Design Editorial | Sem Queimar Fosfato

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Leve as coisas à sério, mas não deixe a alegria de lado.



SEM QUEIMAR

FOSFATO Pensando em Design Editorial

Quinze conceitos essenciais em Design Editorial apresentados de forma objetiva e descontraĂ­da.



5 Sumário 6 Apresentação 8 Fluxo 12 Grid 16 Diagramação 20 Imagens 24 Cores 28 Tipografia 32 Espaços

36 Citações 40 Escala 44 Harmonia 48 Tensão 52 Simetria 56 Assimetria 60 Papel 64 Capa 68 Referências


O fósforo quando se queima produz uma chama que clareia, assim como uma boa ideia. Diferentemente da grande maioria dos livros voltados para design editorial que abordam o assunto de forma técnica e com conteúdo extenso, a proposta do Sem Queimar Fosfato é justamente o contrário, as principais teorias acerca do Design Editorial, serão apresentadas de forma a instigar a criatividade do designer e fazê-lo pensar na aplicação da teoria e dos aspectos técnicos. O designer irá encontrar uma maneira diferente de pensar em design editorial, com exemplos e ideias que fogem do lugar comum e ao mesmo tempo informando o que é necessário de forma clara e objetiva para um melhor desempenho no projeto sem precisar “queimar muito fosfato”, conceitos diversos e importantes do mundo editorial serão apresentados de uma forma divertida, através de metáforas. As regras para uma boa formatação editorial transformadas em um manual prático, de fácil manuseio, navegação e entendimento, um manual que vai além das regras e com ênfase no aproveitamento criativo, mais que um catálogo de exemplos e além das regras. Fique à vontade para anotar suas ideias neste livro Ana Mattos



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FLUXOS E CHÁS ACALMAM. Ao pensar em fluxo em uma publicação o mais importante é ter em mente que um bom fluxo acalmará o leitor para que ele leia a publicação até o final. Pegue seu chá e anote estas dicas:

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Um livro é uma coleção por definição, e o todo deve ser maior que a soma de suas partes. Por isso temos de ir além da técnica de montagem normal, que mostra uma impressão isolada, pára, mostra a impressão isolada seguinte, e começar a explorar o fluxo consecutivo através do espaço. O espaço flui na forma que lemos, da esquerda para a direita, começando pela borda superior esquerda, atravessando a dobra e passando para a página seguinte. Não é estático, embora seja imóvel na tela ou em papel. Explorar esse movimento subjacente ajudará a comunicar de uma maneira mais dinâmica e deixar o produto mais vivo. Padronização e repetição não são entediantes. Criam força e identidade. Quando cada página é diferente percebemos caos e confusão. Em vez disso, desenvolva o formato certo para cada tipo de conteúdo e estabeleça relações entre elas.

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Massas de texto sempre na página à direita cria continuidade mesmo com as imagens à esquerda.

Massas de texto com pequenas variações quebra a harmonia e chamam a atenção. 11


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GRIDS E VIDEOCLIPES, MOSTRAM COMO UMA MÚSICA PODE SER VISUALIZADA. Depois de um bom ritmo estabelecido com o fluxo de leitura, o grid vai ditar como este conteúdo será distribuído ao longo das páginas, sinta a música, o ritmo, observe o conceito e crie o videoclipe, mas não se esqueça de alguns pontos chave.

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O grid converte os elementos sob seu controle num campo neutro de regularidade que facilita acessálos, o observador sabe onde localizar a informação procurada porque os pontos nos quais se cruzam as divisões horizontais e verticais funcionam como sinalizadores daquela informação. O sistema ajuda o observador a entender seu uso. Em certo sentido, o grid é como um fichário visual, ele permite que o designer diagrame rapidamente uma quantidade enorme de informação.

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Grid modular

Grid de colunas

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A DIAGRAMAÇÃO DEVE SER UMA MÚSICA ENVOLVENTE. Não adianta só ter um ritmo bom e um videoclipe bem estruturado, a diagramação da publicação deve ser uma música envolvente, onde o leitor não irá se enjoar e usar o replay. Se envolva na ideia:

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Entre os principais fundamentos da diagramação podemos destacar: a hierarquia tipográfica, quantidade de texto e legibilidade. Para iniciar sua diagramação é necessário organizar as informações, da mais importante para a menos, para que o leitor leia de acordo com o critério desejado pelo autor. Não exagere nos textos, o leitor vai se cansar e perder o foco, se houver um texto muito grande, saiba como distribuí-lo de forma agradável. Preste atenção na legibilidade, uma vez que, se o material não estiver claro e legível, certamente o seu leitor perderá o interesse pela sua publicação. Leve em consideração o espaço onde o texto será colocado e se dará para ler perfeitamente quando impresso.

