Cidade e Espaços Livres: proposição de um sistema de espaços livres para São Carlos, SP

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Caderno de Processos de TGI

Cidade e Espaços Livres Proposição de um sistema de espaços livres para São Carlos, SP

Ana Paula Oliveira Favretto Trabalho de Graduação Integrado, 2011

Universidade de São Paulo, Instituto de Arquitetura e Urbanismo de São Carlos Comissão de Apoio Permanente: Eulalia Portela Negrelos, Joubert Jose Lancha, Karin Maria S. Chvatal, Paulo Cesar Castral, Paulo Yassuhide Fujioka, Simone Helena T. Vizioli



APRESENTAÇÃO Este Trabalho de Graduação Integrado (TGI) trata o tema dos espaços livres públicos urbanos relacionados de forma sistêmica, de modo que sejam elementos estruturadores na paisagem urbana. A abordagem do tema foi feita com o intuito de reafirmar a importância destes espaços para as cidades, pois a existência de sistemas de espaços livres bem planejados e qualificados não pode ser considerada como “luxo” ou elemento supérfluo de embelezamento da cidade, mas sim como uma necessidade básica. O objetivo deste trabalho é apresentar diretrizes para a definição de um sistema de espaços livres em determinada região da cidade de São Carlos, SP e propor o projeto de qualificação de três espaços contidos neste sistema.

SUMÁRIO Introdução ..................................................................................05 Revisão Bibliográfica ................................................................07 Primeiras Ações Projetuais ........................................................21 Definições e Diretrizes do Sistema de Espaços Livres ..............43 Proposta de qualificação para 03 Espaços Livres ......................61 Referências Bibliográficas .........................................................70

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INTRODUÇÃO A metodologia proposta para o desenvolvimento do Trabalho de Graduação Integrado (TGI) em 2011 teve por objetivo colocar o TGI como espaço da experimentação/ laboratório de arquitetura. Para tanto, o processo fora iniciado a partir de um momento de questionamentos a respeito do que motivaria e atrairia o aluno, definindo assim qual seria o universo projetual de interesses, anseios e apreciações do aluno, de forma que este universo de idéias viesse a guiar todo o conjunto de ações projetuais conseguintes. Dentro deste desenvolvimento, o presente trabalho tem como universo de idéias e interesses a questão dos espaços livres públicos, e a consideração de sua importância e funções no meio citadino. Funções estas que abrangem desde questões relacionadas à infra-estrutura urbana (relacionadas à preservação ambiental, ao clima, trocas energéticas, drenagem, etc.) como ao campo sociocultural (atividades políticas e públicas, recreativas, culturais, etc.). Este TGI se aproxima principalmente à questão dos espaços livres como locais potenciais para a implementação da vegetação urbana, capaz de trazer inúmeros benefícios à urbe, e do intercâmbio cultural, da vida pública. Considera-se que a proposição dos espaços livres deve levar em conta a diversidade de situações encontradas nas cidades, e a necessidade tanto da existência de locais em que predomine o uso de vegetação, como também locais menos vegetados, capazes de propiciar a realização das mais diversas manifestações políticas e culturais, como feiras, festivais, eventos, etc. A opção por trabalhar dentro da chave dos sistemas de espaços livres foi tomada com base na importância de se promover a dispersão destes espaços no meio urbano - importância que é apontada tanto na literatura que trata dos benefícios proporcionados pela vegetação urbana, como por autores que discorrem a respeito da importância destes espaços no desenho urbano e na promoção da diversidade cultural – e pela crença de que, tanto por parte dos citadinos (usuários) como dos governantes e agentes ligados à construção das cidades, apreender os espaços livres urbanos como um sistema é um passo muito importante para que se dê a devida atenção e consideração a estes espaços. É fundamental, também, entender que o sistema de espaços livres é, no mínimo, tão importante quanto os outros


sistemas que estruturam uma cidade, e que espaços livres bem planejados e qualificados não podem ser vistos como um “luxo” um “bônus” proporcionado a algumas cidades, mas sim como necessidade básica à vida do homem urbano. A existência de cidades que apresentam sistemas de espaços livres bem estruturados e de qualidade precisa deixar de ser exceção para tornar-se regra.

Este caderno de processos de TGI traz o resultado do trabalho desenvolvido durante o ano de 2011, e está estruturado em quatro partes principais, sendo elas: “1. Revisão bibliográfica” onde é apresentada uma breve revisão de textos que guiaram a formação do universo conceitual do projeto; “2. Primeiras ações projetuais” que apresenta as primeiras tomadas de decisão de projeto, como a escolha da cidade, a aproximação ao recorte de projeto e as leituras realizadas; “3. Definição do sistema e diretrizes” que apresenta a definição das áreas livres que compõem o sistema proposto, e a apresentação de diretrizes de uma linguagem estética para conectar cognitivamente o sistema; e “4. Proposição de três espaços livres” onde são apresentados projetos para três das áreas livres do sistema proposto.


REVISÃO BIBLIOGRÁFICA O VERDE E O URBANO Uma série de autores discorre a respeito dos benefícios proporcionados pela vegetação em relação à melhoria do conforto e qualidade de vida no ambiente urbano. Estudos apontam diversas características benéficas que o uso da vegetação pode proporcionar, dentre elas estão: sombreamento, influência na temperatura e umidade do ar, atenuação e reflexão da radiação solar, diminuição de gastos energéticos com mecanismos ativos de condicionamento de ar, capacidade de filtrar poluentes, interferência na velocidade dos ventos, benefícios para o solo e influência positiva no comportamento humano. De acordo com Albrecht (1998), Santamouris (2001), Pouey, Freitas e Sattler (2003) as árvores atuam contra a poluição atmosférica, absorvendo, através dos estômatos de suas folhas, gases poluentes, interceptando partículas, e dissolvendo, na superfície úmida de suas folhas, poluentes solúveis em água. Porém a capacidade de reter ou resistir a poluentes varia de acordo com a espécie, ou mesmo entre indivíduos de uma mesma espécie. (ALBRECHT, 1998). O autor ressalta também que as árvores podem obstruir ou desviar a visão dos observadores, agindo assim como minimizadora da poluição visual. Segundo Duarte e Serra (2003) a vegetação atua em relação à poluição do ar, de forma direta – através da filtragem de poluentes – e de forma indireta – incrementando as condições de ventilação na cidade, afetando a dispersão de poluentes. Espaçar as árvores e áreas verdes

* O interesse pelo tema Cidade e Vegetação surgiu e foi sendo desenvolvido ao longo dos anos de graduação, intensificando-se ainda mais por ocasião do desenvolvimento de uma trabalho de iniciação científica abordando o tema da arborização urbana. O tópico “O verde e o Urbano”, aqui apresentado, contém trechos do Relatório Final de Iniciação Científica, orientado pela Professora Karin M. S. Chvatal e financiado pela FAPESP.

