A CASA NO CAMINHO - o fragmento que potencializa a travessia

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A CASA NO CAMINHO o fragmento que potencializa a trevessia

Brasilândia São Paulo TFG 2019/2020


Ana Júlia Silva Ribeiro Orientador Prof. Dr. Claudio Manetti Banca Examinadora Prof. Pedro Paulo Mainieri Prof. João Ricardo Mori


A CASA NO CAMINHO o fragmento que potencializa a trevessia

Brasilândia São Paulo Pontifícia Universidade Católica de Campinas Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Trabalho Final de Graduação Junho 2020



Agradeço A Deus pelo meu caminho,e tudo o que me trouxe até aqui. A Isadora, minha irmã, pelo companheirismo e amor Aos meus pais, Maria e Maurício, por me receberem nessa vida e serem base para minha trajetória, -obrigada pela paciencia, afeto e todos os ensinamentos. A Marina e João, que me conhecem tão bem, obrigada por todo apoio e inspiração. Camila e Thuanne, nos laços que transcendem o sanguíneo. -obrigada por todo carinho Aos meus amigos, obrigada por enriquecerem meus dias e me trazerem tantas alegrias. -Sérgio, Letícia, Bruno e Du, o grupo que levarei para a vida. Ao meu orientador Claudio Manetti, por acreditar, incentivar, e exercer tão bem sua profissão -obrigada por ser professor em tempos difíceis. A todos os professores e funcionários da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Pontifícia Universidade Católica. Minha admiração e agradecimento a todos os que de alguma forma influenciaram meu caminho. Obrigada




INTRODUÇÃO

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TERRITÓRIO

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O ARCO

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A PARADA

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OS CAMINHOS

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O CAMINHAR

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A CASA NO CAMINHO

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A PARTE NO TODO

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O PLANO

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METABOLISMOS

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O PROJETO

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CONSTRUCTO

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BIBLIOGRAFIA

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INTRODUÇÃO

Este memorial refere-se ao projeto A Casa no Caminho, que se desenvolve á partir do Plano Urbanístico para a implementação do Arco Estruturador Norte. O plano foi elaborado em equipe, e compõe o Trabalho Final de Graduação da Pontifícia Universidade Católica de Campinas realizado em 2019 e 2020. Á partir dele se subdividem projetos individuais que se referenciam pelas paradas estruturadores elaboradas para o Arco. Os projetos, foram realizados no primeiro semestre de 2020, em um período de isolamento social, devido a uma pandemia, e as orientações foram realizadas por videochamada assim como sua avaliação. Este projeto fala sobre o caminhar, e da análise das estruturas urbanas que são palco para esta ação. Da necessidade de habitar a cidade, na solução e adaptação das favelas como forma primitiva de vida, assim como o caminhar. Se baseia na análise dos diferentes elementos componentes da paisagem e das estruturas que formam o bairro, em especial nos fluxos e caminhos que recortam o tecido urbano. O projeto busca a reflexão crítica e propositiva em relação aos diferentes percursos nas áreas de favela, valorizando seus potenciais sociais e educadores. Assim, o projeto contempla a reestruturação de vielas e escadarias, associadas a espaços livres de uso coletivo. Com a ambição de pensar o percurso e a travessia como partes componentes do planejamento urbano, compreendendo seu potencial enquanto fregmento na cidade. Com a premissa de garantir condições físicas para o caminhar e a promoção dos encontros, dotando o territória de infraestruturas que alimentam o senso de pertencimento. 10


Bairro Jardim Elisa Maria - Distrito Brasilandia - Zona Norte - SĂŁo Paulo

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TERRITÓRIO Brasil I Brasilândia

O Arco Estruturador se constitui a partir da análise do distrito da Brasilândia, localizado na Zona Norte da cidade de São Paulo, de seu desenvolvimento e constituição enquanto fragmento pulsante da cidade. Um território que se mostrou forte e vibrante em sua composição social, mas fragilizado em suas estruturas urbanísticas. No desmembramento de suas questões este trabalho se colocou a explorar as possibilidades urbanísticas no âmbito da mobilidade e das relações sociais potencializadas pelos espaços. Brasilândia, ainda que a sua denominação tenha sido empregada em reconhecimento ao comerciante Brasílio Simões, morador da década de 30 que liderou a comunidade, a lembrança do nome dado ao nosso país não é mera coincidência. Brasilândia assim como Brasil tem seu território constituído por ocupações urbanas, serras, rios, e uma forte constituição histórica. Na década de 50 e 60 recebeu um fluxo de migrantes japoneses e italianos que iniciaram a formação do bairro em uma forma rural, e em 70 o distrito sofre um grande adensamento populacional. Sua expansão urbana remonta a configuração da zona periférica de muitas cidades brasileiras, as bordas da cidade se expandem e retratam um perfil social e economicamente marginalizado. Geograficamente o território se desenha conforme os contrafortes da Serra da Cantareira, que ocupa grande parte da porção norte do distrito pelo Parque Estadual Serra da Cantareira e o Corredor Ecológico da Mata Atlântica Norte. Os limites físicos bordam o desenvolvimento urbano deste distrito que espacialmente tenta se adaptar as imposições do lugar configurado por uma relação histórica, política e social, miolo de uma estrutura em que a configuração geográfica e a apropriação urbana fizeram dessa maneira. 12


Corredores Ecológicos Plano Municipal de Conservação e Recuperação da Mata Atlântica

