O GLOBO: O NOVO CICLO DO OURO

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O GLOBO

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PÁGINA 2 - Edição: 19/11/2011 - Impresso: 18/11/2011 — 22: 29 h

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PRETO/BRANCO

Sábado, 19 de novembro de 2011

O GLOBO Khaled Desouki/AFP

PANORAMA POLÍTICO de Brasília

Constrangimento A presidente Dilma chegou ao Salão Nobre, para sancionar a criação da Comissão da Verdade, conversando, de dedo em riste, com o ministro José Eduardo Cardozo (Justiça). Vinham de discussão acalorada, da qual participaram Maria do Rosário (Direitos Humanos), Celso Amorim (Defesa), Gleisi Hoffmann (Casa Civil), Ideli Salvatti (Institucional) e o ex-ministro Franklin Martins. Por pressão militar foi decidido que Vera Paiva, filha do exdeputado Rubens Paiva, não falaria na solenidade. l

Os militares estavam ensandecidos

Na mesma praça Dezenas de milhares de egípcios participam de orações na Praça Tahrir — epicentro da revolução que derrubou Hosni Mubarak em fevereiro — em protesto contra o Conselho Supremo das Forças Armadas. A oito dias da primeira rodada das eleições parlamentares, a manifestação foi convocada por grupos islamistas

para pedir a transição a um governo civil e a antecipação do pleito presidencial, previsto para o fim de 2012 ou início de 2013. Além da Irmandade Muçulmana, 38 partidos pediram que os militares desistam da proposta de emenda constitucional que dá ao Exército poderes exclusivos sobre assuntos militares e orçamentários.

Presidente da Assembleia de Conselho denuncia ataque Obras da Linha 4 deixarão Rondônia e mais 14 são presos de pistoleiros a índios em MS Zona Sul sem três praças A PF prendeu, em Rondônia, 15 suspeitos de desviar R$ 18 milhões da Saúde, entre eles o presidente da Assembleia Legislativa, Valter Araújo (PTB). O PAÍS, página 14 l

Segundo o Conselho Indigenista Missionário, foi executado o cacique Nísio Gomes, e dois jovens estariam desaparecidos. A Polícia Federal investiga o caso.O PAÍS, página 16 l

l No início da manhã, o assessor da Defesa, José Genoino, alertou o Planalto que, se o familiar de uma vítima da ditadura militar falasse, como estava previsto, um militar também teria de falar. Do contrário, seria um constrangimento para os comandantes militares, presentes à solenidade. A discussão no gabinete de Dil-

ma atrasou a cerimônia em meia hora. Para não dar a palavra a um militar, a opção foi desconvidar Vera Paiva. Falaram a presidente, o ministro José Eduardo Cardozo e o presidente da Comissão de Mortos e Desaparecidos, Marco Antonio Barbosa. O episódio gerou tensão e tisnou um ato que era para ser festivo.

Ele é muito sincero” — Fernando Pimentel, ministro

do Desenvolvimento, sobre a entrevista de Ciro Gomes, na qual ele diz que o PT virou um partido “fisiológico” Ailton de Freitas/24-2-2010

Antero de Quental (Leblon), Nossa Senhora da Paz (Ipanema) e Jardim de Alah serão interditadas para a construção simultânea das estações subterrâneas. RIO, página 26

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Pastor evangélico e cardeal Lojas dão desconto para quem Vitória hoje sobre Avaí dá ao Vasco a liderança provisória ganham passaporte diplomático antecipar compras de Natal O pastor Romildo Soares, da Igreja Internacional da Graça de Deus, sua mulher e o cardeal Geraldo Majella ganharam pasO PAÍS, página 14 saportes diplomáticos.

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Até o início de dezembro, há promoções com preços até 30% menores, mais prazo de pagamento e distribuição de ECONOMIA, página 36 brindes.

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Candidato socialista já admite Polícia reabre investigação da derrota na Espanha amanhã morte de Natalie Wood em 81 Alfredo Pérez Rubalcaba alertou, numa entrevista ao “El País”, para a possibilidade de a direita conseguir o poder absoluO MUNDO, página 39 to nas urnas. l

Em depoimento na NBC, o capitão do barco onde a atriz estava disse que ela discutiu com o marido, o ator Robert Wagner. Ela teria se afogado acidentalmente. O MUNDO, página 40

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l Enquanto o Flamengo vive sua crise, o Vasco pode dormir líder do Brasileiro se derrotar hoje o Avaí, o lanterna, em CADERNO ESPORTES São Januário.

METRALHADORA GIRATÓRIA. Apesar de estarem acostumadas com o

ARNALDO BLOCH A saga de Caius, o herói que traiu o Botafogo com Narciso SEGUNDO CADERNO • PÁGINA 12

estilo de Ciro Gomes, lideranças políticas ficaram surpresas com a entrevista concedida ao UOL na qual o ex-ministro falou mal de tudo e todos. O presidente do PSDB de Minas, deputado Marcus Pestana, rebateu a afirmação de que o senador Aécio Neves (PSDB-MG) teria um problema, o de ler pouco. “Ele não é um acadêmico nem um técnico, é um político. Tem a habilidade de formar boas equipes. Isso foi um desvio academicista do Ciro. Foi seu lado Mangabeira Unger”, disse ele.

POR DENTRO DO GLOBO

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Novo ciclo do ouro

Brasil está diante de um novo ciclo do ouro e pode, muito em breve, voltar ao rol dos cinco maiores fornecedores do mundo. Por todo o país, os estudos de viabilidade de exploração vão se disseminando e, a um só passo, minas brotam em novas fronteiras e aquelas que já haviam sido esgotadas começam a ser reabilitadas. Esta nova corrida do ouro será mostrada em uma série de reportagens que a editoria de Economia publica a partir de amanhã. Para ver como as novas tecnologias garantem maior produtividade, além da promessa de segurança no trabalho e proteção ao ambiente, a repórter V IVIAN O SWALD e o fotógrafo A NDRÉ C OELHO , da sucursal de Brasília, desceram a 250 metros de profundidade na mina de Serra Grande, em Crixás, no Norte de Goiás. Porém, a alguns quilômetros dali, viram também que as minas ilegais persistem e são o meio de subsistência de trabalhadores que não sabem fazer outra coisa. — As diferenças são abissais. Assim é o Bra-

