ARQUITETURA DA INCLUSÃO

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Universidade Presbiteriana Mackenzie Faculdade de Arquitetura e Urbanismo ANA PAULA NIGRO CAMPOS

ARQUITETURA DA INCLUSÃO PROPOSTA DE REDE DE EQUIPAMENTOS PARA MORADORES DE RUA

Trabalho Final de Graduação apresentado para a obtenção do diploma de graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie Orientador: Júlio Vieira

São Paulo, 2015



“A arquitetura pode e produz efeitos positivos quando as intenções libertárias do arquiteto coincidem com a prática real dos povos no exercício de sua liberdade.” Michel Foucault



AGRADECIMENTOS



G

ostaria de agradecer à todos aqueles que me acompanharam durante a vida acadêmica e que direta ou indiretamente contribuíram para a realização deste trabalho. Que todos, mesmo os que não citados aqui, se sintam agradecidos.

Gostaria de agradecer ao meu orientador, Prof. Dr. Júlio Luiz Vieira, pela disposição em me auxiliar no desenvolvimento desse trabalho. Agradeço também ao meu professor de projeto, Prof. Dr. Lucas Fehr, que me incentivou na busca de novas propostas para a realização do projeto. Aos Prof. Ms. Edson Lucchini,Jr, Prof. Ms. Ricardo Carvalho Lima Ramos e Prof. Ms. Luiz Alberto Backheuser, agradeço pela disposição nos atendimentos que foram fundamentais para a composição do meu trabalho. Agradeço aos meus pais, que me apoiaram ao logo desses 5 anos, ajudando a fazer maquete, me levando para faculdade nos dias em que seria impossível entrar num ônibus, acordando na madrugada para me fazer companhia nas noites “intermináveis”, pela contribuição financeira e por todo apoio para a realização deste trabalho. Aos meus queridos amigos Thereza e Lucas, agradeço por todas as tardes que passamos juntos dividindo ideias, angustias e risadas e que tornaram e realização deste trabalho muito mais prazerosa. À minha amiga Flora, agradeço pela ajuda na diagramção deste trabalho. Por fim, agradeço aos moradores de rua com quem conversei, muitos dos quais não sei o nome, mas que foram muito atenciosos e dispostos em responder minhas perguntas.



SUMÁRIO INTRODUÇÃO................................................................................................................................................11 1. HABITAR A RUA...............................................................................................................................................17 1.1 PERFIL DO MORADOR DE RUA EM SÃO PAULO.........................................................................................22 1.2 ARQUITETURA DEFENSIVA OU ARQUITETURA “ANTIMENDIGO”.................................................................24 1.3 AÇÕES SOCIAIS COM MORADORES DE RUA............................................................................................ 28 1.3.1 PROJETO OFICINA BORACEA............................................................................................................30 2. ARQUITETURA INCLUSIVA: PROJETANDO PARA OS MORADORES DE RUA....................................................... 33 2.1 A ÁREA URBANA........................................................................................................................................35 2.2 O EDIFÍCIO...............................................................................................................................................37 2.2.1 THE BRIDGE HOMELESS ASSISTANCE CENTER....................................................................................40 2.2.2 REDBRIDGE WELCOME CENTRE........................................................................................................44 2.2.3 ABRIGO PARA MORADORES DE RUA DE PAMPLONA..........................................................................46 3. PROPOSTA DE PROJETO: REDE DE EQUIPAMENTOS PARA MORADORES DE RUA............................................. 49 3.1 A REDE.....................................................................................................................................................50 3.2 O EDIFÍCIO..............................................................................................................................................53 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................................................71 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................................................................77 CRÉDITOS DE IMAGENS..................................................................................................................................85



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INTRODUÇÃO



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A

o andar pela cidade de São Paulo, observando suas ruas, seus transeuntes e sua arquitetura, nos deparamos com um fato bastante atual e que se torna cada vez mais evidente: os moradores de rua.

Segundo o Censo realizado em 2011 existem aproximadamente 14.500 moradores de rua na cidade de São Paulo. Com o crescente aumento de pessoas que moram na rua, este fenômeno além de envolver aspectos sociais, políticos, econômicos e psicológicos, envolve também aspectos urbanísticos. Este, porém, não é um problema apenas da cidade de São Paulo: “No Brasil o contingente de pessoas que mora nas ruas está presente em todas as cidades. De acordo com a pesquisa feita pelo Censo do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), em abril de 2008, a cidade do Rio de Janeiro teria duas mil pessoas morando nas ruas; em Recife o total de moradores em situação de rua era de 1.390 pessoas. Segundo o Censo da população de Belo Horizonte, em 2005, a cidade teria um total de 916 adultos e 248 jovens nesta condição. O Instituto Meta de Pesquisas de Opinião identificou no Brasil (exceto São Paulo, Belo Horizonte e Recife, que fizeram pesquisas individuais), um total de 31.922 pessoas em situação de rua até o ano de 2008. “Se forem somados ao contingente encontrado nesta pesquisa os resultados dos estudos conduzidos em São Paulo, Belo Horizonte e Recife, atingiremos um número consideravelmente mais elevado” (QUINTÃO, 2012 p.14-15).

A presença dos moradores de rua tem modificado a paisagem urbana, seja através da existência das estruturas temporárias que os acompanham ou de intervenções arquitetônicas que tentam, de alguma forma, impedir sua presença nos espaços públicos. Essa arquitetura defensiva, entre outras coisas, dificulta a pernoite em locais mais abrigados, tornando a cidade mais inóspita.

GRÁFICO 1 - Número total de indivíduos em situação de rua e em centros de acolhida em 2009 x 2011


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Os habitats informais criados pelos desabrigados, embora improvisados, nos mostram certa originalidade e apresentam possibilidades e estratégias variadas para se resolver o problema do abrigo.

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A presença de moradores de rua, por muito tempo foi associada à países de terceiro mundo, mas pesquisas nos mostram que esse é também um problema global. Entre as cidades com mais moradores de rua no mundo, estão: Cidade do México, Nova York, Los Angeles e Moscou1. Existem hoje muitos trabalhos que abordam o tema dos moradores de rua como um problema social, porém há pouca pesquisa sobre qual o papel do arquiteto frente a esse problema. De que forma a arquitetura que é praticada nas cidades pode beneficiar essas pessoas? De que forma os arquitetos e urbanistas podem incluir os moradores de rua em seus projetos? Como a arquitetura poderia influenciar, na prática, para a melhoria das condições desses cidadãos?

IMAGENS 1 a 4 Habitats informais dos moradores de rua

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Durante este trabalho, pretende-se apresentar formas de arquiteturas inclusivas, que buscam maneiras de melhorar a convivência com essa população, mostrando soluções simples e complexas a partir de projetos e intervenções arquitetônicas, que acima de tudo pensam no conforto de seus usuários.