é eficaz no que diz respeito à filtragem de poluentes. (GIVONI, 1998) É importante, ainda, destacar a capacidade das árvores em reduzir a velocidade do vento.

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Heisler (19891 apud SANTAMOURIS, 2001) mostra que um aumento de 10% da área vegetada em uma região marcada por uso residencial, é capaz de reduzir de 10 a 20% a velocidade do ar, enquanto que um aumento de 30% de área vegetal reduz a velocidade de 15 a 35%. Segundo Albrecht (1998) a existência ou não da vegetação urbana pode determinar o efeito positivo ou negativo do vento para o conforto humano. No período do inverno, a ação da velocidade do vento pode contribuir para um maior resfriamento do ar, sendo que a combinação de uma temperatura de 7ºC com uma velocidade de vendo de 16 Km/h proporciona, através da aplicação do índice de resfriamento pelo vento, uma temperatura efetiva de 0ºC (HEISLER2, 1974 apud ALBRECHT, 1998) De acordo com Santamouris (2001) as árvores e áreas vegetadas, além de se estabilizarem o solo contra erosão, filtrar poluentes do ar e diminuir a velocidade do vento, atuam de forma significativa na diminuição da temperatura e de gastos energéticos no ambiente urbano, através do sombreamento e do processo de evapotranspiração. Mascaró, Giacomin e Cuadros (2007) exaltam o papel das sombras nas cidades subtropicais, descrevendo-as como ricas, complexas, e capazes de tornar as cidades habitáveis nas estações quentes. Os autores consideram, em especial, as sombras proporcionadas pelas árvores, caracterizando-as como frescas, devido à passagem de ar pelas folhas e à evapotranspiração, além de belas, vibrantes e perfumadas. Os autores afirmam que no meio urbano, principalmente nas regiões onde prevalecem os climas tropicais e subtropicais úmidos, o sombreamento é a principal função desempenhada pela arborização. A manutenção do equilíbrio energético do ambiente é favorecida pelo sombreamento, uma vez que se impede a excessiva absorção da radiação solar, que seria posteriormente re-emitida aquecendo o ar. (OMETTO3,1981 apud MODNA; VECCHIA, 2003)

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HEISLER, G. M. (1989). `Site design and microclimate research`. Final outcome to the Argonne National Laboratory, University Park, PA: US Department of Agriculture Forest Service, northeast Forest Experimental Station.

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HEISLER, G. M. Trees and confrot in urban areas. Journal Forestry, Washington, 72 (8): p. 113-125. 1974. OMETTO, J. C. Bioclimatologia vegetal. Ed. Agronômica Ceres, São Paulo, 495 p, 1981.


Segundo Akbari e Taha4 (1992 apud ABREU, 2008), o sombreamento proporcionado por árvores e arbustos pode reduzir de 15 a 35% os gastos com condicionamento de ar no período de verão. Estudos realizados por Bueno-Bartholomei (2003) mostraram uma redução de 1,5ºC na temperatura interna de salas de aula após a colocação de árvores que sombreavam sua fachada exterior. A respeito da evapotranspiração, Santamouris (2001) descreve-a como a combinação entre os processos de transpiração vegetal e de evaporação. Ocorre, portanto, mudança de fase da água líquida, transpirada, para o estado gasoso, processo em que há absorção de calor, que é retirado do ambiente. Desta forma, a evapotranspiração das plantas contribui para a redução da temperatura urbana. Pouey, Freitas e Sattler (2003) também ressaltam que, como parte de sua função fisiológica, as árvores liberam umidade para o ambiente, e citam que segundo Higueras5 (1997) um metro quadrado de bosque libera, anualmente, 500 Kg de água. Moffat e Schiler (19816 apud SANTAMOURIS, 2001), através de estimativas sobre a quantidade de água transpirada por uma árvore num dia de verão, e da porção de calor necessária para a evaporação deste líquido, concluíram que, em média, o efeito de resfriamento proporcionado por uma árvore era semelhante ao de cinco aparelhos de ar condicionado. Santamouris (2001) mostra que, além das contribuições para o conforto térmico das cidades, as árvores assumem um papel social, citando uma série de estudo a este respeito, entre eles um realizado por Ulrich (1984), comprovando que o período de pós operatório, a possibilidade de complicações e a necessidade de doses de analgésicos era menor para pacientes que tinham a vista de suas janelas voltadas para ambientes com paisagens vegetais, do que para aqueles que possuíam uma vista voltada para uma parede do interior do prédio. O autor apresenta também estudos onde constatam que a presença de árvores é capaz de elevar o valor das propriedades, tornar a cidade mais atraente, influenciar na

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AKBARI, H.; TAHA, H. The impact of trees and White surfaces on residential heating and cooling energy use in four Canadian cities. Energy, the International Jounal, Oxford, v.17, n. 2, p. 141 – 149, 1992.

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HIGUERAS, E. Urbanismo bioclimático. Dissertação (Doutorado). Escola Técnica Superior de Arquitetura de Madrid, 1997

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MOFFAT, A.; SCHILER, M. Landscape designs that save energy. William Morrow and Company, New York,

