Vida em oração :: Inácio de Loyola

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Vida em Oração

Inácio de Loyola


Os exemplos de santos e santas nos ajudam a buscar viver também nossa vocação à santidade. Apresentamos aqui um roteiro de oração inspirado nas experiências de Inácio de Loyola, que soube discernir os sinais da vontade Divina. O discernimento espiritual é uma prática profunda para exercitar um caminho de oração e construir um Projeto de Vida. Assim como Inácio, somos convidados e convidadas a nos colocarmos diante da Cruz “olhando para mim mesmo e perguntando o que tenho feito por Cristo, o que faço por Cristo e o que devo fazer por Cristo” (EE 53). Que a vida de Inácio nos inspire a estarmos com Cristo e sermos livres e disponíveis para a Missão de construir o Reino desejando fazer tudo para a Maior Glória de Deus. Santo Inácio de Loyola, rogai por nós.

Oração preparatória para todos os dias Senhor, que todos os meus pensamentos, ações e afetos sejam puramente ordenados ao seu serviço e louvor.


Escolho um texto bíblico. Defino a duração da oração. Busco um LUGAR tranquilo e agradável que ajude a me concentrar. Encontro uma boa POSIÇÃO corporal.

Faço SILÊNCIO interior e exterior. RESPIRO lentamente, suavemente. Tomo CONSCIÊNCIA de que estou na PRESENÇA de DEUS. Faço com devoção o sinal da cruz.

PEÇO a DEUS Nosso Senhor para que todos os meus desejos, pensamentos e sentimentos estejam voltados unicamente para o seu louvor e serviço. Peço a GRAÇA que verdadeiramente DESEJO receber de DEUS.

LEIO o texto devagar, saboreando as palavras que mais me “tocam”. REFLITO por que esta frase, palavra, ideia me chama a atenção. CONVERSO com Deus como um amigo: falo, escuto, peço, louvo, pergunto, silencio, seguindo os sentimentos experimentados na oração.

Recordo o meu ENCONTRO com DEUS. Anoto o que foi mais importante na oração: o texto mais significativo (palavras, frases e imagens); os pensamentos predominantes; os questionamentos; os sentimentos de consolação ou desolação; se houve apelos e como me senti diante deles.


ORAÇÃO DE SANTO INÁCIO

Tomai, Senhor, e recebei toda a minha liberdade, a minha memória também. O meu entendimento e toda a minha vontade. Tudo o que tenho e possuo vós me destes com amor. Todos os dons que me destes, com gratidão vos devolvo; disponde deles, Senhor, segundo a vossa vontade. Dai-me somente o vosso amor, a vossa graça. Isso me basta, nada mais quero pedir.



Aja como se tudo dependesse de vocĂŞ, sabendo bem que, na realidade, tudo depende de Deus. (Santo InĂĄcio de Loyola)



UMA BALA DE CANHÃO

Inácio, soldado jovem e ambicioso, insiste em permanecer em uma batalha anunciadamente perdida. Nesse episódio, teve sua perna ferida por uma bala de canhão. A bala que atravessou sua vida representou um contexto de crise e ruptura existencial muito forte, na medida em que interrompeu seus planos, sonhos, saúde, vaidade. A realidade e os obstáculos interpelaram Inácio, e justamente nessa situação limite, Deus encontrou espaço para se revelar ao jovem. A partir daí, Inácio conheceu a história dos santos e leu as primeiras linhas sobre Jesus. No entanto, essa prática nascente de oração não é propriamente o que transforma a vida de Inácio, mas sim a graça de Deus, que atua realizando um chamado capaz de mudar o sentido e os rumos de sua vida. Como jovens, os contextos de crises sociais e políticas tendem a nos atingir de maneira específica, impossibilitando sonhos, agravando nossas inquietações e limitações. Diante disso, a história de Santo Inácio nos inspira a reconhecer a ação de Deus, mesmo nas mais complexas situações. Somos continuamente convidados a ressignificarmos nossos problemas, enchendo o coração de esperança e força, para que junto da ação divina, possamos agir transformando as dificuldades e as imposições em motivações para seguirmos no projeto do Reino.


Pedido de graça: Senhor, atuai em nossas vidas, restaurando nossa fé.

Texto bíblico: Lc 18, 35-43 “O que quer que eu faça por você?”

