Catálogo da Exposição Trans-Bordas: Apagar e Descascar, de Ana Guimarães

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Trans-Bordas Apagar e Descascar

Ana Guimar達es

...eu transbordo, tu trans-bordas...


COLEÇÃO CABAÇAS COLEÇÃO OVÁRIOS PINTURA GRAVURA GESSO Agradecimentos Omar Khouri Lalada Dalglish Milton Sogabe Vera Cozani Olho Digital Luiza Guimarães Amélia Guimarães

Arte: Ana Guimarães


Trans-Bordas: Apagar e Descascar de Ana Guimarães

…eu transbordo, tu trans-bordas…

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A exposição ´Trans-Bordas: Apagar e Descascar´ mostra um conjunto de trabalhos bastante variado, envolvendo pintura, poesia, gravura e escultura, com o uso de técnicas de pintura à óleo e acrílico, de raku, queima primitiva, esmalte, cera, sob o foco de transbordar fronteiras espaciais, estruturais e corporais em um processo de apagamento e descascamento das formas, atraindo e retraindo o olhar de quem usufrui da obra. Propõe-se a continuidade de experimentação com as qualidades das formas em diferentes telas e elementos, sendo que a sobreposição de cores, linhas, o descascamento e o apagamento das estruturas e tonalidades são características desse conjunto de pinturas, gravuras, e de esculturas. Este projeto teve início de 2009 para 2010, durante período de realização de um Pós-Doutorado na Indiana University-Purdue (IUPUI-IN), School Liberal of Arts. Um total de doze telas em acrílico foram produzidas no exterior e trazidas para o Brasil. Desde 2010, o restante das peças foram feitas em diversos materiais e uso de técnicas diversas. As tendências não-representacionais, abstratas, e representacionais ganham leitura. As primeiras telas em acrílico foram estudos para o desenvolvimento das telas à óleo, gravuras e esculturas, dando origem a este projeto expográfico denominado ´Trans-Bordas: Apagar e Descascar´. A mostra é dividida em pintura, gravura, gesso, e esculturas de duas coleções: a Coleção Ovários e a Coleção Cabaças, além de poesias e poesias proseadas. Cada obra reapresenta a ideia de ultrapassar bordas, de apagamento e de descascamento. Além de pinturas à óleo e acrílico, a Coleção Ovários, esculturas em argila com técnica de raku; a Coleção Cabaças, com queima primitiva e cera; esculturas em gesso; xilogravuras, estudo de gravura em metal; e poesias que acompanham cada etapa. Tratam-se de experimentações com técnicas e composições, uma pesquisa das formas sob releitura psicológica. As poesias completam a cena da mostra, uma vez que enfatizam esse entrelaçamento de ideias. O projeto foi acolhido pelo Instituto de Artes da UNESP-SP e convida o público a embarcar no imaginário da artista e em sua proposta.

Ana Guimarães (Curadora)


COLEÇÃO CABAÇAS

quatro peças Os Nadadores, Embarcações , Arraias, e Totem, peças em argila com queima primitiva e ceraTransbordar no sentido de: imergir e emergir das situações cotidianas.

Totem, 2012 esmalte

Os Nadadores, 2012


COLEÇÃO OVÁRIOS

dez ovos em argila com técnica raku e esmalte. O acabamento em raku foi concebido desde a produção da primeira peça. Transbordar no sentido de: descascar padrões, de ruptura, e de renascimentos cotidianos.

5

Ovo 5, 2012

Ovo 2, 2012

Ovo 1, 2012

Ovo 4, 2012

Ovo 6, 2012

Ovo 9, 2012

Ovo 7, 2012

Ovo 8, 2012

Ovo 10, 2012

Ovo 3, 2012


PINTURA ACRĂ?LICO

Nevasca, 2009

Convexo, 2009

Desejo, 2009

Ver-Te-Cal, 2009

Fluxo, 2009

Abstrato Chuvoso, 2010

Coisas, 2010

Ciclone, 2009 Estudo n. 1, 2009


PINTURA Ă“LEO

a

Neve sobre Cavalos, 2013 Sonho e Ciclones, 2013

Mulher se Tocando, 2009

O Ser, 2009

Releitura Ceia, 2009

Ciranda, 2013

Encosta, 2013

Em Movimento, 2012


GRAVURA

dezenove xilogravuras e duas gravuras em metal. Transbordar no sentido de apagar e rasurar linhas sobre

Negra, 2012

Abstrato, 2012 Figureira, 2012

MĂĄscara, 2012 Chuva sobre Cavalo, 2012

Arraias , 2012

Olho, 2012

Estudo Cavalo 2, 2012 - metal Pirâmide, 2012

Estudo Cavalo, 1 2012 - metal

Negras, 2012


GRAVURA

Retalho1, 2013

Retalho 2, 2013

Retalho 5,, 2013 Retalho 3, 2013

Retalho 1, 2013

Retalho 8, 2013 Retalho 4, 2013

Retalho 6, 2013

Retalho 7, 2013

Retalho 9, 2013

Retalho 0, 2013


GESSO

quatro telas em gesso e uma escultura . Transbordar no sentido de apagar, iluminar linhas, de trazer profundidade à superfície

Cão, 2013

Luz, 2013

Trama1, 2013

Trama2, 2013

Anfibiofagia, 2013


Ponto de Inflexão: ponto em que uma curva toca a sua tangente Inflexão do corpo. Inflexão de voz. Mudança de tom, de acento na voz. Desvio de uma linha, de um raio luminoso. Ponto de inflexão, um ponto sobre uma curva na qual a curvatura troca o sinal. Quantas vezes na vida se consegue redirecionar o barco em pleno movimento? Não digo se deixar à deriva, ao gosto do generoso vento que consigo se identifica. Refiro-me a fincar a alma em um ponto de inflexão. Muitas vezes enjoada com os trancos da embarcação, e no auge da dor, as costelas são constelações, ombros arqueados a mudar o rumo da nave. Os quadris em posição de bússola apontam ondas. IN-FLEXÍVEL IN-CRÍVEL IN-DÓCIL IN-E-RENTE IN-TANGÍVEL IN-DETERMINADA IN-CONSTANTE IN-TOLERANTE IN-TRATÁVEL OUT Ana Guimarães março 2013