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IMAGENS EM UM LIVRO SÃO FOTOGRAFIAS DE UM EVENTO IMPORTANTE. Em um evento, a escolha do fotógrafo tem que ser bem feito, pois estas fotografias o marcaram para sempre, é assim com as ilustrações de um livro, a qualidade determinará se o leitor irá querer prestar atenção, ver e rever. #Veja:

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As imagens envolvem o observador por meio da emoção e da curiosidade. Manipule-as para que produzam a compreensão à primeira vista, mas só resolva exagerá-las graficamente se isso esclarecer o significado. Como cada um interpreta uma imagem do seu jeito, já que cada observador tem sua própria história e interesses, são necessárias palavras para definir o propósito por trás do visual. Coloque a imagem sobre o título de modo que traga o leitor para dentro, o título embaixo da imagem conta aos leitores do que se trata a imagem. Isso fará com que entrem no texto de maneira mais irresistível.

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CORES DEVEM SER A NATUREZA DURANTE A PRIMAVERA. Cores possuem significados, provocam sensações físicas e psicológicas, suas combinações também, então ao escolher as cores da publicação observe a natureza durante a primavera, o jogo de cores, determine seu objetivo e veja estes exemplos:

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Não escolha as cores porque gosta delas. Planeje efeitos deliberados tendo algum propósito em mente. No âmbito da impressão, a cor não é preponderantemente um recurso estético, e sim uma técnica racional a ser aplicada com objetivos funcionais: identificação, ênfase, associação, organização, persuasão, e também, às vezes, para criar beleza intencionalmente, mas em geral como uma consequência derivada. Para usar a cor de modo funcional: 1. Defina o impacto de sua mensagem; 2. Decida o que é importante para seus leitores; 3. Apresente isso combinando palavras, imagens e espaço numa disposição feita de maneira lúcida, usando uma linguagem verbal e visual bem resolvida que proporciona um bom entendimento e explorando a cor para tornar as ideias claras, vívidas, memorizáveis.

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TIPOGRAFIA É O JEANS, TÊNIS E CAMISA DE TODO DIA. Tem que saber combinar, ter confiança para usar e tem que passar a mensagem de forma clara. Seja básico, ousado ou chique o importante é se sentir confortável ao usar os tipos em uma publicação. Nunca sai de moda:

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Duas fontes, com e sem serifa. Neste exemplo as fontes foram utilizadas misturadas no título e apenas a serifada no corpo de texto. São elas a Open Sans e a Gentium Book Basic.

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Variações DA mesma fonte. No exemplo a fonte utilizada é a Old Standard TT . A diferenciação é marcada por pesos diferentes.


A escolha da fonte obviamente afeta o caráter e a personalidade da peça, por isso os editores se preocupam com ela, mas o leitor, em sua maioria, apenas percebe se está fácil ou difícil de ler. Essas decisões devem ser tomadas levando-se em conta as características do público leitor, material, proposta e formato do livro. De modo geral é mais fácil considerar primeiro o bloco principal de texto, uma vez que este configura a maior parte da experiência de leitura em uma publicação. O leitor não deve nunca ficar consciente do ato de leitura, senão ele pára. Todas as fontes normais de uso corrente são “fáceis de ler”. Escolha um tipo que seja adequado ao assunto. A aparência da tipologia deve fazer sentido em relação às palavras. Produzir algumas provas em papel facilita a escolha.

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ESPAÇOS EM UMA PUBLICAÇÃO SÃO COMO ANIMAIS NA FLORESTA. Eles sabem exatamente onde ficar, se um tenta invadir o espaço do outro, acaba em confusão. Os espaçamentos devem ser pensados desta forma, respeite os espaços para um bom entendimento e uma leitura confortável.

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Não pense nas áreas em branco como um fundo neutro, sem importância. Trata-se de um valioso recurso potencial, as partes impressas não existem sem as vazias. Usar o suporte ativamente não significa desperdiçar “espaço em branco”. O espaço não é estático, mas cinético, plástico, fluente, corre da esquerda para a direita e depois para a página seguinte. A relação entre o pesado e o leve. Fazer caber muita coisa generosamente, suntuosamente, num espaço que ninguém vai querer ler é uma falsa economia. O que importa não é o que se coloca numa página, mas o que salta dessa página para a mente do leitor.

