Sobre a autora Camila Fornelli: Sou apaixonada pela arte e pelos animais, desde que me conheço por gente. O amor e a empatia pelos seres humanos sempre me acompanharam. O interesse em desvendar a Psique humana (minha e dos outros) me inquietava. Não foi à toa, que decidi cursar graduação em Psicologia. E lá me encontrei. E foi na pós em Arteterapia que encontrei ainda mais sentido para as minhas reflexões e minha forma de ver a vida. Sempre gostei de escrever seus sobre meus sentimentos e pensamentos, mas só agora tive coragem de expor isso aos outros, de uma vez. Minha intenção é dividir um pouco das minhas catarses com as pessoas e espero que possamos ter trocas e conexões a partir disso, porque uma das coisas que mais me toca é quando alguém fala se identificar com algo que escrevi. As palavras saem espontâneas, sem métricas ou técnica e às vezes até desorganizadas. Mas é só assim que eu saber ser. E a mim, só cabe aceitar. Respeitar minhas loucuras foi a maneira que encontrei de não me perder mais de mim mesma. (ainda devo mexer nessa parte talvez)
Sobre a origem do nome do livro “Além do Self”: A ideia desse nome surgiu quando eu criei uma página de fotos (tão aleatórias e livres quanto as minhas poesias), porque “self” é uma palavra muito usada na Psicologia Psicanalítica para se referir ao “ser” de uma pessoa, ou seja, sua essência, seu “si mesmo” ou o “ego” em si. Quando eu escrevo, pinto ou tiro fotos, sinto que estou indo além do meu ser comum, da pessoa que eu mostro ao mundo e que os demais conhecfaço isso sem me importar com estética e me distancio, completamente, de qualquer ideal de perfeição. Esse tipo de arte expressa algo que vai além da minha parte comum, é quando mergulho profundamente em meus devaneios e vou “além do meu ser”.
Vivacidade Há tanta intensidade dentro do meu ser Que por vezes meu coração explode dentro de mim Transformando vivacidade em ansiedade Há tanta profundidade pairando sobre essa psique Que por vezes me afogo, assustadoramente, em meu interior Possuo tanta necessidade de cura Que por vezes tento curar mais aos outros do que a mim
Mente Uma mente confusa Uma mente profunda Uma mente que mente Mente tão mal e você acredita Sempre temos algum segredo... pros outros ou pra nós mesmos O peso é não saber se o que sabemos sobre nós é real Ou o que gostaríamos que fosse
Selvagem Tem dias que a minha mente quer correr a 1000 km/h Enquanto meu corpo quer andar lentamente Como uma tartaruga Quando isso acontece é tão, mas tão... exaustivo Que preciso colocar pra fora Encontro-me, então, com as palavras Até acho bonito, mas nunca fiz questão de escrever difícil Apenas coloco no papel, exatamente, da maneira como elas saem de dentro do meu ser: selvagens E não tenho a menor pretensão de domá-las
Ambivalência Observo... A ambivalência do natural em meio ao concreto Da minhoca de metal (*) atravessando o céu colorido pelo fim de tarde... e contemplo! Amo quando a natureza Ultrapassa o concreto O que parece frágil, muitas vezes, é bem mais forte do que se imagina
(*) Referência à música “Rodo cotidiano” d’O Rappa
Falso Eu Já fui veneno Já confusão Já fui caos e escuridão Já fui exposição Fui atacada Mas também Já fui pólvora e bala de canhão Já mergulhei de cabeça em lugares demasiados rasos... Já morri Matei o falso eu Doeu Assustou Fiquei imersa em pânico
Mas depois nasci de novo, ressuscitei, Foi então que decidi nunca mais voltar para o que me destruiu Especialmente, pra quem eu era... Ou pensava ser
Cachoeira Sou cachoeira É disso que você tem medo Está muito calor Você está morrendo de vontade de se molhar Mas tem medo Medo de colocar a cabeça na parte em que deságuo com força Você vê minha força como violência Você começa a suar cada vez mais Mas não tem coragem de mergulhar nas profundezas Decide colocar apenas os pés para aliviar um pouco a agonia Mantendo sua segurança falsamente confortável Tem vontade de mergulhar mas continua com medo da imensidão
Se você mergulhasse de cabeça Sentiria toda doçura e profundidade que tenho para lhe ofertar Veria que tenho partes que deságuam fortes mas também tenho acolhimento e calmaria para oferecer Ofereço a ti minha profundidade Deixo totalmente à mostra pra você Deixo respingar minhas águas para que sinta que pode mergulhar Mas não lhe forço Você mergulha apenas se quiser E mesmo ficando no raso, consegue sentir todas essas possibilidades Mas o medo continua te tomando
Você prefere ficar no raso mantendo suas certezas tão falsas Então você vai embora, tendo se banhado apenas numa parte minúscula de mim Você ainda está suando... com muito calor Chega em casa Já bem longe Então percebe que daria tudo pra estar perto novamente pra ter mergulhado e sentido todo amor que eu tinha para lhe dar Mas você ainda tem medo Então você liga o ventilador e se refresca na c o m o d i d a d e do seu lar
Reflexo Olhar pra trás pode ser bom e belo, quando faço isso por meio de um espelho Desse modo, posso me enxergar, enquanto olho para o passado E continuo seguindo em frente, mesmo diante (e por causa) de tantas reflexões
Apego Eu me apego a bichos bichos de rua bichos dos outros Apego-me a plantas Apego-me ao por do sol quando tem aquela beleza embasbacante com todas aquelas cores... Amarelo, laranja, lilás, azul e rosa Apego-me a sensações de prazer e de dor Só não sou de me apegar a pessoas E fui inventar de me apegar logo a você...
