Apostila: Terapia Comportamental

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VAMOS CONHECER UM POUCO MAIS SOBRE A TERAPIA COMPORTAMENTAL? Apostila elaborada por Thais Dias Boselli, apenas para uso interno, esta apostila tem o objetivo de informar através de uma linguagem acessível e sem formalidades. Fonte de pesquisa: Apostila Ajude-nos a Aprender Help Us Learn: A Self-Paced Training Program for ABA Part I: Training Manual Kathy Lear Toronto, Ontario – Canada, 2a edição, 2004 Website: www.helpuslearn.com e-mail: customerservice@helpuslearn.com O método que utilizaremos tem como base o Behaviorismo, que é uma ciência que observa, analisa e explica a associação entre o ambiente e o comportamento. Para entender o que a gente faz, primeiro precisa-se entender um pouco o que é o Behaviorismo (que muitos conhecem por Terapia Comportamental) e os termos que são utilizados neste tipo de análise, que é a análise do comportamento. O comportamento pode ser analisado em uma relação de três componentes (que nós chamamos de tríplice contingência):

Antecedente (A) – Resposta (R) – Conseqüência (C) Chamamos de antecedente o que está acontecendo no ambiente no momento em que uma resposta é emitida. O comportamento é a resposta ao antecedente, ou seja, a ação. E a conseqüência é o que ocorre logo depois da resposta. A resposta pode ser modificada de acordo com o antecedente ou a conseqüência. Para esta abordagem, o comportamento é o objeto de estudo que tenta descrever dentro de quais determinadas circunstâncias (A) o indivíduo responde daquela forma (R) e quais conseqüências seguem-se a essa resposta de forma a mantê-la (C). O quadro seguinte mostra alguns exemplos do que é esta trilogia comportamental: Antecedente Sensação de Fome

Resposta Você come o sanduíche.

Conseqüência A sensação de fome passa e você se sente bem.

Sanduíche disponível.

Aumenta a chance de você comer um sanduíche quando sentir fome. O sinal para atravessar a

Você acelera.

Você é multado.


rua ficou amarelo. Você ficará menos propenso a furar o sinal amarelo no futuro. O sinal para atravessar a

Você acelera.

Você não é multado.

rua ficou amarelo. Você ficará mais propenso a continuar furando o sinal amarelo no futuro. Está na hora do banho e a

Criança grita.

mãe tira o brinquedo da

Mãe devolve o brinquedo para criança.

criança. Aumenta a chance de a criança gritar quando for contrariada, pois ela conseguiu o que queria apenas com o grito. Está na hora do banho e a

Criança grita.

Mãe

não

devolve

o

mãe tira o brinquedo da

brinquedo e leva a criança

criança.

para o banho, onde tem outros brinquedos legais.

Diminui a chance de a criança gritar quando for contrariada.

É muito importante entender que um comportamento seguido de uma conseqüência reforçadora resulta em um aumento da probabilidade daquele comportamento se repetir no futuro. As conseqüências positivas ou negativas de seu comportamento determinam se você vai repeti-lo ou não. Nestes casos, o antecedente é alguma propriedade do ambiente que sinaliza uma oportunidade para a resposta ser emitida e a conseqüência é uma modificação no ambiente efetivamente produzida pela resposta. Note que, no último exemplo, a mãe não devolve o brinquedo para criança, porém a leva para o banho onde terão outros brinquedos (que podem molhar) disponíveis. A nossa intenção é que o grito não funcione, mas não queremos que a criança fique em sofrimento, então oferecemos outro meio para a criança se divertir. E ela irá aprender que quando tiver que soltar um brinquedo para ir para o banho vai encontrar outros brinquedos lá, diminuindo a chance dela gritar neste momento no futuro. Quando alguém observa o que uma pessoa faz, pode não compreender o significado daquilo que observa. Uma pessoa corre, chora, fala seu nome, grita, fica vermelha, ou escreve.... e daí? O significado de um comportamento não está na ação em si, mas naquilo que o determina. Para compreendermos uma ação e alçá-la ao


status de comportamento, temos que relacioná-la com eventos antecedentes e eventos conseqüentes a ela, chamamos esta investigação de análise funcional. As perguntas que vamos fazer o tempo todo são: Pra que serve este comportamento? O que a criança ganha se comportando desta maneira? Em que situação ela se comporta assim? A mesma ação pode ser interpretada de maneiras diferentes, dependendo da situação em que ela é emitida. Por exemplo: Antecedente

Resposta

Conseqüência

A professora pede a um O aluno grita, procurando

A

aluno de seis anos que dê

dizendo

imitar o homem-macaco.

professora que

o ele

elogia tem

um grito parecido com o

pulmões de aço e a classe

do Tarzan.

ri de maneira aprovadora.

