Blitz Music Magazine

Page 1

março 2012 nº83 mensal €2,90 www.blitz.com

BLITZ

enter shikari beirut the doors deolinda blur

EXCLUSIVO + Guia festivais de 2012

1

black keys


2


s 8/9.s olyf thric e stone age queen dub fx

4/5o.pfinriãeonte A tua ta Ornatos Viole

5/7.nofvroeanlbtúem?

Blur mmys Adele e os Gra Enter Shikari

editorial

Não sei o que a maioria das pessoas pensa, mas os festivais de verão são um êxito. Este ano, devido à crise económica, enfrentam a sua primeira séria ameaça. Seja como for, vale a pena dizer alto e bom som: está aberta a época dos festivais, É uma historia que merece ser lembrada. Desde que em meads dos anos 90 começaram a aparecer festivais em Portugal, que esti tipo de eventos, já uma realidade há mais tempo noutros países da Europa e da América, foram crescendo em quantidade e em qualidade. E assim sucedeu porque produtores, público, patrocinadores, media e até os próprios artistas que engalanam o cartaz, pelas mais diferentes razões, contribuíram para o mesmo. Produtores e publico deram mãos, ate porque e quase impossível recordar um festival que tenha corrido realmente mal. Os primeiros encontraram uma fonte de receitas quase garantida, sobretudo devido à quebra do risco destas empreitadas por via de apoio oferecido pelos patrocinadores. Mas é também esse apoio que permite que os preços das entradas sejam bastante mais baratos do que o praticado no resto do mundo ou ate oferecer cartazrs de luxo. Uma benesse que operadores de telemóveis e cervejeiras oferecem ao publico português apesar de por vezes ser mal entendida por parte dos espectadores. Mas a verdade é que os festivais em Portugal, foram desde sempre muito apetecíveis para os patrocinadores. Desde as marcas de cerveja que na primeira década os transformaram numa arena para a sua guerra pela quota de mercado até as operadoras de telemóveis que nos últimos anos têm esgrimido argumentos nas planícies alentejanas ou em espaços abertos à beira Tejo. Também os media apoiaram, desde o primeiro dia sem quebra de entusiasmo, os festivais de verão. Não só os da especialidade, mas também os generalistas, que encontraram nas romarias da “malta da pesada” o colorido necessário pra preencher o

10. opinião

rox. 10 anos 10 ideias p/ p

36.t features Beiru

in e d a m 9 3 / 8 3

12. features

pt

21. pCa&sarblancas

3. plus 42/4 Bombaim

o Gogol Bordell

Julian

22. Kfeeyas tures Black

30. orrreistoron visor Jim M

vazio dos áridos meses de estio. E não deixa de ser curioso que até a evolução da industria da musica conduziu a um enorme interesse, económico (mas não só), nos concertos e, em particular, nos festivais, inédito até há pouco. A quebra de receitas provenientes da venda de discos fez com que os artistas precisassem dos cachets ganhos em espetáculos como de pão para a boca, aceitando mesmo que o mercado reduzisse a sua remuneração. Ou seja, aconteceu uma tempestade perfeita que tem feito todos os festivais um paraíso para todos os envolvidos. Mas nada nos garante que seja sempre assim. A notória diminuição do rendimento disponível das famílias poderá começar a inverter a situação; sucedendo o mesmo orçamento de marketing das marcas mais interessadas em utilizar a música para fazer crescer a sua visibilidade. Sem estes dois ingredientes, é óbvio que o preço dos bilhetes terá de aumentar e a qualidade dos artistas contratados podem estar, por isso, ao virar da esquina. E aí, depois das primeiras noticias do apocalipse, a própria comunicação social perderá interesse. A vcer vamos, já dizia o ceguinho. Miguel Francisco Cadete

Deolinda court Tiago Bettern

Black venience Kings of Con Air

44. albúm festivais ve!

optimus ali oura paredes de c sudoeste tmn uper rock super bock s

54. short stories

58.npes&- rChi Moreno Defto

60. dvds 64. Feaeytures Lana Del R

68. agenda

3


a tua opinião 4

Decidi de vez em quando fazer uma espécie de artigo sobre um ou outro álbum que me resulte especial ou que seja uma nova descoberta interessante. Não tenho qualquer pretensão de fazer artigos muito eloquentes ou elaborados, serão apenas opiniões minhas. No final atribuirei uma nota, de 1 a 10, a cada música como forma de atribuir, através da sua média uma nota ao álbum. Comecemos então e desta vez decidi escrever sobre o último álbum da Marisa Monte, o “O que você quer saber de verdade”. Antes de mais devo dizer que gosto de Marisa Monte já faz muito tempo e sempre me resultou um pouco estranho o porquê de ela não conseguir obter grande sucesso aqui em Portugal, ao mesmo tempo que vejo outros músicos, menos interessantes, como Michel Teló, Maria Gadú, Só para contrariar ou qualquer dupla sertaneja, ter algum sucesso. Não creio que a música da Marisa Monte seja muito fácil de apreciar, pois escapa um pouco ao estilo brasileiro que mais se ouve por cá, no entanto sempre conseguiu fazer álbuns com muita qualidade, que foram sempre passando ao lado do sucesso comercial. Gostaria muito que isso não se passasse de novo com este álbum, mas não creio que seja diferente. Desta vez, a Marisa Monte conseguiu um álbum muito equilibrado e muito interessante. Nas cotações das músicas sempre que eu gostar especialmente de uma música é-lhe atribuída uma cotação extra de 0,5 pontos, quando a música for para mim uma música que me resulta muito especial por razões fora do contexto musical será atribuída uma cotação extra de 1 ponto.

Os metaleiros e indies não podem estar na mesma festa de aniversario porque depois existe bronca. Metaleiros gozam indies por comerem a carne com temparatura média, e os indies gozam os metaleiros por comerem carne rosinha. Quem entende bem os metaleiros são japoneses, coreanos que vivem fora da Ásia e que são normalmente confundidos por chineses, já os metaleiros por góticos. O “deus do metal” Rob Halford, (o gay que os metaleiros não gozam, e em vez de chamar-lo gay chamam ao hetero Justin Bieber), apaixonou-se por FF depois de o ver actuar em “A tua cara não me é estranha”. Segundo declarações na Loud,Halford exclamou “ Gostaria de lhe fazer um headbang se é que me entendem”. Ao saber das seguintes declarações, Fernando Ribeiro disse que apagaria o canal Tvi da sua televisão, isto depois de ter apagado o seu facebook por achar que ele e a sua familia estavam a ser gozados. Para além de tal acrescentou em tom de ameaça “ três facadas, pontuais e certeiras, direitas ao assunto. Deixar o sangue correr e bebo-lo no bar maldito mais próximo na companhia dos teus melhores amigos”. Ah e tal as letras do hip hop, ass para aqui, ass para lá, oh espera deixa ver a letra da ultima dos Moonspell “Lunar skin, white as pearl,Collar wine, reap the thine,Ride the bitch to ecstasy,Can’t go wrong, lickanthrope” Isto em rap fica mais ou menos assim “High as Yao Ming, fuck that bitch like crazy,gonna fuck so hard that in the next day she´s gonna be lazy”. Para acabar, gostaria de dizer que as pessoas do metal gostam de tudo pesado, por isso no supermercado não compram vegetais de lata.

o v


É uma das notícias mais celebradas dos últimos tempos, não só pelos fãs que acompanharam os Ornatos Violeta na década de 90, como pelos ouvintes mais jovens que, deitando mão à coleção de discos dos parentes, ou socorrendo-se do Youtube e afins, lamentavam nunca ter visto a banda de Cão! Ao vivo. No próximo mês de outubro, os Ornatos Violeta – agora como dantes, Manel Cruz (voz e guitarra), Peixe (guitarra), Nuno Prata (baixo), Elísio Donas (teclados), e Kinorm (bateria) – reúnem-se para dois concertos de celebração. O primeiro acontece dia 25 de outubrom no coliseu de Lisboa, e o segundo a 30 do mesmo mês, no Coliseu do Porto, cidade que, há cerca de 20 anos, viu a banda nascer e crescer. A novidade foi dada em primeira mão à BLITZ por Manel Cruz, no final do ano passado. “Para todos os efeitos, gostava de encerrar o capítulo e, ao mesmo tempo, das às pessoas que nunca nos viram um concerto de Ornatos. Acho que vou simplificar isto e fazer feliz muita gente, incluindo eu, porque também ia gostar de dar um concerto”, disse então o letrista dos Ornatos Violeta, que desde o final do grupo de “chaga” criou os Supernada – que em breve lançarão o primeiro álbum - e os Pluto e desenvolveu o projecto Foge Foge Bandido. “É uma coisa que vai bulir com muitas emoções [e por isso também] me dá medo”, confessou, na mesma altura o musico e ilustrador. Recentemente, os dois discos dos Ornatos Violeta, cão! E O Monstro Precisa de Amigos, foram reeditados com um cd de inéditos e raridades. Já este ano, a editora Rastilho, em colaboração com a Universal, editou pela primeira vez em vinil os álbuns de 1997 e 1999. Está assim, preparado o terreno para acolher o regresso, ainda que temporário e limitado aos palcos, dos Ornatos Violeta, em outubro. Desde o fimda banda, em 2002, todos os membros têm continuado a fazer música: Peixe integrou os Pluto, gravou com os DEP e os Zelig e lança este ano, um disco a solo pela Meifumado; Nuno Prata tem dois discos a solos, Todos os Dias Fossem Estes/Outros e Deve Haver; Elísio Donas tocou com Sérgio Godinho e per7ume, entre outros, e Kinorm pertenceu aos Ultra Plus e Mata Tu, Pátron!...

nos coliseus em outubro

ornatos violeta 5


blur

6

Afinal, a reunião dos Blur não se vai ficar pelos palcos. Nas últimas semanas têm-se sucedido as pistas de que Damon Albarn, Graham Coxon, Alex James e Dave Rowntree estão mesmo apostados em voltar a estúdio, para gravar o primeiro álbum desde Think Tank, de 2003. Em entrevista ao jornal escocês Daily Record, Graham Coxon, que se prepara para lançar um disco a solo, A+E revelou: “Ainda não cominamos ensaiar, mas sem dúvida que vai haver outro álbum dos Blur”. Sobre os concertos de regresso de 2009, considera Coxon: “Foi uma experiência que curou muitas das nossas feridas. Ficamos encantados e desabafámos muita coisa. Percebemos que ainda temos muito em comum, que somos bons amigos, que somos irmãos. Havemos sempre de nos juntar e fazer coisas. Gostamos de gravar”. “Adoramo-nos uns aos outros e ainda gostamos de fazer música – não é um mau começo!”. Antes das declarações de Graham Coxon, já o produtor William Orbit dera a entender, através de uma série de mensagens no Twitter, que estava a trabalhar com os Blur num novo disco. Conhecido sobretudo pelo seu trabalho com a Madonna, William Orbit produziu 13, o último álbum dos Blur com Graham Coxon.

Aos 23 anos, Adele tem a América aos seus pés. No passado dia 12 de Fevereiro, a londrina foi a grande vencedora dos Grammys, o prémio mais importante da indústria discográfica norte-americana. Graças a 21, o seu segundo disco, Adele ganhou 6 Grammys, incluindo os de Álbum do Ano, Gravação do Ano e Canção do Ano (Rolling in the deep). Foo Fighters, nas categorias de Rock e hard Rock/Metal, e Bom Iver, considerado Melhor Artista Novo e autor do Melhor Álbum Alternativo, também brilharam numa gala marcada pela morta, na véspera de Whitney Houston.

adele


enter shikari 7

Afilhados dos Prodigy, para quem fizeram a primeira parte do concerto do Pavilhão Atlântico, os ingleses chegaram para agitar. Com agressividade.

Carregados em ombros pela imprensa britânica quando em 2007 se estrearam com Take to The Skies, os Enter Shikari regressaram este ano às edições discográficas com Common Dreads, registo que promete mantê-los à tona. Apesar de a sua música ser ambiciosa, a banda é comedida em termos de objectivos. “Não queremos nada da música, somos todos pessoas mais de dar do que receber”, assegura entre risos, o baterista Rob Rolfe. O vocalista Rou Reynolds apressa-se a completar: “Queremos apenas manter-nos inspirados. Não gostamos de pedir muito”. Os dois músicos chegam à conversa com a BLITZ depois de uma noite animada nas Docas, em Lisboa – naquela que era a véspera do primeiro encontro dos Enter Shikari em solo nacional, na primeira parte dos Prodigy. “Falaram-nos hoje no Bairro Alto, mas ainda nos conseguimos divertir

a primeira banda agressiva que eu conheci que juntava o rock à música de dança”, diz, antes de concordar com o colega quanto ao papel que a banda de Liam Howlett, Keith Flint e Maxim desempenhou na sonoridade dos Enter Shikari. “Ouvi-los fez-me deixar de estar tão fechado em termos de gostos musicais e começar a apreciar também música eletrónica”, assume Rou. Common Dreads é, segundo os dois músicos, um álbum bem mais trabalhado do que Take to the Skies, e é aí que reside a força de canções como Juggernauts ou No Sleep Tonight. “O álbum fala basicamente sobre coisas globais que atormentam as pessoas, como as alterações climatéricas, o imperialismo moderno, a guerra, a pobreza e o sistema monetário”, diz Rou, exaltando bem a vocação contestatária que lhe corre nas veias. “Gravamos o Take to The Skies em apenas duas semanas. Desta vez, tivemos tempo para nos sentarmos, escrever o álbum e gravar. Tivemos muito mais tempo para brincar e fazer experiências”, completa Rob Rolfe.


