TFG - Parque Verde

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PARQUE VERDE

FOTO: NELSON KON

PLANO MESTRE PARA IMPLEMENTAÇÃO DE UM PARQUE LINEAR NA AVENIDA MÁRIO LEAL FERREIRA


PARQUE VERDE

PLANO MESTRE PARA IMPLEMENTAÇÃO DE UM PARQUE LINEAR NA AVENIDA MÁRIO LEAL FERREIRA

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE ARQUITETURA TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO (TFG)

Trabalho apresentado como requisito final para a obtenção do título de Arquiteta e Urbanista pela Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Semestre 2017.2.

Anna de Carvalho Souza

Orientador: Marcos Rodrigues Coorientadora: Nayara Amorim

“As linhas férreas são um exemplo clássico de fronteira, tanto que passaram a significar, há muito tempo, também fronteiras sociais – “do outro lado da linha do trem”. Existem influências físicas e funcionais das fronteiras sobre sua vizinhança urbana imediata.”

CROQUI 01: Croqui sobre foto área. Fonte: Anna de Carvalho Souza

Morte e Vida de Grandes Cidades Jane Jacobs, 1981


“o espaço público é uma propriedade compartilhada por um ente abstrato que é a comunidade. [...] Na reconquista desse espaço, um conhecimento urbanístico, amparado por uma ação administrativa ética e democrática é a maneira de converter o anseio coletivo de uma cidade num espaço mais humano para todos.” Abílio Guerra


SUMÁRIO

PRÓLOGO 01 AGRADECIMENTOS 01 INTRODUÇÃO 02 BREVE HISTÓRICO 03 O LUGAR 08 ANÁLISE URBANA 12 O CANTEIRO 17 O PROJETO 24 A NOVA PAISAGEM URBANA

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REFERÊNCIAS 57

CROQUI 02: Croqui sob a Estação Bonocô. Fonte: Anna de Carvalho Souza


PRÓLOGO

AGRADECIMENTOS

DE ONDE VEIO ESSA IDEIA?

UMA ARQUITETURA NÃO HOSTIL.

Esse trabalho é fruto de minhas experiências pessoais e acadêmicas. Em 2014, realizei um intercâmbio, através do programa Ciências Sem Fronteiras, para Manchester, no Reino Unido. Foi lá, no velho continente, que despertei meu olhar para a cidade, pois até esse momento, apesar de cursar Arquitetura e Urbanismo, eu era muito mais estudante de arquitetura, e o urbanismo (juntamente com todas as suas subáreas) ainda era uma parte muito discreta da minha grade curricular e, portanto, das minhas reflexões. Foi morando nessa cidade inglesa que despertei o meu olhar de forma intensa para a cidade e para a paisagem , fortalecendo as minhas reflexões a cerca do tema. Lá eu pude perceber como as cidades são diversas, como possuem dinâmicas e potencialidades próprias e como uma cidade que funciona bem torna a vida das pessoas mais fácil. A minha experiência de intercâmbio me fez amar mais a minha cidade e a entender como uma rede de espaços públicos coerente e bem projetada pode impactar de forma positiva toda a população, como o verde é importante e como soluções simples podem fazer toda a diferença.

O projeto Parque Verde também se desenvolve como forma de ir de encontro à arquitetura hostil que se vê, pouco a pouco, ser disseminada nas cidades modernas. O surgimento da prática e, consequentemente, do termo arquitetura hostil, data dos anos 1990, após uma intensa mistura dos valores éticos e morais na gestão dos espaços públicos, resultando, então, em um design urbano que exclui e limita, de certa forma, o modo como os cidadãos utilizam o espaço público. Pode-se definir esse tipo de arquitetura como um compilado de medidas e práticas que visam evitar utilizações e presenças indesejadas do espaço público, disfarçando-se sob o discurso de prevenção da marginalidade.

Meu retorno à Salvador coincidiu com a (atrasada) inauguração do metrô e foi nessa conjuntura que a grande área sob o trecho da linha 01 que passa pela Avenida Mário Leal Ferreira (Bonocô) passou a chamar minha atenção. Posso dizer que em 90% dos meus dias, por pelo menos 20 anos, eu transitei pela Bonocô, e embora aquela grande estrutura já impactasse as minhas passagens pela Avenida, enquanto moradora da área, foi só nessse momento de amadurecimeto acadêmico que eu realmente começei a refletir sobre os influências dela sobre a cidade. Pois bem, foi nesse contexto, de retorno de um intercâmbio, momento de grande aprendizado para mim, inauguração do metrô e aproximação da realização do TFG que todas essas situações se conectaram e se entrelaçaram a ponto de se estabelecerem como meu tema e objeto de trabalho. Esse Trabalho Final de Graduação (TFG) foi uma grande experiência, um grande desafio e uma jornada de muita aprendizagem e descobertas; percebi que sempre temos coisas novas a aprender na infinidade de áreas da Arquitetura e do Urbanismo e descobri no paisagismo mais um campo de estudo incrível e encantador! Portanto, esse trabalho é uma compilação do que eu vivi e busca passar por um pouco do que eu acredito que poderia ser feito para, pouco a pouco, melhorarmos a paisagem árida da cidade de Salvador.

A Arquitetura hostil limita os comportamentos de certos grupos sociais nas cidades e pode se dar das mais variadas maneiras, através de bancos espetados, barras de separação em bancos coletivos ou até sob a forma de canteiros de flores e espelhos d’água. Os grupos sociais que são atingidos por essas práticas são, claramente, aqueles mais marginalizados ou discriminados, como moradores de rua e skatistas, por exemplo. Cidades como Londres e Rio de Janeiro vem tomando uma série de medidas hostis no design urbano, seja na colocação de pedras pontiagudas sob viadutos e espetos em bancos de praças. São medidas falhas, que apenas buscam esconder as desigualdes sociais na medida em que não trazem soluções efetivas, apenas afastam o real problema e acabam por contribuir, indiretamente, no aumento da violência nas cidades. “Sendo um pouco cínico, mas também realista, é um tipo de ataque aos pobres, uma forma de tentar deslocar a sua angústia” Rowland Atkinson Co-diretor do Centro para a Pesquisa Urbana da Universidade de York

Concluir o curso de Arquitetura e Urbanismo não é uma tarefa fácil, muito menos curta. Foram 7 anos de muito aprendizado, crescimento, descobertas e compartilhamento. Quando entrei na Universidade Federal da Bahia, em 2011, não imaginava quão longa e complexa seria essa jornada e hoje, ao final da graduação, me sinto feliz por estar concluindo mais uma etapa e tenho certeza que esse é apenas o primeiro de muitos ciclos que a Arquitetura e Urbanismo me proporcionarão. Após todos esses anos, tenho a certeza que a pessoa que está se formando é muito diferente daquela que ingressou na faculdade, em 2011. Foi uma caminhada de muitos trabalhos, prazos e noites mal dormidas, mas com certeza de felicidades ainda maiores. Nesses anos, passei mais dias na faculdade do que em casa e convivi mais com os amigos que a FAUFBA me deu do que com a minha própria família. Aprendi que ser Arquiteto e Urbanista vai muito além do que eu imaginava quando escolhi esse curso e passei a enxergar as pessoas, as ruas, os edifícios, as cidades e o mundo através de uma nova perspectiva. Descobri que os arquitetos se interessam por coisas simples, como escadas, portas e janelas, mas também que nós, enquanto arquitetos e urbanistas, também nos envolvemos na resolução de problemas complexos: congestionamentos, moradias inadequadas, patrimônio em risco etc. Agradeço a Deus por cada conquista, pelas forças e pelo foco que sempre pedi para cada desafio que enfrentei. Aos meus pais, Marco e Eliana, por todo suporte, amor e incentivo, sem eles seria impossível; às minhas amigas de sempre, Bárbara, Talita e Cate, por sempre acreditarem no meu potencial; ao meu namorado, Pedro Henrique, por toda disposição ao ajudar e incetivar, e aos amigos que a FAUFBA me deu, por tudo que compartilhamos nesses anos, Carol, Lucas, Gabi, Mario, Igor, Leo, Flávio, Pedro e Roberta. Não menos importante, gostaria de frisar o quão sou grata à todos os profissionais que contribuíram e dividiram um pouco do que sabem comigo. Ao escritório Mariana Gurgel (Mari e Lore), por ter me proporcionado minha primeira experiência; à todos do Museu de Ciência e Tecnologia da Bahia, sobretudo à Professora Griselda Klüppel, por todo carinho e generosidade; à todos da FFA Arquitetura e Urbanismo, local que me proporcionou muito aprendizado no meu último ano da graduação. Por fim, agradeço ao meu orientador, Marcos Rodrigues, por ter aceitado me orientar neste trabalho e à minha coorientadora Nayara Amorim por toda disposição e por todo compartilhamento de ideias e conhecimentos ao longo de todos os meses de desenvolvimento.

IMAGEM 01: Baixio de viaduto com espetos de concreto, Guangzhou, China. Fonte: Site Arquipélago. Disponível em: <http://arquipelago.in/?p=697>

Obrigada! 01


INTRODUÇÃO O TEMA O processo de requalificação urbana, conceito que emergiu da política de conservação do patrimônio arquitetônico, se refere a uma vertente do urbanismo cuja finalidade é atribuir - ou recuperar - qualidade a certas áreas abandonadas, subutilizadas ou degradadas das cidades. As origens desse processo se encontram nas intervenções higienistas do século XIX, e hoje a requalificação urbana é passível de realização nas mais amplas escalas, desde uma simples rua à toda uma cidade, cujas características físicas e ambientais são alteradas pelo desenho urbano para que se modifique, da melhor maneira possível, a situação existente. O objetivo principal de todo processo de requalificação deve ser projetar cidades mais vivas, dinâmicas e eficazes aos seus habitantes. Uma vez que essa prática urbanística pode ser desenvolvida nas mais amplas escalas e com os mais variados objetivos, existem classificações diferentes para cada tipo de requalificação urbana, as quais estão intimamente relacionadas à finalidade que cada uma delas possui. Os tipos mais conhecidos são: 1. Renovação urbana: está ligada à proposição de algo novo para determinado sítio, modernizando-o e alterando sua funcionalidade. Nesse tipo de intervenção, o ‘projeto em si’ dá caráter único à área ou à cidade em que for implemetada: o projeto é que orienta a intervenção (SOMEKH, CAMPOS, 2005). 2. Revitalização urbana: como o próprio termo demonstra, se refere às intervenções que buscam “devolver vida” a certas áreas de uma cidade e pode se dar de uma infinidade de formas possíveis. Um bom exemplo são os projetos de habitação de interesse social nos centros urbanos esvaziados de grandes metrópoles brasileiras. O principal objetivo é recuperar esses espaços – o foco é o objetivo final. 3. Reabilitação urbana: “forma de intervenção integrada sobre o tecido urbano existente, em que o patrimônio urbanístico e imobiliário é mantido, no todo ou em parte substancial, e modernizado através da realização de obras de remodelação ou beneficiamento dos sistemas de infraestruturas urbanas, dos equipamentos e dos espaços urbanos ou verdes de utilização coletiva e de obras de construção, reconstrução, ampliação, alteração, conservação ou demolição dos edifícios”. (Fonte: Câmara Municipal de Lisboa, Portugal). 02

4. Reestruturação urbana: refere-se a uma prática de desenho urbano muito abrangente, pautado num conjunto de medidas que visem o desenvolvimento urbano das cidades de forma consciente. Estimula, sobretudo atualmente, a formação de cidades polinucleadas, possuidoras de diversas centralidades, e engloba as diversas dinâmicas dos territórios, sejam elas sociais, históricas ou econômicas. Por consequência, essas intervenções tem alto potencial de influência sobre a cidade o que torna as consultas públicas uma via imprescindível do processo. Ainda que distintos entre si, todos esses processos se correlacionam e tem uma importante função nas mudanças exercidas sobre as cidades, sendo capazes de proporcionar e/ou retomar a apropriação do espaço público por parte das pessoas e de tornar as cidades mais humanas. No atual cenário urbano brasileiro, as cidades vêm sendo projetadas há décadas pautadas no rodoviarismo e no culto aos automóveis individuais, esses processos de requalificação se fazem importantíssimos, sobretudo por terem a capacidade de ir de encontro ao tipo de planejamento urbano até hoje massificado no Brasil, cujas diretrizes vem estruturando cidades completamente deslocadas da escala humana e dos espaços públicos de qualidade e repletas de rodovias, viadutos e infraestruturas viárias de baixa qualidade. Vale sobrelevar que nenhuma dessas formas de requalificação urbana deve acontecer de forma isolada; todas devem ser feitas de maneira responsável e cautelosa, pois são parte de uma dinâmica de políticas públicas muito complexa que engloba fatores econômicos muito delicados. Todos os envolvidos no processo (sociedade, governo, agentes imobiliários etc.) devem contribuir analogamente para que processos como a gentrificação não ocorram de maneira maléfica. A valorização econômica de uma região é benéfica desde que seja feita para que os que ali estavam possam permanecer e existem muitos caminhos para que isso se concretize. Assim sendo, a partir dos vários projetos de requalificação urbana de sucesso existentes em todo o mundo, tem-se a possibilidade de fazêlos de objeto de referência para novos projetos, obviamente adaptadando-os aos devidos contextos para que não se retomem problemas e deficiências já detectados e vivenciados pelos cidadãos locais.

IMAGEM 02: Pista de caminhada e ciclovia, em 2014. Fonte: Portal da Copa do Mundo FIFA. Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Pista_de_ caminhada_na_Bonoc%C3%B4.jpg>

O OBJETO O desenvolvimento urbano de Salvador, ao longo de sua história, sempre encontrou obstáculos no que tange à locomoção. Por conta da topografia peculiar de seu sítio, marcado pelos vales e cumeadas, os projetos de transportes e conexões urbanas aqui desenvolvidos construíram, pouco a pouco, uma paisagem urbana extremamente marcada pela utilização de estruturas elevadas de conexão para vencer os obtáculos topógraficos e criar caminhos, permitindo a interligação das diversas cumeadas da cidade através de passarelas de pedestres, viadutos, estruturas metroviárias etc. Este é o contexto no qual, sob essas grandes estruturas viárias, se viu “surgir”, colateralmente, novos espaços urbanos, que são muitas vezes apropriados pela população e se estabelecem, efetivamente, como espaços públicos. São espaços que “brotam” nos baixios dessas estruturas elevadas, quase sempre concebidas sem considerar questões primordiais como o impacto na vizinhança local, as soluções de acessibilidade, o paisagismo etc. Desconsiderar a existência desses espaços nas cidades, utilizados muitas vezes como espaços públicos pela população, é o primeiro passo de um roteiro que passa, invariavelmente, pela apropriação precária pela população vulnerável ou por atividades marginais e pela posterior destinação a atividades regulares que, com raras exceções, em nada contribuem para a qualificação urbana local (SP - URBANISMO). A proposta de um Plano Mestre para um Parque Linear sob a estrutura do metrô elevado da Avenida Mário Leal Ferreira (Avenida Bonocô), se estabele como uma contrapartida projetual para a requalificação desse grande espaço, buscando propor e garantir, de acordo com as demandas e dinâmicas observadas no local, um espaço público de maior qualidade, com serviços, equipamentos, mobiliários urbanos e atividades diversas e atraentes, desestigmatizando e incorporando, de fato, esse espaço colateral à rede de espaços públicos da cidade. Além disso, efetivar a conversão do canteiro em um parque busca promover um processo de transformação da paisagem urbana de Salvador, extremamente densa e construída, carente de espaços verdes e receptivos, e dar valor a esses tipos de espaço, até pouco tempo deslocados do olhar urbanístico, marginalizados do território formal e abandonados pelos investimentos (CARDIELOS, 2011).


BREVE HISTÓRICO AVENIDA MÁRIO LEAL FERREIRA (BONOCÔ) A INSERÇÃO NA CIDADE

HISTÓRICO

A Avenida Mário Leal Ferreira, popularmente conhecida como Avenida Bonocô, foi inaugurada, em 1970, durante o governo de Antônio Carlos Magalhães (1967 - 1970), sob o contexo de reprodução do chamado sistema de avenidas de vale e cumeada. Geograficamente inserida numa região central de Salvador, essa avenida está assentada no vale entres os bairros de Cosme de Farias e Brotas e quando da sua

MAPA DE LOCALIZAÇÃO Brotas - Salvador, BA

inauguração dispunha de 3.500m de extensão, duas pistas de 10,50m e canteiro central, configurando-se, desde então, como uma das principais vias de tráfego da cidade, auxiliando no escoamento e na conexão do centro antigo/ comércio à região do Iguatemi-Paralela, bem como à BR-324, que liga a cidade de Salvador a outros municípios. O nome Bonocô tem origem na história da região, acredita-se ter existido no vale uma árvore encantada por um Baba Egun, que respondia à perguntas feitas durante rituais de matriz africana chamados de Baba Igunnuko ou egunokô. Com o passar dos anos, dessas denominações originais o local passou a ser conhecido por “Gonocô” e “Gunocô”, até se chegar ao atual nome “Bonocô”. Até hoje, nas imediações da região onde foi construída a avenida, existem alguns terreiros, como o conhecido Ile Ogun Ja, que, provavelmente, deu origem ao nome Vale do Ogunjá, próximo à avenida Bonocô.

