Monografia: Público mulher

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público mulher DEMOCRATIZAÇÃO DE ESPAÇOS PÚBLICOS A PARTIR DO RECORTE DE GÊNERO

trabalho de conclusão de curso anelise pinheiro



público mulher DEMOCRATIZAÇÃO DE ESPAÇOS PÚBLICOS A PARTIR DO RECORTE DE GÊNERO

Monografia apresentada à banca examinadora da Universidade Estadual de Maringá como requisito para obtenção do título de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo, sob orientação da Prof. Dra. Beatriz Fleury e Silva. Universidade Estadual de Maringá 2018

trabalho de conclusão de curso anelise pinheiro


Dedico este trabalho à todas as pessoas que me acompanharam de perto ao longo deste ano, em especial aos amigos que caminham ao meu lado desde o início do curso, Gustavo, Felipe e Heloisa. À minha orientadora que aceitou o desafio da temática e à minha família que têm me apoiado em todas as minhas escolhas.


sumário introdução 07 o quê? direito a que cidade? 11 direito à cidade... direito para quem? 14 urbanismo representativo 15 espaços públicos urbanos: inclusão ou exclusão? 20 espaço público e perspectiva de gênero 22

quem? análise de correlatos 27 frauen-werk-stadt I 29 frauen-werk-stadt II 33 frauen-werk-stadt III 36 requalificação de espaços cívicos 37 recuperação de vazios urbanos 45 debates atuais 52 considerações finais 54

onde? metodologia 59 análises e levantamentos 61

como? reconhecimento do terreno 77 pontos fotografados: análises na escala do pedestre 82 análise das entrevistas 87 análises e propostas 91 processo de intervenção urbana 98 a importância da rua 100 proposta de paisagem 102 proposta de mobiliário urbano 105 proposta de projeto urbano 107 centro de acolhimento e segurança para mulheres 109 centro de oportunidades e aprendizagem 114 centro de cultura 122

referências 130


lista de figuras Figura 1: Google Earth, 2018 Figura 2: Praça dos Três Poderes Figura 3: Praça Raposo Tavares Figura 4: Imagem aérea Frauen-Werk-Stadt I Figura 5: Vista aérea do Conjunto Frauen-Werk-Stadt I Figura 6: Perspectiva aérea do Conjunto Frauen-Werk-Stadt I Figuras 7, 8, 9 e 10: Esquemas do projeto Frauen-Werk-Stadt Figura 11: Esquema de fachadas ativas Figura 12: Fachada interna do Frauen-Werk-Stadt I. Figura 13: Vista da passarela central do Frauen-Werk-Stadt I Figura 14: Área de convivência central do Frauen-Werk-Stadt II Figura 15: Maquete do projeto Frauen-Werk-Stadt II Figura 16: Desenho esquemático do projeto de biblioteca feito pelo Studio Gang Figura 17: Desenho esquemático de parque feito pelo Studio Gang Figura 18: Desenho esquemático de um centro recreativo feito pelo Studio Gang Figura 19: Desenho esquemático de uma estação policial feito pelo Studio Gang Figura 20: Desenho esquemático de uma escola inovadora feito pelo Studio Gang Figura 21: Desenho esquemático feito pelo Studio Gang Figura 22: Desenho esquemático feito pelo Studio Gang Figura 23: Estudo das problemáticas que direcionarão a internveção, feito pela equipe ASS UCAM Figura 24:Esquematização das problemáticas levantadas pela equipe ASS UCAM para a elaboração do projeto Figura 25: Terreno vazio om potencial para intervenção Figura 26: Intervenção no terreno vazio feita pela equipe ASS UCAM Figura 27: Terreno vazio om potencial para intervenção Figura 28: Intervenção no terreno vazio feita pela equipe ASS UCAM Figura 29: Terreno vazio om potencial para intervenção Figura 30: Intervenção no terreno vazio feita pela equipe ASS UCAM Figura 31: Terreno vazio om potencial para intervenção Figura 32: Intervenção no terreno vazio feita pela equipe ASS UCAM Figura 33: Etapa 2: Trabalho de Campo Figura 34: Resultado da auditoria Figura 35: Imagen aérea da cidade de Maringá Figura 36: Mapa de identificação geral da cidade de Maringá Figura 37: Mapa de identificação geral da cidade de Maringá Figura 38: Mapa de espaços públicos. Figura 39: Mapa de grau de abrangência dos espaços públicos Figura 40: Mapa da linha de transporte público urbano Figura 41: Mapa de sobreposição dos equipamentos públicos e espaços públicos Figura 42: Mapa de síntese parcial Figura 43: Mapa de predominância de renda do responsável por domicílio Figura 44: Mapa de densidade de mulheres por região Figura 45: Síntese parcial de sobreposição entre os mapas de densidade e renda Figura 46: Mapa síntese Figura 47: Escolha da área Figura 48: Imagem aérea do terreno de intervenção Figura 49: Vista aérea de Maringá com destaque para o área de projeto Figura 50: Vista aérea da área de projeto e seu entorno Figura 51: Edifícios residenciais verticais em contraposição com pequenas residências Figura 52: Mapa de análise do terreno Figura 53: Mapa de zoneamento e usos Figura 54: Barreira física e visual conformada pelo muro Figura 55: Barreira física e visual, calçada estreita e iluminação degradada Figura 56: Terreno vazio em frente à um espaço público Figura 57: Terreno vazio em frente à Avenida Franklin Delano Roosevelt Figura 58: Talude muito alto, falta de ciclovia e copa da árvore muito baixa Figura 59: Talude muito alto e calçada muito estreita Figura 60: Mulheres caminhando na rua devido à calçada estreita e imprópria Figura 61: Ponto de ônibus em uma praça sem suporte para uso Figura 62: Mapa de síntese Figura 63: Mapa de estratégia


Figura 64: Mapa da nova proposta de zoneamento e usos Figura 65: Mapa da proposta Figura 66: Mapa do conceito Figura 67: Esquemas de intervenção no loteamento do recorte Figura 68: Mapa do plano paisagístico com destaque nas ruas que serão detalhadas Figura 69: Proposta de rasgo (tipologia rua C) Figura 70: Isométrica tipologia rua C Figura 71: Mapa de plano paisagístico Figura 72: Mapa de proposta de mobilidade Figura 73: Isométrica da banca comercial Figura 74: Isométrica do ponto de ônibus com sanitário público Figura 75: Mapa de localização das áreas de projeto Figura 76: Esquema de implantação geral



introdução

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rente às práticas urbanísticas vigentes e sua relação com o contexto social atual, o Trabalho de Conclusão de Curso de Arquitetura e Urbanismo é uma contribuição para o entendimento de como se apresenta a conjuntura da construção de espaços públicos urbanos, levando em consideração uma nova perspectiva na qual pretende pôr em foco a vivência e ocupação das mulheres no meio urbano. Para tal fim, é necessário frisar que o espaço estudado neste trabalho vai muito além de um espaço físico construído, ele diz respeito ao espaço das vivências cotidianas, dos espaços ocupados e não ocupados, dos espaços que geram segregação material e simbólica. Diante disso, o trabalho se inicia com o pressuposto de que a produção destes espaços, atualmente, está completamente vinculada à produção capitalista patriarcal. Sendo assim, os espaços construídos atendem, preferencialmente, as necessidades de grupos privilegiados da sociedade, refletindo-se em espaços excludentes e segregados, que favorecem a construção de áreas inseguras e propícias a violências urbanas. Portanto, a intenção do projeto é entender como o espaço projetado pode interferir nas relações sociais, sobretudo nas relações de gênero, e como isso, posteriormente, pode interferir da melhor forma na vida cotidiana das pessoas, principalmente, no cotidiano da mulher. A democratização de espaços públicos a partir do recorte de gênero permeia a temática sobre o direito à cidade e sobre o negligenciamento desse direito para alguns grupos sociais. Sendo assim, o principal objetivo com o projeto é conformar espaços que atendem às demandas de todos os grupos sociais de modo que promova outros tipos de relações interpessoais e outras vivências, de forma equilibrada e democrática.

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Figura 1 Fonte: Google Earth, 2018.



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O QUÊ?

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direito a que cidade?

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m uma certa sociedade, onde a prática urbanística impulsiona a formação de cidades segregadas e desiguais tanto espacialmente quanto socialmente, a discussão sobre o direito à cidade nunca se fez tão essencial. Os avanços das cidades contemporâneas estão cada vez mais pautados em uma abordagem capitalista, produtivista e patriarcal, resultando em uma prática de urbanismo não neutro. Isso quer dizer que seus praticantes, mesmo que profissionais especializados na área, não estão levando em consideração questões como gênero, raça, classe, renda, entre outras distinções inseridas na sociedade atual. Para que se reivindique o “direito à cidade”, no entanto, é necessário que se entenda o porquê dessa necessidade e, sobretudo, qual o tipo de cidade que está sendo reivindicado. “O termo “cidade” tem uma história icônica e simbólica profundamente inserida na busca de significados políticos. A cidade de Deus, a cidade edificada sobre um morro, a relação entre cidade e cidadania, a cidade como objeto de desejo utópico, como um lugar distintivo de pertença em uma ordem espaço-temporal em movimento perpétuo –, tudo isso confere à cidade um significado que mobiliza um imaginário político crucial.” (HARVEY, 2014, p.22) Apesar de ser um termo com uma definição um tanto quanto complexa, é interessante ressaltar que a cidade, ou o espaço físico pelo qual denominamos de cidade, é o maior cenário para lutas políticas, pelas lutas dos desejos e necessidades, pelas lutas do direito à segurança nos espaços públicos e muitas outras lutas, que tomam o espaço público como uma forma de empoderamento e visibilidade. Dessa forma, o espaço da cidade para o meio social serve de cenário para muitas revoluções urbanas, que geram os direcionamentos para a transformação do próprio espaço urbano.

“O direito à cidade é, portanto, muito mais do que um direito à acesso individual ou grupal aos recursos que a cidade incorpora: é um direito de mudar e reinventar a cidade mais de acordo com os nossos mais profundos desejos.” (HARVEY, 2014, p. 28) Sendo assim, a reivindicação ao direito à cidade, de acordo com Harvey, é um dos principais instrumentos que põe em cheque o poder configurador sobre os processos de urbanização atuais, sobre a forma como as cidades estão sendo feitas e reproduzidas, e também, como uma das principais maneiras de se exigir, no mínimo, a manutenção das práticas urbanísticas vigentes. Além disso, Harvey ainda explica que a urbanização das cidades está completamente vinculada com a produção capitalista, uma vez que a produção da própria cidade é utilizada em prol do mercado, como mercadoria. Essa relação entre a urbanização e o capitalismo é o que conforma hoje as cidades contemporâneas, e uma de suas principais características, de acordo com Rolnik (1995), é a produção de desigualdades, tanto na forma material – como grades, muros e pontes -, quanto de forma simbólica – na divisão de territórios relacionada às diferenças de classe, cor, gênero e idade –. Dessa forma, a produção de uma cidade segregada está vinculada não somente com a divisão da cidade em aspectos físicos, mas também em aspectos sociais e simbólicos. “[...]. Vivemos cada dia mais em cidades divididas, fragmentadas e propensas à conflitos. O modo como vemos o mundo e definimos possibilidades depende do lado da vista em que nos encontramos e a que tipo de consumismo temos acesso.” (HARVEY, 2014, p.47)


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“direito à cidade” está confinado, predominantemente, nas mãos de uma pequena elite política e econômica, que tem condições de moldar a cidade cada vez mais segundo as suas necessidades e, infelizmente, essas necessidades não atendem às demandas reais da sociedade. Diante disso, o grande foco para se tentar frear essas persistências da produção de um espaço não democrático seria a própria vida urbana, uma vez que é a partir dela que é possível destacar as verdadeiras necessidades da população no que diz respeito à utilização do espaço urbano. No mais, a apropriação dos interesses privados sob bens que deveriam ser públicos também leva em pauta o posicionamento do Estado frente a isso. De acordo com Harvey, ao longo da história da urbanização, o fornecimento de bens públicos em detrimento dos interesses privados foi fundamental para o desenvolvimento capitalista nas cidades. A administração pública tem o dever de suprir os bens públicos – como habitações de interesse social, sistema de saúde, educação, pavimentação, entre outros – para a população da cidade, sobretudo a porção da população que mais depende de serviços públicos. No entanto, é importante levar em consideração que a maioria dos serviços vindos de esfera públicas estão associados aos interesses privados, sendo que muitos dos projetos públicos possuem alguma contrapartida em que envolve os interesses de empreendedores. Não é errado, no entanto, pensar e agir dessa maneira. Esses investimentos na verdade são muito bem-vindos e necessários. O grande questionamento, contudo, é que eles não atendem quem mais precisam e se atende é de maneira desmazelada e insatisfatória. Para ilustrar essa problemática, pensemos em ações muito associadas aos profissionais da área de Arquitetura e Urbanismo. Alguns parques urbanos são exemplos disso, pois, na maioria das vezes, eles são executados com o propósito de revitalizar

uma área ou para melhorar a qualidade de vida da população, no entanto, o principal resultado é a valorização do solo urbano e a gentrificação¹ de seu entorno. “Elaborado e concebido como equipamento urbano na escala da cidade e da aglomeração, o parque urbano público concretiza-se, em geral, no contexto de um programa imobiliário.” (SERPA, 2009, p.41) “O parque público é um meio de controle social, sobretudo das novas classes médias, destino final das políticas públicas, que, em última instância, procuram multiplicar o consumo e valorizar o solo urbano nos locais onde são aplicadas.” (SERPA, 2009, p.45) Diante dessa situação, Harvey explica, que essa luta pelo direito à cidade também bate de frente contra os poderes do capital que se alimentam e extraem renda dos bens públicos adquiridos pela vida comunal da sociedade. É necessário, portanto, se conscientizar e reconhecer que os bens públicos não só podem, como devem ser produzidos, protegidos e usados para o benefício social como uma maneira de atender democraticamente à todas as demandas da sociedade de maneira equilibrada, e que a atenção direcionada aos grupos não privilegiados acaba por trazer uma perspectiva que ajuda na observação das problemáticas e principais demandas desse grupo. Além disso, como aponta Muxi (2009), o domínio da força do mercado acaba por gerar grandes áreas privilegiadas e fragmentadas, criando uma cenografia de exclusão social e pobreza excluída, em contraposição com a riqueza excludente. As debilidades das políticas públicas não têm garantido sequer o mantimento da qualidade de seus espaços e serviços públicos, uma vez que eles têm se deteriorado cada vez mais ou entrado no infeliz processo de privatização. Dessa maneira, alinhando os pensamentos de Harvey e Muxi sobre a


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produção capitalista da cidade e o processo de globalização das mesmas, as cidades contemporâneas não estão mais sendo percebidas como um complexo grupo social, político e econômico, e sim como um mero produto global, uma mercadoria. Logo, a cidade tratada como produto global, consequentemente, acaba por se tornar um aglomerado global, que responde apenas aos padrões globais estabelecidos pelas empresas globais, ou seja, os privilégios sempre acabam permanecendo nas mãos de quem detém o capital enquanto que a porção da sociedade não privilegiada acaba ficando cada vez mais à margem dessa condição. “A generalidade de um mercado globalizado produz uma força poderosa que procura garantir não apenas a continuidade dos privilégios monopolistas da propriedade privada, mas também as rendas de monopólio que provêm da apresentação dos produtos como algo incomparável.” (HARVEY, 2014, p.186) Seguindo a lógica de Harvey, que contrapõe a lógica da globalização econômica, a análise a partir de uma perspectiva menos globalizada consegue distinguir, com um olhar muito mais atento e preciso, as distinções dos grupos sociais e o reflexo dessas relações nos espaços. Isso significa que não devemos olhar com os mesmo olhos globais algo que só se resolverá com olhares mais específicos. Dito isso, a análise através da perspectiva de gênero faz uma alusão à essa lógica de que devemos olhar o micro para solucionar o macro.

