PROJETO DE HABITAÇÃO RESILIENTE: UMA PROPOSTA NO PONTAL DA BARRA EM PELOTAS / RS

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PROJETO DE HABITAÇÃO RESILIENTE: UMA PROPOSTA NO PONTAL DA BARRA EM PELOTAS / RS


UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO ATELIER VERTICAL: HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL

PROJETO DE HABITAÇÃO RESILIENTE: UMA PROPOSTA NO PONTAL DA BARRA EM PELOTAS / RS

DISCENTES: ANNA PAULA SEABRA │ 19200288

JULIANE BERWALDT │ 13103566 DOCENTES: ADRIANA PORTELLA │ LIGIA MARIA CHIARELLI


SUMÁRIO 1. 2. 3. 4.

5. 6. 7.

8. 9.

INTRODUÇÃO .................................................................................................... 3 ÁREA DE ESTUDO .............................................................................................. 4 PERCEPÇÕES PRELIMINARES ............................................................................. 5 DIAGNÓSTICOS ................................................................................................. 6 i. Histórico Da Área ................................................................................... 6 ii. Legislação Ambiental ............................................................................... 7 iii.Desastre E Resiliência ............................................................................... 7 iv.Infraestrutura Urbana ............................................................................. 8 v. Uso Do Solo ............................................................................................. 10 vi. Mobilidade Urbana ............................................................................... 11 ATIVIDADES PARTICIPATIVAS ............................................................................ 14 REFERÊNCIAS ................................................................................................... 17 PROPOSTAS ...................................................................................................... 18 i.Tipologias ................................................................................................ 19 ii.Urbanismo .............................................................................................. 27 CONCLUSÃO ...................................................................................................... 31 BIBLIOGRAFIA ....................................................................................................32


INTRODUÇÃO

No Brasil, a problemática de falta de moradia, foi encarada por meio de Políticas Públicas Habitacionais e Programas Habitacionais de diferentes prismas (CHIARELLI, 2000). O município de Pelotas apresenta um grande número de conjuntos habitacionais que derivam dessas políticas públicas, no entanto ainda há a necessidade de serem implantados em áreas que não são determinadas como de interesse social mas que mesmo assim já são ocupadas a cerca de 40 anos, como o Pontal da Barra. Pelotas, assim como em outras cidades próximas a faixa litorânea com terrenos planos muito baixos, ou seja, situados

em cota topográfica abaixo de 10 m acima do Nível Médio do Mar, se tornam muito vulneráveis a incidência de inundações. Considerando este dado, o poder público Municipal gerou um mapa de aptidão à urbanização, no qual classifica a Região Administrativa do Laranjal como muita baixa, principalmente a região onde estão o Balneário Valverde e o Pontal da Barra. Ao longo da orla do Pontal da barra há um agrupamento de pescadores que data desde a década de 70. Localizados na única unidade de conservação do município, a região recebe especial atenção devido ao conflito entre a Legislação Ambiental e o uso do solo.

A ocorrência de desastres relacionados ao clima apresentam um crescimento imprevisível. Segundo o Escritório das Nações Unidas para a Redução do Risco de Desastres (UNISDR) os desastres relacionados ao clima foram os que mais afetaram a população mundial em 2015. O município de Pelotas não ficou isento desses acontecimentos. A região da zona administrativa do Laranjal, em especial o Balneário Valverde, a praia do Laranjal e o Pontal da Barra, foram uns dos locais mais afetados, onde segundo a Defesa Civil , o nível da Lagoa dos Patos chegou a 2,25m acima do normal.

Ao entender os desafio da habitação na atualidade, podemos destacar o termo resiliência como algo a ser considerado no debate, que pode ser definido como “a capacidade de um sistema absorver a perturbações e se organizar, enquanto submetido a mudança” segundo John Thackara no seu livro “The transition handbook”. Associado à arquitetura o termo pode ser entendido como as edificações nas quais os projetos em todas as suas etapas e dimensões são intencionados a reduzir ou minimizar os impactos de acidentes (PISANI, 2018).

