EDIFÍCIO DE USO MISTO Habitação coletiva contemporânea no centro de Campinas
Andreia Luiza Bellico Neves
Orientadora: Profa. Dra. Ana Maria Tagliari Florio Arquitetura e Urbanismo TFG 2018 UNICAMP
EDIFÍCIO DE USO MISTO Habitação coletiva contemporânea no centro de Campinas
Andreia Luiza Bellico Neves
Orientadora: Profa. Dra. Ana Maria Tagliari Florio Arquitetura e Urbanismo TFG 2018 UNICAMP
AGRADECIMENTOS Aos meus pais e irmã pelo apoio, paciência, amor e confiança em todas as etapas da minha vida que me fizeram chegar até aqui, compartilho com eles essa conquista. Ao Rodrigo por me aguentar nos meus melhores e piores momentos, por todo amor e ajuda, essenciais durante esse ano do TFG. À minha irmã de coração, Keicy, por suas sábias palavras de conforto e por me fazer rir. A todos meus familiares, amigos e psicóloga por sempre acreditarem em mim. À minha orientadora Ana Tagliari por compartilhar seu conhecimento sobre o tema desenvolvido. Dedico, com amor, esse projeto ao meu vô Breno, que não está mais entre nós, mas tenho certeza que se orgulharia de mim.
SUMÁRIO Apresentação Introdução
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1. Contextualização 13 1.1. Transformações urbanas de Campinas 13 1.2. O centro 16 1.2.1. A evolução populacional no centro 16 1.2.2. Produção habitacional na Área Central de Campinas 18 2. Referências Projetuais 21 2.1. Estudos de Caso 21 2.1.1. Estudo de Caso 1: Edifício Copan 21 2.1.2. Estudo de Caso 2: Caen Habitat 26 2.1.3. Estudo de Caso 3: Edifício Catedral 30 2.2. Referências Projetuais 33 2.2.1. Conjunto Nacional 33 2.2.2. Huma Klabin 33 2.2.3. Edifício Cohab Ipiranga 33 2.2.4. High Park 34 2.2.5. Mirador 34 2.2.6. Edifício Esther 35 2.2.7. Shopping West Plaza 35 2.2.8. Praça Capital 35 2.2.9. Edifício Copan (térreo e entorno) 36 2.3. Reflexões sobre os estudos 37
3. O local 39 3.1. Lolcal de estudo 39 3.1.1. Centro Histórico 40 3.1.1.1. Uso e Ocupação do Solo 40 3.1.1.2. Comércio Popular 45 3.1.1.3. Análise socioeconômica 47 3.1.1.4. Fluxos 47 3.2. Levantamento de terrenos possíveis para implantação do projeto 49 3.3. O terreno 52 3.3.1. Legislação - Parâmetros Urbanísticos 3.3.2. Condicionantes físicos 58 3.3.3. Entorno 60 3.3.4. Potencialidades e deficiências 62 4. O projeto 65 4.1. Propostas 65 4.2. Programa de necessidades 4.3. Conceito 68 4.4. Partido 69 4.5. Estudos preliminares 71 4.6. O edifício 76 Referências bibliográficas
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APRESENTAÇÃO
tema deste trabalho, a fim de aproveitar dos potenciais existentes no centro de Campinas, promovendo uma maior apropriação de seu espaço público, proporcionando a todos o direito à cidade, com segurança, infraestrutura e mobilidade.
A ideia de se desenvolver o tema deste trabalho surgiu a partir da minha vivência e experiência em duas cidades nas quais suas regiões centrais diferem entre si. Estas cidades são Poços de Caldas, no sul de Minas Gerais, onde morei durante 18 anos, e Campinas, no estado de São Paulo, onde vivo há 7 anos. É relevante ressaltar que as minhas observações não vão considerar o porte das cidades, mas sim as peculiaridades que compõem seus espaços centrais. O centro de Poços de Caldas é caracterizado pela presença dos mais diversos tipos de usos, como residencial, comercial, de serviços e institucional. Mesmo após a abertura de um shopping center, em uma região periférica em 2005, o centro manteve suas características e potencialidades. A paisagem do centro é configurada por gabarito predominantemente baixo, bem arborizada, com calçadas generosas, vias largas e iluminação pública de qualidade. Além disso, há grande oferta habitacional, de espaços de vivência e estabelecimentos que promovem o uso não apenas no período diurno, mas também no período noturno e aos fins de semana. Sendo assim, o centro da cidade de Poços de Caldas é convidativo e estruturado de forma a privilegiar o convívio dos moradores dessa região e das demais pessoas que usufruem do centro. Ao ter contato com o centro de Campinas, pude notar, a partir de um olhar curioso de estudante de arquitetura e urbanismo, uma realidade contrastante em relação à minha cidade natal. Embora seja bastante dinâmico, com grande fluxo de pessoas no período de horário comercial, o centro de Campinas possui características que vão na contramão da proposta do centro de Poços de Caldas, como por exemplo no âmbito habitacional e no uso noturno. Logo, existe uma motivação pessoal para o desenvolvimento do 9
INTRODUÇÃO O presente trabalho teve como motivação o questionamento da produção recente de habitações coletivas na cidade de Campinas, principalmente aquelas implantadas na região central, formada pelo Centro Histórico, Cambuí, Guanabara e Bosque. Estas, em sua maioria, são destinadas às classes média e alta, e não se verifica preocupação com sua relação com o entorno urbano onde estão implantadas, nem com a escala do pedestre. Somado a isso, a presença de moradores de classe baixa em pensões, hotéis populares e cortiços, sobretudo no centro histórico, ressalta a necessidade de morar no centro. No entanto, a oferta habitacional para essa região é incompatível com o poder aquisitivo daqueles que demandam por moradia. Outra verificação é a quantidade de terrenos subutilizados que não cumprem com a função social é significante, como por exemplo, os que abrigam estacionamentos. Tal aspecto é um dos determinantes para a seleção do local de projeto. Nota-se que as premissas estabelecidas na Lei de Uso e Ocupação do Solo de Campinas refletem diretamente na morfologia da cidade e de suas construções. A partir de um olhar crítico, em harmonia com discussões contemporâneas, alguns fatores dessa legislação serão analisados, sobretudo os que favorecem a ação do mercado imobiliário de privatizar o espaço público e as edificações. Essas ações que visam “valorizar” o centro, atreladas às políticas de “revitalização” do espaço público contribuem para o processo de enobrecimento e gentrificação, promovendo a expulsão da população moradora, em sua maioria de baixa renda, de um centro que as pertence. Frente a isso, a proposta deste Trabalho Final de Graduação consiste em usufruir dos atributos e potenciais do centro de Campinas,
através da produção de um edifício de uso misto como objeto principal, que cumpra com sua função social1, assegurando sua relação com a cidade, com o entorno e com as pessoas. O uso misto será constituído de uma habitação coletiva flexível ao modo de habitar contemporâneo, proporcionando moradia digna principalmente àqueles que já habitam no centro, com seu térreo destinado à fruição pública, comércio e serviço. Visa-se incentivar o habitar no centro e contribuir para a construção de um espaço urbano mais humanizado, democrático e socialmente responsável. Para a realização deste projeto, apresentamos neste memorial a pesquisa relacionada, que oferece fundamentação ao projeto. Este memorial está organizado em 4 partes principais, sendo a primeira relativa à fundamentação teórica e contextualização, a segunda apresenta os estudos de caso e projetos referenciais, a terceira traz o levantamento do local e por fim, a quarta parte trata do projeto, desde os registros do processo até sua realização.
______________________ 1 Neste trabalho entendemos função social conforme descrito no Plano Diretor de São Paulo (2015): “(...) a propriedade urbana cumpre sua função social quando seu uso é compatível com a infraestrutura, equipamentos e serviços públicos disponíveis, e simultaneamente colabora para a segurança, bem estar e desenvolvimento dos usuários, vizinhos e, por fim, da população como um todo”. Esta é a condição para efetivar o Direito à Cidade, presente na Constituição Federal de 1988.
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1. CONTEXTUALIZAÇÃO Neste capítulo apresentamos um breve panorama do centro de Campinas, no objetivo de contextualizar o tema para fundamentação do projeto.
1.1. Transformações urbanas de Campinas
A formação de Campinas se inicia no período colonial, na primeira metade do século XVIII, a partir da instalação de pequenas propriedades com atividades agrícolas de subsistência. No fim do século XVIII, essa atividade é substituída pela produção da cana de açúcar, culminando no surgimento de grandes latifúndios e engenhos, e nas primeiras décadas do século XIX, dá-se início ao ciclo do café. A riqueza proveniente de ambas produções agrícolas conferiu à região importância no cenário paulista, atraindo investimentos e novos habitantes, intensificando seu crescimento e desenvolvimento. No final do século XIX, a implantação do sistema ferroviário se torna importante para o escoamento da produção cafeeira de Campinas e região. O crescimento urbano volta-se então em direção a estação ferroviária da cidade, a FEPASA, local onde se instalaram as classes baixas e operária. Ao mesmo tempo, a elite se dirigia em direção ao Cambuí. Constata-se então a primeira segregação socioespacial relacionada à urbanização de Campinas. Neste mesmo momento, o declínio do ciclo do açúcar e o aumento da produção de café fez o número de engenhos reduzir a 44 em 1854. A partir de 1872, as ferrovias das companhias Paulista (FEPASA) e Mogiana induzem o crescimento urbano em sua direção, onde se instalam indústrias manufatureiras e casas para operários. Ao mesmo tempo, a expansão urbana direciona-se para o bairro Cambuí, onde se instalariam, até os anos 1930, as
elites, movimento que traduz o primeiro fenômeno de segregação socioespacial no processo de urbanização de Campinas (CAMPINAS, 2015, p. 24).
No início do século XX, diante do declínio do café, inicia-se a primeira fase da industrialização. Com o desenvolvimento industrial, houve aumento da oferta de empregos, desencadeando o crescimento populacional e a demanda por habitações. As ruas estreitas e o aspecto colonial das edificações não estavam mais compatíveis ao espírito moderno de desenvolvimento e progresso que pretendia a elite campineira (DEZAN, 2007). Em 1938, com o Plano de Melhoramentos Urbanos de Campinas, Prestes Maia começou então a adequar a cidade à “modernidade”, caracterizando a segunda fase da industrialização com a proposta de alargamento de avenidas e ruas, para dar espaço ao transporte automotivo, além do incentivo à verticalização das edificações. Deu-se início então às ações de especulação imobiliária. Reforçando a intenção pela transformação da imagem urbana deste período, em 14 de Dezembro de 1936 é promulgada a Lei nº 496 onde a Câmara Municipal de Campinas autorizou a isenção de impostos prediais pelo período de cinco anos, os prédios com mais de três pavimentos construídos até julho de 1939. Fica claro por esta lei, o incentivo e a importância dada ao processo de verticalização para a cidade de Campinas (DEZAN, 2007, p. 35).
Conforme apresentado na Figura 1, nota-se que até 1940 a evolução da mancha urbana de Campinas se deu a partir uma expansão radiocêntrica que acompanhava o crescimento populacional. Em seguida, começaram a ser incorporadas à malha urbana algumas áreas mais dispersas, possibilitado pelo desenvolvimento da infraestrutura rodoviária, levando as indústrias às margens das rodovias. 13
Figura 1 - Evolução urbana do município de Campinas
A fim de aliviar o tráfego regional, a partir de 1970 foram implantadas novas rodovias. Estas potencializaram o processo de migração e dispersão populacional, causando a descentralização da indústria e o deslocamento de atividades comerciais, de serviços e residenciais para as áreas periféricas da cidade, aumentando os deslocamentos diários. Deu-se início a criação de shoppings centers como subcentros participando no esvaziamento dos centros principais. Somado a isso, a disseminação da cultura de loteamentos fechados ganhou força a partir de 1999, promovendo o isolamento da rua e da vida urbana. O surgimento de novas centralidades reduziu a importância relativa dos centros principais. Como exemplo dessas centralidades podem ser citados os subcentros e os shoppings centers, os últimos começaram a ser tornar comuns a partir da década de 1970. Primeiramente localizados em regiões habitadas e frequentadas pelas camadas de alta renda, no final dos anos 1980 eles passaram a ser construídos também em áreas populares da cidade (GONÇALVES, 2017, p. 44).
Fonte: SEPLAN, 2015 (editado pela autora).
A partir da década de 1960, com a criação de novas indústrias, houve novamente aumento de oferta de empregos e também do número de habitantes, proporcionando então o surgimento de novos loteamentos. Foram incorporadas à malha urbana áreas periféricas e zonas ao norte e ao sul, mesmo que distantes do centro urbano. Devido às características do desenho urbano e do tamanho dos lotes, a população de renda alta se estabeleceu ao norte e também no vetor de expansão leste, enquanto a população de baixa renda se instalou no vetor de expansão sul, que devido à pouca infraestrutura urbana, apresentava preços mais baixos de terra. 14
A expansão de Campinas se deu então de forma dispersa e fragmentada, principalmente devido à presença de eixos rodoviários, potencializando a periferização. As áreas desconexas criadas prejudicaram a mobilidade e dificultaram a implantação de infraestrutura básica para atender todas as regiões urbanizadas, gerando impactos urbanos e sociais. Logo, constituíram-se espaços segregados aos quais foi conferido um baixo valor de terra, destinados à população de baixa renda, acentuando a segregação socioespacial. Tal crescimento desordenado da cidade se estende até os dias de hoje. O intenso processo de periferização experimentado marcou profundamente o perfil da aglomeração, provocando graves consequências urbanas e sociais, como a deterioração do sítio natural e da qualidade do meio ambiente, o desajuste
das redes de infra-estrutura urbana, o agravamento dos problemas sociais da periferia e a constituição de espaços segregados destinados exclusivamente à população de baixa renda (CAMPINAS, 2006, Capítulo IV, p. 106). A intensa dinâmica de crescimento urbano e econômico que o município apresentou gerou como consequência uma mancha urbana desconexa e permeada por vazios urbanos, sujeita por vezes a invasão, por parte daqueles que demandam áreas por moradia. Destaca-se ainda que a falta de continuidade do tecido urbano dificulta a execução de ligações viárias, gerando áreas desarticuladas e, como consequência, o carregamento de determinados sistemas e a penalização da população como um todo (CAMPINAS, 2006, Capítulo IV, p. 106).
