Andy Warhol & Pop Arte

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| School of Arquitectura - Tecnical University of Lisbon | |DaA | 2ºSemester | 2008.2009 | |History of Art and Design | “Andy Warhol and Pop Art” | Graphic Design made by Ângela Miguel |


INDEX

Introduction - 4 IntroDUÇÃO

PopArte Art - 6 Pop

Social Context and the beginning of Pop Art - 7 -

English Pop Art - 8 -

American Pop Art - 9 -

Pop Arte Influences-10 -

AndyWarhol Warhol - 11 Andy

Andy Warhol and Pop Art - 12 -

Andy Warhol’s Life - 17 -

Andy Warhol’s Work - 23 -

The Factory - 31 -

Warhol’s Contribution Design - 36 Contributo de Warhol nainárea do Design Conclusion - 40 Conclusão

Bibliografy -42 Bibliografia

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Introduction Introdução


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Warhol, através da exploração da produção em série, e da repetição, utiliza a arte, a moda e a publicidade, como os seus meios de afirmação nesta cultura urbana, que ficara conhecida como Pop, muito mediática e de certo modo muito pragmática, onde se verifica uma fusão entre cultura erudita e cultura popular. E é na Factory que tomam lugar todos estes acontecimentos que transformariam o romântico atelier artístico, no espaço contemporâneo e de grande revelação social, resultado daqueles que por aí passaram. Os seus projectos todos totalmente diferentes e muito livres, associavam anónimos e famosos, e as suas produções, foram relevantes do star system, aproximando glamour social e subcultura de rua. Neste trabalho pretendemos não só traçar a importância de Andy Warhol na Pop Arte, mas nas artes em geral, e nas décadas vindouras. Destacando o seu contributo na área que estudamos, o design, quer na sua faceta mais gráfica, quer nos princípios de um design industrial.

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IntroduCTION

ndy Warhol, na segunda metade do século XX, destaca-se como o artista que revolucionou o mundo das artes. Utilizando os ícones e imagens do período em que viveu, face a uma sociedade massificada, onde o indivíduo perdia a sua voz. E são os seus ícones que vêm desconstruir todas as pretensões simbólicas que a arte sentia-se no dever de transmitir, ou qualquer pretensão que tentassem anexar aos seus próprios trabalhos, passando estes a funcionar apenas como valores de troca e uso, como o é a moeda. É a arte de Warhol que conseguirá representar representando-se, pois vem dar voz à realidade das imagens que se visualizavam a toda a hora, no contexto de uma sociedade massificada, e de uma cultura popular, permitindo que essas mesmas imagens passassem a ser aceites e valorizadas do ponto de vista estético.


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POP ART POP ARTE


Foi na década de 1920, que a superprodução americana atingiu proporções tão descontroladas que saturou todo o mercado. O consumo, porém, não conseguiu acompanhar esta excessiva produção, dando assim origem ao Crash de Wall Street em Outubro de 1929. Este acontecimento não afectou só os E.U.A., pois houve também consequências drásticas por todo o mundo, tornando-se num ponto de viragem de várias sociedades. Em 1939, o mundo foi novamente abalado pela Segunda Guerra-Mundial, durante seis anos, deixando novamente fortes marcas a nível global. Após a recuperação económica e social, segue-se um período de prosperidade ascendente, na qual a Arte Pop dá os seus primeiros passos. Desenvolveram-se vários tipos de tecnologias associadas à comunicação massiva, a fotografia, a banda desenhada, o entretenimento popular, através da televisão, jornais, telefone e cinema; O consumo alastra-se principalmente a tudo o que facilitaria os modos de vida como a comida préfeita, aparelhos eléctricos domésticos ganhando tudo voz por meio de imagens chamativas. Uma sociedade que encontrava finalmente o seu conforto, e onde até a natalidade aumentava, levando assim, este período, ao auge económico e social. A Pop é o culminar das vanguardas do início do século, do frenesim social, do consumismo, do conforto e da Comunicação. Todas estas condições vieram romper com as rígidas convenções artísticas estabelecidas na pintura europeia; o que acabou por caracterizar e se tornar a força do movimento. Todas as novas tecnologias do séc. XX permitiram que fossem quebradas mais barreiras usando como base a Comunicação massiva, associada a uma economia capitalista. No seu início foi conduzida como o reflexo da sociedade materialista, saturada com imagens dela mesma, e reflexo da sua própria superficialidade, onde o seu rigoroso design era assumidamente uma potência enquanto agente de comunicação. A pintura Pop expressava-se através do

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Social Contexte and the beginning of pop Art

Pop é o sinal da sociedade contemporânea”

uso de imagens de uma cultura popular, usando como suporte todas as tecnologias de comunicação massiva, criadas até então, juntamente com o erotismo das estrelas de Hollywood, como meio de crítica social não propositada. Inicialmente as imagens recicladas utilizadas, como as dos livros de banda desenhada e capas de revistas populares, não eram consideradas pinturas acabadas, mas sim rascunhos para referências a outras obras. Resultando a Pop numa arte provocatória, desacreditada e criticada por não possuir uma mensagem ideológica, mas antes assumir as imagens directas e acessíveis à cultura de massas. Resultando daqui a sua popularidade. O nome que designa esta arte começou por ser utilizado em Inglaterra, onde surgiram os primeiros trabalhos já definidos como arte popular, transitória, substituível, barata, produzida em massa, jovem, divertida, sensual, glamourosa e bom negócio.


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Algumas das características essenciais que distinguem o Pop inglês é a escolha do material, o compromisso de declarar uma posição face à sociedade e a vertente narrativa. Era também frequente a utilização de imagens dos actores e actrizes de Hollywood, as estrelas em ascensão do rock’n’roll, música pop e outros entretenimentos massivos como o wrestling. Durante a década de 50 Hamilton, Paolozzi e Blake tinham começado a direccionar as intenções desta arte na Grã-Bretanha; apesar de ter uma função decorativa, era maioritariamente usada como meio crítico da sociedade. Tanto nos E.U.A. como em Inglaterra, nota-se, e mais evidentemente entre 1962-63, um consenso geral, espontâneo, nesta forma de arte. Vitória de Samutrácia, Yves Klein, 1962

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English Pop Art

sta vertente Pop nasceu numa pequena e privada associação de artistas, arquitectos, históricos e críticos que se conheceram entre 1952 e 1955 no Independent Group at the Institute of Contemporary Arts (ICA), em Londres. Entre estes artistas, notam-se quatro que viriam a tornar-se figuras de referência no Pop britânico, Richard Hamilton, considerado por muitos, o pioneiro da área, Peter Blake, David Hockney e Eduardo Paolozzi. Cada um destes artistas era muito individual, preferindo estabelecer uma identidade distinta e individual ao trabalhar em grupo.


James Dean, Ray Jonhson, 1957

Pop americana surgiu em Nova Iorque no início da década de 60, nos estúdios de vários artistas americanos. Entre 1960-61, os artistas da Pop trabalhavam isoladamente, mas a partir de 1962, quando começaram a expor juntos, as influências culminaram num propósito comum mais evidente. No seu aparecimento foi considerada um desafio ao Expressionismo Abstracto, expressão artística que vigorava antecedente à arte Pop, embora tenha sido considerada (O Expressionismo Abstracto) ponto de viragem das anteriores expressões artísticas para esta nova expressão, resultando numa continuidade de um movimento para o seguinte. É caracterizada por uma vertente muito menos crítica e mais livre, em comparação à inglesa, optando por uma composição centrada com cores isoladas limitadas por fortes contornos. Há uma predominância do mecanismo nas técnicas, não implicando necessariamente o uso da mão do artista em toda a sua execução, facilitando o processo de produção em série, que entrava na prática desta arte, e aprofundando as áreas de gosto kitsch e popular, anteriormente consideradas fora dos limites da arte convencional. Na escultura havia a representação de objectos familiares, preferencialmente iniciadas por meio de técnicas industriais e só depois o processo artístico que envolvia a manipulação da forma à mão.

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American pop Art

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Mosaikbild 5x4/La Doré, Peter Phillips, 1975

Arte Pop tem inúmeras influências a nível da pintura que podem remeter-nos ao final do séc.XIX, início do séc. XX. Ter como tema as circunstâncias da vida contemporânea pode ser remetido para Courbet, os realistas, e suas experiências, mas desta vez com recurso à arte figurativa. A Fotografia de arquivo usada como suporte e influência na pintura já havia sido utilizada por outros pintores anteriores, como Degas entre outros. E, como já vimos, são as pinturas Expressionistas Abstractas que farão o ponto de viragem aos artistas Pop americanos, uma vez servir de fôlego aos movimentos figurativos. A Pop foi a primeira expressão artística desenvolvida, desde o Dadaísmo e o Surrealismo, enquanto arte representativa após este império da absctração. Ultrapassava finalmente as associações convencionais da pintura europeia, do início do século, e sua crença no valor da espiritualidade e identidade individual. Passa a centrar-se nos temas da cultura popular moda, banda desenhada, marcas comerciais, personalidades famosas,…

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Pop Art Influences

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ANDY WARHOL ANDY WARHOL


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ndy Warhol é o primeiro artista a compreender que nesta cultura de massas sem fundamento nem propósitos, baseada na instabilidade e na efemeridade da velocidade das imagens, tanto valiam umas como outras, ou uma pessoa como outra no seu lugar, já que não apreendiam qualquer outro significado, que não o da própria imagem. É o primeiro artista a compreender a impotência de todas as atitudes culturais até então, e a antecipar a perda de identidade na arte, a qual, perante todo este processo factual, não tinha já razão de existir.

