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Basalto_uma arma de fogo
Alvoro é, para o MUDAS.Museu de Arte Contemporânea da Madeira, o corolário de uma colaboração de vários anos, entrecortada — é certo — mas com início nos projetos comuns que tiveram lugar no antigo Museu de Arte Contemporânea do Funchal - Fortaleza de São Tiago. Esta exposição pontua o culminar de um desejo protelado, num tempo suspenso, uma espécie de encontro antológico de um percurso que, por intenção do autor — artor —, aqui se enquadra entre 2000 e 2017. Com a curadoria de Isabel Santa Clara, ensaiam-se um conjunto de narrativas que se entrecruzam, em última análise, com a arquitetura deste Lugar, mas também, com a coleção permanente no Museu, num desdobramento simbólico de uma Ilha de opostos que se desmultiplica na imagem, da imagem, da imagem… A experiência do espaço vivenciado 1 é aqui materializada nos objetos (obgestos), fotografias, instalações e vídeos que compõem esta mostra e encenada pelo olhar atento de António Barros. Autor de propostas estéticas em que a dimensão plástica e a metafórica se corporizam num processo de mediação entre a função e a carga simbólica que as define na semasiologia social — em estreita ligação com a palavra e a sua função referencial de (re)nomeação —, ao objetualizar a palavra (poema-objeto), António Barros atribui-lhe uma dimensão gráfica pessoalizada, cuja visualidade alude à experiência individual e social do sujeito,
For the MUDAS.Museum of Contemporary Art of Madeira, Alvoro is the corollary of a collaboration initiated many years ago, intermittent, it’s certain, but that began with the common projects that took place in the former Museum of Contemporary Art of Funchal - São Tiago Fortress. This exhibition punctuates the culmination of a delayed desire, in a suspended time, a sort of an anthological encounter of a journey that intentionally gathers works produced between 2000 and 2017. The curatorship of Isabel Santa Clara rehearses a series of narratives that ultimately interbreed with the architecture of this Place, but also with the permanent collection in the Museum, in a symbolic unfolding of an Island formed from the antithesis, which is multiplied by the image, from the image, of the image... The experience of the lived space1 is materialized in the objects (obgestures), photographs, installations and videos that compose this exhibition and staged by the attentive eye of António Barros. Author of aesthetic proposals in which the plastic and the metaphorical dimensions are embodied in a mediation between the function and the symbolic charge that define them in social semasiology — in close connection with the word and its (re)nominating referential function —, when he objectifies the word (poem-object), António Barros attributes to it a personalized graphic dimension, whose visuality alludes to the individual and social experience of the subject, resulting, as he stated, from a reading about
1 | Henri Lefebvre
1 | Henri Lefebvre
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resultantes, como o próprio definiu, de uma leitura sobre a mística do objecto-mundo, do Lugar presente e do Eu que o habita ou ancora2. Com uma vasta obra intermedia que se espelha numa espécie de ato (des)construtivo, analítico e crítico dos últimos quarenta anos da nossa história — tendo como esteio referencial a Poesia Experimental Portuguesa e o movimento Fluxus Internacional —, António Barros (re)inventa-se na exploração de contextos estéticos que extravasam os da arte performativa e do experimentalismo poético para práticas no domínio da instalação e da arte em espaço público, em Alvoro também afloradas. Finalmente, importa referir que esta exposição foi também uma oportunidade para novas colaborações como as iniciadas com Augusta Villalobos e José Tolentino Mendonça que, a compasso e em acessão ao contributo de Isabel Santa Clara, se articulam para a construção de um registo para memória futura da passagem e eterna etérea presença deste Alvoro pelo MUDAS.Museu.
the mystique of the object-world, of the present Place and of the Self that inhabits it or anchors it2. With a vast intermedia work that is mirrored in a kind of (de)constructive, analytical and critical act regarding the last forty years of our history — having as refence mainstay the Portuguese Experimental Poetry and the Fluxus International movement — António Barros (re)invents himself in the exploration of aesthetic contexts that go beyond those of the performative art and the poetic experimentalism to practices in the field of installation and art in public spaces, that are also outcropped in Alvoro. Finally, it is important to refer that this exhibition was also an opportunity for new collaborations such as those begun with Augusta Villalobos and José Tolentino Mendonça who, in occasion and in continuance to the contribution of Isabel Santa Clara, worked articulately to register for the future memory the passage and eternal ethereal presence of this Alvoro in MUDAS.Museum.
Márcia de Sousa
Diretora do MUDAS.Museu Director of MUDAS.Museum
2 | BARROS, António, Valsamar, in Revista Bombart nº 10 (2008-2010), Porto
2 | BARROS, António, Valsamar, in Revista Bombart nº 10 (2008-2010), Porto.
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aL(a)ma
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A propósito de um título about A title
José Tolentino Mendonça
Coisa misteriosa é um título e misteriosa também a relação que ele estabelece com a obra. Lessing não tinha razão, quando desiludido pela escolha aparentemente acidental que o comediógrafo latino Plauto fazia dos seus títulos, escreveu que estes não têm afinal grande importância. Têm muita. Existem cambiantes distintos, é verdade, mas suficientemente estruturais para podermos falar de uma relação matricial, mesmo quando o aparelho titular parece equívoco, redundante, insuficiente ou enigmático. De facto, ainda que caminhe de olhos vendados sobre o arame, como um funâmbulo disposto a tudo — até a perder-se — o título oferece-nos um acesso (im)possível à margem de lá (ou, quem sabe, à de cá) onde se aloja o sentido, o que quer que isso seja. Confesso que depois de ter visitado a exposição de António Barros, fiquei primeiramente com imagens no pensamento, com o gatilho disponível do que elas ativam, uma espécie de rebentação que — sabemo-lo bem — não é apenas visual. E não raras vezes o circuito que fiz na Casa das Mudas, essas voltas imóveis em torno de um círculo, regressaram por dentro de mim num looping peculiar, como quando se deixa cair uma pedra na água e, à medida que ela desce às profundezas, um movimento vem à superfície revelar na sua ausência o impacto inesperado de todo esse trânsito. A nossa cabeça é um cinema do inesperado: não conseguimos prever de entre tudo aquilo que vimos o que a nossa memória escolherá dar-nos a ver de novo. Por isso, me perguntei repetidamente: não me vou conseguir livrar de quê? Desta espécie de inventário da dor que a obra de António Barros 10
Mysterious things titles, mysterious also in their relation with the works. Lessing wasn’t right, when disappointed with the apparently accidental choice of his titles by the Latin comediograph Plauto, wrote that these were of little importance. They are of utmost importance. There are distinct hues, of course, but structural enough to speak about the primordial relationship, even when the title apparatus seems equivocal, redundant, insufficient or enigmatic. In fact, even walking blindfolded on the wire, like a funambulist willing to do everything — until getting lost — the title offers us an access (im)possible to the other margin (or, perhaps, to this side) where the sense is housed, whatever that may be. I confess that after having visited the exhibition of Antonio Barros, at first my mind was filled with images, aware of the trigger of what they activate, a kind of breaking point that — as we know well — is not only visual. Not infrequently the circuit I made in the Casa das Mudas, those immobile turns around a circle, returned inside me in a peculiar looping, as when a stone is dropped into the water and, as it descends into the depths, a movement comes to the surface revealing in its absence the unexpected impact of this journey. Our head is a cinema of the unexpected: we cannot predict from all that we have seen what our memory will choose to give us to see again. So I asked myself repeatedly: What won’t I be able to get rid of? Of this kind of pain inventory that the work of António Barros so knowledgeably displays and conceals, in a clandestine form of elegy that infiltrates, from this shining black of irony and debris, from the branches
tão inteligentemente exibe e esconde, desta forma clandestina de elegia que se infiltra, deste negro brilhante de ironia e escombros, dos galhos desta música irremediável que soltamos? Não me vou libertar de quê? Deste cerimonial de nostalgia e luto ou desta combustão que persiste como um poder sem o apoio de nenhum corrimão? Vivi dias e dias assim, debatendo-me com a memória das imagens. Até que, pouco e pouco, de uma forma inexplicável me fixei no título que o artista deu a esta exposição: “Alvoro”. Lembrava-me daquilo que Gérard Genette dá como função do título: informar-nos não só sobre o tema (aquilo de que se fala), mas também do rema (o género disso de que se fala). Desse modo, “Alvoro” informa-nos sobre o argumento que a exposição aborda, mas também sobre aquilo que esta exposição é. “Alvoro” é sinónimo de alvor, alvorecer, alvorejar, arvorar. Traz a árvore do amanhecer dentro de si. Notícia que podemos sentir em perfeito contraste com o espírito elegíaco da obra. Ou não. Talvez o alvoro possível seja o fantasma, aquele que parte do vazio e das cinzas. Se assim for, proponho-me buscar o seu segredo. Coloco alvoro no tabuleiro de xadrez, herdado por António Barros do senhor Duchamp, e testo-o em improváveis aproximações: alvoro e alvoroço; alvoro e alvitre; alvoro e alvéolo; alvoro e alvará; alvoro e alvenaria; alvoro e alvo. L’arte è cosa mentale, como disse o outro. Mas que mais poderia ser?
of this irremediable music that we release? What will I not let go? This ceremonial of nostalgia and mourning or this combustion that persists as a power without the support of any banister? I lived several days like this, debating with the memory of the images. Until, little by little, in an inexplicable way I focused on the title that the artist gave to this exhibition: “Alvoro”1. I remembered what Gérard Genette gave us as a function for the title: to inform us not only about the subject (what we are talking about), but also about the rheme (the kind of which we are talking about). Thus, “Alvoro” informs us about the argument that the exhibition addresses, but also about what this exhibition is. “Alvoro” is synonymous with dawn, rise, daybreak, aurora. Brings the tree of the dawn within. Account that we can feel in perfect contrast with the elegiac spirit of the work. Or not. Perhaps the possible alvoro is a spectrum, the one that rises from the emptiness and the ashes, if so, I propose myself to seek for its secret. I put alvoro on a chessboard, inherited by António Barros from Mister Duchamp, and I test it in improbable approximations: alvoro and alvoroço [agitation, impetuosity]; alvoro and alvitre [opinion]; alvoro and alvéolo [alveolus]; alvoro and alvará [licence]; alvoro and alvenaria [stonework]; alvoro and alvo [target]… L’arte è cosa mentale, as another might have said. But what else could it be?
1 | “Alvoro” is the first person singular for the verb “alvorar”. It can also be a noun: dawn, dawning, sunrise, start, rise, aurora. 11
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DePur(o)Ar
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ALVORO Isabel Santa Clara
caminho e penso penso e caminho sem sair do pensar e sem andar um passo porque do obgesto imana a energia toda contida no mistério1
I walk and think I think and walk without leaving the thinking and without walking a step as from the obgest rises all the energy
Expor1 é dar a ver a cristalização de um momento, o corte estratigráfico de uma continuidade. Como acontece com um livro, que tem muitos outros por detrás e outros mais por diante, geram-se rizomaticamente inúmeras conexões. Com ALVORO, dá o MUDAS seguimento a mostras anteriormente realizadas na Madeira, retomando e aprofundando a divulgação de trabalhos que se enquadram numa linha de atuação derivada do experimentalismo. Lembremos, de entre essas mostras, o trabalho do colectivo What is Watt?, criado por iniciativa de Silvestre Pestana e António Dantas, lançando a ponte para novas gerações e atualizando meios de experimentação. O primeiro projeto foi em 2001 e anunciava como denominador comum a todos os participantes a referência à mediação da energia eléctrica na concepção, produção e apresentação
An exhibition is the scenic space where a moment crystallizes, a sort of a stratigraphic cut from a continuity. Innumerable connections are rhizomatically generated, just as it happens with books, which have many others behind them and many others to come. With ALVORO the MUDAS.Museum of Contemporary Art gives continuity to exhibitions previously held in Madeira, resuming and expanding the opportunity of sharing experimentalist works of art. Some of these exhibitions were focused on the art collective What is Watt?, an iniciative of Silvestre Pestana and António Dantas, that aimed to build a bridge for new generations and update the means of experimental art. Their first project was in 2001 and claimed, as a commmon denominator, the reference to the mediation of electric energy in the conception, the production or the presentation of their works.
1 | Excerto do poema de E. M. de Melo e Castro “Para António Barros olhando o seu obgesto ‘Com Pés de Vegécio’”, in Do Claro e do Escuro, Terracota Editora, São Paulo, Brasil, 2013.
1 | Excerpt from a E. M. de Melo e Castro’s poem “Para António Barros olhando o seu obgesto ‘Com pés de Vegécio’, in Do Claro e do Escuro, Terracota Editora, São Paulo, Brasil, 2013.
that mistery contains1
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da obra, requisito indissoluvelmente ligado a uma interrogação, ou seja, a uma atitude experimental e reflexiva em torno das relações entre arte e novas tecnologias, bem como em torno das linguagens daí decorrentes2. António Barros participou nas três primeiras edições com uma trilogia Alma, Frame_Porto Santo e Florigen3. Em 2008 tivemos a oportunidade de ver uma seleção de trabalhos mais alargada, feita a partir da coleção da Fundação de Serralves, que integrou a coletiva Horizonte Móvel4, realizada nas anteriores instalações do Museu, na Fortaleza de S. Tiago. Em 2011 participou no projeto de arte em espaço público Lonarte, parceria da Câmara Municipal da Calheta com a Galeria dos Prazeres e em 2012 apresentou nesta galeria e em parceria com António Dantas [ a l p h a b e t ], que incluía Insulae e aL(a)ma. Em 2017 integrou a iniciativa “Insubmissos”, no Funchal, com 5 Artitudes Irre_ver_entes e os vídeos River5 e DeP(u)Ar. Não foram, pois, muitas as vezes em que António Barros, radicado em Coimbra e que expõe desde 1976, teve ocasião de o fazer na sua ilha, apesar da forte ligação que com ela mantém e que o leva a afirmar, reiteradamente, que nunca saiu da Madeira6. De um modo geral, aliás, a vertente experimentalista tem tido pouca visibilidade na Madeira, embora alguns dos seus pioneiros sejam naturais desta ilha e esta vertente nela tenha tido forte expressão.
This requirement was inextricably linked to an interrogation, in other words, an experimental and reflective attitude towards the relationship between art and new media, as well as towards the resulting languages2. António Barros participated in the three first editions with a trilogy: Alma, Frame_Porto Santo e Florigen3. In 2008 a wider selection of his work, from the Fundação de Serralves collection, was included in the collective exhibition Horizonte Móvel4, in Fortaleza de S. Tiago, the previous location of the museum of contemporary art. In 2011 he participated in Lonarte, a project of art in public space, organized by the Calheta City Hall and the Galeria dos Prazeres. In this gallery (2012), he presented Insulae and aL(a)ma, part of the installation [ a l p h a b e t ], with António Dantas. In 2017 he participated in “Insubmissos”, (Funchal), with 5 Artitudes Irre_ver_entes and the videos River5 and DeP(u)Ar. António Barros lives in Coimbra and participates in exhibitions since 1976, nevertheless, as shown above, he had few opportunities to show his work in his birthplace, despite the strong connections he maintains with this place. As a matter of fact, he repeatedly declares that he has never left Madeira6. Generally speaking, experimentalism has had little visibility in this island, although some of his early practicioners were born there.
