UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL
ANA CAROLINA MOSELE VIVAN
CINCO ESTRATÉGIAS QUE O BUZZFEED BRASIL UTILIZA PARA VIRALIZAR AS PUBLICAÇÕES NO FACEBOOK
Caxias do Sul 2016
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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL HABILITAÇÃO EM JORNALISMO
ANA CAROLINA MOSELE VIVAN
CINCO ESTRATÉGIAS QUE O BUZZFEED BRASIL UTILIZA PARA VIRALIZAR AS PUBLICAÇÕES NO FACEBOOK
Monografia do Curso de Comunicação Social, apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo, na Universidade de Caxias do Sul. Orientadora Profa. Ma. Ana Laura Paraginski
Caxias do Sul 2016
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ANA CAROLINA MOSELE VIVAN
CINCO ESTRATÉGIAS QUE O BUZZFEED BRASIL UTILIZA PARA VIRALIZAR AS PUBLICAÇÕES NO FACEBOOK
Monografia do Curso de Comunicação Social, apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo, na Universidade de Caxias do Sul. Orientadora Profa. Ma. Ana Laura Paraginski APROVADA EM: ____/____/____
Banca Examinadora
________________________________________________ Profa. Ma. Ana Laura Paraginski Universidade de Caxias do Sul
________________________________________________ Profa. Ma. Adriana dos Santos Schleder Universidade de Caxias do Sul
________________________________________________ Profa. Dra. Marlene Branca Sólio Universidade de Caxias do Sul
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AGRADECIMENTOS
À minha família, principalmente à minha mãe, à minha avó, ao meu padrasto e ao meu avô, por me proporcionar chegar à esta etapa e me aguentar durante o período de monografia. Se estou aqui, hoje, é por ―culpa‖ deles que me incentivaram desde os tempos de colégio para eu ser uma profissional competente. Às professoras Ana Laura Paraginski e Ana Maria Acker, por acreditarem em minhas ideias e abraçarem a causa comigo, auxiliando-me com referências bibliográficas e direcionando o andamento da pesquisa. Aos pilotos da Aeroplano, por me apoiarem nesta jornada e deixarem eu dedicar um tempinho a mais dos meus dias para a monografia. Ao Vagner Espeiorin, por ter me acompanhado desde o início e me aconselhado em diversos momentos. À Paula Sperb, por ter me mostrado um universo lindo, mágico e viciante chamado redes sociais. Aos meus amigos por entenderem o motivo da minha ausência durante o semestre e que agora irão comemorar esta conquista comigo. A todos, muito obrigada!
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Você só vive uma vez. É sua obrigação aproveitar a vida da melhor forma possível. Jojo Moyes
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RESUMO Este trabalho apresenta uma análise de conteúdo das estratégias de viralização da fanpage do BuzzFeed Brasil no Facebook. Além de analisar as estratégias, o trabalho tem como objetivo discutir a produção de conteúdo para o jornalismo na internet e estudar o contexto de compartilhamento e interatividade em fanpages do Facebook. Constata-se, inicialmente, que, na maioria das vezes, os posts do BuzzFeed Brasil são muito compartilhados, tornando-se um viral na web. Assim, neste trabalho, ainda será feita uma análise dos processos editoriais destas publicações que alcançam altos índices de compartilhamento. Para um melhor entendimento, inicialmente, serão apresentados conceitos teóricos referentes à internet, às redes sociais, com ênfase no Facebook, e, por fim, à viralização na web. Em seguida, serão explicadas as teorias do jornalismo online e como ele se comporta nas redes sociais. Em um terceiro momento, será apresentado o objeto de estudo da pesquisa – o BuzzFeed – e se dará início ao processo de análise, com as metodologias de pesquisa qualitativa, pesquisa bibliográfica, estudo de caso e análise de conteúdo. Sabe-se que é difícil prever o que será viralizado na rede, porém é possível estudar as estratégias que a página utiliza para conseguir tal feito. Para isso, serão analisados tópicos do corpus delimitado, como o formato, o conteúdo, a linguagem, a imagem e as interações das postagens mais viralizadas. Ao final, a pesquisa apontará as estratégias utilizadas pela fanpage do BuzzFeed Brasil para viralizar o conteúdo publicado. Palavras-chave: jornalismo online; redes sociais; Facebook; viralização; BuzzFeed.
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ABSTRACT This paper presents a review of the content of the viralization strategies of the fanpage BuzzFeed Brazil on Facebook. In addition of revieing the strategies, the paper has as its aim to discuss the production of the content for the journalism on the Internet and to study the sharing context and interactivity in fanpages on Facebook. It appears, at first, that in most cases, the posts of BuzzFeed Brazil are very shared, making it a viral on the web. So, this paper will also make an analysis of the editorial processes of these publications that reach high share indexes. For a better understanding, initially, theoretical concepts related to the internet, social networks will be presented, with emphasis on Facebook, and finally viralization on the web. Then the online journalism theories and how they behave in social networks will be explained. In a third step, the research object of the study will be presented – the BuzzFeed – and it will begin the review process, with the methods of qualitative research, bibliographic research, study of the case and content analysis. It is known that it is difficult to predict what will be a viral on the network, but it is possible to study the strategies the page uses to achieve such situation. For this, topics will be analyzed from the delimited corpus, as the format, content, language, image and interactions of the viralized posts. Finally, the research will give the strategies used by fanpage BuzzFeed Brazil to viralize the content published. Keywords: online journalism; social networking; Facebook; viralization; BuzzFeed.
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1. As reações do Facebook .......................................................................... 36 Figura 2. Página inicial do BuzzFeed Brasil ............................................................ 66 Figura 3. 22 perguntas sinceras que gays e lésbicas querem fazer para os homofóbicos ............................................................................................................. 73 Figura 4. 16 histórias da vida de quem tem cara de bravo ..................................... 74 Figura 5. Este gif do que fazer com o título de eleitor está sendo muito compartilhado no Facebook ..................................................................................... 75 Figura 6. Eis aqui um manifesto em defesa do bombom Caribe ............................. 76 Figura 7. 12 tuítes que ―desenharam‖ a cultura do estupro..................................... 78 Figura 8. 29 coisas que nós mulheres evitamos fazer porque tememos por nossa segurança ................................................................................................................ 79 Figura 9. 15 dilemas que já passaram pela cabeça de toda pessoa pensativa demais ..................................................................................................................... 80 Figura 10. 18 fotos que mostram como a sua vida muda depois que você adota um gato .......................................................................................................................... 83
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Sites mais acessados no Brasil ............................................................... 20 Tabela 2. Sites de notícias mais acessados no Brasil ............................................. 21 Tabela 3. Dez posts mais viralizados de 8 de maio a 8 de junho de 2016 .............. 71 Tabela 4. Interações via Facebook dos dez posts analisados ................................ 85
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 12
1 INTERNET ............................................................................................................ 15 1.1 HISTÓRICO ....................................................................................................... 15 1.1.1 Marco Civil da Internet .................................................................................. 18 1.2 SITES ................................................................................................................ 19 1.3 WEB 2.0 ............................................................................................................. 21 1.4 REDES SOCIAIS ............................................................................................... 23 1.4.1 Facebook ....................................................................................................... 31 1.4.2 Viralização na Internet .................................................................................. 38
2 JORNALISMO ...................................................................................................... 45 2.1 JORNALISMO NA INTERNET ........................................................................... 45 2.1.1 Hipertextualidade........................................................................................... 48 2.1.2 Multimidialidade ............................................................................................ 49 2.1.3 Personalização de conteúdo ........................................................................ 52 2.1.4 Memória .......................................................................................................... 54 2.1.5 Atualização contínua ................................................................................... 55 2.1.6 Interatividade ................................................................................................. 56 2.2 JORNALISMO NAS REDES SOCIAIS ............................................................... 60
3 ANÁLISE ............................................................................................................... 62 3.1 METODOLOGIA ................................................................................................. 62 3.1.1 Pesquisa qualitativa ...................................................................................... 62 3.1.2 Pesquisa bibliográfica .................................................................................. 62 3.1.3 Estudo de caso .............................................................................................. 63 3.1.4 Análise de conteúdo ..................................................................................... 64 3.2 O BUZZFEED ..................................................................................................... 66 3.3 O BUZZFEED NO FACEBOOK ......................................................................... 69 3.4 DELIMITAÇÃO DE CORPUS ............................................................................. 70 3.5 ANÁLISE ............................................................................................................ 71
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3.5.1 Formato .......................................................................................................... 72 3.5.2 Conteúdo ........................................................................................................ 77 3.5.3 Linguagem ..................................................................................................... 81 3.5.4 Imagem ........................................................................................................... 84 3.5.5 Interatividade ................................................................................................. 85 3.6 FECHAMENTO DA ANÁLISE ............................................................................ 86
CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 88
REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 92
ANEXOS .................................................................................................................. 97 1 PRINTS ................................................................................................................. 97 2 PROJETO DE PESQUISA .................................................................................. 107
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INTRODUÇÃO Há cada dia, a Internet altera ainda mais a forma de comunicação da sociedade. Se antes bastava ler os principais jornais impressos e acompanhar os telejornais e programas de rádio para se manter informado, hoje a possibilidade de conteúdo na web é gigantesca. São milhares de sites com os mais variados formatos disponíveis a todos que têm acesso à Internet a qualquer hora e em diferentes locais, utilizando computadores, smartphones e tablets. Mais do que nunca, a velocidade integra o processo comunicacional e, como tudo acontece muito rápido, na Internet, é cada vez mais fácil estar a par das informações. Além disso, a web possibilita ao internauta acompanhar a mesma notícia abordada de diferentes visões e formatos, de acordo com o perfil do veículo de comunicação. Seguindo o raciocínio, os sites de redes sociais também alteraram a forma de consumo da informação. Antes da existência deles, era comum discutir os assuntos do momento em pequenos grupos presenciais. Ainda havia a possibilidade de interagir com os veículos por canais de comunicação, via cartas do leitor, por exemplo. Com a introdução das redes sociais na Internet, a comunicação ficou mais fácil e, para interagir com a informação, basta clicar em alguns botões. Agora, o internauta interage com os veículos de forma mais rápida, via fóruns e e-mails, por exemplo, além de ter a oportunidade de curtir, comentar e compartilhar sua opinião sobre os acontecimentos em sua rede de contatos, em especial no Facebook, que é a maior rede social do mundo, com 1,65 bilhão1 de usuários, segundo as pesquisas mais recentes divulgadas em abril de 2016. Além disso, o aumento da procura por conteúdos relevantes nas redes sociais, principalmente nas fanpages do Facebook, fez com que os veículos de comunicação aumentassem a atenção para os novos canais, pensando em formatos específicos para cada rede social, de acordo com o público-alvo de cada uma delas. Quando uma publicação é muito compartilhada, ela pode se transformar em um viral na web, que nada mais é do que uma notícia que tem a capacidade de se espalhar pela rede de forma rápida e intensa. Um dos especialistas em produzir conteúdo compartilhável, considerado até como uma fábrica de virais, é o site BuzzFeed (buzzfeed.com), que tem uma média de 150 milhões de usuários mensais 1
Fonte: Assuntos Criativos, disponível em <http://www.assuntoscriativos.com.br/2016/05/os-novosdados-surpreendentes-do.html>. Acesso em maio de 2016.
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(SARDÁ; LUPINACCI, BARBOSA, et all, 2014). O site de notícias e entretenimento, fundado em 2006 por Johan Peretti, é conhecido por publicar o conteúdo, na maioria das vezes, em formato de listas numeradas, com assuntos que variam de comportamento a dicas de culinária, de fofocas de celebridades a sessões de nostalgia, normalmente acompanhadas de imagens animadas com um tom de humor. O sucesso do BuzzFeed extrapolou as fronteiras dos Estados Unidos e, atualmente, o site já tem colaboradores em quatro países – Inglaterra, França, Espanha e Brasil. Além de postagens traduzidas da versão norte-americana, cada redação produz conteúdo próprio, valorizando a cultura local, mas sem perder a essência do veículo – a preferência por conteúdos em formato listicle (list + article), que é a marca registrada do site. Porém, as populares listas do BuzzFeed já existiam antes. Assim como a viralização, que não surgiu no meio digital – ela existe desde o jornalismo do século XIX, quando os editores assinavam vários jornais para replicar conteúdos que pudessem servir para as suas publicações. As postagens, normalmente no formato listicle, mantêm um padrão leve e descontraído, abusando do humor em diversas situações. Porém, o site também trabalha com questões mais sérias. Nesse caso, as listas funcionam como uma espécie de resumo do que aconteceu, fazendo uma ligação com a publicação original. Além disso, o BuzzFeed possui uma linguagem típica da web e um padrão de conteúdo já reconhecível no meio online. Dessa forma, mais do que buscar informação, o internauta que acessa o BuzzFeed procura também uma forma mais leve de abordar o conteúdo, além de publicações que sejam mais descontraídas, ideais para relaxar dos conteúdos do dia a dia. Com uma questão norteadora que busca entender quais são as estratégias de viralização da fanpage do BuzzFeed Brasil, este trabalho apresenta duas hipóteses. A primeira delas deduz que o formato de listas é popular nas redes sociais e costuma atrair a atenção do internauta nos posts, fazendo com que o conteúdo viralize na web. A outra hipótese diz que a linguagem, as imagens e os memes ajudam o processo de viralização da postagem. Além de responder a questão norteadora da pesquisa e comprovar ou não as duas hipóteses propostas, o trabalho tem como objetivo analisar as estratégias de viralização da fanpage do BuzzFeed Brasil, além de discutir a produção de conteúdo para o jornalismo na
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internet e estudar o contexto de compartilhamento e interatividade das fanpages do Facebook. Para responder à questão norteadora, a pesquisa está dividida em três capítulos. Primeiramente, opta-se por contextualizar a Internet, passando por um breve histórico e incluindo as definições de sites e Web 2.0, para, depois, imergir na teoria das redes sociais, nas características do Facebook até chegar ao conceito de viralização na web. Em seguida, no capítulo 2, serão explicadas as teorias do jornalismo online, com foco nas seis características propostas por Palacios (2007) – hipertextualidade,
multimidialidade,
personalização
de
conteúdo,
memória,
atualização contínua e interatividade. Depois da fundamentação teórica desenvolvida nos capítulos iniciais, no capítulo 3 é justificada a escolha metodológica: pesquisa qualitativa, pesquisa bibliográfica, estudo de caso e análise de conteúdo. Após, apresentam-se os objetos de estudos da pesquisa – o BuzzFeed e sua fanpage no Facebook. Sabe-se que é difícil prever o que será viralizado na rede, porém é possível estudar as estratégias que a página utiliza para conseguir tal feito. O corpus é formado por dez posts direcionados ao site, os quais tiveram mais compartilhamentos entre 8 de maio e 8 de junho de 2016. Tais publicações serão estudadas para entender os seus compartilhamentos. Para isso, tópicos, como o formato, o conteúdo, a linguagem, a imagem e as interações das postagens mais viralizadas, serão analisados, com base na teoria da Análise de Conteúdo, proposta por Bardin (2000). Ao final, a pesquisa apontará as estratégias utilizadas pela fanpage do BuzzFeed Brasil para viralizar o conteúdo publicado.
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1 INTERNET
1.1 Histórico A Internet surgiu em 1969, quando o Advanced Research Projects Agency2 (Arpa), órgão norte-americano que trabalhava em pesquisas tecnológicas e científicas para o serviço militar, criou a Arpanet, uma ―rede nacional de computadores, que servia para garantir comunicação emergencial caso os Estados Unidos (EUA) fossem atacados por outro país – principalmente a União Soviética‖ (FERRARI, 2008, p.15). Em janeiro de 1972, a rede funcionou pela primeira vez, interligando quatro computadores em lugares distantes, todos na Costa Oeste dos EUA. Em 1973, o governo assumiu a administração dos pontos da Arpanet espalhados pelo país. A missão foi dada para Vinton Gray Cerf, matemático e professor da Universidade de Stanford. Foi Cerf um dos responsáveis pela criação de um mecanismo que permitia que dois computadores conversassem entre si quando ligados à rede, além de possibilitar que duas ou mais redes de computadores também se comunicassem (VIEIRA, 2003). Em 1975, depois de testes de conexão entre Estados de maior distância, a Agência de Comunicações e Defesa ganhou o controle da Arpanet, com a função de facilitar a comunicação com o Departamento de Defesa dos Estados Unidos. O tráfego de dados cresceu rapidamente e, entre os novos usuários, havia pesquisadores universitários com trabalhos na área de segurança e defesa. Embora a comunidade acadêmica usasse a rede para transferir arquivos extensos por meio de e-mails, o foco da Arpanet era o serviço de informação militar (FERRARI, 2008, p. 15).
De 1975 a 1982, começou a troca de arquivos pela rede, o FTP 3, até se chegar ao correio eletrônico, o tradicional e-mail. Em 1986, ainda em solo norteamericano, a National Sciente Foundation4 (NSF) desenvolveu uma rede que conectava pesquisadores do país inteiro por meio de computadores. Neste momento, surgiu a Bitnet, que transportava mensagens de e-mail, e a NSFnet, que
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Agência de Pesquisa e Projetos Avançados. Sigla de File Transfer Protocol. Em português, significa Protocolo de Transferência de Arquivos. O FTP é uma forma rápida e versátil de transferir arquivos, sendo uma das mais usadas na Internet. 4 Fundação Nacional da Ciência 3
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permitia o uso interativo de computadores remotos, além da troca de e-mails (VIEIRA, 2003). Ferrari (2008) descreve que, no fim dos anos 80, o cenário era composto por: muitos computadores conectados, mas principalmente computadores acadêmicos instalados em laboratórios e centros de pesquisa. A Internet não tinha a cara amigável que todos conhecem hoje. Era uma interface simples e muito parecida com os menus dos BBS. Mas, enquanto o número de universidades e investimentos aumentava em progressão geométrica, tanto na capacidade dos hardwares como dos softwares usados nas grandes redes de computadores, outro núcleo de pesquisadores, até bem modesto, criava silenciosamente a Word Wide Web (Rede de Abrangência Mundial), baseada em hipertexto e sistemas de recursos para a Internet (FERRARI, 2008, p. 16).
No Brasil, o primeiro contato com a Internet foi em 1988, quando a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) promoveu a primeira conexão à rede. A ação foi comandada pelos professores Oscar Sala e Flávio Fava de Moraes, da Universidade de São Paulo (USP), que também lançaram a conexão oficialmente em 1989. Enquanto aumentava o número de universidades e investimentos para a área tecnológica, outro grupo de pesquisadores, comandado pelo físico inglês Tim Berners Lee, em 1990, trabalhava silenciosamente na criação da World Wide Web (Rede de Abrangência Mundial), a conhecida WWW. Nesta mesma época, universidades brasileiras, como a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), conectaram-se à Internet por meio de links com instituições de Ensino dos EUA. Em 1992, foi a vez do governo federal entrar no meio digital, com a criação da Rede Nacional de Pesquisa (RNP), que montou uma infraestrutura de cabos para dar suporte à rede mundial de computadores, além de espalhar pontos de conexão nas principais capitais do Brasil, liberando acessos para universidades, ambientes de pesquisas e órgãos do governo (VIEIRA, 2003). Nesta época, os sites quase sempre seguiam um padrão: fundo cinza, imagens pequenas e poucos links. Em 1996, já eram mais de 56 milhões de usuários no mundo e 95 milhões de mensagens eletrônicas enviadas nos Estados Unidos (FERRARI, 2008). Se em 1993 1,7 milhão de computadores já estavam conectados ao redor do mundo, em 1997, esse número era 20 milhões.
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Os anos seguintes mostraram, além do crescimento gradual da utilização da Internet no meio acadêmico, uma disputa pelos direitos de acesso à rede no Brasil. Segundo Vieira (2003), a RNP entraria com a experiência dos ambientes acadêmicos e com a infraestrutura básica, enquanto a Embratel, empresa responsável pela telefonia, exploraria a parte comercial do acesso à Internet. Em 1995, o governo Fernando Henrique Cardoso decretou que ―as operadoras poderiam atender somente ao mercado corporativo, com o dever de fornecer a infraestrutura e os recursos necessários para viabilizar a montagem dos provedores de acesso‖ (VIEIRA, 2003, p.11). Em 1996, o governo criou o Comitê Gestor da Internet (CG), formado por representantes do Ministério das Comunicações, Ministério da Ciência e Tecnologia, universidades, ONGs e provedores de acesso. Até hoje, o CG é órgão fundamental para o governo quando se trata de Internet. O ano de 1995 foi fundamental para a história da Internet no Brasil e no mundo. Foi nessa época que surgiam os primeiros nomes comerciais da web, como o site de buscas Yahoo! e a livraria virtual amazon.com. O Yahoo! foi criado pelos engenheiros Jerry Yang e David Filo. Segundo Vieira (2003), o site de busca nasceu meio sem querer. Na época com 25 anos, era comum ver Yang irritado ao navegar na Internet e não conseguir ―encontrar aquilo que havia visto ‗outro dia‘‖ (VIEIRA, 2003, p. 12). Quase todas as vezes quando isso acontecia, ele corria aos gritos pelos corredores da Universidade de Stanford procurando Filo. Em uma das tardes, Filo catalogou todas as páginas que o amigo tinha acessado. Depois disso, não demorou muito para os colegas unirem as informações e criarem ―um site da web com suas descobertas, aberto a qualquer pessoa que procurasse um guia de navegação‖ (VIEIRA, 2003, p. 12). Um ano depois, de acordo com Vieira (2003), o site já tinha quase 100 milhões de páginas vistas por mês, além de 40 milhões de dólares na conta bancária dos fundadores. Em 2000, a empresa ganhou mais de 180 milhões de usuários únicos no mês, faturou 1,1 bilhão de dólares no ano e valia mais de 100 bilhões de dólares no mercado financeiro. Após pensar em vender roupas, carros ou eletrodomésticos, em julho de 1995, o ex-analista do mercado financeiro Jeff Bezos viu a oportunidade de colocar à venda uma grande quantidade de livros. Na ideia de Bezos, os livros eram ―artigos de baixo preço que poderiam ser adquiridos por impulso, fáceis de transportar
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mesmo em grandes quantidades e que poderiam ser vendidos por uma loja virtual praticamente sem estoque‖ (VIEIRA, 2013, p. 14). Assim nascia a amazon.com: Desde o início, a Amazon trabalhava com a ideia do conteúdo personalizado: examinando os livros que as pessoas compravam e usando métodos de filtragem colaborativa, a Amazon fazia recomendações instantâneas. [...] Além disso, investigando os produtos que cada usuário comprava ao longo do tempo, a Amazon começou a identificar aqueles com preferências similares. [...] Quanto mais pessoas compravam livros na Amazon, melhor funcionava a personificação (PARISER, 2012, p. 31).
O número de visitantes diários na página da amazon.com saltou de dois mil, em dezembro de 1995, para mais de 50 mil, um ano depois. No fim de 1996, o valor de mercado da empresa era de 300 milhões de dólares. Em 1997, Bezos atingiu seu primeiro milhão de clientes que, seis meses depois, já eram dois milhões.
1.1.1 Marco Civil da Internet
Em 2014, entrou em vigor a Lei nº 12.965, que estabelece princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da Internet no Brasil. Conhecida como Marco Civil da Internet, a votação da lei envolveu o Governo Federal, o Congresso Nacional, empresas interessadas e a sociedade civil organizada. A lei estabelece a liberdade de expressão, a proteção da privacidade e a neutralidade da rede como princípios básicos da Internet, além de definir os atores e as responsabilidades de cada um no espaço virtual. O princípio de neutralidade da rede é um dos pontos mais polêmicos da legislação. Ele garante que a rede deve ser igual para todos, independente do plano de dados utilizado pelo usuário. Além disso, ele sugere que a rede é mais valiosa quando permite a integração dos usuários e a inserção de conteúdo, incentivando a adesão de novos usuários e a inclusão de outros conteúdos. O termo neutralidade de rede designa um princípio de desenho de rede que, ao visar à maximização da utilidade pública da informação, traz consigo a ideia que todos os conteúdos, independentemente de origem, destino e plataformas envolvidas, devem ser tratados de forma equitativa, sem controles discriminatórios de tráfego entre as pontas da rede (origem e destino) por onde os dados devem passar. Isso permitiria a essa rede compartilhar todo tipo de informação e suportar todo tipo de aplicação (BARBOSA; DEL BIANCO, 2014, p. 8).
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O Marco também prevê o sigilo das informações do usuário, com o princípio da privacidade. Para isso, o projeto de lei regula o monitoramento, filtro, análise e fiscalização de conteúdo para garantir esse direito. Assim, só é possível ter acesso a este conteúdo via ordem judicial para investigações criminais e o provedor não pode ser responsabilizado pelo conteúdo postado pelo usuário. Outra questão deste princípio garante o direito do internauta à privacidade, incluindo a inviolabilidade e o sigilo das informações circuladas na web.
1.2 Sites
Website é o resultado da junção das palavras inglesas web (rede) e site (sítio, lugar). No contexto da Internet, website e site possuem o mesmo significado e se referem a uma página que pode ser acessada por meio de um determinado endereço eletrônico, geralmente, programado na linguagem HTML e pertencente a um mesmo endereço – denominado URL – disponível na Internet (World Wide Web). O primeiro site do mundo foi o The Project, criado em 1991 por Tim Berners-Lee, físico do Centro Europeu de Pesquisa Nuclear (CERN), considerado o pai da web. De aparência simples para os padrões da época, a página era estática, sem recursos, como imagens e vídeos. Aqui, o objetivo era que os profissionais do CERN pudessem trocar informações científicas dos seus próprios computadores, possibilitando que eles pudessem acompanhar o desenvolvimento das pesquisas apenas conectados ao servidor online. Segundo ranking publicado em julho de 2015 pela Alexa5, o site mais acessado do mundo é o Google, seguido pelo YouTube e Facebook. O Google dispara na frente porque, além dos acessos diretos pelos endereços google.com, contabiliza-se também os acessos de serviços, como o Google Tradutor e o Gmail. A ordem do ranking também vale para o Brasil, onde o Google é o mais acessado, seguido do YouTube e do Facebook. Outros sites que integram a lista dos dez mais acessados no Brasil são:
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Pesquisa completa disponível em <http://www.alexa.com/topsites/countries/BR>. Acesso em maio de 2016.
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Tabela 1. Sites mais acessados no Brasil
Ranking
Site
1º
Google.com.br
2º
Youtube.com
3º
Facebook.com
4º
Google.com
5º
Uol.com.br
6º
Globo.com
7º
Live.com
8º
msn.com
9º
Yahoo.com
10º
Bing.com
Fonte: Alexa
Se um site tem um grande número de acessos diários, significa que ele tem um conteúdo atrativo. Identificar o melhor portal de notícias6 não é tarefa fácil, já que cada um possui seu próprio perfil, com suas particularidades quando se trata de layout e conteúdo editorial. Em março de 2015, o site Top10+7 publicou uma lista das dez páginas de notícias mais acessadas no Brasil, com base no número de visitas analisado por meio das ferramentas Alexa, Similar Web e Sem Rush. O resultado é o seguinte:
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Portal de notícias é, para Ferrari (2008), um site que reúne diferentes características. O conteúdo jornalístico é a principal fonte de acessos dos portais, porém eles oferecem outros serviços para o internauta, como ferramenta de buscas, comunidades, comércio eletrônico, e-mail gratuito, entretenimento, esportes, notícias, previsão do tempo, chat, discos virtuais, homepages pessoais, jogos online, mapas, cotações financeiras, canais e um conteúdo personalizado. 7 Disponível em <http://top10mais.org/top-10-melhores-sites-de-noticias-do-brasil/>. Acesso em maio de 2016.
