Diagnóstico dos serviços de atendimento à população em situação de rua “Sair da Rua: Por quê e Para quê?”
São Paulo, 16 de novembro de 2004. Rua Araújo, 124 2o. andar 01220 020 São Paulo/SP Tel. 11 3255 9570 www:relacionais.org.br
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SUMÁRIO A PROPOSTA ........................................................................ JUSTIFICATIVA ..................................................................... METODOLOGIA ..................................................................... CONTEXTO SOCIAL – SÃO PAULO
01 01 02 03
..................................... SÓ PARA LEMBRAR ............................................................. UM OLHAR COMPLEMENTAR ............................................. LOCAIS ESCOLHIDOS PARA O TRABALHO ....................... O que aconteceu? SERVIÇO NA RUA ................................... O que aconteceu? SERVIÇO DE ALBERGUE ....................... O que aconteceu? SERVIÇO DE MORADIA PROVISÁRIA .. O que aconteceu? SERVIÇO DE CONVIVÊNCIA ................. O que aconteceu? SERVIÇO DE INSERÇÃO PRODUTIVA . O NÃO-LUGAR DA DIFERENÇA ........................................... A NOVA FACE DA SAS .........................................................
04 06 08 09 17 35 41 52 59 65
Diagnóstico dos serviços de atendimento à população em situação de rua “Sair da Rua: Por quê e Para quê?”
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A PROPOSTA Fazer um diagnóstico dos serviços de atendimento à população em situação de rua nos diferentes serviços: CAPE, Casa de Convivência, Albergue, Moradia Provisória e Inserção Produtiva; através das questões emergentes da população em situação de rua e dos agentes sociais em relação à autonomia da saída da rua. Este diagnóstico será subsídio para elaboração do 1º Congresso de Agentes Sociais que atuam com pessoas em situação de rua.
JUSTIFICATIVA Toda teoria, assim como toda prática, tem uma concepção de “ser no mundo” como sustentação. Essa sustentação pode ser ou não do conhecimento de quem a vivencia.
Através da desmontagem, da desconstrução da prática e do viver, como também da desmontagem ou desconstrução da teoria é que se pode conhecer a concepção que dá suporte e que explicita a serviço do que está aquela teoria, aquele modo de viver, aquele modo de se relacionar, aquele modo de produzir. Portanto, é da desmontagem do discurso que se pode mudar o percurso ou da desmontagem do percurso que se pode mudar o discurso, sempre buscando o Rua Araújo, 124 2o. andar 01220 020 São Paulo/SP Tel. 11 3255 9570 www:relacionais.org.br
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desempenho correspondente à Ética que se deseja na produção da Vida. METODOLOGIA Para tanto, a metodologia escolhida foi o Sociopsicodrama, que além de ser uma metodologia muito econômica em relação ao tempo pela sua linguagem dramática, tem também como suporte o pensamento de que as situações vividas se articulam sempre pelas determinações concretas que geram uma subjetividade correspondente. Esta subjetividade não se sabe personagem de um Drama Coletivo e nem despossuido de sua própria ação no mundo. E é este drama coletivo que vamos colocar em foco no trabalho com as pessoas que vivem em situação de rua e com os agentes sociais que os acompanham, buscando compreender mais de perto as capturas nas quais se encontram.
O trabalho aconteceu num constante movimento de ação-reflexão, visando a pesquisa, a compreensão e a intervenção espontânea e criativa nessas dinâmicas, para se des-envolverem das tramas que podem dificultar as novas ações, e mais especificamente, facilitar a percepção – dos jogos que não percebemos, das cenas que nos são negadas e dos papéis que nos atribuem. Recriando o real, através do sociopsicodrama. Rua Araújo, 124 2o. andar 01220 020 São Paulo/SP Tel. 11 3255 9570 www:relacionais.org.br
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O próprio envolvimento e proximidade necessários ao trabalho competente, contraditoriamente, impedem que os profissionais tenham distanciamento suficiente para captar pela dinâmica consciente dados subjacentes, levando a uma visão parcial e tomada como se fosse completa. Esses dados quando percebidos e re-articulados deverão dar aos problemas uma nova configuração que, provavelmente, apontará para soluções que não podiam ser vistas anteriormente.
CONTEXTO SOCIAL - SÃO PAULO “Com 10 milhões de habitantes, São Paulo, é hoje uma das maiores cidades do planeta. Reúne o que há de melhor e de pior em nossa civilização: da pujança industrial e comercial ao desemprego e à miséria; da combinação cosmopolita de culturas ao caos na habitação e no trânsito. Não há problema nem marca urbanística que não tenha explicação.”1 Entendemos a São Paulo objetiva dos nossos olhos e fechamos os olhos entre pares, cidadãos, os mais diferentes possíveis e reforça Raquel novamente: “... trata-se da dissolução de São Paulo de 1
Raquel Rolnik – Secretária de Programas Urbanos do Ministério das Cidades e professora do Mestrado em Urbanismo da PUC-Campinas.
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fronteiras
abertas,
desenvolvimento
que
humano
abria
a
individual
possibilidade e
concreta
concreta por
meio
do de
intensidade das trocas e interações sociais. As fronteiras internas, que agora assumiram a materialidade física dos muros, grades e guaritas, sitiaram a cidade e confinaram os cidadãos a uma vida entre familiares e iguais. A cidade fractal é assim a anticidade, que se debate para estabelecer bases de novos padrões de urbanidade, fundados na negação da heterogeneidade, que paradoxalmente é a sua verdadeira fonte de potência. Nossas experiências de trabalhos com os mais diversos grupos nos mostram e nos afirma cada vez mais a necessidade de diferenciar e integrar a práxis cidadã da legalidade e da legitimidade.
A Cidadania da legitimidade, menos conhecida, está calcada por atitudes éticas, de realizar ações para o bem coletivo, comum, que não há certo ou errado; há diferenças. São modos de viver numa cidade. Como exercitar a cidadania, cuidar da polis (cidade), sem entrar em conflito?
Só para lembrar Rua Araújo, 124 2o. andar 01220 020 São Paulo/SP Tel. 11 3255 9570 www:relacionais.org.br
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Conforme a declaração dos direitos humanos alguns artigos nos colocam frente à questão: “Sair da Rua: Por quê? Para quê?” identificado nos itens abaixo conforme o sistema de atendimento à população em situação de rua da Secretaria da Assistência Social. Na Acolhida Artigo 3 Todo homem tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal. Artigo 6 Todo homem tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecido como pessoa perante a lei. Artigo 21 Todo homem tem igual direito de acesso ao serviço público do seu país.
No Convívio Artigo 1 Todos os homens nascem livres E iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade. Artigo 5 Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante. Artigo 20 Todo homem tem direito à liberdade de reunião e associação pacíficas. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação. Artigo25 Todo homem tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados Rua Araújo, 124 2o. andar 01220 020 São Paulo/SP Tel. 11 3255 9570 www:relacionais.org.br
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médicos e serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência em circunstâncias fora de seu controle.
Na Autonomia Artigo 8 Todo homem tem direito a receber dos tribunais nacionais competentes remédio efetivo para os atos que violem os direitos fundamentais que lhe sejam reconhecidos pela constituição ou pela lei. Artigo13 Todo homem tem direito à liberdade de locomoção e residência dentro das fronteiras de cada Estado. Todo homem tem direito de deixar qualquer país inclusive o próprio, e a este regressar. Artigo 18 Todo homem tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, isolada ou coletivamente, em público ou em particular. Artigo 23 Todo homem tem direito ao trabalho, a livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego. Artigo 26 1. Todo homem tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A instrução técnico-profissional será acessível a todos, bem como a instrução superior, esta baseada no mérito. Rua Araújo, 124 2o. andar 01220 020 São Paulo/SP Tel. 11 3255 9570 www:relacionais.org.br
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2. A instrução será orientada no sentido de pleno desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos do homem e pelas liberdades fundamentais. A instrução promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos, e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz. Artigo 29 Todo homem tem deveres para com a comunidade na qual o livre e pleno desenvolvimento de sua personalidade é possível.
UM OLHAR COMPLEMENTAR Para desenvolver nosso processamento, precisamos antes esclarecer o que entendemos por acolhida, convivência e autonomia. Os conceitos da SAS se referem mais às questões objetivas da organização e, pelo nosso método vamos captar mais as questões subjetivas advindas da resultante da organização e da dinâmica dos relacionamentos conseqüentes.
Acolhida: Nós entendemos por acolhida, antes de mais nada, saber a quem estamos acolhendo. Além dos aspectos físicos dos locais do acolhimento e das condições que eles propiciam, pensamos que deveriam
ser
espaços
acolhedores,
cuidados,
aconchegantes,
favorecendo a auto-estima de quem chega. E cada um que chega é Rua Araújo, 124 2o. andar 01220 020 São Paulo/SP Tel. 11 3255 9570 www:relacionais.org.br
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um igual a quem recebe, há uma identificação humana. É possível um relacionamento olho no olho e de confiança, daí pode surgir o sentimento de estar sendo acolhido e confiável. Isto é se relacionar e afirmar a parte saudável daquele que está sendo acolhido, e neste momento os dois se tornam possíveis.
Convivência: Nesse aspecto nos aproximamos mais da concepção da SAS, que favorece a construção de vínculos com o outro numa aprendizagem
do
viver
junto.
Respeitando
as
diferenças
e
reconhecendo as suas tribos.
Autonomia: Sobre este conceito nos diferenciamos, compreendendo que, para se conquistar a autonomia se faz necessário um suporte de saúde
física
e
mental
para
criar
uma
condição
de
auto
sustentabilidade e reconhecimento de seus desejos singulares. Para tanto temos que aceitar a necessidade de um certo paternalismo e orientação até que se sintam mais seguros para a produção da própria vida.
LOCAIS ESCOLHIDOS PARA O TRABALHO
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Os locais foram escolhidos por amostragem dos diferentes serviços pelos técnicos da Vigilância Cidadã da Secretaria da Assistência Social/PMSP. CAPE - Rua o Parque D. Pedro o Anhangabaú Casa de Convivência o Casa de Oração - Centro o Casa de Convivência São Martinho - Belém o Projeto raízes - Integrarte - Lapa o Complexo Canindé Albergue o Albergue São Camilo II – Tatuapé o Albergue São Lázaro – Brás o Pousada da Esperança - Santo Amaro o Albergue São Francisco - Glicério o Albergue do Complexo Canindé Moradia Provisória o Porto Seguro / Complexo Canindé Inserção Produtiva o Oficina Boracea – Barra Funda o Recifran - Inserção Produtiva – Glicério Total de usuários que participaram: 894 Total de agentes sociais que participaram: 41
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O que aconteceu?
SERVIÇOS NA RUA (Parque D. Pedro, Anhangabaú)
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ACOLHIDA Comunicação entre os serviços
Agentes Dá para perceber a presença de agentes sociais na rua sua aproximação e conversa com os moradores. São bastante conhecidas por eles, ouvem suas histórias, o clima é amistoso e de dependência pois, depende destes agentes a vaga da noite ou dos próximos dias. Entre as entidades parceiras a comunicação é rápida em relação a número de vagas disponíveis.
Usuários Em
estado
de
completa
passividade,
esperam
atitudes
assistencialistas, clamando pela misericórdia humana... parecem ansiosos pela volta de Jesus ou alguma outra entidade com poderes de redenção semelhantes. A velha e podre cultura de delegar responsabilidades
a
outras
instâncias,
sempre
distantes
e
inacessíveis.
Modos subjetivos/objetivos de atendimento
Agentes Rua Araújo, 124 2o. andar 01220 020 São Paulo/SP Tel. 11 3255 9570 www:relacionais.org.br
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Na rua não houve reclamação dos moradores com relação às agentes. Dentro dos albergues reclamam de um contacto mais individualizado com a problemática de cada pessoa
e uma abordagem mais
respeitosa . Entretanto observamos na rua que as agentes são bastante atenciosas e fazem o possível para atende-los.
Acolhida, não necessariamente significa acolhimento. A acolhida é pontual e atende a necessidades imediatas e funcionais, enquanto o acolhimento significa uma atitude para com o outro.
Preencher cadastro talvez seja uma atitude muito mais racional do que realmente entrar em contato com as pessoas.
Talvez eles
priorizem essa coisa de encaixar as pessoas nos padrões do acreditam ( ou do que aprendem e acreditam) que seja o perfil de uma pessoa em situação de rua. Os agentes saem a campo com uma expectativa e com uma idéia formada do que vão fazer, tanto que talvez seja possível afirmar que não conseguem estabelecer uma relação de igualdade humana. Agem como superiores como se já estivessem a par de todos os desejos dos moradores (voltar pra casa através do contato com a família , por exemplo). Não reconhecem a potencia que essa população pode ter em relação ao desenvolvimento de autonomia, os tratam como incapazes e os infantilizam. Rua Araújo, 124 2o. andar 01220 020 São Paulo/SP Tel. 11 3255 9570 www:relacionais.org.br
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Usuários Aprisionados no papel de coitadinhos, de vitimas, sempre a espera de ajuda e auxílio. Marginalizados, excluídos, expostos à violência, tristes, alcoolizados, sem rumo, desmotivados... entregues a própria sorte, cada um por si e deus contra todos.
CONVÍVIO Do latim ”convivere’ significa em viver com outrem em intimidade e/ou familiaridade.
Acordos tácitos (regras pré-determinadas) assistencialismo... manutenção da pobreza... ”eu faço de conta que você vai dar um jeito na minha vida e você finge que está satisfeito com minha atuação”
Modos de participação? Quais?
Usuários Não existem modos de participação. Não são incentivados, os agentes os abordam como altamente incapazes de esboçar qualquer ação Rua Araújo, 124 2o. andar 01220 020 São Paulo/SP Tel. 11 3255 9570 www:relacionais.org.br
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cidadã em relação a sua produção. Participam da paisagem urbana apenas como feridas expostas.
Agentes Participam como membros ativos a serviço da manutenção de acordos tácitos, recebendo seus salários e fingindo satisfação com o trabalho.
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Identificação
e
diferenciação
da
demanda
do
trabalho:
emergencial ou processual Há pontos que sugerem demandas emergenciais, embora o estado de anestesia dos moradores e dos agentes não os permita identificar a situação como sendo de emergência.
Necessidade Emergencial - Ampliação de vagas disponíveis no albergue. - Serviço que possa atender as necessidades básicas dos moradores, como - alimentação e banho, mesmo quando não podem ser encaminhados a albergues e/ou casas de convivência. - Encaminhamento para serviços de atendimento de saúde mental e de modo geral também. - Talvez seja interessante articular parcerias com organizações que trabalhem a partir de políticas de redução de danos, com foco nas condições de saúde e constatando a relação com o uso e abuso de drogas.
Necessidade Processual - realização de trabalhos que estimulem a auto – estima das populações de rua. - ações e reflexões a partir da prática dos agentes sociais para melhorar o contato entre eles e os usuários. Rua Araújo, 124 2o. andar 01220 020 São Paulo/SP Tel. 11 3255 9570 www:relacionais.org.br
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- infra-estrutura e modificações nas regras dos albergues. - infra-estrutura da cidade tornando possível utilização de banheiros para higiene e banho.
AUTONOMIA Desejos em relação à expectativa de Vida
Usuários Para alguns voltar pra casa, as vezes em outro estado. Reconhecimento da sociedade de modo geral pela condição dos moradores de rua. Para uma casa ou lugar onde possam ter uma vida mais digna. Os mais velhos, apesar da vida que levam tem sonhos remetem-se muitas vezes ao seu passado. Tem dificuldade em arrumar emprego pelos motivos já citados, bem como pela falta de documentação.
Agentes Não sentem que os moradores possam conquistar autonomia. Muitas vezes pensam apenas em devolver o problema a família.
Modos de participação que dão acessos à autonomia
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Usuários Nenhuma possibilidades dada inexistência de condições básicas.
