ISSN 2176-0683
ANO 1 • VOL. 1 • N. 1 • 2º Semestre/2009
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EXPEDIENTE EDITOR: Dr Eric Calderoni. EDITOR EXECUTIVO: João Carlos Azuma. ASSESSOR EDITORIAL: Vasco Rodrigo Rodrigues Lourenço.
Associação Nacional de Pós-Graduandos Rua Vergueiro, 2485, Vila Mariana CEP 04101-200 - São Paulo/SP - Brasil Tel. 11 5081.5566 - revista@anpg.org.br www.anpg.org.br
Tiragem: 3 mil unidades CORPO EDITORIAL: CONSELHO EDITORIAL (ATUAL): Hugo Valadares Siqueira (UNICAMP) - Presidente da ANPG; Guilherme Pires D’Ávila de Almeida (USP) - Diretor de Ciência e Tecnologia da ANPG; Luisa Barbosa Pereira (UFRJ) - Diretora de Comunicação da ANPG; Eric Calderoni (Uninove / Anhembi-Morumbi) - Diretor de Cultura e Eventos da ANPG; Elisangela Lizardo de Oliveira (PUC-SP) - Tesoureira Geral da ANPG; Thiago Lopes Matsushita (PUC-SP) - 1º Diretor de Relações Institucionais da ANPG; Rogério Adas Pereira Vitalli (ITA) - Vice-Presidente Regional Sudeste da ANPG; Luciano Rezende Moreira (UFV) - Ex-Presidente da ANPG; Angélica Karlla Marques Dias (PUC-SP) - Ex-Vice-Presidente Regional Norte da ANPG. CONSELHO EDITORIAL (2007-2008): Maria Luiza Nogueira Rangel (UFG) / Allan Aroni (USP) - Presidentes da ANPG; Hugo Valadares Siqueira (UNICAMP) - Diretor de Ciência e Tecnologia da ANPG; Silvia Sarzano Barchiesi (PUC-SP) - Diretora de Comunicação da ANPG; Eric Calderoni (PUC-SP) - Diretor de Eventos da ANPG; Elisangela Lizardo de Oliveira (PUC-SP) - Tesoureira Geral da ANPG; Thiago Lopes Matsushita (PUC-SP) - 2º Diretor de Relações Institucionais da ANPG; Luciano Rezende Moreira (UFV) - Ex-presidente da ANPG. CONSULTORES: Dr Felipe Chiarello de Souza Pinto; Dr Vladmir Oliveira da Silveira; Dreyf de Assis Gonçalves; Fabio Palacio de Azevedo.
CORPO CIENTÍFICO: COMITÊ CIENTÍFICO: Dr Albert Fishlow (Columbia University, EUA); Dr Antônio Carlos Caruso Ronca (PUC-SP); Dr Antônio Ibañez Ruiz (UnB); Dr Antônio Joaquim Severino (USP); Dra Arminda Rachel Botelho Mourão (UFAM); Dra Branca Jurema Ponce (PUC-SP); Dr Brett Vern Carlson (ITA); Dr Carlos José Espíndola (UFSC); Dr Carlos Sigueyuki Sediyama (UFV); Dr Cesar Augusto Minto (USP); Dr Cezar Teixeira Honorato (UERJ); Dra Dalila Andrade Oliveira (UFMG); Dr Dante Augusto Couto Barone (UFRGS); Dr Dilvo Ilvo Ristoff (UFSC); Dr Eric Hershberg (Simon Fraser University, Canadá); Dr Evaldo Ferreira Vilela (UFV); Dr Felipe Chiarello de Souza Pinto (UNIB); Dr Gastão Wagner de Sousa Campos (UNICAMP); Dr Gilberto Bercovici (USP/Mackenzie); Dr Gilberto Sarfati (FIRB/ESPM/FAAP); Dr Guilherme Ary Plonski (USP); Dr Gustavo Ferreira Santos (UNICAP/UFPE); Dr Hélgio Henrique Casses Trindade (UFRGS/UNILA); Dr Hélio de Mattos Alves (UFRJ); Dr Henri Acselrad (UFRJ, março a outubro de 2008); Dr Jaime Arturo Ramirez (UFMG); Dr Jair de Jesus Mari (UNIFESP); Dr Jairton Dupont (UFRGS); Dr João Carlos Kfouri Quartim de Moraes (UNICAMP); Dr João Maurício Leitão Adeodato (UFPE); Dr Jorge Almeida Guimarães (UFRGS); Dr Jose Fernandes de Lima (UFS); Dra Laura Randall (City University of New York, EUA - aposentada); Dra Madalena Guasco Peixoto (PUC-SP); Dr Marcio Pochmann (UNICAMP); Dr Marco Antonio Raupp (Parque Tecnológico de São José dos Campos); Dra Marijane Vieira Lisboa (PUC-SP); Dra Marilene Corrêa da Silva Freitas (UEA); Dra Marilene Proença Rebello de Souza (USP); Dra Mary Garcia Castro (UCSAL); Dra Mere Abramowicz (PUC-SP); Dr Milton de Arruda Martins (USP); Dr Odair Furtado (PUCSP); Dr Paulo Bastos Tigre (UFRJ); Dr Paulo de Barros Carvalho (PUC-SP/USP); Dr Paulo Peixoto de Albuquerque (UFRGS); Dr Paulo Speller (UFMT); Dr Reinaldo Pontes (UNAMA); Dr Renato Janine Ribeiro (USP); Dra Roberta Gurgel Azzi (UNICAMP); Dr Roberto da Silva Fragale Filho (UFF); Dr Roberto de Alencar Lotufo (UNICAMP); Dr Sergio Adorno (USP); Dr Sergio Antonio da Silva Leite (UNICAMP); Dr Vahan Agopyan (USP); Dr Vladmir Oliveira da Silveira (PUC-SP/FADISP). PARECERISTAS EM RELAÇÃO AO MÉRITO ACADÊMICO DOS ARTIGOS RECEBIDOS PARA ESTE NÚMERO: Dr Ademir Gomes Ferraz (UFRPE); Dra Anna Sara Shafferman Levin (USP); Dr Antônio Carlos Caruso Ronca (PUC-SP); Dr Arnaldo Lopes Colombo (UNIFESP); Dr Carlos Roberto Jamil Cury (PUC-Minas); Dr Carlos José Espíndola (UFSC); Dr Cezar Teixeira Honorato (UERJ); Dante Augusto Couto Barone (UFRGS); Dra Denise Trento Rebello de Souza (USP); Dr Felipe Chiarello de Souza Pinto (UNIB); Dr Gregório Bouer (USP); Dr Gustavo Ferreira Santos (UFPE); Dr Hélio de Mattos Alves (UFRJ); Dr Henri Acserald (UFRJ); Dr Jaime Giolo (UPF); Dr João Maurício Leitão Adeodato (UFPE); Dr Jorge Luiz Knupp Rodrigues (UNITAU); Dr José Carlos Espíndola (UFSC); Dr José Domingos Fabris (UFMG); Dra Laura Randall (City University of New York, EUA - aposentada); Dra Lilian Cristina Monteiro França (UFS); Dra Madalena Guasco Peixoto (PUC-SP); Dra Maria Cristina Rodrigues Azevedo Joly (USF); Dra Maria Elizabeth Bianconcini Trindade Morato Pinto de Almeida (PUC-SP); Dra Maria Teresa de Assunção Freitas (UFJF); Dra Mariângela Braga Norte (UNESP); Dra Marijane Vieira Lisboa (PUC-SP); Dr Mario Olavo Magno de Carvalho (UnB); Dra Mere Abramowicz (PUC-SP); Dra Mirian Pacheco Silva (UFG); Dr Odair Furtado (PUC-SP); Dr Paulo Peixoto de Albuquerque (UFRGS); Dr Paulo Speller (UFMT), Dra Pollyana Notargiacomo Mustaro (Mackenzie); Dra Querte Teresinha Conzi Mehlecke (FCCAT); Dr Roberto da Silva Fragale Filho (UFF); Dr Renato Cataluña Veses (UFRGS); Dra Roberta Gurgel Azzi (UNICAMP); Dr Roberto da Silva Fragale Filho (UFF); Dra Sandra Gavioli Puga (IBTA); Dr Simon Schwartzman (IETS); Dra Vanessa Ribeiro Simon Cavalcanti (UCSAL); Dr Vladmir Oliveira da Silveira (PUC-SP/FADISP).
CORPO TÉCNICO: ANALISTAS TÉCNICOS: Dr Ademir Gomes Ferraz; Angélica Karlla Marques Dias; Sergio Massaru Takoi. ASSESSORES TÉCNICOS: Dr Roberto Muniz Barretto de Carvalho; Camila Castanhato; Diógenes Pires; Edson Martins Junior; Elias Marco Khalil Jabbour; Guilherme Pires D’ Ávila de Almeida; Hugo Valadares Siqueira; José Ailton Garcia; Letícia de Souza Barbosa; Lívia de Paiva Ziti Afonso; Luciana Farias Santana; Maria Amelia Jundurian Corá; Natalie Braz Ponsoni; Neli Maria Mengalli; Paulo Eduardo Rodrigues Alves Evangelista; Paulo Roberto da Fonseca Filho; Priscilia Sparapani; Rafael Quaresma Viva; Renata Lopes Costa; Roberto Alan Ferreira Araújo; Rogério Adas Pereira Vitalli; Rogério Rodrigues Lima; Sergio Massaru Takoi; Thais Mikie de Carvalho Otanari; Vanessa Monteiro Bizzo; Venceslau Alves de Souza. REVISORES TÉCNICOS: Dra Laura Randall; Luciano Rezende Moreira; Gisella Martignago; Giselle Ashitani Inouye. ASSISTENTES: Iara Machado Teixeira Andrade; Ruberval Marcelo da Silva Oliveira. PRODUTORA GRÁFICA: Luana Bonone DIRETOR DE ARTE: Luciano Lobelcho
APOIO INSTITUCIONAL: PATROCINADORES: Ministério da Ciência e Tecnologia da República Federativa do Brasil; Associação de Pós-Graduandos da PUC-SP; Associação de Pós-Graduandos do ITA; Centro de Estudos e Memória da Juventude (CEMJ). Agradecemos ao Congresso Nacional, e em particular ao Deputado Flávio Dino, pela Emenda à Lei Orçamentária Anual, que garantiu, entre outros feitos, apoio à publicação desta Revista. REVISTAS PARCEIRAS: Arquivos Sanny de Pesquisa em Saúde; Educação: teoria e prática.
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUANDOS: DIRETORIA DA ANPG (ATUAL): Hugo Valadares Siqueira (UNICAMP) - Presidente; Bruno Toribio de Lima Xavier (UFV) – Vice-Presidente; Elisangela Lizardo de Oliveira (PUC-SP) - Tesoureira Geral; Camila Castanhato (PUC-SP) – Secretária Geral; Luisa Barbosa Pereira (UFRJ) – Diretora de Comunicação; Thiago Lopes Matsushita (PUC-SP) - 1º Diretor de Relações Institucionais; Angélica Muller (USP) – 2ª Diretora de Relações Institucionais; Guilherme Pires D’Ávila de Almeida (USP) - Diretor de Ciência e Tecnologia; Ana Maria Prestes Rabelo (UFMG) – Diretora de Relações Internacionais; Gisele Alba Natali (PUC-SP) - Diretora de Instituições Particulares; Vinicius de Lima Dantas (UFSCAR) - Diretor de Instituições Públicas; Fabio Plut Fernandes (UFSCAR) – Diretor de Movimentos Sociais; Amália Catharina Santos Cruz (UFSC) – Vice-Presidente Regional Sul; Rogério Adas Pereira Vitalli (ITA) - Vice-Presidente Regional Sudeste; Rodrigo de Camargo Cavalcanti (PUC-SP) – VicePresidente Regional de São Paulo; Marney Eduardo Ferreira Cruz (UnB) – Vice-Presidente Regional Centro-Oeste; Ana Paula Vieira e Souza (UFPA) - Vice-Presidente Regional Norte; Rodrigo Gayger Amaro (UFPE) - Vice-Presidente Regional Nordeste; Eric Calderoni (Uninove / Anhembi-Morumbi) - Diretor de Cultura e Eventos da ANPG; Luiz Carlos Cantanhede Fernandes Junior (UFPR) – Diretor de Saúde. DIRETORIA DA ANPG (2007-2008): Maria Luiza Nogueira Rangel (UFG) / Allan Aroni (USP) - Presidentes; Elisangela Lizardo de Oliveira (PUC-SP) - Tesoureira Geral; Mateus Santiago Caetano (UNIFRAN) – Secretário Geral; Silvia Sarzano Barchiesi (PUC-SP) - Diretora de Comunicação; André Lemos Jorge (PUC-SP) - 1º Diretor de Políticas Institucionais; Thiago Lopes Matsushita (PUC-SP) - 2º Diretor de Políticas Institucionais; Hugo Valadares Siqueira (UNICAMP) - Diretor de Ciência e Tecnologia; Ana Maria Prestes Rabelo (UFMG) - Diretora de Relações Internacionais; Fábio Soares Gomes (UCSAL) - Diretor de Instituições Particulares; Edson Luis Nunes (UFV) - Diretor de Instituições Públicas; Plínio Marcos Teixeira de Oliveira (PUC-SP) - Diretor de Movimentos Sociais; Antônio Lopes (UFSC) - Vice-Presidente Regional Sul; Henrique Rabelo de Andrade (UFRJ) - Vice-Presidente Regional Sudeste; Camila Castanhato (PUC-SP) - Vice-Presidente Regional de São Paulo; César Lignelli (UnB) - Vice-Presidente Regional Centro-Oeste; René Anísio da Paz (UFCG) - Vice-Presidente Regional Nordeste; Eric Calderoni (PUC-SP) - Diretor de Eventos; Francisco Mogadouro da Cunha (UNICAMP) – Diretor de Residência Médica. ASSOCIAÇÕES DE PÓS-GRADUANDOS VINCULADAS À ANPG: Comissão Pró-APG UFAM; Comissão Pró-APG UFPA; Comissão Pró-APG UEPA; APG-UFC; Comissão Pró-APG UFCG; Comissão Pró-APG UPE; Comissão Pró-APG UFPE; APG FUNESO; APG-UnB; Comissão Pró-APG UFMT; APG-UFGD; APG-UFLA; APG UFU; APG-UFV; APG-UENF; APG-PUC Rio; Comissão PróAPG FGV; Comissão Pró-APG UFF; Comissão Pró-APG UERJ; Comissão Pró-APG UFRJ; APG-UNIFESP; APG-PUC/SP; APG-ITA; APG-UFSCAR; APG-USP Capital; APG-USP São Carlos; APG-USP CENA; APG-USP ESALQ; APG-USP Ribeirão Preto; APG-USP Bauru; APG-F / UNICAMP; APG-Q / UNICAMP; APOGEEU / UNICAMP; IMECC / UNICAMP; APGFE / UNICAMP; Comissão Pró-APG Medicina / UNICAMP; APG-Química / UNESP Araraquara; Associação de Médicos Residentes / AMERESP; Comissão Pró-APG CESUMAR; APG – UFSC; APG – UPF; APG – FURG.
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ANO 1 • VOL. 1 • N. 1 • 2º Semestre/2009
Publicação da Associação Nacional de Pós-Graduandos
Associação Nacional de Pós-Graduandos Rua Vergueiro, 2485, Vila Mariana CEP 04101-200 - São Paulo/SP - Brasil Tel. 11 5081.5566 - revista@anpg.org.br www.anpg.org.br
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Editor Eric Calderoni Editor Executivo João Carlos Azuma Assessor Editorial Vasco Rodrigo Rodrigues Lourenço Editora ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUANDOS Rua Vergueiro, 2485, Vila Mariana CEP 04101-200 – São Paulo, SP, Brasil Tel. 11 5081-5566 - revista@anpg.org.br Visite nosso sítio eletrônico: www.anpg.org.br Permitida a reprodução total ou parcial desde que citada a fonte.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Associação Nacional de Pós-Graduandos Revista da ANPG: ciência, tecnologia e políticas educacionais / Associação Nacional de Pós-Graduandos. – vol. 1, n. 1 (outubro/2009) - São Paulo: Associação Nacional de Pós-Graduandos, 2009. Semestral ISSN 2176-0683 1. ciência e tecnologia. 2. políticas educacionais. 3. energia. 4. educação à distância. 5. desenvolvimento nacional.
Impresso no Brasil Printed in Brazil
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Apresentação
É com muita satisfação que a Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG) obtém mais uma glória
nos seus 25 anos de história: lança a “Revista da ANPG: ciência, tecnologia e políticas educacionais”, nossa Revista Científica!
A Revista da ANPG vem fomentar um diálogo entre academia e políticas públicas, estimulando a
reflexão científica sobre assuntos do topo da agenda política – visando uma ação qualificada no âmbito das políticas públicas, priorizando-se temas relacionados ao desenvolvimento nacional sustentável e o combate às desigualdades sociais.
A ANPG tem orgulho de apresentar ao público uma revista pautada pelos mais rigorosos critérios de
qualidade, representativa nacionalmente e com um Comitê Editorial do mais alto gabarito. A concretização desse projeto – materializada em nossa Revista – é fruto do esforço de centenas de pessoas, entre autores, membros do comitê científico, pareceristas e equipe técnica. O aglutinamento de tantos colaboradores só foi possível devido à representatividade social e política que a ANPG tem angariado desde sua fundação. Atualmente desempenhamos, em diversos órgãos que fazemos parte, uma importante função social em defesa do desenvolvimento da ciência e tecnologia no Brasil e da valorização dos pós-graduandos. Temos assento no Conselho Técnico Científico (CTC) e no Conselho Superior (CS) da Capes, no Conselho Nacional de Saúde (CNS), no Conselho Nacional de Juventude (CONJUVE), participamos de diversos eventos de relevância para a ciência e para o combate às desigualdades sociais, como reuniões da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e de Conferências Estaduais de Direitos Humanos, bem como publicamos periodicamente nossas atividades em boletins informativos da entidade. Também realizamos, em nossos congressos, mostras científicas dos pós-graduandos e preparamos um livro, a ser lançado no próximo ano. A essas frentes de trabalho vem se somar nossa Revista.
Aproveite a Revista da ANPG!
Boa leitura!
Hugo Valadares Siqueira
Presidente da Associação Nacional de Pós-Graduandos
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Editorial É com grande orgulho que lançamos o primeiro número da “Revista da ANPG: ciência, tecnologia e políticas educacionais”, que tem por missão divulgar estudos acadêmicos das mais variadas áreas do saber sobre temas no topo da agenda das políticas públicas. Este primeiro número da Revista da ANPG mobilizou o esforço de milhares de pessoas: a primeira chamada de artigos da Revista, divulgada por treze sociedades científicas, cento e trinta e quatro programas de pós-graduação, dois mil cento e quarenta e nove grupos de pesquisa, arrecadou cento e três artigos que nos foram submetidos, vindos de vinte e três Estados da Federação mais o Distrito Federal, bem como de mais quatro países estrangeiros, que foram triados por vinte e quatro assessores técnicos, submetidos à avaliação de trinta e sete pareceristas, nomeados por um dos cinqüenta e três membros do Comitê Científico eleitos por dez membros do Conselho Editorial, em um processo apoiado por três membros do corpo editorial executivo, três analistas técnicos, quatro consultores, quatro instituições apoiadoras e trinta e quatro diretores da Associação Nacional de Pós-Graduandos. Alguns desses artigos continuam em processo avaliativo e poderão entrar no segundo exemplar da Revista. Para este primeiro exemplar chamamos artigos sobre “etanol, biocombustíveis e matriz energética” e sobre “educação a distância”. Publicamos, neste exemplar, cinco artigos sobre “etanol, biocombustíveis e matriz energética”, vindos de distintas áreas do saber: Afonso Lopes, Carlos Eduardo Angeli Furlani, Danilo Cesar Checchio Grotta, Felipe Thomaz da Camara, Miguel Joaquim Dabdoub e Rouverson Pereira da Silva descrevem o resultado de seus experimentos sobre o consumo em motores de tratores para diferentes misturas de diesel e biodiesel. Elias Marco Khalil Jabbour vislumbra o desenvolvimento nacional brasileiro, descrevendo a política energética da China que proveu condições para o desenvolvimento de sua agricultura e indústria. Maria Cristina Gonzaga denuncia o fornecimento de ferramentas inadequadas ao trabalhador cortador de cana e enaltece sua criatividade para se adaptar às condições de trabalho. Marlene de Paula Pereira discute as possibilidades de sustentabilidade na produção de biodiesel. Roberta Barros Meira analisa o processo de construção da ideologia necessária para o desenvolvimento da indústria alcooleira no Brasil. Thalyta Christie Braga Rabêlo apresenta um trabalho seminal sobre a possibilidade de elaboração de fermentado alcoólico a partir do suco de abacaxi. Publicamos, também, quatro artigos sobre “educação a distância”: Cacilda Encarnação Augusto Alvarenga e Roberta Gurgel Azzi versam sobre a falta de sentimento de auto-eficácia por parte dos professores como uma das fontes de dificuldades para a adesão a tecnologias educacionais no ensino. 6
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Carla Morales Guerra, Eduardo Alexandrino Servolo Medeiros, Janaina Sallas, Leandro Queiroz Santi e Valeska de Andrade Stempliuk relatam a aplicação de um curso a distância para o controle da resistência microbiana e uso racional de antimicrobianos por profissionais da área da saúde. Ivana Carneiro Almeida expõe sobre um projeto pedagógico para o ambiente virtual. Robert Kalley Cavalcanti de Menezes aventa aspectos relacionados à concepção de um modelo de sistema computacional pronto para uso em educação a distância. Na seção “acontece”, voltada para a divulgação de eventos e questões políticas sobre os pós-graduandos e as políticas educacionais , este primeiro exemplar da Revista conta com dois artigos: Rogério Adas Pereira Vitalli descreve um grandioso evento organizado pela Associação de Pós-Graduandos do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (APG-ITA) sobre um convênio para a concessão de bolsas para os pós-graduandos realizarem pesquisas na Alemanha. Tal evento e o convênio firmado foram tão prestigiosos que colaboraram para que a APG obtivesse o reconhecimento necessário, pelas instâncias do ITA, para se consolidar como prestadora de consultoria. Esse artigo serve de exemplo para que cada uma das Associações de Pós-Graduandos do Brasil vislumbre formas de captar mais bolsas e de firmar convênios de modo independente da Reitoria, bem como sobre a possibilidade das APGs organizarem-se para passar a praticar a extensão ou aprimorar a extensão já praticada. O artigo que escrevi em co-autoria com Lauro Ishikawa, por sua vez, narra a luta dos pós-graduandos da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, representados por sua Associação de Pós-Graduandos (APG-PUC/SP), para manterem seu direito à representação autônoma nos Colegiados da Universidade (e ainda ampliarem tal direito aos pós-graduandos lato sensu), no contexto de um redesenho institucional em que se propunha eliminar as cadeiras reservadas aos pós-graduandos. O artigo tem o potencial de inspirar cada uma das Associações de Pós-Graduandos do Brasil a refletirem se consideram que os espaços institucionais para sua representação na respectiva universidade são adequados e também a refletirem sobre as relações entre APG e pós-graduandos lato sensu. Assim se inicia a “Revista da ANPG: ciência, tecnologia e políticas educacionais”, que, se continuar contando com a colaboração de todos, tende a ser cada vez melhor. Esperamos, com isso, prestar nossa contribuição, ainda que modesta, para a discussão acadêmica das políticas públicas. Dr Eric Calderoni Editor
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Sumário
6 EDITORIAL SEÇÃO SOBRE ETANOL, BIOCOMBUSTÍVEIS E MATRIZ ENERGÉTICA 10 Consumo de biodiesel etílico de óleo residual em trator agrícola variando o percentual de mistura biodiesel e diesel de petróleo Afonso Lopes, Carlos Eduardo Angeli Furlani, Danilo César Checchio Grotta, Felipe Thomaz da Câmara, Miguel Joaquim Dabdoub e Rouverson Pereira da Silva 16 Estratégia de desenvolvimento, questão energética e a formação de uma economia continental na China Elias Marco Khalil Jabbour
27 As estratégias operacionais e improvisações usadas para cortar a canade-açúcar manualmente Maria Cristina Gonzaga 35 Produção de biodiesel no Brasil: existe sustentabilidade social e ambiental? Marlene de Paula Pereira 46 A construção de uma ideologia para a produção alcooleira no Brasil: 1889-1945 Roberta Barros Meira 58 Elaboração de fermentado alcoólico a partir de suco de abacaxi (Ananas comosus) Thalyta Christie Braga Rabêlo SEÇÃO SOBRE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 65 Formação de professores para o uso de tecnologias computacionais no ensino: considerações sobre a importância da auto-eficácia Cacilda Encarnação Augusto Alvarenga e Roberta Gurgel Azzi 72 A Descrição da criação e aplicação de um ambiente de ensino a distância para o controle da resistência microbiana e uso racional de antimicrobianos para profissionais da área da saúde Carla Morales Guerra, Eduardo Alexandrino Servolo Medeiros, Janaina Sallas, Leandro Queiroz Santi e Valeska de Andrade Stempliuk 80 Educação à distância: projeto pedagógico do ambiente virtual Ivana Carneiro Almeida 84 Conceitos e considerações sobre um modelo pronto-para-uso de ambiente virtual Robert Kalley Cavalcanti de Menezes SEÇÃO “ACONTECE” 92 Pós-Graduandos obtêm reconhecimento por parte da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo de seu direito à representação autônoma nos órgãos colegiados da Universidade Eric Calderoni e Lauro Ishikawa 95 Evento do Deutscher Akademischer Austrausch Dienst: intercâmbio acadêmico Brasil-Alemanha Rogério Adas Pereira Vitalli 102 REGULAMENTO DA REVISTA DA ANPG 105 NORMAS PARA PUBLICAÇÃO
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SEÇÃO SOBRE ETANOL, BIOCOMBUSTÍVEIS E MATRIZ ENERGÉTICA
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Consumo de biodiesel etílico de óleo residual em trator agrícola variando o percentual de mistura biodiesel e diesel de petróleo Ethylic biodiesel of residual oil: fuel consumption of an agricultural tractor as function of the mixing with petroleum diesel Consumo de biodiesel etílico de aceite residual en tractor agrícola variando el porcentaje de mezcla de biodiesel y diesel de petróleo 1
AFONSO LOPES Professor Adjunto da Universidade Estadual Paulista – UNESP 2 CARLOS EDUARDO ANGELI FURLANI Professor Adjunto da Universidade Estadual Paulista – UNESP 3 DANILO CESAR CHECCHIO GROTTA Professor Doutor da Universidade Federal do Ceará - UFC 4 FELIPE THOMAZ DA CAMARA Professor Doutor da Universidade Federal do Ceará - UFC 5 MIGUEL JOAQUIM DABDOUB Professor Adjunto da Universidade de São Paulo- USP 6 ROUVERSON PEREIRA DA SILVA Professor Doutor da Universidade Estadual Paulista - UNESP
RESUMO
O experimento foi realizado na UNESP-Jaboticabal, uti-
lizando-se de trator 4x2 TDA de 73,6 kW (100 cv) de potência no motor e grade aradora. O biodiesel utilizado foi do tipo etílico, filtrado, produzido a base de óleo residual. O delineamento experimental foram: blocos casualizados em esquema fatorial (5x4), no qual se combinaram cinco proporções de mistura de biodiesel e diesel de petróleo (0-100%; 25-75%; 50-50%; 75-25% e 1000%), com quatro velocidades de deslocamento (2,7; 4,3; 6,0 e 6,7 km.h-1). Avaliaram-se consumo hora (L.h-1), consumo hora (kg.h-1) e o consumo específico (g.kWh-1). Os resultados evidenciaram que o uso de biodiesel até a proporção de 50% de mistura não alterou o consumo, entretanto, quando o trator funcionou com 100% de biodiesel, não se observou anomalia no funcionamento, embora o consumo de combustível tenha aumentado em 11%. Palavras-chave: biodiesel etílico; consumo de combustível; trator agrícola.
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Afonso Lopes – Correspondência: Prof. Dr. Paulo Donato Castellani, s/n FCAV-UNESP-Engenharia Rural. - Jaboticabal, SP – Brasil - CEP 14884-900. Endereço eletrônico: afonso@fcav.unesp.br Carlos Eduardo Angeli Furlani – Correspondência: Prof. Paulo Donato Castellane s/n FCAVUNESP Engenharia Rural – Jaboticabal - SP – Brasil - CEP 14884-900 Danilo Cesar Checchio Grotta – Correspondência: Av. Tenente Raimundo Rocha s/n - Cidade Universitária UFC – Campus Cariri – Juazeiro do Norte - CE – Brasil – CEP 63000-000 Felipe Thomaz da Camara – Correspondência: Av. Tenente Raimundo Rocha s/n - Cidade Universitária - UFC – Campus Cariri - Juazeiro do Norte - CE – Brasil – CEP 63000-000 Miguel Joaquim Dabdoub - Correspondência: Av. Bandeirantes, 3900 Monte Alegre - Ribeirão Preto, SP – Brasil - CEP 14040-901. Endereço eletrônico: dabdoub@biodieselbrasil.com.br Rouverson Pereira da Silva – Correspondência: Prof. Dr. Paulo Donato Castellani, s/n FCAVUNESP-Engenharia Rural – Jaboticabal - SP – Brasil - CEP 14884-900
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ABSTRACT
The experiment was accomplished in UNESP campus, Ja-
boticabal, Brazil, using a 4x2 TDA tractor of engine having 73.6 kW (100 cv) coupled to harrow. It was used an ethylic biodiesel, filtrated, based on residual oil. The experimental design was based on casualized blocks with factorial outline (5x4) where it was combined five proportions of biodiesel per petroleum diesel (0 and 100%; 25 and 75%; 50 and 50%; 75 and 25% and 100 and 0%), with four displacement speeds (2.7; 4.3; 6.0 and 6.7 km h-1). The hour consumption (L h-1), hour consummate (kg h-1) and the specific consumption (g kWh-1) were evaluated. The results evidenced that the mixing having 50% biodiesel proportion did not alter consumption, however when the tractor worked with 100% of biodiesel, it was not observed any working anomaly when compared to diesel, however fuel consumption increased in 11%. Keywords: ethyl biodiesel; fuel consumption; agricultural tractor.
Revista da ANPG, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 10 - 15, segundo sem. 2009
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LOPES, A et al
RESUMEN
El experimento se realizó en la UNESP-Jaboticabal, utilizando un tractor 4x2 TDA de 73,6 kW
(100 cv) de potencia en el motor y en la grada. El biodiésel utilizado fue del tipo etílico, filtrado, producido a base de aceite residual. La delineación experimental fue bloques casualizados en esquema factorial (5x4), en el cual se combinaran cinco proporciones de mezcla de biodiesel y diésel de petróleo (0-100% 25-75% 50-50% 75-25% y el 100 -0%), con cuatro velocidades de desplazamiento (2,7, 4,3, 6,0 y 6,7 km.h-1). Se evaluó el consumo de horas (L.h-1), consumo de hora (kg.h-1) y consumo específico (g.kWh-1). Los resultados mostraron que el uso de biodiesel hasta la proporción de 50% de mezcla no alteró el consumo, sin embargo, cuando el tractor funcionó con 100% de biodiésel, no se observó ninguna anomalía en el funcionamiento, aunque el consumo de combustible se ha incrementado en 11%. Palabras-claves: biodiesel etílico; consumo de combustible; tractor agrícola.
INTRODUÇÃO
observou-se que a mistura de biodiesel e diesel resultou em aumento discreto de potência e torque quan-
Segundo Dabdoub (2003), um fator que me-
do se aumentou a proporção de biodiesel no diesel,
rece destaque é que a utilização do biodiesel, obtido
principalmente para faixas de rotações mais baixas. O
de fontes 100% renováveis, deverá ser responsável
consumo específico dessas misturas, porém, apresen-
pelo ingresso de divisas devido à venda de cotas de
tou-se levemente mais elevado e a adição de BOUF
carbono, conforme contemplado no protocolo de
ao diesel resultou em melhoria do rendimento para
Kyoto. De acordo com o autor, as cotas de carbo-
rotações acima de 1.800 rpm.
no poderão ser vendidas para outros países, uma vez
que o uso de biodiesel diminui a poluição com a redu-
ciclo diesel estacionário para a comparação de três ti-
ção da emissão de gases causadores do efeito estufa
pos de combustíveis, sendo os quais: diesel de petró-
e, além disso, o incremento na área de plantio (soja,
leo, óleo cru de sementes de colza e um combustível
cana, etc.) será responsável pela retirada de grandes
misto de biodiesel feito a partir do óleo de colza cru,
quantidades de dióxido de carbono da atmosfera, au-
acrescido de 10% de metanol. Os testes realizados
mentando o número de cotas de carbono a serem
em dinamômetro de bancada revelaram decréscimo
negociadas.
de potência ao redor de 5%, quando o motor traba-
Testes preliminares com biodiesel de óleo
lhava em alta rotação, movido a óleo cru e combus-
usado em frituras foram realizados em ônibus de
tível misto, fato esse que pode ser explicado, segun-
transporte coletivo da cidade de Curitiba, cedido pela
do os autores, pelo menor poder calorífico e maior
Prefeitura Municipal, por meio da Companhia de Ur-
densidade observados nos combustíveis em questão,
banização (URBS), com motor turbinado e potência
comparados ao diesel tradicional; outro dado obser-
de 238 cv. O ônibus percorreu 915 km em condições
vado foi o aumento de consumo quando se utilizou
normais de trabalho, utilizando 20% de biodiesel e
combustível misto, sendo ainda maior o consumo de
80% de diesel convencional. O teste foi realizado em
óleo cru, comparado ao consumo de diesel.
duas etapas e apresentou desempenho normal, exce-
to por um leve odor de óleo de frituras expelido pelo
sumo de diesel num trator 4x2 TDA, com 121 cv
escapamento. A média de consumo de biocombustí-
no motor, teve os seguintes valores: consumo hora
-1
Laforgia & Ardito (1995) utilizaram motor de
De acordo com Lopes et al. (2003a), o con-
vel (2,1 km.L ) esteve na faixa de normalidade para
(13,65 kg.h-1) e consumo específico (554 g.kWh-1). Os
veículos desse porte, que normalmente utilizam óleo
autores concluíram que o consumo de combustível é
diesel puro (ZAGONEL et al 1999).
influenciado pela lastragem do trator, pela carga im-
posta na barra de tração, pelo tipo de pneu e pela
Utilizando um motor de ciclo diesel, injeção
direta, um cilindro e sem adaptações, Rabelo (2001)
velocidade de deslocamento. Revista da ANPG, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 10 - 15, segundo sem. 2009
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Consumo de biodiesel etílico de óleo residual em trator agrícola variando o percentual de mistura biodiesel e diesel de petróleo
Este trabalho teve o objetivo de avaliar o
TF400) com capacidade máxima de medição de 100
consumo da mistura de biodiesel e diesel de petró-
kN. Para medir o consumo de combustível, utilizou-
leo de um trator em operação de preparo do solo
se um protótipo, conforme descrito em Lopes et al.
com grade aradora, variando a proporção de mistura
(2003b). Tal protótipo tem dois medidores de fluxo
(%biodiesel - %diesel de petróleo), combinado com
instalados em série com dois medidores de tempe-
quatro velocidades de deslocamento.
ratura. A velocidade real de deslocamento foi obtida
MATERIAL E MÉTODOS
por meio de radar (modelo RVS II), variando-se as marchas de trabalho. Todos os sensores enviaram os
O experimento foi conduzido na UNESP -
sinais a um sistema de aquisição de dados (micrologger
Câmpus de Jaboticabal - SP. A área do presente traba-
CR23X), sendo o mesmo programado para obter da-
lho apresentava solo desprovido de vegetação, com
dos numa freqüência de 10 leituras por segundo.
localização geográfica definida pelas coordenadas
21º15’ de latitude sul e 48º18’ de longitude oeste de
casualizados, em esquema fatorial 5x4 (cinco propor-
Greenwich. Apresenta altitude média de 570 m e cli-
ções de mistura e quatro velocidades de deslocamen-
ma Cwa (subtropical), de acordo com a classificação
to), totalizando 20 tratamentos com quatro repeti-
de Köeppen.
ções. As proporções de mistura biodiesel e diesel de
O solo da área experimental é classificado
petróleo foram [B0 (0 e 100 %), B25 (25 e 75%), B50
por Andrioli & Centurion (1999) como Latossolo Ver-
(50 e 50%), B75 (75 e 25%) e B100 (100 e 0%)] e as
melho Eutroférrico típico, textura muito argilosa, A
velocidades de deslocamento [2,7 km h-1 (V1), 4,3 km
moderado, caulinítico-oxálico, relevo suave ondula-
h-1 (V2), 6,0 km h-1 (V3) e 6,7 km h-1 (V4)]. Cada parce-
do. No momento dos testes, a média de teor de água
la experimental teve comprimento de 20 m e entre as
no solo foi 10,1% e 13,2% nas camadas de 0-10 cm e
parcelas, no sentido longitudinal, reservou-se interva-
de 10-20 cm, respectivamente.
lo de 15 m, cuja finalidade foi realizar manobras, trân-
sito de equipamentos e estabilizar as determinações.
O trator de teste foi um modelo BM 100
O delineamento experimental foi em blocos
Valtra, 4x2 TDA, com potência máxima no motor de 73,6 kW (100 cv) a 2.350 rpm e massa de 5.400 kg. Com a finalidade de oferecer carga à barra de tração
Consumo horário
do trator, foi acoplada uma grade aradora de arrasto,
O protótipo utilizado para determinar consumo em
com 16 discos recortados de 609,6 mm (24 polega-
todas as parcelas forneceu valores expressos em mL/
das) de diâmetro. Nessa operação, o trator foi utiliza-
segundo, referentes ao débito da bomba injetora e
do em rotação máxima livre de 2.350 rpm.
ao retorno dos bicos, respectivamente. Por meio da
O biodiesel utilizado no ensaio foi do tipo etí-
diferença entre os valores, obteve-se o volume real-
lico filtrado e produzido a base de óleo residual no
mente consumido pelo trator durante o percurso da
Departamento de Química (LADETEL) da USP, Ribei-
parcela.
rão Preto. O óleo residual foi coletado no Restaurante Universitário da UNESP de Jaboticabal.
Com base nesse valor foi calculado o consumo horá-
rio em volume, utilizando-se a Eq.(1):
A tecnologia dos processos de esterificação e
de purificação do biodiesel foi desenvolvida pelo LADETEL (Laboratório de Tecnologias Limpas) da USP, Ribeirão Preto.
Instrumentação do trator de teste
Para determinar a força de tração na barra,
utilizou-se célula de carga (M. SHIMIZU, modelo 12
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Ch.v=
C*3,6 t
(1)
em que, Ch.v = consumo horário (L.h-1); C = volume consumido (mL); t = tempo de percurso na parcela (s), e 3,6 = fator de conversão.
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LOPES, A et al
Para a obtenção do consumo horário expresso em
Os dados foram submetidos à análise de variância e
massa, foi necessário determinar a densidade em fun-
ao teste de comparação de médias de Tukey, a 5%
ção da temperatura nas cinco proporções de mistura.
de probabilidade, conforme Pimentel Gomes (1987).
A temperatura do combustível foi monitorada nos mesmos pontos onde foram realizadas as medidas de fluxo. A densidade foi determinada no intervalo de temperatura de 10 a 70º C, em passos de 5 em 5º C. Pela análise de regressão, obtida por meio de análise estatística, chegou-se às Eqs. (2; 3; 4; 5 e 6): DB0=851,04 - 0,6970*T DB25=852,08 - 0,5950*T DB50=875,60 - 0,6141*T DB75=882,34 - 0,5484*T DB100=881,10 - 0,5271*T
R2 = 0,97 R2 = 0,91 R2 = 0,96 R2 = 0,91 R2 = 0,93
(2) (3) (4) (5) (6)
Para o cálculo do consumo horário expresso em massa, utilizou-se a Eq.(7): Ch.m=Ch.v* DBn 1000
(7)
Ch.m = consumo horário (kg.h-1); Ch.v = consumo horário (L.h-1); DBn = equação de regressão de cada proporção de mistura do combustível, e 1000 = fator de conversão.
Consumo específico Essa variável expressa o consumo de combustível em unidade de massa por unidade de potência na barra de tração e foi calculado com a seguinte equação: (8)
em que, CE = consumo específico (g.kW h-1); DBn = densidade do combustível (n) em função da temperatura (g.L-1); Ch.v(n) = consumo horário para o combustível (n) (L.h-1), e PB = potência média na barra de tração (kW). A potência média na barra de tração foi determinada de forma indireta, utilizando-se da Eq.(9): PB= FT*v em que, PB = potência média na barra de tração (kW); FT = força média de tração na barra (kN); v = velocidade real de deslocamento (m/s).
A síntese da análise de variação e teste de médias encontra-se na Tabela 1.Para interpretar os resultados deve-se observar que a ausência de letras comparativas implica interação significativa e, nesse caso, será explicado por tabela complementar de desdobramento. Tabela 1. Síntese da análise de variância e do teste de médias para as variáveis de consumo horário em volume, consumo horário em massa e consumo específico.
Fatores
Consumo Horário -1
Consumo Consumo Horário Específico -1 -1
13,11 12,64 12,56 12,85 13,75
11,02 10,66 10,94 11,23 12,05
617a 599a 596a 673b 687b
10,00 12,12 14,87 14,95
8,65 10,47 12,78 12,84
824a 662b 556c 498d
6,08 ** 189,43 ** 4,69 ** 5,98
10,10 ** 185,64 ** 4,56 ** 5,92
11,01 ** 154,68 ** 1,82 NS 8,14
(L.h )
em que,
DBn*Ch.v(n) CE= PB
RESULTADOS E DISCUSSÃO
(9)
PROPORÇÃO (P) B0 B25 B50 B75 B100 VELOCIDADE (V) V1 V2 V3 V4 TESTE (F) P V PxV C.V.%
(kg.h )
(g.kWh )
Em cada coluna, para cada fator, médias seguidas de mesma letra minúscula não diferem entre si, pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade. Em cada coluna, médias desacompanhadas de letras implicam interação significativa entre os fatores e, nesse caso, haverá quadro auxiliar de desdobramento NS: não-significativo (P>0,05) *: significativo (P<0,05) **: significativo (P<0,01) C.V.: coeficiente de variação
Consumo horário em volume (L.h-1) Pela Tabela 1, percebe-se que ocorreu interação significativa entre os fatores avaliados; a Tabela 2 ilustra os dados dessa interação. Revista da ANPG, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 10 - 15, segundo sem. 2009
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Consumo de biodiesel etílico de óleo residual em trator agrícola variando o percentual de mistura biodiesel e diesel de petróleo
Tabela 2. Interação entre os fatores proporção de mistura e velocidade para a variável consumo horário em volume (L.h-1). Proporção B0 B25 B50 B75 B100
V1(2,7 km h-1) 9,90 a A 9,38 a A 9,85 a A 10,20 a A 10,63 a A
V2(4,3 km h-1) 11,93 ab B 11,48 b B 11,63 ab B 12,45 ab B 13,10 a B
Velocidade V3(6,0km h-1) 15,08 ab C 13,53 c C 14,03 bc C 15,45 ab B 16,30 a C
V4(6,7 km h-1) 15,53 a C 16,18 a D 14,75 ab C 13,30 b C 14,98 a C
Em cada coluna, médias seguidas de mesma letra minúscula e em cada linha médias seguidas de mesma letra maiúscula não diferem entre si, pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade.
Analisando-se o fator proporção dentro de cada fator velocidade, verifica-se que: na velocidade
Analisando-se a proporção dentro de cada
V1, ocorreu semelhança estatística entre todas as
foram semelhantes estatisticamente, entretanto B25
proporções; na velocidade V2, ocorreu semelhan-
foi diferente de B100 e essa foi semelhante às demais.