1 Por definição, gentrificação se refere ao processo de deslocamento de residentes quando esses não conseguem mais pagar pela habitação, pelas conveniências, pelas mensalidades escolares, entre outros serviços oferecidos no bairro devido a crescente riqueza da área, logo após ela ter sofrido por um processo de “enobrecimento”, referente a melhoria social, cultural e/ou econômica.


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direito a cidade... direito à que cidade?

O objetivo último da luta anticapitalista é a abolição dessa relação de classe e de tudo que acompanha, pouco importando como ocorra. Na superfície, esse objetivo revolucionário parece não ter nada a ver com a urbanização em si. Mesmo quando essa luta deva ser vista, como invariavelmente deve, através das perspectivas de raça, etnia, sexualidade e gênero, e mesmo quando ela se desenrola mediante conflitos inter-étnicos, raciais ou de gênero nos espaços vitais da cidade, a concepção fundamental é que a luta anticapitalista deve, em última análise, chegar às entranhas do sistema capitalista e extirpar o tumor canceroso das relações de classe na produção.” (HARVEY, 2014, p.218) Com a finalidade de entender o real contexto das lutas políticas e, principalmente, das lutas urbanas, devemos fazer alguns recortes para apreender, de fato, a contextualização dessas contestações. O processo de urbanização, como já dito, está muito relacionado com a produção capitalista e essa, consequentemente, muito associada à luta de classes. Por sua vez, a discussão que permeia a luta de classes possui um recorte no posicionamento da mulher frente à essa questão e a forma como elas estão sendo postas em posição de inferioridade e submissão que refletem no seu modo de viver, trabalhar, vivenciar e ocupar lugares. Fazendo, portanto, um recorte de gênero frente a essas temáticas, podemos concluir que as demandas vindas do gênero feminino quanto ao processo de urbanização e ao direito a cidade, encontram-se muito deficitárias. As discussões baseadas em gênero, raça, cultura e etnia devem ser inseridas nos debates e no local de lutas urbanas tanto quanto os assuntos de outros grupos sociais mais priorizados. O principal questionamento é entender como todas as pessoas possam ser contempladas no que se refere ao direito à cidade se nem todas as vozes estão sendo ouvidas e nem todos os grupos

sociais mais priorizados. O principal questionamento é entender como todas as pessoas possam ser contempladas no que se refere ao direito à cidade se nem todas as vozes estão sendo ouvidas e nem todos os grupos estão sendo representados. Todas e todos aqueles que, de alguma forma, estão relacionados com o trabalho produtivo e o trabalho reprodutivo dentro do meio urbano, não só podem, como dever ser inseridos nesses debates, conforme aponta Harvey (2014). “Se até agora as cidades foram pensadas pelo e para o homem ideal, um novo pensamento amplo é imperativo: a integração das mulheres nas decisões sobre a cidade, incorporando sua visão como profissional e como usuária. Mas mesmo que uma participação maior das mulheres seja alcançada, isso não será suficiente; algo mais é necessário, como a incorporação dos olhos, as experiências e as necessidades dos outros, isto é, de outras minorias que sejam elas de gênero, econômica, raciais, culturais, sexuais ou não. É aí que reside a possibilidade de um urbanismo de multiplicidade.” (MUXI, 2009, p.195) Dito isso, Muxi (2009) entra na questão sobre a necessidade de inserção das mulheres no pensar da cidade, mas não só como objeto de estudo para que entendamos suas vivências no espaço urbano. A principal proposta na inclusão da mulher nesse debate é utilizá-la como agente transformadora do espaço urbano utilizando de suas próprias vivências. O direito à cidade, como proposto, não é um direito exclusivo de um único coletivo concentrado, não é algo que deva ser amplificado para abranger uma parcela maior na sociedade, é um direito existente, de todas e todos. É um direito que deve ser repensado no modo de que se construa a sua ressignificação, ou a sua real significação.


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urbanismo representativo

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alar sobre o direito à cidade e sobre a prática urbanística de forma generalista talvez não seja a maneira mais democrática de pensar um urbanismo igual para todos. Entendendo o urbanismo como uma atividade na qual possui como objetivo a intervenção na realidade urbana para orientar sua transformação, a não neutralidade dessa prática causa consequências que podem interferir na vida cotidiana de algumas pessoas de maneira negativa. Falar sobre a qualidade de vida igual para todas as pessoas requer um conhecimento sobre as diferenças e necessidades da sociedade segundo as perspectivas já mencionadas nos subcapítulos anteriores. No entanto, a participação de entidades que não sejam somente as administrações públicas e privadas tem enfrentado alguns fatores que dificultam a abrangência dessa presença. As administrações públicas tomam decisões que podem afetar – e afetam – a vida das pessoas, sendo que as possibilidades que elas possuem de interferir nessas decisões são limitadas às consultas eleitorais. As administrações públicas tomam providências baseadas nos objetivos políticos, sendo que isso, erroneamente, não inclui as visões e as prioridades de toda a sociedade. Portanto, estabelecer recursos para a inclusão da participação popular nessas escolhas, principalmente a inclusão de pessoas que não tem voz nas tomadas de decisão, é estabelecer, de fato, a democracia representativa. “[...]. Nem todas as pessoas tem a mesma voz no processo de tomadas de decisões nem a mesma capacidade de ver e valorizar suas necessidades. Por isso, falar de qualidade de vida para todas as pessoas exige, primeiro, conhecer as necessidades e as diferentes necessidades da população segundo gênero, idade, etnia e nível de renda; em segundo lugar, exige definir as políticas adequadas para gerar uma distribuição mais equitativa de bens e recursos; e, por último, desenhar as ferramentas ou instrumentos que permitam colocar em prática essas políticas.”

(MADARIAGA, 2004, p.10) A desarticulação das práticas urbanísticas e a separação entre entidades administrativas com a complexidade da vida cotidiana é um problema visível dessa não participação popular nos momentos de escolha. A vida cotidiana não se enquadra bem às limitações que estão sendo exercidas e isso se reflete tanto na esfera privada quanto na esfera pública/ comunitária. É por isso que a análise da vida cotidiana e o seu entendimento quanto à sua rede de atividades inter-relacionadas é necessária para que se consiga a garantia de democratização. Visto que, atualmente, a composição da sociedade é configurada a partir de valores de uma sociedade patriarcal e capitalista, falar em representatividade nos faz questionar sobre o grupo social no qual está sendo, de fato, representado. Para isso, a introdução de vozes ignoradas, como a das mulheres, por exemplo, garante que a democratização seja efetiva. Por esse motivo, o urbanismo com perspectiva de gênero parte do pressuposto de que o urbanismo não é exercido de modo neutro e que, considerando essa configuração de sociedade, as formas físicas desses espaços que configuram a cidade têm contribuído – e contribuem – a reproduzir esses valores. Sendo assim, uma das vertentes do urbanismo representativo discute sobre a inserção do gênero como uma forma de se pensar o urbanismo a partir de uma outra perspectiva. O urbanismo feminista², por assim dizer, propõe discutir e inserir a vida e cotidianos das pessoas frente à essas questões urbanas com o objetivo de construir espaços que contemplem à todos os distintos grupos sociais de modo que isso interfira positivamente no cotidiano de todas e todos. Diante dos distintos grupos sociais, esse urbanismo representativo engloba e inclui diferentes pessoas, nas quais estão relacionadas não somente à diversidade de gênero, mas também com outras variáveis, como a idade, origem, identidade sexual, unidade de convivência e classe social.


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Reconhecidos os personagens em questão, um dos papéis do urbanismo representativo é cruzar essas variáveis e analisar como elas se configuram em formas de privilégios e opressões. Sendo assim, todas as diversidades são incorporadas, e as experiências dessas pessoas são consideradas experiências essenciais a ponto de serem introduzidas em qualquer processo e projeto urbanístico. Assim explica o coletivo Punt 6, em relação aos espaços e como eles levam em consideração - ou não - as necessidades da vida cotidiana, propiciam a “cura própria”, estimulam um ambiente de intercâmbio e ajuda mútua na comunidade.

2 O conceito de urbanismo feminista parte do pressuposto de que o urbanismo como ferramenta não é neutro e de que as nossas cidades e bairros estão configurados a partir dos valores de uma sociedade patriarcal, de modo que a forma física dos espaços perpetua e reproduz esses valores. Esse conceito foi elaborado pelo Col lectiu Punt 6, uma cooperativa de arquitetas, sociólogas e urbanistas, na qual surgiu no ano de 2004, com a chamada “Lei dos Bairros”, na Comunidade Autônoma de Cataluña. O grupo discute sobre normativas pioneiras que põem em questão medidas sociais e urbanas, a igualdade de gênero e o uso dos espaços e equipamentos urbanos. Fonte: Col lectiu Punt 6, vídeo: ¿Qué es el urbanismo feminista? Disponível em: https://apuntesurbanismofeminista.com/. Acesso em 15 de agosto de 2018,


urbanismo representativo: um recorte de gênero³

Mulheres e homens têm diferentes necessidades e aspirações no espaço urbano e diferentes possibilidades de acesso aos bens e recursos da cidade. A principal razão para este fato universal é uma consequência da chamada divisão sexual do trabalho, dos diferentes papéis que ambos desempenham na esfera privada e na esfera pública, no campo do trabalho reprodutivo não remunerado e no campo do trabalho produtivo para cuja realização uma compensação econômica é percebida.” (MADARIAGA, 2004, p.12) De acordo com dados levantados pelo IBGE (2010), a mulher brasileira representa 63% da população ocupada entre os 25 e 49 anos (idade economicamente ativa). No entanto, 14,5% dessas mulheres ocupam-se exclusivamente de trabalhos domésticos, sendo que apenas 0,7% dos homens ocupam o mesmo papel. Quanto a dupla carga de trabalho – que se refere ao trabalho produtivo convencional e ao trabalho reprodutivo – 94,85% das mulheres exercem os dois concomitantemente, visto que apenas 5,2% dos homens exercem a mesma responsabilidade da dupla carga de trabalho. Posto isso, é muito mais fácil visualizar em termos estatísticos que, de fato, as responsabilidades e as necessidades das mulheres são diferentes dos homens dentro e fora do espaço urbano e que a conformação desses espaços completamente relacionada com a realização dessas atividades cotidianas. “O traço que melhor explica a divisão sexual do trabalho é o fato de que os homens só trabalham na esfera pública e praticamente não assumem tarefas no âmbito privado, enquanto as mulheres se ocupam das tarefas na esfera reprodutiva e também trabalham pela troca de um salário na esfera produtiva.” (MADARIAGA, 2004, p.13)

A vinculação da mulher com as responsabilidades das tarefas produtivas e reprodutivas configuram o que é denominado atualmente como dupla carga de trabalho. Esse fator, além de ser um peso por si só, é um dos principais obstáculos para a entrada e crescimento profissional no trabalho produtivo no mercado atual. O grande problema, na verdade, não é somente a dupla carga de trabalho, pois essas duas atividades são corriqueiras e cotidianas na vida de qualquer pessoa. A grande problematização é a concentração dessas responsabilidades em cima de uma pessoa só, no caso, a mulher. As atividades vinculadas ao trabalho reprodutivo abrangem muito mais que o ambiente privado (doméstico). Possuem demandas urbanas especiais e específicas e são indispensáveis para o próprio acontecimento da vida urbana e que são, de certa forma, invisibilizados e deslegitimados por serem considerados trabalhos de “natureza feminina”. “O trabalho vinculado à reprodução é um trabalho real que tem lugar no espaço urbano, que exige esforço físico e emocional considerável e que garante a qualidade de vida cotidiana e da reprodução das pessoas que trabalham por um salário. É um trabalho sem horário e sem férias, que não deve ser ocultado nem depreciado e que merece ser reconhecido em todo seu valor, incluindo o econômico. A invisibilidade e a escassa valorização do trabalho reprodutivo, até hoje majoritariamente feminino, impede as pessoas que trabalham no campo profissional do urbanismo de ver as necessidades específicas das mulheres na cidade.” (MADARIAGA, 2004, p.15) Ampliando-se a lente de recorte, temos o quadro de desigualdades sociais e, sobretudo, no que se refere a mulher de baixa renda. Para contextualizar de forma breve, lembremos que após a revolução industrial, as mulheres, sobretudo as de classe popular, foram inseridas no mercado de trabalho produtivo como uma maneira de complementação da renda familiar. Hoje, o quadro não é diferente e está pior, pois, além dos

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trabalhos domésticos carregados há tempo, a mulher tem que se dividir entre esses trabalhos e o emprego convencional (trabalho reprodutivo versus trabalho produtivo). “As principais necessidades diferenciadas entre as mulheres se deve às diferentes combinações de gênero com idade, raça, classe, estado civil e pessoa dependente, de modo que as necessidades são maiores para mulheres com pessoas dependentes, para mulheres chefes de família, para mulheres idosas e para imigrantes, e elas se reforçam mutuamente se uma dessas características coincide na mesma pessoa.” (MADARIAGA, 2004, p.19) Para ilustrar os fatos, pensemos em um caso no qual a mulher possua a responsabilidade de cuidar de uma pessoa dependente. Essas mulheres necessitam de equipamentos em sua proximidade que dê suporte a esse tipo de necessidade, principalmente se elas não possuem o poder aquisitivo de conseguir pagar por um serviço que atenda à essa demanda. Outro exemplo é um dos casos mais recorrentes atualmente, que é o caso da mãe solo, por exemplo. Essas mulheres se encontram em um dos grupos sociais mais vulneráveis, pois elas são postas em um ciclo vicioso: se cuidam de seus filhos e filhas, não podem trabalhar, e para trabalhar precisam de alguém que as ajude nas atividades domésticas, ou então terceirizar esse serviço, dependendo do caso. Se for o caso de a mulher não possuir poder aquisitivo para contratar o serviço de outra pessoa que o exerça, ela fica completamente dependente da existência de serviços urbanos na proximidade, incluindo moradias acessíveis, equipamentos e transporte público. Diante disto, é possível perceber que conciliar a vida profissional com a vida familiar não é uma tarefa tão simples, principalmente se não há nenhum suporte de ajuda que facilite a conciliação desses trabalhos. Entre as principais atividades vinculadas com o trabalho reprodutivo – saúde, espor-

te, lazer, compras, funções administrativas, etc. – a maioria delas, se não todas, são feitas fora de casa. É por isso que, os deslocamentos que envolvem a ligação de uma atividade à outra, não passam de “viagens” de trabalho para as mulheres. Ou seja, o local de trabalho não se limita apenas ao local do trabalho produtivo e ao lar, ele está inserido no próprio espaço urbano e em toda sua dinâmica. Em relação à essa complexa dinâmica que envolvem várias atividades a cargo de uma pessoa só, pensemos agora no espaçotemporal que corresponde a cada uma delas. Nas cidades contemporâneas, por exemplo, onde as atividades estão separadas de acordo com o zoneamento, na maioria das vezes, monofuncional, e pensando que esses usos estão dispostos no tempo por horários comerciais, realizar essas atividades em um único dia se torna uma verdadeira corrida contra o tempo. A verdade é que, geralmente, realizar todas as atividades em um mesmo dia é impossível, pois dependerá das possibilidades de acesso, das distâncias de cada lugar, dos meios de transporte disponíveis, e também do tempo disponível. “[...] as políticas que envolvem tempo na cidade, que buscam ajustar os horários dos serviços públicos e comerciais às necessidades da vida cotidiana das pessoas, estão se estendendo por muitos países europeus, seguindo o modelo Italiano. Essas políticas do tempo são complementárias à um planejamento sensível ao gênero.” (MADARIAGA, 2004, p.18) Portanto, para que se entenda as atividades cotidianas dessas mulheres, é preciso que se esteja a par de todas essas vertentes que estão envolvidas na sua vivência. A divisão sexual do trabalho, por exemplo, é um dos fatores que mais influenciam para a configuração dessa sobrecarga de trabalho, porém, fatores que envolvem o espaço e infraestruturas urbanas também podem


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influenciar positiva ou negativamente para a execução dessas atividades. Dessa forma, o principal objetivo desse trabalho não é responder à todas essas problemáticas, até porque nem todas elas competem ao profissional de Arquitetura e Urbanismo. Contudo, entendendo todo esse contexto urbano e social no qual vivencia a mulher, é possível que se estabeleça novos direcionamentos para um projeto urbano mais neutro e inclusivo.