2 | Ver http://whatiswatt.org. 3 | Ver a entrevista de António Barros, “Trinta anos de obras de dimensão romântica”. à jornalista Elsa de Sousa, Jornal Campeão das Províncias, Coimbra, 20 de Outubro 2005. 4 | Horizonte Móvel, Uma perspectiva sobre as artes plásticas na Madeira —1960-2008, coletiva inaugurada em Setembro de 2008 no Museu de Arte Contemporânea do Funchal. Vejam-se análises destas peças em https://po-ex. net/taxonomia/materialidades/tridimensionais/antonio-barros-trilogia-almaframe-florigen e nos artigos de Isabel Santa Clara “Objectos e palavras na obra de António Barros” e “Objectos falantes”. 5 | Contextualizado em A. Barros John Cage, Música FLUXUS e outros gestos da música aleatória em Jorge Lima Barreto, Coimbra, Alma Azul, Coleção Contaminações, 2013. 6 | Ver a entrevista dada a Tiago Góes Ferreira, RTP_M, programa “Madeira à Vista”, episódio 9, transmitido a 12-9-2016.
2 | See http://whatiswatt.org. 3 | See the António Barros’s interview, “Trinta anos de obras de dimensão romântica” given to the journalist Elsa de Sousa, Jornal Campeão das Províncias, Coimbra, 20 de Outubro 2005. 4 | Horizonte Móvel, Uma perspectiva sobre as artes plásticas na Madeira —19602008, colective exhibition, September 2008, Museu de Arte Contemporânea do Funchal. See https://po-ex.net/taxonomia/materialidades/tridimensionais/ antonio-barros-trilogia-alma-frame-florigen and Isabel Santa Clara. “Objectos e palavras na obra de António Barros” and “Objetos falantes”. 5 | Contextualized in A. Barros, John Cage, Música FLUXUS e outros gestos da música aleatória em Jorge Lima Barreto, Coimbra, Alma Azul, Coleção Contaminações, 2013. 6 | See the António Barros’s interview given to Tiago Góes Ferreira, RTP_M, programa “Madeira à Vista”, episode 9, broadcasted at 12-9-2016.
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Com a exposição ALVORO foi a primeira vez que António Barros dispôs, na sua terra natal, de um espaço amplo onde pôde colocar maior número de peças, ensaiar outras relações entre elas, desenvolver trabalhos anteriores e apresentar novas propostas. O conjunto assume assim um caráter antológico, além de privilegiar as peças com ligações particulares à ilha. O autor, no entanto, não se revê na expressão “exposição individual”, dado o apreço que tem pelas colaborações, cumplicidades e diálogos decorrentes do seu processo criativo. Sublinha a importância da partilha que, neste caso, é sobretudo com Augusta Villalobos, presença umas vezes explícita, outras subliminar, como também com os participantes na preparação e na visitação da exposição. A condição insular pressupõe uma pulsação entre enraizamento e errância e, para António Barros, o enraizamento começa entre o arvoredo de um jardim, ameno lugar neste chão de vulcânico basalto batido pelo mar. Vem depois a errância, a descoberta de si e de um mundo para lá do mar e das margens de uma ilha feita de memórias e de notícias, ruínas de derrocadas, águas revoltas, ou fogos. E o magma dos lutos feito alor, sempre. As bússolas da sua navegação são os muitos conceitos e referências teóricas que nele vão encontrando eco. São autores que se ocuparam de questões de construção da identidade, a começar por Winnicott, na sua teorização do papel mediador dos objetos transicionais. Na esfera psicanalítica afloram ainda imagens projetivas de Rorschach, além das perspetivas de Lacan acerca da construção do sujeito através da sua relação com o outro e acerca do inconsciente como linguagem. São também autores que se debruçam sobre especificidades da sociedade atual, como Zygmunt Bauman, na sua reflexão sobre a modernidade líquida, a vulnerabilidade e fluidez, ou como McKenzie Wark e a sua abordagem das consequências dos novos meios/processos de
ALVORO provided for the first time António Barros with a wide space entirely at his disposition in his homeland to show more pieces, to experiment other connections between them, to develop previous works and to display new ones. In overhall, it is an anthological exhibition, along with beeing an opportunity to highlight the pieces particularly linked with the island. The author, however, does not see it as an individual exhibition, given the way he emphasizes the collaborations, complicities and dialogues inherent to his creative process. He underlines the importance of sharing and, in this case, mainly with Augusta Villalobos, a presence sometimes explicit, sometimes subliminal, as well as with all those who took part in the preparation of the exhibition and with all the visitors. The insular condition presupposes an oscillation between rootedness and mobility and for António Barros rootedness begins among the garden’s trees, a mild place emerging from volcanic basalt rocks beaten by the sea. Afterwards came the mobility, the self-discovery and the discovery of the world beyond the sea. Then, the distant island becomes an amalgam of personal memories and recent news about ruins, floods or fires. Mourning, however, is always for him a magma transmuted into impulse. The concepts and theoretical references that echo in his mind are like compasses guiding his navigation. He gathers them from various authors dealing with issues around the construction of identity, like Winnicott, who theorized the mediating role of transitional objects. In the psychoanalytic approach there are also the projective images of Hermann Rorschach, as well as Jacques Lacan’s theories about the construction of the Subject through his relationship with the Other, and about the unconscious structured like a language. There are also authors that focus on the specificities of the contemporary society, namely Zygmunt Bauman’s view on liquid modernity, with his 21
informação na nossa relação com o mundo, ou ainda como Lipovetsky nas suas considerações sobre o cunho individualista da sociedade atual. E muitas outras companhias têm sido convocadas para estas viagens... Confluem para o modo de atuar de António Barros o visualismo, onde colhe a espacialização e iconicidade do texto, o gosto pela combinatória e pela desconstrução; a raiz situacionista, na postura interventiva e crítica; e o movimento Fluxus, na performatividade, na transversalidade de meios e na inseparabilidade entre arte e vida. Assim artor, artitude progestos ou obgestos não são jogos de palavras, mas conceitos operativos7 que desaguam no hibridismo dos seus processos, onde a vida e a arte se fundem, produzindo resultados densos, enigmáticos e desafiadores que pedem a nossa participação ativa. Uma primeira constatação, ao olharmos os seus trabalhos, é que António Barros retira da matéria prima que é a vida, tanto do ponto de vista pessoal como do social, a energia para rigorosas e despojadas peças, sem concessões à sedução ou ao excesso. Podemos começar por refletir sobre a ausência de cor, num tempo em que a indústria fabricou tantas nuances que foi preciso numerá-las, em que a estridência das luzes coloridas nos invade o quotidiano. A opção pelo preto e branco no trabalho de António Barros, essa renúncia, assume um carácter identitário, com ligações a Malevich e a António Areal, como também evoca, um trabalho de luto, ou melhor, de superação do luto. Matisse, figura insuspeita dada a habitual alacridade da sua paleta, afirma que o negro é uma força e que nos seus quadros põe o lastro em negro para simplificar a construção8. Temos, pois, três pistas para melhor entender a cor ausente: uma radicada na forte impressão deixada pela obra dos
7 | Ver a entrevista “À conversa com Tânia Saraiva”, disponível em https:// barrosantonio.wordpress.com/about/conversa-tania-saraiva-e-antonio-barros. 8 | Henri Matisse, Escritos e reflexões sobre Arte, Editora Ulisseia, p. 195. 22
vulnerability and fluidity; McKenzie Wark’s approach to the consequences of the new media and technolgy in our relationship with the world; and Lipovetsky’s considerations on the individualistic turn of modern society. In addition to these, many other companions could be summoned to this journey... António Barros’s methods and techniques are rooted in visual poetry (spacialization and iconicity of the text, as well as the combinatory and deconstruction of language); in Debord’s Situationism (interventionist tactics and critical posture); in Fluxus Movement (performativity, transversality of media and inseparability between art and life). Therefore, “artor”, “artitude”, “progestos” or “obgestos”7 are not mere word games, but rather operational concepts8 leading to the hybridism of his procedures and producing dense enigmatic and challenging results, that demand our active participation. The first consideration, when we look at his work, is that António Barros extracts from life’s raw materials, both from a personal and a social point of view, the energy to rigorous and neat pieces, without compromisig to seduction or to excess. We observe the absence of colour, at a time when the industry made so many nuances that it was necessary to number them, and when stridency of colored lights invades us daily. Choosing black and white is a renounce which assumes an identitary character, linked to Malevich and to António Areal, but it also evokes the work of mourning, or, more precisely, it is a way to overcome the loss. Matisse, an unsuspected opinion due to the usual alacrity of his palette, declares that black is a force and that he uses a black ballast to simplify 7 | Coined terms: artor (art + author), artitude (art+attitude), progestos (Project+gestures) and obgestos (objects+gestures). 8 | See António Barros’s interview “À conversa com Tânia Saraiva”, available from https://barrosantonio.wordpress.com/about/ conversa-tania-saraiva-e-antonio-barros.
referidos pintores, uma centrada na simbologia do negro e outra inerente à sua capacidade de sublinhar o essencial. Acrescentaríamos ainda que o negro é uma forma de silêncio, um lugar profundo de onde emerge a claridade, seja ela da luz, do insight ou da palavra. E todas estas facetas nos podem acompanhar na visita às peças. Mais constatamos que António Barros usa objetos como usa palavras ou imagens, numa intersemiose, criando curto-circuitos no automatismo dos quotidianos formatados e distraídos. PaLavrador assumido, sente-se no seu trabalho a omnipresença da palavra que se manifesta na desconstrução da linguagem e na capacidade de, através das relações verbais, subverter e alargar a carga semântica dos objetos. Isso verifica-se já nos títulos, ou seja na forma de nomeação escolhida pelo autor, que é sempre uma pista. “O título cria uma ponte entre a ideia e a obra. Nesse intervalo ou hiato, sublinhando a diferença entre as linguagens e a alteridade que as caracteriza, instaura-se uma relação de complementaridade e produz-se um acréscimo de conhecimento”9. As pistas de leitura, neste caso, estão longe de ser unívocas, pois as desconstruções geram nebulosas de sentido(s). Por vezes até o mesmo trabalho pode, em diferentes circunstâncias e maneiras de expor ou de usar, ganhar novo título, o que o faz crescer rizomática e imprevisivelmente. A palavra está igualmente subjacente na ideia de livro, que é algo de estruturante no seu trabalho, por vezes explicitamente usado ou evocado, outras vezes latente. Um conceito de livro em campo expandido que é um dos fundamentos da concepção e configuração das peças. E é mais uma vez a palavra que surge nos textos aplicados em objetos, subvertendo e alargando a sua carga semântica, dando-lhes voz. São palavras 9 | Ana Margarida Falcão e Isabel Santa Clara “Entre o título e a pintura” in Colóquio Internacional Leituras do Olhar, Funchal 2004, p. 97.
the construction9. Therefore we have three clues to a better understanding of the absence of colour: one of them rooted in the strong impression left by the work of those painters, another one focused on the symbology of the black, and the third one inherent to the capability of black to underline the essential. Furthermore, we can interpret black as a silence, a deep place from where clarity emerges, in the form of light, insight or words. All these angles should accompany us when visiting the exhibition. One more observation is that António Barros works intersemiotically with objects, words and image, creating short circuits in the automatisms of formatted and inattentive routines. He assumes himself as a “PaLavrador”10 and we can feel in his work the omnipresence of words, which manifests itself in the deconstruction of language and the capacity to subvert and broaden the objects’ semantic field, by adding verbal relationships. This capacity is detectable in the titles, that is to say, in the ways of denominating the author chooses, which are always suggestive. “The title creates a bridge between the idea and the artwork. Within this gap, underlining the alterity that characterizes two different languages, a relationship of complementarity is established and there is an increase of knowledge”11. In this particular case the reading clues are far from being univoque, as the deconstructions generate nebulae of meaning(s). Sometimes even the same work can, in different circunstances or displays, acquire a new title, what makes it expand rhizomatically and unpredictably. Words also underlay in the concept of book, which is structural in his work, sometimes explicitly used or evoked, others only latent. It is a concept of book in an expanded field, a fundamental principle 9 | Henri Matisse, Escritos e reflexões sobre Arte, Editoria Ulisseia, p. 195. 10 | Coined term based on “palavra” (word) and “lavrador” (cultivator). 11 | Ana Margarida Falcão and Isabel Santa Clara “Entre o título e a pintura” in Colóquio Internacional Leituras do Olhar, Funchal 2004, p. 97. 23
espacializadas, que ganham na sua iconicidade uma sintaxe visual. “O texto aplicado sobre objetos é uma voz plasmada, cristalizada, que sobrevive às suas condições de criação. A escrita de António Barros espalha-se, escorre, agarra-se a todos os suportes, toma conta das coisas. «Sempre em busca dos lugares da escrita», diz ele”10. Os objetos incorporados nos seus trabalhos, muitas vezes vivenciados, são resgatados da funcionalidade do uso comum, transfigurados pela metafórica deslocação que os organiza em elementos de um discurso, memórias de gestos, obgestos. As imagens, por sua vez, são também captadas da realidade, através de fotografia ou registos em vídeo, funcionando como suporte para intervenções — textos, grafismos, colagens — que, sem perder essa âncora indicial, as trazem para a esfera da enunciação. Constata-se também uma estruturante vertente performativa (mesmo quando não há relação direta com uma ação teatral), que passa pelo comprometimento do corpo na obra. Veja-se por exemplo o ato de caminhar presente em Sandales_Mal de mer ou em Bruma; o incitamento à ação em DePur(o)Ar; a vocação andante de Sem Tí_tu_lo ou ainda o papel cénico de Uma cadeira para NN_Vacuidade. Resultam desta opção a ação transmutada em artitude e o objeto em obgesto. Nesta leitura optámos por agrupar os trabalhos à revelia do percurso das salas de exposição, segundo afinidades que, obviamente, não os confinam de modo nenhum a compartimentos estanques. Eles ligam-se entre si como sinapses passíveis de criar novas vias de circulação, até porque cada obra se vai modificando ao longo do tempo por força das circunstâncias e da sua natureza mutante.
when concieving and giving shape to a piece. Once again, words come up in the texts applied to objects, broadening their meaning and giving them a voice. They are spacialized words, acquiring a visual syntaxis as a consequence of their iconicity. “Text applied to objects is a voice moulded, crystallized, that survives its conditions of creation. António Barros’s writing spreads, flows, holds to every support, affecting everything. «Always looking for writing places», as the author said“12. The objects incorporated in his work, which often have been experienced, are rescued from the functionality of common use, transfigured by a metaphorical shift that organizes them into elements of a discourse, memories of gestures, “obgestos”. The images are also captured from reality, through photographs or videos which can be a ground for interventions — texts, graphisms, collages — that transfer them to an enunciation field, without loosing the indicial character of this images. The performative dimension is also structurant, even when there is no direct link to theatrical actions, due to the way the author compromises the body in his work. See, for exemple, the act of walking in Sandales_Mal de mer or in Bruma; the instigation to act in DePur(o)Ar; the appeal to wander in Sem Tí_tu_lo or the scenic role of Uma cadeira para NN_Vacuidade. This option leads to the transmutation of action in “artitude” and of object in “obgesto”. In order to make some considerations about these works, we organized them in topics, according to affinities between them. Obviously, this is not a rigid classification, on the contrary, the works are linked like synapses, able to create new connections, as each one of them changes over time by virtue of circumstances and of his mutable nature. In the first set we can join the pieces more directly connected with insular experiences:
10 | Isabel Santa Clara, “Objetos falantes”, no prelo.