Neste caso a resposta (ação) de gritar na sala de aula é um comportamento adequado e que foi reforçado pela professora e colegas. A

professora

está O aluno grita como um A professora pede para

passando um exercício de homem-macaco.

ele ficar quieto e fala que

matemática para a classe.

não gostou da sua atitude e a classe não ri.

Neste caso, a mesma resposta é um comportamento inadequado, que não pretendemos reforçar.

A conseqüência para uma ação (resposta) é chamada de reforçador. O comportamento é fortalecido quando reforçadores são disponibilizados após sua emissão. Nosso objetivo é ensinar às crianças comportamentos produtivos socialmente, e para isso, trabalhamos sempre reforçando os comportamentos que queremos maximizar (aumentar), usando apenas conseqüências reforçadoras, ou seja, todo ensino de uma nova reposta será reforçado positivamente. Tanto nos programas e brincadeiras estruturadas como nas tarefas do dia a dia. Para iniciar algum procedimento de redirecionamento para comportamentos inadequados, vamos primeiro entender em que situações aquele comportamento aparece, ou seja, o que propicia a emissão daquele comportamento e também o que mantém

aquele

comportamento,

ou

seja,

o

que

está

reforçando

este


comportamento. A analise destas contingencias nem sempre é tão simples, em alguns casos o comportamento é mantido por mais de uma consequência. A proposta da avaliação é classificar os comportamentos inadequados por suas funções e selecionar condutas que reduzem tais comportamentos dentro da sua categoria. Uma efetiva avaliação funcional permite ao terapeuta agrupar comportamentos por suas funções ao invés de por suas formas e/ou níveis de disruptividade. Somente após a analise funcional de um comportamento é que iremos elaborar um procedimento de redirecionamento. Nos programas que iremos aplicar, usamos o método chamado de

aprendizagem sem erros, para poder reforçar o comportamento esperado. Nem sempre a criança vai conseguir realizar a tarefa solicitada sozinha, por isso vamos ajudá-la nesse processo, assim garantimos que ela complete a tarefa com sucesso. O programa NÃO é aversivo e rejeita punições. Forma-se um conjunto de procedimentos para identificar as “causas” de comportamentos inadequados e reduzi-los através do ensino de outros comportamentos (adequados), ao invés de suprimi-los com o uso de punição. Para maximizar os comportamentos produtivos e esperados e diminuindo os comportamentos que estão deficitários em seu repertório, vamos utilizar a hierarquia de dicas, que se divide em etapas de ajuda. Toda resposta é registrada com uma nomenclatura especifica, o que nos permite um melhor delineamento do progresso da criança: Ajuda Física (AF): fazer pela criança, pegar em sua mão, pé ou corpo e fazer todo o movimento com ela. Ajuda Leve (AL): direcionar sua mão/braço, pé/perna ou corpo para o local correto, encostando nela ainda, mas com menos direcionamento. Ajuda Gestual (AG): apenas apontar para o que ela deve fazer, escolher ou pegar. As dicas vão passando de uma para a outra até que a resposta se torne independente (I). O objetivo é ir retirando a ajuda lentamente. Depois de um certo tempo usando a mesma dica podemos arriscar atrasá-la um pouco, esperar para dar a dica e ver se a criança já inicia a resposta corretamente. Se ela responder bem, podese passar para a próxima dica (menos intrusiva), e assim prosseguir até que ela responda sem dica nenhuma (I).


