O Jornaleiro

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Alta Floresta/MT, setembro de 2015 | Edição 05

www.ojornaleiro.blog.com

Falta até sala de aula, mas direção afirma que problemas são pontuais Espaço físico do Campus II não atende a demanda e parte das aulas ocorre ao ar livre

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Calor reduz atividades físicas em escolas Página 4

Famílias ameaçadas de desaproriação

Situação se refere a moradores da rua B-3, às margens do Córrego Papai Noel

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Jornalista analisa mídia brasileira e equatoriana

Nathaly Melo, formada no Equador, conta experiência profissional e fala sobre novas tecnologias

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Projeto apoia o ato de amamentar Página 7

“Não sou decorador de fachada”

Há 36 anos em Alta Floresta, o artista plástico Paulo Roberto Martins, “Paulinho Pé no Chão”, difunde estilo revolucionário.

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Jornalismo para transformar

Esta edição marca uma nova fase de “O Jornaleiro”, a de estender o olhar para fora da Unemat. O compromisso com o interesse público e a promoção de uma sociedade democrática nos empurram para o exercício de um jornalismo que tenha um enfoque mais amplo, sobre o dia a dia de Alta Floresta. Porque não basta só desejar ler no jornal do dia seguinte manchetes como estas: “UTIs começam a ser implantadas em Alta Floresta“, “Após anos de luta, cidade ganha Centro de Zoonozes “, “Município torna-se polo cultural“. É preciso fazer do jornalismo combustível para transformar a realidade. E nada melhor do que “cair no mundo”, sujando os pés de lama, tomando chá-de-cadeira, levando “não” de autoridade, descobrindo pauta boa na comunidade. Nesta edição começamos a empreitada: nas escolas, nos bairros, no campo da cultura, do intercâmbio sul-americano e na própria universidade. Também queremos fazer parte do fluxo de informações de Alta Floresta, cobrir Câmara de Vereadores, prefeitura, circular pela periferia, mostrar a economia popular, o que pensa a juventude e o que é, de fato, desenvolvimento sustentável. Como canta Gonzaguinha em “Sementes do amanhã”, “Vamos lá fazer o que será”.

E X P E D I E N T E

O Jornaleiro é uma publicação realizada pelos acadêmicos e acadêmicas do curso de Jornalismo, da Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), campus de Alta Floresta.

Diretor de jornalismo: Gibran Lachowski Editor-chefe: Mequiel Ferreira Editores: Claudeir Oliveira, Daiane Andrine, Deiva Cristina, Denise Farias, Muriele Trindade. Reportagem: Arão Leite, Cátia Brito, Daniele Novais, Debora Andrade, Junio Garcia, Laercio Albino, Oliveira Dias, Raquel Olsen, Socorro Neves, Tatiele Maltezo. Fotografia: Angelica Quallio, Daiane Andrine, Fabiana Damasceno, Flávia Bulhões, Guilherme Munhoz, Hugo Rodrigues, Raquel Olsen, Glauciane Brissow, Mequiel Ferreira. Diagramação: Angélica Lopes, Angelica Quallio, Denise Farias, Dionéia Martins, Glauciane Brissow, Marcelo Carvalho. Impressão: Gráfica Cidade Tiragem: 500 exemplares Circulação: Alta Floresta

POR AMOR ÀS CAUSAS PERDIDAS

Junio Garcia da Silva

“Por amor às causas perdidas”, bradava o nobre cavaleiro Dom Quixote de La Mancha. Estavam ali reunidos, na sede do Teatro Experimental de Alta Floresta (Teaf), acadêmicos do curso de Jornalismo da Unemat e a trupe teatral que minutos antes apresentara a peça “Dom Quixote”. O cenário, Alta Floresta - MT, por suas facetas sociais, econômicas e culturais, lembrara em muito aquele lá, de tempos idos, longínquos, onde cavalgava Quixote. Por vezes, na roda de conversa, foi possível observar a quixotice dos presente. Como o sonho utópico de montar um grupo teatral nesta cidade em 1988. Ou mantê-lo ativo até os dias de hoje. Ou o sonho dos acadêmicos que, por vezes, exercem mais que o papel de acadêmico – são protagonistas. Sabe-se que alguns leões já foram derrotados aqui e acolá pelos dois grupos que ali comungavam pensamentos. O Jornalismo e o Teatro às vezes se confundem com Dom Quixote e Sancho

