Londres Nápoles Misteriosa Entre o Mistério e secreta e o Secreto GUIAS INSÓLITOS DO MUNDO
Vítor Manuel Adrião
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Nápoles, entre o Mistério e o Secreto_________________________________________
Nápoles entre o Mistério e o Secreto –– Por Vitor Manuel Adrião Sexta-feira, Jul 5 2013 lusophia 19:44
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Etálides Edições
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INDICE
A DEUSA-MÃE ARTEMIS .................................................................................................................. 4 NÁPOLES SUBTERRÂNEA................................................................................................................. 5 A PEDRA SANTA DE SANTA MARIA MAGGIORE ............................................................................... 7 O TÚMULO DE VIRGILIO .................................................................................................................. 8 O CRISTO VELADO DE SAN SEVERO ................................................................................................10 A MÁQUINA ANATÓMICA DE SANGRO ..........................................................................................12 PETRIFICAÇÕES ALQUIMICAS .........................................................................................................14 CAPELA DE SAN SEVERO E O HERMETISMO ....................................................................................16 NÁPOLES E O CULTO DO SANGUE ..................................................................................................18 O ARCO DAS ALMAS DO PURGATÓRIO...........................................................................................20 A IGREJA PERDIDA DOS SANTOS COSME E DAMIÃO .......................................................................22 O TAROT DA PIAZETTA BANCHI NUOVI ..........................................................................................24
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_________________________________________________________ Lusophia | 2013 A DEUSA-MÃE ARTEMIS No Museu Arqueológico de Nápoles está a estátua da deusa grega Ártemis em tamanho natural que surprende pelos seus inúmeros seios e figuras de animais decorando a túnica que a cobre inteiramente, só deixando à vista a cabeça, as mãos e os pés revelando-a de cor negra. Que significa tudo isto? Significa tratar-se da Grande Deusa-Mãe para os antigos gregos e depois igualmente para os romanos, que associaram Ártemis à deusa Diana. A mitologia helénica dos Períodos Arcaico e Clássico identificou Ártemis como filha de Zeus e de Leto e irmã gémea de Apolo, e que praticamente desde o berço – isto é mitologia e as deusas podem tudo – revelou extraordinários dotes para auxiliar nos partos, inclusive tendo ajudado a nascer o seu irmão, que representa o Sol que ela, como Lua, preanuncia na noite vizinha do dia. Por essa razão, a deusa Ártemis era para as mulheres gregas a padroeira dos partos felizes e a ela recorriam as grávidas e também as que padeciam de esterilidade. Por este motivo, a deusa veio a ser iconografada com as mãos abertas num gesto ritual e ostentando múltiplos seios como símbolos de fecundidade. Ao atributo de parteira celeste juntou-se-lhe o de “protectora das cidades”, desde que protegeu o seu templo e cidade de Éfeso de uma terrível tempestade que os naturais atribuíram a outros deuses que tinham ciúmes da beleza e dos talentos de Ártemis (e é por isso que ela aparece com a torre sobre a cabeça envolta no halo divino, com pequenas figuras humanas expressivas das almas que nascem de si como Mãe Soberana e que vão constituir as populações das urbes), com isso sendo-lhe atribuída a qualidade de guerreira iracunda desferindo flechas contra os homens que ousam desafiá-la quando atentam contra a Natureza, que é a sua própria criação. Ficou assim como protectora dos animais jovens e das mulheres de qualquer idade. Esses predicados serviram para os romanos inventarem a nova versão de Ártemis, ou seja, Diana ou Diviana, literalmente, “a Deusa”, commumente chamada “deusa da caça”, ou melhor, a deusa que protege da caça, que dá a sua protecção às espécies animais e a toda a Natureza, lançando as suas flechas contra os homens prevaricadores aos quais persegue implacavelmente, ficando retratada como uma jovem robusta com rosto severo e vestindo uma túnica leve, 4
Nápoles, entre o Mistério e o Secreto_________________________________________ deixando as pernas livres para correr ao lado de uma corça ou de um cão. Uma vezes aparecendo portando um arco de flechas, e outras um archote, cingindo-lhe a cabeça como diadema um crescente lunar, associando-a à Lua tal qual Ártemis. Tem ainda o nome de Cynthia, por ter nascido no Monte Cinto, na Grécia, que como Mons Lunae ou Monte da Lua associa-se igualmente ao topónimo Sintra, que desde a mais alta Antiguidade é um Monte Sagrado em Portugal. Tal como acontecia com o seu irmão Apolo, a deusa Ártemis possuía inúmeros atributos. Às vezes manifestava qualidades benéficas, ditigia o coro das Musas, proferia oráculos, dava bons conselhos, curava as doenças ou as feridas, protegia as águas termais e as viagens, em terra ou no mar, e ainda velava pelos animais domésticos e pelos campos. Por outro lado, quando afrontada, era a deusa da caça aos homens ignaros e neste aspecto era cruel, amedrontando as suas presas. Divertia-se oprimindo os mortais que a desafiavam, libertando sobre eles epidemias ou provocando mortes violentas, recebendo daí o cognome de Apolussa, a “Destruidora”. Mas tanto para os gregos como para os romanos Ártemis ou Diana, “a que evoca a luz” (de Apolo, o Sol), era sobretudo a Grande Deusa-Mãe, a Deusa da Natureza, e pela sua importância destacada foi-lhe dedicado o segundo dia da semana ou segunda-feira, dia que os antigos consagravam à Lua (lunedi, em italiano, lunes, em espanhol,monday, em inglês, e montag, em alemão), afinal, o planeta “feminino” regulador das gestações da Natureza, tal qual Ártemis é representada na mitologia clássica.
