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“Cuidado, Olhos Azuis”
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Ana, jornalista recém formada, trabalha na redação de uma conceituada revista, como redatora e assistente geral. Uma vida corrida, não reclama de não ter tempo para mais nada, aproveita seu trabalho, vive seus dias com alma de cigana, que precisa trabalhar de forma insana para pagar as contas e cuidar de sua mãe doente. No auge de seus 20 anos, honra seus compromissos profissionais também, sabendo atender o desejo de todos os seus chefes, que ela nem sabe ao certo quem são. Em uma segunda-feira insana, Ana desce as escadas da empresa com cafés para seus chefes, como faz todos os dias... Naquela segunda, ela se depara com um homem que a faz tremer na base. Ele se aproxima e diz: bom dia. O café quase caiu rolando escada abaixo. (Ana sempre paga micos na frente de gente interessante. Nasceu assim.) Voltando... aquele bom dia foi suficiente para que ela não esquecesse os olhos mais fatais que já viu na vida. Ao longo de seus dias e da sua rotina, não se dá conta que sua mente busca o olhar daquele homem diariamente. Distraída que só ela no mundo de Ana, pensando alto, enquanto ouve boleros no seu fone, que são interrompidos por um telefonema da supervisora: intimando seu trabalho de assistente para ser acompanhante de um chefe a um coquetel. Ela providencia tudo o que foi exigido, no prazo até com certa antecedência e vai meio que sem entender a esse coquetel de gala.
Linda, com um vestido emprestado de sua amiga milionária Mariana, ela chega ao local do coquetel e aguarda como pedido do lado de fora. O coquetel era uma exposição de arte, e ela espia o lado de dentro, quando: um toque caloroso em suas costas tira todo seu foco em existir. — Boa noite.
(De novo aquele homem de olhar fatal! Ana não sabe lidar com isso... A carne ali é fraca dinastia de canalha honesto.) Olhar naqueles olhos de novo foi suficiente para que soubesse que estava apaixonada. A noite foi sublime, sua missão profissional era observar todas aquelas obras de arte, anotar o que ele pedia discutir conceitos, deixar em ordem os pensamentos dele para que fosse possível redigir uma crítica em seu nome. As obras eram variações de azul, Ana fica encantada com trabalho do arista italiano Luiggi Trousseaut, anota tudo o que vem à sua mente, ao mesmo tempo, suspira por seu chefe que divaga sobre as imagens com uma poética tão bela que poderia ser uma outra exposição. (O parecer dele sobre tudo aquilo era também uma obra de arte). Trabalharam, entre sorrisos contidos e olhares doces, divertiram-se ao longo da noite. Quem observa de fora nota: eles têm uma sintonia diferente de todas as pessoas, pareciam um casal mesmo sem ser. Pareciam se amar e ainda formavam uma conexão de gerações intrigante: ela com 20 ele com 60 anos. Saindo da exposição, ele pergunta se ela aceita conversar tomando um drink fora dali. Ela diz que não
pode, ele insiste, ela aceita. Tomaram wisky cada um da sua maneira, muitas r i s a d a s fa l a ra m s o b re o mu n d o, a s p e s s o a s, d e ra m gargalhadas de suas semelhantes impressões sobre a humanidade. O celular de Ana toca, ela precisa ir. Ele sorri compreensivo e, no caminho de volta, ela só pensa naquele par de olhos brilhantes que a fez lembrar que felicidade existe. Passaram-se meses Ana não teve mais notícia daquele belo homem, não conseguia se concentrar em nada a não ser no fato de que ele desapareceu e que fazia falta em sua rotina mesmo que por um mísero bom dia. Sua vida se tornou mais cinza sem ele. Em uma quarta-feira a noite, próximo ao final de seu expediente, Ana é surpreendida, a porta se abre, ele entra, lindo erótico e com seu terno preto, sua postura ereta e riso sarcástico fatalmente sedutor. Ela diz: boa noite. (pergunta no que pode ajudar) Ele diz: que horas você sai? Ela responde: em 10 minutos. Ele diz: eu espero. Ela pergunta: por quê? Ele sai e aguarda lá fora. Ana treme por inteiro, começa a transpirar, 10 minutos pareciam 9 anos, e ela conseguia vê-lo pela porta de vidro: calmo e tranquilo do lado de fora, fumando seu cigarro e observando a noite. Ela sai, vai até ele já imaginando que algo em seu trabalho podia estar errado e que era bem possível que uma bronca pudesse ser dada, envergonhada e se sentindo culpada, ela pergunta...
