Circunstanciais

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ANTONIO MIRANDA

CIRC UNST ANCI AIS

poexílio 2017


Revisando caixas abandonadas há décadas nos rincões da Chácara Irecê — onde passo meus fins de semana, quando não estou em viagem —, encontrei originais de vários livros que escrevi há tempos, e que continuam inéditos embora alguns dos poemas tenham circulado por outras publicações e até pela internet. Os originais de Circuntanciais chegaram a ser digitalizados em 1984 por um colega de trabalho — Joaci Lira da Silva — para levar a uma gráfica, o que não fiz por motivos que já não lembro... Falta de tempo, de dinheiro? Decidi transformar os originais em um exemplar único como livro-deartista e, ao mesmo tempo, providenciar a publicação de alguns exemplares para amigos bibliófilos e, concomitante, divulgar os textos em formato de e-book.

Antonio miranda

Para Zila Mamede


ZILA MAMEDE Poema de Antonio Miranda

Minha querida Zila, que saudades de ti! Pequenina, inquieta por isso mesmo poeta. E mais: bibliotecária, operária do saber. Tão frágil, tão forte! Como sinto a tua sorte! Eu era teu convidado nas rodadas de Natal


Comíamos carne-de-sol e de sobremesa, poesia. Um dia... fatídico dia que ninguém merecia Menos tu, tão necessária a quem tanto queríamos foste ao mar inteira para não regressar. Na areia, aflitos nem ouvíamos teus gritos desapareceste no horizonte na curva azul do mar deixaste tua herança recarregada de afeições teu multiverso, teu nomadismo, espanto a força de teu canto a essência-derradeira de teu útero-concha de mar indomável.

(Extraído do livro MIRANDA, Antonio. Retratos & Poesia Reunida.)


INFÂNCIA CARCOMIDA Tempos difíceis aqueles! Toda infância é um horror, um sobressalto O amor de mãe me sufocava, os conselhos de papai amedrontavam e eu, descobrindo o horizonte, não tinha perspectivas: havia muros e sermões, as regras do jogo, o jugo cidadão. Apreensão e angústia, indagação. As crianças são ferozes e egoístas abrindo seu caminho a porradas. Ou se retraem, submissas e transparentes para merecerem os prêmios! Do alto de minhas alpargatas ensarilhava as virilhas úmidas e o universo se abria em recôndita cumplicidade. O gesto que abomina e a carne que se entranha sem convicção mas com decisão e ousadia.


Ganhar o seu espaço, afirmar-se contra as convenções impor como um mérito os seus defeitos e trejeitos malcriados, até que a vida nos separe ou discrimine. Tudo é escorregadio, é resvaloso e falso: equilibrar-se na incerteza e afirmar-se, expandir-se, arrombar portas e dogmas, deleitar-se com o escárnio e deliciar-se com o próprio ridículo.

Brasília, 16-09-1980


RETRATO 3X4 Esse que aparece na fotografia não sou eu: é o que fizeram de mim. Enforcado, de gravata, no ritus burocrático. Transparece um modelo padronizado ou qualquer assomo individualista; é antes, o protótipo ou fotocópia de uma imagem pública e repetida, pré-moldada. De frente, com o olhar taciturno e impessoal, assemelhando-se a qualquer outro e nunca a mim mesmo — que há muito deixei de existir na contabilidade dos recursos humanos monotonamente igualizados nas desigualdades racionalizantes. O terno seriado e o olhar emprestado de ícones executivos com documentação farta e direitos protegidos. Devidamente protocolado, carimbado, predisposto à comodidade dos arquivos-mortos.