3 “Gênero é uma categoria sociológica que se refere ao conjunto de atributos socioculturais historicamente construídos que são atribuídos às pessoas com base em seu sexo. É um conceito que permite destacar as relações desiguais entre mulheres e homens, entendidos não como seres biológicos, mas como sujeitos sociais.” (MADARIAGA, 2004, p. 10) 4 A inferioridade da mulher consequente do sistema capitalista e da sociedade de classes, além de estar associada com a não participação ou a participação tardia no trabalho produtivo, está relacionada também com a divisão de trabalho de acordo com o gênero. Nesse contexto de segregação e desigualdade de distribuição de tarefas, é importante afirmar que essa divisão de trabalho reflete na vivência de cada pessoa e, sobretudo, na relação dessas pessoas com os espaços públicos e privados. O trabalho vinculado à reprodução social que realizam as mulheres, é um trabalho imprescindível para o funcionamento da sociedade, que em muitas de suas faces, é um trabalho qualificado, de grande responsabilidade, e têm demandas espaciais e urbanas específicas. Fonte: “Urbanismo con perspectíva de Género”, Inés Sánchez de Madariaga.


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espaços públicos urbanos: inclusão ou exclusão?

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maior objetivo de se fazer uma cidade que contemple as necessidades das mulheres se pauta em um planejamento no qual abrange não só a população do sexo feminino, mas também os outros grupos sociais que são desprivilegiados de alguma forma dentro do contexto urbano. À medida que se constroem os espaços urbanos a partir das perspectivas de grupos privilegiados, exclui-se, automaticamente, as demandas de uma cidade para todos. A partir disso, está muito mais que claro que o lugar das mulheres nas cidades, assim como o de todas as pessoas, deve ser acolhedor e ao mesmo tempo seguro. Diante desse contexto, os espaços urbanos que estão sendo construídos nas cidades contemporâneas têm sido muito deficitários nessa questão, uma vez que o espaço público, de acordo com a definição do adjetivo, deveria ser um espaço de acessibilidade generalizada e irrestrita, acessível para todas e todos. No entanto, o que se tem visto em prática são meros espaços abertos de uso coletivos que refletem e reproduzem as relações da sociedade na qual está inserida. Dessa forma, mesmo que dito acessível a todo o tipo de público, os espaços urbanos são utilizados de maneira hierárquica e são, na maioria das vezes, lugares de expulsão e extradição. “Se o espaço público é, sobretudo, social, ele contém antes de tudo as representações das relações de produção, que, por sua vez, enquadram as relações de poder, nos espaços públicos, mas também nos edifícios, nos monumentos e nas obras de arte.” (SERPA, 2009, p.19) No mais, é importante frisar que a presença ou quantidade de espaços destinados ao lazer ou socialização não garante que o espaço público em si seja de boa qualidade ou que atenda à necessidade de todas as pessoas. De acordo com Serpa, há espaços onde as diferenças individuais são ocultadas, minimizadas pela imposição de um modo de ser dominante.

O desafio é conseguir analisar como essas relações sociais se configuram nesse espaço e como esse espaço atua na conformação dessas relações sociais. Se há individualidades que não estão sendo representadas nesses espaços, o que pode ser feito no próprio espaço para que essas pessoas consigam se inserir no meio urbano e serem visíveis? É necessário entender que para a construção desse espaço, a identificação de especificidades e do contexto social é de extrema importância para se pôr isso em prática. É necessário reconhecer a existência de culturas dominantes, subdominantes e alternativas, uma vez que o espaço público é disposto de forma hierarquizada, não somente no sentido político, mas também em termos de gênero, idade, raça e classe. Tornar os indivíduos oprimidos, indivíduos visíveis no espaço público é uma das formas de fazer com que eles queiram se incluir nesses espaços. “[...] a não incorporação do percebido ao vivido deixa sem espaços de representação todos aqueles grupos ou indivíduos sem acesso às estruturas de poder, que produzem, via meios de comunicação de massa e processos tecnocráticos de planejamento, as “representações do espaço”, o concebido.” (SERPA, 2009, p.174) Atualmente, o que se se tem visto e produzido nos espaços urbanos, reforçam ainda mais a vulnerabilidade de pessoas desprivilegiadas nesse contexto, sobretudo quando se trata de questões de gênero e violência urbana. Além disso, é importante frisar que o espaço urbano, para as mulheres, ultrapassa a função de espaço como um local de passagem, permanência e lazer. O espaço urbano, como já mencionado anteriormente, está incluso no seu local de trabalho, é nele que as mulheres realizam suas atividades relacionadas ao trabalho produtivo e, sobretudo ao trabalho reprodutivo5.


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O espaço vivenciado pela mulher não é o mesmo que o espaço vivenciado pelo homem. Porém, isso não quer dizer que elas não o possam utilizar da mesma maneira. Os espaços de lazer, por exemplo, não são feitos de maneira que inclua todas as pessoas, e isso diz respeito tanto às questões de gênero quanto as questões de raça, idade e classe social. É muito corriqueiro ver, nos espaços de lazer resultante de políticas públicas que os equipamentos dispostos sempre se voltam à playgrounds, quadras de futebol6, academia de terceira idade. Portanto, o questionamento a se levantar é: onde as mulheres se incluem nesse espaço? Nos bancos dispostos nos cantos da praça para ficarem observando seus filhos nos playgrounds e seus companheiros no campo de futebol?

dando suporte à vida cotidiana como facilitador ou atrapalha ainda mais a realização dessas atividades?

A academia de terceira idade, presente em quase todos os projetos de praças públicas, atende às demandas da população que vivem no entorno dela ou ela está ali construída para que as administrações públicas se sintam satisfeitas por terem concebidos mais um espaço de lazer para a sociedade? E em relação às ruas, passeios públicos, equipamentos de suporte para a comunidade, têm atendido, de fato, à toda sociedade ou ainda são precárias e má pensadas? As ruas que ligam um ponto de ônibus até o outro são iluminadas para que todas as pessoas se sintam seguras? As calçadas são acessíveis para carrinhos de bebê e cadeirantes? As infraestruturas públicas estão 5 Em um compilado de textos escritos por Marx e Engels, chamado de “A dialética do trabalho”, Ricardo Antunes define a diferença de trabalho produtivo e trabalho improdutivo da seguinte forma: “Como o fim imediato e [o] produto por excelência da produção capitalista é a mais-valia, temos que só é produtivo aquele trabalho – e só é trabalhador produtivo aquele que emprega a força de trabalho – que diretamente produza mais-valia; portanto, só o trabalho que seja consumido diretamente no processo de produção com vistas à valorização do capital. Do simples ponto de vista do processo de trabalho em geral, apresentava-se-nos como produtivo, o trabalho que se realiza em um produto, mais concretamente em mercadoria. [...] O processo de trabalho capitalista não anula as determinações gerais do processo de trabalho. Produz produtos e mercadorias. O trabalho continua sendo produtivo na medida em que se objetiva em mercadorias como unidade de calor de uso e de valor de troca. Mas o processo de trabalho é apenas um meio para o processo de valorização do capital. É produtivo, pois, o trabalho que se representa em mercadorias, mas, se considerarmos a mercadoria individual, o é aquele que, em uma parte alíquota desta, representa trabalho não pago; ou, se levarmos em conta o produto total, é produtivo o trabalho que, em uma parte alíquota do volume total de mercadorias, representa simplesmente trabalho não pago, ou seja, produto que nada custa ao capitalista.” 6 A prefeitura Municipal de Maringá prevê um investimento de cerca de R$ 10 milhões para o início da construção de áreas de lazer em 20 bairros da cidade e nos distritos de Floriano e Iguatemi. O projeto “Meu Campinho, fruto da Gerência de Acessibilidade da Secretaria de Mobilidade Urbana (Semob), prevê a construção de um espaço de convivência que conta com a construção de um campo de futebol suíço com grama sintética, alambrado e iluminação. De acordo com a Prefeitura Municipal de Maringá, áreas de lazer estão entre as reivindicações mais frequentes dos moradores da cidade, e, a partir da realização do programa “Prefeito no Bairro”, o Prefeito da cidade concluiu que uma das prioridades para uma convivência sadia entre as pessoas é a integração das mesmas por meio da prática de esporte e lazer (Fonte: Site da Prefeitura Municipal de Maringá, disponível em: http://www2.maringa.pr.gov.br/site/index.php?sessao=22d5c9cf335522&id=31382).


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espaço público e perspectiva de gênero

O

lugar público deve ser concebido de maneira acessível, onde possa se produzir o encontro de uma diversidade de pessoas. Mas, o espaço público, por si só, não garante sua ocupação democrática e diversificada. Na cidade de Maringá, temos alguns exemplos de espaços públicos, dentre eles, praças e parques, revitalizados muito recentemente, ou que possuem o desenho fruto de um projeto conservado desde a implantação da cidade, que não garantem sequer alguma ocupação. Dentre esses espaços, pode-se destacar as praças localizadas em cada rotatória, algumas com mais visibilidade, outras nem tanto. Porém, algo em comum existe entre elas: a não ocupação. Seja por falta de acessibilidade, seja por falta de equipamentos, mas é interessante notar que, mesmo a praça com maior diversidade de vegetação, acessibilidade e equipamento, possui pouco uso. Para exemplificar, lembremos da Praça dos Três Poderes (Figura 2), na cidade de Maringá, uma das rotatórias de maior visibilidade e melhor localização. Em seu entorno, estão dispostos hospitais, consultórios médicos, comércios, lanchonetes, posto de gasolina, entre outros usos. Mas, na praça, em si, não há nada que atraia o seu uso, além de alguns bancos e uma ciclovia que a circunda.

Figura 2: Praça dos Três Poderes. Fonte: Arquivo pessoal, 2018.

E, algo muito válido de se destacar, pois foi possível perceber o mesmo padrão em todos os espaços públicos no qual visitei, é que os seus ocupantes eram, majoritariamente, homens. Talvez o real problema não esteja no espaço em si, “refletir sobre o espaço público obriga a pensar o espaço como recurso, como produto, como prática e como significado [...]. Ou seja, a apropriação e utilização particular do espaço, tanto em nível material como simbólico, como a transformação dos espaços existentes e a produção de espaços inéditos, tem que se identificar com diferentes projetos culturais “emergentes” ou contraditórios”. (SEGRE, 2005) Nesse caso, a reflexão da produção ou apropriação de um espaço público requer um grau de sensibilidade no qual poucas pessoas estão dispostas a compreender. O modo como a cidade é pensada, planejada, desenhada e articulada condiciona, e muito, o grau de autonomia das pessoas, principalmente em situações de vulnerabilidade. Por isso, a importância de uma sensibilização à parte do que já se é pensando em termos de espaço público, está muito mais relacionada com o contexto social e político, do que com o próprio espaço.


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A ocupação do espaço público, na verdade, nada mais é do que o reflexo da sociedade vigente. Mesmo que tenhamos espaços públicos de ótima qualidade e muito bem ocupados (como se pode ver na Praça Raposo Tavares, utilizada como um terminal provisório na data da figura 3), isso, ainda assim, não garante sequer sua ocupação. Por isso, pensar o espaço público a partir da perspectiva de gênero, significa incorporar, sobretudo, ao modo de pensar o projeto urbano ou até mesmo o arquitetônico, as experiências das mulheres nas cidades, nos espaços públicos e nos espaços privados. Lembremos que se referir ao gênero, não significa necessariamente se referir ao sexo de uma pessoa, o gênero em sim, é uma construção social e cultural que atribui papéis exclusivos, direitos e deveres que se baseiam à capacidades e características biológicas. Tradicionalmente, foi atribuído às mulheres, a sua exclusão da esfera público e a sua reclusão à esfera privada, baseada à sua capacidade biológica de dar à luz. Isso resultou, por um tempo, na não participação das mulheres no espaço urbano, no seu não reconhecimento como pessoa e na sua invisibilidade social. Infelizmente, isso se reflete até os dias atuais, por mais que elas estejam se inserindo no mercado de trabalho, no

Figura 3: Praça Raposo Tavares. Fonte: Arquivo pessoal, 2018

ambiente urbano, ainda se reflete a falta de representatividade das mulheres, sobretudo, no espaço público urbano. Dessa maneira, ao incorporar a perspectiva de gênero no projeto do espaço público, por exemplo, pode-se conhecer, registrar e propor soluções que não estão relacionadas apenas ao espaço em si, mas na reinserção da mulher nesses espaços. Para isso e por esse motivo, os projetos de espaços públicos que fazem o recorte de gênero, recorrem a metodologias não convencionais, como serão mostradas nos próximos capítulos. “Em definitiva, incorporar a perspectiva de gênero no projeto do espaço público consiste em tonar visíveis as necessidades derivadas da vida cotidiana e das experiências não consideradas até hoje no seu planejamento. Na medida que alcançamos esse objetivo, estaremos construindo cidades e bairros mais inclusivos, que proporcionarão maior equidade nas oportunidades de acesso e uso dos espaços públicos entre mulheres e homens, independentemente da idade, condição social ou origem”. (DIAS, 2000)


Figura 4: Imagem aĂŠrea Frauen-Werk-Stadt I Fonte: Google Earth, 2018.



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QUEM?