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Tabela 2. Sites de notícias mais acessados no Brasil
Ranking 1º
Site de notícias G1
2º
Uol Notícias
3º
Terra Notícias
4º
Folha de São Paulo
5º
R7 Notícias
6º
Estadão
7º
MSN Brasil
8º
IG
9º
Yahoo Notícias
10º
ClicRBS
Fonte: Top10+
1.3 Web 2.0
Para dividir a evolução da World Wide Web (WWW), o processo de criação da Internet é separado em três gerações: Web 1.0, Web 2.0 e Web 3.0. A primeira geração – a Web 1.0 – marcou o início da rede, em que os sites ainda eram estáticos e não havia formas de interação com o conteúdo. As páginas mantinham informações úteis para o internauta informar-se, mas como não era atualizado com certa frequência, não convidava o usuário a voltar para o endereço (NICOLAU; SANTOS, 2012). Nesta época, os sites eram basicamente um acumulado de links e o hipertexto já aparecia timidamente em alguns canais. ―O que deixava a desejar era este formato ser apenas um espaço de leitura, onde o máximo de interação era a troca de e-mails entre os usuários‖ (NICOLAU; SANTOS, 2012, p. 5). Caracterizada
pela publicação,
compartilhamento
e organização de
informações, a Web 2.08 é a segunda geração dos serviços online. Com a interação como um dos pilares fundamentais, esta versão da web foi a responsável por um aumento expressivo no conteúdo digital e por torná-lo um ambiente mais dinâmico
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O termo Web 2.0 foi utilizado pela primeira vez em outubro de 2004 pela empresa americana O'Reilly Media e pela Media Live International, nomeando uma série de conferências sobre o tema (PRIMO, 2011).
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para os usuários. Segundo Primo (2014), a Web 2.0 apresenta importantes repercussões sociais, ―que potencializam processos de trabalho coletivo, de troca afetiva, de produção e circulação de informações, de construção social de conhecimento apoiada pela informática‖ (PRIMO, 2007, p. 1). A segunda geração também aumentou a velocidade e a facilidade do uso de diversos aplicativos para os usuários, além de ser responsável por um aumento significativo no conteúdo existente na internet. Além de tornar o ambiente online mais dinâmico, a Web 2.0 fez com que os usuários colaborassem com a organização do conteúdo digital. A partir dessa etapa, o usuário também é parte fundamental no processo de comunicação, podendo ajudar de forma colaborativa na construção da notícia. Primo (2007) defende a tese de O‘Reilly (2005) de que não há como demarcar precisamente as fronteiras da Web 2.0: Trata-se de um núcleo ao redor do qual gravitam princípios e práticas que aproximam diversos sites que os seguem. Um desses princípios fundamentais é trabalhar a Web como uma plataforma, isto é, viabilizando funções online que antes só poderiam ser conduzidas por programas instalados em um computador. Porém, mais do que o aperfeiçoamento da ―usabilidade‖, o autor enfatiza o desenvolvimento do que chama de ―arquitetura de participação‖: o sistema informático incorpora recursos de interconexão e compartilhamento. Por exemplo, nas redes peer-to-peer (P2P), voltadas para a troca de arquivos digitais, cada computador conectado à rede torna-se tanto ―cliente‖ (que pode fazer download de arquivos disponíveis na rede) quanto um ―servidor‖ (oferta seus próprios arquivos para que outros possam ―baixá-lo‖). Dessa forma, quanto mais pessoas na rede, mais arquivos se tornam disponíveis. Isso demonstra, segundo O‘Reilly, um princípio chave da Web 2.0: os serviços tornam-se melhores quanto mais pessoas os usarem (PRIMO, 2007, p. 2).
Nesta geração da web, os sites começam a trabalhar em uma estrutura integrada de funcionalidades e conteúdo (PRIMO, 2007), destacando a mudança da publicação do conteúdo para a participação do internauta. É aqui que a participação do usuário aparece com comentários em blogs, enciclopédias escritas em conjunto (a Wikipédia, por exemplo), páginas de jornalismo participativo e álbuns de fotos no formato do Flickr, que permitem um sistema de buscas. Na Web 2.0, não são apenas os grandes portais importantes. Pelo contrário, a partir desta geração que os blogs ganharam destaque no meio online, principalmente por segmentar os tipos de conteúdos, orientando-se ao interesse do internauta. Assim, ―a credibilidade e a relevância dos materiais publicados são reconhecidas a partir da constante dinâmica
23 de construção e atualização coletiva‖ (PRIMO, 2007, p. 4). Além disso, as tags9 têm papel fundamental para facilitar o serviço de busca e recuperação de conteúdos na rede. Mesmo com a cultura da interatividade seguindo em alta, surgiu a Web 3.0, que ainda aparece timidamente na rotina dos internautas. A terceira geração da Internet caracteriza-se por mostrar a importância do computador no dia a dia das pessoas, inclusive com as facilidades proporcionadas pela tecnologia, e ―pretende interligar os significados das palavras, tornando tais significados perceptíveis tanto a humanos quanto às máquinas‖ (NICOLAU; SANTOS, 2012, p. 8). Também denominada de web semântica, a Web 3.0 pretende aumentar a utilidade da internet. Assim, a sua aplicabilidade será algo inovador, agregando valor nos serviços direcionados aos usuários. Com ela, os efeitos das buscas serão mais precisos, economizando tempo e compreendendo o contexto do internauta, disponibilizando resultados de acordo com a necessidade de cada indivíduo (NICOLAU; SANTOS, 2012, p. 10).
Como ainda será estudado no próximo item deste capítulo, as redes sociais formam-se por meio dos atores que mantêm alguma forma de interação social entre eles. Assim, os sites de redes sociais, como Facebook e Twitter, também fazem parte da Web 2.0 e, a partir de agora, os usuários deixam de ser espectadores e podem interagir, criar conteúdos, comunicar-se com os amigos e opinar sobre o que é apresentado na tela. São os sites de redes sociais, em específico o Facebook, que serão estudados neste trabalho, com foco nas interações do público com o conteúdo publicado na fanpage do BuzzFeed Brasil.
1.4 Redes Sociais
Alguns dos canais de interatividade mais importantes dos veículos de comunicação estão nos sites de redes sociais e em seus aplicativos. É no
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Tag, em inglês, significa etiqueta, rótulo. Na Internet, as tags são as palavras-chaves utilizadas para relacionar informações semelhantes, ou seja, são palavras que servem justamente como uma etiqueta e ajudam na hora de organizar informações, agrupando aquelas que receberam a mesma marcação, facilitando encontrar outras relacionadas.
24 Facebook10 e Twitter11, por exemplo, que o leitor vai interagir com a informação, compartilhando opinião e curtindo conteúdos que sejam de seu interesse. O assunto, que antes era discutido verbalmente, passou a ter desdobramentos virtuais disponíveis para a rede de amigos do leitor. Para os jornalistas, os sites de busca e redes sociais transformaram-se em grandes aliados na produção e na distribuição das notícias. É por meio da web que, muitas vezes, o repórter busca as melhores fontes e dados para a produção do conteúdo. Nem toda rede social está em um site e nem todo site é uma rede social. Por isso, antes de apresentar o conceito de sites de redes sociais, é preciso entender a definição de uma rede social. Recuero defende a tese de Wasserman e Faust (1994) de que ―uma rede social é definida como um conjunto de dois elementos: os atores (pessoas, instituições ou grupos; os nós da rede) e suas conexões (interações ou laços sociais)‖ (RECUERO, 2014, p. 24). Ou seja, as redes sociais são formadas pelas relações entre as pessoas. Então, as redes sociais são ―uma forma de olhar os grupos sociais, onde se percebem as relações e os laços sociais como conexões e os indivíduos como atores estão unidos por essas conexões‖ (BASTOS; RECUERO; ZAGO, 2015, p. 23). A seguir, cada elemento que constitui uma rede social – atores, interações, laços sociais e capital social – será explicado individualmente. Os atores são os primeiros elementos de uma rede social, representados como nós. Eles são as pessoas que se relacionam na rede e atuam de forma a moldar as estruturas sociais, por meio da interação e da construção de laços sociais (RECUERO, 2014). Porém, ao se tratar de redes sociais na Internet, os atores são formados de diferentes modos: Por causa do distanciamento entre os envolvidos na interação social, principal característica da comunicação mediada por computador, os atores não são imediatamente discerníveis. Assim, neste caso, trabalha-se com representações dos atores sociais, ou com construções identitárias do ciberespaço. (RECUERO, 2014, p. 25)
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Rede social em que o usuário cria um perfil com fotos e listas de interesses pessoas, acompanha as atualizações do seu círculo de amigos e pode interagir com eles de diferentes formas, curtindo, comentando e compartilhando publicações. 11 Rede social que permite aos usuários enviar e receber informações em forma de tweets com até 140 caracteres.
25 Portanto, um ator pode ser representado por um blog12, por uma conta no Twitter ou um perfil no Facebook, por exemplo. Estas representações dos atores sociais são espaços de interação dos usuários, onde podem expressar seus pensamentos, expondo sua personalidade e ideias na rede. Enquanto os atores são os nós na rede, as conexões das redes sociais aparecem de diferentes maneiras. Elas são formadas por laços sociais que, por sua vez, são construídos através da interação social entre os atores. A interação seria a matéria-prima das relações e dos laços sociais. A ação de um depende da reação do outro. ―Interações não são, portanto, descontadas dos atores sociais. São partes de suas percepções do universo que os rodeia, influenciadas por elas e pelas motivações particulares desses atores‖ (RECUERO, 2014, p. 31). Assim, entender as interações sociais é compreender a comunicação entre os atores e a troca de informação entre eles: Essas ferramentas proporcionaram, assim, que atores pudessem construirse, interagir e comunicar com outros atores, deixando, na rede de computadores, rastros que permitem o reconhecimento do padrão de suas conexões e a visualização de suas redes sociais através desses rastros (RECUERO, 2014, p. 24).
A interação no ciberespaço tem alguns fatores diferenciados. O primeiro é, segundo Recuero (2014), que os atores não se conhecem imediatamente. Além disso, neste caso, ―não há pistas imediatas de linguagem não verbal e a interpretação do contexto da interação precisa ser negociada durante o processo‖ (RECUERO, 2014, p. 31). O segundo valor apresenta as possibilidades de comunicação das ferramentas que os atores utilizam. Neste caso, ―há multiplicidade de ferramentas que suportam essa interação, além do fato de permitirem, além do que a interação permaneça mesmo depois do ator estar desconectado do ciberespaço‖ (RECUERO, 2014, p. 32). Recuero ainda defende a divisão da interação social, proposta por Reid (1991), que pode aparecer de forma síncrona ou assíncrona: Uma comunicação síncrona é aquela que simula uma interação em tempo real. Deste modo, os agentes envolvidos têm uma expectativa de resposta imediata ou quase imediata, estão ambos presentes (online, através da 12
Blogs são como um diário online, onde são publicados diversos conteúdos, como textos, imagens, músicas ou vídeos, de um determinado assunto em específico ou algo geral.
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mediação do computador) no mesmo momento temporal (RECUERO, 2014, p. 32).
A comunicação síncrona aparece em chats13 ou de mensagens instantâneas na web. Já a assíncrona, é o tipo de comunicação que aparece em e-mails e fóruns na Internet, pois a resposta não aparece imediatamente: Espera-se que o agente leve algum tempo para responder ao que foi escrito, não que ele o faça (embora possa fazer, é claro), de modo imediato. Espera-se que o ator, por não estar presente no momento temporal da interação, possa respondê-la depois (RECUERO, 2014, p. 32).
É importante ressaltar que, mesmo que as ações dos atores possam determinar e modificar essas características, a comunicação pode se tornar síncrona ou assíncrona dependendo da situação de uso. Além desta categorização da interação das redes sociais, Primo (2003, apud RECUERO, 2014) estabelece outra divisão para tratar a interação mediada pelo computador. Segundo ele, existem duas formas de interação – a mútua e a reativa – que se distinguem pela forma de relação entre os agentes envolvidos. A interação reativa é limitada para os atores envolvidos na interação, como, por exemplo, a interação do usuário com um hiperlink14 na Internet. Assim, para Recuero (2014), o hiperlink não pode redefinir a URL para onde este link aponta, tampouco pode escolher para onde deseja ir a partir daquele link. Trata-se de um ―vetor unidirecional‖, criado por alguém, que permite ao usuário unicamente ir ou não ir ao site para onde ele aponta (RECUERO, 2014, p. 33).
Já em comentários de blogs, por exemplo, a história é diferente. Neste caso, o meio possibilita a criação de um diálogo entre os comentaristas e, além disso, com o próprio autor do blog, aumentando ainda mais a interação do leitor: Trata-se de uma interação construída, negociada e criativa. É possível observar-se em um blog não apenas a interação em um comentário, mas as relações entre as várias interações e perceber-se que tipo de relação transpira através daquelas trocas (RECUERO, 2014, p. 33).
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Chat é uma forma de comunicação à distância, utilizando computadores conectados à Internet, e que funciona como um bate-papo ao vivo. 14 Hiperlinks são links que possibilitam ao internauta pular de uma página da web para outra. Links, por sua vez, são elementos de hipermídia formados por um pedaço de texto em destaque ou por um elemento gráfico que, ao ser clicado, abre uma nova página da web.
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Já a interação mútua mediada por computador acontece entre o usuário e o sistema que se comunica, como o link. Um exemplo claro de interação mútua é a interação via redes sociais. Nos perfis, o usuário consegue interagir com diferentes pessoas clicando em algumas teclas. É o caso, por exemplo, das solicitações de amizade do Facebook. O conjunto de interações entre usuários forma relações sociais que, na Internet, acontecem das mais variadas formas. Na rede, por exemplo, é possível trocar ideias com os amigos, manter conversas profissionais e utilizá-la para pesquisas de estudos. Essas relações sociais são consideradas ―unidade básica de análise em uma rede social. Entretanto, uma relação sempre envolve uma quantidade grande de interações‖ (RECUERO, 2014, p. 37). O laço social é a conexão entre os atores envolvidos na interação, sendo o resultado das relações formadas entre os agentes. Assim, os ―laços são formas mais institucionalizadas de conexão entre atores, constituídos no tempo e através da interação social‖ (RECUERO, 2014, p. 38). Recuero (2014) apresenta a teoria de Granovetter (1973), em que o estudioso categoriza os laços sociais a partir de intensidades: Os fortes são aqueles que compreendem mais intimidade, relacionados a uma maior quantidade de valores construídos entre os interagentes. Enquanto isso, os fracos são aqueles que estabelecem menos intimidade e pelos quais também circulam valores, embora em menor grau (RECUERO, 2014, p. 129).
Os laços dividem-se em relacionais, quando são criados por meio das relações sociais e surgem apenas com interações entre os atores de uma rede social, ou de associação, quando é necessário um status de pertencimento a um local, instituição ou grupo (RECUERO, 2014). Na prática, com o Facebook como exemplo, um laço associativo e uma interação reativa acontecem quando uma pessoa solicita amizade para outra. O laço relacional e a interação mútua aparecem nas conversas via web, como o chat e as mensagens publicadas no mural. Outro aspecto importante no estudo de redes sociais é o capital social, que é o ―valor constituído a partir das interações entre os atores sociais‖ (RECUERO, 2014, p. 45). Além disso, o conceito é fundamental para compreender a conexão entre os atores sociais na web. Assim, a popularidade e a fama no meio digital podem ser criadas a partir do capital social. Nas redes sociais, ele pode aparecer de
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diferentes formas, como, por exemplo, no Facebook, para manter contato com antigos amigos, ou no Twitter, com o número de seguidores e nível de influência do usuário na rede. O capital social também é importante para entender o processo de difusão da informação, incluindo a viralização do conteúdo na web, que será abordada no item 2.5 deste capítulo. ―Muitas dessas informações são difundidas de forma quase epidêmica, alcançando grandes proporções tanto online quanto offline‖ (RECUERO, 2014, p. 116). Os sites de redes sociais são os espaços utilizados para a expressão do capital social na web. Para Bastos; Recuero; Zago (2015), o estudo das redes sociais na Internet também se associa aos sites de redes sociais: Ao lado de conteúdo gerado pelo usuário, sites de compras coletivas e jogos sociais, os sites de rede social aparecem como um tipo específico de mídia social (Van Dijck, 2013; Ellison; Boyd, 2013). Embora alguns sites mesclem duas ou mais formas de mídia social (por exemplo, embora o Facebook seja, primeiramente, um site de rede social, ele permite que o usuário gere e distribua conteúdos) – sites de rede social correspondem a um tipo específico de site voltado para a criação e manutenção de redes sociais (BASTOS; RECUERO; ZAGO, 2015, p. 25).
Outra definição para sites de redes sociais é que, segundo Boyd e Ellison (2007), eles são ―aqueles sistemas que permitem a I) construção de uma pessoa através de um perfil ou página pessoal; II) a interação através de comentários; e III) a exposição pública da rede social de cada ator‖ (RECUERO, 2014, p. 102). Ainda segundo os estudos de Boyd e Ellison (2007), os sites de redes sociais são ―espaços da web que permitem aos indivíduos criar um perfil, interagir através desse perfil, adicionar amigos e exibir a lista de conexões entre os amigos‖ (BASTOS; RECUERO; ZAGO, 2015, p. 26). Em 2013, Boyd e Ellison atualizaram a definição de site de rede social, abordado por Bastos; Recuero; Zago (2015): Um site de rede social é uma plataforma de comunicação em rede na qual os participantes 1) possuem perfis de identificação única que consistem em conteúdos produzidos pelo usuário, conteúdos fornecidos pelo sistema; 2) podem articular publicamente conexões que podem ser vistas e cruzadas por outros; e 3) podem consumir, produzir e/ou interagir com fluxos de conteúdo gerado por usuários fornecidos por suas conexões no site. (BOYD; ELLISON, 2013, p. 158 apud BASTOS; RECUERO; ZAGO, 2015, p. 26)
Esta nova definição muda o foco dos estudos de redes sociais. Se antes, o ponto de análise era voltado para os perfis dos usuários, depois desta nova
29 definição, ele virou-se para o fluxo de conteúdo. ―Mais do que visitar o perfil alheio, os usuários querem ver as atualizações mais recentes de seus contatos. Os próprios perfis mudaram para incluir, também, atualizações‖ (BASTOS; RECUERO; ZAGO, 2015, p. 27).
Esta transformação fez com que os sites de redes sociais se
tornassem parte da mídia, integrando os veículos de comunicação na rede online. É nos sites de redes sociais que, na maioria das vezes, os usuários irão expressar sua opinião. Pode ser através de comentários, compartilhamentos de conteúdo e até em grupos de discussão sobre o assunto. Falando da geração Y, por exemplo, 98% dos jovens fazem parte de alguma – ou mais – rede social (RECUERO, 2014). É aqui que o Facebook e o Twitter, por exemplo, encaixam-se. Recuero ainda salienta que, ―embora os sites de redes sociais atuem como suporte para as interações que constituirão as redes sociais, eles não são, por si, redes sociais. São os atores sociais, que utilizam essas redes, que constituem essas redes‖ (RECUERO, 2014, p. 103). Os sites de redes sociais propriamente ditos são aqueles focados na exposição pública das redes conectadas aos atores, ou seja, a finalidade está relacionada à publicização dessas redes (RECUERO, 2014). É o caso do Facebook, do extinto Orkut15 e do LinkedIn16. ―São sistemas onde há perfis e há espaços específicos para a publicização das conexões com os indivíduos‖ (RECUERO, 2014, p. 104), ou seja, toda a interação está focada na publicização das redes. ―Em geral, esses sites são focados em ampliar e complexificar essas redes, mas apenas isso. O uso do site está voltado pare estes elementos, e o surgimento dessas redes é consequência direta desse uso‖ (RECUERO, 2014, p. 104). Já os sites de redes sociais apropriados são aqueles que não eram, originalmente, voltados para mostrar redes sociais, mas que foram apropriados pelos atores com este objetivo (RECUERO, 2014). É o caso do Twitter e do antigo Fotolog17. ―São sistemas onde não há espaços específicos para perfil e para a publicização das conexões. Esses perfis são construídos através de espaços pessoais ou perfis pela apropriação dos atores‖ (RECUERO, 2014, p. 104). Além disso, um site de redes sociais apropriado pode ser criado como um perfil, a partir de
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Rede social que tinha como objetivo ajudar seus membros a conhecer pessoas e manter relacionamentos. 16 Rede social voltada para os negócios que ajuda o usuário a encontrar conexões profissionais. 17 Uma espécie de blog, voltado para registros fotográficos.
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interações do usuário (ator) com outros, como, por exemplo, uma sessão de comentários em uma rede social. Os sites de redes sociais também possuem uma forte ligação com o capital social. ―Um dos elementos mais relevantes para o estudo da apropriação dos sites de redes sociais é a verificação dos valores construídos nesses ambientes‖ (RECUERO, 2014, p. 107). Um exemplo é a quantidade de amigos que uma determinada pessoa possui no Facebook. O elevado número de conexões, que dificilmente a pessoa terá na vida offline, influencia em vários aspectos, como a visibilidade, a reputação (confiança), a popularidade e a autoridade do usuário na rede social (RECUERO, 2014), podendo até, em alguns aspectos, sair do mundo digital e ir para o real. Quando um determinado grupo agrega-se em uma rede social, ele forma uma comunidade. Segundo Recuero (2014), alguns autores, como Rheingold (1995), Lemos (2002), Donath (1999) e Castells (2003), já abordavam que as interações via computador possibilitariam o surgimento de novos grupos sociais na web. Rheingold foi um dos primeiros autores a trabalhar com o termo ―comunidade virtual‖ e a definiu como agregados sociais que surgem da Rede (Internet), quando uma quantidade suficiente de gente leva adiante essas discussões públicas durante um tempo suficiente, com suficientes sentimentos humanos, para formar redes de relações pessoais no ciberespaço (RHEINGOLD, 1995, apud RECUERO, 2014, p. 137).
Assim, discussões públicas, encontros e desencontros, os sentimentos, entre outros elementos, poderiam formar redes de relações sociais, criando uma comunidade. ―Ou seja, quanto mais parecidos e mais interesses em comum tiverem os atores sociais, maior a possibilidade de formar grupos coesos com características de comunidade‖ (RECUERO, 2009, p. 138). Nesse caso, o computador não é peça fundamental para a formação dessas relações, porém, ele, intermediado pelas redes sociais, facilita o processo de agrupamento das pessoas da comunidade. Outra definição importante de comunidades virtuais é a de Lemos (2002). Segundo ele, ―as comunidades virtuais eletrônicas são agregações em torno de interesses comuns, independentes de fronteiras ou demarcações territoriais fixas‖ (LEMOS, 2002, apud RECUERO, 2014, p. 138). Ou seja, para o autor, é importante
31 ressaltar a afinidade, o território e a questão temporal de uma comunidade virtual. ―A rede, portanto, centra-se de atores sociais, ou seja, indivíduos com interesses, desejos e aspirações, que têm um papel ativo na formação de suas conexões sociais‖ (RECUERO, 2014, p. 143). Em outras palavras, um grupo social com características semelhantes de capital, interação e laços sociais forma uma comunidade virtual na web.
1.4.1 Facebook
O Facebook é o maior site de rede social do mundo. Fundado em 2004 por Mark Zuckerberg e seus colegas de quarto da faculdade Eduardo Saverin, Dustin Moskovitz e Chris Hughes, o Facebook surgiu como um projeto paralelo às aulas da Harvard University (EUA). A primeira ideia de Zuckerberg para a Internet foi o Course Match, um lugar onde os alunos pudessem escolher as matérias com base no que já estivessem matriculados nos cursos. Era também possível conferir quem estava em cada turma e o curso das pessoas. Para Zuckerberg, era possível se conectar às pessoas por meio de coisas (KIRKPATRICK, 2011). O segundo projeto – chamado inicialmente de Facemash – tinha como objetivo descobrir quem era a pessoa mais atraente do campus. Era muito simples: os usuários comparavam duas fotos de pessoas do mesmo sexo e diziam qual era a mais sexy. As imagens para o Facemash vieram dos chamados ―facebooks‖ mantidos nos alojamentos dos alunos da graduação. As fotos eram tiradas no dia da chegada dos calouros à universidade para identificação e eram aquelas que todos queriam esconder, mas Zuckerberg conseguiu encontrar as versões digitais. Outro projeto que auxiliou Zuckerberg a criar o Facebook foi o Friendster, uma rede social que convidava as pessoas a criar um ―perfil‖ pessoal, citando informações como hobbies e gostos musicais. ―Nesses serviços, as pessoas relacionavam seus próprios perfis aos dos amigos, identificando assim sua própria ‗rede social‘‖ (KIRKPATRICK, 2011, p. 36). Assim como a maioria das redes de relacionamento criadas até o momento, o Friendster era basicamente uma forma de facilitar o contato entre pessoas que queriam namorar. Ao ver o que era possível no Friendster, os alunos passaram a querer um ―facebook‖ (o livro publicado anualmente chamado de Freshman Register) online.
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Foi na tarde de 4 de fevereiro de 2004, depois de trabalhar mais um tempo no projeto, que o Thefacebook.com finalmente entrou no ar: A tela inicial dizia: ―O Thefacebook é um diretório online que conecta pessoas por meio de redes sociais nas faculdades. Abrimos o Thefacebook para uso popular na Universidade de Harvard. Você pode usar o Thefacebook para: procurar amigos dos seus amigos; ver uma representação visual da sua rede social‖ (KIRKPATRICK, 2011, p. 39).
Depois de dar o start, os primeiros usuários começaram a aparecer e foram convidando outros alunos para participar e se tornar seus amigos. Dessa forma, começou uma explosão viral: No domingo, quatro dias após o lançamento, mais de 650 alunos haviam se registrado. Trezentos outros aderiram na segunda-feira. Quase instantaneamente, o Thefacebook tornou-se o principal tema de conversa nos refeitórios de Harvard e nos intervalos entre as aulas. As pessoas não conseguiam parar de usá-lo (KIRKPATRICK, 2011, p. 39).
Para se inscrever era simples: o usuário criava um perfil com uma única foto sua e algumas informações pessoais. Também era possível incluir informações como status de relacionamento, número de telefone, endereço de e-mail, indicar os cursos que estava fazendo, citar os livros, filmes e músicas preferidos, filiação política e uma frase favorita. ―O Thefacebook não tinha nenhum conteúdo próprio. Era meramente um software – uma plataforma para o conteúdo criado por seus usuários‖ (KIRKPATRICK, 2011, p. 39). Porém, a rede ainda era exclusiva e exigia um endereço de e-mail de Harvard para se cadastrar, ou seja, apenas alunos, exalunos e funcionários da instituição de ensino podiam entrar na rede. O Thefacebook foi crescendo e os pedidos por sua expansão foram surgindo. Em abril de 2004, quatro meses depois do lançamento, o site foi formalizado como um negócio. ―Em junho, um financista ofereceu a Zuckerberg 10 milhões de dólares pela empresa. Mark tinha acabado de completar 20 anos. O Thefacebook tinha quatro meses de idade‖ (KIRKPATRICK, 2011, p. 50). No final de maio, a rede já estava em 34 faculdades e tinha quase 100 mil usuários. No final do verão, já eram mais de 200 mil usuários (KIRKPATRICK, 2011). No outono de 2004, o ―ter amigos‖ era praticamente um status social e era considerado uma competição entre os alunos de Harvard – os calouros, por exemplo, antes mesmo de ingressar na universidade, já faziam o seu perfil no
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TheFacebook. Os alunos também gastavam parte de seu tempo melhorando o perfil. Era preciso escolher a melhor foto, trocá-la com certa frequência e analisar o que era publicado. ―O seu ‗facebook‘, como começaram a ser chamados os perfis do site, tornava-se cada vez mais a sua cara pública. Ele definia sua identidade‖ (KIRKPATRICK, 2011, p. 104). Além disso, as pessoas também passavam um tempo visitando os outros perfis da rede. Nesta época, eram poucas as opções possíveis dentro do site: apenas ―manter seu perfil, adicionar amigos, cutucar pessoas e ver os perfis dos outros‖ (KIRKPATRICK, 2011, p. 104). Em setembro, o TheFacebook passou a ter mais duas características. Os usuários tinham um mural, onde qualquer amigo podia publicar ou comentar algo em seu perfil e qualquer visitante poderia ver. A segunda novidade era os grupos, que a partir de agora, qualquer pessoa poderia criar por qualquer motivo. Com o tempo, os alunos começaram a abandonar a agenda de contatos, já que com o TheFacebook era possível ter o contato de todos os amigos a poucos cliques e sem a necessidade de lembrar dos e-mails de ninguém. Em junho de 2005, eram 3 milhões de usuários. Quatro meses depois, já eram 5 milhões. Mas, a medida que o número de usuários aumentava, era preciso trabalhar cada vez mais para ―impedir que o sucesso destruísse o serviço‖ (KIRKPATRICK, 2011, p. 144). A questão era simples: quanto mais usuários no site, mais instável ele ficava. Para isso, o TheFacebook precisava crescer na mesma velocidade que o número de usuários. Foi preciso, além de aumentar a equipe de profissionais, aumentar também os servidores e equipamentos de rede dos datacenters. Foi também em 2005 que o TheFacebook passou a ser apenas Facebook.com e ganhou um novo logotipo, retirando os parênteses que acompanhavam o nome e apresentando a nova proposta de nome: Facebook. No dia 20 de setembro de 2005, a empresa tornou-se oficialmente Facebook. Nesta época, ele ainda era voltado apenas para os estudantes universitários – 85% dos estudantes já eram membros e 60% visitavam o site diariamente (KIRKPATRICK, 2011). Em 2006, o Facebook já não era um espaço apenas universitário – ele já tinha invadido as escolas de ensino médio também, porém, eram redes separadas. Aqui, a rede crescia positivamente e ganhava em torno de 20 mil novos usuários por dia (KIRKPATRICK, 2011). O maior desafio desta época foi unir as duas redes em uma única.