Brasília, 24.06.1980


SONHAR EM TERCEIRA DIMENSÃO (Poema hermético sobre coisas óbvias)

Dos relógios regressivos às agendas antecipatórias, o inconsútil, o imponderável, o desmoronar-se de vidas poluídas ou noites mal-dormidas: eflúvios ecológicos, necrológios, ou figuras natimortas ou mortas-vivas. Ou a resposta pré-moldada, hermética, comprometida. Ou a preleção do biorritmo, a regressão das biomassas, o horóscopo computadorizado e as cartas marcadas, perfuradas, programadas entre o alento e o evento: o vir-a-ser em não-sendo, o ser-o-outro e não ser! E o teu cadastro atualizado nas agências secretas dos planejadores tecnocratas e das secretárias despistadoras: o teu perfil cinzelado, ajustado a cânones e medidas regulamentadas!


E os prêmios adventícios e as mordomias consagradoras e os desagravos elucidativos ou as digressões premonitórias! E as comendas gratificantes? E as congratulações executivas? E as admoestações subliminares? E as exaltações ejaculadoras? Um sonho — quem sabe — um óbice, ou o desvario amargo e tardio na vigília sem beiradas e sem entranhas, vomitando a si mesma, sem cesuras ou sem costura! O sair-de-si-mesmo, o espraiar-se sem roteiros ou rotinas, o exaurir-se incongruente sem polemizar, sem tergiversar, sem retinas, sem cortinas! Simplesmente, estar. Brasília, 4.7.1980


MARAVILHOSA ESTA GENTE Maravilhosa esta gente capaz de emocionar-se, chorar e sofrer com a vida (imaginária) de personagens de TV! Maravilhosa esta gente capaz de sonhar e amar e acompanhar vidas de artistas modelados em pranchetas de publicitários de sabão e de produtos alimentícios. Maravilhosa, sem dúvida, esta gente pacientemente debruçada sobre o balcão discutindo seriamente assunto sem a menor importância! Como classificar esta gente cansada e explorada maltrapilha que se despe da miséria para vestir-se de lantejoulas e veludos em desfiles de carnaval? E que dizer dos torcedores fanáticos, dos suicidas por amantes levianos e dos eleitores descompromissados ou dos sindicalistas idealistas, se é que ainda existem?! E as namoradas que esperam, com o enxoval no baú — protegido com naftalina — o amor que partiu para São Paulo e nunca voltou? Assim também as beatas moralistas e os comerciantes honestos, ou os profetas funestos pedindo humilhação neste mundo em troca das benesses do outro.


Gente maravilhosa, sem revolta, resignada e silenciosa como reprografias/ apagadas sem maiores constrangimentos, chorando lĂĄgrimas translĂşcidas no beiral da perplexidade.

BrasĂ­lia, 11.09.1980


ARQUITETURA ESPONTÂNEA É quando a cidade nasce dela mesma, sem maquetes, predeterminações: acompanhando os umbrais das encostas matagais, encurtando distâncias, angústias, descendo ladeiras ou lançando-se no abismo. Sem arquitetos formalistas ou engenheiros estruturados. Intuindo seu próprio curso no meandro da paisagem, nos cantos alinhavados das esquinas — como seixos rolados — ou nas janelas (alternadas) de sobrados carcomidos revividos, sepultados na memória dos antigos. Onde as ruas têm (ainda) o nome de seus habitantes assombrados e as igreja enegrecem, nascem crescem e apodrecem nos vícios e virtudes da cidadania. Quem plantou esta mangueira soturna, quem habitou esta mansão noturna? Que fantasmas abriga o casarão em escombros nos ombros das cumieiras, no assombro das rezadeiras? E a cidade escoa e ecoa nos lajedos úmidos e reluzentes, adormecidos e indiferentes. A cidade que foge dos médicos burocratizados e se refugia nas essências