Pança. Por vezes, um encoraja o outro e vice-versa. Há moinhos de vento nos caminhos de ambos. E há dois caminhos: enfrentá-los ou fugir. E logo se ouve: “Vamos, Sancho! Prepare minhas armas!” E estão postos ao enfrentamento. E, de certa forma, postos à vitória. Digo, pois, que há certos desafios no Jornalismo e no Teatro que o simples fato de enfrentálos significa também vencê -los. Outros tempos virão. Dos que ali estavam, é possível que alguns percam a loucura quixotesca ou que nem todos a possuam. Outros até negarão que outrora fossem sonhadores. Mas, com certeza, permanecerão aqueles que ante uma injustiça montarão em seus cavalos e triunfarão utópicos em longas batalhas. Contra os mais perigosos moinhos de vento que insistem em aparecer frente os artistas e comunicadores. A estes, toda força! Por amor às causas perdidas. Guilherme Munhoz

E D I T O R I A L

Gabriel Leitzke


Desapropriação assusta moradores

Rua do Setor B sofre nova ordem de retirada; primeira foi em1997 Daniele Novais

Fabiana Damasceno

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s moradores da rua B-3 que residem às margens do Córrego Papai Noel estão sob risco de serem retirados de suas casas. Motivos: o lugar é um área de preservação ambiental e as casas foram construídas próximas a suas margens, algumas a cinco metros. A falta de esgoto e infraestrutura não foram obstáculos para que algumas pessoas em busca da casa própria ocupassem o local. A história parece se repetir, pois em 1997 os moradores do lado esquerdo da rua B-3 receberam uma ordem de desapropriação e foram recolocadas em um A falta de limite dos lotes também colabora para problemas como a poluição conjunto habitacional perto do centro nhou sua abertura, reconhece que quem de lixo, desobstrução da área e plantio de Alta Floresta. ocupou a área sabia que o local era de de mudas de árvores. Mas com a retirada do primeiro grupo preservação ambiental e a construção de Em uma parte do lugar onde as maroutros se mudaram para o mesmo local casas, proibida. No entanto, ele informa gens não foram ocupadas as árvores e agora é necessário que um novo lugar que desde a primeira recolocação não plantadas já estão grandes e recebemseja planejado e construído para realocar houve fiscalização pública. cuidados. A engenheira enfatiza que deessas famílias. Procurada pela nossa reportagem, a pende de recursos do governo estadual A dona de casa Domingas da Silva engenheira florestal da prefeitura, Ger- tanto para a área de lazer quanto para o Lino não concorda com a desocupação: cilene Meira, confirma que o córrego é conjunto habitacional que vai receber os “É uma injustiça o que estão fazendo”. uma área de preservação. A profissional moradores. Já o produtor rural Sebastião de Souza, menciona que a Secretaria de Meio AmNão há prazo definido para a desocuque mora na B-3 há 20 anos e acompa- biente realiza trabalhos de recolhimento pação ocorrer.

Projeto que acolhe andarilhos é sediado no Jardim Panorama Laercio Albino de Souza

Fabiana Damasceno

O

Lar Santa Isabel se destaca pelo trabalho social realizado em Alta Floresta, organizado pela igreja católica e com parceria da prefeitura e colaboradores. Localizado no bairro Jardim Panorama, a instituição funciona há 12 anos e atende 25 pessoas. O coordenador Pedro Costa Laskoski ressalta que a principal missão da entidade é acolher e recolher das ruas pessoas em situação de risco, principalmente no que diz respeito ao consumo excessivo de bebidas alcoólicas. Ele afirma que nenhum residente tem

Cuidar de horta faz parte da rotina

a obrigação de permanecer na instituição, contudo quem resolve morar no lugar, precisa seguir as normas.