MAPA VIÁRIO Salvador, BA BR-324 VIA EXPRESSA BAHIA DE TODOS OS SANTOS

AVENIDA BARROS REIS

AVENIDA PRESIDENTE CASTELO BRANCO

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AVENIDA MÁRIO LEAL FERREIRA AV. GENERAL GRAÇA LESSA (OGUNJÁ)

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DESENVOLVIMENTO URBANO DE SALVADOR: O SURGIMENTO DO EPUCS A urbanização das cidades brasileiras e, consequentemente, da capital baiana, se deu de forma tardia, nos meados do século XX, reflexo da difusão e consolidação da atividade industrial no país pós 2ª Guerra Mundial. Em Salvador, ainda que projetos urbanos relevantes tenham sido realizados no início dos anos 1900 – sobrelevando as modernizações implementadas no Governo de Joaquim José Seabra (1912-1916/1920-1924) - foi só em 1940, com o Escritório do Plano de Urbanismo da Cidade de Salvador (EPUCS), até hoje “considerado a mais importante experiência de planejamento urbano soteropolitano do século XX” (FERNANDES, 2014), que a cidade vivenciou a sua primeira experiência de prática urbanística. O surgimento do EPUCS na capital baiana, cujos trabalhos se iniciam em 1943, é decorrência da modernização e das grandes transformações urbanas e da consequente realização dos primeiros congressos de Arquitetura e Urbanismo, responsáveis pela circulação das mais novas ideias, projetos e conceitos até então existentes. Assim, nos anos 1930, sob influência do contexto global e nacional, é criada em Salvador a Comissão do Plano de Urbanismo, à qual se seguiram a Semana de Urbanismo de 1935 e, posteriormente, o estabelecimento do EPUCS: Além dos congressos seriados em âmbito nacional e internacional, acontecem também aqueles de âmbito local, porém com grande impacto sobre os desdobramentos urbanísticos posteriores nas cidades em que aconteciam, como foi o caso da Semana de Urbanismo, em Salvador, em 1935, organizada pela Comissão do Plano de Urbanismo da Cidade de Salvador. (GOMES, 2005) Foi com a Semana de Urbanismo de 1935 que a cidade de Salvador “passa a ser vista numa perspectiva processual e como objeto de uma atividade multidisciplinar, lastreada em doutrinas e princípios teóricos claramente definidos” (FERNANDES, SAMPAIO

e GOMES, 2005) e dá início a um processo de modernização pautado na realização de grandes obras, sobretudo aquelas de viés sanitarista e/ou relacionadas à fluidez de tráfego. Ao fim da Semana de Urbanismo de 1935, foi entregue à Prefeitura, pela Comissão do Plano, uma espécie de síntese das diretrizes do plano de modernização da cidade e publicado um anteprojeto de Regulamento Municipal, que definia as regras de uso e ocupação do solo urbano, suburbano e rural, a fim de nortear a elaboração das futuras leis urbanísticas. Portanto, ainda que haja um período de lapso entre a Semana de Urbanismo de 1935 e o início dos trabalhos do EPUCS, em 1943, é possível afirmar que essa conjuntura estabeleceu “um novo discurso, embora não tenha conseguido realizar uma mudança na forma de intervenção na cidade, objetivo alcançado apenas com a chegada do EPUCS e de Mário Leal Ferreira” (SAMPAIO 1999). O EPUCS E O “SISTEMA DE AVENIDAS DE VALE” Em abril de 1943, sob a coordenação do engenheiro baiano Mário Leal Ferreira, tem início os trabalhos do EPUCS, estabelecendo-se como o escritório responsável pela elaboração do Plano Urbanístico da Cidade de Salvador, cuja prática era centrada na concepção de cidade enquanto “organismo-vivo” e que buscava compreender os fatores geográficos e históricos da cidade como etapa primordial do projeto. Dentre os projetos desenvolvidos pelos EPUCS, o de maior popularidade e que se relaciona com este trabalho, diz respeito à idealização das célebres “artérias-parque” (clara influência das parkways americanas e dos conceitos da “Cidade-Jardim), concebidas no período como vias fundamentais para a expansão da cidade de Salvador e para a conexão entre o centro urbano e as futuras “cidades-satélites”. A ideia de verde-contínuo, ao longo dos vales, prevê áreas de esportelazer nos grotões e áreas remanescentes, além da massa verde ser pensada para reduzir a poluição nas edificações dispostas nas encostas e cumeadas, sem acesso indireto as vias de circulação automotiva ou rápida. (SAMPAIO, 1996) 03


É numa dessas “vias de tráfego rápido nos vales da cidade, então livres” (ANDRADE JUNIOR, 2013) que se localiza o objeto deste trabalho, na chamada Avenida Mário Leal Ferreira, O “sistema de avenidas de vale”, bem como “sistema avenidas de cumeada”, ambos propostos pelos EPUCS, fazem parte de proposta notável de redefinição do plano viário da cidade, que buscava implementar uma malha viária de modelo radial–concêntrico, sendo as vias radias as responsáveis pelas ligações bairro-centro e as vias concêntricas pelas ligações bairro-bairro. São os “parkways”, as “artériasparque”, em que o acidente topográfico natural é rodeado de espaços livros taes que delle se tirem os mais lindos effeitos de perspectiva e que sua feição peculiar de rio, mar ou lago, de valle ou linha de cumiada, sea nitidamente focalizada. (CONFERÊNCIAS, 1937) Em 1948, sob uma conjuntura de administrações públicas marcadas pela descontinuidade administrativa, vê-se o fim dos trabalhos do EPUCS, alterando os rumos da gestão e do planejamento urbano da cidade de Salvador e distanciando-os da visão interdisciplinar de cidade que esse órgão até então representava. Entretanto, apesar desse cenário de descontinuidade - motivo pelo qual muitos projetos do EPUCS não saíram do papel - a consolidação do rodoviarismo urbano no contexto das cidades brasileiras contribuiu para que por um longo período a implantação do chamado “sistema de avenidas de vale continuasse a ser realizada pelo poder público, ainda que completamente descontextualizadas da proposta original.

“a única via de vale implementada, que de fato espelha a concepção do EPUCS, corresponde ao trecho da Av. Centenário, entre o túnel e o ChameChame. As demais, do período pós-64 [...], não tiveram projetos executivos dentro dos princípios e parâmetros do plano. As demais, do período pós-64, como Bonocô, Garibaldi, Vasco da Gama, etc. não tiveram projeto executivos dentro dos parâmetros e princípios do plano.” (SAMPAIO, 1999).

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IMAGEM 03: Esquema Radioconcêntrico da Cidade. Fonte: Álbum de Fotografias dos Trabalhos do EPUCS. Acervo: Fundação Mário Leal Ferreira. Disponível em: <http://www. urbanismobr.org>

IMAGEM 04: Avenida Mário Leal Ferreira na década de 70. Fonte: Amo a historia de Salvador. Disponível em: <http:// www.amoahistoriadesalvador.com>

IMAGEM 05: Construção da passarela próxima ao atual Posto Mataripe e Rio Bonocô ao fundo. Fonte: Amo a historia de Salvador. Disponível em: <http://www.amoahistoriadesalvador. com>

LELÉ NO CENÁRIO DA CIDADE

vale, dando início à formação da paisagem urbana que se conhece hoje no entorno da maioria dessas avenidas.

eficiente alguns problemas, principalmente de acessibilidade.

Na capital baiana, os anos 1970 marcam a retomada do processo de planejamento e desenvolvimento urbano, sendo a apresentação do Plano de Desenvolvimento Urbano (PLANDURB) - cujo discurso retoma de forma atualizada pautas já defendidas pelo EPUCS - o marco desse momento. Recuperando um processo interrompido desde a extinção do EPUCS, o PLANDURB passa a planejar a cidade do ponto de vista da sua expansão urbana, caracterizando-a enquanto metrópole e definindo os vetores dessa expansão, contemplando dentre suas propostas, a elaboração de projetos para os sistemas de transporte e vias, grandes espaços verdes/ abertos, obras de macrodrenagem etc. Do ponto de vista dos transportes, os projetos ligados ao transporte de massa foram os mais expressivos desse plano, sendo a implantação desses prevista nos canteiros centrais das avenidas de vale, já considerando a futura possibilidade de substituição pelo sistema metroviário. Em 1979, com o início da gestão Mário Kértesz, configura-se uma fase marcada pelo caráter realizador de obras pela cidade, decorrência direta da incorporação do arquiteto João Filgueiras Lima, o Lelé, à equipe. Dentre os vários campos de atuação da equipe de Lelé, podem ser sobrelevados neste trabalho aqueles que buscavam solucionar a baixa qualidade da urbanização e dos serviços públicos – como o transporte coletivo. Nesse sentido, são realizadas muitas obras de infraestrutura, saneamento, drenagem, circulação de pedestres (passarelas e escadarias) etc., coincidentemente no entorno das principais avenidas de vale, que vieram a se tornar importantes vetores de expansão, culminando, consequentemente, na ocupação acelerada e irregular das encostas e fundos de

No que tange aos planos de transporte, a apropriação feita por Lelé sobre o Programa de Transporte Coletivo (TRANSCOL) aflora como um importantíssimo meio de se intervir na cidade a fim de solucionar a questão da mobilidade e do tráfego, sobretudo no Centro. Através de diversas intervenções, como a criação de terminais de bairro, faixas exclusivas de ônibus, corredores de transportes, estacionamentos periféricos, estações de transbordo (Lapa e Rodoviária) e obras de pavimentação viária, buscava-se, sobretudo com os corredores de transporte, qualificar o acesso da população dos diferentes bairros à região central. Na Avenida Mário Leal Ferreira, foi proposto um corredor exclusivo de ônibus (em mão inglesa), com duas pistas que conectavam a Estação da Lapa ao Iguatemi/Caminho das Árvores/ Orla Atlântica e à Paralela, atingindo um fluxo de cerca de 144 ônibus/hora e se estabelecendo, desde então, como uma importante via de escoamento de tráfego. Um ponto interessante das propostas de alguns terminais de transportes era a intenção de associar a implantação de áreas de lazer e pequenos comércios aos mesmos, buscando atrair a população para esses locais. O TRANSPORTE DE MASSA E A ESCALA HUMANA O campo de atuação da equipe coordenada por Lelé era muito amplo, coexistindo desde projetos de urbanização em grande escala à projetos de mobiliário em argamassa armada, desenvolvidos na Usina de Pré-moldados leves, idealizada pelo arquiteto a fim de dar identidade visual à cidade e solucionar de maneira rápida e

Na Usina foram desenvolvidos diversos equipamentos e mobiliários urbanos, como pontos de ônibus, bancos, escadas drenantes, módulos de drenagem de canais, módulos para passarelas etc. No caso da Avenida Mário Leal Ferreira, através da associação do TRANSCOL ao Programa Bacia do Camarujipe, a mesma recebeu obras de macrodrenagem e microdrenagem, culminando com o revestimento do canal do Rio Bonocô (com os elementos em argamassa armada) e a posterior construção das escadarias drenantes (também em argamassa armada) nos bairros que se consolidaram nas encostas do vale, principalmente em Cosme de Farias. Posteriormente, em 1989, respondendo a demandas populacionais, foram instaladas quatro passarelas para pedestres sobre a Avenida (as passarelas chegam a ter 220m), e removidos os semáforos até então existentes, dando à mesma um caráter de via expressa, por conta da fluidez que o trânsito passou a ter – ainda que a mesma seja classificada como uma via arterial por conta da sua localização, velocidade etc. Porém, foi apenas em 1997 que a obra do corredor viário Lapa-Rodoviária foi finalizada, associada a obras de pavimentação, saneamento, drenagem, sinalização e também de implantação de sistema subterrâneo de iluminação. Foi nesse período que o Rio Bonocô – braço do Rio Camarajipe - foi totalmente canalizado, pois sobre o mesmo se estabeleceu o corredor de transporte Lapa/Rodoviária – nesse trecho isolado das pistas laterais por gradis metálicos para evitar a travessia de pedestres pelas pistas. Desde então, as “passarelas de Lelé” marcam a paisagem da cidade e também da Avenida Mário Leal Ferreira, tendo sido exigida a sua manutenção até hoje, mesmo após a construção do metrô.


MAPAS - DESENVOLVIMENTO URBANO E PROJETOS URBANÍSTICOS PARA SALVADOR

IMAGEM 06: Desenvolvimento urbano de Salvador e Região Metropolitana, de 1940 a 1980. Fonte: VALE, 2016, p.104.

IMAGEM 07: Principais núcleos de atividade em Salvador, em 1984. Fonte: VALE, 2016, p.245.

IMAGEM 08: Fluxo de passegeiros baseado na pesquisa de Origem - Destino, de 1984. Fonte: VALE, 2016, p.246.

IMAGEM 09: Vias expressas, arteriais e eixos propostos para o Projeto de Transporte de Massa (TMS). Fonte: VALE, 2016, p.246.

IMAGEM 10: Corredores de Transporte de Massa (TMS), ressaltando a Av. Mário Leal Ferreira (Bonocô). Fonte: VALE, 2016, p.252.

IMAGEM 11: Esquema indicando a instalação dos módulos de revestimentos de canais em argamassa armada. Fonte: VALE, 2016, p.246.

IMAGEM 12: Croqui esquemático indicando a estruturação de uma escadaria drenante. Fonte: Clube do Concreto. Disponível em <http://www.clubedoconcreto.com.br/>. Acesso em 29 jul. 2017.

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O METRÔ DE SALVADOR Congestionamentos decorrentes da consolidação do rodoviarismo na capital baiana intensificaram a necessidade de se repensar o sistema de transportes da cidade, levando aos primeiros trabalhos para licitação do metrô ainda nos fins da década de 90, envolvendo as três escalas do governo (Municipal, Estadual e Federal). Após a aprovação dos recursos frente à União, em 1999, a construção do sistema metroviário teve início em abril de 2000, sendo interrompida diversas vezes (por alterações projetuais, suspeitas de superfaturamento etc.) até a sua inauguração parcial em junho de 2014, após o estabelecimento de uma parceria público-privada (PPP) entre o Governo do Estado e o Grupo CCR América Latina. A atualização da Pesquisa Domiciliar Origem-Destino, 1998, apontou para um traçado metroviário que conectasse o centro da cidade aos bairros da área urbana consolidada (AUC) - que envolve bairros como Federação, Brotas, Cosme de Farias etc. – visto que esses concentravam cerca de 65% do fluxo total de passageiros no horário de pico, na época da pesquisa. A partir desse estudo delineou-se a Linha 01: Lapa-Pirajá, expandida posteriormente até Cajazeiras/Águas Claras, e mais tarde, o intensivo crescimento da cidade no sentido Iguatemi-Paralela-Orla Atlântica justificou a proposição da Linha 02: Acesso Norte-Aeroporto, consolidando o Sistema Metroviário Salvador e Lauro de Freitas. É importante observar mais uma vez a opção do canteiro central da Avenida Mário Leal Ferreira (e de outras avenidas de vale) como o local de implantação do transporte de massa, coincidindo com as proposições já cogitadas na época do chamado Projeto de Transporte de Massa de Salvador (TMS), de 1987, e reafirmando a importância dessa avenida no fluxo da cidade. A opção pela construção de um metrô elevado gerou muitas discussões por conta do impacto paisagístico na cidade como um todo, sobretudo nos bairros pelos quais as linhas passariam, porém, por ser considerada a solução mais rápida e simples acabou por ser a adotada, construindo-se um sistema metroviário, sustentado por estruturas de concreto armado. Como dito, a opção por esse sitema impactou a paisagem de Salvador e da Avenida Mário Leal Ferreira, nesse caso, intensificando a fronteira já existente entre os bairros de Brotas e Cosme de Farias, até então já segregados pela presença da avenida arterial. Além do impacto da própria estrutura de sustentação da via elevada também marca a paisagem da Avenida as estações Brotas e Bonocô, essa última elevada 5,50m do canteiro central e suportada por pórticos de concreto armado que mantém a mesma modulação de apoios adotada na estrutura da via. 06

Essa concepção, que deixou um vão livre considerável abaixo da estrutura de suporte espaço colateral - culminou, anos depois, na realização de uma intervenção urbanística finalizada em 2010, pela Fundação Mário Leal Ferreira (FMLF), durante o mandato do Prefeito João Henrique Cardoso (2008 - 2012).

As fronteiras subdividem as cidades. Elas separam as vizinhanças da cidade “comum” que se encontram a seu lado. Nesse aspecto, atuam de modo contrário aos parques de pequeno porte, que quando atraentes, alinhavam as vizinhanças ao seu redor e misturam os moradores próximos. [...] Fronteiras frequentes, sejam formadas por vias expressas, instituições, conjuntos habitacionais, campi, parques industriais ou quaisquer outros usos marcantes do espaço espacial, podem dessa forma reduzir a cidade a frangalhos. [...] A questão não é desprezar as vantagens das linhasférreas e das vias expressas, e sim reconhecer que são benefícios dúbios. Neutralizar os efeitos destrutivos dessas instalações as tornará mais bem assistidas. Não há benefício algum em serem elas rodeadas de monotonia ou de vazios, quanto mais de decadência. (JACOBS, 1961)

TUDO QUE O METRÔ JÁ VIU...

IMAGEM 14: Esquema das linhas 01 e 02, com ajustes da autora. Fonte: Governo da Bahia e Editoria de Arte A TARDE. Disponível em < http://atarde.uol.com.br >. Acesso em 29 jul. 2017.