Agentes Sociais Não reconhecem a possibilidade de serem prepositivos com os moradores. Estimulam o lado fraco, não focam a ação na potência dos usuários do serviço.
SAIR DA RUA Por que? Agentes Porque a saída da rua significa que o trabalho foi cumprido. Por que não pode ficar na rua. Porque isso não é vida.
Usuários porque estão insatisfeitos com a condição
Para quê? Agentes para voltarem a família, de onde nunca deveriam ter saído. Rua Araújo, 124 2o. andar 01220 020 São Paulo/SP Tel. 11 3255 9570 www:relacionais.org.br
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Usuários para ter uma vida digna
Propostas de solução Melhor
infra-estrutura
de
acolhimento;
uma
triagem
mais
personalizada onde se possa atender as situações específicas de cada caso e poder encaminha-los para espaços mais condizentes com a situação.
Criar uma melhor infra-estrutura de informação (computadorizar) não só os serviços oferecidos, mas também dados sobre os usuários e centros de atendimento (histórico pessoal, banco de dados,número de vagas disponíveis, número de pedidos de internação, número de internações, onde, recorrências etc..) para que estas informações integradas e com transparência tragam um panorama on line da situação de todo o sistema de atendimento
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O que aconteceu?
SERVIÇOS DE ALBERGUE
Pousada Esperança, São Camilo, Complexo Canindé, São Lázaro, Pedroso, São Francisco
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ACOLHIDA Comunicação entre os serviços
Agentes De maneira distanciada dos usuários. A diferenciação entre os dois grupos se faz presente o tempo todo por discursos autoritários, e posturas preconceituosas; muitas vezes reproduzidas por usuários que ocupam lugares de destaque hierárquico dentro do albergue. Procuram deixar bastante claro o tipo de comportamento esperado, utilizam regras para o exercício do bom convívio . Entretanto ameaçam o grupo caso não a cumpram. Os problemas e dificuldades, ao invés de serem refletidos de maneira ampla e profunda, são personalizados sendo a “culpabilização” estratégia muito utilizada pela direção, técnica de SAS e funcionários. No albergue S. Francisco, entretanto, a comunicação é direta e franca, fazem contato ‘olho no olho’, chamam pelo nome e a maioria dos usuários pareceu capaz de aceitar os tempos de espera e orientações quanto a procedimentos.
Usuários Rua Araújo, 124 2o. andar 01220 020 São Paulo/SP Tel. 11 3255 9570 www:relacionais.org.br
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A grande maioria está num processo de “desidentificação” (não sabem quem são, o que querem e nem como obtê-lo). Estão em busca do básico para a sobrevivência: comida e um teto. Os usuários pedem melhor atenção e compreensão dos agentes no recolhimento da rua e na acolhida onde recebem o kit de higiene pessoal. Kit bem
qualificado nos abrigos, porém objeto de
reclamações e disputas nos albergues. Os albergues, segundo os usuários , em sua maioria são sujos (principalmente os que permitem a entrada de alcoolizados , drogados e loucos ), mal cheirosos e perigosos. Os pertences pessoais são ora roubados ora motivo de preocupação e discussões. O albergue Glicério 25 é visto como o pior. Reclama-se também de falta de vagas; Problemas de infra-estrutura de informação entre os agentes para uma melhor compreensão e atendimento do usuário.
Modos subjetivos/objetivos de atendimento
Agentes Demonstram conhecerem bem os usuários e fazem o seu serviço. Encontram-se, porém distantes do processo como um todo. Burocráticos e preocupados com possíveis críticas, auto elogiam –se e
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tentam mostrar a qualidade dos serviços do albergue, falando das oficinas e serviços oferecidos. O desconhecimento de cidadania também por parte dos agentes sociais
se
explicitou
por
intermédio
do
desconhecimento
da
importância social de seus papéis, sendo que se apresentaram muito mais aprisionados a rotinas, tarefas concretas e burocracia, do que facilitadores de reflexões que pudessem favorecer o aparecimento de novas ações, para fortalecer os albergados no enfrentamento da situação desagregante em que se encontram. Com
essas
atitudes,
se
tornam
grandes
colaboradores
da
continuidade da situação de exclusão dos albergados.Não sentimos que acreditassem na possibilidade de mudança, nas vidas das pessoas que ali se encontravam. A exceção é o albergue S.Francisco onde o atendimento pareceu respeitoso e dedicado, sem paternalismo, com atitudes firmes colocam limites explicitando as normas internas básicas para o convívio social.
Usuários Estão diante de uma situação de carência muito grande. A maioria mantém respeito com os agentes e estão, de certa forma, satisfeitos com os serviços prestados. Alguns durante os trabalhos, falam em cidadania, porém por não saber o que seja, não se sentem como cidadãos. Rua Araújo, 124 2o. andar 01220 020 São Paulo/SP Tel. 11 3255 9570 www:relacionais.org.br
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A falta de vinculo e escuta se mostrou de forma clara. Os usuários colocaram a falta de comunicação entre eles como um dos fatores mais sentidos, contudo no Complexo do Canindé, o grupo se ouviu durante todo o processo, sem falas atropeladas. Uma questão levantada por um usuário era, na maioria das vezes, comentada e/ou completada por outro. Os temas levantados individualmente sobre a questão de ser um usuário de albergue, geralmente, foram compartilhados pelo grupo, tais como: preconceito, discriminação, atitudes desqualificantes, etc.
Nos outros grupos, foi perceptível na relação entre os pares, repetição de
sentimentos
como:
preconceito,
discriminação,
atitudes
desqualificantes, além de falta de escuta para com o outro. Cada um fala de si e de seus problemas sem perceber o outro. Falam ao mesmo tempo. Sentem necessidade de apresentarem amostras concretas de seus sofrimentos. Buscam no olhar do outro a possibilidade do encontro consigo.
Síntese Nos albergues, diferentemente dos abrigos o atendimento é burocrático, repetitivo, indiscriminado e maçante. Os agentes não sabem “quem e como” são os usuários e estes não sabem “o porquê e nem o para quê “dos agentes. Rua Araújo, 124 2o. andar 01220 020 São Paulo/SP Tel. 11 3255 9570 www:relacionais.org.br
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Não há perspectiva de futuro, o atendimento é emergencial, sem continuidade e nem possibilidade de integração com programas de convivência e autonomia. O ciclo rua/ albergue/ rua repete-se “ad eternum”. Retro alimenta toda uma rede de usuários e funcionários à instituições públicas e privadas que diz “que é necessário mudar , para tudo continuar como está ”. Muitos devem ganhar com a burocracia assistencialista, com certeza, bem menos dos que perdem com esta política excludente e autoritária. A invisibilidade das ruas continua dentro nos albergues. Não há amanhã para homens e mulheres aliás, nem diferenciados enquanto gênero parece que são. Parece que não se sabe que mulheres têm necessidades, compromissos e responsabilidades com a vida diferente da dos homens.
Propostas de solução Melhor
infra-estrutura
de
acolhimento;
uma
triagem
mais
personalizada onde se possa atender as situações específicas de cada caso e poder encaminha-los para espaços mais condizentes com a situação. Criar um melhor infra-estrutura de informação( computadorizar) não só os serviços oferecidos, mas também dados sobre os usuários e centros de atendimento (histórico pessoal, banco de dados,número de Rua Araújo, 124 2o. andar 01220 020 São Paulo/SP Tel. 11 3255 9570 www:relacionais.org.br
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vagas disponíveis, número de pedidos de internação, número de internações, onde, recorrências etc..) para que estas informações integradas e com transparência tragam um panorama on line da situação de todo o sistema de atendimento. Desejam
verdade
sem
interpretações,
induções
e
julgamentos.Querem viver em paz, harmonia e liberdade. Pedem dinheiro para passagem , emprego e moradia comunitária na favela para poder viver com quem escolher. Estes desejos pertencem a usuários e agentes e não são subjetivos. São explícitos. Implantar mais abrigos e casas de convivências ao invés de albergues é uma solicitação geral tanto de usuários quanto de agentes.Abrigar por pelo menos seis meses, dá oportunidade para uma relação mais pessoal e permite traçar um plano futuro de restabelecimento de vínculo social (documentação, emprego, moradia). Enfim construir um futuro garantindo cada passo do presente, baseado nos afazeres diário.
O fator tempo, não seria um motivo de exclusão, o modelo de hospedaria transitória oferecido poderia ser substituído por um modelo que resignificasse o rebaixamento da auto-estima e possibilitasse maior coragem (no sentido de melhor aprender a lidar com o medo) para alcançar outro modelo de vida.
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Para que a saída do “vício do albergue” seja possível, só criando um vicio melhor: Por que não resignificar o conceito de casa e família biológica e amplia-las para casas comunitárias e cidadania? Olhar de frente, olho a olho, agentes e usuários, percebendo as reais necessidades de cada pessoa possibilita uma melhor integração entre a situação pessoal e coletiva e uma melhor diferenciação entre etapas do processo de autonomia. A partir daí fica mais fácil estabelecer metas e critérios de avaliação Um convívio de qualidade implica, porém, ameaça e questionamento a um “status quo” conservador, que não tem interesse de real mudança, ou seja, que deixe de ter o “lucro com a pobreza dos outros” e passe a ter “ a otimização das qualidades humanas”. Como já disse acima os espaços de participação e transformação inexiste dentro das instituições e também na rua e não vejo com esperança um processo que saia da rotina inflexível pré-estabelecida por usuários e agentes, pautada em um modelo social paternalista e excludente que reproduz preconceitos, segregações e alienações disfarçadas por sentimentos de dó, culpa e castigo.
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CONVÍVIO Acordos tácitos (regras pré-determinadas)? Podem
acontecer outras
atividades
dentro dos
albergues?Os
albergues são lugares para comer e dormir. Não percebemos convívio entre os albergados, nem vínculos (são raros).Além disso, há uma mistura: bêbados, drogados e em surto, todos
juntos,
individualizado.
quando Porém
deveria
haver
não conseguimos
um
encaminhamento
constatar em
nossa
observação, como os hábitos de higiene pessoal, barulho e regras de convívio se materializam. O acordo é a manutenção da situação de pobreza imprescindível ao sistema capitalista vigente. Os excluídos fazem parte e, a sua parte, nesse script. Os funcionários também cumprem com os seus papéis pré-determinados e nós nos perguntamos: qual é a brecha para “desemperrar essa engrenagem”, se a força encontra-se dissipada nos diversos olhares internalizados e individualizados?
Entretanto, também é perceptível um esforço de
superação da situação por parte da SAS e agentes, porém com muitos limites especialmente para as condições mais comprometidas como idosos e deficientes. Rua Araújo, 124 2o. andar 01220 020 São Paulo/SP Tel. 11 3255 9570 www:relacionais.org.br
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Modos de participação. Quais?
Usuários Na clandestinidade da instituição, pois espaços abertos para que possam expressar-se abertamente inexistem.
Agentes - reuniões periódicas com a equipe. - através de cultos religiosos.
Os agentes reproduzem na instituição a discriminação e preconceito que é sentido fora pelos usuários. Há uma culpabilização do usuário por este se encontrar nesta situação, pois ele, segundo os agentes, é um individuo acomodado que tem comida e moradia de graça. Foram percebidos sentimentos de piedade, como se os usuários fossem os ‘coitadinhos’ e os agentes os ‘salvadores da pátria’. Os
agentes,
preestabelecidos
portanto, pelo
participam
modelo
social
baseados vigente
em
papéis
reproduzindo
o
preconceito, autoritarismo e discriminação existente na sociedade, assim como certa afetividade cristã que se respalda nos sentimentos de piedade, culpa, dívida e castigo.
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Identificação
e
diferenciação
da
demanda
do
trabalho.
Emergencial ou processual Parece que o albergue funciona em cima de rotinas inflexíveis, as quais são priorizadas em detrimento das pessoas! Rotinas que privilegiam os funcionários. Os usuários colocaram claramente a necessidade urgente de processos: - de educação, ter cursos de alfabetização, complementação de estudo; de profissionalização. - de saúde: tratamento para alcoolistas e drogaditos e outras patologias
AUTONOMIA “autos”: de si mesmo, por si mesmo, espontaneamente “nomos’: aquilo que se documenta em vocábulos , em ações , palavras lei individual e coletiva
Autonomia: aquele que se torna , por si mesmo, espontaneamente, por ações e palavras o autor e ator de sua própria lei e porta voz das leis do seu coletivo.
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Autonomia pressupõe auto sustentabilidade. Só uma estrutura autônoma possibilitará uma consciência autônoma com a real dimensão da palavra liberdade (amplitude máxima do eu através do e com o outro eu). Autonomia pressupõe relações, intra e extra relações, interações. Consigo próprio, com os outros com o em torno. Troca consciente de si e do outro, construção coletiva, cidadania.
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Desejos em relação à expectativa de Vida
Usuários -Sair da situação de rua para ambos os sexos. -Ter um emprego principalmente para os homens. -Ter uma casa para morar prioritariamente para as mulheres. -Voltar para a cidade de origem. -Melhorar sua saúde. -Melhora da relação afetiva entre os usuários, no caso de continuarem no albergue.
Agentes - Retorno dos albergados para a cidade natal. - Reintegração na sociedade, poder se alimentar, tomar banho, conviver com a sociedade. - Compartilham da mesma visão das dificuldades de superação e da dificuldade em efetivar seus encaminhamentos.
Modos de participação que dão acessos à autonomia
Usuários - Trabalho, isto é, compromisso e participação na rua fora dos limites. Rua Araújo, 124 2o. andar 01220 020 São Paulo/SP Tel. 11 3255 9570 www:relacionais.org.br
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institucionais. - Pensar e discutir mais vezes a cerca da condição de ser albergado. - Cuidados básicos consigo próprio como tomar banho, ter um lugar para se alimentar, dormir, guardar seus pertences e de certa forma o convívio em grupo.
Agentes - O sucesso dos encaminhamentos. - Os agentes sociais enfatizam o “bom comportamento” como um fator capaz de aumentar o tempo máximo de permanência nos albergues. O paternalismo foi predominante nas relações entre esses e usuários
Sair da rua Em três horas de contacto com eles não dava para sabermos em que nível de qualidade estavam para um melhor convívio (trabalho socioeducativo, escuta, orientação grupal e familiar, desenvolvimento de convívio) e para uma maior autonomia (capacitação e preparação para o mundo de trabalho, provisão de benefícios, documentação pessoal, banco de talentos).Com certeza não estavam satisfeitos com a vida, consigo próprio e nem no lugar que se encontravam. Rua Araújo, 124 2o. andar 01220 020 São Paulo/SP Tel. 11 3255 9570 www:relacionais.org.br
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Os abrigados da Casa de Mulheres e do sítio das Alamedas trouxeram perspectivas de futuro para si e seus filhos, isto já é um grande passo se compararmos com os albergados que nem isto possuem, mas será que é suficiente? Lógico que não. Sair da rua por que, se lá é o espaço de liberdade sem regras, sem deveres e compromissos pessoal, familiar e social. Ultimo refugio de uma prisão que pensam estar fora de si, sair da rua para que, se fora dela não existe sentido e nem perspectivas; sair da rua para onde se é nela que se encontra a ilusão do que os resta de privacidade. A quem interessa dizer que as pessoas devem sair da rua? Justamente àquelas instituições
e sociedades
que possuem um
“modus operandi” excludente, ineficaz e que principalmente ganham benefícios com este discurso. Só o próprio morador de rua é que deveria querer sair da rua ou tirar a ilusão da rua de dentro de si. Possuir motivações, valorizar a vida, potencializar ações, encaminhar soluções para antigos vícios é condição inerente a qualquer sociedade que coloque a humanidade e a qualidade de vida coletiva como objetivo central. Caso contrário o morador de rua é o protagonista do drama de toda uma sociedade humana que sem identidade, sem ser sujeita do seu próprio destino, torna-se objeto de qualquer discurso e vira mercadoria de troca.
