percebe uma tendência dos indivíduos a buscarem certezas e verdades nas quais possam se apoiar. Ao se analisar a perspectiva abordada por Nora (2012), identifica-se quão presentes estão temas como memória e pertencimento nessa tentativa do sujeito de lidar com o contexto de liquidez atual. O autor indica uma crescente tentativa por parte dos indivíduos de reunir informações sobre o passado, além de um frequente diálogo com a história. Pelo fato de a nova realidade levar à ruptura com o passado, cria-se uma memória esfacelada. Se anteriormente história e memória andavam juntas, em constante atualização, hoje ocorre LUGAR: PASSADO E PRESENTE, a ruptura desse elo de identidade. Para MEMÓRIA E PERTENCIMENTO o autor, por não existirem mais meios de memória por causa da aceleração da história, a memória seria transferida Tendo em vista que para a existência para os locais. Esses lugares são por ele do lugar se pressupõe uma associação denominados de “locais de memória”, à vivência e memória dos indivíduos criados com a finalidade de a cristalizar, e se considerando que, devido à posto que ela deixou de existir dentro rapidez das transformações atuais e dos próprios indivíduos. Devido à as dissoluções das certezas modernas necessidade que se tem de criar esses como apontado por Bauman (2001), os “locais de memória”, percebe-se quão indivíduos perderam seus referenciais fundamental no contexto atual é a anteriormente estabelecidos, passa- valorização do passado e da memória se a buscar novos meios para que os do indivíduo para favorecer seus laços lugares continuem sendo portadores de com o espaço que o cerca. significados. É nesse momento em que 16


CAPÍTULO 1 . PREMISSAS | INDÍVIDUO: LUGAR, ARQUITETURA E NATUREZA

CAMADAS TEMPORAIS

pertencimento com o ambiente que o cerca.

Na relação entre memória e história e a criação de lugares onde possam se cristalizar, a percepção da passagem do tempo e seus efeitos na constituição da cidade se mostra fundamental. Partese, assim, da concepção de “cidades sensíveis”, abordadas como uma produção contínua ao longo do tempo, por meio da soma das realizações presentes e passadas. A cidade enquanto palimpsesto de ações torna as produções do passado e as existências fundamentais para o entendimento do contexto no qual se atua. Pensando-se a partir das rugosidades temporais trabalhadas por Santos (1994), em que a realidade é formada pela sobreposição de camadas que se tencionam, pode-se afirmar que a cidade cria elos de sensibilidades entre o presente o passado. De transformações constantes da realidade para práticas arquitetônicas cada vez mais generalistas, volta-se para o desafio dado ao arquiteto contemporâneo de reatar os elos que unem as diferentes temporalidades existentes nas cidades e que possibilitam que o indivíduo estabeleça relações de identificação e 17


LUGAR E MEMÓRIA | DO CÓRREGO GUARAÚ À FÁBRICA SÃO PEDRO EM ITU/SP

OS INDIVÍDUOS E A ARQUITETURA

Monumentos históricos, é importante repetir, são únicos e não reproduzíveis e devem portar consigo para o futuro seus elementos caracterizadores e as marcas de sua translação no tempo; todo cuidado é pouco, pois esses monumentosdocumentos, instrumentos e suportes materiais da memória, individual e coletiva, permitem infinitas possibilidades de atualização ao longo do tempo, por um grupo social ou por uma consciência individual, oferecendo, sempre, renovadas leituras; (KUHL, 2004, p.321)

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Em paralelo às transformações nos espaços públicos assinalados por Bauman (2001) – e a contexto maior da modernidade líquida- no que diz respeito à arquitetura enquanto objeto construído e as espacialidades geradas por essas construções, passa-se a refletir sobre possibilidades de atuação que associem questões como passado e presente e história e memória e a importância das relações pessoais e da escala do indivíduo na apropriação do espaço arquitetônico. A arquitetura pode ser abordada como uma intermediadora das relações humanas estabelecidas no território. Ao se valorizarem essas relações, a própria arquitetura dialoga com as diferentes temporalidades e características do local. Foi com o intuito de valorizar os aspectos singulares e as particularidades de cada local que se optou por aprofundar a abordagem do tema do patrimônio, que permeia em muitos aspectos as questões de identidade, pertencimento e memória dos indivíduos com o espaço. Acredita-se que as construções de outros tempos são reveladoras das relações entre o espaço urbano e seus


CAPÍTULO 1 . PREMISSAS | INDÍVIDUO: LUGAR, ARQUITETURA E NATUREZA

habitantes. Suas formas, materiais e técnicas construtivas funcionam como catalisadoras de memórias a elas associadas, como um registro das relações estabelecidas entre os habitantes no espaço, seja no presente ou no passado. O tema do patrimônio será abordado não apenas em relação ao patrimônio arquitetônico, mas, como apontado por Braga (2013), a partir da ampliação da noção de patrimônio estendida para outras formas de expressão cultural, passando-se do termo restrito de Patrimônio Histórico e Artístico para o conceito amplo de Patrimônio Cultural. Essa ampliação de entendimento é fundamental para a autora, pois permite uma maior compreensão quanto aos aspectos culturais e de formação de identidades locais, até então representadas unicamente pelo Patrimônio Arquitetônico. Passase assim de uma análise voltada à arquitetura e à história para outra que inclui em seus pilares as questões da antropologia e da cultura local, de forma que as relações que se desenvolvem no cotidiano também adquiram interesse quanto à preservação. A conservação e o restauro passam a ser abordados também pelo viés dos indivíduos e suas relações ao se considerar significâncias,

linguagens, diversidades, memórias coletivas e identidades. O caráter dinâmico do patrimônio imaterial, tendo em vista que é fruto de um processo em constante transformação proporcionado pelo convívio cotidiano, pode ser apontado como fundamental para o processo de apropriação e atribuição de valor ao lugar. Dessa forma, nas intervenções não apenas o patrimônio cultural material deve ser considerado, mas também as relações que possibilitam a constituição de identidade e o sentimento de pertencimento de determinada população com seu território e arquitetura.

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OS INDIVÍDUOS E A NATUREZA

O custo pela desatenção à natureza se estende também à qualidade de vida. As áreas mais novas das cidades – através de continentes, climas e culturas – estão por toda parte adquirindo a mesma tediosa aparência. A potencialidade que tem o ambiente natural de contribuir para uma forma urbana mais diferenciada, memorável e simbólica é desconsiderada e desperdiçada.” (SPIRN, 1995, p.26)

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No processo de constituição das cidades o ambiente natural vem sofrendo significativas mudanças para atender às necessidades dos indivíduos. Estabelece-se uma relação de apropriação e intervenção na natureza sem o respeito aos processos naturais. Diversos problemas urbanos como as ilhas de calor, a poluição do ar e das águas, o aumento das enchentes, a diminuição da biodiversidade, entre outros, estão relacionados à falta de preocupação com a natureza e impactam diretamente a qualidade de vida dos indivíduos. Em um futuro no qual a natureza continuar sendo “vista como um embelezamento superficial, como um luxo, mais do que uma força essencial que permeia a cidade” (SPIRN, 1995, p.21), as “cidades infernais” descritas por Spirn (1995, p.290) se multiplicarão. Nesse cenário as cidades conviveriam com o ápice dos reflexos das ações humanas no meio natural, sofrendo com graves problemas ambientais relacionados a alterações nos ciclos do oxigênio, da água, do nitrogênio e do carbono. A relação das pessoas com o espaço público diminuiria drasticamente por causa do


CAPÍTULO 1 . PREMISSAS | INDÍVIDUO: LUGAR, ARQUITETURA E NATUREZA

predomínio dos automóveis e da falta de espaços de convívio. Nessas cidades os problemas ambientais solucionados com ações pontuais e imediatistas acarretariam em problemas ainda maiores e incontroláveis a longo prazo. Apesar da tendência a esse cenário “infernal”, ainda é possível repensar as ações humanas em busca de um futuro que promova a relação harmoniosa entre indivíduos e natureza nas cidades. A reversão desse cenário passa por um pensamento sistêmico em relação ao planejamento urbano, de forma que as diversas variáveis presentes na cidade possam ser trabalhadas em conjunto. Em busca de um futuro distinto Spirn (1995, p.21) aponta que “a cidade precisa ser reconhecida como parte da natureza e ser projetada de acordo com isso”, o que levaria à constituição das “cidades celestiais” (SPIRN, 1995, p. 294), espaços urbanos planejados de forma a se integrarem aos ecossistemas existentes, permitindo a coexistência entre indivíduos e natureza. As cidades teriam parques e florestas entremeados no espaço urbano, sua própria cultura e identidade seriam valorizadas e haveria a multiplicação de espaços que promovessem a convivência em comunidade. A valorização da importância

da natureza no meio urbano vem crescendo e se reflete em propostas de implementação de infraestruturas verdes e preocupações com a preservação do meio ambiente nas cidades. Segundo Herzog: “A ecologia urbana ganhou força nos últimos anos, abrindo caminhos para que se compreenda melhor a interação entre a natureza e as pessoas. As cidades passaram a ser entendidas como complexos sistemas socioecológicos nos quais a natureza existe nos lugares que menos imaginamos, mas nos influencia o tempo todo. Na verdade, somos parte dela, e nossa qualidade de vida depende da qualidade dessa relação, de como percebemos a sua importância, de como convivemos com ela. (Herzog, p. 109) Acredita-se que é a partir da união e respeito pelas características do lugar, da arquitetura e da natureza que as cidades pensadas por Spirn (1995), Herzog (2013), Jacobs (2000), Gehl (2015), Pesavento (2007), entre outros autores, podem constituir-se como lugares criados para atender às necessidades e favorecer a convivência dos indivíduos em um espaço urbano público de qualidade. 21


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CAPÍTULO 2 . LUGAR | ITU: PASSADO E PRESENTE

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LUGAR

ITU: PASSADO E PRESENTE

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Suba ao céus nosso brado de orgulho Exaltando a cidade sem par Que jamais se deixou igualar, Pelo brio dos filhos que tem! Teu início foi Utu-Guaçu, Que Fernandes fundou para a glória De tornar-se a cidade de Itu Fidelíssima, berço da História! Quem tuas ruas percorre insensível? Quem te vê, minha Itu sem igual, E não vibra, ao sentir, invisível, Renascer o Brasil colonial? Glória a Itu, que enviou bandeirantes Para a mata fechada explorar E, afastando as fronteiras do mar, O gigante Brasil desdobrou! Nos teus templos de tanto esplendor O presente revive o passado! Foi em ti que, de alerta num brado, A República disse: “Presente”! Mas não só do passado tu vives, Minha Itu: teu progresso é brilhante! Marcha em frente, com passo gigante Para a glória de um grande amanhã!

HINO DE ITU Valorização da cidade e sua história 24

Localizada no Estado de São Paulo e pertencente à região administrativa de Sorocaba, Itu encontra-se a cerca de 100 km da capital do estado e é banhada pelo rio Tietê. Cidade média do interior paulista, destaca-se pela sua forte relação com o passado, tendo em vista que sua origem remonta ao início do Século XVII, durante o período colonial brasileiro. Em seus 408 anos, Itu desempenhou importantes papéis, seja como centro de apoio para as bandeiras e monções ou como cidade base das iniciativas políticas do Movimento Republicano. As diversas denominações que recebeuexplicitam a importância da história para o município. De “Utuguasu”, “Ytú-guassú”, “Ytu”, “Boca do sertão”,” Fidelíssima”, “Roma Brasileira”, “Berço da República” até “Cidade dos Exageros”. Neste capítulo são abordadas algumas das principais características da cidade fundamentais para a formulação da proposta de intervenção.


CAPÍTULO 2 . LUGAR | ITU: PASSADO E PRESENTE

REGIÃO METROPOLITANA | Sorocaba POPULAÇÃO | 170.157 hab (estimativa IBGE 2017) DENSIDADE POPULACIONAL | 265,57 hab/km² ÁREA | 640.719 km² (IBGE 2016) ALTITUDE | 583m CLIMA | Subtropical IDH | 0,773 alto (PNUD 2010) PIB | 6.660.940 mil (IBGE 2013) PIB PER CAPITA| $ 40.644,73 (IBGE 2013)

CÓRREGO GUARAÚ

FÁBRICA SÃO PEDRO 25


LUGAR E MEMÓRIA | DO CÓRREGO GUARAÚ À FÁBRICA SÃO PEDRO EM ITU/SP Fundação e construção da capela dedicada à N. S. da Candelária

A CIDADE DO PASSADO

1610

CIDADE DO SERTÃO A ocupação da cidade de Itu está intimamente ligada ao processo de ocupação do oeste do país no período colonial. Em começo do ano 1610 Domingos Fernandes e seu genro Christovam Diniz, deixando a vila de Parnahyba onde residiam com os seus, vão aos campos do Pirapetinguy e no lugar denominado Ytú-guassú, lugar assim denominado porque daí, partindo da estrada das monções seguia o caminho dos índios que ia ao grande salto do antigo Anhemby, e aí, no entroncamento desses dois caminhos, levantaram uma capela dedicada a Nossa Senhora da Candelária.”(...) Foi, portanto a capela fundada por domingos Fernandes a verdadeira origem da atual cidade de Itu. (NARDY FILHO, 2000, v. 1, p. 34-35) 26

Conforme indica a passagem do historiador ituano Nardy Filho, apesar do recebimento da posse das terras dos campos do Pirapitingui como sesmaria em 1604, a formação do povoado que deu origem ao núcleo urbano de Itu pelos bandeirantes Domingos Fernandes e Cristóvão Diniz só seria realizada em 1610. Ytú-guassú, do guarani “salto d’água ou cachoeira grande”, e posteriormente Ytu, era o povoamento mais distante do litoral brasileiro naquele período, sendo assim denominada de “Boca do Sertão”. A região era utilizada como local de descanso dos viajantes que iam ao planalto paulista em busca de indígenas e à procura de metais e pedras preciosas. Possuía um valor estratégico por anteceder os cânions do rio Tietê, atualmente localizados na cidade de Salto. A presença da água foi de grande importância para o estabelecimento do povoado no local:

1604

1653

Chegada dos primeiros colonos portugueses, ponto de partida e passagem das bandeiras

Torna-se freguesia de Santana do Parnaíba

Expansão urbana em 1774 (Fonte: LIMA , 2014, p.62)

Expansão urbana em 1792 (Fonte: LIMA , 2014, p.62)


CAPÍTULO 2 . LUGAR | ITU: PASSADO E PRESENTE Elevada a categoria de vila, passando a ter poder administrativo local

Chegada dos frades da Ordem de São Francisco de Assis

Construção da Matriz no centro, atual Praça Padre Miguel

Ínicio da construção da Igreja do Patrocínio e abertura do largo

1657

1691

1780

1805

1665

1716

1790

1822

O município possui cerca de 300 residências

Chegada dos frades da Ordem de Nossa Senhora do Carmo

Formada a maior parte das ruas centrais da vila com calçadas de pedras de varvito

Recebe o título de “A Fidelíssima” de D. Pedro I devido à participação na independência do país

O crescimento populacional foi favorecido pela presença da Bacia Hidrográfica do Tietê, que, correndo rumo ao interior paulista, permitia adentrar o território. Dela faz parte o afluente Guaraú e os subafluentes Taboão e Brochado, que circundam a colina onde se assentou o núcleo inicial de povoamento. (AJONAS, 2009, p.33)

Expansão urbana em 1830 (Fonte: LIMA , 2014, p.62)

Expansão urbana em 1865 (Fonte: LIMA , 2014, p.62)

cidade. As casas pertenciam sobretudo aos principais fazendeiros da Vila, que ajudaram na construção dos conventos de São Francisco (1692) e o do Carmo (1719). Em 1728, porém, foram os comerciantes que ergueram a capela de Santa Rita, local até então sem ocupação urbana. Em 1760, quando existiam cerca de 105 casas, mais uma rua foi aberta, Em 1653 o povoado foi elevado à chamada da Palma (atual Rua dos categoria de Freguesia de Santana Andradas). Foi nesse momento que do Parnaíba e em 1657 à categoria Itu se consolidou como entreposto de de vila, com direito a possuir uma comércio na rota entre o sul do país e câmara municipal, iniciando-se, assim, as regiões mineradoras de Mato Grosso a construção de um novo templo. No e Goiás. período de 1657 a 1750, a Vila de Itu constituiu-se como um pequeno núcleo com menos de 100 casas concentradas CIDADE DO AÇÚCAR ao redor do pátio da antiga Matriz e em uma única rua que começava no pátio e terminava na primeira capela Itu permaneceu por muitos anos do povoado. Essa rua, hoje denominada como uma pequena vila, passando Paula Souza, compõe o Eixo Histórico da por mudanças significativas apenas a 27


LUGAR E MEMÓRIA | DO CÓRREGO GUARAÚ À FÁBRICA SÃO PEDRO EM ITU/SP É elevada à categoria de cidade e participa da Revolução Liberal

Inauguração do Colégio N. Sra. do Patrocínio, primeiro feminino do Estado

Inauguração do Colégio São Luíz pelos jesuítas

“Convenção de Itu” feita pelo Partido Republicano Paulista e inauguração da estrada de ferro ituana

A produção de café substitui a do açúcar. O município possui cerca de 1000 casas

1842

1859

1867

1873

1890

1854

1865

1869

1886

Auge da produção açucareira. Vila mais rica da província

Chegada dos jesuítas

Inauguração da Fábrica São Luiz, uma das primeiras a vapor de São Paulo

Chegada dos primeiros imigrantes italianos

partir do desenvolvimento da atividade canavieira. Em 1776, com o crescimento das lavouras da cana de açúcar e do algodão, a Vila cresceu, contando com 180 casas e com as mesmas ruas de antes. Na zona urbanizada residiam principalmente artesãos e comerciantes, como sapateiros, ferreiros, carpinteiros, tecelões, costureiras e fiandeiras. Os comerciantes, interessados na venda de tecidopara outras regiões, promoveram o cultivo de algodão para a produção caseira de tecidos. A partir de 1777, com a exportação de açúcar para a Europa, o número de engenhos de cana e de escravos vindos da África se multiplicou. De 1785 a 1792, foram abertas as ruas que descem paralelas pelas encostas do espigão e seus prolongamentos próximos à Igreja do Patrocínio, inaugurada em 1819. Entre a segunda metade do século XVIII e a primeira metade do século XIX, Itu fez parte da principal região 28

produtora de cana-de-açúcar do estado, denominada de “Quadrilátero do Açúcar”. Com o auge da produção canavieira em Itu no período de 1830 a 1854, a cidade foi considerada a mais rica da Província de São Paulo, com importante participação na sua vida política e econômica. No final do século XIX possuía cerca de 1.000 casas e um tecido urbano composto por 12 ruas, 2 travessas, 10 becos e 8 largos. Sobre o expressivo processo de crescimento da cidade no período, Santos (2005, p.67) destaca que a “cidade crescia, segundo modelo urbanístico de origem portuguesa”, cujas características foram descritas por Moura (2004, apud SANTOS, 2005, p.65): “as residências eram construídas alinhadas às calçadas, sem recuos frontais ou laterais. Nelas, a vida privada se voltava para quintais nos fundos, distantes dos olhares públicos”. Ainda segundo Santos (2005), Itu foi uma das primeiras cidades paulistas

Expansão urbana em 1878 (Fonte: LIMA , 2014, p.64)

Expansão urbana em 1889 (Fonte: LIMA , 2014, p.64)


CAPÍTULO 2 . LUGAR | ITU: PASSADO E PRESENTE Instalação da segunda fábrica têxtil da cidade, a Companhia de Fiação e Tecelagem São Pedro