Mapa Distrito Brasilândia

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Em 2010, quase 70 anos depois do início do processo de urbanização e ocupação, a densidade demográfica do distrito era de 12,615 (Hab/km²), com índices como Taxa de Homicídio de 16,70 por cem mil habitantes, o distrito já bateu o recorde de homicídios comparado a outras cidades brasileiras. Ainda em 2010 a Prefeitura de São Paulo categorizou o Indicador de Síntese de Direitos Humanos para o distrito como insatisfatório, e a Proporção de Moradias em Áreas de Risco em 30,61%. A população predominante segundo dados do IBGE, está na faixa etária entre 0 e 17 anos, dado que contrasta com a pontuação de Vulnerabilidade Juvenil dos Distritos da cidade de São Paulo, onde este distrito está acima de 65 pontos na escala da vulnerabilidade. Em contrapartida a estes dados, a Brasilândia mantém um senso de comunidade e vontade de mudanças muito significativos, com coletivos que buscam suas lutas dentro dos diferentes territórios de limites invisíveis inerentes. É importante o olhar que revela, dentro desta grande população, a diversidade naturalmente existente que dá ao território nuances essenciais. Em um local que vive e sente diariamente os impactos de um marginalismo social e político, a união desses coletivos em busca de mudanças é em princípio o que o território tem de mais forte. Coletivo Jardim Damasceno, Samba do Bowl, Fábrica de Cultura, Sarau Sete Jovens, Co-criança, Verdejando Brasilândia, Ousadia Popular entre outros, são exemplos de células de mudança na realidade urbana da Brasilândia. 14


Frente do Coletivo Jardim Damasceno - Brasilândia

Ativação do Parque Linear do Canivete - Instituto A Cidade Precisa de Você

Praça 7 Jovens - Atuação Sampa do Bowl e Sarau 7 Jovens

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O ARCO elo de ligação

O Arco Estruturador Norte, á partir do qual o plano para este projeto foi elaborado, traz a questão da mobilidade dentro deste distrito em escala metropolitana, mas também na escala local. Os bairros muitas vezes, não se conectam pela característica das vias que se adaptam a topografia, criando barreiras físicas para a travessia de pedestres entre quadras. O arco fornece a interligação entre pontos coletores de fluxos entre os bairros por meio das paradas, e a reestruturação viária da Avenida Cantídio Sampaio que relaciona os fluxos transversais do distrito. Intrinsecamente relacionado ao processo histórico de expansão do bairro, e a adaptação as questões topográficas deste local, os escadões surgem como solução das transposições peatonais entre os níveis nos quais os bairros foram estruturados. Surgem primeiramente, como resposta as questões físicas, e seu uso é intensificado pela ausência de transporte público relacionada a características urbanas como o estreitamento das vias conforme a subida em direção aos topos e a falta de soluções do poder público para tais contextos. Na análise das configurações deste tipo de estrutura, observa-se que suas potencialidades e características vão muito além de uma simples transposição, tem um caráter simbólico e fortemente relacionado aos vazios deste lugar. E aqui se enquadra o principal tema deste trabalho, o reconhecimento deste elemento de mobilidade e a investigação do espectro de possibilidades que ele traz para a melhoria dos vazios urbanos. Henry Lefebvre defende que a constituição física de uma cidade é o resultado do trabalho de uma sociedade sobre um território. (LEFEBVRE, Henry. O Direito à Cidade. São Paulo: Documentos. 1969). O espaço urbano é assim o amalgama de uma série de projeções sociais sobre um território, a expressão mais concreta das dinâmicas econômicas, sociais e culturais de uma sociedade. 16


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ESTAÇÃO METRO BRASILANDIA ESTAÇÃO DE METRO BRASILANDIA

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TERMINAL VILA NOVA CACHOEIRINHA TERMINAL VILANOVA NOVACACHOEIRINHA CACHOEIRINHA TERMINAL VILA

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A PARADA

elemento estruturador

As paradas são estruturas pontuais de espera para o transporte público, dispostas na Avenida Cantídio Sampaio canfigurando o chamado Arco Estruturador associadas a centralidades polarizadas dos bairros onde se encontram. A localização desta estrutura se dispõe conforme a identificação dos bairros, e dos pontos de ônibus já existentes que conformam pequenas centralidades intra-bairro, onde se associam aos projetos elaborados individualmente, estabelecendo as conexões com sub-centralidades que reafirmam sua força estrutural. A terceira parada do arco a qual compreende este projeto, está localizada no Jardim Elisa Maria um bairro formado no fim da década de 70, ocupado conforme adaptação á uma topografia íngreme, á presença de uma várzea e topos que delimitam novos espaços e limites ao local. Ainda que se estabeleça um limite administrativo para o bairro, o estudo dos elementos que o compõem revela barreiras e limites sobrepostos e confrontantes a este. Um território marcado por domínios políticos invisíveis que re-delimitam suas fronteiras. Os elementos geográficos, e a leitura de suas estruturas políticas, sociais e seus elementos urbanos, nortearam a busca pelo entendimento dos fluxos dentro deste bairro, no qual tangenciam elementos físicos e não-físicos. Entendendo que um recorte espacial para a elaboração deste projeto exigiu o olhar não só das condicionantes topográficas, técnicas e construtivas, mas também dos aspectos sociais e culturais da população. 20


Paradas Arco Estruturador Linha de TransmissĂŁo de Energia Limite bairro Jardim Elisa Maria

Mapa limite administrativo bairro Jardim Elisa Maria

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OS CAMINHOS

entendimento dos conceitos

O espaço que evoca quando se imagina o ato de caminhar pela cidade é a calçada, ela é a articulação das esferas privadas e públicas, elo de integração, ponte de atividades, plano de ação do corpo sobre o espaço público. A calçada é dotada de uma linearidade que nos remete a demarcação em que nosso corpo deve estar, porém, este não se limita ao andar linear, ele explora, para, atravessa, e compõe todos os lugares ao atuar no espaço livre público das cidades. Em um território onde o molde às formas físicas e geográficas e as necessidades primárias de vida da população se cruzam com fatores econômicos e sociais frágeis, o espaço livre toma outra dimensão, aqui o princípio é o morar, ocupar, sobreviver. Os caminhos tomam proporções adaptativas e assim como as moradias, eles se adequam ao local. São compostos por calçadas – que variam ou deixam de existir por um avanço das moradias autoconstruídas – escadões – constituídos historicamente como forma de vencer os desníveis entre vias e espaços públicos – vielas – vazios estreitos entre as construções formando caminhos secundários que ligam as casas a escadões ou calçadas. Neste território cada um destes elementos permeia uma relação maior de fluxo, permanência, drenagem, salubridade e incorporam o desenho do bairro. 22