Por quê? Rua Araújo, 124 2o. andar 01220 020 São Paulo/SP Tel. 11 3255 9570 www:relacionais.org.br
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Agentes - são pessoas e merecem melhor condição. - Não houve um discurso claro sobre isso, apenas de que os usuários não saem desta condição pelo fato de serem acomodados, pois o albergue oferece trabalho e eles não aceitam. Porque é assim que aprenderam, é assim que seguem esse paradigma por intermédio das tarefas executadas. Agem como “peças”, com papéis bem definidos nessa imensa engrenagem social. Não percebi disponibilidade para questionamentos e nem acolhimento do novo. É como se a verdade estivesse com eles! Na questão social, parece sentirem-se como os grandes conhecedores do melhor caminho a ser escolhido pelo outro! Suas missões flutuam entre o preenchimento das faltas dessas pessoas e juizes das mesmas. “Ninguém as conhece melhor do que eles!”.
Usuários Sair da rua foi o desejo de todos os participantes do encontro. O resgate da dignidade acabou sendo a resposta protagonizada inclusive arrancando aplausos da maioria dos participantes.
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A potência de vida se explicitou pela raiva, revolta e ressentimento, sendo ao nosso ver, maneiras desestruturantes e dificultadoras a qualquer tipo de organização. Cada um quer provar que é mais digno, de alguma chance que possibilite o seu retorno à sociedade. Não percebem que, a exclusão está totalmente incluída na visão capitalista fazendo parte da mesma! A situação de rua parece os colocar em contato com o lado mais obscuro de suas personalidades, o que acaba por dificultar o autoreconhecimento. “Porque eu ainda tenho um potencial” “Porque não quero que as coisas sejam dadas para mim. Eu tenho dois braços, sou perfeita e quero trabalhar para comprar o que quero”. “Porque estou vivo. O governo quer me fazer de morto, mas eu estou vivo.” ( Tem atestado de óbito há 15 anos.) “Essa pergunta me parece um pouco óbvia. Todos queremos sair da rua porque isso não é vida”.
As falas se deram muito mais no âmbito da falta de relação, assim o que eles gostariam para o futuro foi muito balizado por esta falta e solidão vivida entre os usurários. Rua Araújo, 124 2o. andar 01220 020 São Paulo/SP Tel. 11 3255 9570 www:relacionais.org.br
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“Ter mais conhecimento (do outro), mais amizade”.
Assim, o fato de sair da rua, é sentido subjetivamente como um modo de voltar a viver em relação com o outro e com o mundo. É como se a ausência de morada acarretasse a ausência de relações. O discurso dos usuários apontou que a marginalização na qual vivem, reverbera-se numa extrema privação de convívio. O desejo grupal de perspectivas futuras era muito curto, visto que, as faltas apontadas pelos participantes foram das mais primarias possíveis, principalmente no sentido da exclusão do convívio social e relacional com os outros e com o mundo.
Para quê?
Agentes Para ser um problema resolvido Para conquistar a dignidade Rua Araújo, 124 2o. andar 01220 020 São Paulo/SP Tel. 11 3255 9570 www:relacionais.org.br
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Conversas ao Sábado, tema novo; Domingos culto, para os que têm vontade; Voltar a Ter um trabalho produtivo; Temos as frentes de trabalho; ONG que pudesse fazer parceria com a gente para Produzir algo Ginástica pela manhã, para manter a disposição; A gente tem que fazer a propaganda da gente mesmo. Quanto mais pessoas vierem aqui, melhor.
Usuários - para viver decentemente - para ter respeito e dignidade - para ter um lugar na sociedade - para não sentir-se mais discriminado -para sentir-se aceito para voltar para minha família -para dar uma situação melhor para meu filho
É incrível neste caso, a diferença de qualidade entre as respostas dos agentes e dos usuários! Os desejos dos albergados se apresentaram totalmente pautados, nos valores sociais veiculados de bem-estar. O respeito dos outros, como ponte para resgatarem o próprio respeito parece ser indispensável, pelo menos nesse momento, ao sucesso Rua Araújo, 124 2o. andar 01220 020 São Paulo/SP Tel. 11 3255 9570 www:relacionais.org.br
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desse processo. O auto-reconhecimento, enquanto pessoa potente, digna, respeitável me pareceu ser o grande objetivo das pessoas. As drogas entram como sustentação necessária para o enfrentamento diário dessa situação e dessas questões. Afinal, como um deles verbalizou: “É muito difícil enfrentar a rua sem alguma droga, que lhe possibilite esquecê-la por algum tempo”.
OBSERVAÇÕES A observação mais importante é que encontramos uma instituição limpa, organizada e cronificada. Todo mundo concorda com o atual estado de coisas. Um participante disse ironicamente que: “o abrigo do futuro devia ser organizado como um quartel ”. O único participante que emitiu enunciados críticos era o Astrofísico. Ele repetia que não adiantava fazer psicodrama, que era preciso criar empregos. O mais importante é a ação, de nada adianta só diagnosticar se nenhuma medida de caráter socio/político for tomada. Tudo é causado por um grande sistema social e que, apesar de nós, diretores e egos, não sabermos o que era morar nas ruas, está tudo interligado, os homens de rua, as assistentes sociais e nós fazemos parte do mesmo sistema mundial. O único que discordou, “surtou” e não conseguiu permanecer no grupo. Moral da história: quem não concorda enlouquece. Rua Araújo, 124 2o. andar 01220 020 São Paulo/SP Tel. 11 3255 9570 www:relacionais.org.br
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Assim como os agentes desacreditam no potencial dos albergados; esses desacreditam em possibilidades de organização, que não seja favorecida pelo poder público. A ausência do olhar.....Do olho no olho...
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O que aconteceu?
SERVIÇOS DE MORADIA PROVISÓRIA (Casa de Convívio Porto Seguro, Casa de Cuidados Complexo Canindé)
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ACOLHIDA Comunicação entre os serviços
Agentes Dificuldades em lidar com os grupos, por falta de vivência. Têm mais facilidade em atuar no bi-pessoal.
Receosos de conviverem com
pessoas muito diferenciadas neste ambiente, muitas vezes sentem-se paralisados por terem dificuldade nos resultados de suas ações.
Usuários Parece que o grupo está conseguindo compreender o momento que estão passando e conseguindo estabelecer uma relação de confiança com a coordenação. Valorizaram o papel da Assistente Social. E também querem e sentem carência dessa autonomia. Porém ainda estão voltados ao passado, estão focados em suas “derrotas”.
Modos subjetivos/objetivos de atendimento
Agentes
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Das dificuldades que enfrentam, pois a demanda é muito grande, um certo receio, por serem pessoas de diferentes índoles, têm medo de sofrer alguma represália. Quando em contato com as famílias para realização de trabalhos em grupo, não conseguem explicar o que irá ocorrer e pedem que compareçam, mas não falam o motivo. Acham que se falarem, as pessoas não comparecerão!
Usuários É evidente que no caso da moradia provisória há uma exigência de convívio, o que não é fácil com desconhecidos. A primeira aprendizagem é perceber o que é comum a todos, e é nesse espaço comum que se depara com as diferenças e as dificuldades. No olhar do usuário, a orientação do agente, á medida que propõe a preservação do que é comum, tem colaborado para esse inicio de aprendizagem de vivência coletiva.
CONVÍVIO Modos de participação. Quais?
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Usuários Limpam áreas comuns, ajudam-se mutuamente, ficou claro na dramatização e também dividem despesas comuns.
Agentes Apresentam dificuldades de participar devido ao volume de trabalho. Falta de planejamento e/ou orientação, são fatores que interferem no desempenho de suas funções, se é que estas estão claras.
AUTONOMIA “Ter minha própria renda, meu próprio ganho financeiro, não depender de governo”. Citam: “estudo”, ”casa própria”, “ter trabalho”, ”morar só com a minha filha”, ‘voltar a estudar “, “fazer faculdade de Serviço Social”, “fazer e vender luminárias”, “professora”, “ter um lugar sossegado para ninguém me aborrecer”, “fazer faculdade de engenharia mecânica” , “A gente não pode se acomodar e que esta experiência de agora nos leve a um outro trabalho. Nós todos não podemos nos acomodar !”
Desejos em relação à expectativa de Vida
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Usuários A maioria sente-se frustrada por não ter conseguido algo na vida. Evidenciam a dificuldade de planejarem-se adequadamente quanto às despesas do dia a dia. Estão com a auto-estima abalada. Sentem-se fracassados e com certa culpa por estarem ali.
Desejam assumir
novos desafios e querem novas oportunidades. Estão buscando maneiras de transformar suas realidades. Têm consciência que este momento é importante, mas o fundamental para eles é a emancipação que pretendem alcançar, de maneira consciente, com ação e fé, duas palavras bastante utilizadas neste grupo.
Agentes Sentem-se
com
dificuldades
no
desempenho
de
seu
papel
profissional, e portanto, a ampliação das seções de supervisão tornase necessária.
Modos de participação que dão acessos à autonomia
Usuários
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Se os espaços coletivos fossem organizados de uma outra maneira, os usuários poderiam usufruir em condições de autonomia dos espaços mais íntimos. Ações comuns de limpeza e colaboração são desejadas.
Agentes Mais apoio e ofertas de cursos.
SAIR DA RUA Usuários Já estão vivenciando a condição de habitar, embora ainda provisoriamente. Nas cenas trazidas, colocam a importância de um apoio Institucional, bem como dos amigos e do quanto que sua própria vontade de enfrentar os obstáculos é fundamental para o sucesso. Demonstram certa dificuldade de trabalhar o papel no planejamento de seu próprio projeto de vida, apontam a
falta de direcionamento e
baixa estima, por sentirem-se desprestigiados na situação atual. Muitos tiveram uma vida de classe média, e hoje estão sem condições de manterem-se com o próprio salário. Estão afastados de amigos Rua Araújo, 124 2o. andar 01220 020 São Paulo/SP Tel. 11 3255 9570 www:relacionais.org.br
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antigos e querem reencontrá-los, porém gozando de uma situação financeira melhor.
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O que aconteceu?
SERVIÇOS DE CONVIVÊNCIA
(Casa da Oração, S. Martinho, Integrarte, Casa das Mulheres – Complexo Canindé)
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ACOLHIDA Comunicação entre os serviços
Agentes Na Integrarte existe uma hierarquia na casa, alem da coordenadora estar junto com o pessoal o tempo todo, ela segue uma espécie de rotina que não sai nada do lugar, ou seja, tudo passa por ela e tem seu aval, suas ações são determinadas também pela igreja evangélica.
Usuários Estes sabem o que se passa na casa quando chegam, como tem usuários muito antigos os novos ficam sabendo por eles. As regras da casa são passadas pelos agentes e pelos próprios usuários. A comunicação entre os serviços percebida na Casa de Oração se dá de forma organizada. Informações sobre o que é possível e o que não é por parte da Casa para os MR, orientações para as necessidades apresentadas e encaminhamentos necessários são feitos com clareza, paciência e atenção.
Modos subjetivos/objetivos de atendimento
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Agentes Na Intergrarte as regras são claras, não há como infringir. Se não seguir não faz uso dos serviços da casa. Os agentes que estavam na casa eram simpáticos com os usuários e foram muito acolhedores e participativos conosco. Como disse antes a impressão que deu foi que estavam nos esperando com a postura mais adequada a situação. Eles dizem querer a inclusão destas pessoas no social, mas que isso leva um tempo é um processo, faz sete anos que a coordenadora está na casa e acredita que apenas alguns realmente sairão das ruas, Mas que a maioria não sairá.
Usuários Estas pessoas estão esperando que alguém faça por elas. Comem, tomam banho, jogam e voltam pra rua logo após o almoço(uma boa parte). Outros ficam e participam das atividades, mas quando se cansam vão embora. Não há vínculos, não se estabelece nenhuma ligação entre eles, nem entre os agentes, se o fazem é por tempo limitado e por interesses. Na Casa de Orações não percebemos discriminação ou mesmo preconceito. Preocupação com a identificação e singularidade do outro puderam ser observadas no comportamento dos agentes. O senso de inclusão do MR é perceptível, sempre fundado, é claro, nos preceitos religiosos do respeito, da caridade e do fazer tudo em nome de Deus. Rua Araújo, 124 2o. andar 01220 020 São Paulo/SP Tel. 11 3255 9570 www:relacionais.org.br
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Já o que veio dos outros locais trazidos pelos MR denota um tratamento não diferenciado do tipo “é tudo morador de rua”, sem preocupação com a individualidade e, muito menos, com a condição de cidadão dos moradores de rua.
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CONVÍVIO Acordos tácitos A manutenção do status quo se dá através do assistencialismo, tudo é feito para que o usuário apenas sinta e absorva. Chegamos a perguntar a coordenação se as oficinas oferecidas eram solicitações dos usuários e se havia algum tipo de participação deles na escolha. Ela nos respondeu que de certa forma sim, pois se fosse perguntar o que eles querem a casa não teria como atender, pois as solicitações são de todos os tipos de atividades e agradar a todos fica difícil, então resolveram levar a eles o que a casa acredita que seja o melhor. Convênio com a prefeitura na manutenção da casa, ou seja, a verba de 75% vem da prefeitura e os 25% restantes vem da Igreja Evangélica. Na Casa de Oração embora a pobreza devesse experimentar, por razões religiosas, uma espécie de “santificação” (é notório como a religião católica santifica a pobreza), é surpreendente a clarificação exposta nas relações entre os Agentes da Casa e os Usuários dela. As regras de convivência são explicitadas, e até mesmo as tácitas (pré-determinadas) são apresentadas de forma mais aberta através do espaço ecumênico que a Casa oferece para as escolhas religiosas de seus usuários e freqüentadores. Já quanto aos outros locais freqüentados pelos MR e trazidos em suas cenas e falas, percebemRua Araújo, 124 2o. andar 01220 020 São Paulo/SP Tel. 11 3255 9570 www:relacionais.org.br
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se as referências que estão presentes sem serem faladas: MR não quer sair da rua porque é mais cômodo, não implica em responsabilidades, não trabalha porque não quer, é mais fácil depender dos outros, vivem bêbados ou drogados, do lado dos Agentes. Da parte dos MR também persistem regras tácitas: o Agente nada faz por mim porque não quer, quando faz é pra justificar o salário que ganha, só quer me fazer cumprir regras e vive querendo me tirar da rua...
Modos de participação. Quais?
Usuários Apenas no trabalho do mosaico e na Frente de Trabalho, mas participam com a força do trabalho e não nas decisões.
Agentes As participações são muito por conta da igreja já que a coordenação e o pastor são membros da congregação. Por ser uma unidade de Convívio e não oferecer albergagem, a Casa estimula a participação do MR em atividades coletivas. Pintura, artesanato, recorte e colagem são praticados em uma grande mesa no salão
do
térreo.
Algumas
pessoas
trabalham
juntas,
outras
solitariamente (houve uma delas que jamais abandonou seu trabalho Rua Araújo, 124 2o. andar 01220 020 São Paulo/SP Tel. 11 3255 9570 www:relacionais.org.br
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para
participar
da
reunião).
Há
reuniões
do
FORUM
DOS
MORADORES DE RUA que acontecem na Casa. E, é claro, as atividades ecumênicas que, baseadas nos princípios religiosos, também se constituem num modo de participação. Ao lado dessas há também a “fábrica” de abajures.
Identificação
e
diferenciação
da
demanda
do
trabalho.
Emergencial ou processual Na Integrarte, especificamente, se trabalha visando à manutenção do usuário na rua, não observei nem registrei falas da coordenação em querer fazer com que os usuários peguem as rédeas da vida novamente com as próprias mãos. Nem sequer para participar dos contatos com os restaurantes da região da Vila Madalena para vender os mosaicos e angariar fundos para os trabalhos. O que se desenvolve na casa é sempre no rumo do assistencialismo. A Casa de Oração não faz trabalho emergencial. Regra geral, o atendimento é todo processual, já que se caracteriza claramente como unidade de Convívio. A demanda emergencial que se apresenta é encaminhada para outros locais trabalhando a noite toda.