ça nas proporções B0, B25, B50 e B75, entretanto B25
Em V2, B0, B25, B50 e B75 foram semelhantes, sen-
diferiu de B100, sendo essa última semelhante às de-
do B75 também semelhante a B100. Em V3, B0, B25 e
mais; na velocidade V3, B25 foi semelhante a B50 que
B50 foram semelhantes, sendo B50 semelhante a B75,
se apresentou semelhante a B0 e B75, que por sua vez
e B75 também semelhante a B0 e a B100. Em V4, B0,
não diferiram de B100; na velocidade V4, B0, B25, B50
B25, B50 e B100 foram semelhantes, entretanto B50 foi
e B100 foram semelhantes, mas apenas B50 foi seme-
semelhante a B75.
lhante a B75.
Analisando-se a velocidade dentro de cada
fator proporção de mistura, verifica-se que, para as
fator proporção de mistura, verifica-se que para as
condições B0, B50 e B100, houve diferença significativa
condições B0, B50 e B100, houve diferença significativa
entre V1, V2 e V3, com V3 não diferindo de V4. Na
entre V1, V2 e V3, com V3 não diferindo de V4. Na
proporção B25, houve diferença significativa entre to-
proporção B25, houve diferença significativa entre to-
das as velocidades ensaiadas, sendo o consumo cres-
das as velocidades ensaiadas, sendo o consumo cres-
cente de V1 para V4. Para B75, V1 foi diferente de V2;
cente de V1 para V4. Para B75, V1 foi diferente de V2,
V2 foi semelhante a V3, e V4 diferente das demais.
velocidade, observa-se que em V1, B0, B25, B50 e B75
Analisando-se a velocidade dentro de cada
V2 foi semelhante a V3 e V4 diferente das demais.
Consumo horário em massa (kg.h-1)
Consumo específico
Na Tabela 1, verifica-se a síntese da análise de variância e do teste de médias, na qual se observa a influência significativa dos fatores proporção e velocidade, e ainda a interação entre ambos quanto ao
consumo horário em kg.h-1.
Tabela 3. Interação entre os fatores proporção de mistura e velocidade para a variável consumo horário em massa (kg.h-1). Proporção B0 B25 B50 B75 B100
V1(2,7 km h-1) 8,38 ab A 7,95 b A 8,60 ab A 8,95 ab A 9,38 a A
Velocidade V2(4,3 km h-1) V3(6,0km h-1) 10,03 b B 12,65 bc C 9,75 b B 11,38 c C 10,13 b B 12,18 bc C 10,90 ab B 13,48 ab B 11,53 a B 14,23 a C
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reu interação significativa entre os fatores. Dessa forma, analisando o fator proporção de mistura, observa-se que o consumo específico foi semelhante para B 0 , B 25 e B 50 . Observa-se, também, que B 75 foi estatisticamente semelhante a B 100. Comparando B 0 a B 100 o consumo aumentou 11%, considerando-se que o trator operava
V4(6,7 km h-1) 13,05 a C 13,58 a D 12,88 ab C 11,60 b C 13,08 a C
Em cada coluna, médias seguidas de mesma letra minúscula e em cada linha médias seguidas de mesma letra maiúscula não diferem entre si, pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade.
14
Pela Tabela 1, verifica-se que não ocor-
com aproximadamente 65% da capacidade de tração.
Para o fator velocidade, notou-se con-
sumo específico diferente e decrescente de V 1 para V 4 ; tal comportamento de consumo está de acordo com Laforgia & Ardito (1995).
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LOPES, A et al
CONCLUSÃO
O incremento de biodiesel até o limite de
50% não alterou significativamente o consumo específico do trator para as condições do ensaio. Quando for possível, utilizar o consumo específico para comparar tratamentos, pois nessa forma considera-se o combustível consumido e a potência utilizada.
O uso de 100% de biodiesel no trator não
limitou o seu funcionamento, entretanto, aumentou o consumo específico em 11%, sendo isso justificado, principalmente, pelo menor poder calorífico do B100 em relação ao diesel de petróleo.
um protótipo para medição de combustível em tratores. Revista Brasileira de Agroinformática, São Paulo, v.5, n.1, p.24-31, 2003b. PIMENTEL GOMES, F. A estatística moderna na agropecuária. Piracicaba: Associação Brasileira para Pesquisa da Potassa e do Fosfato, 1987. 162 p. RABELO, I.D. Estudo de desempenho de combustíveis convencionais associados a biodiesel obtido pela transesterificação de óleo usado em fritura. Paraná. 2001. Dissertação (Mestrado em Tecnologia). Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná. ZAGONEL, G.; COSTA NETO, P.R.; RAMOS, L.P. Produção de ésteres etílicos de óleo de soja degomado: otimização e desenvolvimento de metodologia para controle da reação por FTIR. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE SOJA, 1, 1999, Londrina. Anais. Londrina: Centro Nacional de Pesquisa de Soja; Empresa Nacional de Pesquisa Agropecuária, 1999. p.342.
O uso de biodiesel em tratores constitui al-
ternativa viável de combustível, entretanto, necessita continuidade de estudos e, para tanto, recursos financeiros do governo e de instituições privadas são indispensáveis.
AGRADECIMENTOS À FAPESP e ao CNPq pelo apoio financeiro ao projeto e à COOPERCITRUS e à VALTRA do Brasil pela disponibilidade do trator de teste e pela logística de ensaios.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRIOLI, I.; CENTURION, J.F. Levantamento detalhado dos solos da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias de Jaboticabal. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA DO SOLO, 27, 1999, Brasília. Anais. Brasília: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 1999. 1 CD-ROM. DABDOUB, M.J. Uso de novos combustíveis permitirá a redução das importações de diesel em no mínimo 33%. São Paulo, 2003. 4 p. Disponível em: http:// www.dabdoub-labs.com.br. Acesso em 10 out 2007. LAFORGIA, L.; ARDITO, V. Biodiesel fueled IDI engines: performances, emissions and heat release investigation. Bioresource Technology, Bari, n.51, p.53-9, 1995. LOPES, A.; LANÇAS, K.P.; FURLANI, C.E.A.; NAGAOKA, A.K.; CASTRO NETO, P.; GROTTA, D.C.C. Consumo de combustível de um trator agrícola em função do tipo de pneu, da lastragem e da velocidade de trabalho em condição de preparo dolo solo com escarificador. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, Campina Grande, v.7, n.2, p.375-379, 2003a. LOPES, A.; FURLANI, C.E.A; SILVA, R.P. Desenvolvimento de Revista da ANPG, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 10 - 15, segundo sem. 2009
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Estratégia de desenvolvimento, questão energética e a formação de uma economia continental na China Development strategy, energy issues and the formation of a continental economy in China Estrategia de desarrollo, cuestión energética y la formación de una economía continental en China 1
Elias Marco Khalil Jabbour Professor colaborador do Departamento de Geociências do Centro de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Santa Catarina (CFH-UFSC)
RESUMO A questão energética reveste-se de singular importância na atual quadra de transição à 3° Revolução Industrial no centro do sistema capitalista. Porém, e não independente da problemática internacional, cabe aos países periféricos uma formulação melhor elaborada sobre a questão em si. Aos países periféricos continentais, como a China e o Brasil, abre-se uma grande oportunidade de relacionar a utilização de seus recursos naturais com a profícua necessidade de aprofundar seus programas de industrialização e de integração regional, de forma que a questão energética em voga não se transforme em condição objetiva à radicalização da divisão internacional do trabalho. Palavras-Chave: energia, industrialização, questão regional, China, Brasil.
ABSTRACT Energy has a singular importance in these days of transition to the Third Industrial Revolution in the center of the capitalist system. Peripheral countries must elaborate a better formulation about the energetic issue, too. A great opportunity is opened to continental peripheral countries, as China and Brazil, to combine the use of natural resources with the necessity of deepening industrialization and regional integration programs, so that the energetic issue does not turn into an objective condition to the radicalization of the international work division. Keywords: energy; industrialization; development; China; Brazil.
RESUMEN
1
Elias Marco Khalil Jabbour. – Doutorando em Geografia pela FFLCH-USP. Professor colaborador do Núcleo de Estudos Asiáticos (NEAS); Pesquisador da Fundação Maurício Grabois (FMG) e Pesquisador associado do Instituto Brasileiro de Estudos da China, Ásia e Pacífico (IBECAP) – Correio eletrônico: eliasjabbour@terra.com.br
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El problema energético es de singular importancia en el bloque actual de transición a la Tercera Revolución Industrial en el centro del sistema capitalista. Sin embargo, y no independiente de los problemas internacionales, tocan a los países periféricos una mejor formulación detallada sobre la cuestión en sí. A los países continentales periféricos, tales como China y Brasil, se abre una gran oportunidad para relacionar el uso de los recursos naturales con la necesidad de profundizar sus programas de industrialización y integración regional, de modo que la cuestión energética en boga no se transforme en condición objetiva a la radicalización de la división internacional del trabajo. Palabras-claves: energía; industrialización; cuestión regional; China; Brasil.
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JABBOUR, E. M. K.
INTRODUÇÃO
Assim como nas anteriores viragens típicas
tório nacional e a inclusão no mercado de um grande contingente de pessoas.
Ampliando a margem à abstração, por outro
das transições envolvendo o surgimento de novos pa-
lado, o mundo assiste neste início de século ao ad-
radigmas tecnológicos (máquina a vapor e motor a
vento da República Popular da China como a grande
explosão), o mundo hoje, mais precisamente o centro
candidata a ocupar, num espaço de pelo menos três
do sistema capitalista, é testemunho de uma retoma-
décadas, o posto de maior potência econômica no
da das discussões acerca da necessidade de pesquisas
mundo e recolocar na ordem do dia a transição capi-
sobre novas fontes de energia, indispensáveis tanto
talismo-socialismo em âmbito mundial. Assim como o
ao suprimento industrial quanto ao ambiente global
Brasil, a China é um país periférico de dimensões con-
de reprodução humana. Os motivos são vários, mas
tinentais. Diferente do Brasil, onde temos um Banco
podemos agregar aos já existentes a uma estrutura
Central alienígena detentor dos instrumentos cruciais
de demanda cada vez mais incompatível com a oferta
do processo de acumulação (o câmbio, a política de
cartelizada do petróleo, cuja pressão sobre o balanço
juros, o crédito e o sistema financeiro) e um Ministé-
de pagamentos de inúmeros países é mera expressão.
rio do Meio-Ambiente a serviço de outrem, na Chi-
Isso sem dizer do óbice que envolve o aquecimento
na, o desenvolvimento econômico é fator primário à
global e suas conseqüências à espécie humana.
consecução de objetivos de largo alcance.
Por outro lado, pode-se dizer que convive-
Tendo como núcleo argumentativo os inves-
mos com, talvez, 100% ou mais dos homens dedica-
timentos em energia hidrelétrica (incluindo Três Gar-
dos à ciência; homens esses que em nenhum momen-
gantas), em primeiro plano nossa idéia é de expor os
to da história foram contemporâneos – tanto nossos,
pontos principais da estratégia de desenvolvimento
quanto de si mesmos – e que à suas disposições con-
da China e sua expressão no território, logo, nosso
tam com recursos materiais inimagináveis e capacida-
objetivo com este artigo repousará, dadas as simila-
de de dar curso às suas elucubrações mediados por
ridades territoriais com o Brasil, na demonstração de
um planejamento estatal e privado cada vez mais mi-
como a China tem relacionado a solução de sua pre-
limétrico. O homem não cria problemas sem solução
sente questão energética com a geração de renda e
e os resultados satisfatórios no desenvolvimento de
produto em pontos díspares de seu território, crian-
formas limpas e renováveis de energia (biomassa, eta-
do, assim, as condições objetivas à formação de uma
nol, eólica etc) dão conta desta histórica verdade.
economia de dimensões continentais em meados do
presente século.
Porém, amiúde a opinião esboçada acima,
para um país periférico e continental como o Brasil, a
DESENVOLVIMENTO E TERRITÓRIO NA CHINA
discussão deve ser tratada em outro nível. Este debate deve partir do princípio segundo o qual a questão energética, para nós, não é um fim em si mesmo e
Desde o final da década de 1970, quando
sim parte de um conjunto que envolve uma batalha
Deng Xiaoping lança mão da política de Reforma e
de cunho político em torno de duas bandeiras-chave:
Abertura, a China tem experimentado um verdadei-
o aprofundamento de nosso processo de industrialização
ro frenesi de crescimento econômico. Sua média de
e, como causa e efeito disso, da reimplementação de
crescimento nos últimos 27 anos é de 10,1%, seu co-
uma política de integração nacional. Significa dizer, em
mércio exterior no período cresceu mais de 30 vezes
miúdas palavras, a redefinição de uma divisão social
e dentro de alguns anos passará ocupar o posto de
do trabalho onde novas oportunidades de desenvol-
segunda economia mundial, passando a Alemanha e o
vimento devem ser reabertas, incluindo regiões me-
Japão e ficando atrás apenas dos EUA.
nos favorecidas economicamente, dando margem ao
adensamento de cadeias produtivas em todo o terri-
com a criação de um novo pólo irradiador de fluxos
A geografia do mundo tem-se transformado Revista da ANPG, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 16 - 26, segundo sem. 2009
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Estratégia de desenvolvimento, questão energética e a formação de uma economia continental na China
A estratégia de desenvolvimento tes. Em tempos em que a ciência histórica deixou de (agricultura e Zonas Econômicas Especiais – ser a mãe de todas as ciências em detrimento de um ZEE`s) financeiros, econômicos, políticos e culturais crescen-
liberalismo e seu cerne a-histórico, é mister admitir
que tal aumento de influência advém não somente
se, em face da desinformação reinante, é muito justo
do nível de desenvolvimento citado, mas também
uma demonstração, mesmo que superficial, da estra-
pelo fato de o país: i) ser o mais populoso do mun-
tégia de desenvolvimento do país em tela.
do (1,3 bilhão de habitantes); ii) possuir a civilização
mais antiga (5.000 anos de existência) com institutos
fez acompanhar por um espetacular dinamismo terri-
milenares como o mercado (3.500 anos de existên-
torial em fina sintonia com o tempo e o espaço. É fru-
cia), o planejamento territorial (modo de produção
to de uma estratégia de desenvolvimento que, apesar
asiático, 2.500 anos), o concurso público (1.500 anos)
de não peculiar, ganha traços originais e contornos
e um Estado Nacional surgido antes mesmo da pro-
cada vez mais largos que vão desde a instalação das
priedade privada (2.500 anos), assentado sobre o
quatro primeiras Zonas Econômicas Especiais (ZEE`s)
terceiro maior em território (mais de 9 milhões de
até o lançamento do Programa de Desenvolvimento do
2
Em bem ao não-prejuízo do conjunto da análi-
O fenômeno desenvolvimentista chinês se
km de área) do planeta, de onde surgiram propostas
Oeste na primavera de 1999 (OLIVEIRA, 1996; 2003).
filosóficas tolerantes e civilizatórias (confucionismo e
taoísmo) com dois séculos de antecedência às suas
do à testa o comunista de primeira hora e herói da
similares na Grécia Antiga com diferença de que na
Longa Marcha, Deng Xiaoping, foi o de solucionar a
China, ainda, o confucionismo e o taoísmo são par-
questão do abastecimento alimentar do país (via rela-
te integrante da formação moral do povo, enquanto
xamento de relações de produção), em simultaneidade
no Ocidente as propostas de Sócrates e Platão já
com a permissão de cultivos marginais por parte dos
há muito foram jogadas na lata do lixo da história
camponeses chineses que passaram a ter permis-
(MAMIGONIAN, 2007; JABBOUR, 2005). Tudo isso
são de venda no mercado de excedentes em cere-
nos leva a crer que com um passado único, à China
ais, criando, assim, um mercado interno potencial a
espera-se um futuro singular.
produtos manufaturados e recompondo o pacto de
Seu dinamismo desenvolvimentista, expres-
poder da revolução de 19492. Abrindo parêntese, um
são da fusão entre o Estado Revolucionário, fundado
passo político e de alta relevância à compreensão dos
por Mao Tsé-Tung, com o Estado Desenvolvimentista,
por quês da manutenção do status quo comunista em
absorvido das experiências do leste asiático por Deng
meio aos vendavais do final da década de 1980 e da
Xiaoping (CASTELLS, 1999), tem no desenvolvi-
ofensiva contra-revolucionária de Tiananmen em ju-
mento territorial uma síntese que não pode passar
nho de 1989: a classe camponesa, responsável pela
desapercebida dado o fato de que a unificação do
queda de todas as dinastias chinesas – e o centro de
território econômico chinês, em andamento, se
uma rebelião rural que levou o Partido Comunista de
constitui no grande paradigma das relações interna-
Mao Tsé-Tung ao poder em 1949 – estava do lado go-
cionais neste século XXI, algo somente comparado
verno contra as citadas ondas reacionárias.
com a transformação sofrida pelo mundo pós-unifi-
cação do território político e econômico dos EUA
tos das safras agrícolas em um curto espaço de tempo
na segunda metade do século XIX. Unificação esta
em comparação com um período anterior mais largo,
que se constituiu na principal condição objetiva à
a tabela abaixo sintetiza o sucesso da liberalização do
consolidação do capitalismo e sua atual forma finan-
2
ceira. Raciocínio semelhante vale à consolidação do socialismo e sua relação com a já citada unificação do território econômico chinês. 18
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O primeiro passo da governança chinesa ten-
Ao colocar o relevo à dimensão dos aumen-
Em nosso juízo, assim como Mao Tsétung apoiou-se nos camponeses pobres para levar adiante a revolução nacional popular de 1949, Deng Xiaoping apoiou-se na capacidade empreendedora milenar dos camponeses médios para levar adiante um novo tipo de acumulação socialista. Forma de acumulação – e transição – esta muito semelhante à enunciada por Marx.
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JABBOUR, E. M. K.
comércio de excedentes agrícolas na China confor-
tação jurídica que coube a Hong-Kong e Macau, mas
mando, assim, o primeiro e essencial passo no rumo
direcionada a Taiwan. Para isso as ZEEs deveriam ser
de uma estreita harmonia entre a superestrutura de
o entrelaçamento do território chinês ao chamado
poder e a real base econômica do país:
mundo chinês do sudeste asiático — mundo chinês este com acúmulos de bilhões de dólares e dotados
TABELA 1: Quadro geral do aumento da produção
de técnicas de gerenciamento de produção de ponta
agrícola na China em milhões de toneladas
no mundo.
1952
1957
1965 1975 1979 1982 1984
Cereais
184
195
194
284
332
353
407
Algodão
1,3
1,6
2,0
5,4
2,2
3,6
6,5
Cereais per capita (kg/hab)
285
301
301
309
342
326
400
Área cultivada per capita (ha./hab)
0,18
Esse entrelaçamento se dá de forma que tan-
to o tempo (história) quanto o espaço (geografia) se encontrassem e formatassem síntese no território chinês. Assim, as quatro primeiras ZEEs foram criadas (1982) em locais estudados e planejados de forma que a ZEE de Shenzen fizesse fronteira com Hong-
0,16
0,14
0,11
0,11
0,10
0,09
Fonte: JABBOUR, Elias M. K. (1997): China: Desenvolvimento e Socialismo de Mercado: Potência do Século XX”. Trabalho de Graduação Individual. Departamento de Geografia da FFLCH. Universidade de São Paulo, 1997, p. 69.
Kong, a de Zhuhai com Macau, Xiamen em Fujian voltada para Taiwan e a de Shantou voltada para colônias chinesas no sudeste asiático.
Verdadeiras joint-ventures territoriais surgi-
ram entre essas zonas e seus territórios-alvo, sugan-
O próximo passo foi o da instalação das Zo-
do investimentos externos de chineses ultramarinos
nas Econômicas Sociais, ZEEs, de forma experimen-
que hoje correspondem a 62% dos IEDs na China,
tal, mas com forte apelo, não somente econômico,
criando meios para a reunificação do país, via sucção
mas também político e estratégico. Falemos mais de-
econômica, e condições objetivas para o enfrenta-
tidamente acerca deste empreendimento.
mento do desenvolvimento do oeste chinês em curso
na atualidade.
O sudeste asiático, notadamente Coréia do
Sul e Taiwan, era exemplo vivo de como retomar o esforço comercializador chinês, obtendo, assim, divisas externas para seu projeto de modernização e
A estratégia de desenvolvimento (as Empresas de Cantão e Povoado e a macroeconomia)
reservas cambiais que viabilizassem no futuro (hoje)
uma política de juros propícia ao crédito. As Zonas
volvimento chinesa – baseada na formação de um
de Processamento de Exportações (ZPEs) coreanas
mercado interno capaz de abarcar um processo ace-
e taiwanesas foram a inspiração para a instalação em
lerado de industrialização – reside no surgimento e
território chinês das Zonas Econômicas Especiais
fortalecimento das chamadas Empresas de Cantão e
(ZEEs) como plataforma de exportações, processa-
Povoado (ECPs).
mento de tecnologia externa e também verdadeiros
laboratórios econômicos e sociais, nos quais as técni-
de caráter coletivo (responsáveis pela invasão no
cas e habilitações capitalistas pudessem ser observa-
mundo de camisas, gravatas, calças e tênis made in
das e assimiladas (JABBOUR , 2006).
China, atualmente já produzem produtos de maior
Outra preocupação — e por isso as ZEE’s
valor agregado como televisores, computadores e até
contêm caráter estratégico — é atrelar essas zonas
aviões em joint-venture com a brasileira EMBRAER)
ao esforço de político de reunificação do país, enfim,
e de capital intensivo absorveram a maior parte dos
criar condições objetivas para o retorno de Hong-
excedentes de mão-de-obra agrícola que voltaram
Kong, Macau e Taiwan ao seio da pátria. A melhor
assim suas atividades para setores ligados à indústria
forma encontrada para isso seria a institucionalização
rural, comportando, dessa forma, um caso sui generis
da política de “um país, dois sistemas” como forma-
de urbanização no mundo.
Outra determinante da estratégia de desen-
Tratam-se de pequenas e médias empresas
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Estratégia de desenvolvimento, questão energética e a formação de uma economia continental na China
Para termos uma idéia, o número de em-
Importante, essencial demonstrar é que
pregados no setor primário sobre o emprego total
toda essa base assentada na formação de um mer-
da China, na década de 80, decresceu de forma mais
cado interno e numa política agressiva em matéria
rápida do que o emprego rural sobre o total do país
de comércio exterior só pode ter fundamento lógico
na década de 80. Em 1994, a primeira relação era de
partindo do controle e manipulação, em prol dos in-
54,3% e a segunda de 72,6% (KOJIMA, 1996). Conti-
teresses imediatos e estratégicos da nação chinesa,
nuando, agora descrevendo o ambiente de incentivos
dos já citados instrumentos cruciais do processo de
e funcionamento deste tipo de empreendimento, as
acumulação, permitindo que o Estado Nacional seja
ECPs surgiram no âmbito da descentralização fiscal
o grande timoneiro de um processo lento de regio-
promulgada na China em 1982, viabilizando o reco-
nalização interno (China continental) e externo (su-
lhimento de impostos e reinvestimentos no nível da
deste asiático), num planejamento de altíssimo nível
província e/ou região autônoma, numa clara diferen-
e de causar surpresa aos políticos da tragédia neo-
ciação da planificação central dos tempos do “mode-
liberal no Brasil e na América Latina. Vejamos só: a
lo soviético”. As ECPs operam fora da planificação
instalação de uma plataforma de exportações base-
central, socializando lucros e perdas no nível do ente
adas tanto no litoral (ZEE`s) quanto no interior do
municipal.
país (ECPs) foi parte de um todo que envolveu uma
Sobre o crescimento destas empresas vale
política macroeconômica que, a partir de um câmbio
remeter ao trabalho feito pelos economistas Susumu
fixo, subvalorizado, permitiu o acúmulo de superávits
Yabuki e Stephen Harner (China’s New Political Eco-
comerciais suficientes tanto para o financiamento de
nomy, Boulder CO., Westview Press): em 1978 havia
máquinas e equipamentos importados, quanto para a
1,52 milhões de ECP’s no interior da China, chegando
formação de uma imensa reserva em moeda estran-
a 23 milhões em 1996. Já pelo relatório de desenvol-
geira que, por seu turno, viabilizou uma política de
vimento do Banco Mundial (World Bank Development
juros atraente ao crédito, leia-se, consumo interno.
Report, 1996, Oxford University Press, New York), a
porcentagem da produção das ECP’s no conjunto da
ta de capitais dotou o Estado chinês de um meca-
produção industrial chinesa subiu de 13% em 1985
nismo institucional que por si só serviu de indutor
para 31% em 1984 – sua produção teve crescimento
de investimentos externos produtivos em detrimento de
médio de 25% entre 1985 e 1996 e foi a responsável
investimentos especulativos, tornando-se, nesse caso,
pela criação de 130 milhões de empregos entre 1980
um dinamizador e não um amortecedor para o con-
e 1986.
junto da economia (SILVA, 2004). Ainda vale notar
Por outro lado, o estrito controle sobre a con-
Com relação à expansão da renda no campo,
o alto grau de regionalização deste tipo de investi-
Singh anota que esta cresceu anualmente entre 1980
mento na atualidade chinesa: 62% deles são provin-
e 1988 em 9,6%, enquanto que nas cidades tal foi de
dos de chineses étnicos baseados no sudeste asiático
6,3% (SING, 1999).
(JABBOUR , 2006). Eis a base macroeconômica de
uma ambiciosa política de integração nacional e in-
Estes dados nos deixam claro outra relação
que é a existente entre as reformas realizadas na China e àquelas realizadas na URSS: enquanto a URSS tratou de “reformar” indústrias de bens de capital que pela sua complexidade tecnológica não abriga
ternacional.
A marcha territorial do desenvolvimento (e a “Chicago” chinesa)
grandes contingentes de mão de obra, a China pri-
vilegiou, em primeiro lugar, a transformação e massi-
das primeiras quatro ZEEs em 1980, levou o gover-
ficação de indústrias que abrigassem grandes contin-
no chinês, já em 1984 estender tal experiência a ou-
gentes de trabalhadores que num processo imediato
tras 14 cidades costeiras, incluindo a atual “cabeça
teriam acesso primário ao mercado consumidor.
do dragão”, Xangai. Em 1987, nos estertores do 13°
20
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Os bons resultados obtidos com a instalação
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JABBOUR, E. M. K.
Congresso do Partido Comunista da China (PCCh),
de uma ampla área de convergência econômica entre
todo o litoral do país foi considerada como “ZEE”,
a China e as ex-repúblicas soviéticas fronteiriças ao
marcando a entrada chinesa definitiva na rota interna-
noroeste (cooperação na área energética) e a reaber-
cional do comércio. Entrada esta muito facilitada após
tura de uma rota comercial entre a China e a Europa,
a imposição, por parte dos Estados Unidos, de nor-
reavivando o que em outro momento histórico Mar-
mas cambiais ao Japão (Acordo de Plaza assinado em
co Pólo nomeou de Rota da Seda.
1985) com o objetivo de encarecer as importações
de bens manufaturados japoneses no mercado norte-
que ameaça o bem-sucedido programa agressivo de
americano, numa clara política keynesiana praticada
exportações do país, o governo central lança, no ano
pelo governo Reagan na intenção de recuperar os
de 1999, o Programa de Desenvolvimento do Oeste,
espaços, tanto políticos quanto econômicos perdidos
numa planejada operação que consiste na abertura de
entre as décadas de 1950 e 1970.
novos campos de investimento na economia, um novo
A depreciação do yene ante ao dólar, levou
campo de acumulação baseado na institucionalização
moedas como o yuan chinês a se tornarem altamente
de uma imensa reserva de mercado com capacidade
depreciadas com relação à moeda japonesa. Estava
de suportar décadas de crescimento ininterrupto do
posta uma condição objetiva para a reorganização do
país.
comércio regional tendo em vista a necessidade de
empresas asiáticas de se manterem dentro do merca-
volvimento e, de forma literal, seguindo o conselho
do americano. Nesta lógica, capitais foram direciona-
de Lênin, para quem os EUA eram o exemplo de
dos para locais onde os custos de produção e o valor
construção nacional a ser seguido e alcançado, da
da terra urbana fosse mais convidativo. E na Ásia, a
mesma forma que Chicago, cidade situada no meio-
China foi o país que melhor apresentou as condi-
oeste do país, Chongqing, também no meio-oeste
ções para o deslocamento destes capitais produtivos
(porém da China), foi a escolhida para desempenhar
que vieram não somente do Japão, mas também de
papel semelhante ao praticado por Chicago, em meio
Taiwan e Hong-Kong.
à unificação territorial norte-americana, na segunda
Com o decorrer da década de 90, empresas
metade do século XIX: entroncamento ferroviário e
européias e norte-americanas também passaram a
mercado distribuidor de gêneros agrícolas e indus-
direcionar-se rumo à China e seu mercado, tornan-
triais4. Em 1997, tal cidade foi elevada à condição de
do a China, no início do século XXI, uma verdadeira
municipalidade diretamente subordinada ao governo
“manufatura do mundo”, e transformando, com seu
central (as outras são Pequim, Xangai e Tianjin).
dinamismo econômico, capitais norte-americanos
em verdadeiros “reféns”, pois a estabilidade política
nesse Valley Authority, o Civilian Conservation Corps e o
do imperialismo depende muito das importações da
Interstate Highway System, entre 2001 e 2010 cerca
China dada a centralidade da manutenção de baixos
de US$ 200 bilhões serão direcionados para Chon-
índices internos de inflação3.
gqing, com o intuito de transformá-la não somente no
Em 1992, a todas as capitais de província e
centro dinâmico da expansão ao oeste, mas num dos
de regiões autônomas e mais 52 cidades de frontei-
maiores centros comerciais e financeiros do mundo e
ra fora estendido o estatuto de ZEE. Movimento que
pronta para alcançar o mesmo status de praças como
dá conta de um processo de conexão não somente
Xangai e Hong-Kong (JABBOUR , 2006).
pela via da Ásia do Pacífico, mas também da criação
3
Neste contexto, e em retrospectiva histórica, podemos facilmente perceber que os superávits comerciais do Japão, de Taiwan e de HongKong com os EUA tenderam a cair, enquanto que a China passou a ter elevados superávits que ao passar da década de 1990 e mais precisamente hoje são enfrentados pelos EUA sob forma de pressões, genuinamente políticas, para a revisão da taxa de câmbio chinesa.
Em 1997, diante da crise financeira asiática
Como grande referência histórica de desen-
Estudando realizações dos EUA como a Te-
Para um país de dimensões continentais,
como a China e o Brasil, é neste contexto de com4
Chongqing, antiga capital do governo de Chiang Kaishek, próxima a barragem de Três Gargantas conta com 30 milhões de habitantes e com um território seis vezes maior que o da Bélgica.
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Estratégia de desenvolvimento, questão energética e a formação de uma economia continental na China
A dinâmica e a política da transferência o papel do fator energia num conjunto que envolve litoral-interior plementaridade regional interna que se deve situar interesses nacionais de curto, médio e longo prazos.
Falando em termos que contemple nossos
objetivos neste espaço, guarda grande relevância um
O FATOR ENERGIA E A INTEGRAÇÃO REGIONAL
determinado raciocínio: a China, durante 25 anos, acumulou capital e tecnologia em seu rico litoral para, em passo seguinte, passar ao interior de forma que a
De forma simultânea a este processo dife-
máxima advogada por Deng Xiaoping acerca de um
renciado de desenvolvimento, com a inclusão mas-
processo de enriquecimento comum precedido pelo enri-
siva de centenas de milhões de pessoas ao processo
quecimento de alguns (YUN 1). Tal raciocínio vale tan-
produtivo e a integração gradual de todo o país a um
to no âmbito da sociedade quanto do território. Mais,
único mercado nacional, o fator energia foi tornando-
somente é passível sob o ponto de vista empírico, sob
se algo crucial. O problema não reside pura e sim-
uma estrutura de poder que detém sob seu contro-
plesmente sobre a estrita necessidade de insumos,
le os setores estratégicos da economia (setores com
mas também em formas alternativas à dependência
alto grau de monopólio) e o planejamento econômico
do carvão mineral como forma principal de geração
como método de gestão. Não somente isso: é de pri-
energética (cerca de 65% da energia utilizada pela
mária razão que este poder político esteja compro-
China provém deste tipo de insumo). Os prejuízos,
metido, de forma estratégica, com o socialismo.
tanto financeiros (US$ 54 bilhões anuais) quanto
ambientais,têm levado o governo central a priorizar
de transferência, entre 1997 e 2004, cerca de US$ 1
a importação de tecnologia que viabilize uma utiliza-
trilhão foi investido em obras de infra-estrutura no
ção mais limpa do carvão. Afora isso, investimentos
interior da China (JABBOUR , 2006). Neste mesmo
em fontes como a energia hidrelétrica, o gás natu-
momento, no Brasil, foram investidos na área infra-
ral e a energia nuclear têm sido intensificados. Mas,
estrutural apenas U$ 12 bilhões, algo que vem cres-
é idealismo acreditarmos que a China conseguirá,
cendo com uma velocidade muito menor – apesar do
num rápido lapso de tempo, substituir grande parte
PAC – do que as necessidades de nosso país, muito
do carvão por fontes limpas de energia; o grande
mais preocupado com o pagamento religioso de nos-
desafio chinês da atualidade, nesse campo, é buscar
sa dívida interna. Retornando à China, a leitura deste
formas de purificação do mineral, tornando mais ra-
dado de investimentos nos demonstra que este rela-
cional sua utilização.
xamento de acumulação regional é seguido por uma
Em outra oportunidade poderemos discor-
verdadeira troca de investimentos e tecnologia, do ci-
rer com mais vagar acerca da questão ambiental na
tado litoral, por energia e matérias-primas do interior.
China, algo que merecia algo mais detido e sério
Em nossa opinião, tal movimento regional, ainda não
dado o nível de ideologização que envolve a discus-
estudado com a seriedade devida por nós brasileiros,
são.
é o maior fenômeno de re-divisão inter-regional do
Para termos noção da grandeza deste projeto
Retornando, o caso do petróleo é um pou-
trabalho de nossos tempos, algo somente compará-
co diferente (desde 1993 a China é importadora
vel com o que ocorreu no território soviético entre
e atualmente 50% do petróleo utilizado no país é
1928 e meados da década de 1960. E uma verdadeira
importado), pois o nível de desenvolvimento das
demonstração da capacidade dos dirigentes chineses
forças produtivas e reservas cambiais alcançado
em enfrentar seus reais problemas, muito diferente
pela China já lhe permite um nível de planejamento
do que verificamos no Brasil (do “combate à inflação”
de comércio exterior que a habilite a trocar serviços
e da “estabilização monetária” à custa de um caos so-
por petróleo com a periferia do sistema (África,
cial sem limites). É nesta política de complementaridade regio-
por exemplo). 22
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JABBOUR, E. M. K.
nal que a China aposta nas próximas décadas, pois o litoral rico do ponto de vista financeiro e tecnológico é débil sob o prisma de recursos energéticos, enquanto que o oeste do país é o simplesmente o oposto, pois concentra 74% das existentes e potenciais fontes energéticas. Por exemplo, o centro-oeste da China – local onde está sendo construída a usina de Três Gargantas – detém o segundo maior potencial hidrelétrico do mundo, porém sua utilização não passa dos 20%. Ainda, no campo da “energia limpa”, a aplicação desta política de integração e complementaridade regional ganhou força, com descobertas de grandes reservas de gás natural no extremo-oeste do país (Xinjiang), com capacidade de garantir o abastecimento integral de uma cidade do porte de Xangai por, pelo menos, 20 anos. Sob o ponto de vista estrito da questão energética, tal política vai ao encontro de uma resposta ao nó-de-estrangulamento que se constituiu tal área em fins da década de 1990 e começo da atual, tendo expressão nos constantes “apagões” a que estavam submetidas cidades-pólo como Xangai e Shenzen. Tais “apagões” transformaram-se em fato que alimentou inúmeras discussões acerca dos próprios limites do crescimento chinês, afinal, não é nada desprezível o fato comprovado de que a China, apesar de necessitar – para um desenvolvimento equilibrado – de 1.000 kw per capita, contava em 2002 somente com 300 kw per capita instalados, número que evoluiu em 2005, dado o grande esforço empreendido no período, para 420 kw per capita (JABBOUR , 2006). Por fim uma necessária visão de conjunto, partindo da constatação de que dos 30 milhões de chineses que ainda vivem abaixo da linha da pobreza, cerca de 80% são de minorias étnicas, cujos “lares”, em mais de 70%, estão concentrados no oeste do país. Os investimentos em energia no interior do país são parte de um todo que abriga uma necessária política de que privilegie o desenvolvimento social dessas minorias5 em tempos de contestação internacional da soberania chinesa sobre regiões como o Tibet e o Xinjiang (Turquestão chinês)6.
A transferência de energia oeste-leste (energia hidrelétrica)
5
que por sua vez tem deixado sua marca no montante
A China é um país multinacional composto por 56 nacionalidades diferentes. 6 Porém poucos se dão conta de que as províncias que crescem de forma mais rápida na China são justamente o Tibet e o Xinjiang, sobretudo após 1999, com o lançamento do “Programa de Desenvolvimento do Oeste”.
Lançado em 2001, o projeto de transferência
de energia do oeste ao leste da China comporta basicamente a exploração e a difusão de dois tipos de energia limpa, a fonte hidrelétrica e o gás natural.
Acerca da transferência em si, podemos ilus-
trar quatro benefícios imediatos proporcionados pelo projeto: 1. Obtenção de resultados econômicos imediatos: As vantagens em recursos energéticos do oeste da China têm sido transformadas em vantagens econômicas, como por exemplo, a partir da concorrência entre empresas estatais e mista entre si em busca de novos campos de investimento e acumulação; 2. Aumento de renda tributária local: é auxílio decisivo ao crescimento econômico do oeste chinês, resultando em âmbito nacional na lenta diminuição das diferenças leste-oeste do país e na relação dialética entre interdependência x suavização da divisão social do trabalho e suas implicações; 3. Reestruturação energética: cumpre papel na maximização da relação entre utilização dos recursos energéticos nacionais e reajustamento de sua estrutura; 4. Promoção de proteção ao meio ambiente: tem reduzido a emissão de gases tóxicos emitidos pela queima do carvão, além disso tem se destacado, desde seu lançamento, as perdas ocasionadas pelas constantes enchentes nos cursos inferiores dos rios, por exemplo o rio Yangtsé. Exemplo de operação de complementaridade bem sucedida com a utilização de energia hidrelétrica (50% mais barata que a produzida por carvão e petróleo), está na relação entre a província litorânea Guangdong (a mais rica da China) e Guangxi (interiorana, uma das mais pobres da China). Guangdong, que tem 70% de sua energia proveniente do carvão, de mais de US$ 10 bilhões em prejuízos, somente no ano de 2005, em razão da chuva ácida. A complementaridade econômica, acrescido de formas alternativas Revista da ANPG, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 16 - 26, segundo sem. 2009
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Estratégia de desenvolvimento, questão energética e a formação de uma economia continental na China
à substituição de carvão como fonte primária de ener-
te a necessidade da obra era levantada. Mas, somente
gia, nesse caso, pode ser auferido na seguinte relação:
após 1978 é que a execução da obra foi levada adian-
a Usina hidrelétrica de Longtan, situada na Região Au-
te.
tônoma de Guangxi (uma das províncias mais pobres
da China), desde 2005 passou a gerar energia limpa
ca de 1.200.000 pessoas e por danos ao meio-am-
e barata para Guangdong, que por sua vez reduziu
biente somente reparáveis nos próximos 100 anos,
pela metade os gastos em compra de energia. Já a
todavia, será responsável pela substituição de cerca
citada Região Autônoma, desde então tem acumulado
energética de cerca de 50.000 toneladas de carvão
lucros da casa de US$ 2 bilhões gerados pela venda
por ano. O mais simbólico, sob nosso ponto de vista,
de energia elétrica em Longtan. Seu PIB que em 2001
é expressão de uma vitória política chinesa, mais que
era de US$ 120 milhões, em 2010 chegará à US$ 400
isso: demonstração de independência e soberania.
milhões (JABBOUR , 2006).
A transferência de energia oeste-leste (o caso de Três Gargantas) (JABBOUR , 2006)
A obra é responsável pela realocação de cer-
A um ano do término da obra, muitos impac-
tos já podem ser sentidos, conforme registraremos a seguir.
A energia gerada pela hidrelétrica iluminará
as províncias, regiões autônomas e municipalidades
Falar, mesmo que de uma forma mais super-
num raio de mil quilômetros. A cidade de Xangai,
ficial, das conseqüências de variada monta de investi-
desde agosto de 2003, passou a beneficiar-se da ener-
mentos em infra-estruturas energéticas na China sem
gia gerada pela obra. Muitos chineses mais eufóricos
ao menos citar a importância da Usina Hidrelétrica de
chegam a dizer que Três Gargantas iluminará metade
Três Gargantas, seria algo minimante temeroso ante
da China, tamanha a área geográfica beneficiada.
as polêmicas que envolvem este empreendimento.
Obra iniciada em 1993, com término previsto para
uma das “centenárias” motivações da obra. Os pe-
2009, esta “mega-usina” de US$ 25 bilhões – ao seu
ritos prevêem que o mecanismo de controle de en-
término – terá o título de maior usina hidrelétrica do
chentes terá à disposição, em anos normais, cerca de
mundo.
US$ 300 milhões e impedirá perdas da ordem de US$
Outro aspecto é o controle das inundações,
Sua concepção remonta aos estertores da
2 bilhões anuais. A situação tende a melhorar ainda
república chinesa fundada em 1911, como um meio
mais com a construção de outra represa no turbu-
ao controle de enchentes provocadas nos cursos su-
lento rio Jinshajiang, um dos tributários principais do
periores do rio Yangtsé ao longo de mais de milênios,
curso superior do rio Yang-tsé, além da conclusão de
desde a dinastia Han (206 a.C. a 220 d.C.). A última
múltiplos projetos de reflorestamento e tratamento
delas, ocorrida em 1998, morreram 1.562 pessoas e
florestal do solo.
uma população de 2,6 milhões foi afetada. Assim, não
se pode compreender o empreendimento somente
de mercadorias pelo rio Yang-tsé era demasiadamen-
pelos olhos da necessidade de energia. Sob este pris-
te baixo e perigoso. Devido a grandes rochas ao longo
ma, em 1919, Sun Yat-sen, precursor da China mo-
do rio, somente navios de até 1.500 toneladas conse-
derna, em artigo publicado na revista Vida do Povo,
guiam passar pelo seu curso superior. Com a altura da
lançou a idéia de construir uma represa artificial em
represa chegando a 135 metros, a profundidade da
Três Gargantas. Já então ele citava três objetivos es-
água de Três Gargantas aumenta até 60 metros, me-
senciais: 1) o controle das constantes cheias do rio; 2)
lhorando o fluxo e diminuindo a velocidade da água
a utilização de potencial hidrelétrico e 3) a melhoria do
em até 70%, favorecendo a navegação, baixando os
comércio interno com a otimização da navegação.
custos do transporte em até 35%, com maior segu-
A idéia só veio a ser planejada de fato com a
rança. Após o término da obra, em 2009, navios de
fundação da República Popular, em 1949. Ciclicamen-
até 100 mil toneladas terão acesso a este “canal de
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Há também a navegação fluvial. O transporte
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JABBOUR, E. M. K.
ouro” com extensão leste-oeste de 660 km. Já nos
conjunto destas obras credenciará o curso superior
períodos de estiagem, o imenso caudal de Três Gar-
do rio Yang-tsé ao título de “maior fonte energética
gantas servirá como regulador do rio, em todo o cur-
do mundo” com linhas transmissoras de alta densida-
so abaixo de Yichan. Os atuais 3000 metros cúbicos
de (JABBOUR , 2003).
de vazão aumentarão (por abertura das comportas)
para 5.200 metros cúbicos, resolvendo as dificulda-
to por este gigantesco empreendimento. Da mesma
des da navegação em temporadas de estiagem.
maneira, o gasoduto oeste-leste de 4.221 km. inau-
O fluxo navegatório, com a canalização in-
gurado em 2006, responsável de transportar gás na-
tegral do rio Yang-tsé, aumentará de 10 milhões de
tural de bacias do extremo-oeste do país até Xangai
toneladas anuais, verificadas em 2003, para mais de
e assim por diante. É no mínimo suficiente afirmar a
50 milhões em 2009. O “canal de ouro” cumprirá
relação entre desenvolvimento de formas limpas e
papel-chave na transformação da geografia econômi-
baratas de captação de energia com políticas de inte-
ca da China e facilitará a transformação dos recursos
gração regional.