ilustração Geoff McFetridge

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Os limites e barreiras, também se apresentam em forma de linha de alta tensão, córrego, barranco, pedra, casa etc. As conformidades dos caminhos traçam desenhos muito específicos, muitas vezes marcados por domínios de facções ou agentes do tráfico, por corpos, lixo, esgoto ou venda de drogas. São retratos de uma paisagem muito sensível e real, são caminhos que transcendem o espaço físico, que traçam trajetórias de vidas, da relação com a cidade, da segurança e do viver. ‘’Os elementos móveis de uma sociedade e, em especial, as pessoas e suas atividades, são tão importantes quanto as partes físicas estacionárias. Não somos meros observadores desse espetáculo, mas parte dele; compartilhamos o mesmo palco com os outros participantes.’’ (LYNCH,1997)

Os espaços livres públicos de uso e ação da população, são locais de encontro, onde se realizam atividades não laborais, e onde se aflora a vida urbana. No desenho urbano de uma favela, os espaços públicos formalmente designados, se fazem necessários pois fornecem aos moradores benefícios associados ao conceito de Direito a Cidade, conceito cunhado por Henri Lefebvre em seu livro de 1968 Le droit à la ville. Ele define o direito à cidade como um direito de não exclusão da sociedade urbana das qualidades e benefícios da vida urbana. No texto Lefebvre escreve sobre a segregação sócio-econômica e seu fenômeno de afastamento. Ele refere-se à “tragédia dos banlieusards”, pessoas forçadas a viver em guetos residenciais longe do centro da cidade. Perante este cenário, ele exige o direito à cidade como uma recuperação coletiva do espaço urbano por grupos marginalizados que vivem nos distritos periféricos da cidade. No contexto de análise ao qual este trabalho trata, entende-se que o espaço público tem a função e a necessidade de uso e domínio da população porque assim ele traz sentimento de pertencimento, segurança e afinidade ao lugar. O poder que um espaço livre de uso coletivo tem, remete a força de expressão e desenvolvimento de coletividade do bairro, da capacidade que este tem de permitir encontros, trocas entre gerações, de ideias e valores, isso fortalece não só o caráter do desenho urbano mas também a cidade como um todo. 26


“Quando nos referimos às ruas e demais espaços públicos de uma cidade, em realidade, estamos falando da própria identidade da cidade. É nesses espaços que se manifestam as trocas e relações humanas, a diversidade de uso e a vocação de cada lugar, os conflitos e contradições da sociedade”, (Lara Caccia, Especialista de Desenvolvimento Urbano do WRI Brasil)

‘’A cidade como local de encontro também é uma oportunidade para trocas democráticas, onde as pessoas têm livre acesso para expressar sua felicidade, tristeza, entusiasmo ou raiva, em festas de rua, manifestações, marchas ou encontros. Além dos vários encontros diretos com os concidadãos, essas manifestações são uma condição indispensável para a democracia.’’ (Jan Gehl, 2014)

ilustração Geoff McFetridge

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O CAMINHAR CA. MI. NHAR Seguir por determinado caminho andando a pé. Ir e vir livremente. Movimentar-se, andando, em direção a algum lugar; dirigir-se a, ir a.

O corpo em movimento no espaço, e suas ações, são as bases fundamentais sobre as quais se assentam todas as relações humanas e, sobretudo, as relações nas cidades. O espaço da convivência, vivência e de troca se torna essencial enquanto suporte das interações. É o andar, parar, o ir, vir, voltar, estar, o ver e ouvir, falar e sentir. É mais do que um movimento mecânico: é apropriar-se cotidianamente do espaço da cidade. Estar no ambiente urbano de forma ativa, percebendo a cidade e os detalhes que dela fazem parte. Esta ação, no entanto, nem sempre depende apenas da vontade das pessoas; está atrelada também a fatores externos, como as condições físicas e sociais dos indivíduos e a existência ou não de infraestruturas que permitam essa ação. O caminhar por si só pode ser considerado um ato político, quando pensamos na hierarquia criada nas cidades que valoriza o transporte motorizado e individual ao invés do pedestre, a ação de caminhar toma a secundariedade nos locais de domínio da cidade, é preciso inverter este raciocínio para se ter autonomia e segurança ao ir e vir. 28


“Vamos trabalhar pela afirmação (ou reafirmação) da existência do pedestre, a mais antiga qualificação humana do mundo. Da existência e dos direitos que lhe são próprios, tão simples, tão naturais, e que se condensam num só: o direito de andar, de ir e vir, previsto em todas as constituições… o mais humilde e o mais desprezado de todos os direitos do homem. Com licença: queremos passar”. (Crônica direito de ir e vir – Carlos Drummond Andrade)

ilustração Geoff McFetridge

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Caminhando, obra de Lygia Clark

‘’Percebemos o significado na própria ação de percorrer a tira de papel com a tesoura, esse gesto efêmero com o qual você constrói seu próprio caminho. Diga-me se não é uma metáfora útil para a vida! Sim, vamos caminhando sempre em frente, tudo o que experimentamos é único e não se repete, não se pode voltar atrás. As marcas das nossas atitudes, as consequências das nossas escolhas ficam registradas ali para sempre, transformam o papel de um jeito que ele jamais será o mesmo novamente. Caminhamos sempre em frente, é a única possibilidade. Mesmo que se queira reverter uma escolha mal feita, talvez colando as tiras de papel com fita adesiva, restará uma marca aparente, a cicatriz do gesto, algo que jamais nos deixará esquecer o que passou.’’ (Caminhando, 1964 Lygia Clark)

