Apostila de Adoração - para Equipe de Louvor da IPJO - 2005

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SEM. ANGELO VIEIRA DA SILVA

A IMPORTÂNCIA DO ENSINO BÍBLICO DA ADORAÇÃO PARA A IGREJA CONTEMPORÂNEA

PERTENCE A:

Ângelo Vieira da Silva

SÉRIE DE ESTUDOS BÍBLICOS DA EQUIPE DE LOUVOR DA IGREJA PRESBITERIANA JARDIM DAS OLIVEIRAS BELO HORIZONTE/MG ANO 2005


ANGELO VIEIRA DA SILVA – Teologia do Culto

ÍNDICE INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 03 CAPÍTULO I – O significado da Adoração ............................................................ 04 CAPÍTULO II – A base bíblica da Adoração ......................................................... 06 CAPÍTULO III – A necessidade da Adoração ....................................................... 08 CAPÍTULO IV – Os sentidos e a Adoração .......................................................... 13 CAPÍTULO V – O preparo da Adoração ............................................................... 16 APÊNDICE 01: Liturgia como estilo de vida ......................................................... 18 APÊNDICE 02: Gestos e Ritos: Celebrando o Evangelho ................................... 19 APÊNDICE 03: Desabado de um presbítero ........................................................ 21 BIBLIOGRAFIA ..................................................................................................... 22

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INTRODUÇÃO Adoração... este é um tema bem sugestivo. Muito se pode dizer ao fazermos uma análise bíblica. Mas analisando o contexto das igrejas pós-modernas veremos problemas sérios, razão pela qual precisamos buscar o entendimento das Escrituras sobre esta matéria. Por isso, mais que um tema, adoração é um estilo de vida. A partir da Palavra de Deus podemos fazer associações, mostrar a influência e a organização da música em relação ao ser humano, uma vez que todos os homens ouvem e cantam música. Contudo, a partir do contexto hodierno encontrar-se-ão perigos em relação a adoração, a música como poder de persuasão, por exemplo, “substituindo” a atuação do Espírito Santo e tocando apenas parte das pessoas. O objetivo deste material é conclamar os crentes a cuidarem de suas vidas e da música, com suas nuanças, na adoração ao nosso Deus. “Uma igreja consciente sempre procurará selecionar suas canções, canalizando-as sempre à adoração do Senhor”. Segundo Lutero a música é um dos mais magníficos e deleitáveis presentes que Deus nos tem dado. Calvino não ignorava o poder da música; antes compreendia que o cantar tem uma conotação de lembrança e estímulo espiritual para aquele que canta, como o “falar entre vós com salmos” recomendado por Paulo em Efésios 5.19. Calvino seguia o pensamento de Agostinho no tocante a música, que demonstrava de forma tão enfática a preocupação em não se deixar conduzir pela melodia, sem a devida meditação na letra, ou seja, que devemos ter a consciência daquilo que falamos, cantamos e ouvimos, isto é, que “os nossos améns não podem ser transformados em vãs repetições desconexas, antes devem ser fruto da fé e da compreensão do que foi falado e cantado”. É por isso que os cânticos na adoração precisam ter um grande apelo didático, objetivando, inclusive, a fixação das Escrituras. Hoje se fala muito de worship. Este termo vem do anglo-saxão (ainda que tenha sofrido muitas mudanças ao longo dos anos) significando “atribuir valor, mérito a alguém ou alguma coisa”. Espera-se que no final dos estudos aqui realizados os crentes possam, verdadeiramente e espiritualmente, atribuir valor e mérito ao único que é digno de receber: o Deus trino. O culto é para ele e deve ser fruto de nossa nova vida, gratidão e louvor, sendo sempre embasado na Palavra do Senhor. Portanto, podemos dizer: o culto e a adoração ao nosso Deus, são caracterizados pela submissão às Escrituras.

PARA PENSAR: “... procurai progredir, para a edificação da igreja. Que farei pois? Orarei com o espírito, mas também orarei com a mente;


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cantarei com o espírito, mas também cantarei com a mente”. Paulo, I Co 14.12,15

CAPÍTULO I – O SIGNIFICADO DA ADORAÇÃO TEXTOS: Dt 6.5 E Hb 13.15 Algumas pessoas, objetos ou momentos têm significado para nós. O que dizer daquele presente especial, daquele gesto marcante, daquele momento único?! Eles têm significado porque entendemos ser estes presentes, gestos ou momentos situações que, de alguma forma, nos fazem reagir emocional (coração), física (corpo) e espiritualmente (alma). Mais do que qualquer coisa neste mundo, o crente pode ter a convicção real de Alguém que o marcou profundamente: Deus, na pessoa do Senhor Jesus Cristo. Por termos esta marca de Cristo (como nós costumamos cantar) manifestada a nós pelo Espírito Santo, acabamos por reagir a ela emocional (coração), física (corpo) e espiritualmente (alma) na adoração. Por isso, a adoração tem um significado maravilhoso para a vida do crente. É justamente o que iremos trabalhar neste capítulo. Mas, o que é esta adoração tão significativa em nossas vidas? Vejamos duas definições básicas: 1) É UMA DECLARAÇÃO, NÃO UMA SENSAÇÃO: Mas, por quê adoração não é uma sensação? Basicamente por ser a sensação uma grande impressão devido a um acontecimento raro. Seria rara a sensação da presença de Deus quando nós o adoramos? Creio que não, pois é no processo de adoração que Deus comunica sua presença aos homens. É por isso que a adoração é uma declaração, isto é, através dela declaramos que o Senhor reina, sua graça é manifesta e está presente em todos nós, como costumamos cantar. Na adoração declaramos nossa fé, nossas convicções. Na adoração declaramos a Glória de Deus. Pergunta: o que você mais vê hoje na adoração: declaração ou sensação? 2) É UMA REAÇÃO, NÃO UM CLIMA: clima pode ser definido como o conjunto de caracteres de um ambiente. Se quisermos, podemos criar uma atmosfera propícia para que as pessoas chorem e lamentem exarcebadamente, sem, contudo, trazerem mudanças genuínas em suas vidas. Na verdade tocamos o coração, mas não a alma; tocamos os sentidos (como veremos em outro estudo) e não a razão. Toca-se apenas parte do ser humano. A adoração é uma reação ao entendimento (razão e emoção juntas) do ser de Deus, isto é, adoramos ao Senhor pelo o que ele é, pelo o que ele fez, faz e fará em nós. Em suma, adoramos a Deus porque entendemos que só ele é digno de ser adorado emocional e racionalmente. Pergunta: o que você mais vê hoje na adoração: reação ou clima? Desejando-se analisar a importância bíblica do significado da Adoração,