Calamidade no Laranjal. Fonte: Diário da Manhã, 2015.

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ÁREA DE ESTUDO

Região Administrativa Urbana – Laranjal. Fonte: Plano Diretor de Pelotas.

Mapas de Pelotas - divisão política. Fonte: XAVIER, Sinval Cantarelli. Mapeamento Geotécnico Aplicado ao Planejamento do Uso e Ocupação do Solo da Cidade de Pelotas/RS. Porto Alegre, 2017

Pelotas é o terceiro município mais populoso do Estado do Rio Grande do Sul. Situa-se na Zona Sul do Estado. Possui uma população aproximada de 342.053 habitantes (IBGE,2004), com uma densidade demográfica urbana de 1.78 hab/km² e rural de 15.6 hab/km², sendo assim o índice de urbanização de 93, 27%. A área de estudo está localizada na região do Pontal da Barra, balneário do Laranjal,

no município de Pelotas no estado do Rio Grande do Sul, mais especificamente na vila de pescadores que se situa bem na ponta da região, que pode ser identificada por apresentar uma “ponta” de terra, sendo demarcada por limites hídricos pelo canal São Gonçalo e a Laguna dos Patos.

Área de RPPN do Pontal da Barra e da Várzea do Canal São Gonçalo. Fonte: PONZI, Gabriela Tombini; IRION, Bruna Wagner; LEANDRO, Diuliana. PONTAL DA BARRA–UMA QUESTÃO DE VULNERABILIDADE SOCIAL.

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PERCEPÇÕES PRELIMINARES No mapa da turma pode-se destacar alguns pontos importantes e que se repetem nos mapas em grupo. Como a pastelaria que é um forte ponto referencial e ponto de atração para a área; as grande poças de água que

seguem a rua de acesso as casas; a forte presença de animais variados, representado pelo cavalo e por fim em diferentes cores a diversidade entre as habitações no local.

Mapa Mental em Grupo. Fonte: Anna Paula, Juliane Berwaldt e Richer Soares, 2019.

Para obter melhor conhecimento da área de estudo para o projeto foi feita uma visita exploratório com a turma no dia 17 de setembro. Visita primordial na qual pudemos ter melhor percepção do local e suas dinâmicas.

Após essa visita desenhamos um mapa mental do local, primeiro em grupo e depois um com toda turma. É possível

notar a diferença de percepções entre os dois mapas. No primeiro em grupo notase um enfoque maior nas habitações, os pontos de referência ( em amarelo e verde) e também nas poças de agua ao longo da rua. Já no mapa, há um número maior de informações, com a junção das principais percepções de cada grupo obteu-se uma visão mais completa do local. Mapa Mental da Turma. Fonte: Acervo da disciplina Atelier Vertical: Habitação de Interesse Social, 2019.

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DIAGNÓSTICOS i. Histórico O Pontal da Barra juntamente com o loteamento Novo Valverde, são resultados da expansão urbana dos balneários mais antigos, Santo Antônio e Valverde no sentido sul. O primeiro agrupamento data desde a década de 70. As famílias que desempenhavam a pesca como principal meio de subsistência se identificaram com o lugar e formaram vínculos de afetividade e um forte senso de comunidade. Devido às inúmeras tentativas de impedir a instalação dessas famílias no local a implantação de infraestrutura como energia elétrica, coleta de resíduos sólidos, iluminação pública e abastecimento de água demoraram a serem cedidos para a população. Em 2008 houve a proposta de um empreendimento, o Hotel Cavalo Verde, com o intuito de “explorar o potencial turistico da região” e promessas como: geração de empregos para os moradores; melhorias nas condições de infraestrutura do bairro e na qualidade da água para banho na laguna. No entanto não deram prosseguimento ao mesmo. Em 2010 houve a realiazação do Programa de Requalificação da Orla da Lagoa. No qual