Recusa a sua condição de pintor ou escultor, e passa a assumir-se como produtor de imagens, pop e “publicitárias”, sem qualquer conceptualização, idealização, ou moralismos, mas apenas o passivo registo do que existe, afirmando-se ainda como “máquina” de registo sonoro e visual, fosse fotográfica, serigráfica, fílmica ou televisiva, exaltando, à semelhança das sociedades de consumo, não o significado do produto, mas as suas

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Large Coca-Cola, Andy Warhol 1962

Andy Warhol and Pop Art

Perante a sociedade massificada dos anos 60, a função de antecipação e moralização que a cultura e a arte desenvolviam, entrava em crise, e com ela, o fim das vanguardas modernistas do começo do século, cuja necessidade de existirem era exactamente a sua atitude crítica face à realidade. Com esta crise, começaram a nascer as visões efémeras na arte, que se baseavam na precariedade, resultando nas criações velozes e nas reacções provisórias, pondo em voga o processo artístico em si, deixando de lado o valor do produto final, que por vezes era mesmo inexistente. Estas levavam exactamente à exaltação da instabilidade da realidade e ao consumo das imagens, sem interpretação das mesmas, tanto pela desvalorização a que foram submetidas, como à velocidade galopante a que apareciam e desapareciam. Não era possível regressar às perspectivas moralistas da arte empenhada e utópica, ideológica e representativa. A única possibilidade e caminho para a arte agora, era adoptar um ponto de vista estranho aos valores propositivos e positivos. Além disso, Warhol apercebe-se da insuficiência de todas as soluções tradicionais, da pintura e escultura, e do quanto artificiais podem ser, através do seu carácter ilusório e simulacro, decidindo voltar o seu trabalho para as imagens e ícones desta cultura popular, que se faz sentir.


estratégias de venda e promoção. Consistindo assim a obra do autor na busca do consenso, da adesão, da promoção e do próprio poder.

Esta sociedade compreende a inutilidade do artista, e acaba por assentar aqui, os propósitos desta Arte Pop, pois se o artista é o “espelho” da sociedade, e a sua obra a evidência da mesma, o artista deve exaltar exactamente essa mesma falta de significado e superficialidade de tudo que o rodeia, sendo os objectos e ícones banais do quotidiano, como o é a garrafa de Coca-cola, ou a cara mediatizada extraída do star system, de Marilyn Monroe. E é Andy Warhol que vem provar no seu trabalho que esta superficialidade e inutilidade da cultura e da arte não são um ponto fraco da mesma, mas antes a força que torna inútil a representação ideológica. O Processo criativo de Warhol, passa a ser um processo “acriativo”, e a representação deixa de ser uma representação moralista, sem, no fundo, abandonar uma atitude reflexiva perante o real. Warhol não confere uma legitimação crítica à arte; limita-se a reflectir na sua irrealidade e inutilidade, a dimensão irreal e insignificante da sociedade contemporânea.¹ Pois a arte e a cultura, se têm algo a dizer não devem apresentar a negatividade ao que se têm de opor, nem devem apresentar-se como valor absoluto, nem poder em si mesma. A utilidade da arte reside exactamente

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Marylin, Andy Warhol, 1967

Andy Warhol and Pop Art

Enquanto artista já não aceita a documentação da realidade objectiva, numa relação estática entre a imagem e o mundo, qualquer que fosse, e por mais dinâmica que fosse a sua execução, como nos anos 50 com Jackson Pollock ou Francis Bacon, mas antes centrar-se na sua condição dinâmica, fluida, rápida e multíplice. Não é, por isto, o trabalho de Warhol, o resultado de uma análise concreta do real nem o produto de uma campanha publicitária, é antes algo entre ambas. As suas imagens deslocam-se num contexto dinâmico, produzidas em sequência fílmica e em tiragens ilimitadas, sem se fixar num só objecto original e único, como acontecia na pintura, mas multiplicando-as. Não são a declaração de um sem número de intenções que pretendem mudar o mundo, apenas registá-lo e aceitá-lo sem tentativa de o modificar como era típico das manifestações modernistas. Quase numa atitude idêntica aos realistas do século seu anterior. Não retira nem acrescenta nada à realidade, assumindo Warhol a atitude quase apática da sociedade massificada, que não acredita nem se ocupa do significado das coisas, mas antes do poder do insignificante e da exaltação da imagem da contemporaneidade.


“A razão que me leva a pintar deste modo é eu querer ser uma máquina e sinto que tudo o que faço, e que faço como uma máquina, é o que eu quero fazer.”4 A identificação com a máquina passa a ser um modo de estar, e Warhol identifica-se com todos os aparelhos de captação de som e imagem, bem como sua reprodução e repetição. E tendo estes aparelhos maior liberdade de circulação do que a pessoa, o artista passa a querer que o mesmo seja a extensão de si, ou mesmo a própria identidade, para que possa utilizar a sua liberdade, e possa circular o máximo possível, e captar o máximo possível, e estar o máximo possível. Para além da lentidão do ser humano ao lado do movimento e dinamismo do mundo que o rodeia, e a própria possibilidade de repetição de tudo o que é objecto produzido, resultando daqui a obsessão de Warhol com a repetição dos ícones que cria, e que se deixara absorver, e até mesmo da repetição da sua própria imagem e dos retratos que produziu. Recusa além de mais a arte como única linguagem “elevada” elevando toda uma série de out-

Flores, Andy Warhol, 1963

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Andy Warhol and Pop Art

na possibilidade de participação no processo de desrealização do real, para o corrigir. Warhol consegue sublinhar uma realidade que está absolutamente esgotada, não denotando coisa alguma. Participa da sua des-significação.² É importante sublinhar não ser esta atitude artística a ausência da imaginação do artista, pelo contrário, passa, a imagem produzida por Warhol, a ser indistinguível do real, e vendo esta obra nos dias de hoje, compreendemos ser a representação do real que comporta todo um legado de imaginação. “Não penso que em alguns dos meus quadros, esteja a representar os principais sex symbols do nosso tempo, como por exemplo Marylin Monroe ou Liz Taylor. Aos meus olhos, a Marylin é uma pessoa como tantas outras”.³ E é nisto que reside a atitude imaginativa da obra de Warhol e todos os que o seguiram. Destituindo a arte de imaginação sobre o real, assumindo a representação do vazio, da dignidade do representado, fosse a lata Campbell ou o retrato de um ícone cinematográfico, que conduz a arte para a dimensão decorativa e propagandística, que possa acompanhar a sociedade, e a sua própria velocidade, através da densificação da imagem, que vai atribular a identidade individual, vai repeti-la, tornando-a muito presente, mas muito comercial.


O ponto máximo desta artificialidade artística é possível, e torna-se possível na Factory, onde Warhol atinge o ponto máximo da própria desumanização. É neste espaço que Andy Warhol pode transformar-se no instrumento que produz as suas imagens, convertendo-se na Fábrica das mesmas, não se limitando a executar o trabalho, e na repetição do mesmo, mas consegue incutir ao seu trabalho a capacidade de se adequar à “moda”, podendo surgir daqui um negócio, e podendo surgir do trabalho que dá dinheiro, a arte, e ser a própria arte. “A arte comercial é o passo seguinte da Arte. Comecei como artista comercial e quero acabar como artista de negócios. Depois de ter feito aquilo a que chamam “arte”, ou como lhe queiram chamar, dediquei-me à arte comercial. Queria ser um Art Businessman ou então

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Andy Warhol and Pop Art

E é a partir de 1963 que Warhol começa a intervir artisticamente numa dimensão pública e publicitária, possível com o advento da Pop art, que vinha exactamente elevar outras linguagens ao estatuto de arte, permitindo todas as soluções em torno da forma, da cor, do corte e montagem, da matéria, da narrativa, fosse através do cinema, televisão, desenho, serigrafia, música, design, publicidade ou fotografia. O artista é igualmente elevado, deixando de ser o romântico rebelde que se revolta contra a massificação e quer à força fazerse ouvir, mas deixa-se exactamente ir com esta mesma sociedade, diluindo-se, e conseguindo assim ser escutado, por se adequar com a sociedade; deixa de ser o falhanço, para ser a cara do sucesso. Isto é possível pois ao descobrirem o limiar da passagem entre arte e comércio, porque tudo, nesta sociedade capitalista da qual resulta a sociedade massificada e a cultura popularizada, passa pela oferta e procura. E assim sendo, tudo está ligado a este facto, consequentemente, a arte está indiscutivelmente ligada a quem procura, a quem oferece, e por isso mesmo, destinada a tornar-se comércio também. E se tudo está ligado ao comércio e à necessidade de responder à própria procura e ao que é procurado, então, tudo é fabricável, e tudo é por isso mesmo artificial, mesmo a arte, que é consequentemente influenciada por esta popularização.

Triplo Elvis, Andy Warhol, 1963

ras linguagens (moda, cinema, publicidade, imprensa), e conjuga-as quase num híbrido de linguagens que resultem em arte ou a alguma outra expressão que lhe possa ser equiparada enquanto valor de informação.


Para evitar que uma linguagem se tornasse superior a outra, Andy Warhol viu ser necessário conferir alguma dignidade ao mau gosto, uma vez tratar-se de uma arte dirigida ao público, e acima de tudo, a uma cultura popularizada, mas também teve de ajustar-se às pressões industriais e publicitárias, aos “pré-conceitos” da moda, e a toda a lógica a que o mercado está submetido, o que não deixa de trazer mais algum valor à sua obra. É neste ponto que se compreende a contribuição radical e irreverente do artista ao ter anunciado a crise das posições artísticas alternativas face ao mundo dominado pela economia e pelo consumo, sendo o primeiro a aceitar a cumplicidade entre economia e arte. Retirando a arte dos pequenos grupos contestatários das vanguardas modernistas, ou dos indivíduos que praticavam a arte sem se preocuparem com um produto final observável e de entendimento comum. Andy Warhol não. Executa uma arte para vender, para um público comum, que pode não saber ler, ou não é um grande empresário, mas todos beberão Coca-Cola, seja ele, o presidente, ou o mendigo, e todos eles apreciaram da mesma forma, e assim a arte chega a todos.