12 | Isabel Santa Clara, “Objetos falantes”, to be published.
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Num primeiro conjunto teríamos então Frame_Porto Santo, Valsamar, aL(a)ma, Basalto_uma arma de fogo e Ora_Ora, peças mais diretamente ligadas com vivências da ilha. A moldura rectangular com desenho ornamental é uma forma fechada a encerrar, paradoxalmente o longo barco translúcido. “A moldura fala do enraizamento, enquanto o barco, que transporta a luz no seu interior, fala de uma errância guiada a partir de dentro”11. Este barco permite, no dizer do autor, «um navegar para o interior, logo infinito». O Porto Santo evocado no título sugere uma chegada a bom porto, sublinhada pelo referente da música homónima de Carlos Paredes, composta para guitarra, que está associada à primeira apresentação da peça12. Num poema de José Tolentino Mendonça, intitulado “Reconhecimento dos laços” encontrou António Barros um eco para a sua contemplação do quebrar das ondas na ilha onde ambos nasceram. Diz o poema: “tudo podia / já que / os anjos do vento desenham na água / o fulgor inesperado do teu gesto” 13. Valsamar é um livro aberto no lugar onde se desvenda o espraiar cíclico da espuma no litoral de areia negra e a água/espelho pontuada por um calhau insulado. A página tem uma inclinação inquietante mas, ao mesmo tempo, o peso da matéria parece dissipar-se, e tudo fica suspenso. No reverso da página a secura da areia, ramos calcinados em cascata. Esta nova versão de Valsamar incorporou urze queimada no devastador incêndio florestal de 2016, recolhida na zona dos Prazeres, acrescentando 11 | Isabel Santa Clara, A expressão do espaço insular na produção artística contemporânea na Madeira, p. 351. 12 | http://po-ex.net/taxonomia/transtextualidades/ metatextualidades-autografas/antonio-barros-frame-ainda. 13 | José Tolentino Mendonça, Os dias contados, Funchal, Edições SRTC, 1989, p. 21.
Frame_Porto Santo, Valsamar, aL(a)ma, Basalto_uma arma de fogo and Ora_Ora. A rectangular frame with an ornamental pattern, a closed shape, contains, paradoxically, a long translucent boat. “The frame expresses rootness while the boat, carrying the light within it, expresses a kind of mobility which is guided from inside”13. As the author declares, “this boat allows a navigation to the interior, therefore infinite”. The Porto Santo evoked in the title suggests a peaceful arrival, emphasized by the homonymous Carlos Paredes’ music composed for guitar, which is associated to the first presentation of this piece14. In a José Tolentino Mendonça’s poem with the title “Reconhecimento dos laços” [Recognition of bonds] António Barros found an echo of his own contemplation of the waves breaking on the island where both are born: “tudo podia / já que / os anjos do vento desenham na água / o fulgor inesperado do teu gesto” [he could do anything/ since / the angels of the wind trace in the water / the unexpected radiance of your gesture]15. Valsamar is an open book where the cyclic spreading of spume on the black sand and the water/ mirror with a pebble/island are revealed. The page has a disturbing inclination yet, at the same time, the weight of matter seems to vanish, and everything is suspended. In the verso page there is the dryness of the sand and a cascade of calcined branches. This new version of Valsamar incorporates heather burned in the forest fire in 2016, collected in Prazeres, adding 13 | Isabel Santa Clara, A expressão do espaço insular na produção artística contemporânea na Madeira, p. 351. 14 | http://po-ex.net/taxonomia/transtextualidades/ metatextualidades-autografas/antonio-barros-frame-ainda. 15 | José Tolentino Mendonça, Os dias contados, Funchal, Edições SRTC, 1989, p. 21. 25
assim mais um estrato a uma peça que já carregava outros lutos14.
a new layer to a piece consealing already another mournings16.
A peça foi apresentada no Ciclo Nas Escritas PO.EX, realizado na Casa da Escrita em Coimbra, em 2010, e na Galeria dos Prazeres em 2012, e regressa integrada nesta exposição. Os elementos que a compõem alinham-se metódica e cuidadosamente como vestígios arqueológicos. Escreve o autor: “As águas das chuvas desventraram o corpo, em Lama, e a Alma - aL(a)ma. Um cenário de dezenas de mortos. O lugar destruído até à intimidade e o leito. Uma mulher com uma pá de pedreiro a retirar a lama, resgata a sua própria cama. Sem lugar ao sono. Com o coração fundido no desenho da pá, obsessivamente, ritualiza a esgrimir a Alma com a Lama”15. O anagrama incorporado no título condensa em si conflito entre a vida e a morte nesse momento da devastadora aluvião de 20 de Fevereiro de 2010. Apresentado em versão performática em Coimbra, Basalto_uma arma de fogo, parte da imagem do incêndio de origem criminosa, iniciado na periferia do Funchal em Agosto de 2016, que tomou incontroláveis proporções 16. Tomando de Hermann Rorschach as imagens duplicadas simetricamente através de espelhamento, reconfigura enigmaticamente a fotografia inicial, ampliando-a em catastrófica explosão. Em cada imagem há um texto discretamente inscrito ao centro que, de certo modo, desmonta a arma: a(r)ma. Podemos perder-nos nestas imagens, projetivamente.
aL(a)ma was first exhibited in Nas Escritas PO.EX, Casa da Escrita, Coimbra, in 2010, in Galeria dos Prazeres, in 2012. The title merges two anagrammatic words — alma [soul] and lama [mud] —condensing the conflict between life and death during a devastating flood in Madeira, on the 20th February 2010. The elements of the composition are methodically and carefully alligned, as archaeological remains. “Rainwaters torn apart the body, in the mud, and the soul - aL(a)ma. A scene of dozens of dead. A place destroyed until inwards, until her own bed. A woman scrapes the mud with a shovel, rescues her own bed. No place to sleep. With her heart merged in the lines of the shovel, she ritualizes obsessively, dueling soul with mud”17. Basalto_uma arma de fogo [Basalt, a firearm] has been presented in a performative version, in Coimbra. Its source is a photograph of a criminal fire, which started in the outskirts of Funchal, in August 2016, and took uncontrollable proportions18. Recalling Hermann Rorschach’s simetrical mirror images, António Barros reconfigures enigmatically the initial photograph, amplifying it to a catastrophic explosion. Each image has a text discreetly inscribed in the center that, in a way, deconstructs the weapon: a(r)ma [“arma” means “weapon” and “ama” is the imperative mood of the verb “to love”]. As they are projective images, we can loose ourselves in them.
14 | https://po-ex.net/taxonomia/materialidades/tridimensionais/ antonio-barros-valsamar. 15 | http://po-ex.net/taxonomia/materialidades/tridimensionais/antoniobarros-alm-a-ma, acedido a 5 de abril de 2018. 16 | http://www.tagv.pt/basalto_uma-arma-fogo/ e https://po-ex.net/exposicoes/exposicoes-individuais/ artitude-01-razao-para-projectos-progestos-tagv-coimbra-18-04-a-15-05-2017.
16 | https://po-ex.net/taxonomia/materialidades/tridimensionais/antoniobarros-valsamar. 17 | António Barros, “Água levada na pedra”, available from https://po-ex.net/ taxonomia/transtextualidades/metatextualidades-autografas/antonio-barrosagua-levada-na-pedra/ and http://po-ex.net/taxonomia/materialidades/ tridimensionais/antonio-barros-alm-a-ma, accessed 5 April 2018. 18 | http://www.tagv.pt/basalto_uma-arma-fogo/ and https://po-ex.net/ exposicoes/exposicoes-individuais/artitude-01-razao-para-projectos-progestostagv-coimbra-18-04-a-15-05-2017.
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Uma camisola com a imagem da Nossa Senhora do Monte estampada, foi o ponto de partida para a colagem Ora_Ora, que inclui uma medalha onde um texto, em disposição irradiante, alterna as palavras “ora” e “hora”. À colagem inicial, emoldurada de modo a realçar o cariz devocional, foram acrescentadas umas joelheiras evocando a genuflexão ou as penitenciais subidas ao santuário. Durante a “visitação vivenciada” de ALVORO Fernanda Martins usou-as para fazer uma intervenção em que se ajoelhou e fez uma leitura do texto.
The starting point of the collage Ora_Ora, was an image of Our Lady of Mount printed on a t-shirt. It includes a medal with a text in a radiating arrangement alternating the words “ora” e “hora” [“ora” means “pray” but “ora, ora” is “well, well”; “hora” means “hour”]. The frame emphatizes the devotional use of the image and the knee pads evoke the act of kneeling or the penitential ascents to the sanctuary. During an “experienced visit” to ALVORO Fernanda Martins used the knee pads to make an intervention in which she kneeled to read the text.
Um outro conjunto de peças cabe na categoria de retratos, se tomarmos esta denominação no sentido mais lato e também em campo expandido. Incide, em primeiro lugar, sobre figuras fundadoras no percurso de António Barros: António Aragão, Herberto Helder e Ana Hatherly. Associámos a estas Zygmunt Bauman, Ruben A. e Jorge Lima Barreto, a quem são também dedicadas peças.
Another set of pieces could be ranged in the category of portraits, if we take this denomination in a broader sense, as an expanded field. First and foremost we can find foundational personalities in António Barros’ path: António Aragão, Herberto Helder and Ana Hatherly. We have associated to them Zygmunt Bauman, Ruben A. and Jorge Lima Barreto, to whom other pieces are dedicated.
Do fato de uma figura ausente nascem pincéis, alguns dos quais ligados a caprichosos ramos, numa fusão entre naturalia e artificialia. António Aragão é aqui evocado por essa extensão de si próprio que foi a pintura e por formas orgânicas que insinuam a deriva das suas múltiplas frentes de atuação.
Brushes, some of them attached to capricious branches, come out of a suit jacket, in a fusion between naturalia and artificialia. In this piece, António Aragão is evoked through the act of painting, an extension of himself, and through organic forms suggesting the diversity of the multiple fields present in his actions.
Vulcânico PaLavrador é um título que situa na geografia do lugar e remete para as combinatórias de paLavrador que são exploradas nestes textos visuais. Esta peça evoca a faceta de conversador de António Aragão, a sua convivialidade intergeracional que alternava, com inesquecível humor, comentários acutilantes aos acontecimentos e gentes da ilha e do país com notícias das experiências vanguardistas de além horizonte. “Era à mesa que António Aragão fabricava pela noite dentro a sua contaminante oratória no Funchal dos anos 60-70. Estes nove pratos
The title Vulcânico PaLavrador19 alludes to the geography of the place volcanic and deals with the combinatory features of “paLavrador”. The whole piece evokes António Aragão’s conversational side, his intergenerational conviviality that used to alternate sharp comments to local events with news of the avantgarde experiences made abroad. “Sitting around the table, António Aragão fabricated his contagious oratory late into the night, in Funchal, during the 60’s 19 | Volcanic “PaLavrador”. See note 10. 27
negros espelham uma leitura da memória, numa procura de um pretenso projeto memorial”17. Na sequência destes dois retratos, lembremos que a veia satírica de António Aragão brotava de um tumultuoso (vulcânico) interior, ou não teria escrito: “Há sempre uma dor maior que a liberdade de a ter escrito”18. Dos passos sem volta glosa o título do livro de Herberto Helder, Os passos em volta. Sugere um caminhar em volta de si mesmo, num trajeto a que se alia uma fonte de luz. A claridade da palavra, mesmo quando diz a obscuridade. “Eu procuro dizer como tudo é outra coisa”, escreveu o poeta19. “Escrevo porque algo aconteceu ou acontece. Escrever é isso, mas escrever é sobretudo produzir o acontecer”, anota Ana Hatherly20. O título AH_LiHonorAna recorda o seu nome, as suas variações a partir de poemas de Camões dedicados a Lianor (essa longa linhagem) e assume-se também como homenagem — Honor— e reconhecimento de um honroso convívio. Suspenso de um cabide, como uma veste, está um estojo de guitarra, corporizando a lírica, sobre o qual se soltam grafismos circulares em torno de uma luz. De novo a luz que continua a brilhar. Em ALVORO a peça foi disposta horizontalmente, numa versão sepulcral, junto a uma janela por onde irrompe a paisagem.
and 70’s. These nine black dishes recall a reading of memories, looking for a supposed memorial project” 20. It is opportune to remember, concerning these two portraits, that António Aragão’s satyrical vein come from a tumultuous (volcanic) interior, otherwise he would not have written: “There is always a bigger pain than the freedom of having written it”21. Dos passos sem volta [About steps without return] gloses the title of a Herberto Helder’s book, Os passos em volta [the steps around]. It suggests a walk around oneself, in a path that includes a source of light. The clarity of words, even when they alude to obscurity. “I try to say how everything is, in fact, something else”, wrote Herberto Helder22. “I write because something hapenned or happens. That is what writing is about, but, above all writing is to make happen” says Ana Hatherly23. The title AH_LiHonorAna includes her name [AH and Ana] and her vatiations on Camões’ poems dedicated to Lianor. It is also a tribute — Honor — and the recogniiton of a praised conviviality. A guitar case is suspended on a hanger, like a suit, corporizing the poetry. Circular graphics involve a light source. Once more the light is shining. In ALVORO the piece is displayed horizontally, in a sepulchral version, near a large window from which landscape breaks through.
O único elemento tradicional de um retrato é um chapéu, que surge imbricado num tubo flexível. É um dispositivo apto para a circulação, mas não sabemos o que leva no seu interior e a configuração
The only traditional element of a portrait is a hat, overlapped in a flexible pipe. The author uses a circulation device, but we do not know what is inside it and the piece’s configuration suggests variability. It is an allusion to the liquidity as a metaphor for
17 | António Barros, 2005, disponível em https://po-ex.net/taxonomia/ materialidades/planograficas/antonio-barros-vulcanico-palavrador, acedido a 5 de abril de 2018. 18 | António Aragão, na epígrafe de Um buraco na boca, Ed. Livros cf, 1971. 19 | Herberto Helder, Poemacto [1961], in Poesia Toda, Assírio e Alvim, 1990, p. 98. 20 | Ana Hatherly, Tisanas, Lisboa, Quimera, 1997, p. 115.