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A partir do momento em que são oferecidos equipamentos que consigam atrair essas pessoas, é dada a oportunidade de se ter uma vida mais digna, e para os que desejarem, a possibilidade de deixar as ruas. 1

Disponível em: http://www.fatosdesconhecidos.com.br/ cidades-com-mais-moradores-de-rua-mundo/. Acessado em Março de 2015

O objetivo dessa pesquisa não é resolver o problema dos moradores de rua, mas mostrar como a arquitetura pode auxiliar àqueles que não têm onde morar.


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Para iniciar este trabalho pretende-se abordar a questão do habitar a rua, e como o espaço público e privado se mesclam quando se vive nas ruas. A partir do conceito de hospitalidade de Jaques Derrida será discutido o quanto as cidades estão se tornando cada vez mais inóspitas, e o quanto a arquitetura que é praticada, acaba muitas vezes por excluir essa população. A partir de dados da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) realizado em 2010 e do Censo da população de rua realizado em 2011 será apresentado o perfil dos moradores de rua da cidade de São Paulo, destacando os motivos que os levaram às ruas, os meios de sobrevivência e os lugares de maior concentração na cidade de São Paulo. Existem hoje diferentes formas de auxílio no processo de saída das ruas. Como exemplo, serão apresentados alguns dos programas oferecidos pela prefeitura para essa população, citando motivos que fazem com que parte dessas pessoas opte por não fazer uso dessas estruturas. No segundo capítulo, serão apresentados projetos e intervenções arquitetônicas que tem como protagonista os moradores de rua, uma vez que projetos feitos especialmente para essa população não são usuais na cidade de São Paulo. A heterogeneidade dos moradores de rua dificulta o trabalho do arquiteto, que deve projetar levando em conta as particularidades de seus beneficiários. Deve também ser considerada a população que deseja permanecer nas ruas, propondo soluções para que essas pessoas possam suprir suas necessidades básicas, como banho e alimentação. Por fim, será feito uma proposta de projeto, no qual serão aplicados os conhecimentos adquiridos na pesquisa.

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IMAGEM 5 IMAGEM 6 México Nova Iorque IMAGEM 7 Moscou

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IMAGEM 8 Los Angeles

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1. HABITAR A RUA



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ara sobrevivermos, precisamos ter acesso a certos elementos incluindo comida e água. A sobrevivência no mundo pode ser difícil, de modo que buscamos abrigo a fim de nos proteger do calor, frio, ou tempestades. Somos seres sociais, precisamos uns dos outros para desenvolver potencialidades individuais e coletivas. Em nossas cidades, as casas são as estruturas onde ocorrem experimentos físicos, fisiológicos, emocionais e sociais. A falta de habitação pode impedir a oportunidade de construir relacionamentos de apoio adequadas, e vários outros recursos essenciais da vida. (GRAHAM; WASH; SANDALACK, 2008 p.13) Quando falamos em habitar, logo pensamos em uma casa, um lar, um lugar de acolhimento, um lugar que podemos chamar de nosso, um espaço privado. No que diz respeito ao morador de rua, no entanto, o conceito de habitar tem outro sentido, já que estes “estabelecem no espaço público da rua seu palco de relações privadas” 2 O morador de rua tem como seu lugar de acolhimento todo e qualquer local que possa sentir-se minimamente protegido do sol, da chuva e do frio. Esses locais normalmente são os baixios de viadutos, as marquises de prédios, as portas de estabelecimentos comerciais, etc. Contudo, a utilização desses espaços públicos cada vez mais é negada a essa população. “A questão do espaço público é central quando se trata do morador de rua. No caso dele ambos os âmbitos público e privado da vida confundem-se na medida em que o espaço público é também privado (e/ou vice-versa). A base de um conflito começa aí: o espaço púbico é o meio de sobrevivência para o morador de rua que dele, portanto, depende. No entanto, paradoxalmente, mais do que a qualquer outro cidadão a ele é negado esse direito” (QUINTÃO,2012 p. 18). 2

Política Nacional Para Inclusão Social Dapopulação Em Situação De Rua, 2008


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Os órgãos públicos e privados frequentemente tentam “expulsar” esses moradores de suas “casas”, cercando, gradeando, colocando obstáculos nas calçadas, limitando cada vez mais os espaços de permanência dessa população. Esse procedimento de organizar o espaço público é uma forma de controle, de seleção, de exclusão, onde deixa de existir a relação homem-espaço, espaço-homem, homem-homem, tornando o lugar hostil, inóspito. Segundo a visão do filósofo francês Jacques Derrida, o que funda a hospitalidade é o lugar, e o lugar não pede nada em troca, a não ser a presença do que chega e de quem espera. O tema da hospitalidade mostra que lugares considerados hostis, inóspitos, sinistros são ainda capazes de acolher, que há hospitalidade dentro da inospitalidade e vice versa; curiosamente, a hospitalidade coloca o tema do espaço não no espaço, mas no indivíduo, como se ele próprio portasse a hospitalidade, o próprio espaço (FUÃO, 2014). Considerando-se o crescente aumento da população de rua, as opções de hospitalidade estão cada vez mais restritas. Existe a possibilidade de pernoitar em um albergue ou abrigo, porém as regras são rígidas, e o número de vagas muito abaixo do necessário. Outra questão é a distância que precisa ser percorrida por essa população para terem acesso a esses locais. O sentido da hospitalidade, como nos propõe Derrida, é o que funda as cidades, relaciona-se não só à hospedagem e ao hotel, mas também ao acolhimento, a relação entre hóspede e hospedeiro, e tudo que possa advir disso. Não se trata, portanto, de uma relação com o “turismo”, mas com o habitar, com o transitar na cidade e com a ocupação de áreas públicas que em princípio, deveriam estar sempre inabitadas. (Ibid.)


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“A hospitalidade é uma questão muito mais de abertura, vazão, espera, do que de território ou cercamento. A hospitalidade só pode ser oferecida por alguém, em um aqui e agora, numa situação específica. (...) Não é possível pensar a hospitalidade sem o hospedeiro e o hóspede, sem essa pessoa que espera a chegada do outro. (...) É como se o lugar que estava em questão na hospitalidade fosse um lugar que não pertencesse originalmente nem àquele que hospeda, nem ao convidado, mas ao gesto mesmo pelo qual um oferece acolhida ao outro, sobretudo se o outro está sem morada. Hospitalidade em termos físicos arquitetônicos, concretos, é dar lugar ao lugar, abrir o lugar, dar passagem, dar passo ao outro, acolher a diferença”.(FUÃO, 2014 p. 52)

O termo hospitalidade tem origem na palavra latina hospes, formado de hostis (estranho) e que significa também, o hostil, o inimigo, hostilis. “A hospitalidade, combina então, hostis + pets (potis, potes, potencia). Configura-se, então uma questão de poder. Assim, há o hospedeiro, aquele que exerce o poder e recebe o estranho, o dono da casa, digamos. E há o hóspede, aquele que é recebido. Mas ao mesmo tempo, há uma disposição originária, há uma quebra da simetria, e essa expropriação originária acaba por fazer do sujeito um anfitrião, mas também o hóspede se converte em refém. Lembremonos, por exemplo, das alcovas das casas de fazenda dos barões de café no Brasil, onde os viajantes, bem recebidos durante o dia, pois eram negociantes, eram convidados a se recolher durante a noite às mesmas, que sem janelas e com grades de ferro como porta, protegiam a família e a propriedade de um suposto intruso.” (SOLIS, 2005, p:72-73)

O medo de se tornar refém de seus “hóspedes”, faz com que a sociedade se feche cada vez mais, praticando uma forma defensiva de arquitetura. Dispositivos de controle são cada vez mais utilizados, e essa arquitetura hostil, que tenta impedir a presença dos moradores de rua, torna-se mais comum.