2

É

importante observar que todos os projetos apresentados nesse capítulo fazem parte do conjunto de projetos que deram suporte para a construção e elaboração do projeto urbano, desde de seu programa até sua esquematização e desenho. No entanto, nem todos esses projetos aqui apresentados foram pensados e concebidos de acordo com a perspectiva de gênero. Dessa forma, cada projeto possui sua devida importância para o embasamento, seja para o entendimento da ideologia programática de um projeto à luz da perspectiva de gênero, ou seja para o entendimento da construção de um espaço democrático. Todos os projetos cumprem com sua função de suporte para o processo do trabalho, mesmo que nem todos estejam relacionados diretamente com a temática proposta.


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análise de correlatos

O

s correlatos selecionados darão suporte para a elaboração e construção de um projeto que atende às problemáticas encontradas ao longos dos estudos e análises feitas no processo deste trabalho. Ou seja, é de extrema importância que se entenda sobre os primeiros projetos pensados e construídos de acordo com a perspectiva de gênero e de acordo com parâmetros que não são pensados eventualmente na elaboração de qualquer projeto, com os projetos pioneiro Frauen-Werk-Stadt I, II e III, mesmo que mais direcionados ao uso privado e semi privado, esses projetos já nos dão pistas de como integrá-los à cidade, além de terem sido concebidos para mulheres e por mulheres. Depois, as análises de correlatos segue com um estudo mais abrangente, com o conjunto de ideias para a requalificação de espaços cívicos, pensando em como melhorar a ocupação e utilização desses espaços já construídos na cidade. A principal observação acerca desse conjunto de ideias é que, diferente dos outros projetos mencionados anteriormente, ele atua em construções existentes, fazendo melhorias e propondo novas formas de ocupação que atendem diversos públicos (não somente o público feminino) e principalmente a comunidade que mora em seu entorno. O principal motivo para a escolha desse correlato é exatamente essa preocupação em propor e mostrar que, de fato, é possível que espaços cívicos, ou equipamentos públicos, trabalhem em conjunto com espaços públicos, promovendo a melhoria da qualidade de vida da comunidade, mais ocupação do espaços e propostas de novos usos. O próximo projeto a ser analisado é um conjunto de ideias para a recuperação de vazios urbanos no centro histórico de algumas cidades europeias. A escolha desse correlato baseou-se no fato de que o resultado das análises e levantamentos na cidade de Maringá levou para uma região da cidade na qual possui muitos lotes vazios devido ao

falho processo de ocupação e às dimensões dos lotes. Além disso, esse projeto de requalificação de vazios urbanos, está muito associado com a economia local e a intervenção nesses espaços não diz respeito somente a requalificação física desses lugares, a proposta permeia no âmbito econômico e social também.


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frauen-werk-stadt I, II e III

N

o campo de estudos com perspectiva de gênero, a cidade de Viena, capital da Áustria, é vista como uma das pioneiras na inserção dessa nova perspectiva para a promoção de políticas públicas urbanas e habitacionais. Nesse contexto, no ano de 1992, foi fundado um coletivo denominado de “Oficina das Mulheres” (Women’s Office), o qual lançou uma ideia para um concurso em que fosse questionado sobre o pertencimento do espaço público e a relação desses espaços com a vida cotidiana das mulheres. Logo, no ano de 1998 foi criado o Departamento de gênero de Viena, visto como um grande avanço para a concepção e construção de projetos pilotos que inserem a perspectiva de gênero na criação do planejamento urbano da cidade. A partir disso, três grandes conjuntos foram concebidos e executados, sendo eles o conjunto Frauen-Werk-Stadt I, II e III, que, do alemão, significa cidade do trabalho das mulheres.


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frauen-werk-stadt I

R

esultado do concurso proposto no ano de 1993, o primeiro projeto modelo com a inserção do gênero em sua concepção foi finalizado em 1997 e consta com aproximadamente 360 apartamentos, sediados por quase 1000 moradores. A proposta vencedora foi um projeto da arquiteta Franziska Ullmann, no entanto, o júri optou por uma parceria com mais 4 arquitetas que prestaram o concurso, sendo Maria Aubock com o projeto paisagístico, Gisela Podreka, Elsa Prochazka e Liselotte Pertti com os edifícios. Para a escolha do projeto, o que mais se levou em consideração foram a disposição e sensibilidade na resolução dos espaços abertos e na criação de espaços internos que também atendessem às necessidades das mulheres. O conceito proposto foi a abrangência quanto à diversidade de pessoas que utilizariam o espaço, além da conexão com o entorno existente, sobretudo em relação ao transporte público. O projeto é demarcado por um grande eixo conector norte-sul,

Figura 5: Vista aérea do Conjunto Frauen-Werk-Stadt I Fonte: Google Earth 2018, editado pela autora.

onde ocorre a conexão das residências da porção norte com o transporte público na avenida principal, na porção sul. Nesse sentido, o grau de público-privado se dispõe ao longo desse eixo, indo da área mais privada (onde encontram-se as residências) até a área de uso aberto para a comunidade externa, onde são dispostos alguns equipamentos públicos, como uma creche e uma delegacia. Além disso, o eixo principal e todos os outros acessos laterais são exclusivos ao uso do pedestre, criando espaços seguros onde as crianças possam brincar e se apropriarem da melhor forma. Já os acessos laterais fazem a conexão do eixo principal norte-sul com o entorno da área de projeto, e a conexão interna-externa do perímetro do conjunto e são também utilizados por crianças menores, uma vez que elas conseguem serem vigiadas das janelas das residências do conjunto. Além das passarelas, foram pensados espaços de estar, no entanto, não de forma genérica. Cada uso está associado com um grupo de usuários, como crianças, adolescentes e idosos, por exemplo.


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Figura 6: Perspectiva aérea do Conjunto Frauen-Werk-Stadt I. Fonte: Google Earth 2018, editado pela autora.

T

odos os acessos, sendo eles principais e laterais, foram pensados relacionando-se com o fluxo de pessoas e suas atividades para que não fosse gerado nenhuma área obsoleta ou perigosa, isso garante que as pessoas vejam e são vistas por outras pessoas. A implantação da creche, por exemplo, está relacionada com o caminho que a mãe faz de sua residência até a o ponto de transporte público, pois está disposta no meio desse trajeto. Além disso, para aumentar a vitalidade do conjunto, foram implantadas algumas zonas comerciais que também servem de suporte para compras relacionadas ao cotidiano das mulheres. Quanto à tipologia dos edifícios, a escolha foi a mescla de várias fachadas para que não fosse priorizado somente um modelo, fazendo uma sobreposição com as tipologias internas dos edifícios, gerando movimento e atividade em ambas fachadas, isso evita com quem uma fachada não seja diurna e a outra noturna.

Essa sobreposição de usos (Figura 11) está relacionada, sobretudo, com a disposição da cozinha, das janelas e das sacadas que propiciam o controle visual, muito relacionado com o conceito de social eyes, de Jane Jacobs. Internamente, as residências constam com soluções arquitetônicas que abrangem as distintas conformações familiares e estão associadas com as necessidades do lar e do trabalho familiar. No térreo, foram pensados em “espaços para guardar”, no qual são utilizados para o depósito de carrinhos de compra, carrinhos de bebê, bicicletas e outros equipamentos de grandes dimensões.


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Figuras 7, 8, 9 e 10 (respectivamente): Esquemas do projeto Frauen-Werk-Stadt. Fonte: Base no Google Earth 2018, elaborado pela autora.

legenda PĂşblico Privado

Figura 11: Esquema de fachadas ativas. Fonte: KAIL, Eva (2001). Frauen-Werk-Stadt. Viena: Stadt Wien.


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Figura 12: Fachada interna do Frauen-Werk-Stadt I. Fonte: Acervo de ART, 2014.

Figura 13: Vista da passarela central do Frauen-Werk-Stadt I. Fonte: Acervo de ART, 2014.


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frauen-werk-stadt II

A

ssim como o primeiro correlato, esse projeto também foi resultado de um concurso promovido pelo Departamento de Gênero de Viena. Esse projeto, realizado no ano de 2004, é de autoria das arquitetas Claudia Konig-Larch e Christine Zwingl e tem como partido o conceito o “Multigeneration Housing”, no qual tem como princípio a convivência e a relação entre vizinhos, tendo um foco especial com a população idosa. Para isso, dos 144 apartamentos, 42 são direcionados para idosos e 5 são destinados a pessoas com mobilidade reduzida. O projeto, localizado em uma área bastante consolidada de Viena e bem abastecida pelo transporte público, foi resolvido com a disposição de 3 blocos residenciais, denominados de A, B e C. O terreno acentuado foi solucionado com a criação de uma plataforma intermediária no térreo, onde estão dispostos os equipamentos de uso comum, como a lavanderia coletiva e os espaços para guardar, e os acessos aos apartamentos. Além desses espaços, o projeto consta com áreas de lazer e playgrounds, dispostos no interior da quadra de maneira que garanta uma boa iluminação e ventilação nas residências,

além de assegurar a vigilância vinda das janelas e sacadas, de acordo om o conceito de social eyes (Figura 14). Em relação aos apartamentos, foram resolvidos de forma bem flexível de modo que permita a união de apartamentos do mesmo andar e também de andares diferentes. A tipologia propicia a integração dos ambientes internos do apartamento, tornando a planta bem flexível quanto ao uso de cada morador. Outra característica que torna o conjunto mais seguro são os fechamentos transparentes das áreas comuns de acordo com a variedade de programas, como a sauna, lavanderia, depósitos e outros equipamentos na entrada do conjunto. Diferente do projeto anterior, o Frauen Werk Stadt II possui um aspecto mais reservado aos moradores do conjunto, não tão direcionado à comunidade externa como no FWS I. No entanto, é interessante notar que, mesmo com essa característica de comunidade mais fechada, todos os espaços internos e externos foram pensados de maneiras específicas que atendam não só as necessidades generalizadas como comumente vemos nas soluções dos projetos habitacionais.

Figura 14: Área de convivência central do Frauen-Werk-Stadt II. Fonte: Acervo de Press Photo Votava.


Figura 15: Maquete do projeto Frauen-Werk-Stadt II. Fonte: Acervo de Press Photo Votava.



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frauen-werk-stadt III

A

partir de um financiamento vindo pela Fundação Kresge e pela Fundação Knight, o escritório Studio Gang lançou um livro - o qual foi distribuído gratuitamente e encontra-se disponível virtualmente -, em que o objetivo é oferecer abordagens adaptáveis, rentáveis e flexíveis para a requalificação de espaços cívicos, de modo que este guia possa ser aplicado ao longo do tempo, acompanhando as variedades de distintas comunidades. O grande foco desde guia é a ativação, ou reativação, de espaços cívicos da comunidade, embasado por alguns direcionamentos do Mapa Nolli, criado em 1748, no qual conceitua que os lugares públicos não existem exclusivamente na forma de ruas e parques, mas também em forma de espaços fechados. As atuais áreas públicas, sendo elas abertas ou fechadas, possuem o principal objetivo a promoção da inclusão e igualdade de oportunidades, porém, essa capacidade de conectar as pessoas e a própria comunidade nesses espaços está ficando cada vez mais deficitária e abandonada. Diante desses conceitos, o Studio Gang centra-se na apresentação de 7 principais tipos de ativos existentes, sendo eles, biblioteca, parques, centros de recreação, delegacias de polícia, escolas, ruas e trânsito. A principal contribuição desse conjunto de ideias é o estudo do programa de usos e ocupações, como o programa se relaciona com a comunidade imediata aos edifícios e espaços e como essa relação se reflete na própria forma e projeto desses edifícios e espaços públicos. Além disso, é interessante destacar que esse conjunto de ideias foi proposto em uma escala de bairro, sendo esta, a escala que se deseja trabalhar neste trabalho de conclusão de curso.

Para isso, a dimensão dos corredores que dão acesso aos apartamentos foram projetos com dimensões maiores das convencionais (a pedido das moradoras), as janelas e varandas possuem grandes dimensões e profundidade considerável para que as usuárias consigam conversar entre si ou observar a paisagem da melhor forma. Em relação à divisão interna dos apartamentos, foram projetadas tipologias bastantes flexíveis e variáveis, de modo que garanta a integração entre os apartamentos.


requalificação de espaços cívicos

A

partir de um financiamento vindo pela Fundação Kresge e pela Fundação Knight, o escritório Studio Gang lançou um livro - o qual foi distribuído gratuitamente e encontra-se disponível virtualmente -, em que o objetivo é oferecer abordagens adaptáveis, rentáveis e flexíveis para a requalificação de espaços cívicos, de modo que este guia possa ser aplicado ao longo do tempo, acompanhando as variedades de distintas comunidades. O grande foco desde guia é a ativação, ou reativação, de espaços cívicos da comunidade, embasado por alguns direcionamentos do Mapa Nolli, criado em 1748, no qual conceitua que os lugares públicos não existem exclusivamente na forma de ruas e parques, mas também em forma de espaços fechados. As atuais áreas públicas, sendo elas abertas ou fechadas, possuem o principal objetivo a promoção da inclusão e igualdade de oportunidades, porém, essa capacidade de conectar as pessoas e a própria comunidade nesses espaços está ficando cada vez mais deficitária e abandonada. Diante desses conceitos, o Studio Gang centra-se na apresentação de 7 principais tipos de ativos existentes, sendo eles, biblioteca, parques, centros de recreação, delegacias de polícia, escolas, ruas e trânsito. A principal contribuição desse conjunto de ideias é o estudo do programa de usos e ocupações, como o programa se relaciona com a comunidade imediata aos edifícios e espaços e como essa relação se reflete na própria forma e projeto desses edifícios e espaços públicos. Além disso, é interessante destacar que esse conjunto de ideias foi proposto em uma escala de bairro, sendo esta, a escala que se deseja trabalhar neste trabalho de conclusão de curso.

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bibliotecas abertas para a comunidade

A

nalisando a tipologia convencional construtiva da maioria das bibliotecas que são projetadas em todo o mundo, o Studio Gang concluiu que, na grande maioria das bibliotecas, a mudança de espaço interno-externo é muito demarcada, os espaços internos são fechados e introspectivos pois segue à função convencional de armazenamento de acervos e locais de estudo individual. Diante dessa problemática, e considerando o novo contexto virtual dos dias atuais, de trocas de informações que vão além de pessoa-livro, o Studio Gang idealiza uma tipologia diferente na qual se aplica ao contexto atual e suas demandas. A fim de expandir a função da biblioteca como lugar de

Reconfigure os espaços internos para incluir áreas de reunião, ferramentas de fabricação e salas de tecnologia que ofereçam suporte à adaptação da força de trabalho, atendendo melhor aos candidatos a emprego e aos proprietários de pequenas empresas.

Tornar as atividades que acontecem no interior mais visíveis do exterior, abrindo a fachada e reorientando a porta da frente para as ruas principais.

encontro, o objetivo dessa tipologia construtiva é expandir o edifício, externalizando seu programa para o ambiente público aberto que, não só atende às novas demandas de trocas de informações e conhecimento, como também propõe um lugar de encontro e um novo destino para eventos de bairro. Basicamente, para compor essa tipologia, foi pensado em um edifício no qual a fachada deva ser “aberta”, ou seja, com aberturas e acessos grandes e generosos. Essa transparência interna resultaria em uma conexão visual interior-exterior do edifício, atraindo os transeuntes tanto para dentro, quanto para forma, de acordo com as necessidades de cada um.