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AUTONOMIA Desejos em relação à expectativa de Vida Na Integrarte não observamos nenhuma intenção de sair das ruas, em nenhuma fala deles nas cenas nem fora delas. A vida é assim hoje porque de alguma forma a sociedade os coloca nesta condição, e apenas alguns acenam para a possibilidade deles próprios terem causado esta situação de vida, seja por fraqueza, por entrega á bebida, etc. A senhora que participou da cena está prestes a arrumar um quartinho e voltar a cozinhar para fora, sua antiga profissão (morava com uma família, depois de algumas mortes a casa foi vendida e ela ficou sem lugar) Os agentes fazem o seu trabalho com compaixão. Não foi observada a expectativa de vida em relação aos usuários. Mas entre eles alguns estão na Universidade, segundo consta são profissões que se aplicam ao trabalho que já exercem na casa. (Pedagogia) Na Casa de Orações, de parte dos Usuários, a expectativa pelo futuro no Grupo se apresentou bipolarizada. De um lado, o grupo mais jovem é extremamente potencializado para a vida: um MR de partida para a cidade de origem, saindo da rua para o mundo trabalho, exibindo um sorriso e felicidade contagiantes, representando o “Você sou eu amanhã” para os outros jovens; outros
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dois escolhidos pelos pares para levar ao Congresso os desejos e as esperanças do Grupo. De outro lado, a parcela de meia idade e idosos numa postura mais contemplativa, sem condições de ver com nitidez os próprios desejos, difusos, indiferenciados, desanimados porque delegando o próprio ânimo aos mais potencializados. De parte dos Agentes, o desejo dominante que aponta o futuro é o de ver o MR potencializado para o próprio futuro. Mas não é perceptível que o Agente tenha consciência de que a autonomia do MR possa implicar numa atitude profissional suicida a ser assumida por ele.
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Modos de participação que dão acessos à autonomia
Usuários A inserção que eles fazem é através da Frente de trabalho, ou seja usuários que apresentam habilidades e se engajam nas atividades da casa são convidados a participar do projeto, mas quem escolhe o usuário para participar é a coordenação da casa.
Agentes Quanto ao trabalho de artesanato faz-se exposição em feira na Pompéia (bairro próximo) além de contatos com restaurantes para a venda das luminárias de mesa. Esta é a forma que foi encontrada pela casa de inserção no social. A Casa estimula a busca da autonomia pelo MR através da participação nas atividades de Convívio descritas. De concreto, há a “fábrica” de abajures de aramado trabalhado com bagaço de cana. Um produto bonito e atraente, artístico-artesanal, bem feito, e que tem sido procurado para a compra, segundo informações dos agentes da Casa. A loja, onde o abajur é exposto, abriga também outros produtos de artesanato realizados pelos MR e que também são colocados à venda. No entanto, a produção dos abajures é restrita a poucos MR. Na verdade, um, que domina a técnica (e sabe tudo dela) e é auxiliado por mais alguns. Uma agente da Casa coordena o processo nos Rua Araújo, 124 2o. andar 01220 020 São Paulo/SP Tel. 11 3255 9570 www:relacionais.org.br
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aspectos administrativos, comerciais e financeiros (compra de matéria prima, gerência das vendas na loja, controle do dinheiro que entra e sai), dando suporte aos MR na busca da autonomia.
SAIR DA RUA Consideramos que o tema esteve sempre presente no trabalho, e está também relatado no que já foi exposto. Assim, destacamos abaixo os aspectos mais relevantes exibidos pela parcela potencializada do Grupo e dos Agentes Sociais:
- Sair da rua é tirar a rua de dentro do Morador de Rua; -Sair da rua não pode implicar na perda da dignidade pessoal. Senão, é preferível permanecer na rua com dignidade. - Sair da rua só com inclusão social - O assistencialismo não estimula o Morador de Rua a sair da rua. Ao contrário, incentiva-o a permanecer nela. - A ética e o bom tratamento que o Morador de Rua exige do Agente Social tem que ter a contrapartida da ética e do bom tratamento do Morador de Rua com o Agente Social. - Os Moradores de Rua têm que ter ética entre eles mesmos
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- “Estou saindo da rua e voltando pra minha cidade pra trabalhar”. (MR que estava com passagem comprada para Presidente Epitácio, voltando à cidade de origem pelos encaminhamentos da Casa de Oração).
DEFESA do AGORA “Dormir na rua não presta”
No albergue há banho, janta, coberta. Como na vida, existem regras (que vêm de cima pra baixo): não chegar embriagado, não fazer barulho, não brigar, não bater as pedras do dominó, quando apagar a luz não pode mais falar alto. Tem área pra fumante, detector de metais, cada dia tem um cardápio, tem empregado pra cuidar da gente – “eles vivem da nossa desgraça” – referem-se aos funcionários.
DEFESA do FUTURO “O que significa a palavra albergue pra nós? Resgate do que cada um era antes, resgate da cidadania” As casas terão o mesmo padrão e abrigarão 100 pessoas. O sistema atual está falido. Precisa ter qualidade de vida. É necessário ter regras, mas não impostas e, sim, criadas em conjunto com os moradores; tornar o lugar um espaço de convivência real. Rua Araújo, 124 2o. andar 01220 020 São Paulo/SP Tel. 11 3255 9570 www:relacionais.org.br
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E os funcionários? – Serão preparados para o trabalho e não usarão aventais. Dar condições às pessoas para que possam lutar pelo que querem.
Segundo momento
Agora Albergue não é a cada da mãe Joana. Tem que ter cultura pra ter respeito Por que tem tanta gente na rua?
Futuro A pessoa só precisa ficar o tempo necessário pra encontrar a vida. É preciso um trabalho de reconhecimento com assistência social. Uma líder da Casa que depois criticou um abrigo do Estado por propiciar dependência, produzir assistido disse: “Quando a gente está dentro têm que agir. De fora, a gente critica”. É importante enxergar as diferenças para resgatar a dignidade e transformar essa situação. E ouvir a palavra do interessado. Ao final do trabalho, foi surpreendente ver como o olhar de quem participou estava mais vivo, mais presente. Um tênue amor-próprio. O diretor na despedida disse emocionado que o abrigo precisa ter como função elevar o homem que caiu. Rua Araújo, 124 2o. andar 01220 020 São Paulo/SP Tel. 11 3255 9570 www:relacionais.org.br
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Elevar a cidadania – é isso que tora nossos olhos mais vivo.
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O que aconteceu?
SERVIÇOS DE INSERÇÃO PRODUTIVA
(Recifran, Boracéia)
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ACOLHIDA Comunicação entre os serviços
Agentes Não estavam presentes. Só pudemos analisar o trabalho dos agentes sociais a partir da percepção dos usuários.
Usuários a comunicação entre os serviços parece ser péssima. Os catadores também expressam a dificuldade que têm comunicarem-se entre eles mesmos quando não se trata de assuntos estritamente objetivos e relacionados ao trabalho. Afirmam ter posturas, crenças e valores diferentes, às vezes incompatíveis e daí “pra não causar muita polêmica, quando um fala besteira ninguém retruca” conclui um deles.
Modos subjetivos/objetivos de atendimento
Agentes não estavam presentes. Só pudemos analisar o trabalho dos agentes sociais a partir da percepção dos usuários.
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Usuários
costumam
ser
tratados
de
maneira
extremamente
preconceituosa, principalmente quando alcoolizados. O modo como desempenham o papel de agentes sociais demonstra que em todas as etapas da acolhida são tratados como se estivessem recebendo um grande favor. Não há reconhecimento algum da condição humana, nem tão pouco da cidadania por parte dos agentes. As maneiras de incluir são absurdamente perversas. Depois de adentrarem o albergue (o que deveria ser uma atitude inclusiva), entram na engrenagem dos mecanismos sutis e cortantes da exclusão.
CONVÍVIO Acordos tácitos (regras pré-determinadas) Enfrentar situações constrangedoras na entrada e permanência é tido como algo comum e quase inevitável na subjetividade dos usuários de albergues, o que inclui a possibilidade de serem desrespeitados, roubados e mau tratados. No grupo não havia moradores de rua. Alguns eram usuários de albergues, a maior parte está ocupando moradias provisórias e um pequeno número já conseguiu o mínimo de estrutura financeira para alugar uma casa ou quarto na periferia da cidade. Rua Araújo, 124 2o. andar 01220 020 São Paulo/SP Tel. 11 3255 9570 www:relacionais.org.br
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Modos de participação. Quais?
Usuários O próprio trabalho de catar materiais recicláveis e a organização que desenvolveram para realizar diariamente os papéis no Recifran já são modos de participação que os potencializam, bem como a realização de mutirões para realizarem tarefas e desejos comuns. Participam de várias reuniões e atividades, não avaliamos a qualidade de participação deles nessas situações.
Agentes Não participaram do trabalho com o grupo. Participaram de maneira indireta, sinalizando que podíamos começar sem eles e quando a agente que deveria nos receber, apareceu, não se dirigiu diretamente a nós, adotando uma postura autoritária e tratando os catadores como crianças.
Identificação
e
diferenciação
da
demanda
do
trabalho.
Emergencial ou processual É emergencial entrar em processo para que a relação entre agentes e catadores possa adquirir novos contornos.
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AUTONOMIA Desejos em relação à expectativa de Vida
Usuários Desejam o acesso ao básico. Comer, vestir, ir e vir, morar, ter um porto seguro (não necessariamente a casa própria, que parece ser percebida como algo ainda muito distante). Alguns não pretendem voltar para as famílias por considerarem ter um comportamento incompatível com as expectativas dos parentes, outros gostariam de re-aparecer somente depois de reconquistarem a autonomia e sentirem-se realmente dignos. As mulheres afirmam de maneira mais incisiva o desejo de alugar uma casa, uma vez que muitas são mães e se preocupam com as condições de sobrevivência, desenvolvimento e educação dos filhos. Não há o sonho da casa própria, mas o desejo de realizar o direito de habitar.
Agentes Desejos em relação à expectativa de vida, do ponto de vista dos agentes, não pudemos analisar essa questão. Não houve contato com Rua Araújo, 124 2o. andar 01220 020 São Paulo/SP Tel. 11 3255 9570 www:relacionais.org.br
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os agentes, o que não significa que essa ausência faça parte de uma postura que preza pela autonomia dos catadores. A não participação talvez esteja mais próxima do abandono e negligência do que ao incentivo e apoio a posturas cidadãs.
Modos de participação que dão acessos à autonomia
Usuários A participação em eventos onde são debatidos assuntos relacionados à coleta seletiva do lixo e materiais recicláveis. A possibilidade de perceberem que fazem parte de uma categoria de trabalhadores que merece respeito e que têm direitos. O próprio sistema de inserção produtiva, que permite a conquista da autonomia através da organização de todas as etapas de trabalho.
Agentes Não pudemos responder a esta questão.
SAIR DA RUA Por quê?
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Agentes Não sabemos. Do ponto de vista dos usuários o por quê sair das ruas, geralmente lhes é justificado pelos agentes, a partir de argumentos paternalistas, assistencialistas e preconceituosos.
Usuários Sair da rua porque desejam se sentir mais seguros, desejam conquistar o mínimo de infra-estrutura para organizarem seu cotidiano. É difícil re-estruturar realmente o cotidiano quando não se tem onde dormir, comer, guardar os pertences. Pode ser poético, mas não é fácil ser nômade sem ter sido uma escolha, e morar nas ruas, a questão da violência é muito presente, principalmente depois dos assassinatos ocorridos no centro da cidade.
Para quê?
Agentes Não pudemos avaliar o posicionamento dos agentes em relação a esta questão.
Usuários
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Para realmente usufruírem uma certa infra-estrutura que lhes permita uma vida digna.
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O NÃO-LUGAR DA DIFERENÇA “Entre a realidade do desejo das massas e as instâncias que se propõem a representá-las... A marginalidade é o lugar onde se podem ler os pontos de ruptura nas estruturas sociais e os esboços de problemáticas novas no campo da economia desejante coletiva”. Félix Guatarri.
A cidadania está fundamentada na igualdade formal dos cidadãos e numa categorização universal em que os cidadãos teriam garantido o exercício de sua liberdade, de sua autonomia e de seus interesses. Contudo, no crédito liberal a cidadania se colocou como mecanismo regulador existente entre o indivíduo e o estado, limitando os poderes deste e universalizando as particularidades dos indivíduos como condição facilitadora do controle e da regulação social. As questões da cidadania são remetidas ao mundo dos princípios democráticos e da generalização dos direitos iguais. Gozar dos mesmos direitos não nos torna iguais em todos os aspectos.
A relação de cada um com a cidade, com o espaço público. A apropriação de espaços que são meus, são seus, são nossos. Como nos relacionamos com a cidade? O teu problema também é nosso? Como nos responsabilizamos? O que fazemos para ter uma felizRua Araújo, 124 2o. andar 01220 020 São Paulo/SP Tel. 11 3255 9570 www:relacionais.org.br
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cidade? Direitos, diferenças, ética, cidadania. O que se pensa e o que se quer. Política não é apenas política partidária
O desafio é ir além do caráter genérico da cidadania buscando reencarnar a questão da cidadania enquanto prática histórica contextualizada que saia do marco de sua regulação pelo estado, embora, ainda exista a necessidade de aparatos estatais. Para tanto, um dos caminhos é o fortalecimento de grupos sujeitos e não sujeitados, transformar as forças produtivas e inventar novas relações de produção. Configurar novos arranjos sociais para a formação de uma rede de pessoas possíveis.
As engrenagens que fazem funcionar indivíduos serializados
Já existe uma estrutura montada que se propõe a realizar o mínimo de diferenciação no atendimento á população em situação de rua. No exercício da Política de Atenção, através da Rede de Serviços Conveniada, são detectadas demandas específicas, que determinam os modos de funcionamento do processo, teoricamente formatado, para caminhar da acolhida à autonomia.
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Para a construção de contextos onde direito à moradia, garantido na Constituição Federal, seja de fato exercido e respeitado, ainda são necessários serviços como os prestados nas Casas de Convivência, Abrigos Especiais, Albergues e Moradias Provisórias.
Constituem serviços necessários porque lidam com as necessidades mais imediatas de quem está em situação de rua. A acolhida nestes locais tem como objetivo a satisfação das necessidades básicas como a alimentação, higiene e saúde, realizando encaminhamentos e prestando cuidados especiais para: desintoxicação, mulheres, idosos, pessoas com deficiência, convalescentes, catadores de material reciclável.
O modus operandi do sistema de Acolhida/Convívio/Autonomia já esboça alguma singularização, quando tenta classificar os indivíduos em grupos com características peculiares. No entanto, os modelos de funcionamento dos serviços e, as relações estabelecidas entre agentes e usuários são constantemente permeadas por tentativas provisórias e parciais de totalização, de negação das diferenças. Os agentes têm dificuldades enormes na criação de vínculos com os usuários, não há identificação humana, ficando comprometido o reconhecimento
da
potência
e
impedindo
a
expressão
das
singularidades de ambos. Rua Araújo, 124 2o. andar 01220 020 São Paulo/SP Tel. 11 3255 9570 www:relacionais.org.br
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Nos primeiros contatos há um esforço de individualização do atendimento, mas há uma série de posturas carregadas de preconceitos e resquícios da cultura simplesmente assistencialista interferindo na prática, contaminando as relações e acabando por distorcer o foco da prestação de serviços. A manutenção da pobreza em detrimento da autonomia.