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Andy Warhol and Pop Art

um Business Artist. Ter sucesso nos negócios é o género de arte mais fascinante. Durante a época hippy, as pessoas deitaram borda fora a ideia de “fazer dinheiro” diziam “o dinheiro é uma coisa feia” e “trabalhar é feio”, mas fazer dinheiro é arte, e trabalhar é arte e um bom negócio é a melhor das artes”.5 Recuperando o ideal das Artes e Ofícios, que teorizava o trabalho como a verdade que renovaria a sociedade, Warhol coloca o trabalho como importante processo de arte despindo-a da idealização de trazer a verdade à sociedade, mas transpondo-a para uma sociedade capitalista, onde fazer dinheiro é a arte suprema. E claro que a ideia de através do trabalho se fazer dinheiro, ser o trabalho a forma de produzir arte, e repetir a arte em série, quase de forma industrializada, dando resposta à procura, democratiza a ideia, e populariza-se, ajustando-se tão bem à cultura massificada e popular, num contexto muito particular americano, capitalista e consumista dos anos 60. Desactualiza toda a discussão possível entre artístico e útil, útil e inútil, arte e economia, porque ao conjugá-las, estas aprendem a viver em simultâneo sem se anularem.


E

m 1928 Alexander Fleming descobre a penicilina e em que Herbert Hoover é eleito presidente dos Estados Unidos da América. Na família de Andrej e Júlia Warhola, casados em 1909, naturais da Checoslováquia e recentemente chegados aos EUA, fixados na área da cidade de Pittsburgo, Pensilvânea, denominada Oakland, nasce o terceiro filho Andrew Warhola, que mais tarde virá a ser conhecido por Andy Warhol. Anos mais tarde, em 1934 e 1935, Warhol demonstra os primeiros sinais de coleccionador que será durante toda a sua vida, começando pela de fotografias autografadas de estrelas de cinema, sendo a primeira a de Shirley Temple, seguida das de Mickey Rooney e Freddie Bartholomew. Por volta da mesma altura começa os seus estudos na Escola Básica Holmes, onde ingressou directamente no segundo ano, passou do quarto para o sexto, tendo aí permanecido até ao oitavo ano. Aos oito anos, no seguimento de um esgotamento nervoso, que o obriga a um mês de cama, verifica-se a ocupação do seu tempo colorindo e cortando desenhos, criando bonecos em papel e ouvindo histórias, lidas pela família, de tiras de banda desenhada de Dick Tracy. Episódio que desencadearia a sua paixão por banda desenhada, e artes. Na sua adolescência desenvolveu gosto pelo desenho, pintura, literatura, essencialmente de revistas e de bandas desenhadas. Começou a ouvir rádio, após a família ter adquirido tal aparelho em 1939, um dos aparelhos comuns da sociedade massificada, antes da televisão que aparecera em 1935 na Alemanha, popularizando-se, e chegando a 87% da população americana em 1962. Os primeiros sinais de interesse pela fotografia apareceram quando tirou a primeira fotografia numa cabine fotográfica em 1941. No mesmo ano em que frequenta um programa de apreciação e formação em arte no Instituto Tecnológico de Carnegie em Pittsburgo, 1942, o seu pai morre após meses de doença. Em 1945 completa o ensino secundário na Escola Secundária Schenley, e mais tarde no mesmo ano inicia a sua licenciatura em Design gráfico. Arranja um emprego em part-time apresentando aulas de arte no Irene Kaufman Settlement e durante os Verões trabalha como designer de montras para os armazéns Joseph Horne. No percorrer da sua vida académica desenvolve experiências com a técnica “blotted-line”, que mais tarde vem a ser uma das suas imagens de marca. Em 1947 ganha o prémio Mrs. John L. Porter, devido aos progressos que alcançou, e trabalha como editor artístico numa revista estudantil.

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Andy Warhol’s Life

Foto autografada de Shirley Themple

Andrew Warhola em criança com a mae


Em Junho de 1949 completa o ensino superior, e muda-se para Nova Iorque, onde vai partilhar alojamento com um colega e amigo. Começa de imediato a procurar emprego como artista comercial, carregando exemplos dos seus trabalhos para directores artísticos da cidade, e é então que conhece o director da revista Glamour e é contratado para ilustrar um artigo de Katherine Sonntag, designado “Sucesso é um emprego em Nova Iorque”. Durante a sua carreira como artista comercial, Warhol viria a trabalhar para conhecidas revistas como Vogue, Seventeen, The New Yorker, Harper’s Bazaar, Tiffany & Co., Bergdorf Goodman, Bonwit Teller e I. Miller. Os seus trabalhos incluíram publicidade, design de montras, capas de livros e discos, e outros tipos de trabalho comercial. É também por volta desta altura que passa a utilizar o nome “Warhol” em vez de “Warhola”. Após conhecer uma fotografia de Truman Capote no livro do mesmo, Other Voices, Other Rooms, fica encantado com o autor e pouco tempo depois de chegar a Nova Iorque, Warhol começa a enviar repetidas cartas e a telefonar incessantemente para o escritor, até que a mãe deste lhe pede para parar. Começando aqui a notar-se o seu entusiasmo por protagonistas do Star system. No início dos anos 50 muda de casa para um apartamento que partilha com inúmeros artistas, bailarinos e escritores, mas por um curto período de tempo. Muda-se em seguida para um apartamento com a mãe. Morará com a mesma cerca de 20 anos até esta se mudar de novo para Pittsburgo por razões de saúde. É também no início dos anos 50 que pela primeira vez contrata um agente, Fritzie Miller, e que compra a sua primeira televisão.

Muda de novo de casa para a avenida Lexington , em 1953, e juntamente com “Corkie” (Ralph Thomas Ward), publica “A Is an Alphabet”, o primeiro dos vários livros promocionais. Usou imagens da revista Life como base para muitas das ilustrações e também colaborou com Ward em mais dois livros no mesmo ano, There Was Snow on the Street and Rain in the Sky e Love Is a Pink Cake. Para o final do ano juntou-se ao grupo teatral Teatro 12 e concebeu variados cenários para as suas produções mas abandona o grupo poucos meses depois. Recebe um certificado de Excelência do Instituto Americano de Artes Gráficas por um trabalho em que apresentava um excelente exemplo de impressão comercial, no ano de 1954, e no ano seguinte cria e ilustra juntamente com Ralph Pomeroy um livro baseado em contos e histórias infantis. Com a acu-

Estudo de varias fotos de cabine fotografica

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Andy Warhol’s Life

Em 1952 recebe o seu segundo prémio, atribuído pelo Clube de Directores de Arte para o melhor artista de publicidade em revistas. Consegue ainda a sua primeira exposição individual, Andy Warhol: Fifteen Drawings Based on the Writings of Truman Capote, na Hugo Gallery, Nova Iorque. É também uma das três pessoas contratadas para ilustrar Amy Vanderbilt’s Complete Book of Etiquette.


Recebe novos prémios do Clube de Directores de Arte e Instituto Americano de Artes Gráficas ao longo do ano de 1956 e cria pela primeira vez os “personality shoes” (sapatos com personalidades), colagens em folha de ouro na decoração de sapatos para capturar as personalidades de pessoas famosas. Tem também a sua primeira exposição em grupo, Recent Drawings U.S.A., no Museu de Arte Moderna em Nova Iorque. Parte em viagem pelo mundo acompanhado por Lisanby, não dispensando os seus diários gráficos, e passando por locais como Tóquio, Nova Deli, Cairo, Amesterdão, entre outros.

Em 1961 estreia-se nas páginas principais de jornais e é contratado para todas as ilustrações do livro Amy Vanderbilt’s Complete Cookbook, mas acaba por pagar ao seu amigo Ted Carey para o fazer por ele. Toma ainda conhecimento que Roy Lichtenstein tem pinturas baseadas em figuras de banda desenhada e convida o dono da galeria, onde os trabalhos estão expostos, para visitar o seu próprio estúdio e lhe apresentar as suas telas no mesmo tema. No seguimento destes seus projectos expõe trabalhos numa montra da loja Bonwit Teller. Temas como latas de sopa da Campbell’s, Desastres, Faça você mesmo, Elvis’s e Marilyn’s, preenchem o ano de 1962. Produz as suas primeiras serigrafias em tela, Baseball, Nota de um dólar, Troy Donahue, e Warren. Utiliza carimbos de borracha para obras como S & H Green Stamps e Red Airmail Stamps, e continua a fazer experiências com antigos trabalhos, o mais mecanicamente possível, conseguindo-o, por exemplo, através de moldes de impressão, da imagem da Coca-Cola, em balsa, e começa os seus ensaios das pinturas oxidadas.

No início dos anos 60, “re-desperta” o interesse de Warhol por banda desenhada e personagens tais como Batman, Dick Tracy, Nancy, Saturday’s Popeye e Super-Homem, tornando-se estes alvo de estudos em tela. Começa também os seus projectos de publicidade em pintura e escultura, que iniciariam a Pop Arte, e projecta as imagens da

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Faça você mesmo, paisagem 1963

Recebe novas condecorações por publicidade em jornais, no ano de 1957, e a publicação do A Gold Book, que consistia em desenhos a blotted-line em papel de ouro. Após os quais se submete a uma cirurgia plástica. Mais tarde começa a vender as colagens dos “personality shoes” na Serendipidy e forma o Andy Warhol Enterprises, Inc., para a criação do trabalho comercial. Este é representado por Anna Mae Wallowitch em Filadélfia e Chicago e um dos seus projectos, a capa do livro Madhouse on Washington Square, é exposto como cartaz na Times Square . No princípio do ano de 1959, compra uma moradia na mesma avenida onde morava previamente e muda-se com a mãe para a nova morada. Durante o mesmo ano tem novos projectos tais como, um livro de cozinha humorístico, com Suzie Frankfurt, Wild Raspberries, o design de papel de embrulho com carimbos artesanais com Nathan Gluck e conhece o realizador Emile de Antonio, começando assim o seu interesse pela sétima arte.

