allPhoto revista
Revista allPhoto | ano 1 | edição 1 | nº 001 | dezembro 2015
TECNOLOGIA E FOTOGRAFIA Dispositivos móveis e redes sociais mudam forma de registrar imagens
TRIBUTO
Conheça Alexandre Severo
HISTÓRIA
A fotografia inserida na arte
CELULAR
Confira dicas de apps para foto
Sumário
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04 Editorial 06 A era mobile na fotografia 09 Dicas de apps para fotógrafos 10 Novas formas de registrar imagens 14 Bebês no álbum de família
20 14
17 Fotografia sem pose 18 A selfie 茅 pop 20 A foto na hist贸ria da arte 22 Uma escola-casa 24 Tributo a Alexandre Severo
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Montagem compartilhada nas redes sociais mostra a Monalisa do pintor Leonardo Da Vinci tirando uma “selfie” no espelho. Foto: reprodução
Ana Maria Miranda Editora-chefe da allPhoto
colocavam em cenários representando uma classe social acima da que elas pertenciam.
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Facebook, Instagram, Snapchat, Flickr,
Disdéri percebeu que os mais pobres queriam
Tumblr... As redes sociais de compartilha-
parecer burgueses e os burgueses sonhavam
mento de fotos não param de ser inventadas e
em ser nobres.
conseguir mais adeptos. Em cada perfil, a ba-
talha para conseguir “curtidas”, que demons-
publicar uma foto nas redes sociais é o ‘carte
tra que várias pessoas acharam a imagem dig-
de visite’ moderno. O foco agora não é exa-
na de atenção. O interessante é que, no século
tamente ter a “cara da riqueza”, mas mostrar
XIX, o retrato já era utilizado como forma de
uma vida social movimentada. Publicar o
exibição para o outro. Foi do fotógrafo fran-
look que foi para tal festa, tirar uma selfie de
cês André Disdéri a ideia de fazer um ‘carte
costas (!) para o show de tal artista que é pri-
de visite’ (cartão de visita), em o profissional
meiro nas paradas de sucesso, registrar a be-
vestia as pessoas com roupas elegantes e as
leza dos pratos de um restaurante chique.
Dois séculos depois, percebemos que
Editorial
Redes sociais x retrato oitocentista
O objetivo é, ao que parece, provocar
curiosidade ou a própria inveja em quem vê. Mesmo que, na realidade, a festa não tenha sido animada, a roupa tenha sido comprada na promoção e a carne esteja crua.
Não é de hoje a necessidade da pessoa
de se reafirmar, de documentar sua existência individual. Portanto, a fotografia continua sendo um importante meio de transmitir uma mensagem para o outro, quer se tenha consciência disto ou não. É ao redor dessa reflexão que paira a allPhoto, revista criada para discutir elementos como a ‘selfie’, uma releitura do autorretrato feita com a câmera frontal de celulares, a própria praticidade da fotografia de dispositivos móveis, entre outros.
Nesta primeira edição, também pode-
rão ser conhecidos os novos tipos de fotos de estúdio, como a ‘new born’ – de recém-nascidos –, a fotografia ‘pinhole’, um tributo ao fotógrafo Alexandre Severo, que faleceu em acidente aéreo em agosto do ano passado, entre outros. Diga “xis” e seja bem-vindo ao mundo da fotografia. •
Retratos do século XIX funcionavam como “cartão de visita” para as pessoas. Foto: André Disdéri
Revista allPhoto Dezembro 2015 Editora-chefe Ana Maria Miranda Editora assistente Valéria Oliveira Orientação Isaltina Mello Gomes Diagramação Ana Maria Miranda Textos Amanda Melo, Ana Maria Miranda, Giovanna Torreão, Karina Costa e Valéria Oliveira Universidade Federal de Pernambuco, Recife
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Crescimento da fabricação de smatphones estimulou usuários de todo o mundo a utilizarem dispositivos móveis para fotografar. Foto: divulgação
Amanda Melo Atualmente, milhares de pessoas em todo
Carolina Monteiro, o espaço da fotografia mobile nos
o mundo já utilizam intensamente o celular como
jornais estava restrito antes ao chamado jornalismo co-
produtor de conteúdo fotográfico. Estão enganados
laborativo, realizado com a contribuição dos leitores,
aqueles que afirmam que a prática de tirar fotos com
que enviavam fotos de flagrantes e situações em que o
o celular se restringe apenas a amadores. A era da
fotojornalista profissional não estava presente. A po-
fotografia mobile (ou móvel) ultrapassou os limites
pularização do formato, atrelado ao desenvolvimento
entre profissionais versus amadores, experientes ver-
de aspectos técnicos (resolução das imagens e recursos
sus inexperientes. Prova disso é o fotógrafo do jornal
das câmeras), fez com que a fotografia feita com smar-
inglês The Guardian, Dan Chung, que cobriu um dos
tphones ganhasse também a adesão dos profissionais.