AUTOCRÍTICA l

sil. Se, por um lado, as grandes empresas impuseram um ritmo na produção capaz de revitalizar o setor, os garimpeiros que trabalham nas minas ilegais ainda vivem os mesmos problemas de sempre. Muitos morrem por falta de segurança, alcoolismo ou violência. Descer na mina de Serra Grande nos exigiu um aparato de segurança como nunca vi. Mas ainda assim é incômodo. O barulho é incessante, o ar é pesado, e, apesar de todas as garantias que recebemos, dá medo — conta Vivian. Já na mina ilegal, trabalhadores dobram seus turnos para tentar extrair dali um pouco mais do que a subsistência. — É lógico que você fica empolgado como fotógrafo. Assim que soubemos da mina ilegal, parei tudo o que estava fazendo para descer. É raro ter acesso a um lugar destes e é uma oportunidade de ver como os garimpeiros trabalham. A primeira coisa que sente é a total falta de estrutura. É um ambiente muito insalubre. Você vê que eles estão trabalhando não para enriquecer, mas para sobreviver — diz André. André Coelho

Na página 2 de ontem:

“Barraco trabalhista.” “A família Brizola não perdoa Vieira, que em 2004 era presidente da Assembleia...” Erro de regência. Certo: “A família Brizola não perdoa a Vieira, que em 2004 era presidente da Assembleia...” P. 20: “Brasil vai à guerra.” “Afinal, este ano, o time de Mano Menezes jogou em cada buraco do mapa-múndi que eu vou te contar.” Incoerência no uso da palavra (“mapa-múndi” é o mapa, e não o mundo...) Certo: “Afinal, este ano, o time de Mano Menezes jogou em cada buraco do mundo que eu vou te contar.” P. 20: “Viva Ruth!” “Abrirá a exposição ‘A sacerdotiza da dramaturgia’, no Salão...” Erro de grafia. Certo: “Abrirá a exposição ‘A sacerdotisa da dramaturgia’, no Salão...” Na

primeira página do Segundo Caderno: “O lobo não era só

André e Vivian na mina de ouro de Serra Grande, em Crixás, no Norte de Goiás: equipe desceu a profundidade de 250 metros

mau.” “...como adolescente um tanto tola, casta — embora ela tivesse deixado de sê-la com ele...” Erro no gênero do demonstrativo (esse pronome “o” depois do infinitivo “ser” equivale a “ser casta”, ou seja, “ser isso”: sempre “o”). Certo: “...como adolescente um tanto tola, casta — embora ela tivesse deixado de sê-lo com ele...” (Resumo da crítica interna coordenada pelo jornalista Aluizio Maranhão, distribuída todos os dias na Redação do GLOBO)

Ironia

Nova frente

l De um membro da Executiva do PSB, sobre a entrevista de Ciro Gomes, na qual ele diz que o próprio partido tem “uma direção de capitania hereditária”: “O Ciro saiu da política para virar o ombudsman do quadro político nacional”.

O Brasil formalizou esta semana relação sistemática, que prevê intensificação do comércio, com os 10 países da Asean (Sudeste Asiático). O ministro Antonio Patriota (Relações Exteriores) foi a Bali se reunir com os chanceleres da região. l

Sobre a reforma ministerial l O governador Jaques Wagner (BA) está em campanha para manter a ministra Luiza Bairros (Igualdade Racial) no cargo. Ele aproveitou a visita da presidente Dilma a Salvador para falar sobre a fritura que Luiza tem enfrentado. Dilma teria dito que não pretende extinguir a Secretaria de Promoção da Igualdade Racial, com status de ministério, até porque repercutiria muito mal no movimento negro, e teria elogiado a ministra.

SP x MG

Por outro lado

Comitivas técnicas dos governos de São Paulo e de Minas Gerais estão em Taiwan. Foram convocadas pela Foxconn para a última rodada de negociação antes de anunciar em qual estado será instalada sua nova fábrica no Brasil. l

O deputado Vieira da Cunha (PDT-RS) reage ao veto de Brizola Neto (PDT-RJ): “No episódio da crise no Ministério do Trabalho, Brizola e eu defendemos a mesma posição. Considero inoportuno e constrangedor falar na sucessão do Lupi.”

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nnnnnn

ESCOLHIDA. O único nome já escolhido para a Comissão da Verdade é Clarice Herzog, mulher do jornalista Vladimir Herzog, morto sob tortura. l

l GAFE. Relator da Comissão da Verdade no Senado, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) não foi convidado para a sanção da lei pela presidente Dilma. l INTOCÁVEIS. Um integrante do governo explica as dificuldades da presidente Dilma para escolher os membros da Comissão da Verdade: “É mais difícil do que escolher ministro, porque ela não vai poder demitir depois”.

ILIMAR FRANCO

com Fernanda Krakovics, sucursais e

O GLOBO NA INTERNET

correspondentes

oglobo.com.br

E-mail para esta coluna: panoramapolitico@oglobo.com.br

a Leia a íntegra da coluna


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ECONOMIA

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PÁGINA 29 - Edição: 20/11/2011 - Impresso: 19/11/2011 — 02: 24 h

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Domingo, 20 de novembro de 2011

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O ELDORADO DO SÉCULO XXI André Coelho