20 | António Barros, 2005, https://po-ex.net/taxonomia/materialidades/ planograficas/antonio-barros-vulcanico-palavrador, accessed 5 Abril 2018. 21 | António Aragão, epigraph of Um buraco na boca, Ed. Livros cf, 1971. 22 | Herberto Helder, Poemacto [1961], in Poesia Toda, Assírio e Alvim, 1990, p. 98 23 | Ana Hatherly, Tisanas, Lisboa, Quimera, 1997, p. 115.
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da peça convida à variabilidade, aludindo à liquidez como metáfora da sociedade atual que está no cerne do pensamento de Zygmunt Bauman. Encaixaria aqui que nem legenda a afirmação deste filósofo e sociólogo: a tendência para substituir a noção de estrutura pela noção de rede nas descrições das interações humanas contemporâneas traduz perfeitamente este novo ar do tempo. Contrariamente às estruturas de outrora, cuja razão de ser era de ligar por meio de nós difíceis de desatar, as redes servem tanto para ligar como para desligar21.
contemporary society, which is in the core of Zygmunt Bauman’s thought. There is a statement of this philosopher and sociologist that would fit like a caption to this piece: “The tendency to substitute the notion of “structure” for the notion of “network” in the descriptions of contemporary human interactions reflects perfectly the new spirit of the times. Unlike the stuctures of the past, whose purpose was to attach knots difficult to untie, the networks serve as much to connect as to disconnect ...”24.
Do ficcionista e ensaísta Ruben A. disse Sophia de Mello Breyner Andresen: “trazias contigo como sempre alvoroço e início”22 e as consonâncias destas duas palavras parecem-nos carregadas de sinais. A obra literária de Ruben A., autor homenageado em Coimbra, em 200523, transfigura o recorte autobiográfico e questiona a identidade pessoal ou coletiva, a busca de si mesmo, a par de um distanciamento crítico e ironizante. O obgesto reMate revisita uma fotografia de Ruben A. a jogar golfe, um momento de ímpeto, de impulso, que António Barros resolve com um oxímoro: o ponto de impacto, a cabeça do taco, é uma flor24.
Sophia de Mello Breyner Andresen wrote about the novelist and essayist Ruben A.: “You were bringing, as you always did, disturbance and dawning”25. These two words appear to be full of relevant connotations. The literary work of Ruben A., an author who received a tribute in Coimbra, in 2005 26, transfigures the autobiographical elements and reflects on personal or collective identities, as well as on the search for oneself, with a critical and ironizing distance. The “obgesto” reMate revisits a photograph of Ruben A. playing golf, a moment of impetus, of impulse, that António Barros solves with an oxymoron: the point of impact, which is the golf club head, is a flower27.
O vídeo River é dedicado ao músico Jorge Lima Barreto25, também ele comprometido com a estética/ética da arte sociológica e com a sua
The vídeo River is dedicated to the musician Jorge Lima Barreto28, an artist with a commitment to the aesthetiscs/ethics of sociological art as well
21 | Vivre dans la “modernité liquide”. Entretien avec Zygmunt Bauman, in: Faculté des sciences sociales Strasbourg, 2003. Disponível em http://sspsd.u-strasbg.fr/IMG/pdf/Vivre_dans_la_modernite_liquide._Entretien_ avec_Zygmunt_Bauman.pdf, acedido a 5 de abril de 2018. 22 | Sophia de Mello Andersen, “Carta para Ruben A.”, in O Nome das coisas, 3ª ed. Edições Salmandra, 1977, p. 59. 23 | “O mundo à minha procura, Ruben A. 30 anos depois”, organizado pelo Instituto de Língua e Literatura Portuguesas / Centro de Literatura Portuguesa e do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX com a participação da Imprensa da Universidade de Coimbra, sendo a direção de imagem de António Barros. 24 | http://www.uc.pt/noticias/newsletter/112012/files/iuc_v1.pdf. 25 | https://barrosantonio.wordpress.com/2011/08/01/jorge-lima-barreto-umamigo-de-coimbra/ e http://www.triplov.com/cyber_art/jorge-lima-barreto.
24 | Vivre dans la “modernité liquide”. Entretien avec Zygmunt Bauman, in: Faculté des sciences sociales Strasbourg, 2003. Available from http://sspsd.u-strasbg.fr/IMG/pdf/Vivre_dans_la_modernite_liquide._Entretien_ avec_Zygmunt_Bauman.pdf, accessed 5 April 2018. 25 | Sophia de Mello Andersen, “Carta para Ruben A.” , in O Nome das coisas, 3rd ed. Edições Salmandra, 1977, p. 59. 26 | “O mundo à minha procura, Ruben A. 30 anos depois”, organized by Instituto de Língua e Literatura Portuguesas / Centro de Literatura Portuguesa and Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX, with the participation of Imprensa da Universidade de Coimbra. António Barros was the image director. 27 | http://www.uc.pt/noticias/newsletter/112012/files/iuc_v1.pdf. 28 | https://barrosantonio.wordpress.com/2011/08/01/jorge-lima-barreto-umamigo-de-coimbra/ and http://www.triplov.com/cyber_art/jorge-lima-barreto. 29
performatividade. É um momento de paragem, de evocação, recolhendo apenas o som ambiente num fim de tarde. A perturbação introduzida pela sirene de uma ambulância insinua na placidez da paisagem a reminiscência da dor. Um terceiro conjunto de peças incide mais sobre notícias do país e do mundo, ou melhor, posiciona-se comprometida e criticamente em relação a elas.
as to its performativity. It is a moment of pause, of evokation, only with the ambient sound at sunset. The disturbance brought by the siren of an ambulance insinuates the reminiscence of pain in the peacefulness of the river landscape. A third set of works assumes a clearer critical position about actual situations and controversial issues in Portugal or abroad.
Portugal no seu melhor26 é outro trabalho também dedicado a Jorge Lima Barreto27. Em forma de cruz latina invertida dispõem-se textos em torno da pergunta “que arte fazer num país que (…)”. Cada texto é uma constatação e uma denúncia. Um luto que luta.
Portugal no seu melhor29 [Portugal at its best] is another work dedicated Jorge Lima Barreto30. An upside-down latin cross is the support of several interrogations, all of them beginning with the question “que arte fazer num país que (…)” [what kind of art can you make in a country that…]. Each text is a statement and a denouncement. Grief goes along with struggle.
Lástima constitui-se como um objecto-livro, nas suas quarenta páginas de texto com variações em torno da letra P (essa de pátria, Portugal, e pobre) aplicado sobre silhuetas negras de cravos antes vermelhos. Feito para assinalar os 40 anos do 25 de Abril28, este poema-manifesto foi oferecido à Assembleia da República. Nele clamam e reclamam palavras como cravo, ditadura, mágoa, cansaço, desencanto, salário, miséria, ou grito. O contundente, ainda que silencioso, grito desta peça, que tem sido apresentada em diferentes suportes, prolonga a reflexão ou DESilusão que está na origem da emblemática peça Escravos, de 1977, e atualiza a afirmação atribuída a Aldous Huxley: “a ditadura perfeita terá as aparências da democracia, uma prisão sem muros na qual os prisioneiros não sonharão 26 | https://po-ex.net/taxonomia/materialidades/planograficas/antonio-barrosportugal-no-seu-melhor . 27 | Peça integrada na 1ª Bienal “Jorge Lima Barreto – Arte é Vida e Vida é Arte!”, Centro Cultural dos Condes de Vinhais, Julho de 2014. 28 | https://po-ex.net/taxonomia/transtextualidades/metatextualidadesautografas/antonio-barros-lastima-artitude, https://po-ex.net/taxonomia/ materialidades/planograficas/antonio-barros-lastima. 30
Lástima [regret, pity, shame] is an objectbook with forty four pages of variations on “P” letter. “P” from “Portugal”, “pátria” [homeland] and “pobre” [poor] over silhouettes of black carnations, once red. António Barros did this manifest poem to celebrate the 40th anniversary of the Carnation Revolution, that took place on the 25th April 1974. In this text words are clamouring and complaining, words like carnation, dictatorship, grief, fatigue, disenchantment, salary, misery or scream. The striking, although silent, shout of this piece, which has been displayed in different supports, extends the reflection ou DISillusion that is in the origin of the emblematic Escravos [“Escravos” means “slaves” and “cravos” means “carnations”], in 1977. It also actualizes the remark attributed to Aldous Huxley’s: “The perfect dictatorship would have the 29 | https://po-ex.net/taxonomia/materialidades/planograficas/ antonio-barros-portugal-no-seu-melhor. 30 | Piece presented at 1ª Bienal “Jorge Lima Barreto – Arte é Vida e Vida é Arte!”, Centro Cultural dos Condes de Vinhais, July 2014.
sequer com a fuga. Um sistema de escravatura onde, graças ao consumo e ao divertimento, os escravos terão amor à sua escravidão”29. Esta outra variação em torno da letra P, agora denominada Sem Tí_tu_lo, tem um longo historial de metamorfoses. Este poema visual começou por ser, em 1999, um Retrato de Ana Hatherly e os poetas experimentais portugueses ao fundo, ou de Portugal um País que nunca ex(ins)istiu30 e, em 2012, passa, através da estampagem sobre camisola preta, à versão EX_Patriar31. Segundo António Barros “a forma elíptica do suporte sustenta a letra P (Portugal). E assim se sinalizavam os veículos automóveis portugueses a circular no mundo, enunciando o símbolo – ‘identidade nacional’. A composição gráfica ganha dimensão icónica, apresentando ainda a letra P sobre a letra O, expandida, enunciando Poesia (PO), exaltando assim o domínio da experienciação (EX), e a singularidade da Poesia Experimental Portuguesa. Situacionista, desperta para uma leitura do país de hoje a emigrar de si: Ex-Portugal”32. Enquanto camisola, múltiplo vocacionado para circular no mundo, a peça adquire a mobilidade que faz de Andante, em 2014, uma escultura social33. Sem Tí_tu_lo marca presença em ALVORO carregando em si tudo isto. Numa “visitação vivenciada” desta exposição, António Dantas colocou 29 | Citado em https://po-ex.net/taxonomia/transtextualidades/ metatextualidades-autografas/antonio-barros-lastima-artitude, acedido a 5 de abril de 2018. 30 | https://po-ex.net/taxonomia/materialidades/planograficas/ antonio-barros-retrato-de-ana-hatherly-e-os-poetas-experimentaisportugueses-ao-fundo. 31 | https://po-ex.net/taxonomia/materialidades/tridimensionais/antoniobarros-ex-patriar. 32 | António Barros, Poemacto, disponível em https://po-ex.net/taxonomia/ transtextualidades/metatextualidades-autografas/antonio-barros-poemacto, acedido a 5 de abril de 2018. 33 | https://po-ex.net/taxonomia/materialidades/ performativas/antonio-barros-andante e https://po-ex.net/ taxonomia/transtextualidades/metatextualidades-autografas/ antonio-barros-andante-designios-para-uma-escultura-social.
appearance of democracy, a prison without walls in which the prisoners would not dream of escaping. A system of slavery where, through consumption and entertainment, slaves would love their servitude”31. Another variation on “P” letter now designated as Sem Tí_tu_lo experienced several metamorphosis. This visual poem was, at first, in 1999, a Retrato de Ana Hatherly e os poetas experimentais portugueses ao fundo, ou de Portugal um País que nunca ex(ins)istiu [Portrait of Ana Hatherly and the experimental poets in the background, or of Portugal, a country that never ex(ins)isted]32 and, in 2012 a new version, EX_Patriar [EX Patriate] was printed on a black t-shirt33. According to António Barros “the elliptical shape supports the letter P (Portugal). That refers to the way portuguese vehicles circulating in the world were identified, enunciating the symbol - ‘national identity’. The graphic composition acquires an iconic dimension, presenting the letter P over the expanded letter O, enunciating Poetry (PO) and, thus, emphysizing the experimentation field (EX) and the singularity of Portuguese Experimental Poetry. Situationist, it awakens to a reading of today’s country, emigrating from itself: Ex-Portugal”34.This piece printed on a t-shirt is a multiple, therefore, is made to circulate in the world. It acquires mobility and, consequently, in Andante, em 2014, it became a social sculpture35.
31 | Quoted in https://po-ex.net/taxonomia/transtextualidades/ metatextualidades-autografas/antonio-barros-lastima-artitude, accessed 5 Abril 2018. 32 | https://po-ex.net/taxonomia/materialidades/planograficas/ antonio-barros-retrato-de-ana-hatherly-e-os-poetas-experimentaisportugueses-ao-fundo. 33 | https://po-ex.net/taxonomia/materialidades/tridimensionais/ antonio-barros-ex-patriar. 34 | António Barros, Poemacto, available from https://po-ex.net/taxonomia/ transtextualidades/metatextualidades-autografas/antonio-barros-poemacto, accessed 5 Abril 2018. 35 | https://po-ex.net/taxonomia/materialidades/ performativas/antonio-barros-andante/ and https://po-ex.net/ taxonomia/transtextualidades/metatextualidades-autografas/ antonio-barros-andante-designios-para-uma-escultura-social. 31
no chão, junto à peça, um caderno aberto, em branco, sobre o qual lançou uma mão-cheia de letras negras. Um momento performático que reavivou as aglomerações e dispersões das escritas-imagem de Ana Hatherly. Sudoeste é mais um ensaio sobre a portugalidade e a sua identidade em desnorte 34, sugerindo uma cavalgada com a bússola longe dos olhos. Ou a necessidade de buscar um norte dentro de si? Tal como Portugal no seu melhor, BN_Bandeira Nacional avança com factos denunciadores do estado do país, fazendo do desaparecimento dos castelos e quinas um modo de visualizar os dados estatísticos 35. A sequência acaba num quadro negro. O diálogo é em si, etimologicamente, uma situação de comunicação dinâmica entre duas ou mais pessoas, pois a palavra é composta pelo prefixo dia (por meio de, através de) seguido de logos (palavra, discurso, razão). Esta peça, no entanto, coloca lado a lado cinco bonés equipados com auriculares e, consequentemente, isolados uns dos outros. Além disso os espelhos que encimam os bonés, ao refletir quem se aproxima, devolvem a ligação possível, sublinhando a condição individualista. A disposição dos elementos em Diálogos, retoma, significativamente, a das quinas na bandeira 36.