Coca-Cola. Conhece Billy Linich, também conhecido por Billy Name, que permanecerá no círculo de Warhol durante a década de 60.

Andy Warhol’s Life

mulação de trabalho e o seu desenvolvimento como artista, contrata Vito Giallo e Nathan Gluck para realizarem os trabalhos comerciais que lhe foram atribuídos. Gluck ficou também conhecido como assistente de Warhol.


Respondendo a uma necessidade de aperfeiçoamento constante, visando a aproximação à máquina, Warhol passa o princípio do ano seguinte repetindo as latas de sopa Campbell’s, desta vez a cores. Evolui nas suas técnicas cinematográficas concentrando-se e explorando temas sociais e coloquiais. É apresentado por Malanga

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Andy Warhol’s Life

Caixas, Flores, Os Mais Procurados e Auto-Retratos são centro dos quadros realizados durante o ano de 1964, apesar de começar a demonstrar uma maior dedicação ao cinema, produzindo títulos como Mario Banana, Batman Dracula, Couch, Empire, the Thirteen Most Beautiful Boys, The Thirteen Most Beautiful Women, entre outros. Em paralelo, foi chamado para realizar um projecto para o Pavilhão do Estado de Nova Iorque, no âmbito da Feira Mundial que toma lugar na mesma cidade, no qual pinta a fachada com o tema Thirteen Most Wanted Men, que fora retirado de seguida, mediante pedido de autorização, visto ser considerado o seu projecto conotado politicamente. Considerando Warhol a arte como manifestação não singular, não hesitava em utilizar fotografias de outros autores, acabando por ser processado pelo fotógrafo da imagem original que dera origem à série Flores, sendo o assunto resolvido fora dos tribunais. Na mesma altura, Warhol recebe o seu primeiro gravador.

Jacqueline Kennedy, 1963

Em 1963 aparecem as Cadeiras Eléctricas, Guerrilhas entre oficiais de segurança e civis, e após o assassinato de John F. Kennedy começa a trabalhar nas séries de retratos de Jaqueline Kennedy. Compra a sua primeira câmara de filmar de 16mm e cria os seus primeiros filmes, Sleep, Dance Movie, Eat, Haircut, entre outros. Neste ano, recebe a notícia de que terá de desocupar o seu estúdio, até então, acabando por alugar um novo espaço que ficaria conhecido como Silver Factory. Conhece Gerald Malanga, que se vai tornar o seu principal assistente no novo espaço, “Baby” Jane Holzer e Ondine, acabando todos por entrar nos filmes do artista. Ainda nesse ano conhece Jonas Mekas, director de uma cooperativa de realizadores que o ajuda a tornar públicas algumas das suas experiências cinematográficas. Substitui a cabeleira cinzenta, que utilizava desde o princípio dos anos 50, por uma em tons prateados para adaptar a sua imagem à imagem que transmitia nos seus trabalhos. Com Malanga, e outros artistas, viaja até Los Angeles para a abertura da exposição Andy Warhol na galeria Ferus, onde expõe a primeira série de Campbell’s soup.


ao realizador Paul Morrissey, o que se revelou essencial para a futura produção filmada na Factory. No mesmo local novos artistas e figuras conhecidas da sociedade juntam-se e tornam-se protagonistas dos filmes de Warhol, entre os quais se encontram Edie Segwick, sua futura e breve musa. Numa viagem a Paris, com o círculo habitual da Factory, para a abertura de uma exposição, anuncia a sua intenção em se “reformar” da pintura, para passar a dedicar-se à realização de novos filmes, e à criação de um star system em torno de Sedgwick. Ainda na companhia da sua musa, assistem à inauguração de uma retrospectiva do seu trabalho no Instituto de Arte Contemporânea da Pensilvânia. Cerca de 4000 pessoas vieram para a inauguração mas os quadros de Warhol tinham sido retirados na noite anterior por razões de segurança, antecipando a multidão.

Andy Warhol’s Life

Auto-Retrato 1964

Em 1966 começa a produzir apresentações multimédia designadas Erupting Plastic Inevetable(mais tarde designadas por Exploding), onde contracenavam Nico, actriz alemã e cantora convidada a colaborar com os Velvet Underground. Estes eventos incluíam música ao vivo, dança e monólogos, protagonizados pela banda e por outros artistas da Factory, e onde eram exibidos filmes de Warhol em simultâneo. Em Março acompanha os Velvet Underground na sua tournée por várias Universidades, e em Abril aluga The Dom, um antigo centro comunitário polaco, transformando-o em discoteca onde tomavam lugar as apresentações Exploding Plastic Inevetable. Ainda em Abril, é na galeria de Leo Castelli que Warhol cobre as paredes de uma sala com o Cow Wallpaper, pela primeira vez e enche uma segunda com as suas Silver Clouds, balões prateados cheios de hélio. No mesmo ano estreia o filme The Chelsea Girls, sendo o primeiro filme amplamente distribuído pelas salas de cinema e a receber atenção da impressa a nível nacional. Por esta mesma altura Warhol coloca um anuncio no The Village Voice em que diz que patrocinará “roupas, AC/DC, cigarros, equipamentos de som, discos de rock and roll, qualquer coisa, filmes,... amor e beijos”. Em 1967 continua a filmar e produz o primeiro álbum dos Velvet Underground, sendo capa o celebre desenho da banana com a possibilidade de ser descascada revelando o seu in

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Em Fevereiro de 68 a Factory muda de instalações para a 33 da Union Square West. A 3 de Junho Wahrol é novamente ameaçado, quando Valerie Solanas, escritora femininista, autora do manifesto S.C.U.M (Society of Cutting Up Men), entra no estúdio, espera pelo artista, e dispara contra o mesmo três vezes, ferindo-o gravemente tendo de ser submetido a uma cirurgia de várias horas. Entretanto Solanis entrega-se à polícia. Enquanto Warhol está ausente Morrissey desempenha um papel mais activo na Factory até ao seu regresso em Setembro. Como consequência do tiroteio, Warhol é novamente hospitalizado para nova cirurgia, em Março de 1969. Neste ano o primeiro número da revista Interview é publicado. Em 1971 a peça de Warhol, Pork é representada quer em Nova Iorque quer em Londres, e em 1972 além de filmar o filme Heat, volta a concentrar-se na pintura executando entre 50 a 100 retratos por ano, até à data de sua morte. É também em 72 que a sua mãe morre aos 80 anos.

Em 1973 contracena com Elizabeth Taylor no seu filme The Driver’s Seat. No ano seguinte cria a sua Escultura Invisível: monta uma série de detectores de movimento que accionam alarmes quando o espaço demarcado é violado. Volta a mudar de casa e a Factory instala-se na 860 da Broadway. Em 1976 começa a desenhar caveiras – uma tentativa de lidar com a morte da mãe. No final dos anos 70 trabalha em imagens de atletas, martelos, troncos humanos, oxidações, sombras e também investe o seu tempo em retrospectivas e ensaios. No princípio dos anos 80 continua as suas viagens, e trabalha em retratos de judeus e outros temas, com a nova assistência de Jay Shriver. Em 1983 desenha o poster oficial para o centenário da ponte de Brooklyn, e dois anos depois cria uma nova Escultura Invisível, desta vez subindo para um pedestal e abandonando-o após breves momentos, à semelhança das expressões artísticas do Happening. Os seus últimos quadros tiveram temas variados de que destacamos as camuflagens, autoretratos e a série Beethoven’s. Em 1986 é criado um programa de televisão com o seu nome, exibido na MTV, onde aparecia periodicamente. Um ano mais tarde começa a trabalhar em projectos para a Televisão Americana, entretanto tem de recorrer a cirurgia, que leva à sua morte em 22 de Fevereiro na sua sequência. O funeral realiza-se em Pittsburgo, onde está sepultado.

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terior. Com Paul Morrissey, Malanga entre outros vai ao festival de Cannes onde esperava exibir o seu filme The Chelsea Girls mas não recebe convite oficial para o apresentar. Em Outubro Warhol é contratado para dar uma série de palestras em várias faculdades, sentindo-se pouco confortável a falar perante audiências, leva consigo alguns dos actores da Factory que mais tarde o substituem nas mesmas. É também em 67, que um homem armado entra na Factory e ameaça Warhol e os amigos. A arma não funciona quando o desconhecido tenta dispará-la contra a cabeça de Morrissey já funcionando quando dispara contra a parede, e consegue fugir.

É criada a fundação Andy Warhol para apoiar organizações culturais que trabalham na área das artes plásticas. No ano seguinte à sua morte, mais de 10.000 objectos são leiloados para financiar a fundação.

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A

o pensarmos em Andy Warhol, associamos o seu nome a obras como o retrato de Marilyn Monroe, uma obra onde todo o glamour e fascínio pela Super Estrelas, como o artista as designava, está presente. Ou á lata de sopa Campbell que Warhol perpetuou na história com o desejo de representar os objectos que melhor conhecia. Embora estas sejam as obras que mais facilmente associamos a este artista que revolucionou a arte, não foi somente a estas experiências que se dedicou.