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Até aquele momento, o sucesso da rede social estava vinculado ao fato de ser ―de uma simplicidade descerebrada‖, como dizia um dos funcionários: tudo o que os usuários podiam fazer era preencher o perfil e verificar as informações que outros haviam colocado em seus próprios perfis. Havia uma maneira de personalizar e modificar o perfil, porém, que se tornara muito popular. Embora a pessoa só pudesse exibir uma única foto no perfil, os estudantes mudavam essa foto com frequência, às vezes mais de uma vez por dia. Eles claramente gostariam de poder postar mais fotos (KIRKPATRICK, 2011, p. 167).
Dias após atingir a marca de 5 milhões de usuários, mais um novo e importante recurso foi criado: um sistema de hospedagem e armazenamento de fotos, inspirado no Flickr18. Como outros sites, era permitido que os usuários compartilhassem fotos e as adicionassem em álbuns online, permitindo também que outras pessoas comentassem as imagens. Porém, a ideia era buscar algo diferente dos outros espaços da web. Nasceu assim a marcação das fotos, algo inédito até então. E, no Facebook, elas seriam marcadas de forma diferente: com os nomes de quem aparecia nelas. Era possível marcar apenas os seus amigos e as pessoas marcadas recebiam uma notificação alertando-as, assim como ainda funciona hoje. ―O recurso Fotos tornou-se o site de fotografias mais popular da Internet e a característica mais popular do Facebook em pouco tempo‖ (KIRKPATRICK, 2011, p. 170). Depois de um mês, 85% dos usuários já tinham sido marcados em alguma foto e as visitas à página tornaram-se ainda mais frequentes, já que, a partir de agora, sempre tinham coisas novas para ver: O que as pessoas faziam no Facebook era olhar as informações de outras. Elas estavam ansiosas para saber o que havia de novo, o que havia mudado, o que havia acontecido que elas ainda não soubessem. Estudar o perfil dos amigos era uma atividade obsessiva, mas não muito eficaz (KIRKPATRICK, 2011, p. 195).
Assim, em 2006, a nova ideia era construir uma página onde não mostrasse apenas as fotos adicionadas recentemente, mas também todas as coisas que haviam sido mudadas nos perfis. Nascia aqui o feed de notícias, ―uma tela que mostrasse tudo‖ (KIRKPATRICK, 2011, p. 195). A ferramenta ajudaria os usuários a encontrar tudo aquilo que era de seu interesse a qualquer momento, sejam links, check-ins ou fotografias. ―A questão era garantir que você visse aquilo que lhe interessava, o que quer que fosse. A ordem de apresentação das informações 18
Serviço de armazenamento online de imagens. É possível fazer uploads e guardar imagens, utilizando a web, além de dispositivos móveis. Para divulgá-las, é possível utilizar, além do Flickr, emails ou blogs.
35 dependia daquilo que – com o seu comportamento – você tivesse demonstrado que gostava de ver‖ (KIRKPATRICK, 2011, p. 196). Apresentando um jornal customizado para cada usuário, o feed de notícias entrou oficialmente no ar em 5 de setembro. Junto com ele, também estreou o minifeed, que aparecia somente no perfil de cada usuário. Porém, a ideia não foi bem aceita pelos usuários que questionavam a falta de privacidade. No dia de estreia, uma em cada cem mensagens que chegavam até a equipe era positiva (KIRKPATRICK, 2011). Foi uma das maiores crises enfrentadas pela empresa, mas também uma das maiores mudanças da rede social. Até então, era preciso enviar a informação por algum meio – como uma ligação, uma mensagem, um e-mail ou até mesmo uma mensagem instantânea. Agora, a partir do feed de notícias, o processo de comunicação inverteu-se. Sem a necessidade de enviar algo para alguém, basta compartilhar a informação na própria timeline e o Facebook encarrega-se em divulgar a notícia aos amigos do usuário – sempre de acordo com os interesses de cada pessoa. Em essência, o Facebook tinha criado uma maneira de se ter uma ―assinatura‖ das informações sobre um amigo. Em vez de esperar que essa pessoa lhe enviasse informações, agora você dizia ao Facebook – pelo simples fato de ser amigo daquela pessoa – que desejava receber notícias dela. Ser amigo de alguém era ter uma ―assinatura‖ de seus dados, de modo que o software do Facebook pudesse mandar as informações dessa pessoa para a sua página (KIRKPATRICK, 2011, p. 209).
As mudanças não pararam por aí. Em setembro de 2008, após comemorar os 100 mil usuários do Facebook, a equipe lançou um novo feed de notícias. Desta vez, a principal mudança foi a combinação do mural com o minifeed, pensando em aumentar a velocidade do fluxo de informação entre os usuários e facilitar o compartilhamento das informações, além de possibilitar um espaço maior para discussões. A partir de agora, era possível postar links, fotos e vídeos clicando apenas no botão ―editor‖. Foi neste momento também que a pergunta ―No que você está pensando agora?‖, uma influência do Twitter, surgiu no feed. Em março de 2009, mais uma atualização importante marcou a história do Facebook. Agora, as atualizações eram mais visíveis na página inicial, não somente no mural dos amigos. A ideia do ―compartilhar‖ estava ganhando forças e era uma das maiores apostas de Zuckerberg:
36 O feed de notícias se transformara no que o Facebook chama de ―fluxo‖, uma lista de atualizações contínuas e de outras informações dos amigos. Mas o fluxo também incluía as atualizações de uma nova fonte: páginas das quais você tinha se tornado ―fã‖. Agora, tornar-se fã de uma página comercial no Facebook era quase a mesma coisa que seguir uma pessoa ou empresa no Twitter (KIRKPATRICK, 2011, p. 331).
Mais recentemente, a maior mudança do Facebook foi a implantação das reactions, no lugar do botão curtir (like), que entraram oficialmente no ar em 24 de fevereiro de 2016. Agora, além de curtir, o usuário consegue reagir com o "amei", "haha", "uau", "triste" e "grr": Figura 1. As reações do Facebook
Fonte: facebook.com
Zuckerberg afirmou, na semana de lançamento, que os botões de reações são o novo ―curtir‖. Foi a alternativa que a equipe viu para o pedido dos usuários por um botão de ―não curtir‖ que, para Zuckerberg, poderia estimular o bullying19 e expressar muita negatividade nas timelines. Em matéria publicada no site TechTudo20, Zuckerberg reforçou que o objetivo das reações não é expressar negatividade e sim, empatia. Na hora de contabilizar as curtidas e analisar a repercussão dos posts, as reações não atrapalham, já que elas têm o mesmo peso do antigo like. Deve-se apenas tomar um cuidado: há uma diferença grande entre o ―amei‖ e o ―grr‖. Para o Facebook, o peso é o mesmo, mas, na prática, para a fanpage, por exemplo, se há muitos ―grr‖ no post é sinal que algo está errado e deve ser reavaliado. De lá pra cá, outras coisas mudaram – o feed de notícias, o surgimento de aplicativos linkados ao site, como os jogos, e a forma de consumir informação, por exemplo, não são mais os mesmos. Hoje, 11 anos depois, já são mais de 1,65
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Termo da língua inglesa, a palavra originou-se de bully, que significa ―valentão‖. A expressão refere-se a atitudes agressivas, que podem ser verbais ou físicas, e que ocorrem sem motivação evidente a fim de intimidar ou agredir outra pessoa. 20 Fonte: TechTudo, disponível em <http://www.techtudo.com.br/noticias/noticia/2016/02/zuckerbergdiz-que-reaction-e-o-novo-e-dispensa-nao-curti.html> . Acesso em maio de 2016.
37 bilhão21 de usuários no mundo, segundo as pesquisas mais recentes, divulgadas em abril de 2016. Para comparar, o WhatsApp22 é a segunda rede social mais usada, com cerca de 1 bilhão de usuários por mês. A lista segue com uma média de 900 milhões de usuários do Messenger23, em terceiro lugar, e, no quarto lugar, o Instagram24, com cerca de 500 milhões de usuários por mês. O acesso via dispositivos móveis também aumentou. Por dia, 989 milhões de usuários acessam o Facebook de seus smartphones e tablets. No mês, o número de acessos é de 1,51 bilhão. Em agosto de 2015, o Facebook atingiu a marca de um bilhão de usuários acessando a maior rede social do mundo em um único dia25, o que significa que uma em cada sete pessoas do mundo estava conectada. No Brasil, o número também é marcante: oito em cada dez brasileiros conectados estão no Facebook26. Segundo dados publicados em abril de 2016 pelo próprio Facebook27, 102 milhões de brasileiros compartilham seus momentos na rede social todos os meses. Desse número, 93 milhões acessam via dispositivos móveis. A mesma pesquisa mostrou que 99% das pessoas que estão no Facebook afirmam ler as publicações de marcas em fanpages, segundo dados internos de agosto de 2015. Desse público, 68% acessam a rede social para descobrir novos produtos. ―Para se ter uma ideia da presença do Facebook na vida das pessoas, é como se todos os meses metade da população brasileira — de um total de 204 milhões habitantes, segundo o IBGE — entrasse na plataforma para compartilhar e descobrir novidades‖ (BUSINESS, 2016).
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Fonte: Assuntos Criativos, disponível em <http://www.assuntoscriativos.com.br/2016/05/os-novosdados-surpreendentes-do.html>. Acesso em maio de 2016. 22 Aplicativo para smartphones utilizado para trocar mensagens de texto instantâneas, além de vídeos, fotos e áudios através de uma conexão a Internet. 23 Aplicativo de mensagens instantâneas do Facebook, que oferece outros recursos além do batepapo com os contatos da rede social, como troca de arquivos multimídia, ligações de voz e chamadas de vídeo. 24 Rede social de compartilhamento de fotos e vídeos, que permite aplicar filtros nas imagens e compartilhá-las em outras redes sociais, como Facebook e Twitter. 25 Fonte: G1, disponível em <http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2015/08/facebook-bate-marca-de1-bilhao-de-usuarios-conectados-em-um-unico-dia.html>. Acesso em outubro de 2015. 26 Fonte: TechTudo, disponível em <http://www.techtudo.com.br/noticias/noticia/2016/01/facebookrevela-dados-do-brasil-na-cpbr9-e-whatsapp-vira-zapzap.html>. Acesso em maio de 2016. 27 Fonte: Facebook, disponível em <https://www.facebook.com/business/news/102-milhes-debrasileiros-compartilham-seus-momentos-no-facebook-todos-os-meses>. Acesso em maio de 2016.
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1.4.2 Viralização na Internet
Além de ser um ambiente de relacionamento e interação entre os usuários, o Facebook alterou a forma de consumir a informação. Além de se atualizar, o usuário pode interagir com o conteúdo de diferentes formas, com curtidas, comentários e compartilhamentos. ―Em vez de interromper a conversa, as empresas antes conhecidas como anunciantes agora precisam descobrir como criar a conversa no Facebook, ou fazer parte dela. As bem-sucedidas ajudam os usuários a se conectar uns com os outros e se comunicar‖ (KIRKPATRICK, 2011, p. 283). A difusão da informação nas redes sociais está fortemente relacionada com o conceito de capital social, abordado no item 2.3. Segundo Recuero (2014), é preciso lembrar que as redes sociais são constituídas de ―atores sociais, com interesses, percepções, sentimentos e perspectivas‖ (RECUERO, 2014, p. 117) e que existe ―uma conexão entre aquilo que alguém decide publicar na Internet e a visão de como seus amigos ou sua audiência na rede perceberá tal informação‖ (RECUERO, 2014, p. 117). Observando os posts nas redes sociais, como no Facebook, por exemplo, percebe-se que há conteúdos que são mais publicados na timeline. ―Esses tipos de informação invariavelmente influenciam com mais força um ou outro tipo de capital social‖ (RECUERO, 2014, p. 118). Quando as informações publicadas na rede têm um apelo relacional, elas formam o capital social relacional. É o caso, por exemplo, das correntes28 online. Aqui, ―o apelo é claramente de integração e estreitamento dos laços sociais‖ (RECUERO, 2014, p. 119). O outro tipo é o capital social cognitivo, que é quando as informações difundidas na web possuem um apelo informacional maior, como as notícias e vídeos. Neste caso, ―o objetivo de difundir uma notícia de um jornal em um weblog, por exemplo, não é aprofundar laços sociais, mas especificamente informar ou gerar conhecimento‖ (RECUERO, 2014, p. 119). Se antes bastava ler os jornais e acompanhar os principais portais de notícias para se manter informado, a partir de agora é possível acompanhar todas as 28
Surgidas primeiramente nos e-mails, as correntes são aquelas mensagens encaminhadas para uma lista de pessoas ao mesmo tempo e, depois de lidas, devem ser encaminhadas para um determinado número de pessoas. O conteúdo pode ser voltado para o humor, ser falso ou solicitar que o usuário remeta a mensagens para um número de pessoas para acontecer algo, por exemplo. Hoje, com outros recursos além do e-mail, é comum receber as mensagens via Facebook e WhatsApp.
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informações diretamente das timelines da redes sociais, com a interatividade como grande diferencial: Para uma porcentagem cada vez maior de pessoas, o feed de notícias como do Facebook está se transformando em sua fonte principal de informações – 36% dos americanos com menos de trinta anos de idade leem suas notícias em redes sociais (PARISER, 2012, p. 13).
A personalização do conteúdo é uma estratégia fundamental para os maiores sites da Internet – Yahoo, Google, Facebook, YouTube e Microsoft Live – e também para tantos outros (PARISER, 2012). Esta personalização nada mais é do que fornecer conteúdo de acordo com os interesses e gostos pessoais do usuário por meio dos algoritmos: A nova geração de filtros online examina aquilo de que aparentemente gostamos – as coisas que fazemos, ou as coisas das quais as pessoas parecidas conosco gostam – e tenta fazer extrapolações. São mecanismos de previsão que criam e refinam constantemente uma teoria sobre quem somos e sobre o que vamos fazer ou desejar a seguir. Juntos, esses mecanismos criam um universo de informações exclusivas para cada um de nós – o que passei a chamar de bolha dos filtros – que altera fundamentalmente o modo como nos deparamos com ideias e informações (PARISER, 2012, p. 14)
No Facebook, o algoritmo entrou em ação em 2007. Além das atualizações corriqueiras e das fotos publicadas, os usuários começaram a postar links de outros sites. Zuckerberg anunciou que estavam ―produzindo mais notícias num único dia para nossos 19 milhões de usuários do que qualquer outro meio de comunicação já produziu durante toda sua existência‖ (PARISER, 2012, p. 39). No início, quase tudo o que os amigos publicavam aparecia no site. Porém, com o aumento de postagens e amigos, ficou praticamente impossível acompanhar tudo o que passava no feed de notícias. ―A solução foi o Edge Rank29, o algoritmo por trás da página inicial do site, que traz as Principais Notícias‖ (PARISER, 2012, p. 39). O Facebook fez ainda com que os usuários criassem uma identidade virtual. Segundo Zuckerberg, cada pessoa tem uma própria identidade, independente do meio em que o usuário está inserido. Ele, por exemplo, assumiu que era a mesma pessoa desajeitada em qualquer lugar 29
O Edge Rank, segundo Pariser (2012), classifica todas as interações do site. A ideia é simples e baseia-se em três fatores. O primeiro é a afinidade e determina que quanto mais próxima é a amizade com a pessoa, maior será a probabilidade do Facebook mostrar suas atualizações. O segundo é o peso relativo de cada tipo de conteúdo, como as atualizações de relacionamento, que têm um peso grande. O terceiro é o tempo e pontua que os itens mais recentes possuem mais peso do que posts antigos.
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(PARISER, 2012). Além disso, Zuckerberg tinha o poder de controlar a tecnologia mais poderosa e usada do mundo: Durante um evento na feira de publicidade New York’s Ad Week, Sheryl Sandberg, diretora de operações do Facebook, disse esperar que a Internet se modificasse rapidamente. ―As pessoas não querem algo direcionado a todo mundo – elas querem algo que reflita o que desejam ver e conhecer‖, afirmou Sandberg, sugerindo que aquilo seria a norma em três ou cinco anos. O objetivo do Facebook é estar no centro desse processo – ser a plataforma única através da qual todos os outros serviços e sites da Internet incorporem nossos dados pessoais e sociais. Nós temos uma única identidade, a nossa identidade do Facebook e, ela colore a nossa experiência onde quer que estejamos (PARISER, 2012, p. 100).
Com a quantidade gigantesca de informações que o usuário tem na web – 900 mil postagens em blogs, 50 milhões de tweets, mais de 60 milhões de atualizações de status no Facebook e 210 bilhões de e-mails enviados – os filtros online são muito úteis. São eles que ajudam o usuário a encontrar as informações que procura no meio de tanto conteúdo nos feeds de notícias (PARISER, 2012). Para colocar estas informações em prática é simples: basta duas pessoas buscarem a mesma informação no Google e ver que os resultados serão diferentes. Enquanto a personalização do Google depende dos cliques e do histórico de navegação do usuário, o Facebook é bem diferente e, embora rastreie os cliques, a principal forma de conhecer o internauta é analisando o que ele compartilha e interage na rede. ―O Facebook confia mais nas nossas palavras, apresentando-nos como gostaríamos de ser vistos pelos outros‖ (PARISER, 2012, p. 104). O Facebook também fez com que as empresas se camuflassem em meio às notícias dos amigos na timeline, tornando-as, muitas vezes, links virais: Agora, algumas empresas voltadas para o consumidor dão menos ênfase aos seus sites e mais às suas páginas no Facebook, onde podem hospedar uma grande variedade de aplicativos e as ações dos fãs se propagam de modo viral entre seus amigos (KIKRPATRICK, 2011, p. 284).
O conteúdo viraliza na rede quando todos falam do mesmo assunto nas redes sociais e/ou compartilham o mesmo link. É praticamente como um boca-aboca virtual. Um viral é, segundo o dicionário Aurélio, algo relativo a vírus, causado por vírus e que, assim como um vírus, tem a capacidade de se espalhar: Alguns consideram que o contágio da informação responde a uma ciência e afirmam que em um laboratório podem ser estudadas as variáveis que o propiciam. Até mesmo as que afetam substâncias químicas como a
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oxitocina, o hormônio que desperta a vontade de se conectar com os outros. Mas na verdade, como apontava o famoso relatório sobre inovação feito pelo The New York Times no ano passado – que, aliás, não demorou nem dois segundos para se transformar em um fenômeno viral –, trata-se acima de tudo da conexão com as emoções do leitor e sua vontade de compartilhar aquilo que causa algum impacto nele. Então, a viralidade muda a maneira de contar o mundo? Sem dúvida. Mas também rompe outras barreiras, como a forma de estruturar uma redação, aumentando a promiscuidade entre jornalistas, analistas de dados e publicitários (VERDÙ, 2015, p. 2).
O conceito parece atual, mas a viralização surgiu muito antes da web. Segundo Ryan Cordell, professor da Northeasternn University, listas, virais e matérias crtl+c e crtl+v surgiram ainda no século XIX. ―Se você pensa que o BuzzFeed inventou as listas, você deveria passar um tempo lendo jornais do século XIX‖ (CORDELL30, 2015). Na época, os editores assinavam vários jornais para retirar conteúdos que pudessem servir para as suas publicações e as pequenas empresas de comunicação mais replicavam conteúdos do que produziam. As listas, segundo Cordell (2015), já eram comuns nesta época. Uma lista em especial, a ―Facts Worth Nothing‖ (Fatos Valem Nada), foi publicada em 120 jornais diferentes entre os anos de 1853 e 1899. O autor ainda reforça que nem todos os fatos eram verdade, e, muitas vezes, os itens da lista eram trocados a cada nova impressão. O viral, assim, nada mais é do que uma ―ideia de contaminação, de propagação em larga escala propiciada especificamente pelas características do meio Internet‖ (SILVA, 2008, p. 81). No meio da comunicação, ele também pode ser definido como: o processo de transmissão de uma mensagem de um internauta a outro no contexto digital. O fato de a mensagem poder tomar proporções gigantescas na rede, num processo semelhante à lógica de uma epidemia viral, foi o que deu origem à expressão (BARICHELLO; OLIVEIRA, 2010, p. 35).
Ou seja, quanto mais envolvente e interessante for a mensagem a ser transmitida, maiores são as chances do conteúdo se espalhar e, consequentemente, maior será o compartilhamento com os amigos nas redes sociais. Assim, o poder da viralização está em sintonia com a evolução da interatividade proposta pela Web 2.0, que foi abordada no item 1.3.
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Texto disponível em: <http://www.niemanlab.org/2015/05/listicles-aggregation-and-content-goneviral-how-1800s-newspapers-prefigured-todays-internet/>. Acesso em setembro de 2015.
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Outro conceito de viralização, abordado por Garcia e Guadalupe (2014), diz que ela é um elemento de comunicação direta entre pessoas que compartilham dos mesmos gostos e interesses: A viralidade é um elemento compartilhado entre páginas web e aplicações para dispositivos móveis, por isso recai nas estratégias de comunicação de marcas para criar campanhas com sucesso mensurável e, em certo sentido, eficaz em relação a avaliar o número de vezes que uma mensagem pode ser reproduzida em diferentes dispositivos (GARCIA; GUADALUPE, 2014, p. 169).
Hoje, a viralização é um fenômeno utilizado na Internet e em técnicas de marketing. Se no início as empresas jornalísticas focavam o trabalho em várias tentativas de erros para acertar os conteúdos que poderiam viralizar, hoje eles priorizam o próprio conteúdo jornalístico e aproveitam o volume de leitores para contar histórias que realmente valham a pena ser lidas. São essas histórias que, posteriormente, podem se tornar virais nos feeds de notícias das redes sociais: Como explica Delia Rodríguez, diretora do Verne e autora do livro Memecracia – Los Viralies que nos Gobiernam (Gestión 2000, 2013), no fim das contas, trata-se de ―hackear a atenção do leitor e competir com tudo que existe em sua mesa. Não se pode enganar os leitores. É preciso acertar no formato da informação, seja uma reportagem, uma lista ou um infográfico... Eles não nos perdoarão se estivermos desperdiçando seu tempo‖, assinala Rodríguez (VERDÙ, 2015, p. 3).
Há ainda uma diferença entre o marketing viral e o efeito viral, tratado neste trabalho. Segundo Silva (2008), o primeiro aborda as ações executadas propositalmente, como as publicidades, muitas vezes camufladas no entretenimento, para envolver o usuário e motivar os compartilhamentos. Já o efeito viral é espontâneo e pode ocorrer com inúmeros materiais, desde os vídeos caseiros que, por algum motivo estimularam os rápidos compartilhamentos na rede, até os links de matérias, como as publicadas pelo site BuzzFeed Brasil, o objeto de estudo desta pesquisa: Para que uma mensagem seja utilizada nessa prática de marketing visando atingir o efeito viral ela deve conter entretenimento, humor e conteúdos relevantes ou curiosos com informações úteis, motivando, assim, o internauta a compartilhá-la com os amigos (BEZERRA; COSTA, 2012, p. 8).
Além de ter um conteúdo relevante e simples de viralizar, é preciso que a mensagem seja fácil de ser compartilhada – quanto mais fácil for o envio dela, maior
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será a sua disseminação. Quem for lançar a mensagem também deve ficar atento às pessoas com um alto capital social na rede, como os formadores de opinião e as pessoas conectadas:
Essas pessoas são peças importantes para fazer as mensagens se multiplicarem em grande escala na Internet. Elas repassam o conteúdo a seus contatos, aos grupos que pertencem e, acima de tudo, dão seu crédito aos que enviam, validando aquela informação como interessante (BEZERRA; COSTA, 2012, p. 9).
Quase tudo que circula na web pode se tornar um viral. No caso das músicas, por exemplo, o hit Gangnam Style, do cantor coreano Psy, teve mais de 2,5631 bilhões de visualizações no YouTube desde julho de 2012, tornando-se o vídeo mais assistido do mundo na plataforma. A mistura de uma letra simples e um ritmo pegajoso fez com que o cantor – até então desconhecido – ganhasse uma fama repentina. A partir daí, o vídeo foi se espalhando pela rede e a música ficou conhecida mundialmente como um viral. Para Bernal (2014), o sucesso da música foi além da letra e do ritmo: os elementos cômicos no vídeo, que praticamente o transformou em uma paródia, e o figurino extravagante do cantor foram fundamentais para a viralização do videoclipe, ainda mais em uma época que a música pop é caracterizada por cantoras, na maioria das vezes, divas e sensuais. Mas foi o humor a peça-chave para o sucesso da música, porque ―não há nada que apele mais para um meme32 do que a comédia‖ (BERNAL, 2014, p. 48). O resultado de tanto sucesso foi visto nos veículos de comunicação e, principalmente, na internet. Além da imprensa, o público – e outros cantores – fizeram sua própria paródia e a música foi se espalhando cada vez mais: Isso coloca em evidência que a Internet pode impor conteúdos a partir da verdadeira rede de pandemias. Isso é o que é conhecido na web como um ―fenômeno da Internet‖, que infecta os usuários a reproduzi-lo em todos os espaços que compartilham. A partir dessa ideia, se propõe o conceito de conteúdo viral ou de outra forma a ideia de ―viralização‖ (BERNAL, 2014, p. 48).
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Dados do YouTube em maio de 2016. Entende-se como memes a propagação de informações, como fotos e vídeos, na web. ―Os memes são compreendidos como potencializados pela rede e parte da dinâmica social desses ambientes‖ (RECUERO, 2014, p.122). Uma das principais características do meme é a capacidade de mutação e as variações que ele pode sofrer para adaptar-se ao contexto. Para sobreviver, de acordo com Recuero, o meme precisa levar em conta três aspectos: a longevidade (a capacidade do meme de permanecer no tempo), a fecundidade (a capacidade de gerar cópias) e a fidelidade (a capacidade de gerar cópias com maior semelhança ao original). 32
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Em consequência da procura pelo conteúdo viral, os veículos passaram a se apropriar de listas para divulgar as notícias. Atualmente, é bem comum ver formatos de listas nos principais portais de notícias do país. O processo de viralização também mudou a forma de o jornalista escrever suas matérias, agora, algumas vezes, pensando em conteúdos que possam ser virais e, como consequência, capturar a atenção de um grande público: Sem dúvida, isso mostra as influências que os memes de Internet podem gerar em diferentes plataformas e nos usuários que convivem com eles. A presença destas entidades replicantes determina a forma como se interage na Internet, tanto quanto um vírus modifica a ação de uma célula (BERNAL, 2014, p. 85).