MINA DE Serra Grande, em Crixás, em Goiás: exploração em áreas antes inviáveis

Novo ciclo do ouro

Com tecnologia e metal caro, produção do país vai dobrar, atraindo investimentos de US$ 2,4 bi Em Crixás, no Norte de Goiás, a Mineração Serra Grande, uma jointvivian.oswald@bsb.oglobo.com.br venture da AngloGold Ashanti, da Enviada especial • RANKING MUNDIAL África do Sul, com a Kinross Gold CRIXÁS (GO) e BRASÍLIA (Em to toneladas - 2010) Corporation, do Canadá, já trabalha 1º China a 700 metros, com túneis que, souatro séculos depois do cimados, chegam a 60 quilômetros de clo do ouro que encheu os 341 extensão. A ambição da empresa, olhos da Coroa Portuguesa e 2º Austrália que detém as minas mais profundas levou brasileiros e estran259 do Brasil, ambas em Minas Gerais geiros atrás do enriqueci(Mina Cuiabá, em Sabará, com 1.000 mento rápido, o Brasil está diante da 3º EUA metros, e Mina Grande, em Nova maior corrida de todos os tempos 240 Lima, com 2.500), pode ser medida pelo metal. Novos equipamentos so4º África do Sul pelos seus planos de investimentos. fisticados já permitem às gigantes 192 O diretor de Operações da emestrangeiras que dominam o merpresa, Ricardo de Assis, afirma que cado nacional chegar ao que poderia 13º BRASIL 13 O país vai dobrar produção US$ 1,1 bilhão será ser chamado de “o prénos próximos anos 62 aplicado em novos sal da mineração”. No Centro-Oeste e no NorA cotação do ouro Existem no país 2.819 projetos, ampliações e Histórico da produção de ouro no país (em quilos) manutenção das mite, minas até então inProdução industrial Garimpo TOTAL subiu 540% na última garimpos legais em nas que operam no tocadas tornaram-se 2009 52.525 (93,7%) 3.537 (6,3%) 56.062 país. A Anglo é a seeconomicamente viádécada. Devido à atividade. Mas já 2008 46.065 8.600 54.665 gunda maior produtoveis, assim como ou2005 32.803 (79,4%) 8.351 (20,3%) ra do Brasil e a tertras consideradas es41.154 crise econômica foram concedidas ceira do mundo. gotadas em Minas Ge2004 28.508 19.088 47.596 mundial, a demanda 1.270 novas Não muito distante rais e no Nordeste. 2000 42.025 8.368 50.393 de Crixás, em Paracatu, Tudo isso graças ao 1990 30.098 (29,5%) 71.815 (70,5%) 101.913 cresceu por ser um autorizações de está a maior mina de aumento, em todo o 1980 4.088 9.664 13.752 planeta, da demanda 1970 5.830 370 6.200 dos ativos mais pesquisa em áreas a ouro a céu aberto do país, explorada pela capelo ouro — cuja co1960 4.625 – 4.625 confiáveis serem exploradas nadense Kinross. Para tação deu um salto de Fontes: DNPM e consultoria GFMS chegar ao metal, a em540% na última década presa precisou investir — estimulada pelo contrado em profundidades de até toneladas do metal puro. A quan- na tecnologia que a permite retirar a crescimento econômico mundial, so- jetos em análise se concretizarem. Existem hoje no país 2.819 ga- quatro mil metros na África do Sul, tidade foi calculada com base em 1,3 quantidade de 0,4 grama do mineral bretudo da China, e pela necessidade dos países de acumular o metal, que rimpos legais em atividade. Mas o mas já está em 2.500 metros no bilhão de toneladas de rochas com o de uma tonelada de pedra. Nos úlé considerado um dos ativos finan- Departamento Nacional de Produção Brasil. Máquinas sofisticadas são minério, com teor médio de 2,57 timos cinco anos, segundo o vicepresidente da companhia no Brasil, Mineral (DNPM) já concedeu 1.270 capazes de extrair menos de um gramas por tonelada rochosa. ceiros mais confiáveis do mundo. Antonio Carlos Marinho, a produção novas autorizações de pesquisa em grama de ouro de uma pedra de uma saltou de cinco para 15 toneladas. áreas a serem exploradas, e analisa tonelada, ou seja, algo equivalente a Na Mina de São Francisco, no Rio outros 1.173 pedidos encaminhados um automóvel de passeio. Grande do Norte, a australiana Crupor empresas e cooperativas. Isso explica o motivo de o Brasil, sader está concluindo as pesquisas Se a crise financeira global de 2008 que já foi o maior produtor do mundo, iniciadas há um ano e pretende proimpôs um ritmo bem menos acelerado mas perdeu posições no passado rel O entusiasmo é tanto que o Insàs economias desenvolvidas, o que, cente, ter voltado ao páreo e estar em l A expectativa do governo e de duzir de três a cinco toneladas por tituto Brasileiro de Mineração em tese, diminuiria a demanda pelo 13 o- lugar na lista dos grandes globais. especialistas é que justamente a ano neste lugar onde poucos viram (Ibram) já estima investimentos de ouro, ela acabou por ajudar a des- Em 2010, produziu 62 toneladas nos tecnologia deverá mudar este qua- potencial no passado. A expectativa US$ 2,4 bilhões para o setor até 2015. valorizar o dólar e pressionar os pre- garimpos legais, o maior volume da dro e alçar o Brasil ao topo da lista é que o teor do ouro seja de 1,5 grama Trata-se de praticamente o triplo da ços do metal, considerado historica- década, e se prepara para dobrar a novamente. Em vez dos tradicionais para cada tonelada, segundo o resprojeção anterior, de pouco mais de mente porto seguro pelos investidores. marca. O maior produtor do mundo é garimpos artesanais que enchiam ponsável pelas pesquisas, Rob SmakUS$ 900 milhões. As empresas não Os bancos centrais mundiais nunca a China, com 341 toneladas/ano, se- de mercúrio os rios brasileiros, o man, que vive no Brasil há alguns disfarçam o otimismo e prometem compraram tanto ouro para manter guida por Austrália (259 toneladas), país já tem 93,7% da sua produção anos com a família e tem liderado os novos projetos, enquanto as auto- em suas reservas internacionais desde Estados Unidos (240 toneladas) e feita de maneira industrial, segundo trabalhos da empresa no país. o DNPM. O minério de ferro continua — É uma região pouco explorada ridades estimam que a produção do a década de 80. A escalada dos preços África do Sul (192 toneladas). A produção brasileira é muito pe- sendo a principal vedete da balança — disse Smakman. n ouro também deve crescer de ma- viabilizou novos investimentos milioquena, apenas 12% de seu potencial. comercial brasileira e corresponde neira expressiva, podendo dobrar nários em pesquisas e tecnologia. l SEGURANÇA É UMA No passado, o ouro brotava da Considerando-se as reservas pro- a mais de 80% do que o país vende lá nos próximos cinco anos. Só no Rio PREOCUPAÇÃO DE GRANDES E Grande Norte, sairá de 60 gramas terra, ou dos rios, e retirá-lo não vadas em 2010, o Brasil tem a ca- fora, mas o segundo metal é o ouro, PEQUENOS, na página 30 para seis toneladas se todos os pro- exigia muito esforço. Hoje ele é en- pacidade de extração anual de 503 com quase 5% do total. Vivian Oswald

