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I BIENAL INTERNACIONAL DE POESIA DE BRASÍLIA
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Governo do Distrito Federal José Roberto Arruda
SECRETÁRIO DE ESTADO DE CULTURA José Silvestre Gorgulho
CONJUNTO CULTURAL DA REPÚBLICA Antônio Miranda Biblioteca Nacional de Brasília
ORGANIZADORES DA OBRA Maria das Graças Pimentel Salomão Sousa
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I BIENAL INTERNACIONAL DE POESIA DE BRASÍLIA
POEMÁRIO
Biblioteca Nacional de Brasília Organização
Brasília 2008
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© 2008 Direitos autorais reservados aos autores.
Projeto Gráfico: Carlos Alberto Menezes Arte final: Tagore Alegria Arte de Capa: Alfredo Carlos H. Reis Fotomontagem da capa: Ricardo Rodrigues Revisão: João Carlos Taveira Traduções: Antonio Miranda (exceto as indicadas)
B582b Bibliotena Nacional de Brasília (Brasil) (BNB). I Bienal de Poesia : poemário / Biblioteca Nacional de Brasília (Brasil) (BNB) — Brasília : Petrobrás : Biblioteca Nacional de Brasília : Secretaria de Estado de Cultura do Distrito Federal, 2008. 272 p. : 16 x 23 cm
Poemas apresentados na I Bienal Internacional de Poesia.
1. Literatura. 2. Poesia. I. Bienal Internacional de Poesia (1 : 2008 : Brasília, DF). II. Título.
CDU 82-1
ISBN 9788570627773
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Sumário 7
Apresentação
Poetas homenageados 15 22 25 30
Affonso Romano de Sant’anna Reynaldo Jardim Thiago de Mello Wladimir Dias-Pino
Brasil Brasil Brasil Brasil
Poetas convidados 34 37 40 43 47 50 53 57 59 63 67 72 75 78 81 84 88 91 94 99 102 105 108
Alice Ruiz Alice Spíndola Amparo Osório Antonio Brasileiro Antonio Carlos Secchin Antonio Cisneros Antonio Vicente Petroforte Aricy Curvello Aristóteles España Betty Chiz Carlos Ortega Guerreiro Daniel Chirom Diego Mendes Sousa Eduardo García Eduardo Mora-Anda Elena Medel Emilia Currás Enrique Hernández d´Jesús Fábio Morabito Fabrício Carpinejar Fernando Pinto do Amaral Frederico Barbosa Gilberto Mendonça Teles
Brasil Brasil Colômbia Brasil Brasil Peru Brasil Brasil Chile Uruguai México Argentina Brasil Espanha Equador Espanha Espanha Venezuela México Brasil Portugal Brasil Brasil
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112 116 121 123 128 136 140 144 147 152 155 159 165 170 173 176 180 183 188 191 195 199 201 203 206 210 213 216 220 222 225 231 237 239 244 248 250 254
Hector Collado Henryk Siewierski Jorge Tufic José Carlos Capinan José Carlos Irigoyen José Geraldo Neres Juan Carlos Pajares Juan Carlos Reche Katia Chiari Lourdes Sarmento Luiz Otavio Oliani Manoel Orestes Nieto Manuel Pantigoso Márcia Theóphilo Márcio Almeida Marcos Caiado Margot Ayala de Michelagnoli Maria Romeu Mathias Lockart Miguel Ángel Zapata Miguel Márquez Moacir Amâncio Ricardo Corona Roberto Bianchi Ronaldo Werneck Rubenio Marcelo Rui Mascarenhas Susana Cabuchi Susy Morales Silvio Beck Testa Garibaldo Trina Quiñones Vadinho Velhinho Veronica Volkow Viviane Mosé Wilfredo Machado William Ospina Zélia Bora
257 Informações Biobibliográficas
Panamá Polônia Brasil Brasil Peru Brasil Espanha Espanha Panamá Brasil Brasil Panamá Peru Itália Brasil Brasil Paraguai México Argentina EUA Venezuela Brasil Brasil Uruguai Brasil Brasil Brasil Argentina Peru Brasil Panamá Venezuela Cabo Verde México Brasil Venezuela Colômbia Brasil
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Apresentação A PONTA DO ICEBERG: com a proliferação dos blogs e multiplicação dos estilos, a poesia se expande e ganha vitalidade. ANTONIO MIRANDA Diretor da Biblioteca Nacional de Brasília Coordenador da I BIP
“Curiosamente, hoje, o artigo do dia é poesia. nos bares da moda, nas portas do teatro, nos lançamentos, livrinhos circulam e se esgotam com rapidez. (…) Mesas-redondas e artigos de imprensa discutem o acontecimento. O assunto começa – ainda que com resistência – a ser ventilado nas universidades. (…) O fato é que a poesia circula, o número de poetas aumenta dia-a-dia e as segundas edições já não são raras. Frente ao bloqueio sistemático das editoras, um círculo paralelo de produção e distribuição independente vai se formando e conquistando um público jovem que não se confunde com o antigo leitor de poesia. Planejadas ou realizadas em colaboração direta com o autor, as edições apresentam uma face charmosa, afetiva e, portanto, particularmente funcional. (…) o que sugere e ativa uma situação próxima do diálogo do que a oferecida comumente na relação de compra e venda, tal como se realiza no âmbito editorial. A tal propósito, convém lembrar a tão freqüente presença do autor no ato da venda, o que de certa forma recupera para a literatura o sentido de relação humana.” O texto em epígrafe é da pesquisadora Heloísa Buarque de Hollanda no prefácio de sua antologia 26 Poetas Hoje (RJ: Aeroplano, 2007), com os textos de poetas contemporâneos representativos das novas linguagens poéticas, incluindo excepcionalmente os falecidos Wally Salomão e Torquato Neto, considerados pioneiros. O que mais vale ressaltar na análise da antologista é a causa (principal?) da aproximação da poesia com o público: A presença de uma linguagem informal, à primeira vista fácil, leve e engraçada e que fala da experiência vivida contribui para encurtar a distância que separa o poeta e o leitor. Este, por sua vez, não se sente mais oprimido pela obrigação de ser um entendido para se aproximar da poesia. (Heloísa Buarque de Hollanda) Estaríamos diante da dessacralização do exercício poético, que sai da torre-de-marfim e é absorvido e reelaborado por um público amplo, criador de novas formas, muitas delas coletivas, mas sem a proposta monolítica das
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vanguardas anteriores. Sem cânones, sem ortodoxias, embora seja possível à academia, que começa a estudar o fenômeno, categorizar as novas linguagens e explicar algumas tendências e estilos, como pretende o lingüista e poeta Antonio Vicente Pietroforte, da USP. É óbvio que a falta de regras e modelos leva à perplexidade e a equívocos evidentes por transformar-se em “modismo” e “diluição”, ou seja, “em mero registro subjetivo sem valor simbólico e, portanto, poético”, no entender de Heloísa Buarque de Hollanda. Perplexidade que também infesta as artes plásticas (instalações, intervenções urbanas) e performáticas dos tempos atuais. De qualquer maneira, não há como não reconhecer a expansão e a vitalidade da poesia na sociedade do início deste século e milênio, mesmo sem o apoio oficial (ou por causa disso…), sem a infra-estrutura da grande industria editorial. Mas com a crescente abertura da universidade, apesar das resistências. A poeta e pesquisadora Sylvia Cyntrão, da Universidade de Brasília, líder de um grupo de pesquisa sobre Poesia (registrado nas agências de financiamento), reconhece que o início foi difícil. Poesia? Não havia muitos alunos interessados. Agora a situação é bem diferente. E ela está organizando o Simpósio de Crítica e Poesia, que vai acontecer como parte da I BIENAL INTERNACIONAL DE POESIA DE BRASILIA (de 3 a 7 de setembro de 2008). A agenda está cheia e certamente vai atrair muitos inscritos e curiosos. A proliferação de poemas-show, recitais abertos em bares e em salas de aula, e até nas ruas, não é apenas no Brasil, mas em muitos países. Sem dúvida, a web como base e a internet como veículo, vem permitindo à poesia um espaço privilegiado para o registro e a difusão de textos poéticos, formando verdadeiras redes sociais com os autores e leitores, de poesia convencional ou visual, em todos os estilos e temáticas. Mais recentemente, firmando-se com a proliferação de blogs de poesia, além das páginas e repositórios próprios. Páginas individuais se multiplicam aos milhares, não apenas incluindo a produção solitária, mas congregando grupos de ativistas, apontando para outros endereços afins. E-books e textos virtuais agora são gratuitos. Já existem estudos específicos, com metodologias complexas e sofisticadas como os top maps e as redes hiperbólicas, tentando explicitar e compreender tais relações criativas e associativas. Certamente que a multiplicação de poetas e leitores tem repercussão e desenvolvimentos incontroláveis, mas não de todo imprevisíveis. Como acontece com toda atividade social intensa, alguma ordem se impõe, estilos se multiplicam, lideranças surgem e as celebridades aparecem por caminhos próprios, já libertas das amarras das grandes editoras e da própria crítica que já não tem mais os espaços tradicionais para manifestar-se. Em verdade, o consenso se faz de forma mais aberta, as opiniões se multiplicam sem muita
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teoria e normas, causando as perplexidades já referidas anteriormente. A julgar pelo que acontece com a música, com os esportes e outras atividades de massa, a poesia vai firmar-se em estilos e correntes visíveis e muitas acabarão sendo absorvidas e industrializadas para o consumo. Com a melhoria técnica de sua produção e até com a banalização de seus métodos de criação e entendimento. Mas com a certeza de que o crescimento da atividade dará lugar a patamares altos de qualidade e a vanguardas e elites que estarão em melhores condições de criação e uso… É inevitável. A melhor será inevitavelmente para poucos, a melhor poesia acabará sendo o privilégio de poucos, mas fica o consolo de que a poesia – como a música, à qual está cada vez mais associada, xifópagas… – deixará de ser para o usufruto de uns poucos para ser de muitos, não importa em que forma se apresente… Vale lembrar o exemplo do iceberg… Só há uma ponta porque existe uma base ampla de sustentação… Maior a base, maior a parte visível. Milhares de blogs serão acessados em escala quase doméstica, outros serão o território de tribos enormes e alguns conquistarão multidões como galáxias em expansão, crescendo, desaparecendo, numa dinâmica que tentaremos acompanhar, compreender e usufruir. *** A I BIENAL INTERNACIONAL DE POESIA foi imaginada como um espaço para o confronto das linguagens e formatos em que acontece a poesia contemporânea, em sua diversidade. Uma espécie de caleidoscópio, de vitral ou mural em que se expõem todas as tendências para um confronto entre os criadores, mas aberto ao público. Não é (apenas) um festival de poesia para os poetas, pretende ser um encontro de poetas, editores, ensaístas e toda classe de ativistas culturais com públicos em diversas escalas, desde os freqüentadores dos cafés literários e academias até os espaços abertos, em shows, em ônibus, praças públicas. Daí porque também se pretende que a poesia vá aos bairros mais distantes e ocupe palcos em faculdades, em escolas, em toda parte. Quem vai fazer o julgamento final, se couber, é a platéia, o ouvinte, o leitor. Embora tenha o auspício da Secretaria de Cultura do Governo do Distrito Federal e de muitas outras entidades públicas e privadas, a I BIP não deve ser vista como uma atividade “chapa branca”, mas solidária, cooperativa, em que muitos parceiros e voluntários se prestaram à montagem de sessões em diversos locais, com a total liberdade de organização e escolha. Embora ofereça um programa formatado, com nomes célebres em seus países de origem, está aberta a Bienal para que qualquer poeta divulgue seu trabalho, sem censura. O presente volume reúne os poetas convidados de diversos países e de outros estados do Brasil, muitos deles vieram com o patrocínio de embai-
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xadas, de instituições nacionais e estrangeiras, ou com recursos obtidos junto a patrocinadores como a Petrobras, a FAP (Fundo de Amparo à Pesquisa do GDF), a Brasília Tour e a VARIG. Os poetas brasilienses estão reunidos na antologia Deste Planalto Central – Poetas de Brasília, organizada pelo poeta e ensaísta Salomão Sousa, com a chancela da Câmara do Livro do Distrito Federal, com o apoio sempre entusiasmado de nosso amigo Valter Silva, além de lançamentos de livros pelos autores e editores da cidade durante a 27.ª Feira do Livro de Brasília. Os poetas visuais saem no catálogo de OBRANOME2, exposição que acontece nos espaços magníficos do Museu Nacional do Conjunto Cultural da República, com a competente e criativa curadoria de Wagner Barja. Os atores e músicos com a parceria tão oportuna do Festival Internacional de Teatro CENA CONTEMPORÂNEA, dirigido por Guilherme Reis. Sem descartar as oportunidades do SIMPÓSIO DE CRÍTICA LITERÁRIA, na Universidade de Brasília, coordenado pela poeta e pesquisadora Sylvia Cyntrão, além de muitas oficinas para levar conhecimentos e técnicas aos interessados. Os poetas mirins também têm seu volume de poemas – a Antologia da Poesia em Superdotação –, resultante de um concurso nacional patrocinado pelo Ministério da Educação, através do Núcleo de Atividades de Altas Habilidades/Superdotação (NAAH/S-DF), em concurso nacional organizado pelos professores Olzeni Ribeiro e Josué Mendes, com textos bilíngües português e espanhol, com o apoio da Embaixada da Espanha, para distribuição em escolas e bibliotecas brasileiras e espanholas. Haverá também mostra de filmes sobre poetas brasileiros nos espaços do Cine Brasília. Certamente que há omissões e erros, em parte pela impossibilidade de reunir a todos num único evento. Mas pretendemos voltar em 2010, com a II Bienal para celebrar os 50 anos da inauguração de Brasília, com mais experiência, com mais tempo para superar os equívocos e aprofundar os possíveis méritos desta iniciativa da Biblioteca Nacional de Brasília, na festa de abertura de seus serviços à população local e extramuros. Agora é a hora e a vez da poesia; vamos nos unir neste mutirão com entusiasmo e devoção às musas por mais difusas que sejam.