Participação ativa na Revolução Constitucionalista de São Paulo

Instalação de novas indústrias, com destaque para as cerâmicas

Torna-se Estância Turística de Itu

Tombamento do centro histórico

1910

1932

1950

1979

2003

1910

1920

1935

1970

1989

Inauguração do primeiro grupo do Estado de São Paulo, Grupo Escolar Dr. Cesário Motta

Intalação do Quartel do 4º Registro de Artilharia Montada no antigo Colégio São Luís

Auge da produção cafeeira

Construção da Rodovia Castelo Branco

Construção da Rodovia Santos Dumont

Expansão urbana em 1905 (Fonte: LIMA , 2014, p.64)

Expansão urbana em 1925 (Fonte: LIMA , 2014, p.64)

dotadas de infraestruturas urbanas favoreceu o conflito entre os políticos como calçamento, iluminação pública, e fazendeiros ituanos e o Governo água encanada, entre outras. Imperial. Dessa forma, cresceu em Itu o Movimento Republicano que resultou em 1873 na realização da Primeira CIDADE DO CAFÉ, DA REPÚBLICA, Convenção Republicana do país e na DO ALGODÃO criação do Partido Republicano Paulista. Por esse posicionamento político a cidade é também conhecida como Posteriormente, a combinação de “Berço da República”. fatores externos e locais, tais como a Gradativamente o açúcar foi crise da queda dos preços do açúcar substituído pelo café e os imigrantes, no mercado internacional em 1860 principalmente italianos, substituíram e o esgotamento do solo diante da a mão de obra escrava que havia sido monocultura, levou à decadência da abolida em 1888. O café foi considerado a atividade canavieira. A passagem do base da economia do município até 1935, século XIX para o século XX representou ano no qual teve sua maior produção, um período de intensas modificações mas que também marcou o início de seu no município, expressas pela expansão declínio devido à concorrência de outras das lavouras de café, substituição da áreas de plantio e ao esgotamento mão de obra escrava pelo trabalhador das terras. Paralelamente à produção assalariado, insipiente industrialização e cafeeira e artesanal, desenvolveu-se ideais republicanos. o cultivo do algodão. A riqueza e o A decadência da produção açucareira poder acumulados pelos fazendeiros 29


LUGAR E MEMÓRIA | DO CÓRREGO GUARAÚ À FÁBRICA SÃO PEDRO EM ITU/SP

permitiram a criação das tecelagens, primeiras indústrias da cidade. A partir do final do século XIX teve início uma notável modificação na morfologia urbana de Itu. Nesse período, as ruas passaram a se estender longitudinalmente por todo o espigão da colina onde se deu a ocupação inicial e as formas da paisagem foram profundamente alteradas. Nesse processo foi de grande importância a implantação da ferrovia, inaugurada em 1873, levando ao prolongamento das ruas já existentes, em especial a Rua do Comércio, atual Floriano Peixoto, até o Largo da Estação. Os principais elementos que influenciaram na remodelação do espaço urbano da cidade nesse período foram a tríade café, ferrovia e indústria, também responsáveis pelo grande crescimento econômico da cidade e seu aumento populacional.

dois córregos que circundam o espigão de ocupação inicial do território. Essa situação se modificou apenas a partir de 1950 com a instalação de novas indústrias na cidade, principalmente as de cerâmicas. Nesse período ocorreu um grande êxodo rural pela busca de trabalhos nas fábricas, que favoreceu o crescimento do tecido urbano com a abertura de diversos loteamentos na periferia. A expansão urbana passou a se desenvolver atrelada à construção de novas vias e rodovias, gerando uma forma de ocupação fragmentada do território que propiciou a formação de grandes vazios urbanos. A importância que a cidade possuía no contexto estadual foi aos poucos diminuindo, sendo o velho centro urbano, atual centro histórico, a maior e mais importante herança cultural de seu passado. Aos poucos a região central passou por diversas modificações: parte das edificações antigas foi demolida CIDADE DA INDÚSTRIA e o uso do solo preponderantemente residencial se transformou na maior concentração de comércios e serviços Ao se observar os mapas da área da cidade. urbanizada da cidade, é possível inferir Após 1970, com a construção da que até a década de 1950 o crescimento rodovia Castelo Branco, novas indústrias urbano foi pequeno para além dos instalaram-se em Itu, principalmente às limites geográficos estabelecidos pelos margens de suas estradas de acesso. 30

Em 1980, a Rodovia do Açúcar também se consolidou como importante via de acesso e aceleradora de crescimento. Nessa mesma época, intensificouse a fama de Itu como a “Cidade dos Exageros”, graças ao humorista Francisco Flaviano de Almeida, mais conhecido como “Simplício”. A fama contribuiu para a intensificação do fluxo de turistas na cidade que procuravam conhecer não apenas o passado histórico, mas também os objetos gigantes. Em 1979, Itu tornou-se a terceira estância turística do Estado de São Paulo, fomentando ainda mais essa atividade no município com a vinda de recursos do Governo do Estado.


CAPÍTULO 2 . LUGAR | ITU: PASSADO E PRESENTE

EXPANSÃO URBANA Como já abordado, a expansão urbana do município ficou restrita à área de ocupação original entre os Córregos Taboão e Brochado até meados da década de 1950. Foi apenas a partir desse período que teve início a ocupação de outras áreas periféricas. A expansão ocorreu atrelada principalmente à construção de novas vias e rodovias que cortaram o município. Porém, ainda hoje, a área urbanizada corresponde a apenas uma fração do território total da cidade. De uma ocupação compacta em seu início, a cidade nas últimas décadas vem se expandindo horizontalmente de forma fragmentada, configurando grandes vazios urbanos e áreas de especulação imobiliária.

EXPANSÃO URBANA

Fonte: Dados da prefeitura de Itu Mapa elaborado pela autora

Até 1950

Rodovia Marechal

1951 - 1963

Rondon

1964 - 1975

Rodovia Castelo Branco

1976 - 1982

Rodovia Santos Dumont

1983 - 1990

Rodovia Waldomiro

1991 - 2006

Corrêa Camargo

2006 - 2011

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LUGAR E MEMÓRIA | DO CÓRREGO GUARAÚ À FÁBRICA SÃO PEDRO EM ITU/SP

A CIDADE DO PRESENTE A cidade de Itu possui cerca de 640.719 km² (IBGE 2016) de dimensão territorial, dos quais apenas uma pequena parcela corresponde à área urbanizada. A cidade possui dois centros de maior concentração populacional, sendo o maior a Macrozona de Urbanização I, região de maior concentração de comércios e serviços e onde se localiza a área de ocupação inicial do município. Por sua vez, a Macrozona de Urbanização II corresponde à área com maior fragilidade econômica e social da cidade e onde se localiza também um dos principais condomínios fechados de alto padrão.

ZONEAMENTO URBANO

LEGENDA

Macrozona de Urbanização I

Macrozona de

Macrozona de Urbanização II

desenvolvimento compatível

Macrozona Empresário - Industrial

com a produção de água -

Macrozona de Características Rurais

mananciais

Macrozona de Proteção Ambiental

32

Fonte: Prefeitura de Itu


CAPÍTULO 2 . LUGAR | ITU: PASSADO E PRESENTE

RENDA MENSAL

LEGENDA

Fonte: Plano de mobilidade de Itu, TC urbes

Renda mensal por domicílio particular permanente

DENSIDADE POPULACIONAL

LEGENDA

Fonte: Plano de mobilidade de Itu, TC urbes

Densidade populacional por setores censitários do IBGE - 2010

0 - 1589

2423 - 3359

0 - 13

55 - 110

1589 -1892

3359 - 12667

13 - 33

110 - 214

1892 - 2423

Limites Municipais

33 - 55

Limites Municipais

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CONDOMÍNIOS Uma parcela significativa da área urbana do município é formada por condomínios e loteamentos fechados. Essa situação, comum em diversas cidades brasileiras, deve-se a um fator específico no caso ituano. Grande parte dos condomínios existentes na cidade é considerada de alto ou altíssimo padrão, não condizentes com a renda da população residente no local. Isso indica, conforme o mapa ao lado, que muitos desses empreendimentos são voltados para o uso ocasional. Em sua maioria são indivíduos que utilizam a cidade apenas como dormitório ou como local de lazer nos finais de semana e feriados. Essa prática é comprovada também pelas próprias companhas de marketing desses empreendimentos, que valorizam a proximidade e facilidade de acesso da cidade para os moradores vindos de São Paulo. Ao se comparar a localização dos MORADORES DE USO OCASIONAL condomínios com o mapa de domicílios NOS CONDOMÍNIOS EM ITU 0-9 permanentes não ocupados (uso 10 - 19 ocasional) do IBGE, é perceptível que 20 - 45 aqueles localizados mais afastados 46 - 78 da região central e mais próximos das 89 - 323 rodovias são os mais utilizados por esses Principais Vias moradores de uso ocasional. 34

FONTE: IBGE 2010, Mapa elaborado pela autora


CAPÍTULO 2 . LUGAR | ITU: PASSADO E PRESENTE

ÁREA CENTRAL

USO DO SOLO : COMERCIAL E SERVIÇOS

USO DO SOLO : RESIDENCIAL

USO DO SOLO : INSTITUCIONAL

Fonte: SOUZA , 2015

Fonte: SOUZA , 2015

Fonte: SOUZA , 2015

A região central da cidade localizase na Macrozona de Urbanização I e engloba a área e o entorno imediato da zona de ocupação inicial da cidade até 1950. A região vem passando por transformações nas últimas décadas, seguindo a tendência das cidades brasileiras do aumento das áreas comerciais e de serviços na região do centro antigo. Dessa forma, o comércio

se desenvolve principalmente nas duas primeiras ruas da cidade e suas transversais, localizadas no centro do mapa, enquanto que os serviços tendem a uma ocupação mais concentrada ao longo das marginais do Córrego Taboão, ao norte. Apesar da concentração comercial no centro histórico, a região de seu entorno imediato permanece com

uma ocupação preponderantemente residencial. A região central é também marcada pela existência de grandes áreas institucionais, sendo a maior delas, a leste do mapa, dedicada ao 2º Grupo de Artilharia de Campanha Leve - Regimento Deodoro, uma tradicional unidade militar do Exército Brasileiro.

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MOBILIDADE URBANA

AMBIENTAL

Fonte: Dados Prefeitura de Itu Mapa elaborado pela autora

Sistema de Recreio

APA

Corpos d‘água

APP

A região central possui poucos e insuficientes espaços de recreio que atendam às necessidades da população. Por causa da existência de dois córregos, ela é cortada por uma grande área de APP, que em seu trecho norte, no Córrego Taboão, é ocupada por uma das principais avenidas da cidade e no seu trecho sul, no Córrego Guaraú- Brochado, apresenta grandes vazios urbanos. 36

Fonte: Dados Prefeitura de Itu Mapa elaborado pela autora

Vias Principais

Ciclovias

Linhas de Ônibus

Ciclofaixas

A malha viária é formada por dois anéis: o externo, que conecta Itu às cidades vizinhas, e o interno, sistema viário estrutural do município que se desenvolveu atrelado a vias de fundo de vale. A região possui uma quantidade suficiente de linhas de ônibus, que conectam a área a outras menos urbanizadas, e trechos pequenos e desconexos de ciclovias e ciclofaixas que se mostram insuficientes.


CAPÍTULO 2 . LUGAR | ITU: PASSADO E PRESENTE

EQUIPAMENTOS

VAZIOS URBANOS

Fonte: Dados Prefeitura de Itu Mapa elaborado pela autora

Fonte: Dados Prefeitura de Itu Mapa elaborado pela autora

Educacional Público

Saúde

Vazios Urbanos

Educacional Privado

Cultural

Corpos d’água

Região com elevada concentração de equipamentos Nessa região por causada ocupação fragmentada do educacionais públicos e privados e também de saúde. território ituano, existe uma grande concentração de vazios Entretanto, a quantidade de equipamentos culturais é urbanos que hoje passam pelo processo de especulação reduzida e se concentra apenas no eixo histórico. imobiliária. A maioria dos vazios é localizada próxima ao Córrego Guaraú-Brochado, uma vez que apenas recentemente a linha férrea que ali existia deu lugar a uma das principais avenidas da cidade. 37


LUGAR E MEMÓRIA | DO CÓRREGO GUARAÚ À FÁBRICA SÃO PEDRO EM ITU/SP

PATRIMÔNIO Por causa de seu passado, a presença da história na cidade é marcante, tanto por seu patrimônio material quanto imaterial. Itu possui atualmente quatro tombamentos realizados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN:

O tombamento atinge cerca de 240 imóveis de diferentes tipologias e define dois perímetros de preservação conforme o mapa abaixo: um interno, a Zona Histórica (ZH), e outro externo, a Zona de Preservação Histórica (ZPH).

1938 - Igreja Matriz Nossa Senhora da Candelária 1967 - Museu Republicano 1967 - Igreja e Convento de Nossa Senhora do Carmo 1999 - Oito painéis do Padre Jesuíno do Monte Carmelo Além disso, seu centro histórico foi tombado em 2003 pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (Resolução CONDEPHAAT nº 85 de 06/11/2003). Essa exclusividade foi concedida a apenas oito centros históricos dentre os 645 municípios do Estado, o que demonstra a importância desse lugar. Fonte: Plano Diretor de Turismo, 2015

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CAPÍTULO 2 . LUGAR | ITU: PASSADO E PRESENTE

Fig. 1 - Igreja Matriz Nossa Senhora da Candelária

Fig. 2 - Casa do barão e biblioteca USP

Fig. 3 - Museu da energia

Fig. 4 - Igreja Nossa Senhora do Carmo

Fig. 5 - Igreja Nossa Senhora do Patrocínio

Fig. 6 - Igreja de São Luís e Regimento Deodoro

Fig. 7 - Museu Republicano

Fig. 8 - Igreja do Bom Jesus

Fig. 9 - Casa imperial

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LUGAR E MEMÓRIA | DO CÓRREGO GUARAÚ À FÁBRICA SÃO PEDRO EM ITU/SP

TURISMO O setor turístico tem grande importância econômica para o município, em especial após 1979, quando se tornou Estância Turística e passou a receber incentivos financeiros do Governo do Estado para o desenvolvimento do turismo. Os atrativos da cidade são diversos, como mostra o mapa turístico ao lado, abrangendo desde o turismo histórico, arquitetônico e dos exageros na região central, até o turismo rural nas antigas fazendas produtoras de café e o natural nos diversos campings e pousadas localizados fora do perímetro urbano. As atividades turísticas concentram-se principalmente nos finais de semana e feriados. Infelizmente o turismo, principalmente na região central, valoriza mais a fama comercial de “cidade dos exageros”, com as lojas de lembrancinhas gigantes, do que propriamente o patrimônio histórico existente no local.

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Fig. 10 - Turismo dos exageros : Orelhão

Fig. 11 - Turismo dos exageros : Semáforo

Fig. 12 - Turismo Rural: Chácara do Rosário

Fig. 13 - Turismo Rural: Fazenda do Chocolate

Fig. 14 - Turismo Natural: Pesqueiro e Pousada Maeda

Fig. 15 - Turismo Natural: Parque do Varvito


CAPÍTULO 2 . LUGAR | ITU: PASSADO E PRESENTE

41 Fonte: Prefeitura de Itu



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GUARAÚ

DIRETRIZES PARA UM FUTURO SISTEMA DE ESPAÇOS LIVRES


LUGAR E MEMÓRIA | DO CÓRREGO GUARAÚ À FÁBRICA SÃO PEDRO EM ITU/SP

Por meio das premissas teóricas apresentadas no capítulo 1 e da análise da cidade abordada no capítulo 2, tanto em relação ao seu passado quanto ao seu presente, algumas constatações feitas pela autora se transformaram em disparadores de projeto ao se pensar qual seria um futuro possível para a região central da cidade de Itu. Dessa forma, neste capítulo será apresentada a proposta de constituição de um sistema de espaços livres no limiar entre a região central e os bairros adjacentes. Em um primeiro momento são expostas as constatações realizadas quanto aos indivíduos, o lugar, a natureza e a arquitetura existentes na região. Na sequência são propostas diretrizes projetuais na escala macro da cidade, compreendendo toda a região do centro histórico e seu entorno imediato, com foco nos vazios urbanos localizados ao longo dos córregos existentes. Essas diretrizes foram elaboradas a partir de uma visão sistêmica com a sobreposição de diferentes camadas de análise urbana. Por último, por meio de descrições e imagens são apresentados os diferentes trechos que compõem o sistema de espaços livres, seguidos por comentários e diretrizes específicas para cada uma dessas áreas. 44

INDIVÍDUOS

Tudo isso nos faz supor que, se os nossos centros urbanos forem desenhados segundo a ótica da pessoa que se desloca (quer a pé, quer de automóvel) a cidade passará a ser uma experiência eminentemente plástica, percurso através de zonas de compressão e de vazio, contraste entre espaços amplos e espaços delimitados, alternância de situações de tensão e momentos de tranquilidade. (CULLEN, 2006, p. 12)

Percebe-se a coexistência de três grupos de indivíduos distintos no espaço urbano da cidade de Itu: em primeiro lugar a própria população residente, em seguida os moradores de uso ocasional, que são aqueles que visitam a cidade em momentos pontuais e moram principalmente nos condomínios fechados afastados da região central, e por último os turistas que visitam a cidade especialmente nos finais de semana e feriados. Esses três tipos de usuários dialogam de maneiras distintas com o espaço urbano, o que dificulta muitas vezes o estabelecimento de relações de troca e convívio entre eles, que são aspectos fundamentais para potencializar a dinâmica urbana da cidade.


CAPÍTULO 3 . GUARAÚ | DIRETRIZES PARA UM FUTURO SISTEMA DE ESPAÇOS LIVRES

LUGAR

NATUREZA

ARQUITETURA

Com relação à constituição da cidade, é importante ressaltar que até 1950 a ocupação urbana se restringiu ao espigão de ocupação original localizado entre os Córregos Taboão e Guaraú-Brochado, local onde hoje se encontra a Zona Histórica tombada pelo CONDEPHAAT. Como trabalhado no capítulo anterior, a expansão urbana da cidade, feita de forma fragmentada e sem planejamento, favoreceu a existência de diversos vazios principalmente próximos às margens dos dois córregos. Atualmente ao longo do córrego Taboão se encontra uma ocupação comercial e de serviços consolidada, enquanto que no GuaraúBrochado o interesse econômico pelas áreas ociosas aumentou apenas nos últimos anos após a construção da Avenida Galileu Bicudo em 2010, que integra o anel viário interno da cidade.

Atualmente o córrego Taboão está canalizado e as obras de canalização do Guaraú-Brochado, financiadas pelo PAC 2 do Governo Federal, estão em fase de finalização. Apesar de ser uma medida que visa a solucionar os problemas de enchentes no município, a cidade continua sofrendo com a elevação do nível dos córregos nas épocas de chuvas intensas. Essa realidade demonstra que a canalização, além de proporcionar o distanciamento dos indivíduos dos seus córregos urbanos, não é uma solução eficiente para a questão das enchentes. Além disso, a cidade carece de espaços de lazer e convivência que propiciem um contato mais próximo dos habitantes com a natureza, especialmente na região central, onde esses espaços se limitam apenas às praças históricas do centro.

A importância do processo histórico da cidade em sua constituição é marcante e se reflete principalmente na abundância de edificações com valor histórico e arquitetônico tombadas, tanto a nível estadual pelo CONDEPHAAT, quanto nacional pelo IPHAN. Entretanto, é perceptível que o passado da cidade se torna cada vez mais esquecido e pouco valorizado. Grande parte dessas edificações encontra-se subutilizada, abandonada, ou com usos incompatíveis a suas dependências, que no limite levarão à degradação das edificações pela falta de manutenção e preservação.