8

She said “i’ll throw myself away, They’re just photos after all” I can’t make you hang around. I can’t wash you off my skin. Outside the frame, is what we’re leaving out You won’t remember anyway I can go with the flow But don’t say it doesn’t matter anymore I can go with the flow Do you believe it in your head? It’s so safe to play along Little soldiers in a row Falling in and out of love With something sweet to throw away. But I want something good to die for To make it beautiful to live. I want a new mistake, lose is more than hesitate. Do you believe it in your head? I can go with the flow But don’t say it doesn’t matter anymore I can go with the flow Do you believe it in your head?


9

Joined at the soul with a pair of headphones We need nobody to let ourselves go Always on my side as we rock a stage show In an ocean of music we move with the flow Her hand in my hand I don’t wanna let go A partner in life on this mean old road We got the wind on our back that blows We can’t drift apart, we just move with the flow Joined at the soul with a pair of headphones We need nobody to let ourselves go Always on my side as we rock a stage show In an ocean of music we move with the flow Her hand in my hand I don’t wanna let go A partner in life on this mean old road We got the wind on our back that blows We can’t drift apart, we just move with the flow Well it started with a chat with the lips, But why is it so I’m intrigued? Does my heart understand do its feelings exist, Fits in with all my beliefs, I’m not as strong as I’d like to believe, An impulse I cannot control, My feelings are something I thought I could leave, To keep and come back as a whole It’s inevitable and understandable that my body feels this way, I feel no inhibitions yet the contradictions of my feelings lead me astray, Well I understand that I cannot deny my, Human instinct that lies inside


Há dez anos ninguém previu que a internet alastrasse ou que dois Boiengs fossem espetados no coração de Nova Iorque. Mas foram estes os acontecimentos determinantes de uma década que tresandou a acto falhado, escreve Pedro Boucherien Mendes. O júri do programa de televisão ídolos veste o turbante e espreita para dentro da mais dos bola de cristal os próxi- mesmos mos 10 anos de vida na Em 2020 o mundo será extremamente parecido. terra (e não só). Como é hoje muito similar ao que há dez anos.

2.

10

1. nós vs

cisne negro O que mais vai marcar a década será qualquer coisa de absolutamente irreal e inesperado. Talvez a descoberta de um combustível limpo e muito barato. Ou a cura e os paraplégicos. Ou a guerra brutal. Ou o terramoto que arrase uma nação do primeiro mundo. Mas a vida, apesar do cisne negro, vai ser o que fizermos dela. E o talento virá sempre ao de cima. O melhor dos filmes, da musica, dos livros ou da arte dos próximos dez anos será um melhor magnifico.

3. o amor

é eterno

Culturalmente o amor dominará como domina sempre. Os grande livros, as grandes canções e os grandes filmes serão sempre inspirados pelo amor. Os futuros formatos digitais só vingam se conseguirem suportar o amor. Ou a falta dele. As comédias românticas serão muito parecidas com as de agora, ainda que daqui a 8 anos, o Hugh Grant faça de pai do tipo que fará de Hugh Grant. As mulheres vao parecer-nos mais bonitas porque vao poder cuidar-se mais e melhor. As relações serão mais dinâmicas, menos sustentadas, mais abundantes. Um novo laço de parentesco, o ex, ganhará mais importância. Se são pessoas de quem gostámos, porque as haveremos de desterrar das nossas vidas?

Ao fim e ao cabo, continuamos a achar os AC/ DC uma banda com um som único, os Xutos os maiores e a dar a capa dos jornais aos U2 de cada vez que voltam a Portugal. Em 2020, o mais certo é termos exactamente a mesma opinião e as mesmas impressões (que são as mesmas de há dez anos). Por mais googles, facebooks e iphones que existam, são apenas meios de partilha das mesmas opiniões sobre as mesmas figuras de sempre. Ainda que se inventem outras ideias de ruptura que migrem para o dia-a-dia Xutos, acdc ou u2 vao lá estar. Ou a guerra das estrelas. Ou teorias sobre o Lost. Porque continuaremos a precisar de partilhar ideias e gostos. Nos concertos, em vez de isqueiros no ar, passamos a usar telemóveis. Usaremos outra coisa em 2020, mas o sopro no nosso coração será igual. Como sempre, é o talento que continuará a ser indispensável e o verdadeiro motor das coisas. Queremos lá saber que aquilo que ouvimos foi tocado com guitarra ou som software. É a forma como nos enche a alma que nos dirá se vale a pena.

4. terapia

das compras O tradicional continuará a sustentar o novo. Compraremos discos, livros e jornais. Mesmo tendo vídeo on demand continuaremos a preferir a televisão que alguém programa. Ser corsário na internet cansa. Não queremos ser sempre libertários e excitados. Por mais imediatas e baratas que as ligações e os acessos venham a ser, haveremos de continuar a ir a lojas e estar com outras pessoas. Ninguém vai deixar de ir as compras. Ninguém vai deixar de namorar. As novas velocidades da conectividade vao ter impacto sobretudo na nossa vida burocrática, facilitando-a e dando-nos mais tempo para outras coisas. Como ir ao cinema. Os filmes em 3D até saõ meios chatos, mas não há pipocas tao saborosas como aquelas.

5. tocar Em qualquer grande museu compraremos um catálogo da exposição igualzinho ao de hoje. É possível que no nosso telefone esteja tudo sobre arte que nos impressionou, mas o prazer táctil e olfativo de ter um catálogo na mão é demasiado poderoso para ser destruído por um gadget. Os bits não têm o peso do papel. E ninguém faz coleção de bilhetes digitais. As revistas e os jornais serão menos, mas provavelmente melhores e com mais coisas. Se calhar vêm com cinco litros de gasóleo incluídos. Ou cupões que dao entradas em vários festivais de musica e artes. Pouco importa. O capitalismo, o grande jornalismo e a necessidade dessa experiencia sensitiva que é folhear, vão acabar por encontrar solução para o papel.

7. fim das

férias

Os bens mais escassos daqui a dez anos, serão a paz e o sossego. É muito provável que nos próximos dez anos o preço de estar sempre online se torne despiciendo. Quando formos para a Republica Dominicana passar uma semana na praia, não vejo forma de impedir que se consulte o mail a toda a hora ou que não se twite ou facebook que a agua esta muito quentinha. Não tenhamos dúvidas que é o que vamos fazer. Ou ver um filme. Ou ouvir musica no nosso leitor. ou tirar fotografias às conchas. Em 2020, o dia continuará a ter 24 horas e o anos 365 dias, mas as férias vao acabar de vez.


10

6. preguiças

O discurso dominante sobre o ambiente permanecerá uma das idealogias mais fortes. Como o nuclear foi nos anos 70 ou a SIDA nos anos 90. Mas continuaremos a fazer as mesmas coisas sujas e poluentes, se nos souberem bem, derem jeito e forem fáceis. Como ir de carro para todo o lado. As calotes polares ficam muito longe para que nos aflijam a consciência. Será a inovação científica, pressionada pela regulação dos governos, que nos tornará a todos mais verdes. Vai-se falar muito de água também. O avanço do comilão politicamente correcto fará com que fumar seja ilegal em algumas cidades, estados, ou mesmo países. Eu apostaria que mais tarde ou mais cedo as bebidas alcoólicas terão avisado semelhantes aos que os maços de tabaco têm agora.

8. perseguidos pelo passado

Cada coisa que fazemos fica. O nosso rasto digital será gigantesco. Tudo o que vai apra a rede com o nosso nome e a nossa cara voltará como uma força que não esperávamos. Posts infantis e apaixonados em blogues, tweets ou inanidades similares e vídeos e fotos em festas cujo sentido nem recordamos, serão recuperados por terceiros. Na exacta medida que formos preferindo esquecer que fizemos, dissemos, escrevemos, filmámos ou fotografámos aquilo. O que julgávamos efémero será eterno. Muita coisa será difícil de explicar e é provável que seja comum reconstruir vidas no passado. Até é verosímil que isso venha a ser negócio. A sorte de muitos é que será mais simples e mais barato remover tatuagens. Os transplantes serão cada vez menos noticias de jornal e ter alguém com mais de 100 anos na ceia de Natal será muito comum.

9.

a maldição da eternidade

A geração que nasceu nos anos 60 e 70 estará cansada como nenhuma outra, porque estará cansada como nenhuma outra, porque sempre ligada e não o esperava. O seu corpo estará em forma e remendado graças aos avanços na medicina e nas ciências adjacentes, mas a sua alma exausta. Esta geração – que é a minha – passou da televisão a preto e branco para a abundacia total de 2020. No nosso tempo era comum não haver eletricidade. E o episodio de uma serie da altura perdia-se sempre. Essa logica da janela única foi-se. Em 2020 viveremos em pleno no tempo da janela eterna. Todo o conteúdo antigo estará acessível algures na cloud da internet a um preço simpático. Mesmo assim é seguro dizer que os presentes de Natal serão muito iguais aos de hoje. Por isso precisaremos sempre que haja alguém que escolha por nós e reúna os êxitos dos Coldplay num Cd duplo deluxe para que possamos oferecer – os coldplay serão os novos queen.

11

para os próximos

e polícias

10. custo de vida

Especulo que as crianças nascidas por altura de 2020 venham a ser pagas para ter boas notas e escolher cursos que façam falta às sociedades. Perceberam bem: daqui por trinta anos será obvio que não haverá outro remédio para motivar os alunos que não seja ter escolas parecidas com hotéis e pagar-lhes para lá irem. Pelo menos no primeiro mundo, onde a natalidade continuará baixa. O terrorismo continuará a fazer-nos torcer o nariz a quem não seja branco como a neve. Se hoje todos querem ser nómadas, viajar pelo mundo sem compromissos, tirando fotografias e fazendo blogues, vivendoà custa dos pais ou a servir daiquiris em bares de praia, imaginemos daqui a 10 anos quando isso for ainda mais banal. Todas as gerações demoraram a assentar mas nunca houve o numero dramático de velhos que haverá a cada ano que aí vem. E daqui a dez anso já estamos todos mais velhos. Isso é absolutamente certo


12

gogol b


13

bordello


14

Transformam qualquer concerto num arraial mas não há que ter medo desta banda. Os Gogol Bordello são bons rebeldes, punk cigano e duro só quer mudar o mundo. Depois de espalhar brasas no Optimus Alive! 08, Eugene Hutz promete continuar a festa, 10 de dezembro em Lisboa, em mais uma actuação optimus.


Vão a caminho do Area4, em Ludinghausen, na Alemanha. É o ultimo festival de verão na agenda. Depois de três semanas de ferias ate regressarem a base, nos estados Unidos, e daí tornarem a partir pelo mundo, Portugal incluído. Claro que regressar À base é uma força de expressão e não será errado dizer também que esta banda não pára há um ano, ou quase dez, desde que decidiram criar aquilo a que a imprensa chama um pouco de tudo e que eles, para evitar piores nomeações, rotularam à partida de punk cigano. Posto isto, estam os ao telefone com Eugene Hutz, o mentor-aura dos Gogol Bordello. A rede a bordo do autocarro a caminho do festival é má, o inglês do vocalista não ajuda, mas sigamos. Estão cansados? Como é que haveríamos de estar cansados – responde de imediato. O duelo começava evasivo até se tornar num mescla agridoce, uma sucessão de surpresas que nos obriga a acrescentar ao titulo gipsy-punk um lamechas bons rebeldes. Andam na estrada desde 1999. Foram descobertos, ou descobriram-se numa discoteca da cena chique nova iorquina, de seu nme Pizdeztz. Hutz convidado para ser Dj, a banda que viria a tonar-se gogol bordello para banda residente. As noites duravam a noite toda. Quatro álbuns depois, garantem, continuam a durar o mesmo, se lhes derem tempo. É por essas e por outras que o concerto desta noite é visto como mera passagem. Mas não gostam de actuar em festivais? Claro, preferimos os nossos concertos. É completamente diferente. Temos três vezes mais tempo. Um festival não dá para nada. O concerto é o espetáculo da banda, um festival é como um cartao de visitas. É muito frustrante tocar em festivais; é como fazer sexo e não ter orgasmo. Estiveram em 2007 no festival Músicas do Mundo de Sines e em Paredes de Coura, este ano no palco principal do Optimus Alive!08. Pelos esgares de satisfação entre o publico, custa acreditar que as passagens por Portugal tenham sabido a experiencia interrompida. Ainda assim, tiraremos as teimas no dia 10 de dezembro no Campo Pequeno. A vida de Eugene Hutz dá um documentário digno do canal História. Nascido na era soviética, cresceu em Kiev (quando a Ucrânia pertencia a URSS), no seio de uma família com uma memória bem viva dos campos de refugiados polacos, austríacos e italianos. O pai tocou numa banda rock, o tio era acrobata num circo; chegou a treinar atletismo para os Jogos Olimpicos, contou recentemente a revista Time. – os meus pais e professores tinham de me manter cansado a todo o custo – se não fosse isso, acho que me teria tornado numa espécie de sociopata. Depois do desastre nuclear de Chernobyl, tinha 18 anos, mudou-se para Vermont, nos estados Unidos. Os restantes Gogol Bordello contarão histórias parecidas. Nós 12 elementos da banda, que regista Brooklyn na morada, além do ucraniano Hutz, há um americano de origem, um chinês, um equatoriano, um etíope, um israelita, dois russos e um tailandês. Foram para os Estados Unidos à procura de novas oportunidades, embora não nos passe pela cabeça imaginá-los alegres seguidores do sonho americano. Que entre aqui Madonna, de quem Hutz é amigo desde os tempos de dj nos clubes nova-iorquinos. Em 2007, o senhor Gogol Bordello subiu ao palco com o seu violinista para acompanhar a rainha do pop no tema Isla Bonita no evento Live Earth. O resultado foi tão explosivo que Madonna os convidou para digressão Sticky & Sweet e baptizou, diga-se, em nome deles, um dos momentos da performance como interlúdio cigano. Ao telefone da Alemanha, Hutz revela que não aceitou porque

Em Portugal, lembra o vocalista, houve um entendimento instantâneo do publico. Portugal é uma descoberta para nós. Cada lugar acaba por ser diferente da forma como te ligas com as pessoas, mas, em regra geral, preferimos países mediterrâneos aos do norte. Em Lisboa vão tocar numa praça de touros. O que acham do local? – estamos a espera de uma resposta com sangue e muitos f’s, Hutz devolve silencio – nunca ezperimentamos, não sei o que pensar sobre isso. Assertivo em coisas simples.