Quando a criança necessitar, podemos disponibilizar outros tipos de ajuda, como usar um modelo visual, que é dar a instrução e em seguida emitir a resposta esperada, ou seja, você dá o exemplo do que quer. E também a dica auditiva, que é a descrição verbal detalhada da resposta. Exemplo de ajuda, para o ensino da habilidade de bater palmas: Antecedente

Resposta

Conseqüência

Exemplo de estimulo auditivo e dica física Terapeuta criança:

pede “Pedro,

para Pedro

fica

parado, Terapeuta

fala:

“você

bata porém a terapeuta pega bateu palmas, que legal!” e

palmas”

as mãos da criança e reforça a execução bem bate palmas (AF)

sucedida da tarefa com um elogio e/ou com um brinquedo

de

seu

fala:

“você

interesse. Exemplo de estimulo auditivo com dica física e modelo. Terapeuta

para Pedro bate palmas

Terapeuta

bata

bateu palmas, que legal!” e

palmas” e bate palmas (a

reforça a execução bem

instrução

dada

sucedida da tarefa com

verbalmente junto com um

um elogio e/ou com um

modelo visual).

brinquedo

criança:

pede “Pedro, é

de

seu

interesse.

Nestes exemplos, a terapeuta garante a execução da tarefa. Apesar de a criança ter ficado parada num primeiro momento, a terapeuta usa de ajuda para ela completar a tarefa e assim garante o reforço para o comportamento esperado, que no caso é bater palmas. Note que, no primeiro exemplo, quando a instrução é dada para a criança, só é disponibilizada a dica visual. No segundo exemplo, a terapeuta, além de disponibilizar a dica auditiva também dá o modelo da resposta a ser emitida. Este modelo visual também vai sendo retirado lentamente, até que a criança possa responder apenas com a instrução verbal. As dicas vão sendo atrasadas nas próximas tentativas, até que seja retirada, e a criança passe a responder independente. Vamos avaliar qual o melhor modo de ensino para cada criança, podemos disponibilizar diferentes tipo de ajuda para a criança alcançar sucesso na execução das tarefas.


Para ensino dos programas verbais, pode-se usar: Ajuda Verbal (AV): que é o modelo ecóico total, ou seja, a antecipação da resposta verbal. Ajuda Verbal Parcial (AVP): é apenas uma parte da palavra ou frase que queremos ensinar, nós iniciamos a resposta e a criança termina. Exemplo: Antecedente

Resposta

Conseqüência

Exemplo de dica verbal Terapeuta pergunta: “qual o seu

“Mônica”,

criança Muito bem, Mônica!

nome? Mônica” (AV), nenhuma responde repetindo ou demora entre o estímulo e a dica.

imitando a terapeuta.

Exemplo de dica verbal parcial Terapeuta pergunta: “qual seu “...nica”

,

criança Muito bem, Mônica!

nome?” Se após alguns segundos

responde completando a

a

dica

criança

terapeuta

não inicia

responder, a

a

resposta

da

terapeuta.

(AVP)

esperada “Mô...”

Para determinar que tipo de ajuda será mais adequada para iniciar o programa, traça-se uma linha de base. O que é isso? É uma avaliação da capacidade da criança naquela habilidade especifica que queremos ensinar. A instrução (antecedente) é passada e espera-se a reação da criança. Neste primeiro momento, não é utilizado nenhum tipo de dica, nem de ajuda, desta maneira, podemos observar em que estágio a criança se encontra, para então determinarmos que tipo de ajuda ela irá precisar. Vale ressaltar que, ao iniciar um programa, deve-se atrair a atenção da criança em primeiro lugar. É preciso certificar que a criança está prestando atenção no terapeuta ou cuidador, e só assim deve-se dar a instrução. Dependendo do programa, o numero de tentativas a serem apresentadas é pré-determinada. A motivação tem grande importância no aprendizado de habilidades, sempre que a criança fizer algo adequado devemos elogiá-la muito, abraçar e beijar (reforçadores sociais) e conseqüênciar seu comportamento com algo que ela goste ou se interesse (reforçadores arbitrários: músicas, brinquedos, comidas, etc.).