maiores eventos esportivos do planeta, as Olimpíadas
de 2012, apenas com seu Iphone e um conjunto de
tivos desse novo panorama no fotojornalismo “são as
mini lentes específicas para o celular
vantagens dos equipamentos (menores, mais leves e
Para a jornalista e professora do Curso de
mais ‘discretos’ para coberturas em que o fotojorna-
Fotografia da Universidade Católica de Pernambuco
lista profissional tenta passar despercebido, etc). Os
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De acordo com a professora, os reflexos posi-
Tecnologia
A era mobile na fotografia negativos são o risco da compreensão equivocada por
conta da fotografia mobile, mas por todo o impacto da
parte das empresas de comunicação de que a cobertu-
revolução digital no campo da fotografia, que alterou
ra fotojornalística pode ser feita por qualquer pessoa,
não apenas a captura através de novos equipamentos
com qualquer equipamento, sem os cuidados, a ética
e de novas lógicas produtivas, mas também o processo
e a qualidade do fotojornalismo profissional, como é
de pós-produção das imagens e a possibilidade de mis-
o caso do jornal Sun Times, de Chicago, que demitiu
turar a fotografia com outras linguagens, como o vídeo,
toda a sua equipe de fotojornalistas para ‘terceirizar’ a
o áudio etc”, afirma a professora Carolina.
cobertura fotográfica para os repórteres de texto, ‘equi-
pados’ com celulares”.
pamento específicos para a fotografia móvel a elevaram
A fotografia mobile tem assumido, cada vez
a um novo patamar da imagem produzida em celular.
mais, uma linguagem muito específica, principalmente
“A câmera do smartphone por si só já proporciona um
com o avanço dos aplicativos e equipamentos destina-
resultado satisfatório para quem está tirando a foto, po-
dos a essa prática. Uma foto ou um vídeo, que antes
rém os acessórios e aplicativos de edição de fotos pos-
passava por longos períodos de edição e correção de
suem uma infinidade de opções para que a foto tenha
cor, agora podem ser facilmente produzidos e tratados
maior qualidade, tornando mais prático o modo de al-
nos próprios smartphones através dos aplicativos. Para
terar e manipular imagens”, afirma o fotógrafo.
o fotógrafo Ítalo Santana, a revolução tecnológica, que
foi iniciada há cerca de cinco anos, possibilitou que as
cantes de equipamentos fotográficos passaram também
câmeras dos celulares fossem aperfeiçoadas. “Podemos
a oferecer lentes adaptadas para smartphones. As obje-
até dizer que estamos comprando uma câmera que faz
tivas para celulares são facilmente encaixadas nos apa-
ligações, e não um celular que tira fotos. E a tendência
relhos - geralmente, elas já vêm com um suporte, uma
é que continue melhorando por muitos anos”, comenta.
espécie de presilha, que cabe em qualquer celular. Pode
ser acoplada tanto na câmera frontal quanto na traseira.
Nos fóruns sobre fotografia, as discussões gi-
Para Ítalo, a influência dos aplicativos e equi-
Com a crescente demanda do mercado, fabri-
ram em torno da quebra de paradigmas gerados pela
Fotógrafa freelancer, Simony Rodrigues afir-
evolução desse gênero fotográfico. “Não apenas por
ma que as objetivas de celular são usadas em projetos
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Fotógrafo do jornal inglês The Guardian, Dan Chung cobriu as Olimpíadas de 2012 apenas com um Iphone e conjunto de mini lentes de celular. Foto: divulgação
mais específicos e elaborados. “Tenho três tipos dife-
moldura/vinheta arredondada. Já as lentes macro
rentes de lentes para celular: a grande angular, olho de
produzem imagens com mais riqueza de detalhes.
peixe e uma macro. Geralmente não as uso, só pra algo
Ela focaliza os objetos e permite a captura de objetos
específico, como foi o caso de um projeto que desenvol-
pequenos, como insetos, detalhes do rosto, da roupa,
vi com lentes macro pra celular”, disse.
entre outros. •
Na busca frenética por maior qualidade das
imagens produzidas no celular, as grandes empresas de fotografia já começaram a comercializar objetivas adaptadas e específicas para esses aparelhos. As lentes fisheye (olho de peixe) e macro, por exemplo, são as mais procuradas entre os fotógrafos, principalmente pelos efeitos que produzem nas imagens.
A “olho de peixe”, gera um efeito vintage, se-
melhante à fotografia analógica, muito buscado pelos amantes da era mobile. Essa lente tem formato côncavo, o que faz com que a imagem fique com uma
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Repórter já fez diversas coberturas esportivas. Foto: Dan Chung
Tecnologia
Apps de fotografia Com a popularização dos smartphones, faz-se cada vez mais necessária a invenção de aplicativos de captura e tratamento de fotos para celulares. A allPhoto preparou uma lista com os dez melhores. Confira: Tiltshift focus
SwankoLab
Permite criar profundidade de campo e foco em pontos específicos da imagem. Disponível para IOS.
Simula processos de revelação antigos, a partir de químicos digitais. É possível ampliar a foto. Disponível para IOS.
Hipstamatic
360 panorama
Vem com conjunto de lentes, filmes e flashes. Simula estilos das impressões antigas. Disponível para IOS.
Aplicativo permite a captura de imagens em 360 graus. Disponível para IOS.
Filterstorm Neue
Lapse it
Editor de imagens. Permite retirar elementos, alterar tons, aplicar efeitos. Disponível para IOS.
Permite criar time lapse. O número de imagens e a velocidade de transição podem ser ajustados. Disponível para IOS e Android.
Photoforge 2
VSCO Cam (Visual Supply Co)
Apresenta controles de curvas, níveis, cores, luminância, camadas, entre outras. Disponível para IOS.
Oferece filtros que simulam filmes analógicos e funciona como uma rede social. Disponível para IOS e Android.
Snapseed
iMotion
Possibilita ajustes finos de luz, brilho, cores, ângulo, além de vários efeitos e filtros. Disponível para IOS e Android.
Permite produzir timelapses e stopmotion com imagens. Disponível para IOS.