Estender a biblioteca com um espaço coberto ao ar livre que se torna um novo destino de bairro, personalizável para uma variedade de programas e eventos.

Convide o público para dentro com entradas generosas e acessíveis que engajam a rua e ofereçam lugares acolhedores para se reunir.

Figura 16: Desenho esquemático do projeto de biblioteca feito pelo Studio Gang. Fonte: Civic Commons, Studio Gang, 2016. Traduzido pela autora.


moldar os parques através de experiências

É

reconhecido que a inserção de parques e vegetação na cidade melhoram a qualidade de vida, está associado às vantagens meio ambientais e também ajudam no sistema de coleta/ curso natural de águas pluviais. Com o propósito de aumentar o alcance desses parques e fundos de vale inseridos na cidade, o Studio Gang incentiva a utilização das diversas topografias não somente como pontos de encontro da comunidade, mas também na gestão da água da chuva.

É interessante pensar em artes vibrantes, mobiliários diferenciados e vegetações que ajudam a atrair pessoas para o parque e não as fazem se afastar. A questão mais importante, de acordo com o Studio Gang é enfatizar visualmente a presença das pessoas de maneira que elas se sintam seguras e confortáveis em estarem naquele espaço.

Criar paisagens mais diversificadas, acolher áreas para reunir e programa colaborativo para atrair mais pessoas.

Cortar e preencher para adicionar textura e topografia que multiplica experiências e gerencia a água da chuva.

Faça bordas bonitas e ousadas com arte, mobília e vegetação que continuam na rua para destacar a presença de parques e estender seu alcance convidativo.

Figura 17: Desenho esquemático de parque feito pelo Studio Gang. Fonte: Civic Commons, Studio Gang, 2016. Traduzido pela autora.

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mova os centros de recreação rumo ao bem-estar

D

e acordo com o contexto no qual foi escrito o guia, os centros de recreação atuais dos Estados Unidos, cidade na qual o escritório se baseou para elaborar as problemáticas e soluções, estão oferecendo muito menos do que foi originalmente planejado. Dessa forma, o livro propõe a suplementação desses centros com atividades que englobe públicos mais diversificados e outros tipos de bem-estar, tais como assistência médica, oficina de nutrição e atividades de alívio.

Para isso, mais uma vez, o escritório conta com uma tipologia de edificação mais aberta, que dispõe de aberturas generosas, espaços interno mais flexíveis, maiores e mais adaptáveis. A conexão do ambiente interno com o ambiente externo conforma uma certa fluidez no edifício, não concentrando a ocupação somente nos ambientes internos e, da mesma forma que as adaptações feitas nas bibliotecas, atraindo as pessoas tanto nos espaços internos quanto nos espaços externos.

Abrir espaço para cuidados de saúde holísticos, adicionando novo espaço locável.

Remover barreiras à participação e supervisão, combinando salas fechadas e de propósito único em espaços abertos maiores.

Ativar entradas e calçadas criando espaço para serviços móveis e comodidades como caminhões de saúde, caminhões de alimentos e bookmobiles de biblioteca.

Deixe entrar a luz e o ar conectando áreas internas com espaços externos de reunião e atividades.

Figura 18: Desenho esquemático de um centro recreativo feito pelo Studio Gang. Fonte: Civic Commons, Studio Gang, 2016. Traduzido pela autora.


estações de polícia na comunidade

O

s espaços conformados pelas delegacias e postos de polícias tornaram-se espaços muito reservados e introvertidos. Apesar de ser um equipamento público, esses espaços, atualmente, não conversam com o seu entorno no meio urbano, sendo conformados por edifícios rodeados de estacionamentos e sem espaços de ocupação. Esse isolamento dificulta as trocas produtivas entre os policiais e os moradores da comunidade do entorno.

Inserir ATM e oferecer Wi-Fi gratuito no lobby para trazer as pessoas para dentro.

Use arte, mobília e pintura no pátio de entrada para receber os visitantes e convide-os para socializar nesta nova “varanda da frente”.

Diante disso, o Studio Gang pensou na implementação de redes de wi-fi gratuita no entorno do edifício, como um modo de atrair pessoas, além da disponibilização de mobiliários, artes e outros equipamentos que poderiam ser ocupados e utilizados pelas pessoas. A abertura de espaços comerciais no próprio espaço dos postos policiais também é uma estratégia que beneficiam tantos os policias quanto os moradores e ocupantes do espaço.

Expandir espaços de segundo nível com um cobertura verde para reuniões ao ar livre, restaurantes, jardinagem e outras atividades compartilhadas.

Abra o nível mais baixo com o varejo animado, como uma barbearia, uma loja de bicicletas e um café ao ar livre.

Figura 19: Desenho esquemático de uma estação policial feito pelo Studio Gang. Fonte: Civic Commons, Studio Gang, 2016. Traduzido pela autora.

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cultive escolas em campus inovadores.

E

ste item, apesar de muito importante, não é muito bem aplicado à realidade de Maringá por ser uma análise muito específica das escolas dos Estados Unidos e todo o seu sistema de ensino, diferente do sistema de ensino brasileiro. O que se pode relacionar deste item com a realidade do objeto de estudo em questão são os espaços lindeiros as escolas, os quais geralmente não possuem relação nenhuma com seu entorno imediato. É muito comum observar escolas, tanto estaduais quanto municipais, todas gradeadas, sem um espaço público que atenda não só aos estudantes, mas também à comunidade do bairro. É claro que isso envolve uma questão mais

Converta as superfícies dos telhados para as salas de aula de estufas e jardins, que também podem ser usadas para brincar, jantar e relaxar - e reduzir o efeito de ilha de calor urbana.

À medida que os espaços verdes se estendem para o bairro vizinho, colabore com organizações parceiras para administrar a terra como espaço aberto público para recreação e jardinagem comunitária.

ampla, de segurança, por exemplo. No entanto, a conformação das tipologias das escolas no cenário brasileiro, formam barreiras com muros extensos e altos, sem muita relação com o entorno e os espaços esportivos são completamente fechados somente para quem tem acesso à escola. Para isso, o Studio Gang pensa na implementação de espaços verdes que se estendam ao ambiente externo as escolas, que abranja também a comunidade do bairro, cultivando agricultura em terrenos baldios adjacentes que também podem ser utilizados pela comunidade estudantil para pesquisas e estudos científicos.

Adaptar terrenos vagos adjacentes para experimentos em agricultura e ciência fenológica, plantando plantações, pomares e espécies “sentinelas” que demonstrem o impacto das mudanças climáticas.

Restaurantes e lanchonetes que incorporem produtos locais e crescidos no local em almoços e mesas de almoço.

Figura 20: Desenho esquemático de uma escola inovadora feito pelo Studio Gang. Fonte: Civic Commons, Studio Gang, 2016. Traduzido pela autora.


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transforme ruas em lugares

É

sempre importante ressaltar que as ruas são os principais elementos que conectam o tecido da cidade, são espaços disponíveis para o deslocamento e é um espaço utilizado por todas

as pessoas, todos os dias. Transformar a caminhabilidade das ruas em um bom trajeto influencia muito na qualidade de vida urbana, pois está associada com a segurança, bem-estar e qualidade espacial.

Adicione uma cobertura verde dinâmica para fornecer sombra e abrigo, incentivando uma linha de rua ativa.

Desenvolver e apoiar eventos realizados ao longo de ruas, conectados a lojas de fachada, para estimular o comércio e proporcionar mais oportunidades para os vizinhos se socializarem.

Alterar o design da rua para promover a gestão de águas pluviais e uma mistura de opções de trânsito.

Figura 21: Desenho esquemático feito pelo Studio Gang. Fonte: Civic Commons, Studio Gang, 2016.

Plante ruas e outra vegetação para gerenciar águas pluviais, criar sombra e cultivar a residência.


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converta os terminais de transporte em destinos finais

D

iante do contexto estudado pelo Studio Gang, onde boa porcentagem da população utiliza o transporte público cotidianamente, o escritório prevê terminais como “âncoras cívicas”, ou seja, os terminais, tanto os rodoviários, quanto ferroviários e outros, são potenciais de atração de pessoas. A partir das rotas já existentes, o Studio pensa em ampliar os pontos de encontro, o qual eles denominaram de “centros

de trânsito”, onde ocorre o encontro de diferentes circuitos. Além disso, eles propõem a adição de novos pontos de ônibus, bem como a infraestrutura para complementar essas novas conexões. Pensando na escala do bairro, os pontos de ônibus podem agregar mais atividades, tornando-se pontos de ônibus de múltiplos usos e não só como paradas de transporte. Esses pontos funcionariam como pequenas centralidades e proporcionariam mais segurança e vitalidade para seu entorno.

Adicionar novas paradas de transporte público nas linhas existentes.

Expandir as rotas de transporte público existentes para um novo ponto de transporte intermodal.

Construa infraestrutura para novas conexões entre trânsito local, nacional e regional.

Figura 22: Desenho esquemático feito pelo Studio Gang. Fonte: Civic Commons, Studio Gang, 2016. Traduzido pela autora.


recuperação de vazios urbanos

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o ano de 2014 foi lançado um concurso, promovido pela ICE (Iniciativas de Cidadania Européia), com o intuito de promover uma iniciativa a partir da participação comunitária que viabilizasse uma intervenção na vida política da União Europeia. À vista disso, a proposta da equipe finalista espanhola, chamada Aula de Arquitetura Social AAS UCAM, propõe uma série de intervenções em áreas e lotes urbanos vazios no centro histórico da cidade a partir de equipamentos públicos e postos de trabalho. A partir de estudos e pesquisas realizados pelo grupo, e levando em consideração o contexto de crescimento econômico dos anos anteriores à crise nas maiores cidades europeias, foi observado que uma considerável quantidade importante dos recursos existentes tem sido direcionados ao aumento de áreas residenciais e aos grandes equipamentos socioculturais, sendo deixado de lado os centros históricos degradados e os bairros insalubres, o que acarreta em uma série de vazios urbanos. A partir desse contexto e com dados do Centro de Investigação Sociológica, o grupo ainda observa que um dos maiores problemas da população é o desemprego eminente.

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C

om essas problemáticas, o principal objetivo do grupo é a ocupação desses vazios urbanos deixados de lado pelo governo através de equipamentos públicos e postos de trabalhos que responda também às problemáticas do desemprego (Figura 23). O resultado do projeto foi o uso programático desses vazios com o intuito de conferir-lhes um uso temporal e o mais flexível possível. Dentre os principais objetivos do projeto estão a reativação urbana, alinhada com a geração de emprego; a

inserção de novos serviços nos bairros do centro histórico, principalmente nos bairros mais degradados; conscientização da população, fazendo com que ela participe do projeto desde a identificação do problema até a proposição de novos usos; e uma melhoria na imagem da cidade (Figura 24). A metodologia utilizada se desenvolve desde a identificação do problema, localização de vazios urbanos, análises do entorno, possíveis propostas de intervenção até

chegar na gestão econômica e administrativa do processo. As principais iniciativas que trabalham em cima de terrenos que, por algum motivo, foram deixados no abandono, em geral, visam converter esses espa-

ços em lugares de encontros sociais e apoio à comunidade do entorno. Especificamente nesse projeto, o grupo ainda tem a preocupação não só da análise física das falhas urbanas, mas também do levantamento econômico e principais falhas sociais que podem ser solucionadas com a intervenção nesses espaços inutilizados. Esse projeto envolve muito mais que somente ocupação de lotes vazios, ele envolve a preocupação com a população quanto à porcentagem de desemprego, o envolvimento dos cidadãos para a realização dos projetos, constituem propostas ambientalmente sustentáveis, recicláveis e flexíveis com custos mínimos, e proporciona uma facilidade para que as administrações tenham espaço para cobrir necessidades específicas com um custo controlado.

Figura 23: Estudo das problemáticas que direcionarão a internveção, feito pela equipe ASS UCAM. Fonte: Archdaily, 2018.


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Figura 24: Esquematização das problemáticas levantadas pela equipe ASS UCAM para a elaboração do projeto. Fonte: Archdaily, 2018.


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Figura 25: Terreno vazio om potencial para intervenção. Fonte: Archdaily, 2018.

Figura 26: Intervenção no terreno vazio feita pela equipe ASS UCAM. Fonte: Archdaily, 2018.


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Figura 27: Terreno vazio om potencial para intervenção. Fonte: Archdaily, 2018.

Figura 28: Intervenção no terreno vazio feita pela equipe ASS UCAM. Fonte: Archdaily, 2018.


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Figura 29: Terreno vazio om potencial para intervenção. Fonte: Archdaily, 2018.

Figura 30: Intervenção no terreno vazio feita pela equipe ASS UCAM. Fonte: Archdaily, 2018.


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Figura 31: Terreno vazio om potencial para intervenção. Fonte: Archdaily, 2018.

Figura 32: Intervenção no terreno vazio feita pela equipe ASS UCAM. Fonte: Archdaily, 2018.


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debates atuais “Como tornar cidades mais amigáveis às mulheres?” Artigo publicado na Gazeta do Povo, no dia 01 de junho de 2018, autoria de Aléxia Saraiva.

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projeto Mulheres Caminhantes!, realizado na Zona Norte de São Paulo, é realizado por três principais organizações de São Paulo, a Rede MÁS, o SampaPé! e o Fórum Regional da Mulheres da Zona Norte, com o apoio da WRI Brasil. A principal proposta do projeto é a inserção da pauta sobre a segurança das mulheres nos assuntos de planejamento urbanos e espaços públicos.

“Como pensar em uma cidade que valorize o espaço público, mas ao mesmo tempo, não facilite a violência contra a mulher?” O projeto foi realizado em um processo de três etapas. Inicialmente, foi realizada uma auditoria na Zona Norte de São Paulo, na qual as mulheres presentes ajudaram a criar soluções concretas para os seus problemas urbanos diários à luz das temáticas de segurança de gênero e caminhabilidade. Logo em seguida, foi realizado o trabalho de campo, no qual foi aplicada essa metodologia no entorno do Terminal Santana, um dos principais pontos de transporte público da cidade. Na terceira etapa, foram realizadas as análises e difusões dos resultados. Destaca-se, desse projeto, a importância do processo participativo para a efetivação da política pública. Ao analisar um espaço, um território ou uma região com a visão de quem vive nesses lugares, os resultados do processo tornam-se muito mais humanizados e eficazes. Entre os principais problemas destacados da análise, a sensação de insegurança no espaço, gerada por mobiliários urbanos, totens de propaganda em pontos de ônibus e muros inativos, foram as problemáticas mais recorrentes.

Os resultados do projeto foram apresentados em auditorias públicas pelas próprias participantes e, no dia 16 de maio, a organização foi selecionada pelo edital Fundo CASA Cidades, o qual financiará uma das soluções previstas no projeto.