A PRODUÇÃO NACIONAL E NO MUNDO

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Metal é encontrado a 2.500m no Brasil

Tecnologia pode levar país ao topo


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PÁGINA 30 - Edição: 22/11/2011 - Impresso: 21/11/2011 — 21: 42 h

ECONOMIA

Terça-feira, 22 de novembro de 2011

O GLOBO

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O ELDORADO DO SÉCULO XXI

Tecnologia dá toque feminino à extração de ouro Com maior segurança na exploração do minério, mulheres já são maioria em vários setores da cadeia produtiva André Coelho

Vivian Oswald vivian.oswald@bsb.oglobo.com.br

BRASÍLIA. As transformações evidentes por que passou o mercado do ouro no Brasil — com a chegada de tecnologia de ponta e a retomada de investimentos que somam US$ 2,4 bilhões — mudaram a cara da mão de obra que está por trás dos novos garimpos industriais. Apesar de todos os riscos de acidente — e os mineiros do Chile presos por meses no subsolo de uma mina são prova disso — a atividade se tornou mais segura. Nas grandes empresas, além da parafernália de segurança, como caminhões gigantes movidos por controle remoto, há ainda acompanhamento psicológico. A mudança é tão clara no ambiente de trabalho que as mulheres passaram a ser numerosas na profissão. Na maior mina a céu aberto do país, e a principal em produção, em Paracatu, interior de Minas Gerais, as mulheres dominam diversos setores da exploração, segundo o presidente da mineradora canadense Kinross no Brasil, Antonio Carlos Marinho. Segundo ele, as mulheres são extremamente cuidadosas e estão mais preocupadas com os perigos, característica que considera importante.

Renovação não chegou à extração artesanal

‘Não me sinto discriminada por ser mulher’ Marta Regina da Silva, de 36 anos, opera um caminhão “fora de estrada” da Kinross, com capacidade de carregar 240 toneladas de minério até o britador. É uma das primeiras motoristas deste tipo de veículo na empresa, que só começou a contratar mulheres para a função em 2009. — Não havia mulheres lá até

Improviso torna trabalho arriscado CRIXÁS (GO) e BRASÍLIA. Se a corrida pelo ouro do século XXI trouxe tecnologia nova para os garimpos e maior produtividade para a indústria, as mudanças ainda não foram suficientes para apagar do mapa as mazelas da atividade artesanal e ilegal. São comuns os garimpos onde as condições de trabalho permanecem as mesmas de dois séculos atrás. A exploração de ouro nas minas remanescentes do passado abastado do vilarejo de Lavra — a poucos quilômetros de Crixás, no interior do Goiás — é perigosa. Mas ainda é a única fonte de subsistência de 40 famílias. Os garimpeiros descem pela engenhoca que os leva ao fundo da mina, visivelmente improvisada, carregando apenas um capacete. Não se preocupam com o manuseio de bananas de dinamite no espaço exíguo onde trabalham. Enfiam-se em uma espécie de cinturão de borracha agarrado a um cabo de aço com capacidade para erguer nada menos que 2,5 toneladas. — A primeira, a segunda, a terceira vez dá medo. Depois, a gente desce sorrindo. Vai até bêbo (sic) — diz o garimpeiro José Mendes. Nada que se pareça com o aparato de segurança que a

TRABALHADORES EM mina de ouro, en Crixás, em Goiás: setor discute reforma da legislação do setor

então. Eu sou casada com um funcionário da empresa. Não me sinto discriminada por ser mulher. Sempre houve respeito — lembra esta mãe de dois filhos, que, mesmo trabalhando no interior de uma mina, não abandonou a maquiagem e a escova de cabelo na bolsa. Em 2009, na Kinross havia 42 mulheres trabalhando na mina. Esse número subiu para 60 no ano passado e já estava em 142 em setembro deste ano. Quem trabalha no garimpo tem condições especiais em função dos riscos, como o direito à aposentadoria em 15 anos e adicionais ao salário. Diante das melhorias das condições de segurança promovidas, já se discutem mudanças na legislação. Segundo o coordenador da Comissão Jurídica do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram),

Guilherme Simões, a entidade apresentará propostas para adequar o mercado de trabalho à nova realidade. A ideia é reduzir a idade mínima para quem trabalha em minas subterrâneas, hoje de 21 anos, e elevar a máxima, de 50 anos. — A legislação atual é de 1978. Houve avanços consideráveis e as pessoas podem ficar mais tempo na profissão. É muito complicado você precisar se desfazer de um funcionário de

O ELDORADO DO SÉCULO XXI 20/11: Nova corrida do ouro atrai para o Brasil investimentos de US$ 2,4 bilhões ● 21/11: O Centro-Oeste é a nova fronteira do ouro ● AMANHÃ: A valorização do ouro no mercado ●

50 anos, que está no auge da sua experiência — disse Simões, ressalvando que a flexibilidade depende do cumprimento das regras de segurança. Para o coordenador Nacional de Combate às Fraudes Trabalhistas do Ministério Público do Trabalho, José de Lima Ramos, o setor de mineração deve ser acompanhado com lupa. Para ele, flexibilizar a legislação é complexo num setor tão desigual. Segundo ele, um dos problemas é a prática de terceirização de funcionários para trabalhar nas minas, o que é proibido. — Temos interesse em legalizar os trabalhadores. Queremos garantir a aposentadoria dos garimpeiros — disse o presidente da Cooperativa de Mineração, Desenvolvimento Social e Agromineral dos Garimpeiros de Serra Pelada, Raimundo Benigno. ■

