Editorial Presidente do Tribunal: Desª Maria Zeneide Bezerra Diretor-Geral: Ana Esmera Pimentel da Fonseca Secretário Judiciário: Sivanildo de Araújo Dantas Coordenador de Gestão de Informação: Anni Chyara de Lima Avelino (em substituição) Chefe da Seção de Biblioteca e Editoração: Carlos José Tavares da Silva
As fichas com informações abaixo de cada fotografia correspondem a um resumo da Ficha do Catálogo Iconográfico adaptada para esta publicação
Editoração, Diagramação e Supervisão: Ana Paula Vasconcelos do Amaral e Silva Araújo Redação de textos: Ricardo Alexandre Peixoto Barbosa (estagiário do Centro de Memória Prof. Tarcísio Medeiros) Pesquisa: Ricardo Alexandre Peixoto Barbosa (estagiário do Centro de Memória Prof. Tarcísio Medeiros)
2
Endereço: Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Norte. Seção de Biblioteca e Editoração. Pra. André de Albuquerque, 534 Centro CEP: 59.025-580 Natal-RN Telefone: (84) 4006 5691 e-mail: sbe@tre-rn.gov.br
AGRADECIMENTOS
As fotografias, postais e documentos utilizados nesta publicação fazem parte do acervo especial Alzira Soriano, do Centro de Memória Prof. Tarcísio Medeiros, do Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Norte. Todo o acervo Alzira Soriano foi doado ao Centro de Memória Prof. Tarcísio Medeiros pela família de Alzira Soriano.
SUMÁRIO 7 11 15 23 33 37 43
Apresentação Biografia Genealogia Memórias Política Correspondências Imprensa 5
“ O que a memória ama fica eterno.” Adélia Prado
6
APRESENTAÇÃO Muito se pode discutir acerca do sentido da história, sobre sua linearidade e progressão,
Teríamos hoje, menos de cem anos depois da eleição de Alzira, uma presidente da República,
ou sobre seu caráter caótico, bem como muito se pode questionar se será legítimo olharmos o
e outras tantas mulheres ocupando o Executivo no nosso país?
passado a partir de um ponto de chegada, tomando esse ponto de chegada como único fim
A eleição de Alzira Soriano não favoreceu a posterior conquista do direito de voto feminino,
possível para os eventos anteriores. Assumindo esse risco, contudo, propõem-
em 1932? Alzira Soriano, com sua coragem e
se os seguintes questionamentos... A emancipação política feminina estaria
destemor, logrou abrir e desbravar novos caminhos; logrou dar um passo de gigante no que
hoje no estágio que está se Alzira Soriano não tivesse aceito o convite do Governador Juvenal
diz respeito às pretensões e conquistas femininas rumo à igualdade. Sabia, como sujeito histórico,
Lamartine e de Bertha Lutz, nos idos anos 20, para concorrer à Prefeitura de Lages?
que participava, segundo suas próprias palavras, de uma evolução que abria uma clareira no 7
convencionalismo, que fazia “ressurgir a nova faceta dos sagrados direitos da mulher”. E prosseguia, segura de si, em seu discurso de posse: “Inovação estética não pode ser, o que se observa é a consciência elegante de uma conquista”. A história de Alzira Soriano torna-se tanto mais relevante quando se percebe a distância no tempo entre ela e as outras mulheres que ocuparam cargos no Executivo. Cinquenta e sete anos é a distância que a separa de Maria Luiza Fontenele, que em 1986 se tornou a primeira mulher a ocupar o cargo de Prefeita de uma capital, Fortaleza. A distância é a mesma para a primeira governadora, Iolanda Fleming, no Acre, em 1986,
8
e é ainda maior se pensarmos em Luiza Erundina, primeira prefeita da maior cidade do país (São Paulo), em 1989. Dilma Rousseff foi eleita presidente mais de oitenta anos depois de Alzira Soriano ser eleita prefeita. A distância é enorme, mas, não esqueçamos, a experiência alimentou sobremaneira as expectativas. Foi esse tempo passado, de experiências vitoriosas e glorificantes, de vitórias femininas como a de Alzira Soriano, que foi alimentando as expectativas e sonhos, as ambições, pretensões e coragem das mulheres brasileiras. O passado agiu, e continua agindo,
sobre nós, sobre nossas idealizações temporais. O passado é, e foi, literalmente, um “passado presente”. E ainda bem que assim é, que a memória, o registro, a fonte - escrita, oral, material, iconográfica - vem nos convidando a refletir e a agir, vem nos alertando e orientando. As ações de Alzira tinham, inequivocamente, esse sentido orientador. Tinham caráter teleológico, eram orientadas para um objetivo e finalidade: a emancipação da mulher. Desde o dia em que a convidaram para se candidatar à Prefeitura de Lages, possivelmente se questionava sobre aceitar o convite, formalizar uma candidatura, concorrer à eleição, e a resposta
9
que obtinha era sempre: para lutar por um futuro
para as mulheres de hoje e de amanhã1.