Um dos maiores fenômenos da Internet quando se trata de virais é o site BuzzFeed, que é o objeto de estudo desta pesquisa. Ali, são publicadas notícias em formato de listas, muitas vezes com GIFs33 (imagens animadas) e memes como ilustração, além de publicar links virais na fanpage do Facebook, fazendo com que o conteúdo se espalhe pela timeline dos usuários. Isso faz com que pessoas que nem conheçam o site ainda já tenham cruzado com algum conteúdo nas redes sociais. ―A maior parte da audiência, 75%, vem de textos do BuzzFeed publicados em redes sociais, como o Facebook e o Twitter‖ (FERRARI, 2014, p. 2). São as estratégias de viralização da fanpage que serão analisadas. Também pretende-se discutir a produção de conteúdo para o jornalismo na Internet, incluindo as listas, estudar o contexto dos compartilhamentos e interatividade das fanpages do Facebook e, por fim, analisar posts que viralizaram na fanpage do BuzzFeed Brasil para entender seus compartilhamentos.
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GIF significa Graphics Interchange Format (em português, Formato de Intercâmbio de Imagens) e é um formato de imagem de mapa de bits muito usado na web, tanto para imagens fixas quanto para animações.
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2 JORNALISMO
2.1 Jornalismo na Internet
O jornalismo online é o meio de comunicação que se une à base formada pelos veículos impressos, rádio e televisão. O termo online, segundo Palacios (2003), remete à ideia de conexão em tempo real, com um fluxo de informações quase instantâneo. Assim, o jornalismo online ―é desenvolvido utilizando tecnologias da transmissão de dados em rede e em tempo real‖ (PALACIOS, 2003, p. 44). Oferecendo notícias, entretenimento, serviços e negócios, a web é uma ferramenta de comunicação distinta das até então mídias tradicionais – televisão, rádio, cinema, jornal e revista. Com as transformações da tecnologia, que proporcionam a criação de sites cada vez mais criativos, a preocupação dos editores está se direcionando para a qualidade do conteúdo da notícia. Para Ferrari (2008), os usuários passaram a acessar os sites em busca de conteúdos, não mais de serviços, como antigamente. Por isso, escrever para a web tornou-se um desafio: Jornalismo digital não pode ser definido apenas como o trabalho de produzir ou colocar reportagens na Internet. É preciso pensar na enquete (pesquisa de opinião com o leitor); no tema do chat, o bate-papo digital; nos vídeos e áudios; e reunir o maior número possível de assuntos e serviços correlatos à reportagem (FERRARI, 2008, p. 45).
A estrutura básica do texto jornalístico não sofreu alterações. As tradicionais perguntas do lead – o que, quem, como, quando, onde, por quê – ainda precisam ser respondidas. Na web, é ainda mais importante explicar ao leitor as informações básicas da matéria, já que é muito fácil e rápido ele trocar de página. Porém, há ainda outros elementos que ajudam a definir o jornalismo online. A partir de agora, textos, fotos e infográficos – heranças dos veículos impressos – não possuem forças suficientes para manter um bom site no ar:
O resultado é uma linguagem webjornalística com características muito peculiares ao utilizar códigos de todos os meios de comunicação. Porém, não se trata da simples aglomeração de conteúdos originários de outros meios, mas sim uma adaptação das particularidades técnicas da web (CANAVILHAS, 2007, p. 54).
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Por isso, é preciso cada vez inovar e trazer elementos, como vídeos, áudios e pequenas animações para a notícia. Além disso, mais do que nunca, o leitor passou a ter uma importante função, podendo colaborar com a produção do conteúdo. A web também mudou a forma de escrever a notícia. Ferrari (2008) aborda a maneira que Jonathan Dube, editor e publisher do Instituto Americano de Imprensa, sugere para escrever textos para o online. ―A primeira delas foi conhecer o público e manter o foco nas necessidades e hábitos dos leitores‖ (FERRARI, 2008, p. 47). Além disso, o jornalista sugere que os ―estudos de usabilidade da Internet mostram que os internautas tendem a apenas passar pelos sites, muito mais do que lê-los assiduamente‖ (FERRARI, 2008, p. 47). Por isso, é cada vez mais importante pensar no conteúdo que o usuário quer ler no endereço virtual. Dube também lembra que o jornalista deve planejar o conteúdo de forma que a história possa ser contada de várias maneiras, utilizando fotos, vídeos, áudios, infográficos e links, por exemplo, e completa que ―os jornalistas online precisam sempre pensar em elementos diferentes e em como eles podem ser complementados‖ (FERRARI, 2008, p. 48). O texto da web também tem seus diferenciais: ele deve usar frases concisas, simples e declarativas, reduzindo-as a apenas uma ideia, e dar preferência para verbos fortes, que deixarão o texto vivo, arejado e alegre (FERRARI, 2008). O número de caracteres também é importante. Para a autora, ―qualquer história pode ser contada em novecentos caracteres‖ (FERRARI, 2008, p. 50), além de links, áudios, vídeo e fotos, para tornar a leitura mais agradável. Além disso, é preciso cuidar a dimensão do conteúdo. ―Um bloco textual demasiado curto deixará o leitor insatisfeito por conter pouca informação, enquanto um bloco demasiado longo pode tornar-se cansativo para uma leitura em monitor‖ (SALAVERRÍA, 2005, apud CANAVILHAS, 2014, p. 6). Por isso, é importante manter os textos nos formatos adaptados para cada veículo. A web também permite um formato de notícia flexível. Na rede, o veículo pode disponibilizar o conteúdo para diferentes usuários e necessidades, podendo ampliá-lo ou reduzi-lo em poucos cliques: Se, em um nível mais básico, o usuário pretende somente saber o que ocorreu, em um nível mais complexo, teremos usuários que pretendem compreender o acontecimento. Forma e conteúdo terão que permitir ao usuário fazer uma leitura que não está condicionada por fatores técnicos, textuais, temporais ou espaciais da notícia (CANAVILHAS, 2007, p. 60).
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A usabilidade é uma característica fundamental para o jornalismo online. Na definição da palavra, ela ―é o conjunto de características de um produto que definem seu grau de interação com o usuário‖ (FERRARI, 2008, p. 60). Em um site de notícias com boa usabilidade, por exemplo, o usuário deve conseguir navegar e buscar se informar sobre o que ele está procurando. Assim, no caso da web, uma ferramenta útil é aquela que permite que o usuário faça o que é proposto. Além disso, muitos fatores fazem um site ser usável. Se ele se encaixa às necessidades do cliente, como atende às tarefas pedidas pelo usuário (com que eficiência e velocidade, por exemplo) e de que forma as respostas que dá correspondem às expectativas‖ (FERRARI, 2008, p. 61).
Jakob Nielsen (apud Ferrari, 2008) destaca que é importante descobrir as três principais razões pelas quais o público vai acessar determinado site. Depois, é preciso deixá-las extremamente rápidas e fáceis de serem encontradas. Além disso, o conteúdo deve ser voltado para o público online, com um texto curto e itens interativos e palavras-chaves destacadas. ―Deve-se ter em mente, ao escrever, que os internautas não se atêm detalhadamente a todos os pontos do conteúdo da homepage; eles passam uma vista de olhos por tudo‖ (NIELSEN, apud FERRARI, 2008, p. 63). Ou seja, o leitor não perde muito tempo lendo as informações da página inicial. Por isso, é preciso tentar fisgar a sua atenção para o conteúdo. Ao mesmo tempo, o internauta avalia a aparência do site. Por isso, ―as ilustrações devem ser pequenas, usar e abusar de recursos tipográficos e tecnológicos para melhorar a aparência das páginas. Se um site for bem construído e fácil de ser usado, então os usuários vão clicar menos para achar o que procuram‖ (NIELSEN, apud FERRARI, 2008, p. 64). Para Marcos Palacios (2007), as características do jornalismo na Internet aparecem, majoritariamente, como continuidades e potencializações e não, necessariamente, como rupturas com relação ao jornalismo praticado em suportes anteriores. É possível argumentar-se que as características elencadas como constituintes do jornalismo na Internet podem, de uma forma ou de outra, ser encontradas em suportes jornalísticos anteriores, como o impresso, o rádio, a TV, o CD-Rom. O que é, por exemplo, uma ―Carta do Leitor‖, senão uma forma rudimentar de interatividade? (PALACIOS, 2007, p. 35).
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Em seu estudo, Palacios propõe seis características principais que potencializam a comunicação online, que serão explicadas separadamente no decorrer deste capítulo: hipertextualidade, multimidialidade, personalização de conteúdo, memória, atualização contínua e interatividade.
2.1.1 Hipertextualidade
Uma das principais características do jornalismo online é o hipertexto, que é ―uma interconexão de ‗textos‘ que se podem apresentar sob o formato de escrita, som, foto, animação, vídeo, etc‖ (PALACIOS, 2007, p. 37). Enquanto os repórteres do meio impresso buscam a melhor informação e os da televisão as cenas mais emocionantes, o jornalista online necessita planejar elementos diferentes. São os recursos do hipertexto, como textos, imagens, recursos de vídeo, áudio e animação que podem posteriormente ser utilizados como links interativos no site. Assim, na web, mais do que um mero conjunto de palavras ou frases organizadas segundo um conjunto de regras preestabelecidas, o texto transforma-se numa tessitura informativa formada por um conjunto de blocos informativos ligados através de hiperligações (links), ou seja, num hipertexto (CANAVILHAS, 2014, p. 4).
Dessa forma, o leitor tem a oportunidade de navegar pelos textos interconectados, fazendo suas escolhas de blocos de informação a utilizar (PALACIOS, 2007). Salaverría (2005, apud CANAVILHAS, 2014) destaca duas funções das hiperligações, que são as conexões ou links que permitem as ligações entre os blocos de informação: a documental, permitindo uma contextualização do conteúdo, e a narrativa, oferecendo ao leitor variados caminhos de leitura. Assim como nos veículos impressos, a notícia da web também é hierarquizada. Os títulos, chamadas e fotos da capa, por exemplo, indicam o nível de importância de determinado conteúdo: Na web, no interior da notícia, o discurso jornalístico também é hierarquizado, não somente pela sequência de parágrafos, mas também pela organização dos links internos e externos na página, que apresentam a informação em diferentes códigos comunicacionais (PALACIOS, 2007, p. 41).
A fragmentação do discurso é uma das características da narrativa na web (PALACIOS, 2007). Diferente do impresso, o veículo online proporciona um
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consumo da notícia de forma não linear, ou seja, o texto da web permite que o usuário movimente-se saltando de uma informação para outra, sem a necessidade de uma ordem. Por isso, para Palacios (2007), o termo mais adequado para a notícia da web é a informação multilinear para o acesso hipertextual às informações, pois ao ―estabelecer sua rota de leitura, o usuário estabelece também uma certa linearidade, específica, provisória, provavelmente única, oferecendo múltiplas possibilidades de continuidade‖ (2007, p. 39). A ideia de trabalhar a notícia no formato da pirâmide invertida34 não funciona para a web, principalmente pela facilidade que o internauta tem para trocar de página. Na rede, não há limitação de espaço – a notícia é global e pode ser acessada em qualquer canto do mundo – e a disponibilidade de espaço é infinita. Uma palavra sublinhada, por exemplo, pode ser um hiperlink e também o caminho para outra página. Assim, cada leitor pode traçar um caminho próprio da notícia e é o hipertexto quem vai guiar a leitura do usuário.
2.1.2 Multimidialidade
A narrativa da web permite ao comunicador utilizar diferentes recursos multimídias para transmitir a informação – é a multimidialidade da notícia. A principal definição para a multimidialidade é a combinação de elementos – texto, foto, vídeo e áudio, por exemplo – para contar a história da notícia. Neste caso, Salaverría (2014) define o termo multimídia como aquilo que ―utiliza conjunta e simultaneamente diversos meios, como imagens, sons e texto, na transmissão de uma informação‖ (SALAVERRÍA, 2014, p. 29). Se antes da Internet os elementos eram empregados individualmente em seus veículos de origem, como rádio, televisão e impresso, com a chegada da Era Digital, surgiu a possibilidade de integrar vários elementos em uma única plataforma. Segundo Salaverría (2014), nascia, assim, um novo desafio para os comunicadores: ―a exigência de idealizar novos modos de expressão sincrética recorrendo a todos os tipos imagináveis de linguagem‖ (SALAVERRÍA, 2014, p. 33). Ou seja, é preciso pensar em novas maneiras de contar a mesma notícia para o leitor, explorando os diversos meios disponíveis na web. 34
A pirâmide invertida é a formato básico do texto do jornalismo impresso, onde as informações do lead (o quê, quem, onde, como, quando e por quê) estão no início da notícia (CANAVILHAS, 2014).
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Ainda de acordo com Salaverría (2014), hoje, são oito elementos que compõem o conteúdo multimídia: texto; fotografia; gráficos, iconografia e ilustrações estáticas; vídeo; animação digital; discurso oral; música e efeitos sonoros; vibração. Estes elementos ―podem fazer parte da narrativa webjornalística de maneira complementar, constituindo uma estrutura plural que explora os diferentes sentidos da percepção humana‖ (PALACIOS, 2007, p. 44). Para que a informação multimídia seja atrativa e inteligível para o público é necessário que os elementos que a compõem estejam devidamente interligados (SALAVERRÍA, 2014). Na web, o texto continua sendo peça fundamental para a construção da notícia. Para Salaverría (2014), ele é ―a coluna vertebral que sustenta e estrutura as peças informativas multimídia‖ (SALAVERRÍA, 2014, p. 33). O texto é o responsável pela contextualização e documentação do conteúdo, além de ser utilizado para explicar os principais aspectos da informação. A fotografia, que já tinha certo grau de importância na noticia antes da web, ganhou um espaço ainda maior na Internet, principalmente por causa das redes sociais. Agora, ―libertas das limitações espaciais que impõe o papel, as publicações na Internet não têm fronteiras para a fotografia, seja em termos de número, dimensão ou formato‖ (SAVALERRÍA, 2014, p. 34). Assim, além de publicar fotos isoladas para acompanhar as matérias, a web também permite a criação de galerias de fotos, podendo também utilizar imagens de qualquer tamanho, preferencialmente sempre buscando um padrão. Além das fotos, a web possibilita utilizar outros elementos gráficos, como as iconografias e ilustrações, que ―funcionam como sinais eficazes de tráfego que orientam o utilizador sobre os itinerários que este pode escolher e sobre as ações que a cada momento pode realizar‖ (SAVALERRÍA, 2014, p. 35). É o caso de ícones e outros sinais que indicam, por exemplo, como voltar para a página inicial do site. Junto com a fotografia, o vídeo é ponto alto no conteúdo da web e está cada vez mais forte na rede. Para a Internet, ele deve ser pensado em um formato mais curto e interativo. Assim, ―o internauta pode agir a qualquer momento, saltando as partes mais aborrecidas e, no caso dos formatos de vídeo mais recentes, utilizando distintas opções de navegação interativa‖ (SALAVERRÍA, 2014, p. 36). A animação é o último recurso gráfico utilizado no conteúdo online. Inicialmente voltada para assuntos relacionados ao entretenimento e a games, hoje a animação já é utilizada no conteúdo jornalístico e, em algumas vezes, em conteúdos humorísticos (SALAVERRÍA, 2014). Porém, por demandar um maior tempo de produção,
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normalmente ela é utilizada em matérias que não tenham tanta urgência em sua publicação. O discurso oral, em forma de som e áudio, acrescenta certo valor à informação e, em alguns casos, une-se ao vídeo para transmitir a notícia. Com o som, ―é possível situar o utilizador no figurino apresentado através de outros formatos visuais (texto, fotografias, vídeos), ou intensificar a emotividade daquilo que se narra mediante diferentes efeitos sonoros e musicais‖ (SALAVERRÍA, 2014, p. 36). Há, porém, uma distinção em som e áudio. Entende-se como som a música e os efeitos sonoros e como áudio o discurso oral em si. Além do discurso oral, a música, os efeitos sonoros e o som ambiente também são formatos conhecidos na comunicação multimídia. ―Estes elementos acentuam a intensidade emocional e acrescentam veracidade àquilo que se mostra através das imagens‖ (SALAVERRÍA, 2014, p. 37). Por fim, a vibração, um recurso voltado para os dispositivos móveis, encerra o grupo de elementos da linguagem multimídia. A vibração nada mais é do um alerta sobre as principais informações do aparelho, como a chegada de uma mensagem ou uma ligação. Hoje, já há veículos que utilizem este sistema como forma de comunicar informações relevantes para o usuário, utilizando as notificações disponíveis nas redes sociais, como as transmissões ao vivo via Facebook. O conteúdo da web precisa ser pensado de forma que um elemento não tire a audiência do outro: O texto, o som, as imagens e o vídeo, assim como outros elementos que possam surgir no futuro, devem estar devidamente coordenados para que o resultado seja harmonioso. Os ―ingredientes multimédia‖ devem estar interligados no sentido de evitar a competição entre eles e de, por outro lado, oferecer um resultado positivo e coordenado (SALAVERRÍA, 2014, p. 40).
Um exemplo é até que ponto o leitor concentra-se em um texto ao mesmo tempo em que escuta um áudio. Pensando nisso, Salaverría (2014) aborda níveis de critérios para facilitar o processo de entendimento: 1) compatibilidade, quando é muito difícil prestar atenção em dois elementos diferentes, como citado no exemplo; 2) complementaridade, quando os elementos completam o conteúdo; 3) ausência de redundância, quando se evita repetir o assunto várias vezes, mesmo que em formatos diferentes; 4) hierarquização, quando é preciso elencar as partes mais importantes do conteúdo e priorizá-las; e 5) ponderação, quando o comunicador
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deve saber as limitações, como tempo, espaço e velocidade de internet, do usuário. Assim, ao utilizar uma linguagem multimídia, mesclando conteúdos de diferentes elementos, é preciso ter atenção para que os elementos estejam interligados corretamente – o leitor precisa se sentir confortável ao acessar a página.
2.1.3 Personalização de conteúdo
Outro ponto importante no jornalismo online é a criação de conteúdo exclusivo para os canais da web. Nos Estados Unidos, por exemplo, redações com essas características cresceram. Já no Brasil, os veículos impressos acumularam funções e também começaram a escrever matérias exclusivas para o virtual (FERRARI, 2008). Neste aspecto, há um alerta: o conteúdo deve ser original para ir em busca de audiência. Para Ferrari (2008), não basta estar na web apenas para marcar território: Uma redação onde seus fundadores entendam a força da mídia e busque, com uma redação digital, reforçar os princípios da hipermídia de informar não mais de maneira linear, com começo, meio e fim da notícia, mas sim construir matérias múltiplas sobre o mesmo assunto (FERRARI, 2008, p. 52).
Além de criar conteúdos exclusivos para o meio digital, o jornalismo online permite a personalização deste material, que possibilita que o usuário configure o conteúdo de acordo com seus interesses individuais (PALACIOS, 2007). O desafio da vez é oferecer conteúdo jornalístico adaptado aos novos formatos propostos pela multimidialidade da web. Com a possibilidade de cadastrar-se e receber as notícias diretamente em seu e-mail, o leitor digital pode acessar o conteúdo por sites de buscas, como o Google, que mantém as preferências salvas em um banco de dados, e ler apenas aquilo que é de seu interesse (FERRARI, 2008). Além disso, a personalização oferece conteúdos diferenciados para cada usuário na web e pode ser, segundo Palacios (2007), uma boa maneira de cativar os usuários: Isso pode ser feito através de cadastros preenchidos pelos internautas para saber suas preferências por assuntos. As informações podem ser enviadas por e-mails na forma de newsletters com as manchetes do dia de determinadas editorias escolhidas previamente pelo usuário (PALACIOS, 2007, p. 54).
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A ampla oferta de conteúdo faz com que a personalização seja ainda mais importante para o usuário, funcionando como um filtro das principais notícias do dia e entregando-lhe as mais interessantes para o seu perfil. Por isso, ―leitores, telespectadores e utilizadores são apresentados com uma caótica, mas altamente diversificada, experiência de notícias personalizadas. Há algo para todos, especificamente nos nichos‖ (LORENZ, 2014, p. 141). Lorenz apresenta seis graus de personalização. O primeiro é a resposta, que é a capacidade da página se adaptar aos diferentes formatos de tela, como computador, smartphone e tablet. De acordo com Lorenz (2014), produzir o mesmo conteúdo para diferentes dispositivos é uma tendência forte para a web. O segundo grau de personalização é alterar o conteúdo com base na hora do dia, adaptando o conteúdo de acordo com o momento e a necessidade do usuário. Durante a manhã, por exemplo, o leitor quer um conteúdo prático para se informar sobre o que está acontecendo, como se o site fosse um jornal impresso. Já durante a noite, com mais tempo disponível, o usuário pode ler notícias mais completas e assistir vídeos, além de interagir mais nas redes sociais, como o Facebook e Twitter (LORENZ, 2014). A interação significativa é o terceiro grau de personalização. Aqui, é importante apresentar o conteúdo de formas diferentes, prevendo um espaço para comentários do usuário, como se fosse uma sessão do leitor. O quarto grau é a ajuda na decisão e é importante auxiliar o usuário em uma decisão. Pode ser a compra de um carro ou apartamento, por exemplo, em que o veículo poderá abordar com gráficos explicativos. ―Decisões reais não são movidas pelos impulsos e desejos, mas por fatos concretos, na melhor hipótese colocando-o na melhor posição possível, baseado em necessidades específicas e nas opções oferecidas‖ (LORENZ, 2014, p. 148). Por isso, que a ajuda na decisão pode ser um importante grau de personalização. O quinto grau é da calibração e dos algoritmos. A calibragem entende-se como a atualização constante de dados para o usuário, como, por exemplo, a cotação do dólar. Os algoritmos funcionam como as métricas, que podem auxiliar para entender as preferências do leitor. O último grau é a possibilidade da plataforma ser adaptável a mudanças, como uma forma de ligar todos os graus de personalização já citados. ―Isto significa que as aplicações do futuro devem ser baseadas em componentes com relações entre si e com a
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capacidade de reconfigurar, realinhar e reavaliar fatores que deveriam influenciar os fatores de mudança‖ (LORENZ, 2014, p. 151). Se antes era preciso acompanhar os jornais diários, hoje, para se informar basta acessar os principais sites de notícias e até mesmo as redes sociais, como o Facebook e o Twitter, onde o conteúdo já chega filtrado de acordo com as preferências do usuário. Assim, a personalização faz com que o usuário tenha todo o conteúdo da web resumido em tópicos de seu interesse.
2.1.4 Memória
A web permite um arquivo quase ilimitado de informações nos mais variados formatos que já foram citados neste capítulo. A memória funciona como o arquivo da web, já que é possível resgatar materiais antigos e recuperar as informações já publicadas. Assim, a Internet oferece ―a possibilidade de disponibilização online de toda informação anteriormente produzida e armazenada, através da criação de arquivos digitais, com sistemas sofisticados de indexação e recuperação da informação‖ (PALACIOS, 2007, p. 49). Além disso, o mundo online é dono de um imenso banco de dados jamais visto até então, que, muitas vezes, é de extrema importância para o trabalho do jornalista e de serviço para a comunidade. Sem limitações de espaço, numa situação de extrema rapidez de acesso e alimentação (instantaneidade e interatividade) e de grande flexibilidade combinatória (hipertextualidade), o jornalismo tem na web a sua primeira forma de memória múltipla, instantânea e cumulativa (PALACIOS, 2004, p. 25).
Na prática, a memória aparece, por exemplo, nas retrospectivas de fim de ano, em matérias de aniversários, obituários e atualidades, nos diferentes veículos de comunicação, incluindo a internet. Assim, a memória entra em ação de maneira recorrente, de modo quase natural, na produção do relato da atualidade, seja como ponto de comparação do evento presente com eventos passados (recentes ou remotos), como oportunidades de analogias, como convites à nostalgia, ou mesmo através da apresentação do presente como elemento para desconstruir e tornar a construir, sob a luz de novos fatos, os acontecimentos do passado (ZELIZER, 2008, p. 82, apud PALACIOS, 2014, p. 92).
Em aspectos técnicos e econômicos, o acúmulo de informações nos ambientes digitais é mais fácil se comparado com as outras mídias, já que ―na web a
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memória torna-se coletiva, através do processo de hiperligação entre os diversos nós que a compõem‖ (PALACIOS, 2007, p. 49). Assim, a Internet facilitou o acesso às informações mais antigas: Com as tecnologias digitais, as bases de dados (Barbosa & Mielniczuk, 2005) e a disponibilização da informação em rede, os arquivos disponíveis para o acionamento da memória, no momento da construção do discurso jornalístico, tornam-se não somente acessíveis e facilmente pesquisáveis, mas também múltiplos (PALACIOS, 2014, p. 96).
A memória também mudou a forma em que o conteúdo é apresentado na web, transformando a estrutura e a edição do material. ―Não somente tornou-se mais fácil para os jornalistas incorporarem elementos de memória na produção do texto, mas igualmente tornou-se praxe uma forma de edição que remete à memória‖ (PALACIOS, 2014, p. 97). Com isso, os textos da web passaram a ser publicados com hiperlinks sugerindo leituras complementares àquela informação, como é o caso dos links de ―leia mais‖ e ―saiba mais‖. A utilização de tags e palavras-chaves, que buscam todas as publicações com um determinado assunto, também remetem à memória do site. Enquanto os veículos impressos mantêm um arquivo físico com as edições publicadas, na web, as informações de arquivo passam a ser fontes para a matéria e o usuário consegue acessá-las em poucos cliques. Por isso, ―é virtualmente impossível produzir-se jornalismo numa situação de rede, sem recurso contínuo e sistemático à memória coletivamente produzida‖ (PALACIOS, 2004, p. 27).
2.1.5 Atualização contínua
A instantaneidade da informação sempre foi fator fundamental para o jornalismo. No meio online, ela tem um grau de importância ainda maior, já que tudo ocorre muito rápido e, cada vez mais, o leitor quer se informar antes, quase na hora do acontecimento. Por ser um ambiente de rápido acesso e pela facilidade do processo de produção e publicação da notícia, a web exige uma atualização contínua das informações, permitindo uma agilidade na divulgação da informação jamais vista em outros tipos de veículos de comunicação. Até então, em grandes acontecimentos, esperava-se o telejornal ou o jornal impresso para acompanhar as
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notícias. Com os veículos online, tudo ficou instantâneo e o usuário ganhou a possibilidade de buscar as informações praticamente na hora da ocorrência: Diferentemente do impresso (que podia fazer ―Edições Extras‖ se um fato de extrema importância ocorresse), ou do rádio e da TV (que podem interromper a programação para transmitir um ―Boletim Extra‖), o jornalismo na Internet pode incorporar a atualização contínua como forma de ser corrente e não como algo ―extraordinário‖ (PALACIOS, 2007, p. 51).
A instantaneidade é a mudança mais significativa e visível do jornalismo online. Se no início os veículos de comunicação apenas replicavam o conteúdo do impresso, hoje as redações já estão voltadas para a web – as maiores até trabalham 24h por dia nas atualizações (FERRARI, 2008) – e os veículos impressos adaptaram-se a coberturas em tempo real nos sites. Agora, segundo Bradshaw (2014), o maior desafio é que as notícias estão a ser produzidas sem as limitações do espaço físico que sustentava a organização das redações. A captação de notícias, a produção e distribuição podem, agora, ocorrer simultaneamente – e serem potencializadas (BRADSHAW, 2014, p. 116).
Além da velocidade da informação, surge aqui o termo imediaticidade da notícia. Isto significa que o usuário pode ultrapassar o jornalista e chegar ao que está acontecendo no momento (BRADSHAW, 2014). A busca pela instantaneidade da informação também se deve às redes sociais, com posts no Facebook e tweets em tempo real no Twitter (BRADSHAW, 2014), principalmente agora com a possibilidade de transmitir conteúdo ao vivo diretamente das plataformas. Muitas vezes, o conteúdo é atualizado primeiramente nestes canais para, mais tarde, serem atualizadas no site oficial do veículo, possibilitando uma maior interação com o usuário.