houve a revitalização dos espaços públicos em termos de acessibilidade, lazer, arborização, infraestrutura e ordenação de uso e ocupação junto à orla da lagoa e também a ampliação do calçadão e avenida da praia em direção ao Pontal da Barra. No entanto com a justificativa de que os moradores habitavam em uma “área de risco” (beira de praia) e, também, por ser avaliada como uma “área de preservação permanente”; cerca de 40 famílias que residiam nesse ponto da orla - Vila do Trapiche foram removidas. O Movimento Pontal Vivo – 2011, formado por ambientalistas e simpatizantes do Pontal da Barra. Atuam desde o princípio do planejamento do loteamento Pontal da Barra - 1980 e 1990. Com a identificação dos sítios arqueológicos e de espécies ameaçadas de extinção houve uma retomada de ações públicas e judiciais para sensiblizar a população da grande importância do Pontal como espaço de memória histórica e arqueológica, bem como um nicho ecológico de alta biodiversidade.

Praia do Laranjal nos anos 60. Fonte: Bruna Disconzi, 2019.

Biodiversidade encontrada no Pontal da Barra. Fonte: Bruna Disconzi, 2019.

Vista aérea do Pontal da Barra. Fonte: Bruna Disconzi, 2019.

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DIAGNÓSTICOS ii. Legislação Ambiental Essa área de acordo com a legislação federal é classificada como RPPN (22/09/19949), e possui 65,33 hectares de área e atualmente é propriedade de Loteamentos e Minerações Gerais Ltda (Irion, 2016). Considerando-se as informações advindas do plano diretor do município de Pelotas, o qual considera Áreas de Preservação Permanente (APP) áreas situadas a cem metros para cursos d’água maior que cinquenta metros, porém a área de APP diminui para trinta metros para os cursos d’água situados em áreas urbanas consolidadas. Esta última consideração se aplica para o Pontal da Barra.

Ainda considerando o plano diretor de Pelotas a região passa a ser Área de Preservação Permanete Ocupada (APPO). Que significa que é uma área onde houve processos de ocupação e uso consolidados, que atendam o interesse social, público e comunitário, podendo ser regulamentados mediante ações mitigatórias e compensatórias e de recuperação do meio ambiente, proporcionais ao dano causado e sua escala. (PLANO DIRETOR, 2008 ). E segundo a resolução do CONAMA nº 369 de 2006 existem casos excepcionais, de utilidade pública, interesse social ou baixo impacto ambiental que possibilitam a intervenção ou supressão de vegetação nativa em APP.

Comunidade dos Pescadores inseridos na APP. Fonte: PONZI, Gabriela Tombini; IRION, Bruna Wagner; LEANDRO, Diuliana. PONTAL DA BARRA–UMA QUESTÃO DE VULNERABILIDADE SOCIAL.

Área de RPPN do Pontal da Barra e da Várzea do Canal São Gonçalo. Fonte: PONZI, Gabriela Tombini; IRION, Bruna Wagner; LEANDRO, Diuliana. PONTAL DA BARRA–UMA QUESTÃO DE VULNERABILIDADE SOCIAL.

iii. Desastre e Resiliência O Pontal da Barra está situado numa região de quase permanente inundação, por dois fatores: • tipo de solo; • relevo; As inundações possuem duas condicionantes: NATURAIS X ANTRÓPICAS. Naturalmente a região é classificado como

uma zona inundável por possuir solos imperfeitamente drenados a muito mal drenados, além disso a topografia plana e com poucos declives dificulta substancialmente o escoamento pluvial.

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DIAGNÓSTICOS A ocorrência de desastres relacionados ao clima apresentam um crescimento imprevisível. Segundo o Escritório das Nações Unidas para a Redução do Risco de Desastres (UNISDR) os desastres relacionados ao clima foram os que mais afetaram a população mundial em 2015. O município de Pelotas não ficou isento desses acontecimentos quando no mesmo ano passou por uma grande inundação no

qual o poder público chegou a decretar uma situação de emergência devido às proporções dos danos causados pela alagação. A região da zona administrativa do Laranjal, em especial o Balneário Valverde, a praia do Laranjal e o Pontal da Barra, foram uns dos locais mais afetados, onde segundo a Defesa Civil , o nível da Lagoa dos Patos chegou a 2,25m acima do normal.

iv. Infraestrutura Urbana A área onde está situado o Pontal da Barra pode ser caracterizada como um local que necessita de medidas interventivas que

possam vir a melhorar a qualidade de vida dos seus moradores, principalmente no que se refere a questões de infraestrutura urbana.