“É frustrante tocar em festivais. É como fazer sexo e não ter orgasmo.” 15


16

os Gogol Bordello são a prioridade e lembra que indicou à cantora uns amigos que estão a fazer um bom trabalho. Ainda não vi o espetáculo, espero ir vê-la a Nova Iorque em Outubro. Mas sei que essa parte da actuação esta a correr bem. Acho que vou actuar com ela nos espetáculos no Brasil. Se se confirmar, o encontro em palco acontece a 14 e 18 de dezembro no rio de Janeiro e São Paulo. Apesar da história, tamanho reconhecimento tem pouco mais de um ano. Em julho de 2007 lançaram o Super Taranta!, longe do mainstream, a critica rendeu-se. Os media olharam curiosos para o grupo de imigrantes, para a figura burlesca de Eugene Hutz, para as letras refinadamente jocosas e sai-lhes um três chic. Surpreende-vos este interesse repentino? – não! No figurativo site oficial da banda, os links para os artigos publicados na imprensa aparecem colados num rolo de papel higiénico – a nossa música continua a ser a mesma, ainda agitamos todos os lugares, a qualquer hora, sempre que actuamos. Descreveu numa entrevista recente no site Music Towers o actual baixista Thomas Gobena. O segredo? São várias as tiradas que o denunciam. Gobena resumiu recentemente – uma energia indescritível, festa indestrutível, uma beleza inegável. O nosso interlocutor Eugene Hutz, diz que parte essencial é o publico – as pessoas têm de fazer parte do acontecimento, não podem ser meros espectadores. A musica que fazemos é uma experiencia de comunidade. Ou uma versão amplificada da vida e das personalidades das pessoas. Como antes tinha dito à Times. Ou um documentário vivo, que é o que responde quando se lhe pergunta como é o passado lhe influenciou a música. Assim sendo, falamos sore a vida. Sendo filósofo assumido, confessadamente mais na estreia de Carl Jung do que Sigmund Freud, qual é a sua melhor teoria? Tenho muitas teorias.. estão sempre a mudar. Mas o que interessa no fim de contas é conseguir passar por cima do fogo” – atira Hutz do outro lado do telefone, sério. É a teoria das teorias, porque há fogo onde quer que vás e para onde quer que olhes. Se conseguires transformar a raiva que te guia numa coisa positiva, é o melhor que podes fazer. Utilizo a minha musica para transformar o negativo em positivo. É a minha mensagem. Mas quem é que precisa de teorias sobre a vida? Posso inventar-te uma a qualquer hora da noite. De repente, é Eugene Hutz, 35 anos, o homem. Perguntamos-lhe o que acha da situação politica da Rússia, tendo crescido na ex-URSS… “Não sigo muito a situação politica. Acho que a politica


não existe, é tudo uma questão económica. Os políticos não têm poder.. vão para onde o vento sopra. Se alguma coisa algum dia mudar não vai ter nada a ver com eles. As pessoas é que têm poder; se quiseres fazer alguma coisa fala com os teus amigos e vizinhos. Toda a gente consegue chegar Às pessoas que tem mais próximos. Os políticos que se lixem”. Fascinado por historias pessoais, músico, filósofo, actor em vários filmes, um deles assinado por Madonna, mais desejos de realização, deseja um destino pouco simpático aos que lhe chama o irmão maluco de Borat, e despeja: o Borta é um idiota. A chamada vai abaixo. Entretanto os Gogol Bordello chegaram ao recinto do festival onde vão alinhar, juntamente com os Apocalyptica, The Subways e Goldfinger. A comitiva Gogol Bordello viaje em dois autocarros. No dia anterior o motor de um foi simplesmente ao ar. A peripécia contada assim fez com que inadvertidamente fosse a BLITZ a dar a noticia ao manager. Ficou a pensar que tinham morrido todos. Não cansa andar sempre na estrada? Toda a gente nos faz essa pergunta. É como se o facto de haver muita gente fosse sinal de andar sempre tudo a porrada. É uma abordagem tão cínica… Como é que conseguem estar todos juntos? As pessoas foram feitas para estarem umas com as outras, é tão simples quanto isso. Faz parte do ser humano. O que é o surpreende mais entre viagens? Na ultima entrevista `BLITZ dissera que via na Europa de Leste e na America Latina uma espécie de Polo Norte e Polo Sul, muito parecidos apesar de distantes. Mas o que é o surpreende nos lugares por pnde tem andado? O que me surpreende mais é racismo. Está por toda a parte. É absurdo como está tão espalhado pelo mundo, como é uma noção tao idiota e tao forte em todo o lado. Depois das férias e dos concertos marcados até ao final do ano, regressam ao estúdio em Janeiro para gravar um novo álbum. Já têm alguma ideia? Hutz riu-se “Já temos o álbum todo. Já ta tudo escrito. É so ir para estúdio e gravar. As 5000 ideias já lá estão! Haverá mais espaço para mais? Ainda estamos a escavar a superfície. O céu é o limite. Uma das novidades é um festival itinerante assinado pelos gogol bordello destinado a levar mundo fora algumas das suas bandas preferidas. Para quando? Para o ano! A hiperatividade contagia. As férias de Eugene Hutz vao ser no rio de Janeiro, onde vive à escuta de sons brasileiros e sul-americanos. É um bom sitio pra relaxar. Planos? Passar os dias a escrever, é o que faço todos os dias.

17


18

“Blues is play, but fee


s easy to t hard to el.� jimi hendrix

19


20


j u l i a n casablancas \

Nascido em be rço de ouro, filh o do fundador da agência de modelos Elite e de uma ex-M Dinamarca, Ju iss lia Casablanca s, líder dos St é um dos mai rokes, s carismáticos vocalistas do rock. Nos bast indie idores do Supe r Bock Super este verão, a Rock, armaníaco que ve BLITZ apanho io a guiar 300k u-o a solo e de beça no microf o recinto, fez m por hora pa caone: efeitos se com que ficas ra cundários , di do frango que se muito enjo z ele, Estive todo o tem lhe boicotou o ado. po a tentar co concerto. mbater o enjo fingir que esta o, a va bem. Geral O que se pass mente, quando sinto doente, ou no concer me ou esquisito, to no Super Bo Super Rock? ou cansado, co ck lidar-me na mesma. Saiu mais ce nsigo do de palco, Mas esta noite cia zonzo… mesmo era ca paresó queria nt ar as musicas Foi um frango sem vomitar. que comi. Agora é pai de fa mília, é muito Comida estrag andar em digr complicado ada? essão? Não, era delic É duro, é. Parti ioso. O melho r é se r mpre difícil. Só frango que co na vida, para adeus… Não mi o dizer dizer a verdad sei como é qu e. Mas també devia ser a co e o pessoal do exército cons m isa mais salgad eg ue , é o a qu que alguma ve comi. Parecia e eu penso se Dizeres adeu que tinha anda z mpre. s ao teu filho, do a nadar em durante dois di quando ele ai uma criança, sal as, mas ao m nda é é muito compl esmo tempo er bom que podi icado. a tão a ter pessoas a cantar e a toca harpa para el É considerad r e. Isso mistur o por muitos ado com o co um ícone de Ui, claro! (riso ndutor moda.. s) É um aficion ado de instru mentos antig Não, não cole os? ciono sintetizad ores. Aquilo sã tudo sons falso o s, feitos no m id i do computado Nunca fui gran r. de colecionado r destas coisa strumentos, ap s: inarelhagem ou até de música casa tenho é . Em um piano, quer o dizer, um te onde escrevo clado, muita coisa. O som desse te parece o de um clado piano verdadei ro, por acaso tem poucos so até ns de órgão. G osto de soar fu ista mas ao m turesmo tempo, tenho referênc passado de qu ias no e gosto. Sempre usou filtros na voz. Teve dificulda em aceitar o de som da sua vo z? No passado fo i mais por um a questão de Queria que a gosto. voz parecess e um dos inst tos, que se m rumenisturasse no co njunto. Às veze ouves musica s pop e as vizes parecem-te lim mas se ouvires pas, com atenção, percebes que falta muita co lhes isa. Mas agor a, no meu disc está bastante o, a voz limpa. Na sua página da wikipédia, bob marley ap referido como arece uma das suas referencias a de voz. É verd nível ade? Bob marley, se m duvida. É um a das minhas influencias. El e, David Bowi e, Prince, J. Le B. Wilson – Jo nnon hn, Brian. Lou Reed. Os Velve , Underground t foram muito im portantes para mim.

21


the black keys 22


o rock dá muito trabalho

Juntos há mais de dez anos, Dan Auerbach e Pat Carney “ganharam a lotaria” com Brothers, o álbum de 2010 que lhes rendeu fama em todo o planeta, três Grammys e um prémio da MTV com o nome da banda trocado. Com El Camino fresco nas lojas, Os Blak Keys ameaçaram prolongar o seu reinado blues-rock, mas prometem nunca esquecer que já foram dois rapazes remediados de uma cidade cosmopolita.

23


24

Quando Brothers, a casa de “Tighten Up” e “Gowlien’For You”, foi lançado, nem Dan Auerbach nem Patrick Carney, dois membros dos Black Keys pera jovens inexperientes. Em maio de 2010, o vocalista e guitarrista de ascendência polaca, natural, a semelhança do seu companheiro de banda, da cidade de Akron, no Ohio, tinha acabado de completar 31 anos. Quase 20cm mais alto do que Dan, o gigante Patrick Carney entrara a poucas semanas na casa dos 30. Juntos nos Black Keys desde o começo dos anos 00, Dan e Patrick lançaram entre 2002 e o ano de Brothers, 5 álbuns, entre os quais os bem reconhecidos Rubber Factory (referencia a um dos principais negócios de Akron, a industria dos pneus) de 2004, de Attack & Release, de 2008, a filiação no movimento de rock revivalista, por parte da imprensa musical, nunca agradou particularmente a dubla, e significou, durante muitos anos, comparações a bandas como os White Stripes ou os The Kills, vizinhos dos Black Keys no terreno blues-rock “a dois” da década passa. “Nem nos importamos muito. Há bandas piores a quem nos podiam comparar”- dizia Patrick Carney em entrevista no site Livewire, em 2003. “Até sou fã desses tipos, mas não me parece que a nossa música seja parecida com a

deles. Acho que todas as bandas ficam frustradas se estiverem sempre a ser comparadas com outras. Aos Radiohead nunca os comparam com ninguém.”. Durante quase 10 anos, e por muito que as comparações o saturassem, os Black Keys viveram, de certa maneira, na sombra de grupos aparentados. Conseguiam ganhar dinheiro suficiente para pagar a renda- segundo os próprios, depois dos 10 dólares averbados com primeiro concerto, a remuneração foi crescendo de forma sustentável, proporcionando-lhes uma autonomia modesta ao fim de quatro meses de estrada- mas estavam longe de ficar no Olimpo do rock. Ainda hoje, fieis aos casacos de ganga (Dan Auerbach em entrevista ao jornal Inglês The Guardian. “Ontem fomos sair a noite e só duas ou três pessoas e que nos reconheceram, isto num bar da moda em Camden (Londres)”, corrobora , satisfeito, Patrick Carney o baterista que tem vergonha de aparecer em revistas dedicadas ao seu oficio, “ao lado de bateristas a serio”. Brothers, com o seu design metro e minimalista“This is na álbum by the Black Kase. The name of this álbum is Brothers”, Pode ler-se na capa, engendrada pelo irmão de Pat, Michael, e galar-