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CITAÇÃO É A MAQUIAGEM DE UM TEXTO, DEIXA TUDO MAIS INTERESSANTE. O que importa é o conteúdo, mas se este conteúdo recebe um tratamento especial, acaba se destacando, uma maquiagem bem feita e uma citação bem trabalhada fazem a diferença, veja o tutorial:

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Numa situação de colunas cheias de texto, uma citação entre aspas irregular dá um toque informal que contrasta alegremente com a rigidez em volta. Talvez não seja tão evidente como contrastes em escala maior, mas, quando você segura a publicação a uma distância mais íntima de leitura, pode sentir seu efeito. Dicas: - Isole a citação do texto que está em volta dela abrindo um fosso de espaço em branco. Não precisa ser muito largo. - Exagere as aspas elas podem ser função e diversão ao mesmo tempo. - Quebre um parágrafo usando a citação entre aspas arbitrariamente dentro dele. - Coloque as citações do lado de fora da página.

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ESCALA É A POLÍTICA, SEMPRE MOSTRA UM ESCANDÂLO. Escândalos na política chocam, escalas em uma publicação também, ambas podem ser usadas para chamar atenção, desviar atenção e até mudar de opinião, use com consciência:

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A escala é o tamanho dos elementos de design em comparação com outros elementos no leiaute, bem como com o contexto físico do trabalho. A escala é relativa, um elemento gráfico pode parecer maior ou menor dependendo do tamanho, da localização e da cor dos elementos ao redor dele. Ela é importante para criar hierarquia e ajuda a criar contraste visual, movimento e profundidade.

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HARMONIA SÃO PASSOS DE UMA DANÇA BEM ENSAIADOS. Uma dança bem ensaiada é fluida, simétrica, traz uma sensação de naturalidade e equilíbrio, o espectador se sente tranquilo ao ver, da mesma forma reage um leitor diante de uma composição harmoniosa.

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O organismo humano parece buscar a harmonia, mas em excesso causa monotonia, leva ao repouso e diminui a curiosidade. A harmonia diz respeito à disposição formal bem organizada e proporcional no todo ou entre as partes do todo. Na harmonia plena, predominam fatores de equilíbrio, de ordem e de regularidade visual inscritos em um objeto ou numa composição, possibilitando, geralmente, uma leitura simples e clara. É em síntese, o resultado de uma perfeita articulação visual na integração e coerência formal das unidades ou partes daquilo que é apresentado, que é visto.

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TENSテグ TEM QUE SER O GATO DO LIVRO, DIVERTE QUALQUER UM. Gatos estテ」o sempre curiosos, brincando e proporcionando entretenimento, mas quando se colocam muitos gatos juntos, acaba por uma confusテ」o, uma profusテ」o de energia que nos cansam rapidinho.

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A tensão é uma forma de oposição a harmonia, uma forma de quebrar a resolução que o humano sempre busca, a tensão desequilibra, choca, estimula e chama a atenção, sem ela a mente tenderia a erradicar todas as sensações, criando um clima monótono, ao ver todas as coisas bem resolvidas e harmônicas. A tensão também dramatiza significados, tornando-o mais dinâmico e importante. Mas não deve se exagerar no uso da tensão, pois isso ao invés de quebrar a monotonia, causará cansaço e consequentemente fuga para um lugar mais calmo.

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SIMETRIA BOA É UM CHOCOLATE MORDIDO FALTA UM PEDAÇO, MAS SATISFAZ. Ao retirar um chocolate da embalagem, ele está perfeito, simétrico, bem dividido, depois do primeiro pedaço esta simetria acaba,mas ele ainda está lá e você está aproveitando.

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Não fosse a capitular no ínicio do texto e o título a simetria seria praticamente plena.

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A simetria da página dupla é modificada de forma bem sutil, as fotografias e letras.


Trate a simetria como necessária, mas não a deixe enfadonha. Simetria é equilíbrio axial. É uma formulação visual totalmente resolvida, em que cada unidade situada de um lado de uma linha central é rigorosamente repetida do outro lado. Trata-se de uma concepção visual caracterizada pela lógica e pela simplicidade absolutas, mas que pode se tornar estática demais.

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ASSIMETRIA: LINHA TÊNUE ENTRE UM FILME TRASH E UMA SUPERPRODUÇÃO. Um filme trash é exagerado, é uma confusão de elementos, tudo se mistura, nada faz sentido, já uma superprodução sabe como deixar tudo mais interessante, as surpresas nos momentos certos e um sentido até lógico.