mais justo, mais igual, em que as mulheres tenham os mesmos direitos e as mesmas oportunidades que os homens. Suas ações eram, desse modo, orientadas para um progresso; progresso social, cultural, e das mentalidades. Progresso que ela logrou alicerçar, juntamente com as ideias feministas da época, e que se desenrola até os dias de hoje. Contudo, os dias de hoje não representam, certamente, o ponto de chegada que Alzira Soriano idealizou. Há ainda muito a fazer no que tange à igualdade entre homens e mulheres. Preservemos, entretanto, a memória de Alzira, que tão importante foi nessa vontade emancipadora, e que tão inspiradora pode ser
10
________ 1 JUSTE, Marília. 82 anos antes de Dilma, Alzira Soriano abriu espaço feminino no Executivo. Disponível em: http:// g1.globo.com/politica/noticia/2010/11/80-anos-antes-de-dilmaalzira-soriano-abriu-espaco-feminino-no-executivo.html. Acesso: 21 jan. 2016.
BIOGRAFIA “Sou como você me vê. Posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania, Depende de quando e como você me vê passar.” Clarice Lispector
Alzira Soriano, filha primogênita do coronel Miguel Teixeira de Vasconcelos e de Dona Margarida, nasceu a 29 de abril de 1897, em Jardim de Angicos. Dezessete anos mais tarde, ao completar seu aniversário, casou na igreja da mesma terra com Thomaz 11
Soriano de Souza Filho, jovem promotor natural de Recife, de quem teve quatro filhas (Sônia, nascida a 21 de setembro de 1915, em Jardim de Angicos; Ismênia, nascida a 4 de outubro de 1917, em Ceará-Mirim; Maria do Céu, nascida em 1918, também em CearáMirim, falecida de sarampo antes de completar um mês; e Ivonilde, nascida a vinte e cinco de março, em Jardim de Angicos, pouco depois de o pai haver falecido de gripe espanhola, aos 9 de janeiro do mesmo ano). Aos 22 anos, Alzira Soriano enviuvou, tendo a partir desse momento “aprendido a trabalhar e a viver modestamente com honra”. Dedicou-se, então, com afinco, ao trabalho na
12
Fazenda Primavera, ocupando o papel principal na administração da mesma, nomeadamente no pasto, na lavoura, na lida da casa e na criação de suas filhas. Dez anos mais tarde, em 1932 (depois de o Senador do Rio Grande do Norte Juvenal Lamartine, induzido pela líder feminista Bertha Lutz, ter influenciado a redação da Lei nº 660, de 25 de outubro de 1927, em que se lia: “No Rio Grande do Norte, poderão votar e ser votados, sem distinção de sexo, todos os cidadãos que reunirem as condições exigidas por lei”), senhora de uma ímpar vontade emancipadora, Alzira Soriano, apoiada pelo Partido Republicano, concorreu à eleição para Prefeito do Município de Lages, no Rio
Grande do Norte, havendo vencido o referido pleito com 60% dos votos e tornando-se, desse modo, a primeira mulher da América do Sul a assumir o governo de uma cidade, o que foi digno de nota por parte de jornais como o The New York Times e marcou, de forma indelével, o início da emancipação política da mulher no Brasil. Sua gestão como Prefeita de Lages durou, no entanto, apenas um ano, devido à sua recusa em permanecer no cargo como interventora após a Revolução de 30 e ao seu descontentamento com a eleição de Getúlio Vargas. Somente em 1947, iniciada a Quarta República Brasileira, voltou a exercer funções municipais, desta feita como vereadora do Município
13
de Jardim de Angicos, cargo para o qual foi eleita três vezes. Faleceu aos 28 de maio de 1963, em Natal, vítima de câncer no colo do útero.
________ 2 SOUZA, Heloisa Maria Galvão Pinheiro de. Luisa Alzira Teixeira de Vasconcelos: primeira mulher eleita prefeita na América do Sul. Natal: UFRN, 1993.
14
GENEALOGIA “Se tanto me dói que as coisas passem É porque cada instante em mim foi vivo Na busca de um bem definitivo Em que as coisas de amor se eternizassem.” Shopia de Mello Breyner Andersen
15
16
17
18
19
20
21
22
MEMÓRIAS “Minha fiamília anda longe,, - Na terra, na lua, em Marte - Uns dançando pelos ares, outros perdidos no chão”
Cecília Meireles
23
24
25
26
27
28
29
30
31
32
POLÍTICA “Tudo que criei, imaginei e defendi nunca foi feito. E eu dizia como ouvia a moda de consolo: Nasci antes do tempo. Alguém me retrucou você nasceria sempre antes do seu tempo (...).” Cora Coralina
Discurso de Posse da Prefeita de Lages JORNAL A REPÚBLICA 04/01/1929
Determinaram os acontecimentos sociais do nosso querido Rio Grande do Norte na sua constante evolução da democracia, que a mulher, esta doce colaboradora do lar, se voltasse
33
também para colaborar com outra feição na sua obra
fazendo no Rio Grande do Norte uma verdadeira
político-administrativa.
escola de democracia fundindo-o numa grande
De outro modo, portanto, não poderia se ser.
oficina de trabalho.