Voracidade Um desejo de saborear o mundo com voracidade Observar e amar o mundo Profundamente Projetando nele tudo que tenho de mais rico em meu interior Uma necessidade de trocar o que eu sinto com alguns seres que encontro pelo caminho Uma necessidade viciante de alcançar o mais profundo mais e mais profundo Uma natureza selvagem Espontânea Que buscar viver intensamente E ter a certeza de tirar proveito de tudo que vivencio
Sempre existe algo bonito para ser desfrutado Em todo e qualquer lugar A todo e qualquer momento Apenas quero ter a certeza de experienciar, verdadeiramente, tudo aquilo que meu âmago deseja Ah, o desejo... Palavra capciosa! Existe um bom segredo: A vida torna-se mais libertadora quando bancamos os nossos desejos
Intensidade
Intensidade Não é fácil sentir tudo com tanta intensidade Uma eterna ambivalência O prazer é um deleite incrível que se prolonga e se aprofunda dentro de mim Porém os desprazeres são sentidos na mesma medida... Agonia Ansiedade Medo Angústia p â n i c o... Não é fácil ter um coração maior que o corpo No entanto, já aprendi que não seria capaz de mudar quem eu sou Os momentos de prazer intenso fazem tudo valer a pena Olhar a lua cheia e me emocionar Sentir meu corpo flutuando nas águas do mar Desfrutar os prazeres que a vida me proporciona
A sensação de arrepio quando a pessoa certa toca a minha pele (e a minha alma) A queda da cachoeira acalmando minha cabeça, mente, corpo e coração Acredito que ninguém teria me dito que seria fácil caso eu tivesse escolhido vir para esse mundo sob essa pele e dentro dessa casca
Mas parece que, se escolhi Foi pra vir assim mesmo Desse jeitinho torto Então que eu aproveite cada momento Pra dançar a vida conforme ela dita seu ritmo
Mar Um ser dividido entre a necessidade de calmaria e a pressa de viver (*) Observar o som do vento sacudindo as folhas das árvores Me faz respirar calma e me sentir segura Olhar o mar em sua dinâmica de ir e vir Alimenta e acalenta minha alma De repente, a preocupação surge no horizonte da minha mente Penso no dia em que tudo isso acabará Aumenta o medo de não viver tudo aquilo que quero viver Antes de abandonar esse universo Por muitas vezes a apreensão me assola Tenho medo de me despedir da vida mais cedo do que eu gostaria O velho paradoxo de desperdiçar a vida que eu tanto saboreio, justamente, pelo receio que ela acabe
De repente eu sinto o sol acariciar minha pele Me sinto acolhida A sensação de prazer volta como mágica Então apenas consigo sentir E aproveitar cada sinestesia desse momento Saborear o som do mar e do vento Sem me lembrar do que me preocupa... É bom estar viva!
(*) Referência à música “Coração Selvagem” de Belchior
Deusa Planto minha lua Para devolver à mãe terra, de onde eu vim, toda minha força sagrada Como forma de gratidão Amo a mulher que sou E continuo me tornando Nascida sob a lua cheia Num dia 13 de março Selvagem, cigana Filha da noite e livre por natureza Gratidão por ter em mim Oxum Blodeuwedd Bastet Jaci Hecate & Oya
Fazendo de mim Doce Amor Lua Sombras Noite Vendaval & Coragwm Eu sou Uma deusa Sagrada E que delícia que é me cultuar
Superego Deitada em minha cama Insônia 6 da manhã Ainda não dormi Olhando pela janela do quarto observando as sombras que as plantas fazem pela janela Entro em devaneio Pensando, assim, sobre minhas sombras De repente Pergunto a mim mesma: “Céus, onde foi que eu errei dessa vez?” Eis que meu superego responde, prontamente: “Olha lá,́ agora a madame vai se fazer de desentendida” É, no fundo a gente sempre sabe!