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analisaremos basicamente dois textos. Um destes textos básicos de nosso estudo é Dt 6.5 que diz: “Amarás, pois, o SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força”. A palavra TODO, ainda que esteja subordinada as palavras-chaves, é importante para a compreensão deste texto bíblico. Ela pode significar “completo”, “integral”, “totalidade”. As palavras-chaves do texto são: “Coração”, “Alma” e “Força”. Veja que lição preciosa há neste estudo de palavras: 1) CORAÇÃO (bfb"l): para o judeu é a sede da mente e da vontade. 2) ALMA ($epen): para o judeu é a fonte de vida. 3) FORÇAS (!edo):m): ênfase; o corpo físico desenvolver sua força de ação. Assim, adorar é a entrega COMPLETA de um CORAÇÃO, com INTEGRALIDADE de ALMA e com a TOTALIDADE de FORÇAS. Temos nas três palavras acima o entendimento de que o significado de nossa adoração partirá de aspectos da mente, do espírito e da atitude. A adoração é significativa para o crente porque Deus atua no ser humano por completo. Não há verdadeira adoração em um ou outro extremo. Há adoração quando esta é feita integralmente, isto é, com toda nosso coração, alma e força. Neste sentido, cada vez que adoramos, declaramos nosso amor a Deus em reação ao amor que ele nos amou. É simples, se nós o amamos, é porque ele nos amou primeiro (I Jo 4.19). O outro texto básico de nosso estudo é Hb 13.15: “Por meio de Jesus, pois, ofereçamos a Deus, sempre, sacrifício de louvor, que é o fruto de lábios que confessam o seu nome”. Neste texto será interessante notarmos que Jesus é o meio pela qual nos achegamos a Deus. Só podemos adorar a Deus por causa de Jesus. Ele é o nosso sacerdote; é aquele que se ofereceu uma vez por todas para que nós pudéssemos nos apresentar continuamente a Deus com louvores e celebração. A expressão fruto de lábios remonta a Oséias 14.2. Isto quer dizer que a adoração só pode acontecer significativamente se arrependermos de nossos pecados e vivermos uma vida santa diante de Deus. Mas, por quê? É simples! Nossa vida TODA deve ser um cântico de adoração expresso em palavras e ações que agradam ao Senhor como um sacrifício vivo. Portanto, podemos concluir que o significado da adoração está: 1) NO SEU AUTOR: que é Deus. 2) NA SUA FONTE: que é Deus. 3) NO SEU MOTIVO: que é Deus. Assim, nossa adoração começa e se processa em Deus. Contudo, ela nunca se findará, pois Deus não se acaba, não morre. É por isso que a adoração é uma declaração (eterna). Declaramos o que Deus significa para nós. É por isso que é uma reação (eterna). Reagimos ao que Deus fez em nós e por nós. Este é o significado da Adoração. Vejamos na próxima lição em que esta se baseia nas Sagradas Escrituras.


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PARA PENSAR: “Deus tem recebido toda a adoração do meu coração, todo o poder da minha vontade e toda influência da minha vida”. Willian Booth, Exercito da Salvação

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CAPÍTULO II – A BASE BÍBLICA DA ADORAÇÃO TEXTOS: Jo 9.38, Rm 12.1, Jo 9.31, At 13.2 Já falamos do significado da adoração e, ainda que tenhamos verificado alguns textos bíblicos sobre adoração no capítulo anterior, não fizemos uma análise aprofundada sobre as suas bases. É justamente isto que faremos neste capítulo: analisaremos a base bíblica para adoração. Contudo, exemplos de adoração serão vistos no capítulo 7. Mas, o que é base? É tudo quanto serve de fundamento, apoio ou sustentáculo. Se temos entendido que a Bíblia, a Palavra de Deus, é o manual de nossa adoração, isto é, nos ensina como devemos adorar, é nela que encontraremos os grandes fundamentos, apoios, sustentáculos para nossa adoração. Adoração é um verbo. Por isso, analisaremos a adoração bíblica sobre a perspectiva de quatro verbos gregos fundamentais. Assim, adoração é: 1) RENDER-SE (proskunew): a palavra grega é PROSKUNEO. Mas o que esta significa? Pergunto: você gosta de beijar? Por quê você o faz? Não é este uma reação ao que alguém faz por você? Não é este uma declaração de seu amor por outrem? Esta palavra foi usada para adoração na Bíblia. É a nossa primeira base. PROSKUNEO significa literalmente beijar e adorar, como atos simultâneos, estando intimamente ligado a idéia de ajoelhar-se. Esta palavra era usada para mostrar um reverente temor diante de um superior, ou homenagem diante de um rei, isto é o reconhecimento de seu poder e soberania (Mc 15.19). Era a prática do escravo diante de seu Senhor. Era uma atitude de humildade diante da graça abundante de Cristo (Lc 5.8). É um sinal de fé (Jo 9.38). É associado com a oração ressaltando sinceridade e urgência (At 7.60, At 9.40). Portanto, precisamos concluir que a palavra PROSKUNEO basicamente nos levará a dizer: “Reconheço a minha inferioridade e a sua superioridade; coloco-me a sua inteira disposição”. Pergunta: Você tem este sentimento em relação a adoração? 2) SERVIR (latreia): a palavra grega é LATREIA. Mas o que esta significa? É muito bom ouvir os hinos cantados na igreja, ouvir as orações que são feitas, cumprimentar os irmãos. Mas não é somente isso que Deus requer de nós na adoração. Deus requer serviço. Adorar é servir. Esta é a nossa segunda base. LATREIA é usada geralmente para o serviço a Deus, isto é, o culto. A característica do Antigo Testamento em relação a esta palavra é que não é um ritual meticulosamente cumprido que á a adoração verdadeira a Deus, mas sim a obediência à voz do Senhor que brota da gratidão aos atos divinos da salvação na história (Dt 10.12-13). Todas as 21 vezes que ela aparece no Novo Testamento é no sentido religioso. Em Hebreus, por exemplo, LATREIA aparece se referindo ao templo, ao tabernáculo (8.5, 9.9, 10.2, 13.10). “A verdadeira adoração cristã nos conclama a declarar a superioridade absoluta de Deus”. Portanto, precisamos concluir que a palavra LATREIA basicamente significa