doada com um Grammy- veio mudar a vida dos Black Kase. Mas na verdade, o disco nasceu ele próprio de mudanças profundas na vida de Dan e Patrick, hoje amigos fraternais outrora colegas de liceus com “tribos”, gostos musicais e popularidade muito distintas. A ESTRELA DE FUTEBOL E O ANTI-SOCIAL “O Dan tinha cabelo comprido, quando andava no liceu. Passavas por ele no corredor e estava sempre com um ar alucinado, meio passado.”, denuncia Patrick na entrevista que recentemente conduziu os Black Keys à capa da Rolling Stone. Dan, cujo pai era um espirito livre, mercador de arte e fã de Billie Holiday, Robert Johnson e Hank Williams, não só confirma a fama de ganzado como lhe junta um ou outro pormenor sumarento. “Lembro-me que uma vez um professor percebeu, pelo meu bafo, que eu tinha estado a beber álcool e mandou-me falar com o presidente do conselho diretivo. Já nem sei o que aconteceu lá, às tantas fui suspenso… Mas a verdade é que nunca fazia os trabalhos de casa e ainda assim estava no quadro de honra. Mas que raio de sistema educativo é este?”. Jogador da equipa de


futebol do liceu – o mesmo futebol que a Europa conhece, e a quem os norte americanos chamam de soccer – Dan Auerbach era aquilo a que se custuma chamar um miúdo “cool”. È o próprio irmão de Patrick, autor da capa de Brothers, que na mesma entrevista à Rolling Stone, recorda: “No liceu, o Dan e o Pat eram muito diferentes um do outro. O Pat era um esquisitóide, ao passo que o Dan era muito mais reservado e cool. Digo isto com todo o carinho. Para nós, os irmãos Carney, as raparigas nem olhavam. Mas dos Auerbachs gostavam elas”. Apesar de tudo o que os separava, Dan e Patrick, que viviam na mesma rua, passaram a adolescência com uma paixão em comum: a música. Curiosamente, foi Patrick que começou por apaixonar-se pelo rock clássico de Beatles, Rolling Stones e Led Zeppelin, que experimentou primeiramente a guitarra. Aos 12 anos, apaixonado pela magia de Jimi Hendrix, implorou ao pai que lhe desse uma guitarra, masnem o facto de ter acesso ao instrumento e as aulas de musica fez com que conseguisse dominar seis cordas. “Não sei cantar nada, não sei cantarolas melodias nem consigo escrever riffs”, admitiu ao The Guardian. È o jornal britânico que faz mais analo-

“Sempre nos estivemos a borrifar para a nossa imagem, e geralmente, odiamos as pessoas que ligam muito a isso”

gia: tal como os miúdos que não são grande espingarda a jogar futebol, Carney foi mandado para o lugar de guarda-redes que, numa banda, equivale mais ou menos ao posto de baterista. Ainda hoje, apesar de constituir metade dos grupos rock mais bem sucedidos do mundo, ele descrê das suas capacidades e confessa entrar a medo em cada concerto. Já Dan que o pai incentivou a dar concertos para poder ganhar a vida, ficou bem impressionado com o primeiro encontro musical com o “velho” conhecido Carney. “A maneira como ele tocava bateria era uma trapalhada, mas como eu ouvia muita música blues também era assim, consegui logo acompanhá-lo”. A demo doméstica que Dan e Pat gravaram então valeu-lhes um contrato com a pequena editora Alive, que lhes proporcionou a gravação do álbum The Big Come Up em 2002, sem que a dupla alguma vez tivesse pisado junta um palco. À luz do sucesso posterior dos Black Keys, o selo que começou a apostar nos dois rapazolas inexperientes já reeditou The Big Come Up pelo menos 14 vezes, sempre em vinil. Na altura em o seu debute saiu, porém, Dan e Pat, que para o seu álbum gravaram originais e versões de tradicionais blues e dos Beatles (“She said, she said”), eram só mais uma banda a tentar a sua sorte. VENDER OU NÃO VENDER, EIS A QUESTÃO A falta de estrada que, ainda adolescentes, os Black Keys teriam quando assinaram o primeiro contrato foi rapidamente compensada com anos de digressões pouco glamorosas. No primeiro concerto, conta a lenda, atuaram para meia dúzia de gatos pingados (os relatos variam entre os 8 e 18 espectadores), levando para casa um total de 10 dólares. “até achamos incível que alguém pagasse tanto!”, desabafa Dan ao The Guardian. Muitas vezes, os dois amigos percorriam, durante horas a fio e num mini-carrinha, as intermináveis estradas norte- -americanas e não tinham, no destino, ninguém à sua espera (20 horas a atravessar o deserto sem ar condicionado

no carro e uma actuação num programa de rádio às 6h da manhã, apra uma plateia de idosos, são alguns dos pontos “altos” desta encarnação). Em 2003, a primeira oportunidade de sucesso bateu à porta dos Black keys sob a forma de um anúncio de maionese. Uma marca britânica daquele produto ofereceu À banda 100 mil dólares para usar uma canção numa campanha publicitária. Dan e Pat arrepiaram-se “Era uma oferta superior àquilo que os nossos pais, juntos ganham num ano”, comentaram no programa de Stephen Colbert. Mas ainda não era desta que os Black Keys iam subir na vida: à época, o manager do grupo avisou-os que se aceitassem a proposta, corriam o risco de perder o apoio dos não muitos, mas fiéis fãs, que ficariam indignados ao saber que a banda se tinha vendido. Hoje em dia, os homens de “Run Right Back” são um dos grupos que mais canções tem a rodar em séries, filmes, anúncios publicitários e jogos de computador – equiparam mesmo a oportunidade de chegar dessa forma aos ouvidos de milhões de pessoas a uma passagem regular na radio. “Deram-nos cabo da cabeça por cedermos a nossa música a anúncios, mas se não o tivéssemos feito nunca teríamos vendido 18 mil bilhetes [para concertos] em Londres”, argumenta Pat Carney ao Guardian, referindo-se a dois concertos esgotados no Alexandra Palace, em fevereiro deste ano. Após o sucesso de Brothers, contudo, a febre do licenciamento irá provavelmente, serenar: “Quando ninguém compra os teus discos, é fácil justificar porque é que estás a vender uma canção”, diz carney, desta feita à Rolling Stone. “Mas quando começas a vender discos já consegues justificar ter duas canções em anúncios à Cadillac. Ficas a parecer grandioso”. Os Black Keys nunca teriam sido tão assediados por anunciantes e cineastas, contudo, se Brothers não estivesse recheado de canções memoráveis e apetecíveis. Gravado no estúdio Muscle Schoals, por onde os Rolling Stones passaram, em 1969,

25


concert

26

para dar à luz “Brown Sugar”, e “Wild Horses”, o sexto disco de Dan e Pat nasceu uma luta daquelas que só os irmãos podem protagonizar. Pat, reza mais uma vez a lenda, tinha acabado de se divorciar d euma mulher que Dan diz “odiar desde o primeiro momento”. A separação foi particularmente virulenta e levou ao corte temporário de relações entre os dois amigos – que ainda assim, garantem que não são como os Gallaghers: não gritamos nem andamos à pancada. No rescaldo do divórcio, a ex-mulher de Carney chegou a publicar online um artigo, descrevendo as minudências do seu casamento com o baterista dos Black Keys e acusando o colega do ex-marido de ser um jock do futebol, que tinha como ídolos o Dave Mathews e o G. Love and Special Sauce. Um machão que andava pela cidade como um bulldog. Confrontado com estas e outras acusações, Auerbach prefere nunca mais ouvir falar da mulher que dizer ter destruído a alma do amigo. Após o divórcio, tanto Pat como Dan – que é casado e tem uma filha, de quatro anos – acabam por trocar Akron, a tal cidade do Ohio onde nasceram e foram criados, por Nashville, a capital da música country, no Tennessee. Foi lá que, alimentados por uma dieta de comita frita, erva e café horrível, complementada pelo hip-hop de Auerbach é fã e pelo tédio de viver numa cidade relativamente pacata, os Black Keys gravaram 16 canções em apenas 10 dias. E do disco que daí resultou, Brothers, até Liam Gallagher gostou. HÁ UM RATO NO ESTÚDIO Apesar de terem sido sempre uma banda de dois irmãos, os Black Keys passaram a contar, a partir de 2008, com uma mãozinha extra: a de Brian Burton, mais conhecido por Dangermouse, que gradualmente foi não só produzido como ajudando a compor algumas canções. Dan e Pat elogiam-lhe a queda para a canção, propriamente dita: afinal, a grande paixão da banda sempre foram: “os riffs de blues, repetitivos e hipnóticos: se continuares a tocar sempre a mesma coisa, aquilo acaba por surtir um efeito qualquer em ti”. Mas o modus operandi dos Black Keys continuou a primar pela simplicidade , algo que a banda atribui, também à formação pouco numerosa: “toda a gente diz que o Beck é um camaleão. Claro que é, é só uma pessoa, não tem de convencer ninguém!”, argumentam. Ao longo dos anos, au-

tores de Next Girl foram acrescentando novos instrumentos, arranjos e influências à sua poção: no último El caminho, Ramones, T-Rex, Cramps e Clash foram alguns dos pontos cardeais seguidosna confeção de um disco veloz, bombástico e sem qualquer pudor de tirar da cartola os riffs mais contagiantes e orelhudos. Mas a sua receita continua a passar por uma escassez propositada de recursos, combinada com uma certa modéstia, que os músicos atribuem à sua origem. “O facto de sermos de Akron fez de nós mais trabalhadores, mais competitivos, mais amargos, também”, admitem. Ao Guardian, Pat Carney vai mais longe: “O dangermouse era capaz de dizer que temos medo do sucesso. E provavelmente é verdade. Quando era miúdo não era super pobre, mas os meus pais divorciaram-se e a minha mãe não tinha muito dinheiro. Mesmo agora, se tenho alguma coisa boa, saboreio-a devagar e guardo a maior parte do dinheiro. Os meus amigos não têm casas como as nossas. Muitos deles nem sequer conseguem arranjar emprego. Até há poucos anos tinha medo de nunca ter dinheiro. E agora parece que ganhámos a porra da lotaria”. Pat e Dan estão na mesma frequência no que toca à importância desta ética de trabalho: “um sobrevivente”, estranhou o cocalista em entrevista *a GQ. “ Não, o meu tio-avô é q sobreviveu ao Holocausto. Eu só tive sorte”. Os antecedentes familiares de Auerbach são explorados com mais detalhe no Guardian: “Toda a a família da minha avó foi assassinada. Mãe, pai, irmãos mais velhos, toda a gente. Ela conseguiu chegar até Inglaterra e aprender inglês. Depois conheceu o meu avô, que estava no exército, mudaram-se pra New Jersey e por fim ela reencontrou o meu tioavô. Todas estas histórias fizeram parte da minha juventude. É assim que percebes a sorte que tens e tudo isso te faz trabalhar mais”. Trabalho, um bom timing, sorte e ainda mais trabalho: é assim que os Black Keys resumem a fórmula do seu sucesso, atualmente traduzida em centenas de milhares de discos vendidos em todo o mundo e concertos esgotados nas maiores salas. “Somos bons e trabalhamos mais que os outros”, dispara sem falsas modéstias Dan, admitindo, ainda assim, a propósito de o concerto em Madison Square Garden NY, ter esgotado em menos

pavilh atlânt de 15minutos, que “este tipo de sucesso não devia acontecer a tipos como nós”. O sentido de humor peculiar, que levou os Black Keys a colocarem a capa de El caminho (referencia ao luxuoso automóvel Chevrolet el caminho) a carrinha esfarrapada e fedorenta que lhes serviu, no começo da carreira, de veículo de digressão, ou escolheram para vídeo de lonely boy, imagens de um civil a dançar freneticamente (houve um teledisco de Jesse dylan, filho de bob, que foi para o lixo para dar lugar a este bailarino espontâneo), é outra das constantes na carreira de Dan e Pat.Quando receberam o Prémio de Revelação da MTV pelo vídeo de “Tighten Up”, acharam hilariante a troca de nomes no troféu: ao invés de Black Keys, os responsáveis daquele canal na base da estatueta Black Eyed Peas. À GQ, auerbach rejubilou: “estávamos em digressão quando o nosso manager nos mandou uma foto do prémio. Pensei: um canal que nunca nos respeitou nem passa a nossa musica vai lixar-nos assim? Espetáculo!” Em todo o caso, e porque “daqui a 20 anos ninguém vai saber quem são os Black Eyed Peas”, os Black Keys, que o guardian disse terem a aparência de uma banda “desenhada


to

hão tico

para falhar”, pediram que a MTV lhes enviasse um troféu corrigido – e tiveram pena de terem de devolver o antigo. Com o passado recente bem presenta (Pat carney ainda se lembra bem do que é trabalhar como operador de telemarketing), os Black Keys entraram a ganhar em 2012, com crítica e publico em polvorosa em El caminho, um disco que não quiseram demorar muito tempo a gravar (“podíamos gravar um disco por semana, se não tivéssemos de tocar ao vivo”, gaba-se auerbach). “ZZ top com lantejoulas na barba e cruzamento entre led zeppelin e motown” são alguns dos epítetos que o sétimo álbum lhes tem rendido. Consciente de que aqueles que louvam hoje poderão estar-se nas tintas para eles amanhã, porém, dan e pat tentam dar o passo maior que a perna; o baterista chegou mesmo a dizer, ao guardian, que “as pessoas só devem gostar de nós porque soamos um bocado velhos”. E por falar em idade, recuemos até 2003, para ouvirmos as palavras de Black keys, ainda tão pequeninos, em entrevista corridinha ao site Livewire. Perguntavam-lhes eles: vocês vêem um futuro duradoiro para blues-rock? Respondia Pat carney, que quando conheceu Dan ficou escandalizado por o vizinho não conhecer led zeppelin: “Bem, o blues-rock já dura há mais de 40 anos, e o rock n rol há uns 50 anos. Por isso… sim!”