“Aqui acolhemos todo o tipo de gente. Eles têm um teto, quatro refeições diárias e só não permitimos que eles consumam bebidas alcoólicas”, detalha o coordenador. Mesmo com os benefícios gratuitos da instituição, seu Valdecir, que não se recorda do nome completo, reclama da regra no Lar: “Gosto de morar aqui, mas o ruim é que não posso tomar nem uma ‘branquinha’ ”. “Por isso é que às vezes saio,” conta, sorrindo. “Mas todas as vezes que volto sou sempre bem acolhido”, completa.


Município tem nove salas adaptadas Espaços atendem pessoas com baixa visão, déficit intelectual, auditivo e autismo Cátia Brito

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oram realizados, anualmente, nos últimos cinco anos, os Seminários de Educação Inclusiva, nos quais Alta Floresta é o polo e abrange 21 municípios. Nesses eventos são trabalhadas teorias e fundamentações com relação à acessibilidade e ao atendimento em sala de recurso multifuncional. As leis n.º 8.069/90 e n.º 9.394/96 defendem que a educação especial seja oferecida, de preferência, na rede regular de ensino e, quando necessário, a partir de serviços de apoio especializado. Nove salas de recurso multifuncional foram implantadas nas escolas municipais de ensino fundamental de Alta Floresta. São espaços para trabalhar as habilidades de cada pessoa. São atendidos cerca de 120 estudantes com deficiências como baixa visão, déficit intelectual, auditivo, físico, múltiplo e autismo. Para o assessor pedagógico de Educação Especial Inclusiva do município, Nilson Pereira da Silva, há três implicações nesse processo. A primeira se refere aos padrões de acessibilidade, que preveem adequações dos ambientes. “Temos um agravante nesta perspectiva de aces-

sibilidade no Brasil, Daiane Andrine porque quando se vai fazer uma reforma, as pessoas que vão realizar o trabalho têm dificuldades, pois temos escolas adaptadas, mas o deficiente não tem condições mínimas para acessar sem ajuda”, diz. A segunda é a formação continuada dos profissionais da educação, pois o município não tem um programa implantado pelo Minis- Escola Estadual JVC Jr. também conta com sala multifuncional tério da Educação, então a própria adminis- a deficiência da pessoa. As atividades são tração local o desenvolve. realizadas duas vezes por semana, por E o terceiro é que Alta Floresta necessi- duas horas, com cada criança. ta de um Centro de Atendimento Educacional A dona de casa Erica Jeniffer Alves da Especializado, com medicamentos e terapia. Silva conta que o filho de cinco anos é A psicopedagoga que atende no lo- atendido por ter dificuldades com a fala cal, Denise Borkenhgen dos Santos, ex- (dicção), além de fazer sessões de fonoplica que as atividades desenvolvidas terapia uma vez por semana. são realizadas em contraturnos, e em A cidade também possui projeto volcada turno um professor. O profissional tado a pessoas com autismo e parceria trabalha de forma individual e conforme para realização do curso de Libras.

Escolas reduzem atividades físicas dos alunos

Debora Andrade

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alta temperatura e a baixa umidade do ar em Alta Floresta durante o período de seca faz com que os colégios tomem algumas medidas de prevenção para a saúde dos alunos. Na Escola Municipal Benjamin Padoa, as atividades físicas foram reduzidas durante o mês de agosto. “A baixa umidade relativa do ar quando atinge de 20% a 30%, começa a influenciar na respiração, a gente precisa respirar o ar com mais umidade”, explica o professor de Educação Física Marcílio Borghi . O calor faz com que os alunos fiquem agitados e para se manterem hidratados é necessário que bebam mais água. “Isso faz com que eles saiam mais vezes da sala”, acrescenta o professor ao ser questionado sobre a influência do clima no comportamento dos estudantes durante as aulas.