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serviço e serviço de obediência. É justamente o que Paulo quer descrever (Rm 12.1). 3) REVERENCIAR (sebein): A palavra grega é SEBEIN. De que nós temos medo? Do escuro? De ficar sozinho? Podemos ficar com medo de muitas coisas, mas será que não temos medo de Deus? Adorar, na Bíblia, pode ter este sentido. Esta á a nossa terceira base. SEBEIN é usada em ligação com o temor a Deus. Ter temor é, literalmente ter medo, e por isso, reverência. Assim, reverência e temor andam juntas na adoração. O terror do Senhor impele o pecador a afastar-se, com temor não somente de sua majestade, mas também pelo modo que iremos adorá-lo. Adorar requer uma reverente preocupação com o que agrada a Deus (Jo 9.31). Conectadas com a raiz de SEBEIN andam lado a lado as palavras injustiça (Rm 1.18) e piedade (II Tm 3.12). Portanto, não podemos violar os padrões colocados por Deus em sua palavra para nós o adorarmos. Precisamos temer e reverenciar a Deus. Uma adoração que reverencia ao Senhor é aquela que não é isolada de uma vida piedosa em Cristo, na prática de o seguir. Teme, você, debalde (em vão, inutilmente) a Deus? (Jó 1.19) 4) SERVIÇO SACERDOTAL (leitourgew): A palavra grega é LEITOURGEO. O Antigo Testamento usa freqüentemente este termo para indicar o ministério sagrado dos sacerdotes. A partir da reforma veremos uma das mais maravilhosas doutrinas da graça: o sacerdócio universal dos crentes. O que antigamente era realizado somente pelos levitas, agora pode ser realizado pela igreja, pelos lavados e remidos no sangue de Cristo. Adorar é serviço sacerdotal. Esta é a nossa quarta base. LEITOURGEO significa, no sentido amplo, o serviço para o povo, abrangendo todos os tipos de serviço à comunidade, obrigado ou voluntariamente, pagando com o próprio bolso. Contudo nos resumiremos a analisar as bases bíblicas. Em Atos 13.2 a liturgia é formal, uma adoração comum. Em Rm 15.16 é serviço sacerdotal. Em Fp 2.25 e 30 a liturgia é o tipo de assistência a outros. Em Hb 2.6 temos o modelo de liturgista: Cristo. Na liturgia temos momentos de invocação, adoração, confissão, louvor, edificação, dedicação e benção. Veremos isto no capítulo 7, exemplos de adoração. Portanto precisamos entender que liturgar é realizar um serviço para o povo de Deus por intermédio da oração, jejum e ensino (At 13.2). Os cristãos exercem sua liturgia sempre que servem a seus irmãos, motivados pelo amor ao Senhor Jesus. A lógica é simples: se nós servimos a Deus, servimos à igreja de Deus. Se servimos aos irmãos em Cristo Jesus é porque antes já servimos a Deus de coração. Estas são algumas bases bíblicas da adoração. No próximo capítulo veremos a necessidade inerente no ser humano de adorar. PARA PENSAR: “O Culto é a parcela do serviço total do povo de Deus, no qual o Senhor vem ao seu encontro, requer sua adoração, mostra-lhe o seu pecado, perdoa-lhe quando se arrepende, confia-lhe sua mensagem e espera a sua resposta


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em fé, gratidão, amor e obediência”. Messias Valverde

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CAPÍTULO III – A NECESSIDADE DA ADORAÇÃO TEXTOS: Atos 17.16-34 As pessoas têm necessidades que precisam ser supridas. Podemos lembrar das necessidades básicas do ser humano, tais como: saneamento básico, educação, cidadania. Mas veremos uma necessidade muito maior no ser humano neste terceiro estudo. A necessidade inerente de adoração existente em todos os homens, o que Calvino chama de Sensus Divinitatis (isto é, Consciência da Divindade). Necessidade é tudo aquilo que é inevitável, que constrange, que compele. Constranger é incomodar. Compelir é obrigar. Portanto, a necessidade da adoração parte do pressuposto desta Consciência de Deus (isto é, de sua existência) que o homem tem, uma vez que ele é a imagem, semelhança de Deus, que o incomoda e o obriga, inevitavelmente, a adorar, pelo menos, alguém. O grande problema, porém, é o objeto de culto destes homens. Nós, cristãos, adoramos ao Deus vivo e verdadeiro. Mas e os outros adoram a quem ou a o quê? É o que precisamos meditar... Mas o que é o Sensus Divinitatis? Calvino afirma que os homens tem um certo senso da divindade em si mesmos e isto por um instinto natural a fim de que ninguém se refugie numa pretensa ignorância. Assim, tudo o que o ser humano vê e sente, intrinsecamente, ele sabe que foi Deus quem fez, ainda que por causa da perversão do coração humano não haja um relacionamento de harmonia com o Deus verdadeiro, segundo o Dr. Héber. Esta Consciência está gravada no coração dos homens (Rm 2.15. É importante ler Romanos 1 e 2 para entendermos o versículo). Antes de analisarmos o texto de Atos, precisamos entender o que é a imagem de Deus na humanidade, uma vez que, tanto homem como mulheres estão inclusos na imagem de Deus, que por sua vez, está intimamente ligada ao Sensus Divinitatis. Hoekema enfatiza que ser humano é trazer em si a imagem de Deus. Analisando principalmente os textos ligados a criação do homem (Gn 1:26-28), na introdução da genealogia de Adão (Gn 5:1-3) e na aliança de Deus com Noé (Gn 9:6) podemos sentir e perceber a singularidade da criação do homem por Deus. Isto porque este foi criado segundo Sua imagem (imagem que permanece mesmo após a queda, ainda que esteja manchada pelo pecado), enquanto, por exemplo, os animais foram criados segundo sua espécie (Gn 1: 21-25). É importantíssimo ressaltar que Deus distingue o homem do restante da criação, visto que o Senhor emprega uma linguagem toda especial para a criação deste: “Façamos o homem a nossa imagem, conforme nossa semelhança” (Gn 1:26). Quando Deus cria o homem conforme sua imagem, sua semelhança, ele o cria conforme uma representação, como um reflexo da imagem divina e com certa igualdade em alguns aspectos. Neste caso, imagem e semelhança são palavras sinônimas e não distintas uma da outra. Quando olhamos pelo todo bíblico Neo-Testamentário constataremos textos que ensinam que o homem mesmo após a queda, traz em si a imagem de Deus. É o que nos relata Tg 3:9. Ao analisarmos 2 Co 4:4 veremos que a cegueira espiritual dos


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incrédulos é resolvida através da Luz do evangelho de Cristo Jesus. Cristo é a imagem de Deus, ou seja, se vemos a Cristo, vemos a Gloria de Deus. Cristo é a própria imagem do Deus invisível como podemos ver no texto de Cl 1:15 que ressalta a Cristo como o primogênito de toda a criação. Ao lermos 2 Co 3:18 aprenderemos que, diferente de Moisés, agora não precisamos mais esconder o rosto, pois refletimos a Glória de Deus, uma vez que Cristo habita em nós. Este é o propósito eterno de Deus: tornar-nos conformes à imagem de seu Filho (Rm 8:29; ver 2 Co 3:18). Assim, podemos ver mui claramente o objetivo da redenção do povo de Deus mediante o sacrifício de Cristo: Sermos plenamente perfeitos e semelhantes conforme a imagem de Deus, isto é, restaurar a imagem de Deus em nós, tirar a mancha do pecado. Assim podemos dizer que ainda que o homem tenha caído no Éden e que entendamos que o mesmo deve ser visto como aquele que leva a imagem de Deus, os textos do Novo Testamento ressaltam que esta imagem precisa ser restaurada através da obra redentiva de Cristo Jesus findando-se no estado de glorificação. Em suma, precisamos entender que a imagem, a semelhança (perceba que no texto de Gênesis não existe a conjunção e) no homem corrompida só poderá ser restaurada através do Senhor Jesus e da Obra santificadora e regeneradora do Espírito Santo. Diante disto, Hoekema diz que nosso entendimento da imagem de Deus deve incluir dois aspectos: 1) Que é um aspecto imperdível do homem, sendo uma parte de sua essência e existência, algo que o homem não pode perder sem cessar de ser homem; e 2) Que deve ser entendida como aquela semelhança à Deus que foi pervertida quando o homem caiu em pecado e que está sendo restaurada e renovada no processo de santificação. Por causa desta imagem, termo intimamente ligado ao Sensus Divinitatis, e deste saber da existência de algo transcendente ao homem, ele adora. Mas adora a quem ou a quê? Vejamos a resposta. Weller vai falar que em quase todas as culturas e países a adoração é comum. Calvino (Instituta I) diz: “E posto que desde o começo do mundo não tem havido nenhuma região, nenhuma cidade, nenhuma família, e isto se vê em todo gênero humano, que pudesse viver sem religião, nisto descansa a tácita confissão de que há um Sensus Divinitatis esculpido nos corações dos homens”. Mas há um problema... o problema é que o homem tem enveredado por uma falsa adoração. Todos os homens procuram por Deus, mas eles não o procuram da forma correta nem no lugar certo. Eles o procuram aqui embaixo, mas ele está lá em cima. Eles o procuram na terra, mas ele está no céu. Eles o procuram longe, mas ele está perto. Procuram no dinheiro, na propriedade, na fama, no poder e na paixão. Eles o procuram ao mesmo tampo em que fogem dele. Eles se sentem atraídos a Deus e ao mesmo tempo repelidos por ele. Pascal dizia que o homem procura por Deus e se perde na criatura. As imagens, os ídolos, desonram a Deus e enganam os homens. Certamente o homem é um enigma cuja a solução só pode ser encontrada em Deus, como diz Bavinck. É por isso que Agostinho dizia que o coração do homem foi criado por Deus e que, por isso, ele não pode encontrar descanso a não ser no coração de Deus. Assim,