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Presentación LA PUNTA DEL ICEBERG: con la proliferación de los blogs y la multiplicación de los estilos, la poesía se expande y gana vitalidad. ANTONIO MIRANDA Director de la Biblioteca Nacional de Brasilia Coordinador de la I BIP
“Curiosamente, hoy, el artículo del día es poesía. En los bares de moda, en las puertas de los teatros, en los lanzamientos, libritos circulan e se agotan con rapidez. (…) Mesas-redondas y artículos de la prensa discuten el suceso. El asunto empieza – aunque con alguna resistencia – a ser estudiado en las universidades. (…) El hecho es que la poesía circula, el número de poetas aumenta a cada día y las segundas ediciones ya no son cosas raras. Frente al bloqueo sistemático de las editoras, un círculo paralelo de producción y distribución independiente se está formando, conquistando un público joven que no se confunde con o antiguo lector de poesía. Planificadas o realizadas en colaboración directa con el autor, las ediciones tienen una cara elegante, afectiva y, por lo tanto, particularmente funcional. (…) lo que surgiere y activa una situación más próxima del diálogo de la comúnmente ofrecida en la relación de compra y venta, tal como se realiza en el ámbito editorial. Por tal propósito, conviene recordar la tan frecuente presencia del autor en el acto de la venta, lo que de cierta forma recupera para la literatura el sentido de la relación humana.” El texto en epígrafe es de la investigadora Heloísa Buarque de Hollanda en el prefacio de su antología 26 Poetas Hoy (RJ: Aeroplano, 2007), con textos de poetas contemporáneos representativos de los nuevos lenguajes poéticos, incluido excepcionalmente los fallecidos Wally Salomão y Torquato Neto, considerados pioneros. Lo que más vale resaltar en el análisis de la antologadora es la causa (¿principal?) de la aproximación de la poesía con el público: La presencia de un lenguaje informal, a primera vista fácil, leve y cómico que habla de la experiencia vivida para disminuir la distancia que separa al poeta del lector. Este, por su vez, no se siente más oprimido por la obligación de ser un conocedor de la poesía para aproximarse a ella. (Heloísa Buarque de Hollanda) Estaríamos delante de la desacralización del ejercicio poético, que sale de la torre-de-marfil y es absorbido y reelaborado por un amplio público, creador de nuevas formas, muchas de ellas colectivas, pero sin la propuesta
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monolítica de las vanguardias anteriores. Sin cánones, sin ortodoxias, aunque sea posible para la academia, que empieza a estudiar el fenómeno, categorizar los nuevos lenguajes y explicar algunas tendencias y estilos, como pretende el lingüista y poeta Antonio Vicente Pietroforte, de la USP. Es obvio que la falta de reglas y modelos lleva a la perplejidad y a deslices evidentes por transformarse en “modismo” y “dilución”, o sea, “en simple registro subjetivo sin valor simbólico y, por lo tanto, poético”, según entiende Heloísa Buarque de Hollanda. Incertidumbre que también infesta las artes plásticas (instalaciones, intervenciones urbanas) y performáticas en la actualidad. De cualquier manera, no hay como no reconocer la expansión y la vitalidad de la poesía en la sociedad de este nuevo siglo y milenio, mismo sin el apoyo oficial (o por causa de eso…), sin la infra-estructura de la gran industria editorial. Pero con la creciente abertura de la universidad, a pesar de las resistencias. La poetisa e investigadora Sylvia Cyntrão, de la Universidad de Brasilia, líder de un grupo de investigación sobre Poesía (registrado en las agencias de financiamiento), reconoce que el comienzo fue difícil. ¿Poesía? No había muchos alumnos interesados. Ahora la situación es bien diferente. Y ella está organizando el Simpósio de Crítica Y Poesía, que va a realizarse como parte de la I BIENAL INTERNACIONAL DE POESÍA DE BRASILIA (del 3 al 7 de septiembre de 2008). La agenda está llena y ciertamente va a atraer muchos inscritos y curiosos. La proliferación de poema-show, recitales abiertos en bares y en salas de aula, y hasta en las calles, no sucede apenas en Brasil, también ocurre en muchos países. Sin duda, la Web como base y la Internet como vehículo, vienen permitiendo a la poesía un espacio privilegiado para registrar y difundir textos poéticos, formando verdaderas redes sociales con los autores y lectores, de poesía convencional o visual, en todos los estilos y temáticas. Firmándose recientemente con la proliferación de blogs de poesía, además de las páginas y repertorios de los propios autores. Páginas individuales se cuentan a los miles, no apenas incluida la producción solitaria, sino congregando grupos de activistas, apuntando para otras direcciones análogas. E-books y textos virtuales ahora son gratuitos. Ya existen estudios específicos, con metodologías complejas y sofisticadas como los Topic maps y las redes hiperbólicas, intentando explicar y comprender tales relaciones creativas y asociativas. Es indudable como la multiplicación de poetas y lectores se ha desarrollado con repercusiones incontrolables, pero no de todo imprevisibles. Como sucede con toda actividad social intensa, alguna orden se impone, estilos se multiplican, líderes surgen y las celebridades aparecen por caminos propios, ya liberadas de las amarras de las grandes editoras y de la propia crítica que ya no tiene más los espacios tradicionales para manifestarse. En verdad, el consenso se hace de forma más abierta, las opiniones se multiplican sin mu-
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cha teoría y normas, causando las ya referidas perplejidades. A juzgar por lo que sucede con la música, con los deportes y otras actividades de masa, la poesía va firmándose en estilos y corrientes visibles y muchas acabarán siendo absorbidas e industrializadas para el consumo. Con la mejoría técnica de su producción y hasta con la generalización de sus métodos de creación y entendimiento. Pero con la convicción de que el crecimiento de la actividad dará lugar a rellanos altos de calidad y a vanguardias y elites que estarán en mejores condiciones de creación y uso… Es inevitable. La mejoría será inevitablemente para pocos, la mejor poesía acabará siendo privilegio de pocos, pero nos queda el consuelo de que la poesía – como la música, la cuales está cada vez más asociada, xifópagas… – dejará de ser para el uso de unos pocos para ser de muchos, no importa en que forma se presente… Vale la pena recordar el ejemplo del iceberg… Sólo hay una punta porque existe una base amplia de sustentación… Mayor la base, mayor la parte visible. Millares de blogs serán accesados en escala casi domestica, otros serán el territorio de tribus enormes y algunos conquistarán multitudes como galaxias en expansión, creciendo, desapareciendo, con una dinámica que intentaremos acompañar, comprender y usufructuar... *** La I BIENAL INTERNACIONAL DE POESÍA fue imaginada como un espacio para el confronto de los lenguajes y formatos en que sucede la poesía contemporánea, en su diversidad. Una especie de caleidoscopio, de vitral o mural en que se exponen todas las tendencias para un confronto entre los creadores, pero abierto al público. No es (apenas) un festival de poesía para los poetas, pretende ser un encuentro de poetas, editores, ensayistas y toda clase de activistas culturales con públicos en diversas escalas, desde los frecuentadores de los cafés literarios y academias hasta los espacios abiertos, en show, en ómnibus, plazas públicas. Por eso también se pretende que la poesía vaya a los barrios más lejanos y ocupe palcos en facultades, en escuelas, en toda parte. Quien va a hacer el juzgamiento final, si es que cabe, es la platea, el oyente, el lector. Aunque cuenta con el auspicio de la Secretaria de Cultura del Gobierno del Distrito Federal y de muchas otras instituciones públicas y privadas, la I BIP no debe ser vista como una actividad “chapa blanca”, y si como una actividad solidaria, cooperativa, en que muchos colaboradores y voluntarios se dispusieron a trabajar en el montaje de secciones en diversos locales, con la total libertad de organización y decisión. Aunque ofrezca un programa formateado, con nombres celebres en sus países de origen, está abierta para que cualquier poeta divulgue su trabajo, sin censura. El presente volumen reúne
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los poetas invitados de diversos países y de otros estados do Brasil, muchos de ellos vinieron con el patrocinio de embajadas, de instituciones nacionales y extranjeras, o con recursos conseguidos junto a patrocinadores como Petrobras, FAP (Fundo de Amparo à Pesquisa do GDF), Brasilia Tour y VARIG. Los poetas de Brasilia están reunidos en la antología “DESTE PLANALTO CENTRAL”, organizada por el poeta y ensayista Salomão Sousa, con el apoyo de la Cámara del Libro del Distrito Federal, y la colaboración siempre entusiasta de nuestro amigo Valter Silva, además de lanzamientos de libros por los autores y editores de la ciudad durante la 27.ª Feria del Libro de Brasilia. Los poetas visuales están en el catálogo de OBRANOMBRE2, exposición que podrá ser vista en los magníficos espacios del Museo Nacional del Conjunto Cultural de la República, con la competente y creativa curadoría de Wagner Barja. Los actores y músicos con la colaboración tan oportuna del Festival Internacional de Teatro ESCENA CONTEMPORÁNEA, dirigido por Guilherme Reis. Sin descartar las oportunidades del SIMPÓSIO DE CRÍTICA LITERÁRIA, en la Universidad de Brasilia, coordenado por la poetisa e investigadora Sylvia Cyntrão, además de muchos talleres para llevar conocimientos y técnicas a los interesados. Los niños poetas también tienen su volumen de poemas – la Antología de Poesía en Superdotados –, resultando de un concurso nacional patrocinado por el Ministerio da Educación, a través del Núcleo de Actividades de Altas Habilidades/Superdotados (NAAH/S-DF), en concurso nacional organizado por los profesores Olzeni Ribeiro y Josué Mendes, con textos bilingües portugués y español, que cuenta con el apoyo de la Embajada de España, para distribuir en escuelas y bibliotecas brasileñas y españolas. Hay también una muestra de cine sobre notables poetas brasileños en los espacios del Cine Brasilia. Claro que puede haber omisiones y fallas, en parte por la imposibilidad de reunir a todos en un único evento. Pero pretendemos volver en 2010, con la II Bienal para celebrar los 50 años de la inauguración de Brasilia, con más experiencia, con más tiempo para superar los deslices y profundizar los posibles méritos de esta iniciativa de la Biblioteca Nacional de Brasilia, en la fiesta de inauguración de sus servicios a la población local y extramuros. Ahora es la hora y la vez de la poesía, vamos a unirnos en esta cruzada con entusiasmo y devoción a las musas por más difusas que sean. Traducción de Aurora Cuevas Cerveró Reproducción del texto publicado originalmente en el Correio Braziliense, suplemento Pensar, Brasilia, sábado, 26 de enero de 2008. Cuaderno C, p. 7 con el objetivo de promover la I BIENAL INTERNACIONAL DE POESÍA DE BRASÍLIA, seguido de comentarios sobre el presente volumen.
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Affonso Romano de Sant’Anna A GRANDE FALA DO ÍNDIO GUARANI (1978) (fragmento) 3 E a pergunta martela e pousa como um corvo no desespero aberto da janela. — Quem escreveria o poema de meu tempo? — Eu próprio? Mas, com que mãos, arroubos, insânias? com que vaidades, prêmios, vexames? Fala alguém por alguém — com alheio coração? Vive alguém por alguém — ou morre sempre aquém da própria mão? Não seriam a fala o amor a vida a metafórica versão do exílio o brilho da apagada estrela ausência e concreção do nada? Sim, é verdade que cada dia sei mais do que se compõem a poesia e o nada. Debulho poemas e milharais como o camponês aduba estrofes e mulheres. Mas me sinto maduro e inútil. Como ontem: — imaturo e fútil. Não acordo mais às cinco não selo mais o animal desesperam-me os vegetais. Do pomar olho minha inútil biblioteca. Doirados frutos na estante. Inutilíssima sapiência. Sabíamos tudo.
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Affonso Romano de Sant’Anna
Merecíamos tudo. Tínhamos até fé. Outrora eu passeava entre canteiros de enciclopédias limpando pulgões podando ervas e páginas. Perdia-me na contemplação da abelha sobre as letras: — favos de mel derramavam-se da estante. Todos nós líamos os poetas mas não lavramos um mundo mais justo, E enquanto soturnos decifrávamos as tabuinhas dos caldeus os mais astutos e modernos empolgavam o poder e o generais marcando em nossas testas anátemas fatais. E líamos grossos romancistas exalando suor vermelho e revoltas sobre a praça. Povo era a palavra e o amanhã era a palavra da palavra povo. Mas porque estava tudo escrito nosso futuro petrificado de nós se alienou. Ontem soltávamos pombas nos estádios éramos livres, juvenis e a paz um poster de Picasso. Mas foram-se os posters e Picasso — e as pombas não voltaram nunca mais. Nossos pais também liam os poetas citavam os clássicos e pelas noites com seus robes tomavam chávenas e liam dourados tomos sem ver as traças — que nos comem. Mas os acontecimentos desviaram-se dos livros e por mais que entulhássemos os cursos de história de novo a história desviava-nos seus rios e os livros nem sempre férteis prodreciam no Nilo.
Affonso Romano de Sant’Anna E sobrevieram borrascas e explodindo códigos e leis que eram logo dissolvidos e refeitos em novas leis e códigos. E erguíamos diques e parágrafos murando o mar e a ressaca dos fatos — a tudo rebentar. A vida, a vida é mais que profecias e algemas a vida é irrefreável não se contém nas lâminas partidos nem nos fichários e antenas a vida — é o impoemável poema. QUE PAÍS É ESTE? (1980) (fragmento) para Raymundo Faoro Puedo decir que nos han traicionado? No. Que todos fueron buenos? Tampoco. Pero allí está una buena voluntad, sin duda y sobretodo, el ser así. César Vallejo
1 Uma coisa é um país, outra um ajuntamento. Uma coisa é um país, outra um regimento. Uma coisa é um país, outra o confinamento. Mas já soube datas, guerras, estátuas usei caderno “Avante” — e desfilei de tênis para o ditador. Vinha de um “berço esplêndido” para um “futuro radioso” e éramos maior em tudo
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Affonso Romano de Sant’Anna
— discursando rios e pretensão. Uma coisa é um país, outra um fingimento. Uma coisa é um país, outra um monumento. Uma coisa é um país, outra o aviltamento. Deveria derribar aflitos mapas sobre a praça em busca da especiosa raiz? ou deveria parar de ler jornais e ler anais como anal animal hiena patética na merda nacional? Ou deveria, enfim, jejuar na Torre do Tombo comendo o que as traças descomem procurando Quinto Império, o primeiro portulano, a viciosa visão do paraíso que nos impeliu a errar aqui? Subo, de joelhos, as escadas dos arquivos nacionais, como qualquer santo barroco a rebuscar no mofo dos papiros, no bolor das pias batismais, no bodum das vestes reais a ver o que se salvou com o tempo e ao mesmo tempo — nos trai. EPITÁFIO PARA O SÉCULO XX 1. Aqui jaz um século onde houve duas ou três guerras mundiais e milhares de outras pequenas
Affonso Romano de Sant’Anna e igualmente bestiais. 2. Aqui jaz um século onde se acreditou que estar à esquerda ou à direita eram questões centrais. 3. Aqui jaz um século que quase se esvaiu na nuvem atômica. Salvaram-no o acaso e os pacifistas com sua homeopática atitude — nux vômica. 4. Aqui jaz o século que um muro dividiu. Um século de concreto armado, canceroso, drogado,empestado, que enfim sobreviveu às bactérias que pariu. 5. Aqui jaz um século que se abismou com as estrelas nas telas e que o suicídio de supernovas contemplou. Um século filmado que o vento levou. 6. Aqui jaz um século semiótico e despótico,
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Affonso Romano de Sant’Anna que se pensou dialético e foi patético e aidético. Um século que decretou a morte de Deus, a morte da história, a morte do homem, em que se pisou na Lua e se morreu de fome. 7. Aqui jaz um século que opondo classe a classe quase se desclassificou. Século cheio de anátemas e antenas,sibérias e gestapos e ideológicas safenas; século tecnicolor que tudo transplantou e o branco, do negro, a custo aproximou. 8. Aqui jaz um século que se deitou no divã. Século narciso & esquizo, que não pôde computar seus neologismos. Século vanguardista, marxista, guerrilheiro, terrorista, freudiano, proustiano, joyciano, borges-kafkiano. Século de utopias e hippies que caberiam num chip. 9. Aqui jaz um século que se chamou moderno e olhando presunçoso o passado e o futuro julgou-se eterno;
Affonso Romano de Sant’Anna século que de si fez tanto alarde e, no entanto, — já vai tarde. 10. Foi duro atravessá-lo. Muitas vezes morri, outras quis regressar ao 18 ou 16, pular ao 21, sair daqui para o lugar nenhum. 11. Tende piedade de nós, ó vós que em outros tempos nos julgais da confortável galáxia em que irônico estais. Tende piedade de nós — modernos medievais — tende piedade como Villon e Brecht por minha voz de novo imploram. Piedade dos que viveram neste século – per seculae seculorum.