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Novas tecnologias e câmeras modernas e equipadas estimulam a produção de tipos diferentes de fotografia. Foto: Internet/reprodução
Valéria Oliveira
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Câmeras cada vez mais modernas e sofis-
associado às experimentações tecnológicas, tendên-
ticadas, processos de captação simplificados e faci-
cias e modismos da sociedade. “A fotografia, desde
lidade de integração com recursos da informática
seu surgimento, foi fruto da união de experimentos,
são apenas alguns dos fatores que podem ser cita-
câmara escura e processos químicos de fixação da
dos quando se fala das transformações no mun-
imagem. Mas essa inquietação cientifica não seria
do da fotografia. Desde seu surgimento, no século
o suficiente para impulsionar o desenvolvimento da
XIX, a técnica passou por uma série de mudanças e
prática sem outra inquietação: o registro histórico de
aprimoramentos graças à inserção de novas tecno-
cada um de nós, a necessidade de se ‘perpetuar’, para
logias, apontada pelos especialistas como uma das
outros verem. A pintura fazia esse papel, mas era
principais causas para o desenvolvimento da práti-
lenta, cara e pouco acessível. Já a fotografia era aces-
ca e o nascimento de diferentes tipos de fotografia.
sível e rápida, claro que rápida para os conceitos de
Para o professor do curso de fotografia da Es-
sua época. É essa inquietação, tecnológica e tempo-
cola Panamericana de Arte Felipe Denuzzo, o surgi-
ral, que vem cutucando a fotografia, faz com que ela
mento de novas práticas fotográficas está diretamente
se transforme de acordo com as necessidades da so-
Tecnologia
Novos tipos de fotografia ciedade que a consome, incentivando os fabricantes
diversos tipos fotográficos existentes. Seja qual for o
a criarem uma nova fotografia”, explica o professor.
tipo, “a fotografia sempre carregará o peso de repro-
Ainda de acordo com Denuzzo, que atua na
duzir ao infinito que só ocorreu uma vez, de repetir,
área há 17 anos, esses aspectos incentivam a constan-
mecanicamente, o que nunca mais poderá repetir-se
te transformação da fotografia. “Hoje em dia outras
existencialmente”, como apontou Roland Barthes.
artes visuais se apropriam da fotografia como ferra-
menta, como suporte ou inspiração. Isso dá à foto-
via ser ensinada na escola, que todos devería-
grafia novo fôlego, criando espaço para novas for-
mos aprender a fotografar. Não fotografamos
mas de fotografar. Isso também ajuda no surgimento
para nós, fotografamos para os outros. Mostra-
de novas caras ou rótulos para a prática fotográfica.
mos o que vemos e o que queremos mostrar, ve-
Sempre foi assim, e sempre será. O mesmo aconteceu
mos o que queremos ver”, opina Felipe Denuzzo. •
“Sempre
achei
que
a
fotografia
de-
quando surgiu a tecnologia digital, quando surgiu a cor, quando os tempos de exposição e processos químicos se transformaram”, explica o profissional.
Consolidada como um dos meios de ex-
pressão e comunicação mais utilizados no mundo, a fotografia se faz presente em várias áreas da vida e do cotidiano humanos, desde os tradicionais retratos, passando pela publicidade até o fotojornalismo. A prática também é considerada um dos mecanismos mais eficazes no processo de arquivamento de momentos, cenas ou situações que ficam guardados para sempre em formato de imagem. Tudo isso fruto de registros feitos a partir de diferentes olhares e dos
Fotografia desde o surgimento foi fruto de experimentos, como a câmara escura. Foto: Internet/reprodução
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Conheça:
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NEWBORN
FOTOGRAFIA 360°
Em terras brasileiras, a novidade fotográ-
Outra modalidade que também vem ganhan-
fica - e um dos tipos que vem conquistando cada
do espaço é a fotografia panorâmica 360 graus, que
vez mais adeptos - é a fotografia de newborn (re-
permite capturar imagens e vídeos em um ângulo de
cém-nascido), modalidade muito difundida nos
360 graus, – como seu próprio nome sugere. O feito
Estados Unidos, Austrália e países da Europa. O
pode ser alcançado com câmeras fotográficas conven-
estilo fotográfico tem como proposta retratar os
cionais – as populares Digital Single Lens Reflex ou
pequenos nos primeiros dias de vida (entre cindo
apenas DSLR – com o auxílio de alguns equipamen-
e dez dias), permitindo que os pais possam guar-
tos, mas também existem câmeras próprias destinadas
dar os primeiros encontros, comportamento e
à prática, como a 360cam. De acordo com os invento-
feições, que, com o desenvolvimento, ficam para
res, a câmera cabe na palma da mão. Ela é equipada
trás. A ideia dos ensaios é registrar a maneira
com três microfones e três lentes de 185º, estilo olho
como o bebê se comportava ainda dentro da bar-
de peixe, que oferecem um amplo campo de visão.
riga da mãe. A maior parte das imagens é feita
Além disso, as lentes funcionam de forma sincroniza-
sem roupinhas ou com acessórios próprios para
da. Ao mesmo tempo em que capturam imagens em
recém-nascidos. Em geral, são fotos mais espon-
full HD, podem transmiti-las para outras mídias. As
tâneas, que retratam o dia a dia do bebê, como o
imagens são capturadas, unidas, ajustadas e enviadas
momento do banho, da alimentação ou a hora do
em tempo real através de conexão wi-fi. No entanto, o
cochilo, por exemplo. A técnica exige do fotógrafo
projeto ainda está em fase de desenvolvimento. Alguns
formas especiais de tratar os bebês, com cuidado.
aplicativos de celular também oferecem esta opção.