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AngloGold exige dos seus funcionários quando entram na mina. Eles são obrigados a deixar seus crachás em escaninhos enquanto estão lá embaixo. A ideia é saber quem desceu e garantir que estejam usando os instrumentos de segurança obrigatórios. Só recuperam o crachá após devolverem os equipamentos. Ao longo dos 65 quilômetros de pistas da mina há várias saídas de emergência e telefones para a comunicação com o exterior. Também há tubulações para o resfriamento do ar das minas. Quem atua em áreas sujeitas a desabamento usa a escavadeira movida à distância, por controle remoto. Já em Lavra, o ar é pesado. A umidade se mistura ao calor e à poeira que emana do trabalho das perfuratrizes nas espessas paredes de quartzo. Homens trabalham ali por horas a fio e mal enxergam algo além dos seus próprios pés. Quando a poeira se dissipa, é possível ver bananas de dinamite espalhadas pela mina, cuja altura não passa de dois metros. Risco de desabamento e intoxicação por poeira são algumas das ameaças na vida desses garimpeiros. (Vivian Oswald e André Coelho, enviados especiais)


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ECONOMIA

PRETO/BRANCO

PÁGINA 30 - Edição: 20/11/2011 - Impresso: 19/11/2011 — 02: 24 h

ECONOMIA

Domingo, 20 de novembro de 2011

O GLOBO

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O ELDORADO DO SÉCULO XXI

Segurança é uma preocupação para grandes mineradoras e garimpeiros Medidas incluem vigilância armada 24 horas e proibição do uso de celular

MÍRIAM LEITÃO

Fotos de André Coelho

Vivian Oswald vivian.oswald@bsb.oglobo.com.br

Enviada especial

PANORAMA ECONÔMICO

Lenha na fogueira De 2006 para cá, a dívida das famílias brasileiras cresceu 250%. No mesmo período, a renda subiu 80%. Em 2006, a dívida total era quitada com dois meses e meio de rendimentos. Hoje, o/a chefe de família precisa de cinco meses para pagar tudo o que deve. As famílias não têm percepção do aumento da dívida porque a dilatação dos prazos faz a prestação caber no bolso. ●

O aumento da dívida e da renda foi calculado pelo economista André Gamerman, da Opus Gestão, incluindo todos os rendimentos dos brasileiros, como salários e transferências do governo, e todas as dívidas. A diferença de ritmo fez o endividamento das famílias em relação à renda anual saltar de 21,97% para 41,83%, em pouco mais de cinco anos (vejam gráfico). O percentual é maior porque a estatística do Banco Central não considera as dívidas que não passam pelo sistema financeiro, como os carnês de lojas. Também não entram cheques pré-datados que ficam retidos com os lojistas. O presidente da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas, Roque Pellizzaro Júnior, diz que 70% das vendas do comércio são feitas a prazo, incluindo cartão de crédito, carnês e pré-datados. Nas cidades maiores, é mais comum o uso de cartões. Nas menores, o cheque e o carnê ainda são fortes. O uso de carnês tem crescido: — É uma zona obscura de estatística as vendas com carnês e pré-datados porque as empresas varejistas do Brasil são em sua maioria de capital fechado. Nos últimos seis meses os varejistas estão reclamando que as vendas com carnês estão subindo porque as pessoas já estouraram o limite do cartão. A inadimplência do consumidor permanece baixa, mas tem subido este ano. Em janeiro, era 5,7% das operações. Em setembro, estava em 6,8%. É a maior taxa desde maio de 2010 e acontece no momento em que o desemprego está em 6%. É isso que chama atenção: se no melhor momento a inadimplência sobe, como será se a economia desacelerar ou a inflação comer parte da renda? — Estamos com a pulga atrás da orelha. O Brasil não tem poupança nem nível alto de securitização. Qualquer desarranjo no orçamento vai se transformar em dívida. A coluna que sustenta o processo todo é o mercado de trabalho. Se mexer no nível de emprego, vai ser um caos. Por isso o BC está certo em estimular a economia — acredita Pellizzaro. O BC voltou atrás nas medidas de restrição ao crédito.

CRIXÁS (GO). Em torno da Mineração Serra Grande, no interior de Goiás, as cercas de arame farpado enroladas sobre os alambrados e o forte esquema de segurança para entrada e saída de visitantes — e até mesmo de funcionários — é a prova de que não se trata apenas de uma sensação o clima de neurose instalado na planta da terceira maior mineradora de ouro do Brasil. Há um posto da Polícia Militar no portão de entrada e pontos de observação em torres espalhadas pela empresa. O cenário faz lembrar uma penitenciária de segurança máxima. Ninguém entra com celular ou câmeras fotográficas sem autorização prévia. E, mesmo depois do exaustivo processo de identificação na portaria, só se anda seguindo as marcações pelo chão, sob o risco de levar reprimendas e até mesmo ser expulso do local. Poucos sabem quando sairá o próximo carregamento de ouro da empresa, só quando o helicóptero pousa para buscar a mercadoria — e, em alguns minutos, decola novamente com paradeiro desconhecido. A repórter não teve sequer acesso ao processo de transformação de pedregulhos de mais de uma tonelada em ouro. A paranoia da Mineração Serra Grande — que é uma joint venture entre as gigantes sul-africana AngloGold Ashanti e canadense Kinross, que também operam em outras regiões brasileiras — tem por objetivo evitar que se repitam os dois roubos registrados desde 2005. O último teria sido acionado por um telefonema de celular de dentro da empresa no momento em que o helicóptero estava sendo carregado.

O parcelamento para compra de automóveis voltará a 60 meses, o valor mínimo para o pagamento do cartão de crédito não subirá a 20%. O crescimento do PIB induzido pelo crédito está em ritmo preocupante, segundo o economista José Marcio Camargo: — O que mais preocupa é o crescimento muito rápido do crédito, entre 15% a 20% ao ano. Nada que cresce a uma taxa assim pode estar em equilíbrio. As pessoas se endividam pensando em aumento de renda no futuro, acham que vão ganhar mais e assim poderão pagar mais. Há risco caso a economia esfrie e o desemprego aumente. Não é só a desaceleração que preocupa. A inflação tira renda das famílias e isso significa menos dinheiro para quitar dívidas. A alta dos serviços é um problema: — A inflação tira bastante renda. Quem virou classe C passou a comprar mais serviços, como telefonia, cabeleireiro, TV por assinatura. As pessoas têm muita relutância em cortar o serviço e a renda vai ficando mais apertada — disse Pellizzaro. O prazo para pagamento de dívidas foi dilatado e isso ajuda a parcela a caber no bolso. Em janeiro de 2006, as pessoas físicas tinham que honrar os compromissos em 318 dias, em média. Em setembro deste ano, o prazo havia subido para 584 dias. Por isso, a renda das famílias em um mês comprometida com o pagamento de dívidas está em patamar baixo, 14%. Roque Pellizzaro dá uma boa notícia: o brasileiro, quando alertado, se esforça para sair do atraso: — Entre 60% e 65% das pessoas que vão para o SPC pagam em até 30 dias depois de receber o aviso. O brasileiro é honesto e quer pagar. Quem entra no cadastro não pode fazer novas compras, isso protege o sistema. A dívida dos brasileiros está crescendo mais rapidamente do que a renda. As parcelas cabem no bolso, mas a dívida em relação à renda anual está subindo. É bom lembrar que o acesso ao crédito é recente e o dinheiro brasileiro é caro demais. A boa notícia é que a maioria dos brasileiros quer usar o 13 o- para quitar dívidas.