Esta consequenciação positiva aumenta a chance do comportamento esperado se repetir no futuro. Chamamos de reforço arbitrário, itens que possivelmente terão valor reforçador para a criança aprendiz. No inicio do tratamento, novas respostas serão ensinadas e existe uma grande possibilidade da criança apresentar dificuldade no processo de aprendizado. Sempre desejamos que o ensino de qualquer habilidade seja prazeroso e por isso, lançamos mão do uso de reforçadores para consequenciar positivamente a ação esperada, agregando motivação às novas respostas a serem ensinadas, ou seja, no inicio do tratamento disponibilizamos um reforçador a cada resposta emitida. Porém, com o objetivo posterior de ir retirando lentamente o reforço arbitrário, ficando apenas o reforço natural. Durante o processo de aprendizagem vamos facilitar ao máximo as respostas da criança, dando todos os tipos de ajuda necessária. A nossa intenção é que a criança não fique em sofrimento, mas sim que aprenda motivada, associando o aprendizado a atividades/objetos/comestíveis que ela gosta.

Exemplo: queremos ensinar a criança a escovar os dentes

Antecedente

Resposta

Conseqüência

Mãe pede para criança: “não”

Mãe mostra um brinquedo para

“Pedro, vamos escovar os

criança

dentes?”

escovação

e

fala ela

que vai

após

a

ganhar

o

brinquedo (que neste caso é o motivador) Mãe pede para a criança A escovar os dentes com o brinquedo

de

interesse em mãos.

criança

escovar

seu dentes

vai Mãe

disponibiliza

o

brinquedo

os para criança (reforço arbitrário, que não tem ligação direta com o ato de escovar os dentes) Sensação de frescor e limpeza na boca (reforço natural, que tem ligação direta com o ato de escovar os dentes)


Esperamos que, com o tempo, o reforço natural seja suficiente para a criança realizar a tarefa, porém, no momento de aprendizagem o item motivador é de extrema importância. Este item motivador é particular a cada criança, cabe aos terapeutas e cuidadores a tarefa de investigar constantemente o reforçador que realmente motive sua criança. Tem criança que gosta de brincar com carrinho e bola, outras gostam de brincar de encaixe e quebra-cabeça. Algumas delas gostam de carinho e abraço bem leve, outras gostam de cócegas e serem jogadas para cima e tem ainda aquelas que não gostam de muito toque e preferem elogios. Ou seja, é importante prestar atenção detalhada e diferenciada para cada criança, para entender o que ela gosta e assim usar um motivador poderoso, que realmente controla o comportamento que está sendo ensinado. Quanto mais poderoso o reforçador, mais chance da criança responder à solicitação. Se utilizarmos coisas que a criança gosta durante as atividades que ela não gosta muito, estas atividades vão, aos poucos, se tornando prazerosas para ela, por exemplo, vamos ensinar a criança a gostar de brincar de roda colocando uma música que ela goste, e deixando ela brincar com algo de seu interesse sempre que ela estiver se comportando de maneira adequada. O emparelhamento do reforço arbitrário (música e brinquedos), com o contexto de brincar de roda, deve tornar esta atividade cada vez mais prazerosa para ela. Vale ressaltar que mesmo para a mesma criança o reforçador pode mudar, dependendo do momento ou do contexto que está sendo vivenciado pela criança. Uma bala pode ser um reforçador poderoso quando faz tempo que a criança não tem acesso a este item. Se ela tiver acabado de chupar um pacote de balas, dificilmente a bala será reforçador poderoso naquele momento. Também precisamos ter jogo de cintura para perceber o momento da criança e mudar o reforçador sempre que necessário, isto vale tanto para o reforçador primário – que são os comestíveis (suco, bala, chocolate, fruta, batata frita, etc...) quanto o reforçador secundário – que são aprendidos pela criança . Por exemplo, Juca é uma criança que adora andar de bicicleta, e usualmente recorremos a este reforçador para ensiná-lo uma nova resposta. Porém, Juca está com dor no joelho no dia da terapia, e possivelmente vai preferir uma brincadeira mais calma. Percebemos que aquele item não está sendo motivador naquele momento, pois ele não vai controlar a resposta da criança, o que inviabiliza o procedimento, então temos que encontrar outro reforçador (que vai controlar a resposta da criança). O que não impede de voltarmos a disponibilizar a bicicleta como reforçador quando Juca estiver melhor da dor no joelho. Ou seja, a gente tem que estar sempre tentando uma aproximação com a criança, quanto mais a conhecermos, melhor será o resultado do nosso trabalho. Uma dica que pode ser