34 | https://po-ex.net/taxonomia/materialidades/tridimensionais/ antonio-barros-sudoeste. 35 | https://po-ex.net/taxonomia/materialidades/planograficas/ antonio-barros-bn-bandeira-nacional. 36 | http://po-ex.net/noticias/performances-e-intervencoes/ dialogos-de-antonio-barros-teatro-alba-aveiro-15-09-a-11-10-2017. 32
Sem Tí_tu_lo is present in ALVORO carrying all this history. In an “experienced visit” to this exhibition António Dantas placed an open blank notebook on the floor, under the piece, and threw a handful of black letters over it. It was a performatic moment that brought to memory the agglomerations and dispersions of Ana Hatherly’s written images. Sudoeste [South-West] is another essay on “portugueseness”, on an identity in disorientation. It suggests a riding where the compass is out of reach, far from the eyes. Or perhaps it proposes the necessity of searching for an inner North?36. Just as Portugal no seu melhor [Portugal at its best], BN_Bandeira Nacional [BN_ National Flag] deals with facts denouncing the state of the country, using the castles and shields of the flag to visualize statistic data37. The sequence ends in a black surface. Etymologically, a dialogue is a situation of dynamic communication between two or more people, as the word is composed of the prefix dia (through, across) and logos (word, reason). Nevertheless, in this piece five caps are placed side by side equipped with headphones, consequently isolated from each other. In addition, the mirrors on the caps reflect whoever comes near, returning every possible connection and intensifying the individualistic condition. The way the elements are organized in Diálogos is, significantly, the same as the shields are displayed in the flag38.
36 | https://po-ex.net/taxonomia/materialidades/tridimensionais/ antonio-barros-sudoeste. 37 | https://po-ex.net/taxonomia/materialidades/planograficas/antonio-barrosbn-bandeira-nacional. 38 | http://po-ex.net/noticias/performances-e-intervencoes/dialogos-deantonio-barros-teatro-alba-aveiro-15-09-a-11-10-2017
Uma cadeira para NN_Vacuidade foi concebida como adereço cénico para a peça de teatro NN-Noite e Nevoeiro, baseada na obra Auschwitz et Aprés de Charlotte Delbo, levada à cena pelo Teatro do Morcego. A peça, isolada desse contexto teatral, vive da força da sua esculturalidade e do seu lado enigmático, das interrogações que levanta. De que serve uma cadeira assente em quatro colheres, tendo no assento dois pratos, um deles voltado ao contrário? Uma peça que é a negação da possibilidade de sentar e de comer. Charlotte Delbo conta uma história de sobrevivência, física, intelectual e afetiva no meio das circunstâncias inumanas do campo de concentração de Auschwitz. Talvez não seja despropositado recordar que esta autora afirmou que cada um dá o seu testemunho consoante as armas de que dispõe e, para ela, a linguagem da poesia é a mais eficaz e a mais perigosa para os inimigos que combate, porque perturba o leitor no mais profundo do si mesmo 37. O fotógrafo Olivier Jobard segue as migrações de refugiados e é um dos seus registos que está na origem de Sandales_Mal de mer, o de um náufrago da emigração clandestina que improvisou umas sandálias com garrafas de plástico. António Barros refaz, transmutando, essas sandálias, acrescenta-lhes as folhas, nivela tudo a negro, dispõe-as como setas partindo em sentidos contrários. Experimenta andar com elas e deixa-nos aceder ao registo através de fotografias intervencionadas. Contraria e intervém.
Uma cadeira para NN_Vacuidade [A chair for NN_Vacuity] was conceived as a prop for the theatrical play NN-Noite e Nevoeiro [NN-Night and Fog], based on Charlotte Delbo’s Auschwitz et Aprés, performed by Teatro do Morcego. Isolated from this theatrical context, the piece lives from the force of its sculpturality and its enigmatic side, as well as from the interrogations it raises. What good is a chair sitting on four spoons and having two dishes on its seat, one of them upside down? This chair denies the possibility of eating or sitting. Charlotte Delbo tells a story of survival, physical, intellectual and affective in the inhuman circumstances of Auschwitz’ concentration camp. In this author’s opinion each one of us testifies with his own weapons, and the language of poetry is the most effective and the most dangerous for the enemies it fights, because it disturbs the reader in his most profound inner self39. The photographer Olivier Jobard follows the migrations of refugees and one of his images is at the origin of Sandales_Mal de mer: a survivor of a shipwreck during a clandestine emigration improvised a pair of sandals made from plastic bottles. António Barros remakes these sandals, adding the leaves disposed like arrows in opposite directions, making everything uniform with a black coat. He walks with them and let us participate in his experience through photographs. Drawing over the photographs is a form of interference both in the original document and in his own register.
Propositadamente não “arrumadas”, em jeito de notas soltas, lembrando a artificialidade das etiquetas em geral, e reclamando para estas que aqui
The last set of works —DePur(o)Ar, Bruma, and J’Existe — is deliberately out of order, like scattered
37 | Claire Schumacher, Charlotte Delbo, le théâtre comme moyen de survie: “Les Hommes” et “Un caprice”, Sens public, 2006/08 (reeditado a 2008/01), p. 3, disponível em http://www.sens-public.org/article313.html?lang=fr, acedido a 5 de abril de 2018.
39 | Claire Schumacher, Charlotte Delbo, le théâtre comme moyen de survie : “Les Hommes” et “Un caprice”, Sens public, 2006/08 (re-edited in 2008/01), p. 3, available from http://www.sens-public.org/article313.html?lang=fr, accessed 5 Abril 2018. 33
utilizamos a condição de etiquetas auto-descolantes, estão as peças DePur(o)Ar, Bruma, e J’Existe. Com DePur(o)Ar, deparamo-nos com um texto visual onde os verbos no imperativo incitam à ação: olha / pensa / solta / sente / vive. A última palavra, o adjetivo “vago”, vem introduzir um qualificativo que é, simultaneamente, indefinido e errante. Na imagem de fundo a claridade da janela, a anunciar, mas também a separar do mundo exterior. Esta peça está presente em Alvoro na sua versão performática gravada em vídeo e o texto é dito em voz-off, em italiano, num tom de litania que em tudo concorda com a repetição da imagem. A bruma é um silêncio branco que esconde, embora não seja opaco. Deixa-se penetrar apenas por quem se arrisca a enfrentar o mistério. Nesta Bruma encena-se uma caminhada circular sem princípio, nem fim, nem saída, com um mote “No fundo do poço procurava o corpo da filha que não nasceu”38. A encerrar a visita um título com valor de testemunho, J’Existe 39, para um vídeo onde a imagem fica parada num pormenor de candeeiro de rua (a luz pressentida). Sobre este pano de fundo duas interferências: o som repetitivo e encantatório do arrulhar de uma rola que não se vê e a inscrição “J’EXISTE.“, assim assertiva, com ponto final e tudo, que, ao apagar parcialmente, revela “JE.” Ou, por outras palavras, um eu que existe / resiste.
38 | https://po-ex.net/antoniobarros/antoniobarros_bruma.pdf e Rui Torres, Densidade endereçada _ um leitura de Coisas_Reais de António Barros, disponível em https://escalanarede.com/2015/06/07/densidade-enderecada-uma-leiturade-coisas_reais-de-antonio-barros, acedido a 5 de abril de 2018. 39 | https://barrosantonio.wordpress.com e https://po-ex.net/exposicoes/exposicoes-individuais/ artitude-01-razao-para-projectos-progestos-tagv-coimbra-18-04-a-15-05-2017. 34
notes, reminding the artificiality of classifications and demanding the status of “self non-adhesive” labels for all the categories we have employed above. DePur(o)Ar is a visual text in which the verbs in the imperative mood incite to action: olha / pensa / solta / sente / vive [look / think / free / feel / live]. The last word, the adjective “vago“[vague] introduces a qualification that is, simultaneously, imprecise and erratic. In the backgroung, light enters through the window suggesting the presence of the outside world, yet the closed curtains separate us from it. This piece is presented in Alvoro also in its performatic version recorded on video. The text is spoken in italian, using voice-off in a litany mode that goes along with the image repetition. The mist is a white silence that conceals, although it is not opaque. Only those who dare to face mistery are able to penetrate it. In this Bruma [mist] a circular walk with no beginning, no end and no way out is staged. There is a point of departure: “At the bottom of the well he was searching for the body of the unborn daughter”40. Closing the visit, a video where the image is focused in a detail of a street lamp (the anticipated light), has a testifying title J’Existe [I exist]41. There are two interferences over this image’s background: the repetitive and incantatory sound of an unseen dove’s cooing and the inscription “J’EXISTE.“. The punctuation mark, a full stop, is rather assertive, and remains as
40 | https://po-ex.net/antoniobarros/antoniobarros_bruma.pdf and Rui Torres, Densidade endereçada _ um leitura de Coisas_Reais de António Barros, available from https://escalanarede.com/2015/06/07/densidade-enderecada-uma-leiturade-coisas_reais-de-antonio-barros, accessed 5 April 2018. 41 | https://barrosantonio.wordpress.com/ and https://po-ex.net/exposicoes/exposicoes-individuais/ artitude-01-razao-para-projectos-progestos-tagv-coimbra-18-04-a-15-05-2017.
A disposição das peças que integraram a exposição ALVORO, decorreu tanto das especificidades do espaço e condicionamentos de iluminação quanto das relações formais e dialógicas que as peças estabeleciam entre si. O resultado foi uma cenografia onde os vazios — enquanto espaços de circulação, de respiração e de ligação — permitiam destacar os trabalhos e sugerir percursos. É curiosa, por exemplo, a triangulação nascida entre as obras de maior dimensão: a horizontalidade de Frame, a verticalidade/obliquidade de Valsamar, e a circularidade de Bruma. Ou ainda como são impressivas, ao deambularmos pela sala, as sobreposições que se geram entre peças de forte enraizamento insular como Valsamar, Basalto_uma arma de fogo e aL(a)ma. Qualquer que seja o processo utilizado, há nas obras de António Barros uma indestrinçável relação entre o ver e o pensar e uma procura de exatidão e eficácia na form(ul)a. Aquilo que afirmámos em relação à cor, aplica-se aos restantes elementos formais: uma forte carga simbólica do objeto ou outro elemento apresentado em imagem, uma redução das peças ao essencial e uma densidade eloquente mas silenciosa. Há que evidenciar a consistência do seu percurso, que é o modo de ser/ter uma voz. Algo de pessoal e intransmissível, que cabe a cada um ir trabalhando até à eficácia. Uma caminhada solitária, por força da insularidade do corpo, que a partilha torna solidária. Os trabalhos de António Barros, dado a sua natureza dinâmica, oferecem-se em aberto, com possibilidade de acrescentos e soluções alternativas. Uma disponibilidade que é também um convite à nossa intervenção, a uma forma de experiência que é, paradoxalmente, a de mergulhar na primeira impressão e a de voltar a ela repetidamente sob novos ângulos ou com novos dados. Relembramos algumas observações de Almada Negreiros a propósito da
the letters partially vanish, leaving merely the final formula “JE.”. In other words, I exist/resist. The way the works were displayed in the exhibition ALVORO was a consequence both from space and lighting requirements and from the formal and dialogical relationships between them. The result was a scenic space were some emptiness, essential for circulation and breathing, allowed to highlight the pieces and to suggest circuits. For exemple, a triangulation occured between the bigger pieces: the horizontality of Frame, the verticality/obliquity of Valsamar and the circularity Bruma. Also, wandering in the main room, we detect impressive imbrications between the pieces most strongly related to the Island: Valsamar, Basalto_uma arma de fogo and aL(a)ma. Regardless the process he uses, in António Barros’ work there is a close relashionship between sight and thought, added to the search for accuracy and efficiency in the form(ula). What we have mentioned above about colour applies to the other formal elements: a strong symbolic charge of objects and images, a reduction to the essential and a silent, yet eloquent, density. It is important to highlight the consistency of his practice, his personal and not interchangeable way to be/have a voice. This is a solitary walk, by virtue of the insularity inherent of having a body, but it can turn into solidary through sharing. António Barros’ work, due to his dynamic nature, allows additions and alternative solutions, like an open text. This characteristic invites us to participate, offers a form of experience that combines, paradoxically, indulging ourselves in the first impression and, afterwards, coming back to it repeatedly, under new angles and with new knowledge. Almada Negreiros wrote about the exhibition of Amadeo de Souza-Cardoso’s paintings, at Liga Naval, in 1916: “(…) tomorrow, when you will realize that the quality of Amadeo de Souza-Cardoso is the one 35
Exposição de Amadeo de Souza-Cardoso na Liga Naval, em 1916: “(…) ámanhã, quando soubéres que o valor de Amadeo de Souza-Cardoso é o que te digo aqui, terás remorsos de não o têres sabido hontem. Portanto, começa lá hoje, vae à Exposição na Liga Naval de Lisboa, tápa os ouvidos, deixa correr os olhos e diz lá que a Vida não é assim?”40. Assim, segundo Almada, ao tapar os ouvidos, ou seja, ao isolar-se de comentários e distrações para deixar correr os olhos, o que ressalta dos quadros é então a própria vida. Esta inseparabilidade entre a arte e a vida é uma pedra de toque para a abordagem do trabalho de António Barros, onde o quotidiano se mescla com referências poéticas, filosóficas, sociológicas, num labor de lenta decantação. Almada prossegue com uma advertência e uma promessa: “Não esperes, porém, que os quadros venham ter contigo, não! Elles têm um prégo atraz a prendê-los. Tu é que irás ter com eles. Isto leva 30 dias, 2 meses, 1 anno, mas se tem prazo, vale a pena sêres persistente porque depois saberás também onde está a Felicidade”41. O aviso lembra-nos que ver exige tempo, um tempo indeterminado, pois é também uma forma de decantação. Quanto à promessa de felicidade decerto não se referia a uma qualquer alegria passageira, mas à fulguração de um encontro que é tanto com o outro quanto connosco próprios, já que aprender a ver é um processo de descoberta, como notava Rilke: “Aprendo a ver. Não sei porquê tudo penetra mais fundo em mim e não pára no lugar onde até agora acabava sempre. Tenho um interior de que não sabia. Tudo lá vai dar agora. Não sei o que ali acontece.”42 E esses encontros encontram eco 40 | Folheto / manifesto de José de Almada Negreiros, integrado no catálogo da Exposição Amadeo de Souza Cardoso. Liga Naval de Lisboa, 1016, in Amadeo de Souza Cardozo. Fotobiografia, Fundação Calouste Gulbenkian /Assírio e Alvim, 2007, p. 248. 41 | Ibidem. 42 | R. M. Rilke, Os Cadernos de Malte Laurids Brigge, 3ª ed. Porto, O oiro do dia, 1983, p. 30. 36
I say to you today, you’ll regret not having been able to know it yesterday. So, begin right away, go to the exhibition at Liga Naval de Lisboa, cover your ears, let your eyes run and tell me, isn’t life just like that?”42. According to Almada when we close our ears, isolating from distractions, to let the eyes run freely, what comes out of the paintings is life itself. This inseparability between art and life is crucial to approach António Barros’ work, where daily life interlaces with poetical, philosophical and sociological references, in a slow sedimentation process. Almada proceeds with a warning and a promise: “Don’t expect, however, that the paintings come to you! They are hanging by a nail. It is you who have to go to them. This takes 30 days, 2 months, 1 year, but if it takes timetime, it’s worth persevering because then you’ll know where happyness is”43. The warning reminds us that seeing demands time, an undetermined time, as it is also a form of sedimentation. The promise of happyness is no passing joy, but the radiance of an encounter with the Other as with the Self, considering that learning to see is a discovey process, as Rilke refered: “I’m learning to see. I don’t know what it’s about, but everything is registering in me at a deeper level and doesn’t stop where it used to. There’s a place within me that I wasn’t aware of. What’s going on there I don’t know”44. And these encounters echoes in us because “It is necessary — and toward this point our development will move, little by little — that nothing alien happen to us, but only what has long been our own”45.