O serviço do CAPE, Central de Acolhida Permanente e Emergência, está em contato direto com os dramas do cotidiano das pessoas em situação de rua. Através das equipes técnicas e dos veículos para a acolhida, realizam a pseudo-inclusão momentânea dos usuários, pois depois de cadastrados entram na engrenagem dos modelos de assistência que não visam a autonomia. Não espanta o fato dos usuários muitas vezes não aceitarem a forma de institucionalização oferecida pela SAS.
A questão está em como a rede de serviços percebe e se relaciona com as diferenças e necessidades da população alvo. O atendimento homogêneo, com extrema desconsideração pela condição humana e pela potência de produção, revela a perversidade que mina as possibilidades de criação de novas modalidades de organização da subjetividade coletiva. Rua Araújo, 124 2o. andar 01220 020 São Paulo/SP Tel. 11 3255 9570 www:relacionais.org.br
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Assistência e intercessão social
Assistência
sim,
assistencialismo
não.
Tornar
a
assistência
momentânea, ao invés de definitiva. O estado deve responsabilizar-se pelo suprimento das necessidades básicas, concomitantemente ao apoio a estratégias capazes de favorecer transformações que, para serem realizadas de fato dependem de processos e políticas de grupo*, não de massa.
Em 2002 houve um Curso Intensivo de Sensibilização, com duração de sete meses, envolvendo técnicos da SAS, trabalhadores sociais e pessoas em situação de rua. O mote do curso foi “Intercessão Social enquanto Prática Cotidiana” e tinha os seguintes objetivos: “Formar equipes de intercessores sociais através de um curso que crie um espaço de reflexão d a práxis dos profissionais, favoreçam
oferecendo
criar
inflexões
um
olhar
singulares
e
métodos e
criativas
que na
realidade que lhes é apresentada, produzindo novos modos de subjetivação. O intercessor social vem com a perspectiva de fazer a intersecção da geopolítica e da geografia mental, nas relações, fortalecendo a diferença e a singularidade de cada um afirmando sua Rua Araújo, 124 2o. andar 01220 020 São Paulo/SP Tel. 11 3255 9570 www:relacionais.org.br
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cidadania.O trabalhador que está colaborando com a população na sua produção de vida deve ter função de terapeuta social ”.
Apesar da riqueza dos conteúdos e dos insigts que vieram à tona no período de duração do Curso, a prática, as posturas e as relações não foram modificadas. Os dramas e conflitos levantados continuam se fazendo
presentes
no
dia
a
dia
de
agentes,
usuários
e,
inevitavelmente em toda a Rede de Serviços Conveniada. O que aconteceu? São impermeáveis?
Daí a reafirmação da necessidade tanto da assistência, quanto de ações realmente cidadãs configuradas de modo a dar condições de desenvolvimento da autonomia, criando novos fluxos e agenciamentos de desejos. Para romper os acordos tácitos, coerência nas modalidades
de
serviço
com
encaminhamentos
planejados
objetivando a formação de coletivos reflexivos e participativos. Isto é um processo e com alguns avanços...
A Inserção Produtiva representa um modelo mais eficiente de inclusão se comparada aos outros serviços. Abre perspectivas de organização da produção e afirma as cooperativas como uma das principais alternativas para amenizar o problema do desemprego.
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O Boracéia, por exemplo, como modelo estrutural pode ser replicado se
as
dinâmicas
relacionais
forem,
não
transformadas,
mas
transvaloradas. O que está em questão é a concepção ética e política dos agentes sociais que repetem o modelo hegemônico nas suas políticas relacionais. Essa postura e a própria condição de seus “pacientes” são protagônicas de nosso sistema.
Considerar a população em situação de rua integralmente, criar condições de escolha, de liberdade. E por que não estimular sua inserção na elaboração de políticas sociais que respondam a pluralidade de desejos, orientando estratégias compatíveis com o caráter heterogêneo por excelência dessa população?
Intervenções, políticas e estratégias que tornem possível às pessoas em situação de rua sentirem-se incluídas, porque fazem parte da sociedade, (mesmo que isso incomode a muitos) e têm o direito de conhecer e exercer os seus direitos, assim como de sentirem-se produtivos e exercer as suas potencialidades. Movimentar os bancos de
talento,
promover
a
organização
social,
a
formação
de
cooperativas, frentes de trabalho, economia solidária, redes de troca, investir em parcerias para permitir o acesso ao ensino e a profissionalização.
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Criação de mecanismos de informação, decisão e organização que não invalidem as realidades contingentes e as singularidades dos desejos, novas formas de resistência, de sensibilidade, de relações sociais e de trabalho. A invenção de novos instrumentos de luta adaptados e forjar novos possíveis, fazendo fugir os modelos alienantes e fundando as leis da subjetividade em algo que não seja a coerção social.
A NOVA FACE DA SAS O Boracéia é um espaço criado para que as pessoas que vivem em situação de rua possam, minimamente, ter respondidas suas necessidades
e
preocupações
cotidianas
e
mais,
terem
a
oportunidade de serem incluídos na produção.
É um local agradável com local para estacionarem a carrocinha e deixarem seus cachorros com até possibilidade de terem seus banhos quentes. Reinvidicação antiga que impossibilitava suas estadias nos albergues, ou impossibilita até hoje?
Tem 2.000 leitos e refeições diárias, capela, e cine-video. Rua Araújo, 124 2o. andar 01220 020 São Paulo/SP Tel. 11 3255 9570 www:relacionais.org.br
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Quando
chegamos
o
jantar
tinha
sido
suspenso
para
que
participassem dos trabalhos...mais cedo, o jantar foi servido somente para os mais velhos. Estavam muitos, uns 150, entre homens e mulheres, num grande espaço onde acontecem várias atividades, inclusive festas e exposições.
Estavam desconfiados, não sabiam o que ia acontecer. Quando o pessoal da filmagem chegou, ficou pior. A desconfiança aumentou. Foi explicitada a finalidade desse encontro, ouvi-los para rever a orientação da Secretaria sobre quais as melhores políticas para melhorar as condições deles. Alguns se negaram a dar a autorização para filmagem, e a partir dessa situação, propusemos a organização de 4 grupos, um deles formado por aqueles que não queriam ser filmados.
Um grupo completamente ansioso para falar, propor e conversar sobre sua situação. No grupo estava um antigo “morador de rua” que hoje trabalha no Boracéia. Aliás, único presente de todos os técnicos que foram convidados a participar...E foi esse o assunto que mais discutiram. - “Os banheiros estão imundos, quebrados”
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- “Como? Perguntei. Não faz um ano que visitei aqui, estava sendo inaugurado, novinho, e já está assim, descuidado? Vocês não cuidam?” -“Não, se pagassem para mim eu cuidava”. A partir daí muitas histórias rolaram e finalizava sempre com a possibilidade deles mesmo, serem contratados para cuidar do Boracéia. Perguntei: “Então vocês cuidam e os técnicos vão para a rua?”. Olhares e silêncios cúmplices. Pois o modelo estava ali, um servidor ex -morador de rua!!! Insisto em chamar moradores de rua, e não em situação de rua, porque as perspectivas de sair da rua não se mostram como tão viáveis. Pode não ser seu desejo, mas é como vivem e morrem.
Se é para pensarmos em novos paradigmas, aí estavam surgindo a partir dos usuários algumas soluções que sintetizadas seria uma só: onde eles estiverem, sejam no Boracéia ou nas praças, eles cuidam do local e seriam pagos pelo serviço: limpeza, jardim, etc...o que cada um pode fazer porque sabe ou aprender o que quer pelo talento que tem.
Pensei na aplicação da Árvore de conhecimento de Pierre Levy. Lembrei-me também do Grupo Ueizz da Casa, criado por Peter Pal Rua Araújo, 124 2o. andar 01220 020 São Paulo/SP Tel. 11 3255 9570 www:relacionais.org.br
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Pelbart, no qual o loucos,deixam de ser só pacientes psiquiátricos e se tornam também atores. Não foi
ouvido nada que fizesse dos
moradores de rua um alguém mais. Vi muitas vezes eles na porta da Biblioteca ou do Teatro Municipal, será que queriam entrar?
Muitos precisam de atendimento porque já alcoólatras. Outros, recuperação da saúde, maior revitalização e atendimento psicológico. Outros, como deram a entender de vários modos, são aproveitadores. Outros já estão inseridos no “mercado da reciclagem”, porém sem orientação para uma maior eficácia para solucionar a concorrência que aumentou muito. Será que o Sebrae poderia ajudar nos primeiros passos? Sinto pouca articulação do trabalho com os moradores de rua e instituições e movimentos que buscam a superação da situação de exclusão. Até dessas possibilidades já existentes eles estão excluídos?
Mas enfatizaram que eles com ajuda e confiança poderiam se cuidar. Mas se isso vier acontecer, acabaria a função dos técnicos???
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Anexo
Falas e Cenas no Contexto Dramático
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Local: Parque Dom Pedro A agente que nos recepcionou trabalha na sensibilização e acolhida de adolescentes. Trata do assunto como se os jovens e os adultos simplesmente não fizessem parte do mesmo contexto. “Com adulto é muito frustrante, eles são mais difíceis de mudar e de convencer, criança. Jovem já é diferente, dá pra chegar na família mais fácil” acredita a agente.
ANHANGABAÚ Perguntei o que lhe faltava para chegar lá a esta vida ideal? As respostas vieram de vários moradores: Falta de oportunidades; emprego; há muito preconceito, discriminação; estudo; experiências. Esta cena mexeu com a maioria dos integrantes menos com os jovens que preferem morar na rua
As meninas tem casa, mas preferem ficar na rua, demoram a responder,
preferem não falar. No geral as respostas são:
Liberdade Total fazem o que querem, ninguém para regular
O “Z” que não tinha decidido se ficaria ou não na rua, diz que prefere sair.
Ele é inteligente, e diz que o que falta mesmo é força de vontade para procurar um emprego e sair da rua. Outro morador diz que há oportunidades de fazerem Rua Araújo, 124 2o. andar 01220 020 São Paulo/SP Tel. 11 3255 9570 www:relacionais.org.br
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cursos no Boracéia, mas ninguém faz. Pergunto o que é que atrapalha, se eles tem vontade e até oportunidades: Resposta: a “mardita pinga”
Confessam que o que atrapalha mesmo é a bebida, e que muitos foram parar nas ruas, por causa dela. A maioria bebe, e sua força de vontade fica abalada em função da pinga.
POUSADA DA ESPERANÇA – Santo Amaro Usuário disse que o que falta é vontade de sair da rua, que as pessoas se acomodam lá, pois se ganham entre 400,00 e 600,00 dá muito bem para sair da rua. Muitos concordaram com esta posição. Enquanto outro participante disse que não que é impossível sair da rua, se não tem empregos fazendo quase um discurso político!
A conclusão, já que o processamento foi feito junto com a dramatização é que a falta de confiança em si mesmo, o não olhar para as pessoas, o rejeitar por já sentir-se rejeitado tem peso alto na hora da contratação. Fora os aspectos externos: falta de experiência, vícios, limite de idade para contratação( ninguém consegue emprego no Brasil se tiver mais de 35 anos, e o desumano desemprego que assola milhões de brasileiros.
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Quem mora na rua, já está excluído, assim como aqueles que tem processos criminais, que segundo eles, não tem uma segunda oportunidade, o que acarreta a falta de documentação e a busca por trabalhos informais e outros que não quiseram mencionar, mas que é evidente por algumas falas do grupo: assassinos e ladrões.
Os usuários jovens demonstraram ter perdido esperança em relação à vida, diferentemente dos mais velhos. Os jovens foram os que menos participaram e não tinham vontade sequer de levantar das cadeiras.
Fica evidente que o maior problema com relação ao morar na rua é a bebida. Bebendo não conseguem empregos e cada dia mais baixam sua auto-estima.
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Local: Complexo do Canindé - Pari
Instituições: Albergue Ueze, Casa de Cuidados, Casa de Mulheres, Abrigo de Idosos (Sítio das Alamedas)
Vitória explicou que o pessoal que utilizava essas unidades eram encaminhados por serviços e que eram pessoas desempregadas, ou que sofreram violência doméstica, abandonadas em creches, vinham do Fórum, do Amparo Maternal, passaram pela FEBEM, etc.
Falou que a proposta da Casa é a busca de autonomia e cidadania e que os assistidos permanecem por cerca de 1 ano – para que consigam um trabalho. As mulheres da Casa fazem a limpeza. Essas mulheres não chegam na Casa diretamente da rua e algumas nem passam pela rua. Na Casa das Mulheres é diferente; elas podem ficar com os filhos, “dormem, acordam, algumas vão trabalhar e voltam...”. Há muitos casos de pessoas que têm família, mas não têm vínculo familiar. “não tem muita menina nova aqui, disse Vitória, elas passam por aqui... eu não concordo muito com algumas coisas. Aqui não se paga nada... mas o serviço é feito por elas. Nós trabalhamos com a autonomia desde o começo. Nos albergues tem gente para fazer paternalismo...”( continua Vitória)
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Dramatização “eu chamo o albergue do Sirineu em São Caetano... vai pra cá, vai para o outro... Sirineu sempre pergunta por mim há quase dois anos...” (usuário)
Quem cuida de vocês. Deus? Responderam Sim. O Diabo? Houve quem riu. Houve quem fechou a cara, houve quem disse não. Alguém disse:” primeiramente Deus e a família”. Famílias muitas vezes que estão muito longe. Disseram que a família estava há 5000 quilômetros, no Rio Grande do Norte, e também longe em Pernambuco, Nordeste, Bahia, Ceará,, do Amazonas não tinha ninguém, tinha também de Alagoas, e o pessoal da cidade de São Paulo, uns dez e que tinham parentes aqui, quatro levantaram a mão. Uma mulher disse: “minha mãe mora em Diadema, mas eu não sei em que rua”.
Quem está satisfeito com o lugar? Oito levantam a mão. Quem está feliz consigo mesmo? Um responde: “eu estou feliz, aqui eu trabalho, eu ganhei emprego aqui”, outro fala: “o Brasil é um país religioso... os políticos se preocupam pouco com o pobre. Também a saúde, medico, dentista, remédio, com o pessoal de baixa renda, o que está na contramão da história...”
Quem está vindo da rua? Um fala: “eu estou vindo do serviço público”, outro diz:” eu morava sozinho, fiquei doente e vim para cá” “eu fui escolhido pelo destino”, outro fala:” eu fui escolhido Rua Araújo, 124 2o. andar 01220 020 São Paulo/SP Tel. 11 3255 9570 www:relacionais.org.br
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pela sem-vergonhice, deixei minha mulher e meus filhos”. Continuam dizendo“o albergue me tratou bem, sim” outra voz: “eu estou aqui porque Deus me trouxe...”
Que história gostariam de ouvir?
Uma mulher responde: a verdade, o que acontece... o que nós pensa.... não ficar deduzindo... te apontar e bater o martelo contra você” Pergunta: já te apontaram? Sim, como vagabunda, uma mulher que faz um monte de filhos... que eu tenho que pagar com a minha vida...”
Um senhor falou: eu quero uma história de paz. Outro falou: “eu perdi a minha perna...”, “no dia a dia que traz paz e violência, prefiro mais a liberdade”.
Já foram melhor tratados? Um responde: “pior...”, outro: “melhor...”, Uma mulher fala: “não sei o que o senhor está querendo... sou bem tratada e me sinto bem de saúde”, outra mulher diz: “sou bem tratada, mas a saúde está por baixo”, uma outra: “o lugar em si é bom, mas a situação que a gente está passando na vida”, Alguém falou: “tem gente que têm medo de dizer a verdade verdadeira” “um homem diz que antes de quebrar o braço veio da rua e que a moça da pensão havia lhe mandado embora. Jogaram a sua roupa na rua e quando sofreu o acidente lhe mandaram para a Santa Casa.... disse que havia gostado do CAPE Rua Araújo, 124 2o. andar 01220 020 São Paulo/SP Tel. 11 3255 9570 www:relacionais.org.br
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porque lhe acolheram, “me trataram bem... me chamaram no hospital... eu fui porque não estava me sentindo bem”.
