Revistalaboratório N°1/ 1° semestre do curso de Jornalismo da FEF (Fundação Educacional de Fernandópolis).
EDITORACHEFE Fernanda Cipriano
DIAGRAMAÇÃO E PROJETO GRÁFICO
PELA HISTÓRIA QUE MARCA A VIDA
Editorial
ATEMPORAL
Rafaela Picolo
ARTICULISTA Twéll Alves
REPÓRTERES Andrey Lopez Abner Souza Brener Mosquim Diogo Campanelli Guilherme Sestari Lara Giolo Marina Menezes Marina Oliveira Rafael Patrick Yago Araujo
FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE FERNANDÓPOLIS Av. Theotonio Vilela, 1685, Campus Universitário CEP: 15.608.380 Fernandópolis Telefone (17)34650000
PRESIDENTE Ocimar Antônio Castro
AUXILIARDIRETOR ACADÊMICO Reges Evandro Teruel Barreto
DIRETOR ADMINISTRATIVO Rogério de Jesus Ribeiro
COORDENADOR DO CURSO DE JORNALISMO Prof° Dr. Marcelo dos Santos Matos
JORNALISTA RESPONSÁVEL PELA REVISTA LABORATÓRIO
Fernanda Cipriano | Editorachefe
Como um simples suspiro humano, em questão de segundos, revela sobre a magnitude do tempo que no simples ‘tic tac’ de um relógio sincroniza as batidas de um coração e dispõe de minutos de lucidez. No representar do valor sentimental das tradições e histórias que perpetuam por séculos, por conta da intensidade que essas situações aconteceram. O tempo pode ser marcado por duas formas. Como o teólogo mineiro Rubem Alves relatou: a primeira, foi inventada pelos homens que amam os números e começaram a marcar as passagens por meio dos relógios, cronômetros e calendários, que nada dizem de alegrias e sofrimentos. A segunda, inventada por homens que sabem que a vida não pode ser medida, apenas, com calendários e relógios. A vida só pode ser marcada com a vida. Por isso, nesta edição da Atemporal trouxemos a memória do povo paulista, perpetuada por inúmeras pessoas do noroeste do estado e desta vez, contada sobre a emocionante história de dona Apparecida Pinatto, (confira pág. 6) por meio das lembranças das melodias tocadas na viola, pelas mãos calejadas de seu pai. O retrato da culinária (confira pág. 12) abastecida de costumes e os dotes culinários passados por gerações, atravessando os limites do tempo. Bem como as lutas diárias e conquistas de sonhos daqueles que fundaram suas microempresas (confira pág. 21), seguindo com o legado e tendo a oportunidade de se estabelecer aqui nessas terras. As portas do passado, abertas no agora, também refletem no futuro. O tempo não reconhece o seu lugar e se faz sempre presente. A reportagem da página 32 conta como os episódios do antes estão atualmente e meras semelhanças que podem falar um pouco da nossa correlação com histórias, que até então, só tínhamos visto nos livros do último século. Nas próximas páginas temos também uma imersão em um dos maiores conceitos dos dias atuais, a internet. Aqui você vai viajar pelos mais diversos assuntos, desde o universo da tecnologia dos games e como, hoje, ela te influencia nas relações fora das telas (está na pag. 18), profundas imersões históricas e de muitas memórias envolvendo o mundo da música e como tem sido suas dispersões (muito mais nas págs. 22 e 28). Mas falar de internet, aqui na Atemporal não é apenas da obviedade que está todo mundo cansado de saber. Em todas as histórias aqui escritas, a viagem é para dentro de você e na escuta dos seus pensamentos mais profundos. O momento do cancelamento por quem de fato o viveu, pode ser uma das mais complexas provas de como esse assunto é intenso e pode ser comparado com o passado (entenda na pág. 14). No seu vestuário, o conceito de moda passou pelas barreiras do tempo e está no dia a dia no simples atualizar da página no Instagram (pág. 26). Como mais uma forma de eternizar e registrar pensamentos que se difundiram ao longo do tempo, essa edição vem compartilhar experiências, transmitir ideias para aqueles que se dispõe a navegar com ela, que tem curiosidade ou simplesmente querem desfrutar sobre algumas palavras. No fim, a escrita tem esse grande objetivo, o de compartilhar o tempo. .
Profa° Ma. Andresa Caroline Lopes de Oliveira MTB 70.906SP
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Sumário
Páginas 2831
Cultura
Sociedade
Logo que se pensa nas manifestações culturais que compõem o interior paulista já vem à memória a moda de viola. A representação da cultura caipira por meio dos dotes musicais do povo desta terra, sempre foi um guia e mestre de gerações, hoje é símbolo da gênese da identidade musical e cultural dos paulistas...
Quem vigia os vigilantes?, a frase se tornou famosa em inglês ("Who watches the watchmen?"), com a clássica HQ Watchmen, escrita por Alan Moore e ilustrada por Dave Gibbons. Na era das redes sociais, podemos pensar em uma nova variação: quem cancela os canceladores? E não é exagero nem alarmismo: é cada vez mais forte a chamada cultura do cancelamento, em que qualquer deslize, frase infeliz ou erro honesto pode levar à destruição de reputações ou carreiras construídas ao longo de anos... Páginas 14-17
Sétima arte
Páginas 67
O cinema como nós conhecemos nasceu em 1892 e foi criado por Léon Bouly. O francês inventou um aparelho capaz de gravar e projetar a luz das imagens em movimento, por meio de telas em quadros. Mas ele não tinha dinheiro para registrar sua invenção, então, o aparelho foi patenteado anos depois pelos irmãos Lumière que passaram a fazer produções cinematográficas de pequenas capacidades e a exibilas em sessões especiais. Desde então, o cinema vem ficando cada vez mais tecnológico e se tornado a maior indústria de entretenimento... Páginas 810
Tradição Quase como que se a vida aplicasse a 'ideia da escrita' que nasce do cotidiano, por meio das lembranças e experiência de vida de seu povo, a boa culinária e seus dotes são passados por gerações. O que vai muito além da apresentação de sabores e atravessa os limites da história... Páginas 1213
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Geek Caso me falassem que um jogo online seria usado como plataforma de campanha política de candidato à prefeitura de São Paulo há um ano, eu certamente não acreditaria, porém, é justamente o que aconteceu com o candidato Guilherme Boulos (PSOL) em 2020. Após ter diagnóstico positivo para covid19, e ver um dos debates mais importantes para sua campanha, o da TV Globo... Páginas 1820
Economia As microempresas no Brasil já se tornaram símbolos da luta diária de moradores, que buscam qualificar seus ideais e colocar em prática seus sonhos... Páginas 21
Páginas 18-20
Páginas 14-17
Páginas 810
Cotidiano
Música
O ano é 1969, o mundo assistia pela primeira vez os horrores de um combate armado sendo transmitido pela televisão aberta, tudo girava em torno dos conflitos da Guerra do Vietnã. Nos Estados Unidos, tínhamos uma geração de jovens que vinha pregando paz e amor ao mesmo tempo em que se manifestavam contra o uso de armas nucleares e violência, uma política já aflorada e conhecida do governo norte americano...
Já pensou em ter que esperar as locadoras reunirem os seus discos favoritos para você poder ouvilos? E se por acaso o seu disco não estivesse na lista? Ou pior, e se a sua cidade não tiver uma locadora ou não selecione o seu artista para dispor à venda? Consumo, reprodução, sociedade e capitalismo estão amarrados... Páginas 2831
Páginas 2225
Moda
Saúde
Sabemos que o mundo da moda vive se reciclando, que peças antigas sempre podem voltar a ser tendência e que conceitos podem mudar em qualquer nova estação. Os exageros e o “visual” poderoso dos anos 80 refletiam o que aquela sociedade da época passava. Ainda nessa década de 80, surgiram vários ícones que influenciaram a moda e o comportamento da sociedade, coisa que não é muito diferente dos nossos dias de hoje... Páginas 2627
Há um ano, todo o mundo identificava e se assustava com os primeiros casos do coronavírus, um vírus contagioso que modificou diversos hábitos rotineiros, totalmente naturalizados na sociedade. O mais assustador é que os mais simples gestos de afeto precisaram ser poupados para evitar o risco de contaminação... Páginas 3235
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Cultura
DO CHÃO DE TERRA BATIDA DE APPARECIDA: AS MEMÓRIAS PASSADAS CONTADAS PELO PRESENTE Nos dias de hoje, a moradora do interior paulista relembra as histórias vividas, em meio a musicalidade da viola de seu pai
LARA GIOLO
Logo que se pensa nas manifestações culturais que compõem o interior paulista já vem à memória a moda de viola. A representação da cultura caipira por meio dos dotes musicais do povo desta terra, sempre foi um guia e mestre de gerações, hoje é símbolo da gênese da identidade musical e cultural dos paulistas. Do chão que não apenas saiu clássicos do sertanejo e pagode de viola, mas que relatava, sobretudo, o duro dia a dia dos simples caipiras na roça, no convívio familiar, no calejar de suas mãos após a semana de trabalho, na pescaria do fim de semana e até da contação de lorotas com aos seus ‘compadres’ durante uma partida de truco. Mas se comparado há 70 anos passados, o mundo atual transborda tecnologia e as tradições caipiras são ainda mais presentes na memória daqueles que passaram por ela e as transmitem por gerações. O que era difícil antigamente, nos dias de hoje se tornou fácil e modernizado. Porém toda essa facilidade da tecnologia, só não faz os momentos serem mais felizes como os de antes. Isso é o que conta a senhora Apparecida Pinatto, ou simplesmente dona Cida, como é carinhosamente conhecida, que carrega consigo aos 79 anos de idade, as experiências e os símbolos dessa época, que jamais irá esquecer. Os anos foram vividos no interior do estado de São Paulo, em um bairro rural, na pacata cidade de Votuporanga. Desde que nasceu, vivenciou as histórias do sítio e leva consigo a saudade dos momentos com sua família, na convivência diária e nos trabalhos na roça. A memória musical é figura presente na vida de Apparecida, isso porque seu pai, Martin Pinatto, amava tocar violão, viola e violino. Seu dom era de tamanha proeza, que aprendeu a tocálos com destreza e maestria sozinho, sem nenhum tipo de papel ou aula. Com o brilho nos olhos, apenas de lembrar a imagem de seu pai, dona Cida recorda em seu baú de memórias as rodas de viola, que eram organizadas todos os dias por pessoas que gostavam de ver seu Martin tocar. “Ele chegava da roça e se preparava para tocar para as visitas. Minha mãe fazia pipoca, assava pão, torrava amendoim e dava para o pessoal”, contou. Isso foi o que viveu Cida por muitos e muitos anos, durante todos os dias. “Normalmente as visitas iam embora dez
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horas da noite, meu pai deitava as onze e eu e meus irmãos também. Quando eram quatro horas da manhã, ele já estava de pé e chamando a gente para levantar”, detalhou dona Cida. Ela não contém os risos, ao lembrar que seu pai ligava o rádio no último volume para ajudar todos se despertarem no horário certo. “Era a paixão dele! Sulino e Marrueiro foi uma das duplas da época”, ainda aos risos ela disse que a idade não permitia que ela lembrasse das outras duplas. Apesar das lembranças boas sempre ficarem guardadas, ela relata que tudo era muito sofrido e dificultoso na época. Mesmo seu pai trabalhando como funcionário da fazenda, era difícil manter a esposa e mais seis filhos, com a sua pequena renda em cruzeiro. Apparecida conta que a pouca renda impossibilitou que seu Martin realizasse sua maior vontade, que era ter um violino próprio. Mesmo sabendo tocar três instrumentos, só tinha o violão e mesmo depois de aposentado, não conseguiu adquirilo.