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ilustração Geoff McFetridge

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A CASA NO CAMINHO entendimento das premissas

A analogia com a casa veio de uma busca pelo entendimento dos pontos de convívio e trocas nos diferentes contextos em que esta se enquadra na cidade. No olhar específico a este território, onde os espaços de lazer e sociais são frágeis e quase inexistem, o núcleo casa e o espaço livre tem um papel fundamental no sentido social de uma comunidade. Aqui, os elementos de socialização como quintal, varanda, e sala são pequenos e muitas vezes dividem espaço com as outras funções de uma casa. A rua, a escada e a viela tomam o posto de lugar socializador também. Do simples banco na porta da casa, ao brincar na rua sem saída, esses elementos da estrutura de circulação das favelas tem um simbolismo e significado muito além do que o local do simples caminhar, também são quintal, varanda e sala. Neles se brinca, conversa, senta ou contempla, por isso a proposição de um espaço onde todo tipo de ação possa acontecer, tanto o brincar como o aprender, o conversar, comprar ou vender, o olhar, trocar ou conhecer, onde a comunidade se reúna para apontar o que precisa ser feito para se fortalecer. Na busca do potencial destes espaços, se incorporou a análise da capacidade educadora da cidade, uma alternativa que integra as atividades sociais e culturais de forma a privilegiar a formação, promoção e o desenvolvimento dos cidadãos, especialmente dos jovens e das crianças. A cidade como um todo tem potencial educativo, onde quer que haja interação entre espaço e cidadão, ela fornece ferramentas visuais, sensoriais, e sociais de aprendizado, e tornam-se educadoras quando assumem essa intenção “consciente de que suas propostas têm consequências em atitudes e convivências e geram novos valores, conhecimentos e habilidades” segundo a Associação Internacional de Cidade Educadoras. “O território é produto da dinâmica social onde se tensionam sujeitos sociais. Ele é construído com base nos percursos diários trabalho-casa, casa-escola, das relações que se estabelecem no uso dos espaços ao longo da vida, dos dias, do cotidiano das pessoas.” (Raquel Rolnik)

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ilustração Geoff McFetridge

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Aberta à comunidade, a escola envolve questões locais e se reconhece no território, atuando em prol de suas transformações. Assumindo-se como centro de liderança local, a escola busca outras instituições para que, juntas, possam avançar na garantia do desenvolvimento integral de crianças e jovens. No acesso aos bens culturais produzidos em uma determinada localidade, sejam aqueles consolidados por museus, centros culturais e equipamentos urbanos de cultura em geral, sejam as narrativas estéticas protagonizadas por diferentes grupos sociais. Essa configuração permite que a escola amplie tempos, espaços, recursos e agentes, conferindo sentido ao aprendizado e estabelecendo um diálogo permanentemente com o contexto de vida dos cidadãos. Um conceito defendido pelo pedagogo Paulo Freire, diz que educar é dar sentido ao que fazemos a cada instante, ele formula a ideia de que o educar é muito mais do que o que é dito em uma instituição escolar, mas o caminho da vida, o dia a dia, e a interrelação entre bairro e escola esta no fato de que ambos são educadores. O que Paulo¹ chama de Pedagogia Social Educadora, dispões sobre o caráter social da educação e sua função na formação do cidadão, ela influi no meio em que este vive, no seu domínio sobre o território através de suas ações. A arquiteta e educadora Beatriz Goulart² fala sobre a importância do bairro, da comunidade, e de toda a cidade, no debate e nas propostas dos territórios e espaços escolares, e não escolares, e que o processo educativo confunde-se com um processo amplo e multiforme de socialização. “O homem não pode participar ativamente na história, na sociedade, na transformação da realidade se não for ajudado a tomar consciência da realidade e da sua própria capacidade de transformar [...] Ninguém luta contra forças que não entende, cuja importância não meça, cujas formas de contorno não discirna; [...] Isto é verdade se, se refere às forças sociais[...] A realidade não pode ser modificada senão quando o homem descobre que é modificável e que ele o pode fazer.” (Paulo Freire) “O território é assunto, é conteúdo do currículo, é o lugar onde se dão ações educativas e também é um agente, como se fosse sujeito também. E não dizemos que ele é pedagógico, e sim educativo, porque estamos considerando a educação formal, a não formal e a informal”, (Beatriz Goulart)

1 GOULART, 2012. Por outras referências no diálogo arquitetura e educação: na pesquisa,no ensino e na produção de espaços educativos escolares e urbanos. 2 FREIRE, 1996. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa.

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ilustração Geoff McFetridge

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A PARTE DO TODO

O estudo das configurações do bairro, a partir da Parada 03 se deram pela análise dos elementos geográficos, e urbanos do bairro Jardim Elisa Maria. A leitura mostra em princípio a área de várzea, formada por um dos córregos que afluem no Cabuçu de Baixo, e os topos que formam uma espécie de grota em torno da várzea, como uma unidade geográfica urbana que contém historicidades diferentes, onde está a maior parte da ocupação do bairro. Por ser uma região de alagamento a borda do córrego não foi ocupada, gerando um dos únicos fragmentos de área livre chamado pelos moradores de Pastão. Pelo grande adensamento do bairro, e as ocupações em áreas públicas, a construção de algumas escolas foram feitas neste local, onde o carrego foi tamponado, e construiu-se uma praça, chamada de Sete Jovens em memória aos jovens assassinados em uma chacina em 2007. A Rua Gonçalo do Abaeté tem um processo histórico mais antigo que o resto das ocupações do entorno, e nela acontece a maior concentração de comércio, serviços e fluxo de transporte público. No levantamento dos escadões, percebeu-se a conformação dos fluxos dentro deste território, como solução a diferença de cotas entre vias e o encurtamento dos caminhos visto o dimensionamento das quadras. Transversalmente a este bairro passa a Linha de Subtransmissão da Brasilândia, que delimita uma faixa de limite das ocupações no recorte, e que termina na Subestação de Energia ETD Brasilândia localizada na Parada 02 do Arco Estruturador. A escolha da área onde se localiza a Favela Carlos Mattiz se deu pela análise de fluxos do bairro, esta ocupação tem caminhos que ligam as estruturas de lazer (Praça Sete Jovens),Educação (Escolas e Creches),Comércio e Serviços (Rua Gonçalo do Abaeté) e pontos de ônibus ao núcleo das habitações. 36


ilustração Geoff McFetridge

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Arco Estruturador Norte Vias de Maior Fluxo Sentido do fluxo de pedestres Cรณrrego Corrego tamponado Caminho da linha de onibus Escadarias Parada do Arco Pontos de onibus