27/11

27


28

“Embora s trabalho é conhaque é nós temos ter muito co traba


se diga que trabalho e Ê conhaque, s a sorte de onhaque no alho� manel cruz

29


30


A 3 de Julho de 1971, o turbulento vocalista dos Doors seguia os passos de Jimi Hendrix, Brian Jones e Janis Joplin e engrossava a lista de músicos que se despediram do mundo aos 27 anos. Foi também aí que James Douglas Morrison se transformou numa estrela ainda maior do que aquela que os anos 60 poderiam ter sustentado. Quarenta anos depois, Rui Miguel Abreu, diz-nos como tratou o tempo da memória de um poeta americano – e de um homem tao genial como imprevisível.

31

jim


32

Está vivo o Rei Lagarto. Quarenta anos depois da sua morte em Paris, Jim Morrison ainda possui suficiente energia para adornar uma capa no NME – posicionando-se confortavelmente entre as edições dedicadas a Glastonbury e os Foo Fighters – e para levar mais a uma re-edição da obra dos Doors. A collection pode ser uma caixa “budget”, que reúne a discografia dos rapazes de Los Angeles sem grandes argumentos extra, mas é, pelo menos a terceira década e meia, sinal claro de que continua a existir interesse na musica dos Doors. E mesmo que esta actividade não chegue para posicionar Jim no top de rendimentos gerados entre os músicos já desaparecidos – que a Forbes revelava no final do ano passado ser ocupado po Michael Jackson, Elvis Presley, John Lennon, Richard Rodgers (o que uma canção como “My favourite Things” pode fazer pelo legado de um homem..) e Jimi Hendrix -, chega pelo menos para indicar que o mito continua a fazer correr tinta e a inspirar novas gerações de músicos e ouvintes de musica. DEUS DO ROCK OU FALSO PROFETA? Uma viagem rápida pelas décadas, no entanto, permite perceber que a controvérsia não abrandou com a morte de Morrison. Al Aronowitz, no

obituário assinado no New York Post em 1971, começava por escrever que “todos fazemos pactos com o diabo”, adiantando depois que supunha “que Jim Morrison deve ter percebido que também o fez”, inscrevendo assim o vocalista dos Doors naquela recorrente mitológica que se estende até Robert Johnson e que parece indicar haver uma dimensão sobrenatural para que os que aceitam lidar com os seus fantasmas atrás de um microfone. Mas Aronowitz terminava o seu texto numa toada otimista, alegando que Jim poderia ter alcançado um certo grau de paz nos últimos dias da sua vida. Na revista Sounds, em dezembro de 1978, o álbum póstumo Na American Prayer levava Sandy Robertson a escrever que “Jim era mais Lautréamont do que Presley”, referindo-se ao mesmo poeta francês que inspirou Maldoror, dos Mão Morta. Robertson não hesita e declara mesmo que “Morrison poderá ter sido o único verdadeiro poeta vomitado pelo rock n rol”. Lestar Bangs, que percebia alguma coisa de vómitos e de rock n roll, já se revelava mais cético no décimo aniversario do falecimento do vocalista dos Doors, confessando ter sempre desejado “que Morrison fosse melhor do que de facto era”. Mais adiante, Bangs refere mesmo que, “de certa maneira, a vida e a morte de Jim Morrison podem ser descritas simplesmente como um dos mais pa-

téticos episódios do “star system”, Ao contrário da ideia veinculada na Sounds, no entanto, Bangs usava as paginas da revista Musician para inventar um novo papel para Jim: “Eu nunca levei Morrison a sério como Rei Lagarto, mas sou um fã dos Doors hoje como já era em 1967; mas o que aceitei muito cedo, na verdade, foi a limitação dos Doors e que o Morrison seria menos Baudelaire, Rimbaud e Villon e mais Príncipe Palhaço”. Esta ideia do “Bozo Prince”, nas palavras de Bangs, atravessa a vida de Jim Morrison, alguém que surgiu num momento em que os media conheciam também a sua explosão e em que o mundo aprendia a lidar com outro tipo de mecanismos de notoriedade: “ele pegou no medo e nas explosões de liberdade dos anos 60 e primeiro fez com que se parecessem ainda mais bizarras, perigosas e apocalípticas do que julgávamos ser, e depois pegou em tudo o que estávamos a levar tao a serio e transformou tudo numa grande piada”. Bangs sublimava a impossibilidade de se separar o palhaço do poeta, afirmando que essa característica única tinha resultado em grande música, “capaz de estabelecer standards no rock n rol por muitos mais anos”. Em 1991, quando se cumpria metade desta viagem de 40 anos após o desaparecimento de Jim Morrison, Simon Reynolds juntava a sua voz e o coro de críticos que voltava as salas de cinema de biopic de Oliver Stone, ferramenta fundamental na propagação do mito na década que viu o grunge nascer. Reynolds explicava que Jim Morrison se afirmou como “ um explorador dos territórios mais afastados da condição humana”, algo que o cantor teria aprendido nas paginas de O Nascimento da Tragédia de Freidrich Nietzsche, ora que o filosofo opunha as figuras tutelares da arte de Apolo, o deus contemplativo e sonhador, e de Dionísio, o deus do excesso, do abandono pagão, da embriaguez extática. “Um mapa de estrada para a obra dos Doors”, refere Reynolds em relação a obra do filosofo alemão. John Densmore, explica


33


34

A Jim Morrison poderá atribuir-se um dos primeiros esforços conscientes para avaliar até onde poderia ir uma estrela pop. Reynolds, escreveu mesmo nas suas memorias, Riders on the Storm, que “Nietzsche matou Morrison”. Simon Reynolds volta a abordar a discussão sobre os méritos poéticos de Jim Morrison e confessa-se um admirador do lado mais exagerado da sua poesia, embora tenha o cuidado de explicar que “o júri ainda não se decidiu”. Há precisamente dez anos, o New York Times, tomou o caminho da reportagem para tentar compreender o estado do mito, com John Tagliabue a explorar os caminhos do cemitério de PèreLachaise onde se encontra a campa de Jim Morrison, uma verdadeira atracçao turística. Apesar de ser igualmente morada afinal de gente como Chopin, Oscar Wilde, Amedeo Modigliani, Maria Callas, Edith Piaf ou Moliére, Père-Lachaise tornou-se um local de culto fervooso à memoria de Jim Morrison, facto aproveitado pela autarquia de Paris, que em 2001, ajudava à festa do culto promovendo concertos de andas de tributo e diversas iniciativas que provuravam alimentar a industria da memória de Morrison. Essa industria continuava saudável, claro, e a imagem de Jim Morrison não é diferente da de outros rebeldes como Che Guevara, tendo alcançado aquele grau icónico que lhe perimte adornar tudo: de tshrts e canecas a posters, bijuteria, “action figures” e o que mais a imaginação permitia. E agora, 40 anos após a morte de Jim em Paris para onde se refugiou em Março de 1971

para tentar fugir aos problemas com a lei criados a partir das suas explosões em palco, os media que criaram o mito continuam a não dar mais sinais de abrandamento no seu esforço cíclico para manter a imagem do linder dos doors como um ativo de valor na bolsa do rock and rol. O NME deu-lhe a capa para assinalar a passagem de mais uma década sobre a sua morte, mas voltou a ecoar a controvérsia gerada pelo real valor da sua obra poética e musical, questionando se Jim será “um deus do rock ou um falso poeta”. E isso significa, basicamente, dois artigos de fundo: um favorável assinado por Gavin Haynes – que argumenta que Jim “era um poeta de uma geração, um pensador e um líder inovador que haveria de representar não apenas o bastante crítico, assinado por James Lee, que é da opinião que o líder dos doors “deixou um conjunto de musica de estudante de segunda-linha”.


35


36

beiru


ut

37

Aos 25 anos, Zach Condon é um nome grande do indie inspirado na world music, nomeadamente no folclore do Leste da Europa e na música mexicana. Natural do estado do Novo México, fronteiriço com aquele país, e protagonista de uma famosa viagem adolescente pela europa – tão distante e exótica para muitos jovens americanos como o extremo Oriente para o português médio -, o artista mais conhecido como Beirut apresenta, contudo, um currículo breve. The Rip Tide é o terceiro disco do rapaz que foi descoberto, de forma algo ocasional, com Gulag Orkestar (2006) e que no ano seguinte apaixonou muito boa gente com The Flying Club Cup. De lá para cá, Condon lançou dois EP’s, brincou com a electrónica e cancelou uma série de concertos, a braços com um esgotamento. The Rip Tide, lançado pela sua editora de forma a preservar o “controlo criativo”, é assim o primeiro disco depois da explosão de popularidade, e mostra que, contrariamente ao que os fãs poderiam temer, Condon percebeu muito bem o que dele se espera – e vai continuar a agradar.

Condo custuma contar que, quando era (ainda) mais jovem, se deixou influenciar por Stephen Merritt, voz e alma dos Magnetic Fields. Mas há também, no tom grave e pomposo do músico, ecos da pompa de Neil Hannon, dos Divine Comedy. Uma voz clássica que finca a âncora em canções invariavelmente doces, de um romantismo que muitas vezes rima com Mediterrâneo e Sul da Europa (ver a bela “Port of cell” que encerra o disco). De “santa Fe” (a cidade natal do artista) à mais atmosférica “payne’s Bay”, passando por “goshen”, balada pacata ao piano, ou “the Peacock” que soa quase a oração, a receita de beirut é respeitada e executada com primor. Arranjos de sopros triunfais, melodias de sorriso nos lábios, a tal voz de homem a contrastar, e bem, com os bordados miudinhos. É tudo tão bonito como previsível e, a espaços, formulaico. Em Beirut continuamos a apreciar esta facilidade em chegar ao belo e a esperar que, um dia, uma reaçao química inesperada, entre as tintas do custume, nos permita ver mais fundo e mais além, neste postal curiosamente ilustrado.


deolinda

“Este tem sido um ano em que reconhecemos, mesmo, que estamos a conquistar novos públicos”, disse na Bacalhau à Agência Lusa garantindo que, apesar do sucesso além fronteiras, «a Deolinda não pensa cantar em estrangeiro». Em Ajaccio, capital da ilha francesa da Córsega, no mar Mediterrâneo, o grupo irá «atuar num palacete antigo, com público, num cenário muito ‘retro’ que encanta a Deolinda e é inspirador», A banda Deolinda é composta por Ana Bacalhau, pelos irmãos Pedro da Silva Martins e Luís José Martins e ainda por José Pedro Leitão. Formada em 2006, a banda deu-se a conhecer ao grande público com o álbum «Canção ao Lado», editado em 2008. Em 2010, lançou «Dois Selos e um Carimbo» e o ano de 2011 foi o de consolidação da carreira, tendo a banda

38 esgotado os coliseus de Lisboa e do Porto, e lançado uma nova canção, «Parva que sou», que se tornou um lema geracional. Ainda em 2011, os Deolinda atuaram nos Estados Unidos, Polónia, Reino Unido, Canadá, Itália e Bulgária, contabilizando mais de 300 concertos e lançaram também um CD/DVD, «Deolinda no Coliseu dos Recreios». Depois da Córsega, o grupo vai regressar a Portugal para uma série de concertos e, em finais de abril, partem para o Reino Unido onde darão início àquela que será a sua primeira digressão por «terras de Sua Majestade», depois dos muitos concertos realizados em Londres. Em Portugal, o grupo tem agendado um espetáculo em Sintra, no dia 13 de abril, no Centro Cultural Olga Cadaval, e no dia 20 de abril, no Europarque, em Santa Maria da Feira. Dois concertos em duas grandes salas onde, curiosamente, a banda nunca atuou antes. No Mezzo, os Deolinda sucedem a Ana Moura, Mísia e Katia Guerreiro, os outros nomes portugueses que também gravaram na Córsega para o canal televisivo francês. O convite do Mezzo, segundo Ana Bacalhau, “enche a banda de orgulho”.