Mapa de locais de Pelotas atingidos pelas enchentes. Fonte: XAVIER, Sinval Cantarelli. Mapeamento Geotécnico Aplicado ao Planejamento do Uso e Ocupação do Solo da Cidade de Pelotas/RS. Porto Alegre, 2017

No município de Pelotas, assim como em outras cidades próximas a faixa litorânea com terrenos planos muito baixos, ou seja, situados em cota topográfica abaixo de 10 m acima do Nível Médio do Mar, se tornam muito vulneráveis a incidência de inundações. Considerando este dado, o poder público Municipal gerou um mapa

de aptidão à urbanização, no qual classifica a Região Administrativa do Laranjal como muita baixa, principalmente a região onde estão o Balneário Valverde e o Pontal da Barra.

Imagem de satélite marcando via de ligação com Av.Dr.Antônio Augusto de Assunção . Fonte: Acervo da disciplina Atelier Vertical: Habitação de Interesse Social, 2019.

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DIAGNÓSTICOS Como forma de determinar o que deveria ser modificado ou mantido no Pontal da Barra para que houvesse melhoria na sua infraestrutura, foram analisados a funcionalidade de alguns aspectos da área, como a energia elétrica, iluminação pública, rede de comunicação, coleta de resíduos sólidos e rede de distribuição de água tratada. Através desta analise, foram percebidas algumas questões que poderiam ser

resolvidas no Pontal, como o fato de que não há iluminação no trecho de ligação do Pontal pela Avenida Dr. Antônio Augusto de Assunção e que os únicos serviços disponíveis para os moradores são a telefonia fixa e internet banda larga(15Mb) da operadora OI e que as demais operadoras são disponíveis somente através de telefonia e internet móveis.

Sistema de distribuição de água. Fonte: Acervo da disciplina Atelier Vertical: Habitação de Interesse Social, 2019.

Trecho destacado da área de estudos onde não há mais iluminação . Fonte: Acervo da disciplina Atelier Vertical: Habitação de Interesse Social, 2019.

No que se refere o tratamento da água, a ETA Móvel (conteinerizada) é a estação de tratamento responsável por abastecer o Pontal da Barra. As duas estruturas conteinerizadas tratam aproximadamente 50 litros por segundo repassando a água para o R15, que faz a distribuição para as casas através do bombeamento.

Se trata de um processo demorado devido ao trajeto em que a água sai do Arroio Pelotas, se desloca por 3 mil metros em canal aberto e 1,3 mil metros de rede enterrada pela Avenida Adolfo Fetter até chegar ao R15, onde é interligado.

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DIAGNÓSTICOS O fato da região não apresentar uma coletora própria fez com que os moradores aderissem majoritariamente o sistema de fossa séptica. No sistema de macrodrenagem da área urbana de Pelotas, estão presentes os canais naturais e artificiais, sendo esses últimos com e sem revestimento, galerias celulares e tubulações com dimensões superiores a 1,5m.

Mapa da Região 3.5. Fonte: Acervo da disciplina Atelier Vertical: Habitação de Interesse Social, 2019.

Próximo da área de estudo esta situado o trecho final do sistema de drenagem do laranjal. A microdrenagem, composta por dispositivos de escoamento superficial como as vias, sarjetas, bocas de lobo e galerias é inexistente na área de estudo.

v. Uso do Solo Para determinar o uso do solo foi feito um diagnóstico de três áreas: Laranjal, Barro Duro e Colônia Z3,

Educação - Existem 3 escolas particulares e 7 escolas públicas no Laranjal, 2 escolas públicas no Barro Duro e 1 escolas pública na Colônia Z3. Saúde - Tanto o Laranjal, quanto o Barro Duro e a Colônia Z3 tem cada um sua própria UBS que funciona de manhã e a tarde. Religião - Existem no Laranjal 2 igrejas católicas, 2 igrejas evangélicas e 2 centros espiritas, enquanto no Barro Duro há 1 igreja católica, 5 igrejas evangélicas, 1 centro espírita e 1 terreiro de umbanda e na Colonia Z3 há 1 igreja católica e 2 igrejas evangélicas.

tornando possível definir as características que diferenciam umas das outras e estabelecer padrões para as mesmas.