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escolha dos locais de moradia, e interferir positivamente no temperamento das pessoas. Modna e Vecchia (2003) afirmam que a presença de árvores no ambiente urbano é de extrema importância para garantir às pessoas boas condições de saúde física e mental. Brown & Dekay7 (2000 apud ABREU, 2008) demonstraram através de estudos hipotéticos, que cidades com população superior a um milhão de habitantes apresentam possibilidade de redução de temperatura se apresentarem superfícies evaporativas maiores que 10-20% da área da cidade. Givoni (1991; 1998), Spirn (1995), Honjo e Takakura (1990/91) e Assis (1990) consideram que as áreas verdes possuem um efeito localizado, recomendando, portanto, sua distribuição pelas áreas de espaço construído. Duarte e Serra (2003) a partir de uma determinada dimensão, o aumento de área de um único parque apresenta uma modificação muito pequena nas condições climáticas de seu entorno, porém a divisão e dispersão desta área em maior quantidade de pequenos parques ampliam seus benefícios climáticos. Portanto os autores defendem a existência de áreas verdes e superfícies de água em cada bairro, sendo que os parques urbanos podem servir como elementos que proporcionem a interligação dos bairros e compartilhem serviços e equipamentos. Duarte e Serra (2003) apontam que no Brasil, devido à retração vegetal no período das secas, a manutenção da vegetação é facilitada por sua divisão em conjuntos de áreas verdes de menor dimensão. Os autores atentam para o fato de que mais investigações devem ser realizadas a fim de otimizar o tamanho das áreas verdes e o investimento correspondente a ser empregado nestes espaços, em relação á economia energética e a melhoria de qualidade de vida da população. Sendo assim, a partir do princípio de uma melhor distribuição de áreas verdes, a validade do parâmetro que apresenta a quantidade de área vegetada para cada habitante mostra-se questionável, uma vez que não é refletida a distribuição deste verde pela cidade. Os mesmos autores afirmam que existe equivalência de importância e benefícios para a população entre a disponibilidade e a distribuição e qualidade dos espaços produzidos.

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BROWN, G. Z.; DEKAY, M. Sun, Wind & Light: Architectural Design Strategies. 2 ed. Auflage: Wiley – VCH Verlag/ GmbH & Co. KGaA, 2000. 381p. v. XlX

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ESPAÇOS DE SOCIABILIDADE E INTERCÂMBIO CULTURAL A sociedade atual vem se tornando cada vez mais urbana, e de acordo com Silva (2003) “Nos últimos três séculos os habitantes das cidades têm procurado manter a satisfação emocional e inata de uma relação entre indivíduos e ambiente, estabelecida no curso da evolução humana por meio da criação de espaços verdes.”(p.1) Lobada e De Angelis (2005) em um trabalho que busca refletir a respeito dos espaços públicos vegetados na organização de aglomerados urbanos, atenta para o fato de que, sobretudo nas últimas décadas, a discussão sobre os problemas ambientais tem-se tornado mais intensa, e assim vem se constituindo como temática obrigatória no cotidiano das cidades. Segundo os autores, as áreas verdes tornaram-se, portanto, “os principais ícones de defesa do meio ambiente pela sua degradação, e pelo exíguo espaço que lhes é destinado nos centros urbanos.” (LOBADA; DE ANGELIS, 2005, p.129) Macedo e Custódio et. al. (2009), com o intuito de verificar e contextualizar as transformações ocorridas nos espaços livres das cidades brasileiras contemporâneas discorrem a respeito do processo de reestruturação urbana, diagnosticado no início dos anos 90, que fora deflagrado por uma crise econômica mundial dos anos 80. Como principais características desta crise os autores apontam: o “rompimento com o acordo capitalista fordista, pelo conseqüente retorno de avassalador liberalismo econômico, ancorado em uma revolução técnico-científico-informacional sem par e em um elogio suspeito da democracia e da cidadania.” (p. 1). Os autores apontam que o redimensionamento do contraditório (conflituoso e complementar) par espaço-tempo pode ser observado em todos os aspectos e escalas, indo desde o “chão da fábrica ao cotidiano doméstico, do campo econômico, stricto sensu, ao cultural, comportamental e sentimental.” (p.1). Dentre as características resultantes deste processo, os autores apontam para uma alteração na “estrutura do sentimento” dos citadinos, ampliando suas sensações de incertezas, medos, competitividade, depressão, etc. Ascher (2010) expõe que os avanços científicos e tecnológicos, principalmente no que diz respeito aos meios de comunicação, estão vinculados a uma modificação das relações sociais das novas urbanidades,

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segundo ele “O aumento das possibilidades de ação e interação em uma distância espacial e temporal é tal que os indivíduos podem ter a impressão de poder estar em muitos lugares e tempos simultâneos” (p.38). Ascher aponta que este deslocamento vincula-se a um progressivo enfraquecimento das comunidades locais (deixando claro que isto não significa a total extinção das relações neste âmbito), uma vez que “o local já não é o lugar obrigatório da maioria das práticas sociais nos diversos campos do trabalho, da família, do lazer, da política, da religião, etc.” (p.38) Ainda quanto às novas relações sociais urbanas Silva (2003) coloca, com base em levantamentos bibliográficos, que a vida nas cidades tornou a convivência mais conflituosa e sujeita a disputas e intrigas, ocasionando uma fragilização dos laços sociais. Além disto, os citadinos desenvolveram doenças e síndromes relacionadas ao excesso de trabalho e a uma reduzida convivência social. Brouwne e Whitaker (1973 apud Silva 2003) defendem a importância das áreas verdes na melhoria da convivência entre os citadinos, pois estes espaços seriam destinados ao rompimento com a rotina de trabalhos, encontros entre as pessoas, caminhadas e contato com ar puro, promovendo assim melhoria na saúde física e mental dos habitantes. Macedo (2010) reconhece que as áreas verdes (vegetação) possuem um papel fundamental nas cidades brasileiras, tanto quando relacionada a questões de drenagem urbana, como na melhoria de microclimas, diversificação da vida animal e fator de embelezamento das cidades, porém atenta também para a grande “importância dos espaços não vegetados para inúmeras práticas de relevância cultural: das feiras às festas populares, das manifestações políticas à valorização de determinadas paisagens e patrimônios culturais” (p.5). A respeito das praças urbanas, Teixeira (2006, p.2) evidencia que estes espaços são “locais privilegiados de encontro, de troca, de convivialidade e de sociabilidade na cidade, condensando em si as razões de natureza política, social, econômica, que historicamente conduziram ao aparecimento e à estruturação das cidades e que constituem a sua essência.” Rocha Jr. (2009) defende que para a recuperação de cidades antigas e a criação de novas estruturas urbanas fazem-se necessárias transformações “de ordem econômica, social, política e cultural e o agenciamento de espaços capazes de favorecer o encontro das pessoas, a troca de idéias e