A música na vida de Cida É claro que os gostos do pai pela música, passaram para os filhos. Apparecida por exemplo, pegava as letras de música de um livro emprestado e copiava para o seu caderninho, no outro dia, tinha a letra da música toda na cabeça e cantarolava enquanto trabalhava na roça. Aos fins de semana, a família comparecia aos bailes da região, pois além de tocar durante a semana, o patriarca amava tocar nos bailes e Cida conta que a trajetória de seu pai com apresentações neste tipo de evento começou desde que era muito novo.
Cida carrega o gosto que tem pela música. Sempre liga o rádio todas as manhãs e acompanha os programas de músicas caipiras da televisão. Apesar das dificuldades enfrentadas desde pequena, nunca se deixou abalar e segundo ela, todas elas fortaleceram sua fé.“As dificuldades eram muitas, tudo mais difícil, mais longe. Todos os caminhos eram feitos a pé. Mas a gente era feliz”, finalizou Apparecida Pinatto.
Novos caminhos Como eles eram funcionários e moravam de favor, a vida um dia se tornou ainda mais complicada, quando o patrão vendeu o sítio sem avisálos. “Meu pai ia procurar lugar para morar e café para tocar, eles falavam que não adiantavam dar o serviço somente para ele e minha mãe. Assim que ele chegava em casa sem o serviço, eu e meus irmãos começávamos a chorar”, contou. Com muito custo, arranjaram outro lugar para morar e foi nesse lugar que Apparecida Pinatto conheceu seu esposo Gervazi. Ele era um dos donos da fazenda e desde os 14 anos namorava. Sua irmã mais velha, conheceu o irmão de Gervazi e por ironia do destino acabou casando dois anos antes de Apparecida. Anos depois, aos 19 anos, Cida se casou, saiu de casa e foi morar com o marido na sede da fazenda. Seus olhos brilham ao contar do seu casamento que foi celebrado na atual Catedral de Votuporanga. O marco é significativo, pois na época seu sogro foi um dos homens que ajudou a construir a catedral e fez parte das doações de sacas de café, que era bem valioso, ajudando a erguer o edifício da igreja. Uma pena que, por um desentendimento de Martin com os patrões, ele teve de deixar o local com o restante de seus filhos, partindo rumo a São José do Rio Preto. Nos dias de hoje, Apparecida reside sozinha no mesmo lugar, regado de boas lembranças, desde que o pai foi embora e seu esposo Gervazi, que faleceu há seis anos. Juntos, eles tiveram três filhos, seis netos e cinco bisnetos. Até hoje, Cida carrega o gosto que tem pela música. Juntos, eles tiveram três filhos, seis netos e cinco bisnetos. Até hoje,
Ai, a viola me acompanha Desde 15 anos de idade Ela é minha companheira Nas minhas contrariedade Faço moda alegre e triste Conforme a oportunidade Esse dom de fazer moda Não é querer e ter vontade Tem muita gente que quer Mas não tem facilidade É um dom que Deus me deu Pra desabafar saudade ai, ai, ai Tião Carreiro e Pardinho Padecimento
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Sétima arte A ESCALADA DOS STREAMINGS E A "RESISTÊNCIA" DA SÉTIMA ARTE A pandemia abriu novas oportunidades em diversos setores e diferente não seria para o “novo” conceito do amado audiovisual com o fechamento das salas de cinema
RAFAEL PATRICK
O cinema como nós conhecemos nasceu em 1892 e foi criado por Léon Bouly. O francês inventou um aparelho capaz de gravar e projetar a luz das imagens em movimento, por meio de telas em quadros. Mas ele não tinha dinheiro para registrar sua invenção, então, o aparelho foi patenteado anos depois pelos irmãos Lumière que passaram a fazer produções cinematográficas de pequenas capacidades e a exibi las em sessões especiais. Desde então, o cinema vem ficando cada vez mais tecnológico e se tornado a maior indústria de entretenimento. O ser humano sempre está em busca de inovação e a
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tecnologia tem sido uma grande aliada desse processo. Na indústria cinematográfica, por exemplo, o desenvolvimento de aplicativos de streaming que possibilitam o acesso a filmes, séries e músicas, tudo no conforto de sua casa com acesso fácil e rápido. A era do streaming instaurou a tendência para, pelo menos, os próximos 10 anos e que tem chegado a mais pessoas e feito a diferença nesses lares, anos após anos. Graças a sua acessibilidade, o streaming chegou para combater a pirataria com uma proposta de plataforma, que mesmo sendo paga, traz ao assinante uma vasta biblioteca de filmes, séries e documentários.
Uma dessas plataformas é a “Netflix” que iniciou o segmento trabalhando com a locação de filmes, mas um ano mais tarde, o serviço passou a oferecer entrega de DVDs pelos correios por meio do site da companhia. O que é por muitos, considerado o marco inicial do mundo do streaming de filmes e séries que conhecemos hoje. A plataforma começou a disponibilizar títulos por streaming ainda em 2007, e hoje, é uma gigante da tecnologia e do entretenimento que já conta com mais de 158 milhões de assinantes em todo o mundo. Porém, 2020 não mediu esforços para provar que os padrões de consumo se alterarão com o passar do tempo. De fato, a pandemia do coronavírus jogou o mundo globalizado em meio a crises múltiplas e causou problemas na política e na sociedade como um todo. No meio artístico atingiu aos padrões de consumo de grandes obras da ‘sétima arte.’ O que também, claro, refletiu no fechamento de salas de cinema, paralisação de gravações e na ascendência incontestável das plataformas de streamings. Segundo um levantamento de dados baseados em uma consultoria da plataforma Netflix e da Amazon Prime Vídeo, houve um aumento de 20% das assinaturas de novos telespectadores, durante a pandemia. Com isso, há quem diga que as salas de cinema ou mesmo as produções cinematográficas possam ser mais escassas, com menos investimentos que o comum ou até mesmo desaparecer logo após a pandemia. Mas ainda há pessoas acreditam que a arte irá sobreviver mesmo com tantas barreiras a serem vencidas, como um sentimento para além dos tempos. Como é o caso de Guilhermy Corrêa, de 18 anos,
apaixonado pelas telonas cinema) acredita que o cinema nunca deixará de existir. "Ter um aplicativo que posso levar pra qualquer lugar pra ver séries e filmes é muito bom, mas a experiência dentro das salas de cinema é incomparável, a imersão do filme é outra e fica ainda mais divertido acompanhado dos amigos fazendo graça nas poltronas do cinema", diz Guilhermy. Mas assim como Guilhermy relatou, especialistas no assunto também consideram que o fim do cinema está muito longe. O professor de audiovisual do curso de jornalismo da FEF (Fundação Educacional de Fernandópolis) Alexandre Costa, doutor em comunicação e semiótica e profissional de cinema há mais de 20 anos, acredita que o cinema irá sobreviver mesmo com toda essa crise pandêmica mundial. "O cinema se reinventou na virada do século, procurando compor espaços de grande circulação de pessoas, como os shoppings, por exemplo, creio que essas estruturas irão se recompor após o impacto inicial da covid", acredita Alexandre. O professor não nega que este ano de pandemia está sendo um dos mais trágicos para a indústria do cinema, mas pontua que a ascensão dos streamings tem colaborado no processo, e que um não vem para destruir o outro, mas eternizar – ainda mais – o consumo de boas produções e girar o mercado cinematográfico. "2020 e 2021 foi e será anos difíceis para a indústria cinematográfica, parte do problema está sendo resolvido por meio da expansão dos canais de streaming e TV a cabo no mundo todo, as salas de cinema ainda sofrem com a pandemia, mas acredito que retornará de forma adaptada em 2022", explica Costa.
