Zéfini Cultura
. Oquecêqué? .
Ideia Solta - Marcão Baixada
Edição#01
Marcão Baixada Estreando a primeira edição da Zéfini Cultura, Marcão Baixada, figura da nova safra do hip hop carioca, fala como foi crescer na Baixada Fluminense, suas influências, música e responde a pergunta dessa edição de estréia. #OQUÊCÊQUÉ? De sobra, o amigo ainda deixa um top five para rolar no som. REPORTAGEM E PRODUÇÃO ANDERSON CARVALHO
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IDEIA SOLTA Diz ai. Como foi ter nascido e ter sido cria da Baixada Fluminense? Nasci em São João de Meriti e ainda com 2 anos, me mudei pro conjunto habitacional BNH, em Mesquita. Cresci escutando as pessoas dizerem que tem vergonha de morar na Baixada e um monte de outras coisas negativas sobre a região. A Baixada serve de mão-de-obra pro município do Rio, mas ao mesmo tempo é vista com maus olhos por parte da classe alta; e tratada com muito descaso por parte do Estado. Tudo isso acaba criando realmente um sentimento de negatividade com o lugar em que se vive, mas sempre tento enxergar o lado bom de tudo. Tenho orgulho de ser da Baixada, de ter crescido aqui. De saber que figuras como Zeca Pagodinho e Dicró são daqui; de saber que João Cândido, líder da Revolta da Chibata morou aqui, saca? Isso tudo contribuiu pra minha formação. Como você se envolveu com música e por quê o Rap? Meus avós maternos, minha tia e minha mãe colecionavam discos de vinil; cresci escutando Martinho da Vila, Jorge Ben e Djavan. Quando ainda era novo tinha alguns ‘brin3
quedos’; gaitas, gravador de fita cassete com microfone, guitarras de plástico. Tudo isso me influenciou bastante. Aprendi guitarra e percussão na igreja e passei por algumas bandas e ministérios de música. Escrevia algumas poesias e tentava criar alguma melodia pra elas. Participei de alguns festivais de talentos na escola, também. Quando tinha 13 anos, joguei basquete em algumas ligas e ia em eventos de basquete de rua, onde sempre rolava Rap. Conheci novos artistas além dos quais já estava habituado à escutar; e me identifiquei bastante. Vi no Rap uma forma de me expressar; e o que era arte pela arte ficou sério. Fala um pouco das tuas influências culturais. Cara, como eu falei, cresci ouvindo Djavan, acho que foi e ainda é uma das minhas maiores influências, Charlie Brown Jr. também contribuiu muito pra minha formação musical e me apresentou alguns dos primeiros artistas de Rap que escutei; Nina Simone e Miles Davis me influ-
enciaram muito também. No cinema; “Central do Brasil” me inspirou bastante e séries como “Um Maluco no Pedaço” e “Todo Mundo Odeia o Chris” também. Martin Luther King Jr; Malcolm X, Huey Newton, Frida Kahlo, Jean Mitchel Basquiat... São alguns nomes que fazem parte da minha influência cultural.
O Rap há algum tempo deu uma estourada por aqui, em todo canto tu esbarra com algum moleque com uma camisa larga e boné aba reta, o que eu acho muito maneiro. Mas ainda parece ser um lance muito mais de visual do que realmente de entendimento da cultura hip hop. O que que tu acha disso ? É bem por aí, cara. Tem caras que se vestem igual punks ou que são punks que sacam mais de Hip-Hop do que essa galera que tá de boné de aba-reta e camisa extra-grande. Hip-Hop não é roupa; claro que o estilo é essencial, mas na real, o que conta ponto no jogo é a habilidade, é o seu conhecimento e o seu entendimento da parada.
Lembro de ter lido ou ouvido o Gustavo Black Alien dizendo que o processo de escrever é um parto, é doloroso. Como esse processo funciona contigo? Isso é muito relativo. Pra mim escrever uma letra é me estudar, me testar, fazer melhor do que eu fiz ontem, entende? Tem muito à ver com a percepção das coisas ao seu redor, as conexões, as referências e as técnicas, há dias em que tudo isso está super acessível na sua mente e a coisa flui naturalmente; mas ás vezes tudo tem que ser no passo a passo, de pouquinho em pouquinho. Tem letra que eu escrevo inteira na hora, mas tem outras que eu rascunho uma coisa num papel, outra coisa no computador; e vou juntando as peças do quebra-cabeças.
Vi no teu canal do youtube um vídeo de um rolé pela França. Nessa conexão Baixada Fluminense x França, como foi o impacto cultural e a experiência de tocar na gringa? O impacto cultural pra mim foi ver um país que se sente bem em consumir arte, em valorizar isso. Aqui no Brasil, nego ainda vai na balada pra tomar todas e ficar com alguém na festa; poucos são os que realmente vão pelo conceito artístico dentro de um cenário musical, infelizmente; e lá, a vibe é bem diferente. A experiên4
cia é muito boa, os franceses valorizam muito a cultura brasileira, e por causa disso, eu e o meu grupo; tocamos Rap, mas levamos outros elementos como MPB, Samba e Repente pras nossas apresentações.
da equipe de som Apavoramento Sound System; e estamos flertando com o Trap, Techno e Funk Carioca. Logo menos teremos alguns lançamentos desse projeto.
Além das tracks que você já soltou, O que você tem escutado, tanto de vai rolar um Ep, um Disco, alguma rap quanto outros tipos de som ? parada ainda para esse ano? Cara, de Rap dos EUA tô escutan- Tô trabalhando à milhão, se tudo do bastante Isaiah Rashad, School- correr como planejado, vão sair os boy Q e 2 Chainz. Aqui no Brasil, sons desse projeto que falei na pertô escutando Don L e Karol Conka. gunta anterior, e deve sair algum Também conheci o som de uma single sólo e a minha mixtape, que mina chamada Little Simz, que é se chama “Geração 90, o Bug do Mido Reino Unido e tenho escutado lênio”; e consequentemente, clipes Funk Carioca e essa nova onda das músicas desse trabalho. de rasteirinha, tô achando legal... Mashups também tem rolado nos E fechando com a pergunta da edimeus fones e tenho tentado escu- ção: Marcão, Oquecêqué? tar outras vertentes da bass music, O que eu eu quero? Eu quero tudo como Ghettotech. que disseram que eu não poderia ter devido à minha condição social, Dei uma lida na sua entrevista com o Bruno Natal para o Trans- ou por causa do lugar onde eu vivo. Quero que todas as pessoas possam cultura há algum tempo atrás e fazer o que realmente as façam felifalava sobre os produtores que você já tinha trabalhado, e tinha zes, independente do que o mundo uma track tua com o Sants nessa diz pra elas. onda das misturas que lembro de ter escutado, tem alguma parada nessa vibe em vista para sair? Tem sim cara, estou trabalhando junto com o MC Aori num novo projeto, que vai contar com produções do BLUNTZZILLA, que é 5