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1.1 PERFIL DO MORADOR DE RUA EM SÃO PAULO Um dos desafios a ser enfrentado ao se propor um projeto para a população em situação de rua está na sua própria definição. A heterogeneidade dessa população e as diferentes condições em que se encontra e da forma como vive tornam difícil sua caracterização imediata. Para alguns, a rua é apenas algo temporário, pois não tendo onde dormir, torna-se seu único recurso. Já para outros a rua constitui seu local principal de habitação e estabelecimento de relações. O que permite a definição de morador de rua é o fato de que, circunstancialmente ou permanentemente, ambos utilizam a rua como abrigo ou moradia. Há ainda aqueles que buscam abrigo em albergues e centros de referência, mas que sem moradia fixa, são também considerados moradores de rua.

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Relatório Final, Primeiro Censo Nacional e Pesquisa Amostral sobre a População em Situação de Rua. Volume 1, Metodologia, Meta Instituto de Pesquisa de Opinião, Março de 2008.

“O conceito de população em situação de rua refere-se às pessoas que estão utilizando em um dado momento, como local de moradia ou pernoite, espaços de tipos variados, situados sob pontes, marquises, viadutos, à frente de prédios privados e públicos, em espaços públicos não utilizados à noite, em parques, praças, calçadas, praias, embarcações, estações de trem e rodoviárias, a margem de rodovias, em esconderijos abrigados, dentro de galerias subterrâneas, metrôs e outras construções com áreas internas ocupáveis, depósitos e prédios fora de uso e outros locais relativamente protegidos do frio e da exposição à violência. São também considerados componentes da população em situação de rua aqueles que dormem em albergues e abrigos de forma preferencial ou ocasional, alterando o local de repouso noturno entre estas instituições e os locais de rua”3 .


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Pode-se dizer que a principal característica da população de rua é sua heterogeneidade. Os motivos que os levaram às ruas são diversos, assim como a faixa etária, o nível de escolaridade, a forma como sobrevivem, etc. Em São Paulo, a maior parte dessa população encontra-se na idade adulta (48%) e é do sexo masculino (82%).

GRÁFICO 2 - Porcentagem de indivíduos por situação de abordagem e sexo

Segundo o FIPE (2010), os principais resultados do perfil socioeconômico da população em situação de rua da área central de São Paulo, realizado em 2010, a maior parte da população de rua trabalha para obter alguma renda (66,9%), sendo a principal atividade a coleta de materiais recicláveis (62,1%). Apesar da pouca renda, muitos moradores de rua têm gastos com o consumo de algum tipo de droga. “O uso de substâncias psicoativas é uma constante na rua. A grande maioria (74%) declara utilizar: álcool, drogas ou ambos. Ente os jovens de 18 a 30 anos a proporção atinge 80%.O consumo entre os moradores de rua é superior ao encontrado entre os que frequentam os centros de acolhida. O álcool é a substância mais utilizada (65%) sendo mais frequente entre os mais velhos. Mas o consumo de drogas atinge também um grupo significativo (37%) alcançando 66% dos jovens até 30 anos. A droga consumida mais frequentemente pelos jovens é o crack: mais da metade deles declara utilizá-lo.” (FIPE 2010)

A maior parte dos indivíduos vive sozinho (66,9%), grande parte (61,3%) tem parentes em São Paulo, mas que não vivem nas ruas. Apesar de muitos terem filhos (59,1%), a maioria vive com pessoas desconhecidas, sem nenhum grau de parentesco. (FIPE 2010)

GRÁFICO 3 - Porcentagem de indivíduos por idade e situação de abordagem


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Outro problema enfrentado por essa população é a falta de documentos: “Quase a metade dessa população não possui qualquer documento, o que as exclui da vida civil, deixando de ter direitos e de serem reconhecidas como cidadãos. Outros têm alguns documentos, mas é alta a proporção dos que não têm documentos essenciais como a carteira de identidade, o CPF, título de eleitor e carteira de trabalho”.(FIPE 2010)

A reunião desses dados é importante na hora de se projetar equipamentos para os moradores de rua. Devem ser propostos diferentes arranjos, tanto individuais, quanto familiares. Também deve ser considerado o fato de que tendo onde suprir suas necessidades básicas, e oferecendo, por exemplo, auxilio na obtenção de documentos, a possibilidade de entrada no mercado de trabalho aumenta, contribuindo para uma posterior saída das ruas.

1.2 ARQUITETURA DEFENSIVA OU ARQUITETURA “ANTIMENDIGO” A presença dos moradores de rua nas cidades pode gerar desconforto e insegurança por parte da população, que tenta de alguma forma, impedir sua presença. “Um problema comum enfrentado pela população de rua, é a discriminação por parte da comunidade mais ampla. Algumas das percepções comuns que as pessoas possuem a respeito dos moradores de rua são de que eles são perigosos, preguiçosos, ou são desonestos” (MITCHELL, 2003).

Segundo Olivier Mongin (2009), no passado a cidade tinha por vocação integrar por dentro o que vinha de fora; a cidade libertava, emancipava, a despeito dos temores


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que suscitava. Apresentando uma situação privilegiada com seu ambiente imediato, ela tinha obrigação de conter os fluxos que a atravessavam e de acolher as populações vindas de fora. Hoje percebemos que cada vez mais a cidade se fecha, havendo uma organização excessiva do espaço público, fazendo com que haja uma hospitalidade que é ao mesmo tempo hostil. As pessoas cada vez mais se fecham para o estranho, e uma ação feita para atingir uma determinada parte da população, acaba por interferir na cidade como um todo. Quando impedimos que um morador de rua descanse em um ponto de ônibus, também o tornamos impossível para os idosos, para os enfermos, para a mulher grávida que teve uma tontura. Ao tornar nosso ambiente mais hostil, nos tornamos mais hostil dentro dele (ANDREOU, 2015). O artista Nils Norman, documenta essa arquitetura defensiva desde o final da década de 90 através de milhares de fotografias. Segundo ele, essa arquitetura se origina nos espaços de sobra: terrenos muito pequenos para se desenvolverem, mas grandes o suficientes para incentivar a vadiagem. Para Norman, “quanto mais seguro e limpos os espaços públicos se tornam, mais abundante e paranóica se torna a arquitetura defensiva”.4 O controle do espaço público busca muitas vezes a eliminação das áreas residuais da cidade, locais deteriorados que se encontram total ou parcialmente subutilizados e degradados, baixios de viadutos, edifícios abandonados, etc., e que são considerados restos ou sobras da urbanização, lugares ociosos, que perderam sua identidade enquanto parte da vida na cidade.