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1.2. O centro
1.2.1. A evolução populacional no centro
Figura 3 - Áreas de Planejamento (AP) e Unidades Territoriais Básicas (UTB) da Macrozona 4, com destaque para Área de Planejamento 21 (sem escala)
A Área Central de Campinas, de acordo com a divisão territorial do município, está inseria na Macrozona 4, dentro da Área de Planejamento 21, que compreende os bairros Centro (UTB 34), Cambuí (UTB 31), Bosque (UTB 30) e Guanabara (UTB 35). Essa área representa a porção mais centralizada, mais articulada e mais provida de infraestrutura e equipamentos públicos. Figura 2 - Macrozonas de Campinas, com destaque para Macrozona 4 (sem escala)
Fonte: SEPLAN, 2006 (editado pela autora).
Fonte: SEPLAN, 2015 (editado pela autora).
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Segundo Gonçalves (2017), esta área sofreu mudanças relativas tanto ao número de seus moradores, quanto à transformação do perfil socioeconômico da população residente ao longo das décadas. Destacase as modificações ocorridas entre os anos de 1970 e 2010, que podem ser observados na Tabela 1. Observa-se que a Área Central sofreu uma alternância entre períodos de ganho e de perdas de população. A redução da população entre 1970 e 1980 pode ser associada à migração de parte da população residente para as periferias, embora que grande parte da elite campineira tenha se mantido nas áreas mais consolidadas e centrais. Já entre 1980 e 1991, o aumento populacional pode ser explicado pelo aumento de exigências para implantação de infraestrutura e novos loteamentos. Nessa mesma época, houve o crescimento do processo de popularização de parte do centro histórico. Em 1991 e 2000, a população residente
tornou a reduzir, porém recuperada com o aumento populacional entre 2000 e 2010, que pode ser relacionado a implantação de planos e políticas para revitalizar o centro. Tabela 1 - Evolução da População Residente, segundo os Censos Demográficos IBGE
Essa heterogeneidade na composição da população do centro não impediu a manutenção do preço elevado do solo dessa região. Sendo assim, o solo urbano do centro se torna de interesse do poder público, dos investimentos privados e dos proprietários de imóveis nessa região. Estes agem de forma a promover a imagem de um centro revitalizado, potencializando seu valor econômico com a produção dos empreendimentos voltados às classes altas (com respaldo dos parâmetros estabelecidos na Lei de Uso e Ocupação do Solo de Campinas) e freando assim o processo de popularização desta região. O protagonismo do mercado imobiliário nesse processo é evidente e, infelizmente, ainda com apoio do poder público municipal através de leis urbanísticas e obras de revitalização no centro (GONÇALVES, 2017, p. 180).
Fonte: Gonçalves, 2017. A análise combinada da produção recente de habitação coletiva e dos dados censitários de 2000 e 2010 aponta que não ocorre na Área Central de Campinas o esvaziamento populacional típico nos bairros centrais de muitas metrópoles. Esse cenário conduz à hipótese de que há, ainda, um bom estoque de imóveis e também segurança suficiente nos bairros centrais de Campinas, possibilitando, dessa forma, que o espaço permaneça dinâmico. Houve na verdade, como apontado na análise por setores censitários, um elevado acréscimo populacional na área do centro histórico, com crescimento de 14,92% em um período de 10 anos, revelando a amplitude desse dinamismo (GONÇALVES, 2017, p. 179).
Tal processo pode ser caracterizado como gentrificação. No entanto, neste caso, a gentrificação não acontece de forma compatível ao termo, pois ao invés de atrair a população de alta renda, ela proporciona a permanência dessa classe que sempre habitou o centro. Mesmo com a transformação dos bairros centrais e a crescente construção de empreendimentos habitacionais nos últimos anos pode-se dizer que o processo de gentrificação na Área Central de Campinas não acontece no modo clássico atribuído ao termo; trata-se de uma gentrificação minimizada, no sentido de representar mais a permanência do que a atração de população de elite para esses bairros (GONÇALVES, 2017, p. 180).
Pode-se afirmar então que a Área Central de Campinas é composta por áreas heterogêneas, abrindo tanto a população de baixa renda que vive em situações precárias e do comércio informal, quanto a população de classe média e alta, em locais com boa infraestrutura urbana, comércio e serviços. 17
1.2.2. Produção habitacional na Área Central de Campinas
Figura 4 - Localização dos empreendimentos de Habitação Coletiva aprovados pela Prefeitura Municipal de Campinas entre os anos de 2010 e 2015
De alguma maneira é preciso morar. No campo, na pequena cidade, na metrópole, morar como vestir, alimentar, é uma das necessidades básicas dos indivíduos. Historicamente mudam as características da habitação, no entanto é sempre preciso morar, pois não é possível viver sem ocupar espaço (RODRIGUES, 1990, p. 11).
Gonçalves (2017) promoveu o levantamento de 39 empreendimentos de habitação coletiva na Área Central, aprovados entre 2010 e 2015, a fim de analisar as características da produção recente desses empreendimentos na área de estudo. Essas características refletem o perfil da população que o mercado deseja atrair para essa região. Apenas 5 dentre os 39 empreendimentos analisados estão localizados na UTB 34 – Centro. No entanto, localizam-se às margens do Centro, na divisa com o Cambuí e nas proximidades da Avenida Francisco Glicério, conforme a Figura 4. Esses empreendimentos da UTB 34 possuem características mais modestas que os demais produzidos nos outros bairros da Área Central, com tipologias que variam de 37 a 101m², com 1 ou 2 dormitórios e 1 ou 2 banheiros. Constata-se, porém, que, mesmo sendo caracterizadas como “modestas”, possuem alto valor de mercado, sendo destinados à população de maior renda, inacessível então à população de baixa renda. (...) as novas unidades habitacionais, mesmo as aparentemente mais modestas, possuem valor de mercado inacessível para as classes de mais baixa renda, reforçando uma tendência cada vez mais seletiva (GONÇALVES, 2017, p. 180).
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Fonte: Gonçalves, 2017.
Segundo a Tabela 1, o crescimento populacional que ocorreu na Área Central entre 2000 e 2010 se deu principalmente no Centro e no Guanabara, porém a quantidade de produção habitacional proposta para esses bairros não foi correspondente à demanda. A produção habitacional recente se encontra predominantemente no Cambuí (Figura 4), evidenciando a preferência do mercado por essa
área, em detrimento das áreas onde estão concentradas as habitações coletivas populares, como cortiços e pensões na porção do centro histórico, próximo à Rodoviária de Campinas e à FEPASA. Dessa forma, o bairro do Guanabara e a área chamada pela Prefeitura de Centro crescem em população ainda que a maior parte dos novos empreendimentos de habitação coletiva se situem na região do Cambuí, demonstrando que não existe na área central, nesse momento, uma correspondência entre a oferta de novas moradias e o crescimento da população (GONÇALVES, 2017, p. 121).
um maior distanciamento dos moradores com a rua. Muros e grades promovem o fechamento desses empreendimentos no limite do lote com a calçada. Além disso, em diversos projetos, o térreo e o primeiro pavimento são destinados ao estacionamento de veículos, criando um paredão alinhado ao limite do lote com a calçada. Figura 5 - Imagem de divulgação do empreendimento MaxHaus II mostrando recuo em relação ao limite do lote e sua grande altura (25 pavimentos)
É possível notar que a maior concentração de domicílios coletivos encontra-se nas áreas onde não foram identificados novos empreendimentos habitacionais, principalmente nas proximidades do terminal rodoviário e do pátio ferroviário central. Isso demonstra a preferência do mercado pelas áreas do centro que apresentam melhor infraestrutura e maiores investimentos no espaço público (GONÇALVES, 2017, p. 126).
Esses empreendimentos compreendem edifícios verticalizados, evidenciando as estratégias do mercado imobiliário de compensar o alto preço conferido aos terrenos através da verticalização. A intensa verticalização, por sua vez, promove adensamento populacional, o qual nem sempre consegue ser comportado pela infraestrutura de certos pontos dos bairros centrais. Mesmo com a permissão do uso misto em parte considerável do centro, observa-se a preferência do mercado pela produção de empreendimentos monofuncionais, contribuindo para a construção de um espaço urbano monótono. Somado a isso, algumas características desses empreendimentos habitacionais demonstram a ausência de preocupação com sua inserção urbana e sua relação com o entorno. Tratam-se de torres de apartamentos recuadas do limite dos lotes, conforme permite a legislação urbanística da cidade, promovendo
Fonte: http://www.campinasnaplanta.com.br/imoveis/maxhaus-alecrins Figura 6 - Fachada do empreendimento Setin Midtown Aquidaban mostrando os primeiros pavimentos destinados à garagem e, logo acima, área de lazer privada
Fonte: http://www.setin.com.br/residencial/setin-midtown-aquidaban
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A criação de espaços de lazer privados se torna alternativa para substituição do espaço público da rua. A presença de grandes muros, somado à instalação de equipamentos de segurança e monitoramento promovem uma sensação de segurança no interior do edifício, porém potencializam a insegurança nas ruas, ao limitá-la, juntamente às calçadas, a locais meramente de passagem. (...) em todas as UTB’s os usos dados aos térreos dos edifícios, a monofuncionalidade e a implantação da torre habitacional recuada com relação aos limites do lote promovem o distanciamento entre os moradores e o espaço público da cidade. As ruas e calçada tornamse, dessa forma, monótonas e subutilizadas, limitandose a funcionar como espaços de passagem e acessos aos edifícios (GONÇALVES, 2017, p. 167). As ruas e suas calçadas, principias locais públicos de uma cidade, são seus órgãos mais vitais. Ao pensar numa cidade, o que lhe vem à cabeça? Suas ruas. Se as ruas de uma cidade parecerem interessantes, a cidade parecerá interessante; se elas parecerem monótonas, a cidade parecerá monótona (JACOBS, 2001, p. 29).
Na maioria desses empreendimentos constata-se a existência de mais de uma tipologia de unidade habitacional, variando desde sua área, até a disposição e quantidade de cada cômodo. Tal fato traduz a preocupação do mercado imobiliário em conseguir atender as mais diferentes composições familiares, visando aumentar a venda de unidades. A oferta de unidades habitacionais de características distintas remete não a uma diversidade social maior, mas sim às mudanças nos modos de vida contemporâneos e nas novas conformações dos núcleos familiares, o que demanda novos programas habitacionais diferentes daqueles
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destinados às famílias de baixa renda (GONÇALVES, 2017, p. 180).
A partir da pesquisa e levantamento realizado, conclui-se que a maior parte da produção de habitação coletiva contemporânea no centro de Campinas é destinada à população de mais alta renda, e estas não atendem o déficit habitacional da população de renda baixa, que habitam de forma precária o centro da cidade. Nota-se que políticas públicas para o centro da cidade se limitam a intervenções relacionadas ao desenho urbano do centro, como por exemplo, a proposta de Revitalização da Avenida Francisco Glicério, contribuindo para a promoção de uma imagem boa do centro, enquanto a questão habitacional é posta de lado. Constata-se, portanto, que as intervenções públicas permanecem restritas ao plano espacial e ao sistema viário, apresentando também forte apelo ao consumo cultural no centro, cuja re-funcionalização estaria articulada a uma estratégia maior de construção de uma imagem positiva da cidade e sua inserção nos circuitos globais da economia. Entretanto, a problemática habitacional não foi contemplada diretamente pelas gestões do município, mesmo que este conviva com um elevado déficit habitacional. Contudo, indiretamente a legislação urbana parece impulsionar outros moradores e moradias no centro da cidade (GONÇALVES, 2017, p. 84).
2. REFERÊNCIAS PROJETUAIS
IMPLANTAÇÃO
Parte da pesquisa elaborada para o Trabalho Final de Graduação é composta pelo estudo de projetos referenciais, a fim de se obter um repertório relativo ao programa, formas, materiais construtivos e soluções projetuais. Algumas referências se tornaram objeto de estudo de caso, dos quais se analisou o partido arquitetônico.
Figura 8 - Implantação Edifício Copan - 3D Fonte: Google Maps.
2.1. Estudos de Caso Para estes estudos de caso foram selecionados 3 edifícios de habitação coletiva, devido à semelhança temática e programática que estes apresentam em relação ao projeto desenvolvido para o presente trabalho. Nestes estudos foram considerados os acessos, circulações, setorização, volumetria e a organização do programa de necessidades. Além disso, as diferentes tipologias também foram analisadas, pois são de grande importância para o tema de habitação coletiva. 2.1.1. Estudo de Caso 1: Edifício Copan Figura 7 - Implantação Edifício Copan (sem escala) FICHA TÉCNICA _Arquiteto: Oscar Niemeyer _Local: São Paulo, SP _Ano: 1952 _Área do terreno: 11500 m² _Área construída: 120000 m² _Altura: 115 metros _Pavimentos: 52
O edifício Copan, no período de sua construção, se destacava na paisagem urbana de São Paulo por sua altura e forma sinuosa, e era um símbolo de modernidade na cidade. Na década seguinte, com a decadência do centro, acabou também perdendo seu valor, sendo até mesmo comparado à uma espécie de “cortiço”. A partir dos anos 80, com a revalorização do centro de São Paulo, o edifício voltou a atrair moradores, por oferecer habitação dos mais diversos tamanhos e características em uma área central, reduzindo os deslocamentos diários. Na última década, o Copan passou a ser procurado por pessoas que visam moram perto do local de trabalho, de serviços e espaços de lazer. Hoje ainda abriga moradores de diversos perfis socioeconômicos em seus apartamentos, além de lojas de diversos ramos e restaurantes no térreo. CIRCULAÇÃO E ACESSOS _Acessos: 5 entradas de acesso à galeria a partir da rua, de onde pode-se acessar os elevadores das habitações; _Circulação: 20 elevadores promovem a circulação vertical;
Fonte: Google Maps (editado pela autora).