Tecnologia movimento são levados muito em consideração, já que podem destacar o produto. Em cada caso há diferenças de resolução e linguagem visual. É considerada pelos especialistas como uma das modalidades mais difíceis de praticar, pois é essencial se manter antenado e em alta no mercado. Diferentemente da fotografia jornalística (fotojornalismo), FOTOGRAFIA DE CASAMENTO
essas fotos passam por manipulação e uma série de
tratamentos em programas de edição de imagens.
Um tipo que não perde espaço é a fotografia de
casamento, que tem se reinventado nos últimos anos, deixando de lado o “tradicional” e misturado várias modalidades fotográficas. Embora o álbum de casamento seja um documentário do dia do enlace, geralmente são produzidos ensaios, seja em estúdio ou ar livre, antes da cerimônia. Além disso, as fotos de casamento podem ser retocadas e editadas. O profissional utiliza efeitos com o objetivo de dar toque artístico às fotos.
FOTOGRAFIA DE MODA
Esta modalidade fotográfica apresenta carac-
terísticas distintas, que a diferenciam de outros tipos de fotografia. O fotógrafo capta modelos vestidas com esmero, portando trajes, acessórios, maquiagem ou outros detalhes que no conjunto possam se tornar sedutores, e principalmente comerciáveis. De certo modo, a fotografia de moda se associa à fotografia publicitáFOTOGRAFIA PUBLICITÁRIA
Já no meio publicitário, a fotografia é uti-
lizada como uma forma de vender uma ideia ou produto. Neste tipo de fotografia, o foco, luz, ângulo, composição, plano de fundo e representação de
ria, pois as fotos produzidas são normalmente veiculadas na TV, em publicidade exibida nas páginas das revistas, nos outdoors ou em campanhas específicas. Os mais conhecidos são os editoriais de moda com looks montados a partir de diversas marcas famosas. •
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É necessário tomar diversos cuidados ao fotografar bebês recém-nascidos, para não machucá-los. Foto: divulgação.
Giovanna Torreão Os primeiros dias do bebê são marcados
especializando na área, afinal são necessários mui-
por muito amor e eternizar esse momento é uma
tos cuidados para um ensaio assim. Não se pode
arte que tem feito sucesso com os pais. Muito po-
colocar a segurança do bebê em risco”, explica a fo-
pular nos Estados Unidos, a fotografia ‘newborn’
tógrafa Soraya Grazielle, que desde 2010 fotografa
(recém-nascido) vem conquistando cada vez mais
uma média de três recém-nascidos por semana. A
o seu lugar no álbum de família dos brasileiros.
profissional explica ainda que o ensaio é feito geral-
Os bebês são levados para o estúdio de fotografia
mente do 5º ao 15º dia de vida da criança. “Nesse
com até 15 dias de vida para que sejam registra-
período ele dorme bastante, é mais flexível e ainda
dos em posições peculiares, enrolados em mantas
não tem cólicas. O bebê pode ser fotografado com
ou descansando em cestas. O resultado de encher
alguns meses de nascido, mas não é mais o estilo
de lágrimas os olhos dos pais é fruto de um traba-
de fotografia Newborn, uma vez que algumas poses
lho que requer preparo profissional, além de cui-
são possíveis apenas nesse primeiro período”, conta.
dados com a higienização de ambientes e objetos.
estava apreensiva em levar a filha para um estúdio
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“Com a demanda, os profissionais foram se
A comerciante Claudia Coimbra conta que
Studio
Recém-nascidos no álbum de família com apenas nove dias de nascida. “Pensei que po-
As duas fotógrafas dizem buscar poses que
deria ser muito cedo, mas acabou sendo hiper tran-
fazem alusão ao útero materno, pois o bebê fica mais
quilo. Bruna nem acordava entre uma pose e outra.
confortável. “Tento aproveitar a natureza dos recém-
A sessão foi feita com muito cuidado e ela não se
-nascidos nos ensaios, a posição fetal, mãozinha no
incomodou nada. Agora a lembrança vai ficar guar-
rosto, gestos que eles fazem ainda dentro da barriga”,
dada para sempre”, diz Claudia, que também plane-
menciona Soraya. A profissional explica ainda que
ja novos ensaios quando a filha completar um ano.
nem todos os clicks vistos são possíveis sem o uso
Para que o trabalho tenha um bom resulta-
de edição. “Como medida segurança, tem sempre al-
do, o recém-nascido precisa estar à vontade e seguro,
guém segurando o bebê. Ele, por exemplo, não tem
destaca a também fotógrafa de newborn Cristiane
força para sustentar a cabeça sozinho, então nós tira-
Silva. “Temos que respeitar o tempo do bebê e fa-
mos a foto com uma mão segurando por baixo e depois
zer apenas o que ele permite. Se não estiver agra-
com uma mão segurando por cima e, então, agrupa-
dável para o bebê, ele não dorme. A temperatura
mos as imagens em um programa de edição”, conta.
do estúdio precisa estar em 28ºC e a umidade en-
tre 50% e 60%. Além disso, temos cuidados muito
R$ 500, a depender da quantidade de fotos e se o
importantes de limpeza. Ninguém entra calçado no
material será entregue em um álbum ou só no DVD.
estúdio, tudo é esterilizado e higienizado”, comen-
Os profissionais fazem ainda pacotes promocionais
ta. Ela conta ainda que as sessões de fotos são re-
para quem faz a foto da gestante, newborn e até o
alizadas sempre durante o sono após a mamada e
primeiro ano do bebê. Diante da crescente procu-
troca de fraldas. “É importante que o pequeno te-
ra por esse estilo de click, foi criada recentemente a
nha mamado antes das fotos, para facilitar o traba-
Associação Brasileira de Fotógrafos de Recém-nas-
lho. Mas os ensaios podem durar até quatro horas,
cidos (ABFRN), que tem como objetivo cadastrar os
muitas vezes a sessão é interrompida, pois o bebê
profissionais aptos a realizar esse tipo de trabalho.
acorda ou precisa mamar novamente, trocar fralda.