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Disponível em:http://www.theguardian.com/ society/2015/feb/18/defensive-architecture-keepspoverty-undeen-and-makes-us-more-hostile?CMP=fb_gu Acessado em Abril de 2015


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No entanto, para os moradores de rua, são estes os lugares que lhes oferecem hospitalidade. “(...) O viadutos se tornam uma espécie de céu protetor (The shelltering sky), seu potencial de acolhimento está diretamente ligado a sua utilização social. Hoje, os baixios dos viadutos são lugares de abandono, escuros, sinistros e inóspitos, insalubres para a maioria da população, mas é justamente sob eles que os moradores de rua e os catadores, recicladores vão se situar e sitiar-se como casa e lugar de trabalho. Esses espaços são frutos das mazelas da sociedade moderna, da agitação produzida pelos automóveis, a essência do automóvel é abolir o espaço da espera, dos entrecruzamentos (FUÃO, 2013 p.14).”

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Essa forma de arquitetura defensiva é descrita pela imprensa como arquitetura “antimendigo”. Essa arquitetura faz com que os moradores de rua busquem alternativas diante de obstáculos criados nas cidades que os impedem de se abrigar em espaços públicos. “A arquitetura antimendigo, como passou a ser denominada desde a década de 1980, inclui artefatos que impedem a permanência de moradores de rua em certos locais, dificultando o pernoite em locais mais abrigados e isoladamente (Jornal O Estado de S. Paulo, 26/04/1998). São tubos de água que mantêm as calçadas molhadas, ferragens pontiagudas, gradis que cercam espaços desocupados sob marquises, pisos irregulares, superfícies inclinadas e luzes, que se aliam a estratégias menos camufladas como guardas noturnos e ameaças explícitas. (VARANDA e ADORNO, p. 65)

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Os obstáculos a uma condição clandestina não se limitam às barreiras de ferro colocadas pelo gradeamento de locais.


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Em São Paulo onde a iniciativa privada encampou um projeto de revitalização do Centro, o chão de fachadas comerciais e bancárias, se transformou em camas de faquir e prédios antigos são iluminados evitando a depredação, mas, ao mesmo tempo, como ficam acesos à noite, impedem que mendigos se acolham. Na estação de metrô Parada Inglesa, os paralelepípedos foram assentados em pé sob o viaduto. Alguns prédios recorrem a chuveirinhos de água, mecanismos contra incêndio, que jorram das marquises à menor presença de moradores de rua.5 “As cidades estão engajadas em tornar as instalações e os espaços públicos tão ‘invisíveis’ quanto possível para os sem-teto e os pobres [...] com crescente intervenção da polícia e com o engenhoso design urbano de vocação dissuasiva. Um dos mais comuns, mas embrutecedor, destes estorvos é o banco de ponto de ônibus em forma de barril, que oferece uma superfície mínima para uma pessoa se sentar confortável, enquanto torna completamente impossível dormir sobre ele. Tais bancos ‘à prova de vagabundos’ estão sendo introduzidos na periferia do submundo” (DAVIS, 1993,p. 213-214 apud BRAGA, 2003 p. 40)

Um planejamento urbano que envolva os moradores de rua pode tornar a cidade mais eficiente para todos. Ao criticarmos o fato deles urinarem em espaços públicos não pensamos o quão longe o banheiro publico mais próximos se encontra e nem questionamos a falta da instalações públicas onde eles possam se lavar e lavar suas roupas. A arquitetura defensiva é reveladora de uma série de níveis, porque não é o produto de um acidente ou descuido, mas um processo de pensamento. É uma espécie de crueldade que é considerado, projetado, aprovado, financiado e que se tornou real com o motivo explícito para excluir e assediar. É um sintoma de um confronto entre o público e o privado, da necessidade e da propriedade.

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IMAGENS 09 a 11 Arquitetura “antimendigo”

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Disponível em: http://www.istoe.com.br/ reportagens/28747_ARQUITETURA+DOS+EXCLUIDOS Acessado em maio 2014


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“É dramático reconhecer que essa arquitetura sitiada não é inadvertida, mas uma estratégia projetual deliberada para a segregação socioespacial, que conta com o interesse e incentivo do mercado imobiliário, com a aprovação da parcela da sociedade que a consome e deseja, com a cumplicidade do Poder Público, que não só a permite como, em certos casos, a implementa, e com a participação ativa dos arquitetos, urbanistas e designers, que a projetam”.(ANDRADE, 2008)

Conforme Fuão: “A hospitalidade de uma cidade tem um alto custo e quanto mais se colocam dispositivos de controle e repressão, mais hostil ela se torna”. (FUÃO, 2014 p.64)

1.3 AÇÕES SOCIAIS COM MORADORES DE RUA São diferentes as formas de sobrevivência e organização de quem mora na rua. O senso divide a população em situação de rua entre acolhidos e os que dormem nas ruas. Os principais serviços oferecidos para moradores de rua em São Paulo são os centros de acolhida (albergues), centros de acolhida especial (público específicos como idosos, mulheres e catadores) e os serviços de convivência. Os centros de acolhida servem a atividades variadas, mas principalmente ao pernoite. Os centros de convivência oferecem atividades diurnas. Segundo o Senso houve um aumento de moradores de rua que frequentam os albergues. Em 2000, a população “acolhida” era de 46%, e em 2011 passou a ser 53% dessa população. Ainda assim, o número de vagas disponíveis é menor do que a de moradores de rua.


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“É de se perguntar: por que mais da metade da população não faz uso de albergues ou outra forma de acolhimento? Uma análise que pode ser feita seria pela escassez de albergues disponíveis. O numero de vagas disponíveis nos albergues públicos não passa de 8.000, para uma população próxima de 15 mil pessoas, é de se esperar que metade desta população não tenha onde pernoitar” (QUINTÃO,2012 p. 93).