Provocações: • Quais são os obstáculos que me impedem de viver plenamente? • Qual é minha persistência nas minhas buscas? • Sinto que Deus ouve o meu grito e me chama? • Tenho claro o que quero para minha vida?


Encontrar Deus em todas as coisas e ver que todas as coisas vem do alto. (Santo Inรกcio de Loyola)



O CAMINHO DE MANRESA E O DESPOJAMENTO

Contemplemos as aventuras que Inácio empreende para chegar a Jerusalém, após sentirse tocado por Deus. O jovem se põe a andar e, ao mesmo tempo, a caminhar por suas veredas interiores. Inácio faz uma parada em Montserrat, na qual se sente chamado a despir-se de sua vaidade e posição social, deixando ali suas vestes nobres e armas. Dirige-se a Manresa, onde adota um modelo de vida austero, mendicante e severamente penitencial, sem medir esforços para sentir-se agradando a Deus. Mesmo assim, vivenciava confusões, como se estivesse apegado a seus pecados e faltas. Certo dia, o jovem põese a caminhar e, nas águas do Rio Cardoner, faz uma profunda experiência de Deus, na qual recebe uma revelação que o faz aprofundarse na fé, e aprender que Deus habita nas coisas mais simples. Manresa foi lugar de aprendizado e amadurecimento na fé. Ali, a experiência do amor de Deus libertou Inácio das amarras sociais que o oprimiam, de si mesmo e da rigidez e exageros que o impedia de viver plenamente. Inspirados pela peregrinação de Inácio, somos convidados a meditar sobre o que tem nos aprisionado no cotidiano.


Pedido de graça: Senhor, amplia nosso entendimento e liberta-nos diante de ti e das coisas do mundo.

Texto bíblico: Mt 19, 16-22 “O que é que ainda me falta?”

Provocações: • Me sinto livre para o serviço do Reino? • Olhando minha realidade e minha vida, o que me aprisiona? • Quais são as minhas respostas cotidianas para os apelos de Cristo?


Senhor Jesus, ensina-me a ser generoso a te servir como tu o mereces, a dar sem contar, a combater sem medo de feridas, a trabalhar sem procurar repouso, a me dedicar sem esperar outra recompensa que não seja a de saber que faço a tua vontade. (Santo Inåcio de Loyola)



JERUSALÉM E O PROJETO DE VIDA

Somos convidados e convidadas a contemplarmos as aventuras do jovem peregrino até Jerusalém. Tomado por uma extrema confiança na providência divina, Inácio parte de Manresa em direção ao sonho de chegar a Terra Santa, onde acredita que poderá ficar mais próximo de Cristo. Inácio atravessa difíceis caminhos, depara-se com a fome, falta de saúde, o medo. Quando finalmente ele consegue adentrar esse território sagrado, deseja permanecer para sempre. No entanto, mais uma vez a realidade o interpela e obriga a sair do comodismo, determinando que ele partisse dali. Nesse instante, o jovem foi confrontado com seu projeto de vida, percebendo que o segmento à Cristo deveria independer da localização, ele buscou novos horizontes onde pudesse prosseguir em sua missão de “ajudar as almas”. A experiência de encontro com Cristo ganha mais sentido quando somos impulsionados a voltarmos para o mundo, para a sociedade e para os outros, com desejo de transformação. Desse modo, somos inspirados a nos apropriarmos de nosso projeto de vida para, descobrindo nossa vocação, nos colocarmos a serviço da construção do Reino.


Pedido de graça: Senhor, inspirai-nos, segundo vossa vontade, na persistência com relação a nossos projetos de vida e serviço.

Texto bíblico: Lc 5, 1-11 “Não tenhais medo.”

Provocações: • Como percebo minha liberdade diante de Deus, dos outros e das coisas? • Diante dos apelos de Cristo, como faço escolhas, tomo decisões e assumo as consequências? • Como o medo me paralisa para responder o projeto de vida que o Cristo me chama?