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Reynaldo Jardim O SOM EMBUTIDO NA MATÉRIA O Som se oculta no Lenho da madeira, Cordas de piano,mesa De bar,corpo de cristal Ou vidro ordinário, Se esconde,o Som ,nos Másculos do corpo,couro Do tamborim, no Stradivarius, ossário Dos animais carnívoros Ou não. Em silêncio o Som Aguarda que o libertem Da matéria bruta ou Manufaturada, para Expressar sua angústia, Melodia, ruído ,linguagem Áspera, doce , requintada , Basta um leve toque No atabaque, da baqueta Na pele tensionada Do surdo para que Ele,o Som,rompa a Mortalha e vibre no ar O ritmo do samba sincopado. Ele ,o Som,grita quando A porta bate forte no Batente e se desespera Quando mãos desajeitadas Foram, dele o irritante Arranhar de lixa polindo A ferrugem das cascos Dos navios. O Som implora que Todos o tratem com
Reynaldo Jardim A delicadeza de um João Gilberto. MATERNAL Ela se deita, Diz que não se importa E deixa a porta Escancarada e nua Ela projeta Uma sombra torta, Iluminada pela luz da rua. A lua bate e ela se comporta Como se a lua fosse Seu cachorro que amestrado Lhe beijasse a boca, que sensitivo Lhe aplacasse o choro. E esse quarto vira uma loucura de bocas,de cachorro de ternuras de luas espalhadas Água em chamas. No incêndio dourado de seus pêlos queimam-se desvarios e desvelos. O mel de leite Brota em suas mamas.
DESAMORES 4 Quero me despojar de tudo o que não tenho. Limpar meus horizontes de artes e de engenho.
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Quero me desfazer de tudo o que não tive. A certeza certeira de quem viveu não vive. Quero me entristecer de alegria e calma. Olhar no espelho e ver a cara de minha alma. E quero dessofrer o que nunca sofri. O gosto do prazer: sumo de sapoti. SONETO TRAVADO O que será que ela me ama, se a impudência da ternura, o quando vou, a volta escura, esse parir quando me chama? O que terá que assim me odeia, por que se faz de alegre e raiva, sendo a distância que desmaia, por que me aranha em sua teia? O que faria se me esquece e já me fere da esquivança, senão me erra o que padece: a manhã cedo em cada prece, a fúria azul dessa lembrança, o calendário que enlouquec
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Thiago de Mello OS ESTATUTOS DO HOMEM Poema que escrevi em 1964, em protesto contra o terror da ditadura militar. É dedicado a Car/os Heitor Cony
Artigo I. Fica decretado que agora vale a verdade, que agora vale a vida e que, de mãos dadas, trabalharemos todos pela vida verdadeira. Artigo II. Fica decretado que todos os dias da semana, inclusive as terças-feiras mais cinzentas, têm direito a converter-se em manhãs de domingo. Artigo III. Fica decretado que, a partir deste instante, haverá girassóis em todas as janelas, que os girassóis terão direito a abrir-se dentro da sombra e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro, abertas para o verde onde cresce a esperança. Artigo IV. Fica decretado que o homem não precisará nunca mais duvidar do homem. Que o homem confiará no homem como a palmeira confia no vento, como o vento confia no ar, como o ar confia no campo azul do céu.
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Parágrafo único: O homem confiará no homem como um menino confia em outro menino. Artigo V. Fica decretado que os homens estão livres do jugo da mentira. Nunca mais será preciso usar a couraça do silêncio nem a armadura de palavras. O homem se sentará à mesa com seu olhar limpo porque a verdade passará a ser servida antes da sobremesa. Artigo VI. Fica estabelecida, durante os milênios da vida, a prática sonhada pelo profeta Isaías, e o lobo e o cordeiro pastarão juntos e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora. Artigo VII. Por decreto irrevogável fica estabelecido o reinado permanente da justiça e da claridão, e a esperança será uma bandeira generosa para sempre desfraldada na alma do povo. Artigo VIII. Fica decretado que a maior dor sempre foi e será sempre não poder dar amor a quem se ama sabendo que é a água que dá à planta o milagre da flor.
Thiago de Mello Artigo IX. Fica permitido que o pão de cada dia tenha no homem o sinal do seu suor. Mas que sobretudo tenha sempre o quente sabor da ternura. Artigo X. Fica permitido a qualquer pessoa, a qualquer hora da vida, o uso do traje branco. Artigo XI. Fica decretado, por definição, que o homem é um animal que ama e que por isso é belo, muito mais belo do que a estrela da manhã. Artigo XII. Decreta-se que nada será obrigado nem proibido. Tudo será permitido, inclusive brincar com os rinocerontes e caminhar pelas tardes com uma imensa begônia na lapela. Parágrafo único: Só uma coisa fica proibida: amar sem amor. Artigo XIII. Fica decretado que o dinheiro não poderá nunca mais comprar o sol das manhãs vindouras. Expulso do grande baú do medo, o dinheiro se transformará em uma espada fraternal para defender o direito de cantar
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Thiago de Mello a festa do dia que chegou. Artigo final. Fica proibido o uso da palavra liberdade, a qual será suprimida dos dicionários e do pântano enganoso das bocas. A partir deste instante a liberdade será algo vivo e transparente como um fogo, um rio, como a semente do trigo e a sua morada será sempre o coração do homem. LEÃO (21 de Julho a 20 de Agosto) Leão é fogo, sonhos cerrados, a rosa de amor feita de brasa. A vida te será amável, companheiro que avanças sob o sortilégio do Sol. A menos que sejas um Leão cujos dias se cumprem em certos pedaços de chão como o do Nordeste da minha pátria, sob o sol da injustiça. Mas é desgraça demasiada para tão pouco horóscopo. De resto, trata o meu zodíaco da vida, que não é precisamente o que tu levas, companheiro camponês. Contudo, algo te digo: não te submetas, dentes de esmeralda já se cravam na entranha do latifúndio. Quanto a ti, Leão poderoso, sei que não calculas os momentos que vives, não calculas nem medes, confias nos teus átomos,
Thiago de Mello te encantam as turquesas, ostentas a gordura, esbanjas as suavidades. Tuas razões terás, e são das fortes, porque se nutrem da alheia desventura. Mas não posso ocultar-te que vejo fluidos escuros baixando sobre tua cabeça. Enquanto caminhas confiante, levado por tua extrema ganância, Saturno está só te olhando com seu olho implacável. Te recomendo, para começar, empinar um papagaio agora mesmo, pelo menos uma tarde por mês, e publicamente. Queres que eu te diga tudo? Haverá um instante de inverno em que sete astros se unirão à esquerda da tua indiferença. Sete astros, sete ventos, sete nebulosas verdes, sete segredos reunidos contra tua força de homem, que sempre foste sozinho, que apenas contas contigo. Vais ver enfim como te odeia a multidão que te adula. Vê se descobres um irmão, vê se ainda podes ser irmão, talvez possas, ainda é tempo. Depende do teu coração, se é que ainda o levas. E tu, doce mulher de Leão, não abandones assim tanto a cozinha: inventa um guisado, com aipo, ternura e orégano, em fogo bem brando, para o teu homem.
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Wlademir Dias-Pino
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Alice Ruiz HAICAIS mar bravio a cada onda novo silêncio diante do mar três poetas e nenhum verso manhã de outono o verde do mar também amarela sinal fechado o menino atravessa escrevendo versos contra o prédio cinza uma só flor e todas as cores procurando a lua encontro o sol mas já de partida pôr-do-sol em torno dele todos os cinzas começo de outono cheia de si a primeira lua som alto vento na varanda a samambaia samba
Alice Ruiz trânsito parado os mesmos olhares e ninguém se olha último raio de sol primeiro da lua outono nascendo cerimônia do chá três convidados e um mosquito nuvem de mosquitos tocando violão silenciosamente sob a folha ver-escura a folha verde-clara trêmula dissimula DRUMUNDIANA e agora maria? o amor acabou a filha casou o filho mudou teu homem foi pra vida que tudo cria a fantasia que você sonhou apagou à luz do dia e agora maria? vai com as outras vai viver com a hipocondria Nota: Paródia do poema “José”, de Carlos Drummond de Andrade.
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Alice Ruiz
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SE se por acaso a gente se cruzasse ia ser um caso sério você ia rir até amanhecer eu ia ir até acontecer de dia um improviso de noite uma farra a gente ia viver com garra eu ia tirar de ouvido todos os sentidos ia ser tão divertido tocar um solo em dueto ia ser um riso ia ser um gozo ia ser todo dia a mesma folia até deixar de ser poesia e virar tédio e nem o meu melhor vestido era remédio daí vá ficando por aí eu vou ficando por aqui evitando desviando sempre pensando se por acaso a gente se cruzasse…
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Alice Spíndola ÁGUAS-MILAGRES Ouve, meu rio, o homem persegue, há séculos, o mistério das águas. Quentes? Vulcânicas? Águas de gelo? Bacias hidrográficas honram a nossa França, aguardam a História, indo atrás dos rastros das míticas e místicas paragens de sua trajetória. Primitivo tempo das caçadas… Interior das florestas detém a teimosia de homens e condados. Represas de águas claras e mananciais subterrâneos salvam a pauta das memórias das águas-milagres, no desafio de reter a sinfonia dos rios. Vazantes, abraçadas pelo mar, sangram o arco-íris, código das cores dos frutos maduros. Folhagens estampam o escuroverde. SEMPRE BUSCANDO A CANÇÃO ESQUECIDA No frêmito da ventura, a fuga e o retorno da imagem do pequeno barco. Imagem – fonte e oráculo –
Alice Spíndola
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mergulhada na insularidade do mar de gestos e de palavras. Com a alma seqüestrada pela beleza do rio e pelo rumor de suas águas, o menino procura a canção esquecida. Menino parisiense voga nas milhas do sol. A CHAVE No meio da noite, configura a fragrância das palavras mágicas Na chave da noite, a ternura, pluma que verte enigmas Nas mãos do tempo, o arado que rasga os mistérios do sentimento que define O homem da meia noite, em seu caminho de volta que faz ao adentrar a meia lua das unhas dos enigmas. A mão da noite destrava a chave da fragrância das palavras mágicas VIGÍLIA No labirinto do silêncio, o abismo O pêndulo do relógio Sai do corpo das horas E entra em contrita vigília O espelho do tempo Reflete a imagem:
Alice Spíndola Um relógio preso Na parede pálida Espera o êxtase da alma das horas O poeta mira o relógio E aguarda que o poema Revele a sua maturidade E que vele pela vigília E que valha um palpite de eternidade Na alma do poeta, o êxtase Do poema que pontilha o eterno.
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Amparo Osório INVENTARIO Nada fue tuyo. Sólo imaginaste una casa y la luna. El fuego vacilante de la llama. La mensajera noche alta en la soledad de tus estrellas La sombra perfecta y fiel dictando el paso de las constelaciones. La música del agua… Ahora lo sabes. Palidecen las manos. Miras el tiempo de tu cuerpo, el tiempo de los ríos, el tiempo de las ruinas. Basta que quisieras dormir sin pronunciar la última palabra. Que sólo desearas ya no mirar y desatar los brazos. Sólo eso bastaría… Pero no sabes cómo. Traduções de Floriano Martins INVENTÁRIO Nada foi teu. Apenas imaginaste uma casa e a lua. O fogo vacilante da chama. A mensageira noite alta na solidão de tuas estrelas. A sombra perfeita e fiel ditando o passo das constelações.
Amparo Osório A música da água… Agora já sabes. Tuas mãos empalidecem. Vês o tempo de teu corpo, o tempo dos rios, o tempo das ruínas. Bastaria que quisesses dormir sem pronunciar a última palavra. Que desejasses somente não mais olhar e desatar os braços. Bastaria apenas isto… Porém não sabes como. EM SEGREDO Por quem canta o obscuro caracol e seu pó de séculos por que persiste ainda? Partimos tantas vezes sob o breve tremor das estrelas que fugir uma vez mais é apenas mais caminho. Não se parte. Nunca se parte sempre se regressa. À DERIVA Houve um instante de pavor em que o tempo do nunca se deteve e o jamais devolveu suas mãozinhas ao relógio de água dos olhos. Antes ia o amor
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Amparo Osório alto, subindo, porém entraram velozes as mentirosas águias rapinantes… e então: o esquecimento. ESTAÇÃO PROFÉTICA Crepúsculos alheios destinos vãos presentes irreais Desperdício! Meus olhos nada podem mudar. Nem as palavras ditas ou caladas nem o rosto da morte inventariado nas dobras da sombra. Esquecimentos. Centenas de esquecimentos e úmidas crisálidas — guardiãs das tumbas — avançam apesar de meu soluço. Os relógios cumprem com sua cota de espanto.
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Antonio Brasileiro O SIM & OUTROS ACHAQUES A vida inteira anulada por falta de outros desígnios, eis que voltamos ao parque onde os homens se congregam: ninguém jamais sabe ao certo onde o sim das grandes aves, singramos por mares mansos que julgáramos esquecidos – mas eis que a vida se perde por falta de outros desígnios. Ou não se perde: é só isto. SONETO DO AMOR PROFANO Não me consinta o amor tanta alegria, pois, por não merecê-la, me constrange o peito (já uma dor, não longe, me sussurra que este amor sem agonias não há de consentir em tanta graça), eis que, perdidamente, já pressinto – e quanto, e quanto – que em amor, perdidos todos os lances, não há como obtê-lo de outro modo que não por sacrifícios / e eis que este, pois, gratuita dádiva, me chega às mãos de um modo tão profano, que quase certo estou de que, se o tenho, já não o tenho por justo e dadivoso mas por amor que é fruto só de engano. E não me engana um amor quando enganoso.
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Antonio Brasileiro CEM ANOS Vejo mãos que me folheiam buscando-me a fisionomia – mas já passei, agora sou apenas poesia. Vejo rostos que me amam tentando saber quem fui – sou um retrato, miragem que o tempo dilui. Vejo braços que me acenam chamando-me insistentemente – para que, se a folha que passa passa tão de repente? A NOITE DAS NOVE LUAS 1. Deixai-me com meus lírios e minhas luas. Andar é sempre a mesma luz à frente. Vou explodir com os planetas vou seguir a rota das galáxias ai amor estou prestes a me dissolver no ar. Mas deixai-me com meus lírios e interlúdios nestes mares nunca mares calmos mares. 1. Deixai-me com meus lírios e sonetos. Vou explodir de luz um dia desses, amiga, um dias desses. Deixai-me com meus lírios e sonetos.