Mas esse não é o único motivo pelo qual esses serviços não são utilizados. Muitos moradores de rua não utilizam os albergues por considerarem as regras desses locais muito restritas. “O esquema de controle e opressão pode ser observado pelo número de regras e horários impostos aos moradores de rua. Muitos albergues permitem que os moradores de rua somente quem em determinados horários no período noturno. Durante o dia, seja no inverno ou com tempo chuvoso, o morador de rua deve encontrar ocupação e proteção por conta própria fora do albergue.( HOVNANIAN, 2013 p. 68)”

Outro motivo seria a localização inadequada. Os albergues deveriam ser feitos em locais estratégicos, perto da onde a população de rua está concentrada. Fazer um albergue em um local apenas porque a cidade disponibiliza, não produz resultados efetivos. (QUINTÃO,2012) A maior parte desses equipamentos acontece em construções existentes que são adaptadas para abrigar o programa exigido. Em São Paulo, são poucas as formas de intervenção diferenciadas, que foram pensadas e projetadas especialmente para a população em situação de rua. O projeto Oficina Boracea, foi o primeiro espaço em que isso aconteceu, sendo chamados um arquiteto e uma equipe interdisciplinar para discutir e formatar um novo espaço de acolhida.


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1.3.1 PROJETO OFICINA BORACEA FICHA TÉCNICA •ARQUITETOS: Roberto Loeb e Luis Capote •LOCALIZAÇÃO: São Paulo, Brasil •ANO: 2003

PROGRAMA E SERVIÇOS Ocupando um terreno de 17 mil m2, na região da Barra Funda, antigos galpões de transportes da prefeitura foram reformados e adaptados a fim de viabilizar o novo programa. O Projeto oferece diversos serviços, como oficinas profissionalizantes, restaurante, abrigos para idosos, albergues, oficinas temáticas (esportes, música, artes, cultura e idiomas), lavanderia e atendimento médico e odontológico. Um exemplo do diferencial do projeto, é que este contempla um núcleo de atendimento aos catadores de material reciclável, disponibilizando estacionamento para os carrinhos e espaço para coleta seletiva;

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e ainda um canil, com vagas para 30 animais que geralmente acompanham os desabrigados. Apesar da intenção dos arquitetos, há criticas quanto à dimensão do projeto. Ao tentar abranger muitos tipos de serviço, não foi levada em conta a heterogeneidade da população e o local se tornou um ambiente de segregação, onde a população de rua foi afastada da cidade. 14

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IMAGEM 12 Entrada IMAGEM 13 Planta IMAGEM 14 Entrada. Ligação entre recepção do projeto e Patio

IMAGEM 15 Dormitório catadores IMAGEM 16 Banheiros IMAGEM 17 Estacionamento carrinhos

“Ao Imaginar todos os tipos de serviços que poderiam ser usados (todos os serviços, todas as atividades, todas as ações cotidianas), o arquiteto tenta retirar o individuo da cidade, criando uma “cidade” dentro do terreno. Ora, o morador de rua deve ser trabalhado para que possa, assim como qualquer habitante, usar os serviços que a cidade oferece, quando precisar dos mesmos”. (COELHO, apud QUINTÃO. P. 104)



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2. ARQUITETURA INCLUSIVA:

PROJETANDO PARA OS MORADORES DE RUA



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e a arquitetura defensiva é pensada e projetada por alguns arquitetos, por outros são propostas arquiteturas inclusivas, que podem ser tanto intervenções urbanas, como projetos de um edifício planejado para atender a essa população.

2.1 A ÁREA URBANA Na área urbana, a arquitetura inclusiva, pode aparecer na forma de intervenções que tem como objetivo melhorar a convivência com a população de rua. Locais para higiene pessoal, lavar roupas, fazer uma refeição a preço popular, guardar carrinhos, e disponibilizar atividades que criem um envolvimento saudável entre as pessoas e o espaço urbano, são exemplos do que se poderia fazer para melhorar essa convivência. Segundo a arquiteta e urbanista Paula Quintão (2012), mais que oferecer estruturas adequadas à população de rua, é preciso facilitar o acesso dessas pessoas a elas, direcionando as alternativas para as áreas onde costumam circular. “Essa população é um contingente que se refaz, e sempre existirá uma parcela que não quer deixar as ruas. Mas, se alguém que mora na rua tem onde tomar banho, lavar suas roupas, pegar o transporte público, essa pessoa poderá levar uma vida mais digna, entrar no mercado de trabalho e, talvez, queira deixar as ruas no futuro”.(QUINTÃO, 2012)


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Para os pesquisadores, deve-se promover a harmonia entre os moradores de rua e o restante da população, e para isso é necessário inverter essa lógica repulsiva nas grandes cidades. “Essa população é cada vez maior no mundo todo. É fundamental que a cidade e os cidadãos se perguntem o que poderia ser feito para melhorar a relação com a população de rua. O mais importante é a humanização do ambiente urbano”6

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IMAGENS 18 e 19 Academia Cora Garrido IMAGENS 20 e 21 Projeto Igor Guatelli

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Maria Cecília Loschiavo dos Santos. Disponível em: http://zh.clicrbs.com.br/rs/porto-alegre/noticia/2014/08/ e-se-porto-alegre-se-adaptasse-aos-moradores-derua-4575098.html. Acessado em Março 2015

Outra sugestão, é a revitalização de áreas sob viadutos, como podemos ver no trabalho do arquiteto Igor Guatelli (2008). O projeto Cora Garrido, localizado sob o viaduto do café, em São Paulo em uma área de 2200m², atende aproximadamente 6 mil pessoas com uma academia de boxe, pré-escola e biblioteca a partir de um trabalho voluntario administrado pelo ex-lutador de boxe amador Nilson Garrido. O projeto arquitetônico proposto por Igor, optou por “acentuar a dupla condição do local através da criação de um lugar de multiplicidades, combinando espaços de maior especificidade programática como uma biblioteca e escola infantil, com espaços mais fluidos e inexatos, de maior liberdade de ação e possibilidades de re-configurações momentâneas”.(GUATELLI, 2008, p. 40) Essas ações são exemplos de que existe a possibilidade de realização e instalação de projetos arquitetônicos mais humanos, reintegrando, devolvendo a dignidade a usuários, e a perspectiva de se tornarem cidadãos livres de preconceitos e de exclusão.


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2.2 O EDIFÍCIO Quando deixamos a zona urbana, e focamos no projeto de um edifício para moradores de rua, como albergues ou centros de referência, por exemplo, surgem questões de como devem ser esses espaços, com o que o edifício deve parecer e que programa que deve abrigar. Quando indivíduos se tornam moradores de rua, eles sentem diferentes emoções: medo, raiva, angústia, exaustão, confusão, vergonha, depressão e desespero. Muitos estão com fome, doentes e/ou são usuários de drogas (Davis, 2004). Não há uma fórmula para transmitir essas qualidades no projeto do edifício. O arquiteto deve tentar compreender como os indivíduos que chegam em um abrigo (especialmente pela primeira vez) podem se sentir, e criar um lugar que transmita uma impressão de que ele foi projetado especificamente para eles. “O programa, como qualquer projeto arquitetônico, tem que incluir desde dormir, comer, banhar-se, vestir-se, e todas as demais ações cotidianas, como também detalhes da vivência cotidiana, como locais para armazenamento de bens pessoais, locais para estacionar carrinhos, e outras soluções para sua subsistência, que fazem parte do programa arquitetônico mais elementar, que deve ser enumerado pelo cliente e pelo arquiteto”. (QUINTÃO, 2012)

Segundo o arquiteto Sam Davis (2004), o programa arquitetônico de um albergue deve incorporar não somente os requisitos que definem o espaço físico, mas também as expectativas dos diversos usuários sobre como o espaço será utilizado. Visto que a população de rua é heterogênea, cabe ao arquiteto conciliar as exigências conflitantes e estabelecer prioridades.