Reprodução/Pinterest
O cinema vem se adaptando de tempos em tempos desde a sua criação
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Cinema no século XXI
Na verdade, o que é vivido pelo cinema neste século já era antes mesmo desse período de pandemia questionado. Alexandre Costa pontuou a chegada dos espaços multisetoriais, com a vinda dos shoppings que já são incluídas na cultura do século XXI e completa ao mencionar que as estruturas podem continuar, mas possivelmente com uma dinâmica diferente. Já o legado que os aplicativos de streaming, que vieram para ficar, tem feito pelo mundo pode ser comprovado pela própria Academia do Oscar, que já premiou filmes feitos para essas plataformas e tem espaço para a crescente, fazendo parte do novo mercado da indústria cinematográfica. "Acredito sim que haverá uma nova dinâmica nas salas de projeção, mas pelo que sei, está em discussão junto às redes de cinema várias propostas de mudanças para o setor. Ainda não sabemos o formato, mas acredito que retornarão já adaptadas para essa nova realidade. O mundo agora é outro,
mudamos, tudo será diferente daqui para frente", completou Alexandre.
Números A pandemia mudou todos por completo o setor de audiovisual. Para se ter uma ideia, em 2018 o setor movimentou R$ 26,7 bilhões do PIB brasileiro e segundo relatório divulgado em junho do ano passado, sobre os impactos econômicos da covid19, previu que a perda total no setor criativo nacional (que englobas áreas de cultura, mídia e tecnologia) será de R$69,2 bilhões para o biênio 20202021. Isso representa uma perda de 18,2% na produção total que seria possível nesses dois anos. O mundo tem apresentado novas oportunidades, atuações e o legado do setor cultural pode não sofrer mais com a falta de filmes no mercado e colaborar ainda mais coma diversidade de produções que podem contribuir para a construção da identidade dos espectadores. As providencias já estão sendo tomadas para que o bemestar da nossa arte, da economia, de nosso lazer voltem ao normal sem medos e sem mortes para nos perseguir.
Reprodução/Netflix
A perda do setor de audiovisual é de 18,2% na produção total que seria possível nesses dois anos (20202021) de pandemia
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A rtigo A EXPLOSÃO DAS REDES SOCIAIS
NATANAEL ALVES
Sim, a internet sofreu uma grande reforma e isso nós podemos ver a olho nu. Nunca as pessoas estiveram tão conectadas quanto ocorre nos dias de hoje. O aumento no consumo de conteúdo digital, teve uma alta assustadora, e essa foi uma grande oportunidade para o surgimento de novos criadores de conteúdo. Pessoas que começaram a se destacar, falando de assuntos que mais gostam ou daquilo que mais está em alta, conhecidos como “Formadores de opinião’’. Houve também o surgimento de novos streams, que além de transmitirem a suas habilidades em jogos, trazem entretenimento às pessoas que os assistem. No começo do surgimento das redes sociais, a ideia seria de apenas uma ‘’fase’’ ou uma ‘'coisa de jovem’’, porém esta teoria nunca esteve tão errada. Hoje já são mais de 4,14 bilhões de pessoas que atualmente estão conectadas às redes sociais, isso, de acordo com um relatório da WeAreSocial em parceria com a Hootsuiteou. É praticamente, mais da metade da população mundial (53%) presente nessas plataformas digitais. Uma das causas deste crescimento gigantesco, e claro que não poderíamos deixar de citar, é a pandemia. Durante o período da pandemia do novo Coronavírus, mais de 180 milhões de pessoas usaram alguma rede social entre julho e setembro, um aumento de 2 milhões de usuários por dia em relação ao trimestre anterior. O número representa, ainda, o dobro do registado em janeiro de 2020 e é o maior crescimento. Entre essas plataformas, temos uma campeã. De acordo com os dados, o Instagram é o campeão em crescimento. A plataforma adicionou 76 milhões de usuários à sua base nos últimos três meses, atingindo o total de 1,16 bilhão de contas.
Logo atrás, vem o nosso querido Facebook, que em um ritmo menor, também cresceu: 45 milhões de novos usuários. O crescimento é bem mais discreto do que a sua "irmã mais nova", mas, ainda assim, a base de audiência da plataforma ainda é um ativo bastante importante: 2,14 bilhões de usuários. Para finalizarmos, o TikTok, ou mais conhecido por seu vulgo, ‘Tico Teco’’visto por muitos como uma aposta para o público jovem, mas que apresenta divergências também nessa teoria, vem enfrentando barreiras significativas durante o período, mas ainda assim, conseguiu bons resultados. Mesmo com a incerteza nos Estados Unidos e a proibição na Índia, a plataforma trouxe 80 milhões de novos usuários entre julho e setembro. Estimativas indicam que a companhia pode ter, atualmente, 700 milhões de usuários. Enfim, para você que deseja ser um influenciador, e tem um conteúdo bem interessante, esta é a sua oportunidade de ingressar em algumas dessas plataformas e construir a sua audiência, em meio à bilhões de pessoas que estão em busca de um conteúdo de qualidade e que ela se identifique.
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Tradição
COZINHA ANCESTRAL: O RESGATE DA CULINARIA FAMILIAR E TRADICIONAL NO SÉCULO XXI A pandemia tem dado ainda mais oportunidades para que a população brasileira possa resgatar as tradições culinárias familiares
Reprodução/Chico Abelha
A volta da cozinha caipira é recurso de muitas pessoas na pandemia: “Sei que de alguma forma estou passando esta herança adiante”, diz entrevistada
MAIARA MENEZES Quase como que se a vida aplicasse a 'ideia da escrita' que nasce do cotidiano, por meio das lembranças e experiência de vida de seu povo, a boa culinária e seus dotes são passados por gerações. O que vai muito além da apresentação de sabores e atravessa os limites da história. Com a pandemia, o cuidado com a saúde e a consciência ecológica passaram a entrar na lista de preocupações de pessoas do mundo todo, e deixando em evidência a boa comida com as tradições culinárias. A pandemia sem dúvidas fez com que as pessoas olhassem mais para o bemestar delas, mais pessoas cozinhando em casa e entendendo o valor de se manterem saudáveis.
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A busca por receitas em sites na internet e a procura por fermento indicam que há novos hábitos de consumo na pandemia. Como nos velhos tempos em que nossos avós produziam o próprio pão, a própria farinha e entre outros alimentos e costumes (heranças), que foram esquecidos devido à praticidade que os alimentos industrializados nos trouxeram. Mas será que alimentos industrializados suprem as necessidades do nosso corpo? A nutricionista Camila Tazinaffo relatou que uma dúvida muito comum de seus pacientes é sobre a produção de pães, bolos entre outros que utilizam da farinha de trigo. Afinal, é prejudicial à
saúde? Segundo a nutricionista, a farinha de trigo sofreu muitas modificações desde os tempos passados, quando ela era produzida de uma forma mais artesanal. Portanto ela não recomenda, pois afirma que pode trazer malefícios para a nossa saúde. Camila, diz que uma alimentação saudável, é constituída por aquele alimento produzido direto da terra, ou seja, alimentos orgânicos. Completou também que os alimentos industrializados são muito prejudiciais à saúde e que deve se apostar em alimentos naturais. A nutricionista orientou que o uso da castanha do Pará tem trazido muitos benefícios para a saúde, já que ela é rica em zinco e selênio, nutrientes importantes para o corpo. A nutricionista disse que devido à pandemia, as pessoas têm se tornado mais ociosas por ficarem muito tempo em casa e que ela orienta a cultivarem horta em seus lares para a consumação do próprio alimento. “Além de ser uma atividade interativa com a família, também é super legal, pois estariam produzindo um alimento saudável para as refeições”, diz. E finalizou: “É muito importante aliar uma boa qualidade de sono, atividade física e uma alimentação saudável para a nossa saúde”. Observando pelo lado do empreendedorismo, a realidade de quem encontrou a forma de trabalhar em casa com segurança produzindo alimentos não só para o consumo, mas também para tirar sua fonte de renda já que muitos foram suspensos de seus trabalhos. A autônoma Nívea Ferreira Rodrigues, de 38 anos, perdeu sua principal fonte de renda devido à pandemia ter suspendido as atividades em seu antigo emprego. Foi quando ela percebeu que poderia produzir pães caseiros, roscas, doces caseiros entre outros alimentos que nos dão um gostinho da lembrança de quando éramos crianças. Nívea disse que sempre gostou de fazer quitandas caseiras, que trazem lembranças doces de sua infância. Em uma conversa agradável revelou que quando era criança vendia nas ruas com seus primos, salgados entre outros para sua tia. “Era divertido, e sem dúvida, foram essas lembranças que me inspiraram a começar os negócios assim como minha tia”, relatou ela. Ela afirmou que com a pandemia, percebeu que houve uma procura maior por alimentos caseiros, e que agora, os negócios estão fluindo mais do que esperava. “Minhas quitandas não são totalmente saudáveis, já que são massas. Mas ao menos não são alimentos totalmente industrializados. Sei que de alguma forma estou passando essa herança adiante”, completou. O trabalho de Nívea é um exemplo de como a ancestralidade e as identidades de comunidades tradicionais brasileiras têm ganhado destaque na gastronomia brasileira.
É muito importante aliar uma boa qualidade de sono, ividade física e uma alimentação saudável para a noa saúde Camila Tazinaffo, nutricionista
Arquivo Pessoal
Nívea Ferreira Rodrigues, moradora do interior paulista após perder seu emprego na pandemia tem apostado nas produções caseiras
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Sociedade
Foto: Vogue Brasil.