Andy Warhol começou no campo da ilustração onde em 1949 fez o seu primeiro trabalho para a revista de moda Glamour, executando a ilustração do artigo Success Job in New York. Nestes seus primeiros trabalhos identifica-se a técnica blotted-line, técnica começada quando era ainda um estudante universitário no Carnegie Institute of Technology. Esta técnica consistia em desenhar primeiramente num papel não absorvente sobre o qual seguidamente punha um segundo papel, este bastante absorvente e comprimia-os. Deste modo o desenho adquiria linhas suaves, pontos e algumas linhas quebradas. Apesar de ser um método relativamente primário resultava bastante bem neste tipo de trabalhos, quase numa serigrafia primitiva. Além de fazer trabalhos para revistas, Warhol nos anos 50 foi convidado para ilustrar vários livros. Em 1953 foi publicado A is an Alphabet com o grafismo de Warhol. Para este livro, usou como fonte imagens da revista Life. Começando desde cedo a demonstrar a crença na arte como podendo ser feita por outros, já que utilizava ideias e imagens que não haviam sido criadas por ele, por exemplo recorrendo a imagens e fotografias de arquivo. Um ano mais tarde, Warhol fez um dos seus trabalhos mais conhecido no mundo da ilustração,

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Gato Sam 1953

Andy Warhol’s Work

O artista eclético fez soar o seu nome em todos os campos artísticos. Na pintura aliou as novas tecnologias, na literatura escreveu best-sellers fora das convenções normais e na sétima arte assumiu o tempo real. Á qual se dedicou bastante, abandonando mesmo, em certa altura da sua vida, qualquer outro tipo de criatividade artística, para se dedicar por completo ao cinema.


o seu amigo Charles Lisanby pede-lhe que ilustre Twenty five cats name Sam and One blue Pussy. Novamente Warhol usa a técnica blotted-line e pinta os gatos com aguarelas de cores vibrantes. A letra florida que decora os seus trabalhos e os assina, presente neste trabalho e em muitos do início da sua carreira, não é dele, mas sim da sua mãe que fazia a caligrafia dos seus trabalhos. Por vezes cometia erros ortográficos, mas Warhol que embraçava sempre os erros que ocorriam em todos os seus trabalhos, não os corrigia.

A la recherche du shoe perdu

Em 1955 ilustra sapatos de luxo em A la Recherche du Shoe Perdu e também em publicidade para I. Miller. Para a campanha de Miller, o artista não se limita a desenhos, mas também cria modelos 3D de sapatos em madeira, que se encontravam pintados á mão com um traçado parecido com o da sua actual técnica. Ainda na temática dos sapatos Warhol cria Personality Shoes onde desenvolve sapatos que capturam a essência de personalidades famosas.

Afastando-se gradualmente do mundo da ilustração, Andy Warhol começa a criar telas de personagens de desenhos animados, sendo alguns dos seus trabalhos deste género reconhecidos e expostos como plano de fundo na montra da loja Bonwit Teller, em Nova Iorque. Em 1962 já com posses monetárias bastante razoáveis graças ao seu sucesso no campo da ilustração, Warhol pôde explorar outros campos. As influências Dada eram frequentemente citadas, por ele, como fundamentais. As claras ideias de fábrica, de produção de imagens por meios mecânicos, tentando intervir o mínimo possível, resultando em ideias que vinham questionar o papel tradicional do artista. Warhol estava essencialmente interessado em métodos e meios. Como ele próprio afirmava várias vezes, o que pretendia era ser “uma máquina”. E essa sua vontade está bastante visível nas obras dos anos 60, 70 e 80.

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Andy Warhol’s Work

O segundo trabalho de ilustração mais conhecido de Warhol é Wild Raspberries, um livro de cozinha dotado de um misto de comédia escrito por Suzie Frankfurt. Novamente o artista usa a técnica blotted-line, colorindo os seus desenhos com aguarelas e caligrafia da mãe. Para o preenchimento a cor destes desenhos, Warhol organizava as coloring parties, nas quais juntava amigos e conhecidos onde cada um estava encarregue de uma cor.


Deste modo, em 1962 Andy Warhol criou muitas das obras que perpetuaram o seu nome na História da Arte. Começou a executar séries de imagens, tendo como base um só objecto, uma produção artística em massa com meios mecânicos para uma sociedade massificada. Desta forma muitos o distinguem como um grande pintor da Pop Art, expressão artística que veio denunciar a nova sociedade que se enraizava cada vez mais nos Estados Unidos. Uma sociedade consumista onde tudo era acessível e onde a necessidade de consumo nunca estava saciada. A esta ligação á Pop Art, Andy Warhol respondia, “Se querem saber mais coisas sobre Andy Warhol, basta olharem para a superfície das minhas pinturas e de mim. É aí que eu estou. Não há nada por detrás disso”.6 Fez a sua primeira série de trinta e duas latas de Campbell’s Soup, representando todas as variedades de sopa na altura disponíveis. Apesar de cada uma ter sido pintada individualmente e á mão com tinta acrílica, todas tinham o mesmo contorno base de um simples traço a lápis. No final do mesmo ano, Warhol já produzia a imagem da Campbell através de serigrafia, um processo de impressão, do qual Warhol será um grande adepto, bem como vários artistas da Pop Art, na qual a tinta é espalhada devido à pressão de um bastidor de aço. Este método seria executado numa tela devidamente preparada, processo do qual resulta uma gravura. A repetição destas latas de sopa, e de todos os objectos que Warhol faz questão de repetir, pode ser vista como uma maneira de focalizar a atenção das pessoas, ao experimentar, literalmente, a sensação de choque numa sociedade em que o indivíduo se tornou insensível à mesma, mas sem revelar intenção nesta consequência. Demonstrando que o aborrecimento é intrínseco à experiência contemporânea de forma a abstrair o conteúdo da imagem.

Latas de Sopa Campbell, 1962

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Uma das últimas obras totalmente feitas á mão por Warhol, foram os quadros Faça Você mesmo onde o artista primeiramente pintou a acrílico o contorno das formas, e depois partiu para o preenchimento e numeração destas, não sendo estes quadros concluídos propositadamente, de modo a que as pessoas identificassem a inspiração nos livros usados pelas crianças. Cada cor era associada a um número e cada espaço vazio que contivesse esse número devia ser pintado com a cor correspondente. Esta série é uma crítica a toda a predefinição de originalidade e criatividade. Porque se todos podem fazer uma obra de arte simplesmente pintando os espaços conforme as regras impostas, o que é que um artista faz de diferente? Onde está o significado, se simplesmente temos de seguir os números?


Dos primeiros trabalhos feitos a serigrafia, destacam-se os vários retratos de Marilyn Monroe, a actriz que na altura exemplificava a verdadeira vivência da fábrica dos sonhos de Hollywood, falecida em 1962, e nos meses seguintes à sua morte Warhol fez os retratos de Monroe. Deste modo, Warhol explorou os dois temas principais que mais gostava, o culto às estrelas e a morte. Como base utilizou a fotografia de Gene Kornman para a publicidade do filme Niagara. Warhol utilizando cores diferentes dava conotações distintas em relação à fotografia, conseguindo transformar a mesma pessoa variadas vezes. Com o mesmo processo e no mesmo ano, Warhol fez o retrato de Elvis, mas este de corpo inteiro. Pondo em voga a sociedade de massas e tentando produzir uma arte consumista apelativa, que cumprisse a sua função de mercado e que respondesse de uma forma eficaz à procura, Andy Warhol fez uma série dedicada á bebida que todos bebiam, a Coca-Cola. O que

No mesmo ano em que criou todas estas obras que mudaram a imagem do artista, Warhol criou a série de Desastres, um conjunto de foto-serigrafias feitas a partir de fotografias tiradas de agências de notícias onde o tema era, como o próprio nome indica, desastres. Desta forma Warhol estava a abrir caminho para a incorporação de métodos tecnológicos na arte ainda muito erudita. A aparência descuidada de algumas destas obras nunca foi de facto premeditada, mas era a componente mais importante do processo, este diálogo entre o erro do artista e a perfeição da máquina produzia uma verdadeira tensão na tela. Após a foto-serigrafia estar completa, uma característica muito comum de Warhol era usar a pintura manual sobre alguns detalhes que gostasse de realçar ou disfarçar. Esta série mostra um dos temas que muito fascinava Warhol, a morte.

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Coca-Cola, 1962

é fantástico, disse ele, neste país é que foi a América que começou a tradição em que os consumidores mais ricos compram essencialmente as mesmas coisas que os mais pobres. Podemos ver um anúncio de Coca-Cola na televisão e sabemos que o Presidente bebe CocaCola. Liz Taylor bebe Coca-Cola e todos nós podemos beber. Uma Coca-Cola é uma Coca-Cola e nenhuma grande fortuna nos pode dar uma que seja melhor que a que o vagabundo da esquina está a beber. Todas as Coca-Cola são iguais e são boas. Liz Taylor sabe-o o Presidente sabe-o, o vagabundo sabe-o, e nós também o sabemos.7 Da mesma forma que fez a série das garrafas de Coca-Cola, Warhol fez também serigrafias das notas de dólar. As mais comuns foram as de um dólar e as de dois dólares.

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Em 63 Andy Warhol começou a utilizar imagens de cadeiras eléctricas. Este tema remete às duas últimas execuções de penas de morte em Nova Iorque. Ao longo da década de 60 o artista voltou repetidamente a este mesmo tema devido à controvérsia política existente na América sobre esta sentença. Um ano depois Warhol começa a explorar outra fotografia que não é de sua autoria, criando a série de quadros de serigrafia Flores. Quando J.F. Kennedy morreu, Andy Warhol iniciou uma nova série de retratos relacionado com a morte, protagonizada por Jaqueline Kennedy, a recente viúva.