Segurança - 1 brigada militar. Lazer - Clube de Lazer, Laranjal Praia Clube e Guardeira Bombordo no Laranjal. Alimentação - 10 locais voltados para a alimentação no Laranjal e 3 no Pontal da Barra. Praças - 5 Praças no Laranjal. Prédios comerciais - 1 Prédio comercial.

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DIAGNÓSTICOS vi. Mobilidade Urbana

Paradas de ônibus . Fonte: Acervo da disciplina Atelier Vertical: Habitação de Interesse Social, 2019.

Paradas de ônibus . Fonte: Acervo da disciplina Atelier Vertical: Habitação de Interesse Social, 2019.

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DIAGNÓSTICOS vi. Mobilidade Urbana

Rota Balneário dos Prazeres . Fonte: Acervo da disciplina Atelier Vertical: Habitação de Interesse Social, 2019.

Rota Laranjal Esquerda . Fonte: Acervo da disciplina Atelier Vertical: Habitação de Interesse Social, 2019.

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DIAGNÓSTICOS vi. Mobilidade Urbana

Rota Corujão. Fonte: Acervo da disciplina Atelier Vertical: Habitação de Interesse Social, 2019.

Rota Seletivo Sto. Antônio/PBZ. Fonte: Acervo da disciplina Atelier Vertical: Habitação de Interesse Social, 2019.

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ATIVIDADES PARTICIPATIVAS Com as informações obtidas por meio de observações em visitas ao local e entrevistas com os moradores pode-se constatar a DIVERSIDADE NAS TIPOLOGIAS, nos materiais utilizados, nos usos e nos tamanhos. Em primeira instância há uma diferença entre as edificações que ficam mais próximos à margem do canal São Gonçalo, que em geral apresentam uma extensão com um trapiche de madeira no qual ficam ancorados os barcos e as edificações que ficam do lado oposto às anteriores no qual são separadas por uma estrada de terra que não apresentam um trapiche já que não estão diretamente posicionadas próximas à água. Porém mesmo entre esses dois setores há uma grande diversidade. Nota-se que a questão topográfica influência na escolha de materiais das edificações, pois no início do conjunto onde encontram-se a maioria das edificações em alvenaria é o ponto em que as águas chegam por último, segundo relatos dos próprios moradores. É onde estão localizados as residências mais consolidadas e também os principais comércios, como a Pastelaria, um bar e uma peixaria.

Conforme adentra-se na estrada de terra a materialidade das edificações vai variando do mesmo modo, notando-se o uso da madeira com maior frequência. No entanto, outro ponto a ser levado em consideração é o contraste da qualidade entre as edificações em madeira e alvenaria. Percebe-se que as edificações em madeira são mais simples, revelam uma aparência de que não recebem uma boa manutenção e por vezes o uso de madeiras não adequadas para o fechamento das casas.

A PREFERÊNCIA por casa de “material”, ou ALVENARIA, pelos moradores é clara. Pois de acordo com relatos dos próprios moradores, aqueles que possuem sua casa em madeira ainda não tiveram condições financeiras para transformá-la em uma casa de alvenaria. A diferença de usos é outro ponto a ser analisado. Devido a distância entre os centros de comércio e serviços alguns moradores anexaram ou incluíram em suas residências pequenas mercearias, barzinho, restaurantes, etc. Como uma forma não somente de suprir tais demandas como também uma forma de aumentar a sua fonte de renda.