IMAGEM 15: Avenida Bonocô meses antes do início das obras do metrô. Foto: Claudionor Junior. Fonte: Arquivo Correio. Disponível em < http://www.correio24horas.com.br >. Acesso em 30 jul. 2017.

IMAGEM 16: Avenida Bonocô após parte da estrutura do metrô ser finalizada. Foto: Marina Silva: Arquivo Correio. Disponível em < http://www.correio24horas.com.br >. Acesso em 30 jul. 2017.

IMAGEM 13: Linha do tempo do metrô de Salvador. Fonte: Correio 24 Horas. Disponível em < http://www.correio24horas.com.br/ detalhe/salvador/noticia/metro-comeca-a-funcionar-de-graca-as-12h-depois-de-14-anos-em-obras/?cHash=d147a1b377370bb9 76a174a3183b5128 >. Acesso em 29 jul. 2017.

IMAGEM 17: Estação Bonocô. Fonte: Fernandes Arquitetos. Foto: Nelson Kon. Disponível em < http://www.fernandes.arq. br/#/projects/estacao-bonoco---metro-de-salvador >. Acesso em 30 jul. 2017.

LINHA DO TEMPO METRÔ SSA

(2000-2010)


PROJETO URBANÍSTICO CORREDOR VERDE BONOCÔ (2007) - FUNDAÇÃO MÁRIO LEAL FERREIRA (FMLF) A concepção de um metrô elevado, deixando um vão livre considerável sob a estrutura do metrô, culminou com a realização de uma intervenção urbanística que veio a ser concretizada durante o governo do Prefeito João Henrique (2008-2012), quando inciou-se a elaboração do projeto Canteiro Verde Bonocô, sob a coordenação da Fundação Mário Leal Ferreira, mais especificamente da Gerência de Projetos Urbanos (GPU). A proposta surgiu após o início das obras do metrô, quando se percebeu a grande área inutilizada que se estabeleceria sob a estrutura, a qual poderia vir a se configurar como um espaço de lazer para os bairros do entorno, suprindo a carência de espaços públicos. No projeto original, denominado Corredor Verde Bonocô, a proposta compreendia a criação de três núcleos de lazer, distribuídos ao longo do canteiro, que possuíssem pistas de caminhada, ciclovias, bicicletário, equipamentos de ginástica, parque infantil, pista de skate, quiosques e quadra. Porém, por conta da situação financeira da Prefeitura da época, algumas definições projetuais não foram seguidas à risca, como os 44 mil m² de área que deveriam receber um projeto paisagístico, com áreas gramadas, flores e árvores abundantes, mas que no projeto entregue não condiz com essa realidade, visto que as áreas verdes se restringem aos gramados e às poucas árvores que existem atualmente..

por crianças, jovens, adultos e até mesmo idosos, que circulam por toda área para a prática de caminhada e corrida, visto que não há nenhum espaço adequado a essas práticas nos bairros lindeiros - de relevo acidentado e bastante adensados do ponto de vista construtivo. Além disso, constata-se um uso intenso da quadra esportiva e de seus arredores, onde ocorrem “partidas de futebol” (os famosos “babas”) até mesmo durante a noite, sobretudo nas sextasfeiras e nos sábados. Assim sendo, ainda que situado numa avenida arterial de alta velocidade, a inexistência de outras opções de lazer e espaço público nas imediações - num raio de 500m metros para ambos os lados da Avenida não há uma praça sequer - bem como o distanciamento da pista de caminhada e da ciclovia do limite da avenida, tornam esse espaço muito utilizado pela população, que encontra ali um espaço público outrora inexistente, contribuindo para a transformação da fronteira física num local mais vivo e agregador, ainda que o mesmo tenha uma infraestrutura precária, passível de ser melhorada.

IMAGEM 19: Visita ao canteiro às 12:00 de um domingo mostra menos fluxo de pessoas em comparação aos dias da semana. O grupo mais expressivo era de pais com crianças pequenas. Foto: Anna de Carvalho Souza. Maio de 2017

Na epóca, considerando que as vias do entorno possuem velocidade máxima de até 70km/h, foram instalados gradis metálicos de proteção, os quais foram removidos pela população, que insistia em fazer a travessia pela avenida, situação que só foi alterada quando foram criadas mais rampas de acesso que conectassem as passarelas existentes ao canteiro central, o que proporcionou maior segurança ao pedestre. Além dos equipamentos de esportes, também foram instalados refletores para iluminação ao longo de todo o canteiro. Apesar de de uma primeira inauguração ter ocorrido em 2010, o local se transformou num verdadeiro canteiro de obras para a finalização das obras do metrô, que só veio a ser finalizado em 2014. Nesse período, parte dos equipamentos que haviam sido entregues à população acabaram sendo destruídos por conta das obras e precisaram ser substituídos. No local, é possível observar a apropriação do espaço por parte da população do entorno, que o utiliza de forma intensa enquanto espaço de lazer e esportes, sobretudo no início da manhã e no fim do dia. A área é frequentada

IMAGEM 21: Imagens virtuais do Projeto Corredor Verde da Avenida Bonocô, imagem cedida pela Fundação Mário Leal Ferreira. Fonte: Fundação Mário Leal Ferreira (FMLF).

IMAGEM 18: Crianças jogando bola no Canteiro da Avenida Bonocô num fim de tarde. Foto: Anna de Carvalho Souza. Jul de 2017.

IMAGEM 20: Pessoas caminhando no canteiro da Avenida Mário Leal Ferreira (Avenida Bonocô). Foto: Anna de Carvalho Souza. Jul de 2017

IMAGEM 22: Imagens virtuais do Projeto Corredor Verde da Avenida Bonocô, imagem cedida pela Fundação Mário Leal Ferreira. Fonte: Fundação Mário Leal Ferreira (FMLF).

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O LUGAR O acelerado desenvolvimento urbano da cidade de Salvador, aliado ao seu crescimento populacional proeminente, trouxe consigo diversos problemas ambientais, muitos deles intimamente relacionados à diminuição da cobertura vegetal urbana. Salvador, assim como diversas cidades brasileiras, viu suas áreas verdes diminuírem de forma severa diante de políticas públicas de uso e ocupação do solo urbano, que ao longo das últimas décadas vem propiciando a remoção das áreas verdes e o aumento da impermeabilização do solo. Ainda que o termo “áreas verdes” possua diversos significados dentro da literatura específica, há um consenso entre muitos autores de que essas áreas devem, necessariamente, ser acessíveis à população, cumprindo sua função social, na medida em que propiciem a interação das atividas humanas ao meio ambiente. Segundo a Sociedade Brasileira de Arborização Urbana (SBAU, 1996), o índice de área verde (IAV) por habitante deve ser de no mínimo 15m²/ hab, o que claramente não é uma realidade na paisagem soteropolitana (vide mapa ao lado). Segundo estudos de Oliveira (2009), dos 163 bairros analisados, 108 bairros possuem um IAV inferior ao sugerido pela SBAU, destacandose a ocorrência de 30 bairros onde esse valor não alcança 1m²/hab, sobretudo naqueles localizados nas áreas de consolidação mais antiga da cidade. Dentre esses está o bairro de Cosme de Farias, com um índice de apenas 0,59m²/ hab, um total de 2,35% de cobertura vegetal na totalidade do bairro. Esses dados, juntamente com a intensificação dos problemas ambientais urbanos, como as ilhas de calor, aumento da temperatura do ar e das superfícies, diminuição da umidade atmosférica, algamentos recorrentes e a baixa qualidade do ar, demonstram os efeitos devastadores da urbanização irresponsável que ocorreu na cidade, a qual praticamente dizimou as áreas verdes públicas em prol da ‘modernização urbana’’. É nesse cenário de áreas extremamente adensadas, impermeabilizadas e com áreas verdes diminutas que se encontra a Avenida Bonocô e seus bairros lindeiros, que sofrem, periodicamente, os efeitos negativos da degradação ambiental da cidade. Além dos problemas ambientais já falados, a baixíssima quantidade de áreas verdes também se torna um desincentivo ao ato de caminhar, uma vez que a paisagem árida se configura como um ambiente hostil para que se caminhe com prazer, sobretudo numa cidade como Salvador, na qual a incidência solar é intensa. O problema se torna ainda mais grave quando se trata de uma cidade na qual o planejamento urbano voltado para o 08

pedestre - para a escala humana - já foi perdido há muito tempo. Ou seja, há uma decadência generalizada dos espaços públicos da cidade e da da própria rua enquanto espaço público, uma vez que não são dadas as condições mínimas para o seu uso pela população: arborização, calçadas adequadas etc.

SALVADOR ÁRIDA: UMA INTERVEÇÃO POSSÍVEL

Porém, apesar de um longo período de descaso diante desse assunto, no ano de 2017, foi publicado, pela Prefeitura, o Manual Técnico de Arborização Urbana de Salvador, trazendo regras e diretrizes para que os cidadãos ajudem na ampliação e manutenção da arborização urbana e contendo informações a respeito das áreas verdes e espécies nativas da cidade. Uma curiosidade é que os canteiros centrais da Avenida Centenário e da Avenida Garibaldi, que sofreram intervenções nos últimos anos, já estão classificados aí enquanto Parques Lineares, ainda que o canteiro central da Avenida Garibaldi não tenha uma arborização tão significativa a ponto de se estabelecer enquanto parque para população.

PARQUE SÃO BARTOLOMEU (ÁREA DE PRESERVAÇÃO AMBIENTAL DA BACIA DO RIO COBRE)

Portando, a remoção da vegetação urbana associada à massiva impermeabilização do solo gera problemas que vão muito além das questões ambientais. Reverter essa situação é uma questão de qualidade de vida nas cidades. Intervir na Avenida Bonocô é apenas um dos caminhos para se mostrar que sim, é possível estabelecer alternativas de compensação ambiental em cenários densos e extremamente consolidados, algo que já vem sendo feito em diversos locais do mundo.

ÁREA DE PRESERVAÇÃO AMBIENTAL DE JOANESIPITANGA

PARQUE METROPOLITANO LAGOAS E DUNAS DO ABAETÉ

PARQUE DE PITUAÇU AV. MÁRIO LEAL FERREIRA

LEGENDA: AV. MÁRIO LEAL FERREIRA (BONOCÔ) PARQUE COSTA AZUL ZOOLÓGICO DE SALVADOR MAPA 01: DISTRIBUIÇÃO DA COBERTURA VEGETAL EM SALVADOR, EM 2009. Fonte: DE OLIVEIRA, Anderson Gomes. et al. Mapeamento de índices de cobertura vegetal dos bairros de Salvador-BA com uso de imagens do sensor RapidEye para o ano de 2009. Salvador, abril de 2013

ZONA ÁRIDA (ÁREAS VERDES DIMINUTAS) ZONAS DE CONSERVAÇÃO AMBIENTAL ZONA DE OCUPAÇÃO URBANA

PARQUE DA CIDADE

LIMITES DO MUNICÍPIO DE SALVADOR MUNICÍPIOS REGIÃO METROPOLITANA HIDROGRAFIA

MAPA 02: ARIDEZ URBANA EM SALVADOR. Fonte: Intervenção da autora sobre o Mapa 02 - Centralidades, do PDDU (2016), de Salvador.

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OS ESPAÇOS COLATERAIS O QUE SÃO? O contexto do movimento moderno, sobretudo na década de 20, para além das novas formas de concepção arquitetônica, trouxe consigo novos conceitos urbanísticos que refletiram no planejamento de diversas cidades desde então. Esses conceitos, vinculados às novas dinâmicas e relações que se sucederam com a Revolução Industrial, influenciaram intensamente o desenvolvimento urbano, marcado pelo aumento da população urbana e a consequente diversidade cultural, pela economia industrial e seus avanços tecnológicos, mas também pelas contradições que daí surgiram (sobretudo nos países de industrialização tardia): déficits habitacionais, baixa oferta de emprego, precariedade de infraestrutura etc. É nessa realidade que o “urbanismo ortodoxo”, assim definido por Jane Jacobs, estabelece suas origens, caracterizando-se por um planejamento distanciado da cidade. Essas novas formas de projetar, aliadas às novas tendências de mobilidade e ao fomento da indústria automobilística, culminaram na formação de arquitetos e urbanistas muito mais empenhados na realização das mega obras de infraestrutura urbana – grandes avenidas, pontes, viadutos, rodovias etc. – do que na consideração de questões imprescindíveis a qualquer desenho de cidade: a rua como espaço de encontro, a escala humana, as potencialidades e dinâmicas locais e a heterogeneidade de usos. Como consequência dessa urbanização acelerada e voltada para a vertente rodoviarista, viu-se o surgimento de inúmeros espaços inóspitos na tessitura urbana, contraditoriamente, lado a lado às grandes estruturas modernistas - ou sob essas estruturas. São esses os espaços denominados de espaços colaterais (também conhecidos como espaços residuais), os quais afloraram das mais variadas formas sobre a vastidão dos núcleos urbanos, desde os países desenvolvidos aos subdesenvolvidos, configurando-se como territórios esquecidos e marginalizados do planejamento das cidades e contribuindo para a intensificação da segregação espacial nas metrópoles contemporâneas. Sua presença se estabeleceu de forma tão maçante nas paisagens citadinas que é comum não mais despertarem a curiosidade da maioria da população, acostumada a vislumbrar esses espaços como inerentes às cidades ainda que sintam intensamente os seus efeitos: a insegurança em andar nas ruas, a dificuldade de mobilidade do pedestre, os grandes congestionamentos, os impactos paisagísticos

etc. Contudo, a partir das décadas de 70 e 80, a intensificação das mazelas trazidas por esses numerosos espaços nas cidades, reflexo da contínua implementação dos ideais do urbanismo ortodoxo, começou a despertar a atenção de alguns arquitetos e urbanistas, sobretudo aqueles de países europeus e até mesmo dos Estados Unidos. Esses, preocupados com o rumo que as cidades estavam tomando e buscando a retomada da vitalidade urbana, passaram a propagar a retomada de certos princípios básicos, a fim de projetar cidades mais humanas e voltadas para seus habitantes, afastadas do ideal de “modernidade” propagado até então. Nesse novo cenário, figuras eminentes como Jan Ghel e Jane Jacobs ( e Jaime Lerner, no cenário brasileiro) passaram a dialogar e propor alternativas a fim de requalificar as cidades do ponto de vista do pedestre, resgatando o real conceito de urbanidade. É nesse contexto que começam a ser implementados projetos que buscassem solucionar a reintegração desses espaços colaterais e subutilizados à malha urbana.

carecem de cidades mais convidativas e vivas, capazes de atrair a população para as ruas. Os novos projetos de cidade, a partir de todos esses questionamentos, passaram a conceber as ruas, calçadas e o espaço público em gera, como uma extensão dos lares, como espaços de encontro e permanência e indissociáveis dos parâmetros de qualidade de vida. É importante salientar que a intensificação dessa “nova” forma de pensar a cidade e a propagação desses conceitos também já possui seus primeiros resultados nas políticas e diretrizes públicas de cidades brasileiras, que vem dando os primeiros passos no que diz respeito a que tratamento dar a esses espaços. Um dos grandes exemplos de políticas públicas que vem sendo desenvolvidas em prol dessas áreas, é o fato de que as mesmas já vem sendo incluídas nas diretrizes dos planos diretores (como no caso de São Paulo), em concursos de projeto (a exemplo do concurso “Baixios de Viadutos”, em Belo Horizonte) e até mesmo sendo mais estudadas, no que tange à forma de intervir.

IMAGEM 23: Ocupação habitacional informal sob estrutura viária. Disponível em: <http://opiniaoenoticia.com.br/brasil/ governo-tera-de-investir-r-76-bi-por-ano-para-zerar-deficithabitacional-ate-2024/> - Acesso em 02 fev 2017

Assim sendo, um projeto de cidade que responda a esses problemas passa a ser colocado em prática, pautado nos ideais de uma cidade viva, densa e segura. O reflexo desses pensamentos tem seus primeiros exemplares desenvolvidos nos países europeus, culminando na requalificação de muitos espaços públicos e, por conseguinte, de muitos espaços colaterais/ residuais que então não eram pensados como parte da cidade. Porém, pelo contexto de industrialização tardia e pelo apego às tradições do urbanismo ortodoxo, essa nova forma de pensar e conceber a cidade chegou de forma retardada nos países subdesenvolvidos, como o Brasil, que seguiram na contramão dessas novas reflexões por um longo período, apenas iniciando grandes reflexões a cerca de como intervir nesses espaços a partir do século XXI. Portanto, uma arquitetura que dialogue com esses espaços tão presentes nas cidades urbanizadas se faz imprescindível, visto que já existem diversos projetos cujos resultados reiteram a viabilidade e os benefícios de intervir nesses locais, até pouco tempo marginalizados. Esses benefícios vão muito além de uma malha urbana mais coerente e equilibrada, pois é importante frisar que grande parte desses vazios já são ocupados, ainda que informalmente e por populações marginalizadas, o foco dessas intervenções devem ser as pessoas, que

IMAGEM 24: Highways americanas geram gigantescos espaços vazios, onde nada acontece. Disponível em: http://www.nssga. org/highway-industries-send-letter-congress-pleading-robust-long-term-highway-funding/ - Acesso em 02 fev 2017

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OS ESPAÇOS COLATERAIS CONCURSO BAIXIOS DE VIADUTO - BELO HORIZONTE (MG)

NOTA TÉCNICA BAIXIOS DE VIADUTO - SÃO PAULO (SP)

O Concurso Público Nacional de Projetos de Arquitetura para Requalificação Urbana de Baixios de Viadutos foi promovido pela Prefeitura de Belo Horizonte buscando implementar diretrizes de ocupação e uso das áreas sob os viadutos municipais propostas pela Lei 10.443, de março de 2012, que institui a Política Municipal de Aproveitamento das Áreas sob Viadutos. A realização do concurso pretendeu tratar os baixios de viadutos, já que esses conservam, devido à sua estratégica inserção urbana, um grande potencial para encontros e para a realização de atividades ao ar livre, desde que sejam objeto de requalificação urbana, . O concurso selecionou projetos de arquitetura e urbanismo, em formato de estudo preliminar, os quais apresentaram soluções para a ocupação e uso dos baixios dos viadutos definidos no Edital, levando o 1º lugar a equipe gaúcha do arquiteto Cassio Orlandi Sauer.