“Não é só se deslocar. É viver, estar, permanecer e participar da cidade.” (Moradora entrevistada)


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Figura 33: Etapa 2: Trabalho de Campo. Fonte: Disponível em: https://www.gazetadopovo.com.br/haus/urbanismo/como-tornar-cidades-amigaveis-mulheres-solucoes-unem-seguranca-sustentabilidade/. Foto de Patrícia França.

Figura 34: Resultado da auditoria. Fonte: Disponível em: https://www.gazetadopovo.com.br/haus/urbanismo/como-tornar-cidades-amigaveis-mulheres-solucoes-unem-seguranca-sustentabilidade/. Foto de Patrícia França.


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considerações finais

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e forma geral, como já dito anteriormente, mesmo que nem todos os projetos escolhidos para serem apresentados como correlatos, estão envolvidos diretamente com o debate do recorte de gênero. No entanto, todos eles foram importantes na contribuição de informações necessárias para que se pudesse realizar um projeto urbano que, de fato, estivesse relacionado com o tema proposto. Os primeiros três projetos, um compilado de informações à respeito do Frauen-Werk-Stadt, o grande destaque está no primeiro projeto realizado e executado na cidade de Viena, capital da Áustria. Seu principal conceito de projeto se baseia na dinâmica dos fluxos internos, externos e lindeiros ao edifício, a própria forma do edifício induz e direciona esses fluxos de maneira que os equipamentos públicos construídos estivessem no meio do trajeto. Além disso, houve uma grande preocupação com o entorno, na questão sobre acessos e fluxos. Tanto os acessos principais, quantos os alternativos laterais, são abertos e permitem que a comunidade externa possa ocupar o interior do condomínio. De fato, esse é o projeto que mais se relaciona com a proposta desse trabalho, uma vez que ele contempla as demandas urbanas, levando em consideração algumas problemáticas invisibilizadas em outros projetos. Sem contar no fato de que exemplos como esses projetos mostram que a importância da discussão de gênero na arquitetura e urbanismo eleva a problemática não só em questões urbanas e sociais, essa nova perspectiva pode estar inserida também em alguns detalhes de construção, como o cuidado das atividades internas ao edifício, dinamicidade nas fachadas, localização dos serviços comunitários, entre outros fatores. Já no segundo projeto de correlato (requalificação de espaços cívicos), a principal relação desse projeto com o trabalho atual é a presença de alguns espaços cívicos e equipamentos públicos que se encontram degradados na área de projeto.

Diante dessa problemática, notou-se a necessidade de reativação e requalificação de alguns equipamentos para que eles possam servir e dar suporte para a comunidade de seu entorno imediato, de uma forma mais dinâmica, acolhedora e convidativa, assim como foi visto nos projetos que exemplificaram esse método. Os principais “ativos” utilizados como referência, relacionam-se, basicamente, com a utilização dos espaços internos e externos e a disposição desses espaços em detrimento com o programa de usos do edifício. No caso da biblioteca, por exemplo, é interessante visualizar que o programa é estendido para a área externa do edifício, criando uma certa fluidez e dinamicidade tanto na área interna quanto na área externa. Além desse fator, outra ideia interessante é a importância de dar visibilidade para as pessoas que frequentam esses lugares, assim como pode ser visto no exemplo sobre parques urbanos. Espaços que englobam públicos mais diversificados, como os centros de recreação também ajudam na ocupação desses espaços e atua, mais uma vez, na conexão interna e externa do edifício, não concentrando o uso somente em um ambiente. As estações policiais são exemplos altamente consideráveis para a comunidade em questão, uma vez que a implantação de delegacia é uma maneira de trazer policiamento e segurança para o entorno. O edifício da estação, em conjunto com um espaço público aberto e comércios próximos beneficia tanto os moradores quanto os policiais. Com relação ao transporte e acessibilidade, é muito notável e interessante a ideia das paradas de ônibus om múltiplos usos e a denominação dessas paradas como “âncoras cívicas”. A verdade é que esse raciocínio faz muito sentido, uma vez que essas estruturas possuem maneiras muito precárias de utilização atuando somente como parada de ônibus. Essas paradas, além de melhorar a acessibilidade ao transporte, tornando-a mais segura e confortável e, da mesma maneira, atuaria como uma pequena centrali-


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dade na qual ajudaria na vitalidade da própria estrutura e de seu entorno. O terceiro correlato escolhido discorre sobre a recuperação de vazios urbanos, porém, não somente com os vazios o projeto está relacionado. A metodologia do estudo engloba a própria comunidade do entorno e suas problemáticas sociais e econômicas para que, juntos com o escritório, estudassem sobre as possibilidades de conversão desses vazios em lugares de encontros sociais e apoio à própria comunidade. Dentre os principais apontamentos utilizados pelo escritório, ganha destaque o projeto que define a reativação urbana, alinhada com a geração de empregos e a inserção de novos serviços no bairro. Como já dito, esse projeto abrange uma questão maior que a ocupação dos espaços vazios em si, ele engloba a preocupação com a população quanto à porcentagem de desemprego nessa região, o envolvimento dos cidadãos nas tomadas de decisão, propostas ambientalmente sustentáveis e flexíveis, com custos mínimos, entre outros fatores.


Figura 35: Imagen aĂŠrea da cidade de MaringĂĄ. Fonte: Google Earth, 2018.



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ONDE?

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metodologia

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om o desejo de produzir um espaço que atenda à todas as demandas que estão relacionadas com as atividades cotidianas na vida urbana e, com o intuito de melhorar os espaços urbanos, tornando-os mais abrangentes quanto à sua ocupação e democracia, tomou-se a mulher e sua vivência urbana como ponto de partida para a construção deste trabalho. Como já apresentado nos capítulos anteriores, a mulher se encontra em um posição muito vulnerável em se tratando de espaços urbanos. Todas as estruturas sociais, econômicas, urbanas, geográficas inferiorizam a mulher, jogando-as em um estado de “servidão doméstica”, e isso se reflete de diferentes maneiras na concepção e formação de um espaço. Dessa forma o principal objetivo desse trabalho seria a proposição de um projeto urbano que, considerando essas relações mulher-cidade, produza um espaço mais democrático, no qual amenize a situação das mulheres na vivência urbana. De acordo com o que foi estudado para embasamento do primeiro capítulo, concluiu-se que o cotidiano da mulher no espaço urbano está muito atrelado às atividades domésticas cotidianas. Dessa maneira, viu-se a necessidade de estudar quais seriam as principais estruturas urbanas que estariam associadas a essas atividades. A análise dos espaços e equipamentos públicos urbanos contempla, de certo modo, as atividades das mulheres voltadas para o cotidiano, no entanto, isso não quer dizer que o cotidiano de uma mulher na cidade dependa somente desses dois fatores. Além disso, como será mostrado ao longo desse capítulo, fora o recorte de gênero feito nesse trabalho, o recorte de classe fundamenta os próximos estudos e análises, por se tratar de equipamentos disponibilizados pelo estado, em que grande parte do público é de baixa renda. Associar o recorte de gênero com o recorte de classe mostra que o urbanismo com perspectiva de gênero

não permeia somente à questão do gênero em si. O estudo diz respeito às problemáticas das mulheres, sobretudo das mulheres de baixa renda, e de todas as pessoas que se encontram em uma posição de inferioridade/ invisibilidade no meio urbano. Dessa forma, o método de projeto adotado inicia-se com análises na cidade de Maringá, associadas com as principais condicionantes voltadas para essa relação mulher-cidade, sobretudo na escala do bairro. No entanto, isso não quer dizer que essas problemáticas não existam nos outros espaços da cidade, elas existem - em todos os espaços, mesmo -, porém, por se tratar de projeto piloto, viu-se necessário o trabalho com uma escala mais reduzida por falta de material técnico e teórico que servisse de embasamento para intervenções maiores. Retomando a evolução metodológica utilizada nesse trabalho, a relação dessas estruturas públicas levou à análise da linha de transporte urbano, por se tratar de outra estrutura pública urbana e por também estar muito atrelado ao cotidiano da mulher. O resultado dessas análises, levou à um compilado de informações que relaciona essas três principais estruturas e suas ligações na cidade. Além disso, é interessante ressaltar que a maneira como homens e mulheres se locomovem no espaço urbano acontece de maneiras diferentes, uma vez que as mulheres fazem várias paradas em pontos diferentes, enquanto que os homens cumprem apenas o trajeto de ida e volta7. Outras duas condicionantes necessárias para o desenvolvimento do trabalho, agora não mais associado ao sistema público, foi a análise de dados censitários do IBGE, que levantam estatísticas da densidade de mulheres por região, e o valor de renda dos/das responsáveis por domicílio. Esses dois levantamentos retoma a discussão sobre o recorte de gênero e o recorte de classes e, dessa forma, pode-se localizar quais seriam as regiões com as maiores concentrações de mulheres de baixa renda na cidade de Maringá.


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Finalmente, o resultado desses levantamentos direcionou a pesquisa em um compilado de informações, no qual foram destacadas 5 regiões principais potencialmente favoráveis para a implantação de um projeto urbano, que atendesse à todas essas problemáticas.

7 “Violência e Padrões masculinos intimidam mulheres no transporte” foi o artigo publicado no ano 2018, na revista “Estadão”, que discorre sobre o “Velo-City 2018”, principal evento sobre bicicletas, no âmbito mundial. Nesta publicação, Anvita Arora, Ph.D. em Engenharia Civil pelo Instituto Indiano de Tecnologia (ITT), chama a atenção para a importância de entender as diferenças entre homens e mulheres e suas distintas necessidades, que não são refletidas nos sistemas de transporte público. Ainda nessa publicação, a urbanista Suzana Nogueira, que participou da coordenação do Plano Diretor de Bicicletas na cidade de São Paulo, apresenta um recorte de gênero na pesquisa “Origem e Destino”. Nessa pesquisa, foram levantadas porcentagens que demonstram que as mulheres são a maioria entre os usuários de transporte público (40%), e minoria entre os usuários de carro particular (25%).


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análises e levantamentos

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cidade de Maringá é um projeto urbano de autoria do engenheiro Jorge Macedo Vieira, e faz parte de uma rede de cidades implantadas no Norte do Paraná, na década de 1940.

a cidade, como o Aeroporto, a Universidade Estadual de Maringá, o Conjunto da Vila Olímpica, que complementam a estruturação e o condicionamento da malha urbana (Figura 36).

O traçado urbano orgânico foi condicionado pela configuração topográfica do sítio e pela presença das bacias hidrográficas que foram incluídas na malha urbana da cidade. Além dessas condicionantes, é possível observar outras áreas que foram destinadas à grandes estruturas urbanas para

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Universidade Estadual de Maringá Conjunto da Vila Olímpica Parque Alfedro Werner Nyffeler Parque Internacional de Esxposições Parque do Ingá Bosque II Antigo Aeroporto Regional de Maringá

Figura 36: Mapa de identificação geral da cidade de Maringá. Fonte: Base da PMM, organizado pela autora.


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partir do reconhecimento geral da cidade, foram iniciadas as análises que permeiam a temática do trabalho, sendo elas o mapeamento da localização dos equipamentos públicos da cidade, o levantamento da localização dos espaços públicos, o levantamento das linhas de transporte público urbano, o estudo da densidade de mulher por região, e o valor de renda dos/das responsáveis por domicílio.

Os principais equipamentos públicos reconhecidos como pertencentes à vida cotidiana (na escala do bairro) foram os equipamentos de educação (CMEI, escolas estaduais e municipais), de esporte (Centro Esportivo e Academia da Terceira Idade - ATI), saúde (Unidade Básica de Saúde UBS) e de produção (Horta Comunitária). O mapeamento foi realizado individualmente, de acordo com sua área (saúde, educação, esporte, lazer e produção), e o resultado foi a junção de todas essas localizações em um mapa só (Figura 37).

Figura 37: Mapa de identificação geral da cidade de Maringá. Fonte: Base da PMM, organizado pela autora.


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a mesma forma, foi realizado o mapeamento dos espaços públicos de Maringá. Dentre esses espaços, estão grandes parque urbanos, praças de grande importância pra cidade, praças comunitárias e alguns espaços residuais que, mesmo não tendo utilização, ainda assim, são espaços livres da cidade (Figura 38). Como já dito no início do capítulo, a escala dos espaços públicos direcionará a pesquisa para o foco na intervenção em espaços para a comunidade. Dessa forma, a análise da escala desses espaços complementará

Figura 38: Mapa de espaços públicos. Fonte: Base da PMM, organizado pela autora.

o mapeamento dos espaços públicos, categorizando-os em 3 principais escalas diferentes (Figura 39). Os espaços que pertencem à escala da cidade possuem maior grau de abrangência, pois são maiores em dimensões, diversidade de usos e diversidade de pessoas que ocupam. Alguns deles são contemplados com a disponibilidade de lagos, muitas áreas vegetadas para caminhada e contemplação, áreas para piqueniques, pequenos museus, pesca, e outros usos. São espaços mais genéricos, que atendem às demandas de lazer e esporte.


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á os espaços com escala do bairro, atendem as demandas dos moradores mais próximos de sua localização, não possuem uma ocupação tão diversificada quanto os espaços com escala da cidade, tanto quanto diversidade de pessoas, como em quantidade de ocupantes. Esses espaços estão mais associados com os usos de permanência e passagem de pedestres.

Com relação aos espaços com escala da vizinhança, foram levantados duas tipologias. Dentre eles, há espaços como pequenas praças, que possuem alguns poucos mobiliários urbanos (bancos, mesas de jogos, ponto de ônibus), enquanto que outros não possuem nenhum ipo de mobiliário e nem infraestrutura para uso.

Figura 39: Mapa de grau de abrangência dos espaços públicos. Fonte: Base da PMM, organizado pela autora.


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esgatando o pensamento posto no primeiro capítulo, viu-se necessário realizar o levantamento da malha de transporte público devido aos deslocamentos que envolvem a ligação de um atividade cotidiana à outra. Utilizando a mesma metodologia dos levantamentos anteriores, essa análise visa saber se há alguma conexão ou proximidade entre os equipamentos e espaços públicos com a própria malha de transporte, ou se há alguma possibilidade de conexão entre estes para que, futuramente, o deslocamento aconteça de maneira mais fluida, em um espaço-temporal menor.

Figura 40: Mapa da linha de transporte público urbano. Fonte: Base da PMM, organizado pela autora.


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gora, sobrepondo os mapas de espaços públicos com o mapa de equipamentos públicos, o resultado demonstra se, próximo aos aglomerados de equipamentos, existe espaços públicos localizados próximos ou conectados a estes. Sobrepondo os mapas de equipamentos, espaços, transporte e escala dos espaços, chega-se ao primeiro mapa de síntese parcial, em que são postos todas as estruturas públicas. Nesse mapa (Figura 42), observa-se a ligação dos espaços públicos através da linha de transporte e a proximidade destes com os aglomerados de equipamentos. Analisadas todas as estruturas públicas que estariam associadas à temática proposta, os levantamentos de dados censitários do IBGE dará um novo direcionamento para o desenvolvimento desse processo. O primeiro dado levantado foi o de Predominância de renda dos/das responsáveis por domicílio (Figura 43). A necessidade em se fazer essa análise baseia-se no desejo de saber onde estão as maiores concentrações das menores renda da cidade de Maringá.