Funcionários mais qualificados são vigiados A política de segurança é tão estrita que a empresa mantém também sob a guarda de vigilantes durante 24 horas por dia a área onde vivem os funcionários mais qualificados e a sua Casa de Hóspedes. A ideia é evitar a exposição de quem detém informações sigilosas estratégicas, como geólogos e engenheiros, a quartos de hotéis, por exemplo. As regras de segurança e planos de carga e descarga de mercadoria são mantidas em sigilo. Quanto menos as pessoas de fora souberem, menos munição gatunos terão contra a companhia. — Só posso dizer que sai de helicóptero. Até porque a cidade inteira vê a aeronave indo e vindo. Como sai do país, não podemos revelar. Este é um dado estratégico da empresa — disse de um de seus funcionários, que não pode se identificar. Nem todos os funcionários das empresas sabem muito mais informações do que as suas áreas de competência. Alguns têm acesso a áreas a que outros não dispõem. E nunca ninguém está sozinho com o ouro. A 20 km dali, na boca da mina de Lavra, que é explorada por um punhado de garimpeiros, não há qualquer aparato de segurança ou vigias de plantão. Mas fica claro que os trabalhadores tampouco se afastam dali. Por volta das 18h30m, um deles chega ao

TRABALHADORES DA mina de Lavra: garimpeiros chegam a dormir no local para evitar roubo do metal

EM SERRA Grande, esquema de segurança armada por 24 horas

serviço abraçado a um colchão. Vai dormir nas instalações para proteger a área da mina de onde tiram a subsistência. Não são raros os casos de mortes por brigas ou assaltos no garimpo. Não é de hoje o interesse de assaltantes pelo ouro produzido pelas grandes empresas. Se os roubos podem parecer mais fáceis em minas de menor porte,

42 Endividamento das famílias em relação à renda anual (em %) 38 34

Sistema de ventilação especial permite trabalhar a tal profundidade ● CRIXÁS (GO). A sul-africana AngloGold Ashanti se prepara para extrair ouro de uma profundidade de nada menos que 2.500 metros no município de Nova Lima, em Minas Gerais. Ou seja, uma espécie de “pré-sal” da mineração. Esta é a mina mais profunda de que se tem notícia no país e estava fechada há anos por falta de tecnologia capaz de torná-la rentável novamente. Na média, as minas em operação no país têm até mil metros. Um sistema de ventilação sofisticado garante a refrigeração dos túneis de outra mina da empresa, a Cuiabá, em Sabará (MG), atualmente a mais profunda em operação no país, com 1.100 metros de profundidade. Sem o equipamento, que exigiu a instalação de uma planta especial ao lado do campo de exploração, dificilmente os funcionários da mineradora teriam condições de se manter trabalhando ali por tanto tempo. O ritmo das máquinas dentro dos túneis é incessante. Equipamentos gigantescos se movem pelas pistas largas como se estivessem ao nível do mar. Ao longo de todo o trajeto, o ar é refrigerado e equipamentos de segurança e comunicação se espalham pelos buracos, que são entrecortados por rotas de saída. Toda esta estrutura também exige tecnologia especial. Em Riacho dos Machados e Porteirinha, no Norte de Minas Gerais, a canadense Carpathian

26 22 2006

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2008

oglobo.globo.com/economia/miriam e-mail: miriamleitao@oglobo.com.br

COM ALVARO GRIBEL

2009

2010

2011

Fonte: Banco Central

aguarda a licença ambiental que a autorizará buscar ouro em mina que já havia sido explorada e encerrada pela Vale, de 1990 a 1997. A empresa estrangeira adquiriu os direitos de exploração na região em 2008 e deve gastar US$ 160 milhões para implantar fábrica. A ideia é usar uma nova tecnologia de beneficiamento do mineral que permita ir além das camadas superficiais atingidas no passado pela Vale. O fim da operação em Riacho dos Machados coincidiu com a privatização da empresa e com preços pouco atraentes do ouro. A partir de 2013, terão início novos projetos em Serra Pelada, que ficou conhecida nos anos 80 pelos formigueiros humanos que atraía para o garimpo, que no auge da produção reuniu cerca de 130 mil trabalhadores. O projeto é da Serra Pelada Companhia de Desenvolvimento Mineral (SPCDM), parceria entre a Coomigasp e a canadense Colossus. O investimento é de R$ 320 milhões até o início da produção, em 2013. Em outra iniciativa na região, três sindicatos e associações de trabalhadores se uniram à chinesa Shanghai Pengxin. O grupo está em fase de pesquisas, mas espera produzir em breve, segundo o presidente da Cooperativa de Mineração, Desenvolvimento Social e Agromineral dos Garimpeiros de Serra Pelada (Cooperserra), Raimundo Benigno. (Vivian Oswald)

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O GLOBO UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO CLEMENTINO FRAGA FILHO SERVIÇO DE LICITAÇÃO E CONTRATOS Rua Prof. Rodolpho Paulo Rocco nº 255 - UFRJ - Ilha do Fundão - Rio de Janeiro/RJ Tel.: 2562-2206 Fax: 2562-2570 E-mail: efigenia@hucff.ufrj.br

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Pequenas remessas para evitar acúmulo do metal Por isso, em algumas, parte da estratégia é mandar várias pequenas remessas para fora

Quase um pré-sal

Editoria de Arte

Mais dívidas no bolso

exploradas por garimpeiros, as companhias maiores continuam sendo alvos de criminosos, dadas a quantidade que produzem e sua organização.