Na mesma altura entre 1964 e 1966 Warhol realizou retratos

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electric chair, 1964

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Após ter pintado ícones norte-americanos, tanto pessoas como objectos, Andy Warhol comprou uma câmara, de 16mm, e deu início a um período de filmagens de cinco anos. Neste período realizou mais de cem filmes, tanto curtas como longas-metragens, incluíndo uma série de filmes mudos entre 1963 e 1964, tais como Haircut; Sleep (caracterizado pela sua duração de cinco horas e vinte um minutos, mostrando o poeta John Giorno em várias posições de sono, Warhol repete secções filmadas, por meio da reprodução em loop, e acaba com uma imagem congelada); Empire (Warhol filma durante oito horas o Empire State Building, onde redefine um novo sentido de tempo, o tempo real onde a sua presença, a do Empire, é sempre marcada quer seja de dia quer seja de noite); Eat (em trinta e nove minutos o artista plástico Robert Indiana come lentamente um único cogumelo, sendo o tempo essencial e assumindo-se como personagem principal. A acção simples é repetida e exibida mais devagar pela reprodução em loop, a sua montagem foi feita desrespeitando a ordem natural de filmagem, nunca tendo assim, Indiana acabado de comer o seu cogumelo); Kiss (apresenta sequências de casais a beijarem-se, sendo o elenco os frequentes visitantes da Factory, Naomi Levine, Gerard Malanga, “Baby ” Jane Holzer e John Palmer); Blow Job (esta curta-metragem de trinta e cinco minutos reinterpreta um princípio da teoria do primeiro cinema soviético, o efeito Kuleshov, no qual as cenas cinematográficas adoptam significados diferentes dependendo da justaposição com outras imagens. Neste caso, o sentido não depende da justaposição de cena, mas do título sugestivo); Henry Geldzahler (um retrato de um dos seus primeiros partidários, a fumar um charuto); filmes sonoros como Chealsea Girls, Bufferin e Eating too Fast de 1966 e Lonesomo Cowboys de 1967. No mesmo ano Andy Warhol investe no campo da música onde produz e trata a parte gráfica do primeiro álbum dos Velvet Underground & Nico.


O artista fascinado pela imagem, a aura e a beleza das estrelas de Hollywood forçava os seus closeups, no rosto humano, de forma a exibirem tons pretos, brancos e intermédios, dotando as celebridades de uma presença quase divina. Dando assim ao espectador uma participação momentânea na vida da personagem, partilhando com o retratado todos os sentimentos que este sente perante a câmara. Warhol consegue deste modo, que o observador ganhe uma intimidade normalmente só conseguida nos grandes filmes de Hollywood, com personagens escritas por Fabricantes de Sonhos. Warhol dá ao público um tempo real com o actor, um momento prolongado, com a diminuição da velocidade da acção, tornando-a numa experiência íntima e fora do comum. E todos os visitantes e amigos que passavam pela Factory eram testados pela sua presença cinematográfica para avaliar o potencial visual da pessoa, realiza-se-lhes então um Screen Test. Em 1968 com uma mudança radical na sua vida, deixou de realizar filmes e passou a produzir os filmes do seu amigo Paul Morrissey, dos quais se destacam Flesh, Heat e Trash. Andy Warhol dedicou-se bastante ao cinema, sendo em 1965 que declara a sua intenção em “reformarse” da pintura, em prol da dedicação total à realiza

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ção. E assim o fez, apesar de continuar a gravar filmes independentes entrou em negociações com uma grande companhia de filmes de Hollywood, mas o seu projecto fora rejeitado por apresentar falta de moral. Apesar de se ter expandido a variados campos, Warhol nunca abandonou por completo o mundo comercial das revistas. No mesmo ano que declarou abandonar a pintura pelo cinema, projectou a capa para umas das mais prestigiadas revistas dos Estados Unidos, a Time, onde pela primeira vez um trabalho comercial consistia num conjunto de fotografias tiradas numa cabine fotográfica para documentos de identificação.

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filmados, estes a preto e branco e mudos, os quais designou de Screen Tests. Ultrapassaram os quinhentos e eram gravados no seu estúdio, a Factory, retratando modelos, actores, cantores, escritores, artistas plásticos, amigos e outros que desejavam ser famosos. Geralmente pedia aos retratados que se sentassem numa cadeira e que simplesmente encarassem a câmara durante três ou mais minutos. Quando os exibia mudava a velocidade, tornando-a mais lenta, o que resultava numa fluidez incomum do ritmo. Um ritmo suave que entrava em conflito com a iluminação e com as aproximações de câmara, centrando a imagem sobre os cabelos, olhos ou boca. Tal e qual como num retrato, há uma participação do modelo, reagindo ao desafio da câmara de forma nervosa, triste, ou alegre. Às mulheres bonitas, pelas quais ele se sentia encantado, pedia que pousassem mais do que uma vez, a mais lembrada, entre os filmes de Warhol, é Edie Segdwick que pousa de uma forma bastante melancólica para a 16 mm de Warhol.

Como já havíamos referido, Warhol destacou-se também no campo da literatura. Em 1964 é-lhe oferecido um gravador pela Philiphs Recording Company, mediante a condição de publicidade ao aparelho, por parte do artista. Este logo decidiu utilizar o novo aparelho para a escrita de um livro, sendo imediatamente criticado pelos seus companheiros da Factory uma vez não se tratar de uma forma de escrita, mas de gravação para futura redação. Warhol, propõe a um dos seus companheiros da Factory, Ondine, ser a


Capa de Cd, The Velvet Underground & Nico, 1967

tinha para o seu primeiro livro A, “Andy Warhol Diaries”. Na mesma década publicou mais dois livros America e The Party Book, mais dedicados à fotografia complementados com pequenos textos ditados por Warhol para o gravador misturando-os com entrevistas relacionadas com os temas fotográficos. Em 1972 Warhol retoma a pintura, dedicando-se bastante aos retratos, auto-retratos e a séries como Caveiras e Atletas. Neste retorno aos retratos verifica-se serem agora, muitos deles, encomendados, embora ainda com 100X100 cm. Simultaneamente encontra a câmara perfeita para os seus retratos, uma Polaroid Big Shot. Os seus modelos, cobria-os com uma maquilhagem branca para retirar todas as imperfeições e para que na fotografia todo o seu rosto fosse um único plano principal. Depois transferindo as fotografias para a tela, Warhol dava á escolha as cores a serem utilizadas. Pedia quase sempre a opinião a todos os presentes acerca das cores a usar, mas sendo as cores escolhidas a sua interpretação face ao próprio modelo, acabava sempre por utilizar as cores que idealizara inicialmente. Nesta fase, Warhol por vezes retocava as pinturas com o

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gravação sobre a sua vida em vinte e quatro horas, garantindo-lhe fama pessoal. Ondine vendo o seu sonho a materializar-se aceitou de imediato a proposta. Encontram-se e começam por ingerir uma dose de comprimidos, uma rotina não fora de comum na vida de Warhol. Juntos passam pela Factory, visitam casas de amigos, restaurantes, sempre com o aparelho ligado. Contudo, após doze horas Warhol, cansado, decide regressar a casa deixando a gravação a meio. Deixa assim pendente este projecto, durante dois anos, e é em Agosto de 1967 que decide repetir a maratona que realizara com Ondine. Após as vinte e quatro horas gravadas Warhol deparou-se com a necessidade de as redigir para o papel. Para o efeito pede a várias pessoas, principalmente mulheres que o façam. Entre as pessoas escolhidas por Warhol estavam, Maureens Tucker, a baterista dos Velvet Underground, a secretária do seu amigo e assistente Gerard Malanga, Susan Pile e duas raparigas que ainda estudavam o secundário, que após as suas aulas iam para a Factory ouvir horas de fita e transcrevêlas. Com esta delegação do trabalho, ocorreram vários incidentes, Tucker recusava-se a escrever qualquer palavrão, deixando assim espaços em branco no seu lugar, e uma das mães das raparigas que ainda estudava, ouviu a cassete de Warhol e deitou-a fora devido ao seu conteúdo pouco apropriado para a idade. Apesar do seu conteúdo não indicado a todas as idades com “A” Warhol conseguiu um retrato perfeito de um dia passado na Factory nos anos 60. Assim A, o seu primeiro livro, foi publicado em 1968. Posteriormente Warhol escreveu outro livro, publicado um ano antes de A, Andy Warhol’s Index, que consistia principalmente em fotografias da Factory, numa linguagem monossilábica que em A não está presente, vemos assim uma faceta muito comum em Warhol nesta publicação. Com estas publicações Warhol acreditava que o gravador poderia revolucionar o campo da literatura, assim como a máquina fotográfica revolucionou a pintura. Deste modo Warhol ligou novamente o seu eu máquina nos anos 70 numa nova tentativa de criar literatura, escrevendo nesta década The Philosophy of Andy Warhol: A to B, Back Again, POPism: The Warhol ‘60s e Andy Warhol Exposures. Nos anos oitenta Warhol escreveu o seu único best-seller, sendo no fundo o desejo que

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Escultura Invisivel 1983

Andy Warhol, em todo o seu período artístico fez auto-retratos, sendo a sua última obra um deles. Um retrato onde está presente o seu ar alucinado impiedoso e narcisicamente dilacerado devido aos sucessivos liftings e próteses. Um retrato que diz Eu não existo, camuflado, com os seus trabalhos da série Camuflagens realizados quase no final da sua vida.