de uma fé aguda ou obtusa, imorredoura; que renega dos dentistas engomados uniformizados e dos bibliotecários proselitistas e dos políticos hierarquizados. A cidade se esparrama sem contornos sem espasmos arrivistas. Nas calçadas dos mendigos e das prostitutas andarilhas. Que escarros esconde, que ruelas atravessa a procissão, que facada espreita a madrugada dos notívagos, dos clérigos e dos retirantes? Um beijo acaramelado, ou abraço visguento e prolongado e o orgasmo asfixiado pelo sarcasmo! Das frestas das janelas as fendas virginais e os madrigais enoitecidos dos amantes separados e as pastorais moralizantes. A bilha suada no canto e o lençol enrugado ejaculado impregnado de vida e morte cíclica e fatídica. Até um tango rasga a sobriedade da madrugada, resistindo aos tempos novos. É quando se ouve o gemido rouco do moribundo e o ronco inocente e ingênuo do vagabundo.


É quando os extremos se excitam e as orgias se porfiam, exercitam e digladiam os justos e os injustos em exércitos notívagos. Que recovecos despistadores da existência, que vivência sobrebuja a fantasia, que heresia dissimula a eloquência, que ciência supera a aparência ou efervescência de todos os valores? Que temores, que fervores, que maledicência obscurece a verdade de toda a cidade plantada e reconstruída sobre as próprias ruinas? Que determina o seu desatinar sossegado ou sobressaltado? A trancos e barrancos a esmo e por desvelo se perfila e se derrama, resiste e clama, orgulhosa e sorrateira! Do alto das esquadrias, do patamar, das sacadas dianteiras, das bebedeiras mal curadas, as razões, as negações, as preces e as descrenças de um fluir imperturbável e irreversível! Salvador, Bahia, 18.06.1980


HOMENAGEM A VOLPI Roupa no varal, bandeirinhas de papel: o balão junino no quintal; o coração das crianças palpita o momento agita o pensamento e o vento precipita o tempo das fogueiras e das brincadeiras de roda. É o quadro depurado na parede é a memória adrede no presente: o tempo flácido o gesto plácido em planos e cores em volumes tênues ingênuos, derradeiros nem por isso, passageiros.

Brasília, 5.1.1981


Poema visual em homenagem a Volpi, extraído do livro: MIRANDA, Antonio. Canto Brasília. Brasília: Thesaurus, 2002.


FESTA AFETA A FÉ Poema visual de Antonio Miranda


SÓ CANTAR E PURO AMOR (Uma canção para Fagner) Violeiros, cantadores, repentistas, trovadores: quero amores, quero flores quero jasmins, querubins, quero voar, menino, nas asas de um passarinho, quero cantar, quero amar, abrir meu próprio caminho saudar a manhã que desponta no ponteio da viola, quero fogos, bandeirolas, quero as cores do arco-íris e se fores, comigo, nessa estrada enluarada, dou-te um verso, travesso, e desconverso antes que eu vire do avesso pois meu amor não tem dote, nem papéis puros decibéis, sem motes, nem mil réis. Amor acontecendo e exaurindo exalando suores e calores vivendo — pleno — todas as cores, ou morrendo e renascendo sem saudade, sem sadismo só viver e puro ser, só cantar e puro amar. Brasília, 5.1.1981


QUEM É QUEM “Em que altura ou dimensão o poder dá tontura ou dá tesão?”

Que frágil é o equilíbrio no organograma! Um exercício de malabarismo ou, antes, a síndrome do artifício? E o poder, é vertical no cronograma? É horizontal e sonoro, auto sustentável no pentagrama? Seria a dialética dos antagonismos ou o arbítrio dos conformismos? Um gesto de conciliação nos dualismos ou o prêmio à paciência e à submissão? Ato contínuo e racional? Anormal? Sua ossatura em que dossiê é sepultada? Quem decide o seu nível de calorias, as suas, as nossas mordomias?