utilizada é, separar um brinquedo muito reforçador, ou algum tipo específico de comida que a criança gosta muito para ser utilizada apenas em momentos específicos, que a criança apresenta mais dificuldade de realização. Por exemplo, uma criança com muita dificuldade para pentear o cabelo, pode-se isolar um brinquedo que ela goste muito e só usá-lo na hora de pentear o cabelo, deixando esta atividade menos aversiva, associando-a com este brinquedo. O importante é termos em mente que as crianças com autismo podem apresentar mais dificuldade no aprendizado de novas habilidades, portanto nosso papel é tornar este aprendizado o mais agradável possível, usando a motivação como alicerce do ensino. Esperamos que, com o tempo, o reforço natural seja suficiente para a criança realizar a tarefa, porém, no momento de aprendizagem o item motivador é de extrema importância. Através da minha experiência como terapeuta de crianças com autismo, posso afirmar que o afeto que nós desenvolvemos pelas crianças que nós atendemos tem grande importância no desenvolvimento de habilidades das crianças. Temos que ter em mente que o nosso trabalho é, antes de tudo, batalhar muito pelo afeto destas crianças. Elas são crianças que usualmente não gostam de se relacionar, estranham o outro e mal fazem contato visual, e mesmo assim, nós lutamos para conseguir entrar no mundinho delas, tão diferente e difícil. Nós conseguimos entender as suas dificuldades, suas faltas de habilidades, e por isso criamos vínculo com elas, as crianças precisam confiar em quem as ensina, só assim conseguimos fazer com que elas queiram aprender com a gente. Elas precisam querer aprender com a gente, quando nós nos tornamos uma motivação poderosa, a terapia tem mais chances de sucesso. Os maiores desafios que a criança com transtorno do desenvolvimento pode enfrentar são: - na área da comunicação e linguagem - habilidades sociais - habilidades para brincar - habilidades para auto cuidado (AVD’s) - auto-estimulação - reforçadores incomuns - dificuldade em aprender pela observação do outro - aprendizado mais lento


Retomando os conceitos anteriores, fica claro que nosso trabalho é pautado na manipulação dos eventos antecedentes e dos eventos conseqüentes, sempre pensando na motivação individualizada. A metodologia que adotamos para o ensino destas habilidades é chamada de tentativa discreta. Este método tem um formato estruturado, em que o ambiente é especialmente planejado e preparado para produzir a resposta. É comandado pelo terapeuta e caracteriza-se por fragmentar a resposta complexa, ou seja, divide o comportamento que queremos ensinar em pequenas partes, que serão ensinadas uma de cada vez, durante uma série de tentativas. Usamos quantas tentativas forem necessárias para garantir o aprendizado, junto com o reforçamento positivo e dando ajuda (dicas). Neste caso fazemos um registro de todas as dicas que foram disponibilizadas e respostas emitidas, que vai ser analisado posteriormente, ferramenta utilizada para avaliarmos a evolução do aprendizado. Neste exemplo de ensino por tentativa discreta, queremos ensinar a criança a identificar os números. Para facilitar o aprendizado começamos disponibilizando apenas três estímulos – 1, 2, 3 – e ensinamos primeiro a identificação do número 1 (fragmentação da resposta). Antecedente

Resposta

Em uma mesa simples (sem outros estímulos

que

possam

tirar

Conseqüência

Maria aponta para o Reforço social e se

a número 1 com a ajuda necessário

atenção da criança para aquele da terapeuta

brinquedo

aprendizado), a terapeuta mostra

interesse.

um de

seu

uma prancheta com os números 1 – 2 – 3 e pede para criança “Maria, aponta o número 1” e a terapeuta pode

pegar

em

sua

mão

e

direcioná-la para o número 1.