Deolinda estreiam-se em Córsega, onde vão gravar um concerto para o canal Mezzo.


tiago bettencourt O novo álbum chama-se Em Fuga. Tem vontade de fugir de que neste momento? Gravámos o álbum de em junho de 2009 e como nao tínhamos grande pressa em edita-lo, nao pensei muito num nome. So quando estávamos a ensaiar é que comecei a prestar atenção ao conjunto de músicas. Todas elas falam sobre um certo desapego, sobre largarmos coisas que nos fazem mal para agarrarmos outras que nos fazem bem. Em Fuga também tem a ver com ir em busca de uma emoção de que sinto falta na música. Faltam entranhas, falta as pessoas partilharem emoções em vez de fazerem sempre coisas com os amigos. Ja sentiu necessidade de fugir de Portugal? No ultimo álbum, o Howard (Billerman), o produtor, queria que eu tivesse traduzido algumas músicas. O meu problema traduzir músicas prende-se com o fatco de nao estar em Inglaterra ou no Canadá... Faz-me confusão traduzir metáforas portuguesas para inglês. Como nao estou em contacto com a gíria desses países, haveria coisas que quando as pessoas ouvissem seriam simplesmente ridículas. Por isso, no fundo, o que precisava era de uma pessoa que fizesse uma ponte e pudesse discutir como seriam as traduções. Ja estive mais longe de fugir (risos). Ha um tom confessional bem presente nas suas canções. Nunca sente que esta a expor-se demasiado? Nao, nao sinto (risos). Ha imensas pessoas que me abordam e acham que me conhecem através das letras, mas o que faço pode querer dizer tantas coisas ao mesmo tempo. O giro das letras, pelo menos as que nao dizem de forma objectiva, é o facto de terem muitos caminhos possíveis. Nao me sinto exposto, sinto-me escondido por tras desses caminhos. Um deles foi realmente meu. Ou nao, porque desde ha uns tempos nao escrevo so sobre mim. Ja sentiu vontade de cantar fado? Tenho imensa vontade, mas sou uma porcaria a cantar fado, ja tentei e nao consigo. Sou muito critico em relação ao fado e, por ser tao critico, começo a cantar e percebo que sou completamente incompetente. Se a certa altura da minha ficar com a voz ainda pior, toda arranhada, se calhar consigo. Quando for mais velhinho. Agora fica ridículo, amador, muito mau (risos).

Aderiu recentemente ao Twitter. Os 140 caracteres dos “tweets” sao um bom desafio de escrita ou um convite a preguiça? Acho que sao um bom exercício. Gosto da escrita poética muito curta. O Twitter tanto pode ser uma coisa altamente poética como podes ir la dizer umas palhaçadas, o que também e engraçado. Tive d fazer um falso para ir ver o que as outras pessoas diziam e perceber que tipo de linguagem se usa ali. Ha dias em que nao tenho nada para dizer e nao digo, que é a maioria deles. Tenho de de crescer em termos cibernéticos. O fantasma das comparações cm Jorge Palma continua a persegui-lo? Quem me compara com Jorge Palma nao faz ideia daquilo que ando a fazer. Mas nao me lembro de ouvir falar disso recentemente. É limitado compararem-me ao Jorge Palma quando podiam ter falado, por exemplo, do Bob Dylan. Nao estou a dizer que o Jorge Palma nao tenha sido uma grande influencia- o álbum So mudou a minha maneira de olhar a música portuguesa – mas muito mais o Bob Dylan me mostrou uma maneira de abordar a música e ter poesia nas letras. Passou a certa altura, a ideia de que ficava muito chateado... Irritava-me quando me perguntavam se ficava chateado e nao propriamente a comparação. Há alguma hipótese de voltar a dar vida aos Toranja? Nao sei. Estou muito contente com a banda com que estou. O caminho que segui com estes músicos nunca conseguiria seguir com os Toranja. E nesta altura, se voltasse para os Toranja estaria a voltar atrás. Nao digo que daqui a uns anos nao façamos um concerto, porque tenho saudades de estarmos juntos, mas seria uma coisa mais afectiva que criativa. Nao estará muito próximo esse dia. Os Toranja acabaram naturalmente. Quando nao estamos bem, temos de mudar, nao ter medo de largar coisas para agarrar outras que se calhar têm muitas mais pernas para andar.

39


40

No dia do 78º a Johnny Cash, fa vai ser a luz do ú músico america sexto volume da Recordings, intit VI: Ain’t no Grav por Rick Rubin, para 26 de


aniversário de alecido em 2003, último álbum do ano. A edição do a série American tulado American ave e produzido está anunciada e Fevereiro.

41


black bombaim

42

A cidade é Barcelos, o ano 2012. Eles são o Tojo Rodrigues (baixo), Paulo Senra (bateria) e Ricardo Miranda (guitarra) e apresentam Titans, álbum novo e especial de um power trio surpreendente. Para começar, talvez as palavras power e titans nunca tenham feito sentido tanto juntas numa frase como agora, a propósito dos Black Bombaim, nome que deram ao cozinhado. Poder titânico é, de facto, uma boa maneira de descrever o som conjurado por estes três músicos que erguem muralhas de eletricidade a partir daquilo que os microfones captam e que os amplificadores debitam. Neste álbum há ainda a particularidade de ao trio se juntar um assinalável número de convidados cuja dispersão do próprio som dos Black Bombaim: de Steve Mackay, homem do saxofone nos Stooges, a Adolfo Luxúria Canibal, dono da guturalidade nos Mão Morta, há uma lista que se estende ainda por Isaiah Mitchell (dos Earthless e Howlin Rain), Noel V. Harmonson (dos Coments

on Fire), entre outros, João Pereira dos PAUS. Tojó Rodrigues recorda como chegaram até Steve Mackay “em 2010, fiquei uma noite no Porto em casa do Joaquim Durães que vivia com Jonathan Saldanha. Ao acordar ainda meio ressacado de uma noite de excessos, ouço um saxofone a desbravar no quarto ao lado. Ao levantar-me, perguntei ao Joaquim quem estava a tocar ele disse-me que era o Steve Mackay. Pelo nome não cheguei lá, mas quando ele me diz que era o saxofonista que participou no mítico Fun House dos The Stooges e que estava no Porto para uma colaboração num concerto com o Jonathan, fiquei de boca aberta. Depois de algumas trocas de emails, lá conseguimos que ele gravasse uns takes de saxofone num estúdio de um amigo em San Francisco. No duplo álbum de Titans, os Black Bombaim desenham com riffs e com terramotos rítmicos um dos mais poderosos sons rock que o nosso país já ouviu.


no coliseu dos Recreios

air

Foi um Coliseu dos recreios surpreendentemente a rebentar pelas costuras que recebeu os franceses Air. O amor dos lisboetas pela melancolia da dupla foi correspondido com uma simpatia servida em agradecimentos poliglotas e as novas composições de Love 2 lado a lado com incursões por glórias do passado. As paisagens melancólicas das melodias do duo deixaram o publico em êxtase com uma sequencia inicial que incluiu Do the Joy, o belíssimo So Light is her football e os ritmos tropicais de Love, todos temas do novo longa-duração. O intimismo que se pedia estava lá, mas a ligação com o publico foi-se perdendo à medida que se foi enveredando por instrumentais mais densos. Nos últimos anos tenho ido a concertos em que estou familiarizado apenas com duas ou três músicas. Houve uma fase em que me preocupava em passar para o ipod toda a discografia da banda em questão, que ouvia obsessivamente no próprio dia do concerto. Mas cedo desisti: se, por um lado, nunca me trouxe valor acrescentado, por outro, quando nos aventuramos por território musical prática ou totalmente virgem, existe a probabilidade de sairmos com algo especial, que fica connosco muito depois do espetáculo. Guardo boas memórias do concerto de Kings of Convinience em 2008, em cascais, por isto – pelas expectativas superadas relativamente ao desconhecido - e por ter esmagado clichés antropomórficos pré-concebidos. Antes do concerto sabia somente que ia assistir a uma dupla escandinava a tocar pop-rock indie simples e melodioso, mas rapidamente me apercebi de que aqueles não eram uns nórdicos quaisquer. Primeiro, o ar desalinhado de uma das metades do duo, que hoje sei ser Erland Oye, todo ele, afro ruiva e olhar mirabolante por detrás dos óculos de massa. Depois, a comunicação, oral e gestual, com o publico: Eirik Glambek, a outra metade, mais caloroso e personalizado nos seus elogios a Portugal e aos portugueses, enquanto Oye apos-

por Francisco Pedro Balsemão tava mais no jogo de ancas, para gáudio do povo. Jogo de ancas? Mas onde raio estavam os típicos escandinavos loiros e frios que abominam o contacto físico? Eis senão quando se estraga uma das guitarras e a banda anuncia que não havia um instrumento suplente. Os tipos não podiam ser do Norte da Europa, o cúmulo civilizacional da humanidade: não terem previsto a necessidade de trazer uma guitarra de substituição era tão improvável como um urso pardo se esquecer de hibernar. Preparava-me já pra ir embora quando soou um trompete no palco. Ao nosso serviço apresentava-se Erland Oye , agora na versão Trompete Humano, a imitar de forma perfeita com a voz o som desse instrumento e a deixar o publico louco. A partir desse momento ninguém me conseguiria convencer que os Kings of Convinience não eram portugueses, único povo do mundo capaz de tamanho desenrascanço. Reencontrei a dupla luso-norueguesa no ano seguinte e pude confirmar a sua veia latina quando, no final do concerto, pediram aos fãs para subir ao palco para dançar as utlimas musicas do show. Estou certo de que assim serão sempre bem-vindos e continuarão a esgotar recintos.

kings of convenience

43


44

fe


45

รกlbum fotos estivais


46


47

OPTIMUS ALIVE! À quarta edição, é já o festival mais urbano por excelência. Todas as velhas glórias do rock e as tenrinhas esperanças de linguagem aparentemente mais jovens vão lá parar: Este ano, o Optimus Alive! Foi vivido ao rubro por 110 mil espectadores. É obra!


PAREDES DE COURA Dele se diz ser o mais verde de Portugal, o mais relaxado e também o mais “indígena” (entendase: indie dos sete costados). Este ano, foi de descobertas, mas também houve clássicos como Peter Hook, prodigy e The Cult.

48


49


50


SUPER BOCK SUPER ROCK As horas no trânsito, o estacionamento caótico e as nuvens de pó foram queixas constantes na primeira edição do velhinho festival em terras do Meco. Mas a proximidade da praia, o marisco fresco e os bons concertos valeram a pena.

51


52

SUDOESTE TMN O ritual repete-se todos os anos e já usaram quase todas as palavras para descrevê-lo. Mais do que um festival de verão, o Sudoeste é uma colónia de férias. No bom sentido, quando há, finalmente Beirut que deu um concerto que valeu por todos os outros.


53


santigold

Artista norte-americana sobe ao palco Heineken no mesmo dia em que atuam nomes como Stone Roses, Buraka Som Sistema ou LMFAO. Santigold é a nova confirmação para o Optimus Alive’12. A artista norte-americana atua no palco Heineken no dia 13 de julho, primeiro do evento de Algés e mesmo em que atuam nomes como Stone Roses, Justice, Buraka Som Sistema ou LMFAO. Consigo, Santigold trará o novo álbum Master of My Make-Believe , que chega este mês às lojas e sucede a Santogold, disco de estreia editado em 2008. Veja abaixo o teledisco de “Disparate Youth”, single retirado do novo registo.