42 | Manifest of José de Almada Negreiros, included in Amadeo de Souza Cardoso.’s exhibition in Liga Naval de Lisboa, 1916, in Amadeo de Souza Cardozo. Fotobiografia, Fundação Calouste Gulbenkian /Assírio e Alvim, 2007, p. 248. 43 | Ibidem. 44 | R. M. Rilke, The notebooks of Malte Laurids Brigge, translated from the German by William Needham, available from https://archive.org/stream/ TheNotebooksOfMalteLauridsBrigge/TheNotebooksOfMalteLauridsBrigge_djvu.txt ,accessed 5 April 2018. 45 | R. M. Rilke, Letters to a Young POet, Letter VIII, translated from the German by Stephen Mitchell, available from http://www.carrothers.com/rilke8.htm, accessed 5 April 2018.
em nós porque “É preciso — e é nisto que consiste a nossa evolução — que nunca encontremos nada que não nos pertença há já muito tempo”43. Alvoro, esse verbo na primeira pessoa do singular que carrega da sua etimologia a claridade matinal, é um imprevisível recomeço onde cada obra é uma cápsula passível de ir libertando múltiplas leituras. Esta que aqui propomos será apenas uma de muitas, pois também as leituras são momentos, excertos de uma convivência passível sempre de aprofundamentos e derivas, ou não estivéssemos perante o fluir da existência. O que nos remete para Vostell quando afirma que expor é colocar o problema da vida através da arte.
The word Alvoro carries in its etymology the morning light, is an impredictable resurgence where every work is a capsule continously releasing multiple readings. This is merely one of many, as interpretations are moments, excerpts of a companionship that can always deepen or diverge, like the flow of existence. Whats brings us back to Wolf Vostell when he declares that exhibiting artworks is putting the problem of life through art.
43 | R. M. Rilke, Cartas a um jovem poeta, Lisboa, Contexto, 1991, p. 70. 37
Bibliografia específica sobre as mostras de António Barros realizadas na Madeira / Specific bibliography on António Barros’s exhibitions held in Madeira SANTA CLARA, Isabel e MAGALHÃES, Vítor, Horizonte Móvel. Uma perspectiva sobre as artes plásticas na Madeira —19602008, Funchal, Museu de Arte Contemporânea do Funchal, Funchal 500 Anos, 2008. SANTA CLARA, Isabel, “A expressão do espaço insular na produção artística contemporânea da Madeira”, Congresso Internacional As Ilhas do Mundo, Anuário nº 2, Funchal, Centro de Estudos de História do Atlântico / Secretaria Regional de Turismo e Cultura, 2010, pp. 212-226.
Entrevista dada a Tiago Góes Ferreira por António Barros, RTP_M, programa “Madeira à Vista”, episódio 9, transmitido a 12-9-2016, disponível em [António Barros’s interview given to Tiago Góes Ferreira, program “Madeira à Vista”, episode 9, broadcasted at 12-9-2016, https://www.rtp.pt/play/p2567/ e253868/madeiravista2016, acedido a [accessed] 2-4-2018. Entrevista dada a Victor Hugo por António Barros, [António Barros’s interview given to Victor Hugo], Diário de Notícias, 15-12-2017, p. 30.
Outros recursos electrónicos / Other electronic resources http://lonarte11.blogspot.pt/
SANTA CLARA, Isabel, “Objectos e palavras na obra de António Barros”, Dedalus, nº 14-15, 2010-2011, Lisboa, Cosmos, pp. 297-311.
http://www.galeriadosprazeres.pt/?page_id=582
SANTA CLARA, Isabel, “Objetos falantes” in Uma luva na língua (antologia de textos sobre a obra de António Barros, no prelo / anthology of texs about António Barros’ work, to be published).
https://po-ex.net/tag/sobre-antonio-barros/
https://barrosantonio.wordpress.com/ https://po-ex.net/tag/antonio-barros/
Entrevistas / Interviews Entrevista dada a Helena Osório por António Barros [António Barros’s interview given to Helena Osório], ARTECAPITAL. Magazine de arte contemporânea, disponível em [available from] https://www.artecapital.net/entrevista-231-antoniobarros, acedido a [accessed] 2-4-2018. Entrevista dada a Luís Tranquada por António Barros por ocasião da Lonarte, disponível em [António Barros’s interview given to Luís Tranquada on the occasion of Lonarte, available from], http://aprenderamadeira.net/ antonio-barros-entrevista-lonarte/ e em [and from] https:// www.youtube.com/watch?v=cb8MjUIMtAY, acedido a [accessed] 2-4-2018. Entrevista dada a Susana Figueiredo por António Barros, [António Barros’s interview given to Susana Figueiredo], Jornal da Madeira, 4-12-2017, pp. 28, 29.
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39
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Frame_Porto Santo
Valsamar
aL(a)ma
Do Vulcânico PaLavrador
Vulcânico PaLavrador
Dos passos sem volta
AH_LiHonorAna
Bruma
Retrato de Zygmunt Bauman
Uma cadeira para NN_Vacuidade
Sandales_Mal de mer
reMate
Lรกstima
Lástima
River “River é uma peça guestáltica. Parte do que Cage convoca em 4’ 33” - uma busca de, em silêncio, colher o som ambiente e o envolvente de si. [...] A leitura em “River” é convulsiva como toda a agonia. O som do lugar denuncia a utopia do silêncio ancorada ao querer de Cage. Os remadores, ao fundo, fogem para lugar nenhum. Todo um retrato do tempo num país amargurado pela queda. Esse que deixa morrer de fome os seus melhores autores. Esta oração enunciada ao Jorge fez viver, a seu tempo, uma serenidade transportada para o lugar como que ele estivesse ali, [...] colhendo a queda do sol. Oferecendo o negro da noite para um silêncio outro. A devolução. E o tributo. Todo um legado frio. A rever o “Silêncio”. E o que ele enuncia. [...]” AB. http://po-ex.net/taxonomia/transtextualidades/ metatextualidades-autografas/antonio-barros-river-leitura
“River is a Gestalt work. Part of what Cage summons in 4’33” - a search to silently collect the ambience sounds and surround. [...] The reading in “River” is convulsive like all the agony. The sound of the place denounces the utopia of the silence anchored to Cage’s will. The rowers, in the background, run off to nowhere. In its fullness a picture of time in a country embittered by its own fall, the same that lets his best authors starve to death. This enounced prayer for Jorge makes live, in its own time, a transposed serenity to the place as if he were there, [...] harvesting the fall of the sun. Offering the dark night to a silent other, the return, the tribute, withal a cold legacy to review the “Silence”. And what he states. [...]“AB
A obra foi editada na Revista TriploV de Artes, Religiões e Ciências, “Homenagem a Jorge Lima Barreto”, Organização de António Barros, Lisboa, 2014.
Work published in the TriploV Magazine of Arts, Religions and Sciences, “Homage to Jorge Lima Barreto”, organized by António Barros, Lisbon, 2014.
Teve apresentação em Oratória na Capela de São Caetano, Solar dos Condes de Vinhais, 1ª Bienal “Jorge Lima Barreto - Arte é Vida e Vida é Arte!”, Vinhais, 2014 e na 19ª Bienal de Cerveira, em 2017.
Presented in Oratory on the Chapel of São Caetano, Solar dos Condes de Vinhais, 1st Biennial “Jorge Lima Barreto – Arte é Vida e Vida é Arte!”, Vinhais, 2014 and at the 19th Biennial de Cerveira in 2017.
Texto - Portugal, essa vã ilusão, por Rui Torres.
Article - Portugal, essa vã ilusão, by Rui Torres.
http://po-ex.net/taxonomia/materialidades/planograficas/ antonio-barros-portugal-no-seu-melhor.
http://po-ex.net/taxonomia/transtextualidades/ metatextualidades-alografas/rui-torres-portugal-essa-va-ilusao-sobreportugal-no-seu-melhor-de-antonio-barros.
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[Em artitude, esta obra foi endereçada à Assembleia da República aquando das comemorações dos 40 anos da Revolução de Abril] http://po-ex.net/taxonomia/materialidades/planograficas/ antonio-barros-lastima.
Texts: Pens(ã)o C(r)avo | p[ortugal] p[ensionista] | p_reza | p_pato | p_residente | P_lava | Luso_uso | sal_p| p_átria| cansar o aço| duro_dito| mágoa | Prego | aodeusdará | Penar | Pesar | Desencanto | Um rito | Passa | Posa | m_urro | Odiento | Sem voz | Tece | Apagar a hora | Pressão | Conforme | na_dar | caso raso | família | da_nada | a_fundação | Esquecer | outro ouro | de pé | cedo | luar | como dantes | ceder | ar [In artitude, this piece was addressed to the Assembly of the Republic during the commemorations of the 40th anniversary of the April Revolution] http://po-ex.net/taxonomia/materialidades/planograficas/ antonio-barros-lastima.
http://po-ex.net/taxonomia/transtextualidades/ metatextualidades-autografas/antonio-barros-river-leitura
Portugal no seu melhor
http://triplov.com/revistaTriplov/elegia-a-jorge-lima-barreto.
Textos: Pens(ã)o C(r)avo | p[ortugal] p[ensionista] | p_reza | p_pato | p_residente | P_lava | Luso_uso | sal_p| p_átria| cansar o aço| duro_dito| mágoa | Prego | aodeusdará | Penar | Pesar | Desencanto | Um rito | Passa | Posa | m_urro | Odiento | Sem voz | Tece | Apagar a hora | Pressão | Conforme | na_ dar | caso raso | família | da_nada | a_fundação | Esquecer | outro ouro | de pé | cedo | luar | como dantes | ceder | ar
http://triplov.com/revistaTriplov/elegia-a-jorge-lima-barreto.
http://po-ex.net/taxonomia/materialidades/planograficas/ antonio-barros-portugal-no-seu-melhor.
BN_Bandeira Nacional Breves comentários na moldura de “BN_Bandeira Nacional”: “Da série gráfica em que António Barros se inquieta com o país. Excelente”. Francisco Amaral [Director de ESEC-TV] “... Os trabalhos [de António Barros são] como setas: formas depuradas diretas ao alvo”. Isabel Santa-Clara [Professora da Universidade da Madeira]. http://po-ex.net/taxonomia/materialidades/planograficas/ antonio-barros-bn-bandeira-nacional.
Brief comments to “BN_Bandeira Nacional” “Graphic series in which António Barros is disquiet with the country. Excellent.” Francisco Amaral [Director of ESEC-TV] “... The works [by António Barros are] like arrows: purified forms direct to the target. “Isabel Santa-Clara [Professor of the University of Madeira]. http://po-ex.net/taxonomia/materialidades/planograficas/antoniobarros-bn-bandeira-nacional .
http://po-ex.net/taxonomia/transtextualidades/ metatextualidades-alografas/rui-torres-portugal-essa-va-ilusao-sobreportugal-no-seu-melhor-de-antonio-barros.
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Vulcânico PaLavrador [Era à mesa que António Aragão fabricava pela noite dentro a sua contaminante oratória no Funchal dos anos 60-70. Estes nove pratos negros espelham uma leitura da memória, numa procura de um pretenso projecto memorial. AB, 2015, Coimbra.]
[It was at the table, in the evening, that Antonio Aragão produced his contaminating oratory from the 60s and 70s (Funchal). These nine black plates mirrors a reading of memory, in search of an alleged memorial project. AB, 2015, Coimbra.]
#1/9:”Vulcão olhando o prato”, 2015, António Barros. À memória do vulcânico Palavrador António Aragão. #2/9:”Queimado pela lava do vulcão”, 2015, António Barros. À memória do Poeta e Dramaturgo António Aragão. #3/9:”Arrefeceu a lava, tomando a forma do prato”, 2015, António Barros. À memória do PaLavrador de Palavra(s) António Aragão. #4/9: “Palavra. De tanto dita”, 2015, António Barros. À memória do pensador António Aragão afogado na sua lucidez. #5/9:”ditaDor”, 2015, António Barros. À memória do (d)enunciador António Aragão. #6/9: “Arte é quando a LUcideZ trava a loucura”, 2015, António Barros. À memória de António Aragão, um arejador da Arte. #7/9: “Discussão rizível”, 2015, António Barros. À memória da sempre mestria de humor de António Aragão. #8/9:”Sem palavra(s)”, 2015, António Barros. À memória do convulsivo António Aragão. #9/9:”Palavra d’ ordem”, 2015, António Barros. À memória do vertical poeta António Aragão.
#1/9:”Vulcão olhando o prato”, 2015, António Barros. In memory of António Aragão, vulcânico Palavrador. #2/9:”Queimado pela lava do vulcão”, 2015, António Barros. In memory of António Aragão , the Poet and dramaturgist. #3/9:”Arrefeceu a lava, tomando a forma do prato”, 2015, António Barros. In memory of António Aragão the PaLavrador de Palavra(s). #4/9: “Palavra. De tanto dita”, 2015, António Barros. In memory of António Aragão the thinker drowned in his own lucidity. #5/9:”ditaDor”, 2015, António Barros. In memory of António Aragão, the (d)enunciador. #6/9: “Arte é quando a LUcideZ trava a loucura”, 2015, António Barros. In memory of António Aragão, the art aerator. #7/9: “Discussão rizível”, 2015, António Barros. In memory of the masterful sense of humor of António Aragão. #8/9:”Sem palavra(s)”, 2015, António Barros. In memory of António Aragão, the convulsive. #9/9:”Palavra d’ ordem”, 2015, António Barros. In memory of António Aragão, the vertical poet.
http://po-ex.net/taxonomia/materialidades/planograficas/ antonio-barros-vulcanico-palavrador.
http://po-ex.net/taxonomia/materialidades/planograficas/ antonio-barros-vulcanico-palavrador.