Outro método de ensino se refere às interações entre um adulto e uma criança ocorridas naturalmente em situações do dia a dia, chamamos este método de ensino incidental. Em seu ambiente natural, a criança pode indicar as ocasiões na qual o ensino ocorre, e o adulto, percebendo o foco de interesse da criança, pode propiciar a aprendizagem atuando e intervindo nesses momentos específicos. Este método auxilia as interações sociais, pois requer que a criança inicie a interação e pode ser bastante utilizado pelos pais e cuidadores. Os pais podem organizar o ambiente de maneira a propiciar o pedido/aprendizado da criança. A


exigência sempre será de acordo com o repertório já aprendido de cada criança. Para uma criança que já aprendeu a falar, podemos ensiná-la a nomear o que quer. O exemplo a seguir tem como base uma criança que ainda apresenta maior dificuldade em verbalizar. Exemplo de ensino incidental: Antecedente Está na hora do lanche e a criança

Resposta

Conseqüência

Criança aponta para o Pai elogia e pega o

esta com fome, o pai pode arrumar a que quer

item desejado para

mesa de maneira que a criança não

a criança.

consiga pegar o alimento com as próprias mãos. Quando perceber que ela se interessa por algum item o pai pede: “o que você quer? Mostra para o papai, aponta” Está na hora do lanche e a criança

Se

a

criança

fica Pai

elogia:

“muito

esta com fome, o pai pode arrumar a parada, ou grita, o bem, você apontou, mesa de maneira que a criança não pai pode pegar em agora eu entendi o consiga pegar o alimento com as

sua mão e ajudá-la a que você quer” e

próprias mãos. Quando perceber

apontar para o que disponibiliza o item

que ela se interessa por algum item

quer,

o pai pede: “o que você quer?

assim

Mostra para o papai, aponta”

esperada.

conseguindo para a criança. a

resposta

Note que no ensino incidental, nós também podemos utilizar as dicas e ajudas especificadas acima para garantir o sucesso da criança. Ninguém quer que ela fique com fome, não é mesmo? Nós só queremos que ela aprenda maneiras mais produtivas de pedir ou mostrar o que quer. Com o tempo ela vai aprender a apontar e o comportamento indesejado (que no exemplo acima é o grito) vai perder a função e desaparecer. O pai ajuda a criança a responder de maneira mais produtiva e reforça aquela ação. Durante o processo de aprendizado destas novas habilidades iremos utilizar um recurso chamado modelagem, que é o elogio (reforço) diante da aproximação sucessiva do repertório que queremos ensinar. No inicio, a criança pode apresentar mais dificuldade para fazer o que estamos pedindo, além da ajuda física ou verbal que vamos disponibilizar (como já foi explicado anteriormente), vamos elogiar a


tentativa da criança, desta maneira vamos incentivando seu aprendizado. Por exemplo, ao pedir para criança guardar o sapato no armário, ela pode apresentar dificuldade para colocar o sapato no lugar certo, mas a simples tentativa dela ir guardar o sapato no armário (mesmo que o cuidador tenha que arrumar depois) já deve ser consequenciada com elogio. Aos poucos o cuidador vai ensinando a melhor maneira de guardar o sapato. Ao ensinar a criança a responder seu nome diante da pergunta “Como você se chama?” o cuidador deve dar o modelo (ajuda verbal) da resposta e quando a criança iniciar o movimento bucal para responder, mesmo que ainda não consiga falar seu nome, ela está tentando responder, esta tentativa também deve ser consequenciada com um reforçador. No inicio do aprendizado de qualquer habilidade nós vamos reforçar TODAS as respostas da criança, para garantir que o aprendizado seja efetivo e mais rápido. Será montado um currículo elaborado individualmente para cada criança, levando em conta suas maiores dificuldades, este currículo é amplo e abrange as habilidades motoras, de linguagem, sociais, acadêmicas, de cuidado pessoal e de brincar. No dia a dia, devemos analisar se as dificuldades comportamentais têm como função conseguir atenção ou coisas. Neste caso, deve-se dar bastante atenção para os comportamentos produtivos socialmente da criança, enriquecendo o ambiente para prevenir o comportamento indesejado. Jamais voltar a dar atenção ao comportamento problema novamente, retirando a atenção quando a criança se comporta de um jeito não desejado. E sempre ensinar uma forma de comunicação para pedir aquilo que quer e dar MUITA atenção quando ela usar o comportamento substitutivo. Se o problema de comportamento tem como função a auto estimulação, deve-se prover um ambiente enriquecido para a criança e fisicamente redirecionar a criança para outra tarefa, brincadeira, solicitação, etc. Ensine a criança a gostar de interações sociais e forneça muito reforçamento para outras atividades. Após fazer a analise funcional do comportamento inadequado vamos escolher qual método de redirecionamento iremos utilizar para diminuir a frequência daquele comportamento indesejado. A seguir vamos apresentar os esquemas de reforçamento diferencial (apenas determinadas respostas produzirão reforço) utilizados para mudança de


comportamento, substituição dos comportamentos indesejados através do ensino de comportamentos adequados. DRO