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o congraçamento – como as praças. Allan Jacobs (1995) ao tratar da temática das ruas, que segundo Macedo (2010) são os principais espaços livres citadinos, afirma que as ruas assumem um papel maior do que a mera funcionalidade, são mais do que o equivalente às redes de água, de esgoto e de eletricidade. O autor coloca que as ruas não são apenas espaços físicos lineares capazes de guiar os fluxos de pessoas e objetos, e ressalta que a comunicação continua sendo seu objetivo principal, assim como o acesso público livre às propriedades. Segundo o autor: In a very elemental way, streets allow people to be outside. Barring private gardens (…) or immediate access to countryside or parks, streets are what constitute the outside for many urbanites; places to be when they are not indoors. And streets are places of social and commercial encounter and exchange. They are where you meet people (…) The street is movement: to watch, to pass, movement especially of people: of fleeting faces and forms, changing postures and dress. You see people ahead of you or over your shoulder or not at all, absorbed in whatever has taken hold of you for the moment, but aware and comforted by the presence of others all the same. It is possible to stand in one place or sit and watch the show. The show is not always smiles of greetings or lovers hand in hand. There are cripples and beggars and people with abnormalities, and, like the lovers, they can give a pause: they are reasons for reflection and thought (…) (JACOBS, 1995, p. 4) De uma forma muito elementar, ruas permitem que as pessoas estejam fora. Excetuando jardins privados ou acessos imediatos ao campo ou a parques, as ruas são o que constituem o exterior [outside] para muitos habitantes urbanos [urbanites]; locais para quando não estejam em interiores [indoors]. E ruas são locais de encontro comercial e social e de trocas. São aqueles onde você encontra pessoas (...). A rua é movimento; para olhar, para passar, movimento especialmente de pessoas. Os rostos e formas fugazes, das poses e roupas mudando a todo momento. Você vê pessoas à sua frente ou por cima do seu ombro ou de forma alguma, absorto em qualquer coisa que esteja te ocupando naquele momento, mas consciente e confortado pela presença de outros na mesma situação. É possível ficar em algum lugar ou sentar e assistir ao espetáculo. O show não é sempre de cumprimentos risonhos ou de amantes de mãos dadas. Há aleijados e mendigos e pessoas com deformidades e, como os amantes, eles podem motivar uma pausa: há razões para reflexões e o pensar.

(JACOBS, 1995, p. 4 - tradução)

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Acerca da esfera de vida pública, Macedo e Custódio et. al. apontam que: A manifestação da esfera de vida pública envolve a produção cultural, a construção da cidadania, do interesse público, do bem público constituído socialmente diante do conflito de interesses individuais ou de grupos e, na cidade, teria a realização nos espaços públicos – ruas, calçadas, praças, parques e outros [...] (MACEDO; CUSTÓDIO et. al. 2009)

O “ser visto e ouvido” por outras pessoas é algo importante nesta esfera, uma vez que “todos vêem e ouvem de ângulos diferentes. Este é o sentido da vida pública [...]” (ARENDT 8, 1991, p. 69 apud MACEDO; CUSTÓDIO et. al., 2009, p.3). Com base em revisões bibliográficas, os autores apontam para a observação de um fenômeno de acentuada decadência da esfera pública, após as transformações ocorridas após o fim da segunda grande guerra, e para o incremento de uma esfera “social” que vem em substituição à esfera de vida pública. A esfera social estaria ligada a relações de economia e mercado sendo fortalecida por uma ideologia de consumo, onde os bens agregando o papel de garantir status a indivíduos e grupos. “A cidade da reestruturação econômica recente (...) passa então a ser tida como lócus de um grande espetáculo, onde são considerados os “espaços” para ver e ser visto os “espaços” de vitrine e pretensa transparência” (VIRILIO, 2005, p. 24 apud MACEDO, CUSTÓDIO et. al. 2009, p.3). Os autores ressaltam, porém, que o “ver e ser visto” da esfera social não é equivalente ao “ver e ser visto” na esfera pública, uma vez que esta se caracteriza por comportamentos padrões, permitindo e atraindo “indivíduos padrão”, de forma que as práticas e códigos não constituem um cenário de alteridade e diversidade. Outra característica, colocada pelos autores, é que “Os espaços públicos urbanos, na perspectiva da esfera social, são priorizados para o divertimento (hedonismo fugaz via consumo) e não para a cultura e ação política (construtoras do cidadão e da cidadania)” (MACEDO, CUSTÓDIO et. al. 2009, p.3 -4). Apesar dos autores concordarem que de fato as cidades vêm sofrendo uma progressiva

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ARENDT, Hannah. A condição humana. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1991.


decadência da esfera pública, estes enfatizam que “não se pode decretar sua extinção, pois tal esfera e os espaços públicos urbanos, tidos como os mais possibilitadores da manifestação da vida pública, são imanentes a toda e qualquer cidade da / na história. “(p.4) [...] a existência de espaços públicos urbanos onde se pode “ver e ser visto por todos” – mesmo que utilizados prioritariamente para o divertimento (pela esfera social) – significa que há esperança e possibilidade de construção, recuperação, organização e realização da esfera de vida pública na cidade contemporânea. (MACEDO, CUSTÓDIO et. al. 2009, p.4)

A VISÃO SISTÊMICA DOS ESPAÇOS LIVRES Magnoli (2006) conceitua o espaço livre como: [...] todo espaço (e luz) nas áreas urbanas e em seu entorno, não coberto por edifícios. A amplitude que se pretende diz respeito ao espaço e não somente ao solo não cobertos por edifícios; também diz respeito aos espaços que estão ao redor, na auréola da urbanização, e não somente internos, entre tecidos urbanos (MAGNOLI, 2006, p. 202)

De acordo com Macedo (2010) “O conceito de sistema de espaços livres [...] se sobrepõe, contendo e ampliando o conceito usual de áreas verdes freqüentemente utilizado no país, que tem como base a necessidade de espaços livres dotados de vegetação.”(p.4) Ainda de acordo com o autor, esta idéia seria reducionista, uma vez que desconsidera algumas características de fundamental importância ao espaço urbano “como a complexidade e diversidade das formas de apropriação e apreensão social e o fato real da impossibilidade física e mesmo da inconveniência da existência de vegetação em determinados espaços livres.” (p.5) “Entende-se como sistema de espaços livres (SEL) urbanos os elementos e as relações que organizam e estruturam o conjunto de todos os espaços livres de um determinado recorte urbano – desde a escala intra-urbana à regional.” (p.3)