AS REDES DO CANCELAMENTO A crescente onda de cancelamentos na internet é algo que não para. Isso, porque grande parte das pessoas que estão nas mídias sociais tendem a cada vez mais serem ignorantes e terem prazer em ver o outro ser cancelado, seja ele por qual motivo for
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MARINA OLIVEIRA Quem vigia os vigilantes?, a frase se tornou famosa em inglês ("Who watches the watchmen?"), com a clássica HQ Watchmen, escrita por Alan Moore e ilustrada por Dave Gibbons. Na era das redes sociais, podemos pensar em uma nova variação: quem cancela os canceladores? E não é exagero nem alarmismo: é cada vez mais forte a chamada cultura do cancelamento, em que qualquer deslize, frase infeliz ou erro honesto pode levar à destruição de reputações ou carreiras construídas ao longo de anos. Vemos celebridades pisando em ovos ao conceder entrevistas, personalidades cercadas de assessores cujo trabalho é basicamente evitar que algo repercuta mal na internet, influencers se desculpando, em meio a lágrimas, por brincadeiras feitas no Twitter ou no Instagram. O BBB 21, atual edição do Big Brother Brasil vem sendo chamado de "BBB do cancelamento" cancelamento esse que acontece dentro da casa, com cada grupo de participantes "cancelando" o outro e fora do reality show, com as carreiras de alguns dos artistas confinados derretendo sob o escrutínio do público “Ver o meu nome circulando no twitter de forma negativa, doeu bastante. Até porque as pessoas entenderam algo totalmente equivocado daquilo que eu queria passar”, disse Gabriele Mendes, influencer de Votuporanga, logo no início da nossa conversa.
Gabriele tem estatura média, é morena dos cabelos iluminados, classe médiaalta e podemos dizer que é consideravelmente uma mulher dentro dos padrões impostos pela sociedade.Por isso, ao contar em suas redes que estava criando um curso onde ensinava seus truques de edição fotográfica no fotoshop, várias pessoas começaram a criticar e acusála de não promover e praticar o amorpróprio, gerando o famigerado cancelamento. Em questões de horas, ela se viu perdendo muitas das coisas que tinha conquistado ao longo dos anos: seguidores, publicidades, credibilidade e seu nome se espalhou como água nas redes sociais, principalmente no Twitter. Depois de quase um ano de todo o acontecimento, ela ainda não conseguiu superar o ocorrido. Gabi, já não produz tanto conteúdo como antes, perdeu muito o interesse de trabalhar com a internet e o seu curso não foi lançado, por medo. Medo do julgamento, medo de ser cancelada novamente e sofrer mais uma vez com tudo. Por mais que as questões negativas tenham se sobressaído, ela conseguiu tirar algo de bom e se tornou uma pessoa melhor e que julga menos. “Gosto de citar uma frase que combina muito com isso: pessoas feridas ferem, pessoas machucadas, machucam”. Eu fui a pessoa ferida e machucada e não desejo isso a ninguém. Nas minhas redes sociais agora, tento mostrar
Gabriele Mendes, digital influencer.
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para as pessoas que julgar o outro não te leva a lugar nenhum. Tenho postado IGTVS falando sobre o assunto e me apeguei muito à Deus para conseguir passar por tudo”, complementa Gabriele.
Uma visão especializada “O cancelamento é um movimento coordenado, muito típico das mídias sociais, justamente pela facilidade e agilidade da disseminação de informação nas redes”, diz Amanda Nascimento, psicóloga. Ela ainda nos acrescenta que o movimento quase sempre acaba virando uma bola de neve: em determinado ponto, muitas das pessoas envolvidas nem sabem como a história começou, o que desencadeou o cancelamento, mas continuam aquele movimento de ódio. Para elas, se torna algo até divertido. “A ação do cancelamento é uma tática infantil, que lembra muito a famosa "birra": para evitar o incômodo ou o malestar, gritamos e tapamos os ouvidos para aquilo que não queremos admitir ou aceitar”, a psicóloga prossegue: “Tentamos tirar as partes do mundo, ou os outros, que nos incomodam ou com os quais simplesmente não queremos lidar. A partir daí, passamos a viver em um mundo ideal dentro da nossa fantasia. Mas a vida é o que é, e não é necessariamente como nós queremos”. Além de fomentar a intolerância, situações ligadas ao cancelamento têm características perigosas, como a generalização e a falta de contexto: em 2019, o New York Times produziu um vídeo comparando a cultura do cancelamento a uma situação de perseguição na Idade Média. No vídeo, a vítima é julgada por ter dito algo ofensivo onze anos atrás uma crítica ao fato de que diversas celebridades já foram canceladas porque alguém descobriu alguma declaração questionável em um post lá de 2010. “Nós somos perfeitos!", declaram os personagens do vídeo, ao defender seu "direito" de julgar a pessoa a ser cancelada. “Eu acho que essa cultura reflete o momento que estamos vivendo na sociedade como um todo”, Amanda Nascimento, opina. “Estamos com muita raiva armazenada; com a pandemia, com os problemas políticos que temos enfrentado desde 2013...” A profissional ainda dá um exemplo da Karol Conká (participante do BBB 21), acrescentando que nós já vimos, em edições anteriores, personagens que fizeram coisas tão ruins ou piores do que as que ela estava fazendo, mas parece que agora isso ganha um peso maior, uma relevância maior. É como se esse momento tão complicado da sociedade criasse uma necessidade de culpar alguém, de vilanizar certas pessoas. O que é um enorme problema.
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Chamada cultura do cancelamento O termo – que ganhou forte presença nos meios de comunicação – foi eleito pelo Dicionário Macquarie como a expressão do ano de 2019. Mesmo não tendo um marco de origem, podese dizer que a cultura do cancelamento teve início a partir do movimento #MeToo, onde vítimas de assédio e abuso sexual começaram a denunciar as práticas realizadas em Hollywood. Desde então, mesmo o movimento sendo algo que deveria traduzir a coragem, a cultura do cancelamento segue um caminho que aparentemente diferenciase da iniciativa de gerar debates sobre assuntos que são relevantes na sociedade, como assédio, homofobia, racismo, entre tantos outros. Mas será que não podemos associar a cultura do cancelamento com algo que já ocorreu lá no passado? Claro que sim. Estamos falando da inquisição (caça às bruxas) e o fatídico episódio de apedrejamento de Maria Madalena, na bíblia. Todos estes elementos históricos
O cancelamento é um movimento crdenado, muito típico das mídias sociais, justamente pela facilidade e agilidade da dieminação de informação nas redes Amanda Nascimento, psicóloga. que nos constituem geram o desejo do apedrejamento e, ao mesmo tempo, a insensibilidade de não perceber a dignidade no outro, apesar do erro. Nesse contexto, observase que o "tribunal da internet" não realiza seus julgamentos com igualdade ou proporcionalidade. Primeiro, porque deixase de discutir ideias e passase a discutir pessoas ou empresas. Segundo, porque poucos preferem ouvir, entender e formar uma opinião antes de atacar. Terceiro, porque no mundo virtual, é muito tênue a linha entre a crítica construtiva e o ataque revestido a ofensas. A cultura do cancelamento hoje em dia acaba acarretando o descarte do debate saudável, sem viabilizar a defesa prévia ou eventual aprendizado, uma vez que não possui viés de educar e reintegrar, mas apenas excluir. E ainda que tal movimento tenha maior relevância quando nos referimos a pessoas ou empresas de notoriedade pública, é certo que atinge pessoas anônimas que, a partir de eventual erro ou conduta reprovável, podem ser igualmente "canceladas" por um grupo de amigos, colegas de trabalho etc. A pergunta que fica diante de tantos julgamentos e
sanções imediatamente impostas sem a possibilidade de defesa ou reflexão é: : como seria se todos fossemos cancelados por um erro ou conduta reprovável, já que estamos em constante evolução? Na mesma medida em que a imperfeição é reconhecida, é crescente o número de pessoas que optam por não compartilhar seus pensamentos sobre determinados temas por receio do cancelamento e dos danos psicológicos, de imagem e patrimoniais dele decorrentes. O propósito de exposição de temas para que haja liberdade de comunicação social, garantindo a livre circulação de ideias e informações de forma pluralista, na realidade, tornouse uma ferramenta de autocensura ao invés de promover o debate, como a contra narrativa. A cultura do cancelamento, na forma como praticada atualmente, afeta, ainda que de maneira indireta, o exercício dos direitos da livre manifestação de pensamento e da liberdade de expressão, obstando o debate de questões que, de forma saudável, traria benefícios para a sociedade, ainda promoveria o progresso intelectual e a evolução pessoal de cada um. Foto: Socialismo criativo.
Cancelamento acontece de forma geral, em todas as redes sociais.
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Gk
OS GAMES MUITO ALÉM DAS TELAS: A INTERATIVIDADE HUMANA POR MEIO DA TECNOLOGIA Como os jogos vêm tornando a realidade e a interação humana, abrindo novos caminhos e oportunidades
YAGO ARAÚJO
Caso me falassem que um jogo online seria usado como plataforma de campanha política de candidato à prefeitura de São Paulo há um ano, eu certamente não acreditaria, porém, é justamente o que aconteceu com o candidato Guilherme Boulos (PSOL) em 2020. Após ter diagnóstico positivo para covid19, e ver um dos debates mais importantes para sua campanha, o da TV Globo, ser cancelado, Boulos se viu em uma situação complicada, tendo que ficar em isolamento até o fim das eleições. Sem poder sair de casa, o convite para participar de uma live com o YouTuber Felipe Neto, que conta com mais 40 milhões de seguidores em seu canal, foi a oportunidade perfeita de atingir um público mais jovem na reta final do segundo turno das eleições. O jogo escolhido na ocasião foi o fenômeno mundial “Among Us”, no game, cada jogador assume o papel de um tripulante em uma nave espacial, aonde a cada rodada um dos participantes recebem o papel de ser o impostor que tenta sabotar a nave, dessa forma, os demais jogadores deve, através de conversa e discussões, tentar descobrir que é o impostor da vez. A live foi um sucesso e teve mais de 3,5 milhões de visualizações. Among Us foi lançado originalmente em 2018, mas foi explodir em popularidade somente em 2020, o ano da pandemia. Isso certamente não é coincidência. Outro bom exemplo da relevância da comunicação por meio dos jogos aconteceu com o jogo “Animal Crossing: New Horizons”. No jogo, cada jogador tem como objetivo administrar e fazer crescer uma pequena ilha através de diversas tarefas e interações. Entre as interações, está a possibilidade de poder visitar a ilha de outros jogadores e trocar
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mercadorias. Utilizando a plataforma do jogo, o apresentar norte americano Gary Whitta criou o “Animal Talking”, um talk show em que o avatar do apresentador recebe os avatares de seus convidados em sua ilha para realizar entrevistas. O programa é transmitido por meio da plataforma de streaming Twitch, e depois publicado no YouTube. O programa é um grande sucesso e já recebeu convidados de peso como o ator Elijah Wood, que interpretou Frodo em “O Senhor dos Aneis”. Dessa forma, os jogos com foco na interação social, como Among Us e o próprio Animal Crossing, ganharam grande relevância nos últimos tempos, e foi justamente outro jogo onde a interação social tem papel importante, que o assistente administrativo Vitor Hugo dos Santos, de 31 anos, encontrou a desculpa perfeita para se “reconectar” com uma velha amizade que parecia ter ficado no passado.