=

Reforçamento

Diferencial

de

OUTRO

Comportamento

ou

comportamento zero (Differential Reinforcement of “ANY” other behavior ) É utilizado quando queremos reduzir um comportamento indesejado e frequente por meio do reforçamento de qualquer outro comportamento menos o indesejado. Identifica –se um comportamento indesejável e então reforçamos a criança quando o comportamento-alvo NÃO ocorreu durante um certo período. Dica: Evite chamar a atenção para o comportamento indesejado. Após um tempo sem a emissão do comportamento alvo, elogie a criança pelo que ela está fazendo de bom, cuidado para não chamar atenção ao comportamento indesejado, dizendo por ex: "Legal não chutar o amigo”. Ao invés, recompense o positivo: "Eu

gosto como você coloriu o desenho“ ou “Que lindo, tá sentado em perna de índio”. DRI = Reforçamento Diferencial de Comportamento INCOMPATÍVEL (Differential reinforcement of incompatible behavior) Utilizado

para

reduzir

um

comportamento

frequente

através

do

reforçamento de uma resposta incompatível. Oferecemos à criança algo para fazer que é incompatível com o comportamento indesejável e reforçamos esse comportamento incompatível. Por exemplo: Uma criança que põe o dedo na boca recebe um brinquedo para segurar e é reforçada por isso: “Que linda, está levando

o bebê para passear”. Uma criança que gosta de beliscar outras crianças no momento da roda de história, é chamada para segurar o livro para a professora e é elogiada por isso “Que legal, como você segura bem o livro, que bom ajudante”. DRA

=

Reforçamento

Diferencial

de

Comportamento

Alternativo

(Differential Positive Reinforcement of Alternative Behavior) Trata se uma substituição apropriada. Ensinamos à criança conseguir atenção, coisas, ou se esquivar de situações aversivas sem exibir comportamentos disruptivos. Toda vez que um comportamento inapropriado aparecer, direcionamos para um comportamento desejável e reforçamos a resposta alternativa. Ensino de comportamentos alternativos para produzir a mesma consequência. Por exemplo: Uma criança que grita quando quer ir no colo, ensinamos a criança a pedir “colo” e reforçamos (pegando no colo). A criança que enche o copo de água e derruba a água no chão ao invés de bebê-la. Será ensinada a derrubar a água sobre o canteiro de plantas. Extinção


O processo comportamental resultante da suspensão do reforço é chamado de Extinção. O efeito desse processo é a diminuição da frequência daquela resposta. Ressalvas: Ao tentar fazer o procedimento de extinção, temos que estar preparados para a variação do comportamento. Num primeiro momento, a resposta (comportamento inadequado) pode aumentar de frequência. Quando a criança é reforçada toda vez que dá murros na parede (ex: o cuidador disponibiliza atenção para impedí-la), a tentativa de extinção pode aumentar a frequência daquela resposta, ou até mesmo variar para outro comportamento inadequado (dar murros e chutar). Temos que estar muito atentos e ter cuidado para não aumentar a resposta que queremos diminuir. Estamos sugerindo que quando for necessária a adoção

deste

procedimento,

vamos

inserir

também

o

procedimento

de

redirecionamento indireto. Outra dica que damos para os pais e que nós sempre utilizamos em terapia é montar um quadro de rotina com as atividades da criança. O quadro vai ajudar a criança a se localizar e a entender sua rotina diária. Para facilitar seu entendimento, usamos muitas imagens no quadro.

DICAS PARA MONTAGEM DOS QUADROS DE ROTINA Quadro de rotina diário: Deve ser inserido primeiro, colocar as atividades que a criança vai realizar naquele dia (escola e terapia) e também as atividades de cuidado diário e horário de alimentação. Neste quadro NÃO pode ter nada que NÃO vai acontecer. Vai ter atividade que não tem símbolo, tudo bem. Pode ter atividade que não está no quadro. Só não pode ter a atividade a mais. O uso de fotos e imagens facilita o entendimento da criança, que passa a ter um maior controle sobre suas atividades diárias. As imagens podem ser trocadas sempre que a programação for alterada e mais imagens podem ser acrescentadas sempre que necessário.