das plantas e assim evitar o acúmulo de muita quantidade no local, em geral mais isolado e desprotegido do que nos centro urbanos. No último dia 9, uma tentativa de roubo fracassada foi feita na mina de ouro Aurizona, no Maranhão. Homens armados tomaram como reféns os funcionários de um povoado próximo e tentaram forçar a entrada nas instalações de armazenamento do metal da companhia Luna Gold, localizada na mina. Ao final, todos os reféns foram libertados ilesos. Os indivíduos não tiveram sucesso na tentativa de assalto e nenhum ouro foi roubado. Em nota, a empresa afirmou que a produção havia continuado em Aurizona, sem interrupção, mas com alguns danos às instalações de armazenamento de ouro. A Luna Gold disse ainda que as políticas e procedimentos implementados após um roubo em dezembro de 2010 impediram a perda de ouro na última. ■

Comunicamos a contratação emergencial para Execução de obras com elaboração de Projeto Executivo nos seguintes locais: Reforma das Enfermarias 5º, 9º, 10º e 11º andares; Reforma da Emergência, Admissão e Alta e Triagem; Complementação Instalação Circuito Emergencial da Unidade de Ressonância magnética; Instalação de Nova Rede de Gases medicinais; Reforma do Serviço de Radiodiagnóstico. A Visita Técnica estará aberta entre os dias 21 a 23/11/2011, de 09:00h as 15:00h, devendo as propostas e documentação serem entregues entre os dias 24 a 28/11/2011, no Serviço de Licitações. Para visita ligar 2562-2757 ou 2562-2754. Rio de Janeiro, 20 de novembro de 2011 Maria Efigênia Henriques Moutinho Chefe da SLC

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VÍDEO E FOTOGALERIA: Imagens do passado e dos dias atuais da corrida do ouro no Brasil VÍDEO: Por dentro do Parque Tecnológico do Fundão, que será ampliado em 2012 VÍDEO: Aumento do consumo preocupa Juizados Especiais Cíveis, diz juiz Flávio Citro à Defesa do Consumidor

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O GLOBO

ECONOMIA

PÁGINA 31 - Edição: 20/11/2011 - Impresso: 19/11/2011 — 02: 25 h

Domingo, 20 de novembro de 2011

O GLOBO

PRETO/BRANCO

ECONOMIA

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O ELDORADO DO SÉCULO XXI

Passada a febre do ouro, Lavra vive hoje no abandono

André Coelho

Exploração artesanal persiste, apesar do esvaziamento do vilarejo Vivian Oswald vivian.oswald@bsb.oglobo.com.br

Enviada especial CRIXÁS (GO). A existência de ouro determinou, desde sempre, o destino do vilarejo de Lavra, a 15 quilômetros de Crixás, no interior de Goiás. Dos 30 mil habitantes, que fizeram deste pequeno distrito que se organizou em torno das minas um dos mais movimentados da região, não restam mais de cem pessoas. Lavra foi sinônimo de riqueza, diversão e prosperidade entre as décadas de 80 e 90. Da bonança de 20 anos atrás, sobraram as carcaças de antigas casas e suas paredes prestes a desabar, testemunhas da decadência desencadeada pelo esgotamento da forma antiga de exploração desse metal nobre. Uma das primeiras moradoras do que hoje é considerado apenas um bairro pobre de Crixás, dona Maria Pereira assistiu às profundas transformações por que passou o lugar que escolheu para viver há 23 anos. Sua casa era o antigo cinema do vilarejo. De seu terraço, aponta para o que foi um animado bingo onde os garimpeiros endinheirados perdiam boa parte do que ganhavam, quando não gastavam com mulheres e bebidas. — Eram tantos carros nesta estrada que o trânsito era impossível. A poeirada, nem se fala. Não se via o outro lado da

rua — lembra dona Maria, aos recém-completados 63 anos. O comércio hoje se resume a um mercadinho e ao bar onde os homens se reúnem para a cerveja e o bilhar depois do trabalho. As ruas parecem desertas, e as poucas pessoas que se vê circulando são os garimpeiros. O movimento é incessante nos poucos túneis remanescentes na mina no fim da avenida principal. Ali, dezenas de homens lutam pela sobrevivência. Eles ainda procuram o ouro que tantas promessas deixou no ar no passado e desenvolveu o vilarejo de Lavra. A exploração artesanal deixa evidentes os riscos da profissão. — Uma vez um diretor de uma grande empresa nos disse que estamos 500 anos atrasados — afirmou José Elias, presidente da Associação de Moradores de Lavra. Produtos químicos são despejados na terra Elias também é secretário da cooperativa formada pelas 42 famílias que ainda tentam se sustentar do pouco ouro que conseguem retirar do fundo desses túneis lúgubres, em condições de trabalho às quais dificilmente alguém se submeteria. Nas redondezas, a mata vai desaparecendo e a terra ainda úmida é tomada por uma cor esbranquiçada. Quem vê, não titubeia: — São os químicos que eles usam na produção do ouro. ■

OURO LAVRADO ATÉ HOJE NO MUNDO

168.300 toneladas

84.100

TOTAL:

em reservas dos países

em joias

31.400

em investimentos de fundos privados

29.000 20.200

em outras aplicações

3.600 não contabilizadas

Histórico da produção mundial (em toneladas) 1600-1700 Brasil Demais países TOTAL 539

1701-1800

Brasil Demais países TOTAL 1.421

1801-1900 Brasil Demais países

TOTAL

19 520

838 583

226 6.614 6.840

Fontes: DNPM e consultoria GFMS

O ELDORADO DO SÉCULO XXI AMANHÃ: As novas fronteiras de exploração de ouro em projetos de gigantes estrangeiras no interior do Brasil.