Depois de anunciar no Twitter que Dave Grohl tinha seduzido filha Frances Bean, de 19 anos, Love pede desculpa. Saiba mais. Na semana passada, Courtney Love usou o Twitter para acusar Dave Grohl, o líder dos Foo Fighters e antigo companheiro do seu malogrado marido, Kurt Cobain, nos Nirvana, de seduzir Frances Bean Cobain, de 19 anos. Na sequência de uma série de posts irados sobre o assunto, Dave Grohl negou todas as acusações e Frances Bean afirmou que o Twitter devia “banir” a sua mãe (a quem se refere como “a minha mãe biológica”). A jovem acrescentou ainda ter uma relação “monogámica e muito feliz” com o namorado, e nunca ter sido abordada por Dave Grohl de forma que não “platónica”. Agora, Courtney Love voltou atrás nas suas declarações, escrevendo, novamente no Twitter, um pedido de desculpas. “Bean, desculpa ter acreditado no boato. A mamã gosta muito de ti”. Entretanto, na passada sexta-feira (13 de abril), Courtney Love juntou-se aos antigos companheiros das Hole - a baixista Melissa Auf der Maur, a baterista Patty Schemel e o guitarrista Eric Erlandson - para interpretar dois temas: “Miss World”, de 1994, e uma versão de “Over The Edge”, da banda punk Wipers.

sh courtney love

54

Depois de não comparecer à cerimónia de entrada dos Guns N’ Roses no Rock and Roll Hall of Fame, Axl pede desculpa à cidade de Cleveland. Pode vir aí filme sobre Guns N’ Roses. Axl Rose voltou a escrever uma mensagem sobre a entrada dos Guns N’ Roses no Rock and Roll Hall of Fame, no passado fim de semana. No seu site oficial , o músico mostra-se entusiasmado e lisonjeado com o apoio que recebeu de “fãs, da imprensa, de jornalistas e outros artistas. Sinto-me honrado, felicíssimo e incrivelmente aliviado! Para dizer a verdade, pensei que ia acontecer o contrário”, admite, voltando a dizer que, com a sua recusa em comparecer à cerimónia, não quis “desiludir ninguém”. Porém, Axl Rose aproveita para “pedir desculpa a Cleveland”, a cidade do estado norte-americano do Ohio onde a gala decorreu, “por não ter começado por pedir-lhes desculpa por não ir à sua cidade. Penso que eles sabem como eu adoro tocar lá”. Sobre as acusações de que Axl diz ser vítima - “é obcecado, maluco, volátil, um ‘hater’” - o norteamericano diz: “Uma vez comprei uma pizza para uma sem-abrigo que me pediu uma sopa, aos berros. Demos-lhe a sopa que ela queria. Vocês podem arranjar a vossa”. Entretanto, o ex-baterista dos Guns N’ Roses, Matt Sorum, afirmou, numa entrevista ao canal VH1, que deverá ser feito um filme sobre a banda da Califórnia. “Já falei da possibilidade de se escrever um guião, e tenho falado disso com uns quantos figurões. O que distinguia os Guns N’ Roses das outras bandas é que era tudo muito sujo, muito punk rock e muito autêntico”, diz Matt Sorum. “Por muito que quisessem encaixotar-nos no hair metal, nunca o fomos, porque tínhamos uma energia diferente. Era uma corrente mais subterrânea e ligada à rua, que ficaria lindamente num filme”. Desconhece-se, por enquanto, se outros dos antigos membros dos Guns N’ Roses têm ligação a este projeto.

bon iver

guns n’ roses

Faltam 102 dias para o espetáculo do projeto norteamericano no Coliseu dos Recreios mas já não há bilhetes. O concerto de Bon Iver no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, está completamente esgotado a mais de três meses de se realizar, confirmou à BLITZ fonte da promotora Everything Is New. O espetáculo está marcado para as 21h00 do dia 24 de julho (portas abrem uma hora antes). Quem quiser assistir ao concerto do projeto norte-americano no Coliseu do Porto, no dia 25 de julho, ainda pode comprar bilhete. Os ingressos estão à venda nos locais habituais e custam entre €25,00 e €35,00. Bon Iver, projeto liderado por Justin Vernon, vem a Portugal com o segundo álbum, Bon Iver, Bon Iver , na bagagem. Recorde abaixo o teledisco de “Calgary”, o primeiro single retirado do registo.


hort

Festival criado por Perry Farrell realizou-se em São Paulo. Saiba como reagiu a imprensa brasileira ao evento e veja vídeos dos concertos. A primeira edição do festival Lollapalooza no Brasil ficou marcado por atuações como as dos Arctic Monkeys e Foo Fighters, noticia a imprensa local, criticando negativamente o espetáculo dos MGMT e as condições do evento, nomeadamente a nível de transportes para o recinto. Criado nos anos 90 por Perry Farrell, dos Jane’s Addiction, o festival Lollapalooza levou 50 concertos à cidade de São Paulo. Nos dias 7 e 8 de abril, 130 mil pessoas passaram pelo Jockey Club para ver ao vivo Gogol Bordello, Band of Horses ou Thievery Corporation, entre muitos outros grupos. Sobre o concerto dos Arctic Monkeys, escreve o UOL Música: “Com trejeitos que lembram músicos de rockabilly e topete bem arrumado, Turner trocou poucas palavras com o público, mas compensou com músicas muito bem executadas”.

lollapalooza

Fartura! ¡Uno! , ¡Dos! e ¡Tré! são os nomes dos três capítulos de uma trilogia que conta com os préstimos de Rob Cavallo, produtor do clássico Dookie . Os Green Day anunciaram a edição de três álbuns entre setembro e janeiro de 2013. A banda de Billie Joe Armstrong diz estar num dos momentos mais prolíficos da sua carreira e avança já com os nomes e datas de edição dos três capítulos da trilogia: ¡Uno! sai a 25 de setembro, ¡Dos! a 13 de novembro e ¡Tré! chega às lojas a 15 de janeiro. “Estamos a viver o momento mais prolífico e criativo das nossas vidas”, disse a banda num comunicado oficial, “esta é a melhor música que alguma vez escrevemos e as canções não param de aparecer. Em vez de fazermos um álbum vamos fazer uma trologia de álbuns. Cada canção tem o poder e a energia que representa os Green Day a todos os níveis emocionais. Não conseguimos evitar... Vamos ser épicos!”. Recorde-se que a banda norte-americana está neste momento a gravar com o produtor Rob Cavallo, colaborador habitual dos Green Day mas também de artistas como My Chemical Romance, Avril Lavigne ou Goo Goo Dolls. Veja abaixo as melhores imagens do último concerto que a banda deu em Portugal, no Pavilhão Atlântico (Lisboa) em setembro de 2009.

green day

Cantora nega que sofra de distúrbios alimentares, garantindo que é alérgica à lactose e ao glúten. Miley Cyrus usou a sua página no Twitter para negar os rumores mais recentes de que sofre de anorexia. Devido à visível perda de peso, nos últimos meses, e a uma imagem que a cantora colocou online, dizendo não poder comer uma refeição de “fast food”, ressurgiram as notícias de que a ex-estrela da Disney se debate com distúrbios alimentares. “A todos os que me chamam anoréxica, tenho alergia ao glúten e à lactose. [Aquele] post não tem nada a ver com peso, mas sim com saúde”, esclareceu Miley Cyrus no Twitter. No final do ano passado, a norte-americana lamentou as críticas dos media às mulheres mais curvilíneas, ilustrando o seu argumento com uma foto de Marilyn Monroe, sobre a qual escreveu: “Eis a prova de que podes ser adorada por milhares de homens, mesmo quando as tuas coxas tocam uma na outra”.

white stripes

Under New Zealand Lights reúne imagens de concertos da dupla em 2000 e 2003. Disco a solo do Jack White a caminho. Os White Stripes vão lançar um DVD ao vivo com imagens de concertos na Nova Zelândia, em 2000 e 2003, revelou Jack White. O músico norte-americano, que a 24 de abril edita o primeiro disco a solo, Blunderbuss , informou que o DVD se chamará Under The New Zealand Lights e sairá pela sua editora, a Third Man Records. Em 2010, os White Stripes lançaram um documentário intitulado Under Great White Northern Lights , e antes o DVD Under Blackpool Lights. Da mesma série de lançamentos constará um vinil de sete polegadas com inéditos de uma das outras bandas de Jack White, os Raconteurs. “Open Your Eyes” e “You Make a Fool Out of Me” foram gravadas durante as sessões do álbum Consolers Of The Lonely . A 21 de abril, data em que se assinala o Record Store Day (Dia das Lojas de Discos), a Third Man Records edita ainda dois singles antigos dos White Stripes em vinil. Em junho, Jack White apresenta o disco a solo ao vivo na Grã-Bretanha. Veja aqui o vídeo de “Sixteen Saltines”, uma das primeiras amostras de Blunderbuss.

55

miley cyrus


short

Durante a atuação de Calvin Harris, a cantora de Barbados foi avistada a manusear uma substância não identificada. Depois de ter sido fotografada a fumar marijuana, Rihanna está novamente envolta em polémica. A cantora publicou uma foto no Twitter onde se mostra a manusear uma substância branca não identificada enquanto estava às cavalitas de um segurança durante o concerto de Calvin Harris no festival de Coachella. O referido pó branco estava pousado na cabeça rapada do guarda-costas da cantora de Barbados no momento em que a foto foi tirada. Questionada no Twitter sobre a foto, entretanto retirada, a cantora respondeu apenas: “Sou louca e não finjo ser outra coisa qualquer”. Veja a imagem abaixo, publicada no site do blogger Perez Hilton

rihanna

Shifty Shellshock, vocalista da banda do êxito “Butterfly”, internado em estado crítico. Seth Brooks Binzer, cujo nome artístico é Shifty Shellshock, encontra-se em estado de coma, avança o site TMZ. Segundo esta fonte, o vocalista dos Crazy Town, que em 1999 conheceram o êxito com “Butterfly”, está internado num hospital de Los Angeles, na Califórnia, desde a passada quinta-feira, não reagindo a quaisquer estímulos. Além dos Crazy Town, que se separaram depois do fraco desempenho comercial do segundo álbum, Dark Horse , Shifty Shellshock é conhecido pela sua participação em reality shows protagonizados por celebridades a braços com problemas de alcoolismo e vício em drogas duras. No passado mês de fevereiro, Shifty Shellshock tinha sido detido por posse de cocaína, droga que, de resto, vitimou o antigo companheiro do cantor nos Crazy Town, Adam Goldstein (DJ AM), falecido em 2009.

limp bizkit

Na BLITZ de abril, dia 30 de março nas bancas, o escritor José Luís Peixoto (fã de Moonspell), entrevista Fernando Ribeiro. Saiba mais aqui e ouça um áudio da entrevista. Em entrevista à BLITZ de abril, nas bancas na próxima sexta-feira, 30 de março, Fernando Ribeiro é um dos entrevistados. A conversa com o líder dos Moonspell, que se preparam para lançar um álbum novo, foi conduzida pelo escritor José Luís Peixoto, grande fã da banda portuguesa. Sobre a importância da cultura e da língua portuguesas na música dos Moonspell, responde Fernando Ribeiro: “Começo por dizer que Moonspell é das bandas mais portuguesas de Portugal. Pego no hip-hop ou no [Pedro] Abrunhosa e digo que a fórmula musical não é portuguesa, mas como as coisas deles são cantadas em português depois as pessoas têm a ideia, errada na minha opinião, que aquilo é um estilo mais português. Os Moonspell andam há anos a levar com movimentos contra cantar em inglês. É uma falsa questão. Os países não se resumem à sua língua. Portanto, repito que os Moonspell são das bandas mais portuguesas de Portugal. (...) A cultura portuguesa tem muito impacto na nossa música e nos nossos fãs. Todos sabem que somos de Portugal. Cá, por vezes, havia media que não sabia que nós éramos portugueses”.

moonspell

crazy town

56

Determinado em levar a banda noutra direção, Durst quer prescindir dos préstimos de DJ Lethal e John Otto. Concerto no Rock in Rio Lisboa é em maio. Fred Durst pretende despedir dois dos membros originais dos Limp Bizkit, noticia o site TMZ. Segundo aquela fonte, DJ Lethal e o baterista John Otto não se enquadram na visão que o vocalista tem para o futuro próximo dos Limp Bizkit. O TMZ avança ainda que Fred Durst, apostado em seguir um estilo vida mais saudável, não estará satisfeito com os hábitos de Lethal e Otto. “Nos últimos quatro anos trabalhámos juntos para trazer os Limp Bizkit até onde eles estão hoje e se formos despedidos logo depois de a banda conseguir um contrato novo e uma nova oportunidade na vida não será nada fixe”, disse DJ Lethal ao TMZ. “Os fãs deviam perceber que se dois quintos da banda original não tocarem nos concertos, [a banda] não estará a ser genuína para com eles”, completou o músico.

Os Limp Bizkit tocam no Rock in Rio Lisboa a 26 de maio, ao lado de Offspring, Linkin Park e Smashing Pumpkins.


57


Diamond Eyes é um regresso muito inspirado… Ainda bem que o diz. Em termos de composição já não trabalhávamos assim há muito tempo,

Como é olhar para o lado e ver o Sergio e não o Chi? É uma daquelas situações que nos leva a sentimentos contraditórios. Não há dia que não pense no Chi ou não sinta a falta dele, mas quando penso nele não estou a pensar no Sergio. Temos esperança que regresse um dia e, mesmo que não volte a tocar baixo, já me dava por muito contente se pudesse ter uma conversa com ele.

Perderam um baixista num acidente (inconsciente desde 2008). Depois colocaram um álbum na gaveta e recomeçaram do zero. Como é que se sai disto por cima? Basta deixar que as coisas flueam da forma o mais natural possível – foi o que nós fizemos. A partir do momento em que começamos a tocar com o Sergio, as coisas começaram logo surtir efeito e não voltámos a olhar pra trás. No primeiro ensaio, escrevemos logo música nova, que era algo que não acontecia nos Deftones à muito tempo. O Sergio ajudou-nos a reencontrar a nossa criatividade e oprocesso acabou por servir como terapia, porque empregamos todos os nossos pensamentos e emoções, toda a frustração, na música que estávamos a fazer. Se tivéssemos decidido acabar com a banda, agora provavelmente estávamos todos em casa a pensar se não poderíamos ter feito as coisas de outra forma.

Dezembro de 2010. Encontramos Chino Moreno, o próprio, um dos ídolos incontornáveis de uma geração que começou a ouvir música na segunda metade da década de 90, descontraidamente sentado ao lado de um grande espelho no sossego que um camarim do Campo Pequeno permite. O vocalista, letrista, face e forças motriz dos Deftones soou lúcido, interessado e enigmático. Viva o mito.

deftones 58


Ainda é o vocalista mais misterioso da sua geração? Não sei… Acho que a música requer sempre a sua dose de mistério e, às vezes isso torna-se muito importante do que as pessoas que a fazem. Para começar, não creio sequer que seja uma pessoa com uma mensagem a passar… não tenho grandes opiniões, não sou uma pessoa política. Limito-me a gostar muito de música, de filmes, de arte e, especialmente de coisas abstratas.