O que a vida separou, o game reuniu! Vitor sempre teve os jogos como seu principal hobby e foi na época do ensino médio que ele conheceu Bruno Pereira. Os dois tinham a mesma idade e a mesma paixão pelos videogames, a identificação foi imediata, e uma amizade surgiu. Eles não moravam muito longe um do outro, então se reunir em casa, pedir uma pizza, e virar a madrugada jogando se tornou um programa corriqueiro. Mas a vida acontece, as prioridades mudam, e algumas amizades acabam ficando para trás. “Não sei dizer exatamente porque perdemos contato, fomos para faculdades diferentes depois da escola, eu me mudei, e não tinha WhatsApp na época, e sem o
contato diário do ensino médio a gente foi naturalmente se afastando.” Foi essa a explicação que Vitor deu quando perguntado o porquê de eles terem perdido contato, uma justificativa simplista, mas real, que tenho certeza que muitas pessoas conseguem se identificar. Ficando mais tempo em casa devido à pandemia, Vitor passou a se dedicar mais ao seu hobby e começou a jogar Call Of Duty Warzone, um jogo online de tiro em primeira pessoa no estilo Battle Royale, no game, 150 jogadores divididos em times de três são jogados em uma ilha, e o último time a sobreviver vence a partida. Ou seja, ter uma boa comunicação com seus companheiros de time é essencial para conseguir superar as equipes adversárias. Vitor já jogava com um amigo do trabalho, e precisava de mais um companheiro para fechar o time, foi aí que ele se lembrou de Bruno. Ao longo
dos mais de 10 anos passados após o ensino médio, as interações entre os dois se resumiam a felicitações frias no Facebook uma vez por ano na data do aniversário. “Eu sempre mandava parabéns pelo face quando era aniversário dele, mas não passava muito disso, ficava sem graça de puxar assunto depois de tantos anos, mas vi no jogo uma boa desculpa pra me aproximar," contou Vitor. Para alegria de Vitor, o desejo de reaproximação era recíproco e só não aconteceu antes por pura falta de iniciativa de ambos. Desde então, as jogatinas juntos se tornaram rotina novamente, e eles jogam partidas quase todas as noites enquanto colocam a conversa de anos e anos em dia. “Os jogos sempre foram um dos principais meios que usei para socializar e agora que mal podemos sair de casa, eles têm sido ainda mais importantes, além de conhecer gente nova, me ajudou a reatar um velho laço,” completou Vitor. Arquivo pessoal
Vitor (a esquerda) e Bruno (a direita) retomaram a amizade após mais de 10 anos através dos jogos Reprodução/YouTube
Live de Boulos e Felipe Neto jogando Among Us atingiu cerca de 3,5 milhões de visualizações
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Reprodução/YouTube
Talk Show realizado dentro do jogo Animal Crossing é um grande sucesso e atrai celebridades
Yago Araújo
Atualmente, os jogos vêm sendo utilizados não apenas como entretenimento, mas também como plataforma de comunicação
Crescendo na Crise Durante a pandemia, o videogame foi o único ramo de entretenimento a crescer, o segmento aumentou seu faturamento em 20% em 2020, e de acordo com projeção da consultoria IDC atingiu US$ 180 bilhões, superando o valor do mercado global de cinema (US$ 101 bilhões) e da música (US$ 20 bilhões) combinados. De acordo com um estudo realizado pela Visa Consulting & Analytics, o mercado cresceu cerca de 140% em faturamento no Brasil só no ano passado, e segundo levantamento do Datafolha realizado no primeiro trimestre de 2020, o Brasil conta atualmente com 67 milhões de consumidores de jogos eletrônicos. Com o crescimento, criouse também mais vagas de
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emprego na área, principalmente no setor de desenvolvimento, que pode ser realizado de forma remota via home office, gerando assim uma grande demanda por mão de obra qualificada. A startup brasileira do ramo de jogos, Wild Life Studios, por exemplo, contratou mais de 350 profissionais no ano passado e tem planos para contratar ainda mais, mostrando que mesmo em um setor de pouca tradição no país, ainda há muito espaço para crescer. Os videogames vêm ganhando cada dia mais espaço na vida das pessoas. Durante a pandemia, muitas delas que não tinham o hábito de jogar, passaram a aderir ao hobby e encontraram nele, uma maneira divertida de se conectar com os amigos. O tempo em que os jogos eram tratados apenas como brinquedo para crianças, ficou no passado, e hoje eles são também uma forte ferramenta de socialização.
Economia
SALVANDO VIDAS E PRESERVANDO EMPREGOS:COMO AS MICROEMPRESAS TÊM FEITO PARA SE MANTER EM PÉ
As microempresas têm dado saltos importantes e feito ainda mais a história dos brasileiros que lutam pelo sucesso BRENER MOSQUIM As microempresas no Brasil já se tornaram símbolos da luta diária de moradores, que buscam qualificar seus ideais e colocar em prática seus sonhos. Desde os anos 80, em rede nacional, é televisionado o programa ‘Pequenas Empresas e Grandes Negócios’, que todos os domingos mostra reportagens feitas, em todas as regiões do país, que revelam os desafios de quem monta uma empresa, as oportunidades e as dicas para o sucesso de um negócio. O programa é lendário e transmitido até hoje, isso porque não se cansa de apresentar histórias de sucesso das empresas, que, graças a ideias inovadoras de seus proprietários ou colaboradores, ganharam destaque no mercado em que competem. Isso que vai muito além de um simples emprego, mas da garra de se transformar vidas brasileiras. Todos esses dados podem ser confirmados pelo próprio Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), que aponta que o responsável pelo saldo positivo dos empregos formais criados no Brasil, são as microempresas. Ao todo, foram 401.639 vagas registradas em carteira, sendo que as micro e pequenas empresas foram responsáveis por 68,5% dos empregos criados. Isso corresponde a um pouco mais de 275 mil vagas geradas pelos pequenos negócios. Já as médias e grandes empresas tiveram saldo positivo de pouco mais de 101 mil vagas no mês. “Esse é o oitavo mês consecutivo que as micro e pequenas empresas puxam a geração de empregos com carteira assinada. São os pequenos negócios que sustentam a geração de empregos nos país e, por isso, é tão importante que sejam realizadas políticas públicas que amparem esse segmento”, disse o presidente do Sebrae, Carlos Melles, em recente entrevista e aponta a importância das microempresas para a recuperação econômica do país. Durante a pandemia, para se ter noção, para o apoio à micro, pequenas e médias empresas foram disponibilizados R$ 92,14 bilhões pelo Peac/Bndes
(Programa Emergencial de Acesso a Crédito) e R$ 37,5 bilhões pelo Pronampe (Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte). Porém as dificuldades de se manter a empresa em vigência na pandemia, são reais. Na região de Santa Fé do Sul, noroeste paulista, 30% das microempresas já tinham dificuldade para se manter abertas, com a pandemia esse número aumentou para 70%. O que foi registrado nesse um ano de restrições, foi o claro fechamento de várias empresas da região. Mas o que pode ser driblado com a oportunidade de se trabalhar pelo meio só online. O que ainda tem um lucro menor, mas com despesas também menores. As microempresas que conseguiram permanecer aberta passam muita dificuldade com essa nova onda do covid19, que tem refletido em um número de casos maiores e grau mais alto de infecção. Por decretos municipais, eles podem atender apenas por delivery, o que diminuiu grandiosamente o lucro de muitas empresas. “A pandemia para mim ano passado gerou muitos lucros, mesmo que seja doida para mim e milhões de brasileiros que perdeu entes queridos, já esse ano o lucro caiu muito estou passando muitas dificuldades para se manter de portas abertas”, disse José Antônio empresário de uma floricultura, em Santa Fé do Sul. José Antônio, ao ser perguntado sobre o que ele acha se tudo vai voltar ao normal relatou: “Acho muito difícil pois o povo já se acomodou nesse estilo de compra online, o que acaba se tornando ruim as microempresas”. Em uma pesquisa feita recentemente, ficou comprovado que o ecommerce aumentou drasticamente pelas microempresas durante a pandemia. As vendas online deram um galope e atingiram R$ 87,4 bilhões em 2020, com crescimento de 41% em relação ao ano anterior, o maior avanço desde 2007, segundo a consultoria EbitNielsen. A título de comparação, em 2018, o crescimento do comércio online havia sido 12% e, em 2019, 16%. Sebrae
Confira as diferenças entre microempresa, pequena empresa e MEI
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Cidiano
DOS GRANDES FESTIVAIS PARA AS LIVES DENTRO DA SUA SALA: A REVOLUÇÃO MUSICAL NA PANDEMIA
A pandemia deixou à tona um fato: a música ressurge e é fator presente no coração daqueles que vivem por ela. Como ficou a vida dos profissionais da música durante a pandemia?