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diante destas coisas poderíamos perguntar: Como o texto de Atos 17 poderá nos ajudar a compreender que este Sensus Divinitatis existe, de fato, no homem? Vejamos: O Dr. Héber vai dizer que este texto mostra que todos os homens, sem terem a luz da revelação especial, possuem o senso de que há um ser maior do que eles, ao qual adoram, mesmo que esse senso da divindade seja prejudicado devido ao pecado. Por causa deste, segundo o Dr. Héber, os homens perderam os dados precisos de Deus, mas ainda possuem a consciência de divindade e a expressam nos cultos que lhe prestam, mesmo sem conhecê-lo devidamente. Vejamos o texto bíblico: Paulo chegou em Atenas. Seu discurso perante aquela corporação, como vem narrado por Lucas, seguiu uma orientação não diferente daquela do discurso proferido em Listra (At 14.15-17). Começando com uma referência a um altar dedicado AO DEUS DESCONHECIDO (tipo de consagração de altar em Atenas testificado por outros escritores), PAULO DECLAROU QUE SUA MISSÃO ERA FAZER CONHECIDO DELES ESSE DEUS DESCONHECIDO. E prosseguiu na descrição da obra divina da criação e da providência, usando linguagem tomada de empréstimo a alguns dos poetas gregos, como Epimênides de Creta (“pois nele vivemos, e nos movemos, e existimos”, cf. verso 28) e Arato da Cicília (“porque dele também somos geração”, cf. verso 28). Poderíamos destacar todos estes poetas, mas vejamos apenas quem era Epimênides. Veja a seguinte história citada por Don Richardson: EM ALGUMA ÉPOCA, DURANTE O SEXTO SÉCULO ANTES DE CRISTO, NUMA REUNIÃO DO CONSELHO NA COLINA DE MARTE, EM ATENAS ...  “Diga-nos ó Nícias, que aviso o oráculo de Pítias lhe deu? Por quê esta praga caiu sobre nós? E por quê os inúmeros sacrifícios realizados de nada adiantaram?” O impassível Nícias olhou de frente o presidente do Conselho e disse:  “A sacerdotisa declara que nossa cidade se encontra sob uma terrível maldição. Um certo deus a colocou sobre nós por causa do medonho crime de traição do rei Mégacles contra os seguidores de Cylon!”  “É verdade! Lembro-me agora”, disse um membro do Conselho. E continuou:  “Mas, qual é o deus que ainda nos condena por esse crime? Já oferecemos sacrifícios de expiação a todos os deuses!”  “Não é bem assim”, disse Nícias. “A sacerdotisa afirma que resta ainda um deus a ser apaziguado”. “Quem poderia ser?”, perguntaram os anciãos.  “Não posso contar-lhes”, respondeu. “O próprio oráculo parece não saber o seu nome”. “Ele disse apenas que ...” (fazendo uma pausa e olhando para tudo e todos) “... precisamos enviar um navio imediatamente a Cnossos, em Creta, e trazer de lá um homem chamado Epimênides. A sacerdotisa assegurou-me que ele saberá como apaziguar esse deus ofendido”. Nícias tratou de buscar Epimênides, tendo a promessa dos anciãos da


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cidade que ele seria recompensado. Chegando em Atenas, Epimênides desceu agilmente para a terra, e adentrando a cidade via notoriamente os sinais da praga por toda parte, observando mais alguma coisa:  “Nunca vi tantos deuses. Quantos são os deuses de Atenas?”  “Várias centenas pelo menos”, afirmou Nícias.  “Várias centenas?! Aqui é mais fácil encontrar deuses do que homens”, disse Epimênides. E disse Nícias depois disto.  “Não consigo adivinhar quem poderia ser este outro deus. Os atenienses são os maiores colecionadores de deuses no mundo! Já saqueamos as teologias de muitos povos das vizinhanças, apoderandonos de toda a divindade que possamos transportar para a nossa cidade, por terra ou por mar!”  “Talvez este seja o seu problema”, disse Epimênides. Chegando na Assembléia, o presidente começou a agradecer ao cretense, que, subitamente, o cortou, dizendo que não havia necessidade de agradecimentos, e disse:  “Amanhã, ao nascer do sol, tragam um rebanho de ovelhas, um grupo de pedreiros e uma grande quantidade de pedras e argamassa até a ladeira coberta de relva, ao pé desta rocha sagrada. As ovelhas devem ser todas sadias e de cores diferentes. Vou agora descansar da viagem. Acordem-me ao amanhecer.” Os membros do conselho trocaram olhares curiosos enquanto Epimênides dirigia-se a um quarto sossegado. O presidente, então, disse:  “Veja que tudo seja feito como ele ordenou”. A noite passou.  “As ovelhas estão aqui”, falou um membro jovem do Conselho. Epimênides, despenteado e ainda meio dormindo, saiu de seu descanso e seguiu o mensageiro até a ladeira que ficava na base da Coluna de Marte. Ali estavam centenas de cidadãos, desfigurados por outra noite de vigília cuidando dos doentes atingidos pela praga e chorando pelos mortos.  “Sábios anciãos”, disse Epimênides, “vocês já se esforçaram muito ofertando sacrifícios aos seus numerosos deuses; entretanto tudo se mostrou inútil. Vou agora oferecer sacrifício com base em três suposições bem diferentes das suas. A primeira é que existe ainda outro deus cujo o nome não conhecemos e que não está, portanto, sendo representado por qualquer ídolo em sua cidade. A segunda é que vou supor que este deus é bastante poderoso e suficientemente bondoso para fazer alguma coisa a respeito da praga se apenas pedirmos a sua ajuda.  “Invocar um deus cujo o nome é desconhecido!? Será isto simples?”, exclamou um dos anciãos.  “A terceira suposição é a minha resposta à sua pergunta. Isto é muito simples. Qualquer deus suficientemente grande e bondoso para fazer algo a respeito da praga é também poderoso e misericordioso para nos favorecer em nossa ignorância, se reconhecermos a mesma e o invocarmos! Agora, preparem-se para soltar as ovelhas na ladeira sagrada e deixem-nas pastar onde elas quiserem fazendo com que cada homem observe uma”, e orou: “Ó tu, deus desconhecido! Contempla praga que aflige esta cidade! E se de fato tens compaixão para perdoarnos e ajudar-nos, observa este rebanho de ovelhas! Revela tua