O diretor da Escola Estadual Vitória Furlani da Riva, Altair da Silva, fala que as atividades têm sido diversificadas para não prejudicar os alunos. Eles têm a opção de jogos como dama, xadrez e tênis de mesa.

Angelica Quallio O calor obriga as escolas a alterar rotinas

É sempre um desafio alterar as atividades, mas a escola também conta com a piscina que tem ajudado nas aulas de Educação Física. Na escola Jayme Veríssimo de Campos Júnior, há um mês foi instalado ar condicio-

nado nas 12 salas de aula. Isso fez com que os problemas diminuíssem, pois o calor prejudicava. Alguns alunos passavam mal devido à umidade baixa e sala cheia. A aluna Suelen Cordeiro comenta que antes o calor dificultava a concentração nas aulas, porém com a instalação do aparelho o ambiente ficou mais agradável. Segundo a médica Karla Ormond, durante o período de seca é importante tomar alguns cuidados com a saúde, como ingerir líquido em abundância (água e sucos). Evitar comer comidas pesadas, optar por legumes, verduras e frutas ricas em vitamina C. O ideal em ambiente fechado é ter um umidificador de ar, colocar toalha molhada ou balde de água. Esses cuidados evitam a desidratação que causa doenças respiratórias como gripe, resfriado e sangramento nasal.


Precariedades do campus causam desconforto e reclamações entre acadêmicos Espaço físico da instituição não atende a demanda e parte das aulas ocorre ao ar livre

Socorro Neves

vando em conta que há estudantes e funcionários cadeirantes. s constantes reclamações relativas à precaRecurso comprometido riedade do Campus II Diante das críticas, o diretor do da Unemat de Alta Floresta campus, professor Rubens Ronlevou a reportagem a ouvir don, expõe que os problemas são vários universitários, entre pontuais e não refletem a realidaeles Lucimar de Oliveira, do de geral da instituição. “Apesar do 3º semestre de Ciências Biocomprometimento de 92% do relógicas, que fez coro a decurso disponível com folha de pazenas de acadêmicos que gamento, a Unemat mantém suas apontam a falta de estrutura. atividades acadêmicas e serviços, A universitária menciona garantindo acessibilidade aos caos banheiros sujos, sem padeirantes e funcionamento do lapel higiênico nem sabonete Professores e alunos buscam alternativas para garantir aprendizado como exemplo de precariedade. A limita- versarmos com a professora Mar- boratório de informática, sem prejuízo à ção do espaço físico causa situações de- cia Pasuch, de Ciências Biológicas. comunidade acadêmica”. Quanto ao espaço da biblioteca e à sagradáveis, como ter que assistir aula ao “A precariedade da biblioteca não é apear livre por falta de salas, o que prejudica nas no aspecto físico, considerando que falta de salas de aula, reconhece a necesa qualidade do ensino-aprendizagem. o acervo está totalmente desatualizado. sidade de ampliação do campus, mas diz “Não somos contra a implantação de no- As carteiras são anatomicamente inapro- que a falta de dinheiro impede este tipo vos cursos, mas esperamos que os pró- priadas e o laboratório de informática, de ação. “Sobre os banheiros, vamos coximos acadêmicos não sofram com esta sem sinal de internet, não atende a de- brar da empresa responsável mais qualimanda”. dade no serviço e sobre a falta de papel falta de estrutura”, ressalta. A professora acrescenta que “A ques- higiênico e outros materiais de limpeza, As críticas não se limitam aos alunos, o que pudemos conferir ao con- tão da acessibilidade é vergonhosa, le- aconteceu uma única vez”, garante. Flávia Bulhões

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Universidade compra climatizadores e “clima” esquenta Arão Leite