Com base nas disposições da Lei Municipal nº 13.426/ 2002 e do Decreto Municipal nº 48.378/ 2007, que definem e regulamentam a outorga de áreas públicas localizadas nos baixos de pontes e viadutos pelo Poder Executivo, através de concessão onerosa para exploração por particulares, foi constituído em outubro de 2011 um Grupo de Trabalho Intersecretarial (GT), coordenado pela Secretaria de Coordenação de Subprefeituras, para atualizar as informações referentes à situação destas áreas e uniformizar os procedimentos de outorga da modalidade. O trabalho desenvolvido pelo referido GT durou 3 meses e em janeiro de 2012, deu origem ao Relatório Técnico sobre Aproveitamento de Baixos de Pontes e Viadutos, que cataloga todos os espaços passíveis de intervenção na cidade de São Paulo, bem como faz um estudo de caso de um desses espaços.

IMAGEM 25: Montagem mostra proposta da equipe vencedora do projeto de um dos viadutos do Concurso Baixios de Viaduto, promovido pela Prefeitura de Belo Horizonte (MG). Disponível em: < https://concursosdeprojeto.org/2014/02/07/premiadosconcurso-baixio-dos-viadutos-belo-horizonte/ >. Acesso em 12 fev 2017.

IMAGEM 27: Mapa localiza todos os baixios de viadutos e pontes passíveis de intervenção na cidade de São Paulo (SP). Fonte: Nota Técnica Baixos de viadutos, Outubro de 2016.

IMAGEM 26: Perspectiva sob viaduto 3, projeto do escritório ENTRE Arquitetos para o Concurso Baixios de Viaduto, promovido pela Prefeitura de Belo Horizonte (MG). Disponível em: < https://www.archdaily.com.br/br/01-177720/vencedor-do-concursopara-requalificacao-de-baixios-de-viadutos-em-belo-horizonte-nil-viaduto-number-3-viaduto-cinquenta-e-dois-slash-entrearquitetos >. Acesso em 12 fev 2017.

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IMAGEM 28: Planta de localização contida no Termo de referência para concessão onerosa de uso dos espaços públicos situados nos baixios do complexo viário JÚLIO DE MESQUITA FILHO. Fonte: Nota Técnica Baixos de viadutos, Outubro de 2016.


OS ESPAÇOS COLATERAIS E A POPULAÇÃO SOTEROPOLITANA A questão dos espaços públicos na cidade de Salvador é muito complexa, sobretudo no que diz respeito a espaços como praças e parques. A elevadíssima densidade construída de muitos bairros e áreas menos favorecidas da cidade coexiste com a realidade de escassez de espaços públicos adequados e convidativos, excluindo ainda mais a população desses locais da esfera da vida pública, que fica disponível apenas para aqueles que residem em bairros mais nobres, dotados de infraestrutura adequada, espaços públicos de qualidade e tantos outros benefícios,

de interveção, ainda que muitos deles se localizem em meio a vias de velocidade considerável ou sob estruturas viárias.

Ser uma cidade banhada pelo mar e ter a praia como espaço público por si só é uma grande vantagem para cidade, porém é algo insuficiente diante da expressiva demanda por espaços de convivência e lazer. A importância e a necessidade desse tipo de espaço na malha urbana da cidade é visível quando se observa as a vitalidade dos espaços públicos de Salvador que receberam projetos

Alguns casos de sucesso na cidade, no que tange a ocupação e utilização por parte da população, são o Canteiro Central da Avenida Centenário, a Praça da Bíblia Sagrada, a Praça Sob Viaduto e o Dique do Tororó.

A localização desses espaços, ainda que não seja a ideal (de acordo com a teoria urbana), não desencoraja a apropriação dos mesmos pela população soteropolitana, o que demonstra a necessidade desse tipo de convívio por parte da mesma, que vem ocupando de forma intensa esses locais da cidade, sobretudo aqueles que já receberam projetos de reaqualificação urbana.

CANTEIRO CENTRAL DO IMBUÍ

PRAÇA DA BÍBLIA SAGRADA

PRACINHA

DIQUE DO TORÓRÓ

Ainda que tenha sido feito às custas do tamponamento do Rio das Pedras, A Praça do Imbuí, construída pela Prefeitura do Salvador sobre o canal que corta a região, foi inaugurada em junho de 2010 e, desde então, o local, que é composto por quadras poliesportivas, pista de skate, parques infantis, equipamentos de ginástica e quiosques, vem sendo bastante utilizado pela população do Imbuí e da Boca do Rio.

Inaugurada em julho de 2016, a Praça da Bíblia Sagrada, que se configura mais como um canteiro arborizado e dotado de infraeestrutura de lazer do que como praça, vem sendo bastante utilizada pelos moradores das imediações, sobretudo pelos moradores dos bairros do Engenho Velho de Brotas e de Brotas, que vem utilizando o espaço, principalmente, para a prática de caminhada. Ainda que próxima da Avenida Bonocô, percebe-se uma desconexão entre as duas áreas, sobretudo pela inexistência de uma conexão efetiva entre as mesmas que permita um percurso a pé ou de bicicleta, o que poderia ser facilmente resolvido através de uma pista de caminhada e de uma ciclovia pelo eixo do canteiro. Apesar de bordeada por uma via cuja velocidade máxima é de 60km/h, a área vem sendo bastante usada pela população, pois há um certo afastamento da pista em relação à via, por conta de algumas áreas gramadas e do plantio de algumas árvores, e também pela carência por esse tipo de espaço.

No bairro da Cidade Nova, sob um dos diversos viadutos que compõem a Via Expressa, há uma pequena praça, bastante vívida.

Ainda que não se configure como um espaço colateral propriamente dito, o Dique do Tororó é um ótimo exemplo de apropriação do espaço público diante de um entorno super adensado. O local é extremamente frequentado, seja pelas populações dos bairros do entorno ou por pessoas que saem de bairros mais distantes em direção ao mesmo, isso porque o local se configura, desde 1998, quando foi feita uma grande reforma, como um importante espaço de lazer para as famílias.

IMAGEM 30: Praça da Bíblia Sagrada, Vale do Ogunjá, Salvador - Bahia. Fonte: Sky Scraper City. Disponível em: < http://www. skyscrapercity.com/showthread.php?t=798680&page=1919>. (Acesso em 31 nov 2017).

IMAGEM 31: Espaço de Lazer sob as grandes estruturas viárias da Estrada da Rainha mostra uma grande quantidade de crianças utilizando o espaço no Bairro da Cidade Nova, em Salvador - Bahia. Fonte: Google Street View

Imbuí

Um dos grandes sucessos do local é a massiva utilização do espaço para feiras, como a Feira da Cidade, que atrai um público considerável para o espaço e gera bastante movimento no bairro, dinamizando-o. Apesar de hoje já ter sido provada a importância de se resgatar a relação da cidade com rio, o local vem sendo bastante utilizado, não só por moradores do bairro, sobretudo pela existência de quiosques e barracas que funcionam pela noite, diversificando o público e evitando horários de esvaziamento, o que poderia gerar uma certa periculosidade na área.

IMAGEM 29: Imagem aérea do Canteiro Central do Imbuí. Fonte: Sky Scraper City. Disponível em: < http://www. skyscrapercity.com/showthread.php?t=798680&page=438>. (Acesso em 31 nov 2017).

Vale do Ogunjá

Cidade Nova

O local não passa despercebido por aqueles que acessam a Rua Quintas dos Lázaros, dado ao fluxo intenso de atividades que ocorrem no espaço. Se aproveitando de um típico espaço residual, essa pracinha se desenvolve em uma grande área de sombra sob a estrutura do Viaduto Estrada da Rainha. Nesse espaço, bastante frequentado pela população do bairro, há um pequeno skatepark, quadras poliesportivas, parque infantil, mesas, bancos e um grande estacionamento. O local é frequentado por um público variado, que vai de crianças a adultos, que se apropriam do espaço, sobretudo nos períodos da manhã e tarde. Uma outra marca do espaço é a presença marcante de grafites e pixações que se distribuem por toda a área.

Tororó

Na reforma de 1998, o Dique ganhou novos equipamentos de esporte e lazer, como restaurantes, equipamentos de musculação, parque infantil, quiosques de água de coco e lanches e áreas para pesca, atraindo a população e levando vitalidade à área. Assim como na Bonocô, as avenida que bordeiam o Dique também possuem velocidade considerável, o que não inibe o uso do espaço, uma vez que há a utilização da arborização enquanto barreira física entre a via e as pistas de caminhada.

IMAGEM 32: Pessoas caminham no Dique lado a lado à via que contorna a área. Disponível em: https://bahianoar.com/ (Acesso em 31 nov 2017).

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ANÁLISE URBANA

MAPA 03 - ÁREA DE ESTUDO (AE) E ÁREA DE INTERVENÇÃO

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MAPA 04 - USO E OCUPAÇÃO DO SOLO

LEGENDA: RESIDENCIAL COMÉRCIO/SERVIÇOS HOSPITAIS/UNIDADES DE SAÚDE INSTITUIÇÕES DE ENSINO VEGETAÇÃO EXISTENTE INSTITUIÇÕES RELIGIOSAS

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MAPA 05 - HIERARQUIA VIÁRIA E ACESSIBILIDADE

LEGENDA: CAMINHOS/ESCADARIAS VIAS LOCAIS VIAS COLETORAS VIA ARTERIAL PASSARELAS ESTAÇÕES DE METRÔ PONTOS DE ÔNIBUS

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MAPA 06 - PAISAGEM ÁRIDA: UM ENTORNO CONSTRUÍDO

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3

1

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9 5

5

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2 PAISAGEM ADENSADA,

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MARCADA POR VIAS ESTREITAS, LOTES INDEFINIDOS, CAMINHOS E ESCADARIAS.

LEGENDA: ESTAÇÕES DO METRÔ

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EQUIPAMENTOS E ESPAÇOS PÚBLICOS

INSUFICIENTES EM GRANDE PARTE DA ÁREA DE ESTUDO.

PAISAGEM ÁRIDA,

COM POUCAS ÁREAS ARBORIZADAS DIANTE DAS DIMENSÕES DA ÁREA DE ESTUDO.

HABITAÇÕES PRÉCARIAS NAS ENCOSTAS.

PAISAGEM MENOS ADENSADA

NAS CUMEADAS.

RELEVO COMO OBSTÁCULO FÍSICO:

CAMINHABILIDADE DIFICULTADA PELO DESNÍVEL VALE CUMEADA.

PASSARELAS

VIAS MAIS LARGAS E LOTES MAIS DEFINIDOS NAS PROXIMIDADES DAS

CUMEADAS.

PRESENÇA DE

PASSARELAS POR TODA EXTENSÃO DO CANTEIRO, POSSIBILITANDO A TRAVESSIA SOBRE AS PISTAS.

CALÇADAS

COM CONDIÇÕES RUINS POR TODA A EXTENSÃO DA AVENIDA MÁRIO LEAL FERREIRA.

USO DO SOLO POUCO ATRATIVO:

NOS LOTES LINDEIROS DA AV. MÁRIO LEAL FERREIRA. PREDOMINA O COMÉRCIO AUTOMOTIVO

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autoconstrução A autoconstrução marca a paisagem da Avenida Bonocô, em cujos bairros do entorno, predomina padrão habitacional de baixa renda, fruto das ocupações informais que, pouco a pouco, foram se instalando nos arredores da avenida e que hoje se estabelecem como bairros de altíssima densidade e em alguns casos com pouquíssima infraestrutura. Nas construções mais próximas às vias de cumeada, sobretudo em Brotas, o padrão habitacional segue outros parâmetros e apresenta padrões de maior poder aquisitivo, bem como de qualidade dos materiais.

áreas verdes A ocupação acelerada das encostas da avenida e a fraqueza das diretrizes públicas de controle e organização trouxe consigo a destruição de quase todas as áreas verdes que anteriormente conformavam a paisagem da avenida. Atualmente, os remanescente de vegetação do entorno que possuem dimensões consideráveis se resumem à uma área verde sob responsabilidade da CHESF, sobre a qual passa uma rede de alta tensão, e a uma área de vale próxima à Estação da Bonocô, na qual ainda existe um córrego a céu aberto (se configurando como uma Área de Proteção Permanente APP) e uma quadra, que perdeu o uso depois da instalação de uma quadra poliesportiva no canteiro.

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IMAGEM 33: Foto aérea da poligonal de estudo. Fonte: Jornal A TARDE. Disponível em: < http://atarde.uol.com.br/bahia/ salvador/noticias/1786474-disputa-entre-faccoes-assustamoradores-de-cosme-de-farias >. Acesso em 11 nov 2017. PAISAGEM ADENSADA, MARCADA POR VIAS ESTREITAS, LOTES INDEFINIDOS, CAMINHOS E ESCADARIAS.

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IMAGEM 34: Foto aérea da quadra existente ao lado do corrégo: uma das raríssimas áreas verdes da poligonal de estudo. Fonte: Google Earth Pro. Acesso em 11 nov 2017.

IMAGEM 35: Foto aérea da poligonal de estudo. Fonte: Google Earth Pro, novembro de 2017.

EQUIPAMENTOS E ESPAÇOS PÚBLICOS

PAISAGEM ÁRIDA, COM POUCAS ÁREAS VERDES DIANTE DAS DIMENSÕES DA ÁREA DE ESTUDO.

INSUFICIENTES EM GRANDE PARTE DA ÁREA DE ESTUDO.

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acessibilidade A caminhabilidade de toda a área é de baixa qualidade, sobretudo nas encostas, onde muitas vezes inexistem vias, que são substituídas por escadarias e caminhos de pedestres. Em alguns trechos da Avenida, a calçada é tão estreita que os pedestres optam por caminhos alternativos para que se sintam mais seguros. Além disso, a presença de muitos comércios voltados à manutenção de veículos, na Avenida, faz com que grande parte das calçadas seja ocupada por esses automóveis, impedindo a livre circulação dos pedestres por conta da apropriação das calçadas para realização dos serviços nos veículos, o que também compromete a segurança do trânsito. Porém, após a instalação do metrô elevado, esse se tornou o elemento mais marcante da Avenida, não só pelo brutalismo da estrutura de concreto, como também por se estabelecer como uma grande barreira física e paisagística no eixo da via. Por conta da densidade do entorno e do baixíssimo potencial de caminhabilidade, é sob essa estrutura que se vê muitas pessoas caminhando, uma vez que a sombra projetada pela estrutura acaba por configurar um espaço minimamente agradável à circualação dos pedestres. 16

IMAGEM 36: Tipologia construtiva nas encostas: construções de baixa qualidade. Fonte: Google Street View, novembro de 2017.

HABITAÇÕES PRÉCARIAS NAS ENCOSTAS. PAISAGEM MENOS ADENSADA NAS CUMEADAS.

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IMAGEM 39: Uma das passarelas da Avenida Bonocô, conectando a Rua Odilon Dórea à avenida. Fonte: Anna de Carvalho Souza.

PRESENÇA DE PASSARELAS POR TODA EXTENSÃO DO CANTEIRO, POSSIBILITANDO A TRAVESSIA SOBRE AS PISTAS.

IMAGEM 37: Escadaria conecta a Avenida Bonocô aos bairros do entorno. Fonte: Google Street View, novembro de 2017.

RELEVO COMO OBSTÁCULO FÍSICO: CAMINHABILIDADE DIFICULTADA PELO DESNÍVEL VALE - CUMEADA.

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IMAGEM 40: Pedestre caminha pela contenção de um terreno na Avenida Bonocô. Fonte: Google Street View. Acesso: 12 nov 2017. CALÇADAS COM CONDIÇÕES RUINS POR TODA A EXTENSÃO DA AVENIDA MÁRIO LEAL FERREIRA.

IMAGEM 38: Avenida Dom João VI, em Brotas. Fonte: Jornal A TARDE. Disponível em: < http://atarde.uol.com.br>. Acesso em 11 nov 2017.

VIAS MAIS LARGAS E LOTES MAIS DEFINIDOS NAS PROXIMIDADES DAS CUMEADAS.

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IMAGEM 41: Um dos muitos comércios de veículos que existem nas bordas da Avenida. Fonte: Google Street View. Acesso: 12 nov 2017. USO DO SOLO POUCO ATRATIVO: NOS LOTES LINDEIROS DA AV. MÁRIO LEAL FERREIRA. PREDOMINA O COMÉRCIO AUTOMOTIVO


O CANTEIRO APROXIMAÇÃO COM O ESPAÇO Como forma de apreender o espaço foram feitas diversas visitas ao local para que fossem compreendidas as dinâmicas e as problemáticas do lugar. A metodologia utilizada para essa apreensão foi a observação e uso do espaço, em horários variados e por períodos de tempo significativos.