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LUGAR E MEMÓRIA | DO CÓRREGO GUARAÚ À FÁBRICA SÃO PEDRO EM ITU/SP

PROPOSTA E DIRETRIZES Considerando-se as observações elencadas anteriormente buscou-se a proposição de alternativas às práticas vigentes que possibilitem a constituição de um cenário distinto para o futuro da cidade de Itu. Dessa forma, é proposta a configuração de um sistema de espaços livres que conectem a região central aos bairros adjacentes associado à naturalização dos córregos como forma de favorecer o verde urbano, além da oferta para a população de equipamentos públicos variados. A proposta visa à constituição de uma espécie de cinturão verde às margens do centro histórico e que tem como intuito a salvaguarda dos bens patrimoniais existentes nesse local. A ação impediria modificações substanciais na paisagem urbana pelo mercado imobiliário nos terrenos ociosos, principalmente em relação ao uso e ao gabarito das edificações. Além disso, a naturalização do córrego visa a reafirmar sua importância para a constituição urbana do município, além de favorecer o convívio direto dos morados com suas águas. Optou-se pela abordagem mais 46

detalhada dos vazios e edificações patrimoniais existentes ao longo do Córrego Guaraú-Brochado, de sua nascente até a união ao Córrego Taboão. Acredita-se que essa proposta possa se tornar um modelo de intervenção passível de ser estendido para os outros córregos da cidade, em especial o Taboão. Sendo assim, busca-se a configuração de um futuro no qual a vida no meio urbano não implique uma necessária desconexão com a natureza e seus elementos, mas uma coexistência pacífica que induza a uma maior preocupação com o meio ambiente, além da existência de espaços de lazer e convivência para a população associados a essas áreas naturalizadas.

REFERÊNCIA O Madrid Rio é um projeto de requalificação urbana do entorno do rio Manzanares que aliou a revitalização de suas águas à melhoria da mobilidade urbana e à oferta de novos espaços públicos para a cidade. Foram criados

Fig. 17 - Madrid Rio

Fig. 18 - Matadero Madrid

equipamentos públicos, áreas de lazer, passagens para pedestres, ciclovias e quadras esportivas. Um dos equipamentos é o Matadero Madrid, projeto que promoveu a restauração do antigo matadouro da cidade e sua reutilização como centro de experimentação artística e local de convivência para a população.


CAPÍTULO 3 . GUARAÚ | DIRETRIZES PARA UM FUTURO SISTEMA DE ESPAÇOS LIVRES

LEGENDA Sistema de espaços livres Zona Histórica Córregos (Taboão a leste e GuaraúBrochado a oeste) Avenida Galileu Bicudo

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CONEXÃO

REDE HÍDRICA Existente

Espera-se que o sistema de espaços livres favoreça a conexão, tanto por meio da constituição de um eixo de integração entre as duas margens do córrego como, internamente, entre as diferentes áreas propostas. Por um lado, o sistema propicia a integração da região do centro histórico, comercial e turístico a leste aos bairros localizados a oeste. Essas duas regiões da cidade carecem de costura urbana, tendo em vista que até 1990 essas áreas eram separadas pelos trilhos da ferrovia que cortava a cidade e em 2010 foram novamente fragmentadas pela construção da Avenida Galileu Bicudo, integrante do anel viário interno da cidade. Por outro lado, no sentido nortesul, acredita-se que o córrego possa ser trabalhado como um elemento estruturador desse eixo de conexão formado por um sistema de espaços livres ao longo de seu trajeto. Busca-se conectar o sistema proposto ao tecido urbano já existente com a implantação de ciclovias ao longo de todo o percurso e a criação de ruas verdes em direção aos bairros.

Córregos Bacias de retenção Proposto Lagoas de mitigação

REDE VEGETAL Existente: Praças Proposto: Parques Hortas urbanas Ruas verdes

REDE DE MOBILIDADE Proposto: Ciclovias Ruas Compartilhadas

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CAPÍTULO 3 . GUARAÚ | DIRETRIZES PARA UM FUTURO SISTEMA DE ESPAÇOS LIVRES

REDE HÍDRICA • Existente: os córregos são canalizados em toda a sua extensão e existem duas bacias de retenção no Guaraú-Brochado.

REDE VEGETAL • Existente: áreas de municipais e praças públicas.

REDE DE MOBILIDADE

• Existente: vias com prioridade para veículos motorizados e existência de apenas alguns trechos desconexos • Objetivo: aumentar as áreas de ciclovias. vegetadas e os locais de lazer em meio • Objetivo: buscar alternativas à natureza na região central. • Objetivo: promover a diminuição à prática vigente de canalização dos do uso dos automóveis no interior córregos que impede o contato direto • Diretrizes propostas: da população com suas águas. da Zona de Preservação Histórica, - Praças: recuperação e manutenção favorecendo a opção por outros meios • Diretrizes propostas: das praças existentes promovendo de transporte menos poluentes, além o aumento da massa vegetada e da de prioridade para o deslocamento de - naturalização dos córregos: visa iluminação pública; pedestres. a aumentar a área permeável próxima aos córregos, elevar a capacidade de - parques: implementação de um • Diretrizes propostas: absorção das águas das chuvas evitando sistema de parques ao longo dos vazios as inundações e contribuir para a urbanos existentes nas proximidades - ruas compartilhadas: revitalização do ecossistema original; dos córregos. Visa a aumentar o contato implementação de vias em que o trânsito da população com a natureza e a de pedestres, veículos e bicicletas - lagoas de mitigação: objetivo de disponibilidade de espaços públicos de compartilhem o mesmo espaço e diminuir, ou mesmo extinguir, os danos lazer; possuam o mesmo grau de prioridade. causados pelas enchentes no meio urbano. Se comparadas às bacias de - hortas urbanas: implementação Visa à compreensão da rua como um retenção, além de receberem as águas de áreas destinadas ao cultivo coletivo espaço público e não apenas como um pluviais, apresentam a vantagem de de alimentos sem agrotóxicos. Visa a local de passagem; manterem parte de seu volume de água estabelecer um contato maior com a constante, conformando lagoas que natureza e fortalecer convivência entre - ciclovias: implementação de cumprem o papel de atrativo urbano e os moradores da vizinhança; ciclovias ao longo das duas avenidas espaço de lazer para a população. - ruas verdes: redesenho dos que compõem o anel viário interno principais eixos de conexão do sistema do município, em toda a extensão do de espaços livres à malha urbana sistema de espaços livres e em algumas existente. Aumento da arborização e ruas verdes. implementação de infraestrutura verde por meio do uso de pisos drenantes, canteiros pluviais e biovaletas. recreio

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LUGAR E MEMÓRIA | DO CÓRREGO GUARAÚ À FÁBRICA SÃO PEDRO EM ITU/SP

REDE

ATRAÇÃO

CULTURAL Equipamentos

Cada uma das áreas que compõem o sistema de espaços livres é trabalhada como um ponto de referência e atração de pessoas dentro da malha urbana da cidade. Tendo em vista a pequena oferta de espaços de lazer e culturais além das praças e museus que compõem o eixo histórico, busca-se a configuração de um sistema permeado por diferentes tipos de atividades, sejam elas culturais, educacionais, esportivas, ao ar livre ou dentro de edificações, para crianças, jovens, adultos ou idosos. Dessa forma, cada uma das áreas se transformará em um ponto de atividade atrativo para os indivíduos no espaço urbano. Essa configuração será uma maneira de proporcionar vitalidade para esses espaços em diferentes momentos do dia e ao longo da semana, além de favorecer trocas, vivências, permanências e encontros para todos os tipos de usuários da cidade.

Culturais: Existente Proposto

REDE PATRIMONIAL Edificações patrimoniais de uso público: Existente Propostos

REDE ESPORTIVA Equipamentos públicos esportivos: Existente Proposto

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CAPÍTULO 3 . GUARAÚ | DIRETRIZES PARA UM FUTURO SISTEMA DE ESPAÇOS LIVRES

REDE CULTURAL

REDE PATRIMONIAL

• Existente: equipamentos culturais • Existente: algumas das edificações tombadas são utilizadas para uso público concentrados no eixo histórico. e as demais, privadas, são em grande • Objetivo: ampliar a oferta de parte alugadas para fins comerciais ou estão abandonadas. equipamentos culturais em outras áreas da cidade. • Objetivo: promover a reutilização dos bens patrimoniais existentes com • Diretrizes propostas: novos usos que visem a garantir sua correta manutenção e valorização da história e memória associadas às implementação de novos equipamentos culturais que funcionem edificações. como pontos de atração dentro • Diretrizes propostas: do sistema de espaços livres e se estabeleçam como locais promotores de - promover a correta recuperação e atividades de encontro e vivência para a manutenção das edificações patrimoniais tombadas e que possuem uso público; população com conteúdo variado;

REDE ESPORTIVA • Existente: pequena quantidade de equipamentos esportivos que se encontram dispersos pelo território. • Objetivo: estabelecer novos locais públicos de práticas esportivas ao ar livre e em associação à presença da natureza. • Diretrizes propostas: - manutenção das quadras e espaços de lazer existentes no município. - construção de quadras poliesportivas, campos de futebol, academias ao ar livre e pistas de caminhada, skate e ciclovias ao longo do sistema de espaços livres.

- incentivar e fiscalizar a correta recuperação e manutenção das edificações tombadas privadas, garantindo que os usos dados sejam compatíveis às suas estruturas; - incentivar o aumento de edificações patrimoniais de uso público com a instalação de equipamentos educacionais e culturais do município. O uso deve ser compatível às instalações existentes e deve promover a correta manutenção do bem em questão, evitando qualquer tipo de degradação.

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LUGAR E MEMÓRIA | DO CÓRREGO GUARAÚ À FÁBRICA SÃO PEDRO EM ITU/SP

TRECHO I Região onde se localiza a nascente do córrego Guaraú-Brochado e que corresponde aos dois maiores espaços livres que compõem o sistema. Ao sul, devido à proximidade com a nascente é proposta a constituição de um parque urbano mais densamente arborizado, de forma a garantir a preservação da nascente e da área de APP. Ao norte é proposto um grande parque urbano também densamente arborizado, mas permeado por áreas de práticas de atividade física e de cultivo de alimentos que visam a favorecer o convívio entre os moradores.

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CAPÍTULO 3 . GUARAÚ | DIRETRIZES PARA UM FUTURO SISTEMA DE ESPAÇOS LIVRES

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Implementação de áreas de práticas de atividades físicas com quadras poliesportivas, academia ao ar livre, pistas de skate e playground infantil

>

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8

Área bosqueada com a presença de horta urbana e pomar

>

7

Adensamento da vegetação nas áreas em que o córrego adentra os bairros

>

6

>

5

Implementação de pista de caminhada e ciclovia

Naturalização do córrego em toda a sua extensão

>

4

Ruas verdes

>

3

> >

1

Área de preservação da nascente com recuperação e adensamento vegetal

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LUGAR E MEMÓRIA | DO CÓRREGO GUARAÚ À FÁBRICA SÃO PEDRO EM ITU/SP

TRECHO II Área localizada nas proximidades de vários equipamentos educacionais e com a presença de um centro de convivência de bairro e de duas bacias de retenção. Uma das áreas é esporadicamente utilizada para a instalação dos circos que vêm à cidade e uma das ruas recebe uma vez por semana uma feira livre. Destaca-se ainda, ao norte, a existência de uma antiga fábrica de tecidos tombada patrimônio histórico. Ao sul é proposta a transformação das bacias de retenção em lagoas de mitigação com o intuito de promover o contato direto da

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população com a água. Nas regiões centrais e norte são propostas implantações de quadras e espaços para práticas esportivas, áreas para a instalação do circo, realização das feiras livres e cultivo de alimentos. Com relação ao complexo fabril existente, é proposta a implementação de uma bibliotecaparque abrangendo salas de exposição, auditório, cinema, teatro, ateliers e restaurante. O estudo desse conjunto fabril é abordado no capítulo 4 e a proposta de intervenção é apresentada no capítulo 5.

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CAPÍTULO 3 . GUARAÚ | DIRETRIZES PARA UM FUTURO SISTEMA DE ESPAÇOS LIVRES

Pátios internos arborizados

Ruas compartilhadas

Implementação de teatro, cinema, espaço expositivo, auditório e ateliers

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Área para a instalação de circos, realização de feiras e eventos ao ar livre

Implementação de áreas para a prática de atividades físicas com quadras poliesportivas, academia ao ar livre, pistas de skate e playground infantil

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Área bosqueada com a presença de horta urbana e pomar

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Ruas verdes

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Lagoas de mitigação

Fábrica São Pedro: Reutilização da edificação para a implantação de uma b ib liote c a - p arqu e que funcione como polo educacional e cultural para toda a cidade

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Arborização ao longo de todo o córrego

Pista de caminhada e ciclovia

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Centro de lazer e de convivência do bairro

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Adensamento da vegetação nas áreas em que o córrego adentra os bairros

Naturalização do córrego em toda a sua extensão

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Lagoa de mitigação

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TRECHO III A região ao norte do mapa apresenta o maior fluxo de veículos dentro do sistema de espaços livres proposto, correspondendo ao entroncamento de diversas vias importantes da cidade. É a área de confluência dos córregos Guaraú-Brochado e Taboão e onde se localizam a antiga Estação Ferroviária e o Estádio Municipal Álvaro de Souza Lima. No centro do mapa se localiza a antiga Fiação Maria Cândida e ao sul há uma quadra poliesportiva e o Viveiro de Mudas Municipal. Para esse trecho são propostas a implementação de lagoas de mitigação ao longo

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do córrego Guaraú-Brochado e a construção de novas áreas para práticas esportivas como quadras poliesportivas e academias ao ar livre. Com relação às edificações patrimoniais existentes, são propostas as reutilizações dos edifícios da antiga Fiação Maria Cândida para implantação do Mercado Municipal devido à sua dimensão e facilidade de acesso e da Estação Ferroviária para abrigar um museu sobre a história da cidade que aborde a importância da ferrovia e dos córregos para seu desenvolvimento.

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CAPÍTULO 3 . GUARAÚ | DIRETRIZES PARA UM FUTURO SISTEMA DE ESPAÇOS LIVRES

Ruas Verdes Estádio existente Estação Ferroviária: Reutilização da edificação para a implantação de um museu que aborde as origens e a importância da água e da ferrovia para o crescimento da cidade. A proposta complementa o projeto já existente de retomada do funcionamento da ferrovia com o “Trem Republicano” unindo Itu a Salto

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Ruas compartilhadas

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Mudas

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Viveiro de Municipal

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Adensamento da vegetação nas áreas em que o córrego adentra os bairros Quadra poliesportiva existente

Arborização ao longo da Avenida Galileu Bicudo

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Lagoa de mitigação na confluência dos córregos GuaraúBrochado e Taboão

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Naturalização do córrego em toda a sua extensão Implementação ciclovias

Implementação de áreas para a prática de atividades físicas com quadras poliesportivas, academia ao ar livre, pistas de skate e playground infantil.

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Fiação Maria Cândida: Reutilização da edificação para a realocação do Mercado Municipal, atualmente localizado no interior do centro histórico em um edifício pequeno e de difícil acesso. A antiga fiação possui dimensão compatível ao uso proposto, facilidade de acesso para os produtos e proximidade com o centro histórico Lagoa de mitigação 57



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SÃO PEDRO

UMA FÁBRICA DE MEMÓRIAS


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FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A restauração é ato crítico que, alicerçado no reconhecimento da obra e de seu transformar no decorrer do tempo, insere-se no tempo presente – jamais se colocando em qualquer uma das fases por que passou a obra, muito menos no momento de sua criação –, em que se intervém em obras do passado, de maneira criteriosa, com vistas à sua transmissão para as próximas gerações, mantendo sempre, portanto, o futuro no horizonte de suas reflexões. É ato de respeito pelo passado, interpretado no presente e voltado para o futuro, para que os bens culturais possam continuar a ser efetivos e fidedignos suportes da memória coletiva. (KHUL, 2010, p.04)

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Considerando-se o interesse em se trabalhar com uma edificação de caráter histórico patrimonial, cabe aqui uma breve reflexão a respeito dos modos de intervenção em monumentos históricos ao longo do tempo. Essa fundamentação teórica tem como objetivo contextualizar as práticas vigentes, além de demonstrar qual será o posicionamento da autora em relação à proposta de intervenção na antiga companhia de Fiação e Tecelagem São Pedro em Itu/ SP, que será abordada no próximo capítulo.

EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE RESTAURO Os modos de intervenção em bens patrimoniais são um debate que passou por diversas fases com visões muitas vezes opostas. Correspondeu a um processo lento de reflexão acerca do tema até o restauro se estabelecer como um campo disciplinar autônomo. No século XIX existiam duas vertentes principais da restauração. A


CAPÍTULO 4 . SÃO PEDRO | UMA FÁBRICA DE MEMÓRIAS

primeira, de caráter mais conservativo e que teve como principal autor John Ruskin, defendia o respeito absoluto pela matéria original, priorizando a manutenção e conservação das marcas da passagem do tempo nas obras. A segunda vertente, cujo principal representante foi o francês Eugène Viollet-le-Duc, acreditava no refazimento da obra seguindo seu estilo como forma de atingir um suposto estado original do bem. No final do século XIX, todavia, com o autor Camilo Boito se passou a dar maior ênfase ao valor documental da obra, respeitando as várias fases às quais foi submetida. Dessa forma, deveria ocorrer uma ruptura entre passado e presente, tendo em vista que o momento de intervenção em uma obra era distinto daquele de sua criação. Na passagem do século XIX para o XX, o autor Alois Riegl forneceu novas contribuições para o debate. Para ele, a preservação deveria basearse no respeito ao valor “de antigo” dos monumentos, correspondendo aos próprios traços de antiguidade adquiridos ao longo do tempo. No século XX, afirmou-se a ênfase dada ao valor documental da obra por meio da atuação de diversos profissionais, com destaque para Gustavo Giovannoni,

cuja postura foi consolidada em âmbito internacional em 1931 na Carta de Atenas. Com as destruições ocorridas na Segunda Guerra Mundial, novas propostas foram pensadas e se conduziu internacionalmente a proposição da Carta de Veneza em 1964, referência fundamental do ICOMOS, entidade da Unesco. A Carta de Veneza no seu artigo 1º define a noção de monumento histórico. É assim considerado não apenas a criação arquitetônica isolada como também o local onde ela se encontra. O monumento histórico passa a dizer respeito não somente às grandes criações, mas a todas aquelas que tenham adquirido ao longo do tempo uma significação cultural. A carta tem como finalidade a busca da conservação e restauração dos monumentos, visando à preservação tanto da obra propriamente dita quanto do seu testemunho histórico. Dessa forma, ao se lidar com o patrimônio, estabelecese uma relação entre presente, passado e futuro a favor da manutenção da memória coletiva.