2.1.6 Interatividade
Por fim, a interatividade é uma das principais características do jornalismo online. ―Assim como a Internet transcende o jornalismo, que tem como forma de expressão a web, a interatividade também vai além do jornalismo digital‖ (ROST, 2014, p. 53). Ela aparece nas rotinas de trabalho de todos os jornalistas, independentemente do meio em que trabalham. Na televisão, por exemplo, o
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espectador tem o poder de trocar o canal e interagir via telefone e redes sociais. Já com a Internet, há diferentes formas de interação, podendo ser através de grupos de discussão (fóruns), enquetes, chats, e-mails e também redes sociais. Entende-se como interatividade ―a capacidade gradual que um meio de comunicação tem para dar maior poder aos utilizadores tanto na seleção de conteúdos (interatividade seletiva), como em possibilidades de expressão e comunicação (interatividade comunicativa)‖ (ROST, 2006, apud ROST, 2014, p. 55). Em outras palavras, pode-se dizer que a interatividade é uma forma de fazer o leitor se sentir parte do processo de produção da informação. Além disso, a interatividade garante um certo poder ao usuário, que antes era apenas dos veículos. ―Poder, por um lado, quanto aos caminhos de navegação, recuperação e leitura que podem seguir entre os conteúdos que oferecer. E, por outro lado, relativamente às opções para se expressar e/ou se comunicar com outros utilizadores/as‖ (ROST, 2014, p. 55). Como citado no parágrafo acima, há dois tipos de interatividade: seletiva e comunicativa. A interatividade seletiva refere-se ao controle que o público tem sobre as formas de receber o conteúdo dos veículos. Para Rost (2006, apud ROST 2014), o grau de interatividade seletiva vai depender das opções de acesso aos conteúdos oferecidos pelos veículos e das necessidades do usuário. Assim, ―quantas mais opções de acesso aos conteúdos ofereça o meio, e quantas mais se ajustem às necessidades do utilizador, maior será o grau de interatividade seletiva‖ (ROST, 2014, p. 56). O hipertexto é uma das principais formas de interação seletiva, que também aparece nos motores de busca e infografias, por exemplo. Além disso, a interatividade seletiva pode ser dividida em quatro etapas, segundo Rost (2014), que começaram nos anos 1990. A primeira delas é a inclusão de opções de seleção mínimas para o usuário, quando os sites ainda replicavam os conteúdos dos veículos impressos, com recursos como o ―clique aqui‖ ou ―texto completo‖. Em 1988, iniciou a segunda e mais importante fase, com a personalização de conteúdo e utilização de base de dados, com o surgimento das notícias de última hora nos portais. A terceira etapa foi a de inovações seletivas dos blogs, a partir de 2004, com a organização das notícias em pequenos feeds na página e a inserção de links ao longo do texto – o hipertexto. A última etapa surgiu em 2009, com a distribuição multiplataforma da informação, apresentando formatos diferenciados do conteúdo para dispositivos móveis e redes sociais, por exemplo.
58 Enquanto a interatividade seletiva é relacionada a ―fazer coisas‖ sobre os conteúdos, e a interação acontece entre o usuário e o conteúdo, a interatividade comunicativa abre espaço para que o leitor gere algum conteúdo que, posteriormente, possa se tornar público, fazendo também com a interação seja entre as pessoas (ROST, 2014). A interatividade comunicativa permite que o usuário dialogue, discuta ou apoie a ideia publicada pelo veículo de comunicação. Além disso, é ela quem ―representa as possibilidades de comunicação e expressão que o utilizador tem entre os conteúdos do meio‖ (ROST, 2014, p. 58). Ou seja, é a forma de relacionamento que permite que o leitor possa expressar sua opinião em comentários nos sites de notícias e redes sociais, blogs, pesquisas, fóruns, e-mails, chats, envio de informações para os veículos, etc. Rost (2006, apud ROST 2014) também divide a interatividade comunicativa em quatro etapas. A etapa de presença corporativa surgiu a partir dos primeiros sites, em 1994, com poucas possibilidades de participação. As tradicionais cartas de leitores dos jornais impressos foram substituídas por um endereço de e-mail e, em alguns casos, ainda surgia alguma pesquisa ou fórum. A partir de 1999, tem início a etapa da participação marginal, com pesquisas e fóruns como principais formas de participação. Porém, a opinião dos leitores ainda não se mistura com os conteúdos do meio de comunicação, ocupando páginas e sessões diferentes. A terceira etapa é a participação assíncrona em espaços partilhados. A partir de 2006, três opções interativas são introduzidas nos sites de notícias: os blogs, os comentários abaixo de cada notícia e os canais de reportagem cidadã. A mudança foi uma das mais notáveis para o jornalismo já que, a partir deste momento, as intervenções dos leitores começaram a se mesclar com a dos jornalistas (ROST, 2006). Por fim, se 2006 foi o ano dos comentários e dos blogs, 2009 foi a vez das redes sociais e da etapa da participação sincrônica. Em tempo real, o público pode participar via Facebook e Twitter e é a partir deste momento que os sites começam utilizar as redes sociais para coberturas de determinados acontecimentos. Neste caso, o leitor pode participar da construção da notícia lado a lado com os jornalistas. Além disso, segundo Ward (2006, p. 25), a interação pode ocorrer de três formas. Ela pode ser com o consumidor interagindo com o provedor, quando leitores enviam e-mails para jornalistas com suas opiniões sobre o que foi escrito ou para fornecer outras informações; com o consumidor interagindo com o consumidor,
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como os fóruns de mensagem dos sites que permitem aos leitores trocarem opiniões e informações, além de fornecer diferentes perspectivas para uma reportagem; e com o consumidor se tornando o provedor, quando a medida que o meio de comunicação online amadurece, algumas vozes ―lá de fora‖ estão se tornando mais confiáveis contribuindo para o conteúdo principal. Ward (2006) ainda salienta que a interatividade pode promover dúvidas quanto à veracidade e exatidão das informações. Para o autor, a dimensão final da interatividade pode ser perturbadora para os jornalistas. Ela desafia toda a premissa do jornalista como guardião e provedor de informação. De 1994 até hoje, muita coisa mudou e os leitores tornaram-se muito mais vistos nos meios de comunicação. Se antes o máximo de interação que existia era escrever uma carta para o jornal impresso, agora as opções são imensas. Os jornais impressos publicam repercussões das notícias nas redes sociais, mostram os resultados de pesquisas digitais e escrevem sobre o mais comentado nos sites; na rádio, leem-se as mensagens que os ouvintes publicam nas páginas do meio no Facebook e as mencionadas no Twitter; os noticiários televisivos incitam a participar com hashtags no Twitter e posts no Facebook (ROST, 2014, p. 66).
Com o tempo, a participação do usuário também ficou cada vez menos anônima. Hoje, a maioria dos sites solicita que o usuário cadastre-se de alguma forma, algumas vezes até via Facebook, para poder interagir com o conteúdo. Os sites de redes sociais alteraram a forma que o público consome a informação. Agora, segundo Rost (2014), com as redes sociais, é possível pensar no jornalismo online partindo de três pontos: recepção, para receber as informações e as ideias, difusão, para distribuir o conteúdo, e interação, para interagir com os leitores e as fontes. ―As três abordagens são complementares e permitem conceber e aproveitar todo o potencial informativo e comunicativo das redes‖ (ROST, 2014, p. 73). Assim, hoje é muito mais fácil para o leitor expressar a opinião, apoiar as causas defendidas e compartilhar e curtir conteúdos que lhe agradem. Para o jornalista, também é mais simples de saber que tipo de conteúdo o público prefere, conhecer seus gostos e até, muitas vezes, facilitar a busca por fontes para a produção do conteúdo.
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2.2 Jornalismo nas redes sociais
Os sites de redes sociais mudaram completamente a forma de apresentação do conteúdo jornalístico. È neles que o público expõe sua opinião e compartilha as informações que julga importantes. Para Prado (2011, apud VELOSO, 2015, p. 28), as ―redes sociais são o espaço adequado para discussões acaloradas sobre todo tipo de assunto‖. Assim, se antes os comentários das notícias eram feitos em grupos presenciais, agora, com as redes sociais, é possível dar sua opinião nos espaços online, além de ter a possibilidade de compartilhar o conteúdo e mantê-lo ativo na rede. Para o jornalismo, as transformações vão desde o processo de produção da notícia, que, agora, pode ser intermediado pelos canais virtuais, além de ser uma maneira de atualizar-se rapidamente sobre o que está acontecendo ao redor do mundo. Ou seja, além de ser um espaço para auxiliar na produção da notícia, a rede social também auxilia na propagação do conteúdo. Os perfis online também são importantes para manter uma conversa com o internauta – algo bem informal, como se ele estivesse falando com um amigo próximo, em alguns casos, variando de acordo com o perfil da empresa administradora da página. Assim, o aumento das possibilidades de acesso à informação e a ampliação do ambiente digital modificaram a cadeia de produção e critérios do jornalismo tradicional, levando os profissionais a buscarem novos formatos para a produção e circulação de notícias (SARDÁ, LUPINACCI, BARBOSA et all, 2014, p. 2).
Se a televisão e o rádio são medidos pela audiência, a principal métrica dos veículos online é o número de visualizações das páginas (pageviews) no site. Por isso, os jornais buscam cada vez mais estratégias diferentes para chamar o internauta para o seu endereço virtual e, consequentemente, aumentar a busca pela página principal. As redes sociais integram estas estratégias, possibilitando que o veículo compartilhe links das matérias publicadas em sua fanpage, além de dar a oportunidade para que o internauta curta e comente no próprio Facebook, também possa compartilhar o material diretamente do site para o seu círculo de amigos da rede social. Assim, ―ao postar links nas redes, os jornais atraem acesso de seus seguidores. Ao disponibilizar o botão de compartilhamento, os jornais apostam na recirculação para angariar mais acessos‖ (SARDÁ, LUPINACCI, BARBOSA et all,
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2014). Ou seja, a partir de agora, o leitor adquire novas funções no processo comunicacional, já que ―os interagentes podem participar do processo jornalístico não só na produção de conteúdos e como fontes, mas também contribuindo para potencializar o alcance de um conteúdo jornalístico, através da recirculação‖ (ZAGO, 2008, p. 16). As redes sociais também trabalham com dados em forma de métricas. No Facebook, por exemplo, é possível acompanhar quantas pessoas a publicação alcançou, quantas clicaram na publicação, quantas reagiram, comentaram e compartilharam a postagem e, em caso de vídeos, quantas visualizaram o material. Com a análise dos dados, consegue-se, assim, acompanhar a movimentação da fanpage e saber os tipos de conteúdo que possuem um maior engajamento, que é o número de interações que o usuário tem na fanpage. Ou seja, nada adianta ter um grande número de fãs, se este público não interage com as postagens da página. Para o sucesso da fanpage, também é importante saber os horários de picos de engajamento, além de observar os tipos de conteúdo que geram mais retornos positivos para o canal. O BuzzFeed, que é o objeto de estudo da pesquisa, tem um forte trabalho junto aos canais online, principalmente na fanpage do Facebook. Com postagens frequentes, mais de uma vez ao dia, o conteúdo é repercutido nas redes sociais do veículo e, muitas vezes, compartilhado pelo internauta, tornando-o um viral na web. São as estratégias deste processo de viralização que serão analisadas no próximo capítulo.
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3 ANÁLISE DA FANPAGE DO BUZZFEED BRASIL
3.1 Metodologia
Para o desenvolvimento desta análise, serão utilizados os seguintes métodos e técnicas: pesquisa bibliográfica, pesquisa qualitativa, estudo de caso e análise de conteúdo. A seguir, esses aspectos serão explicados para esclarecer o desenvolvimento da análise das estratégias de viralização da fanpage do BuzzFeed Brasil.
3.1.1 Pesquisa qualitativa
Trata-se da forma de abordagem da pesquisa. A análise classifica-se como qualitativa, na medida em que não pode ser mensurada. Por isso, ela não se preocupa com dados numéricos, mas sim com a compreensão de um fenômeno social. Os pesquisadores que utilizam os métodos qualitativos buscam explicar o porquê das coisas, exprimindo o que convém ser feito, mas não quantificam os valores e as trocas simbólicas nem se submetem à prova de fatos, pois os dados analisados são não-métricos (suscitados e de interação) e se valem de diferentes abordagens (GERHARDT; SILVEIRA, 2009, p. 32).
Portanto, a pesquisa qualitativa preocupa-se com aspectos que não podem ser quantificados, ―centrando-se na compreensão e explicação da dinâmica das relações sociais‖ (GERHARDT; SILVEIRA, 2009, p.32), como é o caso da análise da fanpage do BuzzFeed Brasil para verificar as estratégias de viralização das postagens.
3.1.2 Pesquisa bibliográfica
Parte fundamental para o desenvolvimento deste trabalho, a pesquisa bibliográfica constou em reunir até o momento as definições teóricas de três pilares básicos: a Internet e a Web 2.0, as redes sociais e o jornalismo online. Para Lakatos e Marconi, a pesquisa:
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pode ser considerada um procedimento formal com método de pensamento reflexivo que requer um tratamento científico e se constitui no caminho para se conhecer a realidade ou para descobrir verdades parciais. Significa muito mais do que apenas procurar a verdade: é encontrar respostas para questões propostas, utilizando métodos científicos (LAKATOS; MARCONI, 2009, p. 43).
Ainda segundo Lakatos e Marconi (2009), toda pesquisa precisa de uma busca de dados de variadas fontes. Por isso, para validar esta análise, diversos autores foram utilizados no processo de criação do referencial teórico da pesquisa, como Alex Primo (2007 e 2013) e Eduardo Vieira (2003) para contextualizar a Internet e a Web 2.0, David Kirkpatrick (2011), Eli Pariser (2012) e Raquel Recuero (2012, 2014 e 2015) para explicar as redes sociais e o Facebook e João Canavilhas (2015), Marcos Palacios (2007) e Pollyana Ferrari (2008) para descrever o jornalismo online. 3.1.3 Estudo de caso
Uma das técnicas escolhidas para a realização da pesquisa é o estudo de caso, que, nesta análise, centrou-se na fanpage do BuzzFeed Brasil. Yin explica que: um estudo de caso é uma investigação empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos (YIN, 2005, p. 32).
Entende-se assim que o estudo de caso envolve condições contextuais. Ele, como método de pesquisa, abrange várias questões, como o planejamento, a coleta de dados, as abordagens específicas, além das análises propriamente ditas. Há ainda, no mínimo, cinco aplicações diferentes do estudo de caso na pesquisa: A mais importante é explicar os supostos vínculos causais em intervenções da vida real que são complexos demais para as estratégias experimentais ou aquelas utilizadas em levantamentos. Uma segunda aplicação é descrever uma intervenção e o contexto na vida real em que ela ocorre. Em terceiro lugar, os estudos de caso podem ilustrar certos tópicos dentro de uma avaliação, outra vez de um modo descritivo. A quarta aplicação é que a estratégia de estudo de caso pode ser utilizada para explorar aquelas situações nas quais a intervenção que está sendo avaliada não apresenta um conjunto simples e claro de resultados. Em quinto lugar, o estudo de caso pode ser uma ―meta-avaliação‖- o estudo de um estudo de avaliação (YIN, 2005, p. 34).
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Neste caso, os posts da fanpage do BuzzFeed Brasil serão analisados para verificar quais são as estratégias de viralização utilizadas pelo canal. Para tal estudo, Yin explica que ―produzir um estudo de caso como esse exige que o pesquisador seja entusiástico em relação à investigação e deseje transmitir amplamente os resultados obtidos‖ (YIN, 2005, p.197). Após determinar o período de 8 de maio a 8 de junho de 2016 para a análise, os posts foram selecionados. O número de curtidas, comentários e compartilhamentos foram analisados para verificar as estratégias de viralização da fanpage. Depois da análise, os resultados apresentarão qual formato de postagem e seus elementos, como linguagem e imagem utilizadas, tendem a ter um maior índice de viralização.
3.1.4 Análise de conteúdo
A análise de conteúdo possui ferramentas para estudar as formas de comunicação. Bardin (2000, p. 38) a define como um ―conjunto de análise das comunicações, que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo nas mensagens‖. De um modo geral, pode-se afirmar que a análise de conteúdo possui dois objetivos: entender o que está sendo propriamente dito na mensagem e, em um segundo momento, com um outro olhar, encontrar também o conteúdo que não está explícito na mensagem. Bardin (2000) também define que ―qualquer comunicação, isto é, qualquer transporte de significações de um emissor para um receptor controlado ou não por este, deveria poder ser escrito, decifrado pelas técnicas de análise de conteúdo‖ (BARDIN, 2000, p. 32). Além dos objetivos, a análise de conteúdo possui duas funções, que necessariamente precisam seguir juntas na prática. A primeira, segundo Bardin (2000), é a função heurística, que aumenta a propensão à descoberta de algo. ―É a análise de conteúdo ‗para ver o que dá‘‖ (BARDIN, 2000, p. 30). Já a função de administração da prova, que é o caso desta pesquisa, trabalha com as hipóteses como questões ou afirmações provisórias, em que utilizarão o método de análise como uma confirmação. ―É a análise de conteúdo ‗para servir de prova‘‖ (BARDIN,
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2000, p. 30). Na prática, estas duas funções podem mesclar-se para complementar a pesquisa. A análise de conteúdo divide-se em diferentes etapas. Bardin (2000) sugere três fases distintas: a) Pré-análise: é a fase de organização e intuição do pesquisador. Aqui, o objetivo é sistematizar as ideias iniciais para conduzir o plano de análise, com leituras, escolha de bibliografia, formulação de hipóteses e objetivos e preparação do material – parte das atividades já desenvolvidas no projeto da pesquisa. Bardin define esta fase como ―um período de intuições, mas, tem como objetivo tornar operacionais e sistematizar as ideias iniciais, de maneira a conduzir a um esquema preciso do desenvolvimento das operações sucessivas, num plano de análise‖ (BARDIN, 2005, p. 95). b) Exploração do material: com o material da pré-análise em mãos, esta fase nada mais é do que a análise em si. Aqui, o trabalho ―consiste essencialmente de operações de codificação, desconto ou enumeração, em função de regras previamente formuladas‖ (BARDIN, 2005, p. 101). Para isso, após a escolha de um corpus específico, basta utilizar os métodos já escolhidos na fase anterior. c) Tratamento dos resultados, a inferência e a interpretação: na última etapa, com operações estatísticas e provas de validação, os resultados são tratados para ganhar validade: Para um maior rigor, estes resultados são submetidos a provas estatísticas, assim como a testes de validação. O analista, tendo à sua disposição resultados significativos e fiéis, pode então propor inferências e adiantar interpretações a propósito dos objetivos previstos, ou que digam respeito a outras descobertas inesperadas (BARDIN, 2005, p. 101).
Após estas três fases, foi possível interpretar os resultados obtidos e, finalmente, responder à questão norteadora desta pesquisa. Para isso, na prática, primeiramente, foi escolhido o corpus para análise – os dez posts direcionados para o site publicados na fanpage do BuzzFeed Brasil que tiveram o maior número de compartilhamentos. Optou-se por deixar fora da análise conteúdos postados diretamente na fanpage, como vídeos e fotos publicados sem direcionamento para o site. O critério de escolha ocorreu ao perceber que a linguagem desses formatos é diferente da linguagem abordada nos compartilhamentos dos links de matérias, além
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de que o conteúdo viralizava diretamente nas plataformas das redes sociais, não levando o internauta para o site do veículo. Por fim, foram analisados os números de interações – reações, comentários e compartilhamentos – destes posts, além da escolha de formato, conteúdo, linguagem e imagem das postagens. O resultado final apresentou as estratégias de viralização da fanpage, respondendo à questão norteadora proposta nesta pesquisa.
3.2 O BuzzFeed
O BuzzFeed é um site de notícias e entretenimento conhecido por produzir conteúdo altamente compartilhável35. O nome do site surgiu com a junção de duas palavras em inglês (buzz + feed) e tem o significado de alimentar (como conteúdo) aquilo que se espalha facilmente na rede (SARDÁ, LUPINACCI, BARBOSA et all, 2014). Fundado em 2006, em Nova York, por Jonah Peretti, a ideia inicial era criar um laboratório viral. Hoje, o site conta com mais de 200 milhões de acessos mensais. Em 2013, surgiu a versão brasileira da página, editada pela jornalista Manuela Barem: Figura 2. Página inicial do BuzzFeed Brasil
Fonte: buzzfeed.com/?country=br
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Informações disponíveis em: <http://www.buzzfeed.com/about>. Acesso em outubro de 2015.
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Quem nunca ouviu falar da página, certamente, já deve ter cruzado com algum material compartilhado nas redes sociais. Para o BuzzFeed, ―tão importante quanto o tema do conteúdo parece ser o formato que essa mensagem recebe‖ (JENKINS, FORD, GREEN, 2014, apud SARDÁ, LUPINACCI, BARBOSA et all, 2014, p. 3). Os posts – na maioria das vezes em forma de listas numeradas – têm um índice elevado de compartilhamentos na rede, tornando-se, muitas vezes, um viral. Em entrevista ao jornal Folha de São Paulo36, Manuela Barem, editora-chefe do BuzzFeed Brasil, afirma que ―as listas são uma forma intuitiva de lidar com toda essa informação ao nosso redor; elas organizam isso‖. Em entrevista para o jornal El País37, em fevereiro de 2016, Peretti afirma que o sucesso das listas não é de hoje. Para ele, as listas são um fenômeno muito duradouro na mídia: você tem aí Os Dez Mandamentos (ri). A Bíblia está cheia de listas, está em nossa cultura. Recordemos a imprensa feminina e suas reportagens do tipo ―cinco conselhos para...‖, muito tempo antes que a Internet existisse. Acho que a lista é um meio útil de escanear informação, mas é preciso engendrá-las para renovar o formato e não cair na preguiça. (PERETTI, 2016).
O formato listicle (list + article) segue um modelo em que o texto é formatado com itens numerados e explicados por meio de frases curtas. As publicações costumam ser acompanhadas de imagens para ilustrar o que está sendo dito – que pode ser algo voltado para o humor ou uma notícia mais séria, normalmente como um resumo do que aconteceu. Além das listas, também são publicados quizzes38 e vídeos que, em função do formato e objetividade, são muito compartilhados em postagens nas redes sociais e dispositivos móveis. Um dos diferenciais do site é a não utilização de banners publicitários. No BuzzFeed, a publicidade entra como conteúdo, na maioria das vezes, alguma lista voltada ao interesse da marca e assinada por ela. Em junho de 2016, entrou ao ar a primeira lista brasileira que possibilitava ao internauta comprar os produtos da loja virtual da marca diretamente do site do BuzzFeed. Dados recentes da própria empresa mostram que 75% do
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Entrevista para o jornal Folha de São Paulo, disponível em <http://m.folha.uol.com.br/ilustrada/2016/01/1732514-em-livro-de-listas-jornalista-traduz-identidadeda-geracao-dos-memes.shtml>. Acesso em junho de 2016. 37 Entrevista para o jornal El País, disponível em <http://brasil.elpais.com/brasil/2016/02/24/tecnologia/1456328758_465322.html>. Acesso em junho de 2016. 38 Quiz é um jogo no qual os jogadores tentam responder corretamente questões de um determinado assunto, que pode ser generalizado ou temático.
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tráfego de referência vêm de sites como Twitter e Facebook (SARDÁ, LUPINACCI, BARBOSA et all, 2014). O conteúdo publicado vai além de animais fofinhos. Os assuntos das listas variam de comportamento a dicas de culinária, de fofocas de celebridades a sessões de nostalgia, passando por informações do momento, como coberturas especiais e matérias que possam ter uma boa repercussão no universo digital. Em entrevista à revista Época39, em maio de 2015, Peretti define o sucesso do BuzzFeed como ―uma mistura de ciência e arte‖. Para ele, não há uma fórmula especial para criar virais na web, mas sim, há temas que costumam chamar mais a atenção do público: Entre os principais estão os conteúdos de humor. Algo que faça com que a pessoa dê risada e queira compartilhar com seus amigos. Imagens de animais fofos, que mexem com a emoção, também costumam trazer grande audiência. Uma tendência mais recente que estreamos é o Buzzfeed Life. São publicações voltadas a quem quer ter uma vida melhor e mais saudável: Como melhorar seu cabelo? Qual roupa escolher em determinada ocasião? Como decorar seu apartamento gastando pouco? Finalmente, temos aquelas postagens que pessoas com determinadas características se identificam. Por exemplo, as ―18 piores coisas que podem acontecer com um canhoto‖. Elas atraem tanto canhotos quanto quem tem curiosidade em saber das especificidades da vida dessas pessoas (PERETTI, 2015).
Além do conteúdo voltado para o humor, ―o formato de artigo em lista também é muito utilizado como recurso para ‗resumir‘ ou explicar rapidamente algum evento ou fato que acabou de acontecer‖ (SARDÁ, LUPINACCI, BARBOSA etall, 2014, p. 3). Mesmo com o compartilhamento de conteúdo viral como peça fundamental para o sucesso do BuzzFeed, o site vem se aperfeiçoando em conteúdos mais profundos. Por isso, ―artigos mais longos – e que tratam de temas sérios – estão sendo publicados com uma frequência cada vez maior‖ (SARDÁ, LUPINACCI, BARBOSA, et all, 2014, p. 4). Mas, mesmo assim, o foco do site continua sendo em criar conteúdos que sejam altamente compartilháveis nas redes: Os jornalistas do site são estimulados a se apropriarem e compartilharem os conteúdos que existem na internet e que são produzidos aos montes. A função das equipes é dar uma certa curadoria ao que já existe publicado, com a intenção de que isso ressoe da melhor forma possível nos diversos 40 canais sociais da empresa (MILLER , 2015).
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Texto disponível em: <epoca.globo.com/vida/noticia/2015/04/jonah-peretti-do-buzzfeed-o-que-fazemos-euma-mistura-de-arte-e-ciencia.html>. Acesso em outubro de 2015. 40 Fonte: YouPix. Disponível em: <https://youpix.com.br/em-defesa-da-buzzfeediza%C3%A7%C3%A3o-dojornalismo-4018caa12431#.f1r2pbw8k>. Acesso em junho de 2016.
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Como citado no capítulo 1 deste trabalho, o BuzzFeed, que tem as listas como marca registada, não foi o criador desta forma de conteúdo – elas surgiram ainda no século XIX. As listas publicadas pelo site possuem quase sempre o mesmo padrão: são itens numerados que trazem frases bem-humoradas e imagens engraçadas sobre a situação determinada no título. ―A proposta do BuzzFeed é centrada em criar conteúdo que seja extremamente compartilhável. Isto se dá através de uma mistura
que
combina textos e
imagens aparentemente
descompromissados, permeados por piadas e humor‖ (SARDÁ, LUPINACCI, BARBORA et all, 2014, p. 3). As imagens utilizadas são próprias da web e o site, muitas vezes, também utiliza GIFs, que são pequenas animações. Os memes da web também são utilizados nas postagens. ―A maioria deles consiste de replicações e intervenções em imagens que por alguma razão se tornaram famosas‖ (SARDÁ, LUPINACCI, BARBORA et all, 2014, p. 4). As modificações podem ter um tom humorístico ou debochado e, em outros casos, as imagens são recortadas e ganham uma nova interpretação. O conteúdo em forma de vídeo também vem ganhando destaque. Sempre pensando na proposta do compartilhamento, o material é publicado de forma curta, informal e com um tom de humor.
3.3 O BuzzFeed no Facebook
A fanpage do BuzzFeed Brasil no Facebook tem um público de mais de 1,3 milhão de fãs41, os quais são convidados a interagir com as postagens, que seguem uma frequência de 12 a 14 posts por dia. No Brasil, além do Facebook, o BuzzFeed tem conta no Twitter, com mais de 78 mil seguidores e um conteúdo adaptado para a rede social de apenas 140 caracteres. O site também mantém uma conta no Snapchat42, com conteúdos exclusivos para o aplicativo. Mesmo com os outros canais, é no Facebook que o processo de viralização fica mais claro. Quanto mais compartilhamentos um post tiver, maiores as chances de ele tornar-se um viral. Além disso, o internauta tem a opção de reagir e comentar o post. Muitas vezes, o conteúdo é pensado exclusivamente para determinado formato, como é o caso do Facebook. Assim, não necessariamente as redes sociais 41
Dados do Facebook, em junho de 2016. Aplicativo de rede social de mensagens instantâneas voltado para smartphones, que pode ser usado para enviar textos, fotos e vídeos. O diferencial do app é que o conteúdo publicado só pode ser visto apenas uma vez, já que é deletado logo em seguida, se "autodestruindo" da plataforma. 42
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terão apenas postagens de links direcionados para o site e é possível encontrar também fotos e vídeos publicados diretamente na fanpage. ―São propostas estratégicas que fogem do modelo tradicional de jornalismo e permitem à empresa conhecer melhor o seu público em cada tipo de ambiente digital‖ (MILLER, 2015). Além disso, a combinação de chamadas curtas e leves com imagens descontraídas facilita o processo de leitura do internauta, aumentando as chances de ele se identificar com o conteúdo e, possivelmente, compartilhá-lo para sua rede de amigos para, futuramente, ser viralizado na web. Assim, observa-se que o grande número de compartilhamentos na fanpage do BuzzFeed no Facebook tem relação com ―os formatos de posts em curta duração, visualmente apelativos e que incentivam o engajamento‖ (SARDÁ, LUPINACCI, BARBOSA et all, 2014, p. 4).