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De acordo com Silvio Macedo (2010), estão contidos no sistema de espaços livres (SEL) urbanos todos os espaços livres existentes em um determinado recorte escalar, sejam eles públicos ou privados independendo de sua dimensão, localização, qualificação ou propriedade. O autor aponta que a idéia de SEL relaciona-se à existência de vínculos de ordem funcional e organizacional, uma vez que apenas os espaços públicos apresentam a potencialidade de se conectar fisicamente, e isto se dá principalmente pelo sistema viário. É valido notar que “Os espaços livres públicos não são, necessariamente, todos conectados fisicamente [...] a conexão física é apenas uma das inúmeras formas de relações entre os espaços livres.” (p.4) “Parte-se, portanto, do princípio que toda a cidade possui um sistema de espaços livres que é produzido durante seu processo de formação tanto pelo Poder Público como pela iniciativa privada” (p.4) Macedo (2010) coloca também que tal sistema é uma necessidade básica na existência das cidades, uma vez que é fundamental no desenvolvimento da vida cotidiana, assume papel estrutural na composição da paisagem urbana, “participa da constituição da esfera de vida pública (geral e política) e da esfera de vida privada”, é um elemento de importância fundamental na “conservação de recursos ambientais e dinâmicas ecológicas existentes dentro e na vizinhança de áreas urbanas, tendo papel estrutural na drenagem local.” (p.4) Lobada e De Angelis (2005) defendem também que a evolução dos espaços livres seja um dos principais sistemas formadores do organismo urbano, no entanto, evidenciam que dentro da maneira como fenômeno urbano tem sido conduzido há, de modo geral, predominância das questões econômicas sobre as sócio-ambientais, o que faz com que elementos de caráter público sejam deixados em segundo plano ou considerados como problemas. Em sua grande maioria, as cidades brasileiras estão passando por um período de acentuada urbanização, fato este que reflete negativamente na qualidade de vida de seus moradores. A falta de planejamento, que considere os elementos naturais, é um agravante para esta situação. Além do empobrecimento da paisagem urbana,

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são inúmeros e de diferentes amplitudes os problemas que podem ocorrer, em virtude da interdependência dos múltiplos subsistemas que coexistem numa cidade. (...) Em pleno século XXI, está evidente a importância do planejamento do meio físico urbano; no entanto, a preocupação de quem planeja ainda está centrada nas características sócio-econômicas, relegando a dependência dos elementos naturais. (LOBADA; DE ANGELIS, 2005, p.130)

Frente a esta tendência de desenvolvimento, caso não se tomem providencias quanto a reabilitação das áreas verdes públicas - não apenas relativa a suas estruturas físicas, mas também quanto a suas funções geoambientais, estéticas e sociais – caminha-se para um cenário em que “os únicos espaços de uso coletivo tendem a ser cada vez mais privados – shoppings centers, condomínios residenciais, edifícios polifuncionais – e não as nossas praças, parques e vias.” (LOBADA; DE ANGELIS, 2005).

OS ESPAÇOS LIVRES NO DESENHO URBANO Segundo Magnoli (2006), o espaço livre vincula-se fundamentalmente à localização relativa às edificações, ou seja, aos seus ocupantes. “O enfoque de espaço livre enquanto objeto de desenho só é relevante desde que analisado em face das atividades e necessidades do homem urbano” (p.202) Ainda de acordo com Magnoli a definição e o enfoque de espaço livre torna a questão da quantidade de espaços livres secundária, trazendo em primeiro plano “a importância relativa a onde estão os espaços livres e (...) articula o onde com as permeabilidades dos edifícios e da urbanização (...) nas diversas escalas desde o bairro, conjunto de bairros, núcleos urbanos, metrópoles, sub-regiões, regiões”. (p.202) A figura a seguir ilustra as questões relativas a esta localização e estruturação dos espaços livres:

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Fonte: MAGNOLI, 2006

A autora expõe de maneira enfática que a distribuição e configuração dos espaços livres na cidade assumem papel primordial, e deve se dar de tal forma que traga enriquecimento às atividades do homem urbano. É também colocado que a apropriação destes espaços pelo homem se dá em diversos âmbitos (locais, setoriais, urbanos, metropolitanos, etc.) em função da proximidade espacial. “A distribuição de espaços livres para serem apropriados pelo homem (sistema de parques) fica vinculada às maneiras de acesso disponíveis em cada uma das escalas de urbanização e a freqüência do usuário”. (MAGNOLI, 2006, p.203) O atendimento do cidadão nas várias escalas de urbanização e a diversidade de apropriações em atividades variadas, diversificadas, específicas ou não, “ativas” ou “passivas”, para todos os cidadãos em idade, sexo, isolados ou em grupos, leva à distribuição de espaços diversificados no interior, na periferia e no exterior da mancha urbana. Diversificados em configuração, em acessibilidade, em desenho, em manutenção. (p.203)

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PRIMEIRAS AÇÕES PROJETUAIS

Dentro da temática dos espaços livres, que configura o universo de interesses projetuais deste trabalho, e da necessidade de selecionar um cidade para a qual será desenvolvido um projeto, destacarammse duas possiveis hipóteses de atuação: uma delas seria a de intervir em regiões onde os problemas causados pelo descaso com os espaços livres já estivessem amplamente consolidados, como, por exemplo, no caso das cidades metropolitanas. A outra hipótese seria a de atuar em cidades médias que ainda estão passando por um processo de expanção, podendo-se considerar que nestas cidades as intervenções assumem o papel de prevenir a ampliação e agravamento dos problemas relativos ao descaso com os espaços livres. Para o desenvolvimento deste TGI optou-se pela segunda hipótese de atuação, selecionando-se como objeto de estudo uma cidade de médio porte, a cidade de São Carlos, SP.

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São Carlos, SP

São Carlos localiza-se no centro geográfico do Estado de São Paulo, a uma distância de 255 km da capital paulista. Sua população é de 221.936 habitantes, sendo que 213.070 destes residem em área urbana. A cidade possui o título de capital da tecnologia por ser marcada por rigor acadêmico, São Carlos dispõe de três campi de duas universidades de grande relevância nacional (2 campi da USP e um campus da UFSCar) assim como dois centros de pesquisa da EMBRAPA. O setor industrial conta com a presença de grandes industrias como a Volkswagen (motores), Tecumseh (compressores), Faber Castell (lápis), Electrolux (geladeiras e fogões), etc. (Dados obtidos no portal digital da prefeitura de São Carlos, SP) Assim como outras cidades brasileiras, São Carlos apresenta uma série de carências a respeito de seu sistema de espaços livres, tanto no que diz respeito à sua quantidade como quanto à sua qualificação. Portanto, considerou-se viável a propsição de uma intervenção neste sistema.