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RESTAURO CRÍTICO Das reflexões sobre o restauro ocorridas a partir de 1930, destacase o pensamento de Cesare Brandi. O restauro crítico, ao qual Brandi era filiado, entendia a restauração como um processo histórico-crítico, que se processava a partir da análise histórica e formal das obras nas quais se pretendia intervir. Segundo Kuhl (2004), Brandi definia a restauração como o “momento metodológico do reconhecimento” que devia se pautar na análise da obra em seus aspectos físicos e em sua transformação ao longo do tempo. Nessa perspectiva, as proposições de conservação e restauro deviam ser interpretadas caso a caso, não seguindo categorias fixas. Segundo consta na Carta de Veneza e também na teoria brandiana, para conservar e revelar os valores estéticos e históricos do monumento, sem apagar as marcas adquiridas ao longo do tempo, a restauração deve seguir princípios fundamentais como a reversibilidade, distinguibilidade, compatibilidade e mínima intervenção. A vertente teórica que se alicerça na teoria brandiana e na releitura da Carta de Veneza é denominada “crítica 62

conservativa e criativa”. Nela a restauração assume uma linha conservativa ao propor, quando necessário, o uso de recursos para tratar questões de remoção, adição e reintegração de lacunas. A leitura histórica – crítica considera a particularidade de cada obra e também trabalha com a ideia de inovação. A criação, por sua vez, é vista nessa linha teórica como uma adição à obra sem significar imitações, mas liberdade expressiva respeitosa à arquitetura precedente. Outro ponto importante é que a proposta de restauração não se apoia apenas na pesquisa históricodocumental e bibliográfica do bem em questão, mas também a partir do entendimento das mudanças físicas da obra por meio de levantamentos e diagnósticos de seu estado atual de conservação, pois o conhecimento aprofundado deve conduzir à compreensão e ao respeito pela obra, propiciando sua transmissão para as gerações futuras: Não se trata de conservar de forma acrítica tudo do modo em que se encontra. Trata-se de judiciosa identificação de quais elementos caracterizadores que devem ser preservados e de que forma intervir


CAPÍTULO 4 . SÃO PEDRO | UMA FÁBRICA DE MEMÓRIAS

e modificar para que esses valores possam ser transmitidos ao futuro. Isso pode exigir, e quase sempre exige, inovações. Feita a análise, deve-se determinar quais devem ser as ações conservativas e quais podem ser as eventuais intervenções “não-conservativas” (...). (KUHL, 2008, p.151)

PATRIMÔNIO INDUSTRIAL O interesse pela preservação do patrimônio industrial é relativamente recente e se insere no contexto da ampliação do conceito de bem cultural. O patrimônio industrial, dentro dos variados tipos de bens culturais, apresenta uma valiosa singularidade. Os conjuntos industriais normalmente organizam-se em espécies de citadelas, encerrados em si mesmos. As dimensões consideráveis desses conjuntos, comumente localizados em antigas áreas periféricas, conferemlhes na atualidade grande presença no tecido urbano das cidades. O principal documento a abordar o tema é a Carta de Nizhny Tagil de 2003, que traz as definições de patrimônio industrial e de arqueologia industrial:

O património industrial compreende os vestígios da cultura industrial que possuem valor histórico, tecnológico, social, arquitetônico ou científico. (...) A arqueologia industrial é um método interdisciplinar que estuda todos os vestígios, materiais e imateriais, (...) e as paisagens naturais e urbanas, criadas para ou por processos industriais. A arqueologia industrial utiliza os métodos de investigação mais adequados para aumentar a compreensão do passado e do presente industrial. (Carta de Nizhny Tagil, 2003, p.03) A proposta de intervenção do presente trabalho leva em consideração a pertinência da discussão do tema do restauro aplicado a edificações de caráter industrial. A opção pela proposição de uma intervenção na antiga Companhia de Fiação e Tecelagem São Pedro tem como objetivo reconhecer e valorizar sua importância histórica e de composição da paisagem urbana da cidade de Itu/ SP.

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COMPANHIA DE FIAÇÃO E TECELAGEM SÃO PEDRO INDUSTRIALIZAÇÃO O processo de industrialização no Brasil ocorreu de forma lenta e tardia. A condição de exploração durante o período colonial fez com que o país conservasse, mesmo após a independência, suas raízes tipicamente agrárias. No contexto ituano, a implantação das primeiras indústrias ocorreu no final do século XIX e início do século XX. Nesse período Itu era uma das mais antigas e influentes vilas do estado, contando com grandes plantações de cana de açúcar, que aos poucos foram substituídas pelo café e o algodão. Com o aumento da atividade algodoeira e dos excedentes gerados pela sua produção, as condições para instalação de uma tecelagem na cidade se tornaram cada vez mais favoráveis. Como apontado por Ajonas (2009, p.34), essas primeiras indústrias possuíam uma extrema dependência 64

dos recursos naturais, o que explica a importância dada à escolha do terreno para sua implantação. Comumente eram estabelecidas nas proximidades dos corpos d’água, o que justifica no caso ituano a implantação das novas fábricas movidas a vapor nas proximidades do Córrego Guaraú-Brochado. Esse foi o caso da Fábrica de Fiação e Tecelagem São Luiz inaugurada em 1869, uma das primeiras fábricas de tecidos a vapor do estado, e da Companhia de Fiação e Tecelagem São Pedro inaugurada em 1910, a maior fábrica de tecidos da cidade, contando, inclusive, com a construção de uma usina hidrelétrica própria. As implantações dessas primeiras fábricas foram fundamentais para o desenvolvimento da cidade ao gerar impostos para o município e empregos para grande parte da população.

Fig. 18 - Fábricas do Centro Histórico nos anos 70 : A esquerda a fábrica São Luiz, a direita a fiação Maria Cândida e ao fundo a fábrica São Pedro

FÁBRICA SÃO LUIZ E A FERROVIA A primeira fábrica da cidade foi construída nas terras que anteriormente

Fig. 19 - Fábrica São Luiz


CAPÍTULO 4 . SÃO PEDRO | UMA FÁBRICA DE MEMÓRIAS

pertenciam aos frades franciscanos, entre a Rua Direita (atual Paula Souza) e o Largo de São Francisco (hoje Praça D. Pedro I). A Fábrica de Tecidos São Luiz foi fundada em 1869 por um grupo de investidores formado pelo coronel Luiz Antonio Anhaia, Antonio Paes de Barros – barão de Piracicaba -, Ângelo Custódio de Moraes, José Manuel de Mesquita e Antonio Carlos de Camargo Teixeira. Sua produção teve início com apenas 24 teares e 1.000 fusos, sendo posteriormente ampliada com o projeto do engenheiro Artur Sterry, da Companhia de Estradas de Ferro. Suas máquinas vieram dos Estados Unidos e o complexo de caldeiras era originário da Inglaterra. A necessidade de um meio eficiente de escoamento da produção da região fez com que os proprietários da fábrica auxiliassem na instalação da Companhia Ytuana de Estrada de Ferro e Navegação, inaugurada em 17 de abril de 1873. Além das inúmeras facilidades que trouxe para o cenário econômico da cidade, a vinda da ferrovia foi responsável por uma importante transformação urbana à medida em que ampliou a área de ocupação da cidade e impulsionou seu desenvolvimento e crescimento industrial.

CÓDIGO DE POSTURAS INCENTIVO FISCAL

E

Entre 1907 e 1908 a Câmara Municipal de Itu votou e aprovou o novo Código de Postura Municipal, o qual tinha como premissas a reordenação das atividades econômicas e sociais, a organização dos espaços públicos, o controle de aberturas de novos empreendimentos, a cobrança de impostos e a regularização do trabalho de ambulantes. Além disso, o novo código também estendia suas preocupações às diretrizes urbanas, determinando novos alinhamentos e dimensões para ruas e praças. O novo código foi redigido no momento em que a falta de infraestrutura urbana, como sistemas de canalização, esgoto e abastecimento de água, se configurava como obstáculo ao crescimento urbano e industrial da cidade. Visando a atrair novas indústrias para o município, o Código de Postura Municipal propunha em seu título V, capítulo III, artigo 296 que: Todo aquele que de agora em diante nesta cidade construir ou criar estabelecimentos industriais 65


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de grande escala, tais como fábricas de tecidos de mais de 50 teares, nos quais sejam ocupados mais de 100 operários, a câmara fornecerá gratuitamente, dentre os terrenos municipais, os que forem suficientes e adaptáveis para tal fim e o estabelecimento ficará isento de respectivo imposto durante dois anos, a contar da data do seu funcionamento. Parágrafo único: sendo concedido todos os terrenos municipais disponíveis, os novos estabelecimentos gozarão do abatimento de 50% no respectivo importo durante o prazo de 5 anos. (Código de Posturas da Câmara Municipal de Ytu, 1907/1908) Diante do sucesso da Fábrica São Luiz, da inauguração da Companhia Ytuana de Estradas de Ferro e das disposições do novo Código de Posturas do município, o momento era oportuno para a construção de mais uma fábrica têxtil na cidade. Dessa forma foi fundada a Companhia de Fiação e Tecelagem São Pedro, que teve como maiores acionistas Augusto de Oliveira Camargo e Pedro de Paula Leite de Barros.

HISTÓRIA A companhia de Fiação e Tecelagem São Pedro foi fundada em 19 de outubro de 1910 em um terreno localizado na então periferia da cidade, ao lado do córrego Guaraú-Brochado, no Bairro Alto. Sua construção foi dirigida pelo mestre construtor de origem francesa Louis Marins Amirat (1845 – 1918). A Companhia adotou o que havia de mais moderno na Europa, trazendo para o Brasil máquinas avançadas e técnicos europeus para orientar a produção e treinar a mão de obra local. O maquinário da marca inglesa Schill & Company foi adquirido junto à importadora Casa Érica, pelo valor de 15.300 libras esterlinas. Por exigência da seguradora, foi feita uma alteração no projeto original de distribuição do maquinário, separando as máquinas de fiação das de tecelagem. Em 1911 foi construída uma hidroelétrica própria para a produção de energia para a fábrica. A usina, contendo turbinas importadas da Europa, foi instalada no rio Tetê, na atual Rodovia dos Romeiros. Com elevada capacidade produtiva, fornecia energia elétrica não apenas para a indústria como também para o município de Cabreúva, para as Fig. 20 - Usina Hidroelétrica

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CAPÍTULO 4 . SÃO PEDRO | UMA FÁBRICA DE MEMÓRIAS

fazendas da região e, posteriormente, para as casas da vila operária construída pela Companhia. Em 1912, a Fábrica São Pedro deu início às suas atividades funcionando com 150 teares e 200 operários. Ao longo das duas primeiras décadas de funcionamento, a empresa contratou cerca de 1.000 novos empregados especialmente em decorrência do rápido crescimento do mercado consumidor local e regional. Pelo mesmo motivo, em 1924 foi construído em outro edifício: a Fiação Maria Cândida, cujo nome homenageava a esposa do proprietário, Pedro de Paula Leite de Barros, e que se destinava exclusivamente à preparação dos fios que seriam utilizados na Fábrica São Pedro. Em 1925 iniciou-se a construção da vila operária com aproximadamente 100 casas de padrões arquitetônicos simples e que foram construídas com isenção de impostos oferecida pela Câmara Municipal de Itu. Moldou-se dessa forma uma estrutura urbanística ao redor da indústria para dar suporte a famílias inteiras que deixavam a área rural para trabalhar na fábrica. Em 1944 a fábrica foi vendida para um grupo de industriais: os sócios Dr. Vicenzo Inglese, Renato Marelli e Comendador Venerando Guelpa. Após

algum tempo, o italiano Inglese assumiu sozinho a direção da empresa, contando naquele período com o apoio de seus filhos Dário e Juliet e do genro Mássimo Tommasini. Ao final da década de 1940 foi criada uma cooperativa para os funcionários que vendia produtos de primeira necessidade a preços subsidiados. Foram construídas também uma escola e uma creche para os filhos dos funcionários, que naquela época somavam quase 2.000 empregados. Posteriormente construiu-se também um clube recreativo, o Clube São Pedro, que contava com teatro e biblioteca, e também um consultório dentário no edifício ao lado. Ambos os equipamentos eram destinados exclusivamente ao atendimento de funcionários e seus familiares. Na década de 1950, passouse a priorizar a modernização dos equipamentos, uma vez que a dinâmica econômica não permitia obsolescências ou estagnações na política de marketing. A tecelagem seguiu em desenvolvimento constante até meados da década de 1960, quando começou a sofrer com a ação da concorrência e foi gradativamente diminuindo suas atividades até pedir concordata. Na década de 1970 tomou-se uma 67


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nova postura frente às pressões do mercado internacional. Com o objetivo de diversificar sua linha de produção, foi implantada uma nova divisão da confecção. Teve início a produção do tecido “Denin Indigo Blue”, que culminou na criação da marca Jeans Harley, conhecida na época em todo o país. Apesar da iniciativa bem-sucedida e mesmo com a modernização dos equipamentos e a compra de novas máquinas e teares, ao final da mesma década a fábrica já havia reduzido seu quadro de funcionários para 600 pessoas. Em 1977, as máquinas movidas a óleo combustível foram substituídas com o início do funcionamento da caldeira elétrica. Para alavancar as vendas da marca Jeans Harley, foi aberta em São Paulo uma loja especializada além da loja de fábrica já existente em Itu. Na metade dos anos de 1980 a Companhia começou a passar por graves dificuldades financeiras, com problemas relacionados a pagamentos atrasados, processos trabalhistas e cíveis, além de incompatibilidade entre sua produção e as exigências do mercado com o avanço tecnológico da industrialização. Esses problemas levaram ao encerramento de suas atividades em 1990. Fechava as portas a indústria têxtil que mais empregou na cidade de Itu. 68

A

Aprovação do Novo Código de Postura Municipal prevendo isenção de impostos para novas fábricas

Intalação da Usina Hidrelétrica São Pedro no Rio Tiête com turbinas importadas da Europa

1908

1911 1910

E

Fundação da Companhia de Fiação e Tecelagem São Pedro ao lado do Córrego Guaraú

C B D

EDIFICAÇÕES DA COMPANHIA Atual Centro Histórico Fábrica São Pedro Edificações Pertencentes à Fábrica :

Fig. 21 - Fábrica São Pedro por volta da década de 1930

A - Fiação Maria Cândida B - Vila Operária C - Casa dos Engenheiros D - Clube Recreativo e Dentista E - Cooperativa dos funcionários

Fig. 25 - Fábrica São Pedro vista da rua Padre Bartolomeu Tadei


CAPÍTULO 4 . SÃO PEDRO | UMA FÁBRICA DE MEMÓRIAS Fundação da Fiação Maria Cândida como uma extenção da Fábrica São Pedro

Venda da Fábrica para um grupo de Industriais

Modernização dos equipamentos

Início da confecção do Jeans Harley

Encerramento das atividades

1924

1944

1950

1970

1990

1912

1925

1945|49

1960

1985

Início das atividades da Fábrica

Construção da Vila Operária

Construção da creche, do clube recreativo e do consultório dentário para os funcionários

Pedido de concordata

Construção da creche, do clube recreativo e do consultório dentário para os funcionários

Fig. 22 - Fábrica São Pedro

Fig. 23 - Rua Interna da fábrica

Fig. 24 - Antiga casa dos engenheiros

Fig. 26 - Carregamento de calças jeans exportadas para a Itália

Fig. 27 - Fiação Maria Cândida

Fig. 28 - Clube Recreativo dos operários ,atualmente abandonado

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ÉPOCA DAS CONSTRUÇÕES Ao longo de seus mais de 70 anos de funcionamento a estrutura física da fábrica teve sua composição original modificada diversas vezes em busca de modernização e ampliação da sua capacidade produtiva. Originalmente a indústria era formada apenas por um galpão onde ficava a tecelagem, localizado ao lado da linha férrea. Esse galpão sofreu poucas alterações, tendo ainda hoje as características próximas ao seu estado original. Possui paredes em alvenaria de tijolos argamassada e com estrutura do telhado e tesouras em madeira recoberta por telhas francesas. O piso é de concreto queimado e suas janelas de ferro. A primeira ampliação foi realizada em 1920 com a construção de um novo galpão para abrigar o setor de manutenção e carpintaria, utilizando a mesma tipologia da construção anterior. Na década de 1930, a terceira ampliação abrangeu a edificação de três novos blocos para comportar a expansão da atividade produtiva da fábrica com os setores de confecção e expedição. Esse conjunto sofreu uma série de intervenções posteriores e atualmente parte 70

5 15 30 de seu telhado se encontra em estado completo de ruína. A quarta fase de 1945 a 1947 compreendeu os blocos de escritórios e creche para os filhos dos funcionários e a ampliação do primeiro galpão da tecelagem em direção à Rua Graciano Geribelo. Apesar de possuíram características comuns aos outros períodos, tais como as paredes em alvenaria de tijolos recoberta com argamassa e o piso de cimento, nesses trechos as estruturas dos telhados são mistas e a cobertura é feita parcialmente em telhas de barro e telhas de fibrocimento. Além disso, a própria fachada se diferencia bastante das anteriores, mantendo um PL ANTA NÍVEL 1 estilo próprio. A quinta e última grande intervenção ocorreu a partir da década de 1950 e correspondeu à implantação de mais seis blocos pequenos além de uma caixa d’água. São construções em alvenaria de tijolos recobertas com argamassa em sua maioria, com estrutura do telhado em tesouras de madeira e cobertura em telhas cerâmicas e de fibrocimento. Quanto às fachadas, esses blocos diferem significativamente do restante do conjunto.

ÉPOCA DAS CONSTRUÇÕES 1910

1945 - 1947

1920

Déc. 50

Déc. 30

PL ANTA NÍVEL 2


CAPÍTULO 4 . SÃO PEDRO | UMA FÁBRICA DE MEMÓRIAS 5

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PROCESSO PRODUTIVO

13 11 12

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9 10

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5 PL ANTA NÍVEL 1

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8

6

4

1

Os sacos de algodão que chegavam à Fábrica São Pedro passavam por um primeiro controle de qualidade ainda na portaria (1) para somente depois serem entregues ao galpão de depósito de fios (2). Os fardos, fios e pano eram ali depositados para posteriormente serem preparados (3) e levados ao setor de tecelagem (4). Os tecidos em seguida eram levados à tinturaria (5) para receberem os últimos tratamentos. Depois de tingidos os tecidos eram levados para a última fase do ciclo de produção. Seguindo a linha contínua dos edifícios, o produto era cortado (6) e depois levado para a confecção (7), que seguia as orientações do setor de modelagem (8). Em seguida era levado para a sala de acabamento (9). Os produtos prontos eram lavados (10), passados (11) e embalados (12). Alguns permaneciam na loja da fábrica (13) e a maioria era levada até o setor de expedição (14), de onde deixavam o local para serem comercializados (15).

PL ANTA NÍVEL 2

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Fig. 29 - Fiação (seção de cardas e passadeiras)

Fig. 30 - Seção de preparação de fios

Fig. 31 -Seção de preparação de Fios

Fig. 32 - Fiadeiras

Fig. 33 - Vista nterna da tecelagem

Fig. 34 - Vista interna da fiação

Fig. 35 - Seção de tinturaria

Fig. 36 - Seção de urdideiras

Fig. 37 - Sala dos Batedores de Algodão

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CAPÍTULO 4 . SÃO PEDRO | UMA FÁBRICA DE MEMÓRIAS

Fig. 38 - Estoque de algodão

Fig. 39 -Estoque de algodão

Fig. 40 - Beneficiamento de algodão

Fig.i. 41 - Estoque de tecidos

Fig. 42 - Caldeira de vapor elétrica de 1500 K. V. A .

Fig. 43 - Sala de enfardagem e expedição de tecidos

Fig. 44 -Embarque dos tecidos produzidos na fábrica

Fig. 45 -Vista da sala de controle da usina hidroelétrica

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LUGAR E MEMÓRIA | DO CÓRREGO GUARAÚ À FÁBRICA SÃO PEDRO EM ITU/SP

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Tendo em vista a fundamentação teórica apresentada sobre o tema do restauro, optou-se por seguir as disposições da Carta de Veneza, além dos princípios do Restauro Crítico em sua vertente “crítica conservativa e criativa”. Segundo essas visões, a proposta de restauração de uma obra arquitetônica deve ser fundamentada através de cuidadosa pesquisa históricodocumental, iconográfica e bibliográfica, minucioso levantamento métrico, arquitetônico e fotográfico dos edifícios, exame das técnicas construtivas, dos materiais, de sua estrutura e das patologias e análise tipológica e formal. Sendo assim, realizaram-se diversas pesquisas documentais e iconográficas que contribuíram para o entendimento do conjunto que compõe a antiga Companhia de Fiação e Tecelagem São Pedro. Fizeram-se visitas a campo para a documentação gráfica e fotográfica e realização de medições que auxiliaram na avaliação da atual situação das edificações, além de permitirem a construção de uma maquete eletrônica

L

ENTENDIMENTO DO CONJUNTO

detalhada do conjunto. Há a consciência de que qualquer intervenção implica em mudanças, sendo fundamental que a proposta de intervenção seja consequência de um processo de análise histórico–crítica fundamentado. Dessa forma, propõese na sequência um estudo detalhado das dependências do complexo fabril, tanto em sua dimensão urbana quanto arquitetônica.