Antonio Brasileiro Hás de me encontrar insone e louco no meio dos trigais da inconsciência, ai, declamando os versos que Van Gogh não escreveu. ARTE POÉTICA Meus versos são da pura essência dos poemas inessenciais. Nada dizem de verídico não querem nada explicar. Não narram o clamor dos peitos não encaram a dor do mundo. Se por vezes falam alto é por puro gozo, júbilo. humor que brota de dentro como se movem os astros. Eles, meus versos, são pura floração de irresponsáveis flores nascidas nos mangues, por nascer – mas multicores, lindas, não importa que os homens as conheçam ou não conheçam. TUDO QUE SOMOS Tudo que somos, pouco sabemos. Um poço imenso,
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Antonio Brasileiro
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cheio de sonhos. Quando choramos, não nos perdemos. Viver é um sonho, Não esqueçamos. Viver é a sombra, o assombro, o apenas. / Tão frágeis somos! Frágeis e imensos. CONTEMPLAÇÃO DA NUVEM
p/ Luis Alberto
a vida é a contemplação daquela nuvem. E o mundo uma forma de passar, que inventamos para não ver que o mundo não é o mundo, mas uma nuvem passando. E uma nuvem passando ensina-nos mais coisas que cem pássaros mil livros um milhão de homens. A vida é a contemplação daquela nuvem. E o mundo uma forma de passar, que inventamos para não ver que o mundo não é o mundo, mas uma nuvem. Passando.
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Antonio Carlos Secchin A ILHA E olhamos a ilha assinalada pelo gosto de abril que o mar trazia e galgamos nosso sono sobre a areia num barco só de vento e maresia. Depois, foi a terra. E na terra construída erguemos nosso tempo de água e de partida. Sonoras gaivotas a domar luzes bravias em nós recriam a matéria de seu canto, e nessas asas se esparrama nossa glória, de um amor anterior a todo estio, de um amor anterior a toda história. E seguimos no caminho de ser vento onde as aves vinham ver se havia maio, e as marcas espalmadas contra o frio recobriam de brancura nosso rumo. E abrimos velas alvas que se escondem dos mapas de um sonho pequenino, do início de uma selva que se espraia na distância entre mim e o meu destino. MARGEM Vou andando para a beira desse porto, entre cheiros de cigarra e de sardinha e um desejo líquido de partir. Meu olhar desliza no horizonte, querendo saber a que distância um nome deixa de doer. seu nome, marcado em minha boca
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Antonio Carlos Secchin como a polpa de uma pêra . O navio enorme avisa que vai embora. Escrevo a palavra salto, e paro no sal, e não chego ao alto. A noite está boiando num óleo grosso de silêncio e luz. Molho os pés, penso em seu nome: gozo de um poço tapado. Insônia de musgos na beira das águas redondas. Me vejo na ponta do cais, cacos de luz abrindo a cara do mar. Destroços de palavras, pedaços de seu nome, sílabas que batem contra os cascos. Estou parado na beira de um porto, azul e morte no oco do ar. BIOGRAFIA O poema vai nascendo num passo que desafia: numa hora eu já o levo, outra vez ele me guia. O poema vai nascendo, mas seu corpo é prematuro, letra lenta que incendeia com a carícia de um murro. O poema vai nascendo sem mão ou mãe que o sustente, e perverso me contradiz insuportavelmente. Jorro que engole e segura o pedaço duro do grito, o poema vai nascendo, pombo de pluma e granito.
Antonio Carlos Secchin CANTIGA Senhora, é doença tão sem cura meu querer de vossos olhos tão distantes, que digo: é maior a desventura ver os olhos sem os ver amantes. Senhora, é doença tão largada meu querer de vossa boca tão serena, que até mesmo a cor da madrugada é vermelha de chorar a minha pena. POEMA DO INFANTE É a noite. E tudo escava tudo na língua ambígua que desliza para o esquivo jogo. Amargo corpo, que de mim a mim se furta, não recuso teu percurso no hálito das pedras que me existem em ti – estéril dorso entre águas estancadas. O nada, o perto, o pouco, não posso dividir do que se espera o que me habita, ao fazer fluir a via antiga de um menino que mediu o lado impuro. Operário do precário, me limito nesse corpo amanhecido, asa e gozo onde a morte mora. Minha vida, mapeada e descumprida, está pronta para o preço dessa hora
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Antonio Cisneros KARL MARX DIED 1883 AGED 65 Todavía estoy a tiempo de recordar la casa de mi tía abuela y ese par de grabados: Un caballero en la casa del sastre, Gran desfile militar en Viena, 1902. Días en que ya nada malo podía ocurrir. Todos llevaban su pata de conejo atada a la cintura. También mi tía abuela –veinte anos y el sombrero de paja bajo el sol, preocupándose apenas por mantener la boca, las piernas bien cerradas. Eran los hombres de buena voluntad y las orejas limpias. Sólo en el music-hall los anarquistas, locos barbados y envueltos en bufandas. Qué otoños, qué veranos. Eiffel hizo una torre que decía “hasta aquí llegó el hombre”. Otro grabado: Virtud y amor y cela protegiendo a las buenas familias. Y eso que el viejo Marx aún no cumplía los veinte años de edad bajo esta yerba gorda y erizada, conveniente a los campos de golf. Las coronas de flores y el cajón tuvieron tres descansos al pie de la colina y después fue enterrado junto a I la tumba de Molly Redgrove “bombardeada por el enemigo en 1940 y vuelta a construir”. Ah el viejo Karl moliendo y derritiendo en la marmita los diversos metales mientras sus hijos saltaban de las torres de Spiegel a las islas de Times y su mujer hervía las cebollas y la cosa no iba y después sí y entonces vino lo de Plaza Vendome y eso de Lenin y el montón de revueltas y entonces las damas temieron algo más que una mano en las naIgas y los caballeros pudieron sospechar
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que la locomotora a vapor ya no era más el rostro de la felicidad universal. “Así fue, y estoy en deuda contigo, viejo aguafiestas:” Traduções KARL MARX DIED 1883 AGED 65 Ainda estou pronto para recordar a casa de minha avó e esse par de gravuras: Um cavalheiros na casa do alfaiate, Grande desfile militar em Viena, 1902. Dias em que mais nada de ruim podia acontecer. Todos levavam seu pé de coelho na cintura. Também minha tia-avó ¯ vinte anos e o chapéu de palha sob o sol, preocupando-se apenas com manter a boca, as pernas bem fechadas. Eram os homens de boa vontade e as orelhas limpas. No music hall apenas os anarquistas, loucos barbudos e envoltos em cachecóis. Que outonos, que verões! Eiffel fez uma torre que dizia: “até aqui chegou o homem”. Outra gravura: Virtude e amor e ciúme protegendo as melhores famílias. E dizer que o velho Marx ainda não cumprira os vinte anos de idade debaixo desta erva ¯ gorda e eriçada, conveniente para os campos de golf. As coroas de flores e o caixão tinham três descanços ao pé da colina e depois foi enterrado junto ao túmulo de Molly Redgrove “bombardeado pelo inimigo em 1940 e logo reconstruído”. Ah o velho Marx moendo e derretendo na marmita os diversos metais enquanto os filhos pulavam das torres de Spiegel às ilhas de Times e sua mulher fervia as cebolas e a coisa não avançava e depois sim e então veio o da Praça Vendome e aquilo de Lênin e o montão de revoltas e então
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Antonio Cisneros as damas temeram algo mais do que mão nas nádegas e os cavalheiros puderam suspeitar que a locomotiva a vapor já não era mais o rosto da felicidade universal. “Assim foi, e estou te devendo, velho estraga-festas”. OUTRA FESTA DO MENINO JESUS Se eu soubesse por onde começar começaria com o coração na mão. Filha da mãe de pescadores e agricultores, servidora do Menino. Aqui de pé com o punho cerrado e os espinhos da tuna mais seca. (Os canais de pedra afundando na areia como um rato no matorral.) Sem ter a quem queixar-me agora. Já abandonamos nossos mortos (posso ouvi-los Crescer sob o carvão). O Menino me perdoa. Adeus plantinha de pimenta, mudinha de arruda, plantinha do rocoto.* Adeus pirilampos, lagartos, escorpiões. Recolho os cabelos e tento dormir enquanto escuto as sombras nas dunas uma derradeira vez. (Ao deserto o que era do deserto. Ao mar o que é do mar.
Antonio Vicente Pietroforte O RETRATO DO ARTISTA ENQUANTO FOGE
para Camila
o que apetece, Balzac? na descrição da forma mais bonita, você se perde entre o desenho e o fato; e agora Glauco, na hora de fazer mais um soneto, qual parte do corpo que você escolhe? a tinta da melancolia te entrega uns braços, a veia do poeta negro se toca quando fica duro; palmeira, a menina loira desmaia sobre a mata, a pata da donzela ciumenta te consome como te consome o pulso machucado; muitas putas para Henry Miller, para Jean Genet, travestis, viados como na Ilíada, Aquiles e Pátroclo; continua a saga no drama, na comédia é sempre uma mulher que te abre o Céu como se abrisse as pernas; como Camões na redondilha pede um beijo às lavadeiras, Joyce, numa carta à namorada pede peidos na cara está parado em frente ao Elevado na Amaral Gurgel toma cuidado o emplasto que segura o saco o talco no lugar da flor
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Antonio Vicente Pietroforte puro Mistral desceu pelo nariz nervoso havia um sex-shop ali ano passado beleza há um pôster de mulher pelada imenso em cada prédio dureza fingir indiferença à mendiga suja o pé descalço a coxa dura a curva da cintura no vestido dado vazio? por que duas lésbicas precisariam de um pinto de borracha para completar o trio? o brilho da água se recorta no vôo do inseto o Buda sentado alucina esmeralda incrustada no olho de vidro a loucura do fungo nos night clubs em Nagazaki pássaro feito de plástico tão bonito que parece de verdade minha doce emoção se desgasta no excesso da palavra o brilho da água já não diz mais nada
Antonio Vicente Pietroforte mas soluça a água salgada do teu olho falho grita na garganta, mais viscosa só me diz a água que do teu olho vaza lacrimosa neblina produto da fumaça zebra riscada com chicote o Buda toca uma punheta, e goza ) mas (sob o céu da Pérsia no bico do Simorg ela é minha de verdade
o shortsvermelho reetus vermelhovermelho proeta vermelho vermelho zen o vôo da garça zen o vôo da garça ergo semdramasemdrama erectus malae tenebrae Orci rubent rubent como se trata do corpus como se trata do animus incógnito trata-se da mens lubrax trata-se do noûs
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Antonio Vicente Pietroforte o outro anal para Camila ninguém repara, amada você não leva nada em uma noite escura quem sabe alguma prece rara, súcubo a vespa pronta pra bater as asas com ânsias, em amores inflamada decotada, a Vênus indecente, desfruta ó ditosa ventura! a sensação do tato sob os pés, prece rara – saí sem ser notada o chão é caramelo puro, gata sussurra pela noite escura, fada estando minha casa sossegada
Aricy Curvelo aqui não mais aqui (uma fímbria) (uma face) (uma frase) nem tudo o que sabemos linguagem nem tudo o que resta : o pousar que recolhe o que existe (a obscura mistura) viver significa — e é tudo sobretudo
quando sem receio, quando te entregares, quando te fundires, sem medo, ao obsclaro e ao mênstruo da linguagem, mesmo se te houveres perdido, porque terás de criar livremente a tua língua, haverás de criar livremente o teu espírito.
o náufrago Os planos que malogram,
a fortuna que se rende, o fado que tem olhos de acaso e relógio, pelo pesadelo a grande Barca abalroada, três mil passageiros se paralisaram no terror da hora,
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em plena noite, ao mar, na baía da Guanabara. Alguns, das águas recuperados. Um, não dos mais belos, porém dos mais jovens, fortes ventos e correntes o impeliram para fora da barra, para as altas águas, o alto mar, roído de peixes, que humano já não era, incorporado a medusas, a algas, ao plenilúnio, às vagas, aos eflúvios do sal. Agora, sua respiração percorre o litoral.
indigência e riqueza o real (julgaram) é só o que vem ter à palavra há muito mais silêncio e muito mais silêncio há muito mais real e muito mais real o verso existe para impedir o poeta de falar
E-U
canção de uma só palavra pássaro de uma só asa
cidades de uma só casa
uma só mão batendo palmas
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Aristóteles España
LLEGADA Bajamos de la barcaza con las manos en alto a una playa triste y desconocida. La primavera cerraba sus puertas, el viento nocturno sacudió de pronto mi cabeza rapada el silencio esa larga fila de Confinados que subia a los camiones de la Armada Nacional marchando cerca de las doce de la noche del once de septiembre de mil novecientos setenta y tres en Isla Dawson Viajamos por un camino pantanoso que me pareció una larga carretera con destino a la muerte. Un camino con piedras y soldados. El ruido del motor es una carcajada, mi abrigo café tiene barro y bencina: nos rodean bajamos del camión uno dos tres kilómetros cerca del mar y de la nada, ¿Qué será de Chile a esta hora? ¿Veremos el sol mañana? Se escuchan voces de mando y entramos a un callejón esquizofrênico que nos lleva al Campo de Concentración, se encienden focos amarillos a nuestro paso, las ventanas de la vida se abren y se cierran.
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Traduções CHEGADA Saimos da barcaça com as mãos ao alto numa praia triste e desconhecida. A primavera fechava as portas, o veno noturno sacudiu de repente minha cabeça raspada o silêncio essa longa fila de Confinados que subia aos caminhões da Armada Nacional marchando próximo da meia noite de onze de setembro de mil novecentos setenta e três em Ilha Dowson Viajamos por um caminho pantanoso que me pareceu uma longa estrada com destino à morte. Um caminho com pedras e soldados. O ruído do motor é uma gargalhada, meu abrigo café tem barro e benzian: nos acurralam descemos do caminhão um dois três quilômetros próximo do mar e de nada, Que será do Chile a estas horas? Veremos o sol amanhã? Escutam-se vozes de comando e entramos num corredor esquizofrênico que nos leva ao Campo de Concentração, acendem focos amarelos em nossa passagem, as janelas da vida se abrem e se fecham.
Aristóteles España APONTAMENTOS Me fotografam num galpão como um objeto, uma, duas, três vezes, de perfil, de frente, elaboram minha ficha com esmero: “solteiro, estudante, 17 anos, perigoso para a Segurança Nacional”. Olham de soslaio: Querem minhas impressões digitais. Um suor gelado inunda minhas faces. Nada comi. Creio que há uma tormenta. Me algema novamente. Sinto náuseas. Começo a ver que tudo gira a mil quilômetros por hora. Batem com força em meus ouvidos. Caio. Grito de dor. Vou chocar com uma montanha. Mas não é uma montanha. Senão barro e pontapés, e um barulho intermitente que se mete em meu cérebro até a inconsciência. O OUTRO INVERNO As vozes de minhas primas ardem na direção de um janeiro que se foi. Todas reencarnadas, mínimas lendas, Espelhando-se na água onde eram mais duendes que mulheres. Imitações vagas, um quadro de Renoir, Corridas pelo pátio onde devorávamos o assado natalino.
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Aristóteles España Uma vez mais repete o mesmo sol em suas coxas depois de doze anos, essa luta por assemelhar-nos a parentes distantes como se nada tivesse acontecido. E aquilo de usar sempre os mesmos disfraces. Também uma dança que não recordo e ícones religiosos, com os magos que retornam de uma história diferente todo dia, como imagens de leões mortos e este bombardeio nos órgãos sexuais, e o mesmo final na boca de filhos imaginários; velhas fotografias que começo a despedazar no cuarto de uma úmida pensão na Dez de Julho, retendo o ar, enquanto miro, imóvel, os ossos na parede.