As conquistas atuais, a evolução que ora
É justamente o presidente Juvenal Lamartine
se opera, abrem uma clareira no convencionalismo,
quem encarna na hora histórica que atravessamos,
fazendo ressurgir a nova faceta dos sagrados direitos
o verdadeiro condutor de homens, na convicção de
da mulher.
assim o fazendo, reintegralizar o Rio Grande do Norte
Inovação estética não pode ser, o que se observa é a consciência elegante de uma conquista.
nas suas mais justas aspirações de progresso e de liberdade.
Um espírito brilhante fazendo da política
Assim, neste ambiente de liberdade e
verdadeira obra de educador, fundiu na retemperada
trabalho, de patriotismo e de tolerância tornou-se
abnegação de suas virtudes cívicas, a realidade do
em realidade o nosso sonho de igualdade política.
movimento em torno da emancipação política da mulher.
A prova eloqüente de reconstrução políticosocial, caracteriza-se pela minha eleição ao posto
Este educador político é o eminente Senador José Augusto.
de prefeita deste município. Tomando posse do cargo, em que a vossa
Sucedeu-o no governo, este outro espírito,
bondade tão generosa e confiadamente me investiu,
cuja energia fetichista e inteligência admirável está
não ouso fazer promessa que a minha incapacidade
34
e talvez também a insuficiência dos estímulos
temor de lhe faltarem forças bastante para levá-la a
necessários me poderiam privar de cumprir.
um termo brilhante.
Nem o momento é daqueles em que essa
Não é a mim que compete recordar o
ousadia fosse fácil porque, assim como o nosso
movimento liberal de que resultou em Lajes a escolha
pequeno, mas laborioso e próspero Estado, volta hoje
duma prefeita para o triênio que hoje começa, nem
as suas vistas curiosas para o município de Lajes,
tão pouco julgo necessário para um meio adiantado,
como campeão duma iniciativa audaciosa, vejo que
como felizmente já é o nosso, lembrar exemplo de
as vossas convergem para a obscura individualidade
energia, de vontade e de capacidade, de trabalho da
duma patrícia, cujo único mérito é o de não recuar
mulher, bastantes, para justificar a escolha que
quando a mandam para a frente.
fizestes.
Não desejo portanto formular programa, embora seja uso fazê-lo em ocasiões como esta.
É porque, sem prejuízo da natural modéstia, posso assegurar-vos ao menos o esforço veemente
Sei que vamos tentar uma experiência difícil
para não desmerecer, quero apenas, seguindo um
– difícil, porque a função é espinhosa, difícil porque
grande exemplo da história política nacional,
essa experiência é a primeira a realizar-se no nosso
registrar o que não farei no exercício do mandato,
país, difícil sobretudo porque a incumbida de sua
de preferência a alinhar projetos, que talvez não
execução, reconhece e publicamente confessa o
pudesse realizar.
35
Não me prevalecerei do cargo para fazer
jardim, sala, gabinete de trabalho, mesa, despensa
favores a amigos e ainda menos para negar justiça
e tudo se deve equilibrar sobre a pauta rigorosa dos
a adversários.
ganhos e das despesas: o município tem as suas
Não abusarei dele para obter provento, seja
ruas com a sua arborização e iluminação, as escolas
qual for a natureza destes. O infortúnio do meu
que são os gabinetes, onde se prepara o seu futuro,
estado civil ensinou-me a trabalhar e a viver
a viação, o amparo à lavoura e ao comércio, que lhe
modestamente com honra, e não trocarei jamais a
fornecerão as rendas – e tudo se regerá também pelas
calma da consciência e altivez da mediania por
possibilidades destes e pela economia nas despesas.
vantagens mais ou menos suspeitas que pudesse
Pois sejamos uma família; demos não só ao
auferir da função pública. Destas negativas podereis deduzir uma afirmativa única e esta faço desassobradamente: a
Estado, como à grande Pátria, o exemplo dessa união fraterna, só por si capaz de nos garantir bem estar e prosperidade. E, unidos trabalhemos.
de reunir todas as minhas forças para não
Aqui estarei para isso e pela minha parte peço
desmerecer de excepcional prova de confiança dos
a Deus que me guie e aos meus patrícios que me
que me elegeram Prefeita de um município próspero
ajudem.
e de tão largo futuro, como a nossa querida Lajes. Suponhamos que este município é uma grande família unida e solidária. A família tem um
36
CORRESPONDÊNCIAS “Saudades! Sim... talvez... e por que não? Se o sonho foi tão alto e forte Que pensara vê-lo até a morte Deslumbrar-me de luz o coração! ” Florbela Espanca
37
38
39
40
41
42
IMPRENSA “Eu
sou aquela mulher que fez a escalada da montanha da vida, removendo pedras e plantando flores�. Cora Coralina
43
44
45