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Figura 41: Mapa de sobreposição dos equipamentos públicos e espaços públicos. Fonte: Elaborada pela autora.


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Figura 42: Mapa de sĂ­ntese parcial. Fonte: Elaborada pela autora.


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Figura 43: Mapa de predominância de renda do responsável por domicílio. Fonte: Base da PMM, dados censitários IBGE 2010, organizado pela autora.


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m seguida, foram levantados os dados de Densidade de Mulheres por Região, um compilado de informações unificadas pelo Observatório das Metrópoles, a partir dos dados censitários do IBGE 2010. (Figura 44)

Neste mapa, foram destacadas as regiões nas quais possuem maior densidade de mulher e menor renda por domicílio. Como pode ser observado no mapa ao lado (Figura 45), a região que se ressalta é a da porção norte de Maringá, na qual possui, de fato, a maior densidade mulheres.

Com a sobreposição desses dois últimos mapas (Predominância de renda dos/ das responsáveis por domicílio e Densidade de Mulheres por Região), outro mapa de síntese parcial foi elaborado.

Figura 44: Mapa de densidade de mulheres por região. Fonte: APONDE, 2010. Elaborado pelo Observatório das Metrópoles, organizado pela autora.


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Figura 45: Síntese parcial de sobreposição entre os mapas de densidade e renda. Fonte: Base da PMM, dados censitários IBGE 2010, organizado pela autora.


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oncluindo esta etapa do processo de escolha da área de intervenção, os dois mapas de síntese parcial foram sobrepostos, gerando uma síntese de todas as informações analisadas até então. Neste mapa (Figura 46), foram destacadas somente as informações de dentro do perímetro no qual possui grande concentração de mulheres, de acordo com o mapa de densidade. Dessa forma, 3 grandes áreas foram delimitadas e, dessas regiões, foram destacadas mais 5 áreas e definidas quais as principais características que fazem dessas regiões

potencialmente favoráveis ou desfavoráveis para a intervenção (Figura 47). Dentre essas 5 áreas, apenas a primeira foi escolhida, pois é a região com maior potencialidade para o projeto. Os principais fatores que fizeram dessa área, a mais favorável para intervir, foram, sobretudo, a sequência de espaços públicos conectados pela linha de transporte, a grande densidade de mulheres de baixa renda e três aglomerados de equipamentos urbanos próximos à esses espaços públicos.

Figura 46: Mapa síntese. Fonte: Base da PMM, dados censitários IBGE 2010, organizado pela autora.


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sequência de espaços públicos proximidade com os equipamentos públicos baixa renda grande densidade de mulheres espaços conectados pelo transporte

ausência de espaços públicos proximidade com os equipamentos públicos baixa renda grande densidade de mulheres

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ausência de espaços públicos proximidade com os equipamentos públicos baixa renda grande densidade de mulheres

ausência de espaços públicos proximidade com os equipamentos públicos grande densidade de mulheres espaços conectados pelo transporte

3 ausência de espaços públicos proximidade com os equipamentos públicos baixa renda

Figura 47: Escolha da área. Fonte: Elaborada pela autora.

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Figura 48: Imagem aérea do terreno de intervenção. Fonte: Google Earth, 2018.



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COMO?

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área de recorte escolhida se localiza na porção Norte da cidade de Maringá (Figura 53), próximo ao Contorno Norte, limitada pelas Avenidas Morangueira, Franklin Delano Roosevelt, por um fundo de vale e pela Rua Pioneiro Bruno Bluthgen. Essa área está inserida no bairro Jardim Alvorada Parte II, e encontra-se ao norte do bairro Jardim Alvorada, um dos bairros mais densos da cidade, e ao sul dos bairros Jardim Alvorada III e Ebenezer. (Figura 49) A primeira identificação na leitura da área foi a ocupação rarefeita e uma mescla da paisagem industrial com a paisagem residencial. As quadras são muito extensas no sentido norte-sul por conta do loteamento, e quase não há vias que cortam esse recorte no sentido leste-oeste. Além disso, foram identificados dois equipamentos públicos dentro do recorte, sendo eles um Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI) e um Centro Esportivo (Figura 50).


reconhecimento do terreno

Figura 49: Vista aérea de Maringá com destaque para o área de projeto. Fonte: Google Earth, 2018.

Figura 50: Vista aérea da área de projeto e seu entorno. Fonte: Google Earth, 2018.

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partir da escolha do recorte, foram realizadas algumas visitas ao local, conforme a metodologia de observação in loco. Logo, viu-se a necessidade do estudo de uso do solo e zoneamento, pois, de acordo com as primeiras observações, percebeu-se que essa área possui algumas problemáticas quanto ao uso das vias, e quanto ao uso dos próprios lotes. A análise da Lei de Uso e Ocupação do solo de Maringá (Lei Complementar 888/11) mostrou que, de fato, há algumas falhas quanto ao zoneamento dessa área. Como é possível visualizar no mapa (Figura 58), a maioria das vias estão definidas em eixos de comércio e serviço, mesmo sendo predominantemente residenciais. Outra grande falha encontrada no zoneamento atual foi o Eixo Residencial B, o qual possibilita a construção de residências multifamiliares. A criação dos eixos residenciais (ER), aconteceu na terceira alteração do Plano Diretor (632/06), sob a justificativa de promover o adensamento urbano com o uso residencial multifamiliar mediante pagamento de outorga onerosa (SILVA, 2015). A aprovação do novo uso para esses eixos não pautou-se em um debate amplo, no qual discutisse se, de fato, essas áreas precisariam desse tipo de adensamento, e se esse seria a maneira mais correta de se adensar.

Diante disso, observa-se que as vias Franklin Delano Roosevelt, Avenida Pedro Taques, Rua Vitor do Amaral, Rua Pioneiro Alfredo José da Costa, e Rua Chile, receberam o zoneamento ER B e, em algumas delas, foram empreendidos diversos edifícios residenciais, aprovados no mesmo ano. Isso pode ser observado no próximo mapa de cheios e vazios, em que foram levantadas as edificações existentes nos lotes e destacadas quais dessas edificações são edifícios residenciais multifamiliares. De fato, não existe nenhuma lógica para essa nova ocupação, uma vez que é muito perceptível a quantidade de lotes vazios que deveriam ser priorizados com ocupações térreas. Além disso, a paisagem resultante desses grandes edifícios torna a leitura do recorte muito confusa, pois já não existe muita ocupação ao longo das quadras, e, quando existe, são ocupações muito rarefeitas, com usos que se mesclam entre o residencial, comércio e serviço, e industrial. Ainda nessa etapa de análises, foram destacados os lotes vazios, ou seja, os lotes que não possuem nenhuma edificação, independente de serem públicos ou privados. Logo, com base nesses levantamentos, houve a necessidade de se propor um novo reparcelamento dessas quadras afim de torná-las mais permeáveis para o pedestre.

Figura 51: Edifícios residenciais verticais em contraposição com pequenas residências. Fonte: Google Earth 2018, editado pela autora.


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Figura 52: Mapa de anรกlise do terreno. Fonte: Base PMM e Google Earth, elaborado pela autora.


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Figura 53: Mapa de zoneamento e usos. Fonte: Fonte: Base PMM e Google Earth, elaborado pela autora.


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pontos fotografados: análises na escala do pedestre

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inda utilizando o método de observação in loco, houve a necessidade de se reconhecer o espaços a partir da perspectiva de uma pessoa que caminha por lá. Consequente da falta de usos distintos, e a ocupação rarefeita dos terrenos, a paisagem mais recorrente é a de muros extensos, ruas escuras, árvores inadequadas para passeios públicos, ruas muito estreitas e calçadas quebradiças. Todos esses pontos ajudam a conformar ambientes perigosos, que facilitam na sensação de vulnerabilidade do pedestre e, principalmente, da mulher. Nas imagens ao lado, por exemplo, foram destacadas essas barreiras visuais que são conformadas pelos muros. Caminhando ao longo da Avenida Franklin Delano Roosevelt foi possível observar a presença de muitos lotes vazios, inclusive lotes no “redondos” (Figura 56), e lotes lindeiros à avenida (Figura 57). O fato mais curioso nessa análise é que a Avenida Franklin Delano Roosevelt e uma das avenidas principais desse recorte. Nela, concentra-se a maior diversidade de usos, com residências, comércio e serviços, e institucional. No entanto, a ocupação dessa área é tão rarefeita, que isso se reflete até no principal eixo comercial mais próximo do bairro. Foram observadas, também, algumas problemáticas nas calçadas que dificultam passagem do pedestre. A altura das copas das árvores, por exemplo, é um fator muito importante em se tratando de “ver e ser visto”. Isso significa que a altura da árvore está impedindo que o pedestre veja seu entorno e também seja visto por outros pedestres (Figura 58). Rente ao Centro Esportivo, foi possível observar a falta de manutenção das calçadas de seu entorno, uma vez que elas são utilizadas por pedestres e ciclistas, e se encontram em situações muito precárias, extremamente estreitas e com barreias visuais, formadas por grandes taludes (Figura 59).

Algumas calçadas, por serem muito estreitas, ou por possuírem vegetações inadequadas para o passeio público, são substituídas pela utilização das ruas. Essa situação agrava a péssima qualidade de caminhabilidade, e coloca a mulher e a criança em situações de risco (Figura 87). A falta de infraestrutura e acessibilidade também está explícita na próxima imagem (Figura 88), a qual revela o ponto de ônibus no gramado, sem faixa de pedestre ou calçada acessível até ele.


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Figura 54: Barreira física e visual conformada pelo muro. Fonte: Foto do acervo pessoal, análise feita pela autora.

Figura 55: Barreira física e visual, calçada estreita e iluminação degradada. Fonte: Foto do acervo pessoal, análise feita pela autora.


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Figura 56: Terreno vazio em frente à um espaço público. Fonte: Acervo pessoal, 2018.

Figura 57: Terreno vazio em frente à Avenida Franklin Delano Roosevelt. Fonte: Acervo pessoal, 2018.


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Figura 58: Talude muito alto, falta de ciclovia e copa da รกrvore muito baixa. Fonte: Acervo pessoal, 2018.

Figura 59: Talude muito alto e calรงada muito estreita. Fonte: Acervo pessoal, 2018.


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Figura 60: Mulheres caminhando na rua devido à calçada estreita e imprópria. Fonte: Google Earth, 2018.

Figura 61: Ponto de ônibus em uma praça sem suporte para uso. Fonte: Acervo pessoal, 2018.


análise das entrevistas

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pós as análises urbanas, viu-se a necessidade de se fazer uma análise mais apurada na área do terreno, em que fosse priorizada a observação in loco e a vivência das moradoras do entorno. Dessa forma, todos os espaços públicos localizados na Avenida Franklin Delano Roosevelt foram pautas dessa investigação. Além disso, observações à escala do pedestres foram realizadas ao longo da caminhada no entorno, e, aos poucos, algumas problemáticas foram notadas. Essas caminhadas de observação ajudaram no processo de elaboração dos questionários para as entrevistas, uma vez que, por meio deles, seria possível confirmar a série de problemas já levantados, e outros problemas que foram mecionados pelas moradoras. Basicamente, a entrevista pautou-se em dois tipos de questionário, um que visasse o caminho relacionado com as atividades cotidianas, e outro que estivesse relacionado ao trajeto casa-trabalho. O resultado das entrevistas foi muito satisfatório, pois, de fato, várias problemáticas foram confirmadas por elas e outras ainda mais interessantes foram destacadas. Dentre todas as dificuldades mencionadas pelas moradoras, a falta de iluminação na maioria das ruas foi, sem dúvida, a reclamação mais frequente. Além disso, foram mapeadas esquinas e trajetos em que as próprias entrevistadas avisaram para ser evitado.

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impressões das moradoras

“A falta de iluminação deste bairro é muito preocupante. Eu, pro exemplo, evito de sair de casa à noite, pois tenho muito medo de andar por aqui, e quando saio, nem celular eu levo.”

“Além da falta de iluminação, há também a falta de sinalização, tanto para o pedestre, quanto para os veículos.”

“A rua em que eu mais caminho é muito estreita, a calçada é pequena e muito deformada... Quando eu vou levar o meu filho na creche, tenho que ir com o carrinho pela rua, que, aliás, é muito perigosa.”

“Falta espaços de lazer aqui. Há um centro de eventos, mas fica em outro bairro e, além disso, quase não há promoção de eventos culturais por lá.”

“O campo de futebol do centro esportivo está sempre fechado. É um campo que recebe manutenções mensais, mas nunca está aberto. Além disso a Academia da Terceira Idade não funciona, é mal iluminada e muito perigosa, principalmente à noite.”


análises e propostas urbanas

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partir de todos os levantamentos feitos no recorte, com as análises das entrevistas, análises da região e observações in loco, foi produzido o mapa de síntese, no qual reúne todas as problemáticas apresentadas anteriormente. Neste mapa, estão destacadas informações que direcionarão a continuidade do trabalho e servirão como ponto de partida para a intervenção urbana. Entre as informações sintetizadas, destaca-se a dimensão das quadras, a quantidade de lotes vazios, paisagens industriais, vias de alta velocidade e esquinas inseguras. Problemáticas resolvidas, posteriormente, no mapa de estratégia, nova proposta de usos e zoneamento, e corporificada nos mapas de proposta e conceito.

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Figura 62: Mapa de sĂ­ntese. Fonte: Fonte: Base PMM e Google Earth, elaborado pela autora.


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Figura 63: Mapa de estratĂŠgia. Fonte: Fonte: Base PMM e Google Earth, elaborado pela autora.


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Figura 64: Mapa da nova proposta de zoneamento e usos. Fonte: Fonte: Base PMM e Google Earth, elaborado pela autora.


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Figura 65: Mapa da proposta. Fonte: Fonte: Base PMM e Google Earth, elaborado pela autora.


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Figura 66: Mapa do conceito. Fonte: Fonte: Base PMM e Google Earth, elaborado pela autora.


