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TRÊS ESCALAS

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INTRODUÇÃO

INTRODUÇÃO

O trabalho se desenvolve em três escalas articuladas:

A escala urbana pública, em 1:500, objeto desse projeto de pesquisa, amarra todo o projeto desenvolvido no ateliê.: corresponde à implantação dos edifícios na superquadra, concebida como um parque ou um tapete verde, circundado por um cinturão verde de 20 metros de largura que sofre recortes e inserções do programa. - Seis a oito edifícios habitacionais do tipo barra6 , de 6 pavimentos, sobre pilotis, cuja disposição deve gerar espaços intersticiais com porte de pátio ou praça urbana arborizada; -Paisagismo como complemento do habitar: atividades compatíveis com o público alvo definido por cada aluno através de um Moodboard - uma colagem que expressa, de forma lúdica, as aspirações sensoriais que o projeto pretende abordar (Figura 3). Estimula-se a reinterpretação das tradicionais atividades culturais, esportivas e de lazer, e dos elementos de mobiliário urbano; a adoção de espaços multiuso, como playgrounds com piso de borracha para todas as idades; e elementos que promovam a sustentabilidade, como hortas urbanas, pomares e chafarizes interativos reaproveitando a água da chuva. Preconiza-se o uso compositivo da vegetação nativa, considerando-se, sobretudo, o porte adequado a cada situação: forrações, marcação de caminhos, delimitação de ambientes, sombreamento, etc. Importante elemento formador da paisagem, a vegetação possui um desempenho fundamental na qualidade de vida, principalmente no que se refere ao conforto ambiental que ela proporciona. Pode ser empregada junto com a água em

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6 A barra é o edifício em altura, cuja configuração da planta-tipo é resultado da disposição seriada de apartamentos com testadas mínimas em uma circulação do tipo corredor, acessado por circulações verticais pontuais, inseridas de acordo com as normas de incêndio locais jardins sensoriais, estimulando tato, olfato, audição e, sobretudo a conexão com a natureza, terapia muito valorizada nos tempos atuais. A introdução de elementos naturais, linhas orgânicas e cores provoca um rompimento no meio urbano denso, caracterizado por materiais artificiais e linhas ortogonais.

Figura 3: Moodboard.

Fonte: Gabriela Rodrigues e Juliete Rivoire.

-Sistema de movimentos: caminhos com diferentes hierarquias, dimensões e funcionalidades atendendo as normas vigentes de acessibilidade, a qual garante o direito de ir e vir de todos de maneira independente e participativa. Para tanto é imprescindível que as superquadras sejam possuidoras de uma rota acessível, termo definido como “trajeto contínuo, desobstruído e sinalizado que conecte os ambientes externos ou internos de espaços e edificações, e que possa ser utilizado de forma autônoma e segura por todas as

pessoas, inclusive aquelas com deficiência e mobilidade reduzida” (NBR 9050, 2015, p. 57. Este caminho principal conecta integralmente a superquadra devendo conduzir a todas as atividades públicas propostas, e apresentar pontos de descanso, obrigatórios a cada 50m8, como praças e espaços de contemplação. Frequentemente a sinalização imposta pela lei se vincula harmoniosamente a identidade visual da proposta. A distinção de cores entre pisos e pavimentos é um recurso de delimitação que oferece segurança através do contraste. A sinalização tátil atende aos cegos, pessoas com doenças refrativas e também os idosos, e por esta razão precisa estabelecer contraste com o piso. Comodidade e segurança são propriedades básicas para se obter um espaço público qualificado. - Faixas comerciais junto às grandes avenidas. A situação da tábula rasa, plana e retangular, e a ausência de condicionantes urbanos próximos, que poderiam ser consideradas o desejo de trabalho de todo arquiteto, paradoxalmente, dificulta a tomada de partido por parte do aluno. O lote, sem nenhum balizador, admite infinitas possibilidades no lançamento das propostas. Traçados, faixas e malhas geométricas se impõem como método de projeto, atuando como partitura organizadora dos edifícios em conjunto com o programa do espaço aberto. As principais referências utilizadas nessa etapa incluem: -o paisagismo dos grandes quarteirões de 400m por 400m da Ville Radieuse, de Le Corbusier, 1924-30, estruturado através de duas malhas: a primeira, ortogonal e racionalista, organiza o desenho repetitivo em arabesco dos blocs à redents, que retrocede ou alinhase, alternada e regularmente, a partir dos limites exteriores da rua; a segunda, irregular e sinuosa, inspirada no traçado do parque inglês, define caminhos e uma hierarquia de jardins.

7 Conceito de rota acessível retirado do texto da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) NBR 9050, 2015, a qual estabelece critérios e parâmetros técnicos para acessibilidade. 8 Conforme Norma Brasileira - ABNT NBR 9050, 2015, pg. 58. -As superquadras-modelo do Plano Piloto de Brasília, compostas por um traçado regular, que organiza os edifícios, e um traçado sinuoso de ruas internas e jardins de Burle Marx9 . -O Parque de La Villette, explicitado no método da pesquisa; -O trabalho da paisagista Martha Schwartz(Figura 4), cuja missão é: [...] explorar a relação entre paisagem, arte e cultura, e desafiar os conceitos tradicionais de paisagismo; encontrar oportunidades onde as soluções de design de paisagem podem aumentar a sustentabilidade social, ambiental e econômica de um lugar e eleválos a um nível de arte; e tornar o projeto paisagístico crítico para a sustentabilidade de nosso entorno (Architonic, n.d., tradução nossa)10 . -O conceito de Jardim em Movimento, de Gilles Clément (Figura 5), “se inspira no deserto: espaço vital deixado ao livre desenvolvimento das espécies que aí se instalam (...) ‘Faça o máximo possível com o mínimo possível contra’, resume a posição do jardineiro do Jardim em Movimento” (Gilles Clément, n.d., tradução nossa)11 .