Enfim, um amplo esquadro de análise é aber-
naturais do oeste da China em superioridade econômica. Além de reestruturação produtiva e o benefício
E a China é um largo exemplo neste sentido.
direto de várias províncias, regiões autônomas e mu-
CONCLUSÃO
nicipalidades, o projeto de Três Gargantas trará impulso econômico ao turismo e à indústria pesqueira em torno da represa.
Um exemplo concreto e específico ilustra
mento com expressão candente num imenso terri-
como o impulso regional se traduz em vantagens: a ci-
tório continental capaz de interligar o desatamento
dade de Yichang, província de Hebei. A construção da
de pontos-de-estrangulamento na cadeia com uma
obra de Três Gargantas acelerou o desenvolvimento
ofensiva contra as desigualdades regionais de um país,
de Yichang, promovendo o aumento das receitas fis-
fica sempre uma sensação de quão na retaguarda está
cais, otimizando a estrutura econômica e incremen-
ficando nosso país em matéria de desenvolvimento e,
tando a infra-estrutura em sua área de abrangência.
conseqüentemente de planejamento.
Entre 1994 e 2001, Três Gargantas proporcionou Yi-
chang a arrecadação de US$ 175 milhões em impos-
mento e desenvolvimento; neste caso a ordem dos
tos, carreou para a cidade cerca de US$ 300 milhões
fatores não altera o produto. Ambas palavras presen-
em forma de investimentos estrangeiros diretos e
tes em nosso passado recente: épocas em que nos
atraiu uma quantidade razoável de empresas.
tornamos a 8° economia do mundo, completamos
Para cada quatro unidades geradoras postas
nossa industrialização com a implantação de um mo-
em funcionamento, cerca de US$ 8 bilhões anuais
derno Departamento 1 da economia (indústria mecâ-
serão acrescidos aos cofres. A idéia fixa do governo
nica pesada) durante o governo Geisel, viabilizamos
central é que até 2009, todo o montante investido te-
estatais como a Petrobrás e centros de excelência
nha retorno financeiro — o que tornará a obra auto-
como a Embrapa. Tempos em que uma obra da mon-
financiada.
ta da Usina de Itaipu nos proveu de tecnologia e tra-
Continuando a política de transferência de
balhadores altissimamente qualificados que, inclusive
energia do oeste para o leste, já a partir de 2005, em
exportamos a países como a China. Atualmente, por
grande parte graças aos frutos do projeto de Três
incrível que pareça, a execução de grandes obras em
Gargantas, teve início a construção de outros quatro
energia hidrelétrica dependem, no Brasil, de importa-
projetos hidrelétricos: Wudongde, Baihetan, Xiluodu
ção de geradores da China.
e Xiangjiaba, com capacidade de geração energética
de 38,5 bilhões de kw, o dobro de Três Gargantas. O
uma discussão séria sobre matrizes energéticas não
Após expor uma estratégia de desenvolvi-
Desenvolvimento e planejamento, planeja-
Posta as coisas nesta ordem, opinamos que Revista da ANPG, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 16 - 26, segundo sem. 2009
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Estratégia de desenvolvimento, questão energética e a formação de uma economia continental na China
pode ser algo que se finde por si só. É inconseqüente se não for tratada como parte de um devido conjunto chamado projeto nacional de desenvolvimento. Daí a ênfase dada – no texto – à estratégia de desenvolvimento chinesa e ao real tamanho de suas políticas de integração, em casamento com projetos em energia hidrelétrica, nos marcos de uma política pautada em objetivos que variam desde os planos qüinqüenais até a marca do ano de 2049, centenário de fundação da República Popular e ano marco do término da primeira etapa da dita modernização socialista.
Tendo em mente que a batalha pela retoma-
Núcleo de Estudos Asiáticos do Depto. de Geociências do CFHUFSC, Florianópolis, Edição Piloto, p. 15-35. Junho/ 2007. OLIVEIRA, A. P. de. A dimensão territorial do reformismo chinês. Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, n° 125, p. 23-34, abr-jun/1996. ____________. O salto qualitativo de uma economia continental. Política Externa, São Paulo, V. 2, n° 4, mar-abr-mai/2003. SILVA, L. Acioly da. Brasil, Índia e China: o investimento direto externo nos anos noventa.2004. Tese (Doutorado em Economia). Universidade Estadual de Campinas, São Paulo. SING, A. The Plan, The Market and Evolutionary Economic Reform in China. Unctad Discution Papers, New York, n° 76. p. 1537, nov./1999.
da de um projeto nacional de fôlego ainda está a ser ganha, fica um apelo à centralidade desta questão. Tudo isso objetivando que não nos contentemos a ser uma “Arábia Saudita verde”, muito pelo contrário.
Que as oportunidades abertas neste início de
século no setor energético ao Brasil, seja uma oportunidade de ouro para aprofundarmos nosso processo de industrialização, geração de renda e não pretexto à uma radicalização da divisão internacional do trabalho.
Como tem ocorrido com a China, que as ja-
nelas abertas ao desenvolvimento de matrizes energéticas novas, transformem-se em oportunidades para afirmação continuada de nossas pretensões à unidade, à soberania e ao planejamento.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CASTELLS, Manuel, Fim de Milênio, vol. 3. São Paulo: Paz e Terra.1999. JABBOUR, E. Três Gargantas e a “dialética da natureza”. Disponível em: http://www.vermelho.org.br/diario/2003/0622/0622_3_ gargantas.asp. Acesso em 22/06/2003. ____________. Considerações gerais sobre o marxismo e a Ásia. Princípios, São Paulo, n° 82, p. 25-30, jun-jul/2005. ____________. A modernização da China e a guerra comercial com os Estados Unidos. In, JABBOUR: China: infra-estruturas e crescimento econômico. São Paulo: Anita Garibaldi, 2006. KOJIMA, R. Breakdown of China`s Policy of Restricting Population Movement. The Development Economies, Oxford, V. 34, n° 4, p. 12-28, dec./1996. MAMIGONIAN, Armen. As origens sociais e naturais do povo chinês. Revista de Geografia Econômica. Dossiê Ásia-China 1:
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As estratégias operacionais e improvisações usadas para cortar a cana-de-açúcar manualmente The operational strategies and improvisations used to cut sugar cane manually Las estrategias operacionales y las improvisaciones utiliza para cortar la caña de azúcar de forma manual
1
Maria Cristina Gonzaga Mestre em Engenharia Agrícola pela Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP, Tecnologista sênior III da Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho - FUNDACENTRO.
RESUMO
O trabalho do corte manual da cana-de-açúcar é uma ativi-
dade penosa que exaure os trabalhadores, provocando dor, medo, insegurança, doenças e sofrimento. Os trabalhadores desenvolvem inúmeras estratégias para suportar as condições de trabalho adversas. Normalmente eles utilizam improvisações que buscam minimizar os efeitos oriundos de normas rígidas de produção e de ferramentas e equipamentos de proteção individual (EPI) inadequados. É rotina que as ferramentas de trabalho sejam modificadas para possibilitar o seu uso com os EPIs ou mesmo para torná-las mais confortáveis. O corte deve ser feito seguindo prescrições definidas pelas empresas inseridas nos procedimentos da IS0 9002. Os trabalhadores criam táticas visando minimizar o desgaste físico imposto por rotinas operacionais rígidas. O trabalho real executado e os trabalhadores são desconsiderados por normas de produção e de certificação de EPI. Palavras chave: cana-de-açúcar; trabalho; improvisações.
ABSTRACT
The manual cut of sugar cane is a hard activity that exhausts
the workers, inducing pain, fear, lack of safety, illnesses and suffering. The workers develop innumerable strategies to deal with the adverse work conditions. They build up improvisations to minimize the effects of rigid productive norms, inadequate tools and personal protective equipment (PPE). It is a routine that the work tools are modified to facilitate their use with personal protective equipment (PPE) or to make them more comfortable. The cut must follow rules defined by the companies and inserted in the procedures of 1
Maria Cristina Gonzaga Mestre em Engenharia Agrícola pela Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP. Correspondência: Rua Capote Valente n° 710, Pinheiros, – São Paulo/SP - Brasil - CEP: 05409-002. Endereço eletrônico: gonzaga@fundacentro.gov.br
ISO 9002, so workers create tactics to minimize the physical consuming consequences of rigid operational routines. The executed real work is not considered in the prescription of productive norms and PPE certification. Keywords: sugar cane; work; improvisation. Revista da ANPG, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 27 - 34, segundo sem. 2009
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As estratégias operacionais e improvisações usadas para cortar a cana-de-açúcar manualmente
RESUMEN
La labor del corte manual de caña de azúcar es una actividad dolorosa que agota los trabajadores,
causando dolor, miedo, inseguridad, enfermedad y sufrimiento. Los trabajadores desarrollan numerosas estrategias para resistir a las condiciones adversas de trabajo. En general, utilizan las improvisaciones que buscan minimizar los efectos de las estrictas normas de producción y de las herramientas y equipos de protección personal (EPP) inadecuados. Es rutina que herramientas de trabajo sean modificadas para permitir su uso con los EPPs o incluso a hacerlos más cómodos. El corte debe hacerse siguiendo los requisitos establecidos por las empresas incluidas en los procedimientos de IS0 9002. Los trabajadores crean tácticas para reducir al mínimo el estrés físico impuesto por estrictas rutinas de operacionales. El trabajo real ejecutado y los trabajadores no son considerados por las normas de producción y certificación de los EPI. Palabras-claves: caña de azúcar; trabajo; improvisaciones.
INTRODUÇÃO A atividade do corte manual da cana é executada no Estado de São Paulo por milhares de pesso-
mas de fabricação destes equipamentos de proteção desconsideram os usuários e a atividade a ser exercida com os mesmos, muitas vezes dificultando o exercício do trabalho.
as vindas de várias regiões do Brasil onde não existe
Os trabalhadores são lesionados com o uso dos
oferta de trabalho. Esta atividade vem sendo tema de
EPIs, o que provoca dor e sofrimento, principalmen-
discussões em Audiências Públicas, na imprensa na-
te, pelo fato de que a manutenção do emprego estar
cional e internacional, em função do crescimento do
condicionada ao uso destes equipamentos.
setor que produz o etanol e das condições de traba-
O Governo do Estado de São Paulo e a União
lho daqueles que movem o setor: os cortadores de
da Agroindústria Canavieira assinaram um protoco-
cana.
lo para consolidar o desenvolvimento sustentável da Esses trabalhadores são homens e mulheres
indústria da cana no Estado de São Paulo; esse pro-
que entram nos canaviais, muitas vezes desnutridos
tocolo prevê a eliminação da queimada até 2017,
e doentes, supondo que terão uma qualidade de vida
conseqüentemente, a mecanização do corte será im-
melhor do que aquela de seu local de origem.
plementada e o desemprego dos cortadores tornar-
A minha experiência durante vários anos de
se-á uma realidade.
pesquisa junto a essa categoria em uma agroindústria
Entretanto, mesmo com a diminuição da mão
canavieira do Estado de São Paulo, permitiu reconhe-
de obra que executa o corte manual da cana, valori-
cer “in loco” algumas habilidades dos trabalhadores
zar o saber dos cortadores que moveram e movem
para enfrentar um trabalho exaustivo como é o corte
a produção do álcool e açúcar no Brasil é extrema-
manual da cana.
mente importante. Em função disto, as estratégias
A tarefa a ser cumprida pelos cortadores de
operacionais que buscam minimizar a carga laboral e
cana é definida pela empresa através de procedimen-
os efeitos das prescrições impostas por normas de
tos que, atualmente, estão inseridos no Sistema de
produção rígidas serão apresentadas neste artigo.
Gestão de Qualidade Total (ISO 9002). Esses procedimentos geram rotinas operacionais rígidas que desconsideram o trabalho real, impondo situações que prejudicam a execução do trabalho e, muitas vezes, aumentam a carga laboral.
OBJETIVO Entender e descrever as estratégias operacionais e as improvisações desenvolvidas pelos cortado-
O arsenal de Equipamentos de Proteção Indi-
res de cana diante da inadequação de EPIs e das fer-
vidual (EPI) utilizados para proteger os trabalhadores
ramentas de trabalho e, também, frente à rigidez das
produz situações de risco e insegurança, pois as nor-
normas de produção.
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GONZAGA, M. C.
METODOLOGIA
O espaçamento entre as linhas, formando as ruas,
No período de 1996 a 2007, participei de vários estudos sobre o trabalho dos canavieiros, normalmente atendendo às demandas formuladas pela Federação dos Trabalhadores Rurais Assalariados do Estado de São Paulo (FERAESP). Entre os anos de 2001 a 2004 tive a oportunidade de entrar em uma grande agroindústria canavieira no Estado de São Paulo, onde pude observar “in loco” problemas e soluções para o uso dos EPIs no corte manual da cana. Durante duas safras foram acompanhados dois grupos de trabalhadores, junto aos quais foram aplicadas entrevistas semi estruturadas e questionários e feitas observações a campo. Na safra de 2001, o grupo era formado por 35 trabalhadores; durante a safra de 2002, por 47 trabalhadores. Documentos da agroindústria analisada foram avaliados, principalmente aqueles que definiam o trabalho dos cortadores. A criatividade dos trabalhadores, junto ao cabo do facão, para conseguir utilizar a luva de proteção em raspa de couro, direcionou as ações executas durante o ano de 2003, quando foram analisados quatro tipos de luvas pelos trabalhadores e também foram feitos ensaios para analisar a aderência entre as luvas de proteção e a madeira do facão: limpa ou emborrachada. Neste período, também foram analisados os procedimentos da ISO 9002 que definem o trabalho do corte manual da cana de açúcar. Posteriormente a esse período, visitas a campo foram feitas, normalmente acompanhando os Procuradores da Justiça do Trabalho, onde foi possível verificar em campo problemas e soluções propostas pelos cortadores.
a variedade de cana, etc, mas, em geral, mantém-se
RESULTADOS
varia conforme a topografia, a área, o tipo de solo, uniforme em cada talhão. Estas linhas são agrupadas formando os eitos. Em geral, os eitos são compostos por cinco linhas de cana. A extensão de cada eito também varia. O corte manual da cana-de-açúcar é composto basicamente de quatro tarefas. Com um facão afiado, o cortador deve: 1. cortar a cana; 2. despontar a cana; 3. limpar o eito; 4. organizar a cana cortada na 3ª rua do eito. A direção da empresa chama as tarefas de procedimentos e assim os define: a) o trabalhador deve se colocar de frente para o eito; b) o corte de base deve ser rente ao solo, não deixando toco nem soqueira (emaranhado de raízes do que sobrou do corte da cana, por se tratar da parte mais rica da cana); c) o corte das pontas deve ser feito no último gomo, não deixando que venha palmito (broto terminal do caule da cana) e nem cana junto com o ponteiro que deve ser separado da cana cortada; d) o desponte poderá ser feito na mão, ou no chão; na segunda hipótese deverá ser despontado no momento em que o feixe for jogado no chão, não havendo necessidade de pé e ponta ficarem no mesmo lado, ou seja, podem estar opostas; e) a leira (restos vegetais dispostos em linha no terreno) deve ser feita de maneira que fique centralizada em relação às cinco ruas, isto é, na terceira rua do eito; f) a leira deve ficar limpa em todo o seu compri-
Improvisações para cumprir a tarefa do cortador de cana
mento, livre de palhas no mínimo 50 cm de cada
Um canavial é dividido em talhões e cada ta-
Alguns procedimentos são questionados pelos
lhão é composto por várias linhas de canas plantadas,
cortadores. Em função disto, eles criam modos ope-
paralelas entre si. Talhão é, portanto, a designação
ratórios próprios para facilitar o trabalho.
dada a uma área cultivada; não tem uma medida específica e tanto pode medir dois como vinte hectares.
lado.
O procedimento “a” fixa a forma de entrar no eito da cana: colocar-se de frente para o eito. Revista da ANPG, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 27 - 34, segundo sem. 2009
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As estratégias operacionais e improvisações usadas para cortar a cana-de-açúcar manualmente
Os trabalhadores preferem ter liberdade para
fas de água. Os trabalhadores trazem a água congela-
entrar no eito da cana, pois a postura a ser adotada
da em uma garrafa que pesa cerca de dois quilos e vão
depende da condição que a cana se apresente (em
quebrando o gelo durante o dia para ter água mais
pé, deitada, enrolada, ou enraizada) e do local a ser
fresca para beber, pois a água fornecida pela empresa
trabalhado, que pode ser no meio ou na beirada do
esquenta. A fala de um trabalhador enfatiza o seguin-
eito, em terreno plano ou em curva de nível.
te: a minha mochila deve pesar uns cinco ou seis quilos,
Alguns relatos feitos pelos cortadores indicam
fora o garrafão de água.
que a entrada lateral é melhor para executar o corte da
O gancho de madeira (figura 2) é um instru-
cana, pois aumenta a produtividade e evita que o facão
mento que também facilita organizar a cana cortada
atinja diretamente o joelho e a perna, porque o golpe do
na 3ª rua do eito. Eles puxam a cana já cortada com o
facão é lateral ao corpo.
gancho apresentado na figura abaixo.
O Procedimento “d” define que o desponte da cana deve ser feito no chão, no momento em que o feixe da cana for cortado. Quando a cana está em pé, os trabalhadores fazem esta ação de outra forma, denominada no Estado de São Paulo, de “corte em canudo” - corredores de três ruas (figura 1): eles cortam 100 metros de cana de três ruas, organizando as canas cortadas em leiras na 3ª rua do eito e somente
Figura 2. Gancho de madeira para manusear a cana cortada
no retorno fazem o desponte no chão. Para as outras duas ruas do eito o procedimento é o mesmo.
O gancho acima permite que o trabalhador se esforce menos, pois evita que o trabalhador faça a organização da cana apenas com os braços, ajudando na organização da cana da rua cortada ao meio do eito. Aqueles que não utilizam o gancho são obrigados a abraçar a cana para carregá-la e organizá-la. Para proteger o braço que abraça e carrega a cana, principalmente na cana crua, onde o joça (pequenos pêlos da folha da cana) provoca muita coceira, o man-
Figura 1 - Corte do eito em “canudo”
Com esta estratégia, questões relativas ao desgaste físico do trabalhador estão sendo contempladas, pois no corte em canudo as vantagens são as seguintes: o trabalhador anda menos, transporta o peso de
gote é o artifício utilizado. Os trabalhadores fazem o mangote com tecido de algodão derivado de uma perna de calça usada; o tecido em algodão é usado para facilitar a transpiração.
sua mochila em distâncias menores e a organização da cana cortada na 3ª rua é facilitada, já que o item “e” do procedimento acima é cumprido. Wisner (2004) salienta que em situações onde existam dificuldades operacionais, os trabalhadores adotam estratégias operacionais que resultam em soluções
Figura 3 - Mangote em Nylon com proteção no tronco
felizes para dificuldades desconhecidas dos organizadores do trabalho.
As empresas fornecem mangote com proteção
Na mochila, o cortador de cana carrega desde
do tronco (figura acima) que, segundo os trabalhado-
roupas, ferramentas, porta lima, marmita, até garra-
res, não é confortável, pois dificulta os movimentos
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GONZAGA, M. C.
necessários para o corte de cana e esquenta muito. O
No campo de normalização de equipamentos
uso apenas como protetor do braço dá ao trabalha-
de proteção individual, compreendendo vestimentas
dor mobilidade e facilita seu trabalho.
e equipamentos individuais destinados à proteção de
O relato de uma trabalhadora exemplifica os
pessoas contra riscos, tais como: proteção respirató-
problemas do mangote em nylon: não gosto de tra-
ria, proteção auditiva, capacete de segurança, luvas
balhar com o mangote sujo, pois além de esquentar ele
de segurança, óculos de segurança e cinturões de se-
endurece com a sacarose e a cinza na cana queimada,
gurança, no que concerne à terminologia, requisitos,
principalmente quando abraço a cana para cortar e car-
métodos de ensaio e generalidades é de responsabili-
regar até a 3ª rua do eito, por isto uso o mangote de
dade do Comitê Brasileiro 32 da ABNT.
perna de calça. Os resultados encontrados remetem a Dejours (2008, p. 36): trabalhar é administrar os imprevistos, prevenir os acidentes, as disfunções, as panes, os acidentes etc.
A normalização dos equipamentos de proteção individual
Os resultados dos ensaios exigidos pelas Normas da ABNT são encaminhados para o Ministério do Trabalho e Emprego para que seja emitido o CA. A exigência compulsória dos EPIs é feita atualmente pela Norma Regulamentadora de Segurança e Saúde no Trabalho, na Agricultura, na Pecuária, na Silvicultura, na Exploração Florestal e na Aqüicultura – NR 31 (Ministério do Trabalho e Emprego, 2005), o
A Lei nº 6.514, de 22 de dezembro de 1977, al-
item 31.20.1.2 define que o empregador deve exigir
tera o capítulo V do Título II da Consolidação das Leis
que os trabalhadores utilizem os EPIs e o item 31.3.4
do Trabalho (CLT), relativo à Segurança e Medicina
define as obrigações dos trabalhadores cabe ao tra-
do Trabalho. A seção IV desta lei determina, no artigo
balhador: adotar as medidas de proteção determinadas
166, a obrigatoriedade do fornecimento gratuito dos
pelo empregador, em conformidade com esta Norma
EPIs e a adequação ao risco, sempre que as medi-
Regulamentadora, sob pena de constituir ato faltoso a
das de ordem geral não ofereçam completa proteção
recusa injustificada.
contra os riscos de acidentes e danos à saúde dos em-
A agroindústria avaliada em 2001 tinha um co-
pregados. O artigo 167 define que o equipamento só
municado demonstrando que o não uso do equipa-
pode ser posto à venda ou utilizado com a indicação
mento de proteção individual pode provocar a demis-
do Certificado de Aprovação (CA) do Ministério do
são por justa causa:
Trabalho. A Norma Regulamentadora nº 6 define as obrigações do fabricante ou importador relacionadas ao CA. É exigido o memorial descritivo do EPI, incluindo as características técnicas, o material empregado e a cópia autenticada do relatório de ensaios, emitido por laboratórios credenciados ao Ministério do Trabalho e Emprego2. Os CAs devem ser renovados a
(...)a empresa preocupada com a integridade física de seus trabalhadores vem através deste informar que todos deverão usar seus equipamentos de proteção individual, reduzindo desta maneira a exposição aos riscos de acidentes. Lembramos que o não cumprimento desta norma de segurança acarretará em: 1. advertência verbal; 2. advertência escrita; 3. suspensão por um dia; 4. suspensão por três dias; 5. desligamento por justa causa.
cada dois anos, e também podem ser cancelados se
Improvisações no facão e na luva de proteção das pela Associação Brasileira de Normas Técnicas em raspa de couro for comprovado que as normas de fabricação defininão forem cumpridas. 2 Os laboratórios credenciados pelo Ministério do Trabalho e Emprego (2008), para
executar os ensaios exigidos pelas normas da ABNT para os EPIs usados no corte manual da cana são: Laboratório de Controle de Qualidade, Centro de Tecnologia de Couro e do Calçado Albano franco - SENAI/PB; Laboratório de Controle de Qualidade, Centro Tecnológico de Calçado – SENAI/RS; CIENTEC – Fundação de Ciência e Tecnologia/RS, Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho – FUNDACENTRO/SP; CTCCA – Centro Tecnológico do Couro, Calçado e afins/ RS, Instituto de Pesquisa Tecnológica (IPT) de Franca /SP.
Os cortadores devem executar seu trabalho usando os seguintes EPIs: luva de proteção em raspa de couro, óculos de proteção, sapato de segurança, perneira e mangote. Os EPIs geram inúmeros problemas na execuRevista da ANPG, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 27 - 34, segundo sem. 2009
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As estratégias operacionais e improvisações usadas para cortar a cana-de-açúcar manualmente
ção do corte manual da cana: óculos de proteção que dificultam a visão, perneiras de proteção que lesionam os joelhos; entretanto, neste artigo iremos enfatizar o EPI e a ferramenta nos quais as improvisações se fizeram mais presentes. O facão é o instrumento de trabalho utilizado para cortar a cana de açúcar. Os trabalhadores desenvolvem mecanismos para viabilizar o seu uso: o cabo é afinado em dois centímetros pelas mulheres para conseguir segurar com maior firmeza e os nós do cabo do facão também são retirados, pois machucam as mãos. O formato da lâmina do facão em ângulo reto também motiva mudanças: arredondar o formato da lâmina para evitar que a mesma penetre no solo com facilidade e dificulte o trabalho. O emborrachamento do cabo do facão, para conseguir utilizar as luvas de proteção em raspa de couro na mão em que segura o facão, foi a estratégia usada para minimizar o efeito da baixa aderência entre o cabo e a luva de raspa, o que gerava insegurança para os trabalhadores, já que com a luva de proteção em raspa de couro o facão pode escapar da mão. Ferreira et al. (1998, p. 32) apresentam um relato que comprova o fato de que o facão escapa da mão com o uso da luva de raspa de couro: tem muita gente que não acostuma com a luva, porque com a luva a gente tem que dar um golpe mais duro. Eu mesmo só uso a luva na mão que pego a cana. Porque na outra eu não consigo pegar o podão com a luva, o podão escapa. A luva de segurança pode dificultar o manuseio seguro, interferindo na habilidade da manipulação e contribuindo para o aparecimento de problemas ósteomusculares (FREIVALDS E TSAOUSIDIS, 1997; MURALIDHAR, 1999 et al). Em 2003, foram testados quatro tipos de luvas de proteção: raspa de couro e metal, kevlar, algodão e borracha e raspa de couro e nylon. A luva escolhida pelo grupo de trabalhadores acompanhado em 2003 foi a raspa de couro e nylon, que não era a mais aderente ao cabo do facão, mas que permitia aos trabalhadores se utilizarem da sua estratégia “emborrachamento” do cabo de facão, que se mostrou muito efetiva. Gonzaga (2004) demonstrou que o emborrachamento da madeira interferiu de forma significativa na aderência com as luvas novas ou usadas. A Organização Internacional do Trabalho - OIT 32
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(2001) também destaca que quando as ferramentas escapam das mãos, por escorregar ou serem portadas com falta de firmeza, elas podem causar lesões. Para prevenir que as luvas deslizem ou escapem é preciso aperfeiçoar as ferramentas. Segundo os trabalhadores, outros fatores, que não são passíveis de improvisação, foram considerados na escolha da melhor luva de proteção, por exemplo: o dimensionamento das costuras internas das luvas, a maciez do material com que as mesmas são fabricadas e o tamanho, embora, para minimizar o efeito do tamanho inadequado, as trabalhadoras sobrepõem luvas para ajustá-las. Os trabalhadores afirmam que: se o cabo do facão fosse mais comprido eles não precisariam abaixar tanto para cortar a cana no chão; esta é a exigência b da tarefa do cortador, onde está estabelecido o seguinte: o corte de base deve ser rente ao solo, não deixando toco nem soqueira, por se tratar da parte mais rica da cana. Para este problema, nenhuma estratégia foi observada.
Improvisações para o porta lima O porta lima ou protetor de lima é o instrumento usado para proteger a mão no procedimento da afiação da lâmina do facão. Foram avaliados dois tipos de porta lima: em plástico e em metal. No porta lima em plástico existe uma ponteira articulada para que a lima não se solte. Esse instrumento de trabalho exige adaptações para que o seu uso se torne mais seguro, visto que a lima fica solta neste protetor. A ponteira articulada na ponta do protetor que serve para virar ou trocar a lima atrapalha a própria utilização do instrumento, pois ela engancha na lâmina do facão dificultando a amolação e o encaixe da lima. A Figura 4 demonstra a porteira articulada do porta lima que dificulta a sua utilização.
Figura 4. Porta lima em plástico
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GONZAGA, M. C.
As estratégias observadas para viabilizar o uso deste protetor foram as seguintes:
derados o trabalhador e a atividade a ser executada. A luva usada na mão que segura o feixe de cana
• retirada da ponteira articulada da ponta do protetor;
a ser cortado e despontado deve proteger contra o
• encaixe de pano ou pedaço de madeira entre a
risco de corte e perfuração. A luva usada na mão que
lima e o protetor, de forma que a lima fique presa. O porta lima em metal também prejudica o tra-
segura o facão deve permitir uma boa aderência com
balho; os motivos apresentados pelos trabalhadores
regue e provoque acidentes, deve também permitir
foram os seguintes: ele estraga a lima rapidamente,
uma boa movimentação da mão para que não haja
porque o ferro do porta lima desgasta a lima na par-
ferimentos.
o cabo da ferramenta, de modo que ele não escor-
te interna, é muito grande, pesado e desengonçado,
As recomendações apresentadas acima já fo-
escorrega da mão com o suor, tem que fazer muita
ram implementadas pelo Ministério do Trabalho, visto
força para amolar o facão.
que, alguns CAS emitidos nos anos de 2006 e 2007
Houve relatos sobre a insegurança que o porta
diferenciam a luva da mão do facão da luva que pega a
lima em metal provoca nos trabalhadores, já que um
cana, por exemplo: o CA 17.820 tem a seguinte des-
trabalhador cortou a mão duas vezes ao utilizar este
crição:
protetor, o que gerou o relato de vários trabalhadores: prefiro ser punido por não usar o protetor, pois me sinto inseguro ao afiar o facão com ele. Os motivos esboçados para os dois modelos de porta lima avaliados justificam o fato de inúmeros cortadores improvisarem outros tipos de protetores, por exemplo: encaixam um cabo de vassoura em tubo de PVC onde se fixa a lima. É pratica entre os trabalhadores encapar a lima com papel ou com fita para protegê-la, evitando que
luva de segurança confeccionada em grafatex de poliéster na palma e face palmar dos dedos, dorso em material sintético com elástico para ajustes; mão direita (mão do facão) - palma e face palmar dos dedos com pigmentos em PVC antiderrapantes, polegar em grafatex de poliéster, punho de 7 cm em malha de poliéster, mão esquerda (mão da cana) dedos polegar e indicador em grafatex de poliéster com reforço em externo em grafatex de poliéster e fio de aço, punho de 15 cm em material sintético com elástico para ajustes (MTE, 2008).
ela enferruje com o suor das mãos. Outra prática ob-
O procedimento acima contempla o item
servada entre os cortadores é afiar o facão sem a luva
31.11.3 da NR31 (MTE, 2005) que descreve o se-
e o protetor de lima, justificando que desta forma se
guinte: “os cabos das ferramentas devem permitir
sentem mais seguros.
boa aderência em qualquer situação de manuseio, possuir formato que favoreça a adaptação à mão do
CONCLUSÃO
trabalhador”. Recomendamos também:
Os procedimentos da ISO 9002 devem con-
• que o facão deve ser fornecido com cabo com-
templar as mudanças sugeridas pelos trabalhadores:
patível ao tamanho das mãos dos trabalhadores;
permitir a entrada lateral no eito da cana e o corte
• que a ponteira articulada do porta lima em plás-
em “canudo”. Essa recomendação está sendo feita
tico deve ter um encaixe que prenda a lima com
para facilitar o cumprimento da tarefa do cortador de
segurança;
cana-de-açúcar.
• que não se forneça porta lima em metal;
Na emissão do Certificado de Aprovação para
• que o mangote fornecido seja em algodão para
os EPIs não é considerada a adequação à atividade re-
permitir a transpiração, com formato em que o
alizada e ao conforto dos trabalhadores, o que permi-
tronco fique livre, protegendo apenas o braço;
te que EPIs desconfortáveis e inadequados à atividade
• que sejam fornecidos mais de um mangote para
adquiram o CA e sejam comercializados legalmente.
permitir a lavagem dos mesmos.
Recomendamos que, na emissão do CA, sejam consiRevista da ANPG, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 27 - 34, segundo sem. 2009
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As estratégias operacionais e improvisações usadas para cortar a cana-de-açúcar manualmente
A criatividade, associada à habilidade dos trabalhadores de fato, transforma as condições de trabalho, tornando o corte manual da cana menos desgastante. Isto colabora com o cumprimento do item 31.10.1 da NR 31 (MTE, 2005) que determina “o empregador rural ou equiparado deve adotar princípios que visem à adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar melhorias de conforto e segurança no trabalho”.
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Produção de biodiesel no Brasil: existe sustentabilidade social e ambiental? Production of biodiesel in Brazil: is there social and environmental sustainability? Producción de biodiésel en Brasil: ¿existe la sostenabilidad social y ambiental?
1
Marlene de Paula Pereira Mestranda em Direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ
RESUMO
A produção nacional de biodiesel tem provocado discus-
sões de diversas ordens. Neste artigo será abordado o aspecto da sustentabilidade. Discute-se em que medida a produção do biocombustível ameaça a sustentabilidade social e ambiental, visto que o aspecto econômico não deve ser o único a ser analisado. Palavras-chave: biodiesel; meio ambiente; sustentabilidade
ABSTRACT
The domestic production of biodiesel has led to discussions
of various orders. In this article, the aspect of the sustainability will be addressed. It discusses the extent of the threat of the production of biofuel to the social and environmental sustainability, considering that the economic aspect is not the only one that has to be analyzed. Keywords: biodiesel; environment; sustainnability.
RESUMEN
La producción nacional del biodiésel há llevado a discus-
siones de órdenes diversas. En este artículo vamos a abordar el aspecto de la sostenibilidad. Se discute el grado en que la producción de de biocombustibiles amenaza la sostenabilidad social y am1
Marlene de Paula Pereira Correspondência: Av. Santo Antonio, 115/404, Viçosa - MG- Brasil - CEP 36570-000. Endereço eletrônico: depaulamarlene@yahoo.com.br
biental, puesto que el aspecto económico no es el únicoque debe ser analizado. Palabras-claves: biodiesel; médio ambiente; sostenabilidad. Revista da ANPG, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 35 - 45, segundo sem. 2009
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Produção de biodiesel no Brasil: existe sustentabilidade social e ambiental?
INTRODUÇÃO
ser usado em carros e em qualquer outro motor a diesel.
O aumento dos gases de efeito estufa, a redu-
Em países como Alemanha, França e Estados
ção da camada de ozônio, o aquecimento global, o
Unidos o uso do biodiesel é uma realidade. A Alema-
aumento do valor do barril de petróleo, guerras. Não
nha é responsável por mais da metade da produção
restam dúvidas: é necessário encontrar rapidamente
européia desses combustíveis e conta com centenas
alternativas eficazes ao uso do combustível fóssil.
de postos que vendem o biodiesel puro, com plena
O petróleo é hoje utilizado em praticamente
garantia dos fabricantes dos veículos.
todas as atividades humanas. Desde a produção ali-
No Brasil, as pesquisas sobre biodiesel vêm
mentar, passando pelos procedimentos da medicina,
sendo desenvolvidas há cerca de cinqüenta anos. O
sistemas de esgotos, tratamento de lixo, polícia, bom-
país é detentor da primeira patente mundial sobre
beiros, manutenção de estradas e consumo em geral.
este biocombustível, registrada nos anos oitenta,
O petróleo e seus derivados são também os maiores
mas, apesar disso, a produção ainda é pequena.
responsáveis pela poluição atmosférica.
Nos últimos anos o governo brasileiro tem
De acordo com estudos, a quantidade de pe-
investido em pesquisas e programas para produção
tróleo no planeta poderia ser representada através de
e desenvolvimento do biodiesel. No final do ano de
uma curva sino, de tal modo que, entre os anos de
2004, foi lançado, oficialmente, o Programa Nacio-
2020 e 2035, esta curva atingirá o seu pico, ou seja,
nal de Produção e Uso do Biodiesel – PNPB. A Lei
a partir daí, este recurso natural limitado tornar-se-á
11.097, de 13 de janeiro de 2005, estabeleceu os per-
escasso até acabar definitivamente (SANIVAR, 1997).
centuais de biodiesel que devem ser misturados ao
Em função da certeza da escassez do petróleo
óleo diesel e o prazo para que tal mistura seja feita.
e da necessidade de redução da emissão de poluentes
A principal vantagem apontada para a produção
na atmosfera, países de todo o mundo têm buscado
do biodiesel em escala comercial é que isto permitirá
desenvolver formas alternativas de energia que, ao
uma economia de divisas pelo Brasil, pois reduzirá a
mesmo tempo, supram as necessidades do homem e
dependência das importações de petróleo, asseguran-
degradem menos o meio ambiente.
do o suprimento interno, além de representar grande
Nesse aspecto, o Brasil tem despontado como
potencial de exportação haja vista que o Brasil apre-
um potencial produtor da chamada “energia limpa”,
senta condições para tornar-se um dos maiores pro-
haja vista que possui todos ou boa parte dos recursos
dutores de biodiesel do mundo. Ademais, a utilização
naturais apontados como os prováveis substitutos do
de um combustível renovável melhorará as condições
petróleo (água, vento, sol, grande extensão territorial
ambientais e, consequentemente, a qualidade de vida
para produção de grãos), além de ter em sua geogra-
da população, reduzindo gastos com a saúde.
fia grandes vantagens agronômicas, por situar-se em
Além do aspecto econômico e do ambiental,
uma região tropical, com altas taxas de luminosidade
existe ainda o aspecto social. Espera-se que a necessi-
e temperaturas médias anuais, possuir disponibilidade
dade de aumento da produção de grãos para a fabri-
hídrica e regularidade de chuvas, e contar ainda com
cação do biodiesel funcione como forma de inclusão
centros de pesquisa e desenvolvimento de tecnologia
social, pois as formas de financiamento e a cobrança
reconhecidos internacionalmente.
de impostos incentivam os fabricantes a adquirir a
Dentre as alternativas aos combustíveis deriva-
matéria-prima dos agricultores familiares, o que, por
dos de petróleo, um deles tem merecido destaque
outro lado, poderá fazer com que estes obtenham
no cenário nacional e internacional, em razão da ca-
melhores condições de vida plantando grãos e ven-
pacidade de produzir resultados eficazes. Trata-se do
dendo para os produtores de biodiesel.
biodiesel, um combustível fabricado a partir de fontes
A preocupação em desenvolver alternativas ao
renováveis (soja, milho, girassol, mamona), que pode
uso de petróleo já foi observada em outros momen-
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PEREIRA, M. P.
tos da história brasileira. O PROÁLCOOL - Programa
O combustível de origem vegetal deixava depósitos
Nacional do Álcool - definido em novembro de 1975
de carbono nos cilindros e nos injetores, requerendo
e acelerado a partir de 1979, corresponde à primeira
uma manutenção intensiva. A pesquisa realizada para
tentativa do governo brasileiro no que diz respeito
resolver esses problemas conduziu à descoberta da
ao desenvolvimento de fontes alternativas de energia
transesterificação, um processo de produção paten-
líquida. Por este programa, pretendeu-se, inicialmen-
teado pelo cientista belga G. Chavane, em 1937, e
te, produzir álcool para misturar à gasolina e, poste-
que consiste na quebra da molécula do óleo, com a
riormente, introduzir o uso comercial do álcool puro
separação da glicerina e a recombinação dos ácidos
como combustível.
graxos com álcool. Este tratamento permitiu superar
Atualmente, em função do interesse domésti-
as dificuldades com a combustão (KNOTHE, 2001).
co e internacional que o biodiesel tem gerado, muitas
A reação do óleo com o álcool dá origem a um éster
questões que foram debatidas a respeito do PROÁL-
monoalquílico do óleo vegetal, cuja molécula apre-
COOL voltam a ser discutidas em razão da semelhan-
senta muita semelhança com as moléculas dos deriva-
ça entre os dois programas. Algumas destas questões
dos do petróleo. O rendimento térmico deste novo
são: Quais serão os efeitos na produção de alimentos?
combustível, posteriormente chamado de biodiesel,
Como e até que ponto haverá inclusão social? Quais
é de 95% em relação ao do óleo diesel. Os primeiros
as conseqüências da produção de grãos em larga es-
a utilizar a denominação de biodiesel para esses com-
cala em relação à biodiversidade? Como compatibi-
bustíveis foram os pesquisadores chineses, em 1988
lizar desenvolvimento industrial e econômico com
(KNOTHE, 2001).
preservação ambiental?
Estima-se que atualmente na Europa circulem
O presente trabalho tem por objetivo discutir a
mais de dois milhões de veículos movidos a biodiesel,
viabilidade social e ambiental da produção de biodie-
produzidos a partir de óleo de colza. Existem postos
sel no Brasil tendo como diretriz a sustentabilidade.
de fornecimento na Alemanha, Áustria e França. Os
Pretende-se demonstrar que se a produção não for
Estados Unidos também produzem e utilizam o pro-
sustentável em todos os aspectos o custo social e am-
duto a partir do óleo de soja.
biental superará os benefícios.
Notícia histórica e características do biodiesel
No Brasil a produção ainda é incipiente, sendo a maior parte baseada em experiências com plantaspiloto, embora o país tenha sido pioneiro em pesquisas sobre biodiesel com os trabalhos do professor
O aproveitamento de óleos vegetais como ma-
Expedito Parente, da Universidade Federal do Ceará,
téria-prima para combustíveis não é uma experiência
autor da patente PI-8007957, primeira patente, em
nova. No ano 1900, Rudolph Diesel apresentou um
termos mundiais, do biodiesel e do querosene vegetal
protótipo de motor na Exposição Universal de Paris,
de aviação, mas já de domínio público.
que foi acionado com óleo de amendoim, cultura que,
A escassez de petróleo estimulou a realização
à época, era muito difundida nas colônias francesas na
de diversos estudos que aconselharam a utilização
África. No entanto, a abundância da oferta de petró-
de biocombustíveis como substitutos do combustível
leo e o seu preço acessível, determinaram que, nos
diesel. A cada ano o consumo aumenta e as reservas
anos seguintes, os derivados do petróleo fossem os
diminuem. Além do problema físico, há o problema
combustíveis preferidos, reservando-se os óleos ve-
político: a cada ameaça de guerra ou crise internacio-
getais para outros usos (KNOTHE, 2001).
nal, o preço do barril de petróleo dispara. Além disso,
Por outra parte, havia dificuldade para se ob-
a queima de derivados de petróleo contribui para o
ter uma boa combustão por meio dos óleos vegetais,
aquecimento do clima global por elevar os níveis de
em função da elevada viscosidade que apresentavam,
CO2 na atmosfera (para cada 3,8 litros de gasolina
fato que impedia uma adequada injeção nos motores.
que um automóvel queima, são liberados 10 kg de Revista da ANPG, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 35 - 45, segundo sem. 2009
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Produção de biodiesel no Brasil: existe sustentabilidade social e ambiental?
CO2 na atmosfera) (PNPUB, 2007).