Vistas do percurso das visitas. Fonte: Acervo da disciplina Atelier Vertical, 2019

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VISTAS DAS HABITAÇÕES

Diversidade entre as Habitações. Fonte: Acervo da disciplina Atelier Vertical, 2019

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ATIVIDADES PARTICIPATIVAS Durante o decorrer da disciplina foram feitas duas visitas no local. A primeira mais exploratória, que deu origem ao mapa mental já apresentado e uma segunda na qual podemos ter contato maior com os moradores do local e poder coletar quais as suas principais necessidades e quais os pontos positivos do local.

energia elétrica, coleta de lixo, Internet); •

Segurança;

Empresas vem buscar o pescado;

Sensação de condomínio.

NECESSIDADES: •

Pracinha;

Iluminação Pública;

Qualificação da estrada de acesso;

Ciclovia;

Playground / Área de Lazer;

Quebra-mar;

Ônibus;

Casas em ALVENARIA.

PONTOS POSITIVOS:

Infraestrutura (distribuição de água, Vistas do percurso das visitas. Fonte: Acervo da disciplina Atelier Vertical, 2019 Sr. Dodoce, um dos moradores mais antigos.

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REFERÊNCIAS O segundo caso de estudo analisado foi uma residência que se aproximasse na questão técnico-construtiva da realidade do local. A residência escolhida para o estudo foi a Casa Dique Luján do escritório FRAM arquitetos, cujo projeto também se implanta numa região que é delimitada por cursos d’água, o Rio Lujàn e o Canal Villabueva, o terreno também sofre com inundações periódicas o que influi diretamente nas decisões arquitetônicas,

como exposto na Figura 5. Uma espécie de palafita composta de vigas e pilares de concreto resolvem o problema da proteção contra as inundações ao mesmo tempo que flexibiliza a composição dos ambiente ao servir de apoio aos pórticos de madeira que delimitam os espaços internos e externos.

Exemplo de habitação com adaptações. Fonte: Acervo da disciplina Atelier Vertical, 2019

A primeira fonte foi o texto House Transformation in Resettlement Sites ou Transformação de Casa em Locais de Reassentamento, no qual são apresentados dois casos de como pessoas que foram reassentadas para locais muito afastados e a falta de apoio a subsistência dessa população acaba por criar a adaptação ou transformação das edificações nas quais os mesmos foram realocados, mostrado na Figura acima. O caso em Bangladesh e outro

na Índia mesmo que distantes geograficamente e culturalmente se assemelham muito aos moradores do Pontal da Barra no que diz a indispensabilidade de se refletir as necessidades de uma moradia além do arranjo comum (quarto, sala, cozinha e banheiro) para regiões que não estão inseridas na dinâmica urbana da cidade ou com um acesso mais restrito. Casa Dique Luján. Fonte: Fernando Schapochnik, 2018.

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PROPOSTAS Os dois conceitos que nortearam as propostas foram: • HABITAÇÃO Que pode ser definido em termos mais pragmáticos, como ABRIGO. Proteger o ser humano das intempéries e e de intrusos. (ABIKO, 1995).

Com a reunião das informações coletadas, a seguinte etapa consistiu em definir o programa de necessidades para as residências. Como verificado as necessidades das famílias residentes são muito variadas, bem como o tamanho das famílias. Por conta disso, entendeu-se que

• RESILIÊNCIA Na área da arquitetura, pode ser empregada para nomear as edificações QUE REDUZEM OS IMPACTOS DOS ACIDENTES, minimizando ou eliminando as perdas socioeconômicas durante e após os eventos danosos. (PISANI, 2019)

um único programa de necessidades não atenderia boa parte dos residentes, optando-se por desenvolver cinco tipos de programas que de certa forma acabam por ser variações de um único programa base descrito na Tabela abaixo.

Ambiente

Área

Sala de estar/jantar

15,62 m²

Cozinha

10,84 m²

Quarto

11,80 m²

Banheiro

3,78 m²

Área de serviço

9,55 m²

No que concerne a estrutura em si da tipologia, a solução adotada foi a mesma do estudo de caso, o uso de pilares e vigas que elevam a construção do solo em

média 80 cm como forma de proteger as residências das constantes inundações. A altura adotada foi informada pelos próprios moradores.