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Para Davis (2004), “só há uma chance de dar a primeira impressão” de modo que as instalações devem ser convidativas desde sua entrada, devendo ser cada ambiente bem projetado. Ele destaca o que chama de elementos mais importantes do programa para vários tipos de sistema operacional de habitação para os moradores de rua. A ENTRADA

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IMAGEM 22 Recepção

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IMAGEM 23 Balcão recepção define a área drecepção

Os abrigos projetados devem, logo de início, transmitir segurança, e a entrada é fundamental para estabelecer a confiança entre os usuários e a equipe do abrigo. Os espaços devem ser amplos, para que estes sejam capazes de olhar em volta e ver os outros usuários, e entender o que acontece além da recepção. A própria recepção tem uma importância simbólica. Um grande balcão composto por mais de uma pessoa sugere que o abrigo é bem gerido e seguro. Uma área de recepção aberta é mais do que simplesmente uma acomodação para o residente; ela fornece à equipe um meio de supervisionar as atividades, visualmente e/ou auditivamente. ÁREAS PÚBLICAS

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IMAGEM 24 Lounge

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IMAGEM 25 A fachada de vidro do Lounge aberto para a rua permite que as pessaos vejam o que está acontecendo do lado interno e a iluminação natural

Essas áreas têm dois propósitos. Primeiro, elas são um refúgio da rua, e fornecem um local para os assistentes sociais entrarem em contato com os usuários. Segundo, essas áreas incentivam a socialização, já que muitos moradores de rua não tem um senso de comunidade. As áreas de lazer também podem servir àqueles que não são moradores de rua. Sempre há uma sala mais silenciosa, e outra em que a conversa é incentivada.


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Muitas vezes, os espaços públicos estão situados dentro das instalações, e/ou em sua periferia, formando uma transição entre a área pública, e o interior mais privado, definindo o centro em torno do qual ocorrem as atividades privadas. Os pátios podem ser elementos úteis em instalações, suportando funções específicas e promovendo um senso de comunidade.

IMAGEM 26 Pátio central IMAGENS 27 a 29 Divisórias, permitem privacidade e diversas configurações

DORMITÓRIO

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Há mais de um século, os dormitórios vêm sendo a forma mais comum de espaços de dormir em abrigos. Mas para muitos moradores de rua, a experiência de passar uma noite na companhia de estranhos não é agradável. Cada vez mais os abrigos estão dividindo grandes dormitórios em espaços de dormir separados, proporcionando maior privacidade para seus usuários. Através da criação de agrupamentos flexíveis de dez a vinte camas, a equipe pode distribuir o espaço da maneira mais adequada. Quando não é possível fazer quartos de dormir separados, divisórias móveis, meias paredes, e armários, podem ser utilizados para compor áreas mais privativas (DAVIS, 2004).

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A arquiteta Paula Quintão (2012) também sugere a flexibilidade dos dormitórios: “(...) há também de se prever diferentes tipos de arranjo, uma vez que a população não é homogênea: indivíduos sozinhos, casais, pequenos grupos e famílias. O desenho teria, então, que possibilitar uma flexibilidade para acomodar esses diferentes arranjos. Divisórias móveis, que pudessem formar quartos maiores ou menores, de acordo com a necessidade, seria uma ideia” (QUINTÃO, 2012, p.130 ).

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2.2.1 THE BRIDGE HOMELESS ASSISTANCE CENTER

FICHA TECNICA •ARQUITETOS: Overland Partners •LOCALIZAÇÃO: Dallas, Texas, USA •ANO: 2010

IMAGEM 30 Fachada do edifício

PROGRAMA E SERVIÇOS

IMAGENS 31 a 33 Plantas do edifício 30

O projeto oferece uma série de serviços à população de rua, auxiliando as pessoas a encontrarem um caminho para a reinserção na sociedade. O complexo oferece serviços de apoio à saúde, abrigo de emergência, alojamento provisório e de apoio permanente. Também oferece oportunidades de emprego, e auxilio para doentes mentais, viciados, abusados em ambientes domésticos ou de alguma outra forma. 31


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O complexo é composto por seis edifícios organizados em torno de uma série de pátios internos. Uma das primeiras preocupações dos arquitetos foi fazer um programa que atendesse à diversidade da população de rua, como por exemplo, aqueles que preferem dormir ao ar livre. A partir disso, surgiu o conceito de campus, partindo da ideia de ter espaços abertos e protegidos ao mesmo tempo. 32

Foram feitos banheiros e chuveiros externos, que oferecem aos hóspedes a possibilidade de cuidar de suas necessidades básicas pessoais em um local acessível, independentemente do tempo de estadia. Foi feito um local para os hospedes guardarem seus pertences em segurança, incluindo também um canil, já que moradores de rua possuem cães.

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Um pavilhão já existente, foi adaptado para servir de abrigo de emergência para cerca


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de 300 pessoas, que dormem em esteiras. As grandes portas são deixadas abertas para os moradores que se sentem mais confortáveis ao ar livre. Já os dormitórios de longa permanência, são divididos em pequenos nichos, proporcionando maior privacidade para os usuários. Outra preocupação dos arquitetos foi a utilização de vidro nas fachadas, não só para permitir a iluminação natural no interior do edifício mas também para projetar a luz interna durante a noite, destacando o edifício na paisagem.

IMAGEM 33 Pavilhão dormitórios

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IMAGEM 34 Guarda volumes

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Os arquitetos se preocuparam em evitar a imagem tipicamente institucional dos abrigos, buscando uma linguagem que agradasse os usuários e também a população local. O projeto incorpora obras de arte originais com as palavras de moradores de rua gravado em portas de vidro e paredes no interior do complexo.

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IMAGEM 36 Dormitório de longa permanência

IMAGEM 35 Divisórias dormitórios


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Apesar da eficiência deste projeto, vimos que no Brasil, projetos desta dimensão não são os mais adequados, pois o local pode se tornar ambiente de segregação, onde a população de rua é afastada da cidade, como é o caso do Oficina Boracéa.

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No entanto, os elementos e espaços que compõem o edifício, separados, ou em menores proporções, são exemplos que podem ser utilizados na hora de se projetar para os moradores de rua.