Cheio de vazio Cansada... Pessoas sempre nos mesmos lugares fazendo as mesmas coisas Necessitadas de serem vistas Necessitadas de serem amadas Cheias de olhares vazios Cheias de vazio Cheias de engano Escondem-se apenas para serem encontradas No entanto, nunca sequer são procuradas
LUSTRAÇÃO DO POEMA 16 – cheio de vazi POEMA 17 – eu sou poesia Foi então que descobri: ter uma imaginação tão fértil e por vezes, até inocente foi meu maior trunfo pra sobreviver aos momentos ruins
até que um dia ser tão propensa ao devaneio se tornou um grande deleite
foi quando eu descobri: eu sou poesia
Árvore torta Árvore torta Natureza torta Que nasceu na selva de pedras Precisa dividir o espaço com o concreto Ela é selvagem e odeia concretude Todavia, ela nasceu aqui e teve de se adaptar “Adaptação” Essa palavra tem um peso uma dureza um fardo Ela já pensou que não fosse suportar, mas floresce até mesmo no outono Flores vermelhas e amarelas Intensa e meiga Sempre soube que seu lugar não era aqui Que sua vida seria mais feliz perto do mar ou da cachoeira na livre natureza
Porém, ela fincou suas raízes E nunca mais poderá sair... A essa altura, dou-me conta Que falei mais de mim do que dela Ela, a árvore Ou sou eu?! Por sorte não possuo raízes Ainda há esperança!
Ansiedade Despersonalização Fora do corpo Extra corpóreo Alma f l u t u a n t e f l u t u a n t e mente Agonia g a l o p a n t e e c o na m e n t e e c o na c a b e ç a Vozes Minhas mesmo Dentro de m i m Me fazendo querer fugir de mim A agonia me paralisa Sei que só me resta esperar o grande dia Em que essa parte pesada da vida irá para sempre cessar.
LUSTRAÇÃO DO POEMA 19 - ansiedade
So
Poema sobre a morte A ficha ainda não caiu totalmente Ainda dói Expressar-me serve como distração SAUDADE Em pensar que Nunca mais nos veremos Nem abraçaremos Nem poderemos mais olhar Nos o l h o s Para falar “eu te amo” Sei que não estão totalmente distantes Apenas em um plano paralelo Então continuo falando: “EU TE AMO” “Sou grata por ter feito parte da minha vida” E sinto a energia deles Perto de mim Dentro do meu coração Isso me conforta pelo menos, por algum tempo
Flores Você tem cheiro de perfume caro e cigarro barato Quando estamos embriagados Você parece ser minha alma gêmea No dia seguinte Dou-me conta de que jamais daria certo Você prefere flores de plástico Diz ser porque não morrem Esqueceu que flores de verdade podem viver por muitos anos? Com mais cor e mais perfume e mais amor Basta saber plantar e regar! Mas você não sabe cultivar Só quer a colheita Daquilo que está pronto Então entendo porque jamais daremos certo: Eu sou viva demais Para estar com alguém que tem tanto medo de viver
Engano Eu quis a sorte de um amor tranquilo (*) Um amor puro desses que nem sabe a força que tem (**) De repente você apareceu Parecia que eu tinha te esculpido Por dentro e por fora Pensei: “agora vai” ... Não foi! Não era amor Nem era tranquilo Muito menos puro
(*) Referência à música “Todo amor que houver nessa vida” de Cazuza (**) Referência à música “Um amor puro” de Djavan
Desigualdade Sair às ruas E ver gente sem teto e com fome... Faz doer a alma Impotência Não importa o que se faça Ainda é pouco muito pouco O bicho, meu Deus, era um homem” (*) e uma mulher e uma criança e tinha bicho também E as pessoas passavam e pareciam não ver Invisibilidade Negação Indiferença Costume...? Quando foi que perdemos a capacidade de nos indignar?