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instalação de seis aparelhos de ar-condicionado gera polêmica no Campus II da Unemat de Alta Floresta. A instituição investiu R$ 15,6 mil na compra, mas a verba para instalação é motivo de discórdia. O problema do calor, que poderia terminar com a chegada dos equipamentos, foi o “estopim” para esquentar o clima do Diretório Central dos Estudantes (DCE) com alguns Centros Acadêmicos (CA’s) e a diretoria do campus. O dinheiro para a instalação dos aparelhos, em torno de R$ 2 mil, sairia do DCE e dos CA´s de Biologia, Agronomia, Engenharia Florestal, Jornalismo e Direito. Entretanto, alguns representantes de cursos se negaram a fazer o repasse

de R$ 333 ao presidente do DCE, Edirlei Arroteia. “Isso porque o DCE não quis entregar documento comprovando o nosso repasse”, explica Juliana Arguello, do CA Biologia. Ela complementa que o CA do curso decidiu fazer o repasse direto à universidade. “A Unemat disse que pode receber e daí vamos ter o comprovante”. Presidente do CA de Jornalismo, Junio Garcia afirma ser contra o repasse, porque a manutenção do campus é responsabilidade da instituição. A turma se reunirá para decidir sobre o assunto. Presidente do DCE se defende “Foi uma semana de correria. Quando tomamos a decisão de ajudar, falei para repassarem o dinheiro e que poderiam

fazer também o documento sobre a entrega, que eu assinaria sem qualquer problema”, se defende Arroteia. O curso que ele faz, Engenharia Florestal, também aceitou repassar o dinheiro e emitir o documento. “São apenas algumas pessoas que têm problemas pessoais comigo. Por isso tomaram essa decisão. Mas por conta desse rebuliço, o DCE não vai mais apoiar essa instalação”, comunica, atribuindo parte da culpa à administração do campus. Unemat prefere não polemizar Diretor do Campus de Alta Floresta, Rubens Rondon comenta saber qual a razão de o DCE ter tomado tal atitude. “Só que prefiro não entrar no mérito da discussão. A troca de climatizadores está acontecendo. Se os CA´s repassarem o dinheiro para a instituição, receberemos sem problema e daremos o recibo”.


PANORAMA JORNALÍSTICO A equatoriana Nathaly Melo, após quatro meses em Alta Floresta, nos conta suas experiências na área da comunicação de seu país e sua visão quanto ao Brasil Oliveira Dias e Tatiele Maltezo O jornalismo, as novas políticas implementadas pelo governo de Rafael Correa no Equador e o uso de tecnologias foram os principais temas tratados pela jornalista equatoriana Nathaly Melo, 26 anos, em entrevista concedida à redação de O Jornaleiro. Formada em Jornalismo Investigativo pela Universidade Politécnica Salesiana, em Quito, a jovem ingressou há cinco anos na área comunicacional. Atuou em duas emissoras de TV do país natal, à frente de programas de comunicação e entretenimento. Numa delas, Nathaly intermediou debates universitários. Recém-chegada ao Brasil, após o casamento com um brasileiro, ela não deixa de carregar a essência do jornalismo e faz planos para sua estadia em nosso país, como se especializar em marketing e propaganda política. OJ: Como foi seu ingresso no jornalismo? Nathaly: Junto com o ingresso na faculdade. Sempre gostei muito desta comunicação direta, onde se pode falar para outro o que viu. Eu fiquei muito contente porque eu tinha uma responsabilidade muito forte. Se você escuta uma informação e você quer emitir essa mensagem para outra pessoa, então você tem uma responsabilidade muito grande, porque tem que tratar de transmitir sua mensagem tal qual você olhou, escutou, tal qual você viu. OJ: Qual a diferença entre a política do Equador e do Brasil? Nathaly: A única diferença que eu acho é a magnitude. A política aqui é maior. A corrupção é maior. Igual em Equador, mas o Equador é menor. No Equador