DIOGO CAMPANELLI
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O ano é 1969, o mundo assistia pela primeira vez os horrores de um combate armado sendo transmitido pela televisão aberta, tudo girava em torno dos conflitos da Guerra do Vietnã. Nos Estados Unidos, tínhamos uma geração de jovens que vinha pregando paz e amor ao mesmo tempo em que se manifestavam contra o uso de armas nucleares e violência, uma política já aflorada e conhecida do governo norteamericano.
Foi então que nos dias 15 a 18 de agosto, em uma fazenda de gado de 600 acres que aconteceu a primeira edição do festival de música e arte, o conhecido: Woodstock. Um evento inicialmente pensado para 200 mil pessoas e com ingressos a 18 dólares, mas que acabou se tornando um evento gratuito e ultrapassou meio milhão de pessoas, que não puderam ser contidas pelas grades e os seguranças. De tão histórico, o movimento é até um dos mais lembrados, até hoje. Agora, imagine todas essas pessoas juntas, cantando Foxey Lady de Jimi Hendrix em um campo imenso onde a grama pisada passou a dar lugar à terra escura e lamacenta de intensas chuvas do final de semana, imaginou? O que você acabou de visualizar se tornou uma das cenas mais emblemáticas do Woodstock e dos festivais de música até hoje. Já em 13 de julho de 1985, Bob Geldof e Midge Ure
se uniram para organizar o lendário Live Aid Festival, show com vários artistas renomados, que começou no Wembley Stadium em Londres às 12h e terminou às 04h no JFK Stadium na Filadélfia. A cena principal do show foi a abertura ao som de Bohemian Rhapsody da banda Queen e na voz de Freddy Mercury, na frente de 100 mil pessoas. O valor arrecadado dos ingressos totalizou em média 285 milhões de dólares e foi direcionado para o combate à fome na Etiópia. Apesar de emblemáticos e marcarem até hoje as gerações, por principalmente, deixar vivo o legado musical. Mas o dia 07 de abril de 2012 foi um dia histórico para mim. Em pleno Jockey Club na capital paulistana, eu participei da primeira edição do festival ‘Lollapalooza’, no Brasil. Como um jovem do interior, nunca tinha visto tantas pessoas reunidas em um só lugar, estava radiante e esperando para ver a minha banda favorita tocando.
Lembro nitidamente da sensação de felicidade de estar há poucos metros do Falcão, vocalista da banda O Rappa, bem como estar próximo da diva do rock Joan Jette e também do desespero de estar em meio de 75 mil pessoas se apertando. Para completa, a noite se terminou ao som da minha banda favorita: Foo Fighters. Foi como um sonho, um mar de pessoas cantando em uníssonas, músicas como Best of You, Times Like These entre várias outras.
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Sabe essa sensação que você está sentindo, só de ler, e relembrar esses momentos icônicos que revolucionaram a música e trouxeram para milhões de pessoas ao redor do mundo, essa mesma emoção, que é única? Infelizmente, foi interrompida com a realidade que vivemos atualmente. Desde o ano passado, em que a pandemia do coronavírus chegou ao Brasil, diversas são as restrições que foram decretadas para impedir a disseminação do vírus. Dentre elas, a proibição de shows, festivais e quaisquer outros meios que gerem aglomeração. Mas que não apaga nos dias de incertezas, a música e seu significado no interior de cada coração que vive dela e para ela. No interior do estado de São Paulo, em uma pequena cidade chamada Jales, o professor de música e guitarrista, William do Santos Milare é uma das pessoas que foram severamente atingidas por essas medidas. A escola que William ministra aulas teve que fechar suas portas para os atendimentos presenciais, transferindoas para a modalidade online, o que segundo ele não foi tão difícil, porém, muitas pessoas não estavam prontas para esta modalidade. “Muita gente, tanto profissionais, quanto os alunos. Então acabou que muitos alunos pararam de fazer as aulas e muitos professores não conseguiram dar as aulas por não conseguirem usufruir da tecnologia.” As adversidades do momento, em um cenário extremamente afetado pela crise financeira, fazem Willian refletir sobre os empresários e músicos que estão desrespeitando o isolamento e favorecendo as aglomerações, segundo ele estão “jogando contra” e continua dizendo que “estes caras estão colocando dinheiro na frente da vida, [pois] morto não vai ver show ou consumir em um bar”. A tentativa é de ressignificar a música, na vida daqueles que estão aprendendo e por isso William diz que as mudanças que chegaram deixaram tudo mais fácil, tanto para o professor, quanto para o aluno. Pois rompe diversos obstáculos, como a distância, praticidade de horários e disponibilidade. Ainda ressalta que o “caminho” aberto durante a pandemia não se fechará e que teremos que ser ainda mais cautelosos com a retomada de shows e eventos presenciais ao vivo.
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Novos caminhos Uma das alternativas que aconteceu e muito no ano passado, se repete em 2021. As grandes transmissões ao vivo, que uma produção menor, sem grande cenário elaborado, com figurino até caseiro e mais descontraído, tem sido opções para os artistas. Duplas sertanejas como Bruno e Marrone, cantores do cenário do rap como o Djonga e Emicida, até a cantora Pitty, que tem interagido com fãs na plataforma de vídeo ‘Twitch’ e outros artistas, também vêm investindo neste “formato”. Recentemente, em uma entrevista ao canal do UOL no YouTube, a dupla sertaneja Fernando e Sorocaba foram indagados sobre o momento atual e como tem sido a vida de um grande músico durante a pandemia. Sorocaba diz que foi um baque muito grande para a classe toda, englobando os músicos e toda a equipe de produção, desde a base. Porém, agradece a Deus por ter uma “gordurinha” e não deixar seus funcionários sem sustento. Ele continua dizendo que teve que buscar novas formas de rentabilizar os seus serviços e finaliza dizendo que a fase de transição (adaptação das normas de restrição) foi assustadora. Porém, nem todos os artistas têm a mesma estrutura que Fernando e Sorocaba. O cantor de músicas clássicas Klébio de Jackson, da grande São Paulo, passou por um triste episódio na pandemia e ficou desempregado. Mas como um célebre inventor da antiguidade, acabou dando a volta por cima, criou novos caminhos para a música continuar e sem desrespeitar o isolamento. Klébio, com a ajuda de um amigo, instalou seu equipamento de som para shows na caçamba de uma caminhonete e desde o começo da pandemia, faz shows na rua, de frente a apartamentos de luxo na zona sul da capital paulista. Seus clientes são os próprios condomínios, os shows duram cerca de 15 minutos e já geram uma renda para o tenor da noite paulistana.
Muita gente, tanto profiionais, quanto os alunos. Então acabou que muitos alunos pararam de fazer as aulas e muitos profeores não conseguiram dar as aulas por não conseguirem usufruir da tecnologia.
Reprodução/Redes Sociais
A música, por sua vez, sempre ressurge, sempre traz novas inspirações e os meios tecnológicos permitiram que a sua arte transformadora por meio da melodia perpetuasse Dados
Ainda que as histórias de superação na música se sobressaiam, os músicos famosos não sofreram tanto quanto os menores. Isso é o que aponta dados de uma pesquisa da União Brasileira de Compositores. De acordo com ela, cerca de 86% dos profissionais da música sentiram no bolso a dor da pandemia. A análise da União aponta ainda que os mais afetados pelo cenário foram os instrumentistas, compositores e produtores. O cenário fica ainda pior quando vemos que 30% dos profissionais entrevistados perderam toda a sua renda. Mas uma coisa é certa, a pandemia da covid19 trouxe uma realidade dura e escancarou uma série de problemas estruturais do país, tanto na música, como em diversas outras áreas. Restanos agora, torcer para que todos passem por essa situação com saúde e sem grandes prejuízos financeiros.
A música, por sua vez, sempre ressurge, sempre traz novas inspirações e os meios tecnológicos permitiram que a sua arte transformadora por meio da melodia, perpetuasse nos dias difíceis que tem sido neste caos trazido pela doença. Por fim, independente da sua religião, gênero, ideologia política, gostaria que dedicasse um minuto da sua reflexão às mais de 300 mil famílias que sofreram com a perda de seus familiares.
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Moda REESCREVENDO AS REGRAS DA MODA: COMO O ANTES TE INFLUENCIA NOS DIAS DE HOJE? A diversidade da moda antiga, com os costumes da moda no século 21
ANDREY LOPES
Sabemos que o mundo da moda vive se reciclando, que peças antigas sempre podem voltar a ser tendência e que conceitos podem mudar em qualquer nova estação. Os exageros e o “visual” poderoso dos anos 80 refletiam o que aquela sociedade da época passava. Ainda nessa década de 80, surgiram vários ícones que influenciaram a moda e o comportamento da sociedade, coisa que não é muito diferente dos nossos dias de hoje. No cenário musical, cantoras como Cindy Lauper, Madonna, Tina Tuner e Michael Jackson eram os grandes ídolos. O estilo e o comportamento de seriados e filmes também alterava opiniões e eram bem copiados. Toda essa combinação de elementos e ícones completou na construção de uma moda única nos anos 80 que atualmente, é sempre relembrada em diversos desfiles pelo mundo. Para quem não vivenciou essa moda no seu auge, agora é a oportunidade de tentar aproveitar um pouco do exagero, misturas e cores fortes, que só essa época mostrou. “As peças atuais são totalmente inspiradas em tendências passadas, porém elas são editadas para os dias atuais. Na tendência de inverno temos o Twin Set, um casaquinho de tricot, que às vezes acompanha uma regata”, disse Débora Erédia, formada em moda e proprietária da boutique D.Ateliê. Débora também acredita que a moda está se adaptando aos costumes das pessoas e aos acontecimentos. Por exemplo, com a pandemia, ela sente uma necessidade de roupas mais confortáveis e com um toque de estilo, para que as pessoas possam realizar seus afazeres de forma simples, mas estilosa.
