METAMORFOSE DE NARCISO

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Estudo Visuais

Metamorfose de Narciso , Salvador Dalí

Memória descritiva e justificativa

Ana Mestre 21489


A IMAGEM Foi escolhida para este trabalho uma imagem de uma pintura do surrealista pintor catalão Salvador Dalí. A escolha deste autor foi devida à sua incrível combinação de imagens bizarras e com excelente qualidade plástica, o que funcionou como um desafio na elaboração deste trabalho. Depois de uma pesquisa sobre as obras do autor referido, escolheu‐se a obra “Metamorfose de Narciso” (pintada em 1937) Fig.1 pela sua conjugação de cores e imagens, distribuição de elementos no espaço e também pelo simbolismo de alguns elementos presentes e, mais indirectamente, pela razão que inspirou Dalí nesta pintura. Fig.1 Metamorfose de Narciso, por Salvador Dali (1937)

ANÁLISE 

PESQUISA

A Metamorfose de Narciso (1937) é uma pintura em óleo sobre tela do surrealista

espanhol Salvador Dalí. Esta pintura é de um período crítico de Dalí, onde este mostrou o seu lado paranóico. Segundo a mitologia grega, Narciso apaixonou‐se por seu próprio reflexo num lago. Não é possível abraçar a imagem aquosa, e ao tenta‐lo, Narciso afogou‐se, e os deuses imortalizaram‐no como uma flor. Dalí completou esta pintura em 1937, no seu aguardado retorno a Paris, depois de ter tido grande sucesso nos Estados Unidos. A pintura mostra Narciso sentado num lago, olhando para baixo. Não muito longe, há uma figura de pedra em decomposição, o que corresponde de perto a ele, mas é percebida de forma bastante diferente, como uma mão segurando um bolbo ou ovo a partir do qual está um Narciso a crescer. O ovo tem sido usado como um símbolo de


sexualidade em outras pinturas de Dalí. No fundo, um grupo de figuras nuas pode ser visto, enquanto um terceiro Narciso como figura aparece no horizonte, em cima de um estrado, admirando o seu próprio corpo. Surgem também, nesta obra, algumas formigas e um cão muito magro que simbolizam a decadência e a morte. Um longo poema foi escrito por Dalí para acompanhar a pintura. A Metamorfose de Narciso está actualmente num empréstimo no Museu de arte moderna (Estocolmo, Suécia). (Wikipédia, Fevereiro 2010). 

ANÁLISE PESSOAL

Da análise visual efectuada à imagem escolhida e depois de uma pesquisa sobre as técnicas e ideias do autor da obra, foi feita uma análise mais pormenorizada e pessoal, a partir da qual se desenvolveu o desenho do projecto apresentado neste trabalho. Para a análise visual foram consideradas duas variáveis que se distribuem em quatro planos visuais:  Cores No primeiro plano dominam as cores frias como cinzas e azuis, que contrastam com as cores quentes do segundo e terceiro plano. Fig.2 No segundo plano dominam as cores quentes como amarelos, laranjas e encarnados. Fig.3 No terceiro plano dominam também as cores quentes embora mais claras que as do plano anterior, surgindo aí alguns amarelos e beges, misturados com alguns tons mais escuros como castanhos escuros e pretos.Fig.4 No plano de fundo domina o azul do céu, que contrasta com as cores escuras das montanhas. Fig.5

Fig.2

Fig.4

Fig.3

Fig.5


 Elementos

No primeiro plano foi tido em conta como elemento mais importante a mão que surge como o maior elemento na imagem e onde aparece usado como base para a elaboração do projecto, o Narciso (flor) I. Foram também tidos em conta o cão muito magro e as formigas como símbolo de decadência e morte II. No segundo plano foi tida em conta a imagem de narciso que pode simbolizar aqui o próprio narciso homem e/ou a flor com o mesmo nome na qual este se terá transformado. É também importante aqui, o reflexo na água III. No terceiro plano é importante a presença da rocha imediatamente atrás de Narciso que corta a profundidade visual do lado esquerdo IV; a presença da imagem humana que funciona como uma repetição da imagem de Narciso como Homem V, e o elemento humano em cima do estrado admirando o seu próprio corpo VI.