Hugo Rodrigues

tem muita produção, economia, muita gente trabalhadora. Pessoas que fazem o país grande. E no Brasil é igual. Eu vi gente muito trabalhadora, inclusive um pouco mais que no Equador. A política brasileira se mostra forte. OJ: Você já passou por experiência de conflito entre jornalismo e interesses políticos? Nathaly: Experiências pessoais, não. Mas nos meios [de comunicação] do meu país o que acontece é muito preocupante. Interesses políticos sempre existiram, mas agora, na administração de Rafael Correa [desde 2007], quase setenta por cento dos meios de comunicação foram para as mãos do Estado equatoriano. Antes, de sessenta a setenta por cento dos meios estavam governados por bancos, por políticos, por empresários. Eram três famílias que governavam os meios de comunicação em meu país. OJ: Como você viu essa mudança? Nathaly: A princípio era muito melhor, porque tínhamos uma comunicação mais espontânea, mais livre. Mas agora a comunicação está um pouco difícil. Ao passo que você tem que dar uma informação, tem que contrastar as fontes, você tem que fazer frente ao Estado, e se você dá uma informação, o Estado se encarrega de censurar você. É algo muito complexo o que acontece no Equador, porque a liberdade que nós esperávamos está reduzindo muito. Agora ficou muito complicado para nós realizarmos um jornalismo de investigação, o qual tem de ser feito nas entrelinhas. OJ: Como os meios de comunicação que não estão nas mãos do governo (33%) se portam no Equador?

Nathaly: Eles sabem que se dizem algo o governo emite publicidade, propaganda contra o meio de comunicação no mesmo canal, e em cadeia nacional. Acabam dizendo o que o governo pretende, porque depois quem paga são eles mesmos. OJ: A população do Equador não reage? Nathaly: Agora, sim. Atualmente estamos há quase dois meses com protestos no meu país. Há duas semanas um levantamento indígena foi ao nosso palácio para protestar contra o que Rafael Correa está fazendo. Mas penso que estão sendo um instrumento de outros poderes, a classe média alta, que está contra o presidente. OJ: E o seu objetivo profissional no Brasil? Nathaly: Se eu puder aprender direitinho a falar, gostaria de fazer reportagem e conhecer um pouco mais o jornalismo do Brasil. Acho muito interessante, porque no Equador utilizam muitos termos técnicos

para emitir uma informação. Aqui eu leio o jornal e entendo tudo. Aqui vocês emitem uma informação com uma linguagem mais popular, que é entendida por todos. Eu gostei disso. No Equador tem muito formalismo. OJ: Como é a presença das redes sociais no jornalismo do Equador? Nathaly: Um jornalista famoso no Equador disse que ele achava um pouco agressiva a presença das redes sociais, porque nós nos preparamos para emitir uma informação com critérios de acordo com parâmetros comunicacionais que têm uma forma adequada de chegar à população, mas as redes sociais estão interferindo na teoria da comunicação. A profissão do jornalista está ameaçada por esses meios. No Equador temos um ditado que diz: “Se você não pode com o inimigo, você se une a ele”. Você tem que acompanhar a tecnologia. Somos jornalistas. Muitos meios utilizam as redes sociais, principalmente o Twitter.


Com os pés no chão e as mãos na arte Raquel Olsen

O

artista plástico Paulo Roberto Martins, 53 anos, carrega em suas artes o estilo próprio misturado ao surrealismo e construtivismo. Conhecido como “Paulinho Pé no Chão” por andar descalços em função de uma promessa, o artista paranaense tem um relacionamento intenso com vários segmentos da arte, como o teatro, a música e a pintura. Esta última, por sua vez, costuma ser o principal foco. “Enquanto outros artistas se preocupavam com cópia e natureza morta, eu já me preocupava com um estilo que fosse totalmente revolucionário”, ressalta o artista. O começo de carreira foi aos oito anos, quando ele iria participar de um concurso de pintura, que tinha como pauta a natureza. Como não sabia pintar árvores secas, apenas pássaros, pediu para seu vizinho artista plástico fazer “o serviço”. Paulinho venceu o concurso, mas a comissão julgadora duvidou da pintura tão bem feita. Ele não aceitou ser criticado e