A mamoneira (Ricinus communis L) é uma es-
O biodiesel pode ser utilizado em motores a
pécie de oleaginosa cuja produção ocorre em quase
diesel, em misturas ou puro. Por ser biodegradável,
todas as zonas tropicais e subtropicais do mundo, in-
não-tóxico e praticamente livre de enxofre e aditivos
dependente da qualidade do solo (SOUSA, 2005).
aromáticos, o biodiesel é considerado um combustí-
Durante anos, o Brasil foi considerado o maior
vel ecológico. Suas emissões são isentas de compos-
produtor mundial de mamona e exportador do seu
tos sulfurados, substâncias tóxicas e cancerígenas, re-
óleo. No entanto essa posição vem sendo ocupada
duzindo em 90% as emissões de fumaça, eliminando
atualmente pela Índia, seguida da China, sendo o Bra-
praticamente as emissões de óxido de enxofre. Com-
sil o terceiro produtor mundial de mamona. Em nível
parado ao óleo diesel derivado de petróleo, o biodie-
nacional, a maior produção concentra-se nos estados
sel puro reduz em até 78% as emissões de gás carbô-
da Bahia, com 83% de toda produção do país no ano
nico; também possui um índice de cetano maior que
de 2004, Mato Grosso, com cerca de 6%, e o Ceará,
o do óleo diesel, garantindo uma melhor combustão
com uma participação de 5% (IBGE, 2005). No nor-
e, conseqüentemente, a diminuição de poluentes (As
deste brasileiro há aproximadamente 45 milhões de
desvantagens do Biodiesel).
hectares de terras agronomicamente aptas ao cultivo
Foi adotada uma nomenclatura mundial para
da mamona (SOUSA, 2005).
identificar a concentração do biodiesel na mistura. É
Da mamona pode-se extrair o óleo, que é o
o biodiesel BXX, onde XX é a percentagem em vo-
principal produto industrializado. A aplicação do óleo
lume de adição de biodiesel à mistura. Por exemplo:
é feita em diversos segmentos da indústria química,
B2, B5, B20 e B100, são combustíveis com uma con-
tais como: cosméticos, lubrificantes para motores de
centração de 2, 5, 20 e 100% de biodiesel, respecti-
alta rotação, carburantes de motores a diesel e como
vamente (BIOCOMBUSTÍVEL, acesso em 2007).
fluido hidráulico em aeronaves (SOUSA, 2005).
Embora relevante que o biodiesel promova
Diante de características como teor de óleo,
uma redução das principais emissões associadas ao
utilização para produção de bens não alimentícios,
derivado de petróleo, vale ressaltar que existe uma
precocidade da colheita, solubilidade em etanol e ge-
exceção notável. Trata-se dos óxidos de nitrogênio
ração de emprego, a mamona tem-se mostrado uma
(NOx). Vários estudos demonstram o aumento das
matéria-prima alternativa para produção de biodiesel
emissões de NOx quando o biodiesel é utilizado. O
e com potencial de competitividade.
incremento observado nas emissões deste poluente
Percebe-se, no entanto, que a produção bra-
não é elevado, mas deve ser considerado porque este
sileira de mamona vem decrescendo anualmente a
é um dos principais precursores de ozônio troposfé-
uma taxa de 6,18%, 1970 a 2004, diferentemente do
rico que atualmente é um dos maiores responsáveis
dendê, que vem crescendo, 1970 a 2003, a uma taxa
pela baixa qualidade do ar nas maiores cidades brasi-
de 10,4% a.a.
leiras (BIOCOMBUSTÍVEL, acesso em 2007). Quanto às matérias-primas mais promissoras para produção de biodiesel, estudos da Empresa Bra-
Portanto, a produção de biodiesel a partir dessa matéria-prima dependerá da ampliação da área plantada para suprir essa nova demanda.
sileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) men-
O pinhão manso (Jatropha curcas L) é uma
cionam a soja para as regiões Sul, Sudeste e Centro-
planta arbustiva da família das Euphorbiáceas, possi-
Oeste; a mamona para o Nordeste e o dendê para a
velmente originária da América, que ocorre de forma
região Amazônica. Outros vegetais como o girassol,
espontânea em diversos estados do Brasil. No pas-
o amendoim, as palmáceas e o pinhão manso tam-
sado, o pinhão manso já foi cultivado em pequena
bém têm sido considerados. Alguns estudos apontam
escala em alguns países, inclusive no Brasil, mas atual-
perspectivas para a produção do biocombustível a
mente é uma cultura de pequena expressão mundial.
partir de óleos e gorduras residuais (OGR).
É encontrado vegetando de forma espontânea, mas
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PEREIRA, M. P.
também em cercas-vivas ou próximo a residências,
particular e, por esta razão, é difícil estimar o volume
onde tem valor folclórico ou de aplicações medicinais
de OGR que é descartado (SEVERINO, GONÇAL-
(SEVERINO, GONÇALVES E EGUIA, 2006).
VES E EGUIA, 2006).
Com o advento do Programa Brasileiro de
A produção de biodiesel a partir desta matéria-
Biodiesel, o pinhão manso foi incluído como uma al-
prima enfrenta problemas de viabilidade econômica,
ternativa para fornecimento de matéria-prima. Esta
haja vista que o litro de óleo acaba custando bastante
escolha baseia-se na expectativa de que essa planta
caro ao produtor de combustível. Segundo Luciano
possua alta produtividade de óleo, tenha baixo custo
Hocevar (ANO e incluir na bibliografia), os fatores
de produção, por ser perene, e seja extremamente
que geram o alto custo do produto são os seguintes
resistente ao estresse hídrico, o que seria uma vanta-
(SEVERINO, GONÇALVES E EGUIA, 2006):
gem significativa principalmente na região semi-árida do país (SEVERINO, GONÇALVES E EGUIA, 2006). No entanto, o incentivo ao plantio do pinhão manso em extensas áreas tem gerado preocupação
1. Existe um mercado para aquisição de óleo usado que destina o produto à reciclagem, como, por exemplo, a produção de sabão;
aos técnicos agrícolas brasileiros, pois, segundo eles,
2. Há pouca margem de negociação na compra
trata-se de uma cultura sobre a qual o conhecimento
de OGR, já que a referência de cada estabeleci-
técnico é extremamente limitado (SEVERINO, GON-
mento é o preço de compra do óleo ou gordura
ÇALVES E EGUIA, 2006).
novos e a granel, produto que não tem diminuí-
Em observações preliminares que estão sendo
do o preço;
feitas em lavouras cultivadas em diversas regiões do
3. O produto tem que ser transportado separado
Brasil, nota-se que a planta é muito atacada por doen-
dos outros, pois os locais de coleta – normal-
ças e pragas e a maturação dos frutos é desuniforme,
mente lixeiras – são sujos;
obrigando os produtores a realizar inúmeras passa-
4. Há necessidade de força física para a movimen-
gens na lavoura durante a fase de produção, o que
tação dos recipientes dos locais de coleta para
pode aumentar significativamente os custos de pro-
os veículos de transporte e destes para os de-
dução (SEVERINO, GONÇALVES E EGUIA, 2006).
pósitos, pois cada recipiente pesa até 120 qui-
Outro problema apontado é a falta de opções
los, sendo sua movimentação manual;
de venda. Possivelmente, o produtor ficaria destimu-
5. A rede de coleta é micro-pulverizada, com
lado sabendo que não encontraria outro mercado
grande número de pontos e pequeno volume
para o produto além da indústria de extração (SEVE-
em cada ponto. Segundo Hocevar, um típico
RINO, GONÇALVES E EGUIA, 2006).
ponto de coleta fornece em média 60 litros de
A discussão a respeito da viabilidade do pinhão
OGR ao mês, o que significa cerca de 3 mil pon-
manso para a produção de biodiesel deixa clara a ne-
tos de coleta para um volume de 180 mil litros
cessidade de realização de mais pesquisas sobre esta
de OGR bruto ao mês, volume que, após a eli-
cultura para que as atividades possam chegar a resul-
minação de água e impurezas, cai para 120 mil
tados definitivos.
litros.
Com relação à utilização de OGRs (Óleos e
Assim, problemas de logística e de custo da
Gorduras Residuais) oriundos de frituras como ma-
matéria-prima fazem com que o biodiesel a partir de
téria-prima para a produção de biodiesel, trata-se de
óleo usado não seja produzido comercialmente.
assunto que tem sido bastante estudado especialmenNão havendo legislação sobre como e quando
Insustentabilidade: a ameaça de desmatamento e a insegurança alimentar
deve ser efetuada a troca do óleo em restaurantes e
Apesar de as vantagens do biodiesel serem am-
estabelecimentos em geral, a troca segue um critério
plamente divulgadas, algumas desvantagens também
te quanto à sua viabilidade técnica e econômica.
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Produção de biodiesel no Brasil: existe sustentabilidade social e ambiental?
são observadas em relação à produção deste com-
tradicionais e as terras de trabalho de qualidade que
bustível. A primeira delas refere-se ao custo da pro-
apresentam baixo rendimento energético por hec-
dução, que é bastante elevado. Os custos de produ-
tare. O mesmo relatório ressalta que a utilização de
ção do biodiesel dependem essencialmente do custo
cultivos vegetais como matéria-prima para a bioener-
da matéria-prima e dos custos de processamento
gia pode ameaçar o abastecimento alimentar huma-
industrial. É reconhecido internacionalmente que o
no, uma vez que a terra, a água e outros recursos dei-
biodiesel, atualmente, não é competitivo em relação
xam de ser aplicados na produção alimentar. Neste
ao óleo diesel, sem que haja fortes incentivos fiscais.
contexto, o acesso aos alimentos pode também estar
O litro de biodiesel custa cerca de uma e meia a três
ameaçado pelo conseqüente aumento do preço de
vezes mais do que o litro de óleo diesel.
alimentos de primeira necessidade.
Outro aspecto relevante são os grandes volu-
A este respeito, vale mencionar a posição de-
mes de glicerina, subproduto do biodiesel, que serão
fendida por Jean Ziegler, relator especial da ONU so-
gerados e que só poderão ter mercado a preços mui-
bre o direito à alimentação, de acordo com o qual
to baixos, pois o uso deste produto ainda é bastante
a expansão indiscriminada dos cultivos destinados à
restrito, limitando-se basicamente à indústria cosmé-
produção de biocombustíveis no Brasil é uma ameaça
tica e de fármacos.
ao direito à alimentação das camadas mais pobres da
Porém, os aspectos que mais têm despertado
população.
preocupações e que configuram o tema central des-
Ziegler apresentou um relatório em 25 de ou-
te trabalho relacionam-se à sustentabilidade ambien-
tubro de 2007 no qual pediu que se aplicasse uma
tal e à segurança alimentar. Sabe-se que a segurança
moratória de cinco anos à produção de biocombustí-
alimentar depende não apenas da existência de um
veis a partir das colheitas. Ele afirma que a produção
sistema que garanta, presentemente, a produção, a
de biocombustíveis deve ocasionar um aumento no
distribuição e o consumo de alimentos em quantidade
preço dos alimentos e colocar em risco a segurança
e qualidade adequadas, mas que também não venha
alimentar para os mais pobres. Conforme o relatório
a comprometer a mesma capacidade futura de pro-
de Ziegler, para cada 1% de aumento real no preço
dução, distribuição e consumo. A agricultura, como
dos alimentos, o contingente de pessoas subalimen-
é concebida nos padrões convencionais, gera dois ti-
tadas no planeta é acrescido em 16 milhões (IHU,
pos de ameaça à sua sustentabilidade. A primeira se
2008).
dá através da intensificação da atividade agrícola, pela
Além de Ziegler, entidades do movimento so-
adoção de práticas monocultoras e de uso excessivo
cioambientalista brasileiro concordam com esta posi-
de insumos químicos e mecanização pesada. A se-
ção. Segundo o Greenpace, a esse fator de pressão à
gunda ocorre pela grande exploração dos recursos
produção de alimentos somam-se outros como, por
naturais e pela mobilização de ecossistemas extrema-
exemplo, o aumento do consumo em países emer-
mente frágeis (MALUF e MENEZES, 2006). Então,
gentes com grande população, como a China e a Índia
questiona-se: a utilização de grandes extensões de
(IHU, 2008).
terra e outros recursos naturais para plantio de grãos
Entretanto, esta posição não representa una-
a serem utilizados pela indústria produtora de com-
nimidade, sendo contestada inclusive pelo governo
bustível pode gerar insegurança alimentar no país?
brasileiro que, na Conferência da FAO realizada em
De acordo com o relatório da Organização
outubro de 2008, defendeu inexistir concorrência
das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação
entre a produção de biocombustíveis e a produção
(FAO), publicado em maio de 2007, a utilização de
de alimentos no Brasil. Segundo o governo, a área
cereais como matéria-prima na produção de bioe-
plantada com oleaginosas no Brasil ainda é muito pe-
nergia deve evitar os cultivos que necessitam de alto
quena e tem todas as condições de se expandir sem
fornecimento de energia fóssil, como os fertilizantes
ameaçar a produção de alimentos. Além disso, argu-
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menta-se que 80% da soja colhida no país é destinada à alimentação e 20% à produção de óleo. O desenvolvimento de novas tecnologias produtivas também é apontado como um fator que permitirá a expansão da área plantada para a produção de biocombustíveis sem que isso coloque em xeque a produção de alimentos no país (THUSWOHL, 2008). Para evitar problemas de insegurança alimentar, a FAO sugere um conjunto de salvaguardas indissociáveis dos programas regionais de agroenergia, dentre elas: 1. Zoneamento rural para impedir que a agroenergia desaloje lavouras destinadas à alimentação humana; 2. Aperfeiçoamento dos contratos ao longo da cadeia produtiva; garantia dos direitos sociais, especialmente direitos trabalhistas, no campo; 3. Expansão da pesquisa e assistência técnica e do cooperativismo, de modo a garantir a participação dos pequenos produtores também na geração de agroenergia e não apenas como ofertante de matérias-primas.
Não se pode atribuir à agroenergia a origem de desequilíbrios sociais e ambientais que já marcam a vida atual. Vale dizer que hoje praticamente metade (49%) das terras agricultáveis do mundo não são cultivadas ou são utilizadas como pastagens naturais extensivas. Os biocombustíveis líquidos demandam atualmente apenas 14 milhões de hectares em todo o mundo e oferecem em troca 1% do abastecimento mundial de energia para transporte. Para atender a meta mais ambiciosa de mistura de biodiesel ao óleo diesel (25%), estimase que 20% das terras agricultáveis teriam que ser destinadas a essa finalidade. Mas essa área poderia diminuir significativamente com as inovações tecnológicas em curso. Tudo converge para a constatação de que a capacidade produtiva potencial no século XXI excede, de longe, o consumo necessário, ou seja, a fome, em nosso tempo, tem cada vez menos a ver com a produção e cada vez mais com as desigualdades no acesso aos alimentos. É isso que explica que um bilhão de seres humanos - 20% da população mundial - continue a enfrentar condições de pobreza extrema, e o que é mais grave: um em cada quatro deles na América Latina, principal região produtora de alimentos do planeta.(SILVA, 2007).
Além destas, o relator da ONU também apontou a necessidade de se acelerar as pesquisas para o
No contexto atual em que está organizada a
desenvolvimento de biocombustíveis de segunda ge-
produção de alimentos, muldialmente, a compatibili-
ração, sintetizados a partir de resíduos provenientes
zação da sustentabilidade com a segurança alimentar
de plantas não-alimentícias e outros rejeitos agroin-
é um desafio cercado de dificuldades, mas também
dustriais.
carregada de muitas oportunidades. A necessidade de
No entanto, parece claro que conseqüências
manter a oferta de alimentos em condições de aten-
maléficas só ocorrerão se os produtores deixarem
der milhões de consumidores em cada país traduz a
de produzir alimentos para, no lugar, produzir grãos
maior dessas dificuldades. A FAO propõe a intensifi-
para a indústria energética, em função dos incentivos
cação da produção com diversificação, mas sua viabi-
ou do preço de venda. Se, ao contrário, o cultivo dos
lidade parece duvidosa já que a intensificação se faz a
grãos ocorrer nas terras agricultáveis ainda não culti-
partir da especialização e da dependência crescente
vadas e, ainda, se junto com o cultivo de grão for rea-
dos insumos industriais.
lizado o plantio consorciado de um alimento, a oferta de alimentos poderá até aumentar.
O melhor caminho na busca de um sistema alimentar sustentável parece ser o fortalecimento da
Sobre este assunto, segue o comentário de
agricultura familiar ou camponesa, enquanto forma-
José Graziano da Silva, representante regional da
ção social mais adequada para garantir a segurança
FAO para América Latina e Caribe (VALOR ECONÔ-
alimentar em condições sustentáveis. Isto devido às
MICO, 2007):
próprias características que lhes são inerentes. De um lado, por a sua identificação com modelos produtivos que dão ênfase à diversificação da produção. Revista da ANPG, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 35 - 45, segundo sem. 2009
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Produção de biodiesel no Brasil: existe sustentabilidade social e ambiental?
Por outro lado, pela maior mobilidade para diferentes
floresta gera sérios efeitos colaterais. As florestas
destinações do resultado de seu trabalho, podendo
são diretamente responsáveis pelas chuvas, pois as
variar entre os extremos de depender exclusivamen-
gigantescas árvores absorvem grande parte da água,
te de fontes externas do mercado ou recuar até o
devolvendo-a lentamente ao meio ambiente sob for-
completo auto-abastecimento.
ma de umidade. A devastação da floresta, reduzindo a
Além da insegurança alimentar ou insustentabi-
quantidade de chuva na região, pode levar a um pro-
lidade social, existe o outro lado da moeda caracte-
cesso de desertificação. Desprovido de sua cobertura
rizado pela degradação de grandes áreas para plantio
vegetal, o solo fica mais vulnerável à erosão (Relatório
dos grãos. Trata-se da (in) sustentabilidade ambiental.
do Desmatamento na Amazônia 2003/2004).
O uso comercial do biodiesel e, portanto, a
A destruição das florestas tem também graves
produção do combustível em grande escala imporá
conseqüências em escala mundial. As florestas tropi-
um aumento da produção de grãos. O plantio das ole-
cais ajudam a regular os padrões climáticos globais.
aginosas, especialmente a soja, requer a disponibilida-
Fenômenos como ciclos de chuvas desregulados e
de de grandes extensões de terra. Sabe-se que atu-
o aumento de dióxido de carbono na atmosfera são
almente no Brasil o cultivo de soja e dendê, mesmo
possíveis resultados do desmatamento registrado. A
ainda não destinados à produção do biodiesel, está
devastação pode levar a um aquecimento generaliza-
invadindo as florestas tropicais e ameaçando a biodi-
do da atmosfera, conhecido por “efeito estufa” que,
versidade. Calcula-se então que, uma vez implantada
por sua vez, acelera o derretimento das calotas pola-
a produção do combustível em escala industrial, a de-
res e contribui para a elevação do nível do mar (Re-
manda pelos grãos aumentará; ocorrerá uma valori-
latório do Desmatamento na Amazônia 2003/2004).
zação dos mesmos de modo que os produtores se
Uma vez destruída, a floresta não pode ser
sentirão incentivados a desmatar para produzir mais
plenamente recuperada. Mesmo removendo apenas
e vender aos fabricantes de combustível. Em outras
as árvores maiores, o frágil ecossistema florestal não
palavras, pode-se dizer, então, que a produção de
resiste. Com a destruição de uma floresta, comunida-
biodiesel representa uma ameaça à sustentabilidade
des inteiras de plantas e animais ficam perdidas, mui-
ambiental.
tas das quais de valor incomensurável.
Atualmente, cerca de 40% das florestas do pla-
Além da extinção de espécies animais e vege-
neta já desapareceram. No Brasil, foram desmatados
tais, a destruição de florestas tem por conseqüência o
26.130 km² de florestas na Amazônia Brasileira entre
deslocamento das populações nativas e o desapareci-
agosto de 2003 e agosto de 2004, segundo as estima-
mento de conhecimentos tradicionais, reconhecidos
tivas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. O
pela própria ciência moderna pelo seu valor econô-
estado do Mato Grosso é o líder de desmatamento da
mico e cultural.
floresta amazônica brasileira (Relatório do Desmatamento na Amazônia 2003/2004).
O desmatamento é maior na região centrooeste do Brasil, especialmente no estado de Mato
Sabe-se que florestas destruídas nem sempre
Grosso, considerado o epicentro do cultivo de soja
significam terras adequadas para atividades agrícolas e
no país. Economicamente, a soja tem-se mostrado o
pecuárias. Se a terra não for bem manejada, ela pode
vegetal mais viável para a produção de combustível,
se tornar infértil rapidamente. Quando convertidas
razão pela qual esta oleaginosa tem sido preferida pe-
em terras para lavoura, as florestas permanecem fér-
los investidores do setor.
teis por poucos anos. Estas terras que vão se tornan-
A utilização da soja como matéria-prima base
do inférteis vão sendo abandonadas e, então, outras
para a produção de biodiesel tem conseqüências
áreas de floresta têm de ser destruídas e o processo
importantes, principalmente após a divulgação dos
se repete.
resultados de um estudo coordenado pelo Instituto
A remoção da camada que cobre o solo da 42
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Socioambiental (ISA), que demonstra que o plantio
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de soja provoca, tanto direta como indiretamente, a
carbono. Entre agosto de 2005 e agosto de 2006, o
derrubada das matas (FBOMS, 2004/2005).
desflorestamento na Amazônia foi responsável por
Este estudo contrapõe-se a outro realiza-
mais de 60% do total de nossas emissões. Alguns
do pelo Instituto de Pesquisa Econômica Avançada
cientistas acreditam que os gases, com efeito, estufa
(IPEA), em 2004, que afirma que a soja não ameaça
liberados na produção dos biocombustíveis podem
a floresta amazônica (IPEA, 2007). De acordo a pes-
anular os benefícios trazidos pelos mesmos.
quisa do IPEA, há uma espécie de simbiose entre o
CONCLUSÃO
setor sojicultor e o pecuarista, de modo que o último arrenda as terras para o primeiro em troca de sacas
De todo o exposto, pode-se concluir que é pos-
de grãos e o retorno das propriedades com melhora
sível alcançar o desenvolvimento sustentável através da
na qualidade do solo. O principal argumento utilizado
produção de bioenergia, mas para isto não basta que a
neste estudo é o de que não haveria tempo hábil para
matéria-prima utilizada seja natural. A sustentabilidade
converter floresta primária em área de cultivo (IPEA,
envolve vários aspectos. O processo de produção deve
2007). Esse estudo afirma ainda que o cultivo do grão
ser economicamente viável, além de ser social e am-
avançou principalmente sobre pastagens degradadas
bientalmente sustentável.
e não sobre áreas virgens e defende o asfaltamento
A produção de biocombustível baseada no des-
da BR 163 para escoar a produção de grãos das regi-
matamento de matas e florestas, uso intensivo da agri-
ões norte e centro-oeste. Para os técnicos do IPEA, a
cultura de extensão, uso excessivo de fertilizantes e de
soja na região da floresta amazônica aumenta o custo
sementes geneticamente modificadas, contraria a idéia
da terra e afasta da região os agricultores, madeirei-
de desenvolvimento limpo e pode resultar em elevados
ros e pecuaristas que, sem recursos tecnológicos e
custos sociais e ecológicos. A superação de tais carac-
infra-estrutura, são os verdadeiros responsáveis pela
terísticas e a busca de maior eficiência e qualidade sob
derrubada da mata (IPEA, 2007).
padrões não socialmente excludentes tornam-se, então,
No entanto, segundo os técnicos do ISA, ao
elementos cruciais. Nesta direção podem atuar os pro-
concluir que as plantações de soja avançam sobre
gramas de reforma agrária e de fortalecimento da agri-
áreas de pastagem degradadas e não sobre floresta
cultura familiar e das comunidades indígenas, a regulari-
o estudo do IPEA não leva em conta a situação exis-
zação das relações de trabalho no campo e a previdência
tente no norte do estado do Mato Grosso, onde, de
social rural, a revisão do pacote tecnológico, as alterna-
acordo com dados do governo federal, é o local em
tivas de agroindustrialização de pequena e média escala,
que o desmatamento atingiu índices recordes nos úl-
o aprimoramento do pequeno varejo, etc.
timos anos. O IPEA tampouco utiliza dados do Insti-
Faz-se necessário uma agricultura que seja pro-
tuto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), uma das
dutiva sem destruir as bases naturais da produção, que
maiores referências no monitoramento por imagens
seja geradora de mais e melhores empregos e promo-
de satélite, a respeito do ritmo e rumo dos desmata-
vam a apropriação mais justa e equilibrada do território
mentos no Brasil (IPEA, 2007).
(PÁDUA, 2002).
O levantamento coordenado pelo ISA demons-
Para implementar este paradigma, a agricultura
tra que, de fato, a soja ocupa áreas antes utilizadas
familiar vem sendo valorizada e reconhecida por muitos
como pasto. Mas, ao fazê-lo, empurra o gado para
especialistas como um espaço privilegiado. Este concei-
novas fronteiras, ampliando as áreas desmatadas. Ou
to foi inserido na Lei 11.097, que tem como um de seus
seja, a expansão da área cultivada com soja provoca o
objetivos a geração de renda e a fixação do homem no
desmatamento de áreas de floresta amazônica e cer-
campo. Mas, além da lei, são necessárias políticas sociais,
rado, tanto direta como indiretamente.
econômicas e fiscais que estimulem o desenvolvimento
Nos últimos quatro anos, o Brasil emitiu, a partir do desmatamento, 996 milhões de toneladas de
desta agricultura familiar de base agroecológica. Por outro lado, é importante também recoRevista da ANPG, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 35 - 45, segundo sem. 2009
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Produção de biodiesel no Brasil: existe sustentabilidade social e ambiental?
nhecer o lugar da agricultura empresarial neste pro-
coletivo de qualidade (movido a biodiesel, inclusive).
cesso. O setor empresarial deve ser fiscalizado para
Planejamento e estratégia de desenvolvimento
respeitar os direitos trabalhistas no campo, aprovei-
serão determinantes. Produzir com precaução, qua-
tar e treinar mais mão-de-obra, diminuir ao máximo
lidade e regularidade pode ser muito mais vantajoso
o impacto negativo sobre os recursos naturais e ado-
do que produzir com velocidade. É importante esti-
tar uma postura de crescimento vertical da produtivi-
mular uma articulação harmônica entre padrões de
dade, com base em técnicas adaptadas às condições
produção, consumo e sociabilidade presentes nos
ecológicas da região, ao invés de insistir no cresci-
espaços urbanos e rurais. Estimular políticas públicas
mento horizontal predatório herdado do passado
de gestão territorial que promovam uma apropriação
(PÁDUA, 2002).
mais equilibrada do espaço geográfico, diminuindo a
É essencial que seja realizado o zoneamento
desigualdade entre regiões e classes, estimulando um
econômico-ecológico distinguindo-se as terras im-
revigoramento demográfico e sócio-econômico do
próprias para a agricultura ou mesmo para outros
meio rural e garantindo a continuidade das fontes de
usos, as terras de uso restrito e aquelas mais indica-
água e biodiversidade que constituem a grande rique-
das para o cultivo. Deve haver ainda a concessão de
za do espaço brasileiro.
estímulos (preços de suporte, crédito agrícola, etc.) para aqueles que adotam tecnologias benignas ou de recuperação ambiental, incentivando-se um modelo agrícola de base agroecológica. O combustível produzido em conformidade com as normas ambientais e trabalhistas deve receber uma certificação. Órgãos competentes devem se encarregar de exercer a fiscalização e a certificação, de forma séria e criteriosa, para que o produto obtenha credibilidade no mercado nacional e internacional. A produção de biocombustível à custa do desmatamento traduz déficit na relação custo/benefício, pois os gases que deixarão de ser emitidos com o uso do biocombustível serão incorporados à atmosfera durante as queimadas, sem contar que as árvores destruídas deixarão de realizar a função de seqüestro de gás carbônico, ampliando o efeito estufa e contribuindo para as alterações climáticas. Por fim, deve-se ressaltar a necessidade de incentivar a economia de energia e o uso consciente dos combustíveis. O fato de o biodiesel ser produzido a partir de um recurso natural não viabiliza o seu uso irracional. Toda atividade humana implica em danos ambientais, em maior ou menor grau, além disso, a maior economia de energia ocorre quando ela não é utilizada, ou seja, a produção de biocombustível não dispensa os investimentos em educação ambiental e o incentivo à redução do consumo, que poderá ocorrer, por exemplo, com a disponibilização de transporte 44
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A construção de uma ideologia para a produção alcooleira no Brasil: 1889-19451 The construction of an ideology for the alcohol production in Brazil: 1889-1945 La construcción de una ideología para la producción de alcohol de Brasil: 1889-1945 RESUMO 2
Roberta Barros Meira Doutoranda em História Econômica pela Universidade de São Paulo – USP
Este trabalho pretende contribuir para a análise sobre o desenvolvimento da indústria alcooleira desde a Primeira República. Nosso enfoque principal será o processo de construção de uma ideologia traçada em torno desse novo produto, visto como a solução para a crise de superprodução do açúcar. Nesse caso, enfatizaremos o trabalho de seus principais ideólogos, a Sociedade Nacional da Agricultura e o Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio. Por fim, o período 1930-45 foi analisado, uma vez que defendemos que o Primeiro Governo Vargas, por meio do Instituto do Açúcar e do Álcool, apenas colocaria em prática as idéias defendidas no período anterior. Palavras-Chave: Indústria alcooleira; Sociedade Nacional da Agricultura; Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio; Instituto do Açúcar e do Álcool.
ABSTRACT This work intends to contribute for the analyses on the ethanol industry since the First Republic. Our main purpose will be to understand the process of building an ideology based on this new product, seen as the solution to the crisis of overproduction of sugar. In this case, our emphasis will be on the work of its main ideologists, the Sociedade Nacional da Agricultura and the Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio. Finally, the period 1930-45 has been examined because we defend that the First Government Vargas, through the Instituto do Açúcar e do Álcool, only puts into practice the ideas defended the previous period. Keywords: Ethanol industry; Sociedade Nacional da Agricultura; Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio; Instituto do Açúcar e do Álcool.
RESUMEN
1
O presente artigo representa parte de uma pesquisa ainda inconclusa de doutorado em História Econômica (FFLCH-USP), financiada pela Fapesp. 2 Roberta Barros Meira. – Correspondência: Avenida Professor Mello Morais 1235 bloco G apto. 410, Butantã - São Paulo SP – Brasil - CEP 05508-030. Endereço eletrônico: rbmeira@usp.br
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Este trabajo pretende contribuir para el análisis sobre el desarrollo de la industria alcoholera desde la Primera República. Nuestro objetivo principal será de comprender el proceso de construcción de una ideología basada en este nuevo producto, considerado como la solución a la crisis de sobreproducción de azúcar. En este caso, nuestro principal énfasis será la labor de sus principales ideólogos, la Sociedade Nacional da Agricultura y el Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio. Por último, el período comprendido entre 1930-45 ha sido examinado, porque defendemos que el Primer Gobierno de Vargas, por Instituto do Açúcar e do Álcool, sólo puso en práctica las ideas defendidas en el período anterior. Palabras-claves: Industria alcoholera; Sociedade Nacional da Agricultura; Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio; Instituto do Açúcar e do Álcool.
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MEIRA, R. B.
INTRODUÇÃO As tentativas de utilização do álcool como combustível em automóveis iniciaram-se no final do
entre os representantes do setor, é encontrado, já em 1902, na defesa de Quintimo Bocayuva (Rio de Janeiro, 1902, p. 72):
final do Império, a indústria alcooleira ainda não se
(...) para o álcool estão voltadas as esperanças da lavoura da cana e fundamentalmente na minha opinião. (...) A excessiva produção do açúcar tinha de acompanhar forçosamente a fabricação de álcool.
sobressaia como forma de minimizar a crise do açú-
Mas deve-se levar em conta que nesse mo-
car brasileiro, uma vez que o principal problema era
mento o maquinário ainda era precário e seriam ne-
a modernização do setor. Ademais, nesse período, a
cessários ainda muitos estudos para o aperfeiçoamen-
venda de álcool, rum e melaço não chegava a atingir
to do novo combustível. Não se pode desconsiderar
um quinto da comercialização do açúcar em si (Eisen-
que o Estado teria um papel fundamental na divulga-
berg, 1977, p. 53).
ção do álcool. A principal defensora e divulgadora do
século XIX, na Europa. Devido à crise que assolava a produção açucareira mundial, rapidamente a idéia foi adotada pelos principais países produtores. No
Em verdade, essas tentativas de modernização
álcool era a Sociedade Nacional da Agricultura, que
culminaram na implantação do sistema de engenhos
controlou durante todo o período o Ministério da
centrais e a sua substituição pelas usinas, na Primei-
Agricultura, Indústria e Comércio. Assim, nos Con-
ra República. Releva notar que as usinas herdariam as
gressos e Conferências organizados pela Sociedade e
inovações tecnológicas oriundas da malograda tenta-
depois pelo MAIC, a utilização do álcool passou a ser
tiva de introdução dos engenhos centrais, apesar do
defendida como um substitutivo para a gasolina, para
retorno do velho sistema de produção colonial, no
a indústria farmacêutica, para a iluminação e outras
qual o usineiro detém o controle da produção indus-
diversas atividades.
trial e agrícola., herdaria as inovações tecnológicas
Os benefícios do álcool também seriam bastan-
oriundas da malograda tentativa de introdução dos
te divulgados na Europa. A Alemanha, produtora de
engenhos centrais.
álcool de batata, criou uma central de propaganda e
Sobre tudo isso, acrescenta-se o fato de que
venda do álcool em 1899. Como incentivo foram do-
com a perda definitiva do mercado externo, a pro-
ados lampiões às principais cidades e administrações
dução açucareira, na Primeira República, voltar-se-ia
como forma de disseminar o papel do álcool na ilumi-
para o abastecimento interno. Nesse momento, a
nação. E, já no final do século XIX, tiveram início na
produção Nordestina, destinada desde os seus pri-
Alemanha e na França experiências para a utilização
mórdios para o mercado externo, foi obrigada a esco-
do álcool em automóveis (Morelli, 1920, p. 53).
rar-se no consumo interno. E há que se ter em conta
Certamente os interesses da agricultura de
que o crescimento econômico do Sudeste transfor-
exportação tornar-se-iam cada vez mais importantes
maria essa região na principal consumidora. Dessa
com a hegemonia política dos cafeicultores. No en-
forma, surgiram grupos de grandes comerciantes e
tanto, os incentivos para a produção voltada para o
refinadores que passaram a manipular as relações en-
mercado interno começaram a ser discutidas pelos
tre a produção, os estoques e o consumo e acirraram
setores contrários à dominação da política do café
a disputa entre os produtores de açúcar, aprofundan-
com leite. Ademais, devido às oscilações do preço
do, ainda mais, a crise de superprodução.
do café com a crise de superprodução, os próprios
Em meio a essa tumultuosa crise, surgiram as primeiras defesas de que o desenvolvimento da indús-
cafeicultores passaram a defender a necessidade de diversificar a produção, ou seja, a policultura.
tria alcooleira seria a saída para a crise de superpro-
Com esse intento, as políticas governamentais
dução, uma vez que para ela podiam ser destinados
começaram a criar as bases para a construção de um
todos os excessos. Esse pensamento, não desprezível
parque alcooleiro no país. No período, foram vários Revista da ANPG, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 46 - 57, segundo sem. 2009
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os decretos visando incentivar o uso do álcool para
quarta e última secção buscava difundir os pequenos
fins indústrias. Exemplos ilustrativos dessa ação go-
aparelhos de fabricação e retificação do álcool (Con-
vernamental foram: o decreto nº. 4812, de 1º abril de
selho Nacional do Petróleo, 1978, p. 57-58).
1903, pela qual o Governo concedeu um crédito de
Pela análise dos pontos defendidos nessas ex-
50:000$000 para o Ministério da Indústria, Viação e
posições, é possível comparar os principais avanços
Obras Públicas auxiliar ou promover um concurso ou
da indústria alcooleira. Assim, percebe-se que no I
exposição de aparelhos destinados às aplicações in-
Congresso de Aplicações Industriais do Álcool, em
dustriais, a fim de vulgarizar o álcool por todo o país;
outubro de 1903, foram delineadas as primeiras con-
e o decreto nº. 4977, de 22 de setembro de 1903,
clusões sobre a utilização do álcool como solução
que atribuiu uma quantia de 150.000$000 para au-
para a crise de produção açucareira. O Congresso
xiliar a Exposição Industrial de Aparelhos a Álcool, a
traçou as principais diretrizes a serem seguidas nos
ser realizada em outubro de 1903, no Rio de Janeiro,
próximos anos para o desenvolvimento da produção
sob o patrocínio da Sociedade Nacional da Agricultu-
alcooleira no país. Estabeleceu como objetivo princi-
ra (Conselho Nacional do Petróleo, 1978, p. 57-58).
pal de seus trabalhos: promover a prosperidade da
As várias funções do álcool serviram como
lavoura de cana pela vulgarização das aplicações in-
a sua principal propaganda e como forma de os
dustriais do álcool. Ademais, entendia e proclamava
seus defensores cobrarem diferentes medidas
que o estado precário dessa lavoura era oriundo da
legislativas para assegurar cada uma dessas no-
situação do mercado, quer para o açúcar, em virtude
vas aplicações. Como não poderia deixar de ser,
da barreira que o excesso de similar impusera à sua
esse modo de pensar era constantemente alar-
exportação, quer para o álcool, pelas restrições im-
deado pelos seus defensores (Rio de Janeiro,
postas no país à sua propagação durante os últimos
1902, p.73).
anos corridos (IAA, 1941, p. 277-278).
O seu emprego como combustível, como elemento de força motriz e força iluminante, abriu um novo e largo horizonte a esse produto que pode ser, - sobretudo no nosso país e com grandes vantagens para as populações do interior -, o sucedâneo ao petróleo e de todos os óleos destinados à iluminação das casas e das povoações.
Por reconhecer a dificuldade e a lentidão de ampliar o mercado de açúcar, no país ou no exterior, o Congresso julgava que a vulgarização das aplicações do álcool de cana, como agente de luz, calor e força motriz, dilatando rapidamente o consumo desse produto, prestaria ao açúcar nacional, o necessário amparo, o que permitiria equilibrar a produção de
No Brasil, a principal forma de divulgar os be-
ambos com o respectivo consumo e garantir-lhe-ia
nefícios da indústria alcooleira foram as diversas ex-
remuneradores preços, resolvendo desse modo a
posições realizadas pela SNA e pelo MAIC. Nesse
crise da lavoura de cana.
quadro, destaca-se a Exposição Industrial de Apare-
Por último, os representantes do setor concluí-
lhos a Álcool. Essa exposição foi dividida em várias
ram que a Exposição Internacional de Aparelhos a Ál-
secções, de acordo com as principais funções que o
cool demonstrou a conveniência e superior vantagem
álcool poderia desempenhar. A primeira secção vol-
das mais variadas aplicações desse líquido em substi-
tou-se para o emprego do álcool nos vários tipos de
tuição de seus concorrentes como agentes de luz, ca-
motores, sendo, assim, subdividida em motores fixos,
lor e força mecânica. Para o Congresso, os lavradores
locomoveis, automóveis, carburantes e motores para
de cana e os poderes públicos da União e de todos os
navegação; a segunda secção tencionava incentivar a
Estados da República deveriam fazer convergir maio-
utilização de aparelhos para iluminação e foi separada
res esforços para: vulgarizar as aplicações industriais
em duas secções: a de lâmpadas que queimam com o
do álcool, ampliar a sua produção e baratear o seu
álcool puro e a de lâmpadas de gaseificação; a terceira
custo (IAA, 1941, p. 277-278).
secção tratava dos aparelhos para aquecimento e a 48
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A SNA e o MAIC tentavam demonstrar que a
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MEIRA, R. B.
sua defesa da importância do álcool não era tão descabida assim. Tudo se tentava na persistente busca de uma saída para a crise de superprodução. Embora ainda não fosse produzido em larga escala, percebiaese a luta para obter a expansão da produção do álco-
quinas pelo ataque ao metal; a perfuração dos tanques e canalizações e outros danos representavam sério prejuízo e anulariam qualquer vantagem que pudesse haver, de ordem econômica, pelo uso do moderno combustível (Belo Lisboa, 1942, p. 41).
ol. Nesse sentido, no Primeiro Congresso Brasileiro
Ocorre que se encontravam em desenvolvi-
de Carvão e outros Combustíveis Nacionais foram
mento as primeiras pesquisas de adaptação do novo
apontadas novas medidas para o incremento da pro-
combustível, qual seja, a melhor mistura de álcool
dução alcooleira, perpassando por diversos medidas
e gasolina, como forma de tornar viável a utilização
como, por exemplo: o desenvolvimento do ensino
do produto em motores originalmente fabricados
de fabricação cientifica do álcool, especialmente em
para a gasolina. Somente assim, naturalmente, seria
escolas e instituições, tanto oficiais como particula-
possível a circulação de carros com essa mistura car-
res; favores do transporte e a circulação do álcool
burante. No entanto, os apontamentos de Sanchez
industrial e, especialmente, do álcool combustível e,
Gondora, técnico da SNA, afirmavam que essa pés-
também, dos aparelhos e motores que o empregam
sima fama do álcool seria conseqüência da má von-
exclusivamente; a criação, em ordem sucessiva de co-
tade e desconhecimento técnico dos proprietários
operativas centrais de álcool, na capital da República e
de automóveis:
nos estados produtores mais importantes; e a criação
Os insucessos têm sido devido a várias cau-
de uma sobretaxa especial para a aguardente, cuja
sas das quais não foi a menor a má vontade dos condutores de automóveis que com o emprego do álcool ‘in natura’ tinham que procurar modificar as condições de carburetação; sua ignorância por um lado e seu comodismo por outro emprestavam ao problema proporções exageradas. Daí nascia a fábula do ‘ressecamento dos motores’ e do estrago conseqüente (Gondora, 1923, p. 497).
renda reverteria às cooperativas centrais que estabelecessem prêmios em favor dos agricultores, a fim de ser conseguido o barateamento do álcool industrial (Brasil, 1922, p. 48). Essas cooperativas deveriam realizar a montagem de institutos de fermentação, de grandes destilarias centrais, de instalações para desnaturar o álcool, de aparelhagem para fabricar o material de acondi-
Apesar de a defesa do técnico da viabilidade
cionamento e, bem assim, a aquisição e emprego de
do álcool e de novas pesquisas tentarem resolver os
tonéis, tanques e vagões destinados ao depósito e
freqüentes problemas advindos da utilização das mis-
transporte do álcool (Primeiro Congresso Brasileiro
turas à base de álcool motor, as críticas continuaram a
de Carvão e outros Combustíveis Nacionais. Rio de
serem feitas. Assim, só no Governo Vargas adotar-se-
Janeiro: outubro/novembro de1922).
ia, oficialmente, a obrigatoriedade da mistura de 5%
Desde o início da divulgação do álcool com-
de álcool anidro à gasolina importada.
bustível, um ponto negativo para o aumento do seu
Na década de 1910, a produção alcançou 30
consumo era a dificuldade de adaptação dos motores
milhões de litros de álcool e 100 milhões de litros
dos automóveis. Releva notar que foram freqüentes,
de aguardente. Mais de 90% do álcool fabricado
no período, acusações de que o álcool corroia e res-
era oriundo do melaço (Szmrecsányi, 1979, p. 62).
secava os motores.
Apesar disso, o dobro dessa quantidade poderia ser
Dizia-se que o álcool, ressecando horrivelmente as máquinas e, ainda, intumescendo os cilindros com fuligem, a ponto até de fazer voar pelos ares os tampões, deveria ser condenado; o seu uso arriscava a vida humana à destruição por estilhaços de carcaças. As corrosões e inutilizações das má-
fabricado se houvesse consumo. Porém, a falta de mercado e o preço inviabilizavam os investimentos dos usineiros em destilarias. Assim, nessa década e na subseqüente, as políticas voltadas para o álcool foram relegadas para um segundo plano. Além dos fatores elencados no parágrafo acima, ocorreu uma recupeRevista da ANPG, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 46 - 57, segundo sem. 2009
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ração dos usineiros do Nordeste e de sua influência política com o controle momentâneo dos preços dos mercados açucareiros do sudeste. Ademais, a Primeira Guerra aumentou as exportações, favorecendo o apoio à produção do açúcar em si mesma (Guimarães, 1991, p. 45 e Santos, 1997, p. 11).
(...) para que esta industrialização do álcool como motor possa alcançar o desejado êxito, torna-se necessário remover certos obstáculos de ordem fiscal, facilitar o seu transporte e o seu comércio, e intensificar a sua fiscalização (São Paulo, 1930, p. 38).