MOBILIDADE Ciclovia Linhas de Ônibus Pontos de Ônibus Fábrica São Pedro


CAPÍTULO 4 . SÃO PEDRO | UMA FÁBRICA DE MEMÓRIAS

SITUAÇÃO URBANA

EQUIPAMENTOS

ÁREAS VERDES

Escolas Públicas

APP

Escolas Particulares

Sistema de Recreio

Equipamentos de Saúde

Córrego Guaraú

Equipamentos Culturais

Centro HIstórico

Fábrica São Pedro

Fábrica São Pedro

A área que compreende o conjunto fabril encontra-se delimitada pela Avenida Galileu Bicudo, Rua Padre Bartolomeu Tadei e Rua Doutor Graciano Geribelo. As duas últimas são ruas de caráter local com tráfego moderado de carros e ônibus, porém a Avenida Galileu Bicudo, implementada apenas em 2010 no local onde até os anos 1990 passava a estrada de ferro da Companhia Ytuana, é caracterizada como uma avenida perimetral que compõe o anel viário da cidade, sendo uma das mais movimentadas. Aos domingos, seguindo o programa “Vida em Movimento” da prefeitura do município, ela permanece fechada para os carros dando lugar aos ciclistas e pedestres. O intuito do programa é transformar a avenida em um local de práticas esportivas e convívio familiar. O entorno imediato da Fábrica São Pedro é cortado pelo Córrego GuaraúBrochado e sua área de APP. Destaca-se ainda a existência de uma grande área pertencente ao Sistema de Recreio da cidade que é destinada ao Viveiro de Mudas Municipal.

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LUGAR E MEMÓRIA | DO CÓRREGO GUARAÚ À FÁBRICA SÃO PEDRO EM ITU/SP

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A vila operária foi construída em 1925 e contava com cerca de 100 residências. Atualmente é formada por um total de 35 moradias distribuídas ao longo de duas quadras no terreno acidentado das ruas Graciano Geribelo, José Santoro, e Gustavo de Paula Leite. Foram construídas em alvenaria de tijolos portantes revestidos por argamassa. O telhado de duas águas é estruturado em madeira e coberto por telhas francesas. Suas fachadas são simples e não possuem ornamentação, destacando-se apenas as pilastras que demarcam a estrutura. As portas de duas folhas e as janelas de tipo guilhotina eram originalmente de madeira. Quanto à tipologia, apesar de muito semelhantes, é possível distinguir dois tipos de construções conforme suas características de implantação no lote: as casas de meio de quadra e as casas de esquina. Ambas não possuem recuos frontais, têm um amplo quintal que ocupa parte significativa do lote e possuem planta simples, com dois dormitórios, banheiro, cozinha, sala e uma fossa séptica ao fundo do lote. Quanto à fachada, as casas possuem

L

VILA OPERÁRIA

duas tipologias distintas: uma apresenta a fachada com dois vãos, sendo uma porta e uma janela, e outra com três vãos, sendo duas janelas e uma porta. Sobre seu atual estado de conservação, a maioria das casas do conjunto está alugada para uso habitacional e sofreu modificações significativas, tanto interna quanto externamente, para atender as necessidades dos atuais moradores. Apesar da falta de manutenção, o conjunto continua sendo visualmente legível por ser bastante distinto das demais construções existentes nas proximidades.


CAPÍTULO 4 . SÃO PEDRO | UMA FÁBRICA DE MEMÓRIAS

CIDADE E FÁBRICA

A

B

O complexo fabril é caracterizado por seu quase completo isolamento em relação ao restante da malha urbana. Em uma das laterais faz divisa com os fundos de lote da vila operária e nas outras três permanece completamente fechado por muros e pelos próprios blocos que o compõem. 15

30

B

>

5

>

A

>

C C

D

> E Fonte: fotos da autora

F

F

>

>

D

E 77


10

20

40

RUAINTERNA INTERNA EEPÁTIOS RUA PÁTIOS PA

TO L

O

U ME

TA D

8

C

> A

>

>12

7

6

> >

5

C

2

>

>

11

9

EI

>

10

1

13

>

B

B

B

3

C

>

15

16

> 4

A

F

78

IMPLANTAÇÃO

E

RUA D R. GR AC IA N O GERI BELO

D

AV EN ID A GA LI LEU BI CU D O

>

>

14

>

Como citado anteriormente, a fábrica encontra-se completamente fechada para o seu exterior, possuindo apenas dois acessos que conformam no interior do complexo uma espécie de rua interna que conecta a esquina entre a Avenida Galileu Bicudo e a Rua Graciano Geribelo à Rua Bartolomeu Tadei. No interior do complexo existem três pátios internos com características distintas. O primeiro (A) é caracterizado por ser o espaço mais amplo e recortado por quatro canteiros. Apesar da existência de árvores de porte considerável, não é totalmente sombreado. O segundo pátio (B) é caracterizado pela ausência de vegetação e é fragmentado em dois trechos. Já o terceiro (C) é o único em terreno inclinado e possui maior presença vegetal, sendo completamente sombreado.

R UA

AR EB DR

D

E

>

1

>

LUGAR E MEMÓRIA | DO CÓRREGO GUARAÚ À FÁBRICA SÃO PEDRO EM ITU/SP F


CAPÍTULO 4 . SÃO PEDRO | UMA FÁBRICA DE MEMÓRIAS

Rua Interna

1

2

3

4

Pátio A

5

6

7

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Pátio B

9

10

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Pátio C

13

14

15

16 79


LUGAR E MEMÓRIA | DO CÓRREGO GUARAÚ À FÁBRICA SÃO PEDRO EM ITU/SP F

1

PL

PLANTAS E CORTES

80

20

R UA

PA

A EB DR

39

D

E

40

LO R TO

U ME

TA D

EI 0,00

35

34

33

C 42 43

41

40

30

29

32

37 36

0,00

31

-3,00

28

0,00

C

38

44

0,00

0,00

1

27

2

3

26

4 25 7

B 57

24 23 22

0,00

5

21

6

14

8

13 12

0,00

15 11

10

16 A 17

0,00

9

18

A

19 20

F

PLANTA NÍVEL 1

E

RUA D R. GR AC IA N O GERI BELO

B

D

AV EN ID A GA LI LEU BI CU D O

1 - CORTE 2 - DEPÓSITO DE FIOS 3 - DEPÓSITO DE SUCATA 4 - DEPÓSITO 5 - PREPARAÇÃO DE FIOS 6 - TECEL AGEM 7 - ESCRITÓRIOS E ARQUIVO MORTO 8 - SAL A DE PANOS 9 - DEPÓSITO DE PANO ACABADO 10 - SANFORIZADEIRA 11 - ACABAMENTO DE TECIDO 12 - ENGOMADOR 13 - FL ANEL A 14 - RESÍDUO 15 - DEPÓSITOS 16 - ALMOXARIFADO TINTURARIA 17 - TINTURARIA TECIDOS E FIOS 18 - DEPÓSITO DE PANO CRU 19 - PREPARAÇÃO DE LOTE TECIDO 20 - PORTARIA 21 - CRECHE, L AVANDERIA, COPA E COZINHA 22 - AMBUL ATÓRIO 23 - DIRETOR ADMINISTRATIVO 24 - DIRETOR PRESIDENTE 25 - ESCRITÓRIO 26 - CENTRO DE PROCESSAMENTO DE DADOS 27 - SEÇÃO PESSOAL, GERENTES DE REL AÇÕES HUMANAS, INDUSTRIAL, COMPRAS, CUSTOS E ORÇAMENTOS

10


1

F

10

20

40

R UA

PA

D

E

AR EB DR

TO L

OM

TA D EU

EI

C

45

46

+2,00

B

58

+4,00

48

56

55

+4,00

54

49

53

51

+5,00

50

A

F

PLANTA NÍVEL 2

+6,15

28 - ALMOXARIFADO 29 - MANUTENÇÃO MECÂNICA 30 - CARPINTARIA 31 - DEPÓSITO DE MÓVEIS 32 - MARCENARIA 33 - MANUTENÇÃO ELÉTRICA C 34 - REFEITÓRIO 35 - GARAGEM 36 - EXPEDIÇÃO 37 - LOJA 38 - DEPÓSITO 39 - GERENDE DE VENDAS, EXPORTAÇÃO, SAL A DE REUNIÃO, CUSTOS 40 - EXPEDIÇÃO 41 - EMBAL AGEM 42 - PASSAMENTO B 43 - LIMPEZA 44 - L AVANDERIA 45 - ACABAMENTO 46 - RECEBIMENTO, FACÇÃO 47 - CONFECÇÃO LINHAS “A” E “B” 48 - CORTE E ALMOXARIFADO CONFECÇÃO 49 - CAIXA D’ÁGUA 1.000.000L 50 - GARAGEM 51 - CABINE DE FORÇA 52 - TANQUE NaOH 53 - CALDEIRAS 54 - OFICINA CONFECÇÃO A 55 - MANUTENÇÃO CIVIL 56 - TANQUE DE ÓLEO COMBUSTÍVEL 57 - VESTIÁRIOS 58 -CONFECÇÃO LINHA “C”, MODEL AGEM, AMOSTRA E BORDADO

AV EN ID A GA LI LEU BI CU D O

47

CAPÍTULO 4 . SÃO PEDRO | UMA FÁBRICA DE MEMÓRIAS

52

E

RUA D R. GR AC IA N O GERI BELO

D

81


LUGAR E MEMÓRIA | DO CÓRREGO GUARAÚ À FÁBRICA SÃO PEDRO EM ITU/SP

82

1

5

10

1

5

10

1

5

10


CAPÍTULO 4 . SÃO PEDRO | UMA FÁBRICA DE MEMÓRIAS

CORTE AA

CORTE BB

CORTE CC 83


LUGAR E MEMÓRIA | DO CÓRREGO GUARAÚ À FÁBRICA SÃO PEDRO EM ITU/SP

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1

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CAPÍTULO 4 . SÃO PEDRO | UMA FÁBRICA DE MEMÓRIAS

CORTE DD

CORTE EE

CORTE FF 85


LUGAR E MEMÓRIA | DO CÓRREGO GUARAÚ À FÁBRICA SÃO PEDRO EM ITU/SP

MATERIALIDADE

Piso de paralelepípedo

5

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30

PL ANTA NÍVEL 1 5

15

5

15

30

PL ANTA NÍVEL 2

30

PISOS Grama Paralelepípedo Cimento Queimado

COBERTURAS Telhas cerâmicas produzidas na França Telhas cerâmicas produzidas em Itu Telhas cerâmicas produzidas em Marseille, França

86

IMPL ANTAÇÃO

Telhas de fibrocimento


CAPÍTULO 4 . SÃO PEDRO | UMA FÁBRICA DE MEMÓRIAS 5

15

30

BLOCOS

PL ANTA NÍVEL 1

O conjunto localiza-se em um terreno de aproximadamente 24.000m² e possui cerca de 15.100 m² de área construída. É formado por 11 blocos que apresentam características próprias da arquitetura fabril do período em que foram construídos apesar de pontuais descaracterizações decorrentes de reformas, ampliações e adequações a novos usos. Na sequência serão apresentadas análises pontuais de cada um dos blocos que compõem o complexo fabril.

LEGENDA Bloco 1

PL ANTA NÍVEL 2

Bloco 2

Bloco 7

Bloco 3

Bloco 8

Bloco 4

Bloco 9

Bloco 5

Bloco 10

Bloco 6

Bloco 11

87


BLOCO 1 ANO DE CONSTRUÇÃO: 1910 e 1945-1947; ÁREA: 9.000 m²; USO ORIGINAL: Fiação, tecelagem, depósito, corte, preparação dos fios, almoxarifado, resíduo, flanela, preparação dos rolos, tinturaria e rama; PÉ-DIREITO: 8m; COBERTURA: Tesouras em madeira cobertas por telhas cerâmicas de origem francesa e aberturas envidraçadas tipo shed; partes com forro em madeira; ESTRUTURA: Madeira; ESQUADRIAS: Ferro com arco superior; ACABAMENTO: Reboco pintado; CARACTERIZAÇÃO: Corresponde ao bloco com a maior área livre do conjunto. Sua extensão é pontuada por uma série de pilares que em conjunto com as tesouras aparentes do telhado conferem aos espaços um elevado valor arquitetônico, além de uma ótima iluminação natural por conta da estrutura em shed do telhado; USO ATUAL: Academia de ginástica, depósito de equipamentos e antiquário. Os demais espaços estão sem uso e em situação de abandono; ESTADO DE CONSERVAÇÃO: A área utilizada pela academia encontra-se relativamente bem conservada apesar de ter sofrido descaracterizações como abertura e fechamento de vãos, além de pintura e retirada do forro de madeira. As demais áreas encontram-se em completa situação de abandono, com várias modificações nas aberturas devidas aos diferentes usos do espaço após o fim do funcionamento da fábrica. Parte dos vidros, tanto das janelas quanto da cobertura, encontra-se quebrada. A área mais crítica é a da tinturaria, onde parte do teto encontra-se em estado de ruína, prejudicando também a integridade da estrutura do telhado e de alguns pilares de madeira ainda existentes. PL ANTA BAIXA | 1:1000


ELEVAÇÃO NORDESTE | 1:350

ELEVAÇÃO SUDESTE | 1:350

ELEVAÇÃO NOROESTE | 1:350

ELEVAÇÃO SUDOESTE| 1:350


BLOCO 2 ANO DE CONSTRUÇÃO: 1945 -1947; ÁREA: 1.100 m ²; USO ORIGINAL: Creche, lavanderia, copa, administração, escritório, setores de compras e vendas, gerência, almoxarifado; PÉ-DIREITO: 4 m; COBERTURA: Tesouras de madeira com cobertura de telhas cerâmicas produzidas em Itu e embutidas por platibandas; ESTRUTURA: Concreto; ESQUADRIAS: Ferro com formato ortogonal; ACABAMENTO: Reboco pintado e tijolos aparentes; CARACTERÍSTICAS: O conjunto possui uma sequência de janelas altas voltadas para o exterior do complexo e, para a parte interna, diversas janelas com dimensões distintas interrompidas por portas. Parte do bloco é caracterizada por um amplo espaço interno, enquanto que o restante é formado por várias salas fragmentadas; USO ATUAL: Confecção de roupas infantis, antiquário e uma residência unifamiliar. Os demais espaços encontram-se sem uso; ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Alguns dos vãos foram fechados e partes do forro original retiradas, mas de modo geral apresenta bom estado de conservação.

ELEVAÇÃO SUDESTE| 1:250


PL ANTA BAIXA | 1:350

ELEVAÇÃO SUDOESTE | 1:350

ELEVAÇÃO NORDESTE| 1:350


BLOCO 3 ANO DE CONSTRUÇÃO: Década de 1930; ÁREA: 12.000 m²; USO ORIGINAL: Expedição, depósito, loja, embalagem, sala de reunião, gerência de custos e vendas; PÉ-DIREITO: 8m; COBERTURA: Tesouras de madeira com cobertura de telhas de fibrocimento. Apresenta cobertura externa anexa com estrutura e telhas metálicas; ESTRUTURA: Madeira;

BLOCO 3 ELEVAÇÃO SUDESTE | 1:500

ESQUADRIAS: Ferro com arco superior; ACABAMENTO: Variado; uma das fachadas internas possui acabamento em reboco e pintura e as demais são de tijolos aparentes seguindo o formato triangular da estrutura do telhado; CARACTERÍSTICAS: Apresenta uma sequência de janelas altas voltadas ao exterior do complexo e duas fachadas ao interior, sendo uma ritmada com janelas e portas intercaladas e outra de tijolos cerâmicos. O espaço interno de cada sala é amplo, porém não muito iluminado; USO ATUAL: Fundação de Arte Marcos Amaro; ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Muitos vãos apresentam-se fechados com alvenaria e as divisões internas foram consideravelmente modificadas. Parte da cobertura está sendo trocada para a colocação de mantas térmicas.

PL ANTA BAIXA | 1:500

BLOCO 3 ELEVAÇÃO NORDESTE | 1:500


ANO DE CONSTRUÇÃO: 1920;

BLOCO 4

ÁREA: 1.000 m²; USO ORIGINAL: Manutenção mecânica, carpintaria, depósito, marcenaria, refeitório, garagem; PÉ-DIREITO: 8m; COBERTURA: Tesouras em madeira, telhado com duas águas cobertas com telhas cerâmicas produzidas em Itu. Ausência de forro; ESTRUTURA: Madeira; ESQUADRIAS: Ferro com arco superior; ACABAMENTO: Variado, sendo algumas paredes rebocadas e pintadas e outras apenas com pintura a base de cal. A parede voltada para a rua é de tijolo aparente;

BLOCO 4 ELEVAÇÃO NORDESTE | 1:500

BLOCO 4 ELEVAÇÃO SUDESTE | 1:500

BLOCOS 3 E 4 ELEVAÇÃO NOROESTE | 1:500

CARACTERÍSTICAS: Apresenta uma sequência de janelas altas voltadas ao exterior do complexo e uma fachada modulada para o interior, com cinco portas ladeadas por duas janelas. O espaço interno de cada sala é amplo, porém não muito iluminado; USO ATUAL: Academia de ginástica, escola de circo, escritório. Os demais espaços estão sem uso; ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Alguns vãos das janelas encontram-se parcialmente fechados e o telhado e o piso de uma das salas ruíram.


BLOCO 5 ANO DE CONSTRUÇÃO: Década de 1950 ; ÁREA: 300 m²; USO ORIGINAL: Lavanderia, recebimento e facção; PÉ-DIREITO: 5m; COBERTURA: Estrutura de madeira em duas águas cobertas por telhas de fibrocimento; ESTRUTURA: Concreto; ESQUADRIAS: Ferro com formato ortogonal; ACABAMENTO: Reboco e pintura; CARACTERÍSTICAS: Sua aparência e materiais destoam do bloco 6 construído décadas antes;

PL ANTA BAIXA | 1:250

USO ATUAL: Fundação de Arte Marcos Amaro; ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Em comparação ao restante do conjunto apresenta bom estado de conservação. BLOCOS 5 E 6 ELEVAÇÃO NORDESTE| 1:250


BLOCO 6 ANO DE CONSTRUÇÃO: Década de 1930; ÁREA: 1.100 m²; USO ORIGINAL: Confecção, acabamento, limpeza e passamento; PÉ-DIREITO: 8m; COBERTURA: Estrutura em madeira e cobertura em telhas francesas.; ESTRUTURA: Concreto; ESQUADRIAS: Ferro formato ortogonal;

com

ACABAMENTO: Reboco e pintura internamente e tijolos à vista externamente; CARACTERÍSTICAS: Construção marcada por sua linearidade e pela sequência de janelas voltadas para o pátio interno; USO ATUAL: Sem uso ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Bloco mais danificado do conjunto, encontra-se completamente sem cobertura e com os vidros das esquadrias totalmente quebrados. Parte do espaço está sendo tomada pela vegetação.