NÁPOLES SUBTERRÂNEA Nápoles subterrânea constitui o mundo secreto e misterioso de um vasto complexo de túneis e catacumbas escavados no subsolo napolitano acessíveis ao público geral, sendo uma verdadeira caverna de Ali-Baba repleta de motivos fascinantes onde subjazem restos da arquitectura clássica, grega e romana, cujas primeiras escavações datam de há 5.000 anos atrás. No século III a. C. os gregos serviram-se deste complexo subterrâneo para extraírem blocos da chamada pedra amarela considerada excelente para as construções dos edifícios da sua primitiva Neapolis, ao mesmo tempo que escavaram uma série de hipogeos destinados a sepultamentos e ritos funerários; os romanos fizeram a mesma coisa posteriormente, deixando obras de vulto que hoje podem-se admirar neste muito pouco conhecido mundo subterrâneo, destacando-se as estruturas de um templo do século IV a. C. conhecido como Macellum, mas que o folclore napolitano junto às crenças sobrenaturais supersticiosas deu uma outra forma absolutamente diversa: 5
_________________________________________________________ Lusophia | 2013 omunaciello, espécie de demónio maligno que aparece como um menino disforme e se esconde no subsolo de Nápoles, onde tem a forma de um belo rapaz. Nápoles subterrânea é propriamente o nome da associação formada pelo espeleólogo Vicenzo Albertini, inspirada no nome do livro homónimo escrito em 1889 pelo engenheiro Guglielmo Melisurgo, e a qual cuida da parte do aqueduto subterrâneo e da cisterna acessíveis desde a Piazza San Gaetano e da parte visitável do Teatro dell´Anticaglia. Em 1987 Albertini descobriu e revelou um hipogeo grego a 40 metros de profundidade, sob o cemitério de Santa Maria del Pianto, e encontrou vestígios idênticos aos que se acharam nos restos das paredes da Piazza Bellini. Também identificou uma outra caverna, chamada grotta degli sportiglioni ou “dos morcegos”, que foi utilizada como ossário por ocasião da infaustíssima peste de 1656. Existem vários acessos à Nápoles subterrânea e localizam-se todos na chamada zona histórica da cidade. Os principais são os da Piazza San Gaetano e da Via Sant´Anna di Palazzo. Perto da Basílica de San Paolo Maggiore, na Piazza San Gaetano, após descer 140 degraus e 40 metros abaixo da superfície chega-se a uma cave que serviu de abrigo durante a última guerra mundial, onde estão reunidos os vestígios humanos desse drama, e mais adiante o visitante irá deparar-se maravilhado com os sinais da Antiguidade Romana: trata-se do Pontirossi, o aqueduto mandado construir pelo imperador Augusto e ao longo de 170 quilómetros levava a água da nascente do Rio Serino a toda a cidade através de uma rede de cisternas e canais de elaborada engenharia e perfeição arquitectónica. O percurso da visita termina no teatro romano de Neapolis, após atravessar um portal anexo a uma antiga habitação civil privada. Um outro acesso é feito pela Via Sant´Anna di Palazzo, no coração do Quartieri Spagnoli. Após descer a uma profundidade de cerca de 40 metros chega-se a um refúgio com cerca de 3.200 metros quadrados, utilizado sobretudo durante a 2.ª Guerra Mundial com capacidade para albergar mais de 4.000 pessoas. Esse período triste da vida napolitana acaba vendo minorado por desenhos e graffitis da época representando os Chefes de Estado do Eixo Berlim-Roma-Tóquio acompanhados de senhoras, soldados, 6
Nápoles, entre o Mistério e o Secreto_________________________________________ aviões, campos de futebol, etc., bem como histórias e anedotas de pessoas que aí viveram realmente (os “cônjuges” no abrigo, a senhora Carmela Montagna, etc.), tudo isso contribuindo para que a visita seja colorida e pitoresca.
A PEDRA SANTA DE SANTA MARIA MAGGIORE A igreja de Santa Maria Maior da Pedra Santa (Santa Maria Maggiore alla Pietrasanta) encontra-se na Via do Tribunal e é o primeiro centro devocional de Nápoles. A sua origem recua ao período romano e já na época paleocristã, século VI, o edifício sobrepôs-se definitivamente ao antigo templo de Diana, substituindo o culto desta deusa principal do culto matriártico latino pelo primordial de Santa Maria Maior cujo corpo místico é a própria Igreja. Sobrevivem alguns restos do primitivo templo de Diana nesta igreja, tanto no exterior como na cripta, e ainda o resto do pavimento romano em mosaicos coloridos. O confronto cultual pagão e cristão deu origem a uma lenda significativa que transbordou para um costume popular que durou séculos: como o culto de Diana estava fortemente enraizado e restrito apenas às mulheres, os homens cristãos incapazes de suplantá-las espalharam a notícia que que elas dedicavam-se à feitiçaria e tinham poder para invocar e fazer aparecer o próprio Diabo. A mentira pegou e desde então todas as noites o Diabo começou a aparecer disfarçado de porco (sinónimo depreciativo de pagão, profano e impuro), enorme e com rugidos diabólicos, assustando os habitantes desta praça e das ruas circunvizinhas. A lenda foi eficaz para permitir ao bispo Pompónio, no ano 533, a construção da primitiva basílica no lugar do templo de Diana, sob a alegação da Virgem Maria ter aparecido ao prelado durante o sono e lhe ordenado que construísse uma igreja dedicada a Ela. Só dessa forma se podia derrotar o porco diabólico. Assim se fez, mas ficou a tradição popular de todos os anos o povo oferecer ao bispo um porco vivo pela janela da igreja. Este costume durou vários séculos até ser definitivamente abandonado por se considerar impróprio. Para reforçar ainda mais o domínio cristão sobre o primitivo pagão, corre a outra lenda de que na Praça de Santa Maria Maior da Pedra Santa, senão mesmo sob o chão da igreja, está sepultado o quinto papa Evaristo (ano 50-105), considerado santo pela Igreja Católica. O nome pedra santa provém da tradição de ter havido neste templo uma pedra com uma cruz gravada que tinha o poder de dar a indulgência dos pecados a quem a beijava. Para os antigos a pedra sagrada era o sinal de uma teofania, pois através dela manifestava-se a Divindade que tomava a forma mineral e era assim pedra santa, possuída de todas as propriedades divinas que santificavam com a sua presença toda a 7
_________________________________________________________ Lusophia | 2013 comunidade dos fiéis. Mas não se pode dizer que os homens adoraram as pedras enquanto pedras, pois a primitiva devoção referia-se sempre a um princípio superior que a pedra escolhida incorporava e exprimia. Nisto, passava a ser objecto de respeitosa veneração por representar o Princípio Superior ou Divino assim manifestado. O seu valor sagrado devia-se exclusivamente a esse Princípio e nunca à sua própria existência. A litolatria baseia-se nisso mesmo, adorando-se as pedras santas ou sagradas e fazendo-se uso delas como instrumentos de acção espiritual, como centros condensadores de energia destinados à defesa psiscossomática do fiel ou à psíquica dos seus próprios mortos. As pedras santas eram utilizadas como instrumentos, nisto desempenhando uma acção mais mágica que religiosa e com essas virtudes sagradas mais que adoradas elas eram utilizadas, tal qual aconteceu com a Pedra Santa de Santa Maria Maior e com a própria Igreja que é a encarnação da Mãe de Deus, ou seja, a sua utilidade prática como meio para alcançar a salvação.