Nos fechamentos adotados também foi levado em consideração a preferência dos moradores por alvenaria. Outra razão pelo uso foi o fácil acesso ao material como também por ser a técnica construtiva mais conhecida, o que facilitaria futuras

modificações. O fechamento em madeira também não é totalmente descartado devido a estrutura das palafitas serem em concreto, o que torna as duas estruturas independentes.

Volumetria de uma das tipologias. Fonte: Autores, 2019.

Materiais Utilizados

Programa de Necessidades. Fonte: Autores, 2019.

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TIPOLOGIA 1

• Programa básico • Área total: 82,30 m²

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TIPOLOGIA 2

• Programa básico + 1 quarto • Área total: 82,30 m²

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TIPOLOGIA 3

• Programa básico + 1 comércio • Área total: 82,30 m²

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TIPOLOGIA 4 • Programa básico + 2 quartos • Área total: 150,05 m² 1º PAVIMENTO

2º PAVIMENTO

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TIPOLOGIA 5

• Programa básico com acessíbilidade • Área total: 78,76 m² 23


TIPOLOGIA 2

TIPOLOGIA 1

Planta Baixa Escala: 1/100

Planta Baixa Escala: 1/100

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TIPOLOGIA 5

TIPOLOGIA 3

Planta Baixa Escala: 1/100

Planta Baixa Escala: 1/100

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TIPOLOGIA 4

Planta Baixa Escala: 1/100

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URBANISMO Os dois pontos de partida para as decisões urbanisticas foram as necessidades expostas pelos moradores bem como as questões ambientais. Por se tratar de um lugar inserido numa zona de APP com uma distinta legislação ambiental.

5

4

2

1

3

LEGENDA: 1- CICLOVIA/BICICLETÁRIO 2-PARADA DE ÔNIBUS 3- CENTRO DE LAZER/ MULTIUSO 4-QUADRA POLIESPORTIVA 5-ECOPONTO

Tendo em vista a preservação ambiental da região optou-se por manter tanto a estrada de acesso principal quanto a rua de acesso as habitações como é atualmente, em terra, para minimizar os impactos no ambiente e outra razão seriam as frequentes enchentes que acabariam danificando uma possível pavimentação. Além disso optou-se por dividir em duas zonas distintas, em amarelo uma área mais publica para acesso tanto dos

moradores quanto de visitantes e em vermelho espaços mais intimos de uso dos moradores. Os equipamentos comunitários foram locados na área publica. Os equipamentos escolhidos foram os mais citados pelos moradores ou aqueles que atenderiam melhor as suas necessidades: • • • • •

CICLOVIA/BICICLETÁRIO PARADA DE ÔNIBUS CENTRO DE LAZER/ MULTIUSO QUADRA POLIESPORTIVA ECOPONTO

A implantação das habitações se deu de forma semelhante a atual também como uma forma de manter a familiaridade. Com a única diferença da adição de um espaço multiuso a cada 5 casas.

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URBANISMO

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VISTAS GERAIS – ÁREA PÚBLICA

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VISTAS GERAIS – ÁREA “PRIVADA”

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CONCLUSÃO Apesar de o projeto não se aprofundar num nível executivo, estando mais inserido num nível de anteprojeto, o processo de elaboração de uma habitação não se limita somente a escolha de materiais e descrição de um programa de necessidades. Ainda mais se tratando de uma habitação resiliente, que a torna ainda mais ampla e complexa. Seria necessário uma aprofundação em detalhamentos, especificações e um suporte de outras propostas complementares para sustentar o título de Habitação Resiliente. Portanto tendo como um objetivo de direcionamento inicial para uma possível proposta de habitação para os moradores do Pontal da Barra.

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BIBLIOGRAFIA ALVES, S. A.; COSTA, C. L. Resistir na terra: a luta pela moradia camponesa no movimento camponês popular – MCP. In: XXI ENCONTRO NACIONAL DE GEOGRAFIA AGRÁRIA. 2012. Universidade Federal de Uberlândia. Uberlândia, MG. Anais. UFU, 2012

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