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Segundo Classificação do Habitasampa a Favela Carlos Mattiz teve o início de sua ocupação em 1972, possui uma área de 7841 m² e em 2010 contava com um total de 150 domicílios. A ocupação se desenvolveu a partir da Rua Carlos Mattiz na cota mais alta onde as casas tem um dimensionamento pouco maior que o padrão das habitações do restante da favela, nas cotas inferiores onde se tem uma maior declividade, este dimensionamento e configuração das edificações se altera, revelando diferentes unidades arquiteturais. A localização da comunidade se da num ponto de interrupção de quatro vias. A partir delas, conforme o processo de ocupação desta gleba, os caminhos se desenvolvem como forma de vencer desníveis e garantir o acesso as residências. Um dos pontos de travessia mais importantes deste recorte, coincide com a faixa de domínio da Linha de Transmissão de Energia, e as vielas que talham o percurso até as casas tem questões de salubridade e dimensionamento, dada sua informalidade.

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Limite acesso de transporte Delimitação Favela Carlos Mattiz Linha de alta tensão Torre da linha de alta tensão

Mapa do recorte Favela Carlos Mattiz

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Na análise da interlocução entre o território construído e seus vazios, mostra-se a conformação das ocupações da favela como forma de adaptação a uma topografia íngreme. Os diferentes níveis de ocupação são divididos em zonas nesta leitura. Na Zona 01 as habitações estão nas cotas mais elevadas, suas fachadas se voltam para a Rua Carlos Mattiz, a maioria possui garagem e gabaritos de até 3 pavimentos, recebem, portanto, maior insolação e ventilação. Na Zona 02 o acesso as habitações acontecem apenas por vielas, não se tem acesso direto a nenhuma via formal, o gabarito tem no máximo 2 pavimentos gerando questões de insalubridade por falta de iluminação e ventilação em alguns pontos. Na Zona 03, algumas residências possuem acesso mais fácil as vias laterais, mas a maioria acontece por meio de vielas e escadas. 42


Zona 01 Zona 02 Zona 03 Vielas Trechos de transição Trechos de maior dimencionamento

Os caminhos também são divididos segundo seu dimensionamento, as vielas – mais estreitas e recortadas, são resultado dos espaços entre edificações e apresentam pontos críticos de dimensionamento e salubridade – e caminhos mais largos – onde há um grande desnível e maior fluxo de pessoas, onde não se tem muitos acessos diretos de residências – e por último trechos de transição onde o caminho sofre um afunilamento ou mudança no caráter de fluxo. 43


08 Zona 01 Zona 02 Zona 03

Verão - Tarde

Inverno - Tarde

Verão - Manhã

Inverno - Manhã

Percurso Solar - Inverno

Percurso Solar - Verão

Estudos de incidência solar

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O PLANO

A elaboração deste plano, parte da possibilidade de compreender a favela como unidade projetual, respeitando as suas complexidades, nos seus espaços existentes e resultantes de um processo não controlado (mas de certa forma, controladíssimo na sua confecção e na maturação da história deste lugar), na investigação do espaço autoconstruído, e na busca por coerências urbanas e das formas habitacionais contra as relações urbanas da cidade formal, na busca por novas relações espaciais entre percursos, nos espaços de encontro e nas novas edificações, como uma contribuição morfológica á cidade. A requalificação dos caminhos é o ponto central das propostas deste plano, em conjunto com a requalificação de elementos essenciais da arquitetura, como drenagem, iluminação e ventilação, completam um sistema de programas alinhados ao potencial social e educador do território.

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TRAVESSIA Transposição do trecho de maior declividade, engloba o projeto principal desenvolvido neste trabalho, intitulado A CASA NO CAMINHO, que propõe a requalificação da escada que vence as cotas 795/776, atendendo a padrões de acessibilidade, criando espaços que permitem a interação social, e expandem a capacidade educadora do território. Solucionando questões de drenagem superficial e viabilizando novas conexões e fluxos transversais. NÚCLEOS SALA Os núcleos sala acontecem nos locais onde foi necessária a remoção completa de uma unidade habitacional (visto sua condição de salubridade), pelo seu dimensionamento e localização, os núcleos sala propõe o uso como salas de aula ao ar livre, e também locais de encontro e troca dentro das vielas. Podem seu usados como espaços de brincadeiras ou atividades do dia a dia da comunidade. 46


Linha de Transmissão de Energia Limites da Faixa de Domínio da linha de energia Requalificação do caminho e Reestruturação de fachadas Travessia Núcleos Sala Núcleos Abertos

NÚCLEOS ABERTOS DE INTERAÇÃO Este é o local socializador de maior dimensão e uma topografia com pouco desnível, onde podem acontecer eventos comunitários, jogos ou brincadeiras que demandem mais espaço. Neste ponto onde a fachada das casas acontece diretamente, este espaço permite a abertura de estabelecimentos comerciais de pequeno porte realizados pela própria comunidade como forma de renda e fortalecimento e autonomia dos moradores. Propõe-se também a requalificação, dos trechos de vielas com medidas inferiores a 90cm (medida que atende aos padrões mínimos de acessibilidade), que vão variar entre 90cm e 2m dependendo do trecho, dos acessos e áreas de transição entre vielas e vias, e a reestruturação das fachadas nos trechos onde se tem a alteração no dimensionamento do caminho.