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disposição para responder, eu peço, fazendo com que qualquer destas ovelhas famintas que te agrade deite na relva em vez de pastar. As que escolheste serão sacrificadas a ti, reconhecendo nossa lamentável ignorância de teu nome”. Soltaram as ovelhas e todas saíram a pastar. Epimênides ficou olhando. Um ancião disse:  “É inútil; mal amanheceu e nunca vi um rebanho tão faminto!” Então disse Nícias:  “Epimênides deve ter escolhido esta hora do dia para verdadeiramente sabermos que estas só deitarão se for pela vontade deste deus desconhecido e não por sua própria inclinação”. Mal Nícias tinha acabado de falar quando um pastor gritou:  “Olhem!”, um carneiro havia dobrado os joelhos e deitado.  “Eis aqui outro!” Em poucos minutos algumas das ovelhas achavamse deitadas.  “Epimênides, o que fazemos agora”?, disse Nícias  “Separem as ovelhas que estão descansando e marquem o lugar onde cada uma se acha. Façam com que os pedreiros depois levantem altares em cada lugar”. No final da tarde todos os altares já estavam prontos para uso e perguntaram:  “Qual é o nome do deus que gravaremos sobre esses altares?  “Nome”?, disse Epimênides. “A divindade cuja ajuda buscamos, agradou-se em responder à nossa admissão de ignorância. Se agora pretendermos mostrar conhecimento gravando um nome quando na verdade não temos a menor idéia a respeito dele, temo que apenas vamos ofendê-lo”. Assim, escreveram as seguintes palavras agnosto theo (em grego, agnosto qeo), que quer dizer: a um deus desconhecido. E disse Epimênides: “Nada mais é necessário”. Os gregos sacrificaram as ovelhas sobre cada altar. A noite caiu. Na madrugada do dia seguinte os dedos mortais da praga já se haviam afrouxado. Em uma semana, os doentes sararam. Atenas se encheu de louvor ao “deus desconhecido”. Contudo, infelizmente com o passar do tempo, o povo foi se esquecendo daquelas maravilhas do deus desconhecido e voltaram a seguir outros deuses.1 E depois de alguns séculos, Paulo aparece, mostrando conhecer também aquela história e iniciando dali sua pregação. Poderíamos perguntar: Qual é o fim principal do homem? Para quê fomos feitos senão para conhecer a Deus? Não teremos nós consciência de que Deus existe? Veja também os seguintes textos: Gn 2.7, 8, 15-19, 21; 3.8-10; 4.3-4, 26; 6.3, 9;11.4; 12.1; 20.11; 31.19,30; Ex 20.3; 23.24; Nm 25.2; Dt 4.7; Js 23.7; 24.2; Jz 6.10; 10.6; I Sm 17.43; I Re 19.2 PARA PENSAR: Advertência sobre o perigo da armadilha da novidade: 1

O relato acima baseou-se em uma tradição registrada como história por Diógenes Laércio, um autor grego do terceiro século sobre a vida dos filósofos (The Lives od Eminent Philosophers).


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“Não estamos livres para improvisar nossa adoração”. João Calvino

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CAPÍTULO IV – OS SENTIDOS E A ADORAÇÃO TEXTOS: I Jo 3.6, Jo 8.47, Sl 34.8, II Co 2.15 e I Jo 5.18 Temos aprendido o significado, a base bíblica e a necessidade da adoração até aqui. Estes temas nos levarão a olharmos para o homem em todo seu ser: corpo, alma e vontade (Dt 6.5). Uma adoração bíblica englobará tanto os elementos da alma, como os do corpo. Por isso, pode-se dizer que a adoração é uma experiência tanto do interior como do exterior do homem. Isto é, o que se declara com o coração se materializa com atitudes. Podemos encontrar muitos textos na Bíblia que falam da adoração ligada com um sentimento de busca de santidade e amor a Deus (interior) e o serviço religioso, bem como a vida em comunhão com os irmãos (externo). Esta ligação, em muitos textos da Escritura, será feita com os sentidos humanos. Mas, quais são os sentidos do homem? Não são a visão, audição, paladar, olfato e tato? Sim, são estes. Fazemos contato com o mundo material através dos sentidos. Nós vemos tudo aquilo que reflete luz; nós ouvimos tudo o que possui vibrações que o tímpano humano pode capitar; nós discernirmos tudo que é doce ou salgado pelo paladar; nós reconhecemos um bom ou mal perfume com o olfato; nós tocamos as coisas e diferenciamos a matéria. Assim, diante destas considerações, podemos perguntar: qual a ligação dos sentidos com a Palavra de Deus? É justamente isto que estaremos respondendo à luz de textos da Escritura. Vejamos: 1) VENDO A DEUS – Jo 1.18 e Is 6.1 = I Jo 3.6 Segundo o apóstolo João ninguém jamais viu a Deus. E isto é correto, pois Deus é Espírito. O Dr. Shedd diz que “ninguém jamais viu o que os olhos físicos não podem ver”. Contudo, podemos dizer que a presença de Deus, a sua glória, comunica-se somente com aqueles que estão dispostos a se submeter ao Deus Todo Poderoso (Is 55.6). Se alguém não buscar perceber esta presença de Deus... Dt 31.18 e Sl 102.2. Podemos encontrar homens na Bíblia que viram a Glória de Deus, 2 a exemplo de Isaías. Analisando João veremos que quem vê a Cristo vê a glória do Senhor. Na verdade, unindo ambos os textos podemos dizer que Cristo é aquele que santifica nossos lábios que de outra forma estariam impuros para cantar louvores ao Senhor e que Deus habita em nosso meio, pois somos Santuário do Espírito Santo de Deus como o próprio apóstolo Paulo afirma em 1 Co 3.16-17. É uma nova aliança. Weller diz que a vinda de Cristo deu início a uma nova era, mas não a uma nova adoração e sim a uma adoração mais completa. Portanto, neste sentido, adorar é comparável ao processo de ver. Se assim entendermos, esta visão espiritual formará a Imagem de Cristo em nós como adoradores que somos e nos tornaremos semelhantes a Jesus (2 Co 3.18; Cl 3.10).

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A expressão hebraica shekinah (que em hb. é. hank$) designa a glória de Deus ou, literalmente, “o que tabernacula”. A expressão grega para habitou em Jo 1.14 é a mesma idéia de shekinah.