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Já Gabriela Maldonado, influenciadora digital e proprietária da loja Latika Boutique, acredita que as calças pantalonas, shorts com o cos bem alto e Max blazer, são peças que voltaram com tudo no século 21, época em que as pessoas idealizam looks comprando peças formando conjunto.
Variedades Toda essa variedade que as pessoas possuem hoje no mundo da moda surgiu ao longo das décadas. “Atualmente, uma mulher pode usar uma saia hippie e uma blusinha mais moderna sem problemas algum”, cita a redatora do site Nada Frágil. O que podemos notar ao comparar a moda antiga com a mais atual, é que as peças apenas vão se modificando com o passar do tempo, e claro, vão sendo adaptadas conforme dita os mais famosos desfiles de moda. Outras, no entanto, são encontradas hoje com o mesmo design e características das décadas anteriores, sem nenhuma mudança.
Moda na Década de 70 Muitas cores, transparência, franjas, couro, tranças e brilho. A época da transgressão e da cultura hippie emprestou uma infinidade de inovações para o mundo da moda, pois ao cultuar a liberdade de expressão, cultuava também a liberdade de poder vestir o que quiser. As mulheres desse tempo, geralmente usavam sias longas e coloridas e tanto elas quanto os homens também usavam calça jeans e blusas com franjas.
Manter o Estilo A influenciadora Gabriela Maldonado acredita que o básico nunca sai da moda e deixa qualquer pessoa sempre bem vestida. A jovem aposta em usar um jeans e uma camiseta e acrescenta que são peças coringas dentro do guarda roupa. Já Débora Erédia, ressalta que para manter o estilo é essencial que as pessoas não fujam do seu estilo. Reprodução/Redes Sociais
Gabriela ressalta a importância do trabalho de uma blogueira e acredita que o que os influenciadores usam e veste, vira “moda” nos séculos em que estamos. “Os influenciadores desse ramo de moda fazem as pessoas se descobrirem e terem coragem de ser mais ousadas na hora de se vestirem”, diz Gabriela. Vêse que a publicidade nas redes sociais pelos influenciadores digitais ou influenciadores tornouse coisa séria, sendo, inclusive, regulamentada podendo o consumidor que se sentir prejudicado ou ofendido pelo conteúdo do anúncio dela se queixar. Reprodução/Redes Sociais
“O jeans com uma camiseta básica, é a peça coringa dentro do guarda roupa”, diz a influencer Gabriela Maldonado “O trabalho de um Influencer é muito importante, até porque, são eles que fazem a “moda” não é mesmo?”
Tecnologia
Reprodução/Redes Sociais
A tecnologia muda as relações e as formas de consumo, as mudanças acontecem a todo o momento. Neste século a compras pela internet ganham espaço e as roupas passam a definir o estilo das pessoas de acordo com as tendências de grupos como “cool”, “emos”, ‘indies”. Hoje em dia, a moda representa muito mais a estética. Possibilita os consumidores se encontrarem no estilo que mais gostam, assim estando confiantes diante o mundo e consigo mesmos. A roupa é uma forma de influência, podendo estar mais sensual e confortável dentro do mesmo look. Débora relata que acha essencial o trabalho dos digitais influencers em relação a estilos e roupas. O mercado de influenciadores digitais está crescendo cada vez mais e vem ganhando credibilidade crescente na vida das pessoas. Débora ainda cita que já foi influenciada várias vezes por muitos criadores de conteúdo.
Débora Erédia afirma que já foi influenciada muitas vezes pelas blogueiras da internet, em relação a looks.
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Música O EFEITO VIRAL E A RELAÇÃO COM O SISTEMA CAPITALISTA: O TEMPO COMO AGENTE TRANSFORMADOR DO CONSUMO DE MÚSICA Consumo, sociedade, capitalismo e produção, entenda como um aplicativo de dublagens revolucionou uma indústria
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em uma realidade contemporânea e na internet é possível acessar uma cultura à parte de todas as outras, que se levanta sobre a sociedade e nos esmaga sem que nós possamos perceber as engrenagens que possibilitam a ocorrência de alguns eventos provenientes dessa cultura virtual, como por exemplo o efeito viral. De livros a estudiosos, de números a intenções, o tempo explica muita coisa e ainda correlaciona alguns fatos, se deixe levar pelo tempo e entenda como o efeito viral possui relação com o capitalismo, bem como a evolução de consumo é emplacada pela decorrência das décadas e faz esse assunto ser atemporal. Ainda no início da década passada, os discos eram as principais ferramentas para trazerem aos artistas o prestigio e o capital, as gravadoras estudavam formas mediante as transformações rápidas vividas anteriormente no início dos anos 2000 para lançarem seus artistas com máxima exclusividade em cada novo trabalho. Aqui o vazamento era o maior medo da indústria musical, esse monstro surgiu com a formação de pequenos grupos de compartilhamento de arquivos na internet, embora suas primitivas intenções fossem nocivas às gravadoras, com o passar do tempo, os grupos foram crescendo e se dividindo em espécies de “gangues” que divulgavam materiais exclusivos. A meta era divulgar o máximo de projetos e trabalhos, afim de ser unanimidade detentora de conteúdo em relação à gangue concorrente, então, não demorou muito para que essa galera virtual chegasse até o interior das gravadoras, mais precisamente no setor de fabricação e embalagem dos discos, assim, uma vez lá dentro, a velocidade de compartilhamento de arquivos começou a ser notável, visto que antes um produto demorava duas semanas após seu lançamento para ser encontrado na rede, mas com os grupos os produtos eram acessáveis até duas semanas antes de seu lançamento. O problema demorou a receber atenção dos grandes nomes da música (presidentes de gravadoras por exemplo), apenas após a constatação de vazamento e comprometimento dos lucros capitais com o lançamento da faixa Bye bye bye do grupo NSYNC, que foram encarados os efeitos negativos do vazamento, bem como seu potencial corrosivo para
ABNER SOUZA
Já pensou em ter que esperar as locadoras reunirem os seus discos favoritos para você poder ouvilos? E se por acaso o seu disco não estivesse na lista? Ou pior, e se a sua cidade não tiver uma locadora ou não selecione o seu artista para dispor à venda? Consumo, reprodução, sociedade e capitalismo estão amarrados
A Música odeia o paado e dele quer fugir. Deyvidi Takaki. 29
uma faixa ou álbum, foi aqui que perceberam que era o fim do monopólio dessa indústria. Apresentado o contexto anterior, as gravadoras se preocupavam com a exclusividade e até então a única forma de fazer uma música se tornar febre era por meio das reproduções nas rádios e venda de discos, porém a internet como uma vez já havia mudado a forma como se ganhava dinheiro, se preparava para mais uma vez impactar a indústria da música, porém com uma participação diferente da década de 2000.
Chegada das redes sociais As redes sociais chegaram com força por volta dos anos de 2010 a 2012, o dispositivo móvel se estabelecia de forma acessível para a população por volta do ano de 2014 e até o ano de 2016, os streamers e plataformas digitais já haviam sido responsáveis por emplacarem músicas, as gravadoras então ampliavam seus horizontes de atuações e parcerias. Mas foi só no ano de 2017 com a transação comercial que resultava na compra do app Musical.ly pela empresa ByteDance que um fenômeno social surgiu de vez: o efeito viral. A empresa chinesa ByteDance comprou o aplicativo Musical.ly e o transformou no atual Tiktok, para difusão internacional do app de dublagem, que também contém edições de vídeos e finalidades de entretenimentos ao mesmo tempo que motiva seus usuários com um possível lucro ao utilizar o aplicativo, esse novo entretenimento virtual então começou crescer desde seu surgimento até se consagrar no ano de 2019, com um vasto catálogo de singles que encontraram solo fértil e promissor em suas reproduções. Adentrando a partir de agora na essência desta matéria, chegamos ao fenômeno efeito viral, frequentemente ocasionado pelo Tik Tok (app que possibilidade obtenção de lucro financeiro para o usuário enquanto gera entretenimento), em um mesmo passo onde consumir é produzir, configurando um traço da cultura na internet que por sua vez modificou um cenário – indústria musical e formas de emplacar faixas – tudo sendo lapidado em conjunto pelo tempo. Nesse ponto é possível diagnosticar essa realidade como uma já apontada por Jean Baudrillard em seu estudo sobre a sociedade do consumo a partir dos termos “lucro financeiro”; “produzir”; “consumir” e “modificou um cenário”, caracterizando aspectos que ele ressaltava em sua obra (A Sociedade do Consumo), na qual afirmava sobre o surgimento de um novo espaço para o consumidor, tudo dentro do sistema capitalista.
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A Música e o viral Sabese que são necessárias muitas etapas para concluir uma música, que por sua vez pode transcender a condição de faixa para single, ganhando um clipe. Essa elevação implica um marketing diferenciado e uma organização artística de produção, onde resultara em um vídeo que tem papel de ser carro chefe de um álbum ou de mantêlo nas paradas. Muitos são os motivos que fazem o público ouvir uma música, mas me desprendendo disso, quero propor uma discussão: o efeito viral está ligado ao processo de produção ou é um acaso? Para tal indagação estive com Deyvidi Mitsuo Takaki, 37 anos, que é professor de música formando pela Universidade Federal de São Carlos. Para início do debate o professor declara. “Afinar sua técnica às expectativas sociais do que é ser um bom musicista pode fazer com que a sustentabilidade do músico seja alcançada com maior facilidade. Não sou contra isso. Viralizar nas redes é uma ótima forma de poder continuar fazendo sua arte”, dando, segundo sua opinião, o mérito do viral para outros agentes causadores e não como sendo proposital de fato, não fazendo parte da produção da faixa, porém, admitindo que por trás da composição musical pode ocorrer uma adesão ao que se considera bom, o famigerado padrão. Esse mesmo termo é responsável por fazer muitas músicas se parecerem, e quando digo ‘muitas’, são inúmeras produções que são semanalmente lançadas umas sobre as outras, gerando um excesso de produção (aspecto da sociedade do consumo comentada por Braudrillard) e deixando a elas pouco tempo de intervalo se comparado a anos atrás, quando o time que os singles tinham entre os seus lançamentos eram maiores. Isso pode fazer com que um artista não consiga alcançar o desempenho esperado por ele, por sua equipe e sua gravadora. Deyvidi afirma que ditar um padrão estético musical traz mais inseguranças que benefícios, afirmação essa que pode ser notada no baixo intervalo que os singles possuem entre si, demonstrando uma insegurança do próprio artista e sua equipe ou até da gravadora, em relação ao padrão (se foi atingido ou não). Me afastando especificamente da questão levantada por Deyvidi sobre a insegurança que o artista sofre e focando em todo contexto desta sociedade na qual esse artista também faz parte, podemos utilizar o estudo eternizado na obra A Sociedade do Consumo, de Jean Braudrillard, para constatarmos que vivemos nessa realidade afirmada pelo estudioso: o tipo de sociedade que se encontra numa avançada etapa de desenvolvimento industrial capitalista, e que se caracteriza pelo consumo massivo de bens e serviços disponíveis, graças a elevada produção.