O TÚMULO DE VIRGILIO A memória do poeta imortal Virgílio tem destacada evocação napolitana no Parque Virgiliano em Piedigrotta, “ao pé de gruta”, nome que provém da imponente galeria subterrânea romana que liga Mergellina com a outra de Fuorigrotta, “gruta de fora”. Este Parque Virgiliano fora propriedade privada mas que em 1930, por ocasião do aniversário dos dois milénios de Virgílio, o Estado adquiriu logo após a “unificação da Itália”, sendo inaugurado pelo rei Victor Emmanuel III tornando-se monumento nacional em 1939, tendo sido o roteiro actual deste parque organizado pelo estudioso latinista e arqueólogo Enrico Cocchia. Restaurado e reaberto ao público em 1976, o ingresso no seu museu é gratuito. Tendo sido as ossadas de Virgílio descobertas e identificadas como as dele junto à entrada da Cripta Napolitana (também chamada Gruta de Pozzuoli ou Posillipo), no topo do parque e assinalada por um verso de Giacomo Leopardi dedicada ao poeta daEneida, Virgílio, este lugar praticamente desde a morte do poeta é considerado sagrado pelos seus admiradores e seguidores. Cem anos depois do seu falecimento Plínio, o Jovem, e Silio Itálico, escritores latinos, descrevem este sepulcro virgiliano como “adire ut templum”, celebrando a 15 de Outubro o aniversário do nascimento do poeta. Quase sem interrupção, esta cripta tumular foi descrita nos séculos seguintes por escritores, cronistas e viajantes, italianos e estrangeiros, como Petrarca, Boccaccio e Cino da Pistoia que são fontes de informações valiosas, todos baseados no que deixou escrito Elio Donato (século IV d.C.), biógrafo de Virgílio. Desde o século XII que a tradição popular, juntando a evidência literária às lendas, e sobretudo desde o século 8
Nápoles, entre o Mistério e o Secreto_________________________________________ XIV (1343) quando foi escrita a obra anónima napolitana Crónica de Partenope, que Virgílio tornou-se o protector divino de Nápoles e o criador mágico desta cripta onde terá vivido. Diz-se que dentro dela apareciam-lhe as musas e outras deusas que o inspiravam à criação das suas obras poéticas como páginas divinas resgatadas ao mundo dos deuses. Possivelmente manteria ligação com algum colégio de sibilas ou mulheres profetisas, o que não era anormal nessa época, as quais entre perfumes e vapores subindo do braseiro aceso em êxtase revelavam-lhe os mistérios sagrados que ele transpunha para as páginas da sua poética. Como memória desse facto está no interior na cripta um braseiro ou trípode que os admiradores do poeta aí colocaram e nele deixam, como a maioria dos napolitanos, os seus pedidos escritos à intercessão superior do imortal Virgílio. A cripta possui 705 metros de comprimento, 4,50 metros de largura original e 5 metros de altura, sendo iluminada e ventilada por duas brechas inclinadas vendo-se os dez nichos destinados às urnas, o que identifica este monumento como um mausoléu funerário.
Públio Virgílio Marão (em latim, Publius Vergilius Maro), nasceu em Andes em 15 de Outubro de 70 a. C. e faleceu em Brindisi, em 21 de Setembro de 19 a. C. Este poeta romano clássico ficou conhecido pelas suas três obras principais: as Éclogas (ouBucólicas), as Geórgicas e a Eneida, apesar de vários poemas menores também lhe serem atribuídos. Filho de um agricultor, Virgílio foi considerado o 9
_________________________________________________________ Lusophia | 2013 maior poeta romano e a sua Eneida o maior épico de Roma. Ainda em vida foi reconhecido como o expoente máximo da literatura latina. Mas seria através de Dante Alighieri (1.6.1265 – 13.9.1321), il sommo poeta, “o sumo poeta”, da Divina Comédia, que Virgílio ao tornar-se mestre, inspirador e guia do próprio Dante seria elevado à condição de Ser Imortal, de Mestre no sentido mais elevado e completo da expressão. Tal como a Divina Comédia reparte-se em três partes – Inferno, Purgatório e Paraíso – para ficar sob a evocação da Santíssima Trindade, assim também são três os principais personagens dessa obra: Dante, personificando o discípulo, Beatriz, personificando a Fé, e finalmente Virgílio, personificação da Razão, da Sabedoria, o próprio Mestre.
O CRISTO VELADO DE SAN SEVERO Provoca arrepio de sentida devoção a escultura do Cristo velado, em dormição ou morto, na capela Sansevero ou de Santa Maria della Pietà, a Piatatella, em Napóles. A figura parece tão real que à primeira vista julga-se ser um corpo de carne e osso prestes a ressuscitar para vir dar a bênção da salvação aos crentes que têm em Cristo Ressuscitado a sua derradeira esperança de vida eterna. Mas não é de carne e osso este Cristo velado: é uma escultura feita num único bloco de mármore considerada obra-prima da escultura europeia do século XVIII e uma das maiores obras-primas da escultura de todos os tempos, realizada pelo escultor napolitano Guiseppe Sanmartino (1720-1793). Ela representa Cristo morto deitado sobre um colchão rudimentar apoiado por duas almofadas e velado por um sudário finíssimo, disposto de maneira tão rente ao corpo que não parece um trabalho feito em mármore. A criação desta obra artística fora encomendada a Giuseppe Sanmartino pelo príncipe de Sansevero, Raimondo di Sangro (30.1.1710 – 22.3.1771), que era um assumido praticante de Alquimia. Aqui começa a lenda relacionada com o véu ou sudário de Cristo em dormição. Diz-se que Raimondo di Sangro sabia petrificar um pano real e que teria ensinado ao escultor a calcificação do tecido em cristais de mármore. Esse presssuposto segredo entusiasmou os artistas da época, dentre eles António Canova que tentou adquiri-lo, dizendo estar disposto a dar dez anos da sua vida em troca do segredo e ser ele o autor de tão incomum obra-prima. De facto, a imagem é tão autêntica que arrasta o espectador ao sentimento misto de dor e espectativa ante a delicadeza com que Cristo está enrolado, em guisa de dissipar o sofrimento e transmitir de que Ele está só dormindo e que o sudário irá escapar por um súbito sopro de vento saindo das narinas dando a 10
Nápoles, entre o Mistério e o Secreto_________________________________________ primeira respiração. É assim que aqui o mármore torna-se quente, porque simbolicamente envolve um corpo vivo, imortal, eterno, prestes a ressuscitar. A lenda da petrificação do pano terá sobretudo a ver com o significado mais profundo não do sudário mas da sudação relacionada com o aflorar do calor do Fogo Místico que alenta interiormente o homem. O banho a vapor faz parte das técnicas elementares visando aumentar esse calor místico, pelo que a sudação por vezes tem um valor criativo por excelência. Em numerosas tradições religiosas e mitológicas, o primeiro homem foi criado por Deus devido a uma grande sudação. Esta ideia de criação divina acabou por vulgarizar-se no banho a vapor, com significado idêntico, entre os povos do norte asiático e europeu.
O domínio do fogo, a insensibilidade ao calor, e daí o calor místico que torna suportáveis o frio extremo e a temperatura da brasa, é uma virtude mágico-mística que acompanhada de outras qualidades não menos prodigiosas (ascensão, levitação, etc.), traduz em termos sensíveis o facto de que o homem místico já participa da condição do mundo espíritual e dos seus habitantes incorpóreos. Talvez por isso nas antigas civilizações clássicas da Antiguidade o banho a vapor, a sudação, tinha um sentido sacrificial: o crente oferecia o seu suor ao Supremo Deus Solar, gesto esse que encerrava um valor ao mesmo tempo 11
_________________________________________________________ Lusophia | 2013 purificador e propiciatório, com isto podendo corporalmente penetrar com toda a consciência imediata no mundo invisível e participar dele, saindo da «dormição» dos sentidos físicos para o definitivo despertar espiritual, seja como um Cristo ou outro Ser Iluminado, para todo o efeito, superado definitivamente os grilhões da carne e a lei da morte. Nisso entra outro factor simbólico presente nesta estátua jacente que paracer respirar tenuamente: o sopro. Este tem o sentido universal de princípio de Vida, sendo o próprio Espírito de Deus, Ruah ou d´Er-Ruh, em hebraico e árabe, que como Sopro dá o Alento Vital à sua Criação. Aqui, o Sopro transforma-se em Palavra Viva na alma do crente na vida eterna garantida pela Ressurreição final do Senhor, por ora dormindo jacente no mármore de Sansevero como se fosse estátua viva mas prestes a despertar.