Fonte: Página do site Martha Schwartz Partners12. Fonte: © Clément Guillaume13 .

9 “Burle Marx levou para o paisagismo o ideário da arte e arquitetura modernas. Rejeitou as flores exóticas com que o país compunha seus jardins públicos e particulares e trouxe para as praças a antes desprezada vegetação nativa. Compôs jardins como quem cria obras de arte. Pensou na topografia, no meio ambiente, na arquitetura e na plasticidade para projetar jardins e praças no Brasil e em mais de 20 países. Foi paisagista, ceramista, gravurista, tapeceiro, designer de joias, pintor, músico. Fez cenário e figurinos para peças de teatro, óperas e decoração de carnaval” (Correio Braziliense, 2009, 04 de agosto). 10 Her mission is to explore the relationship between landscape, art and culture and challenge traditional concepts of landscape design; find opportunities where landscape design solutions can enhance the social, environmental, and economic sustainability of a place and raise them to a level of fine art; and make landscape design critical to the sustainability of our surroundings. 11 Le Jardin en Mouvement s’inspire de la friche: espace de vie laissé au libre développement des espèces qui s’y installent (...) «Faire le plus possible avec, le moins possible contre » résume la position du jardinier du Jardin en Mouvement. 12 Disponível em: < https://msp.world/beiqijia-technology-business-district-beijing-china/ >. Acesso em: 05 ago. de 2021. 13 Disponível em < https://arcdaily.com/9148/musee-du-quai-branly-ateliers-jeannouvel/5cae54284dd19a91000361-musee-du-quai-branly-ateliers-jean-nouvel-photo. Acesso em: 05 de ago. 2021.

Figura 4: Projeto Beiqijia Technology Business, Martha Schwartz Partners.

Fonte: Página do site Martha Schwartz Partners12 .

Figura 5: Projeto de paisagismo para o Musee du Quai Branly, Paris, de Jean Nouvel13 . -Os projetos urbanos do escritório MVRDV, cuja frase de abertura do site é:

Espaços para morar, trabalhar e se divertir! Queremos revolucionar todos os aspectos da vida humana. Cidades melhores, locais de trabalho agradáveis, casas fantásticas e ótimos espaços para curtir a vida, encontramos a melhor solução para cada projeto em cada situação através da coleta de dados e parâmetros” (MVRDV, n.d., tradução nossa)14 .

-A vertente contemporânea, caracterizada pela técnica da topografia operativa e a integração entre arquitetura, escultura e a land art (Leatherbarrow, 2009, p. 6-10). A escala habitacional, em 1:200, corresponde à resolução completa e detalhada de um dos edifícios tipo barra15 residencial - que parte de um volume de 20m x 80m, podendo sofrer subtrações e adições ao longo do projeto - a ser repetido na superquadra. Como detalhamento, a escala dos interiores, em 1:50, corresponde à ampliação dos diferentes tipos de apartamentos propostos, investigando relações espaciais qualificadas entre espaços mínimos e mobiliário flexível, e relações visuais entre o espaço íntimo e o paisagismo do espaço aberto da superquadra. As três escalas do projeto se complementam: a escala da paisagem corresponde ao mundo do pedestre, do chão, dos caminhos, dos espaços abertos públicos e dos pilotis. Árvores, jardins e fachadas

14 Spaces to Live, Work & Play! We want to revolutionise every aspect of human life. Better cities, pleasant work places, fantastic homes and great spaces to enjoy life, we find the best solution for every project in every situation by collecting data and parameters. 15 O tipo barra sobre pilotis que flutua sobre um parque público foi enunciado pela Unité D´Habitation de Marselha, de Le Corbusier, 1945-52, e reinterpretado nas superquadras de Brasília. Para o exercício, adota-se um tipo híbrido: da Unité, adota-se o conceito de uma nova escala do habitar, correspondente a uma concepção de espaço privativo compacto, estreito e comprido, compensado pela redefinição de alguns serviços domésticos, deslocados da esfera individual para a coletiva, e qualificado pela presença do espaço comunicado da tipologia duplex; e a incorporação de serviços urbanos essenciais próximos, como compensação da condição de isolamento do edifício; das superquadras-modelo de Brasília, adota-se a proporção e a altura de seis pavimentos da barra, mais compatível com a paisagem da orla do Guaíba e com a morfologia do quarteirão proposto.

dos edifícios compõem um cenário, configuram um ambiente externo que complementa o mundo interno doméstico e íntimo. O paisagismo corresponde à qualificação dos trajetos e ambientes junto aos edifícios, no nível do pedestre: texturas, cores, aromas e diferentes tipos e portes de vegetação estimulam a diminuição de ritmo, o passeio, a reflexão e o desfrute dos diversos cenários imaginados para esse habitar na orla.

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