IMAGEM 37 Fachada edifício de serviços IMAGEM 38 a 41 Paineis da fachada com frases de moradores de ruas 39

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2.2.2 REDBRIDGE WELCOME CENTRE FICHA TECNICA •ARQUITETOS: Peter Barbers Architects •LOCALIZAÇÃO: Ilford Building, East London •ANO: 2012

PROGRAMA E SERVIÇOS IMAGEM 42 Fachada

O Centro, localizado em um lugar de destaque da cidade, abriga unidades de internação de drogas e álcool, oferece abrigo e oficinas profissionalizantes para moradores de rua. Uma das preocupações do arquiteto foi fazer um projeto “transparente”, tornando sutil a transição entre a rua e o edifício.

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IMAGENS 43 a 46 Plantas edifício

O edifício é composto por uma série de planos cruzados, que se sobressaem ao longo de quatro pavimentos. No térreo, o refeitório é o local mais frequentado, atendendo cerca de 60 pessoas por refeição. Nesse pavimento,

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os moradores de rua tem ainda acesso à banheiro e lavanderia. Todos os dormitórios possuem banheiro próprio. Outra preocupação do arquiteto foi fazer espaços amplos e iluminados, de modo que todo o térreo possui pé direito duplo e fachada totalmente envidraçada.

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IMAGEM 47 Pátio interno IMAGEM 48 Recepção

As fachadas de vidro, além de permitir a iluminação natural, fazem com que o público consiga ver o que está acontecendo no interior do edifício, assim como permite que os internos vejam o que acontece na rua. O edifício conta ainda com um jardim interno, onde ocorrem atividades diversas.

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2.2.3 ABRIGO PARA MORADORES DE RUA DE PAMPLONA FICHA TECNICA •ARQUITETOS: Javier Lavaz •LOCALIZAÇÃO: Pamplona, Espanha •ANO: 2010 IMAGEM 49 Vista edifício

PROGRAMA E SERVIÇOS O centro oferece abrigo e alimento para seus usuários. Em troca, os hóspedes devem se envolver nas tarefas diárias de manutenção, como limpeza, lavagem, jardinagem e pintura, buscando estabelecer um compromisso e respeito com as instalações oferecidas. O arquiteto teve como desafio, realizar uma arquitetura simples, de baixo custo e que pudesse ser executada num curto período de tempo, além de encaixar um programa ao mesmo tempo flexível no seu funcionamento, em que a configuração interior facilitasse a coexistência entre os diferentes usuários e permitisse a

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IMAGENS 50 e 51 Plantas edifício


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realização das diferentes necessidades que compunham um programa relativamente complexo, apesar de seu espaço limitado: quartos, salas de jantar, oficinas ocupacionais, salas de lazer, etc.

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O programa, dividido em dois pavimentos e com entradas independentes, oferece abrigo para curta e longa permanência. No interior, um núcleo central abriga todos os serviços como banheiros, lavanderia e cozinha. Em volta deste núcleo, as áreas de circulação dão acesso ao restante do programa, (dormitórios, cozinhas, oficinas e salas de apoio) que estão dispostos no perímetro externo, a fim de beneficiar a iluminação e ventilação naturais.

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IMAGEM 52 Refeitório IMAGEM 53 Sala convívio

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IMAGEM 54 Detalhe fachada perfís de alumínio

A fachada do edifício é composta por perfis de alumínio, que servem tanto como brise, quanto para dar maior privacidade ao usuários. Por outro lado, esse tipo de fachada, não permite uma conexão com o exterior, como sugere o arquiteto San Davis.


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Os projetos apresentados mostram que há diferentes formas de se projetar para os moradores de rua, porém todos tiveram como objetivo atrair essa população através de uma arquitetura inclusiva e acolhedora. Para a elaboração do exercício de projeto, que será apresentado a seguir, foram retirados elementos dos projetos aqui apresentados, como por exemplo, a flexibilidade dos espaços, o uso de vidro nas fachadas, a concepção de espaços que permitam olhar o que está acontecendo ao redor, etc.; assim como os conceitos propostos pelos estudiosos citados, (implementação de locais para higiene e alimentação, locar equipamentos perto das áreas de concentração da população de rua, criar espaços mais humanizados, etc.), resultando tanto na composição de uma rede de equipamentos para moradores de rua, como no desenvolvimento de um edifício.


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3.PROPOSTA DE PROJETO:

REDE DE EQUIPAMENTOS PARA MORADORES DE RUA


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3.1 A REDE

A

rede se configurou a partir de estudos dos equipamentos existentes, dos caminhos percorridos e das áreas de maior concentração da população em situação de rua na cidade de São Paulo. Os pontos propostos oferecem programas diversos, como albergues, centros de convivência e locais de higiene e alimentação, distribuídos de forma variada, podendo estar ora juntos, ora separados. Esses equipamentos devem ser feitos de tal maneira que não isolem essa população da cidade, mas que admitam sua existência, levando em consideração sua heterogeneidade e permitindo a flexibilidade dos espaços propostos. ESCOLHA DA ÁREA A área de intervenção escolhida abrange os distritos de Santa Cecília, República e Sé. A escolha desta área foi feita a partir de


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dados levantados sobre a concentração de moradores de rua na cidade de São Paulo. Segundo o Censo realizado em 2011, 55,3% dessa população está localizada no centro de São Paulo, principalmente nos distritos escolhidos.


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PROGRAMA DOS EQUIPAMENTOS Os programas dos equipamentos serão distribuídos nas áreas propostas, sendo planejados de acordo com as necessidades do local, sendo dispostos segundo o diagrama ao lado.


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3.2 O EDIFÍCIO Como exercício de projeto, foi escolhido um dos pontos da rede de equipamentos para o desenvolvimento de um projeto “modelo”. Para isso optou-se por um ponto onde pudessem ser contemplados os três tipos de equipamentos propostos (combinação tipo 1). Lotes demolidos

Localizado no largo do Arouche, próximo ao terminal Amaral Gurgel, a área escolhida é formada por quatro pequenos lotes com construções subutilizadas, próximos ao “minhocão”, e uma área sob o viaduto, que hoje encontra-se gradeada. A escolha desse terreno, também permitiu que se fizesse uma proposta de intervenção sob o viaduto, tema que foi discutido anteriormente nesse trabalho.