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Betty Chiz
TRÁNSITO Desciendo por los arcos cada día cada año. La memoria se empantana. Me esfuerzo por recordar nombres y rostros buceo en mis archivos neuronales guardo información innecesaria escondo espontáneos deseos de abrazar amigos cansada de brindarme sin prejuicios. Camino calle arriba los silencios mastico las palabras habituales las que nombran techo y pan desentrañando semánticas ajenas. Argumento del arco iris su circunferencia o el semicírculo visible el transitado en una sola vía. Remuevo del dolor transidas circunstancias me apoyo en cimientos milenarios y así nomás ando por la vida derramándome total en cuerpo y alma.
Betty Chiz
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Traduções TRÂNSITO Descendo pelos arcos todo dia cada ano. A memória se empantana. Me esforço para recordar nomes e rostos submerjo em meus arquivos neurais guardo informação desnecessária escondo espontâneos desejos de abraçar amigos cansada de celebrar-me sem preconceitos. Caminho rua acima os silêncios mastigo as palavras habituais as que nomeiam teto e pão desentranhando semânticas alheias. Argumento do arco-íris transidas circunstancias apoio-me em cimentos antigos e assim é que ando pela vida derramando-me inteira em corpo e alma.
TAPETE Urdidura onde mãos de mulher plasmam flores e pássaros novelos transformados em textura apertada o tear intercepta o alinhavo a obra cresce desenvolve sua teia com a velocidade da aranha
Betty Chiz que captura sonhos. Urdidura onde os olhos desenham o tecido caprichoso atrevido artístico que acomete a academia caçadora de sonhos. Urdidura onde fios e lãs mimam o bastidor abrigo seguro regaço materno tradição rural o fuso tece sonhos. Urdidura onde fomos do calendário de parede aos parafusos do suporte de madeira sustentam utopias vivendo sonhos. Urdidura onde com as falanges nuas e as estrias nos dedos o unicórnio se levanta no estandarte azul espreitando nuvens.
AVE FÉNIX “…hay golpes en la vida tan fuertes…yo no sé…” César Vallejo “Los Heraldos Negros”
Acreditei dever sustentar o mundo com minhas mãos e senti “que hay golpes en la vida tan fuertes…yo no sé”.
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Betty Chiz Se é que não sabia que era como ave fênix e dores e impostam, tornam-se sarro, envelhecem nas cavas, pra que servem, me pergunto, os anos nas costas que mais de endiabram entre o amor e o ódio em cada circunstância. Que importa!, me digo “si hay golpes en la vida…” golpes de misericórdia. Sei lá! O mundo se coloca de soslaio quando subo a ladeira mão dupla me ouço dizendo-me ao meu ouvido externo que devo deixar a ave fênix ressurgir dos escombros e excrescências mesmo que haja “golpes en la vida…tan fuertes…” bem o sei.
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Carlos Ortega Guerrero DANZA EL PASAJERO DE LA ESTANCIA Estar o no estar hacen el margen el campo donde sin pausa configuran las aleaciones de la conciencia y de la forma “los espisódios de la realidad’’ ¿Cuántos caminos tienden a esta tarde colmada de frutos en los jarros? Fluyen en las corrientes del diálogo de lábios a ojos ávidos historias traídas desde lejos para en el ensueño arraigar A veces oigo latir mi corazón como metido en el agua de un tibor en la maleza transpariente del tiempo “¡Voz del tambor voy a velear!” me digo nauta en la cavidad de la conciencia Ofrendo mientras vuelo sutiles espaciosas ganas de morir me hago vacante oscuro inmemorial quedo descanso en paz para levantarme outra vez fresco a pulsar amoroso entre los hilos que mueven en el mundo la belleza y la suma
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Carlos Ortega Guerrero el beso y el madrazo la falta y el desdén: sordomudo del tiempo y del espacio inmóvil oquedad que nada empoza mas que rebosa cuando vuelve al halo mental el sabor de la conciencia entre hierbas delicias matutinas: la luz el aire el agua la campana Salto del globo que lleva el pensamiento a la tierra de nadie del silencio donde palpita la vena primordial El horizonte se figura: las formas ciertas que disipan su arte son ojos mudos que las vem llegar ßEspaciotiempo lugar de la ignorancia oportunidad cruda del raudal! reino de cada uno en el Todo Uno perdido u olvidado por cada orondo quién ¿Por qué no llegar al mar de cada instante por las vias individuales de la sed cada cual lleno de si claro vacío ebrio de Dios aliento de su sino para en el centro del aire inteligente llano estar? Traduções CANÇÃO DA MORADA AMPLA O acaecimento que nos revela: sua nulidade de fim e de princípio que suporte oferece que argumento?
Carlos Ortega Guerrero Feituras de luz a luz povoando os filhos pródigos do Todo que acontece indagamos o mundo embora sejamos tão somente lascas estelas na substância absorta desprendimentos de ramificações do provedor original seqüelas que desde o impacto repentino cumulado irradiou colapsando adentro em sonoro mas vacante vocábulo negro o estalo do silêncio Que logo nomeia o assunto da duração e a consciência da duração e a duração da consciência da duração? e quanto pense não sacia nem se sacia Mas o mistério de respirar a luz e recriá-la o mistério de fazer dar dizer amar no coração do incessante tamanho incomparável o mistério calado de saber-se de espreitar e compreender vão adentro o pulso lúcido da noção a fonte plana que se imensa parece endereçar um verbo que assim varia Campos vibrantes o âmbito gera brotam y soam brilham calam cessam são? Uma rocha uma rosa um raio
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Carlos Ortega Guerrero um rio una voz que decifra seu arbítrio? uma rosa DANÇA O PASSAGEIRO DA ESTÂNCIA Estar ou não estar fazem a margem o campo onde sem pausa configuram as ligações da consciência e da forma “os episódios da realidade” Quantos caminhos tendem para esta tarde colmada de frutas nas bandejas? Fluem nas correntes do diálogo de lábios a olhos ávidos histórias trazidas de longe para no sonho entranhar ‘As vezes ouço bater meu coração como metido na água de um vaso na matagal transparente do tempo “¡Voz do tambor Vou velejar!” me digo nauta na cavidade da consciência Ofereço enquanto vôo sutis e espaçosas ganas de morrer e torno vacante escuro imemorial quedo descanso em paz para levantar-me outra vez ameno
Carlos Ortega Guerrero a pulsar amoroso entre os fios que se movem no mundo a beleza e o sumo o beijo e o tapa a falta e o desdém: surdo mudo do tempo e do espaço imóvel vacuidade que nada empoça mas que transborda quando volta ao halo mental o sabor da consciência entre ervas delícias matutinas: a luz o ar a água o sino Salto do globo que leva o pensamento à terra de ninguém do silêncio onde pulsa a veia elemental O horizonte se figura: as formas certas que dissipam sua arte seus olhos mudos que as vêem chegar Espaço-tempo lugar da ignorância oportunidade crua do caudal! reino de cada um no Todo Um perdido ou olvidado por cada presumido quem Por que não ir ao mar de cada instante pelas vias individuais da sede cada quem pleno de si claro vazio ébrio de Deus alento de sua sina para no centro do ar inteligente plano estar?
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Daniel Chirom
HOMERO Mi alma se acostumbró a este oscuro paisaje. Tras mis pasos vendrán otros a poblar estas sombrías estepas como yo perderán la luz. Soy el adelantado de una raza de ciegos. LEONARDO Y “LA ÚLTIMA CENA” Por encargo de Ludovico “el moro” eletreé durante tres años la Ultima Cena. No cometí ningún error, fue mi voluntad que Cristo y sus apóstoles se fueran desintegrando con el tiempo. Cuando la cena sea nuevamente servida otro Ludovico me encargará rehacerla hasta que el vino vuelva a escasear. Confío en la eterna sed del hombre.
LA DIÁSPORA Hacia los cuatro vientos, el polvo del camino nos nubló la vista. Descendimos hasta volver. Estamos en todas partes y no somos nadie, Sólo la noche nos rescata. Nuestro horizonte es la cruz del sur donde ojos entrecerrados aún tocan música.
Daniel Chirom
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Traduções HOMERO Minha alma acostumou-se a esta paisagem escura. Seguindo meus passos virão outros povoar estas estepes sombrias e como eu perderão a luz. Sou o pioneiro de uma raça de cegos. LEONARDO E “A ÚLTIMA CEIA” Por encomenda de Ludovico “o mouro” soletrei durante três amos a Última Ceia. Não cometi erro algum. foi minha vontade que Cristo e seus apóstolos fossem desintegrando-se com o tempo. Quando a ceia seja novamente servida outro Ludovico vai me encomendar refaze-la até que o vinho volta a escassear. Confio na eterna sede do homem. A DIÁSPORA Aos quatro ventos o pó do caminho nublou a nossa vista. Descemos até retornar. Estamos em toda parte e nada somos, só a noite nos resgata. Nosso horizonte é o cruzeiro do sul onde os olhos entreabertos ainda tocam música.
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Daniel Chirom ABRAÃO Mago dos jugos eternos, ensina-me o caminho de casa pois desejo fazer o amor, delirar com o vinho e sonhar nos entardeceres. Não para mim este mundo imortal e silencioso, não para mim as redes que outros tecem. O fruto pende prenhe do ramo, a primavera borda o céu e uma semente me habita. MARIA Desconheço os planos do destino. Sou o instante em que a sigla é alienada por um segredo. PONTES Pontes, acesas e ocultas pontes que intercedem pela surpresa as nossas intenções e incertezas. Delas nada dizem os livros, às cegas as buscamos guiados por nossas suspeitas. Quando as encontramos Já as tínhamos cruzado.
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Diego Mendes Sousa VERTIGEM A poesia desinfetou as entranhas de meu estômago agora vomito como restos sólidos depois catarei essa e aquela palavra impulsarei na sintaxe o de sobra voltará à vertigem digestiva VAIDADE Esta pele morena não é feita de ouro O suor do corpo contrapala a côndea lisa: Uma do homem presente do tato presente outra Onde só os mais dotados de sensibilidade entenderão a natureza-fátua e frívola desse homem ainda nascente
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Diego Mendes Sousa OBSERVAÇÃO O vento corredio passa engraçado pelas árvores dando-lhes os movimentos e os pássaros saltam as trincheiras da brisa de outros nortes Cantando tudo dentro de seu possível como pardais audíveis por toda manhã PECHA Como macilenta pode ser minha imagem? E concluo: não são banais os coriscos as nuvens os penedos inerentes à minha pessoa Apenas são defeitos CANDELABRO Dói-me o peito Queima-me a alma esta solidão reclusa Não por querer viver nesta orla-névoa albicante como meu rosto
Diego Mendes Sousa Se por medo da morte Se por medo da perda desta vida sob velas Uma noite… … Não serei solidão não serei solidão quando o candelabro for sereno ao apagar-se
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Eduardo García UN HOMBRE MIRA A OUTRO EN LA VENTANA Un hombre mira a outro en la ventana; a otro hombre sentado junto a otra ventana silenciosa, su mirada en la página y el aire solemne con que lee ahora una línea buscando un sol de invierno, unos caballos galopando en la nieve, una mujer hermosa e imposible y fugitiva, la caricia del viento y la costumbre o la detonación, el grito, el breve latido en que la sangre se demora suspendida y a punto, y ahora si, el temblor de la piedra sumergida, el aliento que vibra y se desboca, la ciudad que aparece en la distancia. Un hombre mira a outro en la ventana. Escribe unas palabras. No sospecha más allá de la sangre y los caballos y el viento y la mujer y aquel latido que los trazos que araña en el papel son los versos que el outro lee agora. Traduções UM HOMEM OBSERVA UM OUTRO NA JANELA Um homem observa um outro na janela; um outro homem sentado junto a outra janela silenciosa, sua mirada na página e o ar solene com que lê agora uma linha buscando um sol de inverno, uns cavalos
Eduardo García galopando na neve, a mulher formosa e impassível e fugitiva, a carícia do vento e o costume ou a detonação, o grito, o breve pulsar em que o sangue demora suspenso e a ponto, e agora sim, o tremor da pedra submersa, o fôlego que vibra e se desboca, a cidade que aparece na distância. Um homem observa um outro na janela. Escreve uma palavras. Não suspeita além do sangue e dos cavalos e o vento e a mulher e aquele palpitar – que os traços da aranha no papel são os versos que o outro agora lê. NO FUNDO DA CENA Cruzei o umbral. Estou em casa. Depois do frio, o vento e os verões eu vim. Saúdo os objetos com um suspiro grave e respeitoso. A sala decorada com flores que parecem desaprumar-se carnívoras sobre os comensais. Ocupei meu assento. Alguém comenta o preço escasso da vida humana em um país remoto e as notícias liberam promessas de um futuro que valha a pena. A mulher me serve um sorriso. O homem fala com ela como alguém acaricia um sonho que ser torna cotidiano. Sob o mantel as crianças brigam. O sal. O pão. A mesa de sempre: cada quem em seu lugar, absorto na tarefa de ser o personagem que a trama dispõe. Assim, já vês, somos felizes.
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Eduardo García
Ignoramos que um dia a ausência da mãe, esta cadeira vazia, inconcebível, fará que a criança aquela – no fundo da cena – escreva estas palavras. SONHO COM FACAS Caminho por uma bosque de facas. Os cabos enterrados Levantam a ameaça do aço. Avanço com cautela, sem saber para onde me dirijo. O ar apaga à minha espalda meu rastro, e o confunde. O eco de meus passos se voltam as facas contra mim, girassóis de sombra agachada… Desperto. Abro os olhos: o copo na mesa, teu corpo junto ao meu, a casa em calma. É o amanhecer. Volto a fechar os olhos, olho para dentro: Um bosque de facas me contempla. Não é o bosque do sonho. Tem uma luz mais funda e conhece meu nome e sua penumbra. Seus fios brotam para mim, o clamor do aço: a angústia dos dias transcorridos às cegas por um túnel na lenta tortura do relógio, o pavor das noites aguardando o gemido de um telefone: notícias de uma vida suspensa entre a luz e sua escuridão. E de repente o silêncio. Meus olhos refletem em suas folhas. Toca o telefone: Pulam sobre mim
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Eduardo Mora-Anda
EX PAISAJE CON RETRATOS 1 El torpe muro, el inhumano hierro cubren la tierra inmaterial y buena donde cantaban antes los jilgueros y el rio hablaba sus murmullos lentos… 2 Turba mi noche una inquietud de ciego que busca los caminos de la vida, uma misión o vocación de Cielo que yo la incumplo en la rutina fría. La madrugada acecha. En el silencio espero el don que ha de cambiar mi vida. ¿Cuál es mi hora, mi lugar, mi dia? ¿Cuál es mi sino y a qué vine al mundo: Una ansiedad me ahoga el pecho enjuto mientras yo rezo y alborea el día… 3 Los años pasan. La rutina es hueca. La mente en vano esboza, hila, elabora. ¿Qué quiero? ¿qué me falta? ¿qué venero? Si no está aqui tu brío, tu alegría, ¿cómo vivir la claridad del día? La loca geografia de la vida señala que el amor es lo primero…
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Eduardo Mora Anda 4 La madrugada acrece. El mundo toma un perfil de amistad. El agua mece su consistencia eterna repicando contra la piedra agreste, y, pincelada gualda entre los prados, la flor silvestre rastro es de Dios en el momento breve. La pincelada eterna en el ahora mientras la vida pasa fugazmente… 9 Bebo en tu cielo limpio el aire eterno, la inevitable luz, el amplio brío. La provisión más dulce e infinita. Tú me das cuanto soy, Tú me renuevas. Todos tus dones son puntuales y gratuitos, ¡oh maternal Señor de la mañana! Traduções EX PAISAGEM COM RETRATOS 1 O rude muro, o inumano ferro cobrem a terra imaterial e boa onde cantavam os pintassilgos e o rio expressava lentos murmúrios… 2 Turva minha noite uma inquietação de cego que busca os caminhos da vida,
Eduardo Mora Anda essa missão ou vocação de Céu que eu descumpro na rotina fria. A madrugada espreita. No silêncio espero o dom que há de mudar minha vida. Qual será minha hora, meu lugar, meu dia? Qual é minha sina e a que vim ao mundo? Uma ansiedade me afoga o peito enxuto enquanto eu rezo e clareia o dia… 3 Os anos passam. A rotina é vazia. A mente em vão esboça, fia, elabora. Que eu busco? que me falta? o que venero? Se não está aqui teu brio, tua alegria, Como viver a claridade do dia? A louca geografia da vida assinala que o amor é primordial… 4 A madrugada acresce. O mundo ganha um perfil de amizade. A água agita sua consciência eterna repicando contra a pedra agreste, e, pincelada amarela entre os prados, a flor silvestre rastro é de Deus no momento breve. A pincelada eterna no agora enquanto a vida passa fugazmente… 9 Bebo em teu céu límpido o ar eterno, a inevitável luz, o amplo brio. A provisão mais doce e infinita. Tu me dás quanto sou. Tu me renovas. Todos os teus dons são pontuais e gratuitos, ó maternal Senhor da manhã!