“J’Existe” Comentários a “J’Existe”: “... estes pequenos registos, breves, contidos, depurados pelo crisol da repetição, são para mim muito significantes na sua aparente insignificância. Revelam-me essa discreta sensibilidade identitária que faz reconhecer algumas excelentes obras e o seus autores.” (António Dantas, 5 maio 2017)
Comments to “J’Existe”: “...these small, brief, contained records, purified by the crucible of repetition, are to me very significant in their apparent insignificance. They reveal that discreet sensitivity of identity that makes one recognize some excellent works and their authors.” (António Dantas, 5 maio 2017)
“Num tempo veloz de scroll down nas intermitências da atenção dispersa, este é o verdadeiro post(e) na rede social! Essa rua como rede sem rede. Aprecio a repescagem dos materiais nos seus contextos redefinidos. Agrada-me o gesto de cruzamento dos sítios de onde vêm. J’existe. Je. E para onde vão? Vamos? J’existe. Je. Résiste. “Je resiste donc J’existe”.” (Bruno Ministro, 5 maio 2017)
“In these quick times of scroll down in the intermittencies of scattered attention, this is the real post (e) on the social network! This street as a network without a network. I appreciate the recap of materials in their redefined contexts. I like the gesture of crossing the places from which they come. “J’existe. Je”. And where will they go? Let’s go? “J’existe. Je. Résiste”. “Je resiste donc J’existe”.” (Bruno Ministro, may 5, 2017)
“Bem ao jeito do espírito de revolta das tribos urbanas, o assumir do nada em particular é o destino de alguns graffiti tais como “Eu existo” ou “Eu vivo aqui” quando, sem qualquer sentido para a vida, ausentes, apagados ou distraídos e enfraquecidos, sobretudo, desconectados e sem significação, entramos no domínio da indiferença: “Daí nascem todas as nossas paixões contemporâneas, paixões sem objecto, paixões negativas, todas nascidas da indiferença, todas construídas sobre um outro virtual, na ausência de objecto real, e portanto voltadas a cristalizar de preferência seja o que for.” * Ora, contrariando essa indiferença - apenas exteriorizada através de um agir, de um acting-out que se afirma na virulência inerente à desafeição - e resistindo ao sistema – hábil em assimilar os elementos negativos como os conflitos ou os erros -, à indiferença, António Barros responde com poesia, num grito sussurrante e libertador que escapa ao destino das paixões negativas, que culminam no ódio e, consequentemente, no medo. Contra a perfeição do sistema, a resistência ao medo, a esperança. “J’existe” . O canto (das rolas), resiste! [* Jean Baudrillard (1995). O Crime Perfeito. Relógio D’Água Editores, Lisboa, 1996, p. 182.] (Margarida Amaro, 7 Maio 2017).
“in the spirit of a urban tribe revolution, taking on nothing in particular, is the fate of some graffiti such as” I exist “or” I live here” when, without any meaning for life, missing, erased or distracted and weakened, above all disconnected and without meaning, we enter into the realm of indifference: “Hence arise all our contemporary passions, passions without object, negative passions, all born of indifference, all built on a virtual other, and therefore aimed at crystallizing, whatever it may be. “* Contrary to this indifference - only externalized through an act, an act of selfaffirmation in the inherent virulence of disaffection - and resisting the system - able to assimilate the negative elements such as conflicts or errors -, to the indifference, Antonio Barros replays with poetry, in a whispering and liberating cry that escapes the destiny of the negative passions, culminating in hatred and hence the fear. Against the perfection of the system, resistance to fear, hope. “J’existe”. The song (of the doves), resists! [* Jean Baudrillard (1995). O Crime Perfeito. Relógio D’Água Editotions, Lisboa, 1996, p. 182.] (Margarida Amaro, May 7, 2017). http://po-ex.net/exposicoes/exposicoes-individuais/artitude-01-razaopara-projectos-progestos-tagv-coimbra-18-04-a-15-05-2017.
http://po-ex.net/exposicoes/exposicoes-individuais/artitude-01-razaopara-projectos-progestos-tagv-coimbra-18-04-a-15-05-2017. 64
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DePur(o)Ar Fifth Free International Forum 2015 [‘Piantagione Paradise’, Joseph Beuys], Bolognano, Pescara, Itália. [Texto Visual: António Barros | Voz: Rita Cimino | Edição vídeo: Augusta Villalobos; Henrique Patrício]. [O movimento das pálpebras dá, no mago vértice da condição de si, o ritmo obturador galvanizado pelo olhar. Este resolve-se entre a luz e a luminescência (Bachelard). A cortina do lugar claro é o gerador da palavra dita. A imagem convoca a evocação do ser vago. Na bainha do vento há um desenho d’ alma. Convulso. Uma visitação do espírito. Um polter geist redentor. AB, 2015.] “DePur(o)Ar”, versão ‘light’, teve apresentação física urbana em Coimbra e Barcelona na operação artística internacional: TRANS[acto] #01, 2015 [International Year of Light and Light-band Technologies]. “DePur(o)Ar” convoca ainda “Apokatastasis”, 1985 (António Barros, Artitude:01; José Louro, José Troya [Living Theatre], Rui Mendes, Silvestre Pestana), operação fundadora, em Coimbra, da urban life art [outdoor light performance] realizada, como suporte, no alçado principal do CAPC - Ars moriendi ao criador do Living Theatre, Julian Beck (1925-1985) aquando da sua morte durante as filmagens em “Poltergeist”, 1985, New York [polter - irreverente, geist - espírito; na parapsicologia: Recurrent Spontaneous Psychokinesis] para Steven Spielberg. “DePur(o)Ar”, no manifesto residente em TRANS[acto] #01_Coimbra, resulta também gesto evocativo da vida e obra de Julian Beck que, com Judith Malina e o Living Theatre, em 1977, na, e com a comunidade artística do CAPC, criou uma performativa escultura social, vivenciação na senda ginsberguiana, realizada aquando a apresentação no Paço das Escolas da Universidade de Coimbra da peça “Sete Meditações sobre o Sadomasoquismo Político” (numa extensão da iniciativa “Alternativa Zero” de Ernesto de Sousa). http://po-ex.net/taxonomia/transtextualidades/ metatextualidades-autografas/antonio-barros-depur-o-ar. http://po-ex.net/taxonomia/materialidades/tridimensionais/ antonio-barros-depuroar.
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Fifth Free International Forum 2015 [‘Piantagione Paradise’, Joseph Beuys], Bolognano, Pescara, Itália. [Visual poem: António Barros | Voice: Rita Cimino | Vídeo Edition: Augusta Villalobos; Henrique Patrício]. [The movement of the eyelids gives, to the magician vertex for the condition of one self, the rhythm is a shutter galvanized by the look, solved between light and luminescence (Bachelard). The curtain is the clear place for generating the word that is said. The image summons the evocation of the vague being. In the sheath of the wind there is a drawing of the soul. Convulsive. The visitation of the spirit. The poltergeist redeemer. AB, 2015.] “DePur(o)Ar”, ‘light’ version, had urban presentation in Coimbra and in Barcelona in the international artistic event: TRANS[acto] #01, 2015 [International Year of Light and Light-band Technologies]. “DePur(o)Ar” evokes “Apokatastasis”, 1985 (António Barros, Artitude:01; José Louro, José Troya [Living Theatre], Rui Mendes, Silvestre Pestana), founded in Coimbra, from the urban life art [outdoor light performance] built as a support for the main elevation of CAPC - Ars moriendi to the creator of the Living Theatre, Julian Beck (1925-1985) at the time of his death during the filming of “Poltergeist”, 1985, New York [polter - irreverent, geist - spirit; in parapsychology: Recurrent Spontaneous Psychokinesis] for Steven Spielberg. “DePur(o)Ar”, in the manifest residing in TRANS[acto] #01_Coimbra, is an evocative gesture of the life and work of Julian Beck, who, with Judith Malina and the Living Theater in 1977, and the artistic community of the CAPC, created a performative social sculpture, living on the ginsberguian path, realized during the presentation in the “Seven Meditations on Political Sadomasochism” (in an extension of the “Zero Alternative” initiative by Ernesto de Sousa). http://po-ex.net/taxonomia/transtextualidades/ metatextualidades-autografas/antonio-barros-depur-o-ar. http://po-ex.net/taxonomia/materialidades/tridimensionais/ antonio-barros-depuroar.
MUDAS.Museu de Arte Contemporânea da Madeira
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ALVORO_o caminhar ALVORO_the path Augusta Villalobos1
Em1 ALVORO, concebendo a exposição num espírito gregário, dialogante, António Barros abre o seu atelier, convidando à partilha. À comunhão. Em ágora. Contrariando a tendência a apenas pensarmos e observarmos o produto2, presenteia-nos com obgestos e progestos em constante fluxo de criação e devir. Peças vivas, que convivem, interflorescem, interpelam e desafiam. Contando histórias. Escutando histórias. Lendo. Escrevendo. Poetando.
In ALVORO, conceiving the exhibition in a gregarious and dialogical spirit, António Barros opens his atelier, inviting to the shared experience. Communion. Agora. In an atempt to fight the tendency to think and observe only the product2, he offers us obgestos (obgestures) and progestos (progestures) in a constant flow of creation and becoming. Living pieces, that coexist, interflourish, heckle and challenge. Telling stories. Listening to stories. Reading. Writing. Poeting.
Integrando influências do movimento Fluxus, é arte indissociável da Vida. E logo, em estreita ligação com o Lugar. Lugares de Vivenciação. Fruição. Criação. Em espiral consequente.
Integrating influences from the Fluxus movement, his art is inseparable from Life. In close connection with the Place. Places of Experience. Fruition. Creation. In a consequential spiral.
1 | Para esta breve ilustração e legendagem do processo e colateralidades de ALVORO foram convocadas palavras e ideias do próprio artista e de alguns dos seus principais referentes. 2 | Novalis, Fragmentos.
1 | For this brief illustration and subtitling of the process and collateral effects of ALVORO were summoned words and ideas of the artist himself, as well as some of his main references. 2 | Novalis, Fragments.
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Alvoro, Jardines de Joan Brossa, Barcelona
Alvoro Floresta, Prazeres Ilha da Madeira
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No lugar MUDAS.Museu de Arte Contemporânea da Madeira, a arquitetura convida a contemplar, antes de mais, a natureza envolvente. A natureza apazigua pela contemplação. Inspira e faz-se exaltar. Mas também ‘se exalta’, particularmente nesta geografia. E ‘nunca perdoa’.
In the place MUDAS.Museum of Contemporary Art of Madeira, architecture invites to contemplate, first of all, the surrounding nature. Nature appeases by contemplation. It inspires and makes itself be exalted. But it also ‘crosses the line’, particularly in this geography. And ‘never forgives.’
ALVORO elogia a identidade resiliente que vence esses constrangimentos, resolvendo perdas e lutos, recomeçando e renovando-se sucessivamente. Assim, Valsamar veio a incorporar urze queimada por incêndios, que foi resgatada à floresta próxima e alcançou, neste objeto-livro e no espaço do museu, elevação e sacralização. Alvoro.
ALVORO praises the resilient identity that overcomes these constraints, solving losses and mournings, restarting and renewing itself successively. Thus, Valsamar incorporated heather burned by fires, which was rescued from the nearby forest and reached, in this object-book and in the museum, elevation and sacralization. Alvoro.
Intervenção realizada em sinergia, colegialidade. Geradora.
This intervention was performed in synergy, collegiality. Generator.
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ALVORO, almejando a que um espírito por instinto — um espírito natural — se torne um espírito da razão, feito de consciência e através da arte. (A Natureza deve tornar-se arte, e a arte uma segunda Natureza.)3.
Alvoro, striving for a spirit by instinct — a natural spirit — to become a spirit of reason, made of consciousness and through art. (Nature must become art, and art a second nature.)3.
Terreno e percurso de aprendizagem. Elevação. Lembrando que o artista é um educador4.
Place and path of learning. Elevating. Remembering that the artist is an educator4.
Em visitações vivenciadas a ALVORO, evidenciam-se a fecundidade e o caráter de tarefa aberta das peças. Na consciência de que para construir a obra de arte, há que trabalhar o símbolo, o jogo e a festa5.
In experienced visitations of Alvoro, the fecundity and the open task character of the works are evident. In the awareness that to build the work of art, we must integrate symbol, play and party5.
3 | Novalis, Fragmentos. 4 | Nas palavras de Wolf Vostell. 5 | Hans-Georg Gadamer.
3 | Novalis, Fragments. 4 | In the words of Wolf Vostell. 5 | Hans-Georg Gadamer.
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Contemporaneamente a ALVORO, António Barros retoma Uma lágrima entre dois olhos6 [Há Levadas na Ilha da Madeira, abandonadas, secas, não cumprindo hoje a sua função. UrGente a candidatura das Levadas da Madeira a Património Mundial da Humanidade]. Artitude publicada em plataformas sociais (2017-2018), jornais locais e Agenda Cultural, Madeira (fevereiro 2018).
Contemporaneously with ALVORO, António Barros resumes Uma lágrima entre dois olhos6 — A tear between two eyes — [There are Levadas on Madeira Island, that are abandoned, dry, not fulfilling their function today. It is URGENT the candidacy of the Madeira’s Levadas to UNESCO World Heritage Site]. This Artitude was published on social platforms (2017-2018), local newspapers and Cultural Agenda, Madeira (February 2018).
ALVORO a (querer) alvorar. Sempre.
ALVORO, (wishing) a new dawn. Always.
6 | A partir de fotografia publicada por Raimundo Quintal.
6 | From a photograph published by Raimundo Quintal.