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2) OUVINDO A DEUS – Jo 8.47 e Mc 9.5-7 A comunicação , através da língua e do ouvido, é a chave do relacionamento humano. Assim, adorar pressupõe que Deus se comunica e que os homens são capacitados a ouvir a voz que não emana de nenhum ser criado, mas somente do Senhor, sendo perceptível apenas pelo Espírito Santo de Deus. Em toda a Bíblia, desde o Éden, Deus se comunica com os homens que o ouvem e se comunicam com Deus. Abraão, por exemplo, sabia que era Deus quem pedira seu filho e não uma voz oriunda do inferno (Gn 22.2). O próprio Jesus é chamado logos (que em gr. é logoj) que significa palavra (Jo 1.1, 14; 1 Jo 1.1, Ap 19.13). Em suma, quem é de Deus ouve as palavras de Deus (Jo 8.47). Deus, por ser real, não se guarda em silêncio. Ele se comunica (Sl 19.1). Quem tem ouvidos, OUÇA, o que o Espírito diz às igrejas. (Ap 2.7, 11, 17, 29; Ap 3.6, 13, 22) Portanto, quando cultuamos a Deus devemos esperar ouvir sua voz que se faz audível ao ouvido do homem interior através da sua Palavra. 3) PROVANDO A DEUS – Sl 34.8, I Pe 2.2-3, Jo 6.27, 35 e 37 e Jo 4.34 Alguns textos da Bíblia apontam para uma adoração através da experiência de provar ao Senhor, no sentido de saborear. A Bíblia falaria sobre isto? O que dizer do genuíno leite espiritual de Pedro? Em I Pe 2.3 a palavra para experiência é, literalmente saboreastes (que em gr. é egeusaqh). O que isto quer dizer? Significa que Deus precisa ser experimentado com mais profundidade em nossa adoração. É o que a expressão bondoso (que em gr. é xrhstoj) conotará. Jesus incentivou a mulher Samaritana a beber da água da vida (Jo 4.10). Alimentar-se de Cristo significa recebê-lo pela fé e dele desfrutar, pois Ele é o Pão da vida (Jo 6.27, 35, 37). Para Jesus o ato de comer pão tinha importância secundária. O que realmente importava era a comida substancial que consistia em fazer a VONTADE DO PAI (Jo 4.34). Como não lembrar da tentação no deserto? (Mt 4.3) Portanto, deleitemo-nos em comer deste maravilhoso maná espiritual nos oferecido por Cristo; não importa por quanto tempo ou quantas vezes; o que importa é o apetite espiritual pelo Senhor. Segundo o Dr. Shedd, “o cristão recebe e digere o pão que vem do céu por meio da comunhão pessoal, leitura das Escrituras, louvor, gratidão, oração e obediência... Será que temos provado do Senhor? 4) SENDO O BOM PERFUME PARA DEUS – II Co 2.15 Venho Senhor minha vida oferecer, como oferta de amor e sacrifício... Costumamos cantar esta música pois ela fala de um outro sentido ligado a adoração: Deus se agrada do bom perfume de sacrifícios a ele oferecidos e é necessário que nós sejamos tal perfume. Esta figura do perfume dos sacrifícios nos ensina que é Deus quem recebe nossa adoração. Devemos cantar como o poeta


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Daniel de Souza: Somos um jardim diante do Senhor... Somos o bom perfume de Cristo, exalando o cheiro de vida. Contudo, temos o outro lado da moeda: quando a adoração não é um bom perfume, mas sim um “mau-cheiro” (Is 1.13-15 e Ml 2.17). Isaías viu que o povo de Israel havia se acostumado com o sagrado, isto é, com os afazeres cultuais no templo que estavam sendo feitos com relaxamento e sem profunda contrição na presença da glória de Deus. “Sacrifícios cheiram mal a Deus, inevitavelmente, quando sofrem os efeitos nefastos de corações que abrigam iniquidade sem arrependimento”. Portanto, precisamos entender que Cristo foi O sacrifício, feito de uma vez por todas, por nós. Assim, tudo quanto fizermos pautados neste sacrifício supremo do Senhor cheirará bem, isto é, será um bom perfume ao Senhor, porque é por meio de Jesus (Hb 13.15-16). Somos o bom perfume de Cristo que exalam aroma de vida para a vida (para mais, leia o capítulo 4 e 5 de Apocalipse). 5) TOCANDO A DEUS – Mt 9.21, 14.36; Mc 3.10; Lc 22.51 e I Jo 5.18 O que é tocar? Tocar é Ter contato com; é sensibilizar, comover. Quando trabalhamos com os textos acima precisamos entender que não devemos desejar tocar literalmente ao Senhor como alguns imaginam ser possível na adoração contemporânea, mas sim que devemos desejar tocar a Deus no sentido de sensibilizar-nos com a sua presença, entendendo que somente Ele pode nos ajudar. Os textos-base vão nos ensinar três princípios: 1) Que nós devemos tocar ao Senhor; 2) Que o Senhor nos tocará quando o buscarmos; e 3) Que o maligno não nos tocará, pois somos guardados pelo Senhor. Uma vez que buscarmos ter contato com o Senhor poderemos ter a certeza de que ele parará, voltará e olhará para nossa necessidade. Tenhamos fé! (como a mulher enferma) Se nós o buscamos, ele se deixará achar, pois quer nos curar das feridas que machucam nossa vida (como a multidão que seguia a Jesus). Seremos tocados por Cristo ainda que nós não mereçamos. Seremos curados ainda que pequemos (como Malco). Enfim, sabemos que se somos nascidos de Deus o maligno não nos tocará, pois Aquele que nasceu de Deus, o próprio Senhor Jesus, o guarda. Nós somos de Deus. Este é o princípio básico da Adoração e os sentidos na Escritura Sagrada. PARA PENSAR: “Adorar é avivar a consciência através da santidade de Deus, alimentar a mente com a verdade de Deus, purificar a imaginação com a beleza de Deus, abrir o coração ao amor de Deus e render a vontade aos propósitos de Deus”. Willian Temple, ex-arcebispo anglicano


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CAPÍTULO V – O PREPARO DA ADORAÇÃO TEXTOS: Jr 48.10, Sl 27.4-8, Is 6.5-7, Sl 19.14 Nada nesta vida deve ser feito sem uma prévia preparação. Imagine se o seu casamento fosse realizado sem preparo?! Imagine como seria o resultado de seu vestibular sem preparo?! Imagine como será a sua adoração?! Como diz o próprio Jeremias: “Maldito aquele que fizer a obra do Senhor relaxadamente”. Portanto, é evidente que até para a nossa adoração devemos nos preparar. Mas o que é preparo? Pode-se dizer que preparo é “o conjunto das providências capazes de determinar as melhores condições possíveis para a realização dum empreendimento”. Nosso empreendimento por excelência é a adoração como definida nesta apostila. Preparo é sinônimo de aparelhar, que por sua vez significa “dotar de tudo que é necessário ao cumprimento de uma missão”. Assim, o preparo de nossa adoração consistirá de providências necessárias que deveremos tomar para uma adoração contemporânea mais bíblica. Vejamos algumas providências necessárias no preparo da adoração: 1) ENTENDER A INICIATIVA DE DEUS: Nunca devemos nos esquecer que até mesmo nossas próprias providências no tocante a adoração começam com a iniciativa do próprio Deus. De acordo com os nossos estudos até aqui (e como bem sugere Damy Ferreira), a idéia original de adoração é de que alguém que louva foi tocado ou motivado por Deus. 2) BUSCAR A DEUS – Sl 27.4-8: Os salmos são a expressão máxima da adoração da Igreja no Antigo Testamento. O salmista anela pela presença de Deus em todo salmo e, independente das tribulações, uma coisa ele pede ao Senhor e a buscará: que ele possa habitar na casa do Senhor para todo sempre. Conforme o diretório de Westiminster, “o templo de Jerusalém, objeto de freqüente meditação nos salmos, constituía o lugar da especialíssima habitação de Deus no meio de seu povo; de sua proteção na cidade, da manifestação de sua glória. Em Jesus se realiza a presença mais intensa de Deus neste mundo” (Jo 1.14; 1 Co 3.16). Assim, o salmista não pensava simplesmente de estar no templo visível, mas na presença de Deus. Quando não desejamos a presença de Deus assim como o salmista certamente algo estará acontecendo conosco: possivelmente o problema se chama pecado. Vejamos a segunda providência necessária no preparo de nossa adoração. 2) CONFESSAR OS PECADOS – Is 6.5-7: A conseqüência natural de quando buscamos a Deus é respondermos de alguma forma aos seus atributos. Isaías ao ver toda a glória de Deus respondeu com sua confissão individual de pecados ao perceber toda a santidade do Senhor. Como ele mesmo disse, seus lábios eram impuros. Como ele poderia louvar ao Senhor com tais impurezas? Como poderia pregar? Daí a necessidade de confessarmos nossos pecados, SEMPRE, ao Senhor. Ele nos perdoará assim como fez com Isaías. Como diz R. C. Sproul “não era apenas as portas