BLOCO 7 ANO DE CONSTRUÇÃO: Década de 1950; ÁREA: 350 m²; USO ORIGINAL: modelagem, bordado, banheiros;

Confecção, amostra e

PÉ-DIREITO: 4m; COBERTURA: Estrutura de madeira coberta por telhas de fibrocimento; ESTRUTURA: Concreto; ESQUADRIAS: Variadas, de ferro com modelos ortogonais e outros com arcos na parte superior; ACABAMENTO: Reboco e pintura internamente e tijolos à vista externamente; CARACTERÍSTICAS: Bloco desconectado dos demais e localizado entre dois pátios. Apresenta uma grande sequência de janelas em uma das fachadas e na oposta uma variação característica dos estilos das aberturas; USO ATUAL: Fundação Marcos Amaro; ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Apresenta bom estado de conservação. PL ANTA BAIXA | 1:250


BLOCO 8 ANO DE CONSTRUÇÃO: Década de 1950; ÁREA: 130 m²; USO ORIGINAL: Vestiários masculinos e femininos; PÉ DIREITO: 4m; COBERTURA: Estrutura em madeira e cobertura em telhas de fibrocimento; ESTRUTURA: Concreto; BLOCO 7 ELEVAÇÃO NORDESTE| 1:250

BLOCO 7 ELEVAÇÃO NOROESTE| 1:250

ESQUADRIAS: ortogonal;

Ferro

com

formato

ACABAMENTO: Reboco e pintura; CARACTERÍSTICAS: Bloco cuja linearidade e sequência de janelas em uma de suas fachadas são marcantes; BLOCO 7 ELEVAÇÃO SUDOESTE| 1:250

BLOCO 7 ELEVAÇÃO SUDESTE| 1:250

USO ATUAL: Habitação Unifamiliar; ESTADO DE CONSERVAÇÃO: O bloco passou por uma série de modificações internas para receber o novo uso, além da abertura de novos vãos na fachada.

BLOCO 8 ELEVAÇÃO NORDESTE| 1:250


BLOCO 9 ANO DE CONSTRUÇÃO: Década. De 1950; ÁREA: 220 m²; USO ORIGINAL: Caldeiras; PÉ-DIREITO: 10m; COBERTURA: Estrutura em madeira e cobertura em telhas de fibrocimento ; ESTRUTURA: Concreto; ESQUADRIAS: Ferro formato ortogonal; ACABAMENTO: pintura;

com

Reboco

e ELEVAÇÃO SUDOESTE | 1:250

PL ANTA BAIXA | 1:250

CARACTERÍSTICAS: Pédireito consideravelmente mais alto que os dos blocos anteriores; USO ATUAL: Sem uso; ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Os vidros estão quebrados e internamente há sinais de modificações, paredes quebradas e outras rebocadas novamente.

ELEVAÇÃO SUDESTE | 1:250

ELEVAÇÃO NOROESTE | 1:250


BLOCO 10 ANO DE CONSTRUÇÃO: Década de 1950; ÁREA: 110 m²; USO ORIGINAL: Manutenção civil, oficina de confecção e tanque de óleo combustível; PÉ-DIREITO: 7m; COBERTURA: Estrutura de madeira em duas águas com cobertura de telhas de fibrocimento; ESTRUTURA: Concreto; ESQUADRIAS: Ferro formato ortogonal;

PL ANTA BAIXA | 1:250 ELEVAÇÃO SUDESTE | 1:250

ELEVAÇÃO NORDESTE | 1:250

ACABAMENTO: pintura;

com

Reboco

e

CARACTERÍSTICAS: Forma simples sem grande valor arquitetônico; USO ATUAL: Sem uso; ESTADO DE CONSERVAÇÃO: A pintura e o reboco externo estão bastante degradados. ELEVAÇÃO NOROESTE | 1:250

ELEVAÇÃO SUDOESTE | 1:250


BLOCO 11 ANO DE CONSTRUÇÃO: Década de 1950; ÁREA: 210 m²; USO ORIGINAL: Cabine de força e casa de bombas; PÉ-DIREITO: 15m; COBERTURA: Estrutura de madeira coberta por telhas de fibrocimento; ESTRUTURA: Concreto; ESQUADRIAS: Ferro formato ortogonal ; ACABAMENTO: pintura;

com

Reboco

e ELEVAÇÃO NOROESTE | 1:250

ELEVAÇÃO SUDOESTE | 1:250

ELEVAÇÃO SUDESTE | 1:250

ELEVAÇÃO NORDESTE | 1:250

CARACTERÍSTICAS: A construção possui aspecto único e se destaca no conjunto, tanto pela sua altura quanto pelas divisões internas seriadas; USO ATUAL: Sem uso; ESTADO DE CONSERVAÇÃO: Os vidros e a estrutura do lanternim encontramse bastante danificados. Internamente há sinais de modificações, paredes quebradas e outras rebocadas novamente. PL ANTA BAIXA | 1:250


CONJUNTO


LUGAR E MEMÓRIA | DO CÓRREGO GUARAÚ À FÁBRICA SÃO PEDRO EM ITU/SP 5

15

30

USO ATUAL O prédio onde funcionava a antiga Fiação Maria Cândida foi arrendado em 1999 para o empreendimento comercial “Weekend Market”, um shopping que funcionava apenas aos finais de semana e feriados com capacidade de 228 lojas. O empreendimento, entretanto, durou poucos meses e o prédio permaneceu abandonado até 2008, quando a empresa Fidelity Processadora e Serviços inaugurou sua nova filial nas instalações da antiga Fiação, empregando cerca de 3.000 funcionários da região. Por outro lado, as dependências da antiga Fiação e Tecelagem São Pedro, que permaneceram abandonadas nas duas décadas seguintes ao encerramento de suas atividades, vêm nos últimos dez anos passando por um processo lento de reutilização de seus galpões, alugados individualmente para os mais variados fins. No conjunto já funcionaram um restaurante, um local para prática de paintball, uma igreja evangélica e até pequenas habitações unifamiliares. Atualmente a fábrica encontra-se parcialmente abandonada e sem a devida manutenção, estando a estrutura em madeira do telhado 102

LEGENDA Academia Depósitos Habitações Antiquários Confecção Escola de Circo Fundação de Arte Áreas desocupadas


CAPÍTULO 4 . SÃO PEDRO | UMA FÁBRICA DE MEMÓRIAS

Depósito

Academia

Fundação de Arte

Antiquário

Galpão abandonado

Galpão abandonado

completamente arruinada em alguns locais. Em suas áreas ocupadas o uso é completamente heterogêneo: existem uma academia de ginástica, uma pequena confecção, dois antiquários, depósitos, uma escola de circo, habitações unifamiliares e uma fundação de arte. Sem dúvida o uso promovido por essas atividades contribuiu para que o prédio não sofresse com o completo abandono e que essas áreas não ruíssem por falta de manutenção. Entretanto, pelo fato de essa ocupação ocorrer de forma fragmentada por locatários com interesses diversos, a unidade do conjunto arquitetônico encontra-se ameaçada. O grau de preocupação e valorização do patrimônio histórico em questão é variável: em alguns locais há a preocupação de se manterem as características do prédio fiéis ao projeto original; em outros, diversas intervenções descaracterizantes estão sendo realizadas com o intuito de adaptar a construção aos novos usos. Por isso, fica evidente a pertinência de se estabelecer um projeto de recuperação e reutilização do conjunto arquitetônico como um todo, de forma a valorizar esse bem tão importante para a história do município de Itu.

103



5|

INTERVENÇÃO

BIBLIOTECA - PARQUE


LUGAR E MEMÓRIA | DO CÓRREGO GUARAÚ À FÁBRICA SÃO PEDRO EM ITU/SP

PROPOSTA LUGAR E PROGRAMA A opção pela proposição de uma biblioteca-parque para a intervenção na antiga Companhia de Fiação e Tecelagem São Pedro ocorreu por causa da observação dos equipamentos existentes nas proximidades do sistema de espaços livres apresentado no capítulo 3. Conforme pode ser visto no mapa ao lado, há uma elevada concentração de equipamentos educacionais nas proximidades e uma pequena concentração de equipamentos culturais localizados apenas no eixo histórico. Além disso, de acordo com a informação dos gráficos, ainda que que o nível de escolaridade da população esteja aumentando nas últimas décadas, cerca de 36,16 % dos habitantes de Itu possuem apenas o ensino fundamental incompleto, segundo censo do IBGE de 2010. Tais constatações levaram à proposição da transformação da Fábrica São Pedro em um local complementar 106

SISTEMA DE ESPAÇOS EQUIPAMENTOS Fábrica São Pedro Escolas Públicas Escolas Particulares Equipamentos Culturais

LIVRES

E


CAPÍTULO 5 . INTERVENÇÃO | BIBLIOTECA - PARQUE

FONTE: IBGE 2010 , elaboração: TC Urbes

NÍVEL DE ESCOLARIDADE EM ITU/SP Fundamental incompleto e analfabeto Fundamental incompleto e alfabetizado Fundamental completo e médio Médio completo e superior incompleto Superior completo

Atual Biblioteca Municipal de Itu

às escolas existentes na região que atraísse os jovens com atividades de lazer e, principalmente, que fomentasse neles o interesse pela aquisição de conhecimento e pela participação em atividades culturais extracurriculares. Surgiu, dessa forma, a ideia de conversão do complexo fabril da antiga Fábrica São Pedro na nova Biblioteca Pública Municipal, atualmente localizada em um edifício pequeno no centro histórico da cidade que não comporta o acervo existente e não oferece espaços de permanência de qualidade para que o seja ativamente utilizado pela população local.

espaços mais dinâmicos de informações e cultura. É nesse contexto que surge o conceito de biblioteca-parque criado a partir dos modelos implantados em Medellín e Bogotá, Colômbia, em que, através da oferta de cultura, educação e reformas urbanas nos bairros mais fragilizados da cidade, foi possível reduzir consideravelmente a violência e promover a melhoria da qualidade de vida da população. O intuito da biblioteca-parque é a transformação do espaço público através de três eixos, sendo eles o educacional, o social e o cultural. Visa ao estabelecimento de espaços que proporcionem não apenas o BIBLIOTECA-PARQUE empréstimo de livros, mas também o oferecimento de atividades relacionadas à arte, cultura, educação, convivência, O conceito de biblioteca, do cidadania e recreação por meios de grego Biblion (livro) e Teke (depósito), cursos e oficinas. É uma biblioteca que se é associado à ideia de um local de volta para o usuário e a comunidade em “depósito” do saber, ou seja, um espaço que está inserida e que busca transmitir dedicado à estocagem e conservação o conhecimento e a cultura de forma dos livros. natural e prazerosa para os indivíduos. Entretanto, com o advento das novas tecnologias e a consequente disponibilidade de informação a REFERÊNCIAS qualquer momento e em qualquer lugar, as bibliotecas vêm passando por reformulações, transformando-se em 107


LUGAR E MEMÓRIA | DO CÓRREGO GUARAÚ À FÁBRICA SÃO PEDRO EM ITU/SP

BIBLIOTECA PARQUE LÉON DE GREIFF Localização: Cl 59A #37-23, Medellín, Medellín, Antioquia, Colombia Arquiteto: Giancarlo Mazzanti Ano: 2007 Fig. 46 - Relação do projeto com a cidade

Área do parque: 37. 546 m² Área da biblioteca: 6.800 m² Acervo: 20.165 acervo total (14.813 acervo geral + 5.532 acervo infantil) A Biblioteca Parque Léon de Greiff, também conhecida como La Ladera faz parte do projeto de requalificação urbana de Medelín, e é um dos cinco edifícios que compõem a rede de bibliotecas-parque da cidade. Assim como os demais, o projeto está inserido em uma grande área pública que após a implantação do programa recebeu tratamentos paisagísticos para a criação de um parque. A implantação da biblioteca, no terreno onde antes funcionava uma prisão feminina, mantém a relação espacial com o entorno ao estender o espaço público para dentro do próprio edifício por meio de 108

sua cobertura que se abre como mirante para a contemplação da paisagem e como extensão do parque para dentro do projeto. O programa é fragmentado em três caixas distintas, conectadas através de uma plataforma de serviços e circulação que se adapta à topografia do terreno. As caixas abrigam o auditório, a biblioteca, o centro comunitário e a administração, já o volume de circulação abriga a cafeteria e exposições permanentes e temporárias.

Fig. 47 - Caixas que compõem a biblioteca-parque

Fig. 48 - Mirante


CAPÍTULO 5 . INTERVENÇÃO | BIBLIOTECA - PARQUE

BIBLIOTECA SÃO PAULO, PARQUE DA JUVENTUDE Localização: Av. Cruzeiro do Sul, 2630, Santana, São Paulo/SP, Brasil Arquitetos: Aflalo &Gasperini Ano: 2010 Fig. 49 - Vista Externa

Fig. 50 - Terraço

Fig. 51 - Vazio Central

Área do parque: 240.000 m² A Biblioteca São Paulo está localizada dentro do Parque da Juventude, local anteriormente ocupado pelo Complexo Presidiário do Carandiru. Devido ao peso da memória e do passado associados a esse lugar, a revitalização buscou dar uma nova vida ao espaço por meio da construção do parque urbano e da inserção de equipamentos. Um deles é a Biblioteca São Paulo, proposta de reconversão de parte das instalações prisionais em um espaço que promova a liberdade do conhecimento. A planta da biblioteca apresenta uma geometria regular, com um pátio interno e dois terraços. A iluminação e ventilação são zenitais através da cobertura em shed com esquadrias em vidro. O programa do térreo é constituído por uma recepção no hall de entrada, um auditório para 90 pessoas, acervo

Área da biblioteca: 4.527 m² Acervo: 35.500 total (29.500 acervo geral + 6.000 acervo infantil) e módulos de leitura para crianças e adolescentes. O terraço existente nesse pavimento, recoberto por uma estrutura tensionada, abriga uma cafeteria, áreas de estar e espaço para apresentações artísticas. No pavimento superior há, além do acervo, espaços de leitura para adultos e áreas multimídia. Os dois pavimentos permanecem visualmente conectados através do vazio central existente no pavimento superior, possuem planta livre com layout flexível e procuram manter uma relação visual entre o interior e o parque no exterior por meio do uso do vidro. 109


LUGAR E MEMÓRIA | DO CÓRREGO GUARAÚ À FÁBRICA SÃO PEDRO EM ITU/SP

SESC POMPEIA

Localização: R. Clélia, 93, Pompeia, São Paulo/SP, Brasil Arquiteta: Lina Bo Bardi Ano: 1977/1982 Área do terreno: 16. 573 m² Área construída: 23. 571 m² Implantado em uma antiga fábrica de tambores, o Sesc Pompeia é um espaço de uso múltiplo, concentrando atividades de esporte, lazer e serviços. Mantém uma atmosfera de estímulo à convivência e ao esporte recreativo. A arquiteta Lina Bo Bardi preservou a memória da cidade industrial ao mesmo tempo em que adequou o complexo às novas necessidades. O programa é composto por teatro com 800 lugares, restaurante, choperia, biblioteca, área de vídeo, oficinas de artes, laboratório fotográfico, piscina aquecida, solário, ginásio de esporte, quadras poliesportivas, salas de ginástica e dança, consultórios odontológicos, bar e lanchonete, entre outros. As instalações são articuladas por uma rua interna que 110

Caso exemplar de atuação por dissonância é o projeto de Lina Bo Bardi , com a colaboração de Marcelo Ferraz e Andé Vainer, para o SESC Fábrica Pompéia (19771986), em que a arquitetura contemporânea se comporta como um novo estrato que não destrói e respeita os elementos caracterizadores da composição pré-existente, apesar de a ênfase ser no projeto do novo e não na preservação e si. (KUHL, 2008, p. 166)

Fig. 52 - Rua Interna

funciona como prolongamento da cidade para dentro do projeto. O projeto valoriza a materialidade por meio do uso dos materiais em seu aspecto bruto e cores contrastantes. No interior das construções foi priorizada a interação entre as pessoas, o que explica a opção pelo uso de barreiras semiabertas para a divisão dos ambientes e o desenho do mobiliário, composto por mesas e cadeiras conjugadas.

Fig. 53 - Espelho d’água “Rio São Francisco”

Fig. 54 - Solário e bloco esportivo


CAPÍTULO 5 . INTERVENÇÃO | BIBLIOTECA - PARQUE

FUNDAÇÃO GIANGIACOMO FELTRINELLI Localização: Viale Pasubio, 5, 20154 Milano MI, Itália Arquiteto: Herzog & de Meuron Ano: 2016 Fig. 55- Cafeteria e livraria

Área do terreno: 15.797 m² Área do edifício: 3.645 m²

Fig. 56 - Espaço multifuncional

Fig. 57 - Sala de Leitura

Sua construção está diretamente ligada ao projeto de remodelação urbana de Porta Volta, Milão, local cuja relação com o passado é marcante e se faz presente em vestígios da Mura Spagnole, antigas muralhas da cidade do século XVI, e em dois portões preservados, além de ter sido região alvo de destruições durante a Segunda Guerra Mundial. O projeto urbano de Porta Volta, além da construção da nova sede da Fondazione Giangiacomo Feltrinelli, inclui a construção de mais dois edifícios de escritórios e uma grande área verde que se configura como extensão das avenidas existentes. A fundação, com forma estreita e alongada, é recoberta por uma cobertura de inclinação acentuada e faz uso abundante

do vidro em suas fachadas e cobertura. Dessa maneira, fachada, estrutura e espaço formam um todo integrado. Com relação ao programa, o piso térreo acomoda a entrada principal, a cafeteria e a livraria. No subsolo se localiza o arquivo onde ficam os documentos da coleção histórica da Fundação. O primeiro andar, com pé-direito duplo e fachadas envidraçadas, abriga um espaço multifuncional. Os terceiro e quarto pavimentos abrigam os escritórios e salas de aula para treinamento e pesquisa. No último pavimento localiza-se a sala de leitura que fornece acesso à biblioteca e aos arquivos da fundação, além de nele ocorrerem atividades de estudo e pesquisa. 111


LUGAR E MEMÓRIA | DO CÓRREGO GUARAÚ À FÁBRICA SÃO PEDRO EM ITU/SP

DIRETRIZES A intervenção no complexo fabril da antiga Companhia de Fiação e Tecelagem São Pedro teve como princípio geral e norteador o favorecimento da relação do indivíduo com o lugar, a arquitetura e a natureza. As diretrizes estabelecidas focam no individuo e nas suas formas de percepção do espaço, seja ele construído ou natural. Cria-se uma experiência revelada pelos diferentes sentidos do indivíduo em meio a variações de locais e estímulos. A narrativa se exprime em três diretrizes principais dadas pelo caminhar em seus percursos, pela visão por meio de suas aberturas, e pelas sensações transmitidas pelos diferentes materiais empregados. Seque-se o princípio da Distinguibilidade (Khul) em que as ações de acréscimo realizadas no complexo buscam a valorização da relação entre o novo e o antigo por meio do contraste, de forma a não induzir o usuário a confundir a intervenção com a construção já existente anteriormente.

PERCURSOS

VER ATRAVÉS

MATERIALIDADE 112


CAPÍTULO 5 . INTERVENÇÃO | BIBLIOTECA - PARQUE 5

15

30

PERCURSOS

PL ANTA NÍVEL 1

Os percursos estabelecidos visam à configuração de diferentes pontos de conexão entre o complexo fabril e o sistema de espaços livres proposto. Busca-se que as conexões estabelecidas favoreçam a circulação e o acesso entre o interior e o exterior do complexo sem que sua característica de espaço encerrado por muros seja perdida. Internamente os percursos favorecem a caminhada como forma de percepção do espaço. Atravessam locais de características variadas com diferentes alturas de pédireito, diferentes níveis conectados por rampas, escadas e arquibancadas, variações entre espaços amplos e constritos, ao ar livre ou dentro de edificações. Dessa forma, os percursos evidenciam os múltiplos estímulos e experiências criados dentro do espaço fabril.