A ordem dos eventos agentes é a seguinte: 1 A indústria da música se rende a um padrão musical estilizado. 2 – Os singles possuem um curto período entre os lançamentos, dando margem para dois motivos; o primeiro é que existe uma alta produção (impulsionada pelo capital e recursos disponíveis); e o segundo a insegurança que habita o artista, citada por Deyvidi. 3 – O consumo desse produto disponível aos montes, bem como a sua reprodução. Ainda há uma extensão que implica na pós produção à partir do consumo, como por exemplo o fenômeno TikTok, onde os usuários criam conteúdo enquanto geram lucros financeiros para si próprios mediante sua quantia de seguidores, sugerindo a existência desse novo espaço para o consumidor como aponta Jean Baudrillard. 4 – O Fator ‘acaso’, que de fato é autônomo, porém consiste na chance que o produto tem de viralizar. Mas ele não age involuntariamente, já que só são reproduzidos produtos que estão disponibilizados nas plataformas digitais – os deixando em uma condição de chances maiores de se tornarem populares – e para se tornar tal, são necessárias as reproduções, sendo um agente que está ligado a estereótipos e gosto popular, que pode ter relação com um traço da produção (que no caso não é um traço para viralizar a faixa, mas sim para a colocar no padrão de consumo). 5 – O viral, que simplesmente é a reprodução de uma mesma faixa que está em alta no ambiente TikTok. Nesse ponto a ligação está com o estopim que é o tópico anterior, pois, como os usuários do app almejam seguidores para obterem lucro dentre outras coisas, eles tendem a utilizar algo que está quente na rede, fazendo as engrenagens do fenômeno viralizante funcionarem sucessivamente. Ainda é importante lembrar que o ultimo agente é também consequência, e que de forma alguma é uma regra absoluta, mas funciona como algo diferente que não acontecia antigamente, se consagrando sim, um facilitador de emplacar músicas nos dias atuais.
Uma das críticas mais comuns sobre a sociedade de consumo é a que afirma se tratar de um tipo de sociedade que se "rendeu" frente as forças do sistema capitalista então portanto, seus critérios e bases culturais estão submetidos as criações postas ao alcance do consumidor. Neste sentido, os consumidores finais perderiam as características de indivíduos e passariam a ser considerados uma massa de consumidores que se pode influir através de técnicas de marketing,
bem como integrarem uma tendência embasada pelo sistema capitalista, a de ganhar consumindo, juntamente configurando um dos cenários da cultura virtual – TikTok como um aplicativo popular que além de se tornar uma febre por si só, impulsionou outros campos como o musical e abriu espaços novos para o consumirdor – que se estabeleceu com as mudanças que só o tempo faz, deixando uma marca atemporal na vida humana.
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Saúde REVOLTA DA VACINA 2.0: PODERIA 2021 SER CONSIDERADO O "REMAKE" DE UM TRISTE MARCO HISTÓRICO? GUILHERME SESTARI
Há um ano, todo o mundo identificava e se assustava com os primeiros casos do coronavírus, um vírus contagioso que modificou diversos hábitos rotineiros, totalmente naturalizados na sociedade. O mais assustador é que os mais simples gestos de afeto precisaram ser poupados para evitar o risco de contaminação. Com a drástica mudança nos hábitos diários da população, pesquisadores e cientistas também lutavam contra o tempo em busca de uma importante substância que fosse responsável por conter o vírus: as vacinas. Nos últimos meses, foram desenvolvidas diversas vacinas visando um tempo limite do qual a ciência jamais viu. Com recorde de 10 meses, os Estados Unidos anunciaram o primeiro medicamento contra o coronavírus, sendo considerada a primeira vacina mais rápida a ser desenvolvida na história a última a alcançar tal fato foi a vacina do Sarampo, identificada em 1953 e com ela aprovada apenas em 1963,
dez anos depois. Com o anúncio de imunizantes contra a doença e sua eficácia, uma determinada vacina tem ganhado a atenção de todos: a Coronavac, desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac com o Instituto Butantan e que vem causando confusões entre muitos brasileiros, relacionando o local de origem, levando em conta sobre a China ter sido caracterizada como o epicentro da pandemia.
O marco histórico Todo esse rito que está ocorrendo, o preconceito com a vacina e a recepção da população, é muito familiar com algo que se iniciou no começo do século 20 e, ainda que não tenha causado tanta comoção quanto ao coronavírus, apresentou semelhanças, que foi o movimento da Revolta da Vacina. Em 1904, em Borborema o número de pessoas internadas por varíola no Hospital chegou em 1,8 REUTERS/Amanda Perobelli
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A vacina contra o novo coronavírus tem causado um efeito semelhante a vacina contra a varíola.
mil. Ainda que tenha sido um grande índice, a população continuava se recusando a se vacinar, por ser um medicamento com composição bovina e a história que rodava era que se imunizasse poderia desenvolver feições parecidas com cavalos, bois e vacas. Foi diante desse problema estava Oswaldo Cruz, um médico e cientista muito conhecido por estar entre os principais incentivadores da vacinação em massa. O jovem médico já era renomado, no que diz conter outras patologias da época, como a febre amarela e a peste bubônica, ao recomendar medidas sanitárias isolar doentes, notificar os casos positivos, entre outros. Mas com o movimento contra, da população recusandose a vacinar, foi implantada a vacinação obrigatória na qual os próprios agentes de saúde invadiam as casas das pessoas. “O mote daquela época foi a vacinação forçada, quando os agentes invadiam as casas para obrigarem as pessoas a se vacinar, mas existiam também outras questões políticas, como a ideia de depor o governo, o tratamento dado aos pobres, além da reforma urbana, com uma tentativa de modernizar a cidade do Rio de Janeiro”, explicou a professora Márcia Regina Barros da Silva, do Departamento de História da USP (Universidade de São Paulo) em entrevista recente a CNN Brasil. Naquela época, a sociedade acreditava que as vacinas eram formas de eliminar as camadas mais pobres da sociedade e, com isso, houve tanta luta e recusa, o que com o passar do tempo refletiu nos dias atuais.
REUTERS/Amanda Perobelli
Com as redes sociais, se tornou ainda mais fácil espalhar notícias falsas.
2021: A Revolta da Vacina 2? Com o anúncio da Coronavac e sua origem chinesa, os brasileiros têm criado informações falsas para desacreditar na imunização. No entanto, diferente da Revolta da Vacina, que foi um movimento que ocorreu a 116 anos atrás, nos dias de hoje, todas as camadas acabam se sentindo afetadas e espalham mais facilmente as informações falsas por meio das redes sociais, como WhatsApp e o Facebook. Em pesquisa feita recentemente, as tão conhecidas “fake news” se tornaram ainda mais fortes nas redes sociais, diminuindo a imunização não só do coronavírus, como também de outras patologias. Em entrevista a um jornal do noroeste paulista, a diretora da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), Mayra Moura, conta que as pessoas não apresentam qualquer interesse nas taxas de eficácia dos imunizantes, o que deixa tudo fértil para a população acreditar em informações falsas. “Fake news é fofoca. Até você explicar, a pessoa já cansou. Então a fake news vai na coisa da fofoca, da informação rasa, no lúdico das pessoas. Acho que é por isso que ganham tanta força, têm tanto poder.” Mas a vacinação contra o coronavírus não tem sido a única a sofrer contra esse problema. Alguns pais brasileiros têm deixado de imunizar seus filhos por conta de boatos que ouvem, e acreditam que seus filhos nascerão com autismo ou qualquer outra condição. O que, na realidade, é totalmente o contrário.
Por: Augusto Rocha para revista Tagarela
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Estamos fadados ao fracasso? Ainda que o número de pessoas que se contrapõem continue alto, a população tem se informado mais sobre o tema e entendendo sobre a importância e a necessidade de realizar a imunização. No entanto, as taxas de mortalidade no Brasil continuam aumentando a cada dia, chegando a mais de 320 mil mortes, superando também o recorde de morte diário com o número de 3.950 óbitos, neste março de 2021 que se tornou o mês mais letal de toda a pandemia. Mesmo com a imunização e as vacinações em território nacional, a população tem apresentado dificuldades em realizar as medidas de prevenção e segurança para impedir a contaminação do vírus. O país tem apresentado problemas em garantir leitos para todos, causando dificuldades no tratamento de pessoas que tenham sido infectadas. Logo, é fato que a imunização não deve ser o único fator a ser levantado e somar forças para a história não se repetir, novamente.
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No final da Primeira Guerra Mundial, também teve uma pandemia: a gripe espanhola que causou a morte de mais de 50 milhões de pessoas, entre os anos de 1918 e 1920
COMO AS VACINAS FUNCIONAM?
Fake news é fofoca. Até você explicar, a peoa já cansou... 35