O complexo incorpora, deste modo, o fluxo da cidade ao seu programa, e faz da possibilidade do atalho, uma motivação para o percurso pela galeria (XAVIER, 2007, p. 105).
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Figura 9 - Circulação e acessos - pavimento térreo
Figura 11 - Placa do Edifício Copan localizando a entrada para cada bloco a partir do pavimento térreo
Fonte: Arquivo pessoal (maio de 2018).
MATERIALIDADE
Fonte: Galvão, 2007 (editado pela autora). Figura 10 - Circulação e acessos - pavimento tipo
Maior estrutura de concreto armado do país, com cerca de 400 kg/m³ construído.
Fonte: Galvão, 2007 (editado pela autora).
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SUBSOLO-ESTACIONAMENTO _221 vagas; TÉRREO E SOBRELOJA – COMÉRCIO E SERVIÇO _Galeria com mais de 70 lojas; _Restaurante, café, padaria; TERRAÇO E FOYER – ESCRITÓRIO
EDIFÍCIO
BASE
PROGRAMA DEMAIS PAVIMENTOS – HABITAÇÃO _1160 unidades habitacionais; _Aproximadamente 5 mil moradores; _19 tipologias diferentes (de quitinete até unidades de 3 dormitórios).
TIPOLOGIAS
Figura 12 - Setorização do programa do Copan
Figura 14 - Planta apartamento 2 dormitórios do bloco A
BLOCO A _Quantidade de unidades: 64; _Tipologia: 2 dormitórios (84,13 m²); _Estar/jantar, banheiro social, 2 dormitórios, cozinha, área de serviço, 1 dormitório de empregada e 1 banheiro de empregada. Fonte: Nexo Jornal, 2016. Fonte: Galvão, 2007 (editado pela autora).
SETORIZAÇÃO
Figura 15 - Planta quitinete e apartamento 1 dormitório do bloco B
O edifício é organizado em 6 blocos nomeados de A até F. Cada bloco possui uma ou duas configurações tipológicas específicas. Figura 13 - Divisão do Edifício Copan em blocos
BLOCO B _Quantidade de unidades: 640; _Tipologias: _quitinete (26,40 m²) – sala multifuncional, cozinha e banheiro; _1 dormitório (32,37 m²) – estar/ jantar, dormitório, banheiro e cozinha.
Fonte: Galvão, 2007 (editado pela autora).
Fonte: Galvão, 2007 (editado pela autora).
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Figura 16 - Planta apartamento 3 dormitórios bloco C
Figura 18 - Planta pavimento tipo (1º ao 12º pavimento) bloco E
BLOCO C
BLOCO E
_Quantidade de unidades: 64; _Tipologia: 3 dormitórios (122,48 m²); _Estar/jantar, banheiro social, 3 dormitórios, cozinha, área de serviço, 1 dormitório de empregada e 1 banheiro de empregada.
_Quantidade de unidades: 168; _Tipologias: _quitinete (entre 27,56 e 38,58 m²) – sala multifuncional, cozinha e banheiro; _1 dormitório (entre 59 e 69 m²) – estar/jantar, dormitório, banheiro e cozinha.
Fonte: Galvão, 2007 (editado pela autora).
Fonte: Galvão, 2007 (editado pela autora).
Figura 17 - Planta apartamento 3 dormitórios bloco D
BLOCO F
BLOCO D _Quantidade de unidades: 64; _Tipologia: 3 dormitórios (161,23 m²); _Estar/jantar, banheiro social, 3 dormitórios, cozinha, área de serviço, 1 dormitório de empregada e 1 banheiro de empregada. Fonte: Galvão, 2007 (editado pela autora).
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Figura 19 - Planta pavimento tipo bloco F
_Quantidade de unidades: 160; _Tipologias: _quitinete (entre 25,98 e 36,48 m²) – sala multifuncional, cozinha e banheiro; _1 dormitório (entre 54,43 e 62,15 m²) – estar/jantar, dormitório, banheiro e cozinha. Fonte: Galvão, 2007 (editado pela autora).
PONTOS POSITIVOS _Diferenças tipológicas possibilitam maior variedade de moradores e composições domiciliares; _Tipologias diferentes se relacionam com o caráter econômico da população (Ex: quitinetes); _Uso misto proporciona usos noturnos e diurnos; _Presença de brises horizontais contínuos que promovem o sombreamento das janelas; _Espaços de caráter semi-público como a galeria de lojas, os bares, restaurantes e cafés no térreo, além da rua José Paulo Mantovan Freire, que serve de extensão do térreo. PONTOS NEGATIVOS _Alta densidade populacional transforma o edifício numa espécie de “cidade”; _Poluição sonora devido ao intenso fluxo de veículos e pessoas.
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2.1.2. Estudo de Caso 2: Caen Habitat Figura 20 - Implantação Caen Habitat (sem escala)
FICHA TÉCNICA
COMPOSIÇÃO VOLUMÉTRICA Volumetria escalonada criada a partir de um volume de 3 e 5 pavimentos, criando terraços a partir da harmonização da escala desses pavimentos e, posteriormente, o deslocamento dos volumes. A composição volumétrica favorece a iluminação e ventilação natural. Figura 22 - Composição volumétrica Caen Habitat
_Arquiteto: Olgga Architects _Local: Caen, França _Ano: 2011 (concurso) _Área total: 8240 m² _Pavimentos: 6 Fonte: Google Maps (editado pela autora).
IMPLANTAÇÃO
Fonte: Olgga Architects. Figura 23 - Articulação das tipologias para composição da volumetria Figura 21 - Implantação Caen Habitat - 3D Fonte: Olgga Architects.
Projetado para um concurso de habitações sociais em Caen, na França, o Caen Habitat propõe unidades habitacionais que proporcionam uma moradia digna aos mais diversos perfis e composições domiciliares, através das suas diferentes tipologias. A expansão das unidades voltadas para o exterior, criam varandas como quintais dos apartamentos. São criados espaços de qualidade para gerar conforto a seus usuários. 26
Fonte: Olgga Architects.
ABERTURAS
Figura 26 - Plantas do 1º ao 5º pavimento com as circulações horizontal e vertical demarcadas (sem escala)
Figura 24 - Elevação fachada leste apresentando as aberturas (sem escala)
Fonte: Olgga Architects.
CIRCULAÇÃO E ACESSOS Figura 25 - Acessos aos blocos A, B e C a partir do térreo (sem escala)
Fonte: Olgga Architects (editado pela autora).
Fonte: Olgga Architects (editado pela autora).
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PROGRAMA
2 DORMITÓRIOS
HABITAÇÃO _100 unidades de habitação social (6131 m² total)
ÁREA COMUM _881 m² dedicados áreas verdes e de convivência
COMÉRCIO _1228 m² total
ESTACIONAMENTO
Figura 29- Plantas apartamento 2 dormitórios (sem escala)
Figura 27 - Diagrama de organização do programa
Fonte: Produzido pela autora. Fonte: Olgga Architects (editado pela autora).
TIPOLOGIAS 3 DORMITÓRIOS
1 DORMITÓRIO Figura 28- Plantas apartamento 1 dormitório (sem escala)
Figura 30- Plantas apartamento 3 dormitórios (sem escala)
Fonte: Olgga Architects (editado pela autora). Fonte: Olgga Architects (editado pela autora).
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PONTOS POSITIVOS
ARTICULAÇÃO DAS TIPOLOGIAS Figura 31- Articulação das tipologias na planta do 1º pavimento (sem escala)
_Mesmo se tratando de habitação de interesse social, diferente da proposta do projeto deste TFG, é uma referência importante e de qualidade; _Composição volumétrica não convencional: cheios e vazios; _Diversidade de unidades tipológicas; _Flexibilidade nas plantas para atender diferentes perfis de moradores; _Bloco escalonado: terraços como ambiente externo privado de cada habitação – garantia de ventilação e iluminação natural; _Aberturas generosas; _Permeabilidade do espaço comum dos moradores no térreo. PONTOS NEGATIVOS
Fonte: Olgga Architects (editado pela autora).
_O acesso para os pavimentos superiores ocorre por meio de elevadores, porém o acesso da face sul ocorre apenas por escadas.
ELEVAÇÕES Figura 32 - Elevações Sul e Norte
Fonte: Olgga Architects
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2.1.3. Estudo de Caso 3: Edifício Catedral Figura 33 - Implantação Edifício Catedral (sem escala)
FICHA TÉCNICA _Autor: Construtora S. B. Mendes _Local: Campinas, SP _Ano: 1953 _Pavimentos: 16 _Materialidade: concreto armado
usos. A diversidade funcional fica evidente no resultado formal da volumetria do edifício. Além da diversidade de usos, também apresenta uma diversidade de tipologias habitacionais. Coexistem em um mesmo pavimento desde quitinetes até apartamentos de 1 ou 2 dormitórios. Tal fato permite a ocupação por diversos perfis e conformações de famílias. Não foi prevista garagem para esse edifício, o qual apresenta apenas um porão para instalações e serviços. Dentre os edifícios construídos em Campinas na década de 1940, este foi o que mais apresentou preocupação com a racionalidade estrutural (DEZAN, 2007). CIRCULAÇÃO E ACESSOS Figura 35- Circulação e acessos Edifício Catedral
Fonte: Google Maps (editado pela autora).
IMPLANTAÇÃO
Figura 34 - Implantação Edifício Catedral - 3D Fonte: Google Maps.
Edifício de 16 pavimentos, representou o marco da modernidade desejada para Campinas naquela época, devido à sua verticalidade. Serve de referência devido seu programa ser composto por diferentes 30
Fonte: Dezan, 2007 (editado pela autora).
COMÉRCIO _5 lojas de 46 a 70 m² _lojas com WC e algumas com área de apoio privada _complexo total (loja + WC + área privada) de 100 a 110 m²
1º ATÉ 5º PAV.
TÉRREO
HALL _acesso privado para escritórios e habitações
TIPOLOGIAS
ESCRITÓRIOS _9 salas de escritório de de tamanhos variados _todas as salas com WC privado
6º ATÉ 16º PAV.
PROGRAMA
HABITAÇÃO _3 tipologias (quitinete, apartamentos com 1 ou 2 dormitórios) _8 unidades habitacionais por pavimento
QUITINETES Unidades de 16, 18 e 20 m²
APARTAMENTOS 1 DORMITÓRIO Unidades de 34, 36 e 50 m²
APARTAMENTOS 2 DORMITÓRIOS Unidades de 46 m² Figura 37- Planta pavimento tipo - habitação
SETORIZAÇÃO
Fonte: Dezan, 2007 (editado pela autora). Figura 36 - Setorização do programa evidente na fachada Fonte: Google Maps (editado pela autora).
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Figura 38- Planta pavimento térreo - comércio
PONTOS NEGATIVOS _Implantação de 5 pavimentos destinados a escritórios, deixando o uso pavimento muito alto e fora da escala da rua e do pedestre (não possibilita relação dos moradores com os transeuntes, não seguindo a ideia de “olhos da rua” de Jane Jacobs, para gerar segurança); _Poderia explorar melhor a articulação das unidades por pavimento, para obter melhor solução de ventilação e iluminação natural sem ter que utilizar o poço; _Ausência de vagas de estacionamento.
Fonte: Dezan, 2007 (editado pela autora).
PONTOS POSITIVOS _Edifício de uso misto; _Diferentes tipologias no mesmo pavimento; _Diversidade de perfis dos habitantes; _Banheiros e cozinhas ventilados, mesmo que por meio de poço; _Boa demarcação de semi-público e privado no térreo, tanto no complexo de lojas em si, quanto no acesso ao hall _Identificação dos diferentes programas na fachada do edifício; _Não padronização das plantas de cada tipologia (variedade).
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2.2. Referências Projetuais
Além dos projetos estudados, uma série de projetos consultados fez parte do corpo de referências para este trabalho. Os critérios de seleção desses projetos podem ser divididos em 3 categorias: _projetos de programa semelhante; _soluções de projeto (formais); _espaços públicos.
2.2.2. Huma Klabin
Edifício residencial projetado em 2016 pelo Uma Arquitetos, implantado em São Paulo. Apresenta 2 tipologias diferentes em cada pavimento, possibilitando que se conjuguem. A variação de direção das aberturas proporciona vistas, iluminação e ventilação natural para as unidades. As circulações verticais e horizontais se configuram como uma passagem aberta à cidade, ventilada e iluminada, que promove o afastamento das duas torres. Figura 41 - Huma Klabin
2.2.1. Conjunto Nacional
Figura 42 - Huma Klabin
Edifício de uso misto implantado em São Paulo, projetado por David Libeskind em 1955. O complexo abriga os usos residencial, comercial, de serviços e de lazer. Figura 39 - Conjunto Nacaional
Fonte: www.arcoweb.com.br/ Fonte: www.sboc.org.br/
Fonte: www.spcity.com.br/
Figura 40 - Conjunto Nacional
Fonte: www.arcoweb.com.br/
2.2.3. Edifício Cohab Ipiranga
Projeto de 2011 do escritório Brasil Arquitetura, uma adaptação de um antigo hotel localizado na Avenida Ipiranga, no centro de São Paulo, para abrigar um programa habitacional da Cohab. Na parte posterior do lote, será construído um novo edifício para abrigar mais unidades e atender à demanda habitacional. 33
A ligação entre os dois edifícios se dará por um novo bloco de circulação vertical. Tal bloco conectado à cobertura do edifício existente criará um terraço multifuncional, para lazer, descanso e encontro dos moradores. Figura 43 - Edifício Cohab Ipiranga
Figura 45 - High Park Figura 46 - High Park
Figura 44 - Edifício Cohab Ipiranga
Fonte: Rojkind Arquitectos. Fonte: Rojkind Arquitectos.