Royalties: estados e municípios ficam com 88% Governo quer elevar alíquotas da mineração. Produtores de petróleo podem reagir ● BRASÍLIA. A exemplo do ouro, a exploração mineral no Brasil tem crescido exponencialmente e aguçado a cobiça de estados e municípios pela arrecadação dos royalties sobre a atividade, chamados de Contribuição Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (Cfem). Hoje estados e municípios produtores ficam com 88% dos royalties. O governo planeja elevar as atuais alíquotas cobradas, que variam de 0,2% a 3% sobre o lucro líquido das empresas, no âmbito do novo marco regulatório da mineração. Mas projetos no Congresso já se antecipam, com o objetivo de arrancar o máximo de receitas, que devem crescer de 10% a 15% ao ano no próximo triênio. As discussões sobre a nova legislação, que deve ser enviada ainda este ano à apreciação dos parlamentares, serão aquecidas ainda pela polêmica queda de braço entre estados e municípios em torno dos royalties do petróleo — na qual o Rio, que representa mais de 80% da extração em alto-mar no país, está sofrendo um ataque a sua arrecadação. Os estados produtores de petróleo já prometeram avançar sobre os royalties da mineração e devem ter o apoio de outras unidades da Federação. — Tecnicamente, são até situações diferentes. Mas não politicamente — afirmou ao GLOBO um técnico do Executivo. Com a explosão do setor, a Cfem deve arrecadar este ano o recorde histórico de R$ 1,3 bilhão — 299% acima dos R$ 326 milhões de 2004. O valor deve ser ainda maior nos próximos três anos, e não só porque o governo vai mexer nas alíquotas. Está em discussão, por exemplo, o aumento da Cfem do ouro

de 1% para 3%, com alíquotas diferenciadas para o mineral que vem do garimpo e o das grandes empresas. Mas porque o novo marco conterá facilidades para agilizar investimentos. Hoje, a União fica com apenas 12% dos royalties da mineração. Desse total, 9,8% ficam com o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM); 2%, com o Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT); e 0,2%, com o Ibama. Os municípios produtores são os que mais recebem: 65%. Já os estados produtores ficam com 23%. Do total pago pelas empresas a título de royalties, 48% ficam somente com Minas Gerais. Pará recebe 28%; Goiás, 5%; São Paulo, 4%; Bahia, 2,7%; Mato Grosso do Sul, 1,8%; e Sergipe, 1,7%. Os restantes 8% vão para os outros estados produtores. De olho no futuro promissor da mineração, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) já encaminhou ao Senado projeto de lei que prevê alíquota de até 5% para a Cfem, que seria recolhida em cima do faturamento bruto das empresas. Ele também cria “participação especial” de 2,5% sobre as jazidas mais lucrativas, nos moldes da taxa extra cobrada na exploração do petróleo. Aécio defende as mudanças como forma de “corrigir injustiça histórica, sobretudo em relação aos municípios e estados mineradores, assegurando maior compensação pela exploração dos recursos minerais”. Ele alega, por exemplo, que os royalties do petróleo são hoje de 10% — no novo regime de partilha, deverá ser de 15%. A proposta prevê que 8% dos royalties minerais sejam divididos pelos municípios do estado arrecadador, independentemente de produzirem ou não minério. (Vivian Oswald)

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Do ouro enviado a Portugal à Serra Pelada

O metal em números (Onde está o estoque, em toneladas)

MARIA PEREIRA vive em Lavra há 23 anos, onde teve um cinema: “Eram tantos carros que o trânsito era impossível. A poeirada, nem se fala”

Primeiros registros de existência do metal no país datam de 1552. Escravos eram os trabalhadores das minas ●

Marc Ferrez / Fundação Biblioteca Nacional

CRIXÁS (GO). As primeiras notícias sobre a

existência de ouro no Brasil, que sempre atraiu a atenção dos estrangeiros, datam de 1552. Mas são do fim do século XVII as descobertas mais importantes que alçaram o país à posição de maior produtor do mundo. Entre 1700 e 1820, produziu-se um mínimo de 535 toneladas de ouro, das quais 107 toneladas foram repassadas à coroa portuguesa (imposto do quinto) ou seja, uma média de cerca de 892 quilos por ano. A exploração de minas dependia de pesados investimentos em mão de obra (escravos africanos), equipamentos e compra de terrenos, o que só os latifundiários e grandes comerciantes eram capazes de fazer. Além do quinto, cobrado pelas Casas de Fundição (órgão do governo português), que derretia o ouro transformando-o em barras (com o selo da coroa) e retirava os 20% para serem enviados para Portugal, havia a cobrança de cada região aurífera de cerca de mil quilos anuais de ouro. O não pagamento implicava na execução da derrama. Soldados entravam nas residências e confiscavam bens dos moradores até chegar ao valor devido. Foi a exploração do ouro que desenvolveu a Região Sudeste, quando o Nordeste entrou em crise e fez a coroa portuguesa mudar a capital da colônia de Salvador para o Rio de Janeiro, próxima do novo polo de desenvolvimento econômico (Vila Rica, hoje Ouro Preto, Mariana, Tiradentes e São João Del Rey são algumas delas, em Minas Gerais). Na segunda metade do século XIX, por problemas técnicos ligados à lavra subterrânea e pelo esgotamento das gordas jazidas mais aparentes e de outros depósitos superficiais, a produção entrou em declínio. No entanto, no resto do mundo, crescia a olhos vistos. A estimativa do total de ouro produzido desde as primeiras descobertas no Brasil chega a 2.500 toneladas. A maior produção anual que já foi registrada, de 102 to-

IMAGEM FEITA por Marc Ferrez mostra escravos buscando ouro em Minas Gerais. Foto foi tirada entre 1870 e 1899

neladas, aconteceu no ano de 1989. A atividade garimpeira foi uma força de ocupação também da Região Amazônica. A descoberta de Serra Pelada, em 1980, dá início a um chamado “segundo ciclo do ouro na região”. O primeiro foi na década de 50, na área de Itaituba, no Pará. Em 1983, os cinco hectares de Serra Pelada bateram a produção recorde de 13,9 toneladas, usada pelo país para pagar à vista suas importações de petróleo. De 1980 a 1988, Serra Pelada produziu cerca de 40 toneladas de ouro e abrigou nada menos que 80 mil homens. A produção da década de 80 — 650 toneladas — equivale a toda a produção do ciclo de ouro das Minas Gerais (1721-1800) e pôs o Brasil como sexto produtor mundial no início da década de 90. (Vivian Oswald)

Augusto Ridel / Fundação Biblioteca Nacional

FOTO DE Augusto Ridel da entrada da Mina Morro Velho (MG) em 1868


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