Lembrete: O que importa é não colocar a se-
É necessário que aconteça com calma”, diz Cristina.
gurança do bebê em risco durante as fotos! •
A singela lembrança não sai por menos de
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Selfies se espalharam por todo o mundo após a apresentadora Ellen Degeneres registrar desta forma o Oscar de 2013. Foto: reprodução
Karina Costa
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“But first, let me take a selfie”. Essa frase, que
“Selfie” é uma fotografia que alguém tira de
significa algo como “mas antes, deixe-me fazer um
si mesmo, ou a imagem de um grupo, feita a partir
selfie”, é um trecho da música #Selfie, da banda The
de uma pessoa que ao mesmo tempo tira e protago-
Chainsmokers, e resume bem o uso dessa modalidade
niza a foto. Além disso, parte da definição de sel-
de fotografia. Hoje, o selfie faz parte da rotina de muita
fie está no registro, geralmente feito com dispositi-
gente, e até quem não gosta, entra na “onda do selfie”,
vos móveis, e na postagem em alguma rede social.
que já foi inserido na programação de todos os even-
tos sociais, até mesmo dos considerados mais sérios.
lhado e repercutido online, não é considerado um
Mesmo quem não gosta dá um jeitinho de fa-
selfie, é apenas um autorretrato. “Não basta fazer as
zer a pausa para o selfie.”Eu não gosto de tirar selfie só
selfies. Tem que publicar nas redes para todo mun-
minha, mas em festas, com todo mundo junto, é legal.”,
do curtir!”, diz Kaliny Botelho, 27, advogada “vi-
afirma Mirella Lima, 22 anos, estudante de rádio e TV.
ciada na própria imagem”, como ela se descreve.
Afinal, um selfie não publicado, comparti-
Redes Sociais
Hashtag selfie
O boom dos selfies veio com uma imagem pos-
zer selfies”, afirma Eliane Miguel, enfermeira, 36 anos.
tada no perfil do Twitter da apresentadora norte-ameri-
A tecnologia foi essencial para a disseminação da fo-
cana Elle Degeneres, durante o Oscar de 2013. Degene-
tografia no estilo selfie. Com o surgimento da câmera
res estava acompanhada por diversas celebridades, e a
digital e das câmeras acopladas a dispositivos móveis
foto se espalhou pelo mundo, tornando-se o tuíte mais
de acesso cada vez mais prático e barato, aumentou
compartilhado do ano, sendo retuitado mais de 3,3 mi-
muito o número de pessoas com acesso à fotografia
lhões de vezes. O “selfie do ano”, amplamente divulgado
e às redes sociais. A partir daí, era só uma questão de
na mídia e nas redes sociais, serviu como uma inspira-
tempo para que estas fotos caíssem na boca do povo.
ção para o que seria o início de uma era, a “Era do selfie”.
Ou melhor, nas lentes.
O uso do termo “selfie” para designar au-
torretratos já tem pelo menos dez anos, pois há registros da palavra com essa função em 2002, em um fórum australiano. Já a ideia de registrar o próprio corpo existe historicamente, desde antes do nascimento da fotografia, nas mãos dos pintores.
“Adoro selfies! Faço selfie desde antes de sa-
ber que era isso, na época dos fotologs!”, diz Kamilla Alves, 22 anos, jornalista. A novidade trazida pelo selfie para a fotografia pode ser percebida nas fotos de grupos e eventos sociais. Ao comparar registros de festas de dez anos atrás com os de hoje, a diferença é clara: nos primeiros, vê-se todos enfileirados, posando para a foto; já nos atuais, o registro mostra o grupo amontoado em torno de uma pessoa que segura a câmera, enquanto “estrela” a foto. “Na minha infância a gente se arrumava pra foto. Hoje em dia, é todo mundo se jogando em cima dos outros pra fa-
Photobomb dos famosos. Foto: Internet/reprodução
NINGUÉM MAIS DIZ ‘XIS’ - Das várias tendências modernas da fotografia, principalmente no campo dos dispositivos móveis, existem dois tipos exóticos de fotos que ganharam os holofotes ao caírem nas graças de astros e estrelas de Hollywood: o photobomb e o facepalm. Estas tendências, que rendem fotos engraçadas e inusitadas, se espalharam, assim como os selfies, depois de estrelarem nas câmeras de celebridades do tapete vermelho.
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O photobomb é o ato de se infiltrar nas fotos
alheias, conhecido aqui no Brasil como “papagaio de foto”. A prática tomou conta das redes sociais graças a aparições inusitadas de alguns famosos nas fotos dos colegas, em eventos e premiações. A atriz Jennifer Lawren-
A selfie é pop
ce (Jogos Vorazes) e o ator Bennedict Cumberbatch (O
Jogo da Imitação) são grandes expoentes dessa moda.
