98 fabricado − os ready-mades de Duchamp (Roda de bicicleta, 1913; Portagarrafas, 1914; A Fonte, 1917) – corresponde ao gesto radical da dita antiarte. Se, por um lado, o ato ironiza e procura decretar o fim da arte, por outro, ativa o lugar do entre, situado entre as categorias do objeto estético e do objeto utilitário. Aberta a via da transformação dos valores do objeto, podemos então nos remeter à eclosão das proposições de Duchamp no cenário da arte dos anos 1960 de um modo geral. (PORTELLA, 2010).
2.3 O Experimental em Questão ara Lopes (2013, p. 51), no texto “Experiment/Experiência”, aulo Venâncio Filho aponta para a mudança de perspectiva do termo “experimental”, lembrando que, em 1968, quando o crítico Mario
edrosa criou a expressão “exercício experimental da
liberdade” para designar as proposições participativas e sensoriais que Lygia Clark e Hélio Oiticica haviam realizado nos anos 1960, ele não só percebia um fenômeno artístico inédito, mas também constatava uma ruptura e um novo estágio histórico. Segundo o crítico, “reconhecia, naqueles trabalhos, o t rmino de um ciclo da arte brasileira: mais do que isso, o t rmino de um projeto: o ‘projeto construtivo brasileiro na arte”. Segundo Portella (2010), podemos indicar essa circunstância como abertura para os outros suportes as estratégias, cuja vinculação ao mundo é política, da fusão e da disjunção (ou duplo sentido) de imagens e palavras, que se dão em filmes de Super-8, vídeos, fotografias, negativos, diapositivos, sons (vinil ou cassete), ou seja, no medium audiovisual. Segundo a pesquisadora: “A singularidade desses suportes promoveu um circuito do desvio no sistema de artes. A circulação das obras passou a ser tributária dos eventos de arte. Esse momento de transição e crise foi denominado por Frederico Morais de arte de vanguarda”. ( ORTELL , 2010, p. 78). Nesta análise, para a autora (2010, p. 79), o crítico Mário Pedrosa designa esse movimento com a utilização do termo “arte p s-moderna” para a produção que se seguiu ao neoconcretismo. Enquanto, o artista Hélio Oiticica preferia a expressão “antiarte” – criada por ele no texto “ notações sobre o
arangol ” − para tratar os
objetos da sua produção, que possuíam valores plásticos, cuja tendência era serem absorvidos na plasticidade das estruturas perceptivas e ativas. Segundo Portella (2010), Hélio Oiticica chamou essa outra concepção de ver e entender a arte de Nova Objetividade, a qual se caracteriza em princípio pela criação das novas ordens estruturais que não são da “pintura” ou “escultura”, mas sim