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Elena Medel
PEZ Nuestro plato favorito requería cierta preparación. Mi abuela abría el pescado en vertical, leyendo mi futuro. Sobre la superficie herida distribuía su relleno, con cuidado: las marcas de la muerte no deben infectarse. Mientras, ella me hablaba. Yo aún era pequeña; había vuelto del colegio, preguntaba qué había de almorzar, relamía mis gracias y decía: peces como los del verano. Por entonces hacía frío. Y al terminar de comer nos sentábamos juntas, veíamos la televisión juntas, respirábamos juntas cada tarde. Vivir era costumbre de las dos, y en verano me enfadaba al verla caminar orilla arriba orilla abajo: yo me enfadaba porque temía perderla en una ola, o que se resfriase, o simplemente estar lejos de ella unos minutos. Al volver, me sentaba en su hamaca y me ayudaba a limpiarme la arena de los pies, a buscar mis ceras en la bolsa, a despegarme la sal y las legañas. El invierno es, ahora, amable en esta casa. Al entrar he querido encontrarte tranquila, repitiendo tus historias, sonriendo al recordar los buenos tiempos, como siempre, siguiendo las costumbres de mi infancia. Pero ahora no estás. Las dos ya no vivimos, y el frío me agarra por la espalda y me golpea, recuerda tantas cosas que vuelvo a tener miedo, y mis ojos resbalan en mis manos húmedos como el pez del invierno.
Elena Medel
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Traduções de Javier Iglesias PEIXE Nosso prato favorito exigia certa preparação. Minha avó abria o peixe em vertical, lendo meu futuro. Sob a superfície ferida distribuía seu recheio, com cuidado: as marcas da morte não o devem o infectar. Entretanto, ela me falava. Eu ainda era pequena; havia voltado do colégio, perguntava o que havia de almoçar, bajulava minhas graças e dizia: peixes como os do verão. Por então fazia frio. E ao terminar de comer nós sentávamos juntas, víiamos televisão juntas, respirávamos juntas cada tarde. Viver era costume das duas, e no verão me incomodava vê-la caminhar beira acima, beira abaixo: Isso me incomodava porque temia perdê-la em uma onda, ou que se resfriasse, ou, simplesmente, estar longe dela por uns minutos. Ao voltar, me sentava na sua rede e me ajudava a limpar a areia dos pés, a buscar minhas ceras na bolsa, a despegar-me o sal e as remelas. Agora o inverno é amável nesta casa. Ao entrar queria encontrar-te tranqüila, repetindo tuas histórias, sorrindo ao lembrar os bons tempos, como sempre, seguindo os costumes da minha infância. Mas agora não estás. Nós duas já não vivemos, e o frio me pega pelas costas e me golpeia, lembra-me tantas coisas que volto a ter medo, e meus olhos escorregam em minhas mãos úmidos como o peixe do inverno. ÁRVORE GENEALÓGICA Eu pertenço a uma raça de mulheres com o coração biodegradável. Quando uma de nós morre exibem seu cadáver nos parques públicos, as crianças se aproximam para bisbilhotar na sua garganta de folha-de-flandres, celebram-se banquetes com moscas e vermes, me fez mal porque me fez sorrir, logo eu que sou tão triste. Aos trinta dias exatos de sua morte o corpo desta extraordinária raça se auto-
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Elena Medel
destrói, e às portas de vossas casas chamam os restos da alma das mulheres sobrenaturais, batem contra vossas paredes, suas pastas e suas unhas perfuram vossas janelas até que sangram nossas aortas fincadas na terra, igual que as raízes. Ao morrer nos abrem o estômago, examinam com os dedos seu interior, rebuscam entre as vísceras o mapa do tesouro, tiram seus dedos negros de todos os poemas que nós ficaram dentro com os anos. Um espetáculo. Pertenço a uma raça desenvolvida além dos altares. Sou uma delas porque meu coração mancha ao tomá-lo entre as mãos, porque coincide em tamanho com o buraco de um nicho; fresco e doce como o de um animal, suga meu coração para que, ao morrer, saibam que temos estado juntos. Sou uma delas porque meu coração será adubo. Porque meu sangue, que é o seu, sobe e desce pelo meu cadáver como por escadas mecânicas; porque o fundamento de meu caráter, ao se descompor, incorpora-se a uma espécie selvagem que late e que fere e que te leva a seu terreno, que ignora as afrontas, que jamais se extinguirá. ESCREVEREI QUINHENTAS VEZES O NOME DE MINHA MÃE Escreverei quinhentas vezes o nome de minha mãe. Com um vestido branco traçarei cada uma de suas letras pelas paredes de meu dormitório, pelo solo do pátio do colégio, pelo corredor da casa mais antiga. Para lembrar minha origem cada vez que eu viva. Em todos os lugares poderei beijar seu rosto limpo de cristal, mesmo que ela durma longe: seu rosto perto que me doerá lá onde acaricie seu nome escrito. Tantos dias, tantas noites terão de alimentar-me amorosamente com sua parábola descalça; virá minha mãe para me agasalhar, mulher de fumaça, com olhos tremendo de sorte, e em cada sonho meus sobrenomes doerão como um cartaz de boas vindas a um lar diferente.
Elena Medel Sob meu cabelo, louro como o de minha mãe, a coroa que me coroou como filha primogênita da Dinamarca. Chamar-me-ei Vazia, em homenagem a meus mortos; olharei como jogam de acrílico as palmas de minhas mãos, sangrará minha língua a disposição de meus mortos. Gritarei quinhentas vezes o nome de minha mãe para quem queira escutá-lo, e escreverei que abençôo este meio coração em greve meu, pois não esqueço: nasci para chorar a morte dos outros. EM DEMASIA Tu e eu nos demais: livram à maçã de sua pele. Mais belo quando estamos sós. Cristal em fragmentos, infância, salão que é refúgio: a fuga deixa atrás nossos problemas. Descuidar o gesto quando servimos água. Adeus, pois, ao equilíbrio entre trejeito e efeito. Desbordar-se. Que esperas tu de mim. Defraudar a intensidade do outro: tu e eu nos demais.
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Emilia Currás TÚ TIENES ALAS DE PLATA Tú tienes alas de plata, alas de ensueño, de ilusión, de anhelo. ¿Me darás alas de plata? Calla, calla. Tú tienes alas de bronce, alas de pasión, de amor sin freno. ¿Me darás alas de bronce? Calla, calla. Tú tienes alas de hierro, alas fuertes y seguras, alas de grandes realidades. ¿Me darás alas de hierro? Calla, calla. Tú tienes alas de estaño, alas de engaño, alas falsas y amargas. ¿Me darás alas de estaño? Calla, calla. No me preguntes tanto. ¡ QUÉ TRISTE VIVIR SIN AMOR!! ¡ Qué triste viver sin amor! ¡ Qué sequedad interior! Y ¡qué cansancio y hastío! No se puede soportar. El alma me va a estallar, que el desconsuelo es dolor y el dolor es soledad. El alma me va a estallar.
Emilia Currás
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Traduções TENS ASAS DE PRATA Tens asas de prata asas de sonho, de ilusão, de desejo. Me darás asas de prata? Cala, cala! Tens asas de bronze, asas de paixão, de amor sem freio. Me darás asas de bronze? Cala, cala! Tu tens asas de ferro, asas fortes e seguras, asas de grandes realidades. Me darás asas de ferro? Cala, cala. Tu tens asas de estanho, asas de engano, asas falsas e amargas. Me darás asas de estanho? Cala, cala. Não perguntes tanto.
QUE TRISTE É VIVER SEM AMOR! Que triste é viver sem amor! Que secura interior! E que cansaço e fastio! Não se pode suportar. Minh´alma vai estalar, que o desconsolo é dor e a dor é solidão. Minh´alma vai estalar.
Emilia Currás
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LENÇO AZUL SE AGITANDO AO VENTO Lenço azul se agitando ao vento É que vens em seguida ou é a despedida? Somente tu o sabes Em teu movimento. VEJO OS BARCOS A SAIR Pela janela vejo os barcos a sair, quem os poderia seguir em seu doce navegar? Fincada estou nesta terra com todo afã dia-a-dia, sem ilusão, nem carinho, nem forças para largar. FERIDO ESTAVA Ferido estava estendido na areia, e senti pena. Aproximei-me a curá-lo Mas já havia partido.
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Henrique Hernández d’Jesús LA LENGUA ALTERADA La devoción a primera vista por la presa falsea las huellas Se inicia la ausencia
SIN LOS PÁRPADOS El sonido animal con la habilidad del Tigre Invisible dilató la muerte Exorcizó calles estrechas Estragó crueles almas CUANDO LA SENSACIÓN DESAPARECE El equilibrista se dota de la traición en este oficio virtuoso Saborea la cacería
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Henrique Hernández d’Jesús Traduções A LÍNGUA ALTERADA A devoção a primeira vista falseia as pegadas Tem início a ausência SEM AS PÁLPEBRAS O ruído animal com a habilidade do Tigre Invisível dilatou a morte Exorcizou ruas estreitas Estragou almas cruéis QUANDO A SENSAÇÃO DESAPARECE O equilibrista se dota com a traição neste ofício de virtude Saboreia a caçada
Henrique Hernández d’Jesús A SENSAÇÃO DA PELE Os espaços fechados o elouquecem as grades passam despercebidas Perde a memória A TIGRESA PALAVRA A palavra se esconde em si mesma Não percebe? está deserta nas ruas frias O SILÊNCIO EXCITADO DA MORTE À vista da qual as imagens São deliciosas sem serem caóticas? O Tigre sente a terra de ninguém Não poder voltar atrás
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Fabio Morabito Los perros ladran a lo lejos. Junto con ellos soy el único sin sueño en el planeta. Me ladran a mí, despiertos por mi culpa. Mi estar despierto los encoleriza y su cólera me espanta. Somos los únicos que no dudan de la redondez de la tierra. Los otros, los dormidos, han renegado de Copérnico, por esta única vez se han reclinado sobre un mundo plano. Por esta única vez, todas las noches, y así amanecen, creyendo que la tierra no da giros y ellos se han dormido en sus laureles. No pueden conciliar el sueño sobre una superficie triste, sobre un planeta equis. Mejor oír ladrar los perros que amanecer neolíticos. Más vale no pegar el ojo que claudicar del universo. Orejas dos orejas: una para oír a los vivos otra para oír a los muertos las dos abiertas día y noche las dos cerradas a nuestros sueños
Fabio Morabito
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para oír el silencio no te tapes las orejas oirás la sangre que corre por tus venas para oír el silencio aguza los oídos escúchalo una vez y no vuelvas a oírlo si te tapas la oreja izquierda oirás el infierno si te tapas la derecha oirás… no te digo había una tercera oreja pero no cabía en la cara la ocultamos en el pecho y comenzó a latir está rodeada de oscuridad es la única oreja que el aire no engaña es la oreja que nos salva de ser sordos cuando allá arriba nos fallan las orejas. Traduções Os cães ladram à distância. Junto deles sou o único sem sonho no planeta. Ladram para mim, despertos por minha culpa. Meu estar desperto os encoleriza e sua cólera me espanta. Somos os únicos que não duvidam da redondez da terra. Os demais, os dormidos, renegaram Copérnico, por esta única vez reclinaram-se sobre um mundo plano. Por esta única vez, todas as noites. e assim amanhecem, acreditando que a terra não gira e eles dormiram em seus lauréis.
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Fabio Morabito Não conseguem conciliar o sonho sobre uma superfície triste, sobre um planeta X. Melhor ouvir ladrar os cães que amanhecer neolíticos. Mais vale não fechar o olho que claudicar pelo mundo. Orelhas duas orelhas: uma para ouvir os vivos outra para ouvir os mortos as duas abertas dia e noite as duas fechadas para nossos sonhos para ouvir o silêncio não tapes as orelhas ouvirás o sangue que corre por tuas veias para ouvir o silêncio aguça os ouvidos escuta-o uma vez não voltes a ouvi-lo se tapas a orelha esquerda ouvirás o inferno se tapas a da direita ouvirás… não te digo havia uma terceira orelha mas não cabia na cara a ocultamos no peito e começou a latejar está cercada pela escuridão é a única orelha que o ar não engana é a orelha que nos salva de sermos surdos quando lá encima nos falham as orelhas. o O profesor passa a lista sem mirar-nos. Depois de cada nome
Fabio Morabito se ouve “presente”. Vez por outra um silencio: alguém não veio. O professor levanta a vista para certificar-se. Houve uma vez um que guardou silêncio ao ouvir seu nome, o professor levantou a vista, não o viu e pôs a cruz da falta. O outro permaneceu impassível e o miramos com inveja. Tinha uma cruz e estava entre nós. Não tirou a cruz em toda a manha. Sem perceber o engano, o professor pediu que lesse em voz alta e a sala estalou em risada. Por que riem?, e todos baixamos a vista, incluindo o ausente, que leu com voz de ausente, ou assim me pareceu. No outro dia não veio, tampouco no dia seguinte e pouco dias depois, passando a lista, o professor pulou seu nome, depois o riscou com a caneta e eu esqueci seu nome, seu rosto e sua cruz. o Vejo meu pai aparecendo na janela. Sentado no piso do quarto, olho sua espalda larga. Ainda não caminho. Que belo é um pai quando, aparecendo numa janela, sua espalda se revela para o filho. Deixa impressa sua melhor lembrança. Pai que encara o mundo,
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Fabio Morabito
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primeira porta que nos dá a infância, primeiro vislumbre de que nem tudo é peito. o Benditas portas, criadoras da penumbra e da fala em voz baixa, que foi a criadora em seu turno da escritura. Benditas dobradiças que nos separam das bestas. É fácil ouvir dizer malditas portas, malditos livros, maldita a postura erguida. Haver descido das árvores foi a primeira porta que se abriu e nos esquecemos de encerrá-la. Foi uma omissão ou genialidade deixá-la aberta pelo sim e pelo não? O bosque nos persegue em nossa prosa e nossos versos e toda porta que abrimos, abrimos ainda sobre um claro, e cada porta que fechamos, ainda a mais inócua, engenha uma penumbra e um segredo. Ainda não terminamos de descer ao chão, nossa maior ferida, e por meio de portas lentamente nos curamos.