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do templo que estavam tremendo. O que mais tremia era o corpo de Isaías. Quando viu o Deus vivo, o monarca que reina no universo, revelado diante de seus olhos em toda a sua santidade, Isaías clamou: Ai de mim”. Isaías entendia o valor de se confessar os pecados; não é sem motivo que ele amaldiçoa a si próprio por causa de seus pecados ao proferir um “AI”. Isaías tem uma visão de Deus, de si próprio e do povo. 3) MEDITAR NAS PARTES DO CULTO – Sl 19.14, Sl 27.4: O que é meditar? Meditar é ponderar, submeter-se a um exame interior. Este exame interior começa a ser realizado desde quando adentramos na presença do Rei. Assim, todo o culto, toda a vida, precisa ser uma constante meditação, pois sempre estaremos na presença do Senhor. Weller afirma que tanto a leitura, canção, quanto exposição das Sagradas Escrituras têm lugar importante na adoração. São nestes momentos que meditamos. O salmista deseja que sua meditação seja agradável (Sl 19.14) e eterna (Sl 27.4). Mas em que devemos meditar? 3.1. Em quem Deus é: na sua imutabilidade, realeza, sabedoria, etc... 3.2. Em que Deus se faz presente: em nossos pecados, etc... 3.3. Em que Deus se faz presente mediante seu Filho: no amor, na graça, etc... 3.4. Em que Deus se faz presente mediante seu Filho iluminando-nos com seu Santo Espírito: a Palavra de Deus que é a verdade, etc... 4) PLANEJAR, LIDERAR E AVALIAR: Paul Basden em seu livro (141-151) nos dá pertinentes orientações sobre o preparo da adoração em um sentido mais administrativo. Ele está certo ao afirmar que nossa adoração precisa ser planejada, bem liderada e continuamente avaliada. Veja: 4.1. Planejamento: Nesta necessária providência deve-se (A) definir o propósito da adoração (que é cultuar ao Senhor), (B) estabelecer prioridades (separar tempo para o preparo) e (C) seguir os princípios (os que a Escritura ensinam); 4.2. Liderança: Neste outro importante passo somos convocados a (A) nos entregarmos a Deus plenamente, (B) sermos nós mesmos e (C) prestar culto também; 4.3. Avaliação: ou seja, avaliar equipamentos, comentários, objetivos (se foram alcançados) e, principalmente, se Deus foi cultuado em nossa adoração. Portanto, desejamos que a igreja contemporânea entenda a importância deste estudo e, buscando a Deus, confessando seus pecados e meditando em sua presença possa aprender a se preparar para adorar ao que é digno de todo louvor e adoração. Que nossa adoração, como diz Webber, seja pautada na “preparação para adorar e na saída para servir”. PARA PENSAR: “Se você não gastar tempo em adoração... quando for trabalhar não somente será inútil, como também será um tremendo estorvo para aqueles que estiverem ligados a você”.


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Oswald Chambers

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APÊNDICE 01 LITURGIA COMO ESTILO DE VIDA3 Nesta fita, o Rev. Augustus Nicodemos Lopes, Dr. Rev. Presbiteriano, trata da liturgia na igreja de Cristo como um estilo de vida analisando os textos de I Co 13 e 14, bem como todo o contexto da carta enfatizando que os referidos capítulos precisam serem interpretados a luz do contexto maior da carta. O Dr. Augustus vai ainda salientar as dificuldades do texto bíblico mostrando que Paulo estava preocupado com a ordem e decência nas igrejas de Deus. “O culto, para Paulo, deveria ser para a edificação”. “O culto não é uma bagunça”. Isto é mostrado pelo Dr. Augustus quando o mesmo enfatiza ser o propósito do Espírito Santo no Culto a edificação, mostrando que Paulo exclui qualquer coisa que não edifique a igreja fazendo um paralelo com I Co 3.9 que ressalta sermos um edifício que é aumentado a cada dia, edifício este que aumenta sobre o amor. Isto tudo foi escrito por Paulo porque na igreja de Corinto não havia edificação por dois motivos básicos: (I) Os espirituais que se levantavam no meio do culto e (II) A desordem, por causa do desprezo da mente. Segundo o Dr. Augustus, para Paulo, a edificação do corpo de Cristo consiste e depende: (I) Do engajamento da mente; e (II) Da execução deste engajamento na comunidade. A Edificação não era uma verdade naquela igreja, visto que o ápice do Culto não era a liturgia; e a mente era deixada de lado. Paulo, então, vai dizer que: 1. 2. 3. 4.

a edificação tem proeminência sobre as línguas (1-5); as manifestações espirituais devem ser inteligíveis (6-11); os atos litúrgicos não são contrários às manifestações da mente (12); a instrução do conhecimento da igreja é preferível do que as manifestações inteligíveis, sendo válido evitar que pareçamos loucos (20-25).

Paulo, neste ínterim, aplica a mensagem perguntando: “Que fazer, pois, irmãos?” Para responder esta pergunta o Dr. Augustus vai mostrar que um culto realizado no poder do Espírito mostra: (I) A necessidade da ordem quanto a participação dos dons sensacionalistas e no culto como um todo (a questão das línguas, profecias e domínio próprio); e (II) As mulheres devem participar sobre autoridade. 3

LOPES, Rev. Augustus Nicodemos; Liturgia: um estilo de vida. Belo Horizonte, MG: STPRDNE, fita 264.05, L8641, Ex 1, tombo 59, 1996. 54‟.