3.4 Delimitação de corpus
Após explicar os conceitos fundamentais para esta pesquisa, como a Internet, as redes sociais, com foco no Facebook, o jornalismo online e a viralização na web, é preciso delimitar o corpus e seus recortes de estudos. Sabe-se que o BuzzFeed Brasil tem uma média de 12 a 14 posts diários. Pensando assim, decidiuse que o período de análise seria de trinta dias, de 8 de maio a 8 de junho de 2016. Ao total, foram mais de 180 posts neste período. Após uma pré-análise de todas as postagens do período escolhido, optou-se por selecionar os posts em forma de links que direcionam para o site, para entender os níveis de viralização do conteúdo publicado no endereço virtual, excluindo, assim, os conteúdos postados diretamente na fanpage, como os vídeos e as fotografias publicados sem direcionamento para o site. Este critério de escolha ocorreu ao perceber que a linguagem destes formatos é diferente da abordada nos compartilhamentos dos links de matérias. Além disso, quando se trata de vídeos e fotos publicados diretamente na fanpage, percebe-se que este tipo de conteúdo viraliza diretamente nas plataformas online, ou seja, não leva o internauta para o site do veículo. Por ser um número muito amplo de postagens e por excluir o formato de publicações diretamente na fanpage, foram escolhidos os dez posts mais viralizados e postados com links para o site, em que serão analisados o número de interações – reações, comentários e compartilhamentos – destes posts, além da escolha de
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formato, conteúdo, linguagem e imagem das postagens. É importante ressaltar que os temas podem se alterar de acordo com o que está acontecendo no momento. A tabela abaixo mostra os posts selecionados e o número de compartilhamentos de cada um até o dia 8 de junho de 2016: Tabela 3. Dez posts da fanpage do BuzzFeed Brasil mais viralizados de 8 de maio a 8 de junho de 2016.
Compartilhamentos 5126
5039 4982 3976 2911 2254 2108
2065 1750
1709
Postagem 22 perguntas sinceras que gays e lésbicas querem fazer para os homofóbicos Este gif do que fazer com o título de eleitor está sendo muito compartilhado no Facebook Eis aqui um manifesto em defesa do bombom Caribe 24 dos filmes de terror mais macabros de todos os tempos O cara atacado pelos taxistas não ficará no prejuízo graças à internet 16 histórias da vida de quem tem cara de bravo 15 dilemas que já passaram pela cabeça de toda pessoa pensativa demais 12 tuítes que ―desenharam‖ a cultura do estupro 18 fotos que mostram como a sua vida muda depois que você adota um gato 29 coisas que nós mulheres evitamos fazer porque tememos por nossa segurança
Data 09/05/2016
12/05/2016 30/05/2016 29/05/2016 13/05/2016 11/05/2016 03/06/2016
27/05/2016 05/06/2016
27/05/2016
3.5 Análise
Após a pesquisa histórica e teórica produzida neste trabalho, abordando questões do jornalismo online, das redes sociais e da viralização na web, parte-se para a análise do objeto de estudo: a fanpage do BuzzFeed Brasil no Facebook. Já com a metodologia escolhida e aplicada, com foco maior na análise de conteúdo, e o corpus delimitado, com os dez posts mais compartilhados com direcionamento para o site a serem analisados, que estão anexados ao fim do trabalho, partiu-se para a análise do material selecionado.
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Na análise, foram estudados individualmente cinco itens, considerados fundamentais para a pesquisa: formato, conteúdo, linguagem,
imagem e
interatividade. Ao fim da pesquisa, chegou-se aos objetivos propostos no trabalho e as estratégias de viralização da fanpage do BuzzFeed Brasil no Facebook foram descobertas.
3.5.1 Formato
O buzzfeed.com é conhecido por publicar a maior parte de seu conteúdo em formato listicle (list + article), que consiste em listas numeradas e ilustradas com imagens de acordo com a situação, muitas vezes com um toque de humor embutido na publicação. Como citado no item 3.2 deste capítulo, as listas são muito utilizadas ―como recurso para ‗resumir‘ ou explicar rapidamente algum evento ou fato que acabou de acontecer‖ (SARDÁ, LUPINACCI, BARBOSA et all, 2014, p. 3). Além disso, para o BuzzFeed, ―tão importante quanto o tema do conteúdo parece ser o formato que essa mensagem recebe‖ (JENKINS, FORD, GREEN, 2014, apud SARDÁ, LUPINACCI, BARBOSA et all, 2014, p. 3). Nos dez posts selecionados para a análise, as listas aparecem em sete publicações de variados assuntos, indo dos temas factuais até o entretenimento, incluindo as tradicionais listas com animais fofinhos. A matéria ―22 perguntas sinceras que gays e lésbicas querem fazer para os homofóbicos‖ (Figura 3), publicada em 9 de maio, teve 5126 compartilhamentos, sendo a mais compartilhada no período selecionado para a análise:
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Figura 3. 22 perguntas sinceras que gays e lésbicas querem fazer para os homofóbicos
Fonte: facebook.com/buzzfeedbrasil
Com um teor sério, informando que, no Brasil, um LGBT 43 é morto a cada 27 horas, o conteúdo em forma de lista dá uma nova cara ao que até então seria tradicional nos veículos de comunicação, normalmente trabalhado apenas com textos e fotos. Aqui, a contextualização é breve e é feita logo na linha de apoio, apenas introduzindo o assunto para, logo após, ser apresentado o conteúdo da lista, sempre na ordem numeral, com imagens e textos. Além disso, mostrar as pessoas com suas respectivas opiniões dá um tom de humanização ao conteúdo, fazendo com que o leitor se identifique ainda mais com a proposta do texto, aumentando, assim, as chances de compartilhamento do post. 43
Sigla para Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros.
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Nota-se também que as listas são utilizadas para diferentes assuntos. Além de conteúdos que necessitam de uma seriedade maior, há temas mais descontraídos, como as ―16 histórias da vida de quem tem cara de bravo‖ (Figura 4), publicada em 11 de maio e com 2254 compartilhamentos: Figura 4. 16 histórias da vida de quem tem cara de bravo
Fonte: facebook.com/buzzfeedbrasil
O humor é bem utilizado nas publicações do BuzzFeed, e o formato listicle permite que o veículo ―brinque‖ com o internauta, mesclando os conteúdos mais densos e sérios com histórias mais leves e descontraídas, além de, novamente, humanizar a timeline do Facebook, apresentando matérias que façam com que o internauta identifique-se com o que está sendo dito, gerando, assim, mais compartilhamentos da publicação. Este tipo de matéria, por exemplo, não vai mudar a vida de ninguém e não tem uma relevância para a sociedade em geral. Porém, o fato do internauta enxergar-se nos tópicos da lista faz com que o conteúdo viralize
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na rede, já que ele compartilhará para a sua rede de contatos do Facebook. Além disso, nota-se, quando o conteúdo é em formato de listas, que o numeral que indica a quantidade de itens sempre é quebrado (fugindo do 10, 20 e 30, por exemplo), neste caso, o 16. Além das listas, as matérias em formato tradicional também possuem um alto nível de compartilhamento, dependendo, novamente, do assunto abordado nas postagens. Porém, elas são em menor quantidade – dos dez posts analisados, apenas três não acompanham o tradicional numeral que indica as listas. Um exemplo é a postagem de 12 de maio, intitulada ―Este gif do que fazer com o título de eleitor está sendo muito compartilhado no Facebook‖ (Figura 4), que teve 5039 compartilhamentos: Figura 5. Este gif do que fazer com o título de eleitor está sendo muito compartilhado no Facebook
Fonte: facebook.com/buzzfeedbrasil
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O assunto, que viralizou na web antes mesmo da publicação do BuzzFeed, foi abordado de maneira leve e descontraída, mas sem deixar de lado a seriedade e veracidade da informação. Para isso, o BuzzFeed apropria-se do que já foi postado sobre o assunto, utilizando links ao longo da matéria – o hipertexto, que foi estudado no item 2.1.1 deste trabalho. Porém, nota-se que, mesmo sem ser uma lista explícita, o texto é quebrado em blocos pequenos de informações, que são intercalados com fotos, ao estilo das publicações em forma de listas, mas sem utilizar o numeral. Por outro lado, a postagem ―Eis aqui um manifesto em defesa do bombom Caribe‖ (Figura 6), de 30 de maio, com 4982 compartilhamentos, aborda um conteúdo aparentemente sem relevância social: Figura 6. Eis aqui um manifesto em defesa do bombom Caribe
Fonte: facebook.com/buzzfeed.com
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O conteúdo leve e divertido não tem uma relevância grande para a comunidade em geral, porém, faz com que o internauta identifique-se com a publicação, gerando, assim, compartilhamentos. Algumas vezes, este formato pode ser até mais compartilhado do que os outros. Porém, tudo vai depender do conteúdo abordado, da época em que ele é publicado e do que está acontecendo no momento. Além dos formatos analisados, a fanpage do BuzzFeed Brasil publica imagens – tirinhas, fotos e montagens, por exemplo – e vídeos curtos diretamente na página do Facebook. Tais conteúdos também têm um índice alto de viralização, porém, devido ao formato, a postagem é viralizada apenas na rede social e não direciona o internauta para o site, excluindo as publicações desta análise. Ao fim, percebe-se, sim, que as listas são mais compartilhadas do que as matérias convencionais. Dos dez posts analisados, sete foram publicados em formato de listas. Porém, além da escolha do formato, a viralização também vai depender do conteúdo que é abordado no material.
3.5.2 Conteúdo
O formato listicle é considerado a marca registrada do BuzzFeed. Um dos tipos de conteúdo que chama bastante a atenção do público e, consequentemente, tem um índice alto de compartilhamentos, são as listas que envolvem animais fofinhos – normalmente cães ou gatos – e temas que façam com que o internauta se identifique – e até se veja – naquele texto. Porém, conteúdos factuais, abordados em formato de lista ou não, também são muito bem vistos pelo público da fanpage, já que funcionam como um resumo do que está acontecendo. Além disso, as publicações do site são divididas em categorias: ―trending‖, ―hahaha‖, ―o melhor‖, ―meu deus!‖, ―fofo‖, ―fail‖ e ―wtf‖. Dos dez posts analisados, independente do formato da publicação, cinco abordam temas factuais, ou seja, temas que estavam sendo discutidos na grande mídia no momento da publicação. Porém, o conteúdo tem uma cara própria e foge do padrão dos veículos tradicionais, utilizando imagens e uma linguagem mais próxima das características da web, abordando também referências do universo da Internet, como os memes. Percebe-se, assim, que a apresentação no formato de lista pode sim surgir para assuntos que exigem uma seriedade maior, sem apelar
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para o humor. É o caso das postagens relacionadas ao estupro coletivo, que ocorreu em maio, no Rio de Janeiro. Para lembrar, o BuzzFeed publicou outras informações além
destas
postagens
referentes
ao
assunto,
porém
com
menos
compartilhamentos No dia 27 de maio, o BuzzFeed publicou os ―12 tuítes que ‗desenharam‘ a cultura do estupro‖ (Figura 7), com 2065 compartilhamentos no Facebook: Figura 7. 12 tuítes que ‗desenharam‘ a cultura do estupro
Fonte: facebook.com/buzzfeedbrasil
No mesmo dia, o BuzzFeed publicou as ―29 coisas que nós mulheres evitamos fazer porque tememos por nossa segurança‖ (Figura 8), que teve 1709 compartilhamentos:
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Figura 8. 29 coisas que nós mulheres evitamos fazer porque tememos por nossa segurança
Fonte: facebook.com/buzzfeedbrasil
Nestes conteúdos factuais, nota-se uma aproximação ainda maior do BuzzFeed ao jornalismo, trazendo referências à atualidade, uma das características da notícia, que também é presente no jornalismo online. Nos ―12 tuítes que ‗desenharam‘ a cultura do estupro‖, por exemplo, abordou-se um tema sério e que tem sido bem discutido atualmente com uma linguagem típica da web, dando voz para o internauta, no caso, os usuários do Twitter. A publicação ―29 coisas que nós mulheres evitamos fazer porque tememos por nossa segurança‖ complementa o assunto, trazendo o conteúdo em formato de lista, porém, desta vez, sem a
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utilização de imagens intercaladas com o texto. Percebe-se também que as listas são utilizadas sem imagens intercaladas quando possuem muitos itens numerados. Além disso, apesar da lista da Figura 7 ser mais descontraída do que a outra por possuir a linguagem do próprio internauta, o texto, em ambas as postagens, é acessível para quem for lê-lo – outra característica marcante do BuzzFeed. Ao contrário destas publicações, a postagem ―15 dilemas que já passaram pela cabeça de toda pessoa pensativa demais ― (Figura 9), publicada em 3 de junho, com 2108 compartilhamentos, integra os temas mais leves publicados pela página: Figura 9. 15 dilemas que já passaram pela cabeça de toda pessoa pensativa demais
Fonte: facebook.com/buzzfeedbrasil
O conteúdo não narra nenhum tipo de acontecimento e é apenas uma forma de listar características que fazem com que o internauta identifique-se com a
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postagem, gerando os compartilhamentos no Facebook. A linguagem também é de fácil entendimento e são utilizadas imagens bem humoradas para descrever cada situação enumerada no texto. Neste caso, além da descrição da situação e da foto, a publicação vem acompanhada de um pequeno texto, sempre referenciando ao que está sendo dito no tópico, além de conter um toque de humor. As imagens, neste caso também, são de situações famosas na televisão brasileira, fazendo com que o internauta relembre as cenas de personagens famosos das novelas. Por fim, conclui-se que o conteúdo do BuzzFeed varia de assuntos do momento – as matérias factuais que carregam a personalidade do site na forma de apresentar o material – aos assuntos voltados para o entretenimento – como as listas voltadas para o humor e que fazem com que o internauta identifique-se no texto. Indiferentemente do modelo proposto de conteúdo, o texto sempre vai manter uma linguagem padrão, típica da web e bem próximo ao leitor, podendo, assim, ser entendida por qualquer público. As imagens, por sua vez, normalmente darão um toque de humor à publicação, quando possível, ilustrando a situação descrita no post da melhor maneira, seja com fotos ou GIFs.
3.5.3 Linguagem
As publicações do BuzzFeed possuem uma linguagem de fácil entendimento e típica do ambiente da web, muitas vezes, apropriando-se de jargões utilizados na própria rede online. Tanto no site quanto no Facebook, o tipo de linguagem utilizado aproxima o internauta da publicação. É algo como uma conversa bem informal com alguém próximo, principalmente nas postagens que dão características individuais das pessoas. Aqui, o teor da seriedade da publicação também vai influenciar no tipo de linguagem utilizada, mas sem sair da linguagem de fácil entendimento. Além disso, o site utiliza bastante os recursos que a web oferece e que caracterizam o jornalismo online, segundo Palacios (2007), como a utilização de hipertexto, de conteúdos multimídia, conteúdos personalizados e atualizados constantemente e a interação. O hipertexto surge na necessidade de cruzar informações distintas para contextualizar o leitor, seja de outras matérias publicadas pelo próprio BuzzFeed ou seja matérias de outros veículos que tenham relação com o tema abordado, como aconteceu na matéria dos ―12 tuítes que ‗desenharam‘ a cultura do estupro‖ (Figura 7). Conforme visto no capítulo 2, a multimidialidade
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aparece em matérias que possuam formatos distintos de informações, com a utilização de recursos, como imagens, vídeos e áudios, que acontecem em todas as publicações do BuzzFeed. Os conteúdos personalizados e atualizados servem também para as assinaturas, onde o internauta consegue receber o conteúdo diretamente no seu e-mail e pelo feed de notícias do Facebook. Nesse caso, ele recebe as notícias de acordo com seus interesses. Por fim, a interatividade, que será melhor explorada no próximo item deste capítulo, aparece de várias maneiras, principalmente com as reações, comentários e compartilhamentos, que podem ser feitos diretamente na publicação do site ou na fanpage do Facebook. As publicações do caso do estupro coletivo, postadas no dia 27 de maio (Figuras 7 e 8), por exemplo, têm uma linguagem um pouco mais séria, sem apelar para o humor, devido ao tema abordado, tanto no site quanto no Facebook. Porém, ao mesmo tempo em que o veículo aborda esta postura, ele também usa uma linguagem de fácil entendimento e aproxima quem está lendo do conteúdo, como se fosse uma conversa entre amigos. Assim, mesmo quem não sabe do acontecimento consegue entender o que está sendo dito. Ao contrário da lógica séria, a publicação de 5 de junho, intitulada ―18 fotos que mostram como a sua vida muda depois que você adota um gato‖ (Figura 10), que teve 1750 compartilhamentos, utiliza uma linguagem mais descontraída:
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Figura 10. 18 fotos que mostram como a sua vida muda depois que você adota um gato
Fonte: facebook.com/buzzfeedbrasil
Além de comprovar a hipótese de Peretti de que animais fofinhos viralizam na rede, abordada no item 3.2, a publicação mostra uma linguagem mais descolada e que faz com que o internauta identifique-se com o texto – isso se ele tiver um gato, é claro – e, certamente, ao ler o texto conseguirá se enxergar em diversas situações. Como já citado anteriormente, esta identificação aumenta as chances do internauta compartilhar o link entre seus amigos, gerando assim, a viralização do post. Percebe-se também que a linguagem é bem simples, sem formalidades, e a
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abordagem do conteúdo é próxima de uma conversa entre conhecidos, com um leve toque de humor, comportando-se como uma pessoa. Assim, pensando no BuzzFeed como uma figura humana, ele seria alguém feliz na maior parte do tempo, mas que sabe das responsabilidades que tem. Por fim, analisa-se que a linguagem utilizada pelo BuzzFeed é própria da web, sem formalidades, e apresenta sempre um discurso de fácil entendimento para o internauta, muitas vezes, fazendo com que ele se identifique com o que está sendo dito. Mesmo em conteúdos mais sérios, o veículo segue o mesmo padrão, porém, nestes casos, sem apelar para o humor. Isso faz com que o internauta fique habituado com o formato de texto, facilitando o processo de reconhecimento do material na rede e sabendo a forma com que ele encontrará o conteúdo no site.
3.5.4 Imagem
As imagens também são de extrema importância para o processo de viralização dos posts do BuzzFeed Brasil, já que são as responsáveis por ilustrar a postagem na rede social. O formato das ilustrações varia: memes, prints de redes sociais, GIFs e imagens com um tom de humor são alguns dos utilizados. Independente do formato, as imagens conversam diretamente com o texto, muitas vezes, completando o que está querendo ser dito. Além da chamada ser bem importante para fisgar o leitor, a imagem tem a mesma função, principalmente na capa do site e na fanpage. Ou seja, supõe-se que uma foto interessante é fundamental para garantir uma boa audiência na publicação. Exemplos diferentes de utilização de imagens são das publicações ―22 perguntas sinceras que gays e lésbicas querem fazer para os homofóbicos‖ (Figura 3), ―12 tuítes que ‗desenharam‘ a cultura do estupro‖ (Figura 7) e ―15 dilemas que já passaram pela cabeça de toda pessoa pensativa demais‖ (Figura 9). A primeira aborda um conteúdo mais sério e trabalha com a imagem das pessoas que deram depoimento para a construção da matéria, algo típico do fotojornalismo. Já a matéria dos ―12 tuítes que ‗desenharam‘ a cultura do estupro‖, é ilustrada apenas com prints das publicações do Twitter, utilizando também a opinião e a imagem das pessoas que, de alguma forma, também auxiliaram a produção da matéria – aqui, encaixa-se ainda a interatividade, que será analisada no próximo item. Por fim, a postagem dos ―15 dilemas que já passaram pela cabeça de toda pessoa pensativa demais‖ é
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ilustrada com personagens da televisão brasileira, com imagens direcionadas ao sentimento do que está sendo dito.
3.5.5 Interatividade
Como estudado no item 2.1.6 deste trabalho, a interatividade é uma forma de fazer o leitor se sentir parte do processo de produção da informação, garantindo certo poder ao usuário, o que até então, era pouco visto nos veículos de comunicação. No BuzzFeed, ela aparece em diferentes formatos. O próprio site oferece a oportunidade de interação, possibilitando que o internauta comente diretamente na publicação. Além disso, seguidamente, o BuzzFeed trabalha a opinião do internauta como forma de notícia, assim como a publicação ―12 tuítes que ‗desenharam‘ a cultura do estupro‖, que foi toda estruturada com base em postagens de usuários do Twitter. Já no Facebook, o usuário pode reagir, comentar e compartilhar a publicação. Os números, porém, nem sempre vão ser os mesmos para todos os tipos de interação. Ou seja, a postagem mais compartilhada não será necessariamente a mais curtida. Para ficar mais claro, a tabela abaixo, mostra os dados de todas as interações via Facebook das dez publicações analisadas: Tabela 4. Interações via Facebook dos dez posts analisados
Postagem Compartilhamentos Comentários 22 perguntas sinceras que gays e lésbicas querem fazer para os 5126 238 homofóbicos Este gif do que fazer com o título de eleitor está sendo 5039 733 muito compartilhado no Facebook Eis aqui um manifesto em 4982 1900 defesa do bombom Caribe 24 dos filmes de terror mais 3976 3700 macabros de todos os tempos O cara atacado pelos taxistas não ficará no prejuízo graças à 2911 439 internet 16 histórias da vida de quem 2254 874 tem cara de bravo 15 dilemas que já passaram pela cabeça de toda pessoa 2108 565 pensativa demais
Reações 10000
19000
10000 5900
21000 4200
5300
86 12 tuítes que ―desenharam‖ a cultura do estupro 18 fotos que mostram como a sua vida muda depois que você adota um gato 29 coisas que nós mulheres evitamos fazer porque tememos por nossa segurança
2065
114
10000
1750
1100
4700
1709
113
5700
Assim, o post mais compartilhado é o das ―22 perguntas sinceras que gays e lésbicas querem fazer para os homofóbicos‖, com 5126 compartilhamentos. Porém, o que obteve o maior número de comentários foi a matéria dos ―24 dos filmes de terror mais macabros de todos os tempos, com 3700 comentários. O maior número de reações ocorreu na publicação ―O cara atacado pelos taxistas não ficará no prejuízo graças à internet‖, com 21 mil reações. Percebe-se, assim, que os números de interações independem uma das outras e podem variar em seus formatos. De qualquer forma, independente do tipo, as interações mostram o engajamento do internauta com a publicação, facilitando a contabilização dos resultados através das métricas para futuras análises da fanpage. Além disso, as interações fazem com que o post apareça mais vezes no feed de notícias do Facebook. Ou seja, quanto mais amigos curtirem, comentarem ou compartilharem a publicação, mais ela poderá aparecer para outros novos amigos, mostrando, de certo modo, que aquele conteúdo é relevante para determinadas pessoas do círculo de amizade do usuário, que possuem determinado capital social, conforme estabelecido por Recuero (2009) que é o ―valor constituído a partir das interações entre os atores sociais‖ (RECUERO, 2009, p. 45). Esta corrente de links acaba, por sua vez, construindo o processo de viralização na web.