Então por que não para de escrever? Bem… quando acabamos um tema, fico satisfeito com o resultado final. Mas é um tormento para começar.

As suas letras nunca se aproximaram do chão. Continuam abstratas… Isso foi causa do nu-metal e de nos associarem a ele. O nu-metal era um queixume pegado. “Coitado de mim, a minha vida é uma porcaria, a minha infância foi terrível, isto e aquilo”. Nunca estive interessado em escrever letras assim, por isso virei-me para a fantasia e para temas um pouco mais abstratos, com os quais não tinha qualquer relação pessoal a não ser a inspiração que ia buscar aos filmes e outras formas de arte. Se fosse concreto, o mistério desaparecia e toda a gente saberia de antemão de que estávamos a falar. Ouço a musica e começo a criar melodias, padrões vocais… As palavras começam a aparecer e o texto toma forma. Normalmente, só quando olho para o papel é que tiro o verdadeiro sentido do que escrevi. A verdade é que quando crio uma melodia mesmo muito boa na guitarra, preferia não ter que arruinar com palavras (risos).

As más línguas dizem que andou à cacetara com o guitarrista Stephen Carpenter. É verdade? Isso nunca constituiu problema. Pior era não sabermos como trabalhar. Passámos demasiado tempo a conversar, a jogar as cartas, dominó, fumar, beber… em estúdio. Faltava disciplina, mas crescemos.

desde o White Pony. Foi a primeira vez que tivemos realmente tempo para experimentar tudo e, apesar de ser um ótimo disco, foi escrito por camadas. Usámos o estúdio como mais um instrumento. Deixámos de ser uma banda de cinco tipos fechados numa sala e depois num estúdio, a tentar captar apenas aquela energia de estarmos a tocar juntos.

59


salt

realização: Phillip Noyce interpretação: angelina jolie, liev schreiber, chiewetel ejifor

60

realização: david fincher interpretação: jesse eisenberg, justin timberlake, andrew garfield

A menos que esteja a viver numa ilha deserta nos últimos anos, não deve haver ninguém no mundo que pelo menos não tenha ouvido falar na maior e mais bem sucedida rede social: o Facebook. A história da sua génese, do seu surpreendente sucesso e do incontornável impacto que tem no tecido social moderno inspirou o realizador David Fincher e o argumentista Aaron Sorkin, o autor da muito premiada série Os Homens do Presidente, a fazerem uma recriação cinematográfica do percurso que levou um estudante universitário de Harvard e dos seus amigos a mudarem por completo os hábitos de comunicação de centenas de milhões de pessoas. No centro da história está Mark Zuckerberg (Jesse Eisenberg), um brilhante estudante de ciências informáticas que no entanto é um zero à esquerda no que diz respeito a relações humanas. O falhanço da sua relação com uma namorada leva-o a planear a sua vingança algo mesquinha e ilegal onde convida os membros da universidade a votarem e classificarem os atributos físicos das colegas. O sucesso da “partida” ultrapassa em muito as expectativas de Zuckerberg, e que com o passar do tempo o leva a ponderar a criação de um site onde toda a gente se pode encontrar cirtualmente. Fincher faz da crónica do percurso de Zuckerberg uma viagem envolvente e cativante, onde o protagonista com a sua personalidade algo misantrópica acaba por, ironicamente, criar a mais usada ferramenta de interacção pessoal. Fincher assina um filme inteligente e fascinante, servido por um argumento superior de Sorkin, e ainda excelentes desempenhos de todo o elenco. Um dos favoritos aos próximos óscares, como prova a “goleada” nos Globos de Ouro.

comer orar amar

realização: ryan murphy interpretação: julia roberts, javier bardem, ryan philipe

Liz Gilbert, é uma mulher bem sucedida que, descontente com a sua vida, decide mudá-la, partindo à descoberta de si mesma rumo a Itália, depois até à India e finalmente Bali. O percurso de Liz passa pela comida, pela busca religiosa e finalmente pela descoberta do amor. No papel, isso resulta muito bem, tendo fascinado milhões de leitores. Mas adaptar um bestseller ao cinema nunca é tarefa fácil porque sintetizar a essência de um livro em imagens e sons não é apenas uma mera ilustração das sequências mais decisivas do livro. Apesar do elenco liderado por Julia Roberts, o filme de Ryan Murphy resulta pouco mais do que uma colagem de destinos turísticos, entremeados cmo alguma angústia existencial e uma filosofia oriental de pacotilha. É pouco!

o pacífico

realização: vários interpretação: joseph mazzarello, james badge hale, jon seda

Depois de, em Irmãos e Armas, nos terem dado uma perspectiva muito pessoal dos horrores vividos por um pelotão de soldados americanos europeu da II Guerra Mundial, os mesmos produtores – entre eles Tom Hanks e Steven Spielberg – trazem-nos a sua descrição do inferno da guerra no Pacífico. Tecnicamente imaculado, com um magnífico trabalho de reconstituição e desempenhos sólidos de um elenco pouco reconhecido, O pacífico não consegue atingir o brilhantismo de Irmãos e Armas. Onde este primava pela força e carisma das personagens, o pacifico dispersa-se ao tentar cobrir toda a campanha militar, perdendo o foco e a dimensão humana que fez muito sucesso na primeira série.

vds

social network

Ah, que saudades dos bons velhos tempos da Guerra Fria. A tensão entre as superpotências levou o mundo a beira do abismo, mas também inspirou escritores e argumentistas na crianção de empolgantes thillers. Salt é um filme que atesta a nostalgia do velho inimigo, envolvendo-nos numa intriga tão fascinante quanto absurda sobre agentes soviéticos “adormecidos” que são ativados para cumprirem o seu destino pela velha Rodina. Mas tudo isso é apenas a premissa; de facto este filme excelentemente dirigido pelo veterano realizador australiano Phillip Noyce não é mais do que um pretexto para vermos a bela Angelina Jolie a desafiar as leis da gravidade e a despachar inimigos a torto e a direito, elaboradas sequências de ação temperadas com muito fogo de artifício


61


62

“A única m levar o rock o futuro é limitarmos o que já


maneira de k n’ roll para é não nos a glorificar foi feito” jason pierce spiritualized

63


64


lana del rey 65


66

Born to die é, sem dúvida ou discussão possível, o álbum mais badalado deste início de 2012. É nele que se procuram respostas para as dúvidas que cercam a personagem musical criada por uma tímida Lizzy Grant de 25 anos. Mário Rui Vieira disseca a anatomia do fenómeno Lana Del Rey e explica de onde veio esta voz e porque razão está a dar tanto que falar.


“Sei como não quero ser olhada: como alguém que faz o que lhe mandam”

Com o mundo cibernético a ressacar da morte recente de um ícone chamado Amy Winehouse e a começar a aborrecer-se com as chocantes intervenções de Lady Gaga, só os melómanos mais incautados conseguirão justificar de forma válida o facto de terem sido apanhados de surpresa pela nova obcessão Lana del Rey. A cantora tornou-se um fenómeno em meio ano. Seja o lábio superior falso ou vdadeiro, seja a passagem de Lizzy Grant a Lana del Rey uma criação pessoal ou dos magos da indústria, seja ela uma artista autêntica ou um valentíssimo logro, já ninguém lhe fica indiferente. Born to die, o album que apresenta a exuberante persona musical de Grant ao mundo, chegou às lojas recentemente a prepara-se para confundir ainda mais aqueles que nele procuram esclarecimentos para suas dúvidas. Muito aguardado, o longa-duração não reuniu concenso entre a crítica, mas as vendas não vao seer nada parcas.

A rapariga do momento, nome mais quente da musica norte-americana actual, estrela viral são aenas alguns dos termos utilizados para descrever a nova Lizzy Grant – no inicio da histeria, reputados sites de musica como o Pitchfork apelidavam-na de nova rainha do indie rock. Não admira que haja tanta gente a sentir-se defraudada. Lana del Rey tem pouco de indie e é tudo menos rock. É engraçado. Não tenho nada de estranho – defende-se a cantora ao jornal Britânico Telegraph. Passei anos a mostrar a minha musica a diferentes editoras e todos me consideravam assustadora. Pensavam que as imagens presentes na minha musica eram estranhas e a roçar o psicótico. E depois, de repente, foi como se as pessoas tivessem decidido que não era assim tao estranho, que afinal ate era demasiado perfeito. O facto de poder ser considerado pop é uma revelação para mim. Sabe o que mudou? Começou a passar nas radios. O objecto de discórdia, aquilo que me deu origem a toda a discussao em torno da persongaem chama-se video games, uma canção simples. Em agosto de 2011, a artista colocou o teledisco – uma colagem de imagens de filmes antigos, desenhos anomados e filmagens de si propria a cantar – supostamente realizado pela propria no youtube. Rapidamente se tornou um sucesso entre os melómanos mais atentos e fez eco em publicações alternativas e blogues mundiais, chegando depois ao top 10 britanico de singles e acabando o ano com 20 milhoes de visualizações no site de videos. A propria não parece saber bem como explicar o sucesso desedido de

video games. É uma bela cançao e canto-a num tom grave, coisa que a distingue das outras –explica numa entrevista publicada pela revista Q, acrescentando de seguida que é, obviamente, um grande marco na sua vida. Aquilo que no inicio era elogiado como sincero e autêntico, como a propria assume, Sou eu em formato canção, rapidamente passou a alvo de duvida e chacota, a cançao revelou posteriormente, continuou a atrair muita atenção e os poucos concertos que tinha marcados começaram a esgotar. Foi então que, alimentados por um artigo pouco elogioso do blog Hipster Runoff – pulicado em setembro, pouco depois de video games chegar a internet – varios foram os que começaram a levantar suspeitas sobre a transformação de Grant em Del Rey, que diziam ter estado planeada desde o inicio. A escolha do nome Lana del Rey teria sido da responsabilidade do management, mas a artista nega veementemente que seja essa a explicação – não tenho ideia dos filme em que entrou lana turner. Escolhi lana porque é um nome bonito, tal como rel rey – disse na esntrevista à Q. A artista tambem defende com unhas e dentes que lana e lizzy são a mesma pessoa – não estou dividida entre duas personalidades. Não há distinção –disse ao Telegraph – Queria um nome que soasse tao bonito quanto a musica. Não sinto necessidade de entrar noutro mundo ou personagem, porque vivo no mesmo mundo e na mesma pessoa há muito tempo. Estou muito feliz assim. Qualquer pessoa lhe dirá isso”.

67


2sex Casa da Música Porto 22h00 €25

Sara Tavares

São Mamede CAE Guimarães 23h00 €13 a €19

2sex

1qui

A Naifa

Sons de Vez Arcos de Valdevez 23h00 €13 a €19

1qui

Vodafone Mexe Fest

Muaic Box Lisboa 22h00 €25

St Vincent, Hanni el Khatib, Twin Shadow Lisboa 23h00 €40

Fink

2sex

19seg

14qua

John Spencer Blues

21qua

TMN ao vivo Lisboa 22h30 €33

27ter

Mark Lenagan

Aula Magna Lisboa 22h00 €13

A Naifa

24sáb

Carminho

Reggae Blast Hard Club 22h00 18€

25dom

Dub Inc

Hard Club Porto €12

CCOC Sintra 23h00 €13

CCVF Guimarães €20

Kossondulola

25dom

Cocorosie

Cancer Bats

Sons de Vez Arcos de Valdevez 23h00 €13 a €19

15qui

18dom

19seg

Festival p/ Gente Sentada CCOC Sintra €33

Coliseu do Porto 22h00 €34

Tindersticks

Feist

Hard Club Porto 22h00 18€ €25

68

ag ag ag Gui Boratto

She Wants Revenge Hard Club Porto €26

28qua


CCVF Guimarães 22h00 €15

Wraygunn

6ter

Simple Plan, We are Kings

Coliseu dos Recreios Lisboa 21h00 €30

Cinema S. Jorge Lisboa 21h00 €10

23sex

Plano B Porto 22h00 €5

22qui

27sáb Best Youth Aula Magna Lisboa 22h00 €15

26sex

Bob Log III

TMN ao vivo 21h00 €10

Armazém do Chá 00h00 €2

Far East Movement

27sáb

PAUS

Sons de Vez Arcos de valdevez 22h00 €12

26sex

24sáb

CCVF Guimarães 22h00 €22

22qui

Tindersticks

Casa da Música Porto 22h00 €26

Colideu do Porto 21h00 €26

25qui

Coliseu dos Recreios Lisboa 23h00 €18

Sons de Vez Arcos de Valdevez 22h00 €12

James Morrison

LMFAO

Kings of Convenience

B Fachada

Capitães da Areia

22qui

Hard Club Porto 22h00 €14

69

24sáb

The Straits

10sáb

Hard Club Porto 21h00 €21

Helmet

Thurston Moore

11dom

3sáb

6ter

M83, Porcelain Raft

Music Box Lisboa 00h00 €18

Hard Club Porto 22h00 €26

genda genda genda 5seg

Martina Topley Bird


70


71


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.