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Sem. Angelo Vieira da Silva

APÊNDICE 02 GESTOS E RITOS: CELEBRANDO O EVANGELHO 4 NO CAPÍTULO UM o autor abordará o tema “Gesto: a Palavra da alma” mostrando como este, na maioria da vezes, reflete um sentimento, um estado de espírito, uma palavra do interior de nossa alma, classificando-o em verbais e não verbais (31) e analisando seus perigos quando entram em conflito com outras formas de expressão (32). Amorese ainda passa a comentar os seguintes gestos: (I) Mãos levantadas: denominado como um gesto bíblico, difundido mais intensamente a partir dos movimentos carismáticos, que tem a característica de reproduzir em forma de drama uma parcela de conteúdo oriunda do contexto teológico, revelando, às vezes, o perigo “dos que têm e dos que não têm o algo mais”. Assim, o autor recomenda discernimento ao navegarmos por tais água rasas e turbulentas, tendo sempre o objetivo de esclarecer o significado deste rito para que possa ser celebrado conscientemente pela igreja, ao invés de ser uma mágica ofensiva a Deus. (II) A Expressão Paz do Senhor: identificando esta como uma simples manifestação de identificação grupal mostrando o perigo desta assumir foros sagrados e sacralizantes, tornando-se em identificadores de santidade e vida piedosa, bem como o perigo de ser vista e aceita inconscientemente como substituto para o fruto do Espírito. 36-38; (III) Olhos Fechados: mostrando que a absorção deste tornou-o sagrado – uma vez que expressa conteúdos internos altamente devocionais e elevados – e sacralizador – uma vez que o simples fato de fechar os olhos torna todo o contexto praticamente sagrado. 38-40). O gesto da alma deve nos ajudar a celebrar o evangelho, não devendo ser sacralizado ao ponto de nos levar a perder a liberdade de adorar ao Senhor adequadamente; assim conclui o autor. NO CAPITULO DOIS Amorese dissertará sobre o tema “Rito: frase da alma” definindo o mesmo como um conjunto concatenado de gestos destinados a expressar um segmento mais complexo de significados, comunicando e sedimentando conteúdos simbólicos, originários de atividades coletivas (43) e, por expressarem formas mais complexas e elaboradas de estados interiores, denunciam de forma mais clara as práticas sociais onde foram gerados. Neste ínterim, o autor vai trabalhar com os ritos da: (I) Oração Dominical: mostrando que esta apresenta uma forma que veicula um conteúdo que é uma prescrição de natureza espiritual e que se manifesta na forma de 4

AMORESE, Rubem M; Celebrando o Evangelho. 1a ed. São Paulo, SP: Ultimato, s/d. Resenha dos capítulos II e III; páginas 31 a 69.


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compreender a vida e de vivê-la, tendo o poder de sedimentar nos praticantes seus seguimentos de significado, infundindo uma maneira particular de compreender a Deus. Assim, recordando os principais componentes semânticos deste rito, Amorese, criticando a sociedade Bíblica do Brasil, acredita que esta oração seja um rito a ser celebrado tanto individual quanto coletivamente, para que não sejamos mais cristãos que acreditem e valham-se de mágicas, firmados em esperanças tolas. 44-49; (II) Liderança qualificada: identificando que o preparo desta está intimamente ligado com as necessidades do grupo, uma vez que, antropologicamente e mapeando rituais na história da humanidade, encontramos rituais relacionados à escolha dos líderes, como no próprio caso da igreja de Cristo, contudo, uma liderança que celebra o evangelho, seguindo as prescrições bíblicas de analisar as vidas quanto a sua santidade, dons, aspiração e experiência, lutando contra a secularizada forma de ver que o líder é quem faz tudo, do que é pago. Precisamos lutar contra este pensamento nas igrejas que ainda não descobriram a verdadeira função do líder que é auxiliar os seus irmãos a desenvolverem um serviço maduro para a glória de Deus ensinando os conceitos bíblicos de corpo - onde os órgãos cooperam entre si, casa - alicerçada no evangelho, serviço dinâmico e missão pelo Filho de Deus. 49-57; (III) Fio de navalha: mostrando a diferença entre os líderes eclesiásticos e os líderes espirituais, sendo que o último é aquele que conduz pessoas por caminhos espirituais e toca o Reino, enquanto o primeiro vibra com o sucesso do trabalho, crescimento, conversões e toca a igreja. 57-59; (IV) Canto Coral: mostrando sua típica adoração, destinada a expressar pela música segmentos de significado do evangelho através de um canto harmônico, revelando sua legitimidade, contudo mostrando seus perigos como bem mostrado naquela pesquisa feita aos corais da Alemanha: “Em que medida seu louvor produz louvores, ao invés de espectadores?” poderíamos perguntar. 59-65; (V) Ceia do Senhor: pela expressão bíblica “Fazei isto em memória de mim” Amorese revela o valor bíblico e cultural deste rito enfatizando os conteúdos de celebração – morte e expiação – na Ceia da igreja primitiva e de Corinto, enfatizando o caráter transmissivo da celebração: “anunciais a morte do Senhor até que ele venha”. Contudo muitas questões levantadas fazem-nos pensar: uma vez que entendemos que o pão e o vinho significam vida, sendo estes essenciais, pois, alimentos da alma e corpo, como um visitante tem compreendido o rito em nossas igrejas? Será que houve um entendimento por parte do mesmo? 65-69. Assim, espero que nossas igrejas possam, acima de tudo, fazerem conscientemente seus gestos e ritos, embasados em uma profunda análise bíblica e cultural. Sem. Angelo Vieira da Silva PARA PENSAR: “Todo hino tem que expressar louvores, direta ou indiretamente, a Deus, do contrário, não é um hino”.


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Agostinho de Hipona

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APÊNDICE 03 DESABAFO DE UM PRESBÍTERO, NÃO-TÃO-VELHO-ASSIM, À BEIRA DA SURDEZ5 Nas páginas deste artigo os argumentos serão utilizados para responder a pergunta crucial: “São todos os ritmos apropriados ao louvor, na igreja?” Neste ínterim, o Pb. Solano levantará questões importantes do Antigo e Novo Testamentos, bem como uma análise de nossas igrejas co-irmãs escocesas, mostrando a dificuldade de tal pergunta, contudo, respondendo a mesma dentro do direcionamento geral que se tem nas Escrituras e do senso comum que Deus nos concedeu dizendo: Quando procuramos na Palavra de Deus não encontramos restrição ou classificação intrínseca de ritmos, como existindo os que são „maus‟ e os que são bons.” (...) “Assim, qualquer investigação sem idéias preconcebidas, verificará que instrumentos diversos e variados foram utilizados pelos fiéis e aceitos por Deus na adoração de sua pessoa”. Portanto, respondida a pergunta, o autor mostrará exemplos bíblicos que apontam para uma intensa qualidade musical que deve ser objetivada no louvor a Deus, bem como o uso de ritmos e melodias para cada situação, como nos Salmos, de maneira coerente, uma vez que não restam dúvidas que as letras e harmonias, em conjunto, precisam refletir os ensinamentos bíblicos. Neste contexto, o autor levanta os dois problemas contemporâneos principais (anacronismo enrustido de uns e uma ingenuidade gratuita de outros) como extremados que são, fazendo paralelos com a tônica atual da espontaneidade em uma série de perguntas exortadoras e verdadeiras (3-4). A conclusão do autor, e minha, é que podemos ser abrangentes na nossa aceitação de ritmos e melodias. Sem. Angelo Vieira da Silva

PARA PENSAR: “Pregar é tornar conhecido o nome de Deus e adorar é louvar o nome do Senhor sobre o qual fomos informados”. John McArthur 5

PORTELA, Pb. F. Solano Neto; Desabafo de um Presbítero, não-tão-velho-assim, à beira da surdez. Resenha das observações sobre ritmos e o louvor na Liturgia.


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