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Frame_Porto Santo, 2003, 2017 Escultura_instalação Barco em poliéster, parafina sólida, vaselina sólida, tapete com impressão de frame, fonte de luz Coleção do MUDAS.Museu de Arte Contemporânea da Madeira Sculpture_installation - Polyester boat, paraffin wax, solid petroleum jelly, printed carped of a frame, light source. MUDAS. Contemporary Art Museum - Madeira Valsamar, 2010, 2017 Escultura_instalação Ferro, fotografia, areia basáltica, água, urze queimada por incêndio florestal em 2016, resgatada nos Prazeres em 2017 Coleção do MUDAS.Museu de Arte Contemporânea da Madeira Sculpture_installation - Iron, photography, basaltic sand, water, heather burned by forest fire in 2016 and rescued in the Prazeres in 2017 MUDAS. Contemporary Art Museum - Madeira aL(a)ma, 2010, 2017 Obgestos Fotografia, materiais vivenciados Obgestos Photograph, experienced materials Basalto_uma arma de fogo, 2017 Texto visual, Fotografia Visual text, Photograph Ora_Ora, 2010 Obgesto Collage Materiais vivenciados Obgesto Collage Experienced materials Do Vulcânico PaLavrador, 2017 Obgesto, Artitude Materiais vivenciados, pincéis, ramo de Actinidia deliciosa Obgesto, Artitude Experienced materials, brushes, branch of Actinidia Deliciosa
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Vulcânico PaLavrador, 2015, 2017 Versão videográfica da obra visual Vulcânico PaLavrador, 2015. [Edição vídeo: Augusta Villalobos, 2017] Videograpic version of the visual poem Vulcânico PaLavrador, 2015. Video edition: Augusta Villalobos, 2017 Dos passos sem volta, 2014 Obgesto, Artitude Materiais vivenciados, fonte de luz Obgesto, Artitude Experienced materials, light source AH_LiHonorAna, 2016, 2017 Obgesto, Artitude Materiais vivenciados, fonte de luz Obgesto, Artitude Experienced materials, light source Retrato de Zygmunt Bauman, 2016, 2017 Obgesto, Artitude Materiais vivenciados, tubo, junções Obgesto, Artitude Experienced materials, pipe and joints reMate, 2005 Obgesto Collage: taco de golfe, modelo de flor de Zantedeschia aethiopica Obgesto Collage: golf club, flower model of a Zantedeschia Aethiopica R I V E R, Telectu Collective “Video Garden XXI” Tributo a Jorge Lima Barreto MusicBox Lisboa - 11 Maio 2012 [com Augusta Villalobos]. Telectu Collective “Video Garden XXI” Tribute to Jorge Lima Barreto MusicBox Lisboa - 11 May 2012 [with Augusta Villalobos]
Portugal no seu melhor, 2013, 2014 , 2015 Versão videográfica da obra visual Portugal no seu melhor , dedicada a Jorge Lima Barreto e integrando a coleção da Fundação Bienal de Arte de Cerveira desde 2017. [Edição vídeo: Henrique Patrício, 2017] Videograpic version of Portugal no seu melhor, dedicated to Jorge Lima Barreto. Part of the collection of Fundação Bienal de Arte de Cerveira since 2017. [Video edition: Henrique Patrício, 2017] Lástima, 2014 Versão videográfica da obra visual Lástima | Variações em torno da letra P sobre um cravo, 40 anos depois; Objecto-Livro, Pautizações performativas, 2014 | Onde lê a solitária letra P, pode ler: pátria; pobre; portugal. Videograpic version of the visual poem Lástima | Variations of letter P over a carnation, 40 years later; Object-book, Performative notations, 2014 | The lonely P can be read as: pátria [homeland]: poor; portugal. Sem Tí_tu_lo, 2017 Obgesto, Artitude Revisitação da peça POEX Materiais vivenciados Obgesto, Artitude. Revisitation of POEX work Experienced materials Sudoeste, 2012 Collage Toque, bússola Collage Riding helmet, compass BN_Bandeira Nacional, 2014, 2017 Versão videográfica da obra visual BN_Bandeira Nacional [Estudo de requalificação], 2014. [Edição vídeo: Augusta Villalobos, 2017] Obra, capa da Revista de Artes e Ideias, Alma Azul, #10, Coimbra, 2014 Videograpic version of the visual poem BN_Bandeira Nacional (Study for a requalification), 2014 Video edition: Augusta Villalobos, 2017 Cover of the magazine Revista de Artes e Ideias, Alma Azul, #10, Coimbra, 2014
Diálogos, 2017 Escultura_instalação Bonés, espelhos, auriculares Sculpture_instalation Caps, mirrors and headsets
Uma cadeira para NN_Vacuidade, 2000 Obgesto Materiais vivenciados Obgesto Experienced materials
Sandales_Mal de mer, 2006, 2017 Obgesto, Artitude Materiais vivenciados, fotografias de Augusta Villalobos Obgesto, Artitude Experienced materials, photographs by Augusta Villalobos DePur(o)Ar, 2014, Paris Texto visual Fotografia Visual Text, Photograph DePur(o)Ar, 2014, Paris Versão videográfica do texto visual DePur(o)Ar Videograpic version of the visual poem, DePur(o)Ar Bruma, 2010, 2017 Artitude Materiais vivenciados, farinha de trigo Artitude Experienced materials, wheat flour “J’Existe”, 2017 Poema visual e sonoro [com Augusta Villalobos]. Visual and sonorous poem [with Augusta Villalobos].
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António Barros
Estudos na Universidade de Coimbra e na Facultat de Belles Arts Universitat de Barcelona. Investigação no domínio das linguagens. Na experienciação, em diferentes disciplinas das artes, explora a comunhão: Texto_Imagem (Visualismo, POEX_Poesia Experimental Portuguesa); Arte de Situação, numa Cultura FLUXUS (Wolf Vostell [Vostell Fluxus Zug Kunst Akademie], Robert Filliou, Serge III Oldenbourg, Juan Hidalgo - Grupo Zaj); Escultura Acústica e Paisagem Sonora (R. Murray Schafer, Joseph Moreno, Jimenez Blasquez); Transitividade do Objeto (Donald Woods Winnicott) / Obgesto. Criou Artitude:01 [Projectos & Progestos]; OIC_Oficina de Interação Criativa [CAPC, Coimbra]; ARexploratóriodasartes; A_A [Barcelona; Nantes; Gibellina]. Diretor Criativo na Reitoria da Universidade de Coimbra. Diretor de Imagem da Imprensa da Universidade de Coimbra. Diretor Artístico de Rua Larga - Revista da Reitoria da Universidade de Coimbra, teve ainda funções diretivas nas revistas Via Latina, Cadernosdejornalismo e Mediapolis. Integrou as diretorias do Círculo de Artes Plásticas da Academia de Coimbra [CAPC]; Teatro Académico de Gil Vicente da Universidade de Coimbra [TAGV]; Teatro Estúdio CITAC; Clube Português de Artes e Ideias; Simpósio Projectos & Progestos; Encontros de Arte_Alquimias dos Pensamentos das Artes. Integra o Corpo Consultivo do Arquivo Digital da Literatura Experimental Portuguesa, Universidade Fernando Pessoa, Porto. Atividade docente na Faculdade de Letras da Universidade do Porto - Curso de Pós-graduação em Museologia; Faculdade de Letras da Universidade 76
António Barros studied at the Universidade de Coimbra and in the Facultat de Belles Arts Universitat de Barcelona. Research in the field of languages. Within different art disciplines, he explores the communion: Text_Image (Visualism, POEX_Portuguese Experimental Poetry); situationist art in a FLUXUS Culture (Wolf Vostell [Vostell Fluxus Zug Kunst Akademie], Robert Filliou, Serge III Oldenbourg, Juan Hidalgo - Grupo Zaj); Acoustic Sculpture and Sound Landscape (R. Murray Schafer, Joseph Moreno, Jimenez Blasquez); Transitional Object (Donald Woods Winnicott) / Obgesto (Obgesture). Projects: Artitude:01 [Projectos & Progestos]; OIC_Oficina de Interação
Autista_Coleção Museu Serralves_Passagens_Terminal de Cruzeiros, Matosinhos
de Coimbra - Curso de Jornalismo e Comunicação; Instituto Técnico, Artístico e Profissional de Coimbra; entre outros (e. o.). A sua obra artística está representada nas coleções do Museo Vostell Malpartida, Cáceres; Fundació Joan Brossa, Barcelona; Museu Serralves_Museu de Arte Contemporânea, Porto; Museu da Fundação Bienal de Arte de Cerveira; MUDAS _Museu de Arte Contemporânea da Madeira; Museu da Água, Coimbra; Universidade do México; Universidade de Coimbra - TAGV / Centro de Dramaturgia Contemporânea; Maison de Poésie, Nantes; Archivio Guglielmo Achille Cavellini, Brescia; Walden Zero - Transdisciplinary Art and Education Projet, Locarno; e. o. Múltiplas participações em exposições entre 1976 e 2018: MUSAC _Museo de Arte Contemporáneo de Castilla y León; MAC _Museu de Arte Contemporânea de São Paulo; Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian; Alternativa Zero, Galeria Nacional de Arte Moderna, Lisboa; CAAA _Centro para os Assuntos da
Tradição_MUSAC, Museo de Arte Contemporáneo de Castilla y León
Criativa [CAPC, Coimbra]; ARexploratóriodasartes; A_A [Barcelona; Nantes; Gibellina]. Creative Director at the University of Coimbra. Image Director of the Coimbra University Press. Art Director of Rua Larga - magazine of the Rectory of the University of Coimbra; other magazines: Via Latina; Cadernosdejornalismo and Mediapolis. Directive committees: Círculo de Artes Plásticas da Academia de Coimbra [CAPC]; Teatro Académico de Gil Vicente da Universidade de Coimbra [TAGV]; Teatro Estúdio CITAC; Clube Português de Artes e Ideias; Simpósio Projectos & Progestos; Encontros de Arte_Alquimias dos Pensamentos das Artes. Consultative committee for the Digital Archive of Portuguese Experimental Literature - University Fernando Pessoa, Porto. Lectures at Faculdade de Belas Artes - University of Porto, Postgraduate Course on Museology; Faculdade de Letras University of Coimbra, Graduate Course on Journalism and Communication; Instituto Técnico, Artístico e Profissional de Coimbra. His artistic work is represented in the collections of: Museo Vostell Malpartida, Cáceres; Fundació Joan Brossa, Barcelona; Museu Serralves_ Museu de Arte Contemporânea, Porto; Museu da Fundação Bienal de Arte de Cerveira; MUDAS _Museu de Arte Contemporânea da Madeira; Museu da Água, Coimbra; Universidade do México; Universidade de Coimbra - TAGV / Centro de Dramaturgia Contemporânea; Maison de Poésie, Nantes; Archivio Guglielmo Achille Cavellini, Brescia; Walden Zero Transdisciplinary Art and Education Projet, Locarno; and others. He participated in multiple exhibitions between 1977 and 2018: MUSAC_Museo de Arte Contemporáneo de Castilla y León; MAC _Museu de Arte Contemporânea de São Paulo; Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian; Alternativa Zero, Galeria Nacional de Arte Moderna, Lisboa; CAAA _Centro para os Assuntos da Arte e Arquitectura; Fifth Free International Forum, Bolognano; AICA85 77
Arte e Arquitectura; Fifth Free International Forum, Bolognano; AICA85 _Associação Internacional dos Críticos de Arte, Lisboa; Museu de Arte Contemporânea Fortaleza de São Tiago, Funchal; SACOM2, Cáceres; XII Biennale de Paris; XVI Bienal de São Paulo; 3e Festival International de Poésie de Cogolin; Festa de La Lletra, Galeria Joan Prats, Barcelona; Fundação EDP, Lisboa; e. o. Autor ainda de obras de arte em espaço público como a peça que enuncia a atribuição do galardão de Património Mundial da UNESCO à ‘Universidade de Coimbra, Alta e Sofia’. Escultor do Prémio de Estudos Fílmicos Universidade de Coimbra, com que foram laureados Alain Resnais, Manoel Oliveira, Paulo Rocha e João Bénard da Costa. Trabalha a condição exploratória nos domínios objeto_livro e cidade_livro [Esclaves, Quai de la Fosse, Nantes; Se vão da Lei, Sons da Cidade #3, Coimbra]. Publicou, entre outros, os livros John Cage, Música Fluxus e outros gestos da música aleatória em Jorge Lima Barreto, Contaminações #1 e Vulcânico Palavrador _Uma Elegia a António Aragão, Coimbra.
_Associação Internacional dos Críticos de Arte, Lisboa; Museu de Arte Contemporânea Fortaleza de São Tiago, Funchal; SACOM2, Cáceres; XII Biennale de Paris; XVI Bienal de São Paulo; 3e Festival International de Poésie de Cogolin; Festa de La Lletra, Galeria Joan Prats, Barcelona; Fundação EDP, Lisboa and others. Author of art pieces in public spaces, as the memorial of the Universidade de Coimbra, Alta e Sofia’s inscription on the World Heritage List of UNESCO. He was also the author of the sculpture for the Award of Film Studies - Universidade de Coimbra, with which were awarded Alain Resnais, Manoel Oliveira, Paulo Rocha, João Bénard da Costa, and others. He works the exploratory condition of object_book and city_book [Esclaves, Quai de la Fosse, Nantes; Se vão da Lei, Sons da Cidade #3, Coimbra]. He published, among others, the books John Cage, Música Fluxus e outros gestos da música aleatória em Jorge Lima Barreto, Contaminações #1 e Vulcânico Palavrador _Uma Elegia a António Aragão, Coimbra. .
O MUDAS.Museu de Arte Contemporânea da Madeira agradece a todos os que colaboraram neste projeto. Desde da sua conceção e montagem, passando pelas ações de cariz pedagógico desenvolvidas e outros encontros promovidos em torno de Alvoro.
The MUDAS.Museum of Contemporary Art of Madeira is grateful to all those who collaborated on this project. From its conception and assembly, until the pedagogical actions developed and other interactions promoted around Alvoro.
Para expressar plenamente a gratidão de cada um de nós, numa caminhada desta natureza, para com a dedicação dos outros companheiros sem cair em repetições, seria preciso desenhar um diagrama altamente complexo. Houve uma rede indestrinçável de empenhos e de afetos para chegar a este resultado. António Barros, Augusta Villalobos e Isabel Santa Clara deixam esse desenho à imaginação de cada um, desde que nele figurem, ligados por entrecruzadas linhas, Márcia de Sousa e toda a incansável equipa do Museu, João Fernandes e de José Tolentino Mendonça pelo seu interesse e disponibilidade, Catarina Pestana pelas fotografias, Márcio Ribeiro pelo design gráfico, João Carlos Silva pelas achegas na tradução e, claro, os amigos e os visitantes pela participada presença.
To fully express the gratitude of each one of us, when following such a path, to the dedication of the other companions without falling into repetitions, we would have to draw a highly complex diagram. There was an inextricable network of commitment and affection in order to arrive at this result. António Barros, Augusta Villalobos and Isabel Santa Clara leave this drawing to the imagination of each one, provided that in it appear, connected by crossed lines, Márcia de Sousa and all the weariless team of the Museum, João Fernandes and José Tolentino Mendonça for their interest and availability, Catarina Pestana for the photographs, Márcio Ribeiro for graphic design, João Carlos Silva for his contributes in the translation and of course, friends and visitors for the participated presence.
Escravos_Centro de Arte Moderna_Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa Revolução_Museu Serralves_Museu de Arte Contemporânea do Porto
V+: http://po-ex.net/ http://barrosantonio.wordpress.com 78
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MUDAS. Museu de Arte Contemporânea da Madeira Direção de Serviços de Museus e Património Cultural Direção Regional da Cultura Secretaria Regional do Turismo e Cultura Direção do Museu | Coordenação Técnica Museum Direction | TecHnical Coordination
Márcia de Sousa
ALVORO Exposição / Exhibition Autoria / Authorship
António Barros Curadora / CURATOR
Isabel Santa Clara Montagem / INSTALLATION
António Barros Augusta Villalobos Isabel Santa Clara Márcia de Sousa Carla Avelar Élia Gomes Fátima Paiva Irene Rodrigues Isaura Perry José Manuel Abreu Marlene Sousa Volodymyr Boburskyy
Catálogo / catalogue Textos / TEXTS
Augusta Villalobos Isabel Santa Clara José Tolentino Mendonça Márcia de Sousa Tradução / Translation
Isabel Santa Clara João Carlos Silva Márcia de Sousa Design
Márcio Ribeiro/DRC Fotografia / Photography
António Barros António Dantas Augusta Villalobos Catarina Pestana Tiragem / Print
Run 500 exemplares 16 de dezembro de 2017 - 1 de junho de 2018 16th of December of 2017 to 1st of June of 2018
ISBN
978-989-95592-8-8 Produção Gráfica / Print Management
Greca - Artes Gráficas Depósito Legal
DJFC construções, Lda