Outro fator que inviabilizaria um maior incre-
Em 1922, no Terceiro Congresso Nacional de
mento do álcool motor era a existência de um nú-
Agricultura e Pecuária, vê-se facilmente que a ques-
mero muito pequeno de automóveis no Brasil até a
tão do álcool combustível assumia proporções maio-
década de 1920 e, por conseguinte, a quase inexpres-
res, uma vez que ocorreu uma expansão da demanda
siva importação de gasolina pelo Brasil. Tal quadro,
pelo produto no mercado interno. Nesse caso, o pa-
no entanto, começou a mudar com as dificuldades
pel do Governo seria crucial, visto que os congres-
encontradas para a importação de petróleo durante a
sistas defendiam a transformação do álcool em um
Primeira Guerra Mundial. A partir desse momento, a
produto de utilidade pública e de interesse nacional.
necessidade de encontrar um combustível alternativo
Afora isso, o Estado deveria facilitar o seu transporte
começava a ser uma necessidade premente. Em 1916,
com a compra de vagões-tanque, a construção dos
o Brasil comprou 22,4 milhões de litros de gasolina e,
primeiros centros de consumo, de armazéns ligados
em 1917, somente conseguiria adquirir 17,7 milhões.
às estradas de ferro, o aprimoramento do estudo e
Por outro lado, no período Pós-Guerra surgiram es-
do ensino de técnicas para a fabricação do álcool, fi-
peculações sobre o término do petróleo mundial. Es-
nanciamentos para a modernização das salas de fer-
sas divagações sobre o fim eminente do petróleo, no
mentação e incentivos para a criação de fábricas de
momento em que ocorria um grande crescimento da
éter, etc. (IAA, 1949, p. 82-95).
indústria automobilística, começaram a preocupar os
Percebe-se pelos objetivos apontados nesses
países importadores de gasolina. No Brasil, tal con-
congressos que os usineiros acreditavam ser impres-
texto levou o deputado federal Geminiano Lyra Cas-
cindível para o desenvolvimento da indústria alcoolei-
tro, vice-presidente da SNA, a defender a criação de
ra o apoio estatal. Essa política de incentivos deveria
um Instituto do Álcool no Ministério da Agricultura
ser ampla e abranger o controle da política de preços,
(Dé Carli, 1979, p. 99-101 e Santos, 1997, p. 1-18).
tributária, tarifaria, de transporte e, principalmente,
Assim mesmo, a produção de álcool combustível era incentivada pelo crescimento da indústria
de financiamentos para a introdução do maquinário necessário para a montagem do parque alcooleiro.
automobilística no país, principalmente após 1920.
À vista de todo o exposto, percebe-se que,
Em 1922, o país já possuía 40.390, passando para
apesar da produção alcooleira não ter se sobressaído
220.914 automóveis em 1929. Em 1930, somente
nesse período, a propaganda conjunta do MAIC e da
o estado de São Paulo consumiu 140 milhões de
SNA firmou a ideologia do álcool como o combus-
litros de gasolina, no valor aproximado de 140.000
tível nacional, posto que, além de controlar a crise
contos de réis Acompanhando essa demanda, a
de superprodução e recuperar a decadente indústria
produção de álcool aumentou de 3.542.624 litros
açucareira nacional, substituiria a gasolina como o
em 1921, para 70.321.900 litros, em 1929. (San-
principal combustível para motores de explosão.
tos, 1997, p. 18) Em 1930, o álcool já era defini-
Como aponta o Sr. Heitor Teixeira Penteado,
do pelo Vice-Presidente do estado de São Paulo,
para que essa indústria tomasse o impulso necessário
Heitor Teixeira Penteado, como a nova válvula re-
seriam necessárias certas medidas por parte do Es-
gularizadora do mercado açucareiro, pois as suas
tado. E foi esse pensamento, de modo geral, que foi
aplicações eram numerosas. Porém, para isso seria
adotado no Pós 30, pelos principais dirigentes do Go-
necessário:
verno. Nesse caso, destaca-se o decreto n.º 19.717,
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de 20 de fevereiro de 1931, a obrigatoriedade da mis-
gasolina. Essa visão pode ser encontrada nos apon-
tura de 5% de álcool em toda a gasolina importada.
tamentos de um dos presidentes do IAA, Gileno Dé
Art. 1º. – A partir de 1 de julho do corrente ano, o pagamento dos direitos de importação da gasolina somente poderá ser efetuado, depois de ter feito a prova de haver o importador adquirido, para adicionar à mesma medida de álcool de procedência nacional, na proporção mínima de 5% sobre a qualidade de gasolina que pretender despachar, calculada em álcool a 100%. Até 1º de julho de 1932, tolerar-se-á a aquisição de álcool de grau não inferior a 96 Gay Lussac a 15º C., tornando-se obrigatória, dessa data em diante, a aquisição de álcool absoluto (anidro) (Velloso, 1952, p. 7).
Além disso, esse decreto estabeleceu que os
Carli: Ocorrerá, fatalmente, portanto, o aumento da matéria prima. Impossibilitado de produzir açúcar, abre-se-nos o caminho da fundação de um gigantesco parque industrial para álcool anidro. Rota acertada. Diretiva econômica lógica. Conseqüência: - gradativa nacionalização do combustível e segurança absoluta dos justos preços do açúcar. (...) O Brasil, em matéria de combustível, é um país colônia. Andamos arrastando cifras fantásticas, para transformação em movimento, em circulação, em força. Porém, nem sempre é motivo de orgulho a ostentação nas colunas de importação, de números astronômicos (Dé Carli, 1942, p. 46).
automóveis a serviço da União, Estados e Municípios
É preciso não esquecer que o grande cres-
deveriam utilizar álcool ou, na falta deste, um carbu-
cimento populacional, como ocorreu em São
rante com pelo menos 10% de álcool. As estradas de
Paulo, impulsionado principalmente pela imigra-
ferro também só poderiam cobrar um frete inferior a
ção, aumentaria os gastos do país com a impor-
50% do estabelecido para a gasolina e os automóveis
tação de gasolina. Em torno dessas idéias estava
de carga ou de passageiros com motores de com-
o desenvolvimento de pesquisas a muito financia-
pressão um para seis, teriam um abatimento de 20%
das pelo Governo, tanto para aperfeiçoar o car-
sobre os direitos de importação.
burante nacional como para justificar a sua su-
Como a intenção era claramente incentivar a
premacia frente a outros produtos. Assim, já em
produção alcooleira, em 4 de agosto de 1931, o Es-
1931, o chefe do Serviço Geológico do Ministé-
tado criaria a Comissão de Estudos sobre o Álcool-
rio da Agricultura, Luiz Flores de Morais Rego, na
Motor. Caberia à CEAM receber todas as reclama-
conferência organizada pela SNA, afirmava que
ções, petições e sugestões referentes à questão do
dentre os recursos brasileiros em carburantes de
álcool, além de, propor medidas para o desenvolvi-
substituição:
mento dessa produção. Essa Comissão seria composta tão-somente por representantes do Ministério da Agricultura, da Fazenda e do Trabalho, Indústria e Comércio, não contando com a participação de representantes dos produtores de açúcar e fornecedores. Essa organização administrativa pode ser considerada como um demonstrativo da centralização, por parte do Governo Federal, da produção alcooleira no país (Velloso, 1952, p. 43-44). Para tanto, os próprios representantes do Governo legitimaram as suas ações utilizando-se do ideário defendido tradicionalmente desde a Primeira República, isto é, o incremento da indústria alcooleira seria o principal meio para debelar a crise de superprodução e diminuir os gastos com a importação de
o álcool, derivado da indústria do açúcar e futuramente extraído de outros produtos vegetais por processos modernos, é incontestavelmente o produto nacional mais apto ao emprego intensivo como carburante de substituição. Diversas razões concorreram para tanto: a multiplicidade de fontes capazes de produzi-lo, espalhadas por todo o país; a facilidade de intensificação imediata de sua produção pela indústria açucareira, com melhor aproveitamento dos melaços e aumento de rendimento da fermentação, e pelo tratamento por processos modernos de outros produtos vegetais e, finalmente, a possibilidade de obtê-lo por preço muito baixo pelo fator de aperfeiçoamento dos processos de fabricação (Rego, 1931, p. 72). Revista da ANPG, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 46 - 57, segundo sem. 2009
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A construção de uma ideologia para a produção alcooleira no Brasil: 1889-1945
Uma vez superadas as primeiras dificuldades técnicas de utilização do álcool, o Governo tentaria incentivar a iniciativa privada a investir na indústria alcooleira. Assim, estabeleceu um premio de 50:000$000 para a primeira destilaria produtora de álcool anidro construída no país. Porém, o elevado custo de montagem de uma destilaria que orçava no período em torno de Rs 2.000:000$000, acabaria desestimulando os produtores. Aliás, nenhuma destilaria seria construída. O próprio Governo criaria casualmente um dos principais empecilhos, uma vez que, pelo decreto n.º 22.008, o preço do álcool foi fixado em Rs1$000 o litro, - inviável para o produtor. Dessa forma, o Governo tomaria como uns dos seus fins específicos a transformação dos excessos de açúcar em álcool. Para isso, designaria a CPDA e o CEAM. Malgrado os esforços, nenhuma dessas Comissões conseguiu desenvolver a indústria alcooleira. Releva notar que, uma das últimas medidas da CPDA, a fim de incentivar a produção alcooleira no país, foi conceder uma verba de Rs 2.400:000$000, como forma de auxiliar na montagem do parque industrial alcooleiro.
Álcool, Autarquia sucessora dessas Comissões, Gileno Dé Carli: Reunia o Governo os dois problemas – o do açúcar e o do álcool – que até então se estudavam e se encaminhavam separadamente. E essa fusão deu ensejo a criar uma feliz situação para a indústria açucareira do Brasil, pois que, sendo um país de economia nitidamente agrária, não foi obrigado a reduzir os seus canaviais. Aliás, a limitação açucareira, entre nós, têm um sentido “sui generis”, pois, como veremos, não se diminui e produção. Ela foi simplesmente estabilizada. Não houve sacrifícios profundos. Coibía-se somente que a ambição de maiores e crescentes lucros levassem o produtor a aumentar progressivamente suas safras (Dé Carli, 1942, p. 28-29).
Por outro lado, o IAA incentivaria muito mais a política de desenvolvimento do álcool-motor do que o açúcar em si. Para nós, tal fato relaciona-se a própria visão do álcool como alternativa para a produção açucareira ou, ainda, uma forma de controlar a crise de superprodução e diminuir os gastos com combustíveis. Em relação a isso, Moacyr Soares Pereira, já destacava, em 1942, que:
é, com o desenvolvimento do parque alcooleiro. No
o Governo já incentivava a produção alcooleira antes de cuidar de proteger a do açúcar. No caso do álcool, tão pouco, a intervenção revestiase do caráter de defesa. O que se visava em primeiro lugar era ajudar a balança comercial do país, restringindo as importações. Diante do colapso de nossa exportação arrastada para baixo, principalmente pela queda do café (Pereira, 1942, p. 10).
entanto, a julgar pelas amostras iniciais da atuação da
Esse discurso seria efetivado no próprio Esta-
CPDA, pode-se dizer que foi somente com a criação
tuto de criação do Instituto do Açúcar e do Álcool que
do Instituto do Açúcar e do Álcool que se iniciou o
justificaria a atuação do Estado em relação ao álcool
efetivo planejamento da produção alcooleira no Bra-
devido às assertivas anteriores e à própria expansão
sil (Guimarães, 1991, 63-65 e Szmrecsányi, 1979, p.
do mercado desse produto.
Porém, é incontestável que essa e as outras medidas implantadas pelo órgão foram insuficientes para debelar a crise de superprodução açucareira através do direcionamento dos seus excessos para a produção alcooleira. É importante acentuar que essas medidas só seriam eficazes em longo prazo, isto
176-178). Para além desses aspectos, cabe também apontar a imaturidade dessas primeiras medidas. Acreditamos que um dos principais pontos de entrave das políticas implementadas pela CEAM e pela CPDA tiveram pouca eficácia por tratar separadamente o problema do açúcar e do álcool. O que fez supor a assertiva de nossa hipótese foram os dizeres de um dos presidentes do Instituto do Açúcar e do 52
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Considerando que, desde as medidas iniciais, de emergência e preparatórias, sempre se considerou que a solução integral e a mais conveniente à economia nacional para as dificuldades da indústria açucareira, está em derivar para o fabrico do álcool industrial uma parte crescente das matérias-primas utilizadas para a produção de açúcar. (...) considerando que o consumo de álcool industrial oferece um mercado cada vez maior, com possibilidades quase ilimitadas (Velloso, 1952, p. 85).
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MEIRA, R. B.
O Estatuto de criação do IAA ilustra o alto grau
Claro está que um dos primeiros problemas
de controle que o IAA teria sobre a produção alcoo-
sérios que o IAA deveria resolver era a questão do
leira. Vale ainda ressaltar que devido à complexidade
aperfeiçoamento da mistura carburante, para que
do assunto, o Instituto criaria uma Secção para cuidar
não houvesse problemas de danificação dos moto-
das questões especificas da produção alcooleira, - a
res. Essa parte ficaria a cargo do Instituto Nacional de
Secção do Álcool-Motor -. Assim, essa Secção cuida-
Tecnologia. Em relação a esse aspecto, o seu diretor
ria do:
Ernesto Lopes da Fonseca Costa, em setembro de recebimento do álcool destinado à mistura, entrega da parte pertencente às companhias e empresas importadoras de gasolina, preparação e venda do novo carburante para as repartições públicas e distribuição por todos os centros de consumo (IAA, 1942, p. 323).
Essa Secção era responsável por todas as operações relativas ao álcool, estipuladas anualmente nos planos de safra elaborados pela Comissão Executiva. Não por acaso, inicialmente, as suas funções se restringiram principalmente para a produção e comercialização do álcool-anidro resultante de sua mistura à gasolina. Assim, tão-somente com o advento da Segunda Guerra Mundial, passaria a abranger também o controle da produção e da distribuição do álcool hidratado. Foi graças a essa Secção que o Instituto conseguiu implementar a política de difusão do emprego do álcool-motor nos automóveis oficiais e particulares, o que acabou minando as resistência iniciais ao consumo do álcool-motor (Szmrecsányi, 1979, p. 227-228).
1934, discorre em seu relatório para a Presidência do IAA: As experiências realizadas na França e na Alemanha, tendo por base a natureza da gasolina e os tipos de motor e carburador comumente utilizados nesses países, levaram os respectivos governos a fixar o carburante álcool-gasolina na proporção de perto de 25% de álcool anidro e 75% de gasolina. As experiências realizadas na América do Norte confirmaram, porém, esses resultados, ou porque fosse diferente a gasolina empregada ou porque fossem diversos os tipos de motor ou carburador. Era imprescindível, por conseguinte, que o Instituto Nacional de Tecnologia procurasse resolver, diretamente o assunto, estabelecendo, de modo sistemático, ensaios sobre todos os tipos de mistura com as diferentes gasolinas que vêm ao nosso mercado e o maior número possível de motores, antigos e modernos de forma a obter conscientemente, a melhor fórmula da mistura carburante a ser utilizada no país (Brasil açucareiro, 1934, p. 13).
Diante dos diagnósticos apresentados acerca
Vale ainda ressaltar, nesse estudo, a própria
do agravamento da crise do setor açucareiro, em
conclusão do Instituto. Segundo o IAA, as vantagens
1932, o Governo implementaria uma forte campa-
dessa mistura era a resistência a detonação, devido
nha para a divulgação do álcool-motor, chegando a
ao valor anti detonante do álcool. Além disso, a me-
autorizar misturas contendo 60% de álcool de baixa
lhoria do índice de octana sobre a própria gasolina
qualidade com 40% de gasolina. Além disso, para in-
pura, a potência do motor permanece praticamente
centivar o consumo, o preço da mistura foi fixado em
constante, apesar do maior poder calorífico da mis-
$875,00 em concorrência aos 1$100 cobrados pela
tura, maior aceleração e consumo praticamente igual
gasolina na Capital Federal. Não por acaso, a incidên-
ao da gasolina pura. As experiências que levaram a
cia de variação da percentagem das misturas de re-
percentagem ideal de álcool em carros com motores
gião para região era o principal problema relatado no
a gasolina foram relatadas pelo engenheiro Eduardo
período. Tal fato é perceptível quando comparamos
Sabino de Oliveira:
as misturas utilizadas em Pernambuco e no Distrito Federal. Enquanto no primeiro estado, a mistura era composta de 94% de álcool hidratado, no segundo caso, o álcool representava somente 10,2% (Truda, 1937, p. 97).
As experiências por nós executadas nos laboratórios do Instituto Nacional de Tecnologia mostraram que, embora várias marcas de motores aceitem misturas de percentagem relativamente elevadas de álcool (25%) devido à riqueza da Revista da ANPG, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 46 - 57, segundo sem. 2009
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mistura fornecida pelos respectivos carburadores, há vários outros motores que não aceitam senão percentagens reduzidas, notadamente os motores Ford 1934 e La Salle 1934, que não toleram mais que 10% de álcool anidro sem necessidade de regulagem da carburação. Assim sendo, a mistura está fixada: 90% de gasolina e 10% de álcool anidro (Oliveira, 1942, p. 28).
tomaria uma série de resoluções referentes ao álco-
O IAA teria um sucesso maior ao diversificar
das destilarias centrais e a fixação do preço do álcool
os incentivos à produção alcooleira, como na atuação paralela de incentivar as destilarias privadas e construir destilarias estatais. Dessa forma, a primeira destilaria privada montada com incentivos do Instituto foi construída em Piracicaba e pertencia à Société de Sucreries Brésiliennes. A sua capacidade inicial seria de 12.000 litros, mas, em 1933, já produzia 100.000 litros de álcool anidro. O Instituto também construiria duas destilarias centrais, uma em Campos e outra em Pernambuco. O projeto inicial era construir três destilarias centrais localizadas nos estados de Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo. Porém, só as destilarias centrais dos dois primeiros estados seriam construídas, porque os produtores paulistas preferiram o apoio do IAA para dotar cada usina individualmente de destilarias particulares. Porém, os produtores ainda mantinham certo receio em relação à produção de álcool anidro, principalmente porque, o preço do açúcar era mais elevado. Essa situação só mudaria com o adven-
ol combustível e, entre essas, estaria a elevação do preço de compra do álcool anidro dos produtores. (Guimarães, 1991, p. 76). Segundo palavras de Gileno Dé Carli, o Instituto não teve outra saída para implantar definitivamente a indústria alcooleira senão tomar para si a instalação pelo IAA. Se o Instituto estivesse enveredado, exclusivamente pela solução de empréstimos a particulares, com a educação econômica dos produtores brasileiros, teríamos de arcar com inúmeros tropeços e obstáculos. Em primeiro lugar, o exclusivismo industrial tornaria difícil proporcionar dentro de sua fábrica, um trabalho de sentido coletivo. Depois, a ambição natural do usineiro, encontrando melhores preços para o açúcar que para o álcool, procuraria sempre a produção que melhor atendesse o seu interesse. Seria difícil finalizar a exata aplicação das percentagens de açúcar e de álcool, para a vazão de toda a produção canavieira. Ficaria para a solução dos excessos, o Instituto subordinado ao interesse do usineiro, quando este é que deve estar sob a vontade do Estado. Por todos esses motivos, e, sendo a destilaria central um órgão de equilíbrio entre a produção e o consumo, é plenamente louvável à orientação do Governo Federal, pendendo para a instalação das destilarias centrais (Dé Carli, 1939, p. 153).
to do Estado Novo e as conseqüências da Segundo
Em várias ocasiões, como nos congressos orga-
Guerra, que favoreceram enormemente a produção
nizados pelo Instituto, os dirigentes explicitavam essa
alcooleira (Guimarães, 1991, p. 148-153).
defesa. Entretanto, a mudança em relação ao posi-
Dessa forma, o IAA teria que solucionar a ques-
cionamento dos produtores em relação ao álcool só
tão dos preços, deixada pendente durante a atuação
ocorreria após a implantação do Estado Novo. Para
do CEAM e da CPDA. Como já foi dito, os produto-
Gnaccarini, a indústria álcool-motora teria um novo
res se recusavam a converter os seus excessos devido
destaque nesse período, pois a “questão do açúcar
aos baixos preços do álcool. Assim, apesar dos esfor-
como um problema nacional e a idéia do dirigismo es-
ços do Presidente do IAA, Leonardo Truda, durante
tatal firmava-se na ideologia dominante”. (Gnaccarini,
os anos de 1932 e 1937, a produção alcooleira não
1972, p. 72).
tomaria fôlego. Guimarães afirma que “enquanto os
Releva assinalar que, nesses anos, ocorreria um
preços do álcool bruto e hidratado ficaram liberados
acerbamento da crise de produção, o que levou mui-
no mercado, o preço do álcool anidro permaneceu o
tos produtores de açúcar a repensarem o papel da
mesmo e mais baixo que os outros dois, no período
indústria alcooleira. Esse novo posicionamento modi-
1934 e 1941. Somente a partir de 1942, em virtude
ficou a própria matéria-prima utilizada na fabricação
da Guerra e da pressão dos produtores, foi que o IAA
do álcool, que passou a ser feito realmente com os
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MEIRA, R. B.
excessos da produção açucareira. Como se sabe,
superprodução da indústria açucareira, estabelecendo o
durante o Governo Provisório, o álcool era feito so-
equilíbrio entre a produção e o consumo” e da mesma
mente com os resíduos do açúcar e as sobras dos
forma “diminuir a importação de carburante estrangei-
canaviais.
ro”. (Conselho Federal do Comércio Exterior, 1944,
Segundo Guimarães, essa nova fase da indús-
p. 83-84).
tria alcooleira foi um reflexo direto da ampliação dos
Em 1940, o país já possuía 38 destilarias de álco-
poderes do Estado após o golpe que daria início ao
ol anidro, com capacidade anual de produção de 85,8
Estado Novo. Dessa forma, o IAA também ganharia
milhões de litros anuais. O plano de safra 1940/41 au-
mais força para atuar. Assim, o autor defende que:
torizou os produtores a dissolver o açúcar de excesso
isso permite reconhecer que, a partir do Estado Novo, a idéia do dirigismo econômico, combatido pelos produtores açucareiros, passaria a se configurar na política dominante do IAA. As mudanças ocorridas na estrutura administrativa do IAA, fazendo com que ocorressem mudanças na composição da Comissão Executiva, bem como a criação de diversas seções referentes à produção açucareira e alcooleira, de demonstra a inserção da agroindústria canavieira no projeto corporativo do Estado Novo (Guimarães, 1991, p. 94).
de sua produção, transformando-o em álcool de qualquer tipo. Dessa forma, 43% da produção do álcool registrada naquela safra foi proveniente diretamente da cana ou de açúcar dissolvido. A produção de álcool anidro também atingiu 67 milhões de álcool anidro, superando, pela primeira vez, a produção de álcool hidratado. Já nesse ano, 60% da gasolina importada, que orçou em 598 milhões de litros, possuía uma percentagem de álcool. (Santos, 1997, p. 61-64). Em 21 de fevereiro de 1941, com a resolução
O forte crescimento industrial do período in-
da Comissão Executiva, o Instituto daria um novo im-
centivaria a indústria alcooleira, em razão dos eleva-
pulso para a indústria alcooleira, com a elevação para
dos gastos com a importação de petróleo. Durante
20% do teor da mistura álcool-gasolina. Tal medida
o período da Guerra até 1943, o país gastou Cr$
foi tomada em razão do aumento da produção de ál-
4.137.528.000,00 só com a importação de petróleo
cool anidro nas destilarias do país e a conseqüente
e derivados. Assim, o álcool passou a ser visto tam-
necessidade de escoar essa produção. Pode-se dizer
bém como uma forma de poupar divisas. Além disso,
que a partir desse momento, iniciou-se uma política
o IAA desenvolveria estratégias para convencer a po-
mais acentuada do setor alcooleiro, pois não levaria
pulação da importância do álcool-motor, através de
em conta a capacidade de consumo do país ou as in-
congressos, patrocínios de corridas, como no caso
dicações técnicas, mas sim as necessidades de esco-
da Subida da Tijuca, em 1938 e o Grande Prêmio da
amento da produção das destilarias. (Velloso, 1952,
Cidade do Rio de Janeiro, em 1939. O principal obje-
p. 524).
tivo do Instituto era aumentar o consumo nas cidades
Alguns meses depois, o Estado criaria a Comis-
mais industrializadas, como no caso de São Paulo, que
são Nacional de Combustíveis e Lubrificantes. Essa
já consumia no período 50% da gasolina importada.
Comissão era composta pelo Presidente do Conselho
(Guimarães, 1991, p. 97-103).
Nacional do Petróleo, pelo Presidente da Comissão
Em 1938, o IAA, numa atuação conjunta com
Executiva do IAA, por um membro da Comissão Na-
o Conselho Federal de Comércio Exterior, obrigaria
cional de Gasogênio e por um membro do Conselho
as companhias importadoras de gasolina a manterem
de Minas e Metalurgia. No entanto, percebe-se a im-
bombas destinadas à distribuição de álcool anidro.
portância vital dessa Comissão ao verificarmos que
Nesse caso, essas medidas pretendiam conciliar as
dentre os seus quadros constava um representante
disposições referentes ao petróleo e o álcool anidro.
do Ministério da Guerra, um do Ministério da Mari-
Mas o principal foco era atender a “imperiosa necessi-
nha e um do Ministério da Aeronáutica. Além disso, a
dade de proteger e desenvolver a indústria de fabricação
sua sede localizar-se-ia na Sede do Conselho Nacio-
do álcool anidro”, como forma de “debelar as crises de
nal de Segurança, cujo Secretário Geral teria o voto Revista da ANPG, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 46 - 57, segundo sem. 2009
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de minerva. A função da Comissão seria coordenar a política geral da produção e distribuição de álcool. (Velloso, 1952, p. 459-460). O que se pode desprender desse período, em
do, mediante uma obra indispensável mais relativamente fácil, de adaptação e de transformação. Essa defesa, que queremos tornar definitiva, é a do açúcar pelo álcool (Truda, 1971, p. 57).
relação à produção alcooleira, é a mudança do posi-
Essa defesa ganharia ainda mais força com a
cionamento tanto dos dirigentes da política de defesa
deflagração da Segunda Guerra. Os dirigentes do Ins-
da produção alcooleira como da própria população.
tituto passaram a afirmar de forma mais enfática que
Em 1930, o álcool era visto como uma atividade al-
a produção do carburante nacional auxiliaria o país a
ternativa, isto é, uma forma de minorar a crise de su-
poupar divisas e a direcionar uma parte da produção
perprodução açucareira.
açucareira para essa indústria, já que as exportações
Pode-se dizer que a ação governamental para
não aumentaram no período. Generalizava-se, por
estimular a produção e o consumo do álcool-motor
essa via, a defesa do álcool-motor. A despeito dos di-
foi o principal responsável pelo desenvolvimento des-
versos problemas, o Instituto conseguiria fortalecer
sa indústria. Para isso, o Governo muitas vezes teve
a produção alcooleira no país, criando as bases para
que impor as suas decisões aos produtores. Assim, a
a sua futura expansão, como podemos observar no
aceitação relativa a essa política foi uma conseqüência
gráfico abaixo:
do papel de financiador do Instituto como: os empréstimos para a construção de destilarias particulares, a construção de destilarias centrais nos estados mais afetados pela crise do açúcar, a facilitação para a importação de maquinários, a isenção de impostos para a produção do álcool-motor, a utilização do álcool nos automóveis oficiais para incentivar o consumo. O Instituto atuou como o principal responsável pelas pesquisas na área de aperfeiçoamento do carburante e pela fiscalização e distribuição da produção alcooleira nacional. Enfim, claro está que o IAA controlaria quase que na sua totalidade esse setor produtivo. Retomar-se-ia à velha ideologia defendida pela SNA, que delegava ao álcool a tarefa de tábua salvadora da indústria açucareira, ou seja, um fator de equilíbrio. Essa seria a forma de conter a crise de superprodução sem limitar a expansão dos canaviais. Tal ideologia fica explicita nas palavras do primeiro presidente do IAA, Leonardo Truda: Limitar, porém, a produção açucareira, como essa limitação a entendemos e nas condições a que a subordinamos, não importa, absolutamente, estancar uma fonte possível de riqueza, impedindo a uns de abeberar-se nela, para que outros não o deixem de fazer. Ao contrário, o que se quer é defender mais eficientemente essa riqueza, é resguardar a riqueza atual, para aumentá-la quando esse primeiro objetivo haja sido realiza56
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Fonte: (Anuário Açúcareiro, 1941, p. 149).
Joaquim de Melo, redator do Brasil Açucareiro, - o mais importante meio de divulgação da ideologia dominante do Instituto do Açúcar e do Álcool -, explicita claramente a ideologia que se formou em torno da indústria alcooleiro ao afirmar que: As usinas eram como velhas imprudentes que desperdiçavam a sua riqueza, produzindo-a excessivamente e depreciando-a cada vez mais. As destilarias são os filhos moços que, educados na economia e na técnica moderna, corrigíramos desperdícios paternos, transformando-os em novas riquezas.
À guisa de conclusão, poderíamos dizer que a construção da indústria alcooleira, no Brasil, surgiu da necessidade de controlar a crise de superprodução. Mais ainda, a execução das medidas de natureza econômica voltadas para a produção alcooleira, principalmente para recuperar uma produção há séculos ameaçada por uma crise quase ininterrupta, não era novidade no país, nem as medidas adotadas na sua
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MEIRA, R. B.
maioria o eram. Acerca de tudo o que foi exposto, não se pode deixar de pressentir que a indústria alcooleira estruturou-se segundo os planos traçados, desde a Primeira República, pelo MAIC e pela SNA. Debalde todos os esforços dos seus ideólogos, o álcool não conseguiu a relevância esperada. Nesse sentido, releva notar que esse ainda era um produto novo. Assim, a sua expansão no pós-30 viria apoiada na própria conjuntura do período, ou seja, havia um pensamento econômico e político propícios a uma maior intervenção estatal no setor, o que levaria à aplicação de quase todas as medidas propostas, - fato inimaginável no período predecessor.
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Elaboração de fermentado alcoólico a partir de suco de abacaxi (Ananas comosus) Production of alcoholic fermented from pineapple juice (Ananas comosus) Elaboración de fermentación alcohólico desde el jugo del ananás (Ananas comosus) RESUMO Thalyta Christie Braga Rabêlo Mestranda em Engenharia Química pela Universidade Federal de Alagoas - UFAL
1
Visando produzir uma bebida fermentada com características químicas, aromáticas e sensoriais de vinho, foi realizado experimento de fermentação alcoólica utilizando suco de abacaxi, como substrato. Em razão de o teor de açúcares presentes no mosto não ser suficiente para atingir a graduação de vinho de mesa, foi necessária a adição de açúcar. Observa-se que o suco de abacaxi, como os de outras frutas, é meio propício para fermentação alcoólica, atingindo, com a adição de açúcar, teor alcoólico de cerca de 11 % em volume. A finalização do produto final foi feita com ajustes das concentrações por adição de etanol e de açúcares totais para atingir 16 % e 9,5 %, respectivamente. Palavras-Chave: Fermentação; abacaxi; vinho.
ABSTRACT Aiming to produce a fermented beverage with chemical characteristics, as flavor and taste of a wine, alcoholic fermentation experiments were carried out with the use of pineapple juice. Since it was found that the amount of sugar in the fresh juice was not enough to meet the standard alcoholic grade of a table wine, more sugar was added. It is observed that the pineapple juice, similarly to juices from other fruits, enables fermentation environment, meeting, with the addition of sugar, alcoholic content of about 11 % in volume. The completion of final product was made with adjustments by the addition of concentration of 16 % ethanol and 9.5 % total sugar, accordingly. Keywords: Alcoholic fermentation; pineapple; wine.
RESUMEN
1
Thalyta Christie Braga Rabêlo . Correspondência: Rodovia AL 101 Norte, 235, Garça Torta.- Maceió – AL – Brasil. Endereço eletrônico: thalytarabelo@hotmail.com
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Proponiéndose producir una bebida fermentada con características químicas, aromáticas y sensoriales de vino, ha sido realizado experimento de fermentación alcohólica utilizando jugo de ananás como sustrato. Por el hecho de el tenor de azucares presente en el mosto no ser suficiente para lograr la graduación característica del vino de mesa, ha sido necesaria el añadido de azúcar. Amaitinase que el jugo de ananás, como los de otras frutas, es un medio propicio para fermentación alcohólica, logrando, al añadirse el azúcar, tenor alcohólico alrededor de 11 % en volumen. La finalización del producto final he sido hecha con arreglos de las concentraciones por añadido de etanol y de azucares totales al fin de lograr los 16 % y los 9,5 %, respectivamente. Palabras-claves: Fermentación; ananás; vino.
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RABÊLO T. C. B.
INTRODUÇÃO
to baseadas na experiência individual de técnicos e pequenos produtores, ou em escala empresarial. A
O Brasil, pelo clima dominante em grande par-
essas experiências somam-se recentes avanços cientí-
te do território, destaca-se como propício ao desen-
ficos que estão sendo obtidos através de investimen-
volvimento da fruticultura tropical. Há, no entanto,
tos na atividade produtiva, mais organizada em bases
ainda, grande desperdício no processamento pós-
mercadológicas. Contudo, pelas diferenças, sobretu-
colheita de muitas culturas, com significativas perdas
do climáticas, inerentes às regiões tropicais (onde a
econômicas para o produtor e para o consumidor fi-
videira vegeta durante todo o ano, produzindo uvas
nal. [14], [17].
em períodos - de inverno, por exemplo - não tra-
Do ponto de vista do metabolismo celular das
dicionais, não comparáveis ao regime de cultivo de
leveduras, as matérias-primas utilizadas na produção
regiões temperadas, ou mesmo ao longo de todo o
de bebidas fermentadas podem ser diretamente ou
ano), há muito o que se conhecer para se caracterizar
indiretamente fermentescíveis. Entre as frutas tropi-
a região tropical como potencial de desenvolvimento
cais, o abacaxi (Ananas comosus) destaca-se por ser
vitivinícola. O mesmo ocorre com a tecnologia apli-
de relativamente fácil manejo, cultivo e de alto valor
cada à produção de vinhos de frutas tropicais, que
energético; é rico em carboidratos fermentescíveis e
ainda está por ser desenvolvida, mesmo em contexto
o suco proporciona ótimas condições à fermentação
internacional.
alcoólica. A conversão desses açúcares em etanol é
Os vinhos tropicais são comumente produzi-
realizada com o emprego de leveduras, agentes da
dos em volumes comparativamente menores, não
fermentação alcoólica, utilizados em escala industrial.
são conhecidos do consumidor, tampouco no mer-
Vários estudos (Faria, 1994; Dias, 1996; Abreu,
cado internacional. Pode-se dizer que os vinhos tro-
1997) têm sido realizados visando minimizar a perda
picais ainda não criaram identidade própria. É pre-
de matérias-primas, através da elaboração de bebi-
ciso, ainda, enfrentar o desafio de se ampliar a base
das, como vinhos suave, seco gaseificado, suave ga-
tecnológica para se seguir avançando em qualidade,
seificado etc. Porém, a obtenção de um produto com
bem como conquistar espaço e competitividade no
padrão de qualidade aceitável ao consumo, como
mercado. Certo é que os vinhos tropicais possuem
vinho de frutas, ainda depende de alguns fatores a
características particulares que poderão ser progres-
serem estudados (Casimiro et al., 1989; Medeiros,
sivamente valorizadas no plano competitivo em rela-
1990). [1], [22].
ção aos produtos tradicionais. Por outro lado, consta-
Alternativas visando a redução dos desperdí-
ta-se que cada país produtor de vinhos tropicais tem
cios na pós-colheita com agregação de valores, como
trabalhado, isoladamente, nesse propósito. Por este
bebidas fermentadas, podem ser obtidas por proces-
diagnóstico, fica evidente que toda ação articulada
sos de industrialização de frutos, obtendo-se produ-
entre os países produtores de vinhos de regiões tro-
tos que pode ser armazenados por períodos mais
picais possibilitaria avançar mais rapidamente, através
longos.
de mecanismos de intercâmbio de experiências e de
Praticamente toda fruta pode ser utilizada na
tecnologias, bem como através de estratégias comuns
produção de um fermentado alcoólico ou vinho. En-
de promoção da qualidade e da imagem dos vinhos
tretanto, não há uma tecnologia totalmente voltada
tropicais no mundo.
para a produção de vinho que não seja de uva, no que
A fermentação alcoólica de suco de frutas pro-
se diz respeito à levedura a ser utilizada, à tempe-
duz álcool etílico, como produto principal, e muitos
ratura ideal de fermentação, à forma de preparo do
outros componentes secundários, como o glicerol, al-
mosto e às condições da fermentação.
deídos, metanol, alcoóis superiores, ácidos e ésteres,
As tecnologias vinícolas tiveram de ser adequa-
que contribuem para as características sensoriais dos
das, historicamente, em evolução tecnológica, mui-
produtos fermentados. A natureza e a qualidade dos Revista da ANPG, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 58 - 63, segundo sem. 2009
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Elaboração de fermentado alcoólico a partir de suco de abacaxi (Ananas comosus)
componentes dependem da matéria-prima utilizada,
Foram adquiridos cerca de 47kg do fruto, de
das características do agente da fermentação, da con-
fornecedores comerciais, do mercado público de
dução do processo e do sistema de envelhecimento
Maceió, AL. Os frutas foram previamente seleciona-
(Dato et al., 2005).
das, passaram pelo processo de sanitização com a fi-
As reações enzimáticas responsáveis pela trans-
nalidade de redução da carga microbiana impregnada
formação química do açúcar em etanol e gás carbôni-
na casca. Foi retirada a casca, reservada e aproveita-
co acontecem no interior da levedura: a molécula de
da para a produção de polpa e de licor.
glicose é metabolizada por um processo anaeróbico
A extração do suco da polpa foi feita utilizan-
constituído de doze etapas, culminando com a trans-
do-se liquidificador industrial e despolpadeira, a fim
formação em etanol e gás carbônico. Cada reação é
de se obter o máximo de rendimento em mosto. A
catalisada por uma enzima especifica e todo processo
polpa foi filtrada, inicialmente, com peneira de ma-
enzimático acontece no citoplasma celular. A reação
lha de 1,0mm e, posteriormente, em peneira de 0,3
global pode ser genericamente representada pelas
mm, visando retirar o máximo de resíduo sólido. Do
equações químicas:
[4], [8], [12], [13]
filtrado, foi recolhida amostra para as determinações químico-analíticas. O mosto (suco de abacaxi), inicialmente com 12,1Brix, foi adicionado ao fermentador e processa-
PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL A figura 1 apresenta o fluxograma das etapas do processo de produção do fermentado alcoólico partir de suco de abacaxi.
da a adição de fermento. Foi utilizado fermento granulado seco (levedura, Saccharomyces cerevisiae) comercialmente utilizado em panificação. A proporção utilizada foi de 20g para 8,5L de mosto. A adição do mosto ao fermentador foi feita em
Figura 1 – Fluxograma do processo de produção do fermentado alcoólico de suco de abacaxi.[17]
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três etapas, com intervalos de 24horas entre uma e
12,5% v/v, concentração típica de vinho de mesa.
outra alimentação. Antes de cada alimentação era fei-
Como no suco de abacaxi a concentração de
ta a determinação do Brix do meio em fermentação.
açúcar é de 9,71 %, o teor alcoólico máximo a ser
Depois da última alimentação, quando o meio
atingido seria de cerca de 4,9 a 5,0 % (vol/vol). Para
atingiu Brix “zero”, foi processada adição de açúcar
elevar o teor alcoólico a cerca de 12,5 % foi necessá-
(chaptalização) visando elevar o teor alcoólico ao li-
rio adicionar açúcar (chaptalização) ao meio em fer-
mite máximo suportado pela levedura. Após atingir o
mentação.
limite máximo de etanol, o meio fermentado foi divi-
A relação entre o suco extraído e o peso total
dido em duas partes: uma foi considerada “vinho de
dos frutos foi de 0,649 L/kg ou de 64,9 %. Consi-
mesa”; na outra, a concentração de etanol e de açú-
derando uma perda de cerca de 25 %, durante as
cares totais foram corrigidas, respectivamente, para
operações de clarificação, trasfegas, filtração e outros
17 % e 12 %, visado a obtenção de um fermentado
tratamentos finais, o rendimento deverá ser de cerca
alcoólico do tipo “vinho fortificado” licoroso, como
de cerca de 490 L de vinho por tonelada de abacaxi.
Porto ou Xerez.
Com relação aos resíduos do processo de extração do suco os seguintes dados são expressos na
Análises físico-químicas Para monitoramento das características químicas do fermentado, utilizou-se métodos analíticos de: (i) refratometria para medição do índice de refração das soluções e sua conversão a sólidos solúveis totais (Brix); (ii) método Eynon-Lane para se obter o teor de açúcares redutores (A.R.) e de açúcares redutores totais (A.R.T.); (iii) potenciometria para determinação do pH; (iv) titulometria para determinação da acidez total e (v) ebuliometria para determinação do teor alcoólico. [7], [11].
Resíduos (kg/kg)
Casca 0,306
Bagaço da despolpadeira 0,08
Figura 3: Resíduos gerados por cada quilo de fruto processado
Uma parte da casca foi utilizada na elaboração de licor, o restante, em polpa congelada visando a produção de suco. Com do bagaço foi elaborado o licor, além do doce fibroso. Portanto, foi utilizado o resíduo por completo com a finalidade viabilizar um aproveitamento total dos frutos.
RESULTADOS E DISCUSSÕES Resultados analíticos do suco de abacaxi utilizado na fermentação:
Fermentação e Obtenção do Fermentado: Dos resultados químico-analíticos do suco do abacaxi, observou-se que se trata de uma amostra de fruto com acidez elevada, mas não a ponto
SUCO do ABACAXI (MOSTO) BRIX ACIDEZ (g/100g) pH A.R. (g/100g) A.R.T (g/100g) SACAROSE (g/100g)
tabela da figura 3:
12,1 0,609 3,79 2,40 9,71 6,94
de inibir a fermentação alcoólica. A fermentação ocorreu durante 20 dias. Foi obtida uma bebida com graduação alcoólica de 11,6 °GL. O processo ocorreu de acordo com gráfico apresentado na figura 3.
Figura 2 – Resultados analíticos do suco de abacaxi
De acordo com os resultados apresentados na figura 2, observa-se que o Brix do suco é relativamente baixo se comparados com o suco de uva, que pode chegar a 25 g/100 mL de açúcares totais. Este valor daria, previsivelmente, um teor alcoólico de cerca
Figura 4 – Evolução da produção de etanol durante o processo fermentativo
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Elaboração de fermentado alcoólico a partir de suco de abacaxi (Ananas comosus)
Para se conseguir vinho com teor alcoólico mais elevado, adicionou-se, progressivamente, açú-
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
car ao mosto em fermentação até o limite de tolerância de teor alcoólico pela levedura. Esse limite foi um teor alcoólico de 11,6 GL. Sabe-se, porém, que para vinhos de outras frutas que não seja uva (como de abacaxi) tornarem-se encorpados e com boas características sensoriais, o substrato deve possuir teor alcoólico e concentrações dos açúcares nos níveis de vinhos fortificados, como o Porto e o Xerez. São, portanto, necessários ajustes do teor alcoólico para cerca de 16,0 GL e de açúcares redutores para 9,5 g/100 g.