Pergunta para a platéia: o que o CAPE tem de ruim? O que tem de bom? Um respondeu: “têm funcionários que não compreendem a situação da gente”, disse o outro: “me pedem cigarro, sabem que eu fumo e não posso comprar”. Uma mulher fala: no Capes as pessoas não sabiam informar... para que eu não chegasse aqui como mendiga... precisam de mais informação”. Continuam falando: precisa melhorar os funcionários do Cape.... precisam ser melhor orientados para compreender a situação da gente”.
Ta faltando kit? : dá para usar? Sim, dizem “falta escova de dentes”, “está faltando kit”, “está faltando prestobarba”, o kit do albergue está bom” e mostra o polegar para baixo em sinal de negativo. “No kit do albergue falta compreensão”; “o kit dos idosos está muito bom” “na casa dos cuidados está bom”.
Na cena o agente entrega o kit ao morador de rua e o encaminha para a psicóloga. Quanto tempo vai durar isso?
O senhor bem comportado respondeu: depende... se ele entrar antes do almoço, vai tomar banho, vai trocar a roupa,... há albergues que a assistente social fica até as 10 – outros até as 6, se chegar de noite, talvez vá ser atendido pelo psicólogo no outro dia. O albergue não tem primazia, todos são iguais...”.
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No albergue seria bom separar os recém chegados dos que estão há muito tempo? Respondem: “os que eles separam são os idosos e os deficientes físicos. A maioria é colocado tudo junto”.
Como as mulheres são recebidas nos albergues? Nos albergues entram mulheres também?
O senhor responde: homens e mulheres às vezes estão juntos, mas o problema é que têm uns alcoolizados, outros roubam...
Os pertences deles não ficam guardados? “Estou dizendo as roupas, os chinelos, quando acorda não encontra...”
Pergunta: tem albergue mais seguro? Respondem: “a Casa das Mulheres...” um dos piores: “é o Glicério – 25... o ambiente é ruim, muita droga, mal cheiroso....”.
Luzia falou que tem uma diferença entre o albergue e a Casa das Mulheres, disse que as mulheres podem ficar 6 meses...”, “querem reconstruir a vida e a dos filhos... (aplausos). Uma mulher falou: queremos ter emprego, salário decente, casa para morar com os filhos”. “isso dói na alma”, alguém diz.
Quem pensa no futuro têm mais força para vencer as dificuldades?
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O senhor comportado diz: querer é poder... e começa a falar do Sitio das Alamedas, as coisas boas de lá e convida quem quiser visitar, diz que lá “é um abrigo especial... porque lá é uma transição... nós moramos em quartos com 2ou 3 colegas...”. um outro senhor fala: tenho 66 anos o futuro está em viver o presente da melhor maneira...Marco Nanini diz que quando a gente faz 90 anos não pode ter mais esperança... e por isso a gente pode viver intensamente o presente (aplauso geral). O senhor comportado volta a falar do albergue especial... temos horta, jardim... vai até lá nos visitar...”
Luzia diz que é necessário passar pela psicóloga e diz que tem que ter paciência... A senhora conta que chegou em São Paulo porque pensou que era mais barato encontrar onde morar, mas não encontrou...
A gente tem que tirar o morador da rua? Respondem: tem que tirar... Para onde vão? continua... Respondem: “cada qual tem que se virar”.
E continua a perguntar: se recebessem dinheiro do programa de Silvio Santos... Quem que iria para casa da família? Quem volta? Um homem falou: “tem que ser o dinheiro da passagem...”, dois levantaram a mão apoiando. Quem quer emprego? Dez levantaram a mão. “Quero que deus ajude para que possa construir uma vida melhor... precisamos de dinheiro, passagem e emprego”, “eu sai de lá porque meu marido me batia”.
Vocês acham que devem ser abrigados?
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A senhora responde: “eu sou artista plástica... eu nem sabia que existia albergue... estou tentando sair”. Dizem: “na Casa das Mulheres a maioria está querendo sair...”
E no albergue? “tenho 3 anos de rua, só na rua...eu não gosto do albergue, eu não gosto da rua, queria ter um quarto, um trabalho e morar”. A psicóloga da cena pergunta: por que o albergue não dá certo? Responde: “porque é muito sujo”, outra diz: “as próprias pessoas não querem seguir as regras do albergue”, “quero um lugar mais livre”, “tem regra do albergue que é maior do que a da família”, “60% quer sair, 40% quer ficar”. Uma mulher discorda e diz que 90% quer ficar. Um rapaz jovem fala: “...zona norte e zona sul ou na região central... lá não fica porque não pode chegar alcoolizado...realmente tem albergue limpo”...
Nova cena:
Chegam três moradores(duas mulheres e um homem) e à agente de serviço dizem: “a gente quer ficar junto, se não tiver vaga nós vamos embora, a gente é uma família...”. A instituição tem que abrigar o morador de rua. A recepcionista vai informar a Luzia (educadora) diz: ...”acredita que são irmãos? Vamos pedir o documento...” Os usuários explicam: “somos irmãos de rua, duas irmãs e um irmão”. Luzia explica que eles têm que compreender que se não tiver vaga no quarto para os três eles não poderão ficar juntos. A família argumenta que não pode se separar. A usuária diz: a senhora é assistente social e vai ter que me Rua Araújo, 124 2o. andar 01220 020 São Paulo/SP Tel. 11 3255 9570 www:relacionais.org.br
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entender. Ela responde: todo mundo por aqui ao redor é de bem , é boa”. O irmão começa a falar: “o negócio mesmo é o meu documento e o meu trabalho, também gosto de cantar ou jogar bola, ficar na porta de um bar cantando, sou filho de deus...”, a irmã argumenta que ele está com dor de cabeça”. A psicóloga fala – “como resolver se não tem vaga? Se ele precisa de tratamento psicológico tem que separar.
Pergunta: é melhor separar ou voltar para a rua? Responde a criança: “voltar para a rua”. Comentários: “ninguém obriga a eles ir para o abrigo...”, a psicóloga da cena diz: “eles são cidadãos, eles não se sentem obrigados...”. Luzia diz: às vezes a gente é obrigado a estar aqui porque não tem para onde ir. Muitos manifestam concordar. Pergunta: é melhor estar aqui? “a gente tem gratidão, sim” alguém comenta. Pergunta: o que devolvem em troca? Respondem: “reconhecimento”, “a gente cumpre as regras”, “respeito”, “pedir a deus que ajude”, ajudar a conseguir o que quer na vida”, “trabalhar, ser alguém de respeito, com amor, com gratidão, a união”, “ajudar a manter a casa limpa”, “se cada um cuida do seu kit está bom”, a gente falou... com certeza”.
Volta a cena: o irmão tem uma dúvida, a assistente social não esclareceu – “o albergue só atende a mulheres ou só homens... só tem uma vaga...”. João pergunta: faltam lugares nos albergues?
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A que era a psicóloga responde: “faltam lugares e estrutura, certas casas iguais a essa (a Casa das Mulheres)... “a Casa das Mulheres não é um albergue, é uma casa de acolhida”. Um homem falou: “no albergue não tem acolhida, não se pode ficar durante o dia para lavar roupa, cuidar dos filhos...”, “no albergue a gente resolve o momento, no dia seguinte não resolve...” João pergunta: o que propõem para quem está na rua? A “psicóloga” fala: fazer uma triagem, de cada caso... e fazer um melhor encaminhamento... senão a pessoa deixa de ter uma identidade, ser cidadão, ter perspectiva...”.Aplausos.
João pergunta: qual o numero máximo de pessoas que podem ficar no abrigo? Respondem “100”, “é muito, 50 no máximo”. A “psicóloga” diz que soube que em outro país – o projeto colméia – dá um quarto com beliche, televisor, área de serviço, duas pessoas no quarto... relação de amabilidade... uma estrutura de uso comum e outra de uso de mais intimidade... eu percebi que saiam daí integrados na vida cotidiana...”.
João pergunta: por quanto tempo vocês ficam aqui?
Responderam: 6 meses. E vocês da Casa das mulheres? Quanto tempo podem ficar? É pouco? É suficiente? Quanto mais? Depende de cada um? Respondem: “para quem tem um filho é um tempo, se tiver mais é mais difícil... tem idade...”, “a pessoa que tem mais idade precisa de mais tempo...” Rua Araújo, 124 2o. andar 01220 020 São Paulo/SP Tel. 11 3255 9570 www:relacionais.org.br
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Homens precisam de quanto tempo? Respondem: “de uma semana até dois anos” João continua a perguntar? Quem cuida dos filhos? “Tem homem solteiro que cuida do filhos...”, se estiver pensando nos filhos arranja uma creche... se tiver cachaça... aí cumplica...” diz outro.
João pergunta: A mulher precisa da Instituição mais do que o homem? “a mulher precisa de um espaço para cuidar dos filhos e o homem se defende melhor na rua”, “a mulher sabe se defender mas precisa de um espaço para os filhos”, disseram as mulheres.
Volta a cena: um final Luzia ligou para o albergue 25 – Glicério (o pior) e conseguiu vaga para os três irmãos e uma outra irmã iria para o outro albergue (eles aceitaram).
Essa história é verdadeira?. Como poderia ser o final se não tivesse vaga? “eu falava para ela, vamos para a rua”, disse um dos atores. Uma mulher fala: “aconteceu na vida real, o filho que não podia ficar com a mãe porque tinha 12 anos”.
Pergunta a assistente: se não tem vaga como fica? O que acontece? “Ela vem responder uma advertência”, “ela não tem culpa,de não ter vaga”, “vai ter que resolver na justiça”. Ela é obrigada a tirar as pessoas da rua senão a Rua Araújo, 124 2o. andar 01220 020 São Paulo/SP Tel. 11 3255 9570 www:relacionais.org.br
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Instituição vai perder o convênio. “no tempo de frio as pessoas são obrigadas a sair das ruas”, “encaminha para outro lugar e depois a pessoa está nas ruas novamente.
A cena volta para outro final A psicóloga falou para os moradores de rua: “minha senhora, juntos não podem ficar”. Os irmãos se despedem e vão embora. Vão saindo e risos, esquecem o irmão. “ele não quer ir embora”, dizem. A “psicóloga” falou: “você percebe uma coisa, não adianta empurrar para o assistente, para o diretor para ele ser obrigado a colocar pessoas onde não cabe...” Estou infligindo a lei? O direito de ser cidadão.” “não posso ser punida por isso, por ser funcionária que está trabalhando sobre pressão” –
Como resolver sem romper?
A “psicóloga”: eu pediria a meu patrão as estatísticas, quantas pessoas gostariam de entrar e não tem um lugar? Ela tem que telefonar para a acolhida para vim buscar as pessoas... não é só que não tem lugar, o problema é a informação – tem gente que vai acolher, tem serviço da prefeitura?”.:” Eu quero mais casa de acolhida – ô Silvio Santos dê casas de urgência” Um jovem disse: –“ concordo, a informação tem que ser no computador, tem que ter uma melhor integração da informação”. Rua Araújo, 124 2o. andar 01220 020 São Paulo/SP Tel. 11 3255 9570 www:relacionais.org.br
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Local: Albergue São Lázaro – Brás Desenvolvimento da dramatização:
Cena 1: Acolhimento do CAP
Um rapaz está na rua e para poder ir de um local situado na zona leste a outro, também situado na zona leste, precisa passar primeiro pela praça da Sé.
Cena 2: Como seria o albergue do futuro.
Para esta cena pediu-se que os usuários pensassem uma dramatização de como seria o albergue do futuro. Ao realizarem a cena, o que mais apareceu foi que no albergue do futuro o usuário seria bem tratado pelo monitor. Não haveria também discriminação, pois no albergue do futuro, quando uma pessoa chegasse, sua ficha policial seria puxada pelo computador, e se o usuário fosse ex-presidiário seria recebido aceito no albergue, e recebido por um psicólogo.
O usuário, ao chegar na instituição seria recebido por um balconista muito simpático e depois seria apresentado à instituição por um monitor. Logo apos que estivesse acomodado, seria recebido por um grupo de usuários para conversar e lhe dar boas-vindas.
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Local: ALBERGUE PEDROSO – CENTRO
Desenvolvimento da dramatização
Cena 1
Se apresentou como o “Monitor Muquirana” , estava atendendo um usuário que foi encaminhado através da rodoviária e está morando há um mês no albergue.
Monitor solicita o crachá para o alberguista,
em seguida interrompe o
atendimento, atende o telefone que toca e logo retorna em cena. Olha aqui as regras são para serem seguidas, como por exemplo, você aqui tem que tomar banho, vai ganhar sabonete, pode guardar sua mala no maleiro, e logo vem pegar a fila aqui para “jantar com todos”!
Solilóquio para Monitor Muquirana : Tudo bem, tá valendo!
Solilóquio para alberguista enviado pela rodoviária : Bom, muito bom! Agora tenho que jantar, ainda não jantei!
Agora vamos ligar a TV, que canal pessoal?
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Rede Globo, Rede Globo, Rede Globo, após o enquete, ligaram a TV . O grupo utilizou-se da escolha sociométrica. È colocado no canal mais votado, “é bem democrático”, disse algum deles! Em seguida um outro usuário – Cascão: “Cheguei da minha cidade em Minas Gerais para tentar alguma coisa aqui em São Paulo e aqui achei a minha chance! Todos achamos!
Diretor: Porque você acha que Achou sua chance? Cascão: “Eu não estou na rua”! Já é um começo de uma chance! Cascão solilóquio: “Estou bem, não estou na rua, já é um bom começo”! O Monitor Muquirana: “Amanhã ao meio dia, você tem uma entrevista com a Assistente Social”!
Diretor: Já são meio dia... e solicita da platéia quem será o(a) Assistente Social ? Platéia: “Pode ser um Assistente Social masculino, pô” ! Em alguns segundos, o próprio Monitor Muquirana se habilita a trocar o papel de Monitor pela Assistente Social Sra. Homana
Cena 2
Sra. Homana 30 a
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Cascão: Já estou trabalhando, fazem três semanas , será que a Sra. Não pode renovar o meu cartão por mais um mês? Eu acho que meu comportamento foi bom! Assistente Social : “Ah Cascão, você realmente teve um comportamento exemplar, não chega embriagado, quando tem uma força tarefa, serviço você ajuda, então eu vou te dar mais um mês, agora, veja se procura um emprego estável”!
Agora Assistente Social Adriana com uma mulher: “Ah Francisca, você está aqui já a 6 meses, mas como você se comportou bem, eu vou lhe dar mais um mês. Respeita todo mundo aqui dentro, respeita os monitores ! Você está cumprindo corretamente, as normas aqui do ambiente, eu vou te dar mais um mês, até o Natal, aqui vai ter a ceia e depois você saí”!
Outro usuário – “Eu sou de Alagoas Maceió, vim aqui para fazer um tratamento aqui em São Paulo, assim que eu me tratar, quero voltar prá minha terra natal, Maceió, mas lá não tem esse tipo de medicamento! Assistente Social Adriana: “Ah muito bem, se você quer voltar para sua terra Natal tudo bem, você dará a vaga para outro, você tem dinheiro para a passagem? O dinheiro eu tenho, o problema não é o dinheiro, o problema é a medicação”! Mas se você não tiver, a gente vai arranjar o dinheiro pra você ir embora! Ah você é de Maceió? Não vá comparar São Paulo com a sua terra! Aqui existe muito mais condições de cuidar de você”!
Cena 3 Rua Araújo, 124 2o. andar 01220 020 São Paulo/SP Tel. 11 3255 9570 www:relacionais.org.br
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Coordenador Geral da unidade : “A casa aqui oferece comida, tem que respeitar os funcionários, se tiver chulé deixar fora do quarto o sapato, tem uns indivíduos aqui que não gostam de tomar banho, não pode desrespeitar o funcionário, brigar e se brigar nós mandamos embora mesmo”! Convoca o Supervisor para falar: “Temos a livraria é aberta para todos das 8 as 22horas, não pode levar embora, fumar tem horário, deixar a roupa limpa”!