IMAGEM 42: Motoqueiro cruza o canteiro enquanto grupo de mulheres se aproxima. Foto: Anna de Carvalho Souza. Jul de 2017.

IMAGEM 44: Subestação de energia na extremidade oeste do canteiro. Foto: Anna de Carvalho Souza. Jul de 2017.

IMAGEM 46: Buracos existentes nos gramados do canteiro. Foto: Anna de Carvalho Souza. Nov de 2017.

IMAGEM 43: Quiosque abandonado à leste da Estação. Foto: Anna de Carvalho Souza. Jul de 2017.

IMAGEM 45: Pista de caminhada que se prolonga até a área da subestação. Foto: Anna de Carvalho Souza. Jul de 2017.

IMAGEM 47: Estacionamento improvisado próximo ao canteiro. Foto: Anna de Carvalho Souza. Nov de 2017.

Nas visitas foi possível perceber a variação do uso do canteiro ao longo do dia, bem como a dferença de perfil dos frequentadores ao longo desses períodos. É possível constatar um pico de utilização no período da manhã, das 07:30 às 10:30, bem como no fim da tarde/início da noite, das 16:30 às 19:30. No horário da manhã há um grande número de adultos e idosos que utilizam o canteiro para a prática da caminhada, que é a atividade predominante nesse turno, já no período da tarde, a prática da caminhada se mantém, mas há uma maior utilização da quadra poliesportiva e dos equipamentos de musculação. Além disso, no período da tarde, a presença de crianças e jovens é mais significativa e surgem no local diversos tipos de atividades: capoeira (sob a área de sombra da Estação Bonocô), prática de skate, partidas de futebol infatil e brincadeiras variadas. É interessante destacar a intensificação do uso da quadra, predominantemente por homens, nas sextas-feiras à noite e nos sábados à noite; nesses períodos são realizados “babas” (gíria que siginica partidas de futebol informais), nos quais há um nível de organização considerável, com divisão de times, uso de coletes etc. Esse é um dos únicos usos noturnos do canteiro, que se prolonga até tarde da noite, por volta das 22:00 horas, deixando a área central mais segura e ativa. Por conta da extensão considerável do espaço há uma variação na intensidade e na apropriação do mesmo em certos pontos. Na região mais central do canteiro, que diz respeito aos trechos próximos da Estação Bonocô, há uma maior vitalidade, mais movimento de pessoas e atividades, pois é a área com maior número de equipamentos e conexões; é nesse trecho que as passarelas possuem rampas de acesso. À medida que se caminha a leste e a oeste da Estação, as atividades se restringem à caminhada e à prática do ciclismo, diminui-se o número de frequentadores e vê-se a presença de alguns poucos moradores de rua, sobretudo sob o viaduto a oeste da estação. Outro fator

que explica, em parte, a diminuição do uso nas extremidades do canteiro é o fato de existir, a oeste, a subestação de energia do metrô, que acaba por se configurar como uma barreira física nesse ponto. No trecho oeste também não é possível acessar o canteiro pela passarela existente na altura da Casa Eloy, uma vez que a mesma não possui escada nem rampa de acesso. A leste da Estação Bonocô quase não existem atrativos que levem e convidem os frequentadores, apenas existem quiosques abandonados que não possibilitam a existência de nenhuma atividade. A passarela desse trecho apenas se conecta ao canteiro por meio de uma escada, o que dificulta o uso por alguns usuários e também inibe a utilização nesse trecho. Ou seja, nas extremidades do canteiro, tanto à oeste quanto à leste, as atividades se restringem à caminhada e ao ciclismo, pois as pistas de caminhada e a ciclovia são os únicos elementos contínuos do local. Outra observação feita in loco é a utilização de alguns pontos do canteiro e dos arredores como estacionamento, o que demonstra o uso do espaço por pessoas que residem em locais mais distantes, mas optam por caminhar ali. É importante, porém, organizar esses pontos de estacionamento, pois hoje há uma certa desordem, inclusive próximo ao córrego existente fora do canteiro, um área que vem sendo informalmente ocupada. Outro problema observado é o cruzamento indevido que alguns motoqueiros fazem pelo canteiro, no trecho onde outrora foi um retorno da Avenida Bonocô e que não foi devidamente incorporado ao projeto realizado; apenas foram colocados blocos de concreto para impedir a passagem dos veículos, o que não inibe a passagem das motos, causando risco aos usuários. Observando as dinâmicas e os grupos que utilizam o espaço é possível afirmar que o local já se configura como um importante local de encontro dos bairros do entorno, tornando possível a prática esportiva e contribuindo para vitalidade urbana da área, tão carente de espaços que fomentem a vida pública, diante da elevada densidade construída. Qualificar o canteiro, melhorando a paisagem e propondo soluções aos problemas observados é uma forma de incentivar ainda mais a utilização desse grande espaço e valorizar a população, que já se apropriou do local. 17


O CANTEIRO APROXIMAÇÃO COM O ESPAÇO Como dito, a paisagem urbana do local é marcada pelo relevo acidentado e pelo desnível vale - cumeada. O mapa ao lado, que faz parte do Plano Diretor de Encostas elaborado para Salvador, ilustra a relação topográfica existente na área, na qual predominam as encostas, vales e os topos. Além disso, também é possível ver no mapa, nas manchas azuis, a hidrografia e áreas alagadiças de fundo de vale que, no caso da Avenida, situa-se numa Área de Proteção Permanente existente em uma das bordas da Avenida.

MAPA 07: MAPA DE GEOMORFOLOGIA. Fonte: Plano Diretor de Encostas, Prefeitura de Salvador.

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O CANTEIRO APROXIMAÇÃO COM O ESPAÇO

PLANTA BAIXA - EXISTENTE 1:5000 LEGENDA EQUIPAMENTOS:

LEGENDA VEGETAÇÃO EXISTENTE

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O CANTEIRO APROXIMAÇÃO COM O ESPAÇO

CORTE ESQUEMÁTICO AA 1 : 500

CORTE ESQUEMÁTICO BB 1 : 500 20


O CANTEIRO APROXIMAÇÃO COM O ESPAÇO

PLANTA BAIXA DINÂMICAS 1 : 5000

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O CANTEIRO APROXIMAÇÃO COM O ESPAÇO

01 IMAGEM 48: Adolescentes andando de skate na área sombreada sob a Estação. Foto: Anna de Carvalho Souza. Nov de 2017.

02 IMAGEM 50: Crianças reunidas na quadra poliesportiva.Foto: Anna de Carvalho Souza. Nov de 2017.

03 IMAGEM 52: Pai pedala com duas filhas ao longo de todo o canteiro em contraponto à velocidade elevada da via. Foto: Anna de Carvalho Souza. Nov de 2017.

07 IMAGEM 53: Quadra sendo utilizada por grande grupo de homens num sábado à noite, por volta das 21:00 horas. Foto: Anna de Carvalho Souza. Nov de 2017.

05 IMAGEM 49: Adolescentes jogando bola próximo de um dos quiosques desativados, na altura do antigo prédio da SUCOM. Foto: Anna de Carvalho Souza. Nov de 2017.

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06 IMAGEM 51 Homem se exercita e várias atividades ocorrem ao fundo. Foto: Anna de Carvalho Souza. Nov de 2017.

08 IMAGEM 54: Equipamentos de ginástica sendo utilizados num fim de tarde movimentado. Foto: Anna de Carvalho Souza. Nov de 2017.

04 IMAGEM 55: Crianças brincam de bola na altura do Colégio Estadual Doutor João Pedro dos Santos. Foto: Anna de Carvalho Souza. Nov de 2017.

09 IMAGEM 56: Homem faz exercícios e rapaz caminha com cachorro ao fundo, numa manhã de sábado. Foto: Anna de Carvalho Souza. Nov de 2017.


A POPULAÇÃO QUEM VIVE ALI? QUEM UTILIZA O CANTEIRO DA BONOCÔ? Como forma de entender mais profundamente a população que vive nos bairros lindeiros do Canteiro Verde, além da observação das dinâmicas ali existentes também foi realizada uma análise populacional da área de estudo (AE) a partir dos dados do CENSO 2010. Através da coleta de dados de cada um dos setores censitários existentes na AE, sabendo que cada setor diz respeito a “uma unidade territorial estabelecida para fins de controle cadastral, formada por área contínua, situada em um único quadro urbano ou rural, com dimensão e número de domicílios que permitam o levantamento por um recenseador”, (IBGE), foi possível elaborar gráficos a fim de visualizar de forma clara as características da população que utiliza o local. Para este trabalho foi considerado relevante entender a proporção de homens e mulheres, a pirâmide etária e a renda da população do entorno, buscando o desenvolvimento de um projeto que vá ao encontro das demandas dessa população, uma vez que enquanto espaço público o Canteiro precisa responder às necessidades da população que o utiliza. Seguindo o padrão da cidade, a

proporção de mulheres na AE é maior do que a de homens, o que explica o número significativo de mulheres que utlizam o Canteiro para a prática de caminhada, sobretudo nas manhãs e fins de tarde, quadro que se altera durante a noite, período no qual o local é muito mais utilizado pelos grupos masculinos. Ainda que a quantidade de crianças e adolescentes corresponda a apenas 16% da população total da área, o seu valor absoluto de aproximadamente 11.000 crianças/ adolescentes, bem como a presença de algumas escolas públicas nos arredores, reafirma a necessidade de um espaço público bem estruturado, para que se fomente a socialização, os encontros e a prática esportiva, possibilitando melhores condições de desenvolvimento para essa população.

GRÁFICO 01: Pirâmide Etária de Salvador - CENSO 2010. Foto: IBGE. Disponível em: < http://cidades.ibge.gov.br/painel/populacao. php?codmun=292740 >. Acesso em: 03 ago 2017.

GRÁFICO 02 - FAIXA ETÁRIA

SETORES CENSITÁRIOS DA ÁREA DE ESTUDO (AE)

Por fim, com relação à renda, os dados do IBGE complementam a análise da paisagem construída, marcada pela precariedade das habitações, que se explica, em parte, pela consolidação de uma população de baixa renda; 50% dos domicílios particulares tem rendimento nominal mensal per capita de até 1 salário mínimo por mês, o que explica, em parte, a precariedade da maior parte dos bairros do entorno (Cosme de Farias, Brotas e Campinas de Brotas).

GRÁFICO 01 - GÊNERO

SETORES CENSITÁRIOS DA ÁREA DE ESTUDO (AE)

GRÁFICO 02 - RENDA

SETORES CENSITÁRIOS DA ÁREA DE ESTUDO (AE)

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O PROJETO MATRIZ S.W.O.T (F.O.F.A) Para se definir a diretrizes inicias de intervenção no canteiro, além das observações, análises e visitas ao local, também utilizou-se da ferramenta conhecida como Matriz SWOT (strengths, weaknesses, opportunities e threats) ou Matriz FOFA (forças. oportunidades, fraquezas e ameaças), em português. Muito utilizada dentro da gestão de desempenho empresarial, para entender o ambiente em que uma empresa está inserida e criar as bases de informações necessárias para planejar seu futuro, essa matriz foi desenvolvida na década de 1960 na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, e, rapidamente, se transformou num importantíssimo método de análise utilizado pelas principais empresas do mundo na formulação de suas estratégias. Numa análise SWOT o ambiente interno é que determina as forças e as fraquezas, enquanto a análise do ambiente externo possibilita a definição das oportunidades e ameaças, logo, apesar de incialmente ter sido concebida para o meio empresarial, esse tipo de ferramente pode ser facilmente adpatada e utilizada com sucesso no levantamento urbanístico de uma área para que se obtenham as diretrizes iniciais de desenvolvimento de projeto, obviamente, fazendo-se as adaptações necessárias. A partir dessa lógica, é importante entender o seguinte:

DIRETRIZES PROJETUAIS

- Forças: são os elementos e características do ambiente que representam uma vantagem frente à outros espaços. - Fraquezas: são as características e elementos do ambiente que o desfavorecem em relação à outros locais. - Oportunidades: fatores externos que criam um cenário favorável no local, criam uma oportunidades ou tornam o local convidativo. - Ameaças: todos as conjunturas que criam um ambiente desfavorável, se configurando como ameças e repelindo as oportunidades.

A MATRIZ DO CANTEIRO

DEFINIÇÕES PROJETUAIS ESPAÇOS DIVERSIFICADOS: CONCEPÇÃO DE ESPAÇOS DE LAZER DEDICADOS A PÚBLICOS DIFERENTES: PARQUE INFANTIL INTERATIVO, SKATEPARK, PRAÇAS DE ALIMENTAÇÃO, ESPAÇOS DE PERMANÊNCIA. REDUÇÃO DA VELOCIDADE: REDUZIR A VELOCIDADE LIMITE DA AVENIDA BONOCÔ DE 70km/h PARA 50km/h COMO FORMA DE GARANTIR MAIOR SEGURANÇA AOS USUÁRIOS DO CANTEIRO, BASEANDO-SE NOS CONCEITOS DO TRAFFIC CALMING. JARDINS VERTICAIS: INSTALAÇÃO DE JARDINS VERTICAIS NOS PILARES DE SUSTENTAÇÃO DO METRÔ POR TODA A EXTENSÃO DO PARQUE LINEAR A FIM DE AMPLIAR AS ÁREAS VERDES E IMPACTAR A PAISAGEM DA AVENIDA. REVESTIMENTOS PERMEÁVEIS: ESPECIFICAÇÃO DE REVESTIMENTOS E ACABAMENTOS DE MAIOR QUALIDADE E MAIS BENÉFICOS AO MEIO AMBIENTE: CONCRETO PERMEÁVEL, INTERTRAVADO VERDE, CHAPAS RECICLADAS, MADEIRAS DE ALTA DURABILIDADE ETC. ÁREAS VERDES E ARBORIZAÇÃO: PLANTAÇÃO DE ÁRVORES NATIVAS (OU ADAPTADAS), SEGUINDO O MANUAL DE ARBORIZAÇÃO URBANA DE SALVADOR (PDDU 2016), BEM COMO PLANTAÇÃO DE FORRAÇÕES, FLORES E GRAMADOS POR TODA A ÁREA DO PARQUE PARA QUE SE TRANSFORME A PAISAGEM ÁRIDA NUMA MAIS PAISAGEM MAIS VERDE, AGRADÁVEL AOS USUÁRIOS E MELHOR PARA O MEIO AMBIENTE. JARDIM DE CHUVA: IMPLEMENTAÇÃO DE JARDINS DE CHUVA POR TODO O PERÍMETRO DO PARQUE A FIM DE MELHORAR A DRENAGEM DAS ÁGUAS PLUVIAIS E ESTABELECER UMA “BARREIRA” FÍSICA - PORÉM PERMEÁVEL - ENTRE A VIA E AS ÁREAS DE PERMANÊNCIA DO PARQUE.

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REFERÊNCIAS PROJETUAIS CORA GARRIDO BOXE

PARQUE MINHOCÃO

MANGUINHOS

Há cerca de uma década, o ex-pugilista Nilson Garrido começou a ensinar boxe para crianças de rua, com o objetivo de tirá-las das drogas, sob o Viaduto Alcântara Machado, no bairro da Mooca, em São Paulo (SP). Pegou alguns itens sucateados e improvisou uma academia sob o viaduto, utilizando pedras, latas de tinta cheias de concreto, pneus, molas de caminhão como equipamentos de musculação dos alunos.

O escritório de arquitetura franco-brasileiro Triptyque, em parceria com o paisagista Guil Blanche e a Interbrand, apresentou, em 2016, um projeto para o Minhocão, como é popularmente conhecido o Elevado Costa e Silva. A intenção do projeto é torná-lo um ambiente produtivo e não apenas de passagem, tranformando o elevado numa espécie de marquise gigante. A ideia do projeto não veio do nada, é um projeto participativo, no qual os moradores da região foram consultados sobre as mudanças e questionados sobre suas necessidades, os quais inclusive já fazem parte de uma associação denominada Parque Minhocão.

O Complexo Manguinhos, projeto do arquiteto Jorge Mario Jáuregui, surge com a proposta de revitalizar uma área degradada da cidade do Rio de Janeiro, propondo a integração sócio-espacial de um território antes segregado pelos muros da linha do trem, que até então dividia o complexo de favelas ao meio.

SÃO PAULO, BRASIL

Antes do projeto, o espaço de 15.800m² era bastante perigoso, palco de furtos, o que, pouco a pouco, foi melhorando com a instalação do projeto do ex-pugilista e da enfermeira Corina Batista: o Cora Garrido Boxe. A dupla levou três anos para ocupar inteiramente o viaduto, revitalizando a área, onde hoje treinam profissionais e amadores. Apenas no primeiro mês, a academia improvisada atraiu cerca de 750 pessoas, entre desabrigados, dependentes químicos e menores abandonados O projeto cresceu muito, chamando atenção da Prefeitura de São Paulo, que em 2006, cedeu um segundo viaduto para o projeto, o Viaduto do Café, no bairro do Bixiga. Posteriormente, em 2014, o local passou por uma reforma patrocinada pela rede de academias SMART FIT. Em 10 anos, cerca de 70.000 pessoas, de diversas classes sociais, fizeram exercícios no local, que vive de doações até hoje. Além dos aparelhos de primeira linha, o espaço ganhou também um ringue e um octógono profissional, onde são realizadas lutas de MMA. Com a revitalização do espaço, mais pessoas foram atraídas pelo projeto, as quais são convidadas a deixarem seus nomes em um caderno de presenças.