E a inteligência é sinônimo de sobrevivência? Subserviência eleva-se ao nível de ciência? Quem resgata a vida, enquadrada em normas e preceitos? (São dogmas ou são preconceitos?) A nossa vida alugada e confinada — é tudo ou é nada? Rio de Janeiro, 24.8.1981


UM COMPLETAR-SE Não fosse esse poema não me lembraria dela. Nem mesmo seus olhos fugidios que bem podiam ser azuis ou turmalinos. Mas nem por isso — transitório ou circunstancial — seu gesto de amor e de entrega, foi anônimo! Há pessoas que se entregam inteiras derradeiras e em dar-se — ainda que em ato passageiro — são universais e integrais. E tudo o mais. Nem se dão: se entregam, se esfregam se exaurem e é o gesto que fica — não o incesto, o incerto — inconsútil, ainda que inútil mesmo que fútil. Eterno, e sem adorno mesmo sem retorno. Inteiro! Não em dar-se escorregadio


se sorrateiro — que nem é presença, que não é essência: é excrecência. Mas um dar-se que é acumular-se, mesmo um configurar-se, ejacular-se e completar-se, um combinar-se de fragrância e flagrâncias, reentrâncias, de dissonâncias e até de concordâncias. Um dar-se por completo ainda que finito. Um desdobrar-se e um adentrar-se sem regresso, sem progresso ou retrocesso. Brasília, 12.5.1982


O HOMEM E A MÁSCARA Que face é esta em que me insinuo ou dissimulo? Que verdades se escondem detrás de nossas palavras? Só a água é sólida só o pássaro é concreto só o sonho se materializa e as ideias são lançadas no vácuo de nossa memória. A palavra não exaure o sentido. Recolho do chão a ação pretendida. Arrojo no espaço o laço da intenção. Tudo é um mistério insondável e apenas nos cabe divisar Como, então, interagir se as pessoas resvalam e se escondem ou se dão escondidas disfarçadas à flor da pele? E as máscaras em que alfarrábios perdidos poderão ser decodificadas? Tudo é farsa mas nada é falso.


Quem sabe um sopro, um arfar eflúvios e miragens... Esta a matéria com que modelamos nossos atos sensações e sobressaltos. Como máscaras frente a espelhos cambiantes como o tempo que se afirma inexorável. México, 23.7.1981


AUTOBIOGRAFIA COLETIVA (á maneira de Fernando Pessoa) Só encontrei pessoas perfeitas na vida, só eu sou torto e absorto. Os meus chefes eram sempre perfeitos, os meus professores todos sabiam de tudo, só eu não sabia de coisa alguma. E você? De você, posso dizer, no mínimo é maravilhoso. Certo!: maravilhoso até em suas debilidades, em suas assumidas precariedades, em suas presumidas mesmices ou perplexidades. Maravilhoso, sim. E por que não? Pelo pudor de pecar por puritanismo ou narcisismo, pelo medo de morrer de mortificação e conformismo. Ou de cair no ridículo da autoglorificação. A arrogância e a prepotência! Rir de nossa fraqueza é um ato de grandeza. Debochar de nossa fragilidade acaba sendo um gesto de austeridade.


Feio, desajeitado e até rude na construção de sua imagem e maravilhoso em sua imperfeição, o ser humano se instaura inconcluso e em mutação. É maravilhoso porque é único. porque é contraditório, singular e impreciso. Segurança de que? Qual escala de valores assumida o aprisiona, o asfixia? Que o censura, que o castra e arrebata? O homem se confessa absoluto, onipotente. Esparramado em palavras sem nexo ou na circunstancialidade do sexo. Tudo é fugaz e passageiro! Tudo é eterno e duradouro! Certo: tudo é maravilhoso! Inaudito. Imposto pelos sentidos. Interposto pelos instintos. Pressuposto pela razão. Predisposto pela vontade. Anteposto pela realidade. Posposto. Disposto. Posto. Reposto.


Afinal, tudo ĂŠ maravilhoso maravilhos maravilho maravil aravil ravil avil vil .