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processo de intervenção urbana

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partir do mapa de reconhecimento do recorte, juntamente com as informações do zoneamento atual e com a síntese das entrevistas, foi produzido o mapa de síntese geral,no qual foram destacadas as principais problemáticas da região. À princípio, a informação que mais se ressalta é a quantidade de vazios urbanos existentes na área, que contrasta com a quantidade de edifícios residenciais verticais e com a quantidade de indústrias. A região, em si, possui uma paisagem completamente mesclada entre usos industriais, residenciais e comerciais, dispostos de maneira rarefeita nas quadras de grandes dimensões devido aos grandes lotes de chácaras. Toda essa configuração resulta em uma área pouco permeável, sobretudo para o pedestre, sem vitalidade e insegura. A falta de vitalidade dessa região se soma à disposição de grandes muros que vedam a permeabilidade de terrenos vazios e à falta de manutenção tanto na iluminação quanto na vegetação do passeio público. As poucas ruas que permeiam essa área são pouco sinalizadas e dificultam a travessia do pedestre, devido à falta de prudência dos motoristas quanto à velocidade dos veículos. As esquinas, também pouco sinalizadas e iluminadas, com bloqueios na perspectiva do pedestre por conta da vegetação e de grandes muros, são interpretadas como pontos estratégicos para a violência urbana (como foi apontado pelas próprias moradoras na entrevista). Além disso, foi observado com a análise do atual zoneamento que a falta de uma avenida paisagística resultou em algumas ocupações irregulares que avançam a área de proteção permanente, prevista na lei de uso e ocupação. Diante dessas problemáticas, portanto, a principal proposta para a intervenção da área de recorte, é fazer com que esse ambiente urbano se torne mais seguro, mais permeável e que ainda, juntamente com os projetos propostos, impulsione novos usos, novos eventos e novas oportunidades para

todas as pessoas, sobretudo para as mulheres. Para que isso seja viabilizado, é necessário, primeiramente, de uma intervenção na dimensão das quadras do recorte. A partir do levantamento de vazios urbanos, foi possível identificar quais regiões possuem mais vazios para que os rasgos dessas quadras sejam feitos sem muitas desocupações. A transposição de algumas quadras com a implantações de projetos urbanos, além de potencializarem o uso do espaço público, viabilizam infraestruturas que impulsionam o uso do próprio espaço, ao mesmo tempo que gera vitalidade em seu entorno. A alteração no zoneamento, como vista anteriormente, foi pensada para que a paisagem se “reconstrua” de maneira mais clara, com a concentração de indústrias mais pesadas na Avenida Morangueira, rua de maior fluxo e maior velocidade, e o fortalecimento de avenidas comerciais existentes e novas, com o incentivo de novos comércios e novos usos.


Figura 67: Esquemas de intervenção no loteamento do recorte. Fonte: Elaborado pela autora.

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a importância da rua

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omo direcionamento inicial para se dar início à intervenção nessa área, consideremos o espaço público não somente aquele em que se destina uma área pública para o uso comum. A rua em si, é um dos principais elementos públicos, de uso comum, que conectam o tecido da cidade. São, portanto, espaços de deslocamento e conexão. E, como um dos principais elementos de deslocamento utilizados na cidade, a rua deve assegurar de que pedestres e motoristas consigam se deslocar de forma tranquila e segura. Ruas que são evitadas ou desviadas por passarem alguma sensação de insegurança não estão cumprindo com a sua função urbana e acabam por colocar em risco a vida das pessoas, sobretudo pessoas mais vulneráveis. A partir do novo loteamento - resultado dos rasgos e transposições feitos na quadras - propõe-se um plano de hierarquização e fortalecimentos do uso e da paisagem das vias, tanto nas existentes, quanto nas novas vias propostas. O alargamento do passeio público, a identidade paisagística, a adequação na iluminação e sinalização e a disposição de infraestruturas que facilitam o deslocamento, carregam e ressaltam a importância da presença de pessoas caminhando por essas ruas, e da vitalidade do próprio espaço.


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proposta de paisagem

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plano paisagístico teve como ponto de partida duas principais vertentes: a continuação do plano existente no entorno e a hierarquização das novas vias. Para a Avenida Morangueira, foi proposta a utilização de Grevíleas, que acompanharão a nova proposta para uma ciclovia em um canteiro central. Para a Avenida Franklin Delano Roosevelt, foi pensado na continuação de algumas vegetações já existente atualmente, que são o Ipê roxo e a Sibipiruna, ambas espécies dando sombra e direcionando o caminho ao longo da avenida. Além disso, a utilização da Sibipiruna, também está relacionada com a continuação da massa vegetada já existente nos bairros do entorno, fazendo esse vínculo e continuidade das ruas fora do recorte. Para a nova via comercial que rasga as quadras, estão dispostas espécies de Bisnagueira, que demarcam a via em uma paisagem única e distintas das outras vias, ressaltando a sua importância. Para a Avenida Paisagística, foi pensando na utilização de espécies apropriadas para esse tipo de via, sendo elas a Grevílea, que acompanhará a ciclovia, e o Jacarandá, que floresce na cor roxa e se ajusta bem à terrenos de fundo de vale.

Para ilustrar as propostas, foram escolhidas três tipologias de rua para serem desenhadas e detalhadas. A preferência foi a escolha de ruas que não existem atualmente, que fazem parte da nova proposta de loteamento. A primeira tipologia mostrada é a Avenida Paisagística, localizada logo ao lado do fundo de vale. A segunda rua exemplificada é uma rua residencial que segue basicamente o mesmo desenho das ruas residenciais existentes, porém, com novas soluções de faixas permeáveis, iluminação e acessibilidade. Por fim, a terceira rua detalhada foi a nova rua comercial que rasga grande parte das quadras no sentido leste-oeste. A especificidade dessa tipologia de rua é dar prioridade ao pedestre. Dessa forma, propõe-se a elevação da rua ao nível da calçada, fazendo a separação veículo/pedestre com balizadores. Além disso, a contraproposta para a abertura dessa rua aos moradores dela, é incentivar o uso comercial com a doação de uma parcela de área pública para fins comerciais privados (seguindo a nova tabela de zoneamento), uma vez que o rasgo permitiu criar lotes com dimensões suficientes para servirem como uso misto. (Visualizar projetos em suas respectivas pranchas).

Figura 68: Mapa do plano paisagístico com destaque nas ruas que serão detalhadas. Fonte: Fonte: Base PMM e Google Earth, elaborado pela autora.


Figura 69: Proposta de rasgo (tipologia rua C). Fonte: Elaborado pela autora.

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proposta de intervenção da tipologia C


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Figura 70: IsomĂŠtrica tipologia rua C. Fonte: Elaborado pela autora.


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Figura 71: Mapa de plano paisagĂ­stico. Fonte: Fonte: Base PMM e Google Earth, elaborado pela autora.


proposta de mobiliário urbano

A

proposta para o mobiliário urbano baseia-se, principalmente, na falta de acessibilidade e insegurança quanto aos pontos de ônibus e o local no qual eles estão localizados atualmente. A falta de uma atividade no entorno e a insuficiência na iluminação e sinalização também contribuem com a insegurança das pessoas que dependem do transporte público urbano.

Essa demanda de um mobiliário urbano foi levantada com algumas visitas feitas ao local e com conversas informais com as moradoras. Ficou claro que a utilização dessas infraestruturas relacionadas com o transporte seria um potencial para algum tipo de intervenção ou ressignificação dos mobiliários feitos atualmente.

A partir dessa demanda, o mobiliário urbano foi pensado de modo que estimule alguma atividade próxima ao ponto de ônibus. O projeto consta com uma banca de uso comercial, feita com material translúcido (ver mais detalhes na prancha 4) para que, dessa forma, ele consiga ser visto à distâncias consideráveis, principalmente no período da noite. Junto com essa edificação, poderá ser instalado o ponto de ônibus, acoplado à um banheiro de uso público. Apesar do mobiliário ter essa flexibilidade quanto à implantação, alguns pontos estratégicos foram levantados, de acordo com a nova proposta para ciclovia e o trajeto da linha de transporte público urbano.

Figura 72: Mapa de proposta de mobilidade. Fonte: Fonte: Base PMM e Google Earth, elaborado pela autora.

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Figura 73: Isométrica da banca comercial. Fonte: Elaborado pela autora.

Figura 74: Isométrica do ponto de ônibus com sanitário público. Fonte: Elaborado pela autora.


proposta de projeto urbano

A

proposta para o projeto urbano é composta por um conjunto de quatro centralidades, escolhidas em áreas estratégicas do recorte, afim de preencher os vazios urbanos dessa área, assim como promover novos usos e permeabilidade nas quadras. Todos os centros estão conectados com a proposta de mobilidade sugerida na figura 72 e com o plano de paisagem mostrado anteriormente. Dentre os projetos urbanos propostos, apenas três foram detalhados a nível de projeto, sendo eles o centro de acolhimento e segurança para mulheres vítimas de violência urbana e doméstica; o centro de oportunidade e aprendizagem, como apoio à capacitação e educação de crianças e adultos; e, por fim, o centro de cultura, equipamento de apoio à cultura e eventos culturais. O centro de esportes e lazer, localizado próximo ao fundo de vale, aparece apenas como proposição de área para futuras intervenções.

Figura 75: Mapa de localização das áreas de projeto. Fonte: Fonte: Base PMM e Google Earth, elaborado pela autora.

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Figura 76: Esquema de implantação geral. Fonte: Elaborado pela autora.

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centro de acolhimento e segurança para mulheres

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iante de todas as análises realizadas, sobretudo em relação as análises de infraestruturas públicas da região, viu-se necessário algum equipamento que estivesse diretamente ligado à casos de violências urbanas e domésticas. O programa foi construído de acordo com os levantamentos e demandas analisadas pela Casa da Mulher Brasileira8, o qual associa os espaços físicos propostos pelas diretrizes gerais do programa, aos protocolos de atendimento à mulher. A escolha da área para a implantação do projeto deve-se à dicotomia de seu entorno, devido à proximidade de uma área muito vulnerável, onde estão concentradas pequenas indústrias, mas ao mesmo tempo, próxima à uma área bastante residencial. Portanto, a principal proposta para essa implantação, é fazer com que a vulnerabilidade dessa área seja convertida em espaços com mais vivacidade, a partir do incentivo de usos variados e, de certa forma, acolhedores. A concepção do projeto levou em consideração a topografia com o desnível de 5 metros, o fluxo de pedestres, o norte (principalmente em relação ao edifício residencial, o qual foi rotacionado no sentido norte-sul nas principais fachadas), e a formação de espaços “vigiados”. A prioridade para a concentração de pessoas está, basicamente, nas bordas do terreno, lindeiro às principais ruas, e no seu miolo, onde se concentram os usos comerciais e acessos para o edifício residencial. Essa solução convida o pedestre à fazer essa travessia no meio da quadra, justamente pela presença de pessoas, sejam elas moradoras do edifício residencial, consumidoras do comércio local, ou usuárias do centro de acolhimento (uso institucional). 8 A Casa da Mulher Brasileira é uma inovação no atendimento humanizado às mulheres. Integra no mesmo espaço serviços especializados para os mais diversos tipos de violência contra as mulheres: acolhimento e triagem; apoio psicossocial; delegacia; Juizado; Ministério Público; Defensoria Pública; promoção de autonomia econômica; cuidado das crianças; alojamento de passagem e central de transportes. A casa, um dos eixos do programa “Mulher, Viver sem violência”, coordenado pela Secretaria de Políticas para Mulheres da Presidência da República, facilita o acesso aos serviços especializados para garantir condições de enfrentamento da violência, o empoderamento da mulher e sua autonomia econômica.” fonte: Secretaria Nacional de Políticas para Mulheres do Ministério dos Direitos Humanos.

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* todos os esquemas estĂŁo na escala 1:2500


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centro de oportunidades e aprendizagem

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projeto para o centro de oportunidades e aprendizagem tem como objetivo principal a disponibilização de um espaço que promova a autonomia econômica da comunidade do entorno. De acordo com o levantamento de informações, feito por meio das entrevistas, pode-se perceber que, nesta região, há uma quantidade considerável de famílias que possuem filhos pequenos e, principalmente, mulheres que abdicam da vida profissional para cuidar de seus filhos. A partir desse ponto, o programa do projeto foi construído de forma que incentive a capacitação, tanto das crianças, quanto de seus pais, promovendo espaços para aprendizagens culturais e profissionais. O terreno escolhido possui um desnível de 10 metros e está localizado na Avenida Franklin Delano Roosevelt, uma das principais avenidas comerciais do recorte e possui ligação com uma pequena praça, que receberá a implantação de uma parada de ônibus multiuso (Figura72). Para a concepção do projeto, levou-se em consideração os principais fluxos leste-oeste e a necessidade de um fluxo que transpassasse a quadra no sentido norte-sul. Uma das principais características de todos os projetos - é instalar, junto com o projeto do centro, um edifício residencial que tenha o térreo livre para usos comuns. Para isso, o projeto foi dividido em dois planos de massa, de foma que o edifício residencial ficasse na quadra menor, onde já existem algumas residências, e o edifício do centro de oportunidades se instalasse na quadra que, atualmente, já é pública. Tanto a forma, quanto a implantação dos edifícios foram projetadas priorizando espaços abertos e “vigiados”. O edifício residencial, por exemplo, teve suas fachadas principais direcionadas no sentido norte-sul, para atender normas de conforto e direcionar a visão dos moradores para as áreas comuns, que também recebem apoio de usos comerciais para garantir a vivacidade do espaço.

Já para o edifício do centro de oportunidades, optou-se por priorizar no fluxo do pedestre no sentido leste-oeste, dando continuidade às ruas laterais, e direcionando o caminho dos pedestres por meio de amplas rampas que ligam um nível ao outro. A conformação em “C” do edifício cria um miolo vigiado pelos dois blocos do edifício (bloco infantil e bloco de capacitação), e também é onde se localiza a principal rampa de acesso à quadra poliesportiva e ao nível da Avenida Franklin Delano Roosevelt. Diante disso, a concentração de pessoas nesse conjunto está direcionada, principalmente, nas bordas do terreno, onde possuem espaços de passagem, sobretudo no sentido onde o fluxo é mais intenso (norte-sul) e no miolo, conformando uma praça mais “íntima”, utilizada principalmente pelos ocupantes do edifício.


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centro de cultura

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projeto para o centro de cultura se desenvolveu a partir de uma demanda proposta por algumas moradoras durante as entrevistadas, na qual se levantou informações de que não havia nenhum equipamento que promovesse eventos culturais na região. De fato, com o estudo da área, pode-se perceber que a inexistência dessa infraestrutura contradiz a demanda da comunidade do entorno, uma vez que há muitas escolas primárias e, consequentemente, muitos jovens e crianças na região. A partir disso, o programa foi desenvolvido de maneira que priorizasse usos educacionais e culturais, como biblioteca, cinema a céu aberto, galeria de exposição e auditório para convenções. O programa foi dividido em dois terrenos, sendo um deles com um edifício residencial, com térreo de uso comum, e outro terreno somente com equipamentos de uso comum. Em ambos os terrenos, a prioridade é fazer com que a quadra seja permeável e acessível, tanto no sentido leste-oeste, quanto no sentido norte-sul. O terreno em fita possui um desnível de 15 metros e é onde está implantado o edifício residencial, direcionado no sentido norte-sul geográfico nas suas fachadas principais. A sua implantação foi feita em uma das esquinas do terreno como estratégia de movimentação de pessoas nessa área, por ser uma região mais vulnerável para o pedestre. No térreo, usos comerciais próximos à grandes escadarias e rampas, com espaços amplos e abertos que facilitam a visão de quem passa por ali. Ainda no mesmo terreno, em níveis mais baixos, estão localizados o cinema a céu aberto, acessível por meio de rampas e escadarias, com um uso comercial logo ao lado, como ponto de atração. Já na outra quadra, com 10 metros de desnível, estão implantados os edifícios da biblioteca, galeria comercial e auditório, sempre com algum uso comercial que dê suporte ao uso institucional.

Os espaços abertos se conectam ao outro lado da rua e à outros níveis por meio de escadarias e rampas, tornando a quadra mais permeável e “viva”. Os pontos estratégicos de concentração de pessoas estão direcionados nas bordas terreno, lindeiras às ruas, e no miolo da quadra, ponto de acesso dos principais equipamentos.


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