IMAGEM 57: Cora Garrido Boxe + Smart Fit. Disponível em: <http://www.gazetavirtual. com.br/projeto-garrido-academia-cresce-e-mais-projetos-surgem/>. Acesso 13 nov 2017.

SÃO PAULO, BRASIL

A ideia é que a estrutura dos anos 1970 se transforme respeitando a identidade do bairro e da comunidade local, dando vida ao espaço através de iluminação (feita com aberturas entre as pistas criando feixes de luz natural), vegetação, cores e por fim, animação. A Marquise poderia vir a receber programas diversos, divididos em blocos, cada qual com um enfoque: cultura, alimentação, serviços e comércio. O projeto já foi aprovado pela prefeitura, mas aguarda patrocínio para sair do papel.

RIO DE JANEIRO, BRASIL

A proposta gira em torno da articulação dos aspectos físicos (urbanísticos, infra-estruturais e ambientais), sociais (econômicos, culturais, educacionais) e ecológicos (ecologia mental, ecologia social e ecologia existencial), a fim de entregar aos cidadãos do Rio de Janeiro mais uma área pública de lazer, a primeira da comunidade de Manguinhos. A área de lazer se desenvolve sob a via férrea existente, que foi elevada para que fosse construído um passeio público de 1,7 km de extensão. O projeto, parte do Plano de Aceleração do Crescimento, integrará os dois lados da comunidade, outrora segregados pela linha do trem, através de um Parque Metropolitano cujo eixo principal será um passeio público (“Rambla”) que conectará o movo Centro Cívico à nova Estação de Trem.

É uma ideia simples que pode gerar um grande impacto para a cidade de São Paulo e atender às demandas da população sem necessariamente demolir a estrutura existente. Atualmente, o Minhocão já funciona 100% para pedestres e ciclistas, em horários regulamentados, o que poderia ser amplificado, como já é previsto no projeto de lei aprovado em setembro de 2017, que prevê o fechamento do elevado aos carros durante as férias escolares.

Incorpora-se ainda uma ciclovia, contornando o Parque e o passeio público, e quadras esportivas. Quanto ao transporte, criou-se uma estação intermodal com a integração de linhas de ônibus, kombis, taxis, moto taxis e bicicletas. Vale ressaltar que no projeto também foi prevista a implantação de uma biblioteca pública e uma escola profissionalizante. Posteriormente, foram erguidos edifícios habitacionais multifamiliares e uma unidade de atendimento médico (UPA), dando uma nova imagem para o Complexo de Manguinhos. (PITA, )

IMAGEM 58: Montagem mostra como ficaria o projeto do Parque sob o Minhocão. Disponível em: < https://www.triptyque.com/theminhocaomarquise > . Acesso em 13 nov 2017.

IMAGEM 59: Croqui do projeto do Complexo de Manguinhos. Disponível em: < http://www.jauregui.arq.br/imagens/broken/persp_deck4.jpg > . Acesso em 14 dez 2017.

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REFERÊNCIAS PROJETUAIS ATERRO DO FLAMENGO RIO DE JANEIRO, BRASIL

THE UNDERLINE

MIAMI, ESTADOS UNIDOS

THE HIGH LINE

A iniciativa de criar o Parque do Flamengo, na área do Aterro do Flamengo, surgiu no governo de Carlos Lacerda, que nomeou, em 1961, Maria Carlota de Macedo Soares (Lota) para assessoria do Departamento de Parques da Secretaria Geral de Viação e Obras e a Superintendência de Urbanização e Saneamento (SURSAN). Nas diferentes soluções urbanísticas elaboradas pelo Departamento de Urbanismo para a cidade do Rio, o arquiteto Affonso Eduardo Reidy teve um papel fundamental. Apesar do importante trabalho desenvolvido por Burle Marx que, no entendimento coletivo, decanta como mentor do Parque, é necessário lembrar do papel decisivo das três grandes equipes que trabalharam na definição do projeto do Parque, as quais eram a Secretaria Geral de Viação e Obras, equipe de infra-estrutura (SURSAN) e um grande Grupo de Trabalho do qual faziam parte Reidy, Marx e muitos outros profissionais da área.

O metrô elevado de Miami, no estado da Flórida, conta com aproximadamente 40 km de extensão e apresenta inúmeros espaços livres (espaços residuais) sob sua estrutura que, em certos trechos, foram aproveitados para a construção de ciclovias. No entanto, o desenho destas ciclovias não é considerado o mais eficiente, por conta da grande quantidade de cruzamentos, baixa distinção dos espaços destinados a ciclistas e pedestres, falta de sinalização e iluminação e muitos pontos cegos. Isso, aliado à falta de um projeto paisagístico e urbanístico para a área, desincentiva o uso das ciclovias e pistas de caminhada pela população, que poderia ter nesse espaço mais um modal de transporte à sua disposição.

Por muitos anos a estrutura do High Line, antiga linha férrea da cidade, se estabeleceu como uma estrutura elevada em alto grau de destruição, cogitando-se, inclusive, sua demolição. Porém, em 1999, Joshua David e Robert Hammond, residentes da área, fundaram o grupo comunitário, Friends of the High Line, dedicado a transformar o local em uma via verde elevada, semelhante à Promenade Plantée, em Paris.

Não se tratava de criar um parque convencional, com fontes, bancos, bustos de celebridades e playgrounds. Em sua idéia de Parque estava implícita a tarefa de contribuir para melhoria da qualidade de vida, conter a especulação imobiliária e possibilitar a reconciliação dos cidadãos com sua cidade. A ideia era criar um “parque vivo” e para atingir tal objetivo definiram-se espaços específicos para as crianças, adolescentes, adultos e idosos, evitando sobrecarregar o espaço do parque com equipamentos e buscando criar muitas áreas sem atividades pré-definidas para que os usuários pudessem se sentir livres. No que se refere ao paisagismo, o Parque mostra as conquistas de um grande experimento em cultivo de plantas em condições climáticas adversas (ventos e maresia) e em solo edáfico (solo constituído de aterro, entulho, lama salgada, e com alta salinidade). O Parque do Flamengo também se constitui como uma importante contribuição para a ampliação do catálogo de plantas usadas em arborização urbana. Ivete Farah relaciona em torno de 31 novas espécies nativas e exóticas de alta qualidade plástica e ecológica usadas pela primeira vez em paisagismo no país. (Ana Rosa de Oliveira, Jornal da Paisagem, nov. 2006.)

IMAGEM 60: Vista aérea do Parque do Flamengo. Disponível em: <http://www. vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/07.079/288>. Acesso 13 nov 2017.

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Nesse sentido, em janeiro de 2014, de forma análoga ao que ocorreu nos primórdios do High Line Park, fundou-se uma organização sem fins lucrativos denominada Friends of The Underline, que desde então vem trabalhando para converter um trecho de 16 km sob o metrô em um parque linear. Após um concurso de projetos, o escritório James Corner Field Operations (JCFO), o mesmo que projetou o High Line Park, em Nova York, foi selecionado para desenvolver um Master Plan para o parque linear. A ideia é trazer infraestrutura adequada, a fim de favorecer os deslocamentos a pé e de bicicleta e estimular os habitantes a desfrutar de seus espaços públicos. O projeto busca recuperar o lugar, criando ciclovias, passeios para pedestres, estações temáticas, áreas para musculação, bicicletários, galerias de arte, parques infantis, novo mobiliário urbano etc. A proposta, atualmente em fase legal e cujo orçamento é de US$120 milhões, obteve apoio da Miami School of Architecture, que realizou pesquisas e desenvolveu ideias para o projeto juntamente com os estudantes. Além da instituição, o projeto também conta com suporte dos departamentos municipais de parques e transportes. Atualmente, organizam-se diversos eventos para arrecadação de fundos e divulgação do projeto, como bicicletadas que convidam os cidadãos a descobrir o local e suas potencialidades.

IMAGEM 61: Perspectiva de um dos trechos do projeto The Underline. Disponível em: <https://www.theunderline.org/>. Acesso 13 nov 2017.

NOVA YORK, ESTADOS UNIDOS

Em 2005, a estrutura do High Line foi doada para a cidade de Nova York pela CSX Transportation Inc., culminando com a construção do parque público, em 2006. O projeto vencedor do concurso foi desenvolvido pelo grupo James Corner Field Operations, com consultoria de diversos consultores em design de iluminação, engenharia estrutural e tantas outras disciplinas. O parque é um espaço público único, construído sobre uma linha ferroviária elevada da década de 1930 que paira a 30 metros acima do solo. É o primeiro parque público desse tipo nos Estados Unidos e conta com um programa variado de design marcante: bancos de concreto, móveis de madeira personalizados, arborização, áreas de coleta pública, áreas para o público infantil, mirantes com vistas únicas da cidade etc. A terceira etapa, atualmente em fase de projeto, deixa ainda uma pequena porção da High Line a ser finalizada, com a construção prevista para começar nos próximos anos. Além disso, o Departamento de Assuntos Culturais de Nova York oficializou a construção da nova sede do Whitney Museum of American Art, que irá se configurar como uma grande âncora cultural para a High Line Park.

IMAGEM 62: Pessoas passeando no High Line Park. Disponível em: <http:// nyclovesnyc.blogspot.com.br/2013/07/midsummer-on-high-line-new-yorks-park. html>. Acesso 13 nov 2017.


REFERÊNCIAS PROJETUAIS SALVADOR VAI DE BIKE O Movimento Salvador Vai de Bike (MSVB), iniciado em 2013, por iniciativa da Prefeitura de Salvador, faz parte de um amplo conjunto de ações que visam incentivar o uso da bicicleta na capital, com o objetivo de melhorar a mobilidade urbana e a qualidade de vida na cidade. Porém, apesar da Avenida Bonocô estar inserida no mapa das ciclorotas, publicado em 2017, a mesma não atende aos alicerces estruturantes da proposta, que contemplam sete eixos estratégicos: 1) Infraestrutura: Sistema Cicloviário, paraciclos, pitstop e bicicletários públicos. - Na Bonocô o biciletário se mantém sem funcionários por quase todo o tempo. 2) Sistema de Bicicletas compartilhadas: (Bike Salvador - Laranjinhas) e Bicicletas de Lazer (Azuizinhas). Inexistente 3) Ações Educativas: Políticas Públicas de conscientização, educação, capacitação e atividades permanentes pró-Bike. Inexistente 4) Incentivo e Captação de novos públicos (Lazer e Diversão) Circuitos de Lazer, Passeios Ciclísticos. Em condições precárias. 5) Urbanismo e Sustentabilidade: Integração Desenvolvimento Econômico e comunitário. Precário

de

Modais,

6) Esportes: competições esportivas ligadas ao setor – Nacionais e Internacionais. Precário 7) Turismo: Implantação da rede Bike Turista na cidade, análise e divulgação de circuitos ciclo-culturais na cidade. Inexistente no techo. Portanto, seguindo essas diretrizes, propõe-se a a remodelação da ciclovia existente na Avenida, que necessita de melhorias no que diz respeito às condições físicas e à materialidade, bem como no que tange à sua conexão com a cidade, se fazendo necesessária a conexão com o Vale do Ogunjá e o Dique do Tororó, à oeste, e ao Acesso Norte e Iguatemi, à leste. LEGENDA EQUIPAMENTOS:

MAPA 08: Ciclorotas. Disponível em: <http://www.salvadorvaidebike.salvador.ba.gov.br/index.php/infraestrutura/rotas>. Acesso 04 dez 2017.

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O PROGRAMA

LEGENDA VEGETAÇÃO PROJETO

ÁREA DE INTERVENÇÃO (AI) VEGETAÇÃO EXISTENTE

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PAISAGISMO AS ESPÉCIES DO PARQUE O PARTIDO

CÍRCULO CROMÁTICO

MAPA DE FLORAÇÃO

Considerando que o verde abundante é um dos principais elementos balizadores do projeto Parque Verde Bonocô, buscou-se definir espécies adequadas ao clima da cidade, priorizando aquelas nativas ou ainda as já adaptadas ao sítio. Para essa especificação, tomou-se como base de referência o Manual Técnico de Arborização Urbana de Salvador (2017) e o Catálogo de Espécies Vegetais do Governo do Estado de São Paulo (2012), nos quais é possível encontrar uma variedade de espécies adaptadas ao clima quente e úmido da capital baiana. O primeiro ponto importante do projeto foi a escolha de espécies não frutíferas, pois não é possível garantir a pureza dessas frutas se consumidas pelos frequentadores do Parque, uma vez que a Avenida Bonocô possui um elevado tráfego de automóveis e, consequentemente, elevado nível de emissão de poluentes.. Nesse sentido, as espécies escolhidas são, na sua maioria, de floração abundante, porém nãofrutíferas. Também foram priorizadas espécies de pequeno e médio porte, por conta da linha do metrô ter cerca de 6,00 metros de altura na maior parte do trecho de trabalho.

IMAGEM 63: Círculo Cromático. Disponível em: < http://www.morar.com/vivamorar/contrastes-decores-para-ambientes-mais-dinamicos.html >. Acesso em 28 dez 2017.

CARTELA DE CORES - PARQUE VERDE

É importante destacar que todas as espécies aqui definidas foram pensadas para garantir a floração do Parque Verde por todo o ano. Para tal, desenvolveu-se um mapa de floração, no qual são listadas todas as espécies escolhidas para que se tenha uma visão geral de quais espécies estarão floridas a cada mês e quais serão as cores predominantes no Parque em cada período do ano. Ainda nesse sentido, escolheram-se espécies perenes, o que significa que essas nunca perdem por completo a folhagem, garantindo um verde sempre abundante na paisagem da Avenida Mário Leal Ferreira. A cartela de cores escolhida para o Parque possui cores complementares e cores análogas, para que se tenha uma paisagem coesa, porém dinâmica. Partindo dessa cartela foram ecolhidas árvores, arbustos, forrações e flores cuja coloração compreende cores como branco, amarelo, verde, vermelho, roxo e rosa, predominando os tons quentes para que o colorido da paisagem se torne bastante expressivo tanto para os usuários do Parque quanto para que aqueles que transitem pela Avenida Mário Leal Ferreira. 29


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PAISAGISMO LISTA DE IMAGENS - REFERÊNCIAS

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Azaleia 01) Disponível em: < http://statebystategardening.com/images/uploads/blog_photos/ DSCF3314.JPG> Acesso em 26 dez 2017 02) Disponível em: < https://iloveflores.com/wp-content/uploads/2016/07/um-milagre-danatureza.jpg> Acesso em 26 dez 2017 Angelim da praia 03) Disponível em: < http://arvores.brasil.nom.br/new/angelim/andira%20anthelmia01.jpg> Acesso em 26 dez 2017 04) Disponível em: < http://www.plantsofasia.com/Small_photo/Andira-inermis.jpg> Acesso em 26 dez 2017

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Baba de boi 05) Disponível em: < https://www.clickmudas.com.br/media/catalog/product/cache/1/th umbnail/500x600/9df78eab33525d08d6e5fb8d27136e95/b/a/babosa_branca_-_cordia_ superba03.jpg> Acesso em 26 dez 2017 06) Disponível em: < https://i.pinimg.com/originals/34/17/ cd/3417cd32927f343ab9be2ddad8faea0a.jpg > Acesso em 26 dez 2017> Acesso em 26 dez 2017 Carobinha 07) Disponível em: < https://beneficiosnaturais.com.br/wp-content/uploads/2013/05/chade-carobinha-propriedades-e-beneficios.jpg> Acesso em 26 dez 2017 08) Disponível em: < https://c1.staticflickr.com/5/4107/5217891977_3ed552de73_b.jpg> Acesso em 26 dez 2017

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Fruta de pomba 09) Disponível em: < https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/c/ c7/Erythroxylum_novogranatense_var._Novogranatense_%28retouched%29.jpg/220pxErythroxylum_novogranatense_var._Novogranatense_%28retouched%29.jpg> Acesso em 26 dez 2017 10) Manual Técnico de Arborização Urbana de Salvador (2017). Ipê branco 11) Disponível em: < https://i.ytimg.com/vi/5vqw__HgRvU/hqdefault.jpg> Acesso em 26 dez 2017 12) Disponível em: < http://confap.org.br/news/wp-content/uploads/2015/09/ipe-branco. jpg> Acesso em 26 dez 2017

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Quaresmeira 13) Disponível em: < https://loja.paraisodasarvores.com.br/media/catalog/product/cache/1/ image/650x/f605eb9fa47368b9ba054e894db89910/q/u/quaresmeira_roxa2.jpg> Acesso em 26 dez 2017 14) Disponível em: < http://blackdiamondimages.zenfolio.com/img/s12/v183/p9158969253.jpg> Acesso em 26 dez 2017 São João 15) Disponível em: < https://cdn.shopify.com/s/files/1/0200/5036/ products/1893957_130321164946_02652.jpeg?v=1421152207> Acesso em 26 dez 2017 16) Disponível em: < http://focadoemvoce.com/noticias-fotos/caatinga/são-joão-7.jpg> Acesso em 26 dez 2017 Urucum