Após as três cenas , o Diretor solicita para que se dividam em dois grupos, o da esquerda seriam os “ direitos” como alberguista e os da direita os “deveres” dos alberguistas: Direitos dos Alberguistas:”Alimentação, tomar banho, lavar roupa, guardar mala no maleiro, não chegar embriagado”. Deveres dos Alberguistas: “manter o fumódromo só com 8 pessoas, tomar banho todo dia, dar descarga, mantendo os banheiros sempre limpos, não ficar cantando no banheiro”.
ALBERGUE S. CAMILO O grupo é dividido em 2. Cada um constrói uma foto corporal, com objetivo de expressar os sentimentos relacionados à situação de rua.
Foto 1: Dor no coração, saudades , esperança, desespero e mágoa. Foto 2: Procuração, humilhação, angústia, depressão, alegria e saudades. Rua Araújo, 124 2o. andar 01220 020 São Paulo/SP Tel. 11 3255 9570 www:relacionais.org.br
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Quais os temas protagônicos? _ O caos generalizado: individual e coletivo. _ Sentir-se estrangeiro na própria terra.
Albergue São Francisco Depoimentos individuais: o que acham do atendimento no albergue? Como melhorar? Vários depoimentos de agradecimento e reconhecimento do trabalho das assistentes sociais. Falaram de sua situação na rua, do preconceito, de como é difícil ser aceito se fornecem o endereço do albergue ou falam de sua condição.
Muitos falam da importância do emprego e da dificuldade em consegui-lo. Aparece a questão da escolaridade, vários gostariam de estudar pois vêem no estudo uma possibilidade de conseguir emprego.
As dificuldades são vistas fora do albergue: os encaminhamentos não surtem efeito.
Desenvolvimento da dramatização
Cena 1: Chegada no albergue
Alguns no papel de usuários chegando no albergue outros no papel de porteiro e assistente sociais. Grande “arruaçamento” – muitos falam ao mesmo tempo e
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querem participar. A capacidade de representação surpreende a todos, a cena é do bêbado tentando entrar e o porteiro recusando.
Cena 2: Já dentro do Albergue
Agora o contato é com a equipe de técnicos. Aparece maior dificuldade, os problemas aparecem mas ficam sem solução. Há o papel do diretor da entidade que aparece distante e indiferente.
Quais os temas protagônicos?
- a rua como condição de exclusão - a dificuldade de ser ouvido/aceito/atendido - percepção da dificuldade do trabalho dos agentes sociais - as faltas: de respeito, de estudo, de trabalho, de qualificação, de propostas
Recifran – Inserção Produtiva – Glicério “ Se é da Aldagiza, não quero. Essas coisas de madame de grana e de gabinete. To fora”. . (A frase que dá início a essa resposta foi dita por um dos catadores logo que dissemos que estávamos ali para realizar um trabalho proposto pela SAS.)
Desenvolvimento da dramatização
Cena 1: Albergue Rua Araújo, 124 2o. andar 01220 020 São Paulo/SP Tel. 11 3255 9570 www:relacionais.org.br
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Dois moradores de rua chegam ao albergue alcoolizados e fora do limite do horário, são recebidos pelo agente social, que apesar de adotar uma postura inicialmente rude e negligente, permite a entrada. Um deles tem seus pertences roubados por um outro usuário que parece gozar da conivência do agente por comportar-se como um ladrão. Depois de ser bruscamente acordado as cinco horas da manhã, o usuário é jogado na rua descalço e sem documentos. Quando pedimos que realizem a cena novamente, modificando as posturas e agindo de acordo com como desejam ser atendidos no albergue, o acolhimento se deu de modo diferente. Não houve problemas em relação ao horário de chegada, havia um leito confortável e limpo disponível, além de uma refeição de qualidade. O usuário foi acordado delicadamente, na hora de ir embora lhe devolveram a carteira com os documentos porque o dinheiro que havia lá dentro, novamente foi roubado.
Cena 2: Confusão
O grupo demorou a conseguir chegar a um consenso sobre a cena a ser desenvolvida. Foi uma confusão. Os participantes tinham idéias diferentes em relação ao que estavam fazendo juntos. A confusão denuncia a dificuldade de comunicação que existe entre eles. Eles próprios já haviam sinalizado isso em outro momento, quando nos sentamos com eles na mesa do refeitório.
Cena 3: “Eu prefiro ficar na rua. Melhor ficar na rua do que ir pro
albergue”
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Duas moradoras de rua sentadas na calçada, uma delas com uma criança no colo. Na “platéia” havia um desconforto possivelmente provocado pelo choque entre o esteriótipo de morador de rua que eles têm e o modo como a cena se configurava. Muitos acharam esquisito uma garrafa de pinga não fazer parte da cena. Um agente social aparece e tenta convencê-las a sair da rua para ir ao albergue, mantêm um tom bastante assistencialista e caridoso. Percebendo que seus argumentos não eram suficientes para convencer as moradoras de rua, a agente social muda de postura. Abandona o tom bem intencionado de boa samaritana, preocupada com o bem estar das duas e, parte para a ameaça. “Se você não quer sair da rua tudo bem, mas a criança não pode ficar porque ela é de menor”, diz. A mãe do bebê ensaia uma tímida indignação e a agente chama um oficial de justiça para levar a criança embora. Nesse momento a agente vira papagaio de pirata e só acompanha a execução do trabalho do oficial, que com extrema violência toma a recém nascida dos braços da moradora de rua.
Quando pedimos para que realizem a cena novamente a partir da chegada do oficial de justiça (não verbal), o catador que desempenhava o papel de oficial transforma-se num empresário (mudança de papel inusitada e pontuado pela direção) que passa de carro, simpatiza com a moradora e a “resgata” imediatamente da situação desagradável e a leva para outro lugar.
Casa de Convívio Porto Seguro – MORADIA PROVISÓRIA Autonomia , Ter minha própria renda, meu próprio ganho financeiro, não depender de governo. Rua Araújo, 124 2o. andar 01220 020 São Paulo/SP Tel. 11 3255 9570 www:relacionais.org.br
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Quero abrir meu próprio negócio, quero trabalhar também com alimento.
Como a palavra Autonomia foi a mais escolhida fomos checando com o grupo o que prá cada um significava essa autonomia. Vieram : “estudo”, ”casa própria”, “Ter trabalho”,” morar só com a minha filha”, ‘voltar a estudar”, “fazer faculdade de Serviço Social’, “fazer e vender luminárias”, “professora”, “ter um lugar sossegado para ninguém me aborrecer”, “Fazer faculdade de engenharia mecânica”!
Falas importantes: “Sou mecânico mas ainda não realizei meu sonho, mas faltou o principal. Falar que você se formou. O fato de se formar significa que você encerrou, não só no quisito ego e sim no conhecimento”. “Continuar a fazer o que estou fazendo, trabalhando e continuar a trabalhar. Lavo carros, Ter uma carreira”. “Eu quero fazer faculdade de direito para ser promotor público e cuidar d a questão da cidadania”. “Quero ser Assistente Social, mas sei que é difícil, pois tenho muito que estudar, pagar escola, mas sei que posso fazer o que mais gosto e para isso não preciso nem estudar , e sim, ajudar as pessoas”.
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Após, as palavras e histórias representadas, a direção percebeu a temática emergente neste grupo “Autonomia e união” e solicitamos que pudessem falar pra cada um, uma mensagem para finalização desse trabalho: “Trabalhar, Correr atras do que você quer”! “Sandra, corra atrás, porque você vai conseguir!” “O sonho de ser independente, é Ter fé!” “Você tem que crer e Ter força de vontade pois assim você consegue”! “Deixei de jantar para estar aqui”! “Eu falo pra todos que tem que trabalhar, mas tem que trabalhar com a cabeça!!!” “A faculdade é um sonho de consumo, o trabalho eu tenho mas o mais importante é um teto, uma casa, não perder a esperança e lutar, a faculdade é mais um sonho.”! “Carlos, quando chove, não temos carro prá lavar, então temos que trabalhar com a cabeça, prá assim fazer outras coisas!” “A gente não pode se acomodar e que esta experiência de agora nos leve a um outro trabalho. Nós todos não podemos nos acomodar”! “Agora eu estou querendo ser um Agente Comunitário de Saúde”! E através disso eu poderei fazer faculdade, me organizar”! “Nada contra aqui a moradia provisória, mas sem querermos voltar pra traz, temos que ir além, basta a gente querer”! “Existe o apoio, mas não pode ser prá vida inteira esse apoio”, A autonomia tem que ser libertadora”! “Tem que Ter coragem, fé em Deus e pé na tábua!” (Palavras de um senhor mais velho no grupo!
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Deus é rezar, pisar acelerado e sair fora com coragem. Vamos lá que o negócio não está fácil. Deus fala, faça sua parte que eu te ajudarei, é renascer das cinzas. Partir para ação OR-AÇÃO.
CASA DE ORAÇÃO A Casa de Oração é parcialmente mantida pela Mitra Metropolitana, que depende lá três mil reais por mês. NÃO HÁ CONVÊNIO COM A SAS. Ruth e Edwiges (a diretora) conseguem doações de alimentos (sobras da Merenda Escolar da Rede Municipal) para as refeições diárias a cerca de trinta MR (café da manhã e almoço).
O GRUPO
Dos trinta participantes (em média, durante a reunião), cinco eram agentes sociais. A Ruth, da Casa de Oração, e quatro assistentes sociais da SAS, do Jabaquara, que vieram mesmo para participar do trabalho. Uma senhora muito experiente e com boa visão das mudanças pretendidas pela SAS no atendimento aos MR, um rapaz de cerca de trinta anos, também com boa visão e de muito bom trato com os MR. Mais duas jovens moças, que estão iniciando agora o trabalho e têm a senhora experiente como líder e mentora.
No grupo dos usuários destacavam-se cerca de dez jovens (duas mulheres) bem vestidos (para o padrão MR), de linguajar fluente e exibindo uma consciência social e de cidadania bastante articulada. (Ao final dos trabalhos dois deles Rua Araújo, 124 2o. andar 01220 020 São Paulo/SP Tel. 11 3255 9570 www:relacionais.org.br
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declararam terem sido escolhidos pelos usuários da Casa para representá-los no Congresso da SAS. Um terceiro estava de passagem comprada para retornar para Presidente Epitácio, sua cidade de origem. E para ficar.)
Os outros cerca de quinze usuários compunham-se de homens e mulheres de meia idade e alguns idosos e idosas. Durante o aquecimento inespecífico chegou uma garota maltrapilha e bastante embriagada. Ao final, no compartilhamento, chegou um senhor bem vestido e completamente bêbado, que interrompia as falas com frases religiosas desconexas.
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Quem quer sair da rua/quem quer permanecer na rua (entre os MR)?
A esta última consigna apenas um MR ficou em frente a todo o restante dos MR agrupados. (Um terceiro grupo reunia os Agentes). “Ih, cara, Você ficou sozinho aí! Como é isso, V. não quer sair da rua como os outros?” Um dos jovens MR, um dos dois escolhidos para representá-los no Congresso, Anderson respondeu: “Querer sair da rua, eu quero, mas não pra fazer o que querem que eu faça!”. “E como é o seu ‘sair da rua’?” “Eu quero sair da rua, mas não quero perder minha dignidade. Não quero sair da rua e continuar sendo um excluído social. Se é para continuar excluído, então prefiro continuar na rua mesmo!” Silêncio total e profundo em todo o Grupo. Expressão interrogativa e surpresa dos Agentes. Propus a dramatização através de cenas que mostrassem “COMO ANDA A DIGNIDADE DO MORADOR DE RUA?” Divisão dos MR em três grupos e um quarto grupo só com os Agentes.
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DESENVOLVIMENTO DA DRAMATIZAÇÃO
Cena 1
(MR): Selecionador de pessoal sentado à mesa. À sua frente comprida fila de candidatos. Após algumas perguntas a cada candidato, a reposta sempre se repete: “Infelizmente o senhor não possui o perfil para o cargo a ser preenchido.” E a cena se encerra nessa monótona repetição. Apesar da simplicidade com que o grupo fez a encenação (quase todos pertencentes ao grupo sociometrizado como os de meia idade e idosos e sem muita consciência da própria condição), fica em todos um enorme silêncio vazio. Sensações: de vazio, é sempre assim mesmo, nunca nos dão uma chance, não adianta tentar.
Cena 2
(MR): O cenário repete o início da cena anterior. Selecionador sentado à mesa, fila de candidatos à sua frente. Senta-se o primeiro. Trouxe meu currículo para a vaga do anúncio. O senhor tem 1º. Grau? Tenho. 2º. Grau? Não tenho. Infelizmente exigimos o 2º. Grau também. Mas o anúncio não pedia! Sim, é que como o cargo é importante, resolvemos pedir o 2º. Grau também. Levanta-se e sai. Senta-se o segundo candidato. Trouxe meu currículo para a vaga. O Sr. tem 1º. Grau? Sim. E o 2º.? Tenho também! Curso de inglês, o Sr. tem? Inglês, não, mas o anúncio não pedia inglês. É verdade, mas infelizmente como o cargo é muito importante, resolvemos pedir inglês também. Levanta-se e sai. Senta-se o terceiro. Primeiro grau? Sim! Segundo grau? Sim! Inglês? Sim! Ótimo! E informática, o Sr. tem? Informática eu não tenho, mas o anúncio não pedia. Sim, é verdade. Acontece que como o cargo é super importante, resolvemos pedir a informática também. Rua Araújo, 124 2o. andar 01220 020 São Paulo/SP Tel. 11 3255 9570 www:relacionais.org.br
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Levanta-se e sai. Quarto candidato.Primeiro grau? Sim! Segundo grau? Sim! Inglês? Sim! I informática, o Sr. tem? Tenho, fiz um curso e tenho a prática também. Muito bom, o Sr. possui todas as exigências que fazemos. E vejo que o seu currículo é muito bom também, o seu perfil se encaixa perfeitamente no cargo. Por favor, preencha essa ficha. Esse seu endereço, onde é? Eu moro num albergue, pois minha família está longe. Ora, ora, é uma pena, mas não podemos admitir alguém que não possui residência fixa. Mas o Sr. não disse que tenho o perfil pro cargo? Eu sinto muito, mas é norma da empresa. Fim da cena. Nas interrupções da direção durante a cena, o selecionador explicava que sempre fazia uma nova exigência, pois o aspecto do candidato não lhe agradava. E por que? Não sei - eram as respostas - mas desconfio que esse cara mora na rua. Na aferição de sentimentos das pessoas (em cena ou fora dela), apareceram: discriminação, injustiça, tristeza, exclusão, ou as perguntas “quem mora na rua não tem capacidade pra fazer nada?”, “nós não somos gente?”.