Rio de Janeiro, 3.11.1981


MARAVILHOSO Poema visual de Antonio Miranda


POEMINHA SATÍRICO PARA MOMENTOS DE CRISES INSTITUCIONAIS Os grandes homens — se são verdadeiramente grandes continuam grandes e verdadeiros quando descem de seus pedestais. São apenas mortais! A diferença entre os que são grandes e os que estão grandes (por seus pedestais): mais o tempo imortaliza uns e fossiliza os demais... Brasília, 7.5.1982


A FOTO E O OLHO A foto na parede imobiliza o retrato mas é inútil: quem o contempla, desbotado pelo tempo, se imortaliza na transitoriedade. O momento retido é refletido na objetiva fugaz, o olho que desvenda inverte o instante e inventa a transcendência. É impossível: a foto mente ao desvendar o seu mistério de fóssil sujeito à restauração. O olho é que refaz o retrato na memória e não a foto que é ilusória em sua vã materialidade. Brasília, 11.9.1980


O FATO E O OLHO O fato na praça imobiliza a retreta e é sutil: quem o contempla desgastado pelo tempo se imbeciliza pela mordacidade. O momento perdido é irrefletido no subjetivo falaz, o olho que desvenda trasveste o instante e inverte a abundância. É possível: o fato desmente ao receber o seu mistério difícil respeito à razão. O olho é que desfaz a retreta na memória e não o fato que é ilusório em sua vã fatuidade. Brasília, 10.01.1984


O FITO E O OLHO A foto na parede impermeabiliza a retreta mas é inútil: quem a contempla, despistado pelo tempo, se esteriliza na corporeidade. O momento roído é percebido na objetiva capaz: o olho que desvela desveste o instinto e investe à proeminência... É até possível: o fito aumenta ao destapar o seu mistério de físsil sujeito à explosão. O olho é que faz o retrato na poesia e não a palavra que é ilusória em sua vã linearidade. Brasília, 10.1.1984


AMOR / CONSUMO É mesmo, é incrível, nosso amor é perecível. Marasmo, e é só sarcasmo. Por certo, todo amor é incerto, nem todo amor é incesto. E o teu amor com o Ernesto? Brasília, 10.01.1984.


PASSATEMPO O tempo passa e repassa ostensivamente. O tempo é medida de tudo. Tudo é nada. Tudo não existe. Nada, existe! O tempo é medida de nada... À medida que o tempo passa — como um pássaro — a mente se liberta do corpo ganha o espaço como um laço como um abraço definitivamente. Caracas, 15.8.1984


AMANHÃ Qual o significado de amanhã? ave malsã? borborema maracanã? Quem sabe o tempo estanca estica e fica como está agora e já! Afinal, por que final? Porque amanhã se é sempre hoje se é sempre um dia e outro dia e nada mais? Amanhã é jamais! E mais e mais.

Caracas, 26.7.1984


Alfredo Volpi Fachada das bandeiras brancas


Alfredo Volpi Bandeirinhas e Mastros


Alfredo Volpi Bandeirinhas


Alfredo Volpi Experiência cinética



Colofão “ CIRCUNS TANCI AIS ” inclui poemas de ANTONIO MIRANDA escritos do final de 1980 a julho de 1984, inéditos em livro; apenas um poucos foram incluídos em livros posteriores ou divulgados pela internet. Inclui também um poema em homenagem à poeta e biblioteacária Zila Mamede (1928-1985) e imagens de gravuras e pinturas de Alfredo Volpi (1896-1988), assim também poemas visuais criados por A. M. em épocas mais recentes, em pintura e em forma digital, em memória do artista plástico de Ouro Preto. Tiragem: dez exemplares, no intuito de um livro-de-artista, e encadernado. Ano de 2017, em que o autor completou 77 anos de idade. Editora poexilio, em Brasília, DF, Brasil. Também acessível como ebook no ISSUU e no Portal de Poesia ibero-americana: www.antoniomiranda.com.br

Ex. No.

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