O facepalming é um estilo ainda mais inusita-
do. Originalmente, o termo é utilizado para situações
de vergonha ou exasperação, quando uma pessoa,
tomada por algum desses sentimentos, usa uma das mãos para esconder o próprio rosto. No mundo da fotografia moderna, o termo designa uma prática
Karina Costa
Os selfies ficaram mais pops que o papa, e a
que consiste em colocar a palma da mão no rosto dos
mídia pegou carona nesse sucesso. Este tipo de fo-
companheiros de foto na hora dos cliques. O facepalm
tografia foi rapidamente incorporado pela indústria
já rendeu algumas fotos interessantes, das quais a atriz
do entretenimento, e em 2014 nasceu um seriado da
Jennifer Lawrence (Jogos Vorazes) também é prota-
emissora norte-americana ABC batizado de “Sel-
gonista, fazendo facepalm na colega Emma Watson
fie” (foto acima). A série televisiva conta a história
(As Vantagens de Ser Invisível). Outro exemplo são
uma jovem totalmente conectada e dependente das
os atores Aaron Paul e Bryan Cranston, do seriado
redes sociais e mostra uma face da nova geração,
“Breaking Bad”. •
que não existe fora das redes e está sempre se representando através do selfie. Essa “filosofia” do seriado e da modernidade está presente até na música de abertura, “#Selfie”, da dupla The Chainsmokers.
#Selfie - I only got ten likes in the
last five minutes /Do you think I should take it down? /Let me take another selfie Só Jenniffer Lawrence faz facepalm na colega Emma Watson. Foto: reprodução/Internet
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consegui
dez
“curtidas”
nos
últi-
mos cinco minutos/ Você acha que eu deveria
apagar?/Deixa
eu
tirar
outra
selfie
Redes Sociais
Outras empresas e meios de comunicação
Também virou moda apresentadores de telejornais
considerados mais sérios também foram conquista-
gravarem chamadas no estilo selfie para postar nas re-
dos pelas possibilidades trazidas pelo selfie, e o for-
des sociais. Enquanto quem está com a televisão ligada
mato caiu como uma luva nessa fase da indústria em
assiste aos âncoras lendo os destaques da edição, sen-
que as redes sociais estão sendo cada vez mais valo-
tados à bancada prontos para começar a apresentar,
rizadas, tanto para autopropaganda, quanto como
quem está online tem acesso a chamadas mais descon-
ferramenta de aproximação com o público.
traídas, feitas até mesmo pelo celular do apresentador.
O jornalismo, meio mais tradicional, também
Segundo Marcelo Soares, responsável pelas mí-
tem feito uso desse tipo de fotografia, convidando o
dias sociais da TV Jornal, postagens de víde-
público a participar através de chamadas e quadros.
os e fotos nesse formato aproximam o públi-
Em grandes eventos, é comum encon-
co da emissora. “Tudo o que dá uma ideia de
trar campanhas nos jornais convidando o público
bastidor chama mais atenção. A ideia de intimida-
a compartilhar seus selfies. Durante Copa do Mun-
de com a empresa atrai os telespectadores”, afirma.
do de 2014, muitos veículos de mídia usaram esse mesmo tipo de campanha para estimular a participação do público. Um caso icônico, que rendeu um dos selfies mais populares do país, foi o do Jornal Hoje, quando os apresentadores Sandra Anneberg e Evaristo Filho fizeram um selfie ao vivo, como forma de chamar uma reportagem sobre o assunto.
Bonner faz chamadas em vídeo para as redes sociais do JN. Foto: reprodução/Facebook
Até a repórter que fez a matéria fez selfies no meio
da gravação, e a equipe do jornal usou disso para
William Bonner é outro que adora experimen-
convidar o público a enviar suas fotos de torcida.
tar as possibilidades das novas tecnologias para
O
apresentador
do
Jornal
Nacional
aproximar-se do telespectador nas redes sociais. •
Equipe do Replay, da TV Jornal, em vídeo-selfie. Foto: reprodução/Facebook
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Trabalho do fotógrafo estadunidense Man Ray seguiu vanguarda dadaísta no século XX. Foto: Man Ray/reprodução
Ana Maria Miranda Logo quando foi criada, a fotografia era con-
tros. Já o fotógrafo Cartier-Bresson falava em um
siderada apenas técnica, no século XIX. Ao longo da
“instante decisivo” a ser capturado pelo profissional.
história da arte, este pensamento foi mudando e as
Para a professora do curso de Comunicação Social
imagens produzidas pela câmera começaram a ser
da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
aceitas como produto artístico. O filósofo Roland
Carolina Dantas, a fotografia é arte dependen-
Barthes, por exemplo, pregava a ideia de que, ao
do da intenção do autor ao produzi-la. “A arte
revelar a visão do fotógrafo, a fotografia passa a ser
está muito mais relacionada ao intento do autor, o
considerada arte. Além dele, participaram dessa dis-
efeito que ele quer produzir no público do que o
cussão Philippe Dubois, que dizia que, para ser arte,
registro em si. Se eu pegar uma imagem fotográfi-
a imagem tinha que ser pensada como uma trans-
ca de uma cirurgia que vai ser usada num livro de
formação do real, com uso de técnicas como cortes,
referência médica, por exemplo, dificilmente eu
longa exposição para sobrepor imagens, entre ou-
vou poder dizer que esse registro é arte”, explica.