2.2.5. Mirador
Fonte: Brasil Arquitetura.
Fonte: Brasil Arquitetura.
2.2.4. High Park
MVRDV projetou em 2005 o Mirador, edifício que apresenta uma grande variedade tipológica para atender às diversidades contemporâneas. Um espaço de convivência é criado no pátio aberto localizado no 12º pavimento. Figura 47 - Mirador
Figura 48 - Mirador
Edifício de uso misto projetado em 2015 pelo Rojkind Arquitectos em Monterrey, no México. Seu programa é dividido em áreas comerciais no térreo e primeiro pavimento, e nos demais 8 pavimentos abriga as habitações. Além disso, possui o subsolo destinado a estacionamento. É um edifício voltado para a cidade, com sua praça pública aberta tanto aos moradores do edifício, quanto à população da vizinhança. A presença de terraços proporciona a interação de seus usuários, reforçando o sentido de comunidade no edifício. Fonte: MVRDV
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Fonte: MVRDV
2.2.6. Edifício Esther
Projetado por Álvaro Vital Brasil e Adhemar Marinho em 1936, abriga o uso misto, combinando unidades residenciais, comerciais e de serviço em um mesmo edifício. Sua utilização nos períodos diurno e noturno é garantida pela existência de uma padaria no térreo e um restaurante na cobertura. Foi possível fazer registro fotográfico e vivenciar seu espaço externo em uma visita realizada ao local.
agradável para passagem, descanso e lazer. Visita ao local permitiu a percepção do espaço e suas dinâmicas. Figura 51 - Shopping West Plaza
Figura 52 - Shopping West Plaza
Figura 49 - Edifício Esther Figura 50 - Edifício Esther Fonte: Arquivo pessoal (maio de 2018).
Fonte: Arquivo pessoal (maio de 2018).
2.2.8. Praça Capital
Os espaços abertos da Praça Capital em Campinas, compostos por vegetação, espelho d’água, assim como o desenho do piso, servem de referência para o projeto de um espaço público de qualidade. Visita ao local permitiu perceber quanto o espaço é convidativo e agradável. Fonte: Arquivo pessoal (maio de 2018).
Figura 53 - Praça Capital
Figura 54 - Praça Capital
Fonte: Arquivo pessoal (maio de 2018).
2.2.7. Shopping West Plaza
Área aberta e arborizada que promove a ligação dos blocos que compõem o complexo do Shopping West Plaza, no bairro Água Branca em São Paulo. A presença de vegetação, fonte e mobiliário urbano conferem à essa rua de pedestres semi-pública, uma característica
Fonte: Arquivo pessoal (maio de 2018).
Fonte: Arquivo pessoal (maio de 2018).
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2.2.9 Edifício Copan (térreo e entorno)
Figura 57 - Passagem semi-pública próximo ao Edifício Copan
Figura 58 - Passagem semi-pública próximo ao Edifício Copan
O Edifício Copan, que serviu de objeto de estudo de caso, abriga em seu térreo cafés, bares, restaurantes e padaria, promovendo o uso no período diurno e noturno. A Rua José Paulo Mantovan Freire, localizada entre o Copan e o Banco Bradesco, se destaca por servir tanto de passagem, quanto de permanência. Em seu entorno, também na Rua José Paulo Mantovan Freire, foi observada a existência de uma passagem de pedestres semi-pública, através do vão gerado por 2 edifícios, promovendo a conexão da rua com a Avenida São Luís. Gera então, a partir da permeabilidade da quadra, um local com potencial para descanso e lazer. Figura 55 - Rua privada em frente ao Edifício Copan
Figura 56 - Bar da Dona Onça, térreo do Edifício Copan Fonte: Arquivo pessoal (maio de 2018).
Fonte: Arquivo pessoal (maio de 2018).
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Fonte: Arquivo pessoal (maio de 2018).
Fonte: Arquivo pessoal (maio de 2018).
2.3. Reflexões sobre os estudos
A partir dos estudos pudemos verificar diversas soluções de projeto, o que possibilitou transpor este conhecimento para o projeto elaborado. Dentre as soluções, vale ressaltar soluções formais, conceituais, as de relação com o entorno, materialidade e também a produção de espaços de qualidade, como por exemplo: _diferentes tipologias de unidades habitacionais; _gabarito relativamente baixo; _escalonamento do volume e aberturas generosas (aproveitar a iluminação e ventilação natural); _criação de espaços de convívio para os moradores (terraços e pavimentos intermediários); _uso misto, com térreo permeável destinado à comércio e serviço; _espaço de caráter semi-público no térreo para apropriação da população. Estas soluções podem ser observadas no decorrer do memorial, no capítulo referente à execução do projeto.
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3. O LOCAL Neste capítulo será apresentado o levantamento da área de estudo e de suas condicionantes. Essa análise apresentará o local de estudo dentro da escala da cidade, passando por sua inserção no bairro, até chegar na escala do terreno selecionado.
Figura 59 - Delimitação do Centro de Campinas e principais vias
3.1. Local de estudo O local de estudo compreende o bairro Centro (UTB 34) de Campinas, que se encontra inserido na Macrozona 4 (Figura 2), denominada Área de Urbanização Prioritária. Para tal macrozona, segundo as definições da Lei de Uso e Ocupação do Solo de Campinas, estabelecem-se algumas diretrizes, como, por exemplo, o incentivo ao adensamento e à ocupação de áreas subutilizadas. Logo, para o local de projeto buscava-se um terreno nesta região central, a qual apresenta melhor infraestrutura, é bem servida de transporte público e conta com a presença significativa de lotes subutilizados, como é o caso dos estacionamentos, lotes vazios e edifícios desocupados. Além disso, concentra uma parcela considerável de comércio e serviços de uso local e geral. A presença do uso residencial, no entanto, é mais abundante nos bairros vizinhos ao centro histórico, nos bairros Cambuí, Guanabara e Bosque. A área de estudo selecionada é então a correspondente à UTB 34 – Centro, tendo em vista a pouca presença de uso residencial nela, em comparação às demais UTBs pertencentes à Área de Planejamento 21 (Figura 3). Esta porção se encontra delimitada por importantes eixos viários de Campinas, como a Avenida Anchieta, Avenida Doutor Moraes Sales, Avenida Lix da Cunha e Avenida Orosimbo Maia, formando o que conhecemos por Centro Histórico (Figura 59).
Fonte: Google Maps (editado pela autora).
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3.1.1. Centro Histórico 3.1.1.1. Uso e Ocupação do Solo Figura 60 - Uso Real do Solo - Centro de Campinas
Fonte: Elaborado pela autora.
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A partir do mapeamento do uso do solo real (Figura 60) que se estabelece atualmente no centro de Campinas, percebe-se a presença dos mais diversos tipos de usos, dentre eles, os usos comerciais, de serviços, misto, residencial e institucional. No entanto, é notória a predominância de usos comercial e de serviços, se comparado aos demais usos. No centro histórico, menos de 15% das edificações são destinadas às residências (CARTY, 2014). A disparidade fica evidente quando esses usos são apresentados separadamente (Figura 61).
Esse fluxo se distribui nas principais avenidas, nas quais estão localizados pontos de ônibus. Além disso, estas vias são dotadas de boa iluminação pública, o que proporciona maior sensação de segurança, se comparada às ruas secundárias do centro, que dispõem de iluminação pública insuficiente. (Figuras 63 e 64). Figura 62 - Estabelecimento comercial que se encontra aberto no período noturno; em sua maioria são farmárcias
Figura 61 - Comparação do uso comercial e de serviços (esq.) com o uso residencial (dir.) no centro de Campinas (sem escala)
Fonte: Arquivo pessoal (maio de 2018). Figura 63 - Iluminação pública na Avenida Campos Sales (cruzamento com a Rua Álvares Machado)
Fonte: Elaborado pela autora.
Os usos comerciais e de serviços refletem num uso predominantemente diurno. Sendo assim, durante o período noturno são poucos os estabelecimentos que se encontram abertos, reduzindo o fluxo de pedestres na região central (Figura 62). Ainda, uma vez que não há oferta relevante de atividades que proporcionem permanência no centro nesse período, o fluxo existente é caracterizado pela passagem.
Fonte: Arquivo pessoal (maio de 2018).
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Figura 64 - Iluminação pública na Rua Álvares Machado (cruzamento com a Rua Bernardino de Campos
Fonte: Arquivo pessoal (maio de 2018).
A presença de lotes subutilizados (Figura 66) na área central, os quais não cumprem com sua função social e não usufruem dos atributos e potenciais do centro, é marcante. Grande parte desses lotes abrigam atualmente estacionamentos, uso que requer pouquíssima infraestrutura construída para seu funcionamento (Figura 65). Sendo assim, mantendo os estacionamentos em atividade, seus proprietários dispõem de uma fonte de rendimento que serve para o pagamento de impostos e taxas que incidem sobre o terreno, enquanto esperam por um momento oportuno de valorização imobiliária.
Nota-se também, nesta região, a presença significativa de edificações desocupadas e em estado precário (Figura 66). Logo, mesmo com o valor econômico de sua localização sendo mantido pela dinâmica do consumo e das atividades das classes populares, uma imagem degradada do centro é disseminada. Tal fato torna acessível e fácil a aquisição de lotes do centro por parte do setor privado, além de intervenções que contribuem para o processo de gentrificação. Enquanto isso, dissemina-se a ideia de que a área central está abandonada, degradada, em contínuo processo de esvaziamento, e que a solução estaria na “revitalização”, “reestruturação” ou “revalorização” da mesma, pautada em ações de embelezamento e alterações viárias (MORENO, 2010, p. 180). Figura 66 - Lotes subutilizados (esq.) e edificações desocupadas e precárias (dir.) no centro de Campinas
Figura 65 - Lotes subutilizados no centro de Campinas que abrigam estacionamento
Fonte: Elaborado pela autora.
Fonte: Arquivo pessoal (maio de 2018).
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Apesar da baixa presença do uso residencial no centro histórico, as edificações levantadas como em estado precário ou desocupadas
abrigam habitações coletivas populares (Figura 67). Essas se apresentam em forma de pensões, hotéis, cortiços, com péssimas condições de habitabilidade, sem preocupação relativa à ventilação, iluminação, condições básicas de higiene e privacidade, essenciais em uma moradia digna. Em relação às características das moradias, registramse o uso coletivo de banheiro, pia e tanque de lavar roupa, e o congestionamento permanente no uso desses equipamentos. Registram-se também a superlotação de pessoas, a sobreposição de usos nos cômodos, a ausência ou deficiência de iluminação natural e de ventilação nos cômodos, a coabitação involuntária com pouca ou nenhuma privacidade, a precariedade na manutenção da edificação, causando infiltrações, entupimentos, etc.; a sobrecarga da rede elétrica com risco de incêndio, as condições sanitárias críticas e a deterioração dos imóveis (MORENO, 2010, p. 17).
Apesar dessas questões, os moradores de cortiços normalmente apontam vantagens nesse tipo de habitação no centro da cidade. Dentre os fatores de destaque estão a proximidade com o local de trabalho e a facilidade no deslocamento (a maioria dos chefes de família gasta menos de meia hora para chegar ao local de trabalho e faz o percurso a pé), a maior oferta de empregos, de infraestrutura e de serviços urbanos (creches, escola e hospital) e o preço acessível do aluguel (MORENO, 2010, p. 17)
A existência desse tipo de habitação à margem das leis está atrelada, na maior parte das vezes, à conivência dos proprietários desses imóveis e da prefeitura perante à instauração de tal uso. Assim como no caso dos lotes utilizados como estacionamentos, os proprietários encontram a possibilidade de lucrar enquanto aguardam por um momento propício do mercado imobiliário. Esses locais abrigam tanto arranjos familiares quanto unipessoais. A maioria de seus moradores são de baixa renda e sobrevivem de trabalhos informais, com renda familiar de até 3 salários mínimos, havendo também uma parcela de famílias com renda entre 3 e 5 salários mínimos. Visando principalmente reduzir o tempo de deslocamento e o gasto com transporte de suas moradias até o local de trabalho, essas pessoas se submetem então à tais condições precárias de vida. Tal fato comprova a existência de necessidade de habitar no centro. 43
Figura 67 - Área de abrangência (raio de 500 metros) com destaque para as habitações coletivas populares no centro de Campinas
Fonte: Elaborado pela autora.
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3.1.1.2. Comércio Popular Os estabelecimentos comerciais presentes no centro de Campinas são, em sua maioria, voltados para atender às classes populares, não competindo mais com a existência dos shoppings centers (Figura 68). Um exemplo é a importância da Rua Treze de Maio para a dinâmica do centro, que abriga comércios varejistas de caráter popular. É o principal eixo de circulação de pedestres do centro, conhecido como “calçadão”, serve tanto para as compras, quanto como local de passagem ou de permanência, atraindo diariamente um grande contingente de pessoas. O comércio de caráter informal está presente em grande parte do centro. Estes, por sua vez, instalados de forma irregular, geram polêmicas relativas à sua existência e controle por parte da prefeitura. Conhecidos popularmente como camelôs, se instalaram em diversas porções do centro, se concentrando principalmente ao longo da Rua Álvares Machado. Foram observados o Centro Popular de Compras, no fim desta rua, sentido Terminal Central, o Camelódromo Álvares Machado, de esquina com a Avenida Campos Sales, no perímetro externo do Terminal Mercado I e ao redor do Terminal Central (Figura 68). A fim de controlar a fiscalização de venda de produtos pirateados e contrabandeados na cidade, a Prefeitura Municipal de Campinas propôs a realocação desses comércios informais em uma área de 18 mil m², pertencente à Estação FEPASA, nas proximidades da Estação Cultura e da Rodoviária de Campinas. Nota-se que a Rua Álvares Machado serve de ligação entre o Mercado Municipal e o Terminal Central, logo destaca-se como outro importante eixo do centro. No entanto, atualmente, apenas trechos pontuais dessa rua são destinados exclusivamente a pedestres, não valorizando todo seu potencial. A partir da realocação dos comércios informais instalados hoje de forma irregular nessa rua, seria possível transformá-la em um eixo de passagem exclusiva de pedestre e ciclistas,
além de conferir a ela, uma qualidade espacial tanto de passagem, quanto de permanência. Apesar dos diversos shoppings centers periféricos ao centro e dos inúmeros comércios de bairro que Campinas possui, fica evidente que a área central e sobretudo a Rua Treze de Maio não perderam sua vitalidade e é utilizada pela classe de menor poder aquisitivo como um lugar de consumo, na busca da realização dos prazeres. A diversidade e variedade de produtos, as liquidações, as lojas de preços reduzidos, os camelôs, tudo incita experiências emocionais e bem-estar que geram satisfação, prazer e felicidade momentânea no ato de consumir (OLIVEIRA, 2014, p. 98).