desenhou três tipos de árvores na lousa, já que havia observado o vizinho pintando. A partir daí, se tornou autodidata. “Até gostaria de ser mais velho porque significa que teria aprendido mais”, pontua. Paulinho já perdeu a conta das obras feitas até hoje. “A trajetória do Cristo”, uma obra de 2007, é considerada uma das mais bonitas e ricas. Está estampada na parede do refeitório do Lar dos Idosos, resistindo à falta de cuidados. “Santa Ceia”, tida por Paulinho como a que superou todas as já feitas, está sob os cuidados de Ângela, a fisioterapeuta das mãos que pintam há décadas e já sentem os efeitos do esforço e da dedicação à arte. As pessoas que adentram o Teatro Municipal têm em vista, quando não está em meio a objetos que a tampam, uma obra referente às vertentes da arte, que necessita de restauração por causa do vandalismo. No cidade, ele pode contar com pessoas do meio artístico, mídia e entusiastas de sua atuação. Dentre as exposições feitas por ele,

Guilherme Munhoz

Vida e obra do primeiro pintor radicado no município de Alta Floresta - MT

O surrealista. Há 36 anos em Alta Floresta

a de 16 de abril (nascimento do artista) é a mais esperada pela população. Apesar de ter obras levadas para o exterior, como Argentina e França, o artista pretende expandir as exposições para todo o Mato Grosso.

AMAmente: a fotografia usada como ferramenta social

em que ela estiver”, diz o fotógrafo. Denise Farias Luciana Vitorino, que posou omportamentos incoerentes junto a sua filha de sete meses, com o momento fundamendestaca a importância do AMAtal da saúde da criança impulmente. “Amamentar o bebê é sionaramo fotógrafo Victor Taruma muito importante, cria um víncua colocar em prática um projeto de lo mágico entre mãe e filho. Achei apoio à amamentação em Alta Flobem legal este projeto aqui na ciresta. dade, está inovando”, elogia. A iniciativa intitula-se “AMAmenOutra intenção do projeto é te, um projeto de amor e reeducacontribuir com o movimento Roda ção mental” e usa como ferramenta da Lua, formado por mulheres que a fotografia. O objetivo é capturar apoiam a gestação consciente, parto a atmosfera criada no momento de humanizado, amamentação natural simbiose entre mãe e bebê , ajudane maternidade ativa em Alta Floresdo algumas mulheres que têm dificuldade na amamentação, além de Relação entre mãe e bebê é fortalecida com a amamentação ta. Eleniza Carvalho, nutricionista e tamentos buscou o apoio de outras mães coaching de mães, expõe que o Roda da resgatar o valor do ato. “De 10 mães que conversei, oito se sen- que se dispuseram a posar junto aos seus Lua é parceira no projeto fotográfico. “Ao retratar as mães amamentando em tiram constrangidas em algum momento bebês no momento da amamentação e, seu cotidiano em diversas situações, o Vicpor amamentar em público. Uma delas assim, dar formato ao projeto. “O objetivo é retratar a delicadeza desse tor faz um convite à sociedade a ver esse ato relatou que já foi abordada por seguranmomento, para ir contra a geração de uma mí- natural com as lentes da sensibilidade, faças no shopping da cidade onde morava por estar amamentando em público e o dia machista que vulgariza o corpo feminino. zendo-nos refletir sobre a importância dessa ato estava incomodando as pessoas ao Colocar para a sociedade que a mãe tem o di- fase para a mãe e o bebê, uma nutrição física, redor”, narra Victor, que após esses levan- reito da tranquilidade de amamentar no lugar mas, sobretudo, uma nutrição afetiva”.

C


OUTROS OLHOS, OUTROS OLHARES A cidade é, todos os dias, diferente e nova. Todos os dias, nas madrugadas, as coisas se rearranjam e se modificam. Nenhum lugar é o mesmo lugar entre o escurecer e o amanhecer. O desafio, então, está nos nossos olhos. Acinzentam-se, acomodam-se, desconectam-se, acostumam-se com normalidades. Os olhos também precisam mudar. Não é possível enxergar o novo sempre com os mesmos olhos. Porque o novo exige um outro olhar. Será que a gente dá conta de enxergar?

Hugo Rodriues

Raquel Olsen

Zacarias Ferreira Zacarias Ferreira

Glauciane Brissow


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