CONCLUSÃO De acordo com os dados obtidos conclui-se que: • A concentração dos açúcares redutores totais no mosto é suficiente para se conseguir um teor alcoólico no vinho de apenas 5,0 a 5,5% de etanol, em volume (GL); • Para se conseguir um vinho com teor alcoólico mais elevado, é necessário adicionar açúcar ao mosto em fermentação, até o limite de tolerância de teor alcoólico suportado pela levedura. Esse limite foi um teor alcoólico de 11,6 GL; • Sabe-se, porém, que para vinhos de outras frutas que não seja uva (como, neste caso, de abacaxi), tornarem-se encorpados e com boas características sensoriais, devem possuir teor alcoólico e concentrações dos açúcares nos níveis de vinhos fortificados como o Porto e o Xerez. São, portanto, necessários ajustes do teor alcoólico para cerca de 16,0 GL e de açúcares redutores para 9,5 g/100g; • O rendimento em “vinho” por tonelada de abacaxi é da ordem de 500 L/ton; • Foi observado que as características sensoriais do produto obtido são, com o produto ainda recém produzido, de regular a bom. Entretanto, para se ter uma conclusão final, deve-se deixar envelhecer o vinho por um período de seis meses a um ano. Esse é o procedimento comum a qualquer processo de produção de bebida alcoólica, fermentada ou destilada. 62
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SEÇÃO SOBRE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
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ALVARENGA, C. E. A. & AZZI, R. G.
Formação de professores para o uso de tecnologias computacionais no ensino: considerações sobre a importância da auto-eficácia Teacher training for the use of computer technology in education: considerations on the importance of self-efficacy Formación de profesores para el uso de tecnologia informática em la educación: consideraciones sobre la importância de la autoeficacia
Cacilda Encarnação Augusto Alvarenga Doutoranda em Psicologia Educacional pela Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP
1
2
Roberta Gurgel Azzi Docente do Departamento de Psicologia Educacional da Universidade Estadual de Campinas- UNICAMP
RESUMO O artigo tem como objetivo promover uma reflexão sobre a potencial contribuição do constructo de auto-eficácia no planejamento de programas de formação de professores para o uso de tecnologias no ensino, a partir da apresentação de alguns estudos internacionais. Os estudos apontam que a falta de uso do computador no ensino pelos professores pode estar relacionada a uma baixa auto-eficácia computacional e que programas de formação podem auxiliá-los a aumentarem sua auto-eficácia para o uso didático de tecnologias. Palavras-Chave: tecnologias no ensino; auto-eficácia; formação de professores.
ABSTRACT The objective of the paper, based in international studies, is to promote a reflection on the potential contribution of self-efficacy in the planning of training programs for teachers in order to allow them to use technologies for teaching. Studies indicate that the lack of the computer usage in teaching can be related to a low computational self-efficacy and that training programs can assist teachers to increase their self-efficacy to use technologies for teaching. Keywords: technology in teaching; self-efficacy; training teachers.
RESUMEN 1
Cacilda Encarnação Augusto Alvarenga Correspondência: Av. Alexandre Cazelato, 2689, 21-A, Paulínia - SP -.Brasil - CEP – 13140-000 Endereço eletrônico: cacilda_augusto@yahoo.com.br
2
Roberta Gurgel Azzi Correspondência: Alameda Gomides de Olivieria, 811.- Bragança Paulista - SP – Brasil – CEP 12919601. Endereço eletrônico: betazzi@uol.com.br
El artículo tiene como objetivo promover una reflexión sobre el potencial contribución de la autoeficacia en el planejamento de programas de calificación de profesores para el uso de las tecnologías en la enseñanza, a partir de estudios internacionales. Los estudios señalan que el no uso didáctico de la computadora por los profesores se puede relacionar con la autoeficacia baja y que los programas de calificación pueden asistir a los profesores para aumentar su autoeficacia para el uso de tecnologías en la enseñanza. Palabras-claves: tecnologías en la enseñanza; autoeficacia; calificación de profesores. Revista da ANPG, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 65 - 71, segundo sem. 2009
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Formação de professores para o uso de tecnologias computacionais no ensino: considerações sobre a importância da auto-eficácia
INTRODUÇÃO
movimento, o entendimento dos alunos de conceitos considerados abstratos, difíceis de serem entendidos
As tecnologias de informação e comunicação
apenas a partir da leitura de um texto ou da explica-
têm mediado, cada vez mais, processos econômi-
ção do professor. “É muito mais fácil entender, por
cos, sociais e culturais. A grande maioria das pessoas
exemplo, como age a insulina no corpo humano vi-
não ignora a importância dessas tecnologias nas mais
sualizando uma animação que simule o processo de
diferentes esferas da vida: estudo, trabalho e lazer.
ação da insulina, do que somente lendo ou ouvindo
O não-acesso às tecnologias, especialmente as de
uma explicação” (AUGUSTO, 2003, p.39).
informática, é visto como um problema denomina-
Zimmerman e Schunk (2003) destacam que,
do “exclusão digital”, que pode causar desemprego
segundo a visão de Bandura (1999), a aprendizagem
e desigualdades entre as pessoas. Conforme Silvei-
humana é um evento social no qual as crianças apren-
ra (2001), em uma sociedade considerada da infor-
dem sobre o mundo ao seu redor por meio de transa-
mação, aqueles que não dominarem o computador
ções sociais e recursos midiáticos. Grande parte des-
e a comunicação em rede, não souberem organizar,
sa aprendizagem social não está sob o controle direto
processar e analisar informações, ficarão distantes da
de professores ou pais, mas surge do contato com
produção de conhecimento e estarão sujeitos a se-
irmãos e irmãs, pares, colegas de trabalho e meios
rem excluídos do mercado de trabalho.
de comunicação de massa. Constata-se, nesse con-
Educadores que participaram, na condição de
texto, a relevância de que os meios de comunicação
alunos, tutores ou docentes, de um estudo realiza-
abordem conteúdos criteriosamente desenvolvidos e
do por Augusto (2004), que teve entre seus objetivos
sejam também diretamente incorporados ao ensino.
avaliar o uso didático das tecnologias de comunica-
Experiências internacionais e iniciativas na-
ção e informação no ensino (computador, tele e vi-
cionais sobre o uso da informática na educação, na
deoconferência), tiveram opiniões semelhantes às de
década de 70 e início dos anos 80, contextualizam o
Silveira (2001). Eles dizem que as tecnologias estão
interesse do governo, do Ministério de Ciência e Tec-
presentes em praticamente todas as atividades do
nologia (MCT) e de pesquisadores na disseminação da
dia-a-dia, conhecê-las é fundamental para inserir-se
informática na sociedade e na implantação de progra-
no mercado de trabalho e não ser um “excluído digi-
mas educacionais voltados para uso do computador
tal” e, além disso, são fontes de interesse dos alunos
na educação. Em 1997, foi criado o Programa Nacio-
de hoje, imersos na chamada sociedade da comunica-
nal de Informática na Educação (ProInfo), vinculado a
ção e informação e, portanto, precisam ser conside-
Secretaria de Educação a Distância – SEED, do MEC
radas e incorporadas à educação.
(Ministério da Educação e da Cultura), que tem como
Os estudos de Pfromn Neto (2001); Valente
objetivo principal informatizar as escolas públicas e
(1999) e Niskier (2000; 1972); permitem constatar
auxiliar no processo de incorporação e planejamento
que a televisão e o computador são as tecnologias de
da nova tecnologia, no suporte técnico e na formação
informação e comunicação que mais têm sido utili-
dos professores e equipes administrativas das escolas
zadas na educação. Programas de televisão educati-
(TAKAHASHI, 2000).
vos podem assumir o papel da aula tradicional e os
Programas de formação de professores e ges-
vídeos (filmes, documentários etc) podem auxiliar
tores da rede pública de ensino para utilização de
professores no ensino de conceitos mais dificilmente
tecnologias da informação em sala de aula, como o
compreendidos sem o recurso audiovisual (AUGUS-
Programa Nacional de Formação Continuada em Tec-
TO, 2004). As tecnologias, como os ambientes mul-
nologia Educacional (ProInfo Integrado), implementa-
timídia, tornam possível a apresentação de conteú-
do pelo Ministério da Educação em abril de 2008 e
dos de uma forma lúdica e dinâmica, facilitando, por
que tem como expectativa formar 240 mil professo-
meio da associação entre textos, sons e imagens em
res até 2010, vem sendo vistos como solução para
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que os professores de Educação Básica consigam de
de auto-eficácia, formulado por Bandura (1997), no
fato utilizar o computador e a internet como recur-
planejamento de condições de formação de profes-
sos didáticos (INOVA BRASIL, 2008). A iniciativa,
sores para o uso de tecnologias. A compreensão de
sem dúvida, merece ser valorizada, e uma avaliação
como os programas de formação de professores para
do Programa, que investigue a prática dos professo-
o uso de tecnologias podem auxiliá-los na alteração
res a curto, médio e longo prazo, poderá dizer se os
da auto-eficácia requer o entendimento do conceito
seus objetivos foram de fato atingidos, pois estudos
de auto-eficácia e de como ela é construída, apresen-
como os de Ertmer (2005), Hanks (2002), Ertmer et
tados a seguir.
al (1996) e Honey e Moeller (1990) mostram que por mais que os professores tenham acesso às tecnologias computacionais e/ou passado por programas de formação, muitos deles não foram capazes de integrá-las às suas aulas de maneira efetiva. A natureza do currículo a ser desenvolvido, a falta de tempo e a capacidade para utilizar as tecnologias são fatores que também podem influenciar o seu uso pelos professores (ALBION, 1999). Estudos internacionais sugerem que o pouco uso do computador no ensino, pelos professores, quando não há problemas de infra-estrutura ou a interferência de outros fatores ambientais, pode estar alicerçado em questões de confiança do professor quanto a sua capacidade de usá-lo ou em suas crenças de auto-eficácia. O baixo uso de recursos tecnológicos no ensino pode significar um problema de baixa auto-eficácia, ou seja, o professor não se percebe capaz de utilizá-los para atingir os objetivos pedagógicos esperados. Existe a necessidade, portanto, de mudar a percepção dos professores para que eles possam de fato ensinar utilizando-se de tecnologias computacionais (ALBION, 1999; OLIVIER e SHAPIRO, 1993; ERTMER et al, 2003, MILBRATH e KINZIE, 2000). Programas de formação de professores para o uso de tecnologias são apontados como uma estratégia eficiente para que os professores mudem sua percepção de eficácia e as utilizem no ensino (WATSON, 2006; ROSS, ERTMER e JOHNSON, 2001; WANG, ERTMER e NEWBY, 2004; WANG e ERTMER 2003, ERTMER et al, 2003; MILBRAT e KINZIE, 2000; FASEYITAN, LIBII e HIRSCHBUHL,1996 e OLIVIER e SHAPIRO,1993). A partir dos dados de alguns desses estudos realizados, a proposta do artigo é promover uma reflexão sobre a potencial contribuição do constructo
As crenças de auto-eficácia: conceito e como são construídas As crenças de auto-eficácia, de acordo com Bandura (1997, p.3), referem-se às “crenças que um indivíduo tem para organizar e executar cursos de ação que são requeridos para produzir certas realizações”. Essas crenças, em outras palavras, constituem-se em percepções de confiança que o indivíduo tem sobre sua capacidade para realizar determinadas ações, as quais têm se mostrado poderosas preditoras de comportamento. Para Bandura (1997), as pessoas agem muito mais por meio de suas crenças de auto-eficácia do que pelo que são realmente capazes de realizar. Conforme Pajares e Olaz (2008), essas crenças ajudam a determinar o que os indivíduos fazem com seus conhecimentos e habilidades. A “auto-eficácia computacional” é definida como a crença do indivíduo em sua capacidade para utilizar o computador. No contexto docente, referese, portanto, à crença do professor em sua capacidade para utilizar tecnologias computacionais (como computador, softwares e internet) no ensino (OLIVIER e SHAPIRO, 1993; ALBION, 1999). Segundo Albion (1999), há fortes evidências que sugerem que as crenças dos professores em sua capacidade para trabalharem efetivamente com tecnologia é um fator significativo para determinar o uso do computador na sala de aula. Professores que têm alto nível de eficácia para ensinar com tecnologias são mais motivados, despendem mais esforços e persistem em tarefas que envolvem tecnologias muito mais que professores que têm níveis baixos de eficácia (ERTMER et al, 2003). Conforme Azzi, Polydoro e Bzuneck (2006), é importante assinalar que a percepção de auto-eficáRevista da ANPG, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 65 - 71, segundo sem. 2009
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Formação de professores para o uso de tecnologias computacionais no ensino: considerações sobre a importância da auto-eficácia
cia não é estática, pode mudar ao longo do tempo e
tarefas (experiência vicária), estão possibilitando tam-
refere-se a contextos específicos. As pessoas diferem
bém a construção ou aumento da crença de auto-
quanto à área, à tarefa e ao nível em que apresentam
eficácia.
auto-eficácia. Um professor pode se perceber alta-
Importante mencionar que a visão teórica aqui
mente eficaz para usar o computador para assuntos
abordada vê o indivíduo como agente, ou seja, com
pessoais, como para se comunicar, pagar contas ou
possibilidade de intencionalmente agir sobre o am-
elaborar documentos e apresentações, mas não se
biente, não sendo descolado de seu contexto, pois,
sentir eficaz para utilizá-lo durante as suas aulas ou
como assinala Bandura:
na elaboração de propostas de atividades para que os alunos o utilizem. As crenças de auto-eficácia são construídas a partir de quatro fontes principais de informação: experiências de domínio (diretas ou vivenciadas pelo indivíduo) que servem como indicadores de capacidades; experiências vicárias (observadas pelo indivíduo) que atuam através da transmissão de competências e da comparação com os sucessos obtidos pelos outros; persuasão verbal ou social (encorajamento verbal) e outros tipos de influências sociais que informam o
a agência pessoal e a estrutura social atuam de maneira interdependente. As estruturas sociais são criadas pela atividade humana, e as práticas sócio-estruturais, por sua vez, impõem restrições e proporcionam recursos capacitantes e estruturas de oportunidade para o desenvolvimento e funcionamento pessoais. (2008, p.84).
Programas de formação como estratégia para construção ou aumento da auto-eficácia
indivíduo acerca de suas capacidades e estados fisio-
Os estudos de Faseyitan, Libii e Hirschbuhl
lógicos e afetivos (por exemplo, cansaço, ansiedade,
(1996), Wang e, Ertmer et al, (2003) e Wang, Ertmer e
estresse) a partir dos quais as pessoas parcialmente
Newby (2004), tiveram entre suas propostas verificar
julgam suas capacidades, força e vulnerabilidade dian-
a influência de programas de formação para o uso de
te de situações. Uma ou mais dessas fontes de infor-
tecnologias de informática no ensino e experiências
mação podem operar conjuntamente para a constru-
de aprendizagem vicária ou observacional na percep-
ção da auto-eficácia (BANDURA, 1997).
ção de auto-eficácia. Os participantes foram docentes
De acordo com Bandura (1997), as experiên-
em exercício e alunos de graduação (futuros profes-
cias de domínio (ou diretas) são as mais influentes
sores) que estavam realizando cursos ou disciplinas
fontes de informação de eficácia. A visualização de
voltadas para a questão das tecnologias educacionais.
desempenhos de sucesso de pessoas semelhantes
A metodologia dos estudos contemplou a realização
(experiências vicárias) também exerce papel no forta-
de atividades, voltadas para o uso didático de tecno-
lecimento de crença. Conforme Pajares e Olaz (2008,
logias computacionais ou de informática, a aplicação
p. 104), as experiências vicárias exercem maior influ-
de questionários de caracterização dos participantes
ência sobre as crenças principalmente quando as pes-
referentes ao uso das tecnologias e escalas para me-
soas não têm certeza de suas próprias capacidades
dida da auto-eficácia. Os resultados mostraram a efe-
ou tiveram pouca experiência anterior com a tarefa.
tividade dos programas na construção ou aumento da
No entanto, “mesmo indivíduos experientes e auto-
auto-eficácia dos participantes.
eficazes aumentam a sua auto-eficácia se modelos ensinarem-lhes maneiras melhores de fazer as coisas”.
Na seqüência, detalha-se o estudo de Faseyitan, Libii e Hirschbuhl (1996) por ser um estudo que
Quando os programas de formação de profes-
exemplifica um programa de formação realizado que,
sores possibilitam, por exemplo, que os participantes
considerando as diversas fontes de auto-eficácia des-
desenvolvam atividades pedagógicas utilizando-se di-
critas por Bandura (1997), apresenta mais especifica-
retamente do computador (experiências de domínio)
mente os resultados obtidos nos demais estudos que
ou que observem outros participantes realizando as
constatam a relevância dos programas para a constru-
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ALVARENGA, C. E. A. & AZZI, R. G.
ção ou aumento da auto-eficácia para o uso de tecno-
favorecendo a adoção do computador como recurso
logias no ensino.
didático. Os resultados confirmaram duas hipóteses:
O estudo de Faseyitan, Libii e Hirschbuhl
a de que a experiência direta com computadores au-
(1996) descreve um programa de formação que foi
menta a auto-eficácia para usá-los e que a demons-
planejado e desenvolvido considerando as quatro
tração de como usar softwares é uma metodologia
fontes de informação que os indivíduos usam para jul-
efetiva para melhorar a auto-eficácia para o uso do
gar sua auto-eficácia, descritas por Bandura (1997),
computador.
com o propósito de aumentar a auto-eficácia com-
Quando os professores não familiarizados
putacional de professores para o uso do computador
com as tecnologias observam, por exemplo, outros
como recurso didático no ensino. Esse programa foi
colegas professores utilizando-as ou ouvem as expe-
realizado com 115 professores universitários. Dentre
riências de sucesso (experiências vicárias), eles pas-
as atividades desenvolvidas estavam: showcases (de-
sam a sentirem-se mais encorajados para utilizá-las
monstração e discussão de exemplos de uso do com-
(WANG; ERTMER e NEWBY, 2001 e WANG e ERT-
putador no ensino por professores de diversas áreas
MER, 2003). Wang e Ertmer (2003) constataram em
do conhecimento: Língua Estrangeira, História, Quí-
seu estudo, realizado com 20 estudantes de gradua-
mica etc); seminários (discussão por todos os partici-
ção inscritos em um curso de Introdução à Tecnologia
pantes interessados de estratégias efetivas do uso do
Educacional, que a exposição às experiências vicárias,
computador na sala de aula) e workshops (ensino aos
ou seja, a observação de modelos ou conhecimento
participantes sobre como familiarizarem-se e usarem
de práticas bem-sucedidas de uso das tecnologias,
pacotes de softwares específicos em suas atividades
realizadas, por exemplo, por outros professores ou
de ensino).
geradas por softwares instrucionais, promove um sig-
O programa foi avaliado a partir de dois questionários: um aplicado antes da sua realização e outro
nificativo aumento nos julgamentos de auto-eficácia para o seu uso.
depois. O questionário aplicado antes foi o Instruc-
O estudo realizado por Ertmer et al (2003)
tional Computing Questionnaire (FICQ), que continha
comprovou a hipótese de que modelos eletrônicos
39 itens agrupados em quatro sessões. A sessão 1
ou conteúdos multimídia, como vídeos, que apresen-
mostrava dados descritivos de cada sujeito; a sessão
tam exemplos ou modelos de práticas de professores
2 revelava o tipo e a freqüência de atividades reali-
utilizando-se de tecnologias nas aulas, podem ser usa-
zadas no computador; a sessão 3 indicava o nível de
dos como estratégia para que professores visualizem
suporte organizacional percebido para atividades
melhor como é possível utilizar as tecnologias no en-
com o computador e a sessão 4 apontava o perfil dos
sino e também para aumentar sua auto-eficácia para
participantes em relação auto-eficácia para o seu uso.
o uso das mesmas.
O questionário aplicado depois do programa solicitou
Os exemplos de como as tecnologias podem
aos participantes que julgassem como sua participa-
ser utilizadas no ensino foram apresentados aos 69
ção nas atividades propostas afetou seu entendimen-
participantes do estudo de Ertmer et al (2003) por
to, consciência, exposição, desejo e confiança no uso
meio de um CD-ROM chamado de VisionQuest (VQ),
de computadores no ensino.
que apresenta e caracteriza práticas de professores
Os autores constataram um aumento da au-
no uso didático de tecnologias, as quais servem como
to-eficácia dos participantes após a realização das
modelos. Esse material foi desenvolvido com o pro-
atividades do programa de formação, bem como
pósito de exemplificar estratégias de uso das tecnolo-
a percepção de uma maior habilidade e desejo de
gias no ensino e propiciar uma reflexão sobre como
utilizarem-se do computador no ensino. De todas as
é possível, aos professores, implementá-las em suas
atividades, o workshop foi a que gerou o maior im-
aulas e avaliar os impactos de seus esforços.
pacto no aumento da auto-eficácia dos participantes,
Os autores mencionam que os “futuros profesRevista da ANPG, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 65 - 71, segundo sem. 2009
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Formação de professores para o uso de tecnologias computacionais no ensino: considerações sobre a importância da auto-eficácia
sores” descreveram várias idéias que eles obtiveram
mos dizer, portanto, que o programa desenvolvido
a partir dos modelos do VisionQuest e ressaltaram sua
por Faseyitan, Libii e Hirschbuhl (1996) serviu de in-
intenção de aplicá-las em suas “futuras salas de aula”.
centivo porque alterou a percepção de auto-eficácia
Houve uma significante correlação entre as idéias dos
dos professores e, conseqüentemente, tornou-os
participantes para o uso das tecnologias e confiança,
também motivados intrinsecamente a utilizarem o
sugerindo que quando os professores visualizam no-
computador no ensino.
vas possibilidades para usar as tecnologias eles desen-
Segundo os autores, além dos resultados ime-
volvem altos níveis de confiança sobre sua habilidade
diatos relatados, trazidos pelo programa de formação,
para utilizá-las.
criou-se uma comunidade de docentes interessados
Os conhecimentos e habilidades adquiridas pelos professores nos programas de formação pos-
em compartilhar idéias sobre o uso do computador na sala de aula.
sibilitam o uso bem-sucedido da tecnologia, a vivên-
Embora as considerações apresentadas tenham
cia de experiências de sucesso capazes de alterar a
associado a falta de uso pedagógico do computador
percepção de auto-eficácia. Conforme Pajares e Olaz
pelos professores à baixa crença de auto-eficácia, a
(2008, 102), “nenhum grau de confiança ou de auto-
qual pode ser aumentada pelos programas de forma-
compreensão pode produzir sucesso na ausência de
ção, tem-se consciência de que há outros fatores que
habilidades e conhecimentos necessários”.
podem influenciar também a utilização. Conforme
Entre os resultados imediatos gerados pelos
nos lembra Dusick (1998), além dos fatores pessoais,
programas de formação para o uso de tecnologias,
sociais e cognitivos que afetam um professor a visuali-
além do número substancial de docentes capazes
zar vantagens nos recursos disponíveis (atitude, auto-
de utilizar o computador no ensino, está o fato de
eficácia, competência, tempo, risco de usar a tecno-
mencionados programas funcionarem como incenti-
logia, relevância percebida e falta de conhecimento)
vos para que os professores incluam, no planejamen-
há também os fatores ambientais que influenciam os
to das aulas que ministrarão futuramente, atividades
professores a usarem ou não o computador para fins
utilizando-se do computador (FASEYITAN, LIBII e
instrucionais (suporte administrativo e técnico, dis-
HIRSCHBUHL,1996).
ponibilidade dos computadores na sala de aula ou na
Os autores mencionam que a influência de in-
escola).
centivos para que os professores usem o computador
A literatura internacional sinaliza a necessida-
já foi anteriormente estudada. Faseyitan e Hirschbuhl
de de encontrar caminhos e estratégias para auxiliar
(1992 apud Faseyitan, Libii e Hirschbuhl, 1996), con-
os professores a sentirem-se altamente capazes de
cluíram que incentivos externos não levam os pro-
utilizarem o computador no ensino. Entre os educa-
fessores universitários a adotarem computadores em
dores e estudiosos brasileiros da área de tecnologia
suas atividades instrucionais. Aqueles que desejam
educacional, há muitos posicionamentos a respeito
adotar o computador em suas atividades de ensino
do papel do professor diante das tecnologias, afirma-
o fazem porque são intrinsecamente motivados. Os
ções de que os professores não sabem como utilizá-
que são confiantes em suas capacidades são mais pro-
las didaticamente e sobre a importância também de
vavelmente capazes de explorar o uso do computa-
prepará-los.
dor na sala de aula, de desenvolver atividades inova-
Apesar de termos abordado a literatura inter-
doras e investir, tempo e esforço, por exemplo, para
nacional, os assuntos aqui tratados devem ser conside-
identificar e aprender sobre softwares educacionais.
rados apenas como fonte de reflexão, interlocução e
Altos níveis de auto-eficácia tendem a promover mo-
inspiração. Contata-se a necessidade de estudos sobre
tivação intrínseca (BANDURA, 1982). Sendo assim,
auto-eficácia computacional entre professores brasilei-
aqueles cuja auto-eficácia é alta são geralmente mais
ros uma vez que fatores culturais compõem diferentes
motivados a usarem o computador no ensino. Pode-
contextos de desenvolvimento de crenças e valores.
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Descrição da criação e aplicação de um ambiente de ensino a distância para o controle da resistência microbiana e uso racional de antimicrobianos para profissionais da área da saúde Description of the creation and implementation of a distance learning environment for the control of antimicrobial resistance and rational use of antimicrobials for health professionals Descripción de la creación y aplicación de un entorno de aprendizaje a distancia para el control de la resistencia a los antimicrobianos y el uso racional de los antimicrobianos para los profesionales de la salud
1
Carla Morales Guerra Doutoranda pela Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP 2 Eduardo Alexandrino Servolo Medeiros Professor Adjunto da Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP 3 Janaina Sallas Especialista em Educação em Saúde pela Universidade de Brasília - UnB Consultora Técnica da Gerência de BacteriologiaSecretaria de Vigilância em Saúde, Ministério da Saúde. 4 Leandro Queiroz Santi Mestre em Saúde Pública pela Universidade Federal da Bahia - UFBA 5 Valeska de Andrade Stempliuk Doutora em Ciências pela Universidade de São Paulo - USP
RESUMO
Infecções por microrganismos multirresistentes aumen-
tam o custo do tratamento e apresentam alta taxa de mortalidade. Objetivo: descrever a realização de um programa de educação a distância para profissionais da área da saúde, em âmbito nacional, sobre medidas de prevenção e controle da resistência microbiana e uso racional de antimicrobianos. Método: foram produzidos e aplicados dois cursos com metodologia de ensino a distância durante os anos de 2007 e 2008 com a participação de 1172 profissionais de saúde no Curso 1, Controle da Resistência Microbiana – www. rmcontrole.org.br, e 917 médicos e dentistas no Curso 2, Uso Racional de Antimicrobianos – www.atmracional.org.br .
1
2
3
4
5
Carla Morales Guerra: Médica infectologista Mestre em Ciências pela UNIFESP. Correspondência: Rua Napoleão de Barros, 690 – 2° andar - São Paulo/SP – Brasil - CEP: 04024-002. Endereço eletrônico: carla.ccih@gmail.com Eduardo Alexandrino Servolo Medeiros: Correspondência: Rua Napoleão de Barros, 690 – 2° andar - São Paulo/SP – Brasil - CEP: 04024-002. Endereço eletrônico: edubala@netpoint.com.br Janaina Sallas: Correspondência: SCS Quadra 4 Bloco A lote 67/97 - Edifício Principal – 3° andar Brasília/DF – Brasil Endereço eletrônico: janaina.sallas@saude.gov.br Leandro Queiroz Santi: Correspondência: SHIN, QL 11, Cj 4, casa 7, Lago Norte - CEP: 71515-745- Brasília – DF Brasil. Endereço eletrônico: leandro.santi@saude.gov.br Valeska de Andrade Stempliuk: Enfermeira do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Sírio Libanês – São Paulo Correspondência: Rua Napoleão de Barros, 690, 2°andar – São Paulo/SP – Brasil - CEP: 04024-002. Endereço eletrônico: valeska.stempliuk@hsl.org
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Palavras-chave: resistência microbiana; educação à distância; uso racional de antimicrobianos.
ABSTRACT
Infections by antimicrobial resistant organisms increase the
therapeutic costs and risk of death. Objective: to describe the performance of a nation-wide distance education program for health professionals in order to disseminate measures on prevention and control of microbial resistance and rational use of antimicrobials. Method: two educational programs were developed and applied based on distance education during the years of 2007 and 2008 with the participation of 1172 health professionals in Program 1, Control of Microbial Resistance - www.rmcontrole.org.br, and 917 physicians and dentists in Program 2, Rational Use of Antimicrobials - www.atmracional.org.br. Keywords: antimicrobial resistance; distance education; appropriate use of antimicrobial agents.
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GUERRA, C. M. et al
ABSTRACT
Infecciones por organismos multirresistentes aumenta el costo del tratamiento y tienen un alto
índice de mortalidad. Objetivo: describir un programa de educación a distancia para los profesionales de la salud en el plano nacional en las medidas de prevención y control de la resistencia microbiana y el uso racional de los antimicrobianos. Método: se elaboró y ejecutó dos cursos sobre metodología de la enseñanza a distancia durante los años 2007 y 2008 con la participación de 1172 profesionales de la salud en el Curso 1, Control de la resistencia microbiana - www.rmcontrole.org.br, y 917 médicos y dentistas en el Curso 2, uso racional de los antimicrobianos - www.atmracional.org.br. Palabras-claves: resistencia microbiana; educación a distancia; uso racional de los antimicrobianos.
INTRODUÇÃO
co sem precisar se afastar de suas atividades profissionais, além de proporcionar um ambiente de
Atualmente, a medicina depara-se com um
troca de experiências com profissionais de todo o
grande desafio: o surgimento de microrganismos
país (COOK, 2008). Também diminui os custos de
resistentes à maioria dos antimicrobianos desen-
um treinamento presencial, evitando gastos com
volvidos (WEBER, 2005). Infecções causadas por
transporte permitindo, ainda, o treinamento con-
bactérias multirresistentes prolongam o tempo de
comitante de um maior número de profissionais
internação, elevam o custo do tratamento e apre-
(LEWIS, 2005).
sentam alta taxa de mortalidade (COURVALIN, 2005; FILE, 2000).
Em experiência anterior, um programa de educação a distância criado por meio de um convê-
Sabe-se que o treinamento dos profissionais
nio entre a Agência Nacional de Vigilância Sanitária
da área de saúde constitui importante parte do
(ANVISA) e a Universidade Federal de São Paulo
programa de diminuição da resistência aos antimi-
(UNIFESP) promoveu o treinamento de aproxi-
crobianos (DAVIS, 1999).
madamente 500 profissionais da área da saúde. A
Guerra (2007) avaliou crenças, atitudes e co-
maioria dos alunos (98,0%) que participou desse
nhecimento de 310 médicos, diretamente envolvi-
programa referiu que o curso foi muito importante
dos na prescrição de antimicrobianos, no Hospital
para sua formação técnico-científica (MEDEIROS,
São Paulo, em relação à resistência microbiana aos
2008).
antimicrobianos. Neste estudo 44,2% dos médicos
Dessa forma, a criação de um curso a dis-
afirmaram que gostariam de receber mais informa-
tância sobre o uso adequado dos antimicrobianos
ções sobre antimicrobianos.
e a prevenção da resistência bacteriana aos anti-
A educação continuada dos profissionais da
microbianos poderia ser uma ótima estratégia para
área da saúde deve ser considerada como parte das
capacitar os profissionais de saúde no Brasil, consi-
estratégias para manutenção de um sistema de saú-
derando que o problema da resistência microbiana
de nacional, adequado e eficaz.
está difundido por todo o país e profissionais de
Infelizmente, garantir que os avanços científicos da área da saúde sejam oferecidos a todos
todas as regiões brasileiras devem ter acesso a informações sobre como enfrentar este desafio.
os profissionais, ao mesmo tempo, em um país de
O objetivo deste artigo é apresentar nos-
dimensões continentais como o Brasil é particular-
sa experiência com a criação e aplicação de dois
mente difícil.
cursos a distância: RMcontrole – Medidas de Pre-
Neste contexto, a educação a distância na
venção e Controle da Resistência Microbiana e
área da saúde tornou-se uma estratégia adequada
Programa de Uso Racional de Antimicrobianos em
e eficaz, oferecendo ao profissional a possibilidade
Serviços de Saúde e ATMracional - Uso Racional de
de aquisição e atualização de conhecimento técni-
Antimicrobianos para Prescritores. Revista da ANPG, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 72 - 79, segundo sem. 2009
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Descrição da criação e aplicação de um ambiente de ensino a distância para o controle da resistência microbiana e uso racional de antimicrobianos para profissionais da área da saúde
Para o curso ATMracional foi programado o trei-
MATERIAL E MÉTODO Planejamento e realização O Programa de Educação a Distância para a
namento de 700 profissionais envolvidos diretamente com a prescrição de antimicrobianos (640 médicos e 60 cirurgiões-dentistas), com preferência para:
Prevenção e o Controle da Resistência Microbiana
1. Médicos que trabalhassem em hospitais partici-
foi idealizado e patrocinado pela Organização Pan-
pantes da Rede de Monitoramento e Controle
Americana da Saúde (OPAS), Agência Nacional de
da Resistência Microbiana em serviços de saúde
Vigilância Sanitária (ANVISA) e Coordenação Geral
(Rede RM);
de Laboratórios de Saúde Pública (CGLAB) da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) como parte de um Projeto para o Monitoramento e Prevenção da Resistência Microbiana em Serviços de Saúde – Rede RM.
2. Médicos que participassem de Comissões de Controle de Infecção Hospitalar; 3. Médicos que trabalhassem em unidade de terapia intensiva adulto, pediátrica e neonatal;
O conteúdo dos cursos e o acompanhamento
4. Médicos clínicos, cirurgiões e dentistas que tra-
a distância dos alunos através de tutores foi realizado
balhassem na assistência a pacientes, com priori-
pela Universidade Federal de São Paulo, por meio da
dade para atuação acadêmica.
Disciplina de Infectologia e do Departamento de InTambém optou-se por disponibilizar, propor-
formática em Saúde. Os cursos foram oferecidos gratuitamente para
cionalmente, mais vagas para regiões mais distantes
alunos selecionados através de critérios estabeleci-
dos grandes centros, como Norte e Centro-Oeste.
dos pelas instituições participantes, com o objetivo
Desta forma, criou-se um índice pelo qual foi multipli-
de permitir a participação de profissionais de saúde
cado o número de estabelecimentos de saúde dessas
de todo o país, promovendo o intercâmbio de expe-
regiões, fazendo com que, proporcionalmente, fos-
riências regionais, apoio aos profissionais de regiões
sem selecionados mais profissionais de saúde desses
mais distantes das capitais, sem retirar o profissional
locais.
de suas atividades diárias.
Inscrições Público alvo e critérios de seleção As inscrições e todo o material didático foram Para o curso RMcontrole foi programado o
oferecidos aos participantes gratuitamente. As ins-
treinamento de 1.000 profissionais da área da saúde
crições foram realizadas, exclusivamente, pela “in-
de todo o Brasil. Como a idéia era capacitar profis-
ternet”, já com o intuito de trazer os alunos para o
sionais que pudessem atuar como multiplicadores em
ambiente onde as atividades obrigatórias seriam re-
seu local de trabalho, foi dada preferência aos profis-
alizadas. (“sites”: www.rmcontrole.org.br e www.
sionais com atuação em serviços de saúde (médicos,
atmracional.org.br)
enfermeiros, microbiologistas, biólogos e farmacêu-
Após o preenchimento da ficha de inscrição,
ticos, médicos veterinários, fisioterapeutas, nutricio-
foi solicitado aos profissionais que respondessem um
nistas e outros) dos seguintes estabelecimentos:
questionário. Antes de responder o questionário, foi
1. Vigilâncias Sanitárias e Epidemiológicas (Estaduais e Municipais); 2. Coordenadores Estaduais e Municipais de programas de Controle de Infecção Hospitalar; 3. Profissionais que atuem em Comissões de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) em hospitais universitários, federais, estaduais, municipais e privados; 4. Gestores da Saúde. 74
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apresentado ao profissional um termo de consentimento livre e esclarecido que garantia o anonimato e desvinculava o conteúdo das respostas com o processo seletivo para participação no curso. O intuito foi conhecer a situação dos hospitais brasileiros, em relação às estratégias para controle e prevenção da resistência microbiana e avaliar o conhecimento dos
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GUERRA, C. M. et al
profissionais que são essenciais para o desenvolvimento e implantação dessas estratégias de controle.
• Tratamento das principais infecções: diretrizes atualizadas sobre o tratamento de infecções comunitárias e infecções relacionadas à assistência à
Conteúdo dos cursos
saúde, bem como recomendações para a realização da profilaxia antimicrobiana em cirurgias;
O conteúdo do curso RMcontrole foi dividido em cinco módulos:
• Uso de antimicrobianos em populações especiais: particularidades da utilização de antimi-
1. Antimicrobianos - bases teóricas e uso clí-
crobianos em pacientes com insuficiência renal e
nico: entender as propriedades farmacológicas,
insuficiência hepática e o uso de antimicrobianos
mecanismos de ação e resistência dos antimicro-
em gestantes e neonatos.
bianos, indicações clínicas e efeitos colaterais;
O conteúdo foi elaborado por profissionais
2. Legislação sobre a propaganda e prescrição
com grande experiência no estudo da resistência mi-
de antimicrobianos: conhecer a legislação bra-
crobiana e no uso de antimicrobianos na prática clíni-
sileira e de outros países direcionadas aos medi-
ca. Todo conteúdo foi baseado em estudos atualiza-
camentos, com ênfase nos antimicrobianos, com
dos e de acordo com a legislação brasileira.
ênfase na legislação direcionada à publicidade e propaganda de medicamentos;
Após a elaboração do conteúdo teórico, o texto era revisado por uma equipe de pedagogas para
3. Resistência microbiana – mecanismos e im-
adequação e aperfeiçoamento da didática. Posterior-
pacto clínico: entender os mecanismos de re-
mente, foi revisado por outros profissionais especia-
sistência, seu impacto clínico e ações para pre-
listas em infectologia e, a seguir, transformados no
venção e controle da resistência;
formato de apresentação na “internet”, material im-
4. Implantação de um programa de uso racional de antimicrobianos: identificar a importância do uso adequado dos antimicrobianos para
presso e gravado em CD-ROM.
Metodologia e didática
o controle da resistência microbiana e conhecer estratégias para a implantação de um programa de uso racional de antimicrobianos;
O aluno poderia acompanhar o curso por meio de três mídias: recebia via correio o material didáti-
5. Intervenções e medidas de prevenção e con-
co impresso (uma apostila com todo o conteúdo do
trole da resistência microbiana: conhecer as
curso), um CD-ROM (que também apresenta todo o
principais estratégias de prevenção e controle da
conteúdo do curso) e uma senha pessoal para acesso
resistência microbiana nos serviços de saúde.
na “internet” (Figura 1).
O conteúdo do curso ATMracional foi dividido em quatro módulos: • Uso racional de antimicrobianos e resistência microbiana: importância do uso adequado
Pela “internet”, o aluno poderia acompanhar o curso, tirar dúvidas, trocar experiências com profissionais de todo o Brasil e realizar as atividades didáticas obrigatórias para comprovação de sua participação no curso.
de antimicrobianos para o controle da resistência
Para ser aprovado e receber o certificado, o
microbiana, principais mecanismos de resistência
aluno deveria responder todos os questionários e al-
e seu impacto clínico e estratégias para a implanta-
cançar uma média final de 70% nas atividades pro-
ção de um programa de uso racional de antimicro-
postas e obrigatórias.
bianos;
Durante todo o período em que o curso ficou
• Interpretação de dados microbiológicos: ba-
disponível na “internet”, as atividades foram acom-
ses teóricas sobre a realização da cultura e inter-
panhadas por tutores, que orientavam os alunos em
pretação de testes de sensibilidade;
suas dúvidas, incentivavam a discussão entre os proRevista da ANPG, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 72 - 79, segundo sem. 2009
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Descrição da criação e aplicação de um ambiente de ensino a distância para o controle da resistência microbiana e uso racional de antimicrobianos para profissionais da área da saúde
fissionais, forneciam suporte científico e pedagógico.
tivas (%). Para a pontuação fina, que é uma variável
Os tutores são profissionais com formação na
quantitativa, foram utilizadas como medidas, resumos
área da saúde, pós-graduandos, sem vínculo empre-
a média e a mediana e desvio-padrão, mínimo e má-
gatício com a Universidade Federal de São Paulo e
ximo para apontar a variabilidade. Para a comparação
com experiência na atuação de tutoria em outros
entre os grupos das variáveis, o teste utilizado foi a
cursos já realizados pela instituição. O contato com a
análise de variância (ANOVA).
tutoria podia ser pela “internet”, por telefone ou fax
RESULTADOS
e até mesmo pelo correio. Os cursos ficaram disponíveis na “internet” por nove semanas cada um e, posteriormente, o aluno poderia rever o conteúdo e multiplicar o conhecimento adquirido para outros profissionais através
Caracterização dos profissionais inscritos RMcontrole
do CD-ROM e da apostila que acompanha o material fornecido aos alunos.
As inscrições “on line” ficaram disponíveis de 18 de junho a 31 de agosto de 2007 (total de 11 semanas). Ao final das inscrições, obtivemos 6.256 inscritos distribuídos por todo o Brasil, como pode ser visto na Figura 3. Podemos observar o predomínio de inscritos provenientes da região Sudeste, porém com número de inscritos representativo em todas as regiões (Gráfico 1).
Figura 1. Capa da apostila e rótulo do CD-ROM do curso RMcontrole
Figura 3. Distribuição dos inscritos no curso RMcontrole por Estado (n=6256)
Figura 2. Capa da apostila e rótulo do CD-ROM do curso ATMracional
Análise Estatística Foi realizada a análise descritiva das características demográficas e das respostas de cada participante nos questionários inicial e final, bem como comparação entre os principais grupos e entre a pontuação inicial e final (qui-quadrado). Para as variáveis qualitativas foram apresentadas as freqüências absolutas (n) e as freqüências rela76
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A distribuição dos inscritos pela profissão mos-
Caracterização dos profissionais selecionados
tra também grande diversidade dos profissionais na procura do curso, bem como em relação ao tipo de
RMcontrole
serviço: Foram selecionados 1.172 alunos, sendo 72,3 % do sexo feminino e a média de idade dos selecionados foi de 39,3 anos de idade. Conforme definido inicialmente, a seleção privilegiou profissionais das regiões Norte e CentroOeste do Brasil.
ATMracional ATMracional As inscrições “on line” ficaram disponíveis de
Foram selecionados 917 alunos, conforme definido inicialmente, a seleção privilegiou profissionais das regiões Norte e Centro-Oeste do Brasil.
26 de novembro de 2007 a 12 de janeiro de 2008 (total de 8 semanas). Ao final das inscrições tivemos 2.856 inscritos distribuídos por todo o Brasil, como pode ser visto no Gráfico 4. Aproximadamente 65,0% dos inscritos eram médicos e os demais cirurgiões dentistas.
Realização dos cursos Cada curso teve duração de nove semanas, período em que os participantes poderiam se comunicar com outros participantes de qualquer região do país e enviar perguntas aos tutores por meio dos fóruns de dúvidas. Em média, foram encaminhadas 1000 mensagens em cada curso, referentes a dúvidas Revista da ANPG, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 72 - 79, segundo sem. 2009
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Descrição da criação e aplicação de um ambiente de ensino a distância para o controle da resistência microbiana e uso racional de antimicrobianos para profissionais da área da saúde
sobre o conteúdo do curso e sobre questões práticas
A análise estatística das pontuações iniciais e finais
do dia-a-dia dos profissionais.
dos alunos que finalizaram o curso mostra que houve
No questionário inicial, antes da realização do
diferença estatisticamente significativa entre as notas
curso, perguntamos ao profissional como ele avalia-
iniciais e finais, permitindo-nos concluir que houve
va seu conhecimento sobre antimicrobianos e 60,5%
aquisição de conhecimento entre os participantes do
responderam que consideravam seu conhecimento
curso (p < 0,001).
sobre antimicrobianos regular e que gostariam de
A porcentagem média de aprovação foi acima
conhecer mais sobre o assunto. Aproximadamente
de 95%, cerca de 5% dos selecionados não iniciaram
metade dos participantes (48,5%) respondeu que
suas atividades nos cursos e de 3 a 5% foram repro-
não participavam de um curso sobre antimicrobianos
vados por não atingirem a pontuação mínima de 70%
há mais de um ano e apenas 14,3% haviam partici-
de acertos.
pado de alguma atualização sobre o tema no último
DISCUSSÃO
mês. Ao final do curso, foi perguntado novamente aos alunos como avaliavam seu conhecimento sobre an-
Vários países e instituições têm direcionado in-
timicrobianos e a maioria (64,7%) afirmou que seu
vestimentos em campanhas nacionais para orientação
conhecimento era atualizado.
de médicos e pacientes sobre a importância da aderên-
No questionário final foram apresentadas ques-
cia às medidas de prevenção e controle das infecções
tões aos participantes para que pudéssemos avaliar
relacionadas à assistência à saúde e sobre a ameaça da
a efetividade do curso e do modelo de ensino, bem
resistência bacteriana (DELLIT, 2007; SUNESHINE,
como para encontrarmos sugestões para aprimora-
2004).
mento dos próximos programas.