PL ANTA NÍVEL 2

113


LUGAR E MEMÓRIA | DO CÓRREGO GUARAÚ À FÁBRICA SÃO PEDRO EM ITU/SP 5

15

30

VER ATRAVÉS A visão é trabalhada como uma segunda forma de apreensão do espaço pelo indivíduo. Com o objetivo de promover a conexão visual entre o interior e o exterior do complexo fabril foram estabelecidas aberturas de vãos nas paredes existentes associadas ao uso de painéis de vidro, conformando espécies de “vitrines”. Essas aberturas promovem a conexão entre as atividades desenvolvidas no interior e exterior do complexo e entre diferentes espaços dentro das edificações. Por meio do estímulo visual as aberturas localizadas no nível 1 convidam os indivíduos a adentrar o espaço da biblioteca, ao mesmo tempo em que transportam para seu interior a natureza e vida urbana existente nas proximidades. No nível 2 as aberturas por um lado se voltam ao exterior do complexo, permitindo a apreensão do sistema de espaços livres, e por outro se voltam ao seu interior, estabelecendo visuais para o nível 1, para a cobertura e para os pátios existentes como forma de valorizar o patrimônio industrial.

PL ANTA NÍVEL 1

PL ANTA NÍVEL 2

114


CAPÍTULO 5 . INTERVENÇÃO | BIBLIOTECA - PARQUE 5

15

30

MATERIALIDADE

PL ANTA NÍVEL 1

A terceira diretriz estabelecida para favorecer a percepção do espaço pelos indivíduos são as diferentes sensações transmitidas por cada tipo de material. O intuito é evidenciar as diferenças entre o antigo e o novo por meio da materialidade empregada nas intervenções. Em relação ao antigo, é promovida a recuperação e manutenção dos materiais existentes. São mantidos os pisos de cimento queimado no interior das edificações, o paralelepípedo dos pátios internos, as estruturas em madeira dos telhados e as coberturas em telhas cerâmicas. Em busca de maior conforto térmico e acústico as telhas de fibrocimentos são substituídas por telhas termoacústicas (sanduíche). É promovida a recuperação da pintura original do complexo e em paredes

específicas é proposta a remoção das camadas de pintura e argamassa tornando a alvenaria aparente. Essa é uma maneira de evidenciar e valorizar a construção existente e seu passado histórico. Em relação ao novo, expresso pela proposta de intervenção, as materialidades são trabalhadas de maneira a contrastar àquelas existentes e proporcionar diferentes sensações para os usuários do espaço. São empregados estruturas metálicas, painéis de vidro para fechamentos, divisórias e cobertura, lajes e pisos em concreto aparente, espelhos d’água, decks de madeira, pedriscos sobrepostos ao piso existente, brises e revestimentos em aço patinável e chapas perfuradas em divisórias, marquises e forros.

Paralelepípedo Concreto Grama Água Madeira Pedra PL ANTA NÍVEL 2

Chapa perfurada

115


LUGAR E MEMÓRIA | DO CÓRREGO GUARAÚ À FÁBRICA SÃO PEDRO EM ITU/SP

INTERVENÇÃO DEMOLIÇÃO As ações de demolição realizadas se fundamentam pelo estudo do estado atual da fábrica apresentado no capítulo 4. Por meio do levantamento bloco a bloco foi possível identificar suas características FÁBRICA EXISTENTE principais, analisar seus valores históricoarquitetônicos e identificar aqueles que apresentam maior grau de degradação. 5 15 30 Com o intuito de revelar e valorizar as características do patrimônio industrial em questão, optou-se pela retirada de 7 alguns blocos que compõem o conjunto, 1 respectivamente lavanderia (1), recebimento e facção (2), vestiários (3), tinturaria e almoxarifado (4), caldeiras (5) e caixa d’agua (6), por terem sido acrescentados 3 ao conjunto posteriormente, algumas vezes se sobrepondo a outras construções mais antigas, ou por apresentarem degradações em estado avançado devidas ao abandono da edificação ou intervenções 4 descaracterizantes. Para adequar a construção existente ao novo uso proposto, parte dos muros foi PL ANTA NÍVEL 1 retirada para a criação de novos acessos, EXISTENTE 116

2

1

3

6 5 4

AÇÕES DE DEMOLIÇÃO

2

6

5 6 4

PL ANTA NÍVEL 2 EXISTENTE


CAPÍTULO 5 . INTERVENÇÃO | BIBLIOTECA PARQUE

os pátios internos foram reformulados, algumas paredes foram demolidas ou modificadas com a abertura de vãos e algumas coberturas foram substituídas. D C

H

G

H

B

CONSTRUÇÃO / MODIFICAÇÃO

F

G

A

E

E

H

AÇÕES DE CONSTRUÇÃO / MODIFICAÇÃO

5

FÁBRICA COM A INTERVENÇÃO

30

15

H

D

D

G

F

G

F

E

C H G

F B G A E

PL ANTA NÍVEL 1 PROPOSTO

PL ANTA NÍVEL 2 PROPOSTO

As ações de construção realizadas correspondem à inserção de um novo pavimento (A) em estrutura metálica, piso e cobertura em concreto aparente e fechamento em vidro que se encaixa dentro das paredes remanescentes da tinturaria (4), à construção de um bloco novo em estrutura metálica, fechamento em alvenaria e cobertura em laje de concreto para abrigar a cozinha do restaurante (B), à proposta de reconstrução da cobertura da antiga confecção de linhas tipo “A” e “B” (6) com pórticos em estrutura metálica, lanternim e cobertura em vidro e telhas termoacústicas para abrigar o salão de refeições (C) e à adequação da antiga loja e depósito (7) para receber o teatro (D) por meio da construção de uma nova cobertura em estrutura metálica e laje plana em concreto aparente. Outras modificações realizadas são a abertura de vãos nas fachadas (E), inserção de arquibancadas(F), construção de espelhos d’água (G) e aumento da arborização (H) nos pátios internos. 117


LUGAR E MEMÓRIA | DO CÓRREGO GUARAÚ À FÁBRICA SÃO PEDRO EM ITU/SP 5

15

30

SETORIZAÇÃO Os programas propostos visam à diversificação de atividades e ocupação da fábrica em diferentes momentos do dia de forma a favorecer a vitalidade do espaço. A distribuição do programa foi pensada de forma que a biblioteca, ao ocupar o espaço central do complexo, funcione como elemento articulador dos diferentes usos propostos. O bloco escolhido para sua implantação corresponde à edificação com maior valor histórico-arquitetônico. Instalado no mesmo bloco e diretamente PL ANTA NÍVEL 1 ligado à biblioteca se encontra o espaço destinado ao coworking que se articula com um dos pátios internos. Imediatamente à frente do bloco da biblioteca estão os blocos destinados à implantação de salas de aulas e ateliers. Na lateral e voltados para a rua interna estão as salas administrativas do complexo, o centro de informações e a bilheteria. O programa cultural abrange espaço expositivo, auditório, teatro, cinema e museu e foi implantado em cinco pontos espalhados pelo complexo. Foi prevista também a instalação de locais de alimentação com a presença de café, lanchonete, bar e restaurante.

Biblioteca Cultural Coworking Alimentação Administração Ateliers, oficinas e salas

PL ANTA NÍVEL 2

118

de aula


F

1

10

20

R UA

40

PA D

RE

E

TO BAR

CAPÍTULO 5 . INTERVENÇÃO | BIBLIOTECA PARQUE

D

LO

U ME

TA D

EI

ACESSOS E PÁTIOS

C

>

3

E

>

2 D

>

F

>

H

C

>

C

B

São previstas as aberturas de novos acessos para pedestres na Rua Graciano Geribelo e a retirada do muro existente na Avenida Galileu Bicudo. As ações buscam aumentar a permeabilidade da fábrica em relação à cidade. O acesso de veículos no interior do complexo é controlado e destinado apenas ao fluxo de serviços e carga e descarga de mercadorias e materiais. Em relação aos pátios internos são estabelecidas diversas experiências:

B

> J

G

5

1

6

AV EN ID A GA LI LEU BI CU D O

>

>

I

> B

A

F

RUA D R. GR AC IA N O GERI BELO

2- Reformulação do pátio com a configuração de um amplo espaço gramado pontuado por árvores já existentes e outras inseridas, além da instalação de um espelho d’água e deck de madeira. Pátio que configura um local para a realização de piqueniques, eventos ao ar livre, e espaço expositivo para esculturas. A

D

A

>

IMPLANTAÇÃO

E

1- Com a retirada do muro existente o pátio se configura como local permeável e de acolhida para os usuários.

4

3- Pátio sem presença de vegetação e com a implementação de uma arquibancada no desnível existente. Pode ser utilizado como prolongamento externo do foyer compartilhado pelo cinema e teatro, 119


LUGAR E MEMÓRIA | DO CÓRREGO GUARAÚ À FÁBRICA SÃO PEDRO EM ITU/SP

como extensão da área da lanchonete e como plateia para apresentações ao ar livre. 4- Pátio intimamente conectado ao acervo infantil da biblioteca e ao espaço expositivo. Apresenta arborização pontal em canteiros elevados utilizados como bancos e apropriação do desnível para a implementação de uma queda d’água que conforma um espelho d’água. 5- Reformulação da área gramada do pátio existente, manutenção e adensamento da vegetação. Pátio com a maior região bosqueada do projeto e que é utilizado para a colocação de mesas ao ar livre que funcionam como extensão das áreas de alimentação e também como local de estar. Presença de espelho d’água ao lado da chaminé.

A

6- Com as aberturas dos muros existentes o pátio se configura por um lado como local de acesso para o complexo, marcado pela existência do piso original de paralelepípedo da fábrica que direciona o fluxo para a chaminé, e por outro lado como um local de espera e acesso para o restaurante e conexão entre os dois blocos que compõem o museu. Essa região é demarcada pelo uso de um deck de madeira e nela existe um espelho d’água no local da antiga caixa d’água da fábrica. B

120


CAPÍTULO 5 . INTERVENÇÃO | BIBLIOTECA PARQUE

C

D

121


LUGAR E MEMÓRIA | DO CÓRREGO GUARAÚ À FÁBRICA SÃO PEDRO EM ITU/SP

E

G

F

H

122


CAPÍTULO 5 . INTERVENÇÃO | BIBLIOTECA PARQUE

I

J

123


LUGAR E MEMÓRIA | DO CÓRREGO GUARAÚ À FÁBRICA SÃO PEDRO EM ITU/SP F

1

CONJUNTO

10

20

PA D R UA

NÍVEL 1 0,00

1 - HALL DE ENTRADA

C

2 - ESPAÇO EXPOSITIVO

-1,20

40 RE

D

E

TO BAR

LO

U ME 30

29

TA D

EI 0,00

31

22

20

28 27

C

-0,80 0,00

25

26

-3,00

21

3 – GUARDA-VOLUMES 0,00

4 - ESTAR

0,00

5 - SAL A DE PROJEÇÃO 6 – EMPRÉSTIMO E DEVOLUÇÃO

23

16

7 - COMPUTADORES

17

19

18

8 – ACERVO DE REVISTAS, 9 - ACERVO DE OBRAS RARAS

15

B

10 - ACERVO INFANTIL

11

10

11 - ACERVO GERAL

12

12 - ARQUIBANCADA E ESTAR 0,00

13 – SAL A DE LEITURA INDIVIDUAL

13 +1,50

9

14- SANITÁRIOS

12

15 - JARDIM INTERNO 8

17- SAL AS DE REUNIÃO 18- CABINES DE TRABALHO

6

7

14

2

A

0,00

3

4

5

21 - SAL A DE DANÇA , MÚSICA E TEATRO 22 - VESTIÁRIOS 23 - SAL AS ADMINISTRATIVAS DO

124

0,00

11

16- ESPAÇO DE COWORKING

20 - ATELIERS E OFICINAS

24

+1,50

ELEVADO

19 - CAFÉ

B

14

F

PLANTA NÍVEL 1

E

RUA D R. GR AC IA N O GERI BELO

D

AV EN ID A GA LI LEU BI CU D O

PERIÓDICOS, CDS E DVDS

A


F

1

10

20

40

R UA

PA

AR EB DR

CAPÍTULO 5 . INTERVENÇÃO | BIBLIOTECA - PARQUE

D

E

TO L

O

U ME

TA D

EI

COMPLEXO 24 – CENTRO DE INFORMAÇÕES E BILHETERIA

+4,00

32

C

C

25 - FOYER 26- CINEMA 27 - TEATRO 28 - CAMARIM E VESTIÁRIOS

32

29 - DEPÓSITO DE FIGURINOS 30 - SAL A DE ESPERA E

33

+2,00

CONVIVÊNCIA DOS ATORES 31 - DEPÓSITO DE CENÁRIOS

38

B

B 34

AV EN ID A GA LI LEU BI CU D O

+4,00

37 +4,00

35

41

36

37 +5,00

A

+6,15

40 +5,00

39

F

PLANTA NÍVEL 2

E

A

42

RUA D R. GR AC IA N O GERI BELO

43

D

NÍVEL 2 32- SAL A DE SOM E ILUMINAÇÃO 33 - BAR 34 - SAL ÃO DE REFEIÇÕES 35 - BUFFET DE COMIDAS 36 – COZINHA , DESPENSA E VESTIÁRIOS 37 - MUSEU 38 - L ANCHONETE 39 - HALL DE ENTRADA 40- RECEPÇÃO 41 - SAL AS ADMINISTRATIVAS DA BIBLIOTECA 42 - SAL A TÉCNICA , DEPÓSITO E SANITÁRIOS 43 - AUDITÓRIO

125


LUGAR E MEMÓRIA | DO CÓRREGO GUARAÚ À FÁBRICA SÃO PEDRO EM ITU/SP

1

5

10

1

5

10

1

5

10

Det. 4

126


CAPÍTULO 5 . INTERVENÇÃO | BIBLIOTECA - PARQUE

CORTE AA

Det. 6

CORTE BB

CORTE CC 127


LUGAR E MEMÓRIA | DO CÓRREGO GUARAÚ À FÁBRICA SÃO PEDRO EM ITU/SP

1

5

10

Det. 1

128

1

5

10

1

5

10

Det. 2


CAPÍTULO 5 . INTERVENÇÃO | BIBLIOTECA - PARQUE

Det. 3

CORTE DD

Det. 5

CORTE EE

CORTE FF 129


LUGAR E MEMÓRIA | DO CÓRREGO GUARAÚ À FÁBRICA SÃO PEDRO EM ITU/SP

HALL E ESPAÇO EXPOSITIVO O espaço, anteriormente abandonado e com cobertura em ruínas, deu lugar ao hall de entrada da biblioteca e ao espaço expositivo e permitiu a construção de um novo nível, cujo acesso ocorre pelos elevadores e rampa. O hall é um espaço destinado à acolhida e ao direcionamento do fluxo, seja para o interior da biblioteca, para o espaço expositivo ou para o segundo pavimento. Corresponde ao início do grande eixo de circulação que atravessa os espaços da biblioteca, coworking e pátio e que termina nos ateliers e oficinas. Como forma de respeito e valorização da memória do edifício, o antigo tanque de lavagem da tinturaria foi mantido e transformado em um espelho d’água. Optou-se pela retirada das camadas de pintura e argamassa da parede de divisa com a biblioteca de forma a revelar a alvenaria desse que foi o primeiro bloco construído na fábrica e, para a estruturação do segundo pavimento e da cobertura, optou-se pelo uso de estrutura metálica posicionada de forma independente às paredes existentes. 130

O rebaixamento do pé-direito em relação ao restante do conjunto e o uso de materiais como o concreto armado e estrutura metálica buscam reafirmar que a construção do segundo pavimento foi uma ação posterior à construção original da fábrica. O espaço do térreo se configura como um local de transição para o amplo espaço que abrigava o setor de tecelagem da fábrica. A fachada de divisa com a rua era anteriormente uma empena com janelas altas, e, portanto, sem visão para o exterior. Foram realizadas aberturas de vãos com o intuito de convidar os pedestres a adentrar o interior da biblioteca e, ao mesmo tempo, promover a conexão do interior com o exterior do complexo fabril, em especial com o parque proposto. Da mesma forma, no espaço expositivo foram criadas aberturas que permitem sua conexão com a área externa próxima à chaminé da fábrica. Esse espaço possui planta livre com layout flexível e ligação direta com um dos pátios internos.

1 - HALL DE ENTRADA 2 - GUARDA-VOLUMES 3 - ESTAR 4 - SALA DE PROJEÇÃO 5 - GUARITA, SANITÁRIO E DEPÓSITO 6 - RAMPA DE ACESSO AO NÍVEL 2 7 - ESPELHO D’ÁGUA 8 - ELEVADORES 9 - ESPAÇO EXPOSITIVO 10 - PÁTIO INTERNO 11 - PARQUE PROPOSTO NO CAPÍTULO 3


CAPÍTULO 5 . INTERVENÇÃO | BIBLIOTECA - PARQUE

E

D 10

9

9

9

8

7

C

>

B

6

1

>A

>

E

A 3

4 5 D

11 PLANTA NÍVEL 1

2

D

>

A

1

5

10

20 131


LUGAR E MEMÓRIA | DO CÓRREGO GUARAÚ À FÁBRICA SÃO PEDRO EM ITU/SP

A - Hall de entrada

C - Espelho d’água

B - Hall com espaço expositivo e biblioteca ao fundo

D - Estar e sala de projeção ao fundo

132


CAPÍTULO 5 . INTERVENÇÃO | BIBLIOTECA - PARQUE

Laje plana em concreto aparente impermeabilizado

Estrutura metálica em perfil “i”

Brises em aço patinável Laje plana em concreto aparente Fechamento em painéis de vidro Rampa em estrutura metálicaem perfil “I” e madeira

Estrutura metálica em perfil “i” Aberturas na fachada

Vidro Moldura interna Parede existente Moldura externa

Perspectiva explodida aberturas na fachada

Perspectiva explodida níveis 1 e 2

133


LUGAR E MEMÓRIA | DO CÓRREGO GUARAÚ À FÁBRICA SÃO PEDRO EM ITU/SP

ADMINISTRAÇÃO E AUDITÓRIO Pavimento destinado à implantação de um auditório para 262 pessoas e de um programa administrativo da biblioteca que compreende salas para recebimento, catalogação, manutenção, conservação e depósito temporário dos livros, além de administração, sala para funcionários e sanitários. O pavimento promove a conexão entre os diferentes níveis de implantação dos blocos do complexo fabril. Possui estrutura metálica aparente com laje em concreto, fechamentos em vidro, brises e algumas paredes revestidas com aço patinável. Devido ao amplo uso do vidro nas fachadas, o hall de entrada funciona como mirante para o complexo, para o interior da biblioteca localizada no nível 1 e para o parque proposto no exterior.