A MÁQUINA ANATÓMICA DE SANGRO Na igreja de San Domenico Maggiore está a capela da família San Severo e por debaixo dela a cripta onde o visitante desprevenido poderá apanhar um susto ao deparar-se com duas figuras tétricas: os esqueletos humanos de um homem e uma mulher sem músculos, porém com o emaranhado de veias e artérias intacto, e também algumas vísceras, mas faltando o terceiro corpo de um bebé que entretanto desapareceu. Tratam-se das máquinas anatómicas de Raimondo de Sangro. Com efeito e para estudos anatómicos que traziam interessado o príncipe de San Severo, Raimondo de Sangro, ele encomendou cerca de 1763 ao médico Giuseppe Salerno, de Palermo, a criação dessas chamadas máquinas anatómicas. Com a fama de ocultista e alquimista que tinha, «seguidor das ciências do Diabo» como acreditava o povo simples, tanto bastou para em breve nascer a lenda negra em volta dessas figuras defuntas descarnadas encomendadas por Raimondo de Sangro. A lenda sinistra ficou até hoje e toda a Nápoles arrepia-se quando a conta em voz baixa, não vá o «príncipe sinistro» despertar do seu sono infernal… A lenda terrífica conta que os três defuntos pertenciam à mesma família ao serviço de Raimondo de Sangro como seus criados que ele raptou para esse fim diabólico, e que a mulher (que tem um braço levantado) ainda estava viva quando lhe inocularam a solução letal de mercúrio que lhe petrificou as veias e órgãos vitais, e num último esforço ao tentar livrar-se das ataduras ficou com um braço no ar, podendo-se ver nos globos oculares a sua imortalizada expressão de terror. Outra lenda sinistra chega a afirmar que o cadáver do homem é o próprio príncipe de San Severo. 12
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Aparte as lendas e acusações tenebrosas infundamentadas, os corpos já haviam sido recolhidos cadáveres no depósito legal como resultado de um contrato que ainda se conserva no Arquivo Notarial de Nápoles, e foram destinados a estudos e experiências de medicina onde o príncipe de Sangro contou com o precioso auxílio do médico Giuseppe Salerno, fornecendo a este os elementos químicos necessários para conseguir o resultado final hoje à vista de todos. Não se tratou de uma experiência cruel mas de uma grande obra artística de primeira ordem feita em corpos já defuntos com o propósito de fazer evoluir o conhecimento da ciência médica. As figuras mostram magistrais reconstruções do sistema circulatório humano à base de arames cobertos de cera montados sobre os esqueletos, provavelmente com a ajuda de líquidos e substâncias que Raimondo de Sangro tinha em seu laboratório, mormente a injecção de uma substância à base de mercúrio para assim provocar uma espécie de «metalização» dos vasos sanguíneos. Utilizou-se a cera para o molde das veias depois coradas com um pincel. Os corantes utilizados foram o carbono negro, roxo, azurita e cinábrio. Vazou-se de um tubo a cera líquida sobre os fios de arame, sendo que o coração, a bexiga e os testículos das máquinas anatómicas também foram reproduzidas em cera, não se aplicando a qualquer outra parte mais nenhuma substância metálica. Esses corpos estavam inicialmente no palácio do príncipe de San Severo, na sua câmara particular destinada a experiências químicas e outras e que tinha o significativo nome Fénix, que indubitavelmente conduz ao mito filosófico da regeneração dos corpos, ou seja, quando estes depois de passarem pelo estado de petrufacção são preparados para receberem as sementes vitais da regeneração. Em Alquimia chama-se a esse processo de dealbata e tem por finalidade revificar dos corpos mortos, tal qual a fénix ressuscita 13
_________________________________________________________ Lusophia | 2013 das cinzas, mas aqui com o sentido de aproveitar os corpos defuntos para fins de maior conhecimento médico-anatómico a favor da saúde geral no combate a doenças desconhecidas afligindo os corpos vivos, o que também não deixa de ser uma ressurreição.
PETRIFICAÇÕES ALQUIMICAS No Museu Anatómico de Nápoles podem-se ver trinta “petrificações” humanas, estranhas e perturbadoras, da autoria de Efisio Marini (Cagliari, 1885 – Nápoles, 11.9.1900), conhecido como “o Petrificador”, pela mérito das suas actividades no campo da conservação dos cadáveres e partes anatómicas. Este reputado cientista italiano além de estudioso da Medicina e da História Natural, foi igualmente um praticante de Alquimia que de certo modo deu continuidade às “petrificações” humanas iniciadas pelo seu antepassado na Arte, Raimondo de Sangro. Ao estudar os fósseis antigos, humanos e animais, Efisio Marini aperfeiçoou e aplicou a técnica da petrificação desenvolvendo-a a um ponto nunca antes realizado. Conseguiu manter muitos corpos humanos com a pele macia e elástica iguais a quando estavam vivos, mantendo a flexibilidade e a cor natural dos membros por uma mistura especial de sais metálicos que inventou. O seu trabalho fascina por se ver nele a necessidade estética de manter a beleza original perfeitamente conservada e a frescura da tez. Isso observa-se, por exemplo, na petrificação de uma bela mão de uma jovem mulher, deixando surpreso quem a vê julgando ser um membro fresco de um corpo ainda vivo. Os métodos alquímicos de Marini para a petrificação terão sido os mesmos do seu antecessor Raimondo de Sangro, processo esse chamado dealbata e que tinha por fim manter a incorrupção dos corpos mortos, em guisa de perpetuar o dealbar da vida na forma mantida incorrupta artificialmente. Os alqumistas dizem que o processo da petrificação é conseguido quando o Fogo e a Água são neutralizados, isto é, quando o Fogo do Espírito e a Água da Vida já não existem no corpo falecido, e então, por meio do Sal Petrificado, isto é, dos “sais metálicos” à base de Mercúrio petrificam a forma morta perpetuando a sua aparência de outrora. O método anatómico assim aplicado é semelhante ao mesmo utilizado para densificar ou petrificar a chamada Pedra dos Filósofos.