Cena 3
(MR): Recepcionista de albergue em pé atrás de um balcão, longa fila em frente dela. Uma a uma as pessoas da fila pedem vaga pra dormir e são atendidas. Delicada no trato, ela atende com atenção cada um deles: “Pegue seu sabonetinho, sua toalha, encaminhe-se para os banheiros e aguarde sua vez de tomar banho. Depois vá pro refeitório tomar uma sopinha e em seguida pra sua cama. De repente, súbito tumulto na fila, todos reclamando da demora do atendimento. Recepcionista fica preocupada, perde o controle da situação e chama um segurança que começa a botar ordem no grupo de forma truculenta. Congelamento. Fala do segurança ao pedido de o que está havendo: é sempre a mesma coisa, esses caras são assim mesmo, dão muito trabalho, até parece que Rua Araújo, 124 2o. andar 01220 020 São Paulo/SP Tel. 11 3255 9570 www:relacionais.org.br
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eles é que são donos do albergue. Sentimento do segurança: raiva, por que eles não saem da rua, voltam pra casa e arrumam um emprego? (Lembrete: o segurança é um MR). Sentimento da recepcionista: eu sinto muita pena deles, mas aqui nós temos regras que precisam ser obedecidas, precisamos de um mínimo de ordem. Segue a cena. O último da fila se apresenta. Olha, eu sinto muito, mas nós não temos mais vaga, a última que tinha ficou com o seu colega ali. Mas, aguarde um pouco que vou ligar pra outro albergue e vou lhe conseguir uma vaga. Liga, troca comprimentos com alguém, expõe o problema. Sim, há uma vaga lá, o senhor vai pra esse endereço aqui. O pretendente olha o papel, olha pra recepcionista e diz: mas esse albergue é tão longe, como é que eu vou pra lá, eu não tenho dinheiro pra condução, a senhora pode me arrumar um passe? Oh, isso não podemos fazer, não temos dinheiro, nem mesmo passes. MR se vira e sai. Fim da cena. Silêncio no Grupo. Sensação do MR: tristeza, o que eu faço?, é sempre assim, só tomando umas! Sensação da recepcionista: tristeza, impotência, eu faço o que dá pra fazer, mas nem sempre o que posso fazer resolve o problema. (Atentar para o fato de que a recepcionista também é uma MR, como todos da cena). Sentimentos no Grupo: revolta, impotência, indignação.
Cena 4 (Os Agentes Sociais): Dois MR “caídos” (bêbados/drogados), deitados no chão, garrafas em volta, curtindo a embriaguês, falando coisas desconexas a uma terceira MR, jovem, recém chegada às ruas, ainda desajeitada na sua nova condição, tentando aprender com os “mais experientes” os segredos da vida nas ruas. Mas os outros dois estão bêbados demais pra ensiná-la. Enquanto brigam pelas garrafas, chega um quarto MR, com carrinho, sóbrio e produtivo. Cumprimenta os dois bêbados e quer saber quem é a jovem. Inteirado do assunto, Rua Araújo, 124 2o. andar 01220 020 São Paulo/SP Tel. 11 3255 9570 www:relacionais.org.br
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conversa com a moça que procura um lugar pra dormir. Os bêbados insistem que durma ali mesmo. Ela não quer, tem medo. O MR do carrinho se dispõe a levá-la pra um albergue, melhor ainda, pro Boracéia, lá é legal, lhe diz. Ela concorda, ele começa a acompanhá-la, um dos bêbados discorda, não gosta da atitude do MR do carrinho, levanta-se a custo, puxa uma faca e a espeta no outro. Congelamento. Sentimento do agressor: raiva dele, só porque trabalha ele pensa que pode fazer o que quer, comigo é assim mesmo, eu sou valente, aqui nessa praça quem manda é eu! Sentimento do agredido/ferido: tristeza, tentei ajudar e olha o que ele fez, os MR têm que se respeitar e se ajudar e não ficar se agredindo por qualquer coisa. Segue a cena. Peço a dois outros MR (do grupo dos jovens mais conscientes) que entrem na cena com agentes sociais. Entram e questionam o acontecido, encaminham o ferido para atendimento médico enquanto dizem: é por isso que Vocês nunca vão sair das ruas, Vocês não se ajudam e vivem se agredindo. Fim da cena.
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TEMAS PROTAGÔNICOS & PROTAGONISTAS São muitos os temas protagônicos surgidos ao longo das cenas, incluindo até o aquecimento. O tema permanente ao longo de todo o trabalho foi, sem duvida, A DIGNIDADE PESSOAL DO MORADOR DE RUA. Já no aquecimento específico o MR que ficou só no “não quero sair da rua se for pra continuar excluído” - ele é Anderson e é um dos representantes ao Congresso - trouxe o tema da EXCLUSÃO SOCIAL. Também ele, já na cena 2, traz o tema da DISCRIMINAÇÃO DO MORADOR DE RUA quando faz o papel do MR com perfil para o cargo em anúncio que não consegue a vaga por morar em albergue. Ainda na Cena 2, o tema da CIDADANIA aparece no próprio Grupo na expressão “Nós não somos gente?” quando da aferição de sentimentos pela perda da vaga. Na Cena 1, embora não tenha havido um protagonista explícito, surge o tema da IMPOTÊNCIA DO MR diante da IMPOSSIBILIDADE do “Infelizmente o senhor não possui o perfil para a vaga”. Na Cena 3, repete-se o tema da IMPOTÊNCIA, aqui DO AGENTE SOCIAL e do MORADOR DE RUA no protagonismo da Recepcionista (que é uma MR) e do Segurança (que também é um MR e que durante todo o trabalho exibiu uma indiscutível revolta - e ele se recusava mesmo a discuti-la - contra os Agentes Sociais). E na Cena 4 um novo tema - quase sempre ocultado pelos MR - a ÉTICA (ou ausência dela) entre os Moradores de Rua, protagonizada pelo MR do carrinho que é ferido à faca (e que é um Agente Social).
COMPARTILHAMENTO Muito rico nos conteúdos produzidos, o Compartilhamento teve como ponto alto a capacidade que os dois lados - Usuários e Agentes Sociais - mostraram de Rua Araújo, 124 2o. andar 01220 020 São Paulo/SP Tel. 11 3255 9570 www:relacionais.org.br
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receber as avaliações que vieram do outro lado. Porque o trabalho permitiu a inversão constante dos dois papéis, Agentes e MRs puderam exercitar fartamente a experiência do “como é barra do outro”. Assim, coube no espaço interno dos Agentes falas dos MRs tais como “estou de saco cheio de falar pra SAS parar de fazer assistencialismo com a gente”, ou “quando que os Assistentes Sociais vão começar a nos ver como cidadãos, só quando sairmos da rua?”. Como coube, também, no espaço interno dos Moradores de Rua falas como “se os MR querem mudanças por parte da SAS e dos Agentes, os Moradores de Rua têm, eles próprios, que mudar também”, ou “se os MRs querem que sejamos éticos com eles, é preciso que eles também sejam éticos conosco, e, principalmente, que sejam éticos entres mesmos”. O tema “Sair da Rua: Por Que e Para Que?” do Congresso também apareceu com força no Compartilhamento. A uma pergunta minha: ”Quem pode tirar o MR da rua?”, a resposta unânime foi: “Somente o próprio Morador de Rua!”. E Anderson arremata: “Quer tirar o MR da rua? É só tirar a rua de dentro dele!”. Ao término dos trabalhos, o Grupo sentia-se bem, confortável e expressou sentimentos de alegria, participação, união, confiança e crédito. Agradeceram a oportunidade de poderem trabalhar e discutir a condição e a situação social deles com os Agentes e entre eles próprios. E, Moradores de Rua e Agentes Sociais, se aplaudiram de pé. (E o psicodramatista também).
Projeto Raízes – Integrarte - Lapa - gente tudo bem...vocês devem estar pensando...:”quem é esta aí que chega aqui atrapalha nosso jogo, nosso café da manhã, tira a tv, faz a agente ficar aqui sentado e ainda quer que a gente participe?” Rua Araújo, 124 2o. andar 01220 020 São Paulo/SP Tel. 11 3255 9570 www:relacionais.org.br
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perguntei a um usuário o nome dele. - “T” é o meu nome. - “O que falei faz sentido? Ou você acha que não é verdade o que eu percebi?” Ele respondeu com um sorriso. O que me pareceu na verdade era que ninguem estava muito afim de fazer nada, eram corpos colapsados que estavam à minha frente. Apenas com a boca aberta esperando que alguem os alimentasse de qualquer coisa. Tentei por mais um tempo até que consegui 4 usuários: duas senhoras(uma que frequenta a casa para aulas de violão, outra que vai para cantar, um alcoolista e um homem que obedecia literalmente a todos) que vou chamá-lo de “Ho” enquanto eu estava montando a cena com os 4, percebi que haviam dois homens com violão( a professora de música foi a um curso oferecido pela prefeitura), pedi a eles que tocassem até que a cena fosse ao ar, prontamente eles atenderam. Avisei também que era possível entrar na cena em andamento se alguém achasse conveniente, que não teria problema algum ao contrário seria muito legal. Neste meio tempo alguns usuários que estavam alcoolizados (levemente) mas o suficiente para entrar e sair de cena com falas sem sentido para o contexto. Alguns cantando qualquer coisa, enfim um verdadeiro reality show com direito a um confronto entre dois usuários alcoolistas por conta de opiniões divergentes sobre algum assunto. Claro que foram silenciados pelo agente social de forma discreta e sutil, foi retirado do local com muita sutileza. ( mais tarde “Ri” confirmou que solicitou a retirada deles para evitar atrapalhar o trabalho e os demais alegando que o grupo não gosta de bêbados porque atrapalham, incomodam.)
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DESENVOLVIMENTO DA DRAMATIZAÇÃO
Cena 1: ”atendimento na casa de convivência”
Uma das senhoras senta numa cadeira e recebe os usuários anotando os dados de cada um. Outra senhora, o “Ho”, estavam na fila aguardando a vez de entrar. O alcoolista ficou ao lado da senhora sentada dizendo que ele mandava os usuários para o chuveiro. A senhora se aproxima e pede para entrar na casa, a outra anota nome, idade e manda para o alcoolista que por sua vez manda pro chuveiro. Falam baixo e quase ninguém ouve, resolvi ficar na fila... enquanto a entrevista com o “Ho” estava acontecendo e como falavam baixinho eu comecei a falar alto...:”porque eu tenho que ficar na fila?” Senhora que anota: “ é regulamento.” “demora pra ser atendido ,eu quero comer, tem comida aqui?” Senhora que anota: “ é rápido”. “ah eu não quero tomar banho, porque eu tenho que tomar banho?” Senhora que anota: “é regulamento.” (Um homem na platéia diz que é melhor comer que tomar banho, alguns dão risada da fala.) “ih num gostei disso aqui não...será que é bom? Senhora que anota: “é sim, tem artesanato, música...” “eu sou obrigada a fazer?” Senhora que anota: “Não” “a comida é boa?” (neste momento algumas pessoas na platéia respondem
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que sim, em seguida a maioria concorda dizendo que é muito boaaaaaaaaaaaaaaa...seguida de alguns sorrisos e pequenas palmas, outro detalhe é que a comida é feita por ajudantes que são também usuários e estão na frente de trabalho. Tem duas cozinheiras que são contratadas pela casa, alguém da platéia diz que se não toma banho não tem pra onde ir, e diz que bêbado não pode entrar. “ué porque não?” perguntei. um alcoolista:” porque não...sabe de uma coisa? Deus é aqui.” “mas aqui tem tanta coisa pra fazer, pra onde eu vou se não tiver aqui?” indaguei. “porque sair da rua então? Para que?” platéia homem:” tem que sair da rua senão o carro passa em cima” (fazendo uma piada e rindo em seguida) outro homem: “ tem que andar na linha” perguntei qual linha que deve ser obedecida, ele riu e disse que a linha do trem...fiz uma observação para ele dizendo que gostaria de entender melhor o que ele queria dizer com esta “linha”...mais uma vez sorriu e fez uma expressão de menino maroto( este homem aparenta ter uns quarenta e oito anos para cinqüenta.) eu dei risada junto e perguntei então...sair da rua pra que mesmo? Porque? Outro usuário diz: “ existe dA rua e dE rua , tem diferença” Tentei entender a diferença mas não foi possível pois vários falavam ao mesmo tempo e cada qual sobre um assunto, causando uma pequena dispersão... Outro usuário diz: “ agente tem que sair da rua tem oportunidade não aproveita as chances de melhorar”...
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(Entra na cena no palco e pede pra ler um texto que ele escreveu)
UMA NOVA CHANCE
SEMPRE PENSEI QUE O MUNDO FOSSE O CULPADO PELOS OS MEUS SOFRIMENTOS, MINHAS DERROTAS, MINHA VIDA PERDIDA MAS NÃO NÃO É ASSIM!! ...O CULPADO, NA VERDADE, FOI EU MESMO... FUI EU MESMO, POIS NUNCA ME DEDIQUEI AO EXTREMO AS OPORTUNIDADES QUE ME FORAM OFERECIDAS NÃO ACREDITEI MUITO EM MIM E ACABEI ME TORNANDO UM ESCRAVO DA EXCLUSÃO...
JOGADO PELAS RUAS, DORMINDO AO RELENTO, COMENDO E BEBENDO O QUE OS OUTROS ME DAVAM... SUJO, MAL TRAPILHO, ACABEI ME TORNANDO UM QUALQUER NA VIDA, HUMILHADO DE VÁRIAS FORMAS PRIVADO DE MINHA LIBERDADE SOCIAL MAS SEMPRE FUI UM SAUDOSO GUERREIRO, DE PAZ ESPIRITUAL, DE COMUNHÃO COM O PAI SUPERIOR E AINDA HOJE, SEMPRE QUE POSSO AS VEZES FICO OLHANDO AO CÉU O ENTARDECER NO HORIZONTE E BEM AO LONGE ENXERGO A ESPERANÇA DE UM NOVO DIA EM MINHA VIDA... ...E SONHO!! ...SONHO EM ALCANÇAR A LIBERDADE DESTA DOLORIDA E DIFICIL VIDA... ...VIDA JOGADA E MANCHADA PELO TEMPO PERDIDO, SEM FRUTOS NENHUM VIDA EXCLUIDA, AMARGURADA E SOFRIDA!! Rua Araújo, 124 2o. andar 01220 020 São Paulo/SP Tel. 11 3255 9570 www:relacionais.org.br
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...JÁ HOJE, PASSEI A ALIMENTAR E SENTIR O GOSTO DE UMA NOVA CHANCE ... A QUAL, IREI ABRAÇAR,COM TODO O MEU FULGOR, POIS, MUITAS OUTRAS VIERAM E SE FORAM,E EM NADA ME ADIANTOU!!... AGORA SINTO UMA GRANDE DIFERENÇA, E VEJO UMA NOVA PORTA SE ABRIR,...TALVEZ SEJA A LIBERDADE QUE SE ACHEGA , E ASSIM... ...EU GRITAREI AO MUNSO INTEIRO OUVIR... ...”EU POSSO,POIS EU VENCI!!”
EUCLIDES M. DA SILVA
Comentários: após a leitura do texto todos aplaudiram Euclides , agradeci a todos que participaram.
Algumas falas da platéia no decorrer da cena: “ele foi sincero” voltar pra onde? “ eu não tenho familia, minha família é meus irmãos da rua “ ah...xi começou...” “falou de coração” “ falou o que tava sentindo” “é a gente não tem coragem de olhar pra gente “ Cena 2: “atendimento na casa de convivência, todos os tipos de usuários”
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Foi montado um esquema igual ao anterior , ou seja, um atendente que recepciona e encaminha para os diversos segmentos da casa. Cada agente social interpretou um tipo de usuário, desde o que mente a idade e nome, até o que não gosta de tomar o banho, mas o que roubou a cena desde o principio foi o “N” que fez o papel do alcoolista. Ele veio pelo meio no corredor entre as mesas , enquanto a cena de atendimento ocorria, ele vinha caindo pelos cantos em cima dos usuários da platéia, tirando uma garrafinha plástica simbolizando a bebida que guardava para beber durante a estadia na casa. Isto gerou um gargalhada em todos fazendo com que a cena do palco não existisse, mas não pararam de encenar. Entrei como um outro agente para “dar conta do bêbado” falei baixinho pra ele que amenizasse o perfil para que a cena do palco tivesse expressão. Mas ele estava tão dentro do papel que não tive muito resultado...ele caia em cima de mim, tive que segurá-lo, ele falava alto, atrapalhava todos, caia, resmungava, ficava bravo...até que chegou a vez dele e a entrevista não pode ser realizada porque não se entendia o que ele falava e o agente social que fazia a triagem disse que daquele jeito ele não entraria, que ele voltasse depois que estive mais sóbrio... A cena foi encerrada, todos aplaudiram.
FIM
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