45
Figura 68 - Áreas de concentração de comércio popular e comércio informal (camelódromo) e importantes eixos de pedestres no centro de Campinas
Fonte: Elaborado pela autora.
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3.1.1.3. Análise socioeconômica O centro de Campinas é habitado majoritariamente por famílias com renda média domiciliar entre 5,1 e 8,1 salários mínimos, segundo dados por Setor Censitário do centro de 2010 do IBGE. Constata-se também a presença de famílias com renda domiciliar entre 3,5 e 5,1 salários mínimos (Figura 69). Ainda, a presença de famílias de renda média domiciliar inferior à 3,5 salários mínimos é expressiva nas proximidades da Rodoviária de Campinas, onde se concentram as habitações coletivas populares, conforme mencionado anteriormente. Mesmo se incompatível com o mapeamento segundo os dados do IBGE, tal realidade existe, pois, a população residente nesse tipo de habitação não aparece em dados censitários (MORENO, 2010). Fica evidente a discrepância de renda média domiciliar no centro se comparada à de seu entorno imediato, como nos bairros Guanabara e Cambuí, onde prevalece a renda média domiciliar entre 8,1 e 44,3 salários mínimos. Figura 69 - Renda domiciliar no centro de Campinas
Embora haja cortiços e pensões superlotados que abrigam mais pessoas do que realmente comportam, a média de moradores por domicílios no centro é predominantemente entre 1 e 3 pessoas (Figura 70). Figura 70 - Moradores por domicílio no centro de Campinas
Fonte: Prefeitura Municipal de Campinas (editado pela autora).
3.1.1.4. Fluxos O centro de Campinas é caracterizado pelo intenso fluxo de veículos e pedestres. Pelo fato de ser bem servido de transporte público (Figura 71) e por concentrar estabelecimentos comerciais e de serviços, esse local atrai um grande contingente diário de pessoas. Logo, além das pessoas que ali habitam e trabalham, há também a presença de pessoas de passagem e às compras. Esse intenso fluxo de pessoas e veículos reflete no aumento da polução sonora, que se espalha pelas principais avenidas e ruas do centro. Além disso, a grande quantidade de automóveis que circula no centro da cidade contribui para o aumento dos congestionamentos
Fonte: Prefeitura Municipal de Campinas (editado pela autora).
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Figura 72 - Principais fluxos e pontos de Ă´nibus no centro de Campinas
Fonte: Elaborado pela autora.
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3.2. Levantamento implantação do projeto
de
terrenos
possíveis
para
A partir de visitas ao centro de Campinas e estudo da área selecionada, foram levantadas 4 possibilidades de terrenos com perfis semelhantes, a fim de selecionar apenas um para a implantação do projeto (Figura 73). Alguns critérios foram utilizados para a seleção do terreno, analisando as potencialidades e deficiências de cada um. Tal quadro comparativo pode ser observado na Figura 78. Figura 73 - Localização das opçoes de terreno no centro de Campinas
TERRENO 1 Terreno de 3025 m² localizado no cruzamento da Avenida Benjamin Constant com a Rua Visconde do Rio Branco, utilizado como estacionamento, logo, caracterizado como subutilizado. Via estreita, mesmo se tratando de uma avenida importante de cidade, com intenso fluxo de veículos. Calçadas igualmente estreitas, com pouco fluxo de pedestres, que na maioria das vezes se limita à passagem para acessar os pontos de ônibus. Pouca presença de estabelecimentos de comércio e serviços, se comparado a outras áreas do centro, e diversos imóveis vazios. Gabarito predominantemente baixo no entorno imediato. Figura 74 - Terreno 1
Fonte: Google Maps.
TERRENO 2
Fonte: Elaborado pela autora.
Terreno de 1321 m² localizado no cruzamento da Avenida Campos Sales com a Rua Saldanha Marinho, também caracterizado como subutilizado nesta análise, abrigando um estacionamento. Via larga e fluxo intenso de veículos, enquanto a calçada, também larga, possui pouco fluxo de pedestres, se comparado a outros trechos da mesma avenida próximos a vários estabelecimentos comerciais. Gabarito variável de edificações baixas e alguns edifícios altos. 49
Figura 75 - Terreno 2
Figura 76 - Terreno 3
Fonte: Google Maps.
Fonte: Google Maps.
TERRENO 3 Terreno de 1990 m², considerado subutilizado nesta pesquisa, por ser utilizado como estacionamento privado, anexado à demolição de um imóvel, localizado no cruzamento da Avenida Campos Sales com a Rua Álvares Machado, rua onde atualmente está instalado o Camelódromo Álvares Machado. Via larga com intenso fluxo de veículos, e calçada larga com intenso fluxo de pedestres. Tais características provocam grande poluição sonora. Pela presença significativa de estabelecimentos comerciais e de serviços, o fluxo de pessoas é tanto de passagem, quanto de permanência e compras. Este terreno está localizado próximo a diversos pontos de interesse, como o Mercado Municipal, o Terminal Mercado I e pontos de ônibus na Avenida Senador Saraiva, a importante via de pedestres do centro que abriga os mais diversos comércios populares, a Rua Treze de Maio; a Catedral e também um edifício garagem. O gabarito do entorno é predominantemente baixo, com a presença de alguns edifícios de gabarito alto, porém numa distância considerável do terreno.
TERRENO 4 Terreno de 1579 m², localizado no cruzamento da Rua Regente Freijó com a Rua Bernardino Campos, utilizado como 3 estacionamentos diferentes, logo considerado como subutilizado segundo as análises desta pesquisa. Vias muito estreitas e com fluxo de veículos moderado. Calçadas igualmente estreitas e com baixo fluxo de pedestres, limitado à passagem. Poupa presença de estabelecimentos de comércio, apesar da proximidade com o Largo do Rosário. Expressiva presença de edifícios de gabarito alto no entorno imediato, o que provoca uma sensação de clausura. Figura 77 - Terreno 4
Fonte: Google Maps.
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Figura 78 - Critérios para seleção do terreno Fonte: Elaborado pela autora.
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3.3. O terreno O terreno 3 foi o selecionado para a implantação do projeto, dentre as 4 opções levantadas. Localizado no cruzamento da Avenida Campos Sales com a Rua Álvares Machado, esse terreno dispõe de 1990 m² de área.
Pode ser classificado como subutilizado, conforme mencionado, pois atualmente abriga um estacionamento privado. Logo, por estar inserido na malha urbana central de Campinas, local dotado de grande potencial devido à toda dinâmica e infraestrutura disponíveis na região, não cumpre com sua função social. Figura 80 - Dimensões do terreno selecionado
Figura 79 - Localização do terreno selecionado
Fonte: Elaborado pela autora.
Fonte: Elaborado pela autora.
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3.3.1. Legislação – Parâmetros Urbanísticos Definido como Z17, segundo o Zoneamento de Campinas, são permitidos para esse terreno os usos comerciais e de serviços de diversos tipos, institucionais e de uso misto. Em virtude deste projeto se tratar de uma edificação de uso misto, serão consideradas as informações contidas no uso determinado como HCSE (Edificações destinadas a uso misto) na Lei de Uso e Ocupação do Solo de Campinas, o qual é permitido para a Z17. Esse uso compreende-se em estabelecimentos que alocam unidades habitacionais em uma parte de sua área construída, e em outra parte unidades comerciais, de serviços e institucionais. O uso HCSE, por sua vez, se subdivide em dois tipos de ocupação: HCSE-5 e HCSE-5*. Estes tipos de ocupação se diferente unicamente pelo fato de o primeiro permitir uso habitacional exclusivo, sem que parte de sua área construída seja destinada aos usos comerciais, de serviços e institucional. A permissão do uso exclusivamente habitacional em um terreno inserido no centro da cidade gera questionamentos neste trabalho, após o estudo do tema de habitação no centro de Campinas e seus reflexos na dinâmica da cidade. Esta decisão abre margem para que o mercado imobiliário aumente a produção de empreendimentos monofuncionais dotados de características que visam, estrategicamente, maximizar os lucros, conforme apresentado anteriormente no capítulo referente à produção habitacional recente na área central de Campinas e na Figura 4. Atrelado a isso, esses grandes empreendimentos são implantados na malha urbana sem se atentar à sua integração ao entorno e, de certa maneira, ignorando a escala do pedestre. Em virtude da construção de seus grandes muros, a ideia de segurança é vendida, porém referente apenas dos muros para dentro, pois torna as ruas cada vez menos convidativas. Os resultados refletem em cidades muradas, com crescente sensação de hostilidade e vulnerabilidade que, juntamente
com a ausência de diversidade funcional, contribuem para a produção de cidades monótonas e prejudicam a experiência do andar prazeroso das pessoas nas ruas. Logo, no projeto foram seguidas as premissas da legislação para o uso HCSE-5*, buscando relação e harmonia com as discussões contemporâneas sobre a importância de espaços multifuncionais. No entanto, algumas destas premissas serão analisadas com olhar crítico, de acordo com outras discussões recorrentes, como por exemplo sobre a mobilidade urbana e organização da cidade. A seguir, estão apresentados os dados instituídos para esta ocupação, adequados às especificidades do terreno selecionado. Tais premissas relativas à ocupação HCSE e o uso HCSE-5*, foram extraídas da Lei de Uso e Ocupação do Solo, emitida pela Prefeitura Municipal de Campinas, com atualização no ano de 2011. TAXA DE OCUPAÇÃO Para lotes com área acima de 500 m², obtém-se o valor máximo de TE e TO segundo o cálculo: TE = [500 + 0,8 (A – 500)] /A, sendo A a área do lote de 1990 m²; Para o 1º e 2º pavimentos: TO = TE; Para os demais pavimentos: TO = 0,6 TE; Figura 81 - Taxa de Ocupação
Logo:
TE = 0,85 TO = 0,85 TO = 0,51
Fonte: Prefeitura de São Paulo.
53
Conclui-se então, para o caso do terreno selecionado, que nos dois primeiros pavimentos da edificação pode ser ocupado no máximo 1691 m² em cada, enquanto nos demais, 1014 m² em cada. No entanto, índices de importância ambiental, como por exemplo o de permeabilidade e arborização, não são abordados nesta parte da legislação, porém são essenciais para moderar o impacto causado pela produção do espaço urbano no meio ambiente. Uma vez que é permitida a taxa de ocupação do térreo de 0,85, entende-se que a taxa de permeabilidade seria de 0,15. Na cartilha “Propostas para revisão participativa da lei de uso e ocupação do solo” de Campinas, elaborada em 2015 pela Secretaria Municipal de Planejamento e Desenvolvimento Urbano, nota-se essa preocupação. Nesta cartilha, para a área de implantação do projeto em questão, sugere-se o índice de arborização de 0,20 e índice de permeabilidade 0,25, por se tratar de um terreno de área superior a 1000 m². Tais questões deveriam então estar presentes na legislação, para incentivar que espaços ambientalmente conscientes sejam projetados.
Segundo a legislação, serão excluídos do coeficiente de aproveitamento as áreas correspondentes ao 1º e 2º pavimento, caso sejam destinados a estacionamento, e ainda os andares intermediários (entre a área comercial e a habitacional), caso sejam destinados ao uso comum do setor habitacional. Novamente a própria legislação permite o maior coeficiente de aproveitamento do município de Campinas para a área referida, tornando-a altamente atrativa a investimentos do mercado imobiliário. Além disso, a permissão da utilização dos dois primeiros pavimentos como estacionamento acentua a produção de empreendimentos que desprezam a escala do pedestre e sua integração à dinâmica do entorno, promovendo isolamento em relação à rua. ALTURA DA EDIFICAÇÃO
O coeficiente de aproveitamento é definido como CA ≤ 5, logo a área construída máxima para o terreno selecionado é de 9950 m².
A altura máxima da edificação é calculada através da fórmula Hmáx = 1,5 L + 2 R, sendo L a largura da via pública de circulação e R recuo facultativo da edificação. Considerando a largura da Avenida Campos Sales 18 metros e sem recuo, tem-se altura máxima da edificação de 29 metros, referente à uma média de 8 pavimentos. Esta altura deverá ser a medida entre a soleira da entrada do pavimento térreo e o teto do último pavimento.
Figura 82 - Coeficiente de aproveitamento
Figura 83 - Gabarito de altura máxima
COEFICIENTE DE APROVEITAMENTO
Altura máxima = 29 metros
CA ≤ 5 Área const. máx. 9950 m²
Fonte: Prefeitura de São Paulo.
54
Fonte: Prefeitura de São Paulo.