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Ao contrário da simetria que pode ser enfadonha, a assimetria pode trazer excitação, mas o exagero causa efeito contrário e o leitor pode querer sair da página rapidinho. A assimetria é formada por elementos distintos em cada lado de uma linha central vertical ou horizontal, o interessante é saber como equilibra-los, variando elementos e posições, ajustando as forças, para que ocorra um equilíbrio de compensação.

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PAPEL É UM LIVRO EM BRANCO. Um livro em branco promove diversas possibilidades, papeis também e saber suas características é importante para saber como e porque preenchê-los:

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PENSE EM SUSTENTABILIDADE.

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Existem quatro parâmetros fundamentais que devem nortear a escolha do papel: - O valor subjetivo: adequação, diferenciação, beleza, sofisticação, etc.; - O custo: quanto maior a tiragem, maior o custo relativo do papel, em pequenas tiragens, a diferença de preço pode compensar o uso de um papel mais caro, pelo valor subjetivo que será agregado. - A disponibilidade no mercado: o mercado de papel é instável, é sempre importante verificar a disponibilidade com o fornecedor. - As restrições técnicas: alguns rocessos não permitem o uso de certos papéis, consulte a gráfica.

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CAPA É A CULTURA DO LIVRO. É normal, nós julgamos uma pessoa pela roupa, uma sociedade pelos seus hábitos culturais e um livro, pela capa.

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Desenhar capas não é um processo artístico. Cada publicação deve deixar sua marca, e a capa incorpora essa característica e ostenta esse sentido de identidade. Ela é a página mais vital por ser uma vitrine que representa o livro, mas também porque tem outras funções essenciais e inter-relacionadas. Ela deve ser: Reconhecível, emocionalmente irresistível, magnética e capaz de despertar curiosidade, intelectualmente estimulante, eficiente, fácil de varrer com o olhar, lógica. A capa é um pôster em miniatura, portanto, você deve pensar em escala grande, quanto mais simples, melhor. Ficar preocupado com nuances e detalhes refinados não funciona, porque todos os outros fazem isso, tente descobrir o que torna sua publicação especial e trabalhe em cima disso. Use o pensamento racional dos negócios para definir o que é único e por isso merecedor de ênfase. É claro que você quer que a capa faça uma bela figura, mas a boa aparência é uma consideração secundária. 67


REFERÊNCIAS SAMARA, Timothy. Grid: construção e desconstrução. Tradução Denise Bottmann. São Paulo: Cosac Naify, 2007. LUPTON, Ellen; PHILLIPS, Jennifer Cole. Novos Fundamentos do Design. Tradução Cristian Borges. São Paulo: Cosac Naify, 2008. VILLAS-BOAS, André; HARRIS, Paul. Produção gráfica para designers. Rio de Janeiro: 2AB, 2010. BRINGHURST, Robert. Elementos do estilo tipográfico. Tradução André Stolarski. São Paulo: Cosac Naify, 2005. 68


GOMES FILHO, João. Gestalt do objeto: sistema de leitura visual da forma. São Paulo: Escrituras Editora, 2009. DONDIS, Donis A. Sintaxe da linguagem visual. Tradução Jefferson Luiz Cmargo. São Paulo: Martins Fontes, 2007. AMBROSE, Gavin; HARRIS, Paul. Impressão e acabamento. Tradução Edson Furmankiewicz. Porto Alegre: Bookman, 2009. LUPTON, Ellen. Pensar com tipos: guia para designers, escritores, editores e estudantes. Tradução André Stolarski. São Paulo: Cosac Naify, 2013. WHITE, Jen. Edição e design: para designers, diretores de arte e editores: o guia clássico para ganhar leitores. Tradução Luis Reyes Gil. São Paulo, JSN Editora, 2006. Google Imagens Em https://images.google.com/ Pinterest Em https://www.pinterest.com/

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Trabalho apresentado aos professores da matéria Prática Projetual III: Daniela Luz, Ricardo Portilho e Sérgio Luciano; e aos professores da matéria Materiais e Processos de Produção II: Joana Alves e Sérgio Lemos. Design por Ana Mattos Texto por Ana Mattos e autores diversos: Vide referências. Imagens: Google Imagens, Flickr, Pinterest. Encarte de amostras: Cortesia L2 Papéis www.l2papeis.com.br

A496i Mattos, Ana. Sem queimar fosfato - Pensando em design editorial / Ana Mattos; Belo Horizonte: UEMG, 2015 72p.: il. ; 14 cm ISBN 978-857780-307-1 1. Design Editorial 2. Manual



N達o queime este livro, recicle.




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