20
História
A fotografia sob a visão da arte
A discussão fica mais complicada para os
ção é o fotógrafo dadaísta Man Ray. Em vez de se
profissionais que trabalham com fotografia docu-
apropriar do real para construir suas imagens, ele se
mental, já que nem sempre há uma liberdade do
utilizava do imaginário, em trabalhos experimentais.
autor da imagem em relação à sua produção. Para
“A fotografia vai provocar uma reestruturação no
o fotojornalista Bobby Fabisak, que trabalha há 17
mundo da pintura. Você tem o impressionismo, o ex-
anos na área, fazer fotografia, mesmo no Jornalis-
pressionismo, depois vem o dadaísmo, surrealismo,
mo, não deixa de ser arte. “Você capta um momen-
que surgem por causa da fotografia, porque o registro
to único, de uma determinada situação, que passa
de precisão que a pintura era capaz de fazer passa a
uma informação. E dentro dele há uma plasticidade,
ser substituído”, afirma a professora Carolina Dantas.
você analisa a luz, a composição, a expressão”, relata.
De acordo com ele, a sensibilidade e a expe-
tro do real, segundo Dantas, começa a ser ques-
riência irão determinar o viés artístico da imagem.
tionado neste século, XXI, quando aparecem
No dia-a-dia do Jornal do Commercio, ele explora
os programas de manipulação de imagens. “Fo-
esta função dependendo da pauta: “Aqui fazemos um
tografias manipuladas são outra forma de arte,
rodízio, cada repórter fotográfico pode ir para uma
que está na interface da pintura com a fotogra-
pauta de editorias diferentes. Então, quando vou para
fia, com elementos de artes visuais digitais”, diz. •
A definição da fotografia como regis-
uma [pauta] mais produzida, como as do Caderno C [Cultura], posso pensar melhor sobre o local e personagem que vou encontrar. Num protesto, também vou pensar nestes elementos, mas de uma forma mais objetiva para passar a informação”, reflete.
Um dos fatores que levam os teóricos a con-
firmarem a fotografia como parte da arte é o fato de que, em diversos momentos, as imagens seguiram as chamadas vanguardas. Um exemplo dessa participa-
Roland Barthes dizia que ao revelar visão do fotógrafo, fotografia vira arte. Foto: Internet/reprodução
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Casa no bairro de Casa Forte, na Zona Norte do Recife, abriga escola de fotografia que oferece diversos cursos. Foto: Ana Maria Miranda
Ana Maria Miranda Portão de grade triangular, azulejos brancos
tudar, também; até quem não quer fazer nada pode
com estampa florida e quintal espaçoso com banco
vir fazer nada aqui no Candela”, convida o professor
de pedra fazem o Instituto Candela, escola de foto-
e proprietário da escola, Ivan Alecrim. O fotógra-
grafia localizada no bairro de Casa Forte, Zona Norte
fo, que antes de decidir dar aulas trabalhava com fo-
do Recife, ser confundido com a casa de uma avó. O
tojornalismo, já passou pelas redações do Jornal do
objetivo é que os alunos se sintam em casa. Além das
Commercio, do Diario de Pernambuco e da Folha de
duas salas de aula, que têm cadeiras azuis e vermelhas,
Pernambuco. Alecrim administra o Instituto Can-
uma estante de livros e câmeras antigas e alguns qua-
dela com a companheira e também fotógrafa Samara
dros na parede, o espaço inclui sala principal com vi-
Fernandes, além da filha do casal, Nina, de 10 anos.
trola tocando vinis e um violão encostado na parede
– esperando para ser usado-, sala de jogos com dardos,
tografia, Composição e Fotometria, Retrato, Luz e
xadrez e um homem aranha pendurado no teto, co-
Flash, Tratamento de Imagens, entre outros. Algu-
zinha com armário de portas vermelhas e escritórios.
mas aulas são ministradas por Ivan, outras, por co-
“Quem quiser fotografar aqui, vem; quem quiser es-
legas. Cada turma recebe de 12 a 17 alunos e é ne-
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O espaço abriga cursos de Introdução à Fo-
Cursos
Uma escola-casa de fotografia cessário saber pelo menos utilizar a câmera para a
traz. “É um lugar onde entendemos a fotografia
maioria dos cursos, exceto os de gestão e o de introdução.
como apenas um caminho para uma vida melhor,
Alguns cursos, como Fotografia de Família
mais sensível às coisas ao nosso redor. Lá nós
e Fotografia Analógica são novidades parte da nova
aprendemos a canalizar aquelas coisas que es-
fase da escola, que mudou de endereço este ano. “Eu
tão dentro de nós através da fotografia”, explica.
comecei dando aula em uma sala em cima de um
sex shop. Com o desenvolvimento da escola e au-
te quanto aprender a técnica para usar a câmera é
mento das turmas, sentimos a necessidade de evo-
conseguir aplicar na fotografia um pouco de tudo o
luir”, conta. O Instituto Candela fica no número 111
que a pessoa vivenciou. “Nós acolhemos as pessoas
da Rua Gil Carneiro da Cunha, que não tem saída.
e propomos que elas se entendam e usem este senti-
mento como ferramenta de transformação”, pontua.
Alunos que passaram pelas salas de aula do
É que para Ivan Alecrim, tão importan-
professor têm trabalho para “desapegar” do lugar.