Ainda segundo a legislação, a verificação da altura deverá ser feita isoladamente para cada bloco de edificação no mesmo lote, para cada corpo que apresentar recuos e alturas diferentes entre si e para cada pavimento ou grupo de pavimentos escalonados. Quando as edificações estiverem localizadas em lotes de esquina, como é o caso do referente projeto, a altura deverá ser verificada para a testada do lote, segundo a legislação. Tratando-se de recuo facultativo, poderá ser escolhido segundo as particularidades e necessidades de cada projeto, levando em consideração seus benefícios para o entorno e usuários. Desta forma, essa flexibilidade é positiva, pois em certos casos em que a legislação estabelece recuos, são produzidos empreendimentos como torres isoladas no lote, ou edificações distantes da calçada, o que afeta a interação entre os pedestres e os espaços construídos. Por outro lado, fachadas ativas, contínuas e mais próximas dos pedestres (situadas no limite entre o lote e a calçada) humanizam o passeio público e facilitam o acesso dos pedestres aos estabelecimentos comerciais, de serviço e equipamentos, quando abertos diretamente voltados para o passeio público. Figura 84 - Fachada ativa
Fonte: Prefeitura de São Paulo (editado pela autora).
RECUO E AFASTAMENTO Conforme mencionado, para este caso, o recuo é facultativo, ficando a critério do arquiteto. Enquanto isso, o afastamento de fundo estabelecido é de no mínimo 3 metros, para pavimentos situados acima do 2º pavimento. Figura 85 - Recuo
Recuo facultativo Afastamento de fundo ≥ 3 m
Fonte: Prefeitura de São Paulo.
GUARDA DE VEÍCULOS É definido pela legislação a proporção de 1 vaga de garagem para cada unidade habitacional e 1 vaga para cada 60 m² de área construída destinada aos usos comerciais, de serviços e institucional. No entanto, nas vias públicas de circulação destinadas a pedestres (calçadões) não são permitidas edificações com locais para estacionamento; estes devem ficar vinculados a estacionamentos ou edifícios-garagem num raio de 500 metros de distância, segundo a legislação. O terreno selecionado encontra-se no cruzamento de uma importante avenida com intenso fluxo de automóveis, com uma rua que, no limite desse lote, á atualmente destinada a pedestres. Conforme mencionado anteriormente, existe a intenção de transformar a totalidade da extensão desta rua em um eixo exclusivamente dedicado aos pedestres. Logo, questiona-se a aplicação da exceção da regra relativa 55
às vagas de estacionamento, a qual valorizada calçadões de pedestres e direciona o estacionamento de veículos aos edifícios-garagem próximos. Neste caso, na mesma altura da Avenida Campos Sales, na calçada oposta ao terreno, existe um edifício garagem de 5 pavimentos, apresentando-se viável para cumprir tal função, suprindo parte da demanda de vagas de estacionamento do edifício projetado. Figura 86 - Edifício garagem e incentivo aos transportes alternativos
1 vaga/unidade habitacional 1 vaga/60 m² de área construída de comércio e serviço
ACESSOS E CIRCULAÇÃO Conforme estabelecido na legislação, as áreas reservadas ao uso habitacional devem ter acesso e circulações independentes das áreas de uso comercial, de serviço e institucionais. As áreas de estacionamento vinculadas ao uso habitacional devem ficar separada das demais vagas destinadas aos usos comerciais e de serviços, quando houver acesso direto às circulações das áreas de uso habitacional. ESPAÇOS DE LAZER
Fonte: Prefeitura de São Paulo (editado pela autora).
As discussões atuais de mobilidade também contestam tais definições da lei, sugerindo não apenas a limitação da quantidade de vagas de estacionamento, mas também o reconhecimento e incentivo ao uso de meios alternativos de deslocamento. Prioriza-se o transporte público e coletivo, transporte por aplicativo, compartilhamento de automóveis, bicicletas e circulação a pé, visando reduzir o número de automóveis individuais em circulação, dando cada vez mais espaço aos meios de transporte que geram menos impacto no meio ambiente. Sugere-se ainda que a legislação referente às vagas de estacionamento no centro da cidade de Campinas seja reavaliada e atualizada conforme essas discussões atuais de mobilidade. Logo, levando em consideração que apenas parte do público alvo para esta habitação econômica projetada possua veículo particular, 56
as vagas de estacionamento ficarão vinculadas ao edifício garagem próximo. Ainda, um pavimento no subsolo do edifício servirá de área técnica e também garagem destinada apenas aos moradores do edifício.
Ainda segundo a legislação urbanística de Campinas, os espaços (cobertos ou descobertos) destinados ao lazer e às atividades sociais que possuírem área superior a 10% da área do lote selecionado poderão situar-se no pavimento térreo e/ou no pavimento imediatamente superior ao pavimento de uso comercial. Estes, no entanto, devem constituir áreas integradas entre si e ficar separados da circulação de veículos, dos locais de estacionamento, das instalações de gás e dos depósitos de lixo. Caso o local destinado à recreação infantil estiver em pavimento acima do térreo, este deverá ser dotado de fecho, de altura mínima de 1,80 metro, para proteção contra quedas. SETORIZAÇÃO Os usos comerciais, de serviços e institucionais só poderão ocupar o pavimento térreo, a sobreloja e o 1º e 2º pavimentos, conforme estabelecido na legislação.
Vale ressaltar que as premissas apresentadas anteriormente, referentes ao uso HCSE-5*, foram consideradas durante o processo de projeto, juntamente com as discussões contemporâneas sobre a importância da multifuncionalidade de edifícios, afim de se criar um edifício multifuncional de qualidade no centro de Campinas.
57
3.3.2. Condicionantes físicos
Figura 88 - Topografia do entorno anterior à intervenção no terreno para o uso atual (estacionamento)
A cidade de Campinas é caracterizada pelo clima tropical de altitude, com verão quente e úmido e inverno ameno e quase seco. Os ventos predominantes são na direção sudeste (SEPLAMA, 2006). Figura 87 - Condicionantes físicos
Fonte: Elaborado pela autora.
Fonte: Elaborado pela autora.
A vegetação e arborização, num raio de 100 metros do terreno, é escassa. Logo, o sombreamento se limita às marquises das lojas. Além disso, devido ao intenso fluxo de veículos e pedestres na Avenida Campos Sales, somado à presença de estabelecimentos comerciais, é crescente o nível de ruído (poluição sonora) no entorno do terreno. A topografia é parcialmente plana, por se tratar de um estacionamento, o qual já sofreu alteração em seu perfil para abrigar tal uso. Observa-se pelo corte passando longitudinalmente pela Avenida Campos Sales que o terreno se localiza numa avenida em declive da esquerda para a direita (Figura 89).
58
Figura 89 - Corte esquemรกtico do perfil da via e do terreno selecionado
Fonte: Elaborado pela autora.
59
3.3.3. Entorno O entorno do terreno é caracterizado por gabarito predominantemente baixo, contando com a presença moderada de edifícios altos (Figura 92). A maior parte dos imóveis localizados no entorno abrigam estabelecimentos comerciais, de serviços e institucionais.
relação à arquitetura das edificações, quanto nas cores que as compõem, além das pessoas que ali circulam. Figura 91 - Mapa de vistas do entorno do terreno
Figura 90 - Maquete de estudo da volumetria do entorno
Fonte: Elaborado pela autora.
A heterogeneidade é bastante presente nesta região, tanto em Figura 92 - Perfil das edificações lindeiras
Fonte: Arquivo pessoal (abril de 2018).
60
Fonte: Elaborado pela autora.
Em menos de 50 metros do terreno, na mesma avenida da frente do terreno, a existência de um edifício garagem se apresenta como alternativa para o estacionamento dos veículos dos moradores do edifício. Na rua Álvares Machado, mesmo em meio ao Camelódromo, nota-se grande fluxo de pessoas apenas de passagem, advindas tanto do Terminal Central sentido Mercado Municipal, quanto do sentido contrário.
Algumas vistas do entorno da quadra onde o terreno está inserido foram registradas durante visita ao local, a fim de compreender melhor suas peculiaridades (Figuras 91 e 93).
Figura 93 - Vistas do entorno do terreno
Fonte: Arquivo pessoal (abril de 2018).
61
3.3.4. Potencialidades e deficiências
Esse terreno possui uma localização estratégica, próxima a diversos pontos de interesse, como podemos visualizar na Figura 94. São eles: _Mercado Municipal a 270 metros; _Largo do Rosário a 400 metros; _Catedral Metropolitana de Campinas a 450 metros; _Palácio dos Azulejos, que atualmente abriga o Museu de Imagem e Som de Campinas (MIS) a 550 metros; _Estação Cultura a 550 metros. Além disso, se trata de uma região bem servida de transporte público, ressaltando sua proximidade com terminais de ônibus urbanos, como:
_Terminal Mercado I a 300 metros; _Terminal Mercado II a 350 metros; _Terminal Central a 500 metros.
Sua proximidade com a Rua Treze de Maio, importante eixo de pedestres e de comércio popular do centro, também se apresenta como um potencial. Surge então a possibilidade de se criar um outro eixo exclusivamente destinado a pedestres e ciclistas na Rua Álvares Machado, promovendo a ligação do Mercado Municipal e do Terminal Mercado I e II com o Terminal Central (Figura 95). Tais potenciais se sobressaem diante das deficiências que esse terreno apresentava de maneira mais problemática em comparação aos outros três terrenos possíveis, como a poluição sonora e intenso fluxo de automóveis na Avenida Campos Sales.
62
Figura 94 - Pontos de interesse nas proximidades do terreno selecionado
Fonte: Elaborado pela autora.
63
Figura 95 - 3D da localização do terreno selecionado, seu entorno e pontos de interesse nas proximidades
Fonte: Elaborado pela autora.
64
4. O PROJETO Neste capítulo será apresentado o projeto, contemplando desde as propostas de projeto, até seus conceitos, partido arquitetônico, programa de necessidades, estudos preliminares e, por fim, as soluções projetuais adotadas. Tais propostas foram fundadas nos conceitos até então abordados e defendidos neste memorial, como a contextualização, os projetos referenciais e o levantamento e diagnóstico do local.
4.1. Propostas A proposta deste projeto consiste na produção de um edifício de uso misto no centro de Campinas, que cumpre com sua função social e estimula a vida urbana também no período noturno, acarretando em maior sensação de segurança. O edifício contribui para a construção de um espaço urbano mais humanizado, se integra ao entorno e privilegia a escala do pedestre através de seu gabarito baixo, da permeabilidade do lote e da expansão da calçada através da utilização do recuo para tal finalidade. Serve como um incentivo ao morar no centro, servindo de exemplo para outros projetos semelhantes que poderiam ser implantados nessa região. O requisito básico da vigilância é um número substancial de estabelecimentos e outros locais públicos dispostos ao longo das calçadas do distrito; deve haver entre eles sobretudo estabelecimentos e espaços públicos que sejam utilizados de noite. Lojas, bares e restaurantes, os exemplos principais, atuam de forma bem variada e complexa para aumentar a segurança nas calçadas (JACOBS, 2001, p. 37).
Parte deste edifício é destinado ao uso habitacional, promovendo moradia digna e de qualidade principalmente às pessoas que já residem
no centro em habitações coletivas populares em estado precário. As unidades habitacionais são também destinadas a outras pessoas que desejam morar no centro com o intuito de reduzir seus deslocamentos diários, sobrando então mais tempo livre para descanso e lazer. A oferta habitacional deste edifício é caracterizada como habitação econômica, voltada para um público alvo de renda média domiciliar entre 3 e 5 salários mínimos, proporcionando um acesso democrático à moradia. As unidades apresentam com variações tipológicas, flexíveis às diferentes composições domiciliares. O térreo conta com fachada ativa a fim de proporcionar uma boa experiência dos pedestres em sua caminhada. Nele estão presentes estabelecimentos destinados ao comércio e serviço voltados para a rua, além de espaços livres (cobertos e descobertos) para a fruição pública, qualificados para o uso e apropriação da população e desenvolvimento de atividades sociais e culturais. A multifuncionalidade do edifício, somado à diversidade socioeconômica dos moradores e à criação de espaços livres de caráter semi-público contribuem para a promoção de uma cidade mais dinâmica, democrática e humanizada. SÍNTESE DAS PROPOSTAS
noite;
_Edifício de uso misto: habitação coletiva contemporânea; _Integração ao entorno; _Promover e estimular vida urbana e segurança durante o dia e
_Fachada ativa; _Respeitar a escala do pedestre (gabarito, permeabilidade do lote, calçada, passeio); _Moradia digna e democrática; _Reduzir deslocamentos diários; _Habitação econômica (público alvo: renda média domiciliar 65
entre 3 e 5 salários mínimos); _Diferentes perfis de moradores; _Espaços livres qualificados para apropriação, interação e permanência dos moradores e pedestres.
66
4.2. Programa O edifício conta com habitação coletiva, estabelecimentos comerciais e de serviços, além de espaços livres de caráter semi-público. O processo de elaboração do programa de necessidades se baseou nas análises das ofertas e carências apresentadas no centro de Campinas, em diferentes períodos do dia. TÉRREO COMÉRCIO E SERVIÇO: _Hortifrut; _Restaurante; _Espaço destinado à abertura de lojas comerciais e de serviços, e banca de revistas e livraria para realocação da banca existente atualmente na calçada em frente ao terreno; _Café; ESPAÇOS EDUCATIVOS E CULTURAIS _Praça semi-pública e pátio interno semi-público com espaço livre para apropriação da população; OUTROS: _Praça de alimentação; _Bicicletário; _Sanitários feminino e masculino; _2 acessos controlados à circulação vertical do complexo habitacional, exclusiva dos moradores; _Rampa de acesso ao estacionamento do subsolo, exclusivo para moradores;
RESIDENCIAL _Unidades habitacionais com variação tipológica, com áreas molhadas pré-estabelecidas, alinhadas numa “faixa hidráulica”. Possibilidade de flexibilidade das divisões internas dos demais ambientes, pensada para atender às diversas composições domiciliares da contemporaneidade e seus anseios. _Unidades de 4 tamanhos diferentes, adaptáveis à acessibilidade: _unidade de 32 m² + 10 m² compartilhados com a unidade vizinha de mesma tipologia (quitinete); _unidade de 44 m² (1 dormitório); _unidade de 60 m² (2 dormitórios); _unidade de 75 m² (3 dormitórios); _Pavimentos intermediários de uso coletivo dos moradores; _Varandas a meio nível criando ambiente acolhedor de estar coletivo dos moradores; _Terraços multifuncionais para lazer, descanso e encontro dos moradores; _2 eixos de circulação vertical: _acesso principal com elevadores e escada enclausurada protegida; _acesso secundário com escada enclausurada protegida; SUBSOLO _Vagas de estacionamento exclusiva dos moradores (vagas para automóveis, vagas acessíveis e vagas para motos); _Área técnica; _Depósito de lixo e coleta seletiva;
67
4.3. Conceito
INTEGRAÇÃO INTER-RELAÇÃO Criar relação dentro e entre as Permitir o convívio e trocas de partes do edifício, e do edifício experiências entre os usuários. com o entorno.