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Linha de Subtransmissão Brasilândia Rua Carlos Mattiz

RECORTE DO PROJETO

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Rua Carlos Lamarca

Perfil topogrĂĄfico longitudinal a Linha de TransmissĂŁo de Energia

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A escolha da área, pressupões a sua importância como amostra do desenvolvimento dos pontos que orientam este plano, ainda que seja um recorte específico, é o modelo da capacidade de transformação dos espaços dentro do território. A CASA NO CAMINHO propõe a resolução de questões de drenagem, fluxo, permanência, acessibilidade, e incorpora as novas propostas á Favela Carlos Mattiz. Esta é a parte que contém o todo, por isso a sua escolha.

METABOLISMOS

LINHÃO A Linha de Transmissão de Energia que corta transversalmente o território, faz a conexão entre a Linha de Alta Tensão da Eletropaulo e a Estação de Transformação e Distribuição da Brasilândia, sendo classificada como Linha de Subtransmissão. Segundo o Manual de Especificações Técnicas da Enel * este trecho possui tensão de 138Kv e possui condições e requisitos técnicos específicos para o uso dos trechos onde se encontra ou que sofrem sua influência. No estudo deste manual, observa-se que as especificações variam de acordo com a classe de tensão e o tipo da região atravessada pela LT. Para uma Linha de Subtransmissão, a chamada Faixa de Segurança deve possuir uma largura de 16m, sendo 8m para cada lado do eixo da linha, e a Faixa de Passagem lateral de 6 metros. No recorte escolhido para a proposta deste projeto, a linha segue no seu sentido longitudinal, o que determinou todas as medidas de possíveis modificações na sua implantação. Além disso a escolha dos elementos propostos, procurou interferir o mínimo possível nas habitações que se voltam para este espaço. A implantação então surge para além dos limites das faixas exigidas por norma. A proposta de caminhos e implementação de volumetrias em sentido transversal a linha, respeitam os critérios do tópico 7.3.19** da norma, a respeito dos cruzamentos de vias e locais acessíveis ao pedestre em sentido transversal ao eixo da LT. A natureza do que é permitido neste caso varia de acordo com a tensão da LT e da distância vertical mínima entre o solo e o cabo condutor inferior. Segundo a norma, para o uso de locais com acesso a pedestres, como é o caso deste projeto, a distância exigida é de 7,50m e na análise do perfil topográfico deste recorte o ponto mais próximo do cabo condutor inferior tem uma distancia de 19,50m, o que permitiu a proposta de novos caminhos no eixo transversal. 50


ESCADÃO Como analisado anteriormente, a escada e sua travessia são elementos fundamentais e simbólicos neste território, para estes moradores a travessia não é uma metáfora, e sim uma condição. O escadão que ocupa atualmente este recorte tem precariedades absolutas, é construído parte em concreto e parte em terra, divide espaço com o descarte de materiais, lixo e entulhos, não possui corrimão ou qualquer tipo de elemento de segurança, e por estar em um ponto de grande desnível, quando chove é impossível a sua transposição ou acesso. A proposta para a requalificação deste elemento, vai além da simples reformulação de sua forma, foi entendido que neste local o fator drenagem é muito relevante, e como visto em outros escadões da região, muitas vezes eles dividem o mesmo espaço. Em alguns pontos a drenagem das águas pluviais e as escadas de passagem de pedestres são a mesma estrutura, e muitas vezes o descarte de lixo acontece justamente neste ponto de fluxo de águas superficiais, o que traz sérios problemas de sanitarismo público. A proposta elaborada para esta transposição, e o estudo deste elemento aliado a drenagem das águas pluviais, resultou no projeto de uma escada em grelha metálica, sobreposta ao sistema de escoamento das águas de chuva, distanciando o pedestre do contato direto com este sistema, e garantindo medidas e elementos de acessibilidade. *Esta Especificação Técnica estabelece as condições gerais e os requisitos técnicos necessários para a limitação do uso das faixas de domínio, servidão e de segurança das linhas aéreas de subtransmissão e transmissão, tensões de 69 kV, 138 kV e 230 KV, do sistema elétrico da Companhia CELG de Participações - CELGPAR. **Este tópico leva em consideração a NBR-5422 e a CELG D.

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A DRENAGEM No desenvolvimento de uma solução para a drenagem das águas da chuva na superfície, um sistema formado por diferentes elementos de direcionamento e filtragem das águas foi a resposta encontrada no projeto. No trecho superior, entre a Rua Carlos Mattiz e Francisco Bollutas, onde não se tem o acesso de veículos, o piso é fragmentado entre terra e concreto, e quando chove, a irregularidade da via faz com que a água corra em direção a escada, ocasionando deslizamentos e acidentes. A primeira proposta na requalificação desta via é a sua pavimentação e construção de um sistema de canaletas que captam e direcionam a água por tubulação deste trecho superior até as escadas de drenagem. Esta escada hidráulica se adapta a inclinação do perfil topográfico do terreno e dos novos elementos construtivos, sua construção é feita em alvenaria, e é composto por uma série de degraus que direcionam a descida da água, e reduzem a energia de escoamento por dissipação. Um terceiro sistema às águas pluviais são os jardins drenantes, que se colocam em patamares como solução ao desnível da topografia. Os jardins drenantes são utilizados como medida complementar, utilizando da atividade biológica das plantas para ajudar na remoção dos poluentes difusos, e facilitam o processo de infiltração da umidade no solo original. Este sistema é interligado as escadas hidráulicas como pontos de extrusão, para que não aconteça o extravasamento da água para o jardim inferior. O quarto elemento é o piso drenante, que dá permeabilidade e impede o acúmulo de água nos pátios criados para o fluxo de pessoas, este sistema também ajuda no processo de infiltração do solo e se liga as escadas hidráulicas como ponto de extrusão da água caso não seja absorvida pelo solo original. Por último a contenção e armazenamento de parte da água absorvida pelo piso drenante na cota 777 para uso na irrigação da horta urbana proposta. A água captada através de todos estes sistemas, quando não absorvida pelo solo, é direcionada por tubulação a rua inferior e segue pelas infraestruturas de drenagem das vias do bairro.