(*) Referência ao poema “O bicho” de Manuel Bandeira
Psique Quanto pesa a culpa? Qual é o cheiro do medo? Qual é o sabor de uma traição? Quanto mede o arrependimento? Pra que é isso agora: Desnudar a psique dessa maneira tão desprendida? Apenas porque cansei de tanta coisa comedida! Cresci sendo incentivada por meus pais a ser eu mesma... O mundo lá fora me fez pensar que era errado Comecei a tentar ser outro alguém... Não sou como eles, mas posso fingir (*) pra sobreviver Usando tantas máscaras Começaram a grudar em meu rosto Em dado momento, nem me reconhecia mais Agia de maneiras que jamais imaginaria Fase de tantos erros, enganos, impulsividades... Magoei pessoas
Expus-me de maneiras que não queria No entanto, foi apenas assim que despertei e vi: meu verdadeiro eu estava quase morrendo Foi apenas assim que criei coragem Para voltar às minhas raízes e reaprender a ser quem eu sempre fui E decidi nunca mais fingir
(*) Referência à música “Dumb” de Nirvana.
Profundidade Todas as vezes em que tentei me adaptar a lugares e relações Que não eram totalmente ressonantes com meu verdadeiro self, não consegui Em algum momento minha profundidade e espontaneidade Colocaram-me em situações que tornaram impossível minha permanência naquela (falsa) sensação de pertencimento Foi quando aprendi, duramente, que não sei me adaptar Já sofri muito por isso Hoje aprendi que tal autenticidade pode ser maravilhosa! Desde que eu continue fortalecendo meu prazer na solitude E encontre um colo acolhedor em mim mesma
Tempo O tempo… Esse sábio senhor que, por vezes, resolve a vida Ao sabor das marés ou dos ventos O velho sábio que me ensinou e continua ensinando Que não adianta apertar o passo Se o futuro ainda não tem forças pra existir Que as conquistas mais importantes e mais estáveis… Necessitam dele: o tempo Ele, que cura nossas feridas Nunca sozinho Depende de como o atravessamos Que é responsável por fazer uma árvore pequena, frágil e recém plantada Virar uma árvore forte e difícil de ser arrancada
Esse tempo, Que hoje me tornou a pessoa que eu queria ter sido Tempos atrás… Esse complexo paradoxo Pois eu não seria hoje o que sou Se não fosse por ele O velho sábio O tempo.
Caos Desde pequena você aprendeu a se doar Quando deveria apenas se emprestar Que necessidade é essa de iluminar o caos do outro? Será pra iluminar o próprio caos? Pelo menos um pouco...? É como dizem: “No fundo, você dá ao outro, aquilo que quer receber.”
Eu sou poesia Sempre fui meio desatenta Avoada Com a cabeça no mundo da lua Tão melhor o mundo de lá me parecia Foi então que descobri: Ter uma imaginação tão fértil E por vezes, até inocente Foi meu maior trunfo Para sobreviver aos momentos difíceis Até que um dia, Ser tão propensa ao devaneio, Tornou-se um grande deleite Foi quando eu descobri: Eu sou poesia!
Agradecemos especiais a: Adriano Costa Alexis Perri André Marques Bárbara Martins Breno Barbosa de Oliveira (Studerbakers Guitars) Caíque Queiróz Daniel Augusto Ferreira da Costa Daniela Martins Gorski Danilo Santos Dara Rabelo Decio Uemura Eduarda Guarino Felipe Carrete Felipe Rodrigues Silva Gabriel Eduardo Gabriela Portillo Guilherme de lima Graziano de Sousa Silva Gregory Yohan Isadora Carvalho Soares Ivania Maria Campos Janice Silveira Coelho José Coimbra José Mauro Vieira Joaquim Cardia Ghirotti Juliana Sandry Maglio de Oliveira Karine de Lourdes Chaves Firmino Larisse Alabarce Faroni Luiza da Cruz Ribeiro Prezado Luís Sérgio Leite Magali Guerreiro Marcia dos Santos Ferreira Maria de Fátima de Jesus Gaspar Mariana Capobianco Matheus Rodrigues Matheus Rodrigues Corretor Milene Oliveira Pamela Deppie (Filhas De Oxalá) Rafael Kolbe Regina Celia Fornelli Rení Cadena Ricardo A. S Formigoni Rodrigo dos Santos Ferreira Saulo Caldas Sergio Quintanilha Thais Fornelli Costa Thiago Verdu Thie Barrat Victor Richa
Agradecimentos especiais ao Rotary Clube de Itanhandu e ao Rotaract Clube de Itanhandu (Distrito 4560 Gestão 21/22 que propiciou o plantio das 43 árvores referentes as pessoas que apoiaram esse projeto via catarse.)
Obrigado!
Somos muito gratos a todos vocês que ajudaram a viabilizar este projeto, muito obrigado!