PERMEABILIDADE Abrir caminhos, reduzir barreiras e potencializar a fluidez da rota dos pedestres.
68
PERMEABILIDADE VISUAL Permitir o contato visual entre o interior do lote e a calçada, possibilitando percepção do entorno.
FACHADA ATIVA Humanizar o passeio público por meio do contato dos pedestres com comércios e serviços no térreo, voltados para a rua.
DIVERSIDADE Diversidade de uso, de tipologias e de usuários, promovendo um espaço mais dinâmico e democrático.
FLEXIBILIDADE Possibilitar diferentes configurações e ampliações a fim de atender às mais diversas necessidades.
4.4. Partido
outro eixo se encontra na extremidade do bloco O controle de acesso é tratado de forma exclusiva aos moradores no interior do lote.
O partido para este edifício de uso misto consistiu em implantar dois blocos de edificação de forma perpendicular, se apropriando do formato do terreno, com a intenção de promover uma grande praça aberta em sua junção. Essa praça viabiliza a fluidez da rota dos pedestres e o desenvolvimento de diversas atividades. Com o térreo recuado em relação ao limite do lote, a calçada é ampliada, gerando uma passagem generosa aos pedestres. O térreo se configura em um espaço convidativo, a partir de suas fachadas ativas, que contempla todas as necessidades do programa referente aos usos de comércio, serviço, educativos e culturais. Os caminhos gerados no térreo através da disposição de seu programa, que promovem a permeabilidade do lote, e a praça, permitem acessos por todas as ruas adjacentes ao lote. A partir do primeiro pavimento, a edificação contempla o programa das habitações, contando ainda com a criação de terraços e pavimentos intermediários para a interação dos moradores, além de possibilitar a permeabilidade visual, ventilação e iluminação natural. A circulação vertical das habitações é distribuída em 2 eixos. Um eixo central e principal se encontra na junção dos dois blocos de edificação, conferindo em cada pavimento um espaço de convívio. O
69
70
4.5. Estudos preliminares ESTUDO 1 Figura 96 - Estudo preliminar 1
IMPLANTAÇÃO
PERMEABILIDADE | FLUXOS NO TÉRREO
VOLUMETRIA E SETORIZAÇÃO DO PROGRAMA
MAQUETE DE ESTUDO EM LEGO Fonte: Elaborado pela autora.
71
ESTUDO 2 Figura 97 - Estudo preliminar 2
IMPLANTAÇÃO
PERMEABILIDADE | FLUXOS NO TÉRREO
MAQUETE DE ESTUDO EM LEGO Fonte: Elaborado pela autora.
72
VOLUMETRIA E SETORIZAÇÃO DO PROGRAMA
ESTUDO 3 Figura 98 - Estudo preliminar 3
IMPLANTAÇÃO
PERMEABILIDADE | FLUXOS NO TÉRREO
VOLUMETRIA E SETORIZAÇÃO DO PROGRAMA
MAQUETE DE ESTUDO EM LEGO Fonte: Elaborado pela autora.
73
Figura 99 - Continuação no desenvovolvimento do estudo preliminar 3
ARTICULAÇÃO DO PROGRAMA
MAQUETE DE ESTUDO EM LEGO Fonte: Elaborado pela autora.
74
CONFORMAÇÃO DO TÉRREO
Figura 100 - Continuação no desenvolvimento do estudo preliminar 3
PERMEABILIDADE | FLUXOS
PERMEABILIDADE VISUAL | RELAÇÃO EDIFÍCIO-RUA
Fonte: Elaborado pela autora.
PERMEABILIDADE | FLUXOS NO TÉRREO
EIXOS DE CIRCULAÇÃO VERTICAL (HABITAÇÃO) 75
4.6. O edifício
Este edifício serve de incentivo e exemplo para projetos semelhantes que podem ser implantados em outros pontos da área central de Campinas, a fim de dinamizar ainda mais o centro e intensificar seu uso durante o dia e a noite. Além disso, suas unidades habitacionais também servem de exemplo para projetos habitacionais futuros, pois foram pensadas para proporcionar moradias dignas e humanas para seus moradores. As unidades projetadas fogem do padrão tradicional, que acaba, na maioria das vezes, produzindo apartamentos mal iluminados e mal ventilados, com áreas mínimas. Estes, por sua vez, apresentam-se como um local agradável para se morar; a entrada pela varanda traz uma sensação de estar em casa e ter um quintal, mesmo estando em um edifício verticalizado. A criação de espaços comunitário de diversas qualidades para convívio dos moradores fora do ambiente íntimo e privado de suas unidades habitacionais, também é apresentado como ponto positivo a ser seguido em outros projetos habitacionais, pois promove a socialização e espírito de comunidade. Os pavimentos intermediários democratizam a distribuição dos espaços em comum no edifício, e ainda criam a sensação de cheios e vazios nas fachadas, devido a seu fechamento em vidro As varandas a meio nível, voltadas para a Rua General Osório, com fechamento com guarda corpo de cobogó de concreto cria um ambiente acolhedor, podendo ser utilizado para atividades tranquilas como leitura, encontros, servindo como extensão do apartamento dos moradores. É nessa mesma fachada que se apresenta um jardim vertical.
76
Figura 101 - IsomĂŠtrica do edifĂcio
Fonte: Elaborado pela autora.
77
IMPLANTAÇÃO O edifício está localizado na Avenida Campos Sales, com esquina para a Rua Álvares Machado e fundo para a Rua General Osório (Figura 102). Ele representa a heterogeneidade do mundo contemporâneo, tanto por meio de seus diferentes usos, quanto por suas diferentes fachadas, pavimentos, tipologias e usuários. Figura 102 - Situação | Planta de cobertura
0
5
10
15
20
25
50m
Fonte: Elaborado pela autora.
A partir de sua implantação, cria-se um eixo exclusivo de pedestres e ciclistas na Rua Álvares Machado, promovendo ligação 78
do Mercado Municipal e do Terminal Mercado I e II, com o Terminal Central (Figura 103). Além disso, seu cruzamento com a Rua Treze de Maio, importante eixo de pedestres já existente no centro de Campinas, confere a esse eixo uma grande importância. É proposto o tratamento de piso diferente do calçamento urbano e do asfalto, a fim de definir e delimitar esse eixo como um espaço especial, com a implantação de mobiliário urbano, vegetação e iluminação pública, criando uma via agradável a população durante sua passagem por ela.
Figura 103 - Implantação do edifício no centro de Campinas | relações com o entorno
Fonte: Elaborado pela autora.
79
IMPLANTAÇÃO COM PLANTA TÉRREO O térreo se encontra recuado do limite do passeio público, e está 0,5 metro acima do nível da rua. Os acessos se dão através de duas rampas de dimensões generosas, com inclinação de 8%, além de escadas em diversos pontos. As escadas localizadas nas esquinas são de forma arquibancada, com degraus largos, podendo ser utilizadas também como local de descanso e encontro. A escada voltada para a Avenida Campos Sales é configurada de forma a criar um espaço convidativo de convivência. Em todo o entorno do pavimento térreo elevado, forma-se um beiral que serve também de banco para descanso. A organização do programa no térreo é feita de forma a criar grande permeabilidade no mesmo, possibilitando a fruição. As diagonais estão presentes no desenho do piso, favorecendo o wayfinding, possibilitando a permeabilidade visual nos diversos acessos ao térreo, criando passagem convidativa por baixo do edifício habitacional. O acesso às habitações acontece no interior do pavimento térreo, com entrada por um hall de acesso ao eixo de circulação vertical, controlado e exclusivo para moradores. Em relação aos usos do térreo, o programa conta com estabelecimentos comerciais e de serviço de caráter local, para atender às necessidades diárias dos moradores e das pessoas que circulam no entorno do edifício. O térreo conta com um hortifruti, restaurante com área externa com mesas, caracterizado como praça de alimentação, café, banca e livraria, para acomodar a banca existente atualmente na frente do terreno, além de estabelecimentos menores, como por exemplo costureira, salão de cabeleireiro. O aluguel desses estabelecimentos pode ser convertido para melhorias e manutenção no pavimento térreo, além da parte habitacional do edifício. A praça semi-pública formada na esquina da Avenida Campos Sales com a Rua Álvares Machado induz o fluxo de pessoas na diagonal, 80
de forma a “cortar” a esquina. Essa praça pode servir de espaço de convívio e lazer, além de poder abrigar apresentações e atividades culturais. O pátio interno e coberto formado no vão do térreo se torna opção de refúgio ao calor e sol das ruas pouco arborizadas do centro de Campinas. Pátio de caráter semi-público ao abrigo do sol, dotado de mobiliário urbano, viabiliza a apropriação pela população. A praça interna, por sua vez, também de caráter semi-público serve como local de descanso e tranquilidade em meio ao centro da cidade movimentado. Em relação às texturas e materiais utilizados no térreo, estes seguem apresentados na Figura 104 abaixo. Figura 104 - Texturas e materiais de piso utilizados no térreo
Fonte: Elaborado pela autora.
Figura 105 - Planta pavimento tipo (2ยบ, 3ยบ, 4ยบ e 6ยบ pavimento) Fonte: Elaborado pela autora.
0
2,5
5
7,5
10
12,5
25m
81
Dentre as 82 unidades, 26 são do tipo A, 36 são do tipo B, 14 são do tipo C e 6 são do tipo D. Todas as unidades possuem áreas molhadas (cozinha, área de serviço e banheiro) pré-definidas, assim como seu fechamento externo. No entanto, ainda se tratando da flexibilidade, são propostas plantas livres, podendo sua divisão interna ser feita através de paredes dry wall ou divisórias leves, de acordo com a necessidade dos usuários (Figuras 106 e 107).
TIPOLOGIAS As unidades habitacionais se encontram distribuídas em dois blocos de edificação posicionados perpendicularmente entre si, sendo um deles de 8 pavimentos e o outro de 6 pavimentos, de uso habitacional. O edifício abriga um total de 82 unidades. Tendo em vista o conceito de flexibilidade, foram propostas 4 tipologias diferentes, a fim de atender as mais diversas composições domiciliares contemporâneas. Estas tipologias são: _Quitinete (A); _1 dormitório (B); _2 dormitórios (C); _3 dormitórios (D).
Figura 106 - Planta unidade tipo A com medidas; destaque para a faixa hidráulica pré-estabelecida (sem escala) 17.55 3.60
6.98
TIPO A
32 m²
3.62
TIPO A
32 m²
5.35
2.05
6.98
1.33
3.30
10 m² compart. 2.46
4.12
3.60
Fonte: Elaborado pela autora.
82
4.12
2.46
PLANTA UNIDADE TIPO A 26 UNIDADES
3.30
5.35
5.35
1.33
1.33
6.98
2.46
3.60
4.12
17.5
2.46
4.12 3.55
10.37
3.60
6.98
3.55
4.13
1.33
1.33
3.30
3.30
3.30
5.35
60 m²
5.35
44 m²
3.62
TIPO C
3.62
TIPO B
2.05
2.05
2.05
.50
.50
3.55
2.45
3.55
10.53
4.63
2.45
2.46
2.80
4.12
3.60
13.92
PLANTA UNIDADE TIPO C
PLANTA UNIDADE TIPO B 36 UNIDADES
14 UNIDADES 13.17
2.05
.50
3.55
3.62
TIPO D
1.33
3.30
5.35
75 m²
3.55
5.28
2.06
2.45
2.80 3.55
16.72
13.
PLANTA UNIDADE TIPO D 6 UNIDADES .50
10.37
3.62
2.05
Fonte: Elaborado pela autora.
30
5.35
55
Figura 107 - Planta unidades tipo B, C e D com medidas; destaque para faixa hidráulica pré-estabelecida (sem escala)
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As unidades possuem pouca profundidade, o que proporciona maior aproveitamento da iluminação natural, através de janelas generosas tipo varanda, voltadas para a rua. A fim de proporcionar abertura em sua face oposta, foram propostas janelas altas em fita, voltadas para o interior do edifício. Tal característica, somada à articulação das unidades em duas lâminas paralelas, distantes 6,5 metros entre si, com uma passarela central de circulação de 1,5 metro, permite a ventilação cruzada e confere privacidade aos moradores (Figura 109). No primeiro pavimento, no entanto, no lugar dos vazios existem jardins, que continuam conferindo privacidade aos moradores por meio da distância em que a circulação horizontal se apresenta das janelas da cozinha, área de serviço e banheiros e do cobogó da entrada. Cria-se então uma espécie de jardim de inverno, que pode ser visto a partir de todos os outros pavimentos. As fachadas externas contam com painéis móveis, tipo veneziana, que correm em trilhos instalados no prolongamento da laje (0,50 metro). O uso desses painéis móveis confere identidade e dinâmica visual à fachada, a qual permanece em constante mudança, de acordo com a necessidade dos usuários. Novamente, o conceito de flexibilidade está presente no projeto; neste caso, na fachada. Ao pensar a habitação contemporânea, foi proposto um modelo de habitação onde não se acessa a unidade através da sala de estar, mas sim pela varanda; referência ao edifício Spazio 2222, do arquiteto Decio Tozzi (Figura 108). Essa varanda se apresenta como um ambiente de dimensões generosas, para possibilitar os mais variados usos. É delimitada por um guarda corpo de cobogó de concreto na face voltada para a rua (podendo ter seu fechamento em vidro, acima do guarda corpo), e cobogó na face voltada para o interior do edifício, permitindo entrada de luz natural e ventilação, além de conferir privacidade aos moradores (Figura 110). 84
Figura 108 - Apartamento no Spazio 2222, do arquiteto Decio Tozzi
Fonte: Tozzi, 2005.