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seu próprio dedo alterando-as, uma técnica que gradualmente deixou de usar. Apesar de deixar de o fazer no final da execução da obra, ainda intervinha para alterar ou realçar aspectos da fotografia. Na série de retratos de Mick Jagger, Warhol, com uma caneta, desenhava sobre acetato o contorno da figura, criando uma espécie de eco visual, ou de certas partes do rosto para os acentuar ou desviar a atenção sobre outras. Apesar de ter trabalhado muito com fotografias de sua autoria, Warhol continuou a utilizar imagens de outros autores, deste exemplo, temos o retrato de Mao, ao qual dedicou uma série inteira de retratos em serigrafia. Num retrato com tamanho bastante considerável, Warhol usava baldes de tinta nos quais enchia as suas trinchas de cor e as espalhava por toda a tela com uma enorme confiança e rapidez, chegando a acabar um destes exemplares em menos de uma hora. Nos anos 80 o seu estilo tornou-se mais simples, o fundo geralmente de uma só cor, era um regresso aos seus retratos dos anos 60, as mulheres eram representadas de uma forma glamorosa e como eternamente belas.


A

Foi na Silver Factory que Andy Warhol produziu a maior parte do seu trabalho, mesmo só a tendo ocupado a partir de 28 de Janeiro de 1964. Ainda em Setembro de 1963, Warhol recebe a notícia de que terá de desocupar o seu antigo estúdio, ano em que, para que se perceba a época que se faz sentir, os Beatles editam o seu primeiro álbum, Martin Luther King discursa o conhecido “I have a dream” e o Presidente John F. Kennedy é assassinado. No final do mesmo ano conhece o apartamento de Billy Linich e fica maravilhado com a sua decoração, e em Dezembro aluga o espaço onde se instalaria a Factory. Um loft no quarto andar de um pequeno prédio destinado a pequena indústria na 231 East Forty-seventh Street. O seu amigo, Billy Linich, ficara responsável pela decoração do novo estúdio, que a pedido de Warhol seria semelhante à sua casa, coberta de folhas de alumínio e espelhos. Devido ao tamanho da obra, Billy Linich acaba por também se mudar para o estúdio, onde até a mobília reciclada havia sido igualmente pintada a material espelhado, ficando conhecida como Silver Factory. As festas começam a tomar lugar na “fábrica prateada”, abertas ao público, a partir da primeira exibição desde o início da Factory, em 21 de Abril de 1964, que tomara lugar na Stable Gallery, com as esculturas de caixas de papelão, sendo a festa de comemoração a primeira de muitas.

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Foto na silver fabric

The Factory

arte de Warhol nutre especial identificação com a subcultura de rua, a vida urbana e a globalização a que está submetida, onde democraticamente todos são iguais, e Warhol é um qualquer. E tudo é produto, a Coca-cola, a cara de Marylin, e ele próprio é a imagem produzida para a sociedade. Aplicando o Star System a tudo, até ao seu próprio corpo. É assim que a Factory ganha forma, muito identificada com a subcultura de rua, e com o que de mais artificial possa existir na mesma.


O seu grandioso tamanho permitia a multifunção do espaço. Desde estúdio de filmagem, a atelier de pintura e escultura, e acima de tudo, espaço social e de convivência, sendo ponto de encontro de um infindável número e estilos de pessoas, que rapidamente levaram Andy Warhol a saber combinar trabalho e prazer. Ainda no ano de inauguração, e ano em que Martin Luther King recebe o seu Nobel da Paz, Dorothy Podber, uma artista de performance, dispara contra uma série de quatro serigrafias de Marylin, que se encontrava na entrada da fábrica, ficando esta série conhecida por “the Shot Marylins”. No ano seguinte, ano em que abrira a primeira discoteca de Nova Iorque, Warhol conhece Edie Sedgwick, uma de suas musas, esta passa a actuar nos seus filmes, e todo o estrelato que se forma em torno da actriz/modelo, de alguma forma caracteriza muito bem o funcionamento do star system destes anos 60 revolucionários, e atribui mais alguma fama ao mito que era Warhol, e ao mundo que era a Factory.

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The Factory

Silver Clouds


A Factory vinha permitir os projectos de Warhol, uma vez este não ver a arte como uma manifestação individual, como acontecia desde o Renascimento, e o centro artístico em que se tornou a Factory, permitia a colaboração de todos para os projectos que já mais poderiam ser concretizados singularmente, e dava asas a outro sem números de experiências colectivas. No primeiro ano de existência e graças à interligação de Warhol com os seus dois principais assistentes, Billy Linich e Gerard Malanga, gerou-se uma rica rede de associações artísticas que conseguia tocar os vários mundos, da poesia, moda, cinema, arte, e claro, o da anfetamína e outras drogas. E todos os trabalhos aí produzidos, 500 filmes, um disco, um livro, centenas de fotografias,.. resultaram apenas graças ao processo colectivo a que estiveram submetidos. Traduzem claramente os anos 60, a sua sociedade, e o género de pessoas que aí passaram, ou coabitaram, marcando a sua história. Um ambiente difícil de descrever pela sua particularidade, e ao mesmo tempo apetecível de compreender. Drag queens, poetas, estrelas de cinema e música, modelos, e artistas avantgarde, concentrando todo o tipo de ideias, e tornando o espaço particularmente interessante do ponto de vista criativo e artístico. O espaço boémio de uma sociedade cuja geração acredita na total liberdade em todos os sentidos. Claro que todo este ambiente rodava em torno de Andy Warhol, mesmo nunca o tendo reconhecido. Todos os projectos esperavam a sua aprovação, sendo até mesmo difícil perceber onde realmente começa e acaba a sua obra e o que realmente pode dizer-se executado pelo artista, uma vez terem todos os trabalhos sido feitos em colaboração com os seus assistentes, e tendo todos os

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Mick Jagger 7576

ROLLING STONES - Love You Live Rolling Stones Records USA 1977 - txo 30cm vinyl records

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Estamos a falar do período dos Beatles, de Bob Dylan e dos Rolling Stones, e onde todo o mediatismo posto em torno destes ícones de fama, levam John Lennon a comentar que a popularidade da sua banda, no momento, ultrapassava a de Jesus Cristo, o que na realidade acabava por ser verdade, na sociedade que se define como superficial. Ainda neste segundo ano da “fábrica”, e no seguimento da fama de Edie Sedgwick, Warhol anuncia a sua vontade de deixar de pintar, e começa a rodar os episódios da vida da sua musa. A 4 de Outubro do mesmo ano, várias pessoas reúnem-se no telhado da Factory, e enchem com hélio a primeira versão das “Silver Clouds”, concebidas como uma despedida à arte. No ano seguinte, corta relações com Sedgwick e é apresentado ao vocalista dos Velvet Underground, álbum que viria a produzir.


seus assistentes esperado uma confirmação para os seus projectos. Também torna-se necessário compreender todas essas obras, como apenas possíveis, graças a todo o ambiente e pessoas que por ali passavam, constituindo informação de grande interesse para estudo na psicologia social desta década. Era o espaço onde se era aceite, e até encorajado a ser-se diferente, e onde as experiências aspiravam ultrapassar esse mesmo sentido. Na realidade, muito do legado deste local eram aquelas pessoas a agir tal e qual eram, tendo sido apenas necessário que Warhol enquadrasse e ligasse a câmara, o resto acontecia naturalmente, quase como uma “escultura social” daquele tipo de pessoas, em que o artista apenas definira o conceito, os chamados “Screen Tests”. Daqui resultam todas as questões acerca de quem o verdadeiro autor destas experiências.

Os filmes de Andy Warhol não são tão conhecidos como as suas pinturas, e isto deve-se ao facto dos mesmos requererem um tipo de atenção diferente que nem todas as audiências estavam dispostas a dar, como uma hora a olhar para um objecto que mal se move, ou como no filme “The Chelsea Girls” que exigia visualizar dois ecrãs diferentes com péssimo som, mas não deixavam de ser o puro retrato da sociedade ao qual Andy Warhol não repetia em série como nos seus ícones, mas limitava-se a carregar num botão de uma das suas máquinas que captavam todo o dinamismo, movimento e realidade, tal como pretendia. Ao actor bastava-lhe ser ele próprio, falar da sua própria vida.

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As experiências revelavam uma total liberdade de expressão e criação artística. Em contraste com as várias expressões artísticas que ainda vigoravam na América, ainda na decorrência da primeira Guerra Mundial, que criavam arte em torno de pequenas revistas, e pequenos grupos criativos. Os projectos postos em trabalho na Silver Factory eram dotados de uma magnitude possível graças à interacção de todos. E por isso questiona-se se os projectos se podem de facto chamar de autoria de Andy Warhol. Daqui ser importante compreender este conceito de autoria colectiva. Se analisarmos, realmente ele não é o autor de nenhum dos projectos como o livro, ou o álbum, mas também é um facto que nenhum deles teria sido possível sem a existência de Warhol, trazen-

do alguma ambiguidade neste tópico. Não é a mesma criação colectiva de Marcel Duchamp e o dadaísmo, onde era discutido colectivamente o “rumo” subvertido do movimento a seguir-se, consegue ser mais ambíguo ainda, porque Warhol não só levanta esta questão sobre a autoria real dos projectos desenvolvidos, como cria o conceito de criação artística como fundamentalmente uma experiência social, e até retrato da sociedade, passando a ser a linha entre artista e obra quase invisível.