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Aparte a aplicação química e laboratorial da Alquimia aplicada à Medicina e a Anatomia, no mundo dos símbolos a petrificação possui significado diverso. Por exemplo, na mitologia grega os olhos da medusa eram tão abrasadores que transformavam em pedra qualquer pessoa que os vissse. Para matar a medusa, Perseu protegeu-se com um escudo polido como um espelho, escapando assim da petrificação e tendo sido a medusa quem morreu decapitada enquanto a sua própria imagem a imobilizava. Como vingança, a deusa Atena colocou a cabeça da medusa sobre o seu escudo e bastava a visão dela para imobilizar os inimigos transformando-os em pedras. Na Bíblia (Génesis, 19:26), a mulher de Lot foi transformada em estátua de sal por ter olhado para trás e visto a chuva de enxofre e fogo que caía sobre Sodoma e Gomorra. Ao contrário da petrificação, ainda na mitologia grega, as pedras transformaram-se em homens quando Deucalião e Pirra, depois do Dilúvio Universal e por ordem de Zeus, jogaram pedras por sobre os seus ombros faendo nascer assim, Deucalião, os homens, e 15
_________________________________________________________ Lusophia | 2013 Pirra, as mulheres. Os dois mitos são correlatos: eles revelam uma paragem e uma partida na evolução biológica e espiritual. A noofera e a bioesfera retrocedem no sentido da litosfera, mas o movimento progressivo pode iniciar-se. Quer dizer, trata-se da passagem sucessiva dos seres dos Reinos naturais de uns para outros, mas que por alguma espécie de apego ao passado, podem retroceder a uma evolução já realizada, contudo mantendo-se a possibilidade de recuperarem a sua condição ou estado já alcançado. Por isso, a petrificação representa o castigo infligido ao olhar indevido. Ela resultaria ou de uma ligação que permanece depois da falta cometida – o olhar que se fixa – ou de um sentimento de culpa excessivo – o olhar que paralisa; ou ainda do orgulho e da cobiça – o olhar possessivo. A petrificação simboliza o castigo do descometimento humano.
CAPELA DE SAN SEVERO E O HERMETISMO A capela de San Severo instalada ao norte no interior da igreja de San Domenico Maggiore, remonta a 1590 quando o príncipe Giovani Francesco Paolo di Sangro a mandou construir, e posteriormente o seu descendente Raimondo di Sangro, em 1744, ampliou-a e embelezou-a com motivos barrocos tardios e vasta estatuária cujo conjunto artístico é todo ele consagrado à Mãe de Deus, Nossa Senhora da Piedade (Santa Maria della Pietá dei Sangro ou Pietatella). A par da ortodoxia religiosa transparece aqui e ali uma série de símbolos da heterodoxia hermética que caracterizou o pensamento esotérico de Raimondo de Sangro, um dos fundadadores da Maçonaria em Nápoles e um declarado praticante de Alquimia. De maneira que esta capela constitui verdadeiramente o testamento espiritual deste príncipe hermético, Raimondo. Na capela, tem-se à esquerda a estátua do Decoro, representada por um homem jovem com os ombros cingidos por uma pele de leão e a mão apoiada numa coluna onde está escrito Sic floret Decoro decus, “Como o Decoro perfuma a beleza”. Simboliza a Força, o Poder Mental prefigurado por esta alegoria representativa de Hércules que está defronte para uma outra estátua assinalando o Amor Divino, retratado num jovem portando um coração flamejante, posto que só com o Poder da Mente e do Coração se poderá alcançar a Núpcia Hermética com a Divindade aqui representada na piedosa Mãe Divina, a Padroeira dos Alquimistas. Mais adiante, aparece a escultura da Liberalidade, onde uma mulher com uma mão segura a cornucópia da abundância e com a outra mostra uma moeda e um compasso. A moedaou moneda representa a Mónada, o Espírito no Homem, e juntando-se-lhe o compasso assiná-la o círculo de acção da Vontade Divina onde liberalmente mas respeitando os espaços alheios infunde a sua presença. 16
Nápoles, entre o Mistério e o Secreto_________________________________________ Defronte para esta estátua está à direita a daEducação, representando uma mulher educando uma criança, neste caso, transmitindo ao infante ou neófito os princípios elementares da Iniciação Hermética de respeito pela liberdade de pensar e sentir do próximo, com decoro e amor ao poder da Sabedoria Divina representada na Virgem Piedosa, princípios reforçados pela presença das estátuas seguintes da Sinceridade, da Doçura, do Zelo (espiritual) e do Domínio(de si mesmo), pois quem não possui os mesmos inevitavelmente fracassará na Iniciação Verdadeira que o simbolismo estatuário evoca.
A senhora da Sinceridade tem na mão direita um caduceu e na esquerda um coração. Representa a introspecção espiritual, a demanda da Iluminação Hermética pelo Iniciado procurando unir-se ao Deus Interior, como o maior acto de sinceridade que pode manifestar. A Doçura, com um elmo na cabeça e um jogo na mão, assinala que suave mas firmemente, como um guerreiro sagrado, deve-se ir transformando as poucos a vidaenergia em vida-consciência no jogo real da vida. O Zelo (espiritual) porta um tocha evocando os conhecimentos adquiridos e o dever zelá-los, não misturando-os com elementos estranhos mas respeitando o livre-pensamento conformado ao livre-arbítrio geral. O Domínio (de si mesmo, das suas tendências inferiores) é a maior e mais sublime das batalhas que o homem pode travar, e por isso esta estátua é representada por um guerreiro tendo um leão acorrentado aos pés e um tocha invertida, expressiva do Amor
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_________________________________________________________ Lusophia | 2013 que infunde na fera amansando-a. Expressa o triunfo do Amor e da Sabedoria sobre a força bruta, a derradeira transformação do profano em Iniciado. O abandono da vida ordinária pela espiritual está representado na estátua doDesengano, expressando um homem libertando-se das malhas de uma rede com a ajuda de um génio alado, a sua própria Consciência Imortal ou Espírito Divino representado mais abaixo, num baixo-relevo, por Cristo dando a visão aos cegos, ou seja, transmitindo a Luz da Verdade aos que caminhavam nas trevas da ignorância que é a maior das cegueiras. Por fim, a estátua da Humildade concentra toda a Sabedoria Iniciática cuja Luz o neófito procura desvelar para ele próprio ser um Iluminado. Esta é, afinal, a derradeira mensagem oculta nesta capela de San Severo.
NÁPOLES E O CULTO DO SANGUE De todas as manifestações religiosas de carácter insólito e miraculoso existentes em Nápoles certamente a maior delas é a do culto do sangue dos santos, particularmente o de San Gennaro (São Januário) padroeiro da cidade. O sangue que se liquefaz em Nápoles constitui um discurso mais complexo do que vulgarmente se crê sobre o fenómeno anual, em 19 de Setembro, da liquefacção do sangue de San Gennaro contido num relicário na sua capela na catedral de Nápoles, pois existem notícias documentadas de fenómenos idênticos noutros lugares religiosos nesta cidade. Comece-se por San Gennaro (Benevento, 272 – Pozzuoli, 305), bispo mártir às mãos do imperador romano Diocleciano no século III mas cujo significado latino do seu nome familiar, Ianuarius, apesar do seu próprio ser Prócolo, é nada católico por ser o de “consagrado ao deus Janus”, que era o porteiro do Paraíso entre os antigos romanos que deram o seu nome ao primeiro mês do ano, Janeiro. “Porteiro do Paraíso” também é San Gennaro como padroeiro de Nápoles expressiva do mesmo Éden pagão e cristão. A primeira liquefacção ou passagem do estado gasoso ao líquido do seu sangue historicamente documentada data de 17 de Agosto de 1389, quando um anónimo doou a relíquia à Igreja. Desde então, o milagre da liquefacção do sangue repete-se duas vezes por ano: no sábado precedendo o primeiro domingo de Maio (data da trasladação do corpo deste santo de Pozzuoli para Nápoles), e em 19 de Setembro (aniversário do martírio). Mas este evento miraculoso não acontece espontaneamente: depois de uma procissão solene com a relíquia iniciam-se orações ferverosas no catedral napolitana, e poderão passar muitas horas e até dias antes do fenómeno acontecer. Nesse período de espera as orações assumem acentos de ansiedade e impaciência, para depois, 18
Nápoles, entre o Mistério e o Secreto_________________________________________ acontecendo finalmente o milagre do sangue liquifactio, transformarem-se em verdadeiras exortações apologéticas de San Gennaroassim provando que continua a ser o porteiro, o guardião celeste de Nápoles.