Uma vez estabelecida a visão sistêmica de espacos livres como universos de conceitos projetuais e selecionada a cidade de São Carlos, SP para receber a intervenção, faz-se necessária uma aproximação a um recorte de projeto mais específico para a proposição do projeto, e em busca de selecionar esta região da cidade foram realizados levantamentos (sintetizados na figura ao lado), e por meio da sobreposição de informações como: ligações rodoviárias, vias principais, existência de corpos d’água, localização dos campi universitários da USP e da UFSCar, zonas de interesse histórico e de ocupação induzida (definidas pelo plano diretor municipal), disponibilidade de espaços livres (qualificados ou apenas não construídos), manchas onde ainda se observa a existencia de lotes vagos, etc. foi selecionado o recorte escalar que será apresentado a seguir.

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Legenda:

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O recorte com destaque em cor, despertou especial interesse principalmente devido aos seguintes fatores: Contém as nascentes dos córrego Santa Fé, Mineirinho e Cambuí, além da presença de mata siliar preservada ao longo destes corpos d’água; Localiza-se, em sua maioria, na zona de ocupação induzida, definida pelo Plano Diretor Municipal; É um eixo de crescimento da cidade que está em um amplo processo de desenvolvimento. Possui ainda uma quantidade significativa de lotes disponíveis para a construção Situa-se entre os dois Campi da USP Possui quantidade significativa de espaços livres com grande potencial para requalificação e criação de parques e praças.

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O Plano Diretor Municipal apresenta a intenção da criação de um conjunto de vias arteriais que atravessa uma ampla parcela territorial localizada próxima ao recorte de projeto. Estas diretrizes viárias demonstram a existência de grande potencial de expansão da cidade para essa parcela territorial, que hoje está situada fora do perímetro urbano. Com a expansão da cidade para esta região acredita-se que o recorte urbano selecionado (indicado pelo retângulo branco) tende a ganhar ainda mais relevância, e por situar-se em área de ocupação induzida, imagina-se a possibilidade de verticalização para alguns dos bairros nele compreendidos. A região em destaque engloba os seguintes bairros: São Carlos I. II, III, IV, Loteamento Social Santa Angelina, Jardim Santa Felícia, Planalto Paraíso, Jardim Alvorada, Morada dos Deuses, Jardim Bandeirantes, Parque Santa Marta, Jardim Centenário e Jardim Santa Paula. LEGENDA: Rodovia Washington Luiz Transposição e acesso à rodovia T Linha férrea Campi Universitários Vias principais Áreas onde se percebe promissora potencialidade de urbanização Diretrizes viárias: Criação de vias arteriais Transposição da rodovia Transposição e acesso à rodovia Áreas livres: APPs Públicas qualificadas (praças, jardins, centros esportivos, etc.) Não edificadas e não qualificadas

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Leituras e Impressões Após a seleção da região da cidade de São Carlos que abrigaria a proposta de intervenção deste TGI, iniciou-se a “frequentação” á esta parcela da cidade. Foi realizada uma série de visitas a esta área, e registradas impressões e dados da região, que serão apresentados a seguir.

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Levantamento de usos do solo LEGENDA: ÁREA NÃO LEVANTADA ZONA RURAL (PASTAGEM) LINHA FÉRREA MATA PRESERVADA CAMPI USP VAZIOS COMERCIO / SERVIÇOS EQUIPAMENTOS E ÁREAS DESTINADAS AO USO INSTITUCIONAL ÁREAS LIVRES RESIDENCIAL MÉDIO- MÉDIO ALTO MÉDIO - MÉDIO BAIXO MÉDIO BAIXO MÉDIO BAIXO - BAIXO CONDOMÍNIO RESIDENCIAL

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Espaços livres relacionados a: Corpos d’água Vias Principais Vias Locais

Mediante observações e reflexões, foi possível apreender que o sistema de espaços livres da região subdivide-se em três subsistemas ou “estruturas de espaços livres”, sendo que um relaciona-se à presença de corpos d’água e mata siliar preservada, outro ligando-se ao conjunto de vias principais (onde se tem maior possibilidade de desenvolvimento comercial ou disponibilidade de outros equipamentos) e o terceiro é constituído por espaços circundados por vias locais e ocupação predominantemente residencial.

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Ruas Miguel Petroni e Miguel João

1 2

Espaço Livre 1

30

Espaço Livre 2

Os espaços livres rompem com a massa construida e permitem apreensão do binário R. Miguel Petroni - R. Miguel João


Espaço Livre 1

Espaço Livre 2 Intenso fluxo de veículos

Calçadas estreitas Espaço Livre 01

Sensação de que a “caixa da rua” seja estreita

Espaço Livre 02 Centro esportivo de Santa Felícia

Faixa de estavionameto praticamente contínua ao longo de toda a via 31


Deficiência quanto à arborização urbana; presença marcante da fiação elétrica

Presença praticamente contínua da faixa de estacionamento; calçadas em péssimo estado; grande dificuldade de travessia

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Abertura da calha da rua por ocasião do espaço livre 02; existência de grande extenção de um muro de fundo de um condomínio residencial; vista privilegiada da skyline da cidade a partir do espaço livre 02.

Intenso fluxo de veículos; vista da skyline; ligação entre o espaço livre 01 e o centro esportivo de Santa Felícia

33


Rua Miguel Petroni e Av. Jo達o Dagnoni

34


Rua Miguel Petroni

35


36


Intenso fluxo de veículos

Intenso fluxo de veículos

Calçada estreita no canteiro central

37


38


Av. Jo達o Dagnoni

39


Av. Bruno Ruggiero Filho

40


A Av. Bruno Ruggiero Filho apresenta um porte estrutural, vias amplas e canteiro central generoso, porém a ocupação de seu entorno é marcada ainda por uma ambiência bastante bairrista.

Acredita-se que com o crescimento da cidade de São Carlos, em um futuro próximo, a Av. Bruno Ruggiero consolidará sua grande importância estrutural para a cidade, e seu entorno será ocupado por edifícios de comércio e serviços, ocorrendo uma verticalização nesta região da cidade.

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DEFINIIÇÃO E DIRETRIZES DO SISTEMA DE ESPAÇOS LIVRES

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Os destaques em cor da figura ao lado correspondem aos espaços livres que serão qualificados ou requalificados e às vias que receberão tratamento diferenciado de calçadas e arborização. As vias destacadas configuram os percursos principais entre estes espaços livres, e devem ser qualificadas de forma que a população reconheça estes percursos e, mesmo não conhecendo a localização exata, saiba que ao caminhar por estas vias encontrará uma sequência de espaços livres.