ROTINA DIÁRIA


FOTO CAFÉ DA MANHÃ

DETE LADO VAI SER INSERIDA UMA BOLA FOTO OU SIMBOLO DO BANHO

AZUL PLASTIFICADA, NO TAMANHO DAS

FOTO PARA ESCOVAR OS DENTES

FOTOS, QUE VAI MUDANDO DE LUGAR CONFORME FOR

FOTO TERAPEUTA

CHEGANDO O MOMENTO DA ATIVIDADE.

FOTO ALMOÇO

FOTO ESCOVAR OS DENTES

FOTO DA ESCOLA

FOTO JANTAR

FOTO PARA ESCOVAR OS DENTES


FOTO DA HORA DE DORMIR

Quadro de rotina semanal: Para ajudar a criança se localizar melhor no tempo. É de extrema importância que as fotos e símbolos obedeçam aos fatos reais, ou seja, o que realmente aconteceu ou vai acontecer no dia. Quando tiver algum imprevisto e a programação do dia mudar, é importante que a mãe ou o cuidador vá ao quadro e mude a rotina do que aconteceu ou está por acontecer ou do que não vai mais acontecer. Se a criança puder participar deste momento de mudar os estímulos no quadro, será mais proveitoso, podemos explicar para ela o porquê da mudança, como por exemplo, a vovó ficou doente e não vai poder visitá-la hoje. Sempre que possível ela pode participar da nova programação do dia. Este procedimento também vai ajudá-la a entender mudança de rotina e flexibilização de programas.


Só inserir o quadro de rotina semanal após a criança entender o quadro diário.

Segunda

Terça

Quarta

Quinta

Sexta

Sábado

Domingo

FOTO CAFÉ

FOTO

FOTO CAFÉ

FOTO CAFÉ

FOTO CAFÉ

FOTO

FOTO

DA MANHÃ

CAFÉ DA

DA MANHÃ

DA MANHÃ

DA MANHÃ

CAFÉ DA

CAFÉ DA

MANHÃ

MANHÃ

MANHÃ

FOTO FAMILIAR

FOTO

FOTO

FOTO

FOTO

FAMILIAR

FAMILIAR

FAMILIAR

QUE FICA

FAMILIAR

QUE FICA

QUE FICA

QUE FICA

COM A

QUE FICA

COM A

COM A

COM A

CRIANÇA

COM A

CRIANÇA

CRIANÇA

CRIANÇA

FOTO

FOTO

MAMÃE E

MAMÃE E

PAPAI

PAPAI

FOTO OU

FOTO

SIMBOLO

CASA DA

DO

VOVÓ

CRIANÇA

FOTO TERAPEUTA

FOTO FOTO

TERAPEUTA

BRINCAR

FOTO PARQUINHO

FOTO TERAPEUTA

PARQUE/ CLUBE

COM MARCIA FOTO

FOTO DA

BRINCAR

ESCOLA

COM MARCIA

FOTO DA ESCOLA

FOTO DA

BRINCAR COM MARCIA

ESCOLA SIMBOLO FESTA DE FOTO DA ESCOLA

ANIVERSÁRIO

BRINCAR FOTO OU

COM A

SÍMBOLO

PRIMA

DO PASSEIO

FOTO PAPAI

FOTO

FOTO DA ESCOLA

FAMILIA

FOTO MAMÃE E

FOTO FOTO DOS

MAMÃE E

FAMILIA-

PAPAI

RES QUE

FOTO

FOTO

PAPAI

Quando a mamãe for trabalhar até tarde

FOTO FAMÍLIA

FICAM COM A CRIANÇA A

FOTO

NOITE

VOVÓ

Quando a vovó vem visitar ou


a criança vai a casa dela.

Nossa meta ĂŠ que todo aprendizado seja generalizado para o dia a dia. O envolvimento da famĂ­lia e dos cuidadores no programa ĂŠ fundamental. Contamos com a ajuda de todos envolvidos neste processo de aprendizagem.


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