Além das aulas teóricas, os estudantes têm
Apesar de a duração de cada curso ser de cerca de
a oportunidade de sair para fotografar em grupo,
um mês, estes se sentem envolvidos pelo clima fami-
sempre aos sábados pela manhã. Os destinos mais
liar. “Eu vou no Candela sempre que posso, só para
explorados são a praça de Casa Forte, o Parque da
dar um ‘oi’ e conversar com o pessoal. Tanto o pesso-
Jaqueira, o mercado de Casa Amarela, o Sítio His-
al do instituto como alunos, são pessoas que desejo
tórico de Olinda, entre outros. Na aula após a saída
levar comigo pelo resto da vida”, afirma o estudante
fotográfica, os estudantes fazem uma seleção para
de publicidade e propaganda da Universidade Fe-
mostrar ao resto da turma e discutir os elementos.
deral de Pernambuco (UFPE) Gabriel Pontual, que
divide o tempo entre graduação e estágio em uma
fim do ano passado pela escola, 98% dos alunos
assessoria de imprensa, na função de fotógrafo.
do curso chegaram ao local por meio de indica-
Segundo Pontual - que fez três cursos
ções de amigos e familiares. A divulgação do curso
no instituto - a principal qualidade e o diferen-
só é feita na página da escola no Facebook. “Nos-
cial do Candela é o clima de fuga que a escola
sa propaganda são nossos alunos”, conclui Ivan.
De acordo com levantamento realizado no
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Fotógrafo Alexandre Severo faleceu no mesmo acidente aéreo que Eduardo Campos, em agosto 2014. Foto: Arquivo/JCImagem
Valéria Oliveira Do litoral ao sertão, no interior do Estado ou
tava muito feliz com a função. Começou sua carreira na
na capital pernambucana, cenas que normalmente se-
fotografia em 2002. Dois anos depois, ingressou em um
riam ignoradas pelo cidadão comum não passaram
dos principais jornais pernambucanos. Na função de
despercebidas pela sensibilidade do olhar do fotógra-
estagiário, compôs o time de fotojornalistas da JC Ima-
fo Alexandre Severo. Com um talento singular, Seve-
gem, agência fotográfica do Jornal do Commercio (JC).
ro não deixava passar nada. Tudo era capturado com
brilhantismo e de forma primorosa pelas lentes apura-
2004. De sorriso no rosto e com facilidade para fa-
das que carregava consigo. Talento esse que o mundo
zer amizades, ele entrava como estagiário e, com
perdeu de maneira trágica no fatídico 13 de agosto de
pouco tempo, já demonstrava a capacidade e desen-
2014. Severo era uma das sete pessoas que estavam a
voltura de um profissional”, contou o também fo-
bordo do jato Cessna Citation, que caiu em Santos,
tógrafo, xará e amigo de Severo, Alexandre Belém.
no litoral paulista, matando também o então candi-
dato à presidência da República Eduardo Campos.
publicadas nas páginas do periódico, o recifense era re-
Recifense radicado em São Paulo havia três
conhecido nacionalmente. Um de seus trabalhos mais
anos, Severo, 36, era o fotógrafo oficial da campanha
marcantes, o ensaio fotográfico À Flor da Pele, publica-
política do presidenciável. E, de acordo com amigos, es-
do em 2009 pelo JC, e que registra três crianças albinas
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“Conheci Severo na redação do JC em
Mente e olhar por trás de imagens memoráveis
Perfil
Brilhantismo e sensibilidade nascidas em uma família de negros em uma comunidade
que marcaram sua vida durante o tempo em que morou
pobre de Olinda, alcançou repercussão mundial. Uma
na capital paulista. Já no Recife, a mostra intitulada “Pela
das imagens que compõem o ensaio ganhou o título de
Luz dos Olhos Teus” também homenageou o fotógrafo.
Picture Of The Year (Foto do Ano) da agência britânica
Reuters e recebeu menção honrosa no 31º Prêmio Vla-
de, Alexandre Severo era conhecido entre os
dimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, consi-
amigos e pessoas próximas por sua generosida-
derado um dos mais importantes do meio jornalístico.
de.
Severo tinha um jeito particular de fotografar,
até pelo abraço. Foi com ele que comecei a enten-
e isso fica ainda mais claro naquele que denominou
der a dinâmica da luz da fotografia. Ele tinha pra-
informal e carinhosamente de “ensaio retratístico dos
zer de ensinar”, relembra a fotógrafa Flora Pimentel.
novos sertanejos”. Parte integrante do caderno especial
“Os Sertões”, também publicado pelo JC e produzido
pela morte precoce do jovem fotógrafo Alexandre Se-
em parceria com a repórter Fabiana Moraes, as ima-
vero não será preenchida. É, no máximo, minimizada
gens retrataram desde vaqueiros e pirateadores, pas-
quando se olha o acervo rico e brilhante deixado por
sando por beatos e travestis, cantadoras de incelências
ele em sua relativamente curta carreira fotográfica. •
Solteiro, sem filhos e de origem humil-
“Ele sempre foi muito generoso. Passava isso
A lacuna deixada na história da fotografia
[rezas tradicionais], até traficantes, padres e b-boys [rappers]. O caderno ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo 2009. “Severo era talhado para contar os fatos com maestria estética”, reforça Alexandre Belém.
Suas obras foram exibidas em importantes
mostras fotográficas, como a brasileira “Paraty em Foco”, além de ter trabalhos em exposição no museu britânico Tate e na Lituânia. Desde sua morte, o fotógrafo tem recebido diversas homenagens. Em São Paulo, 100 fotos do acervo de Alexandre foram espalhadas em pontos
Trabalho “Os Sertões” venceu Esso em 2009. Foto: Alexandre Severo
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