3.6 Fechamento da análise Após analisar os cinco tópicos – formato, conteúdo, linguagem, imagem e interatividade – dos dez posts delimitados do BuzzFeed Brasil, conclui-se que as listas são mais viralizadas do que matérias em formato tradicional – dos dez posts, sete são apresentados em formato listicle. Porém, lembra-se que as matérias tradicionais são editadas de modo similar às listas, com blocos de textos intercalados com fotos, sendo a maior diferença a falta do numeral para indicar o
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formato. Tratando-se do conteúdo, das dez publicações, cinco apresentam conteúdos factuais, ou seja, aquilo que estava sendo discutido no momento. As outras postagens são voltadas ao entretenimento e a situações que fazem com que o leitor identifique-se no momento da leitura. Como um todo, a linguagem abordada no site e na fanpage do BuzzFeed Brasil é simples e de fácil entendimento para o leitor. Pode se considerar uma linguagem como se fosse uma conversa com alguém próximo, excluindo formalidades da língua. Em alguns casos, utiliza-se a linguagem da web, incluindo memes e gírias, podendo deixar um tom de humor explícito no material. Porém, a utilização do humor vai depender do contexto da publicação. Ou seja, postagens com conteúdos mais sisudos possuem uma linguagem mais séria, mas não tão formal assim. Para ilustrar, as imagens também têm papel fundamental na viralização do post e podem ser de diferentes formatos. Porém, na maioria das vezes, são memes, prints, GIFs ou imagens que tenham um toque de humor, quando possível. As interações podem aparecer de diferentes maneiras – no site, por meio de comentários, e no Facebook, por meio de reações, comentários e compartilhamentos. Como mostrado anteriormente, não necessariamente a postagem mais compartilhada terá mais reações e vice-versa. Tudo vai depender do conteúdo e da forma em que ele é abordado. Ao fim da análise, conclui-se que o formato listicle é uma das estratégias de viralização da fanpage do BuzzFeed Brasil, assim como a mescla de conteúdos factuais e de entretenimento, utilizando uma linguagem leve, interativa, de fácil entendimento e descontraída. Também destacam-se o aproveitamento de imagens que tenham relevância, podendo ser memes, GIFs, prints ou imagens bem humoradas. Ao fim de tudo, são estas características que possuem os maiores níveis de interação e viralização na fanpage.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Vivemos conectados. Mais do que nunca. Seja via smartphones, tablets ou computadores, é cada vez mais fácil consumir informações que chegam dos mais variados meios. Sabe-se também que o conteúdo publicado em forma de listas numeradas, com textos intercalados com imagens divertidas e animadas, é mais fácil de ser lido e compreendido, já que não se exige muito conhecimento dos leitores, atingindo um maior número de pessoas. E percebe-se também que é comum ver posts deste formado no feed de notícias do Facebook. Juntando estas ideias, mesmo sabendo que não seria fácil prever o que será viralizado na rede, chegou-se à conclusão de estudar as estratégias de viralização da fanpage do BuzzFeed Brasil no Facebook, por ser o veículo de referência quando se fala de listas numeradas. Duas hipóteses nortearam a pesquisa, que pretendia responder quais são as estratégias de viralização na fanpage do BuzzFeed Brasil no Facebook. A primeira hipótese relata que o formato de listas é popular nas redes sociais e costuma atrair a atenção do internauta nos posts, fazendo com que o conteúdo viralize na web. Como segunda hipótese, tem-se que a linguagem, as imagens e os memes ajudam o processo de viralização do post. Além de analisar as estratégias de viralização da fanpage do BuzzFeed Brasil, a pesquisa tinha como objetivos discutir a produção de conteúdo para o jornalismo na Internet e entender o contexto de compartilhamento e interatividade das fanpages do Facebook. O estudo desenvolvido neste trabalho uniu diferentes conceitos, passou pela história da Internet, por questões teóricas sobre as redes sociais e pelas características fundamentais do jornalismo online, na busca de entender o processo de viralização na web, principalmente do objeto de estudo da pesquisa, a fanpage do BuzzFeed Brasil. O embasamento teórico, com fundamentações de importantes autores no universo da comunicação, como Alex Primo, João Canavilhas, Marcos Palacios e Pollyana Ferrari para descrever o jornalismo online; David Kirkpatrick, Eli Parisere e Raquel Recuero para explicar as redes sociais e o Facebook; e, por fim, Jonah Peretti e Thais Sardá et all para defender o BuzzFeed, foi de fundamental importância para o desenvolvimento deste trabalho. Após o desenvolvimento do embasamento teórico, analisou-se dez publicações do BuzzFeed para alcançar os objetivos propostos na pesquisa. A
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orientação do trabalho deu-se nos dez posts mais compartilhados no período de 8 de maio a 8 de junho de 2016 e que direcionavam o internauta para o site, ou seja, links diretos, excluindo fotos e vídeos publicados apenas na rede social. A escolha deu-se por entender que as publicações de fotos e vídeos possuem uma linguagem diferenciada e não levavam o internauta para o site do veículo, sendo também mais fácil de visualizar o conteúdo do que os links. Durante a pesquisa, notou-se que os sites de redes sociais tiveram uma grande influência no fluxo de conteúdo da Internet, permitindo, a partir de agora, que o internauta integre o processo comunicacional. Assim, ―mais do que visitar o perfil alheio, os usuários querem ver as atualizações mais recentes de seus contatos. Os próprios perfis mudaram para incluir, também, atualizações‖ (BASTOS; RECUERO; ZAGO, 2015, p. 27). Ou seja, os sites de redes sociais passaram a ser também parte da mídia, integrando os veículos de comunicação na rede online. O Facebook, por exemplo, deixou de ser apenas um ambiente de relacionamento e interação entre pessoas, alterando também a forma de consumir a informação. Assim, cada vez mais as redes sociais na Internet servem como fonte de conteúdo para o internauta, como salienta Pariser (2012, p. 13) quando diz que ―para uma porcentagem cada vez maior de pessoas, o feed de notícias como o do Facebook está se transformando em sua fonte principal de informações‖. Ao estudar o BuzzFeed Brasil, viu-se que 75% da audiência vem de conteúdos publicados nas redes sociais, como o Facebook e o Twitter (FERRARI, 2015). Notou-se também que o formato listicle, que utiliza textos curtos combinados com imagens divertidas, facilita o processo de leitura do internauta, e, muitas vezes, faz com que ele se identifique com a postagem, gerando compartilhamentos nas redes sociais e a tornando um viral na web. Além disso, é muito mais fácil para o internauta ler o conteúdo publicado neste formato. Assim, ―as listas, imagens e quizzes são tão utilizados porque parecem promover a propagação e o compartilhamento com muito mais rapidez e objetividade, o que acaba aumentando também a quantidade de visitas do site‖ (SARDÁ, LUPINACCI, BARBORA et all, 2015, p. 6). Concluiu-se, assim, que existem cinco estratégias que o BuzzFeed Brasil utiliza para viralizar as publicações no Facebook: 1) a presença do formato listicle; 2) a mescla de conteúdos factuais e de entretenimento;
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3) a utilização de uma linguagem leve, interativa, de fácil entendimento e descontraída, quando possível; 4) o uso de imagens que tenham relevância para a publicação, podendo ser memes, GIFs, prints ou imagens estáticas com um tom de humor; 5) as interações propostas pelas redes sociais. Vale lembrar que não existe uma fórmula de sucesso do BuzzFeed e que, neste estudo, foi selecionada apenas uma pequena amostra das publicações da fanpage para construir-se um tipo de padrão das postagens que mais viralizaram no período de análise. Além disso, é pertinente refletir que, em tempos de tantas informações disponíveis na web, o jornalismo, em geral, precisa pensar em diferentes formas de comunicação com o público e em maneiras de fidelizá-lo às suas publicações. Um dos maiores desafios da pesquisa foi não ter a certeza de que, ao final do processo de análise, encontraria as estratégias de viralização utilizadas pela fanpage do BuzzFeed Brasil bem definidas, além de não saber quais seriam as publicações mais compartilhadas do período analisado, definido posteriormente, e que poderiam sofrer alterações dependendo dos acontecimentos do momento. As leituras e a aplicação das teorias na prática, por sua vez, agregaram ainda mais conhecimento para a pesquisadora, que já era apaixonada pelo universo da comunicação online antes mesmo do início da produção deste trabalho. Ao longo dos estudos, percebeu-se ainda que os vídeos e imagens publicados diretamente na rede social, que foram excluídos da análise desta pesquisa por não levarem o público para o site e por possuírem uma linguagem distinta, também tem um índice alto de compartilhamentos. Assim, eles mereceriam uma outra pesquisa a parte, assim como a influência de novas redes sociais na comunicação, como o Snapchat, que vem crescendo cada vez mais e exige um formato diferente de contar as histórias para o internauta. Por fim, o estilo BuzzFeed de fazer jornalismo, que foi estudado ao longo desta pesquisa, aborda questões sérias e de entretenimento, na maioria das vezes, de um jeito leve e descontraído, além de utilizar um formato que conquistou espaço na web e que hoje está presente em diferentes veículos, originando, assim, o termo ―buzzfeedização do jornalismo‖, proposto por Sardá et all (2014). Hoje, com um nome reconhecido mundialmente e com uma audiência fiel, o laboratório de virais, como o BuzzFeed foi chamado inicialmente em 2006, segue com as postagens
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listicle em alta, porém, sempre mesclando com outros formatos de publicações. Nas redes sociais, principalmente no Facebook, o formato de listas segue popular e costuma atrair a atenção do internauta para a postagem, aumentando, assim, as chances de ele compartilhar a publicação para o seu círculo de amigos e, consequentemente, fazer com que o conteúdo viralize na web.
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ANEXOS
1 Prints
Os dez posts mais compartilhados entre 8 de maio e 8 de junho de 2016, com direcionamento para o site:
1.1 22 perguntas sinceras que gays e lésbicas querem fazer para os homofóbicos
Publicação
disponível
em
https://www.buzzfeed.com/irangiusti/23-perguntas-
sinceras-que-gays-e-lesbicas-querem-fazer-par
98
1.2 Este gif do que fazer com o título de eleitor está sendo muito compartilhado no Facebook
Publicação disponível em https://www.buzzfeed.com/florapaul/este-gif-do-que-fazercom-o-titulo-de-eleitor-viralizou
99
1.3 Eis aqui um manifesto em defesa do bombom Caribe
Publicação disponível em https://www.buzzfeed.com/raphaelevangelista/eis-aquium-manifesto-em-defesa-do-bombom-caribe
100
1.4 24 dos filmes de terror mais macabros de todos os tempos
Publicação disponível em https://www.buzzfeed.com/annakopsky/24-dos-filmes-deterror-mais-macabros-de-todos-os
101
1.5 O cara atacado pelos taxistas não ficará no prejuízo graças à internet
Publicação disponível em https://www.buzzfeed.com/clarissapassos/o-cara-atacadopelos-taxistas-nao-ficara-no-prejuizo gracas?utm_term=4ldqpfs&bftwbrazil#4ldqpfs
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1.6 16 histórias da vida de quem tem cara de bravo
Publicação disponível em https://www.buzzfeed.com/susanacristalli/16-historias-davida-de-quem-tem-cara-de-bravo
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1.7 15 dilemas que já passaram pela cabeça de toda pessoa pensativa demais
Publicação disponível em https://www.buzzfeed.com/rafaelcapanema/pessoaspensativas-demais
104 1.8 12 tuítes que ―desenharam‖ a cultura do estupro
Publicação disponível em https://www.buzzfeed.com/manuelabarem/12-tuites-quedesenharam-a-cultura-do-estupro
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1.9 18 fotos que mostram como a sua vida muda depois que você adota um gato
Publicação disponível em https://www.buzzfeed.com/natalyalobanova/18-fotos-quemostram-como-a-sua-vida-muda-depois-q
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1.10 29 coisas que nós mulheres evitamos fazer porque tememos por nossa segurança
Publicação disponível em https://www.buzzfeed.com/juliegerstein/29-coisas-que-nosmulheres-evitamos-fazer-porque-t
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2 Projeto de Pesquisa
UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL
ANA CAROLINA MOSELE VIVAN
ESTRATÉGIAS DE VIRALIZAÇÃO DA FANPAGE DO BUZZFEED BRASIL
Caxias do Sul 2015
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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL HABILITAÇÃO EM JORNALISMO
ANA CAROLINA MOSELE VIVAN
ESTRATÉGIAS DE VIRALIZAÇÃO DA FANPAGE DO BUZZFEED BRASIL
Projeto de Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito para aprovação na disciplina de Monografia I. Orientador(a): Ana Maria Acker
Caxias do Sul 2015
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LISTA DE TABELAS
Figura 1. Pรกgina inicial do BuzzFeed Brasil .......................................................... 19
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 05 1.1 Processo de descoberta .................................................................................. 05 2 TEMA ................................................................................................................. 06 3 JUSTIFICATIVA.................................................................................................. 06 4 QUESTÃO NORTEADORA ............................................................................... 07 5. HIPÓTESES ...................................................................................................... 07 6. OBJETIVOS ...................................................................................................... 08 6.1 Objetivo geral .................................................................................................. 08 6.2 Objetivos específicos ....................................................................................... 08 7. METODOLOGIA ............................................................................................... 08 8. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................. 8.1 Jornalismo online ............................................................................................ 8.2 Redes sociais .................................................................................................. 8.3 BuzzFeed .........................................................................................................
09 09 14 19
9. ROTEIRO DOS CAPÍTULOS ............................................................................ 21 10. CRONOGRAMA ............................................................................................. 21 REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 22
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1 INTRODUÇÃO Nos últimos anos, a internet alterou a forma com que nos comunicamos. Se antes bastava ler os principais jornais impressos e acompanhar os telejornais para se manter informado, hoje a possibilidade de conteúdo na web é gigantesca. São milhares de sites disponíveis a todos que têm acesso à internet a qualquer local e hora do dia, utilizando computadores, smartphones e tablets. Os sites de redes sociais também alteraram a forma de consumo da informação. Antes da existência deles, era comum discutir os assuntos do momento em pequenos grupos presenciais. Ainda havia a possibilidade de interagir com os veículos por canais de comunicação, como as cartas do leitor. Com as redes sociais, a comunicação ficou mais fácil e, para interagir com a informação, basta clicar em alguns botões. Agora, é possível curtir, comentar e compartilhar sua opinião sobre o acontecimento. Um número grande de compartilhamentos sobre um determinado assunto pode se transformar em um viral na web, que, nada mais é, do que uma notícia que tem a capacidade de se espalhar pela rede de forma rápida e intensa. O BuzzFeed é um site de notícias e entretenimento conhecido por publicar o conteúdo, na maioria das vezes, em formato de listas numeradas, com assuntos que variam de comportamento a dicas de culinária, de fofocas de celebridades a sessões de nostalgia, normalmente acompanhadas de imagens animadas com um tom de humor. Esta forma de apresentar o conteúdo atinge cerca de 150 milhões de usuários mensais. Além disso, atualmente observa-se que outros veículos estão se apropriando deste formato de notícia, que, ao contrário do que se imagina, surgiu ainda no século XIX. Com foco nas estratégias de viralização da fanpage do BuzzFeed Brasil no Facebook e seus impactos no jornalismo atual, este trabalho abordará conceitos fundamentais do jornalismo online e das redes sociais, além de uma explicação breve do que é o BuzzFeed, para, em um segundo momento, analisar posts que viralizaram na fanpage para entender seus compartilhamentos.
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1.1 Processo de descoberta
Apaixonada por comunicação e redes sociais, a acadêmica viu neste contexto a oportunidade de aprofundar seus conhecimentos. Com o tema voltado para o universo online, não foi tão difícil chegar no objeto de estudo. Sabe-se que o conteúdo publicado em forma de listas numeradas, com textos intercalados com imagens divertidas e animadas, pelo BuzzFeed é mais fácil de ser lido. Percebe-se também que é comum ver posts do site compartilhados no feed de notícias do Facebook. Juntando as duas ideias, chegou-se à conclusão de estudar as estratégias de viralização da fanpage do BuzzFeed Brasil no Facebook, abordando conceitos do jornalismo online e das redes sociais. Ao final da monografia, pretende-se mostrar as estratégias da fanpage e observar suas influências no jornalismo online atual, além de entregar à comunidade acadêmica mais uma referência de estudos na área da comunicação digital.
2
TEMA
Vive-se na era da informação e, mais do que nunca, o acesso à notícia está facilitado. Com alguns cliques, é possível ficar por dentro dos acontecimentos de todos os cantos do planeta. É neste universo de computadores, smartphones e tablets que surge o fenômeno de viralização nas redes sociais. Ele nada mais é do que aquela notícia do momento – que pode ser em forma de texto, vídeo ou fotografia – que todos compartilham em suas linhas do tempo, garantindo uma alta audiência para o veículo de comunicação. Cada vez mais os veículos procuram investir em destacar assuntos que estejam obtendo repercussão, como uma forma de angariar ainda mais acessos. Uma das estratégias que podem ser utilizadas para conseguir mais acesso é postar matérias de entretenimento se apropriando da linguagem de outros espaços da web (SARDÁ, LUPINACCI, BARBOSA, et all, 2014, p. 6).
As estratégias de viralização serão os objetos de estudo deste projeto, tendo o conteúdo publicado pela equipe do site BuzzFeed Brasil em sua fanpage no Facebook como estudo de caso. Constata-se em um primeiro momento que, na maioria das vezes, os posts são muito compartilhados, tornando-se um viral. Neste trabalho, ainda será feita uma análise dos processos editoriais das publicações da
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fanpage que alcançam altos índices de compartilhamento e as influências no jornalismo atual.
3 JUSTIFICATIVA
As formas de apresentar o conteúdo jornalístico para o público nas redes sociais são temas recentes de discussão. Cada vez mais, os veículos de comunicação tentam produzir notícias que sejam altamente compartilháveis no meio digital. Tudo isso em busca de audiência para seus respectivos sites. A página BuzzFeed Brasil é uma destas. Com um perfil voltado para o entretenimento, onde as informações na maioria das vezes são publicadas em forma de listas, o site consegue atingir um alto nível de compartilhamento dos posts na fanpage, muitas vezes se tornando um viral. O assunto abordado não é algo novo, mas ainda apresenta pouca produção acadêmica disponível. Na Universidade de Caxias do Sul (UCS), por exemplo, não há pesquisas desenvolvidas sobre o assunto. Já na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o acadêmico Pedro Miguel Wortmann Veloso apresentou, em 2014, seu trabalho de conclusão do curso de Jornalismo intitulado Webjornalismo e entretenimento: as dinâmicas de produção de conteúdo do site BuzzFeed. Há também artigos acadêmicos sobre o BuzzFeed, como o A buzzfeedização do jornalismo: 5 coisas que você precisa saber sobre o caso Zero Hora, produzido também em 2014 por Thais Sardá, Ludmila Lupinacci, Camila Cornutti Barbosa, Gabriela Zago, Vanessa Valiati e Willian Araújo, mestrandas e doutorandos do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Informação da UFRGS. As populares listas do BuzzFeed viraram marca registrada do site, mas elas já existiam antes. Assim como a viralização, que não surgiu no meio digital – ela existe desde o jornalismo do século XIX44. É difícil prever o que será viralizado na rede, porém é possível estudar as estratégias que a página utiliza para conseguir tal feito. São estas estratégias da fanpage do BuzzFeed Brasil que serão analisadas no trabalho. Pretende-se investigar também o quanto este conteúdo é popular nas redes e a influência dele no jornalismo online atual. 44
Texto disponível em:<http://www.niemanlab.org/2015/05/listicles-aggregation-and-content-goneviral-how-1800s-newspapers-prefigured-todays-internet/>. Acesso em setembro de 2015.
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3
QUESTÃO NORTEADORA
Quais são as estratégias de viralização na fanpage do BuzzFeed Brasil no Facebook?
4
HIPÓTESES
O formato de listas é popular nas redes sociais e costuma atrair a atenção do internauta nos posts, fazendo com que o conteúdo viralize na web.
A linguagem, as imagens e os memes ajudam o processo de viralização do post.
6 OBJETIVOS
6.1 Objetivo geral
Analisar as estratégias de viralização da fanpage do BuzzFeed Brasil no Facebook.
6.2 Objetivos específicos
Discutir a produção de conteúdo para o jornalismo na internet;
Estudar o contexto de compartilhamento e interatividade das fanpages do
Facebook;
Analisar posts que viralizam na fanpage do BuzzFeed Brasil para entender
seus compartilhamentos.
7 METODOLOGIA
Para o desenvolvimento desta análise, serão utilizadas as seguintes técnicas:
. A seguir, as técnicas serão explicadas para esclarecer o
desenvolvimento da análise das estratégias de viralização da fanpage do BuzzFeed Brasil.
115
7.1 Pesquisa qualitativa
Tratando-se da forma de abordagem da pesquisa, esta análise classifica-se como qualitativa, dita como aquela que não pode ser mensurada. Por isso, ela não se preocupa com dados numéricos, mas sim com a compreensão de um grupo social. Os pesquisadores que utilizam os métodos qualitativos buscam explicar o porquê das coisas, exprimindo o que convém ser feito, mas não quantificam os valores e as trocas simbólicas nem se submetem à prova de fatos, pois os dados analisados são não-métricos (suscitados e de interação) e se valem de diferentes abordagens (GERHARDT; SILVEIRA, 2009, p. 32).
Portanto, a pesquisa qualitativa preocupa-se com aspectos que não podem ser quantificados, ―centrando-se na compreensão e explicação da dinâmica das relações sociais‖ (GERHARDT; SILVEIRA, 2009, p. 32), como é o caso da análise da fanpage do BuzzFeed Brasil para verificar as estratégias de viralização das postagens.
7.2 Pesquisa bibliográfica
Parte fundamental para o desenvolvimento deste trabalho, a pesquisa bibliográfica consta em reunir as definições teóricas de três pilares básicos: o Jornalismo Online, o Facebook e o BuzzFeed. Para Lakatos e Marconi, a pesquisa: pode ser considerada um procedimento formal com método de pensamento reflexivo que requer um tratamento científico e se constitui no caminho para se conhecer a realidade ou para descobrir verdades parciais. Significa muito mais do que apenas procurar a verdade: é encontrar respostas para questões propostas, utilizando métodos científicos (LAKATOS; MARCONI, 2009, p. 43).
Ainda, segundo Lakatos e Marconi (2009), toda pesquisa precisa de uma busca de dados de variadas fontes. Por isso, para validar esta análise, diversos autores foram utilizados no processo de criação do referencial teórico da pesquisa, como Alex Primo, João Canavilhas, Marcos Palacios e Pollyana Ferrari para descrever o Jornalismo Online; David Kirkpatrick, Eli Pariser e Raquel Recuero para
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explicar as redes sociais e o Facebook; e, por fim, Jonah Peretti, fundador do site BuzzFeed.
7.3 Estudo de caso
Uma das características da pesquisa é a presença do estudo de caso, que, nesta análise, é a fanpage do BuzzFeed Brasil. Yin explica que: um estudo de caso é uma investigação empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos (YIN, 2005, p. 32).
Entende-se assim que o estudo de caso envolve condições contextuais. Ele, como método de pesquisa, abrange várias questões, como o planejamento, a coleta de dados, as abordagens específicas, além das análises propriamente ditas. Há ainda, no mínimo, cinco aplicações diferentes do estudo de caso na pesquisa: A mais importante é explicar os supostos vínculos causais em intervenções da vida real que são complexos demais para as estratégias experimentais ou aquelas utilizadas em levantamentos. Uma segunda aplicação é descrever uma intervenção e o contexto na vida real em que ela ocorre. Em terceiro lugar, os estudos de caso podem ilustrar certos tópicos dentro de uma avaliação, outra vez de um modo descritivo. A quarta aplicação é que a estratégia de estudo de caso pode ser utilizada para explorar aquelas situações nas quais a intervenção que está sendo avaliada não apresenta um conjunto simples e claro de resultados. Em quinto lugar, o estudo de caso pode ser uma ―meta-avaliação‖- o estudo de um estudo de avaliação (YIN, 2005, p. 34).
Neste caso, os posts da fanpage do BuzzFeed Brasil serão analisados para verificar quais são as estratégias de viralização utilizadas pelo canal. Para tal estudo, Yin explica que ―produzir um estudo de caso como esse exige que o pesquisador seja entusiástico em relação à investigação e deseje transmitir amplamente os resultados obtidos‖ (YIN, 2005, p. 197). Após determinar um determinado período, os posts serão acompanhados. O número de curtidas, comentários e compartilhamentos serão analisados para verificar as estratégias de viralização da fanpage. Depois da análise, os resultados apresentarão qual tipo de postagem e seus elementos, como linguagem e imagem utilizados, tendem a ter um maior índice de viralização.
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3.1.4 Análise de conteúdo
A análise de conteúdo possui ferramentas possíveis para estudar as formas de comunicação. Bardin (2000) a define como um ―conjunto de análise das comunicações, que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo nas mensagens‖ (BARDIN, 2000, p. 38). De um modo geral, pode-se afirmar que a análise de conteúdo possui dois objetivos: entender o que está sendo propriamente dito na mensagem e, em um segundo momento, com um outro olhar, encontrar também o conteúdo que não está explícito na mensagem. Bardin (2000) também define que: qualquer comunicação, isto é, qualquer transporte de significações de um emissor para um receptor controlado ou não por este, deveria poder ser escrito, decifrado pelas técnicas de análise de conteúdo (BARDIN, 2000, p. 32).
Além dos objetivos, a análise de conteúdo possui duas funções, que não são obrigadas a seguirem juntas na prática. A primeira, segundo Bardin (2000) é a função heurística, que aumenta a propensão à descoberta de algo. ―É a análise de conteúdo ‗para ver o que dá‘‖ (BARDIN, 2000, p. 30). Já a função de administração da prova, que é o caso desta pesquisa, trabalha com as hipóteses como questões ou afirmações provisórias, em que utilizarão o método de análise como uma confirmação. ―É a análise de conteúdo ‗para servir de prova‘‖ (BARDIN, 2000, p. 30). Na prática, estas duas funções podem mesclar-se para complementar a pesquisa. A análise de conteúdo divide-se em diferentes etapas. Bardin (2000) sugere três fases distintas: a) Pré-análise: é a fase de organização e intuição do pesquisador. Aqui, a ideia é sistematizar as ideias iniciais para conduzir o plano de análise, com leituras, escolha de bibliografia, formulação de hipóteses e objetivos e preparação do material - parte das atividades já desenvolvidas no projeto da pesquisa. Bardin define esta fase como: Um período de intuições, mas, tem, como objetivo tornar operacionais e sistematizar as ideias iniciais, de maneira a conduzir a um esquema preciso do desenvolvimento das operações sucessivas, num plano de análise (BARDIN, 2005, p. 95).
118
b) Exploração do material: com o material da pré-análise em mãos, esta fase nada mais é do que a análise em si. Aqui, o trabalho ―consiste essencialmente de operações de codificação, desconto ou enumeração, em função de regras previamente formuladas‖ (BARDIN, 2005, p. 101). Para isso, após a escolha de um corpus específico, basta utilizar os métodos já escolhidos na fase anterior. c) Tratamento dos resultados, a inferência e a interpretação: na última etapa, com operações estatísticas e provas de validação, os resultados são tratados para ganhar validade: Para um maior rigor, estes resultados são submetidos a provas estatísticas, assim como a testes de validação. O analista, tendo à sua disposição resultados significativos e fiéis, pode então propor inferências e adiantar interpretações a propósito dos objetivos previstos, ou que digam respeito a outras descobertas inesperadas (BARDIN, 2005, p. 101).
Após estas três fases, será possível interpretar os resultados obtidos e, finalmente, responder a questão norteadora desta pesquisa. O resultado final apresentará as estratégias de viralização da fanpage, respondendo à questão norteadora proposta nesta pesquisa.
8 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
8.1 Jornalismo online
O jornalismo online é o meio de comunicação que se une à base formada pelos veículos impressos, rádio e televisão. Oferecendo notícias, entretenimento, serviços e negócios, a web é uma ferramenta de comunicação distinta das até então mídias tradicionais – televisão, rádio, cinema, jornal e revista. Com as transformações da tecnologia, que proporcionam a criação de sites cada vez mais criativos, a preocupação dos editores está se direcionando para a qualidade do conteúdo da notícia. Por isso, escrever para a web tornou-se um desafio: Jornalismo digital não pode ser definido apenas como o trabalho de produzir ou colocar reportagens na Internet. É preciso pensar na enquete (pesquisa de opinião com o leitor); no tema do chat, o bate-papo digital; nos vídeos e áudios; e reunir o maior número possível de assuntos e serviços correlatos à reportagem (FERRARI, 2009, p. 45).
119
A estrutura básica do texto jornalístico não sofreu alterações. As tradicionais perguntas do lead – o que, quem, como, quando, onde, por quê – ainda precisam ser respondidas. Porém, há outros elementos que ajudam a definir o jornalismo online. Marcos Palacios (2007) propõe seis características principais que potencializam
a
comunicação
online:
hipertextualidade,
multimidialidade,
personalização de conteúdo, memória, atualização contínua e interatividade: As características do Jornalismo na Internet aparecem, majoritariamente, como continuidades e potencializações e não, necessariamente, como rupturas com relação ao jornalismo praticado em suportes anteriores. É possível argumentar-se que as características elencadas como constituintes do Jornalismo na Internet podem, de uma forma ou de outra, ser encontradas em suportes jornalísticos anteriores, como o impresso, o rádio, a TV, o CD-Rom. O que é, por exemplo, uma ―Carta do Leitor‖, senão uma forma rudimentar de interatividade? (PALACIOS, 2007, p. 35).
Enquanto os repórteres do meio impresso buscam a melhor informação e a TV as cenas mais emocionantes, o jornalista online necessita planejar elementos diferentes. São textos, imagens, recursos de vídeo, áudio e animação que podem posteriormente ser utilizados como links interativos no site. Desta forma, o leitor tem a oportunidade de navegar pelos textos interconectados, fazendo suas escolhas de blocos de informação a utilizar (PALACIOS, 2007). Este é o hipertexto, uma das principais características do jornalismo online. A fragmentação do discurso é uma das características da narrativa na web (PALACIOS, 2007). Diferente do impresso, o veículo online proporciona um consumo da notícia de forma não linear, ou seja, o texto da web permite que o usuário movimente-se saltando de uma informação para outra, sem a necessidade de uma ordem. Para Palacios, o termo mais adequado é a informação multilinear para o acesso hipertextual às informações, pois ao ―estabelecer sua rota de leitura, o usuário
estabelece
também
uma
certa
linearidade,
específica,
provisória,
provavelmente única, oferecendo múltiplas possibilidades de continuidade‖ (2007, p. 39). A narrativa da web permite ao comunicador utilizar diferentes recursos multimídias para transmitir a informação - é a multimidialidade da notícia. Para Salaverría (2014), são oito elementos que compõem o conteúdo multimídia: texto; fotografia; gráficos, iconografia e ilustrações estáticas; vídeo; animação digital; discurso oral; música e efeitos sonoros; vibração. Para que a informação multimídia
120
seja atrativa e inteligível para o público é necessário que os elementos que a compõem estejam devidamente interligados (SALAVERRÍA, 2014). Outro ponto importante é a criação de conteúdo exclusivo para os canais online. Nos Estados Unidos, por exemplo, redações com essas características cresceram. Já no Brasil, os veículos impressos acumularam funções e também começaram a escrever matérias exclusivas para o virtual (FERRARI, 2003). Neste aspecto, há um alerta: o conteúdo deve ser original para ir em busca de audiência. Para Ferrari (2003), não basta estar na web apenas para marcar território: Uma redação onde seus fundadores entendam a força da mídia e busque, com uma redação digital, reforçar os princípios da hipermídia de informar não mais de maneira linear, com começo, meio e fim da notícia, mas sim construir matérias múltiplas sobre o mesmo assunto (FERRARI, 2003, p. 52).