É então, a Silver Factory, acima de tudo, um mundo de possibilidades na criação artística. Warhol conseguiu com esta tocar e retratar tudo o que acontecia à sua volta, sempre com o mesmo entusiasmo inespecífico, absorvendo o estranho comportamento da cultura dos anos 60, conjugando arte, superficialidade,

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Mary Wonorov, Gerard Malanga, the Velvet Underground, Nico and Warhol, Los Angeles 1966

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The Factory

moda, cinema, como mero observador e ser passivo perante todas elas, apenas com a responsabilidade de captar para o material de uma gravação, ou de uma tela, sem nunca aparecer como agente ou filtro sobre a realidade. Tornando-se toda esta experiência chamada Factory o simples e estranho retrato destes anos 60, marcados pela morte do Presidente Kennedy em 1963 até ao fim da participação americana na guerra do Vietnam em 1973. As rupturas políticas, e as sobreposições de preocupações da era, as drogas, o sexo, a música, e todo o género de ambiguidades equiparadas, a importância dada à apresentação pessoal e à fama. Dando atenção às tumultuosas questões políticas, Vietnam, direitos civis, libertação gay, e emancipação feminina. Tudo resultando num quase documentário da época, da qual os círculos que passavam pela Factory constituíam centro num contexto social. Mesmo afirmando-se, Warhol apolítico, e mudo a essas questões, mas a realidade é que no seu trabalho e no da sua fábrica todas essas áreas problemáticas e controversas foram fortemente abordadas, acabando por ganhar uma forte voz no meio, resultando por exemplo em 1968 na tentativa do seu homicídio por uma extremista femininista. Em Fevereiro de 1968, a Factory muda as suas instalações para o 5º andar da 33 Union Square West, e é a 3 de Junho do mesmo ano, que Warhol é baleado. Depois do episódio a Factory passa a ser rigorosamente controlada. O artista continua a produzir no seu espaço, mas esse mesmo espaço, em termos de retrato e espaço social do período controverso, perdeu significativamente, levando essa sua face gradualmente a desaparecer.


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WARHOL’S O CONTRIBUTO DE CONTRIBUTION WARHOL NA ÁREA INDODESIGN DESIGN


elo seu legado, e pela sua inovação para a época, Andy Warhol, é, como sempre quis de alguma maneira ser, uma imagem e ícone na sociedade que fora a dos anos 60. Mas mais importante que isso, foi uma marca no que viria a ser o futuro das artes. No design, torna-se essencial comentar o seu contributo. Ao ter colocado à mesma altura as várias formas e linguagens de expressão artística, pôde dar novo fôlego à recente arte desde o início do seu século, o design. Exactamente por ser nova, não era de imediato conotada como expressão pura de arte, mas antes uma variável da pintura, ou uma variável da arquitectura, e por vezes nem isso, por vezes até uma forma de publicidade, que não possuía ainda valor estético. No campo do design gráfico e de comunicação, é praticamente impossível não compreendermos facilmente o seu contributo. Um artista que agarrou exactamente na publicidade e a transportou para a tela, dando-lhe toda a voz de arte. Despindo-a de preconceitos, e valorizando o seu valor estético. E ainda conseguiu dotar-lhe de força, compreendendo o poder que tinha a sua imagem, mesmo pelo seu início de carreira como publicitário. Percebia que nesta nova era, era necessário vender, chegar ao consumidor, porque no mundo capitalizado da América consumista, tudo se resumia a quem oferecia, e a quem procurava, e era agora urgente a quem oferecia conseguir chegar das formas mais aliciantes a quem procurava. E aqui entraria o design, na forma como a informação do produto iria chegar ao consumidor, a forma como o consumidor iria recebê-la e se isso o levaria a comprar o mesmo produto, pois neste mundo dinâmico, onde o trânsito das imagens era demasiado veloz, e se revelava importante densificar e tornar presente a imagem na cabeça da sociedade massificada, e ir ao encontro da cultura popular, onde o indivíduo não tinha voz, e é preciso estar atento aos padrões. E por isso o papel da arte aqui seria vender, seria o negócio, e como ele mesmo afirmava “um bom negócio é a melhor das artes”.

Na área do Design industrial, nota-se igualmente um grande contributo do artista, não de forma pessoal, mas graças às suas teorias e ideias inovadoras. Mesmo não tendo contribuído activamente, consegue-se encontrar em Warhol o retrato do que seria o artista que pensa na sociedade tal qual ela é, e não se preocupa em devolver-lhe ou encaminhá-la para um outro qualquer caminho, por pensarse estar este esgotado e fatalmente perdido. Porque a única forma da arte reencaminhar a sociedade, é tornar irreal a realidade pelo seu esgotamento e não por outro qualquer processo. Como é perceptível nas ideias de Warhol, a arte não deve nunca divorciar-se da sociedade, até porque a arte deve ser uma área de comércio, uma área de negócio, e assim sendo não pode separar-se da primeira. O design industrial dá claramente resposta a esta arte de negócio, a esta arte em estreita aliança com a sociedade que se verifica. Responde às suas necessidades, responde à procura do consumidor, e adequa-se cada vez mais ao mesmo. Possibilitando diversas formas estéticas, práticas, e muito funcionais. Várias formas estéticas pois terá de respond-

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Warhol’s Contribution in Design

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Caixas de Brillo, 1964

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Warhol’s Contribution in Design

er aos diferentes gostos pessoais do consumidor, mesmo, ao mau gosto. Formas práticas e funcionais, porque a máxima do período é a sociedade e a sua forma de vida, tendo que saber-se conjugar e facilitar ao máximo essas mesmas formas. Numa cultura urbana onde é diária a falta de espaço, a falta de tempo, a falta de reflexão sobre a realidade e o mundo, é necessário responder-se na área do design, criar respostas inovadoras, que possam por exemplo criar todo o equipamento da cozinha que se transforme em sala, e de seguida em quarto de dormir. Que saiba responder, e mais importante do que saber responder às necessidades, que saiba inovar e criar mesmo antes das necessidades se tornarem exactamente isso. O design começa a ter de responder às futuras problemáticas antes destas se apresentarem como tal, para que quando se apresentem, já não seja um problema a resolver, mas se revelem por parte do consumidor objectos totalmente indispensáveis à sua vida, mesmo sabendo o designer que não o seria se o mesmo não existisse. E assim, mais uma vez aliar-se ao consumo, e criar até as bases para o próprio consumo, não ao produto necessário, mas ao produto que se apresenta como necessário mesmo não o sendo. Criando um ciclo sem fim de criação-consumo, que levará a arte a ser o negócio, e o artista o negociante, como defendia Warhol. Ainda no contexto da arte enquanto negócio, compreende-se a necessidade da grande exploração industrial, que continua a pesquisar os diferentes materiais, as suas possibilidades, a sua durabilidade, e os seus custos, para que continue a arte a ser uma forma de lucro. Assim, rapidamente o objecto de design será, tal como o ícone que se tornara a Coca-Cola, o alvo de consumo “do mendigo, da Liz Taylor, e do Presidente”, nesta América onde é possível a igualdade de oportunidades, e onde todos têm acesso possível ao produto que fora pensado para a sociedade de massas e para a cultura popular.


¹ CELANT, Germano, em Andy Warhol A Factory, Museu Serralves, 2000 ² CELANT, Germano, em Andy Warhol A Factory, Museu Serralves, 2000 ³ BERG, Gretchen, Andy: My True Story, in Los Angeles Free Press, 17 de Março de 1967, p.3, (retirado de CELANT, Germano, em Andy Warhol A Factory, Museu Serralves, 2000) SWENSON, G. R., What is Pop Art? Answers from 8 Painters, in Art News, 62, Nova Iorque, Novembro de 1963, p.26 (retirado em CELANT, Germano, em Andy Warhol A Factory, Museu Serralves, 2000) 4

WARHOL, Andy, The Philosophy..., p.92 (retirado em CELANT, Germano, em Andy Warhol A Factory, Museu Serralves, 2000) 5

POWER, Kevin, “Andy Warhol: A Vida como estilo”, em Revista Artes e Leilões, Outubro e Novembro, nº6/1990 6

POWER, Kevin, “Andy Warhol: A Vida como estilo”, em Revista Artes e Leilões, Outubro e Novembro, nº6/1990

Notes

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CONCLUSION CONCLUSテグ


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Conclusion

N

o âmbito deste trabalho, e perante alargada pesquisa, compreendemos ter sido Andy Warhol não só um grande artista como o perfeito retrato de uma sociedade de características muito particulares que fora a dos anos 60. Iniciámos a pesquisa sabendo muito pouco sobre esta figura, da qual o nosso conhecimento limitava-se à noção geral do artista que em determinada altura consegue subverter as convenções da Arte, apercebendo-nos rapidamente ser Warhol uma figura muito mais criativa, mítica, complexa, e de todo original. Não foi só o seu contributo e caminho, dentro do que fora a Pop Arte, deslumbrante. O que de mais interessante notamos em Andy Warhol, para além da sua personalidade muito peculiar, é a sua capacidade de tocar todas as artes com a mesma paixão, dedicação, e criatividade. São igualmente fascinantes as suas teorias vazias acerca de tudo o que o rodeia, que em simultâneo transformam-se em algo de amplo significado. Foi a sua capacidade de tornar a superficialidade do contexto em que viveu em algo altamente complexo. Através de uma arte que se dizia destituída de voz moral que pretendia reencaminhar a sociedade perdida, conseguiu, por meio da repetição dos ícones da mesma, banalizar as imagens desta mesma sociedade. Conseguiu devolver-lhes a falta de significado que têm. Conseguiu que Marilyn fosse uma qualquer Marilyn, conseguiu que a Coca-Cola fosse a banal Coca-Cola. Conseguiu que os ícones aos quais a sociedade colocava demasiada importância deixassem de o ter pela sua simples vulgarização e esgotamento. Revelando-se um artista e uma arte que afinal desempenharam fundamental papel para esta sociedade. Deu asas a uma Factory com a liberdade artística e social que a geração pedia, resultando ele próprio, a sua fábrica, e os que os acompanhavam, neste mesmo produto comercial e banal da sociedade sua contemporânea. Resultando toda esta experiência artística num documentário muito presente do que fora aquela sociedade conhecida como anos 60.


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BIBLIOGRAFY BIBLIOGRAFIA


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BibliografY

-WATSON, Steven, Factory Made Warhol And The Sixties, Patheon Books, NY, 2003

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