Há notícias de também outros lugares napolitanos estarem relacionados com o fenómeno da liquefacção do sangue. Na Piazza del Gesu, mais precisamente no famoso Mosteiro das Clarissas, também conhecido como Mosteiro de Santa Chiara, acontece a liquefacção do protomartir San Stefano em 3 de Agosto e 25 de Dezembro. A relíquia foi trazida para Nápoles de San Gaudioso, descoberta por acaso numa cripta secreta atrás do altar. Para alívio das religiosas deste mosteiro, o fenómeno não se repete senão de anos em anos, pois parece que a dissolução do sangue de San Stefano coincide sempre com a morte da madre superiora. 19
_________________________________________________________ Lusophia | 2013 Há a liquefacção do sangue de S. Alfonso dei Liguori, o conhecido autor da canção natalícia “Quando nasce o Menino”, em 2 de Agosto na igreja de Santa Maria della Redenzione dei Cattivi. Na igreja de San Gregorio Armeno, que a arqueologia provou estar colocada sobre o antigo templo de Ceres e do colégio anexo das sacerdotisas romanas desse culto, e que os velhos napolitanos conhecem como San Liguoro, tem lugar a liquefacção do sangue das relíquias de São João, de São Lourenço e de Santa Patrícia (Ceres cristianizada), dizendo-se desta que o sangue costuma escorrer do seu túmulo nas manhãs de terças-feiras. Fenómeno idêntico acontece na igreja de Gesu Vechio, com São Pantaleão e São Luís Gonzaga, no dia 21 de Julho. A liquefacção do sangue é um sinal positivo para Nápoles, pois tal como ele é o líquido da vida, esta ressuscita pródiga e miraculosa pelo milagre dos santos protectores da cidade, não importando que tenham falecido há séculos e até milénios, assim dando a prova visível e tangível da assistência celeste aos fiéis napolitanos. Estes acreditam que quando o sangue dos santos não se liquefaz ocorre sempre uma catástrofe, como aconteceu no caso das várias epidemias, das várias perigosas erupções do Vesúvio e no começo da 2.ª Guerra Mundial. Por isso oram e imploram que o Santo Sangue os proteja e à cidade sempre.
O ARCO DAS ALMAS DO PURGATÓRIO A igreja de Santa Maria das Almas do Purgatório e do Arco, ou simplesmente do Purgatório e do Arco, é um edifício barroco situado na Via do Tribunal na zona antiga de Nápoles. Foi construída em 1616 sob projecto de Giovanni Cola de Franco e Giovan Giacomo Di Conforto, arquitectos napolitanos, com o objectivo de fundar um espaço sacro destinado a enterramentos das várias famílias nobres napolitanas. O topónimo Arco provém da presença do antigo decumano real napolitano chamado dearcu cabredato assinalado num torreão romano que existiu neste local aberto nos quatro lados por quatro arcos, tendo servido para localizar um dos pontos centrais do mapa da cidade. Esse torreão foi mandado demolir por D. Pedro Álvarez de Toledo y Zúñiga (Salamanca, 13.7.1484 – Florença, 22.2.1553) no século XVI, para ampliar a estrada e melhorar o acesso à nova sede do tribunal, em Castel Capuano, instituída pelo mesmo senhor. Existem documentos que o dão como o efectivo autor da demolição. Esse decumano real ou decumanus maximus, em latim, tem a sua origem nos augures romanos por cujos auspícios se dirigiam os respectivos arquitectos encarregados de gizar o plano de fundação de uma cidade. Indica a linha principal orientada de Este para Oeste, que se cruzava ao centro com o cardo real ou cardus maximus orientado de Norte para 20
Nápoles, entre o Mistério e o Secreto_________________________________________ Sul. É exactamente neste ponto de tensão telúrica marcado pela presença do decumano que a tradição religiosa popular veio a desenvolver a crença noArco de Passagem das Almas do Purgatório do mundo dos vivos ao dos imortais. Esta crença enraizou-se e a presença necrológica é aqui celebrada com intensidade ímpar onde até primitivos marcos miliários romanos que sobreviveram aos tempos chegam a servir de pedestais para caveiras e tíbias evocativas da morte e do além-vida. O sentido funerário torna-se ainda mais intenso devido à finalidade original desta igreja de Santa Maria das Almas do Purgatório: o de ser chão santo ou cemiterial, confirmado pelo acesso ao hipogeo subterrâneo do século XVIII, com a mesma dimensão da igreja, repleta de caveiras e lápides funerárias onde se destaca o túmulo de Giulio Mastrilli, e ainda uma caveira evocativa da memória eterna da alma de Lúcia, cidadã napolitana que morreu num naufrágio com o marido. Esta figura é motivo de grando devoção popular que lhe roga graças e intercessões oferecendo-lhe flores e fotos de familiares como exvotos. Muito possivelmente essa Lúcia teria pertencido à Congregação do Arco do Purgatório, fundada na mesma época desta igreja e que era uma organização humanitária católica que prestava assistência aos pobres e aos doentes. Quis a religiosidade popular napolitana que orando com fervor a Santa Maria implorando a Sua misericórdia compassiva como Mãe Soberana dos vivos e dos mortos, as almas dos falecidos em pecado veniais à espera do julgamento final no umbral entre a Terra e o Céu, pudessem transpor esse Arco e deixar de estar presas num lugar indefinido de purgatório cheio de tormentos destinados a purgar-lhes as consciências pesadas. Há mesmo quem veja em visão ou sonho a Almas passarem além do Arco sob o manto protector de Santa Maria. A decoração desta igreja é igualmente evocativa do Arco do Purgatório e da intercessão divina a favor das almas que aí padecem. A fachada do edifício está decorada com crânios e ossos nos frisos e nichos laterais, e sob a Madonna vê-se num baixo-relevo as Almas do Purgatório, obra do escultor Giuseppe de Marino no século XVIII. No interior de uma uma só nave, com pequeno transepto e quatro capelas laterais, destaca-se 21
_________________________________________________________ Lusophia | 2013 sobre o altar-mor o retábulo de Nossa Senhora das Almas do Purgatório, do pintor Massimo Stanzione que o realizou entre 1638 e 1642. Ao lado da mesma tela, está um quadro de mármore de Lazzari decorado com caveiras aladas, simbolizando a evolução das Almas ao Céu transpondo finalmente o Arco do Purgatório.