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PAISAGISMO 17) Disponível em: < https://1.bp.blogspot.com/JoiR0OLJA8o/VwMWLt3Kc7I/AAAAAAAAERg/ hL7C71lgmpkZCC3qu2QCrz8oItuyNftgQ/s1600/Bixa%2Borellana.jpg> Acesso em 26 dez 2017 18) Disponível em: < http://www.tecnologiaetreinamento.com.br/wpcontent/uploads/2013/05/ urucum-tecnologia-e-treinamento.jpg> Acesso em 26 dez 2017 Aluminio 19) Disponível em: < http://terracotajardinagem.com.br/wp-content/uploads/2013/08/ terracotajardinagem.com_.br3-0411-600x450.jpg> Acesso em 26 dez 2017 20) Disponível em: < http://www.jardimdasideias.com.br/public/userfiles/pilea_cadierei1.jpg> Acesso em 26 dez 2017 Dicorisandra 21) Disponível em: < http://plantinfo.co.za/wp-content/uploads/2015/11/1404119654_dichorisandrathyrsiflora-main.gif > Acesso em 26 dez 2017. 22) Disponível em: < http://www.igarden.com.au/pics/blue_ginger_IM_lrg.jpg > Acesso em 26 dez 2017. Hera-roxa 23) Disponível em: < http://img.odairplantas.com.br/produtos/417.jpg > Acesso em 26 dez 2017. 24) Disponível em: < http://cdn.shopify.com/s/files/1/0284/2450/products/Red_Flame_Ivy__ Hemigraphis_alternata_600x.jpg?v=1501101417 > Acesso em 26 dez 2017. Grama-batatais 25) Disponível em: < http://gramados.net/Loja/wp-content/uploads/2015/06/grama-batataisloja.jpg > Acesso em 26 dez 2017. 26) Disponível em: < http://temgramas.com.br/img/bg3.jpg > Acesso em 26 dez 2017. Grama-amendoim 27) Disponível em: < https://http2.mlstatic.com/250-g-de-sementes-de-grama-amendoimpara-jardim-D_NQ_NP_13969-MLB199842542_4657-F.jpg > Acesso em 26 dez 2017. 28) Disponível em: < http://gramagrama.net/wp-content/uploads/2011/06/111-grama-amendoim. jpg > Acesso em 26 dez 2017. Bulbine 29) Disponível em: < http://2.bp.blogspot.com/-vrz0Fb2fYr0/UjcbilAitnI/AAAAAAAABVs/ YJRtTxWJP_4/s1600/bulbine.jpg > Acesso em 26 dez 2017. 30) Disponível em: < http://2.bp.blogspot.com/-PKqp8OnsSq8/VNktGgz5atI/AAAAAAAACrU/ Vow7dFz8NYo/s1600/bulbine%2B(10).JPG > Acesso em 26 dez 2017.

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INFRAESTRUTURA VERDE O CONCEITO Segundo Pinheiro (2017), Infraestrutura Verde é um conceito de rede de paisagens multifuncionais que realizam o manejo das águas das chuvas, ao mesmo tempo em que proporcionam melhora do microclima local, proteção da biodiversidade, áreas de lazer, contato com a natureza, proteção contra desastres e enchentes e tratamento da poluição sem, contudo, excluir o desenvolvimento urbano. O conceito tem suas raízes nos Estados Unidos, quando, ainda na década de 90, passou-se a difundir a ideia de que os sistemas naturais são elementos capazes de coexistir e complementar a infraestrutura tradicional - infraestrutura cinza - que diz respeito à infraestrutura tradicional de drenagem das águas pluviais urbanas, caracterizada por tubulações subterrâneas à base de concreto que dispersam rapidamente o escoamento para pontos distantes do local de precipitação. Assim sendo, pode-se definir Infraestrutura Verde como uma ferramenta capaz de mitigar os efeitos da urbanização desenfreada, melhorando os ecossistemas urbanos e evitando enchentes e deslizamentos, bem como melhorando qualidade das águas urbanas e tornando as cidades mais sustentáveis e resilientes às mudanças climáticas. Como dito por Herzog e Rosa (2010), a infraestrutura verde se desenvolve através de intervenções de baixo impacto na paisagem e alto desempenho, com espaços multifuncionais e flexíveis, que possam exercer diferentes funções ao longo do tempo e regenerar o tecido urbano, de modo a torná-lo adaptado aos impactos causados pelas mudanças climáticas. Além disso, essas estruturas influenciam na melhoria da saúde de seus habitantes ao criar espaços agradáveis e propícios à implementação de práticas ativas como a caminhada e o ciclismo. Esse tipo de infraestrutura, já bastante comun em diversos países, sobretudo na Alemanha (HERZOG E ROSA, 2010), e em uma escala menos ampla, incluem os jardins de chuva, canteiros pluviais, pavimentação permeável, reservatórios de infiltração, biovaletas, arborização, jardins verticais, cisternas de captação de água da chuva etc. Além de promover o aumento das áreas verdes, o que é algo fundamental para o bem estar das pessoas, esses sistemas também são capazes de melhorar a qualidade do ar, por filtração do material particulado, através da incorporação da vegetação no centro urbano. Diversas cidades já estão implementando 34

projetos de infraestrutura verde nas mais diversas escalas. Por fim é importante salientar que um ponto primordial desse conceito é que suas soluções, ainda que não tão difundidas no Brasil, são, via de regras, mais baratas e mais sustentáveis do que as de infraestrutura tradicional, além de proporcionarem múltiplos benefícios às economias locais, ao tecido social e ao ambiente em geral.

Foto XX: Pavimentação semi-permeável que evita o acúmulo de água, drenando as águas pluviais. Disponível em: < https:// www.aecweb.com.br/cont/m/rev/pavimentos-permeaveisevitam-acumulo-de-agua-no-piso_10955_0_1 > . Acesso em 12 Set 2017.

IMAGEM 64: Biovaleta na cidade de Portland, Estados Unidos. Disponível em: < https://muralmouth.wordpress. com/2011/07/21/roadside-garden-bioswale-projects-torestore-water-cycle-in-portland-oregon/ >. Acesso em 06 jul 2017.

IMAGEM 66: Empena de uma edificação coberta por um jardim vertical. Disponível em: < https://papodehomem.com. br/jardins-verticais-no-lugar-das-empenas-brancas/ >. Acesso 12 Set 2017.

IMAGEM 67: Horta urbana na cobertura do Centro Cultural São Paulo (CCSP). Disponível em: < http://passeiosbaratosemsp. com.br/centro-cultural-sao-paulo-um-espaco-onde-todas-astribos-se-encontram/ >. Aceso em 12 set 2017.

IMAGEM 65: Jardim de chuva residencial. Disponível em: < https://www.soils.org/discover-soils/soils-in-the-city/greeninfrastructure/important-terms/rain-gardens-bioswales >. Acesso em 06 jul 2017.

IMAGEM 68: Teto verde do Centro Cultural São Paulo, São Paulo, Brasil. Mesmo com o dia bastante ensolarado, a sensação interna ao se caminhar pelo edifício é muito confortável, o que incentiva a ocupação do mesmo pela população da cidade. Foto: Anna de Carvalho Souza. Out de 2017.


Tradescantia zebrina

JARDIM VERTICAL Entende-se por jardim vertical, uma estrutura capaz de sustentar as espécies vegetais em planos verticais projetados, contribuindo para o estabelecimento de um microclima agradável nas suas imediações e para o aumento da quantidade de áreas verdes. Nos centros urbanos, os jardins verticais podem ser entendidos como estruturas de compensação ambiental, cujos benfícios estão relacionados aos efeitos sobre a radiação solar, retenção de poluentes, purificação do ar e umidificação, bem como à melhoria da paisagem urbana e da qualidade de vida da população. Estudos do Karlsruhe Institute of Technology (2012), na Alemanha, mostram que os jardins verticais são capazes de filtrar partículas finas e ultra-finas do ar, por meio da deposição sobre as superfícies das folhas, podendo absorver dióxido de carbono, partículas poluentes (como a fuligem de automóveis) e também dióxido de nitrogênio, reduzindo em até 30% a presença de partículas poluentes nas áreas onde é implantado. Nesse sentido, a proposta de jardins verticais em alguns dos pilares de sutentação da estrutura do metrô se dá com a intenção de aumentar ainda mais a quantidade de áreas verdes do parque, bem como de propiciar um ambiente mais agradável aos frequentadores, a fim de que os mesmos possam ter um experiência agradável ao caminhar, tanto do ponto de vista da qualidade ambiental quanto do ponto de vista estético, convidando-os a permanecer no local. O jardim vertical projetado se estrutura através de montantes metálicos, chapas recicladas e mantas geotêxteis, formando um plano vertical capaz de suportar o desenvolvimento das espécies vegetais. Para compor o quadro de espécies do jardim optou-se por espécies pendentes, de baixa manutenção, sobretudo espécies litófitas (plantas capazes de se desenvolver num ambiente com pouca matéria orgânica), epífetas (plantas que necessitam do suporte de outras para seu desenvolvimento) ou rupícolas (plantas que vivem sobre paredes, muros, pedras etc).

Nesse projeto, buscou-se seguir uma cartela de cores definida e condizente com o restante da vegetação do parque, mesclando texturas e cores diferentes para se atingir um visual interessante e equilibrado com as outras espécies do parque. Também podem ser utilizados alguns tipos de forrações, sobretudo as mais rústicas, que apresentam espécies com cores e texturas diversas.

INFRAESTRUTURA VERDE

Nome comum: Lambari, Judeu-errante, Trapoeraba-roxa Família: Commelinaceae Origem: América do Norte, México Domínio fitogeográfico: Equatorial, Oceânico, Subtropical, Tropical Altura: 0,30 a 0,60 metros Luminosidade: Luz Difusa, Meia Sombra Ciclo de Vida: Perene Forma de vida: Trata-se de uma herbácea de folhagem ovalada e coloração verde escura na face superior e arroxeada na face inferior. Funciona tanto como forração quanto para plantio em vasos, jardineiras e cestas suspensas.

É importante salientar que, diferentemente dos jardins tradicionais, os jardins verticais possuem algumas restrições no que tange às espécies que o compõem. As espécies escolhidas não devem possuir raízes profundas, pois dessa forma estas não teriam espaço para se desenvolver e sobrecarregariam a estrutura de suporte, bem como devem ser do tipo perene, pois assim essas espécies exigem menos manutenção que as demais. Além disso, para que o visual atingido seja satisfatório, é interessante que sejam escolhidas plantas pendentes e densas,

Epipremnum pinnatum

Obviamente, o jardim vertical não tem como função a substituição de uma espécie árborea, mas funciona como um artifício complementar para regiões de alta densidade urbana construída. Porém, é importante reforçar a eficiêcia dos mesmos, pois de acordo com dados da University of British Columbia, jardins verticais conseguem reduzir em até 6,57 kg/m² de CO2 por ano, ao passo que uma árvore absorve em média 21,7 kg de CO2 por ano, segundo a NC State University (MOVIMENTO 90º), O que explica o fato desse tipo de infraestrutura verde já ser bastante adotado à nível mundial, devido à sua eficiência, agilidade de execução e custos baixos frente aos benefícios diretos que trazem.

Nematanthus wettsteinii

Ao lado, estão descritas as espécies escolhidas para compor os jardins verticais do projeto, os quais serão estruturados nos pilares de concreto que sustentam o sistema metroviário.

Nome comum: Jibóia, Era-do-diabo, Jibóia-verde Família: Araceae Origem: Ilhas Salomão, Oceania Domínio fitogeográfico: Equatorial, Oceânico, Subtropical, Tropical Altura: 1,20 a 12,00 metros Luminosidade: Luz Difusa, Meia Sombra, Sol-Pleno Ciclo de Vida: Perene Forma de vida: Planta vistosa, capaz de se apoiar em diversos substratos, sendo uma das poucas trepadeiras para utilização à meia-sombra. Suas folhas se alteram com a maturidade da planta, tornando-se variegadas.

Nome comum: Columéia-peixinho, Peixinho Família: Gesneriaceae Origem: América do Sul, Brasil Domínio fitogeográfico: Equatorial, Subtropical, Tropical Altura: 0,10 a 0,30 metros Luminosidade: Meia Sombra Ciclo de Vida: Perene Forma de vida: Planta de folhagem bastante ornamental, com folhas verdes escuras e brilhantes. Por ser uma planta epífita, pode ser cultivada sobre as árvores, utilizando-as de apoio para se desenvolver.

Russelia equisetiformis Nome comum: Flor-de-coral, Russélia Família: Plantaginaceae Origem: América do Norte, México Domínio fitogeográfico: Equatorial, Oceânico, Subtropical, Tropical Altura: 0,60 a 1,80 metros Luminosidade: Meia Sombra, Sol-Pleno Ciclo de Vida: Perene Forma de vida: Planta pendente com ramos filiformes arqueados e longos, com cerca de 1 metro de comprimento. Florescimento ornamental da primavera ao outono, com flores tubulares vermelhas, amarelas sou brancas. 35


INFRAESTRUTURA VERDE JARDIM VERTICAL

PLANTA BAIXA - JARDIM VERTICAL 1 : 100

PERSPECTIVA EXPLODIDA - JARDIM VERTICAL 1 : 100

MATERIALIDADES

CORTE AA - JARDIM VERTICAL 1 : 100 36

PERFIL METÁLICO DE SEÇÃO QUADRADA

CHAPA RECICLADA

MANTA GEOTÊXTIL

MANGUEIRA PERFURADA

CALHA METÁLICA


INFRAESTRUTURA VERDE SISTEMA HÍBRIDO: JARDIM DE CHUVA + BIOVALETA

ESPÉCIES ESCOLHIDAS

Os jardins de chuva são sistemas alternativos de bioretenção que auxiliam de forma compensatória no manejo das águas pluviais através da atividade biológica de plantas e microorganismos, tendo como principais funções a retenção, a infiltração e a filtração das águas pluviais advindas do escoamento urbano.

Syngonium angustatum Schott

Ainda que pouco aplicado no Brasil, esse tipo de sistema é bastante eficiente na amenizaçãos dos alagamentos e inundações nos centros urbanos, os quais são bastante recorrentes na cidade de Salvador, onde choveu aproximadamente 1.700mm em 2015 (INMET). Esses alagamentos são consequência direta da altíssima quantidade de áreas impermeáveis na cidade, levando à saturação da capacidade dos sitemas de drenagem convencionais. Muitas avenidas da cidade ficam alagadas nos periodos de chuvas intensas, sobretudo nos meses de abril e maio, dentre as quais estão a Avenia Mário Leal Ferreira, que está assentada num grande vale para o qual escoa um volume de água considerável.

foram escolhidas espécies recomendadas para esta finalidade, bem como adequadas ao clima local. Segundo Pinheiro (2017), recomendase o uso de espécies suculentas, gramíneas e herbáceas quando da execução de jardins de chuva, pois essas têm a capacidade de suportar grandes volumes de água, exigem pouca manutenção, têm altas taxas de evapotranspiração, retirando maiores volumes de água do sistema num curto espaço de tempo; Assim, considerando todas as questões apresentadas e também por questões estéticas, optou-se pelas espécies Syngonium angustatum Schott e Heliconia psittacorum L.f., que serão distribuídas ao longo da avenida com uma largura mínima de 1,50 metros de jardim. Além da função de drenagem, por conta da estatura considerável que a Heliconia é capaz de atingir, a mesma também funcionará como um espécie de barreira física, a fim de barrar partículas de fuligem oriundas dos veículos que circulam na Avenida, bem como desestimular a travessia dos pedestres através das pistas.

Nesse sentido, a proposta do jardim de chuva se justifica, primeiramente, como uma alternativa para amenizar os alagamentos recorrentes nessa avenida, mas também como um elemento estético e paisagístico interessante por toda a extensão da avenida, ao passo que eleva consideravelmente a área permeável. Do ponto de vista técnico, essas estruturas estão levemente abaixo do nível da rua, a fim de receberem as águas do escoamento superficial e acumulá-las nas depressões de terra, formando pequenas poças que gradualmente infiltram no solo. Os poluentes são removidos por adsorção, filtração, volatilização, troca de íons e decomposição. A água limpa pode ser infiltrada no terreno para recarga de aquífero ou coletada por um dreno e descarregada no sistema de drenagem. No caso de chuvas que excedam a capacidade do sistema, o fluxo excedente é extravasado da área e encaminhado diretamente ao sistema tradicional de drenagem. Para compor o jardim de chuva, que se desenvolverá por todo o perímetro do canteiro,

Nome comum: Singônio Família: Araceae Origem: América Central / Nicarágua. Substrato: Hemiepífita Domínio fitogeográfico: Amazônia, Cerrado, Mata Atlântica Altura: 0,10 a 0,40 metros Luminosidade: Luz Difusa, Meia Sombra Ciclo de Vida: Perene Forma de vida: Semi-herbácea, ascendente rizomatosa, de ramos finos, muito vigorosa de folhagem decorativa. Pode ser cultivada em vasos, ambientes externos sob a sombra de árvores, como forração e até mesmo como trepadeira quando plantada próxima a estruturas de apoio como cercas e muros. Biorretenção: Potencial de biorretenção de óleos e graxas, matéria orgânica, nitrato, nitrito, Fe, Zn, Cu e Cd, e SDT.

Heliconia psittacorum L.f.