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Como apresentado anteriormente, estes espaços livres podem ser classificados como pertencentes a três “estuturas de espaços”, e cada uma destas “estruturas” apresentam características e abrangências peculiares, que devem ser consideradas no projeto de seus espaços livres.

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Os espaços livres que se relacionam à existência de corpos d’água e mata siliar preservada devem ter tratados sob um foco ambiental e preservacionista, pois constituem as florestas urbanas, fundamentais para a preservação de recursos hídricos, biodiversidade vegetal e animal, etc. Desta forma, estes espaços não precisam estar totalmente acessíveis ao habitantes, porém é muito importante seja feita, para além das áreas de preservação permanente, a qualificação de parques e bosques que além de configurar espaços de fruição para os citadinos, funcionem como uma faixa de transição entre a mata e a cidade. A consolidação destas faixas de transição também possuem um importante papel na preservação das matas, pois impede que as áreas de mata sejam ocupadas irregularmente.

Os espaços localizados no interior dos bairros, que são margeados por vias locais e possuem o seu entorno ocupado predominantemente pelo uso residencial, assumem uma abrangência mais local, sendo utilizados principalmente pelos moradores da vizinhança. Estes espaços são os que estão mais fortemente presente no cotidiano dos moradores, são locais onde a população se envolve em práticas rotineiras de exercícios físicos, as mães ou babás passeiam cotidianamente com as crianças, os idosos fazem pequenas caminhadas e encontram os amigos, a comunidade se reúne em eventos locais, etc.

Os espaços livres ligados às principais vias da cidade são locais de abrangência municipal, são espaços de maior visibilidade e geralmente são circundados por uma ocupação de uso comercial e de serviços. Estes espaços tem a potencialidade para abrigar equipamentos públicos relacionados aos mais diversos usos (cívicos, culturais, esportivos, recreativos, etc.)

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A respeito da estrutura de espaços livres que se relaciona às vias principais, os levantamentos apontaram para quatro frentes de atuação que seriam: A (Miguel Petroni)- Reestruturação de via comercial já consolidada - definição de calçadas, mobiliários, dispositivos que facilitem a travessia de pedestres, novas propostas de estacionamento, diretrizes a respeito da fachada das lojas e dispositivos publicitários requalificação e uma praça e criação de uma nova praça. B (Miguel Petroni) - Diretrizes para a consolidação de região comercial - definição de calçadas, mobiliários, dispositivos que facilitem a travessia de pedestres, propostas de estacionamento - Qualificação do canteiro central (muito utilizado atualmente como circuito de caminhada), Criação de praças que ajudem a resguardar

Escolas Estaduais Ens. Fundamental e Médio

a região residencial da dinâmica da via de grande fluxo e que proporcionem atividades ligadas ao esporte. C (Av. João Dagnoni) - Qualificação da ampla área de canteiro

C

B

central, propondo atividades de lazer passivo e ativo considerando as limitações colocadas pela existência da rede de alta tensão.

A

D (Av. Bruno Ruggiero) - Considerando a estrutura física das vias (ampla/ alargada) e seu plano de ampliação (apresentado acima juntamente a um conjunto de diretrizes para a construção de

D

vias arteriais), se aceita a hipótese da ocorrência de um processo de verticalização ao longo da via, e desenvolvimento de atividades comerciais e de serviços, propõe-se, portanto, além de espaços de lazer e esportes, a qualificação de espaços destinados à atividades cívicas e culturais.

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Percurso

Lazer contemplativo

LazerEspaço para Eventos e feiras ativo

CEMEI - Educação infantil

Instituição de Saúde

Áreas/Equipamentos Institucionais

Condomínio Residencial Entidade assistencial Lar Rosa de Saron Posto Policial Centro Esportivo Áreas/Equipamentos Institucionais

Percurso / Caminhada Redesenho de calçadas e mobiliário, redução da faixa de estacionamento, facilitar travessias,

Criação e requalificação de praças Atendendo a demandas e Atraindo demandas 50

A

Tratamento artístiico de muros


Percurso

Lazer contemplativo

Academia ao ar livre

Caminhada

Lazer Esportivo

Instituição de Saúde

CEMEI - Educação infantil

Desnivel das vias

Ecoponto

Cancha de malha

Percurso / Caminhada /Atividade física

Qualificação de praças

Desenho de calçadas e mobiliário / Retirada da faixa de estacionamento - propor bolsões / Qualificação do canteiro central / Proposição de travessias

Circuito de caminhada e ciclismo Academia ao ar livre Atividades Passivas/ Contemplativas/ Desprogramadas

B

51


Playground adulto

Conexão Wi-fi

Playground infantil

Patrimônio Indisponível

Ponto Ecológico

52

Cancha de malha

Percurso / Caminhada /Atividade física

Qualificação de praças

Conexão de internet wireless

- Considerando a limitação da linha de alta tensão / ou revisando a possibilidade de sua retirada; - Verificar as limitações a respeito do patrimônio indisponível

C


Conexão Wi-fi

Percurso

Espaço para Eventos e feiras

Guarda Civil Municipal

Edificio cultural

CULTURAL Lazer contemplativo

Academia ao ar livre

CEMEI - Educação infantil

Instituição de Saúde

Escola do Futuro

Caminhada CUL TUR

AL

Lazer Esportivo

Playground infantil

Playground adulto

Escola de ensino básico

Instituição de Saúde

D

Requalificação de praça - Playground Equipamento cultural e praça para eventos Qualificação de praças com atividades esportivas Requalificação de praça para atividades de caminhada/ corrida

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Para além de ligações físicas Para além da ligação física entre os espaços livres do sistema proposto, que se dá por meio das ruas, sentiu-se a necessidade de aplicar diretrizes de uma linguagem estética que pudesse ligar estes espaços cognitivamente, de forma que o usuário fosse capaz de compreender estes espaços como um sistema. A definição de uma liguagem estética, aplicada a todo o sistema, tem também a função de estabelecer um discurso, que está amplamente relacionado com a já apresentada subdivisão deste sistema em três subsistêmas ou “estruturas” de espaço. Cada uma das três estruturas de espaço (espaços relacionados à existência de corpos d’água e mata preservada, circundados por vias locais e ocupação residencial, ligados às vias principais e com entorno marcado por uso ligado ao comércio e serviços) possue um nível de abrangencia e um foco (potencialidades e intenções) diferenciados. Cada um destes espaços apresenta uma diferente função na cidade, e a idéias de planejá-los em conjunto é buscar que o todo (a totalidade do sistema) seja superior à soma de suas partes. Mediante uma série de análises e reflexões, optou-se por trabalhar com uma linguagem de gradação que vai de uma estética “naturalizada” (nas regiões próximas às matas) até uma estética claramente artificiosa (na estrutra de espaços livres relacionada às vias principais). É importante ressaltar que mesmo as áreas qualificadas por uma estética “naturalizada” são frutos do artifício, pois são paisagens planejadas e fruto da ação humana de manipular elementos naturais.

