Grupo Editorial Beco dos Poetas & Escritores Ltda
Antonio Cabral Filho
Esta é a estréia de Antonio Cabral Filho nas antologias do Grupo Editorial Beco dos Poetas & Escritores Ltda. Começou a escrever durante a catequese, fazendo quadras para Nossa Senhora. Considera que sua influência literárias é a dos violeiros do sertão mineiro. Participou das obras: Antologia Poética Vol2 Uff/Eduff 1996; Fantasias Coletânea, Alpas21 2011; Poetas Em/Cena 6 Belô Poético 2012; Versos de Outono Antologia, Confraria de Autores, Antologia 15, Postal Clube, Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos, Editora Pimenta Malagueta, 2013. Textos do autor
Severino....................................................................................30 Extremis....................................................................................31 Complexo de Kafka..................................................................32 Pastos de Sombras.....................................................................33 Inventário de Nada....................................................................34 Largo da Batalha.......................................................................35 Enquete......................................................................................36 Caminho das Pedras..................................................................37 Vinho de Baco...........................................................................38 29
Apanhador de sonhos
Severino
Não existe nas gramáticas Nem no paiol de palavras Do grande estoquista Aurélio Nem está jogado nos cantos Do depósito Machado de Assis Não seria melhor Machado de algures? Mas acaba de ser criado Mais um verbo nesta língua, É o verbo severinar E aviso aos quatro ventos Que eu severino Como todo Severino Que vive severinando Nesta vida severina.
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Extremis
Meu amigo dileto Anda pirando a caçoleta, Pôs a biruta de lado E tortura matemáticas Pela circunferência dos ventos. Mas entre o amigo dileto E a diletância do amigo, Fui salvo pelo delete... Virei pedra na vidraça, Blackbloc na avenida, Molotov de peão, E ainda pego a vida pelo rabo Nem que seja dando milho Aos pombos da minha praça.
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Apanhador de sonhos
Complexo de Kafka
Não fossem os calafrios Da pobre coitada da mãe Que vivia em panos quentes Pra manter o pai em banho-maria Teríamos mais psicanalistas Tentando livrar as pessoas Dos estados parasitários E Kafka transformado em barata.
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Pastor de Sombras
Sou pastor de sombras, Que não me conhecem Nem eu as conheço Em nosso desenleio. Todo dia bem cedo, Após a lida matinal, Toco minhas sombras Para o pastoreio. Vou tangendo sombras No vale das nuvens, Ladeado por anjos E guiado pelo vento. É que meu rebanho, Feito só de sombras, Quer assaltar o céu E ver a face de Deus.
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Apanhador de sonhos
Inventário de Nada
O contador conta, Anota, soma, E eis o resultado: Um estoque de nada... Capitalismo é capitalizar E como capitalizar-se Com nada ?... Mas a concorrência não perdoa, Cai de pau no despossuído E obriga-o a concorrer: - Pode me dá uma moeda, Uma moedinha qualquer, Aquela que não dá pra nada?... E finda na pista Com as mãos cheias de nada.
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Largo da Batalha
Jรก diz tudo O nome do local Que nos lembra Algo longe Transido de combates E ainda agora Dos seus arredores Chegam avisos da pรณlvora, Seguem escaramuรงas Por seu corpo escarpado Todo respingado de rubro...
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Apanhador de sonhos
Enquete
O vov么 anarquista Perguntou para o netinho Se acreditava em papai Noel: - Por qu锚, vai me dar presente? Inquiriu o garoto todo serelepe, Enquanto o av么 confabulava Com o bigode: - Que menino materialista!
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Caminho das Pedras
Eu sei que Drummond sofreu Com pedras pelos caminhos, Mas no meu tempo de moleque Sempre achei diatribes As carroçadas de conselhos Despejados com esmero E detalhes exagerados Por meus pais sobre mim, Só pra esmagar minha soberba E quebrar meu queixo duro, Considerei-os todos Estórias pra boi dormir, Mas bastou a primeira topada E descobri que o chão Em que perambulam meus pés Têm muito mais Do que pedras pelo caminho.
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Apanhador de sonhos
Vinho de Baco “Uma vez que o soneto é imortal”, Meu ser respira em estado de graça, Baco chega sem cerimonial Exibindo-me sequioso a taça.
Vem chegando Safo e suas meninas Deixando meu tonel todo assustado Perante o fogo e a sanha fesceninas, Mas com ou sem dor, será esgotado. Neste momento Lesbos jaz vazia, E, mesmo sem estar cheios de “uca”, Rolamos pela areia de alegria. Por mais que alguém tenha medo da Cuca, Não entrego o que aconteceu depois, A menos que possa ser só nós dois...
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