A IGREJA PERDIDA DOS SANTOS COSME E DAMIÃO Quem chega à Piazetta Banchi Nuovi, no centro histórico de Nápoles, e depara-se com o frontíspicio de um edifício arruinado mas que parece muito antigo e sendo possivelmente uma igreja, pergunta sempre que edificação é aquela que os roteiros turísticos não indicam, e geralmente não obtêm resposta. Trata-se da igreja de São Cosme e Damião (chiesa dei Santi Cosma e Damiano). Foi fundada em 1616 e ampliada no decurso desse século. Posteriormente, recebeu restauros profundos sendo ainda mais ampliada a sua estrutura pela intervenção do engenheiro e arquitecto Luigi Giura (Maschito, 1795 – Nápoles, 1865). A fachada é ainda a do edifício original do século XVII, vendo-se sobre o pórtico de entrada uma cabeça de anjo e por cima a janela polilobada em estuque tendo lateralmente quatro pilastras levantada sobre a base estando permeio a três arcos com aberturas por onde penetrava a luz. No topo, sobre um pedestal domina uma cruz metálica, assinalando o imóvel como casa de religião. No interior desta igreja sobrevive um altar do século XVII, sobre o qual está uma tela do pintor quinhentista Pietro del Donzello (Florença, 1452 – Florença, 24.2.1509) e uma outra da escola de pintura de Luca Giordano (Nápoles, 18.10.1634 – Nápoles, 3.1.1705). Mas está tudo num estado lastimável de abandono e degradação, desde que o culto nesta igreja cessou nos fins do século XIX, acabando esquecida entregue à ruína deplorável. Por ocasião do jubileu da Ordem dos Engenheiros de Nápoles, em Dezembro de 2011, anunciou-se a promoção da recuperação e restauração deste monumento esquecido. Até hoje aguardam-se boas notícias.
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Nápoles, entre o Mistério e o Secreto_________________________________________ Com respeito aos Santos Cosme e Damião, segundo a sua biografia eram gémeos e terão sido martirizados no ano 300 d. C., por ordem do imperador romano Diocleciano. A sua santidade é atribuída ao exercício da medicina que exerciam gratuitamente como cristãos que eram e dessa maneira converteram vultuoso número de pessoas à sua religião. Diz-se que eram originários da Arábia de uma família nobre de pais cristãos, no século III, sendo os seus nomes verdadeiros Acta e Passio. Um estudou Medicina e outro Farmácia na Síria, tendo ido depois exercer em Egéia, na Ásia Menor. Diziam: “Nós curamos as doenças em nome de Jesus Cristo e pelo Seu poder”. Como recusavam o pagamento, foram chamados de anárgiros, isto é, “inimigos do dinheiro”. Martirizados na Síria, os seus restos mortais foram recuperados e transportados pelos cristãos para Roma, onde depois o Papa Félix IV (que pontificou desde 12.7.526 até 12.9.530) os fez sepultar na basílica do Fórum de Roma. A sua festa é celebrada actualmente no dia 26 de Setembro pela Igreja Católica, e no dia 1.º de Novembro pela Igreja Ortodoxa. Desde muito cedo que a Igreja Grega cultua estes santos, pois há registos desde o século V quando o seu culto já estava enraizado nos países mediterrâneos, dizendo a tradição popular que Cosme e Damião possuíam um óleo santo com o poder de curar as doenças e dar filhos às mulheres estéreis. Há também quem veja nestes irmãos gémeos Cosme e Damião apenas a versão cristã da lenda grega dos dioscuros ou filhos gémeos de Zeus, Castor e Pollux. Se bem que esta versão seja combatida pelos que acreditam na existência real desses dois irmãos cristãos mártires, também não deixa de ser facto provado que a Igreja adoptou muitos personagens da mitologia greco-romana incorporando-os ao seu santoral e martiriológio como «invenções sagradas» para dar mais sentido e fincar nas almas dos fiéis a crença no poder sobrenatural dos santos que viveram e morreram na fé católica, e que mesmo depois de mortos continuam a operar milagres. Por um milagre espera, afinal, esta igreja abandonada de São Cosme e Damião numa piazettanapolitana.
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_________________________________________________________ Lusophia | 2013 O TAROT DA PIAZETTA BANCHI NUOVI Quem chega à Piazetta Banchi Nuovi e depara defronte com a arruinada e esquecida igreja dos Santos Cosme e Damião e olha para o seu lado esquerdo, depara-se com uma outra cena surpreendente: a toda a volta do portal de uma casa degradada ressalta uma série de figuras legendadas que desde logo desperta a atenção. Que figuras e legendas enigmáticas serão essas? Serão coisas de algum feiticeiro que aí tenha habitado e deixado os sinais da sua maldição, como crêm alguns mais supersticiosos? Será outra coisa? Afinal, o que é? Tão-só tratam-se das primeiras 22 figuras legendadas do Tarot, as consideradas Arcanos Maiores, enquanto as restantes 56 (aqui olvidadas) são os Arcanos Menores que perfazem o comum baralho de jogar. Quem as esculpiu e pôs aqui em placas finas de argila em guisa de lâminas, sem dúvida conhecia bem o Tarot, tanto porque está correcta a ordem com que os Arcanos estão apresentados, como sobretudo por o autor desconhecido – mas certamente estrangeiro, possivelmente francês atendendo às legendas escritas nessa língua – ter jogado para a composição com dois Tarots distintos: para as imagens, inspirou-se no Tarot de Marselha que apareceu entre os peregrinos de Santiago no século XIV, quando saíam do Sul de França a caminho de Compostela, na Galiza; e para as legendas serviu-se das idênticas no Tarot Caldaicoque diz-se ter sido o utilizado pelo famoso Adepto Vivo ou Superior Incógnito Conde de Saint-Germain, no século XVIII. Este conjunto artístico, muito maltratado vítima do abandono, não aparenta ter mais de 50-60 anos, mas o facto de figurar aqui, nesta antiga praça dos mercadores napolitanos onde se encontravam mercadejadores de todas as nacionalidades, já por si constitui uma novidade extraordinária. Numerados de 0 a 21 em algarismos árabes, os Arcanos Maiores aparecem identificados desde a base da ombreira esquerda até à base da ombreira direita: 0 – O Crocodilo; 1 – O Mago; 2 – A Porta do Santuário; 3 – Ísis Urânia; 4 – A Pedra Cúbica; 5 – O Mestre dos Arcanos; 6 – Os dois Caminhos; 7 – O Carro de Osíris; 8 – A Balança e a Espada; 9 – A Lanterna Oculta; 10 – A Esfinge; 11 – O Leão domado; 12 – O Sacrifício; 13 – O Esqueleto ceifador; 14 – As duas Urnas; 15 – Typhon; 16 – A Torre decapitada; 17 – A Estrela dos Magos; 18 – O Crepúsculo; 19 – A Luz deslumbrante; 20 –A Ressurreição dos Mortos; 21 – A Coroa dos Magos. Foi na Idade Média que o conjunto dos Arcanos tomou o nome de Tarot, Tarô ou Taro, este que em língua semita, usando-se o método da Temurah ou “permutação das letras”, resulta Tora ou Torah, que os rabinos denominam de Lei. Provém do vocábuloTor ou Tar, que quer dizer “via, caminho”, e do Ro, Ros, Rog, significativos de “rei, real, realeza”. É pois, equivalente a Caminho Real da Vida (As-Taroth). Com 24
Nápoles, entre o Mistério e o Secreto_________________________________________ efeito,Taro – Tora – Rota indicam o Caminho da Lei, e por isto são palavras indicando a Unidade da Origem do Homem. É exactamente esta a mensagem tarôtica desgraçadamente ignorada no portal de uma casa sem morador na Piazetta Banchi Nuovi.