Como Inácio e os primeiros companheiros, como tantos irmãos nossos que militaram e militam sob o estandarte da cruz, servindo só ao Senhor e a sua Igreja, queremos também nós contribuir com tudo aquilo que hoje parece impossível: uma humanidade reconciliada na justiça, que vive em paz numa casa comum bem cuidada, onde há lugar para todos, porque todos nos reconhecemos irmãos e irmãs, filhos e filhas do mesmo e único Pai. (Arturo Sosa, SJ, Padre Geral da Companhia de Jesus)



OS COMPANHEIROS DA MISSÃO Até aqui vivemos as experiências do Inácio peregrino, por vezes solitário, mergulhando no mais profundo de seu ser. No entanto, Inácio e seu espírito acolhedor foi responsável por unir diversos jovens que compartilhavam o ideal de seguir a Cristo e abraçar o projeto do Reino de Deus, os quais mais tarde seriam o corpo fundante da Companhia de Jesus. Em 1529, com 38 anos, vai estudar em Paris e fica alojado junto com dois outros estudantes, 15 anos mais jovens que ele: Pedro Fabro e Francisco Xavier. Durante a vida comum de estudos, também partilhavam dúvidas, impressões, desejos, medos. Com o crescimento dessa amizade, Inácio apresentou para os jovens os Exercícios Espirituais, que os levou a aprofundar a vida de oração e o conhecimento da vontade divina. Que riqueza perceber que não somos Igreja sozinhos. E a Companhia e até mesmo os Exercícios Espirituais também são construídos a partir da relação e interação, do cuidado de construir aproximações e o acompanhamento.


Pedido de graça: Senhor, fazei-nos gratos e gratas por poder partilhar como companheiros e companheiras o serviço da construção do Reino.

Texto bíblico: Lc 10, 38-42 “Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada.”

Provocações: • Olhar minha história e ver pessoas que me falaram de Deus. Relembrar com alegria o rosto de cada um e cada uma que foi um reflexo de Deus em minha história. Agradecer e rezar por essas pessoas. • Como é a qualidade das minhas relações familiares e sociais hoje? Estou por inteiro? Ouço e sou escutado? Quanto tempo gasto com elas? Compartilho minha vida, meus sonhos, meus desejos com pessoas que estão próximas a mim? • Como sinto a presença de Deus nas redes de relações que cultivo e construo?


Aceitar o que é construtivo e faz viver, rejeitar o que destrói e aprisiona, a questão é exatamente o encontro com Deus, mas também o sucesso de uma existência humana; uma coisa não acontece sem a outra. Não há nenhuma necessidade de se afastar de si mesmo para encontrar Deus. É reunindo o que há de melhor em si que o homem consegue esse encontro, com a condição entretanto de se libertar de tudo aquilo que possa a vir alterar sua decisão. (Pierre Emonet)



OS EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS Os Exercícios Espirituais, cujo título completo traz seu objetivo, “para vencer a si mesmo e ordenar a própria vida, sem se determinar por nenhuma afeição desordenada”, são o fruto das experiências vividas por Inácio. Seus confrontos, suas inconstâncias, oscilações; mas também reflexões, uma peregrinação, tanto interna como externa, um itinerário de oração inspirado na vida dos santos e santas e nas Escrituras. Os escritos dos Exercícios Espirituais de Inácio também estão sistematizados em quatro semanas temáticas, que propõe um caminho ao exercitante para o encontro com Deus. Na primeira semana em que somos convidados a olhar para nós mesmos, nossa realidade, por mais difícil que ela seja, mas contanto sempre com a misericórdia de Deus. Na segunda semana, Inácio convida o exercitante a comtemplar a vida de Cristo, tirando proveito para a própria vida, percebendo o jeito do Senhor agir, a maneira como Jesus se relacionou com os demais, a forma como ele enfrentou cada desafio. Nas terceiras e quarta semanas, Inácio propõe um caminho especial com o Senhor, saboreando sua caminhada dolorosa e gloriosa, como forma de unir, cada vez mais, a vida do exercitante ao compromisso de construção do Reino.


Pedido de graça: Senhor, colocai-nos sempre no caminho de busca da Verdade, para que possamos, atentos e atentas, ouvir a vontade divina.

Texto bíblico: Lc 9, 18-27 “Que adianta um homem ganhar o mundo inteiro, se perde e destrói a si mesmo?”

Provocações: • Quais são as minhas ambições que não me colocam no caminho do Cristo? • Meus desejos e sonhos são os desejos e sonhos de Deus para mim? • Qual cruz devo abraçar para seguir Jesus Cristo?