“Está tudo bem?” Ele responde que “não.” Ela tem um ataque por dentro, pensando “eu tô na rua”. Ele não aguenta e ri da cara dela de assustada, ela relaxa e sorri de volta. Ele diz: janta comigo. Ela vai. No carro dele, toca blues, ela ama. Ana sabia que estava errado ir jantar com seu chefe, não era ético não era moral muito menos correto. Ela simplesmente quer que o mundo se exploda, entrega-se aquela experiência, solta seu cabelo, olha pra ele a cantar, ele olha de volta com olhos azuis fatais inteligentes e pensando alto solta “é muito filha da puta”... com sorriso sacana... ela devolve o elogio em um olhar que ele não vai esquecer tão fácil. Jantam sorrindo, divertem-se, conversam, olham-se. Ana se esquece de tudo: de ser chefe, da hierarquia, entregase a sensação que aqueles olhos claros provocavam nela. Ele também esquece, e eram os dois, em um restaurante lindo que tocava jazz... Na manhã seguinte, ela vai trabalhar ainda descrente do que tinha acontecido, sorria sozinha pelos cantos. Não conseguia esconder sua luz radiante que a presença dele havia deixado. Ela senta em sua mesa e começa a trabalhar, a porta abre: uma mulher elegante belíssima, séria em alto e bom tom pergunta onde estava JR. Ana treme, diz não saber. A Mulher menciona que ele não havia jantado em casa na noite anterior, Ana não entende ao certo de quem ela estava falando... mas eis que sua ficha cai. Ele era casado.
A mulher sai da sala, bate a porta, Ana fica lá. Gélida, descrente. Ele não havia mencionado isso. “Ok”, nada havia acontecido, não se beijaram, não transaram, mas porra! ELE A LEVOU PARA JANTAR! Ela estava apaixonada. Ele era seu chefe, já estava errado e ainda por cima, marido de uma mulher daquelas, mil vezes melhor que ela. Ana fica apática, um ódio descomunal começa surgir no seu interior, ela sai do trabalho, nervosa, entra na primeira balada que encontra, vai ao bar, começa beber, depara-se com uma jovem linda, de olhos azuis. E, sem pensar, aproxima-se dela e a beija da forma mais intensa que ela podia. Dançaram, beijaram-se a noite toda, sem trocar uma só palavra, Ana foi amaldiçoada pelos olhos azuis e compenetrada neles permaneceu a noite toda. Passou seu telefone para moça que nem sabia o nome e foi embora. Outro dia de trabalho, Ana chega como sempre faz, senta a sua mesa, logo que começa trabalhar, chega um entregador com flores para ela. Ela recebe aquilo já com ódio nas veias, abre o cartão e era ele dizendo: “desculpe, imaginei que soubesse e preciso ver você de novo. Esperote às 22h na portaria 3.” Maldito! Ela pensa... Ignora o bilhete, continua seu dia de trabalho como se nada tivesse acontecido, recebe uma mensagem em seu celular (a moça da noite anterior), dizendo: “quero te ver de novo”. Ela responde, me encontre às 23h, na portaria 3 do local onde trabalho. A moça diz: ok. Às 22h, Ana, ansiosa, com os nervos a flor da pele vai a até a portaria e lá estava ele, lindo de terno preto, calmamente aguardando. Aproxima-se e, quando vai brigar com ele, ele a beija de maneira deliciosa, ela não resiste e se
entrega. Beijam-se sem parar, como se tivessem passado sede daquele instante, param, se olham nos olhos. Um chamado bem perto tira o foco deles: Pai?
Os olhos azuis eram os mesmos.