Fig.6


O PROJECTO Fig.7

Depois da análise efectuada à imagem escolhida, foram usadas no desenho do projecto todas as variáveis consideradas mais importantes, bem como as cores da obra e a sua distribuição, os elementos principais e a sua simbologia. Foi considerado o acesso ao espaço de intervenção como o ponto de onde as pessoas começarão a vivenciar esse espaço. Assim, as cores usadas no espaço imediatamente junto da entrada serão as cores dominantes no primeiro plano da imagem, para que o espaço possa ser visto e admirado de forma muito semelhante à da imagem. Dominam os cinzas que surgem no pavimento junto da entrada e ao longo de toda a área de recepção. A parede do edifício e o muro que limitam a área de intervenção são também mais um elemento de cores frias. Fig.8

Fig.8

Surge também como elemento forte nesta área, a árvore que, também de cores frias (verdes), surge no lugar da mão na imagem. Embora seja um elemento muito diferente, a mão tem um perfil semelhante ao de uma árvore, funcionando o pulso como elemento de suporte (tronco) e os dedos como “ramificações” (ramos e galhos). No desenho de projecto são também propostos bancos que se assemelham à


forma das formigas, que aparecem na imagem, como já foi referido, estas também no primeiro plano da imagem e na área de recepção (junto da entrada) no projecto.

Depois de percorrer toda esta área de recepção, deparamos com a conjugação de dois elementos – A árvore (agora mais perto e simbolizando, como já referido, a mão da imagem) e o Narciso, que surge aqui como flor, no centro de um espelho de água para que este seja reflectido na água, como na imagem. Também como na imagem, em que os dois elementos (Narciso e a mão) ecoam um no outro por terem o mesmo perfil, a árvore assemelha‐se não só ao perfil da mão mas também ao perfil da flor, com um caule de suporte e as pétalas que se “ramificam” na ponta deste. Imediatamente atrás do Narciso, a parede será pintada de vermelho escuro, uma cor quente tal como a rocha que surge na imagem por trás da imagem de Narciso. Esta funciona também como limite visual do lado esquerdo do espaço (na direcção em que este está a ser analisado). Por trás dos dois elementos referidos, o pavimento passa de cinzento a cor‐de‐laranja, o que se verifica também no quadro de Dali, onde, por trás da mão e da imagem de Narciso, o chão é pintado em tons de laranjas e amarelos.

Fig.9

No limite direito da área de intervenção, é proposto um grande canteiro com plantação de narcisos. Esta ideia vai de encontro à presença, na imagem, de pessoas nuas que surge ao fundo. Estas pessoas são uma “repetição” da imagem humana de Narciso, ou seja, do elemento mais marcante do lado esquerdo da imagem. Assim, também no projecto, a plantação de narcisos surge como uma repetição do elemento existente do lado esquerdo (percorrendo o espaço desde a entrada). Como no fundo por trás dos elementos humanos, na imagem, dominam as cores escuras, no projecto, o muro que limita o espaço imediatamente atrás do canteiro de narcisos será pintado de cinzento escuro. Fig.10


Ao fundo da área de intervenção, o pavimento volta a alterar‐se para lajes mais pequenas brancas e pretas onde surge um banco quadrado, cor‐de‐laranja e preto. Nas paredes que limitam este pequeno sub‐espaço, surgem dois espelhos que reflectem quem se sente no banco já referido e/ou todas as pessoas que passem por esta zona Fig.11 e 12 , aqui, as pessoas poderão, tal como narciso, na imagem, admirar‐se a si mesmas Fig.13

Fig.11

Fig. 12

Fig.13

Para representar o caminho que aparece também ao fundo da obra de Dali, no projecto propõe‐se, a partir do canteiro de narcisos, a marcação de um caminho em curva (como na imagem) que continua para além da nossa visão Fig.14 . As árvores e arbustos de cor verde mais escuro aparecem no projecto como as montanhas escuras ao fundo da imagem, ao lado do caminho já referido. Fig.14


REFLEXÃO É já bastante comum, no trabalho de Arquitectos Paisagistas, o uso de obras artísticas tais como quadros, esculturas, poesia, entre outras, como conceito na elaboração de projectos. Este método de trabalho é bastante interessante e até desafiador na medida em que é preciso compreender a obra, reflectir sobre ela e aplicar o resultado desse estudo no desenho de projecto de forma a que esta seja compreendida, no espaço que se está a projectar, por outras pessoas, muitas delas desconhecedoras da obra em questão. Este trabalho sobre a obra “Metamorfose de Narciso” de Salvador Dali, foi, sem dúvida, muito interessante de realizar embora se sintam algumas dificuldades na medida em que é bastante difícil conseguir usar, como conceito de projecto de arquitectura paisagista, uma obra tão surreal e forte como esta e como grande parte das obras de Dalí. O projecto resultante deste estudo revela‐se confuso e complexo, o que, num projecto para ser realmente executado seriam características às quais se deveria “fugir”. No entanto, penso que este revela as características da obra onde foi inspirado que é também confusa e complexa. No caso de se desenvolver um projecto com aplicação real, teriam que ser tidas em conta muitas outras variáveis que aqui não foram tão importantes. Como um estudo prévio, este trabalho poderia funcionar como ponto de partida para um projecto, realizado com muito mais estudo e tempo de trabalho e tendo em conta todas as variáveis importantes para o desenho de espaços exteriores. Ana Mestre 6167



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