IMAGEM 69: Alagamento na Avenida Mário Leal Ferreira causa engarrafamento em toda a Avenida, em abril de 2015. Foto: Clarissa Pacheco/CORREIO. Disponível em: < http:// www.bahianoticias.com.br/noticia/170341-bonoco-sofrecom-chuva-que-alaga-via-e-trava-transito.html >. Acesso em 15 jun 2017.

Nome comum: Helicônia-papagaio, tracoá, caetezinho, planta-papagaio Família: Heliconiaceae Nakai Origem: Brasil Substrato: Terrestre Domínio fitogeográfico: Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica e Pantanal Altura: 1,50 a 2,50 metros Luminosidade: Pleno sol e meia sombra. Ciclo de Vida: Perene Floração: Primavera e verão. Forma de vida: Herbácea, de coloração vermelha e amarelada passível de ser cultivada isoladamente ou em amplas colônias. O cultivo se dá a pleno sol em solo fértil e irrigado. Multiplica-se por divisão ou touceira. Biorretenção: Potencial de biorretenção de óleos e graxas, matéria orgânica, nitrato, nitrito, Fe, Zn, Cu e Cd, sólidos dissolvidos. 37


INFRAESTRUTURA VERDE SISTEMA HÍBRIDO: JARDIM DE CHUVA + BIOVALETA

CORTE AA - JARDIM DE CHUVA 1 : 100

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DETALHE - JARDIM DE CHUVA 1 : 25


INFRAESTRUTURA VERDE SISTEMA HÍBRIDO: JARDIM DE CHUVA + BIOVALETA

PERSPECTIVA ESQUEMÁTICA - JARDIM DE CHUVA ESCALA INDEFINIDA

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EQUIPAMENTOS E MOBILIÁRIOS ESPREGUIÇADEIRA + PERGOLADO Um dos elementos mais importantes do projeto são os pergolados dotados de espreguiçadeiras sob a sua sombra, cuja a ideia gira em torno do incentivo à permanência dos usuários no local. É possível perceber que grande parte das pessoas utiliza o espaço com finalidades específicas, como caminhar, correr, andar com o cachorro, jogar bola, e poucas são as oportunidades que as pessoas encontram ali de permanecer um pouco mais, seja pela falta de um mobiliário urbano atrativo e numeroso (existem pouquíssimos bancos ao longo do canteiro) ou pela baixa qualidade paisagística. Assim, a idea de desenvolver uma espreguiçadeira sob uma área sombreada é instalá-la nos trechos mais estreitos do canteiro (cerca de 15m), nos quais não é possível construir elementos maiores, como quadras, parques infantis etc. Além desses dois elementos, o mobiliário conta com um canteiro posterior com arbustos, além de uma meia parede lateral para servir com um elemento de proteção física, no qual podem ser fixados paraciclos para que aqueles que estejam pedalando possam parar e descansar no local. Quanto à materialidade, para o pergolado fez-se o uso de ripas de madeira cumaru, uma espécia de madeira resistente às intempéries, fixadas sob uma estrutura de aço. Já para a espreguiçadeira, projetou-se uma base de alvenaria com acabamento superior também em madeira cumaru. A espécie arbustiva do canteiro posterior é a Justícia Vermelha, escolhida por conta do florescimento vistoso e muito durável, que se dá na primavera e no verão, e pela coloração. A definição dessa espécia também se deu pelo fato de ser uma espécie que se adpta tanto à meia sombra quanto ao sol pleno, o que é importante a depender do ponto em que o pergolado for instalado.

MATERIALIDADE E PAISAGISMO:

PLANTA BAIXA - ESPREGUIÇADEIRA + PERGOLADO 1 : 100 ARBUSTO DE JUSTÍCIA VERMELHA

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FLOR TÍPICA DA TONALIDADE ESPÉCIE JUSTÍCIA DA MADEIRA VERMELHA CUMARU

BICICLETÁRIO EM AÇO, MODELO EDGETYRE (MM CITÉ)


EQUIPAMENTOS E MOBILIÁRIOS ESPREGUIÇADEIRA + PERGOLADO

PERSPECTIVA ISOMÉTRICA - ESPREGUIÇADEIRA + PERGOLADO 1 : 100

PERSPECTIVA ISOMÉTRICA - ESPREGUIÇADEIRA + PERGOLADO INSERIDOS NO PARQUE 1 : 200

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EQUIPAMENTOS E MOBILIÁRIOS CUBOS VERSÁTEIS Os cubos versatéis foram concebidos para serem distribuídos por toda a extensão do parque, dando identidade visual ao mesmo. A ideia é que o mobiliário não limite o usuário à experiência de sentar, mas que esses cubos funcionem das mais variadas maneiras: como bancos, como brinquedo para as crianças, como espaço s para leitura, como apoio para os quiosques etc. Os cubos são módulo de concreto replicáveis de 0,50x0,50m, distribuídos e empilhados das mais variadas maneiras, a depender do ponto em que estejam inseridos, dialogando com os outros mobiliários do espaço e mudando de função de acordo com a posição. Mais uma vez optou-se pela madeira cumaru para fazer o acabamento superior do mobiliário, dessa vez também pensando no conforto térmico que esse tipo de material possibilita. No caso dos bancos serem utilizados nas bases dos jardim verticais, o ideal é sejam distribuídos em apenas dois níveis, afim de permanecerem alinhados à meia parede existente na base desses jardins. No exemplo detalhado demonstra-se a possibilidade instalação dos bancos no parque infantil projetado para o parque, no qual o mesmo pode funcionar tanto como elemento de brincar para as crianças, quanto como assento para que os pais permaneçam ali aguardando os filhos.

PLANTA BAIXA - CUBOS VERSÁTEIS 1 : 25

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PERSPECTIVA ISOMÉTRICA - CUBOS VERSÁTEIS 1 : 25

PLANTA BAIXA - CUBOS VERSÁTEIS 1 : 50


EQUIPAMENTOS E MOBILIÁRIOS CUBOS VERSÁTEIS

PERSPECTIVA ISOMÉTRICA - INSERÇÃO DOS CUBOS VERSÁTEIS NO PARQUE INFANTIL 1 : 200

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EQUIPAMENTOS E MOBILIÁRIOS PÓRTICOS DE CONCRETO Ao longo do percurso do Parque Verde são propostos 06 pórticos de concreto, elaborados a partir de planos inclinados angulares como forma de marcar o percurso do visitante. Os elementos de concreto estão dispostos ao longo da pista de caminhada e da ciclovia e se configuram como um elemento paisagístico construído que propiciará uma forte identidade a local, atraindo ainda mais a atenção dos usuários ao espaço. A escolha da cor vermelha segue a cartela de cores pensada para o parque, ao mesmo tempo que constrasta com as áreas verdes e com o cinza da estrutura brutalista do metrô. A execução dos mesmos seria in loco, sobretudo diante da complexidade das formas necessárias. ELABORAÇÃO DA ESTRUTURA

PLANTA BAIXA - PÓRTICO 1 : 100

PERSPECTIVA EXPLODIDA - PÓRTICO ESCALA INDEFINIDA 44

PERSPECTIVA ISOMÉTRICA PÓRTICO 1 :100


EQUIPAMENTOS E MOBILIÁRIOS ACADEMIA SOB PERGOLADO No trecho central do canteiro propõe-se a implementação de uma área coberta para equipamentos de ginástica. Essa proposta surge como resposta à prática, já existente no canteiro, desse tipo de atividade. Atualmente, os equipamentos de ginástica existentes estão expostos ao sol e às intempéries, o que limita o uso em certos horários e degrada-os. O pergolado que cobrirá esse espaço serguirá a mesma linguagem do pergolado das espreguiçadeiras, construído em madeira e aço. Para o revestimento do piso, propõe-se o Piso Impact Soft 50 que oferece um sistema drenante permitindo, pelas laterais de cada placa, a passagem da água para o solo. Esse tipo de piso também é muito adequado para ambientes com essa finalidade pois amortece impactos de até 2m de altura.

PERSPECTIVA ISOMÉTRICA - ACADEMIA 1 : 100

PLANTA BAIXA - ACADEMIA 1 : 250 45


EQUIPAMENTOS E MOBILIÁRIOS ACADEMIA SOB PERGOLADO

PERSPECTIVA: ACADEMIA 1 : 250 46


EQUIPAMENTOS E MOBILIÁRIOS QUIOSQUES TIPO 01:

VENDA, BANCA DE REVISTA ETC. A fim de trazer mais vitalidade para o parque, garantindo um uso contínuo do espaço em horários mais variados do que os atuais, propõe-se a instalação de quiosques de venda (tipo 01), quiosques de lanches (tipo 02) e sanitários públicos. Esses três elementos deverão seguir a mesma linguagem arquitetônica, trazendo identidade visual para o Parque Verde e rapidez de execução. Os quiosques e os sanitários são tem estrutura metálica, fechamentos em chapas metálicas perfuradas, garantindo uma certa visibilidade do interior, nos quiosques, e fechamentos de placas cimentícias, no caso dos sanitários. A cobertura também é metálica, acoplando um pequeno reservatório superior no quiosque de lanches e no sanitário. Vale frisar que nos quiosques de alimentos (tipo 02), a ideia é que os alimentos servidos sejam pré prontos, logo não se faz necessário desenvolver uma estrutura de cozinha tão grande. Além dos materiais pré-moldados, garantindo uma execução rápida, também é prevista a instalação de banners de publicidade em uma das fachadas dos quiosques, variável a depender do ponto parque, adequando-se a posição para que a publicidade seja vista pelo maior número de pessoas. Garantir esse tipo de possibilidade, facilita a gestão do parque, que pode receber investimentos de empresas privadas em troca de espaços para publicidade. Os quiosques e sanitários serão distribuídos ao longo dos trechos do Parque Verde e para que possam funcionar de forma efetiva se faz necessário concedê-los à permissionários, que preferencialmente sejam dos bairros do entorno, garantindo renda e emprego para uma parcela da população que ali reside.

PLANTA BAIXA - QUIOSQUE 01 1 : 50

PERSPECTIVA ESQUEMÁTICA - QUIOSQUE 01 1 : 100

PERSPECTIVA ISOMÉTRICA - QUIOSQUE 01 1 : 50

PERSPECTIVA EXPLODIDA - QUIOSQUE 01 1 : 100

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EQUIPAMENTOS E MOBILIÁRIOS

QUIOSQUE TIPO 02: LANCHES, COMIDAS ETC.

PLANTA BAIXA - QUIOSQUE 02 1 : 50 48

Quiosques para venda de lanches, bebidas, acarajé etc. A implantação desses quiosques tem como objetivo trazer ao público do parque um espaço de convivência que permita-os permanecer no espaço após a prática de atividades físicas (principal uso do parque atualmente), bem como se configurar como um elemento gerador de fluxos em horários hoje não tão movimentados, como o período da noite.

PERSPECTIVA ISOMÉTRICA - QUIOSQUE 02 1 : 50

PERSPECTIVA EXPLODIDA - QUIOSQUE 02 1 : 100


EQUIPAMENTOS E MOBILIÁRIOS

SANITÁRIOS PÚBLICOS: ADULTO E INANTIL

Sanitários públicos para atender ao público do Parque Verde que até poucos meses atrás não contava com infraestrutura de sanitários. Atualmente foram instalados alguns baheiros químicos próximos à Estação Bonocô, porém as condições de uso são péssimas. Como dito, esses elementos seriam dispostos por todo o Parque Verde, seguindo a mesma linguagem dos quiosques.

PLANTA BAIXA - SANITÁRIOS PÚBLICOS 1 : 50

PERSPECTIVA - SANITÁRIOS PÚBLICOS 1 : 50

PERSPECTIVA EXPLODIDA - SANITÁRIOS PÚBLICOS 1 : 100

49


DETALHES ESQUEMÁTICOS

D01 - CICLOVIA E PISTA DE CAMINHADA 1 : 50

PLANTA BAIXA ESQUEMÁTICA - CICLOVIA E PISTA DE CAMINHADA 1 : 50

50

PLANTA BAIXA ESQUEMÁTICA - CALÇADAS 1 : 50

CORTE AA - CICLOVIA E PISTA DE CAMINHADA 1 : 50

ESQUEMA - RELAÇÃO CALÇADAS/AVENIDA 1 : 50

DETALHE ESQUEMÁTICO - MEIO FIO 1 : 10


A NOVA PAISAGEM URBANA TRECHO OESTE

SENTIDO DIQUE DO TORORÓ

IMAGEM 71: Condições atuais do canteiro. Foto: Anna de Carvalho Souza. Julho de 2017.

As espécies do trecho são os arbustos de hibiscos rosas, à esquerda, as flores da espécie beijo pintado vermelho, à direita, e as helicônias do jardim de chuva, ao fundo, também é possível observar a identidade visual que poderia tomar partido da estrutura do metrô para orientar o visitante ao longo do percurso do parque. 51


A NOVA PAISAGEM URBANA PERGOLADOS - TRECHO LESTE SENTIDO ACESSO NORTE

IMAGEM 71: Condições atuais do canteiro. Foto: Anna de Carvalho Souza. Julho de 2017.

No trecho leste, por corta do estreitamento do canteiro, não é possível ter equipamentos de grandes dimensões, logo, uma das propostas são as espreguiçadeiras cobertas por pergolados de madeira e aço. Nesse mobliário acopla-se um canteiro para arbustos de Justícias-Vermelhas que irão complementar o paisagismo do trecho, repleto de forrações de Alumínio, Hera-Roxa, Helicônias e árvores da espécie Angelim da Praia. 52


A NOVA PAISAGEM URBANA PÓRTICO - TRECHO OESTE SENTIDO DIQUE DO TORORÓ

IMAGEM 71: Condições atuais do canteiro. Foto: Anna de Carvalho Souza. Julho de 2017.

Um dos elementos propostos para marcar a o percurso do parque são os pórticos de concreto armado, pintados de vermelho. A ideia é que esses pórticos sirvam como marcos do percurso do Parque Linear e contribuam esteticamente para ambiente, sobretudo nos trechos mais estreitos, nos quais não é possível propor equipamentos de maior porte. Esse portícos serão instalados por todo o percurso dinamizando o passeio dos visitantes. 53


A NOVA PAISAGEM URBANA QUIOSQUES SOB VIADUTO - TRECHO OESTE SENTIDO DIQUE DO TORORÓ

IMAGEM 71: Condições atuais do canteiro. Foto: Anna de Carvalho Souza. Julho de 2017.

No trecho oeste, sob a estrutura do viaduto existente, propõe-se a instalação de dois quiosques e um sanitário. O objetivo é que se crie no local um espaço de socialização que possa ser usado em diversos turnos do dia e que atraia os usuários para esse trecho. A função dos quiosques seria variada, sendo uma possibilidade a venda de água de côco para que as pessoas que pedalaram ou caminharam por todo o Parque Verde pudessem relaxar ao fim do percurso. 54


A NOVA PAISAGEM URBANA PERSPECTIVA A PARTIR DA AVENIDA SENTIDO IGUATEMI

IMAGEM 71: Condições atuais do canteiro. Foto: Anna de Carvalho Souza. Julho de 2017.

Também haverá um impacto significativo na paisagem daqueles que transitam pela Avenida Mário Leal Ferreira, seja à pé ou de carro. O jardim de chuva que se instala por todo o perímetro do Parque Verde se configura como um elemento permeável de barreira e os jardins verticais se configuram como elementos paisagísticos importantes na criação de um microclima local, bem como garantem um apreço estético ao local. Nas calçadas, destaca-se a instalação de guarda-corpos metálicos e nova pavimentação em concreto permeável pigmentado, melhorando as atuais condições e alargando-as em vários trechos. 55


A NOVA PAISAGEM URBANA PASSAGEM SUBTERRÂNEA SOB A BONOCÔ PROPOSTA DE INCORPORAÇÃO DA APP

CROQUI 03: Croqui de estudo da Passagem subterrânea. Perspectiva a partir da APP para o Parque Verde. Fonte: Anna de Carvalho Souza

A fim de conectar e valorizar a Área de Proteção Permanente (APP) existente nas imediações da Estação Bonocô, propõe-se uma passagem subterrânea para pedestres e ciclistas para que os mesmos possam pedalar, caminhaR e desfrutar da área, garantindo a sua preservação e ao mesmo tempo possibilitando seu uso por parte da população. Fortalecer a conexão do parque linear com a APP é um importante ponto do Plano Mestre, pois a situação atual da área tende a levá-la à total degradação por conta das ocupações informais que vem, pouco a pouco, desmatando e comprometendo os recursos naturais. 56

CROQUI 04: Croqui de estudo da Passagem subterrânea. Perspectiva do Parque Verde para a APP. Fonte: Anna de Carvalho Souza


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Manual Técnico de Arborização com Espécies Nativas da Urbana Mata Atlântica de Salvador. 1ª edição, 1ª impressão, 2017 Prefeitura Municipal de Salvador. Secretaria da Cidade Sustentável e Inovação - SECIS. Av. Sete de Setembro, 89 - Edf. Oxumaré, 3° andar Bairro: Centro, Salvador/Bahia. MOVIMENTO 90º. Green Matters. Disponível em: < http://movimento90.com/ >. Acesso em 16 set 2017. MOVIMENTO 90º. Manual de construção de jardins verticais. Disponível em: < http://movimento90. com/ >. Acesso em 16 set 2017. OLIVEIRA, Anderson Gomes de. et al. Mapeamento de índices de cobertura vegetal dos bairros de Salvador-BA com uso de imagens do sensor RapidEye para o ano de 2009. Salvador, Bahia, abril de 2013.

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