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O ELEMENTO CONSTRUIDO E A PAISAGEM A Casa no Caminho é o agrupamento de propostas que solucionam questões muito valiosas no entendimento da arquitetura nos espaços públicos. Da valorização dos espaços livres de convívio e do estímulo a cidade educadora, ao estudo do impacto visual de elementos edificados no território, este projeto o toca com desvelo e consideração as suas forcas e potencias, por isso ao pensar no elemento que se eleva ao olhar de quem caminha sobre ele, a laje leve e solta mostra-se como solução. Formam-se então pátios cobertos que marcam os pontos de chegada do funicular, geram sombra, e ressignificam os lugares de troca, brincadeiras e socialização. A primeira laje na cota 795,00 é um mirante, que marca o trecho entre a Rua Carlos Mattiz e a Francisco Bollutas é a grande varanda da favela, onde se pode ver toda a grota em que se encontra, o segundo espaço na cota 782,50 é chamado espaço sala, foi pensado para gerar a conexão entre a viela lateral e o funicular, a comparação ao elemento sala se da pela sua configuração espacial e dimensionamento, mas também pelo fato de estar no coração deste projeto e como elemento central é o ponto principal de união dos seus moradores. Complementar a ele, na cota 777, está o espaço quintal, onde se cultiva a comida e também as relações pessoais, interliga o projeto a duas vielas laterais o que intensifica sua proposição, seu dimensionamento e relação com a intervenção prevista pelo plano, dos núcleos abertos de interação, dá suporte para a realização de festas, reuniões comunitárias, apresentações de teatro ou oficinas culinárias. No pensamento da paisagem, a solução de utilizar a cobertura vegetal sobre as lajes, cria uma espécie de camuflagem, onde se deixa protagonizar as pessoas e a vegetação. Quando visto da cota mais alta os elementos vegetais se destacam na paisagem, que ao fundo revelam a beleza nas heterogeneidades do bairro, e quando visto pela cota mais baixa, o fluxo e interação das pessoas se evidenciam.

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O PROJETO

Implantação Geral O mapa apresenta as conexões dos novos caminhos, as novas configurações das vielas, e o projeto da Casa no Caminho, as escadas laterias que vencem o grande desnível e a cobertura das lajes criadas junto aos pátios. 1- Cobertura Espaço Varanda 2- Cobertura Espaço Sala 3- Cobertura Espaço Quintal 4- Núcleo Abertos de Interação 5- Núcleos Sala

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1

2

3

5

4

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Os esquemas a seguir reproduzem as escolhas de implantação dos elementos para vencer o desnível e criar espaços livres entre eles da melhor forma possível, levando em consideração a drenagem, iluminação, ventilação e composição com a paisagem. O primeiro esquema mostra como foram implantados os elementos de descida, as escadas são dispostas nas laterais para respeirar os limites da linha de energia. A escolha pelo funicular responde a questões de acessibilidade e de otimização dos espaços, ele também está disposto na lateral fora da área de restrição do linhão. O segundo esquema representa as escolhas com relação aos caminhos, a intenção era relacionar a descida, aos acessos de vielas existentes. O dimencionamento, aproveita do desnível topografico para criar pátios de convívio e permitir o cruzamento de um um lado para outro no recorte. Gerando assim não só um fluxo longitudinal, mas também transversal. O terceiro esquema mostra o posicionamento das lajes, sempre nos pontos de chegada do funicular, garantem sombra e criam espaços internos que se relacionam diretamete com os pátios. No quarto e ultimo esquema a escolha por vencer o desnível com jardins, que também compoem os sistemas de drenagem. As coberturas das lajes edificadas, também trazem o elemento vegetal como solução a questões térmicas, e para a manutenção da unidade da paisagem. 56


esquema 1

esquema 3

esquema 2

esquema 4

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11

7

5

1

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5

2

3

4

6

Implantação Edificação 1 2 3 4 5 6 7

Espaço Varanda Espaço Sala Espaço Quintal Horta Comunitária Funicular Escadão Rua Carlos Mattiz

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61


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RUA CARLOS MATTIZ 795

782,50

777

RUA CARLOS MATTIZ

62


B

CORTE BB

7

RUA CARLOS LAMARCA

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2

1

3

2

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4

4

5

Implantação Rede de Drenagem 1 2 3 4 5

Sistema Canaletas Escada de Drenagem Jardins de Drenagem Piso Drenante Irrigação Subsuperficial

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CORTE CC

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CONSTRUCTO/ DRENAGEM

Detalhamentos dos elementos construídos propostos no projeto Casa no Caminho

Detalhe 01 A sobreposição do elemento de passagem de pedestres, junto a escada pluvial, exigiu o desenho de peças onde os degraus permitissem a passagem da água da chuva, por isso a escolha por um material metálico em grelha que permite a passagem da água e que pode ser fabricada conforme a variação da largura do trecho onde será inserido. Esta grelha se apoia nas muretas de alvenaria entre níveis da escada hidráulica, (nos pontos onde não se tem a passagem de água no caso de transbordo) por pequenas vigas metálicas presentes nas peças de degrau. Pensando na manutenção deste equipamento, optou-se pela divisão das peças de degrau, que podem ser removidas e trocadas, além de permitirem a manutenção da própria escada hidráulica. Detalhe 02 Uma série de arrimos escalonados, vencem o desnível do terreno junto aos jardins drenantes, compostos por uma série de camadas, que retém a água até sua absorção pelo solo, ou são absorvidas pela vegetação. Os jardins tem em cada nível a capacidade de reter aproximadamente 40 m³ de água da chuva, a vegetação deve ser capaz de aguentar periodos de solo úmido e o cultivo de hortaliças e alimentos comestíveis não é indicado, pois este trecho não tem a distancias dos cabos de transmissão de energia exigidos por norma, por isso a localização de uma horta em um ponto especifico onde esta distancia permite tal atividade.