OVÁRIOS

Desova-me! Descasca-me tendo adentro, afora, agora. O nascimento é apagado e muitos renascimentos acontecem sem que se perceba parido novamente. As cascas rompidas, corrompidas, rachadas, deformadas, gerando outros de um mesmo. Ruptura. Terra acinzentada, carvão, barro, limbo, caminho deixado pela corrosão de ar, água, intensidades. As cascas, agora, de feridas teimam revestir os cortes e formar disformes cicatrizes, fundas, rasas.

E o monte espesso e duro, em relevo, liso, aponta, cobrindo a ferida. Todo mundo, ao menos dez vezes, já cutucou casca de ferida, transbordando o orifício, o vácuo, a cavidade. Deixando à mostra o corte, desnudando impulsos repetitivos. Descascando, a olhos vistos, seus padrões! Ferida quase seca, casquinha quase desaparecendo, vai lá o afoito e repete a mesma ação. Mas a vida distrai o sujeito com o brilho de outros fenômenos, de si alheios, e o corte se fecha, deixando pálida mancha na pele ressequida. Assinatura!


Ovos são vários. Ovários são incontáveis! Depois da fuligem, o quê?

CAL: APAGAR E DESCASCAR

Cal virgem, cal viva ou ordinária, filha de Calcário, compósito sólido-pó-branco. Ergue a massa, a argamassa, revestindo paredes, estruturas, corpos, aqui a serem desnudados novamente pelos contínuos e descontínuos apagamentos e descascamentos. Cavucar, raspar, as estruturas! A cal em lascas, caindo por terra e permitindo ver outros elementos. O assentar e revestir repetidamente orifícios apagados e descascados. Cal hidratada, em estado aéreo, mas sensibilidade líquida, aglomeradora, reage em endurecimento

pelo contato com o ar, fazendo voltar ao estado sólido original de calcário. Cal fresca e líquida, em estado fresco, dá plasticidade à massa e retém água, revestindo e sugando líquidos excessivos. Cal endurecida, absorvedora das deformações, acompanha as rachaduras da estrutura. Diminuidora da retração-contração, brinca de carbonatar lentamente o tempo, tamponando fissuras ocorridas com o endurecimento da massa mista, fragmentada, obssessiva, criativa. CALÇAR GALGAR CALEJAR CAVUCAR CONTRARIAR DESCASCAR … O FIM DE TODA CAL, DESVELAR…


RASURAS DE SI (menor)

… e o cobre invadindo meus punhos, dourando meus dedos rijos, pressão de aperto a estrangular a linha, pressionando para o fundo, ir afundando a madeira, o metal, a meta. Fazedura de rasuras com erros bonitos. Rasurar é bonito! A dourar um cavalo, ao se soltar das linhas, dos abismos lineares, rebeldemente cavalgando o riscado que, em pontos nodais, nem quer se fechar, fazendo-se rasura. Rasura é bonito! A paciência do esfregar, esfregar, esfolar, esfolar a matéria que, de repente, deixa a caneta cavucar, passando seus alinhavos à frente. Doem as mãos. Quais? Os nós das juntas avermelhados,

tomados de energia trocada com a madeira, o metal, sem metas, com metas, sem metas… Odes à talagarça! O que diz ao mundo esse pedaço de placa dura, mole, dura, escorregadia? Reflete-me, mas não retém meus traços. Reflete-me arcada sobre o pedaço de tora e placa dourada, e de meu reflexo retém as rasuras, frutos de suor e imprecisão. Sob intensidades e pressões de caneta cravada na matéria, ela se ri e se mostra água forte, fraca, mezzo forte, imperceptível de um risquinho ridículo que pretendia ser linha, mas é abobada, desbotada,


marca de caminho de pulgas, irregular. Bonito a irregularidade! Faço gracejo, regravura, ressignificantes, ranhura, esquisitice, gostosura, enfim, poesia! Poesia de rir de mim, ser motivo de brincadeira, de jogos de força e delicadeza com a opaca madeira, o dourado espelho duro dele mesmo, dos fenômenos ignorando e cedendo às forças, às intensidades, aos impulsos doloridos, condoendo-se das pressões, lustrando-se de suores, do brilho de olhos sobre si. Óleos sobre si (menores).

NÓ NÓDULOS NODAIS APONTADOR DE INVISÍVEIS NOTAS INAUDÍVEIS A LINHA É VEIO DE RIO CAVUCADO POR VONTADES QUALIDADES SUSSURRADAS ÀS PONTAS DOS DEDOS BRINCAM DE GRAVURAR PAPEIS TRANSLÚCIDOS, SENSÍVEIS DESVELADORES DA TRANSPARÊNCIA DOS FENÔMENOS DOS LÍQUIDOS A PREENCHER E ESVAZIAR SEUS VEIOS! O QUE EM SI É DENSO, É ELEMENTO, É INERTE E ESTÁ ATENTO À ATENÇÃO DOS HOMENS. PODE EM SI SER A VIBRAÇÃO MAIS COMPLETA. As Oito Poesias e Poesias Proseadas acompanham o conjunto das obras. Transbordar a letra.

Ana Guimarães março de 2013


Todas as obras sĂŁo comercializĂĄveis. Email: ana.guim@yahoo.com.br


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