Figura 109 - Interior do edifício habitacional passarela de circulação do 8º pavimento Fonte: Elaborado pela autora.
85
86
São apresentadas algumas variações possíveis de layout e divisões internas em cada tipologia, para demonstrar a intenção da flexibilidade (Figuras 111, 112, 113 e 114). É notável que, por meio desta flexibilidade na divisão dos ambientes internos, novos ambientes podem ser criados ou transformados, como por exemplo, um quarto convertido em escritório aberto para a sala, ou a exclusão de um quarto para ampliação da
sala de estar. Até mesmo a varanda pode abrigar diversos usos, sendo considerada ora um ambiente externo a unidade, ora como a própria sala de estar, principalmente no caso das tipologias com pequenas áreas. Tais variações mostram então que até mesmo unidades de mesma tipologia podem ser totalmente diferentes.
Figura 111 - Variações possíveis de layout e divisões internas unidades tipo A
PLANTA UNIDADE TIPO A | 32 m² (+ 10 m² COMPARTILHADO) QUITINETE ESCALA 1:100
Fonte: Elaborado pela autora. Figura 110 - Interior de uma unidade habitacional - vista para a varanda (jardim) Fonte: Elaborado pela autora.
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Figura 112 - Variações possíveis de layout e divisões internas unidades tipo B.
PLANTA UNIDADE TIPO B | 44 m² 1 DORMITÓRIO ESCALA 1:100 Fonte: Elaborado pela autora.
88
Figura 113 - Variações possíveis de layout e divisões internas unidades tipo C
PLANTA UNIDADE TIPO C | 60 m² 2 DORMITÓRIOS ESCALA 1:100 Fonte: Elaborado pela autora.
89
Figura 114 - Variações possíveis de layout e divisões internas unidades tipo D
PLANTA UNIDADE TIPO D | 75 m² 3 DORMITÓRIOS ESCALA 1:100 Fonte: Elaborado pela autora.
90
ACESSIBILIDADE Dada tal flexibilidade, é possível que todas as tipologias das unidades habitacionais sejam adaptáveis para se tornar acessíveis por meio da alocação das divisórias de modo a criar espaços, área de circulação e manobra que cumpram com os requisitos da NBR 9050 – “Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos”. Tal decisão de que todas as unidades sejam adaptáveis em caso de necessidade, reflete a preocupação em criar habitações que se transformam com o tempo, se adequando às necessidades dos moradores durante diferentes fases de sua vida, não limitando que apenas determinadas unidades sejam acessíveis e que os moradores tenham que se adequar. Para essas unidades é proposto o fechamento da área de serviço em porta tipo camarão em vidro jateado, possibilitando que as áreas sociais e de serviço da unidade fiquem abertas durante o dia, possibilitando a livre circulação dos moradores. Esta, por sua vez pode ser fechada quando for necessário, a fim de separar os ambientes. Ainda se tratando de acessibilidade, todos as passarelas de circulação horizontal e elevadores são acessíveis. As escadas contam com área de resgate segundo estabelecido na NBR 9050. O acesso ao térreo, 0,50 metro acima do nível da rua, se dá tanto através de escada, quanto através de planos inclinados (rampas) com inclinação de 8%. O subsolo, que abriga ao estacionamento privado dos moradores, conta também com a presença de 5 vagas acessíveis. Figura 115 - Unidades adaptáveis para acessibilidade Fonte: Elaborado pela autora.
PLANTA UNIDADE TIPO B | 44 m² ADAPTÁVEL | ACESSÍVEL ESCALA 1:100
PLANTA UNIDADE TIPO D | 75 m² ADAPTÁVEL | ACESSÍVEL ESCALA 1:100 91
PLANTAS
Figura 116 - Planta primeiro pavimento Fonte: Elaborado pela autora. 0
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5
7,5
10
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25m
Figura 117 - Planta pavimento tipo (2ยบ, 3ยบ, 4ยบ e 6ยบ pavimento) Fonte: Elaborado pela autora. 0 2,5
5
7,5
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25m
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Figura 118 - Planta 5ยบ pavimento Fonte: Elaborado pela autora.
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25m
Figura 119 - Planta 7ยบ pavimento tipo Fonte: Elaborado pela autora.
0
2,5
5
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12,5
25m
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Figura 120 - Planta 8ยบ pavimento Fonte: Elaborado pela autora.
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2,5
5
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25m
Figura 121 - Planta subsolo Fonte: Elaborado pela autora.
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5
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15
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50m
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CORES E MATERIALIDADE A paleta de cores utilizada no projeto deste edifício foi escolhida através de um estudo das cores presentes no centro de Campinas. Devido ao centro ser muito heterogêneo, ele não apresenta um padrão predominante de cores. No entanto, foi possível observar a presença de tons terrosos em diversas edificações do entorno, além do próprio Mercado Municipal. No projeto essas cores estão presentes no volume que se destaca do edifício, que abriga a circulação vertical e a caixa d’água, e elementos
como portas; sendo assim, o edifício se integra à paisagem do entorno onde está implantado. Dentre os materiais utilizados, vale ressaltar o uso de cobogós de concreto, tanto como guarda corpo das varandas das unidades habitacionais, quanto em seu fechamento voltado para o interior do edifício. Esse material também é utilizado como guarda corpo das varandas em meio nível e como fechamento das extremidades do bloco de habitações de 8 pavimentos, permitindo a circulação permanente de ar no interior do edifício, nas áreas de circulação dos pavimentos. As placas de cimento e o concreto são utilizadas tanto nos pisos
Figura 122 - Elevação da fachada voltada para a Avenida Campos Sales
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5
10
15
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50m
Fonte: Elaborado pela autora.
do pavimento térreo, quanto como revestimento externo do edifício, trazendo a sensação de áspero, materiais que se integram bem à paisagem do entorno. O vidro é usado, trazendo ideia de brilho, superfície lisa. É utilizado com abundância, em todas as janelas tipo porta de varanda, que vão de piso a teto, além do fechamento da esquina nos pavimentos de habitação, que formam ambientes de contemplação e de estar dos moradores. Tal fechamento conta com vidros de correr com junta seca, podendo ser controlado pelos usuários. Os ambientes comuns criados
no 1º e 5º pavimentos também apresentam o mesmo fechamento da esquina. Os paneis de madeira móveis, que correm em trilhos nos prolongamentos das lajes, trazem sensação de elemento quente, assim como as portas das unidades e os eixos de circulação vertical, com cores terrosas. Esses painéis conferem identidade e dinâmica visual nas fachadas do edifício, podendo sofrer constante mudanças, de acordo com as necessidades dos moradores.
Figura 123 - Elevação da fachada voltada para a Rua Álvares Machado
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5
10
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25
50m
Fonte: Elaborado pela autora.
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A fachada voltada para a Rua General Osório é composta por um jardim vertical, que gera, por sua vez, um painel artístico natural. Na esquina, os paredões configuram painéis artísticos, além de possuírem função estrutural. Se tornam telas, visando incentivar a intervenção de artísticas locais, criando sempre uma nova identidade e dinâmica à fachada do edifício. Figura 124 - Elevação da fachada voltada para a Rua General Osório
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5
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15
20
25
50m
Fonte: Elaborado pela autora.
A arte utilizada nas imagens 3D geradas do edifício é de Alexandre Lima Paixão, nascido em Campinas, SP, em 3 de julho de 1992. Ingressou em 2011 em Arquitetura e Urbanismo na UNICAMP, onde nos tornamos colegas, embora não tenha concluído o curso. É licenciado em Filosofia pelo IFCH/UNICAMP, concluiu o curso em dezembro de 2017. Atualmente reside em São Paulo, SP, e trabalha como desenhista artístico, professor de filosofia e cartunista. Alexandre colaborou com parte importante do projeto ao me permitir usar sua arte como painel artístico do edifício.
Figura 125 - Desenho artístico de Alexandre Lima Paixão Fonte: Alexandre Lima Paixão
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MÉTODO CONSTRUTIVO E ESTRUTURA O método construtivo utilizado é a alvenaria em bloco cerâmico, devido ao fato de suas propriedades de isolamento térmico serem superiores à dos blocos de concreto, portanto gera maior conforto térmico. As estruturas (vigas e pilares) são em concreto armado, com laje protendida de 20 cm de espessura. O lançamento de pilares foi feito seguindo um grid para cada um dos blocos de edificação, a fim de que não passassem vigas pelo meio do espaço vazio gerado pelo afastamento dos blocos de habitação, não apresentando vãos superiores a 7 metros. Nas habitações, os pilares estão embutidos nas paredes e as vigas passam por locais que não influenciam nas divisões internas das unidades. Esses pilares foram lançados no térreo, com seção circular, e também no subsolo. As paredes externas dos dois eixos de circulação vertical são de alvenaria estrutural, assim como os paredões que abrigam os painéis artísticos. As passarelas de circulação são de estrutura metálica, conferindo maior leveza e vencendo maiores vãos, sendo apoiadas nas vigas dos blocos de apartamentos. A cobertura translúcida de policarbonato solta do edifício, com inclinação de 5%, possui estrutura metálica, conferindo leveza e transparência para a mesma.
Figura 126 - Corte AA
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2,5
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7,5
10
12,5
25m
Fonte: Elaborado pela autora.
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CIRCULAÇÃO VERTICAL A escada enclausurada protegida (EP) foi projetada seguindo os requisitos das normas técnicas do Corpo de Bombeiros, possuindo janela em sua caixa de escada. Para este caso não foi necessário o projeto de antecâmara, pois essa só é necessária em escadas enclausuradas à prova de fumaça, que são utilizadas em edifícios com altura superior a 30 metros.
Ainda segundo a norma dos bombeiros, levando em consideração o uso, ocupação e altura do edifício, foram projetadas duas escadas, uma centralizada e outra em uma das extremidades do edifício, a fim de atender as necessidades máximas de distâncias a percorrer na rota de fuga. As escadas ainda cumprem com a NBR 9095, possuindo área de resgate. A necessidade de duas saídas de emergência justifica o fato de
Figura 127 - Corte BB
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2,5
5
7,5
10
12,5
25m
Fonte: Elaborado pela autora.
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que apenas um dos eixos de circulação vertical contam com a presença de elevadores, pois este é o eixo principal. O outro, se caracteriza como escada de emergência, no entanto também pode ser utilizado como acesso para os moradores que desejam utilizá-la. O cálculo dos elevadores foi feito segundo as premissas da NBR 5665, a qual estabelece a quantidade de elevadores necessários para que no mínimo 10% da população do edifício, para o caso do edifício de apartamentos, sejam transportados em 5 minutos. Foi constatado então que 3 elevadores de capacidade de 8 pessoas seriam suficientes para cumprir esse requisito. Os elevadores possuem as dimensões mínimas para transporte acessível. ESTRATÉGIAS E SOLUÇÕES Algumas estratégias foram adotadas no projeto, tanto no âmbito das relações entre as pessoas, quanto no âmbito de conforto térmico. As estratégias de conforto térmica foram pensadas a fim de amenizar e contribuir para o conforto dos moradores. Dentre essas estratégias, vale ressaltar o fechamento em cobogó tanto no guarda corpo das varandas das unidades e no seu fechamento voltado para o interior do edifício. Na Figuras 128 podem ser observadas algumas dessas estratégias adotadas para o caso das unidades habitacionais em si. Além disso o fechamento em cobogó das laterais do maior bloco de habitação e do guarda corpo nas varandas a meio nível também permitem a ventilação natural, proporcionando também a ventilação cruzada em todo o edifício, devido ao fato desses cobogós estarem alinhados. As soluções dos painéis móveis, utilizados como venezianas que correm em um trilho alocado no prolongamento da laje, servem de estratégia de conforto térmico para as fachadas noroeste, principalmente nos pavimentos mais altos. É gerada então uma igualdade de conforto 104
em todas as unidades, mesmo aquelas com orientação diferente. O jardim vertical na fachada voltada para a rua General Osório também contribui para o conforto, principalmente aos usuários do térreo e aos moradores que utilizam as varandas a meio nível. O afastamento das lâminas habitacionais em 6,5 metros, com vazio de 2,5 metros de cada lado da passarela central de circulação de 1,5 metro, permite a ventilação e iluminação de todos os pavimentos, além de potencializar a relação visual entre eles. A cobertura solta do volume do edifício permite a ventilação natural e as trocas de ar que entra pelas varandas através dos cobogós. Essa cobertura translúcida permite ainda a iluminação natural no interior do edifício. Sobre a relação visual, o edifício de gabarito relativamente baixo permite a relação entre os moradores, os pedestres e os usuários do térreo, gerando maior sensação de segurança em todos os períodos do dia. A permeabilidade do térreo, proporcionada através da distribuição de seu programa, permite o fluxo de pedestres por baixo do edifício habitacional. Isso torna a caminhada mais prazerosa e dinâmica, além de promover o uso dos estabelecimentos comerciais e de serviços existentes no mesmo.
Figura 128 - Estratégias e soluções de conforto térmico nas unidades habitacionais
Fonte: Elaborado pela autora.
105
106
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