A utilização da “internet” como fonte de infor-
Para a maioria dos profissionais, esta havia sido
mações atualizadas na área da saúde já está bem es-
sua primeira participação em um curso a distância
tabelecida e, nos últimos anos, cursos a distância para
pela “internet”. Foi perguntado aos participantes qual
profissionais da área da saúde tem sido oferecidos em
o grau de dificuldade que haviam encontrado em re-
diversos países com sucesso (COOK, 2008; LEWIS,
lação ao estudo via “internet” e 71,8% afirmaram que
2005).
não haviam encontrado dificuldade alguma e 87,4%
Nosso estudo confirmou que os profissionais da
referiram que fariam outro curso a distância sobre o
área da saúde brasileiros tinham muito interesse por
tema.
este tema e pudemos observar que a maioria estava Em relação à satisfação dos alunos com o cur-
preparada para a utilização desta ferramenta de ensi-
so, 86,8% afirmaram estarem muito satisfeitos ou
no, mesmo sem experiência prévia com outros cursos
satisfeitos. As vantagens citadas pelos participantes
à distância. Também foi possível evidenciar que hou-
neste curso a distância foram: a relevância e atualiza-
ve aquisição de conhecimento quando comparamos
ção do conteúdo do curso, o apoio científico presta-
as pontuações iniciais e finais dos participantes. Além
do pela equipe de tutores e a oportunidade de trocar
disso, encontramos baixa taxa de desistência e repro-
experiências com outros profissionais.
vação.
A maioria dos participantes (60,7%) prefere o
No questionário aplicado após o curso, a maioria
material impresso como sua primeira opção de estu-
dos participantes relatou satisfação em participar desse
do e 22,7% dos participantes preferem estudar via
programa, principalmente pela oportunidade de troca
“internet”.
de experiência com outros profissionais.
A média de acertos no questionário inicial
Particularmente no Brasil, um país com grande
(questões que avaliavam o conhecimento) foi de
área demográfica e recursos financeiros restritos, tanto
55,5% (±13,3%) e ao final do curso, a pontuação nas
para a área da saúde como para a área educacional, esta
questões de conhecimento foi de 76,8% (±13,9%).
ferramenta educacional apresenta várias vantagens:
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1. Possibilita o acesso de profissionais de todas as regiões do país a informações técnicas atualizadas, incluindo profissionais de áreas distantes dos grandes centros; 2. Permite a troca de experiências entre profissionais de diferentes regiões que muitas vezes estão enfrentando os mesmos problemas; 3. Garante o treinamento de grande número de profissionais ao mesmo tempo; 4. Mantém o profissional em seu local de trabalho, evitando prejuízo da rotina de trabalho; 5. Evita gasto com transporte e hospedagem de profissionais que de outra forma teriam que se deslocar de suas cidades para realização de cursos. Acreditamos que o aprimoramento desta metodologia em nosso país, poderá se transformar em um importante instrumento de formação, inclusive na área de prevenção e controle de infecções relacionadas à assistência à saúde, setor que requer atualizações freqüentes. A descrição de nossa experiência poderá servir de exemplo para outras instituições de saúde e até mesmo outros setores da sociedade que tenham interesse nessa ferramenta educacional, mas desconhecem os primeiros passos.
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Ensino a distância: projeto pedagógico do ambiente virtual Distance education: pedagogical project of the virtual environment Educación a distancia: proyecto pedagógico del entorno virtual
1
Ivana Carneiro Almeida Doutoranda em Administração pela Universidade Federal de Lavras – UFLA
RESUMO
São inúmeras as variáveis que interferem no processo de
ensino e aprendizagem na educação a distância. Interessa ao presente trabalho discutir em termos teóricos a importância da criação de um projeto pedagógico em uma “Comunidade Virtual”. Faz-se necessário também a consideração dos recursos técnicos e audiovisuais, as condições que viabilizem a mediação das atividades presenciais e a distância pelas tecnologias de informação. Palavras-chave: Projeto pedagógico; educação a distância.
ABSTRACT
Many variables interfere in the process of teaching and
learning in distance education. This work concern is to discuss in theory the importance of the creation of a teaching project in a “Virtual Community.” It is also necessary to consider technical and audiovisual resources, the conditions that allow the mediation of presence and distance activities by information technologies. Keywords: Pedagogical project; distance education
RESUMEN
Hay muchas variables que afectan el proceso de enseñanza
y aprendizaje en la educación a distancia. Interés al presente trabajo debatir, en el plano teórico, la importancia de crear un proyecto educativo en una “comunidad virtual”. Es necesario también tener 1
Ivana Carneiro Almeida Correspondência: Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. Av. Luiz Boali, 352 Castro Pires Teofilo Otoni, MG – Brasil - CEP 39800-000 Endereço eletrônico: ivanaead@gmail.com
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en cuenta las condiciones técnicas y audiovisuales que permitan la mediación de las actividades en el aula y en la distancia por la tecnología de la información. Palabras-claves: Proyecto pedagógico; educación a distancia.
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ALMEIDA, I. C.
INTRODUÇÃO
podem trazer hoje dados, imagens, resumos de forma rápida e atraente. O papel do professor – o papel
O desenho e a forma da proposta de um am-
principal - é ajudar o aluno a interpretar esses dados,
biente virtual interativo com os alunos devem partir
a relacioná-los, a contextualizá-los (MORAN, 1997
do pressuposto que os mesmos deveriam se sentir
apud GOMEZ, 2004, p.47).
“convidados e à vontade para participar com suas
Convém ressaltar que o design deste ambien-
idéias, pensamentos e ações e se possível promoves-
te virtual interativo deve ser resultado de uma ação
sem ações de ordem colaborativas e cooperativas en-
pedagógica que demanda estudo e prática da peda-
tre eles”, de forma democrática e participativa.
gogia na esfera digital, como cita Gómez (2004), além
Para se produzir um projeto pedagógico em
de requerer uma contextualização, na dimensão do
uma “Comunidade Virtual”, é importante considerar
real/virtual, para logo problematizá-la, ou mesmo
os recursos técnicos e audiovisuais, as condições que
por meio de uma “escuta densa”, no dizer de Frei-
viabilizem a mediação das atividades presenciais e a
re (1995), há que se conhecer a visão da equipe de
distância pelas tecnologias de informação.
produção e dos professores sobre o que deve ser a
Gómez (apud ANTONIO, 2005) afirma que:
educação em rede no seu contexto cultural, conectando os elementos emergentes com as situações de
deve-se observar que o fato de serem tecnologias interativas não implicará necessariamente em processos democráticos, já que podem estar a serviço de pessoas ou instituições interessadas em manter as interações autoritárias e de dependência (ANTONIO, 2005).
ensino-aprendizagem específicas. Importante aspecto a ser considerado na esfera digital, não diferente da esfera presencial, está na coordenação das atividades de montagem do curso na Internet. Aquela necessita ser capaz de conjugar conhecimentos de pedagogia, informática, psicologia,
Não basta desejar ter uma ação pedagógica na
sociologia, comunicação, marketing, dentre outros
elaboração de um ambiente virtual interativo, pois
e ser de responsabilidade de um designer educacio-
se faz condição importante e necessária haver um
nal, na qualidade de educador, corroborando Gómez
gestor educacional, liderando uma equipe multidisci-
(2004) que completa:
plinar. Neste sentido, deve ser montada uma equipe multidisciplinar, formada por várias áreas de atuação, visando um ambiente que procure obter informações seguindo a orientação da equipe de “conteudistas” dos programas, assim como algo que contemplasse espaços menos rígidos. Ensinar e aprender exige, hoje, muito mais
além de identificar as necessidades e os problemas, ele desenha o mapa, escreve o roteiro com critérios didáticos que superam a segmentação, o verbalismo, o dogmatismo e o conhecimento do senso comum. Para isso, deverá primeiro estudar a realidade com a qual se pretende trabalhar (GÓMES, 2004, p. 128).
flexibilidade espaço-temporal, pessoal e de grupo, menos conteúdos fixos e processos mais abertos de
Sabe-se que o conhecimento de modernas
pesquisa e de comunicação. Uma das dificuldades
multimídias e as possibilidades de os professores es-
atuais é conciliar a extensão da informação e a varie-
tarem atentos às rápidas mudanças de sua área e ao
dade das fontes de acesso com o aprofundamento da
destino das gerações futuras são exigências pontuais
sua compreensão em espaços menos rígidos, menos
de uma proposta teórico-metodológica, tanto para a
engessados. Temos informações demais e dificuldade
mediação pedagógica como para o desenho educati-
em escolher quais são significativas para nós e de con-
vo. Sendo que:
seguir integrá-las dentro da nossa mente e da nossa vida. A aquisição da informação e dos dados dependerá, cada vez menos, do professor. As tecnologias
A proposta considera a construção do conhecimento contextualizado em relação à cultura, Revista da ANPG, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 80 - 83, segundo sem. 2009
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Ensino a distância: projeto pedagógico do ambiente virtual
para fugir à idéia superficial de se criar protótipos ou modelos de mediação e design educativo. Por isso, os instrumentos de pesquisa deverão ser construídos com os participantes do projeto. Só quando um projeto educativo on-line for divulgado e discutido com a equipe de produção e a comunidade participante é que ajudará os gestores a analisar melhor a potencialidade do processo de desenho e mediação pedagógica (GÓMEZ, 2004, p.21).
Para Antônio (2005), a criação de um Projeto Pedagógico do Ambiente Virtual Interativo requer considerar gestões administrativas, pedagógicas e tecnológicas que permitam integrar, assegurar e sustentar o registro de informações produzidas, tanto na parte de criação e desenvolvimento de um curso como também no momento de contar com dispositivos que possibilitem a organização, a distribuição e a atualização das informações, sem dizer no conhecimento atualizado referente aos dispositivos tecnológicos que permitam “processos de fala, leitura, escrita na rede que incidam na constituição de subjetividades democráticas” (GÓMEZ, 2004, p.95). Vale ressaltar que o ambiente por si só não garante a aprendizagem, ele traz sim uma concepção de educação e de projeto político-pedagógico em rede, que o sustenta bem e não só da tecnologia utilizada. Concorda-se com Gómez (2004), quando ele diz: Assim como não há uma educação neutra, também não há um desenho nem projeto educativo neutro. Os universos epistêmicos e os princípios ético-estéticos que o atendem podem ser múltiplos. O importante é que os profissionais desse setor possam participar dos sistemas semióticos e lingüísticos, para melhorar a sua prática educativa e a aprendizagem dos alunos, enquanto sujeitos da montagem e não enquanto objetos. (GÓMEZ, 2004, p. 134).
Ao conceber um projeto de ambiente virtual interativo, convém lembrar que se trata de um dispositivo que deve permitir a criação de um espaço para desenvolver um projeto criativo e, desta maneira, faz-se necessário uma análise de particularidades da situação específica. Isto é confirmado quando Gómez 82
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(2004, p.138) diz que podem ser usados “vários dispositivos metodológicos como: ‘brainstorming’, grupos de trabalho, dinâmicas de grupos, questionários e entrevistas, realizados face-a-face e/ou on-line.” A existência de uma equipe multidisciplinar somada ao fato de a passagem da capacitação virtual não ser uma mera transposição da presencial, mas sim fruto de um reestudo da forma de disponibilizar informações, definir conceitos e, acima de tudo, instigar os professores a uma ação reflexiva sobre seu trabalho e com os trabalhos de seus alunos, resultou na preparação de um roteiro inicial de produção do material. Este roteiro foi definido por Antônio (2005) como “sistema de desenvolvimento de cursos à distância”. Estas fases foram determinadas em função da área de atuação de cada elemento da equipe e ficaram assim definidas: • Análise do desenvolvimento dos cursos presenciais, assim como das avaliações elaboradas pelos professores a respeito do curso presencial; • Gravação do curso presencial e transcrição da forma como a pesquisadora desenvolvia o curso presencial durante a capacitação do público alvo; • Comparação do material escrito - material do curso oferecido presencialmente e análise das avaliações realizadas; • Elaboração do formato gráfico da interface, com o apoio de um web designer; • Pesquisa e busca em sites nacionais e internacionais a respeito do conteúdo “Internet e seus recursos básicos”, bem como sobre a existência de cursos a distância e de seus vários formatos; • Reescrita do conteúdo adequando-o ao público-alvo com o apoio técnico de uma analista de sistemas visando às especificidades do novo ambiente; • Revisão pedagógica e definição das telas e animações, uma vez que se trata de requisito necessário para o processo de ensino-aprendizagem; • Desenvolvimento das telas e animações no computador pelos web designers; • Revisão gráfica e produção escrita do roteiro para gravação final; • Filmagem do módulo desenvolvido pelo software
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ALMEIDA, I. C.
I3, o qual concilia arquivos elaborados pelo editor de apresentações, no caso, power point, com a exibição em vídeo realizada pelo Windows Media Player. • Montagem dos materiais desenvolvidos pelas mídias, pelo webdesigner e disponibilização no ambiente de aula.
CONCLUSÃO Este artigo não se preocupou em aprofundar na concepção de ensino e aprendizagem, mas indicar que um projeto pedagógico possui paradigmas e que a construção do ambiente virtual de aprendizagem deve estar articulada junto a um projeto político-pedagógico. O ambiente virtual precisa, assim, refletir em suas estratégias de ensino e aprendizagem quais são seus objetivos, o que se pretende com essa nova de construção do saber. O importante é perceber que o uso das tecnologias da comunicação não muda, em princípio, as questões inerentes a qualquer projeto educativo. Há sempre que se responder: para quem? Para quê? Como o projeto será desenvolvido? Quando se desenvolve um ambiente de aprendizagem, faz-se uma opção teórico-metodológica que
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tem subjacente uma abordagem de desenvolvimento e de aprendizagem humana. Não basta desejar ter uma ação pedagógica na elaboração de um ambiente virtual interativo, pois, se faz condição importante e necessária, haver um gestor educacional liderando uma equipe multidisciplinar. Vale ressaltar que o ambiente por si só não garante a aprendizagem, ele traz sim uma concepção de educação e de projeto político-pedagógico em rede. Assim sendo, os profissionais que estão com o desafio de desenvolver ambientes virtuais de aprendizagem precisam investir no desenvolvimento de uma base epistemológica múltipla e convergente.
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Conceitos e considerações sobre um modelo “pronto-parauso” de ambiente virtual Concepts and considerations for a “turn-key” model of e-learning Conceptos y consideraciones para un modelo “llave-en-mano” del entorno virtual Robert Kalley Cavalcanti de Menezes Professor Adjunto na Universidade Federal de Campina Grande
1
RESUMO Este trabalho apresenta alguns conceitos de ambiente virtual como atividade de transferência de conhecimento na rede a partir de técnicas pedagógicas e de comunicação, com apoio das tecnologias da informação. Espaços em escala global foram abertos para divulgação do conhecimento, proporcionando a criação de novos projetos educacionais e corporativos de grande impacto. O ambiente virtual é uma tendência que veio para evoluir e exige planejamento rápido para respostas que mudam a cada instante. Dentro desta dinâmica, conceber um modelo “pronto-para-uso” de ambiente virtual demonstra ser uma opção interessante para clientes e usuários do sistema. Palavras-chave: Ambiente virtual; rede; tecnologias da informação.
ABSTRACT This work presents some concepts of e-Learning as knowledge transfer activity on the Web through pedagogical and communication techniques, with the support of information technology. Spaces, on a global scale, were opened for dissemination of knowledge, providing the creation of new educational and corporate projects of wide impact. The e-learning is a trend that has come to evolve and demands rapid planning for responses that change quickly. Whithin this dynamic, designing a “turn-key” e-learning model proves to be an interesting option for customers and users of the system. Keywords: e-learning; web; information technology.
RESUMEN
1
Robert Cavalcanti de Menezes Correspondência: Av. Manoel Alves Oliveira 1095 Campina Grande – Paraíba – Brasil CEP 58410-860 Endereço eletrônico: robert@dsc.ufcg.edu.br
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Este trabajo presenta algunos conceptos de entorno virtual como actividad de transferencia de conocimientos en la red, utilizando técnicas pedagógicas y de comunicación, con apoyo de las tecnologías de la información. Espacios a escala mundial se abrieron a la difusión de los conocimientos, ofreciendo la creación de nuevos proyectos educativos y corporativos de gran impacto. Entorno virtual es una tendencia que llegó para evolucionar y exige planificación rápida a respuestas que cambian a cada momento. Dentro de esta dinámica, el diseño de un modelo “llave-en-mano” de entorno virtual ha demostrado ser una opción interesante para los clientes y usuarios del sistema. Palabras-claves: entorno virtual; red; tecnologías de la información.
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MENEZES, R. K. C.
INTRODUÇÃO
ser usadas a partir de princípios educacionais que valorizam a construção do conhecimento, a autoria
Modelos de ensino-aprendizagem que permi-
dos conteúdos, a geração de novos conhecimentos
tem a transferência de conhecimentos a distância e
de forma colaborativa e a aprendizagem continuada.
com separação temporal entre tutor e aprendiz já
Seja qual for a abordagem adotada, a educação à dis-
têm alguma tradição no país. A interligação entre as
tância não pode ser entendida pela transferência de uma
duas partes do ensino-aprendizagem tem ocorrido
abordagem pedagógica presencial para o virtual, mesmo
através do correio (cursos por correspondência), rá-
quando ambas se apresentam pelos mesmos princípios
dio (programas de alfabetização), televisão (teleduca-
educacionais (ALMEIDA & PRADO, 2007).
ção), vídeos (estudos dirigidos) e, recentemente, pela
Além disso:
Internet. A educação a distância, portanto, é um conceito abrangente, que envolve um ambiente de ensinoaprendizagem sem a presença física dos participantes do processo. Atualmente, é exigido um planejamento sistemático dos conteúdos e das mediações pedagógicas, além da elaboração de recursos interativos que facilitem a comunicação entre tutor e aprendiz. O ensino com tecnologia e a educação à distância mudaram para a educação online e para o treinamento baseado em Web, tendo recebido a designação de eLearning. Para Finn (2004), “a introdução do e-Learning adicionou novos significados para o treinamento e as possibilidades para entrega de conhecimento e informação para os estudantes em um compasso acelerado e abriu um novo mundo para a transferência de conhecimento.” Para Carvalho (2007), o e-Learning é diferente da educação a distância, uma vez que integra a distância o aluno em grupo de aprendizagem, enquanto na educação a distância, o aluno está sozinho com o tutor. Desta forma, e-Learning apresenta como característica própria a interação multidirecional entre todos os participantes, suportada pelas tecnologias do conhecimento. A partir da Web, surgem novos espaços de comunicação e vivência em ambiente virtual de aprendizagem na perspectiva do trabalho colaborativo, superando-se a presencialidade, substituída pelas mídias de comunicação que atraem e permitem potencializar redes de interações em grande escala. Desta forma, distintas abordagens educacionais que variam desde processos altamente interativos até a virtualização da prática de sala de aula podem
não se pode conceber que a educação à distância e a educação presencial estejam competindo entre si. São modalidades distintas, com características próprias e muito ricas que podem ser vistas e tratadas de maneira complementar em diversos contextos de ensino e aprendizagem em que essas modalidades se entrelaçam e realimentam, permitindo expandir o espaço físico da sala de aula ao tempo que integram novas possibilidades de interação e registro que propiciam compartilhar concepções, valores e sentidos (ALMEIDA & PRADO, 2007).
O contexto presencial de formação educacional é parte de nossa cultura de aprendizagem. As relações sociais se expressam na comunicação verbal e gestual. Contudo, por maior que seja a diversificação das dinâmicas pedagógicas, a escola tradicional esgota-se em relação ao tempo de aula, número de alunos e organização disciplinar, diante do novo espaço midiático explosivo e atraente do e-Learning, que pode tornar o processo de ensino-aprendizagem mais interessante e motivador. No contexto virtual, a aprendizagem potencializa uma rede de interações, negociação e produção compartilhada de significados que proporcionam condições favoráveis aos processos de assimilação e acomodação implícitos na construção/reconstrução de conhecimentos. Mas, para que essa rede se estabeleça é necessário que se tenham intenções pedagógicas norteadoras de estratégias presentes desde a concepção, planejamento, implementação e avaliação do curso, envolvendo as interações do professor com os alunos e entre os alunos (ALMEIDA & PRADO, 2007, p.). Revista da ANPG, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 84 - 90, segundo sem. 2009
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Conceitos e considerações sobre um modelo “pronto-para-uso” de ambiente virtual
Um projeto de e-Learning possibilita um design educacional concebido como rede dinâmica de convivência humana onde os participantes têm a possibilida-
pedagógica e demais aspectos multidisciplinares
A ESSÊNCIA DO E-LEARNING
de de assumir postura de “aprendente” e “ensinante”
O ponto de partida para estudo do e-Learning
um do outro, administrando-se conflitos, contradições
é reinvenção do processo de ensino-aprendizagem
e ambigüidades, objetivando valorizar a interdependên-
para suportar a demanda crescente dos trabalhado-
cia e a colaboração entre pessoas. Trata-se de um setor
res do conhecimento2 para experiências de aprendi-
com grandes perspectivas para a educação formal e in-
zagem apropriadas para o desenvolvimento de habili-
formal e treinamento corporativo.
dades de pensamento crítico.
Especialistas do setor imaginam que o crescimento do e-Learning no Brasil não se dará por razões exclusivamente acadêmicas, por outro lado, sua capacidade de multiplicar conhecimento para decisões inovadoras deverá também atrair mais aplicações alinhadas às estratégias empresariais e promover benefícios diretos para os negócios. Para Botelho (2007), “os conteúdos educacionais (gerenciais, técnicos, operacionais, inter-relacionais) estarão centrados naquelas habilidades que impactarão a
Pesquisas sobre aprendizagem e ensino sugerem, enfaticamente, que tais habilidades de pensamento crítico são mais desenvolvidas através de métodos que envolvem conversação sobre problemas e temas – conversação esta que pode ser entre aluno e mentor (Diálogo Socrático) ou entre grupos de estudantes interessados, engajados em discussões organizadas que focalizam criativas soluções de problemas (ROMISZOWSKI, 2003, p.).
produtividade dos processos e a competitividade das empresas.” É importante destacar que:
Como conseqüência, embora esses métodos sejam efetivos, envolvem um pequeno número de alunos presenciais com um professor qualificado, o
(...) muito se fala também na utilização da Web como veículo para promoção e realização de negócios, como canal de comunicação e como fonte ilimitada de informação e geração de conhecimento. O que pouco se fala (ainda) é que um programa de e-Learning pode representar um pouco de tudo isso ao mesmo tempo. Em outras palavras, um projeto de e-Learning pode significar para a empresa, muito mais do que apenas redução de custos em treinamento. Um projeto de e-Learning bem estruturado, tem efetivamente o potencial para se tornar uma unidade estratégica de negócios de extrema importância para a organização (LUCENA, 2007).
que gera custo e impossibilidade de atendimento a
Neste sentido, é de se esperar que as expec-
tutores, conteúdos e tecnologias do conhecimento,
tativas e preocupações dos investidores e usuários do
em projeto de interação multidirecional com a utili-
e-Learning estejam motivadas pelas suas necessidades
zação das inovações da Web 2.0, mais interativas e
mais urgentes de gerar conhecimento como vantagem
atraentes.
uma demanda crescente pelo conhecimento. O e-Learning apresenta-se, portanto, como um desafio da tecnologia para reproduzir, com design educacional diferenciado, em larga escala, através da Web, a eficácia do ensino presencial de qualidade em ambientes acadêmicos ou corporativos. Como já mencionado anteriormente, não se trata de uma transferência de uma abordagem pedagógica presencial para virtual, simplesmente. Ao contrário, trata-se de uma produção multidisciplinar que envolve em sua configuração mínima: aprendizes,
competitiva. O e-Learning tanto como estratégia de ne-
Em e-Learning, não se deve pensar em produ-
gócios, ou como solução para aplicações específicas, ou
to, mas em experiência; não se deve pensar em ser-
mesmo para aprendizado combinado (blended learning),
viço, mas em soluções. Pesquisa publicada nos EUA
necessita de um roteiro de planejamento que contemple todos os aspectos essenciais para sua estruturação: gente, tecnologias, propósitos, conteúdos, mediação 86
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2 “Os trabalhadores do conhecimento gerenciam a si mesmos, têm a aprendizagem e o ensino contínuos como parte de sua função, têm alta mobilidade e são parceiros do empreendimento.” – Cidade do Conhecimento – USP: http://www.cidade.usp.br/projetos/dicionario/gestao.htm
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pelo Delphi Group envolvendo empresas de destaque em Fortune 500, comprova que aplicações do e-Learning nas corporações ainda está em estágio inicial mesmo nos mercados mais avançados. Neste sentido, pesquisadores e corporações têm desenvolvido experiências antes mesmo de uma base referencial teórica de aceitação universal. Pesquisa realizada por Romiszowski (2003) revela que em 100 artigos sobre e-Leaning, acessados online, o termo foi definido quase 50 vezes, sendo encontradas mais de 20 definições diferentes. Outros 50 artigos não apresentaram qualquer definição. Neste sentido, é válida a questão: O que é mesmo e-Learning? De uma forma resumida, o e-Learning pode ser entendido como um processo de ensino-aprendizado que possibilita a interação multidirecional entre aprendizes e tutores, com possibilidade de intercâmbio entre aprendizes, através de um design instrucional implementado na Web, estruturado por mediações pedagógicas que permitem comunicação síncrona ou assíncrona, através de sessões virtuais ou presenciais, apoiado pelas tecnologias do conhecimento e viabilizado pelas necessidades estratégicas de uma organização. Franco (2001) faz referência ao artigo “O que não é e-Learning” de Cher P. Lin, no qual o autor apresenta o processo de e-Learning como faca de dois gumes, caso os quatro principais mitos, no Quadro1, não sejam destruídos: Fonte: Conexão Mercado – Revista Eletrônica: http://www.conexaomercado.com.br/VerMateria.aspx?id=30
Quadro 1 - Os Quatro Principais Mitos do e-Learning MITOS
EXPLICAÇÃO
e-Learning tem a ver com tecnologia.
Estudos comparativos mostraram que nenhuma mídia é superior a outra. O sucesso tem mais a ver com o contexto em que ela é usada. E-Learning deve tratar de processo, não de produtos.
e-Learning tem a ver com informação.
Nós já estamos bombardeados com uma quantidade exorbitante de informação. O que as corporações necessitam são pessoas capacitadas a sintetizar significado, a partir da enorme diversidade de conhecimento. Informação não é conhecimento, conhecimento não é sabedoria e sabedoria não é visão de mundo.
e-Learning trata de aprendizado baseado na web.
Com essa orientação as pessoas tentam transferir o aprendizado tradicional para a nova mídia, sem alterar os princípios pedagógicos. E-Learning então, deve ser sobre o aproveitamento da força e tratamento das fraquezas do aprendizado baseado na Web para criar um ambiente de aprendizado significativo.
e-learning é baseado em interação entre computador e aprendiz.
Na verdade, este tipo de atividade pode garantir controle sobre atividades e seqüências, mas não necessariamente aprendizado. O aprendizado de um indivíduo é o resultado das interações com a sua comunidade. Esta comunidade consiste de seus colegas, empregados, clientes, parceiros e investidores.
Para Massie (1999): o e-learning é um grande conceito, capaz de englobar muito mais que apenas o treinamento baseado na Web, CBT, educação à distância ou outras expressões. Com a difusão do termo através de press releases, trade shows e novos planos de negócio, temos uma oportunidade única de definir o que esse “e” REALMENTE deve representar (MASSIE, 1999, p.).
Para Massie (1999), o “e” significa, literalmente, a personificação “eletrônica” de uma relação comercial, de compras ou de aprendizado. Contudo, também quer dizer moderno, era da Internet, “pronto para o capital de risco” e online. A EXPERIÊNCIA é um componente essencial do e-learning, porque é nele que está o VALOR. Se não nos concentrarmos na dimensão EXPERIÊNCIA do aprendizado, correremos o risco de errar na divulgação de informações sobre aprendizado e treinamento. Converter, simplesmente, um esboço de curso em HTML não é o melhor do e-learning. Isso é o mesmo que apenas oferecer material de leitura pela rede (MASSIE, 1999).
A experiência a que se refere Massie (1999) leva em consideração os fatores apresentados no Quadro 2, a seguir: Quadro 2 - Fatores Relevantes para o E-Learning (Elliot Massie) FATORES
EXPLICAÇÃO
Comprometimento
Como motivar o aprendiz a se envolver totalmente.
Curiosidade
Como aproveitar o poder da curiosidade e da exploração.
Simulação e prática
Como oferecer ao aprendiz oportunidades instigantes de simulação e prática.
Aperfeiçoamento
Como fornecer conteúdo educacional de correção e extensão.
Treinamento
Como ministrar treinamento humano e digital para aprendizes.
Aprendizado em Grupo
Como formar comunidades que abram caminho para as dimensões sociais do aprendizado online. Como explorar o aprendizado em grupo.
Aprendizado Ativo
Como elaborar projetos que incentivem o aprendizado ativo e que se aliem com os desafios do ambiente de trabalho.
Apoio ao Desempenho
Como criar programas de e-Learning duradouros e que incrementem o desempenho do aprendiz no seu dia-a-dia profissional.
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Conceitos e considerações sobre um modelo “pronto-para-uso” de ambiente virtual
Intensidade
Como criar experiências memoráveis e de alta intensidade.
Avaliação e Feedback
Como ajudar o aprendiz a perceber melhor seu próprio conhecimento e suas carências. Como a organização pode gerenciar capital humano utilizando-se o eLearning.
Cultura do Ensino
Como o e-Learning pode ampliar o volume de ENSINO que ocorre na organização, motivando a transmissão de conhecimento mais vezes em um dia de trabalho.
Observa-se que as funções tecnológicas do eLearning não foram consideradas por Massie (1999) nesta percepção de negócio. O e-learning dos meus sonhos tem a intensidade de um simulador de vôo, o apoio via e-mail de um mentor de confiança, a atração de um grande romance literário - e cria a EXPERIÊNCIA do aluno que o faz dizer “UAU”. O “UAU” tem a ver com sua conexão com o conhecimento, não com a tecnologia. O “e” é o poder da EXPERIÊNCIA. Vamos inventar e criar isso! (MASSIE, 1999). Por outro lado, Khan (1997) sugere oito dimensões-chave para o design dos projetos a serem avaliadas, incorporando os seguintes aspectos: pedagógicos, institucionais, tecnológicos, design de interface, avaliação, gestão, suporte técnico e aspectos éticos. Cada dimensão pode ser ainda dividida em subdimensões e fatores específicos relacionados ao design de ambientes. A metodologia “A Framework for E-Learning”4 de Khan (1999) está sendo atualmente utilizada por pesquisadores em diversos países. A decisão mais simples na implementação de e-Learning são o hardware e o software a serem utilizados. Busque as alternativas disponíveis, selecione uma boa ferramenta de autoria, adquira um gerenciador de e-Learning – LMS – e implemente aulas virtuais. Todas essas decisões dependem unicamente de uma seleção criteriosa. A etapa mais difícil é criar e implantar novos métodos para o desenho de cursos, desenvolvimento pessoal e mudanças organizacionais. Esse é o grande desafio do e-Learning! (MASSIE, 1999).
si mesma não é solução. Para Finn (2004), soluções efetivas de entrega de conhecimento precisam trabalhar externamente bem como internamente para conectar unidades de negócio, fornecedores e clientes. O Website da empresa McWeadon Education5 comercializa o LMS McWeadon utilizando a estratégia do Free Demo Course para clientes em potencial, que recebem um resumo do ambiente de tecnologia educacional, envolvendo os aspectos: Planejamento e Gestão do e-Learning (compreensão de projetos de e-learning e blended e-learning para suas necessidades, aprendizagem organizacional, gestão das tecnologias e aspectos estratégicos do negócio) e Design Instrucional de e-Learning (planejamento da questão instrucional, necessidades de avaliação, análise das atividades, características dos aprendizes, objetivos instrucionais, recursos instrucionais, seqüência de conteúdos, e outros aspectos relacionados à geração dos conteúdos). Outros produtos estão disponíveis como plataformas computacionais, formadas por diferentes ferramentas de interação, comunicação, inserção de documentos, gerenciamento de informações, entre outras funções, a exemplo de diversas plataformas abertas como ProInfo, Teleduc, Moodle, além de plataformas proprietárias como Blackboard, WebCT, LearningSpace. Neste aspecto, a tecnologia não é a questão crítica. Para concluir este tópico, é razoável distinguir dois aspectos-chave na concepção do eLearning: O primeiro consiste em perceber o processo como uma questão educacional em si mesmo e suas potencialidades em larga escala. O segundo, como conseqüência, consiste em elaborar o planejamento estratégico para definir o projeto, recursos humanos e tecnológicos necessários e seu alcance como empreendimento, traduzido pelo seu custo-efetividade. 4 A Framework for E-Learning - http://asianvu.com/bookstoread/framework/ 5 McWeadon Education - http://www.asianvu.com/courses/
A CONFIGURAÇÃO DE UM MODELO
Atualmente, alguns LMSs podem dar suporte
E-Learning é uma tendência que veio para evo-
ao processo de e-Learning. Entretanto, como produ-
luir. É inconcebível que, com tanta tecnologia a favor
to, nenhum LMS pode fazer de tudo. A tecnologia em
e tantas necessidades humanas a serem atendidas
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na área de ensino-aprendizagem, não sejam criadas novas modalidades de transferência e distribuição de conhecimento em escala de crescimento proporcional às novas demandas que surgem em todos os setores: ambientes acadêmicos, treinamento corporativo, educação continuada para profissionais liberais, intercâmbio de conhecimento entre grupos de interesse comum. A velocidade de transferência de informação e o novo comportamento colaborativo, talvez como conseqüência, estão, conforme sugere Tapscott (2007), criando novos e poderosos modelos de produção baseados em comunidade, colaboração e auto-organização. Os clientes estão colaborando para a criação de bens e serviços em vez de consumirem apenas o produto final. Esse novo modelo de inovação e criação de valor, chamado de peer production, está tornandose comum entre as grandes empresas inovadoras que buscam novas fontes de criatividade e inovação em colaboradores externos. Diante dessa nova dinâmica social, o indivíduo amplia sua necessidade de experiência e conhecimento. É inegável o interesse das pessoas pelo aperfeiçoamento de seus conhecimentos em qualquer área de trabalho. Profissionais de todas as áreas estão tornando-se trabalhadores do conhecimento, mesmo para aquelas atividades de baixa remuneração. Saber fazer através da melhor técnica ou procedimento é critério essencial na contratação de novos colaboradores. O novo comportamento colaborativo e participativo exige, contudo, aquisição de conhecimento, o que implica em custo e tempo de aprendizagem. Devido ao seu potencial multiplicador, o e-Learning pode suprir necessidades de aprendizagem de uma comunidade de interessados ou atender a aplicações corporativas a custo reduzido e em tempo adequado. Como tendência que veio para evoluir, o eLearning apresenta um cenário de oportunidades no mercado de transferência do conhecimento. Em todos os setores da economia multiplicam-se os empreendimentos que utilizam a Web como ambiente para treinamento, capacitação e formação de recursos humanos. Universidades e corporações divulgam seus programas de ensino e treinamento em escala global. As Tecnologias da Informação e Comunicação geram mudanças comportamentais e organizacionais, e tornam possível a existência de um mercado concorrente além das fronteiras. Os empreendimentos estão em permanente processo de destruição criativa e o planejamento tradicional é substituído pelo fazer,
testar, ajustar e agir rápido. Nestas circunstâncias, é válido se pensar na padronização das melhores práticas para negócio, como se um protótipo de franquia estivesse sendo construído. Segundo Gerber (2004), o empreendimento deve ser algo dissociado do indivíduo que o concebe. Desse modo, é importante que os processos estejam definidos de modo a serem executados de forma independente por qualquer pessoa que tenha interesse em operacionalizá-los. O e-Learning como modelo Turn-key – pronto para uso com eficácia – apresenta-se como um produto atraente para os clientes e usuários. Alguns aspectos adaptados de Gerber (2004), que podem ser associados à concepção do e-Learning com este propósito, são: 1) O modelo irá fornecer vantagens reais a seus clientes, usuários e colaboradores, acima da expectativa deles; 2) O modelo será operado e usado por pessoas com o mínimo possível de conhecimento profissional; 3) O modelo se comportará como um sistema interativo multidirecional onde tudo flui e funciona; 4) Todas as tarefas do modelo serão documentadas em Manuais de Operação; 5) O modelo oferecerá o serviço de forma previsível e uniforme ao cliente; e 6) O modelo utilizará padronização de cores, códigos, letras, mensagens, avisos, mídias e sons, tudo conseqüência do design instrucional adequado. Segundo Gerber (2004), modelos de negócios com base em formato de franquia estão baseados na crença de que o verdadeiro produto de um negócio não é o que ele vende, mas como é vendido: o verdadeiro produto de um negócio é o próprio negócio. Modelos de e-Learning com esta configuração devem ser robustos nos seguintes aspectos: conteúdos, design instrucional, facilidade de uso, atualização do conhecimento, comunicação e interatividade, certificação legal, flexibilidade para o usuário com opções síncronas ou assíncronas, mediação pedagógica, gestão do treinamento/capacitação, pontualidade nos prazos e preço. As palavras-chave do e-Learning são: conexão, acesso, interação, compartilhamento, respostas rápidas, aprendizado e satisfação – práticas do marketing estratégico.
CONCLUSÃO A tendência de crescimento dos negócios na Web garante a expansão do e-Learning, em escala global, como sistema de divulgação e distribuição do conhecimento em todos os níveis de aplicação: Revista da ANPG, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 84 - 90, segundo sem. 2009
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Conceitos e considerações sobre um modelo “pronto-para-uso” de ambiente virtual
acadêmicas, corporativas ou pessoais. As mudanças tecnológicas envolvendo e-Learning e suas aplicações tornam o setor atrativo em oportunidades de empreendedorismo de valor – novos negócios baseados em novos conceitos com a finalidade de gerar novos produtos ou serviços. Para Baron (2007), pesquisadores revelaram que a mudança tecnológica é a fonte mais importante de oportunidades de empreendedorismo de valor que viabiliza o começo de novos empreendimentos. Ainda, segundo Baron (2007), novos negócios são mais bemsucedidos quando suas idéias estão baseadas em capital humano. Projetos de e-Learning são tão complexos quanto produções cinematográficas. Envolvem tecnologia, gente e talentos, design de interação, conteúdos e linguagens, gestão de processos, lideranças, custos e outros fatores. Pensar nas melhores práticas, mesmo que a experiência própria seja pouca e copiar seja necessário, é o melhor caminho para iniciar projetos na área. Criar ambientes de desenvolvimento e aplicações que reagem interativamente com os protótipos e sistemas produzidos, de modo a possibilitar rápidas modificações e atualizações, garantindo capacidade de resposta para o usuário, é a grande estratégia do e-Learning. O modelo Turn-key – pronto para uso com eficácia – semelhante a uma franquia, mesmo que não tenha por objetivo ser franqueado, apresenta um roteiro de pré-requisitos indispensáveis para a compreensão do novo empreendimento que, segundo Peters (2004), exige novo conceito, nova tecnologia, novo valor, nova marca, novos mercados, novo trabalho, novas pessoas e nova gestão. O novo conceito para re-imaginar as potencialidades do e-Learning. A nova tecnologia que transforma, considerando-se que as Tecnologias da Informação apresentam grande potencial de inovação nos negócios. O novo valor centrado nos custos e na oferta de serviços profissionais. A nova marca que fornece experi-
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ências memoráveis aos seus usuários. Os novos mercados que expandem as escalas e aumentam o retorno. O novo trabalho que deve ser criativo e compensador para quem faz. As novas pessoas abertas à inovação e a novas experiências. Finalmente, a nova gestão que pensa fora do convencional e busca a excelência numa era de desordem. 90
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SEÇÃO “ACONTECE”
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Pós-Graduandos obtêm reconhecimento por parte da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo de seu direito à representação autônoma nos órgãos colegiados da Universidade Graduates gain recognition from the Pontifícia Universidade Católica de São Paulo of their right to autonomous representation in the University Board and other collective bodies of the University Estudiantes de posgrado obtienen el reconocimiento de la Pontifícia Universidade Católica de São Paulo de su derecho a la representación autónoma en los consejos de la Universidad
1
Eric Calderoni Ex-Diretor de Política da Associação de Pós-Graduandos da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo 2
Lauro Ishikawa Representante dos Pós-Graduandos no Conselho Universitário da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
RESUMO O presente artigo relata a campanha da Associação de PósGraduandos da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo para garantir direito à representação autônoma dos pós-graduandos nos Colegiados de sua universidade, bem como para ampliar o direito a voto também para os pós-graduandos lato sensu. Palavras-chave: Redesenho institucional; representação discente.
ABSTRACT This article reports the campaign of the Graduate Students Association of the Pontifícia Universidade Católica de São Paulo to ensure the right to autonomous representation of graduate students in the University Board and other collective bodies of the University, as well as to broaden the right to vote for lato sensu graduates. 1
2
Eric Calderoni Ex-Diretor de Política da Associação de Pós-Graduandos, por ocasião da campanha “PUC: não rejeite quem te ama!”. Correspondência: Av. Paulista 509, Piso P, cj4 São Paulo/SP - Brasil - CEP 01311- 000 Endereço eletrônico:ecalderoni@uol.com.br Lauro Ishikawa Correspondência: Associação de Pós-Graduandos da PUC-SP. Rua Monte Alegre, 984 Edifício Reitor Bandeira de Mello, 4º andar, Perdizes São Paulo/SP - Brasil - CEP 05014-901. Endereço eletrônico: lauro.ishikawa@uol.com.br
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Keywords: institutional redesign; student representation.
RESUMEN Resumen: Este artículo relata la campaña de la Asociación de Estudiantes de Posgrado de la Pontifícia Universidade Católica de São Paulo para garantizar el derecho a la representación autónoma de los estudiantes de posgrado en los consejos de la universidad, y para ampliar el derecho al voto también para los estudiantes de posgrado lato sensu. Palabras-claves: Rediseño institucional; representación de los estudiantes.