Além de criar conteúdos exclusivos, o jornalismo online permite a personalização deste material. Com a possibilidade de cadastrar-se e receber as notícias diretamente em seu e-mail, o leitor digital pode acessar o conteúdo por sites de buscas, como o Google, que mantém as preferências salvas em um banco de dados (FERRARI, 2003). A memória funciona como o arquivo da web, já que é possível resgatar materiais antigos e recuperar as informações. Além disso, o mundo online é dono de um imenso banco de dados, que, muitas vezes, é de extrema importância para o trabalho do jornalista. Em aspectos técnicos e econômicos, o acúmulo de informações nos ambientes digitais é mais fácil se comparado com as outras mídias. Acrescenta ―o fato de que na web a memória torna-se coletiva, através do processo de hiperligação entre os diversos nós que a compõem‖ (PALACIOS, 2007, p. 49). Por ser de fácil e rápido acesso, a web pede uma atualização contínua das informações. Até então, em grandes acontecimentos, esperava-se o telejornal ou o jornal impresso para acompanhar as notícias. Com os veículos online, tudo ficou instantâneo e o usuário ganhou a possibilidade de buscar as informações praticamente na hora da ocorrência. Se no início do jornalismo online os meios apenas replicavam o conteúdo do veículo impresso, hoje as redações já estão voltadas para a web – as maiores até trabalham 24h por dia nas atualizações (FERRARI, 2003). A busca pela instantaneidade da informação também se deve às
121
redes sociais, com o número de compartilhamentos no Facebook e tweets em tempo real no Twitter (BRADSHAW, 2014). Por fim, a interatividade é uma das principais características do jornalismo online. ―Assim como a internet transcende o jornalismo, que tem como forma de expressão a web, a interatividade também vai além do jornalismo digital‖ (ROST, 2014).
Ela
aparece
nas
rotinas
de
trabalho
de
todos
os
jornalistas,
independentemente do meio em que trabalham. Na televisão, por exemplo, o espectador tem o poder de trocar o canal e interagir via telefone e redes sociais. Já com a internet, há diferentes formas de interação, podendo ser através de grupos de discussão (fóruns), enquetes, chats, e-mails e redes sociais. Entende-se ―a interatividade como a capacidade gradual que um meio de comunicação tem para dar maior poder aos utilizadores tanto na seleção de conteúdos (interatividade seletiva) como em possibilidades de expressão e comunicação (interatividade comunicativa)‖ (ROST, 2006). Em outras palavras, pode-se dizer que a interatividade é uma forma de fazer o leitor se sentir parte do processo de produção da informação. Como citado no parágrafo acima, há dois tipos de interatividade: seletiva e comunicativa. A interatividade seletiva refere-se ao controle que o público tem sobre as formas de receber o conteúdo dos veículos. Para Rost (2006), o grau de interatividade seletiva vai depender das opções de acesso aos conteúdos oferecidos pelos veículos e das necessidades do usuário. Enquanto a interatividade seletiva é relacionada a ―fazer coisas‖ sobre os conteúdos, a interatividade comunicativa abre espaço para que o leitor gere algum conteúdo que, posteriormente, possa se tornar público. A interatividade comunicativa representa as possibilidades de comunicação e expressão que o leitor tem entre os conteúdos dos veículos. Ou seja, é a forma de relacionamento que permite que o leitor possa expressar sua opinião em comentários nos sites de notícias, perfis em redes sociais, blogs, pesquisas, fóruns, e-mails, chats, envio de informações para os veículos, etc. Rost (2006) divide a interatividade comunicativa em quatro etapas. A etapa de presença corporativa surgiu a partir dos primeiros sites, em 1994, com poucas possibilidades de participação. As tradicionais cartas de leitores dos jornais impressos foram substituídas por um endereço de e-mail e, em alguns casos, ainda surgia alguma pesquisa ou fórum.
A partir de 1999, tem início a etapa da
122
participação marginal, com pesquisas e fóruns como principais formas de participação. Porém, a opinião dos leitores ainda não se mistura com os conteúdos do meio de comunicação, ocupando páginas e sessões diferentes. A terceira etapa é a participação assíncrona em espaços partilhados. A partir de 2006, três opções interativas são introduzidas nos sites de notícias: os blogs, os comentários abaixo de cada notícia e os canais de reportagem cidadã. A mudança foi uma das mais notáveis para o jornalismo já que, a partir deste momento, as intervenções dos leitores começaram a se mesclar com a dos jornalistas (ROST, 2006). Por fim, se 2006 foi o ano dos comentários e dos blogs, 2009 foi a vez das redes sociais e da etapa da participação sincrónica. Em tempo real, o público pode participar via Facebook e Twitter e é a partir deste momento que os sites começam utilizar as redes sociais para coberturas de determinados acontecimentos. Neste caso, o leitor pode participar da construção da notícia lado a lado com os jornalistas. De 1994 até hoje, muita coisa mudou e os leitores tornaram-se muito mais vistos nos meios de comunicação. Se antes o máximo de interação que existia era escrever uma carta para o jornal impresso, agora as opções são imensas: Os jornais impressos publicam repercussões das notícias nas redes sociais, mostram os resultados de pesquisas digitais e escrevem sobre o mais comentado nos sites; na rádio, leem-se as mensagens que os ouvintes publicam nas páginas do meio no Facebook e as mencionadas no Twitter; os noticiários televisivos incitam a participar com hashtags no Twitter e posts no Facebook (ROST, 2014, p. 66).
Os sites de redes sociais alteraram a forma que o público consome a informação. Hoje, é muito mais fácil para o leitor expressar a opinião, apoiar as causas defendidas e compartilhar e curtir conteúdos que lhe agradem. Para o jornalista, também é mais simples de saber que tipo de conteúdo o público prefere, conhecer seus gostos e até, muitas vezes, facilitar a busca por fontes para a produção do conteúdo. Caracterizada
pela publicação,
compartilhamento
e organização de
informações, a Web 2.045 é a segunda geração dos serviços online. Com a interação como um dos pilares fundamentais, esta versão da web foi a responsável por um
45
O termo Web 2.0 foi utilizado pela primeira vez em outubro de 2004 pela empresa americana O'Reilly Media e pela Media Live International, nomeando uma série de conferências sobre o tema (PRIMO, 2011).
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aumento expressivo no conteúdo digital e por torná-lo um ambiente mais dinâmico para os usuários. Segundo Primo (2014), a Web 2.0 apresenta importantes repercussões sociais, ―que potencializam processos de trabalho coletivo, de troca afetiva, de produção e circulação de informações, de construção social de conhecimento apoiada pela informática‖ (PRIMO, 2007, p. 1). A Web 2.0 aumentou a velocidade e a facilidade do uso de diversos aplicativos para os usuários, além de ser responsável por um aumento significativo no conteúdo existente na Internet. Além de tornar o ambiente online mais dinâmico, a Web 2.0 também fez com que os usuários colaborassem com a organização do conteúdo digital. Primo (2007) defende a tese de O‘Reilly (2005) de que não há como demarcar precisamente as fronteiras da Web 2.0: Trata-se de um núcleo ao redor do qual gravitam princípios e práticas que aproximam diversos sites que os seguem. Um desses princípios fundamentais é trabalhar a Web como uma plataforma, isto é, viabilizando funções online que antes só poderiam ser conduzidas por programas instalados em um computador. Porém, mais do que o aperfeiçoamento da ―usabilidade‖, o autor enfatiza o desenvolvimento do que chama de ―arquitetura de participação‖: o sistema informático incorpora recursos de interconexão e compartilhamento. Por exemplo, nas redes peer-to-peer (P2P), voltadas para a troca de arquivos digitais, cada computador conectado à rede torna-se tanto ―cliente‖ (que pode fazer download de arquivos disponíveis na rede) quanto um ―servidor‖ (oferta seus próprios arquivos para que outros possam ―baixá-lo‖). Dessa forma, quanto mais pessoas na rede, mais arquivos se tornam disponíveis. Isso demonstra, segundo O‘Reilly, um princípio chave da Web 2.0: os serviços tornam-se melhores quanto mais pessoas o usarem (PRIMO, 2007, p. 2).
Nesta geração da web, os sites começam a trabalhar em uma estrutura integrada de funcionalidades e conteúdo (PRIMO, 2006). É aqui que a participação do usuário aparece com comentários em blogs, enciclopédias escritas em conjunto (a Wikipédia, por exemplo), páginas de jornalismo participativo e álbuns de fotos no formato do Flickr, que permitem um sistema de buscas. Os sites de redes sociais, como o Facebook e Twitter, também fazem parte desta geração da web e, a partir de agora, os usuários deixam de ser espectadores e podem interagir, criar conteúdo, comunicar-se com os amigos e opinar sobre o que é apresentado na tela. São os sites de redes sociais, em específico o Facebook, que serão estudados neste trabalho, com foco nas interações do público com o conteúdo publicado na fanpage do BuzzFeed Brasil.
124
8.2 Redes sociais
Alguns dos canais de interatividade mais importantes dos veículos de comunicação estão nos sites de redes sociais e em seus aplicativos. É no Facebook, Twitter e Instagram, por exemplo, que o leitor vai interagir com a informação, compartilhando opinião e curtindo conteúdos que sejam de seu interesse. O assunto, que antes era discutido verbalmente, passou a ter desdobramentos virtuais disponíveis para a rede de amigos do leitor. Para o jornalista, os sites de busca e redes sociais passaram a ser um grande aliado na produção da notícia. É por meio da web que, muitas vezes, o repórter busca as melhores fontes e dados para a produção do conteúdo. Antes de apresentar o conceito de sites de redes sociais e analisar seus impactos no jornalismo online, é preciso entender a definição de uma rede social. Recuero defende a tese de Wasserman e Faust (1994) de que ―uma rede social é definida como um conjunto de dois elementos: os atores (pessoas, instituições ou grupos; os nós da rede) e suas conexões (interações ou laços sociais)‖ (RECUERO, 2009, p. 24). Os atores são os primeiros elementos de uma rede social, representados pelos nós. Eles são as pessoas que se envolvem na rede e atuam de forma a moldar as estruturas sociais, por meio da interação e da constituição de laços sociais (RECUERO, 2009). Enquanto os atores são os nós na rede, as conexões de uma rede social aparecem de diferentes maneiras, elas são formadas por laços sociais que, por sua vez, são construídos através da interação social entre os atores. A interação seria a matéria-prima das relações e dos laços sociais. A ação de um depende da reação do outro. ―Interações não são, portanto, descontadas dos atores sociais. São partes de suas percepções do universo que os rodeia, influenciadas por elas e pelas motivações particulares desses atores‖ (RECUERO, 2009). Assim, entender as interações sociais é entender a comunicação entre os atores e a troca de informação entre eles. Essas ferramentas proporcionaram, assim, que atores pudessem construirse, interagir e comunicar com outros atores, deixando, na rede de computadores, rastros que permitem o reconhecimento do padrão de suas conexões e a visualização de suas redes sociais através desses rastros (RECUERO, 2009, p. 24).
125
Os sites de redes sociais são os espaços utilizados para a expressão das redes sociais na web. Para Boyd& Ellison (2007), são ―aqueles sistemas que permitem a i) construção de uma pessoa através de um perfil ou página pessoal; ii) a interação através de comentários; e iii) a exposição pública da rede social de cada ator‖ (RECUERO, 2009). É nos sites de redes sociais que, na maioria das vezes, os usuários irão expressar sua opinião. Pode ser através de
comentários,
compartilhamentos de conteúdo e até em grupos de discussão sobre o assunto. Falando da geração Y, por exemplo, 98% dos jovens fazem parte de alguma – ou mais – rede social (RECUERO, 2009). É aqui que o Facebook e o Twitter, por exemplo, se encaixam. Recuero ainda salienta que, ―embora os sites de redes sociais atuem como suporte para as interações que constituirão as redes sociais, eles não são, por si, redes sociais. São os atores sociais, que utilizam essas redes, que constituem essas redes‖ (RECUERO, 2009, p. 103). Os sites de redes sociais propriamente ditos são aqueles focados na exposição pública das redes conectadas aos atores, ou seja, a finalidade está relacionada à publicização dessas redes (RECUERO, 2009). É o caso do Facebook, do extinto Orkut e do LinkedIn. ―São sistemas onde há perfis e há espaços específicos para a publicização das conexões com os indivíduos‖ (RECUERO, 2009, p.104), ou seja, toda a interação está focada na publicização das redes. Já os sites de redes sociais apropriados são aqueles que não eram, originalmente, voltados para mostrar redes sociais, mas que foram apropriados pelos atores com este objetivo (RECUERO, 2009). É o caso do Twitter e do antigo Fotolog. ―São sistemas onde não há espaços específicos para perfil e para a publicização das conexões e os perfis são construídos através de espaços pessoais ou perfis pela apropriação dos atores‖ (RECUERO, 2009, p. 104). Os sites de redes sociais também possuem uma forte ligação com o capital social. ―Um dos elementos mais relevantes para o estudo da apropriação dos sites de redes sociais é a verificação dos valores construídos nesses ambientes‖ (RECUERO, 2009, p. 107). Um exemplo é a quantidade de amigos que uma determinada pessoa possui no Facebook. O elevado número de conexões, que dificilmente a pessoa terá na vida off-line, influencia em vários aspectos, como a visibilidade, a reputação (confiança), a popularidade e a autoridade do usuário na rede social.
126
O Facebook é o maior site de rede social e, apenas no Brasil, já são mais de 94 milhões de usuários46 da rede. Fundado em 2004 por Mark Zuckerberg e seus colegas de quarto da faculdade Eduardo Saverin, Dustin Moskovitz e Chris Hughes, o Facebook surgiu como um projeto paralelo às aulas da Harvard University (EUA). O primeiro projeto de Zuckerberg para a internet foi o Course Match, um lugar onde os alunos pudessem escolher as matérias com base no que já estivesse matriculado nos cursos. Era também possível conferir quem estava em cada turma e o curso das pessoas. Para Zuckerberg, ―você poderia se conectar às pessoas por meio de coisas‖ (KIRKPATRICK, 2011). O segundo projeto – chamado inicialmente de Facemash – tinha como objetivo descobrir quem era a pessoa mais atraente do campus. Era muito simples: os usuários comparavam duas fotos de pessoas do mesmo sexo e diziam qual era a mais sexy. As imagens para o Facemash vieram dos chamados ―facebooks‖ mantidos nos alojamentos dos alunos da graduação. Elas eram tiradas no dia da chegada dos calouros à universidade para identificação e eram aquelas fotos que todos queriam esconder - Zuckerberg conseguiu encontrar as versões digitais destas fotografias. Outro projeto que auxiliou Zuckerberg a criar o Facebook foi o Friendster, uma rede social que convidava as pessoas a criar um ―perfil‖ pessoal, citando informações como hobbies e gostos musicais. ―Nesses serviços, as pessoas relacionavam seus próprios perfis aos dos amigos, identificando assim sua própria ‗rede social‘‖ (KIRKPATRICK, 2011, p. 36). Assim como a maioria das redes de relacionamento criadas até o momento, o Friendster era basicamente uma forma de facilitar o contato entre pessoas que queriam namorar. Ao ver o que era possível no Friendster, os alunos passaram a querer um ―facebook‖ (o livro publicado anualmente chamado de Freshman Register) online. Foi na tarde de 4 de fevereiro de 2004, depois de trabalhar mais um tempo no projeto, que o Thefacebook.com finalmente entrou no ar: A tela inicial dizia: ―O Thefacebook é um diretório on-line que conecta pessoas por meio de redes sociais nas faculdades. Abrimos o Thefacebook para uso popular na Universidade de Harvard. Você pode usar o Thefacebook para: procurar amigos dos seus amigos; ver uma representação visual da sua rede social‖ (KIRKPATRICK, 2011, p. 39).
46
Fonte: PewResearch Center 2015
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Depois de dar o start, os primeiros usuários começaram a aparecer e foram convidando outros alunos para participar e se tornar seus amigos, assim começou uma explosão viral: No domingo, quatro dias após o lançamento, mais de 650 alunos haviam se registrado. Trezentos outros aderiram na segunda-feira. Quase instantaneamente, o Thefacebook tornou-se o principal tema de conversa nos refeitórios de Harvard e nos intervalos entre as aulas. As pessoas não conseguiam parar de usá-lo (KIRKPATRICK, 2011, p. 39).
Para se inscrever era simples: o usuário criava um perfil com uma única foto sua e algumas informações pessoais. Também era possível incluir informações como status de relacionamento, número de telefone, endereço de e-mail, indicar os cursos que estava fazendo, citar os livros, filmes e músicas preferidos, filiação política e uma frase favorita. ―O Thefacebook não tinha nenhum conteúdo próprio. Era meramente um software – uma plataforma para o conteúdo criado por seus usuários‖ (KIRKPATRICK, 2011, p. 39). Porém a rede ainda era exclusiva e exigia um endereço de e-mail de Harvard para se cadastrar, ou seja, apenas alunos, exalunos e funcionários podiam entrar na rede. O Thefacebook foi crescendo e os pedidos por sua expansão foram surgindo. Em abril de 2004, quatro meses depois do lançamento, o site foi formalizado como um negócio. ―Em junho, um financista ofereceu a Zuckerberg 10 milhões de dólares pela empresa. Mark tinha acabado de completar 20 anos. O Thefacebook tinha quatro meses de idade‖ (KIRKPATRICK, 2011, p. 50). No final de maio, a rede já estava em 34 faculdades e tinha quase 100 mil usuários. No final do verão, já eram mais de 200 mil usuários (KIRKPATRICK, 2011). Hoje, 11 anos depois, já são mais de 1,49 bilhão de usuários no mundo. Em agosto de 2015, o Facebook atingiu a marca de um bilhão de usuários acessando a maior rede social do mundo em um único dia47. Além de ser um ambiente de relacionamento e interação entre os usuários, o Facebook alterou a forma de consumir a informação. Além de se atualizar, o leitor pode interagir com a notícia de diferentes formas, com curtidas, comentários e compartilhamentos. Se antes bastava ler os jornais e acompanhar os principais portais de notícias para se manter informado, a partir de agora é possível
47
Fonte: G1. Disponível em <http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2015/08/facebook-bate-marca-de1-bilhao-de-usuarios-conectados-em-um-unico-dia.html> Acesso em outubro de 2015
128
acompanhar todas as informações diretamente da timeline da rede social, com a interatividade como grande diferencial: Para uma porcentagem cada vez maior de pessoas, feed de notícias como a do Facebook estão se transformando em sua fonte principal de informações – 36% dos americanos com menos de trinta anos de idade leem suas notícias em redes sociais (PARISER, 2012, p. 13).
A personalização do conteúdo é uma estratégia fundamental para os maiores sites da internet – Yahoo, Google, Facebook, YouTube e Microsoft Live – e também para tantos outros (PARISER, 2012). Esta personalização nada mais é do que fornecer conteúdo de acordo com os interesses e gostos pessoais do usuário por meio dos algoritmos: A nova geração de filtros online examina aquilo de que aparentemente gostamos – as coisas que fazemos, ou as coisas das quais as pessoas parecidas conosco gostam – e tenta fazer extrapolações. São mecanismos de previsão que criam e refinam constantemente uma teoria sobre quem somos e sobre o que vamos fazer ou desejar a seguir. Juntos, esses mecanismos criam um universo de informações exclusivas para cada um de nós – o que passei a chamar de bolha dos filtros – que altera fundamentalmente o modo como nos deparamos com ideias e informações (PARISER, 2012, p. 14)
Com a quantidade gigantesca de informações que o usuário tem na web – 900 mil postagens em blogs, 50 milhões de tweets, mais de 60 milhões de atualizações de status no Facebook e 210 bilhões de e-mails enviados – os filtros online são muito úteis. São eles que ajudam o usuário a encontrar as informações que procura no meio de tanto conteúdo nos feeds de notícias (PARISER, 2012). Para colocar estas informações em prática é simples: basta duas pessoas buscarem a mesma informação no Google e ver que os resultados serão diferentes. Quando todos falam do mesmo assunto nas redes sociais e/ou compartilham o mesmo link, é sinal que aquele conteúdo viralizou na rede. Um viral é, segundo o dicionário Aurélio, algo relativo a vírus, causado por vírus e que, assim como um vírus, tem a capacidade de se espalhar. No meio da comunicação, ele pode ser definido como ―o processo de transmissão de uma mensagem de um internauta a outro no contexto digital‖ (BARICHELLO; OLIVEIRA, 2010, p. 35). O conceito parece atual, mas a viralização surgiu muito antes da web. Segundo Ryan Cordell, professor da Northeasternn University, listas, virais e matérias crtl+c e crtl+v surgiram ainda no século XIX. ―Se você pensa que o
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BuzzFeed inventou as listas, você deveria passar um tempo lendo jornais do século XIX‖ (CORDELL48, 2015). Na época, os editores assinavam vários jornais para retirar conteúdos que pudessem servir para as suas publicações. As pequenas empresas de comunicação mais replicavam conteúdos do que produziam: Alguns consideram que o contágio da informação responde a uma ciência e afirmam que em um laboratório podem ser estudadas as variáveis que o propiciam. Até mesmo as que afetam substâncias químicas como a oxitocina, o hormônio que desperta a vontade de se conectar com os outros. Mas na verdade, como apontava o famoso relatório sobre inovação feito pelo The New York Times no ano passado – que, aliás, não demorou nem dois segundos para se transformar em um fenômeno viral –, trata-se acima de tudo da conexão com as emoções do leitor e sua vontade de compartilhar aquilo que causa algum impacto nele. Então, a viralidade muda a maneira de contar o mundo? Sem dúvida. Mas também rompe outras barreiras, como a forma de estruturar uma redação, aumentando a promiscuidade entre jornalistas, analistas de dados e publicitários. (VERDÙ, 2015, p. 2)
Hoje, a viralização é fenômeno utilizado na internet e em técnicas de marketing. Se no início as empresas jornalísticas focavam o trabalho em várias tentativas de erros para acertar os conteúdos que poderiam viralizar, hoje eles priorizam o próprio conteúdo jornalístico e aproveitam o volume de leitores para contar histórias que realmente valham a pena ser lidas. São essas histórias que, posteriormente, podem viralizar nos feeds de notícias das redes sociais.
8.3 BuzzFeed
O BuzzFeed é um site de notícias e entretenimento conhecido por produzir conteúdo altamente compartilhável49. O nome do site surgiu com a junção de duas palavras em inglês (buzz + feed) e tem o significado de alimentar (como conteúdo) aquilo que se espalha facilmente na rede (SARDÁ, LUPINACCI, BARBOSA et all., 2014). Fundado em 2006, em Nova York, por Jonah Peretti, a ideia inicial era criar um laboratório viral. Hoje, o site conta com mais de 200 milhões de acessos mensais. Em 2013, surgiu a versão brasileira da página.
48
Texto disponível em: <http://www.niemanlab.org/2015/05/listicles-aggregation-and-content-gone-viral-how1800s-newspapers-prefigured-todays-internet/>. Acesso em setembro de 2015. 49 Informações disponíveis em: < http://www.buzzfeed.com/about>. Acesso em outubro de 2015.
130
Figura 1: página inicial do BuzzFeed Brasil Fonte: buzzfeed.com/?country=br
Quem nunca ouviu falar da página, certamente já deve ter cruzado com algum material compartilhado nas redes sociais. Os posts – na maioria das vezes em forma de listas numeradas – têm um índice elevado de compartilhamentos, tornando-se, muitas vezes, um viral. Além do formato listicle (list + article), também são publicados quizzes e vídeos, que, em função do formato e objetividade, são muito compartilhados em postagens nas redes sociais e dispositivos móveis. Dados recentes da própria empresa mostram que 75% do tráfego de referência vêm de sites como Twitter e Facebook (SARDÁ, LUPINACCI, BARBOSA et all, 2014). O conteúdo publicado vai além de animais fofinhos. Os assuntos das listas variam de comportamento a dicas de culinária, de fofocas de celebridades a sessões de nostalgia, passando por informações do momento, como coberturas especiais e matérias que possam ter uma boa repercussão no universo digital. Além do conteúdo voltado para o humor, ―o formato de artigo em lista também é muito
131 utilizado como recurso para ‗resumir‘ ou explicar rapidamente algum evento ou fato que acabou de acontecer‖ (SARDÁ, LUPINACCI, BARBOSA et all, 2014, p. 3). As listas possuem quase sempre o mesmo padrão: são itens numerados que trazem frases bem-humoradas e imagens engraçadas sobre a situação determinada no título. ―A proposta do BuzzFeed é centrada em criar conteúdo que seja extremamente compartilhável. Isto se dá através de uma mistura que combina textos e imagens aparentemente descompromissados, permeados por piadas e humor‖ (SARDÁ, LUPINACCI, BARBORA et all, 2014, p. 3). As imagens utilizadas são próprias da web e o site, muitas vezes, também utiliza GIFs50, que são pequenas animações. Os memes da web também são utilizados nas postagens. ―A maioria deles consiste de replicações e intervenções em imagens que por alguma razão se tornaram famosas‖ (SARDÁ, LUPINACCI, BARBORA et al, 2014, p. 4). As modificações podem ter um tom humorístico ou debochado e, em outros casos, as imagens são recortadas e ganham uma nova interpretação. Em entrevista à revista Época51 em maio de 2015, Jonah Peretti define o sucesso do BuzzFeed como ―uma mistura de ciência e arte‖. Para ele, não há uma fórmula especial para criar virais na web, mas sim, há temas que costumam chamar mais a atenção do público: Entre os principais estão os conteúdos de humor. Algo que faça com que a pessoa dê risada e queira compartilhar com seus amigos. Imagens de animais fofos, que mexem com a emoção, também costumam trazer grande audiência. Uma tendência mais recente que estreamos é o Buzzfeed Life. São publicações voltadas a quem quer ter uma vida melhor e mais saudável: Como melhorar seu cabelo? Qual roupa escolher em determinada ocasião? Como decorar seu apartamento gastando pouco? Finalmente, temos aquelas postagens que pessoas com determinadas características se identificam. Por exemplo, as ―18 piores coisas que podem acontecer com um canhoto‖. Elas atraem tanto canhotos quanto quem tem curiosidade em saber das especificidades da vida dessas pessoas (PERETTI, 2015).
Por fim, observa-se que o grande número de compartilhamentos na fanpage do BuzzFeed no Facebook tem relação com ―os formatos de posts em curta duração, visualmente apelativos e que incentivam o engajamento‖ (SARDÁ, LUPINACCI, BARBOSA et all, 2014, p. 4). Os textos curtos e imagens divertidas
50
Abreviação de Graphics Interchange Format. Texto disponível em: <epoca.globo.com/vida/noticia/2015/04/jonah-peretti-do-buzzfeed-o-quefazemos-e-uma-mistura-de-arte-e-ciencia.html>. Acesso em outubro de 2015. 51
132
facilitam a leitura do usuário, e, muitas vezes, ele se identifica com a postagem, gerando os compartilhamentos e a tornando um viral na web.
9 ROTEIRO DOS CAPÍTULOS Introdução 1. Internet 1.1 Histórico 1.1.1 Marco Civil da Internet 1.2 Sites 1.3 Web 2.0 1.4 Redes sociais 1.4.1 Facebook 1.5 Viralização na Internet 2. Jornalismo 2.1 Jornalismo na Internet 2.1.1 Hipertextualidade 2.1.2 Multimidialidade 2.1.3 Personalização de conteúdo 2.1.4 Memória 2.1.5 Atualização contínua 2.1.6 Interatividade 2.2 Jornalismo nas redes sociais
3. Análise 3.1 Metodologia 3.1.1 Pesquisa qualitativa 3.1.2 Pesquisa bibliográfica 3.1.3 Estudo de caso 3.1.4 Análise de conteudo 3.2 O BuzzFeed 3.3 O BuzzFeed no Facebook 3.4 Delimitação de corpus 3.5 Análise 3.5.1 Formato 3.5.2 Conteúdo 3.5.3 Linguagem 3.5.4 Imagem 3.5.5 Interatividade 3.6 Fechamento da análise Considerações finais Referências
133
10 CRONOGRAMA
Data Janeiro/2016
Atividade Leituras.
Fevereiro/2016 Desenvolvimento dos capítulos teóricos. Março/2016
Primeiro encontro com a professora orientadora e finalização da parte teórica.
Abril/2016
Início da análise.
Maio/2016
Finalização e entrega da análise final e produção de introdução e conclusão.
Junho/2016
Entrega final e avaliação da monografia.
REFERÊNCIAS
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