Terreno do projeto

Área sob o viaduto

Por se tratar de um projeto que tem por objetivo acolher a população de rua, foi levada em conta sua heterogeneidade, ou seja, o programa buscou incorporar plantas livres que pudessem ser modificadas de


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acordo com a necessidade dos usuários. Seguindo essa diretriz, o programa foi distribuído de modo a ser feita uma transição sutil entre o publico (necessidades básicas) e o privado (albergue). O que configura a área aqui chamada de pública oferece acesso aos equipamentos que suprem as necessidades básicas de um indivíduo. Essa área, que funciona como um anexo ao edifício proposto tem livre acesso, podendo ser utilizada por qualquer pessoa. Foi feito um estudo de possibilidades de intervenção sob o viaduto, que acabou resultando em uma estrutura suspensa e em uma praça rebaixada. Essa estrutura abriga um restaurante popular que é utilizado como ateliê nas horas em que as refeições não são servidas. Devido ao pé direito de 4,5m do viaduto, não seria possível a passagem por debaixo dessa estrutura. Foi então que surgiu a proposta de uma praça rebaixada, servindo como local de permanência e refeitório. A praça ainda dá acesso a uma oficina de restauração de móveis, com a

PROGRAMA DESENVOLVIDO


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proposta de que na praça possam acontecer exposições das atividades realizadas nas oficinas oferecidas. No subsolo do edifício proposto, mas com acesso pela praça, encontram-se vestiários, tanques para lavar roupas, estacionamento para carrinhos e um canil, visto que muitos moradores de rua não pernoitam em albergues por não terem onde deixar seus animais ou guardar seus carrinhos. Muitos moradores de rua que chegam em um abrigo estão inseguros ou desconfiados de como o mecanismo funciona, e querem uma garantia visual de que abrigo não é uma prisão. Eles querem ser capazes de olhar em volta, ver as outras pessoas e entender o que está além da recepção (Davis, 2004). Deste modo, a recepção, assistência social, áreas de lazer, computadores, biblioteca e oficinas, que são os locais onde acontecem principalmente as atividades diárias, foram feitas em meios níveis, ou seja, lajes intercaladas, que criam um vazio central permitindo a visibilidade dos demais pavimentos. Esses pavimentos, além de serem acessados por elevadores e escadas, podem ser acessados por rampas externas que contornam o edifício, permitindo maior liberdade dos usuários. No meio do edifício foi feito uma laje–terraço, com um café. Uma passarela conecta este pavimento ao viaduto, permitindo a passagem de pedestres nas horas em que o “minhocão” está fechado para automóveis. Na parte mais privativa do projeto, está localizado o albergue. A partir dai as lajes não são mais intercaladas, e o acesso é possível somente através de elevadores e escada. Os dormitórios foram divididos em dois pavimentos, um masculino e outro para mulheres e famílias. O dormitório masculino, com capacidade para 30 pessoas, é configurado por nichos que possui uma cama e um armário para guardar pertences pessoais. Apesar de não serem quartos individuais, as divisórias oferecem flexibilidade do espaço e privacidade


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aos usuários. O outro pavimento, onde está localizado o dormitório feminino e familiar é composto por uma malha metálica onde passam cortinas, permitindo diversas configurações, dependendo da quantidade de pessoas. No ultimo pavimento encontra-se a administração, área para os funcionários, almoxarifado, lavanderia e vestiários para os usuários hospedados no albergue. Na cobertura, uma horta serve como oficina e produz alimentos para o restaurante popular. A fachada do edifício é composta por uma pele de vidros fixos e pivotantes, proporcionando aos usuários a vista do entorno e trazendo, de certa forma, a cidade para dentro do projeto. Nos andares superiores, onde localiza-se o albergue, uma segunda pele feita de chapa perfurada, serve como brise e permite maior privacidade à área dos dormitórios.


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PERSPECTIVA EXTERNA


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PERSPECTIVA EXTERNA


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PERSPECTIVA EXTERNA


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PERSPECTIVA NOTURNA


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PERSPECTIVA INTERNA - dorm. feminino e familiar

PERSPECTIVA INTERNA - dorm. masculino


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PERSPECTIVA INTERNA - corredor lateral



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CONSIDERAÇÕES FINAIS



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C

omo vimos, a existência dos moradores de rua é um problema crônico. “É utopia pretender, portanto, que políticas públicas possam reintegrar toda a população e impedir que novos moradores surjam nos centros urbanos, e até mesmo em zonas rurais”. (SCHOR, 2012 apud. QUINTÃO, 2012, p. 113) A questão da hospitalidade, no que se refere aos moradores em situação de rua, nos faz concluir que existe uma condição de impasse com relação à cidade que talvez os devesse acolher, mas que na realidade os repele. Há uma dificuldade em considerar as diferenças, o não igual não apenas como um intruso, ou um inimigo, mas como realmente diferente. Essa dificuldade, muitas vezes, se expressa na forma de uma arquitetura defensiva que acaba por tornar a cidade mais hostil. Ao mesmo tempo, ao longo da pesquisa, foram apresentadas soluções arquitetônicas inclusivas que tem por objetivo oferecer estruturas adequadas à população de rua, buscando inverter essa lógica repulsiva, promovendo harmonia entre os moradores de rua e a cidade. Essas soluções arquitetônicas podem ocorrer tanto na área urbana - quando incluem aqueles que, a principio não querem deixar as ruas - quanto na forma de edifícios específicos para essa população. A maior dificuldade de se projetar para população de rua está em sua diversidade. Por ser uma população heterogênea, o arquiteto irá trabalhar com infinitas possibilidades de programas. Portanto, é necessário que se proponha flexibilidade de programas e espaços.


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A proposta de uma rede de equipamentos para moradores de rua no centro de São Paulo, e o posterior desenvolvimento de um dos pontos propostos dessa rede, buscou colocar em prática determinados conhecimentos adquiridos ao longo da pesquisa, mostrando algumas possibilidades de como poderia ser um projeto para essa população. Não há uma fórmula de como fazer um projeto para essa população. Trabalhar com a população de rua, é trabalhar com o incerto, com o eventual. A arquitetura nos permite diversas possibilidades, e cabe ao arquiteto estudar a melhor maneira de executá-la. “As questões construtivas fazem parte da estrutura do pensamento arquitetônico, porém os demais aspectos não podem ser negligenciados. Arquitetura é pensamento, arte e linguagem, e é também estética, materialidade e funcionalidade inseridas em um contexto social. Arquitetura é tudo isso e muito mais, é espaço de representação social e política. Projetar arquitetura é fazer poesia com o espaço. É dar forma ao lugar onde as pessoas interagem. Onde a vida acontece. O desenho do projeto não é retórico, é poético.” (DORFMAN, 2014, p. 163)




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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS



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CRÉDITOS DE IMAGENS



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GRテ:ICOS 1 a 3 - Fonte: Censo 2011

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IMAGENS 22 a 29 - Fonte - DAVIS, 2004 IMAGENS 30 a 36 - Fonte - www.overlandpartners.com IMAGENS 37 a 41 - Fonte: http://www.gordonhuether.com IMAGENS 42 a 48 - Fonte: http://www.dezeen.com/2012/02/27/redbridge-welcome-centre-by-peter-barber-architects/ IMAGENS 49 a 51 e 54 - http://www.larrazarquitectos.com/ IMAGENS 52 e 53 - Fonte: http://www.pamplona.es/



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