54


Trabalha-se, portanto, com uma linguagem de gradação que vai de uma estética “naturalizada” até uma estética onde as marcas do artifício são explicitadas. Esta gradação possui três estágios, que se relacionam às três “estruturas de espaço” observadas na região selecionada para a proposição do sistema de espaços livres. A utilização desta linguagem de gradação busca, além de enfatizar a necessidade da existência de espaços livres de diferentes qualidades na cidade, trabalhar o imaginário da população buscando despertar a atenção do indivíduo para fenômenos simples, porém muito ricos, como a projeção de sombras, as relações com a água, etc. que muitas vezes passam despercebidos.

Linguagem de Gradação:

Estética Naturalizada

Estética Artificiosa

Com o intuito de guiar o desenvolvimento desta linguagem de gradação durante o projeto dos espaços livres, foram desenvolvidos quatro grupos de ações projetuais, que relacionam-se à relação com a água, aplicação de pisos, projeção de sombras e aos tetos.

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I. Relação com a água

Contemplativo/ Visual - sem intervir projetualmente nos cursos d’água

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Construção “orgânica” d e regos de água


II. Pisos

Passarelas

Trilhas

Adição

Caminhos - sobrepostos

Subtração

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III. Projeção de sombras

A partir do natural - elementos do meio físico e luz solar

A partir de elementos construídos e luz artificial

58

A partir de elementos construídos e luz solar


IV. Tetos

Natural - รกrvores

Pergolados

Marquises

59


1

2

3


PROPOSTA DE QUALIFICAÇÃO PARA 03 ESPAÇOS LIVRES

Após a definição dos espaços livres para a composição do sistema, e da apresentação de diretrizes, parte-se para a realização da proposta de qualificação de alguns destes espaços. Foram selecionadas 3 áreas a serem qualificadas, sendo que cada uma destas áreas representa um dos estágios da linguagem de gradação, proposta neste trabalho. As figuras ao lado destacam e localiza as áreas selecionadas.

61



1

2

3

Espaço 01 - Relaciona-se à existência de corpos d’água (com destaque para a nascente do córrego Santa Fé) e mata siliar preservada. Representa, na lógica da gradação, o estágio de estética mais naturalizada


As imagens ao lado apresentam a mancha de mata preservada e uma reformulação do traçado viário que circunda o espaço 01. A imagem (a) representa as vias atuais e a imagem (b) corresponde às modificações do traçado.

(a) 64

(b)


Implantação Geral

Viveiro de mudas Lazer Contemplativo Passarela

Apoio e equipamentos esportivos

Trilhas

Lazer Contemplativo

Reflorestar

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Reflorestar Nascente do c贸rrego Santa F茅

Viveiro de mudas

Lazer Contemplativo

Passarela

Reflorestar

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Reflorestar

Quadras Esportivas Apoio (Santários, Bebedouros, etc.)

Clareira de Ausências

Árvores com geometria cilíndrica

Árvores com geometria em domo

A clareira de “ausências” constitui-se de uma área que não receberá plantio de árvores, e abrigará algumas esculturas assim bancos de toras de madeira (presentes também nos outros espaços qualificados). Com esta clareira busca-se despertar no usuário uma reflexão a respeito das transformações dos elementos naturais, e ressaltar, por meio da ausência, a importância da vegetação

Caminho sobreposto Árvores com geometrias variadas

Trilhas

Clareira de Frutíferas

Árvores com geometria triangular

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Clareira de FrutĂ­feras Trilhas

Lazer Contemplativo

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1

2 3

Espaço 02 - Na lógica da gradação, representa o estágio intermediário. Este espaço liga-se à “estrutura de espaços livres” circundada por vias locais e ocupação residencial.


Qualificação de percursos

72


Caminho sobreposto

Piso : Adição Lago : construção orgânica

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Implantação Deck de madeira Piso semi-permeável Plantio de herbáceas Plantio de grama Lago Academia ao ar livre

74


Corte AA

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76


77


78


79


80


81



1

2

3

Espaço 03 - Na lógica da gradação, representa o estágio de linguagem estética mais artificiosa. Este espaço liga-se à “estrutura de espaços livres” margeada por vias arteriais e com ocupação de comércio e serviços.


As palmeiras plantadas no canteiro central da Av. Bruno Ruggiero Filho servem como marcos que indicam sua intersecção com as outras vias qualificadas como percursos principais entre os espaços livres do sistema

Qualificação de percurso

Qualificação de percurso

84

Qualificação de percurso


Foi realizado o prolongamento dos seguintes eixos para dentro da área de projeto: eixos de duas vias de percurso entre os espaços livres, uma que passa pelos três estágios da linguagem de gradação e outro que liga seus pólos opostos; e eixos de prolongamento das vias que se finalizam no tereno.

85


Na Figura acima estão representados os eixos apresentados na página anterior e, na cor vermelha, os caminhos deixados, mediante o uso, pela população.

60

O prolongamento dos eixos definem diferenciações na direção de assentamento do piso, e a marca de uso existentes são evidenciadas por um plano de piso diferenciado.


d e f

g

b c a

a - Apoio (banheiros, bebedouros, depósitos, etc. b - Café/ livraria c - Acesso ao edifício d - Pontos de luz no chão e - Espelho d’água f - Sprinklers g- Vagas de estacionamento para idosos e deficientes físicos

Implantação

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Sprinklers Espaço para realização de eventos 01

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Espelho d’água

Edifício Cultural Bibliotema / Midiateca Estares introspectivos

Espaço para realização de eventos 02


Deck de madeira marca dois eixos de percurso, um que passa pelos 3 estágios de gradação e outro que liga os seus dois pólos

Espaço para Escadaria/ Arquibancada eventos (shows, feiras, etc.)

Plano de piso diferenciado, marcando os caminhos deixados pela população no terreno não qualificado

63


64


65


66


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68


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