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DETALHE 02

Sistema de Drenagem por Jardim de Chuva

Vegetação gramínea, arbustiva ou rasteira de espécie nativa.

Ponto para transbordo e impedir o alagamento Solo Enriquecido Profundidade min. 15cm Areia Grossa Profundidade min. 4cm Estimulo a filtração e redistribuição da água Material Agregado (Brita ou Cascalho) Profundidade min. 20cm Abrigo temporário da água antes de ser destinada ao solo natural Tubulação direcionadora para escada de drenagem

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DETALHE 01

Sistema de Escadas Drenante

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PEÇA 01

PEÇA 02

PEÇA 03

PEÇA 04 Medida variável

Medida variável

Estrutura em alvenaria Peça 04

Peça 01

Peça 02

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CORTE AA

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CONSTRUCTO/ EDIFICAÇÕES DETALHE 03 O uso da laje em concreto se deu pela possibilidade de aproveitamento total do espaço livre sob ela, seu dimencionamento foi dado pelo espaço livre entre as escadas laterias. O elemento cobertura, fica solto no espaço, garantindo a entrada de ventilação e também seu cruzamento, trazendo questões térmicas junto a cobertura da laje com vegetação.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS. A grande casa da cidade é o que tange este projeto, que é caminho para a escola, o mercado ou a parada, é sala para quem quiser sentar, contar e ouvir uma história, é quintal para festejar, plantar e colher, é resistência da geografia, da história e do viver, é coletividade, troca e saber. Aqui se constitui a cidade na sua função mais básica, a de conectar lugares e pessoas, de ser palco de construções, lutas e reflexões. Sobre ela aplico agora meu olhar como arquiteta, cidadã e pessoa, a cidade sempre será nosso objeto de ação, reflexão e aprendizado. (João Guimarães Rosa, Grande Sertão Veredas, 1986) ‘‘Eu atravesso as coisas – e no meio da travessia não vejo! – só estava era entretido na idéia dos lugares de saída e de chegada. Assaz o senhor sabe: a gente quer passar um rio a nado, e passa; mas vai dar na outra banda é num ponto muito mais embaixo, bem diverso do em que primeiro se pensou(...) O real não está na saída, nem na chegada: ele se dispõe pra gente é no meio da travessia.’’

ilustração Geoff McFetridge

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BIBLIOGRAFIA LIVROS ARGAN, G. C. A história na metodologia do projeto. In: Revista Caramelo. São Paulo: FAU-USP, 1993, n.6. ARTIGAS, J. B. V. A função social do arquiteto. ARRUDA, Marcella. Arquitetura da Liberdade; Trabalho de Conclusão de Curso; Escola da Cidade - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, 2016. ALDUÁN, A.S. Como pensar na segurança do pedestre. Cidades a Pé,2015. BHTRANS. Manual de Traffic Calming, 2013. CIDADE ESCOLA APRENDIZ e CENPEC. Comunidade Integrada: A Cidade para as Crianças Aprenderem. Belo Horizonte: Fundação Itaú Cultural, 2008.

CIDADE ESCOLA APRENDIZ, Trilhas Educativas. São Paulo: Fundação Educar/ UNESCO, 2006.

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CORMIER, N; PELLEGRINO, P. Infra-Estrutura Verde: uma estratégia paisagística para a água urbana. Paisagem e Ambiente n. 25. São Paulo: FAUUSP, 2008. FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1967. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1970. Educação e mudança. São Paulo: Paz e Terra, 1979. Pedagogia da esperança. São Paulo: Paz e Terra, 1992. Pedagogia da autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1997. GOULART, Bia. O Centro SP Uma Sala de Aula. São Paulo: Peirópolis, 2008. GOULART, Ana Beatriz. Por outras referências no diálogo arquitetura e educação: na pesquisa, no ensino e na produção de espaços educativos escolares e urbanos. Brasília, v. 25, n. 88, p. 99-111, jul./dez. 2012

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PELLEGRINO, Paulo. Pode-se planejar a Paisagem? In: Paisagem e Ambiente n.13,São Paulo: FAUUSP,


SITES

Densidade demográfica Brasilândia. Dados demográficos dos distritos pertencentes às Subprefeituras. Disponível em: <https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/subprefeituras/subprefeituras/dados_demograficos/index.php?p=12758>. Acesso: 02/04/2020. Distrito Brasilândia. Rádio CBN Brasilândia. Disponível em: <www.youtube.com/watch?v=-Gx5FrI5Svs>. Prefeitura de São Paulo. Mapa GeoSampa. Disponível em: <http://geosampa.prefeitura.sp.gov.br/PaginasPublicas/ Prefeitura de São Paulo. Mapa GeoSampa. Disponível em: <http://geosampa.prefeitura.sp.gov.br/PaginasPublicas/ Geosampa - Prefeitura de São Paulo. Mapa GeoSampa. Disponível em: <http://geosampa.prefeitura.sp. gov.br/PaginasPublicas/

Perfil dos Municípios Paulistas. GEO SEADE. Disponível em https://perfil.seade.gov.br/

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Cidade Ativa, Olhe o Degrau. Disponivel em https://cidadeativa.org/iniciativa/olhe-o-degrau/

Obra,Ligia Clark, Caminhando- Itaú Cultural. Disponível em http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa1694/lygia-clark

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A CASA NO CAMINHO Ana Júlia Silva Ribeiro

Orientador Prof. Dr. Claudio Manetti TFG 2019/2020



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