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CALDERONI, E. & ISHIKAWA, L
INTRODUÇÃO Devido à crise financeira em 2005, a Cúria Metropolitana, mantenedora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), teve que assinar um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) que impunha reformas administrativas com os objetivos de corte de gastos e concentração de poder. Dentre as medidas enunciadas no TAC, incluía-se a necessidade de uma reformulação do Estatuto da Universidade que lograsse um enxugamento da estrutura organizacional, com redução de cargos e instâncias. Em 2007, iniciou-se, pelo Conselho Universitário, o debate sobre como ficaria o novo Estatuto, processo esse, que ficou conhecido como o “Redesenho Institucional” da PUC-SP. Ao abrir consulta pública irrestrita, quatro propostas completas chegaram à Comissão de Redesenho Institucional: a proposta dos pós-graduandos, representados por sua Associação de Pós-Graduandos (APG-PUC/SP) e mais três outras – uma da Reitoria do momento, outra do Centro de Educação (CEDUC) e outra da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária (FEA). Pelas três últimas propostas, tanto por aquela da Reitoria, como pela do CEDUC, como pela da FEA, os pós-graduandos perderiam sua representação autônoma nos Conselhos Superiores da PUC-SP. Antes do redesenho, havia seis cadeiras discentes em cada um dos Conselhos Superiores (Conselho Universitário, Conselho de Ensino e Pesquisa, Conselho Comunitário e Conselho de Administração e Finanças): cinco cadeiras reservadas a alunos de graduação, um de cada Centro (Centro de Ciências Humanas; Centro de Ciências Jurídicas, Econômicas e Administrativas; de Ciências Exatas e Tecnologia; de Ciências Médicas e Biológicas) e uma cadeira geral para os pós-graduandos. Assim, a estrutura da PUC-SP identificava até então a peculiaridade dos pós-graduandos como pesquisadores, portanto com necessidades diferentes dos alunos de graduação; em uma posição intermediária entre a condição de aluno na própria PUC-SP, mas com perfil para ser docente, portanto em um estágio da carreira já de profissional;
reconhecendo a história de representação política da APG-PUC/SP. Por critérios meramente burocráticos, no entanto, os três referidos proponentes inicialmente tentaram ignorar tais aspectos. A APG-PUC/SP iniciou de pronto ampla campanha batizada de “PUC, não rejeite quem te ama!”, que contou com o apoio da Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG). Escrevemos artigos, divulgamos panfletos, visitamos cada Centro, firmando posição intransigente, respaldados no Estado Democrático de Direito, no sentido do reconhecimento da nossa condição destacada, da ampla participação e representação dos pós-graduandos na vida da Universidade, como membros ativos da comunidade universitária e com peculiaridades próprias, em nossa condição de pesquisadores, que traz necessidades que precisam de canais de representação. A Universidade, nas palavras do Prof. Ricardo Sayeg, como solo sagrado, santuário da democracia, não pode marginalizar nenhum grupo que a compõe, sujeitando-o a um regime de dominação que lhe negue condições de se expressar com voz e participar com voto na decisão sobre seus próprios rumos. Somente com liberdade e autonomia de gestão, podese levar a cabo integralmente a liberdade de pensamento que requer a pesquisa e o ensino crítico. Como estávamos com a razão, conseguimos criar, aos poucos, um consenso na Universidade. Após alguns meses de intensa luta, aqueles três proponentes, tanto a Reitoria, como o CEDUC e a FEA, deram razão à APG/PUC-SP e modificaram sua proposta inicial, de modo a acolher, na estrutura organizacional, a representação autônoma dos pós-graduandos nos Conselhos Superiores, na Câmara de Pós-Graduação e nos Conselhos das Faculdades. Entretanto, nossa vitória apenas não foi completa, pois os estudantes da Pós-Graduação lato sensu continuaram sem direito a voto na Universidade. A luta da APG/PUC-SP continua para que sua dignidade seja reconhecida. Em relação a essa reivindicação, merece destaque o apoio que, na ocasião, recebemos do então diretor do Centro de Ciências Jurídicas, Econômicas e Administrativa (CCJEA), eleito posteriormente como Reitor, o Prof. Dr. Dirceu de Mello. Revista da ANPG, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 92 - 94, segundo sem. 2009
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Pós-Graduandos obtêm reconhecimento por parte da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo de seu direito à representação autônoma nos órgãos colegiados da Universidade
Discurso do então Diretor de Política da APG/PUC-SP, Eric Calderoni, na audiência pública para debater o Redesenho. (em cima)
O Presidente da ANPG na ocasião, Allan Aroni (ao centro) apoiando a luta da APG/PUC-SP. Eric Calderoni (direita), então Diretor de Política da APG e Thiago Lopes Matsushita (à esquerda), na liderança da campanha. (ao lado)
Leandro Pires Salvador e Eric Calderoni, da Comissão de Política da APG (à esquerda), Lauro Ishikawa e Etelma Tavares Souza, representantes titular e suplente dos pós-graduandos no Conselho Universitário, no auditório do campus Sorocaba da PUC-SP, onde se realizou a votação na qual se sagrou a vitória dos pós-graduandos em 31 de março de 2008.
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Evento do Deutscher Akademischer Austrausch Dienst: intercâmbio acadêmico Brasil-Alemanha Event of the Deutscher Akademischer Dienst Austrausch: academic exchange Brazil-Germany Evento de la Dienst Deutscher Akademischer Austrausch: Intercambio Académico Brasil-Alemania
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Rogério Adas Pereira Vitalli Ex-Diretor Acadêmico da APG-ITA, Mestrando em Mecatrônica e Sistemas Aeroespaciais
RESUMO A Associação de Pós-Graduandos do Instituto Tecnológico de Aeronáutica organizou um evento de grande importância para os alunos de graduação, pós-graduação, professores e pesquisadores do Instituto Tecnológico de Aeronáutica; esclarecendo as mais diversas dúvidas sobre diferentes formas de intercâmbio na Alemanha. Palavras-Chave: Associação dos Pós-Graduandos; Instituto Tecnológico de Aeronáutica; Deutscher Akademischer Austrausch Dienst.
ABSTRACT The Graduate Students Association from the Instituto Tecnológico de Aeronáutica organized an event of great importance for the undergraduate and graduate students, professors and researchers of the Instituto Tecnológico de Aeronáutica; clarifying the most diverse doubts on different forms of exchange in Germany. Keywords: Graduate Students Association; Instituto Tecnológico de Aeronáutica; Deutscher Akademischer Austrausch Dienst.
RESUMEN 1
Rogério Adas Pereira Vitalli Correspondência: Instituto Tecnológico de Aeronáutica CTA / ITA /IEMP, Praça Marechal Eduardo Gomes, 50, São José dos Campos/SP - Brasil. CEP 12.228-900. Endereço eletrônico: vitalli@ita.br 601. Endereço eletrônico: betazzi@uol.com.br
La Asociación de Estudiantes de Posgrado del Instituto Tecnológico de Aeronáutica organizó un evento de gran importancia para los estudiantes graduados y posgrados, profesores y investigadores del Instituto Tecnológico de Aeronáutica, explicando las varias preguntas sobre diferentes formas de intercambio en Alemania. Palabras-claves: Asociación de Estudiantes de Posgrado; Instituto Tecnológico de Aeronáutica; Deutscher Akademischer Dienst Austrausch. Revista da ANPG, São Paulo, v. 1, n. 1, p.95 - 101, segundo sem. 2009
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Evento do Deutscher Akademischer Austrausch Dienst: intercâmbio acadêmico Brasil-Alemanha
INTRODUÇÃO
tras ministradas pela Dra. Gabriele Althoff (Diretora-
A Associação de Pós-Graduandos do Instituto
Executiva do DAAD); Prof. Dr. Jefferson de Oliveira
Tecnológico de Aeronáutica (APG-ITA), instituída em
Gomes (Coordenador do Centro de Competência
23 de junho de 1995, vinculada à Associação Nacional
em Manufatura – CCM); Prof. Dr. Karl Heinz Kienitz
de Pós-Graduação (ANPG), é uma entidade jurídica
(Coordenador do Curso de Graduação de Engenha-
de direito privado sem fins lucrativos, apolítica e de
ria Eletrônica) e Prof. Dr. Luiz Carlos Sandoval Góes
duração indeterminada.
(Coordenador do Curso de Engenharia Mecânica
A APG-ITA é a entidade representativa dos
Aeronáutica). Com a iniciativa de um grupo de pós-
pós-graduandos e pós-graduados pelo Instituto Tec-
graduandos e ações coordenadas por Hudson Bode
nológico de Aeronáutica (ITA) e reconhece a Asso-
(Presidente) e Rogério Vitalli (Diretor Acadêmico), o
ciação Nacional de Pós-Graduandos como entidade
acontecimento foi um marco na história da APG-ITA,
legítima de representação dos pós-graduandos em
até então, “fechada” aos eventos acadêmicos exter-
nível nacional, reservando perante esta, sua autono-
nos e em processo de reconhecimento pela Reitoria
mia. Para este efeito, são pós-graduandos pelo ITA os
do ITA.
alunos regularmente matriculados nos programas de pós-graduação desta Instituição. A APG-ITA tem, por seus objetivos estatutários: estimular a pesquisa e o desenvolvimento no
SOBRE O DEUTSCHER AKADEMISCHER DIENST AUSTRAUSCH - DAAD
campo da tecnologia avançada, da ciência e do en-
O Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico
sino, complementando e apoiando, prioritariamente,
foi fundado em 1925 e reinstituído em 1950. É uma
as atividades exercidas pelo Instituto Tecnológico de
associação sem fins lucrativos, cujos membros são
Aeronáutica – ITA; estimular a formação, a especia-
231 Instituições de Ensino Superior e 127 grêmios
lização e o aperfeiçoamento de recursos humanos
estudantis da Alemanha. Subsidia anualmente cerca
para empresas e entidades públicas privadas; incre-
de 40.000 alemães e 27.000 estrangeiros por meio
mentar o intercâmbio de especialistas e de material
de mais de 200 programas de bolsas. Possui sua sede
didático e científico, entre as instituições nacionais e
principal em Bonn na Alemanha e um escritório em
internacionais por meio da concessão de auxílios à
Berlim. No exterior é representado por 13 escritó-
pesquisa e desenvolvimento, na forma de bolsas de
rios e 35 centros de informação. Assim, é uma orga-
ensino, pesquisa, extensão, estudos, estágio, ou de
nização mediadora de política exterior da cultura, de
desenvolvimento e apoio, planejando e organizando
política universitária e científica e de cooperação para
atividades e empreendimentos nos setores de tecno-
o desenvolvimento no âmbito da educação superior,
logia e ensino, tomando o encargo de executá-los ou
bem como oferece diversos programas de bolsas de
prestando-lhes as assistências técnica e administrativa
estudo e de apoio a pesquisa para estudantes de gra-
necessárias; manter, em atividade permanente, sem
duação e pós-graduação, professores e pesquisado-
qualquer discriminação e de acordo com seus planos
res universitários.
de atividades, centros de estudos e pesquisas, de se-
O escritório do DAAD no Rio de Janeiro, fun-
leção e orientação de ensino, de documentação e ou-
dado em 1972, coordena atualmente mais de 30 pro-
tros, próprios ou em regime de cooperação com en-
gramas de intercâmbio para estudantes e pesquisa-
tidades nacionais e estrangeiras, públicas ou privadas.
dores brasileiros e atua em parceria com as agências
Em 3 de abril de 2008, a APG-ITA ofereceu
brasileiras de fomento (principalmente com a CAPES,
um evento de grande importância para sua comuni-
o CNPq e a FAPESP).
dade iteana, esclarecendo as mais diversas dúvidas
O escritório fica no prédio do Consulado Ale-
a respeito do intercâmbio na Alemanha, com pales-
mão, aberto aos interessados em maiores informa-
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ções sobre o ensino superior da Alemanha. Estão à
Discurso do Presidente da APG-ITA
disposição diversos materiais sobre todos os aspectos do estudo na Alemanha, inclusive os catálogos das matérias oferecidas nas universidades alemãs. Desde as primeiras fundações do século XV, as universidades alemãs têm apresentado uma longa tradição em excelência acadêmica. Com a reforma no ensino superior por Wilhelm Von Humboldt (1767-1835) foi estabelecida a união da pesquisa e do ensino nas universidades alemãs, o que resultou em instituições que não somente ensinam, mas também realizam pesquisas independentes e aplicadas. Após a reforma nos anos 70, o estudante passou a ter maior liberdade na escolha das disciplinas.
O EVENTO NO INSTITUTO TECNOLÓGICO DE AERONÁUTICA - ITA O evento ocorrido no Instituto Tecnológico de Aeronáutica – ITA em 3 de abril de 2008, contou
“... e demais autoridades, senhoras e senhores, boa tarde. É com grande orgulho que nos envolvemos na vinda da Dra. Gabriele Althoff, do DAAD, ao ITA. Agradecemos à doutora Gabriele que, com tantas ocupações, conseguiu nos dedicar um pouco do seu tempo, prestigiando-nos com sua visita. Antes de passar a palavra aos convidados externo e internos do ITA, gostaria de falar um pouco sobre a APG: quem somos e quais os nossos objetivos. A Associação de Pós-Graduandos do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (APG-ITA), instituída em 23 de junho de 1995, cadastrada na Associação Nacional de Pós-Graduação (ANPG), é uma entidade jurídica de direito privado sem fins lucrativos, apolítica e de duração indeterminada. A APG-ITA é a entidade representativa dos pós-graduandos e pós-graduados pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA).
a presença do Pró-Reitor de Pós-Graduação e Pes-
Peço licença a todos para, aqui, falar um pouco
quisa, Prof. Dr. Homero Maciel do ITA, que relatou
dos objetivos estatutários da APG-ITA, para aqueles
a importância de um evento como esse para a insti-
que ainda não tem conhecimento de sua existência e
tuição. Além disso, estavam presentes pesquisadores
mesmo aos que já vislumbram alguma idéia.
do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e professores de outras universidades da região do vale
Figuram dentre os nossos objetivos (talvez sejamos um pouco prepotentes):
do Paraíba.
1. Representar os pós-graduandos regularmen-
Programação
te matriculados e pós-graduados no ITA junto aos ór-
Tabela 1. Programação do Evento [ Fonte APG-ITA ] Instituto Tecnológico de Aeronáutica - ITA / Associação de Pós-Graduandos do ITA - APG / Intercâmbio Acadêmico - DAAD TEMAS
CONVIDADOS
HORÁRIOS
Abertura do Evento
Rogério Vitalli (Diretor Acadêmico da APG – ITA)
14:00 hs
APG do ITA
Hudson Bode (Presidente da APG-ITA)
14:05 hs
Pós-Graduação do ITA
Prof Dr. Homero Maciel (Pró Reitor de Pós Graduação e Pesquisa do ITA)
14:15 hs
Oportunidades de Estudo e Pesquisa na Alemanha
Dra.Gabriele Althoff
14:30 hs
Ralato de caso: Doutorado na Alemanha
Prof. Dr. Jefferson de Oliveira Gomes ITA
15:30 hs
Ralato de caso: intercâmbio Alemão
Prof. Dr.Luiz Carlos Sandoval Góes - ITA
15:45 hs
Relato de caso: Experiência com a bolsa de pós-doutorado da Fundação Humboldt
Prof. Karl Heinz Kientz - ITA
16:00 hs
Mesa Redonda: perguntas e respostas
Rogério Vitalli (Diretor Acadêmico da APG – ITA)
16:15 hs
Encerramento do evento
Hudson Bode (Presidente da APG-ITA)
17:30 hs Fonte APG-ITA
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Evento do Deutscher Akademischer Austrausch Dienst: intercâmbio acadêmico Brasil-Alemanha
gãos colegiados do ITA;
rem o nosso modelo em suas associações. Um exemplo
2. Promover a integração entre os alunos e de-
foi a APG-USP de Ribeirão Preto que, no último CO-
senvolver sua participação nos vários aspectos da vida
NAP (Conselho Nacional de Pós-Graduandos), convi-
acadêmica do ITA;
dou-nos para uma palestra sobre nossas experiências.
3. Defender os direitos e interesses dos pós-
A APG participa da CONGREGAÇÃO, que é
graduandos do ITA e, em especial, propor ou reivindi-
o órgão máximo dessa Instituição. Atualmente, a par-
car condições de estudo, de pesquisa e de atividades
ticipação se faz por convite; entretanto, com as mu-
correlatas;
danças que em andamento no regimento da Congre-
4. Promover a participação efetiva dos pósgraduandos e pós-graduados nas propostas relativas à estruturação e ao funcionamento do ITA;
gação, a APG logo terá assento permanente e direito a voto nesse Colegiado. Somos membros do Conselho de Pós-Gradua-
5. Criar um fórum permanente para troca de
ção do ITA (CPG), que é o Fórum de decisão em últi-
experiências, discussões e apresentação de oportuni-
ma instância de questões concernentes à Pró-Reitoria
dades profissionais e acadêmicas aos associados;
de Pós-Graduação e Pesquisa. Estamos de maneira
6. Estimular a formação, a especialização e o aperfeiçoamento de recursos humanos para empresas e públicas e privadas;
atuantes em todas as reuniões, representando os pós-graduandos. Estamos na Comissão de Política Educacional
7. Incrementar o intercâmbio de especialista e
do ITA (CPE), que possui a incumbência de analisar
de material didático e científico, entre as instituições
e criticar o Modelo Educacional do ITA, por meio da
nacionais e internacionais por meio da concessão de
preparação de um documento oficial.
auxílios à pesquisa e desenvolvimento, na forma de bolsas de estudos, estágios ou pesquisas.
Somos membros da Comissão Própria de Avaliação (CPA) que é formada para conduzir os processos de avaliação internos da instituição, no contexto e para
Esses objetivos são cumpridos com muita de-
fins do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Su-
dicação por seus Diretores eleitos pelos pós-gradu-
perior (SINAES) e para sistematizar e prestar as infor-
andos em Assembléia Geral, que têm mandatos de 3
mações solicitadas pelo Instituto Nacional de Estudos e
(três) anos. Hoje temos firmados diversos convênios
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP).
com empresas dos setores públicos e privado, que resultam em:
Nós da APG gostaríamos de ter nossos esforços coroados com o reconhecimento pleno, em todas as
• Bolsas para alunos e pesquisadores dessa e
instâncias do ITA. Dos alunos, esperamos maior parti-
de outras instituições. Além disso, esses recursos são
cipação. Dos nossos mestres, desejamos maior incen-
destinados à compra de equipamentos, livros, custeio
tivo às nossas atividades. Das instâncias superiores civis
de bens e serviços para o ITA;
e militares, ansiamos pelo reconhecimento formal da
• Convênios com professores para o ensino de
APG no ITA. Tal reconhecimento deverá vir por meio
idiomas, como o alemão, o inglês, o francês e o russo.
de um convênio abrangente, que está em fase final de
Esses cursos são oferecidos no Memorial Aeroespa-
análise. Com isso, esperamos praticar todas as ativida-
cial Brasileiro a todos do CTA. Temos interesse em
des fins da APG, de modo regular e permanente, visan-
trazer esses cursos para o ITA;
do ao benefício da comunidade iteana.
• Convênios médicos, odontológicos e para compra de medicamentos com descontos para os as-
Em linhas gerais, é isso que tenho para falar a todos os presentes.
sociados da APG. Muito Obrigado”. A APG tem se tornado referência para outras APGs, que nos solicitam orientação para implementa98
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Figura 3. Rogério Vitalli (Diretor Acadêmico da APG-ITA)
Figura 2. Dra. Gabriele Althoff do DAAD
Figura 4. Hudson Bode (Presidente da APG-ITA)
Figura 5. Prof. Dr. Góes
Figura 6. Prof. Dr. Jefferson
Figura 7. Prof. Dr. Kienitz
Figura 8. Público Presente
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Figura 9. Janete (Secretária da APG – ITA)
Figura 10 Dito (Técnico do APG - ITA)
A Pró-reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa
Góes, da Divisão de Engenharia Mecânica do ITA,
do ITA convidou os novos alunos regulares (Mestra-
juntamente com o Dr. Ing. Ravindra Jategaonkar, do
do/Doutorado) da Pós-Graduação para um encontro
DLR, Alemanha. Dentre os principais temas aborda-
de boas vindas em 5 de março de 2009, às 16 horas e
dos destacam-se: sistemas aeroespaciais, propulsão,
30 minutos, no Auditório B da Divisão de Ciência da
estruturas e materiais aeroespaciais, aerodinâmica,
Computação. Na ocasião foram apresentados alguns
produção e manufatura aeronáutica, controle de
aspectos importantes das normas da Pós-Graduação
tráfego aéreo, ensaio em vôo e formação em enge-
e elementos do modelo iteano, com ênfase particu-
nharia aeroespacial.
lar no conceito de Disciplina Consciente (DC). Em seguida foi feito o anúncio de uma oficina para preparação de artigos científicos e uma apresentação da APG-ITA, que foi oficialmente reconhecida pelo ITA. Ao término do encontro foi oferecido um coquetel aos novos alunos. Em 6 de junho realizou-se a solenidade de colação de grau das turmas 2009 de Pós-Graduação Stricto Sensu do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), que teve como paraninfo o Prof. Dr. Luis Fernandes, presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). Na ocasião foram conferidos os diplomas aos formandos nos cursos de Doutorado, Mestrado e Mestrado Profissionalizante, no total de 29 Doutores, 118 Mestres e 62 Mestres Profissionais. Foi mencionado que o “ITA SEDIARÁ O PRIMEIRO SIMPÓSIO BRASILEIRO DE ENGENHARIA AEROESPACIAL E APLICAÇÕES”; um dos motivos desse acontecimento decorreu dos esforços da APG-ITA para a realização pioneira do evento “DAAD no ITA”, ocorrido em meados de abril de 2008. Entre 14 e 16 de setembro foi realizado, no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), o 2009 Brazilian Symposium on Aerospace Engineering and Applications, presidido pelo Prof Luiz Carlos Sandoval 100 Revista da ANPG, São Paulo, v. 1, n. 1, p.95 - 101, segundo sem. 2009
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RESULTADOS
Total de fomentados DAAD Alemães Estrangeiros
1950
1960
1970
1980
1990
2000
2005
2006
426
4.861
10.883
21.813
33.959
46.659
51.478
55.229
230 196
1.710 3.151
2.035 8.848
7.699 14.114
11.985 21.974
20.063 26.596
20.457 31.021
21.248 33.981
CONCLUSÃO A Dra. Gabriele Althoff, estudou Ciencias So-
Foi uma imensa satisfação para todos nós do
ciais e Germanística nas Universidades de Bochum
ITA apreciar essa fabulosa palestra, discutir os resul-
e Paderborn. Possui Doutorado em Sociologia e foi
tados apresentados e ter nossos esforços coroados
Professora Visitante em Nairobi, Kenia. Desde 1995
com o reconhecimento plena APG-ITA em todas as
está no DAAD, em 2004 assumiu sua Direção Execu-
instâncias do ITA
tiva no Rio de Janeiro.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALTHOFF, G. Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico. Palestra realizada no ITA em 03/04/2008. Disponível em: www.apgita.org. br. Acesso em: 05 de maio de 2008.
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REGULAMENTO DA REVISTA DA ANPG TÍTULO I DO OBJETIVO
mear o Editor ou os Editores da revista. Parágrafo único - Compete ao Editor ou competem aos Editores:
Art. 1º A Revista da ANPG: Ciência, Tecnologia e Políticas Educacionais, periódico científico ins-
I. convocar e coordenar as reuniões do Conselho Editorial;
titucional editado pela Associação Nacional de Pós-
II. distribuir os artigos recebidos para as seções
Graduandos (ANPG), tem por objetivo a difusão de
ii, iii, iv e v da Revista para os membros do Comitê
estudos, pesquisas e documentos referentes a temas
Científico e/ou para os pareceristas ad hoc indicados
em ciência, tecnologia e políticas educacionais, prio-
por membros do Comitê Científico e aprovados pelo
rizando os temas mais relevantes para o desenvolvi-
Conselho Editorial para que emitam parecer em rela-
mento nacional sustentável e a redução das desigual-
ção ao mérito científico dos artigos;
dades sociais.
III. coordenar os trabalhos de editoração, produção e divulgação da revista, bem como sua distribuição, se e quando passar a existir versão impressa. TÍTULO II DO PÚBLICO - ALVO
Art. 5° Compete ao Conselho Editorial elaborar a política editorial do periódico.
Art. 2º A Revista da ANPG: Ciência, Tecnologia e Políticas Educacionais tem como público-alvo
Parágrafo primeiro. Integram o Conselho Editorial da Revista:
toda a comunidade acadêmica e científica, sobretudo
I. o Editor ou os Editores do periódico;
docentes e pós-graduandos, pesquisadores e gesto-
II. o Presidente da ANPG ou representante por
res de instituições de ensino superior e de pesquisa, gestores de políticas de ciência e tecnologia, gestores de associações científicas e profissionais, dirigentes e técnicos de órgãos do Ministério da Educação (MEC) e do Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT) e demais órgãos envolvidos na formação de pessoal, produção científica e desenvolvimento sustentável nacional.
ele indicado; III. o Diretor de Comunicação da ANPG ou representante por ele indicado; IV. o Diretor de Ciência e Tecnologia da ANPG ou representante por ele indicado; V. o Diretor de Cultura e Eventos da ANPG ou representante por ele indicado; VI. eventuais outros membros designados de comum acordo entre os quatro membros listados nos itens ii, iii, iv e v acima.
TITULO III DAS RESPONSABILIDADES
Art. 6° Compete aos membros do Comitê Científico emitir pareceres sobre os artigos encami-
Art. 3° As responsabilidades da Revista da
nhados à Revista da ANPG: Ciência, Tecnologia e Po-
ANPG: Ciência, Tecnologia e Políticas Educacionais
líticas Educacionais, opinando sobre sua qualidade e
serão exercidas por um Editor ou por editores, por
relevância.
um Conselho Editorial e por um Comitê Científico. Art. 4º Compete ao Presidente da ANPG no-
Parágrafo 1° Os membros do Comitê Científico são escolhidos por sua competência acadêmica
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REGULAMENTO DA REVISTA DA ANPG
e científica em áreas relacionadas à linha editorial da
número da revista.
Revista, convidados e podendo a qualquer momento ser substituídos pelo Conselho Editorial.
Parágrafo 3º – As seções ii, iii, iv e v recebem artigos científicos e ensaios de reflexão originais.
Parágrafo 2° O Conselho Editorial, quando ne-
Parágrafo 4º – Elaborar artigos para a seção i
cessário, pode autorizar os membros do Comitê Cien-
é de exclusiva competência do Conselho Editorial; a
tífico a solicitarem pareceres de consultores ad hoc.
seção vi é de competência do Conselho Editorial ou
Art. 7° Compete a toda diretoria da ANPG
de iniciativa livre, desde que pré-aprovada pelo Con-
colaborar para o ótimo andamento do periódico, in-
selho Editorial; as contribuições para a seção vii se-
cluindo sua divulgação.
rão avaliadas exclusivamente pelo Conselho Editorial; sendo as seções ii, iii, iv e v abertas sem restrições à livre contribuição de qualquer autor sendo os textos
TÍTULO IV DA PERIODICIDADE E DAS
submetidos para estas quatro seções avaliados pelo Comitê Científico.
SEÇÕES DA REVISTA Art. 9° O periódico terá publicação na forma Art. 8º - A Revista da ANPG: Ciência, Tecnologia e Políticas Educacionais terá periodicidade semes-
eletrônica e poderá, no futuro, passar a ter também publicação na forma impressa.
tral e contará com as seguintes seções:
Parágrafo 1º - A Revista da ANPG: Ciência, Tec-
I. Editorial;
nologia e Políticas Educacionais, somente poderá pas-
II. Seção sobre tema relacionado à Ciência,
sar a ter também edições impressas, se solicitado pelo
Tecnologia e Desenvolvimento Nacional com tema
Conselho Editorial e aprovado pela executiva da ANPG,
específico definido pelo Conselho Editorial e divulga-
mediante parecer emitido pelo tesoureiro da entidade.
do com antecedência; III. Seção com tema livre relacionado à Ciência,
Parágrafo 2º - A versão eletrônica do periódico terá acesso público e gratuito.
Tecnologia e Desenvolvimento Nacional; IV. Seção sobre tema relacionado a políticas TÍTULO V
educacionais com tema específico definido pelo Con-
DA ORIENTAÇÃO EDITORIAL
selho Editorial e divulgado com antecedência; V. Seção com tema livre relacionado a políticas educacionais;
Art. 10 Somente serão aceitos trabalhos inédi-
VI. Entrevistas;
tos, exceto nos casos previstos no inciso VII, do Art.
VII. Seção “acontece”, de análise e/ou divul-
8°.
gação de portarias, leis, estudos, experiências ino-
Art. 11 O autor será comunicado do resultado
vadoras, etc., nacionais ou estrangeiros, ou acordos
da avaliação do seu trabalho em até 90 (noventa) dias a
internacionais, eventos organizados por APGs, pela
contar da confirmação do recebimento do manuscrito.
ANPG ou outras entidades científicas ou profissio-
Parágrafo único O autor deverá ser comunica-
nais, comentados, apenas resumidos ou divulgados
do do recebimento de seu manuscrito em até 8 (oito)
na íntegra, julgados de interesse do público alvo do
dias a contar desde seu envio.
periódico pelo Conselho Editorial. Parágrafo 1º - As seções e a periodicidade da revista podem ser alteradas pelo Conselho Editorial ad referendum do CONAP ou do CNPG. Parágrafo 2º – É facultado ao Conselho Editorial publicar somente algumas das seções em cada
Art. 12 A publicação de artigos não é remunerada, sendo permitida a reprodução total ou parcial dos mesmos, desde que citada a fonte. Art. 13 Os artigos assinados serão de responsabilidade exclusiva de seus autores, não refletindo, necessariamente, a opinião da ANPG. Revista da ANPG, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 102 - 104, segundo sem. 2009 103
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REGULAMENTO DA REVISTA DA ANPG
Art 14 O envio espontâneo de qualquer colaboração implica automaticamente a cessão dos direitos autorais à ANPG. Art. 15 Serão aceitas colaborações em língua portuguesa e em inglês, francês e espanhol, incentivando-se especialmente aquelas em espanhol. Art. 16 Os originais podem sofrer pequenas adaptações que não alterem seu conteúdo, para fins de editoração. Art. 17 As colaborações para a Revista da ANPG: Ciência, Tecnologia e Políticas Educacionais devem ser enviadas à ANPG, de acordo com as normas editoriais a serem publicadas pelo Conselho Editorial. Art. 18 Toda autoria dos pareceres e dos artigos, durante o processo de avaliação, será mantida em sigilo. Art. 19 Todo artigo receberá dois pareceres independentes, recomendando publicação sem alterações, publicação com alterações ou rejeição do artigo e justificando o encaminhamento. Parágrafo 1º Em caso de desacordo entre os pareceristas, caberá ao Conselho Editorial julgar o mérito, podendo recorrer a um terceiro parecerista em caso de dúvidas. Parágrafo 2º Assim que comunicado das sugestões de alteração indicadas pelos pareceristas, o autor terá o prazo de 15 (quinze) dias para efetuar as alterações indicadas ou apresentar justificativa para não realizá-las. TÍTULO VI DAS DISPOSIÇÕES GERAIS E TRANSITÓRIAS Art 20 Os casos omissos e as dúvidas suscitadas na aplicação do presente Regulamento serão dirimidos pelo Conselho Editorial da revista. TÍTULO VII DAS DISPOSIÇÕES FINAIS Art 21 A revista somente poderá ser descontinuada mediante aprovação do Congresso Nacional de Pós-Graduandos (CNPG) ou por ordem do presidente da ANPG ad referendum do CNPG. 104 Revista da ANPG, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 102 - 104, segundo sem. 2009
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NORMAS PARA PUBLICAÇÃO
NORMAS PARA PUBLICAÇÃO 1. A Revista da ANPG: Ciência, Tecnologia e
f) Seção “acontece”, de análise e/ou divulgação
Políticas Educacionais, periódico científico institu-
de portarias, leis, estudos, experiências inovadoras,
cional da Associação Nacional de Pós-Graduandos
etc., nacionais, estrangeiros ou acordos internacio-
(ANPG), nos termos de seu regulamento, aceita para
nais, eventos organizados por APGs, pela ANPG ou
publicação trabalhos inéditos de autores brasileiros e
outras entidades científicas ou profissionais, comen-
estrangeiros em forma de artigos científicos teóricos
tados, apenas resumidos ou divulgados na íntegra, jul-
ou baseados em pesquisa empírica, bem como en-
gados de interesse do público-alvo do periódico pelo
saios com reflexões.
comitê científico.
2. A revista recebe contribuições de qualquer autor, desde que respeitadas estas normas.
Para as seções de a) a e) acima somente deverão ser submetidos artigos inéditos e que não sejam
3. A Revista da ANPG: Ciência, Tecnologia e
submetidos simultaneamente para a publicação em
Políticas Educacionais publica colaborações referen-
quaisquer outros veículos de comunicação impressos
tes à ciência, à tecnologia e às políticas educacionais,
ou eletrônicos.
priorizando os artigos mais relevantes para o desen-
4. O envio espontâneo de qualquer colabora-
volvimento nacional sustentável e o combate às desi-
ção implica automaticamente a cessão dos direitos
gualdades sociais, de acordo com as seguintes seções
autorais à ANPG.
da revista: a) Seção sobre tema relacionado a Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Nacional com tema
5. A publicação de artigos não é remunerada, sendo permitida a sua reprodução total ou parcial, desde que citada a fonte.
específico definido pelo Conselho Editorial e divulga-
6. Os artigos assinados serão de responsabili-
do em chamada de artigo específica com prazo de-
dade exclusiva de seus autores, não refletindo, neces-
terminado;
sariamente, a opinião da ANPG.
b) Seção com tema livre relacionado a Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Nacional;
7. A critério do Conselho Editorial, poderão ser aceitas e publicadas colaborações em língua estrangeira,
c) Seção sobre tema relacionado a políticas
sobretudo em espanhol, inglês e francês, encorajando-se,
educacionais com tema específico definido pelo Con-
entre estas, especialmente as colaborações em espanhol.
selho Editorial e divulgado em chamada de artigo es-
Envio de colaborações
pecífica com prazo determinado; d) Seção com tema livre relacionado a políticas educacionais;
8. As colaborações deverão ser enviadas para o Editor, no endereço de correio eletrônico (e-mail)
e) Entrevistas cujos projetos contendo nome
revista@anpg.org.br, sob a forma de documento
do entrevistado e justificativa para sua escolha, bem
anexado à mensagem, respeitadas as orientações de
como roteiro de perguntas tenham sido pré-aprova-
apresentação e formatação fixadas, contendo obri-
dos pelo conselho editorial;
gatoriamente: Revista da ANPG, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 105 - 108, segundo sem. 2009 105
Revista ANPG.indd 105
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NORMAS PARA PUBLICAÇÃO
- Mensagem:
nesta revista e que qualquer pessoa que tenha sido
a) título do trabalho;
citada como fonte de comunicação pessoal aprovou
b) os seguintes dados pessoais e acadêmicos
a citação. O(s) autor(es) autoriza(m) a realização de
do autor ou autores: nome, CPF, endereço, telefo-
eventuais pequenas alterações formais no texto pela
ne, endereço de e-mail (correio eletrônico), mais alta
equipe da Revista, desde que não comprometam seu
titulação acadêmica, instituição de vinculação e atual
conteúdo, para que o texto melhor atenda às normas
cargo na instituição mencionada;
para publicação.
c) A área do conhecimento principal do tra-
- Documento a ser anexado:
balho e as áreas do conhecimento complementares,
a) título do trabalho;
dentre as seguintes alternativas: Oceanografia; Geoci-
b) resumo em português em até 10 (dez) li-
ências; Matemática; Química; Física; Ciência da Com-
nhas e com de 3 a 6 palavras-chave; c) abstract em inglês em até 10 (dez) linhas e
putação; Astronomia; Engenharias; Biofísica; Zoologia; Parasitologia; Neurociências; Morfologia; Microbio-
com de 3 a 6 keywords; d) resumo em espanhol com até 10 (dez) li-
logia; Imunologia; Genética; Fisiologia; Farmacologia; Ecologia; Botânica; Bioquímica; Biologia; Enfermagem;
nhas e com de 3 a 6 palabras-clave;
Ergonomia; Fisioterapia; Terapia Ocupacional; Fonoau-
e) Se o artigo tiver sido escrito em francês,
diologia; Nutrição; Farmácia; Odontologia; Saúde Co-
deve conter também résumé em francês com até 10
letiva; Medicina; Agronomia; Ciência e Tecnologia de
(dez) linhas e com de 3 a 6 mots clés;
Alimentos; Zootecnia; Medicina Veterinária; Recursos
e) texto do artigo ou matéria, incluindo notas e re-
Pesqueiros e Engenharia de Pesca; Recursos Florestais
ferências, com a formatação estabelecida nestas normas;
e Engenharia Florestal; Engenharia Agrícola; Gestão e
f) tabelas e gráficos, se utilizados.
Administração; Serviço Social; Educação Física e Espor-
Só serão aceitos artigos submetidos em forma-
tes; Documentação e Informação Científica; Comuni-
to .doc ou .dot. 9. Não serão aceitas colaborações que não
cação; Desenho Industrial; Demografia; Planejamento Urbano e Regional; Arquitetura e Urbanismo; Direito;
atendam às normas fixadas.
Turismo e Hotelaria; Economia; Antropologia; Socio-
10. Os textos devem ser digitados em fonte
logia; Psicologia; Educação; Ciência Política; História;
Times New Roman ou/e Arial, fonte 12 para o texto
Geografia; Filosofia; Arqueologia; Antropologia; Artes;
e fonte 10 para as citações/nota de rodapé, espaço
Semiótica; Lingüística; Literatura; e/ou Letras.
simples para o resumo e de 1,5 para o artigo. Não
d) a seguinte declaração (copie e cole): “De-
podem exceder 50 mil caracteres, incluindo os espa-
claro que o texto do artigo anexo nunca foi publica-
ços e consideradas as referências bibliográficas, cita-
do, não está sendo submetido para publicação em
ções ou notas, quadros, gráficos, mapas, etc. Títulos
nenhum outro veículo impresso, digital ou eletrônico
e subtítulos devem estar em negrito, sendo títulos em
nem será submetido a publicação em nenhum veiculo
corpo 14 e subtítulos em corpo 12.
impresso, digital ou eletrônico enquanto não termi-
11. Os quadros, gráficos, mapas e imagens
nar seu processo avaliativo na Revista da ANPG. De-
devem ser numerados, intitulados, ter as unidades
claro ainda que todos os autores listados como auto-
explicitadas e apresentar indicação das fontes corres-
res aprovaram seu encaminhamento para publicação
pondentes.
EVOLUÇÃO DA QUANTIDADE DE GRUPOS DE PESQUISA NAS 10 INSTITUIÇÕES BRASILEIRAS COM MAIS GRUPOS DE PESQUISA EM NÚMEROS ABSOLUTOS E PERCENTAGENS EM RELAÇÃO AO TOTAL NACIONAL 1993 Instituição
1995
1997
2000
2002
2004
Grupos
%
Grupos
%
Grupos
%
Grupos
%
Grupos
%
Grupos
%
902
20,5
1.056
14,5
1.067
12,4
1.356
11,5
1350
8,9
1884
9,7
UFRJ
246
5,6
577
7,9
520
6,0
679
5,8
750
4,9
963
4,9
UNESP
335
7,6
405
5,6
369
4,3
359
3,1
593
3,9
716
3,7
USP
106 Revista da ANPG, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 105 - 108, segundo sem. 2009
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NORMAS PARA PUBLICAÇÃO
UNICAMP
153
3,5
659
9,1
816
9,5
537
4,6
614
4,1
657
3,4
UFMG
80
1,8
281
3,9
337
3,9
400
3,4
445
2,9
566
2,9
UFRGS
228
5,2
267
3,7
355
4,1
422
3,6
489
3,2
543
2,8
UFSC
126
2,9
118
1,6
190
2,2
219
1,9
350
2,3
398
2,0
UFF
98
2,2
114
1,6
111
1,3
204
1,7
236
1,6
371
1,9
UFPE
76
1,7
150
2,1
164
1,9
273
2,3
334
2,2
354
1,8
UFBA
69
1,6
67
0,9
130
1,5
200
1,7
225
1,5
348
1,8
Observação: A referência completa ao CNPq/GrupoStela (2005) deve integrar as referências bibliográfica no formato estabelecido no item 12 abaixo
12. Todas as referências bibliográficas devem obedecer às normas atualizadas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), de acordo com os exemplos abaixo: Para livros no todo:
devem subordinar-se à forma: autor (data) ou (AUTOR, data). Exemplo: Fischer (2002); (PEREIRA e FONSECA, 1997, p. 120); (BRAGA, 2001; SILVA, 1998). 14. As notas de rodapé devem ser reduzidas
TERRA, J.C.C. Gestão do conhecimento: o
ao mínimo e sempre exclusivamente explicativas. To-
grande desafio empresarial - uma abordagem
das as notas deverão ser numeradas e aparecer no
baseada na aprendizagem e na criatividade. São
pé-de-página.
Paulo: Negócio Editora, 2000. Obs.: o título de livro ou de artigos pode ser em itálico ou negrito.
15. As referências devem conter exclusivamente os autores e textos citados no trabalho e ser apresentadas ao final do texto, em ordem alfabética.
Para parte de livros: ROMANO, G. Imagens da juventude na era
Seleção de matérias
moderna. In: LEVI, G.; SCHIMIDT, J. (Org.). História dos Jovens. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. p. 7-16.
16. As colaborações dos tipos mencionados nas alíneas de a) a d) do item 2 destas normas serão
Para artigo e/ou matéria de revista, boletim:
submetidas aos pareceres independentes de pelo me-
GURGEL, C. Reforma do Estado e segurança
nos dois membros do Comitê Científico da revista ou
pública. Política e Administração, Rio de Janeiro, v. 3,
colaboradores ad hoc por eles indicados, sem identi-
n. 2, p. 15-21, set. 1997.
ficação do autor. Tais pareceristas deverão julgar os
Para teses acadêmicas:
artigos em relação a sua relevância e oportunidade,
SILVA, A. S. Acampados no “Carlos Mari-
qualidade técnica, atualização e originalidade dos ar-
guela”: um estudo sobre a formação da consciência
tigos. As colaborações para a seção “acontece” serão
política entre famílias do Movimento dos Trabalhado-
avaliadas pelo Conselho Editorial e as colaborações
res Rurais Sem Terra no Pontal do Paranapanema -
para a seção de entrevistas serão avaliadas pelo Con-
SP. 2006. 609 f. Dissertação (Mestrado em Psicologia
selho Editorial devendo ter sido pré-aprovadas em
Social). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,
seu roteiro conforme especificado na alínea e) do
São Paulo.
item 2 destas normas.
Para artigo e/ou matéria de revista, boletim em meios eletrônicos:
17. Se a matéria for aceita para publicação, a revista permite-se introduzir ajustes de formatação e
VARGAS, R. T. Reflexões sobre a integração
de revisão ortográfica e gramatical. Modificações de
universidade-empresa estudo de caso: mestrado pro-
estrutura ou de conteúdo, sugeridas pelos parece-
fissionalizante. Disponível em www.geocities.com/
ristas, só serão incorporadas mediante concordância
anpgbr/mestp.phpl. Acesso em: 30 set. 2001.
dos autores.
13. As citações a autores, no corpo do texto,
18. Artigos aprovados com restrições serão Revista da ANPG, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 105 - 108, segundo sem. 2009 107
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NORMAS PARA PUBLICAÇÃO
encaminhados para a reformulação por parte dos autores ou para que justifiquem, caso considerem que as reformulações sugeridas seriam inadequadas. O Conselho Editorial se reserva o direito de recusar o artigo caso não tenha havido alterações, neles introduzidas, que atendam às solicitações feitas pelos pareceristas, podendo-se recorrer, em caso de dúvidas, à avaliação de um novo parecerista. 19. Os autores devem ser comunicados do recebimento da sua colaboração e se esta atende aos quesitos para ser encaminhada para avaliação no prazo de até 8 (oito) dias a partir da submissão de sua colaboração e devem ser comunicados do resultado da avaliação de sua colaboração no prazo de (90) noventa dias a contar a partir da confirmação do recebimento. Toda a comunicação da revista para os autores será feita através do e-mail do primeiro autor do artigo. Os autores que não receberem mensagem da revista nos prazos supra-citados devem procurar novo contato com o Editor para esclarecer se houve extravio de correspondência eletrônica.
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