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Fabrício Carpinejar O mundo aparece demasiado explicado. Teu jeito calado indica esperança, mas quem diz que não é remorso? Sou fiel aos hábitos; tu, aos mistérios. Não coincidimos nossa lealdade. Suporto, sobrevives. O que adianta transbordar se não dás conta do mínimo? O que adianta me retrair se não percebo o invisível? o Não ter sido compreendido condenou-me a assumir verdades que desconhecia, filhos que não eram de minha boca, compromissos que não quis ir. Ao longo da fala, abri correspondências alheias. A ausência de clareza me perturbou a viver de favor em meu corpo. o Não me inquieto quando não recebo as respostas das perguntas que não fiz. Eu me conformei em reservar alguma coisa de ti para saber depois. Um pouco de nosso amor
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Fabrício Carpinejar será póstumo. É recomendável não descobrir todos os segredos. o Para a morte, sofre de um problema. Não estou todo em um único lugar. o Os dias no verão são cadeiras para fora da casa. Armar o ar, desempalhar a luz e deslizar na esponja noturna da grama. Ponha esse sol de janeiro em minha conta. o Alguém dentro de mim mente para me proteger. Não sei quem tem razão sobre meus desastres. Se permaneci em excesso e não varei a outra margem. Se me deixei fora por muito tempo e esqueci o endereço. Quando estamos próximos de dizer é que não estamos mais aqui. o Não conto meus pesadelos ao acordar. Não termino mais uma frase inteira.
Fabrício Carpinejar O começo de uma conversa é difícil Depois mais difícil se toma quando ela aconteceu sem começar. Volta ao pampa, pai, estamos amor-tecidos na água tensa do charco. Protege as têmporas com a palma da mão esquerda a luz noturna é traiçoeira. Não nos serve o encantamento da aurora. Volta, a farinha e a carne seca esfriam na gamela. Tua risada denuncia o desespero. As respostas vieram antes das perguntas. Sim, a cicatriz da alvorada influencia a inclinação dos galhos. Sim, desatei a cabeleira da guitarra e o bojo do instrumento parecia a pupila de um homicida. Sim, o dia do regresso.
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Fernando Pinto do Amaral FRONTEIRA É doce a tentação do labirinto assim que o sono chega e se propaga ao contorno das coisas. mal as sinto quando confundo a onda sempre vaga deste falso cansaço que regressa ao som da minha estranha e dócil fala cada vez mais submersa como essa pequena luz da rua que resvala plo interior da noite. É quase um sonho A respirar lá fora enquanto o quarto se dilui na fronteira que transponho e afoga a consciência de onde parto agora sem direito nem avesso no incerto momento em que adormeço. ARTE POÉTICA Palavras, só palavras, nada mais que a vã matéria, o seu sentido eco de muitos ecos, repetido reflexo de poderes tão irreais como essas emoções graças às quais terei de vez em quando pretendido dizer um só segredo a um só ouvido ciente de que nunca são iguais os segredos e ouvidos que procuro às cegas neste mar sempre obscuro onde a voz desagua como um rio
Fernando Pinto do Amaral sem nascente nem foz ¯ apenas uma incerta confidencia que se esfuma e só foi minha enquanto me fugiu. IV 16. Mais uma noite, amor. Ao recordar-te retomo os fins do mundo, a cinza, os dias manchados de outras lágrimas. Sabias como eu a cor das sombras, essa arte que nos engana agora e se reparte por esquinas e cafés. Já não me guias os muitos passos vãos, as fantasias da minha falsa vida. Vou deixar-te fugindo-me. Na chuva, sem ninguém, apenas alguns vultos, o que vem «e dói não sei porquê» -este deserto onde te vejo, imagem outra vez, até de madrugada. O que me fez sentir o muito longe aqui tão perto? A ÚNICA RESPOSTA Jantáramos os dois pela primeira vez: amizade ou amor, pouco interessava desde que alI estivesses. O meu mundo ia mudando à medida do teu, a cada gesto vão da vã conversa antes que fôssemos pIo Bairro Alto e enfim o Lumiar, a tua casa. Eu podia contar uma história, dizer como aquele rosto atravessava o meu -mas não, «nada de narrativas, nunca mais».
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Fernando Pinto do Amaral Apenas a certeza de estar morto há tanto tempo, que já não me lembro de cor nenhuma dos teus olhos. Não, já não existe o dia nem a noite e este silêncio deve ser talvez a única resposta. É bem melhor ficar à espera de que não regresses. SEGREDO Esta noite morri muitas vezes, à espera de um sonho que viesse de repente e às escuras dançasse com a minha alma enquanto fosses tu a conduzir o seu ritmo assombrado nas trevas do corpo, toda a espiral das horas que se erguessem no poço dos sentidos. Quem és tu, promessa imaginária que me ensina a decifrar as intenções do vento, a música da chuva nas janelas sob o frio de fevereiro? O amor ofereceu-me o teu rosto absoluto, projectou os teus olhos no meu céu e segreda-me agora uma palavra: o teu nome ¯ essa última fala da última estrela quase a morrer pouco a pouco embebida no meu próprio sangue e o meu sangue à procura do teu coração.
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Frederico Barbosa NO RESTAURANTE “Sério, sério mesmo seria um asteróide chocar-se contra a terra, espatifando-nos em mil pedaços.” Disse, entre uma garfada e outra. Comos nos comics, ou no restaurante, a vida é vaga e o real só se constrói a tijoladas.
IN A SENTIMENTAL MOOD Aquele piano cama só evita levitar. Geometria acesa máquina porta reta aberta ao ponto discreto inequilíbrio plano da euforia precisa sentir pensar. Sempre paraíso feito completo portátil por perto riso ao sol perfeito seu beijo como piano como clima som desejo.
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Frederico Barbosa Aquele piano na cama sós é vida a se excita
PIOR DO QUE A MORTE PARA JC O pior é que dizem: rezou. Ele que sempre foi contra, do contra, ateu, agora que zerou, creu? Ele que sabia que a vida é coisa de sempre não. Sem fórmulas fáceis, nem saídas para a dor de cabeça de pensar de ser sem crer. Ele que sabia que não há aspirina contra o bolor. Logo dirão que se inspirou, e compôs de improviso um soneto vendido, dos que sempre enfrentou. Dirão ainda que se converteu e defendeu a vida devota, a pacificação bovina, a prédica dos pastores. ( Verbo e verba: pragas velhas. ) E que se arrependeu do pecado de ser exato, claro e enjoado.
Frederico Barbosa Vida, te escrevo merda. Às vezes fezes, mas sempre merda. Fingida flor, feliz cogumelo, caga e mela. Sempre severa e cega merda. Triste é depender de relatos carolas, acadêmicos, cartolas. Triste é depender da leitura alheia, fáceis falácias: farsas. Triste é depender dos olhos dos outros, de voz de falsas sereias. Triste é não poder mais se defender. Mas um aqui, João, incerto, grita e insiste em não crer na sua crença repentina, que a morte (sua) desminta a obra (sua) vida. Um aqui, João, o tem por certo: é mais díficil o não crer, não ceder, não descer, não conceder. Não. Não, não orou.
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Gilberto Mendonça Teles PLURAL DE NUVENS Se há um plural de nuvens e se há sombras projetadas no texto das cavernas, por que não mergulhar, tentar nas ondas a refração dos peixes e das pedras? Há sempre alguma névoa, um lado obscuro que atravessa o poema. Há sempre um saldo de formas laterais, um como escudo que não resiste muito a teu assalto. Se alguma luz na contraluz se esbate, se há curso dos dias sole e vento, talvez na foz do rio outra cidade venha no teu olhar amanhecendo. Importa é ler de perto a cavidade das nuvens e espiar os seus não-ditos: o mais são armas para teu combate, falsos alarmes para os teus sentidos. DECLINAÇÃO O mar não me levou: o meus cuidados (o que era ruim /o que era bom demais) ficaram por aí, pelos cerrados, à sombra dos paus-terras de Goiás. O mar não me lavou: meu corpo todo tem as marcas da terra o sol, o chão, os cheiros doces dos quintais, do lodo, e a febre do meu T nesta sezão.
Gilberto Mendonça Teles Eu sou quem sou. Não me mudei. Mudou-me uma parte da vida, mas foi sem: não me levou nem me lavou, livrou-me da danação de todo mal, amém. (Se houver louvor aqui, se alguma luva, qualquer pessoa a pode usar por mim: a minha história é como um guarda-chuva que a gente esquece, quando chega ao fim.) CHÁ DAS CINCO para Jorge Amado Chá de poejo para o teu desejo chá de alfavaca já que a carne é fraca chá de poaia e rabo de saia chá de erva-cidreira se ela for solteira chá de beldroega se ela foge ou nega chá de panela para as coisas dela chá de alecrim se ela for ruim chá de losna se ela late ou rosna chá de abacate se ela rosna ou late chá de sabugueiro para ser ligeiro chá funcho quando houver caruncho chá de trepadeira para a noite inteira chá de boldo se ela pedir soldo chá de confrei se ela for de lei chá de macela se não for donzela chá de alho para um ato falho chá de bico quando houve fuxico chá de sumiço quando houver enguiço chá de estrada se ela for casada chá de marmelo quando houver duelo chá de douradinha se ela for gordinha chá de fedegoso pra mijar gostoso chá de cadeira para a vez primeira
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Gilberto Mendonça Teles chá de jalapa quando for no tapa chá de catuaba quando não se acaba chá de jurema se exigir poema chá de hortelã e até amanhã chá de erva-doce e acabou-se (pelo sim pelo não chá de barbatimão) ANÚNCIO 1 Troco urgentemente uma secretária eletrônica, 22ov, bastante conservada (motivo mudança de amor e domicílio), por uma secretária invisível, dessas que fazem desaparecer tudo de repente: colóquio de alquimistas congressos de bruxas reuniões de catedráticos e até o I simpósio de mulheres jubilosas. Que seja loirena e diligente, que seja meiga, sobretudo quando visível. Que não se esqueça dos pequenos aniversários (uma semana disso, um mês daquilo) e os saiba comemorar condignamente nalgum lugar secreto: ilha ou limbo beira de mar quarto de hotel fumaça de cachimbo. Que seja também multilíngüe para entender-me em todos os sentidos. E que não perca nunca o seu charme para me seduzir ou raptar-me nas horas mais incríveis de solidão. (Cartas para esta redação.) 2
Gilberto Mendonça Teles Preciso urgentemente encontrar minha secretária invisível que se perdeu sexta-feira em reuniões e telefonemas e me deixou a ver navios. Melhor: um submarino atômico que entrou pelo rio e bombardeou toda a cidade, virando-a pelo avesso, como um absurdo e até remoto cataclismo. (Gratifica-se bem quem der notícia a esta redação. Ou à polícia.) ELIPSE Vim descobrir o que ficou de elipse e precisão, o que se fez sucinto e reticente, o inacabado do cabo Não. Vim recolher esta úmida sintaxe que foi além e não poupou a rigidez da língua que ficou sem. E vim, não para ver, deixar a meio fala e raiz: vim extrair de ti a própria essência do que não fiz.
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Hector Collado Todo el amor del mundo cabía en mi casa. Pero el odio reclama sus espacios y la orfandad exige su ración de muerte. Todo el temor del mundo se instala bajo la sombra, en el rincón destinado a la podredumbre… Solidarios en la noche, hermanos por última vez, agazapados al amanecer, sorprendidos por el milagro de la vida al mediodía. Todo el rencor del mundo lloviendo, estallando, matando… ¿Hasta donde, Señor, hasta cuándo? Todo el odio del mundo cabe en una bala.
SEMÁNTICA La rama del árbol es una interrogación. El paso de la hormiga insinua los caminos. La muerte de la hoja constata la eternidad. Abro la ventana de la palabra casa. Sacudo el polvo del camino de la palabra zapato. Me hundo en la carnosidad de la palabra labio. Soy uno contigo en la humedad de la palabra sexo. Nombro la palabra que me nombra.
Hector Collado Pala semántica, labras significados para que cante. ¿Dónde el beso en la palabra amor? ¿dónde el filo en la palabra cuchillo? El pie descalzo es una gota de camino, el camino es un pie humedo. El tiempo pasa, quedan las palabras y nada muere. Embriagado de vida no preveo el adios ni la muerte… ya me alcanzarán. Tunel No estoy ciego. Sucede que tengo miedo y no veo la luz al final del día. Me sumerjo en ti hundido, urgido, ungido en el abismo de tibieza. Me indaga el escándalo de tus ganas. Cuna, mesa, mortaja… Sobra el equipaje. Vengo de vuelta del viaje.
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Hector Collado Traduções Todo o amor do mundo cabia em minha casa. Mas o ódio demanda seus espaços e a orfandade exige sua ração de morte. Todo o temor do mundo se instala debaixo da sombra, no lugar destinado à podridão… Solidários na noite, irmão pela última vez, agarrados ao amanhecer, surpreendidos pelo milagre da vida ao meio-dia. Todo o rancor do mundo chovendo, estalando, matando… Até quando, Senhor, até quando? Todo o ódio do mundo cabe numa bala. SEMÂNTICA O ramo de árvore é uma interrogação. O passo da formiga insinua os caminhos. A morte da folha constata a eternidade. Abro a janela da palavra casa. Sacudo o pó do caminho da palavra sapato. Afundo na carnosidade da palavra lábio. Unido contigo na umidade da palavra sexo. Nomeio a palavra que me nomeia. Pá semântica, lavras significados para que cante.
Hector Collado Onde o beijo na palavra amor? onde o fio na palavra faca? O pé descalço é uma gota de caminho, o caminho é um pé úmido. O tempo passa, restam as palavras e nada morre. Embriagado de vida não prevejo o adeus nem a morte… já me alcançarão. Túnel Não estou cego. Acontece que tenho medo e não vejo a luz no fim do dia. al final del día. Submerjo em ti retraido, urgido, ungido no abismo de tibieza. Me indaga o escândalo de tuas ganas. Berço, mesa, mortalha… Sobra a equipagem. Venho de volta da viagem.
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Henryk Siewierski ÍTACA Partindo para Ítaca peça uma viagem longa. K. KAVÁFIS
Pedi e me foi oferecida Uma longa viagem a Ítaca. Aprendiz e aventureiro demorava mais do preciso em cada porto, nas ruas estreitas dos bairros antigos, altos e baixos, que sabem receber o marinheiro, sempre com as bandeiras de lençóis a secar e o choro das crianças hino de alegria para quem chega do mar. Procurava também os sábios nas praças e nas tabernas, sorvia a filosofia de hábitos diversos: cebola, arrengue, canhaça… Segui teu conselho, viajava devagar, enchendo o navio de boas mercadorias. Até que um dia entramos numa baía, gratos e felizes como nunca, baía de outros sonhos.
Henryk Siewierski E agora não sei se foi longe demais ou se é este o fim da viagem que pedi. CANÇÃO DO NÃO-EXÍLIO Para o meu filho Micha, na viagem ao Paraguai, para pegar o visto brasileiro.