Significado esotérico dos 22 Arcanos Maiores do Tarot: 0 – O Crocodilo = O Absoluto, a Substância Primordial, o Caos ou Abismo da Noite que antecedeu o Dia da Criação. Sentido divinatório: Impulsividade, passividade, irresponsabilidade e loucura. 1 – O Mago = O Espírito Puro, a Causa Primordial, o Princípio Universal. Sentido divinatório: Destreza, persuação, astúcia, inescrúpulo, intriga, mentira. 2 – A Porta do Santuário = O Pensamento Criador, a Sabedoria Divina, a Mãe da Criação. Sentido divinatório: Discrição, paciência, piedade, rancor, intolerância, fanatismo.
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_________________________________________________________ Lusophia | 2013 3 – Ísis Urânia = A Inteligência dominadora dos Mundos visível e invisível, o Poder da Alma iluminada pela Sabedoria Divina. Sentido divinatório: Generosidade, riqueza, polidez, frivolidade, aparato, vaidade. 4 – A Pedra Cúbica = O Verbo Criador incarnado, o Espírito manifestado dando luz e vida. Sentido divinatório: Protector, calculismo, tirania, domínio, teimosia. 5 – O Mestre dos Arcanos = Arte Sacerdotal, Autoridade Espiritual, Moral e Ciência. Sentido divinatório: Bondade, moral, imoral (quando os defeitos são maiores que as virtudes). 6 – Os dois Caminhos = Beleza moral, Amor unindo a todos os seres, Aspiração superior. Sentido divinatório: Incerteza, desejos irrealizados, tentação, hesitação. 7 – O Carro de Osíris = Princípio Criador do Universo, Grande Arquitecto, Espiritualidade em acção, Evolução consciente. Sentido divinatório: Talento, sucesso, diplomacia, incapacidade, insucesso, má conduta. 8 – A Balança e a Espada = Lei da Retribuição, Justiça de Deus, o Poder conservador do equilíbrio e harmonia universais. Sentido divinatório: Imparcialidade, independência, honestidade, firmeza de conduta. 9 – A Lanterna Oculta = O Ser Superior, o Iluminado, a Potência Divina em todas as criaturas. Sentido divinatório: Prudência, desconfiado, castidade, austeridade, cepticismo, tristeza. 10 – A Esfinge = A Energia Criadora, o Princípio da Individualidade, Fecundação Universal. Sentido divinatório: Fortuna, benefícios, instabilidade, inconstância. 11 – O Leão domado = Energia Psíquica, o Poder da Alma dominando e coordenado o Corpo, Triunfo da Inteligência sobre a força bruta. Sentido divinatório: Virtude, coragem, calma, intrepidez, impetuosidade, cólera, impaciência. 12 – O Sacrifício = Actividade da Alma, Realização da Obra de Deus da Natureza e no Homem, o Sacerdócio. Sentido divinatório: Sonhador, entusiasta, projectos irrealizáveis, amores não correspondidos. 13 – O Esqueleto ceifador = O Princípio Transformador de todas as coisas, a Marcha fatal da Evolução onde as formas velhas morrem e nascem as novas. Sentido divinatório: Fatalidade, perda, herança, velhice, transformação total.
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Nápoles, entre o Mistério e o Secreto_________________________________________ 14 – As duas Urnas = A Vida Universal, o Movimento Eterno, a Energia mediadora da Natureza, a Taumaturgia como Medicina Universal. Sentido divinatório: Adaptação, docilidade, tacto, frieza, apatia, preguiça. 15 – Typhon = A Alma do Mundo, a Luz polarizada em activa e passiva, o Princípio da Vitalidade em todos os seres. Sentido divinatório = Instinto, fascinação, paixão, luxúria, perversão. 16 – A Torre decapitada = Espírito incarnado na Matéria, o Mundo invisível manifestado no visível. Sentido divinatório: Orgulho, presunção, timidez, exagero, cobiça. 17 – A Estrela dos Magos = A Alma ligando o Espírito à Matéria, a Redenção e Imortalidade. Sentido divinatório: Inocência, confiança, fatalismo, ingenuidade, ignorância. 18 – O Crepúsculo = O Teatro da Vida Humana, a Ilusão da Matéria, a objectividade passional dos sentidos. Sentido divinatório: Adulação, engano, ameaças, insegurança, perigos. 19 – A Luz deslumbrante = A Luz Primordial coordenadora do Caos, o Verbo que ilumina a Humanidade. Sentido divinatório: Fraternidade, amizade, generosidade, frivolidade, vaidade, pose e fama. 20 – A Ressurreição dos Mortos = O Espírito Santo, o Sopro inspirador que fecunda a Inteligência, Penetração Espiritual. Sentido divinatório: Cura, publicidade, renome, embriaguêz, imponderação. 21 – A Coroa dos Magos = O Reino de Deus, o Cosmos, o Universo coordenado, a Realização Absoluta. Sentido divinatório: Triunfo, favorecimento, benefício, obstáculo intransponível (se outras cartas ditarem nesse sentido). como o Rei Edward VII e o Primeiro-Ministro Winston Churchill.
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Contactos: Por correio: ao cuidado de Dr. Vitor Manuel Adrião. Rua Carvalho Araújo, n.º 36, 2.º esq. 2720 – Damaia – Amadora – Portugal Endereço electrónico: vitoradrião@portugalis.com Sítio internet: Lusophia
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Vítor Manuel Adrião, renomado escritor esotérico português, é consultor de investigação filosófica e histórica, formado em História e Filosofia pela Faculdade de Letras de Lisboa, tendo feito especialização na área medieval pela Universidade de Coimbra. Presidente-Fundador da Comunidade Teúrgica Portuguesa e Director da Revista de Estudos Teúrgicos Pax, Adrião é profundo conhecedor da História Medieval do Sagrado, sendo conferencista de diversos temas relacionados ao esoterismo, às religiões oficiais, aos mitos e tradições portuguesas, às Ordens de Kurat (em Sintra) e do Santo Graal, das quais também faz parte.