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INTRODUÇÃO
São Paulo é, à primeira vista, caótica.
Vista de longe, a cidade surpreende: é massa cinza compacta bloqueando o horizonte. Vista de cima, por quem chega de avião, à noite, deslumbra: é infindável derrama de diamantes sobre fundo negro. Vista de dentro, por quem nela vive, espanta: São Paulo não tem imagem! A afirmação feita por Laymert Garcia dos Santos, em seu livro Tempo de Ensaio, indica os trabalhos de escavação necessários para buscar as imagens, a representação identitária e a memória do cidadão paulistano.
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O paulistano sente saudade das terras onde nunca viveu, mas que povoam a profundidade de seu imaginário, seu inconsciente de cidadão de uma cidade híbrida, complexa, que acolhe mais de 170 etnias.
Hábitos, ocupação urbana, modos de ser se amalgamaram no território da cidade dos paulistanos, herdeiros de modos de ser estrangeiro. Uma de suas camadas é a italiana.
São Paulo é reconhecida como a segunda maior cidade no mundo em número de italianos e seus descendentes, perdendo apenas para Nova Iorque e sua Little Italy. O caráter italiano da maior cidade da América do Sul é um dos impressos em seu imaginário.
Abordar as festas italianas em São Paulo é tentar reconhecer as interfaces e conexões entre
territórios de origem e de adoção que constituem as raízes identitárias de seus cidadãos. Um dos fios condutores para identificá-las é a observação de suas festas típicas.
A cidade realiza quatro festas italianas: Casaluce, São Vito, San Gennaro e de Nossa Senhora da Achiropita. Os imigrantes napolitanos se reuniam em torno das festas de Casaluce e San Gennaro nos limites dos bairros da Mooca e do Brás. Já aqueles provenientes da Puglia e, mais precisamente, da cidade de Polignano a Mare, festejavam São Vito no bairro do Brás, e os calabreses, Nossa Senhora da Achiropita no bairro da Bela Vista (Bixiga). Das festas citadas, as mais antigas são as de Casaluce e São Vito, esta última a única que desde sua criação não sofreu interrupção prolongada.
Portanto, parece adequado fixar nossa sondagem sobre a Festa de São Vito, promovida pela Associação Beneficente São Vito Mártir. Além de ser a mais antiga, foi a única a restituir sua independência da Igreja para sua realização, a primeira a ser introduzida no calendário de eventos