OS PRIMEIROS COMPANHEIROS Santo Inácio de Loyola (31/07) Inácio de Loyola nasceu em 1491, na Espanha, numa família da nobreza basca. Aos 26 anos, os seus sonhos de grandes conquistas caíram por terra, ferido de morte por uma bala de canhão que o deixou manco para o resto da vida. Durante a sua longa convalescença, entreteve-se com os livros que lhe conseguiram arranjar: vida de Jesus e dos santos. Tocado por esses relatos, experimentou uma alegria profunda e duradoura ao imaginar-se seguindo os passos de Cristo, na radicalidade de uma vida entregue a Deus. Inácio partiu para os arredores de Barcelona, fixando-se na pequena Manresa. Permaneceu aí retirado durante longos meses, num clima de austeridade, penitência e profunda oração. Durante esse tempo, sentiu-se conduzido por Deus, aproximando-se d’Ele, falando-Lhe como a um amigo. Nos movimentos do seu coração encontrou respostas às suas inquietações e ajuda para discernir a vontade de Deus.


Depois de uma viagem à Terra Santa, motivada pelo desejo de proximidade com Jesus, Inácio deu-se conta de que necessitava estudar para ajudar melhor aqueles que o procuravam, sem deixar de manter o seu estilo de vida simples. Na Espanha e depois em Paris, o peregrino preparouse para o sacerdócio, ao mesmo tempo em que reuniu à sua volta amigos e companheiros com o desejo de imitar a vida de Cristo. Em 1539, esse grupo de amigos no Senhor decidiu constituirse como corpo, a Companhia de Jesus, oferecendo-se ao Papa para as missões. A inspiração de Inácio de Loyola permaneceu viva, muito além da sua morte, em 1556, até os nossos dias, através da Companhia de Jesus e de todos os que partilham do desejo de Inácio de amar a Deus em todas as coisas, e todas as coisas em Deus.


São Pedro Fabro (02/08) Pedro Fabro era francês, natural da Saboia, onde passou a adolescência apascentando os rebanhos de seu pai. Ajudado por um tio sacerdote, veio a ser também estudante da Sorbone em Paris, onde conheceu Inácio de Loyola e os primeiros companheiros. A amizade entre Pedro e Inácio começou com a ajuda que Pedro dava a Inácio com relação aos estudos e, por outro lado, pelas orientações a respeito dos Exercícios Espirituais que Inácio ofereceu a Pedro. Ordenado sacerdote e tendo feito os Exercícios Espirituais, Pedro celebrou a missa em Montmartre, em que os seis primeiros jesuítas, ainda não sacerdotes, fizeram seus primeiros votos de pobreza, castidade e de ir à Terra Santa, para lá gastarem suas vidas na ajuda das almas. Mais tarde, Pedro Fabro foi enviado em missões importantes à Alemanha, onde conquistou Pedro Canísio. Também foi missionário nas regiões da França, Portugal e Espanha. Chamado pelo Papa para participar do Concílio de Trento, morreu em Roma, em 1546. Foi beatificado por Pio IX em 1872. Foi canonizado pelo Papa Francisco em 17 de dezembro de 2013.


São Francisco Xavier (03/12) Espanhol de Navarro, nascido em 1581. Santo Inácio conheceu Francisco Xavier em Paris, quando era estudante. Conquistou-o com sua amizade e convidou-o a fazer os Exercícios Espirituais, a partir dos quais ressiginificou sua vida, voltada para glórias e fama pessoais. Depois de ordenado sacerdote, em 1537, foi enviado à Portugal a pedido do rei D. João III, junto de alguns companheiros. Posteriormente foi mandado às índias e ao Japão, como legado do Papa. Desembarcou em Goa, na Índia, e percorreu quase todos os países litorâneos do extremo oriente. Foi o primeiro missionário que aportou no Japão. Morreu às portas da China, cuja importância cultural era sem par em todo o Oriente. Suas cartas comoveram toda a Europa e suscitaram generosas vocações. Foi canonizado por Gregório XV em 1622 e hoje é um dos padroeiros das Missões.



Produzido por: Equipe do Centro MAGIS Anchietanum Ilustrações: Acervo digital da Companhia de Jesus Diagramação: Rodrigo TZK•D



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