134

1 - HALL DE ENTRADA 2 - RAMPA DE ACESSO AO NÍVEL 1 3 - RECEPÇÃO 4 - ELEVADORES 5 - ALMOXARIFADO 6 - SANITÁRIOS 7 - SALA DE RECEBIMENTO, CATALOGAÇÃO, MANUTENÇÃO E CONSERVAÇÃO DOS LIVROS 8 - DEPÓSITO DE LIVROS 9 - SALA DOS FUNCIONÁRIOS 10 - ADMINISTRAÇÃO DA BIBLIOTECA 11 - SALA TÉCNICA, DEPÓSITO E SANITÁRIOS 12 – AUDITÓRIO 13 - PARQUE PROPOSTO NO CAPÍTULO 3


CAPÍTULO 5 . INTERVENÇÃO | BIBLIOTECA - PARQUE

E

D

10 7

9

8 5

6 4 2

1 B

A

C

A

>

>

A

>

3

>

12

D 11

E

D

13 PLANTA NÍVEL 2

1

5

10

20 135


LUGAR E MEMÓRIA | DO CÓRREGO GUARAÚ À FÁBRICA SÃO PEDRO EM ITU/SP

A - Conexão dos dois pavimentos pela rampa

C - Hall de entrada do nível 2 com vista para a chaminé

B - Hall de entrada do nível 2

D - Auditório

136


CAPÍTULO 5 . INTERVENÇÃO | BIBLIOTECA - PARQUE

Laje plana em concreto aparente impermeabilizado Fechamento em painéis de vidro Viga metálica em perfil “i”

Pilar metálico em perfil “i” Abertura proposta com fechamento em vidro Parede existente Chapa metálica Abertura proposta (ver pág. 133) Fechamento em vidro Pilar metálico em perfil “i” Detalhe 1 ( Corte DD )

Tesoura existente em madeira Calha metálica Laje em concreto aparente Parede existente Detalhe 2 ( Corte DD )

137


LUGAR E MEMÓRIA | DO CÓRREGO GUARAÚ À FÁBRICA SÃO PEDRO EM ITU/SP

1 - EMPRÉSTIMO E DEVOLUÇÃO 2 - COMPUTADORES 3 - ACERVO DE REVISTAS, PERIÓDICOS, CDS E DVDS 4 - ACERVO DE OBRAS RARAS 5 - ACERVO INFANTIL 6 - ACERVO GERAL 7 - ARQUIBANCADA COM ESTAR ELEVADO 8 - SALA DE LEITURA INDIVIDUAL 9 - SANITÁRIOS 10 - JARDIM INTERNO

BIBLIOTECA Os espaços internos da biblioteca são articulados por meio de um grande eixo central de circulação demarcado pelo uso de piso em deck de madeira e forro em chapa metálica perfurada. No local da antiga tecelagem, espaço amplo pontuado por uma sequência de pilares e tesouras em madeira aparente com piso de cimento queimado, foi instalado o acervo geral da biblioteca. Nessa área permeada por estantes e estares foram instalados dois pisos elevados que em suas laterais conformam prateleiras e arquibancadas. A ação busca valorizar a própria estrutura existente ao aproximar os usuários das tesouras, criando novas experiências e ângulos de apreensão do espaço. Realizou-se a abertura de vãos nas paredes do jardim interno e também na sala de leitura individual, espaço de leitura mais silencioso e conectado visualmente à rua interna. Aproveitando as divisões já existentes na fábrica, foram instalados o acervo de obras raras destinadas a consulta e a biblioteca infantil com acesso direto para um dos pátios internos. A - Principal eixo de circulação da proposta

138


5

CAPÍTULO 5 . INTERVENÇÃO | BIBLIOTECA - PARQUE

D

20

10

A

>

1

E 10

B

B

9

6

>

5

>

G

C

7

>B

7 4

8

>

D

6

2

>

>

3

F

E

1

9

A

A

E

D

139


LUGAR E MEMÓRIA | DO CÓRREGO GUARAÚ À FÁBRICA SÃO PEDRO EM ITU/SP

B - Arquibancadas e estares elevados

D - Arquibancadas e acervo geral

C - Estar elevado com vista para o jardim interno

E - Estar elevado

140


CAPÍTULO 5 . INTERVENÇÃO | BIBLIOTECA - PARQUE

F - Acervo infantil

G - Sala de leitura individual

141


LUGAR E MEMÓRIA | DO CÓRREGO GUARAÚ À FÁBRICA SÃO PEDRO EM ITU/SP

COWORKING E CAFETERIA

1 - SALAS DE REUNIÃO 2 - JARDIM INTERNO 3 - CABINES DE TRABALHO 4 - MESAS INDIVIDUAIS E EM GRUPO 5 - SOFÁS E POLTRONAS 6 - PUFES 7 - CAFETERIA 8 - SANITÁRIOS

O espaço de coworking é pensando como uma extensão da biblioteca promovendo a continuidade do grande eixo de circulação, além de permitir conexão visual por meio das aberturas criadas para o jardim interno. Corresponde à área do antigo depósito de fios, um espaço amplo pontuado por uma sequência de pilares e tesouras em madeira aparente com piso de cimento queimado. O layout foi posicionado de modo a promover áreas de trabalho com diferentes características. Nas proximidades do eixo de circulação se localizam as áreas de trabalho mais descontraídas com a presença de sofás, poltronas e pufes separados por divisórias em chapas metálicas perfuradas e estantes com armários individuais. No restante do espaço foram distribuídas mesas para trabalhos individuais ou em grupo e para maior privacidade foram criadas salas de reunião e cabines de trabalho com fechamentos em divisórias transparentes. Aproveitando a divisão do espaço já existente, em uma das laterais foi implantado uma cafeteria conectada com o espaço de coworking e também A - Área de mesas indivíduais e poltronas com o pátio interno. 142

B - Áreas de sofás e


10

20

6

A

5

>

C 4

B

>

5

>

1

CAPÍTULO 5 . INTERVENÇÃO | BIBLIOTECA - PARQUE

D

6 4

5

3 7

1

1 8 2

B

e poltronas

B

D

C - Salas de reunião, mesas de trabalho individuais e em grupo

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LUGAR E MEMÓRIA | DO CÓRREGO GUARAÚ À FÁBRICA SÃO PEDRO EM ITU/SP

ATELIERS, OFICINAS E SALAS DE AULA O programa ocupa dois blocos distintos com características próprias. Um deles corresponde ao final do grande eixo de circulação e é composto por oito salas com layout flexível e destinadas a ateliers e oficinas de arte. As salas compartilham um local de acolhida e estar e uma sala de materiais e preparo. O outro bloco, voltado para a rua interna e o pátio expositivo de esculturas, possui forma alongada e abriga uma grande sala para aulas de dança e teatro, além de vestiários e depósito.

1 - SALA DE DANÇA E TEATRO 2 - VESTIÁRIOS 3 - DEPÓSITO 4 - ACOLHIDA E ESTAR 5 - SALAS DE ATELIERS E OFICINAS 6 - DEPÓSITO 7 - SALA DE MATERIAIS E PREPARO 8 - SANITÁRIOS 1

5

10

D

20

3 6 5

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2

5

Paralelepípedo Deck de madeira Água

C

C

Rebaixamento do piso de paralelepípedo para formação do espalho d’água

1

Detalhe 3 ( Corte DD )

144

PLANTA NÍVEL 1

D


CAPÍTULO 5 . INTERVENÇÃO | BIBLIOTECA - PARQUE

1

5

10

1 - CENTRO DE INFORMAÇÕES, BILHETERIA E LOJA 2 - SANITÁRIO 3 - SALA DE REUNIÃO 4 - COPA PARA FUNCIONÁRIOS 5 - DEPÓSITO 6 - SALAS ADMINISTRATIVAS DO COMPLEXO

20

ADMINISTRAÇÃO As salas administrativas do complexo foram implantadas no mesmo local da antiga administração da fábrica, de modo a aproveitar grande parte das divisões internas já existentes no bloco. As características da construção original foram mantidas com exceção de aberturas criadas para a Avenida Galileu Bicudo por causa da necessidade de maior iluminação e ventilação. Próximo à entrada principal do complexo pela avenida foi implantado um centro de informações sobre as atividades disponíveis nos programas culturais da fábrica, além de loja e bilheteria do cinema e teatro.

3

6 5 4 3 2

1

PLANTA NÍVEL 1

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LUGAR E MEMÓRIA | DO CÓRREGO GUARAÚ À FÁBRICA SÃO PEDRO EM ITU/SP

TEATRO E CINEMA

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B

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C 9

A

13 F

PLANTA NÍVEL 1 146

E

>

Localizado nas antigas salas de expedição, embalagem, loja e depósito, o espaço passou por modificações significativas para receber os programas do cinema e teatro. O piso de cimento queimado foi em geral mantido, porém em alguns pontos foram instalados pisos de madeira. A cobertura de fibrocimento foi substituída por telhas termoacústicas e, para a instalação da plateia do teatro, foi construída uma nova cobertura em estrutura metálica e laje de concreto impermeabilizada que permitisse vencer o vão sem a utilização de apoios. Os programas do cinema e teatro foram pensados de modo a compartilharem o mesmo foyer e ambos aproveitam do desnível existente entre o bloco e a rua para a abertura de saídas C de emergência. O cinema possui 168 lugares e o teatro uma plateia para 228 pessoas. Ambos possuem salas de som e iluminação e, no caso do teatro, um bloco de apoio com camarins, sala de convivência e depósito de figurinos e cenários.

E


CAPÍTULO 5 . INTERVENÇÃO | BIBLIOTECA - PARQUE

1

5

10

20

E

F

C

>

14 C

14

F PLANTA NÍVEL 2

E

1 - FOYER 2 - BOMBONIÈRE 3 - SANITÁRIOS 4 - CINEMA C 5 - DEPÓSITO 6 - TEATRO 7 - PALCO 8 - COXIA 9 - CAMARIM E VESTIÁRIOS 10 - DEPÓSITO DE FIGURINO 11 - SALA DE ESPERA E CONVIVÊNCIA DOS ATORES 12 - DEPÓSITO DE CENÁRIOS 13 - APRESENTAÇÕES AO AR LIVRE 14 - SALA DE PROJEÇÃO, LUZ E SOM 147


LUGAR E MEMÓRIA | DO CÓRREGO GUARAÚ À FÁBRICA SÃO PEDRO EM ITU/SP

Laje plana em concreto aparente impermeabilizado

Estrutura metálica em perfil “i”

Paredes de alvenaria

Cobertura em telhas termoacústicas (sanduiche)

Estrutura em madeira existente Estrutura metálica em perfil “i”

A - Foyer

148

Perspectiva explodida cobertura teatro


CAPÍTULO 5 . INTERVENÇÃO | BIBLIOTECA - PARQUE

Laje plana em concreto aparente impermeabilizado

Laje plana em concreto aparente impermeabilizado Venezianas para iluminação e ventilação natural

Viga metálica em perfil “i” Telhas termoacústicas (sanduiche)

Telha termoacústica (sanduiche)

Parede de alvenaria

Chapa perfurada

Tesoura de madeira existente

Tesoura de madeira existente

Viga metálica em perfil “i”

Chapa metálica para fixação da tesoura na parede

Viga metálica em perfil “i” Detalhe 4 ( Corte EE )

Laje em concreto aparente Detalhe 3 ( Corte CC )

B - Vista para a plateia do teatro

C - Vista para o palco do teatro

149


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LANCHONETE E RESTAURANTE A lanchonete foi instalada nas antigas salas de confecção de linhas e modelagem e é o elemento de articulação entre os diferentes pátios que compõem o conjunto. Foram posicionadas mesas ao ar livre como 1 - ARQUIBANCADA extensão de sua área tanto em direção 2 - MESAS AO AR LIVRE à arquibancada quanto ao pátio mais 3 - LANCHONETE densamente arborizado. No mesmo 4 - SANITÁRIOS bloco foram instalados os sanitários 5 - BAR destinados às áreas externas. 6 - SALÃO DE REFEIÇÕES O salão de refeições e o bar do restaurante foram implantados nas antigas salas de confecção de linhas e acabamento que, devido ao abandono, foram tomadas pela vegetação e perderam sua cobertura. Para o local foi projetada uma nova cobertura cuja forma remete à original, mas é estruturada em pórticos metálicos com lanternim cobertos com placas de vidro e telhas termoacústicas de forma a garantir ventilação e iluminação natural. Aproveitando-se dessas características e da proximidade com o pátio arborizado, a natureza é trazida para dentro do salão por meio da instalação de uma parede coberta por vegetação e do uso de materiais naturais como a madeira nos A - Salão de Refeições com parede verde móveis e pedriscos no piso. 150

Calha Parede existente Detalhe 5 ( Corte BB )


CAPÍTULO 5 . INTERVENÇÃO | BIBLIOTECA - PARQUE

Telha termoacústica (sanduiche)

1

F

Estrutura metálica

5

10

20

Chapa perfurada Painéis de vidro Pórtico metálico com lanternim em perfil “i”

1

4 5

2

3 B

4

B

6

> A

Perspectiva explodida da cobertura do restaurante

F PLANTA NÍVEL 2

151


LUGAR E MEMÓRIA | DO CÓRREGO GUARAÚ À FÁBRICA SÃO PEDRO EM ITU/SP

COZINHA E MUSEU Com a retirada de partes do muro voltado para a Rua Graciano Geribelo foram abertos dois acessos para o nível mais alto do terreno do complexo localizados nas laterais da antiga cabine de força. A primeira entrada mantém o piso de paralelepípedo original e dá acesso ao segundo pavimento do bloco da biblioteca, além de direcionar o fluxo para os pátios internos. A segunda, com a presença de um espelho d’água e piso em deck de madeira, conecta dois blocos que juntos configuram um A - Acesso para o segundo pavimento da biblioteca e pátios internos com visual para a chaminé museu dedicado à história das fábricas de tecido da cidade de Itu, trazendo especialmente documentos, imagens e maquetes do próprio complexo da antiga Companhia de Fiação e Tecelagem São Pedro. Essa mesma entrada permite o acesso para a cozinha do restaurante, que é um bloco novo inserido no complexo em estrutura metálica, fechamento em alvenaria e cobertura em laje de concreto impermeabilizada. O bloco possui acesso direto para a antiga sala de corte de tecidos onde foram instalados o buffet de comidas e o caixa do restaurante, os quais direcionam o fluxo para o interior do salão de refeições.

B - Acesso para cozinha, buf fet de alimentação e museu com piso em madeira e espelho d’água

152


CAPÍTULO 5 . INTERVENÇÃO | BIBLIOTECA - PARQUE

F

B

B 3

1 3 12 B

A

B

2

>

1 - PÁTIO ARBORIZADO COM MESAS 2 - MUSEU 3- ESPELHO D’ÁGUA 4- SALA DE RECEBIMENTO DAS MERCADORIAS 5 - DESPENSA E CÂMARA FRIA 6 - COZINHA: PRÉ-PREPARO, PREPARO E COCÇÃO DOS ALIMENTOS 7 - LIMPEZA E HIGIENIZAÇÃO 8 - VESTIÁRIOS PARA FUNCIONÁRIOS 9 - ACONDICIONAMENTO DO LIXO 10 - CORREDOR DE SERVIÇO 11 - BUFFET DE ALIMENTAÇÃO 12 - CHAMINÉ

11 10

6 3

7

>

8 A

9

5 4

B

2 A

F PLANTA NÍVEL 2

1

5

10

20 153



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BIBLIOGRAFIA


LUGAR E MEMÓRIA | DO CÓRREGO GUARAÚ À FÁBRICA SÃO PEDRO EM ITU/SP

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LISTA DE FIGURAS As imagens utilizadas pertencem ao acervo da autora com exceção: Fig. 1 - https://pt.wikipedia.org/wiki/Par%C3%B3quia_Matriz_Nossa_Senhora_da_Candel%C3%A1ria Fig. 2 - https://www.flickr.com/photos/brunosoto/1484659190 Fig. 3 - http://www.itu.com.br/hotsite/default.asp?id=45 Fig. 4 - https://www.flickr.com/photos/ines_sp/3561008206 Fig. 7 - https://www.solutudo.com.br/sp/itu/locais/museu-republicano/562 Fig. 8 - https://patrimonioespiritual.org/2017/07/26/santuario-do-bom-jesus-itu-sao-paulo/ Fig. 9 - http://passearefotografar.blogspot.com/2015/02/passeando-por-itu.html Fig. 10 - https://www2.jornalcruzeiro.com.br/materia/450215/dicas-de-passeios-em-itu 158


CAPÍTULO 6 . BIBLIOGRAFIA

Fig. 11 - http://www.itu.com.br/hotsite/default.asp?id=44 Fig. 12 - http://mapacultural.itu.sp.gov.br/espaco/13975/ Fig. 13 - https://www.guiadasemana.com.br/sao-paulo/turismo/estabelecimento/fazenda-do-chocolate Fig. 14 - http://www.roteirokids.com.br/passeios-com-criancas/passeios-com-criancas-parque-maeda-itu/ Fig. 15 - http://wikimapia.org/3387512/pt/Parque-do-Varvito Fig. 16 - https://www.hypeness.com.br/2016/11/madri-decide-destruir-marginal-para-dar-lugar-a-um-parquelinear-de-10-km/ Fig. 17 https://www.esmadrid.com/pt/informacao-turistica/matadero-madrid?utm_ referrer=https%3A%2F%2Fwww.google.com.br%2F Fig. 18 - Revista Campo e Cidade. Edição nº 32, agosto/setembro 2004, p.20, Uma fábrica de histórias. Fig. 19 - http://ituantiga.blogspot.com/2012/05/fabrica-sao-luiz.html Fig, 20 - Revista Campo e Cidade. Edição nº 32, agosto/setembro 2004, p.52, Uma fábrica de histórias. Fig. 21 - Revista Campo e Cidade. Edição nº 32, agosto/setembro 2004, p.50, Uma fábrica de histórias. Fig. 22 - http://historiadeindaiatuba.blogspot.com/2010/04/na-segunda-metade-do-seculo-xviii-mais.html Fig. 23 - Revista Campo e Cidade. Edição nº 32, agosto/setembro 2004, p.47, Uma fábrica de histórias. Fig. 24 - Foto da autora Fig. 25 - Revista Campo e Cidade. Edição nº 32, agosto/setembro 2004, p.50, Uma fábrica de histórias. Fig. 26 - Revista Campo e Cidade. Edição nº 32, agosto/setembro 2004, p.48, Uma fábrica de histórias. Fig. 27 - http://historiadeindaiatuba.blogspot.com/2010/04/na-segunda-metade-do-seculo-xviii-mais.html Fig. 29 até 45 - http://historiadeindaiatuba.blogspot.com/2010/04/na-segunda-metade-do-seculo-xviii-mais. html Fig. 46 - http://arqa.com/arquitectura/parque-biblioteca-publica-leon-de-greiff-en-medellin-colombia.html Fig. 47 - http://bibliotequera.blogspot.com/2010/11/parque-biblioteca-leon-de-greiff.html Fig. 48 - http://www.architectureindevelopment.org/news.php?id=76 Fig. 49 e 50 - https://www.archdaily.com.br/br/01-38052/biblioteca-sao-paulo-aflalo-e-gasperini-arquitetos Fig. 51 - http://au17.pini.com.br/arquitetura-urbanismo/202/premio-iab-sp-edificio-institucional-obra-concluidapremio-biblioteca-206803-1.aspx Fig. 52 - http://arquittetando.com.br/sesc-pompeia/ Fig. 53 - https://www.sienge.com.br/blog/lina-bo-bardi-quem-foi-estilo-e-obras/ Fig. 54 - http://arquiteturacomconceito.blogspot.com/2015/06/liberdade-na-arquitetura-sesc-pompeia-sp.html Fig. 55 - http://www.a-realestate.it/palazzo-fondazione-feltrinelli-a-milano-ecco-la-magia-del-schermaturesolari-resstende/ Fig. 56 - https://www.ageasumbertopiedi.it/portfolio/auditorium-feltrinelli/ Fig. 57 - http://www.unifor.it/ITA/realizzazione/fondazione-giangiacomo-feltrinelli-milano-2016.aspx 159


CAPÍTULO 6 . BIBLIOGRAFIA

160


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