Este caminho dá pra Roma, já estamos em Mato Grosso; não jogue lixo pela janela este caminho é nosso. Este caminho dá pro mar, seja qual for o destino; não jogue lixo pela janela este é o nosso caminho. Este caminho dá pra noite, tem sinais luminosos; não jogue lixo pela janela este caminho é nosso. Este caminho dá pra casa, não é caminho do exílio; não jogue lixo pela janela, este é o nosso caminho. TEODICÉIA As provas não estão comigo deixei-as do outro lado do Atlântico. Eram muito pesadas
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Henryk Siewierski para quem ia à América. Aqui não se fazem provas de que Deus existe e é bom. Aqui a gente espera que se explique melhor. Enquanto espera vive e deixa-o viver e ao Diabo. E a vida corre sem prova as provas, do outro lado. PERDOA-ME Perdoa-me, língua materna, tu, que me deste à luz, recebeste tão pouco. Em vez de ficar do teu lado, fazer-te os saborosos pratos de poesia, proteger dos bárbaros, multiplicar o patrimônio, fui nascer outra vez, da outra, e fiquei longe de casa, numa luz diferente das outras estrelas. Sei que jamais pretendeste ser a única a dar-me à luz, que os meus irmãos cuidam bem de ti,
Henryk Siewierski que já me perdoaste, e que guardas as mais doces palavras para cada encontro nosso. Perdoa, perdoa sempre a teu filho, nem fiel, nem pródigo. NEOBARROCO Bordando a capela mor o cupim acabou com os milagres passou dos limites ou instaurou uma galeria de arte neobarroca no corpo da igreja de São Francisco de Assis e da Paraíba. ALMENARA Salto da Divisa Vale do Jequitinhonha olhar esfíngico das vacas a estrada é fatal búfalo, urubu, gavião há milhões de anos o Sol preparava o nosso combustível nossa passagem neste vale de lágrimas é a energia solar que nos move rumo à Almenara diz Gil, químico, mineiro Luiz dirige bem, baiano a gramática do chão é com ele tanta serra sem nome e nome sem razão de ser sem saber o ser a que se destina Almenara, diz Luis, é posto do vigia
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em ĂĄrabe, numa rota de diamantes dos portugueses ainda muito chĂŁo pela frente muita conversa para jogar fora.
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Jorge Tufic A ORIGEM DA NOITE A Noite era um fantasma que se repartia entre a luz e a escuridão. Um lado desse fantasma era escuro e feio. O outro lado era claro e bonito. Nãmi, era como se chamava o dono da Noite. Os grilos teciam as folhagens do sono enquanto o pássaro japu tratava de afastar, com seu bico, as cortinas da madrugada. Antes de dar a Noite a seus netos, Nãmi comeu ipadu e fumou olé-o (cigarro). O resto dessa estória ninguém sabe, porque uma parte dela ficou com a Gente da Noite e a outra parte ficou com a Gente do Dia.
MAKUNAÍMA RECRIA O MUNDO Depois das águas grandes, o mundo ficou seco e oco. Pedaços de carvão ficaram rolando no solo, como ecos de pedras, vozes de rio, gemidos de fogo. Então, Makunaíma acordou. E do barro de sua vigília retirou aquele homem, sua forma de barco, seu peito cavado. No outro lado de Roraima seus feitos continuaram. Homens e mulheres foram sendo mudados
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em rochas, antas e javalis. Perto de Koimelemong, um cervo mergulha na terra a cabeça-de-pedra. Sobre uma grande onda na Serra de Aruaiang, pousa uma cesta de luar. A Serra do Mel parece conduzir um silêncio de arageme vai sem ter vindo. Muitas dessas pedras se elevam No país dos ingleses, assim como peixes E uma cesta que imita, por baixo, Um perfil de mulher. A savana da Serra de Mairani são braços, pernas e cabeça de um ladrão de urucu. Aí também se entre abrem umas nádegas de pedra. Cachoeiras acima, o movimento dos peixes adentra na rocha. Uma pedra chamada Mutum canta como este quando alguém vai morrer. vespas gigantes construíram suas casas e zumbem na base mais profunda da serra. Aqui fora, Makunaíma dá os últimos retoques Nos bichos domésticos. Depois disso ele deita na terra molhadae se deixa esvair em milhares de seres que nadam para o rio.
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José Carlos Capinan MUDANDO DE CONVERSA Não me venham falar de éticas Prefiro locomotivas Ou motivos loucos para ser feliz Prefiro vagões de urânio e feijão Atravessando o país Vendo o povo acenando lenços brancos (Campos férteis) Aos que vão sul a norte Leste oeste Trilhos novos, outros brasis E eu menino outra vez a dar adeus aos tempos da antihistória Quero sorrir das janelas de trens supersônicos Em trilhos magnéticos E novamente pensar que podemos alcançar as estrelas ALGUMAS FANTASIAS I É noite, tudo é mistério, eu vejo Há quem chore, há quem ligue a chave de ignição Entretanto em meu coração fortemente chove Chove chove chove Enquanto chove, choro e relampeja Se despem e se despedem todos os amantes As chaves de ignição acendem os trovões Apagam-se as velas e assim seja VII Os carros são cada ano mais potentes E capazes de desenvolver velocidades surpreendentes
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São capazes de atirar quilômetros animais árvores gente Não sei porque a vida se faz tão urgente VIII Sou político E nem sei o que possa dizer com isso Mas é da época ser político E há vários políticos E cada um tem a sua verdade política E a sua maneira política de ser político E cada político tem o seu melhor mundo a oferecer Sou político e também penso que talvez tenha um mundo Mas nem por isso, talvez somente fantasie inútil E acredite poder alterar esse inexorável rumo. Fui tão político às vezes que desdenhei as formas E contestei as normas E confessei ridículas as pétalas de rosas Fui tão político às vezes que fiz da beleza uma coisa perigosa E tão político às vezes que tornou-se a noite pavorosa Fui tão político às vezes que se desfizeram as minhas mãos amorosas E tão político às vezes que pensei entender a guerra O chumbo e a pólvora Fui tão político às vezes que despendi mil impossíveis horas Dissolvendo em amnésia todas as memórias As máquinas são políticas As poéticas são políticas As canções são políticas Mas eu desconfio que alguma coisa possa deixar de ser MADRUGADAS DE NARCISO Encalho nas madrugadas as minhas velas em farrapos Sou eu mesmo os marinheiros Sou eu mesmo a cabotagem Sou eu quem traça os portos do roteiro E torna em desespero a bússola da viagem
José Carlos Capinan Naufrago nas madrugadas Mas eu mesmo me faço nadar em vão até as mais longínquas praias Sou eu a maresia, a calmaria e a tempestade Sou eu mesmo a terra à vista Inalcançável OUTRAS CONFISSÕES Narciso se despe, é noite, estão ladrando os cães Os cães provavelmente ladrarão inteiramente a noite Enquanto a lua cheia obtura os dentes podres das canções Um traficante boliviano Diz alô de Amsterdã Um fracassado governante Diz alô num telegrama Tudo é ópio, para um ex-marxista Para um ex-espiritualista, tudo é transe. Tudo é provisoriamente eterno para os poetas Tudo é eternamente provisório para os amantes E o poema apenas a configuração do instante DIDÁTICA A poesia é a lógica mais simples. Isso surpreende Aos que esperam ser um gato Drama maior que o meu sapato. Ou aos que esperam ser o meu sapato, Drama tanto mais duro que andar descalço E ainda aos que pensam não ser o meu andar descalço Um modo calmo. (Maior surpresa terão passado Os que julgam que me engano: Ah, não sabem o quanto quero o sapato Nem sabem o quanto trago de humano Nesse desespero escasso.
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José Carlos Capinan Não sabem mesmo o que falo Em teorema tão claro. Como não se cansariam ao me buscar os passos Pois tenho os pés soltos e ando aos saltos E, se me alcançassem, como se chocariam ao saber que faço A lógica da verdade pelos pontos falsos) POESIA PURA Se esta é a busca da noite enquanto noite, A busca intensa que nada perturba, Nego a sensibilidade, pois ela acrescenta. Nego a compreensão, pois ela já tem noções E pode perturbar a flor pelo conhecer do homem. Hoje não relaciono, não comprometo. Quero a coisa em seu íntimo mais grave Quero a coisa, essencialmente a coisa, A coisa metafísica, para provar a impossibilidade. O REBANHO E O HOMEM O rebanho trafega com tranqüilidade o caminho: É sempre uma surpresa ao rebanho que ele chegue Ao campo ou ao matadouro. Nenhuma raiva Nenhuma esperança o rebanho leva. Pouco importa que a flor sucumba aos cascos Ou ainda que sobreviva. Nenhuma pergunta o rebanho não diz: Até na sede ele é tranqüilo Até na guerra ele é mudo. O rebanho não pronuncia, Usa a luz mas nunca explica a sua falta Usa o alimento sem nunca se perguntar Sobre o rebanho o sexo Que ele nunca explicara E as fêmeas cobertas Recebem a fecundidade sem admiração.
José Carlos Capinan A morte ele desconhece e a sua vida. No rebanho não há companheiros, Há cada corpo em si sem lucidez alguma. O rebanho não vê a cara dos homens Aceita o caminho e vai escorrendo Num andar pesado sobre os campos.
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José Carlos Irigoyen EL LIBRO DE LAS SEÑALES 1 Mi padre es la blanca señal que fragmenté esta noche de agosto sobre la-espalda de Santiago. La blanca señal que brilla sobre la espalda de Santiago como la lengua del alba sobre las modestas criaturas. Es una noche de mucho viento, las ventanas del restaurante tiemblan tanto que es imposible escucharse, distinguir un sí de un no y esto resulta un problema cuando lo que quieres proponer es un asunto oscuro y espinoso: “Es un problema porque aún tiemblas con el violento martilleo nocturno que hace el herrero judío del primer piso, y no te has acostumbrado al roce de las plumas sucias que llevo bajo mi espalda. Es un problema porque en mi cama ruedas insomne igual que el pastor que en la madrugada vigila de pie una piara de cerdos al borde del precipicio. Y yo sólo he preferido esta noche no hacer caso a mis malas intenciones que tarde o temprano vienen
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sin poder nunca definir si mañana será un buen día o no. Me comporto tal como lo hacían los Atridas: confundiendo los antojos de la naturaleza con los de mis propios oficios. Así he llegado hasta aquí perdiéndolo todo mientras removía el aire quieto de la calle” Tú me miraste confundido: Por primera vez lo que te quería proponer no era en absoluto muestra de inocencia. Es cierto que antes de que yo llegara desconfiabas de los hombres inocentes, porque clavaban las puertas y las ventanas con tablas y levantaban barricadas en las calles con los muebles que a mi padre y al tuyo les había costado tanto conseguir. ¿Y todo para qué? La consigna era no dejar pasar a la Historia que anunciaba su llegada tocando un tambor a la hora convenida. Y tú detestas cuando por la ciudad comienza a sonar su redoble porque ellos entran al restaurante asustados y se quedan a planear nuevas estrategias y tú te pasas toda la noche (nuestra noche) sirviéndoles café. Es hora de que lo entiendas: todo animal se vuelve voraz cuando es acorralado por las formas de la muerte. Tú mismo recuerdas cuando vagabas por las grandes capitales esas ganas de venderte a cualquier precio antes de que el dueño de tu cuarto te tumbara la puerta entre gritos y amenazas -”los europeos son muy fríos” me decías. Y sin embargo recuerdas el ardor de tu cara cuando entraste a ese albergue de Amsterdam donde dormían chicos muy blancos hundidos en el
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José Carlos Irigoyen fondo de sus literas y esa noche te volviste voraz como el ángel que sale a pasear por la ciudad y se olvida de atender a sus enfermos. (y a pesar de esto, no has perdido tu sentido del deber con las otras criaturas: ahora dices que detestas a los poetas porque según tú viven de la desnudez de los animales. En sus textos siempre hay personajes cubiertos de pieles o de plumas que encarnan el heroísmo y el progreso o al menos una celebrada elegancia. Lo que no sabes es que en cada poema aunque no sea mencionado también existe un macho cabrío que todas las mañanas canta cubierto de carne humana para despertar a todos los habitantes de la ciudad) De esto se ha encargado la Historia con su paso por las calles y por el aire: de hacernos igual de culpables a todos. Así en unos años los estudiosos no tendrán otro afán que viajar a tierras extrañas para hallar fortuna y descifrando sus escritos inconclusos podrán identificar los cuerpos desnudos que encuentren dispersos por el curvo remanso del espejo. Y de nosotros dos nadie dirá nada porque esos negros años los pasamos dentro de este restaurante amarillo cuidándonos siempre de no ser vistos armando pacientemente una historia que nadie nunca quisiera filmar. Nunca buscamos una verdadera valentía porque el destino de los héroes siempre entra en la palma de una mano;
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ni sacamos un centavo de las cuatro estaciones como otros en nuestro tiempo falso como el collar colgado en el cuello de la camarera. Pero sé que eso poco te interesa. ¿no es acaso la Historia una imagen imprudente de un poeta que sabía demasiado? El problema surge cuando la distancia que nos separa de la sabiduría es propiedad del placer: en ese caso mejor ni intentes el regreso. Mejor guiémonos a ciegas por el comedor y la cocina sin preocuparnos por pisar a los discretos y pequeños animales que viajan por la oscuridad hasta hacerla una leyenda para por fin hacernos de la belleza de todo aquello que nos es incomprensible. Ya sé que esto parece la canción de un embustero: señales y formas. Pero todo cuerpo que abandonas durante una larga estación requiere de una teoría si quieres volver a recobrarlo. Traduções O LIVRO DOS SINAIS 1 Meu pai é banco sinal que fragmentei esta noite de agosto nas costas de Santiago.
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José Carlos Irigoyen O branco sinal que brilha nas costas de Santiago como a língua da aurora sobre as modestas criaturas. É uma noite de muito vento, as janelas do restaurante tremem tanto que é impossível escutar, distinguir um sim de um não e isto resulta um problema quando o que queres propor é um assunto escuro e espinhoso: “É um problema porque ainda tremes com o violento martelar noturno que faz o ferreiro judeu do primeiro andar, e ainda não te acostumaste com o roce das plumas sujas que levo sob as costas. É um problema poruqe em minha cama rodas insone tal como o pastor que de madrugada vigia de pé uma piara de porcos à beira do precipício. E eu somente preferi esta noite não fazer caso de minhas más intenções que tarde ou cedo vêm sem poder nunca definir se amanhã será um bom dia ou não. Me comporto tal como faziam os Atridas: confundindo os caprichos da natureza com os de meus próprios ofícios. Assim é que cheguei até aqui perdendo tudo enquanto removia o ar parado da rua” Tu me miraste confundido: Por vez primeira
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o que te queria propor não era em absoluto demonstração de inocência. É certo que antes de minha chegada desconfiavas dos homens inocentes, porque cravavam as portas e as janelas com tábuas e levantavam barricadas nas ruas com os móveis que ao meu pai e ao teu havia custado tanto conseguir. E isso tudo para que? A ordem era não deixar passa à História que anunciava sua chegada tocando um tambor à hora combinada. E tu detestas quando pela cidade começa a rufar porque eles entram ao restaurante assustados e ficam a planejar novas estratégias e tu passas toda a noite (nossa noite) servindo-lhes café. É hora do que entendes: todo anima se torna voraz quando é encurralado pelas formas da morte. Tu mesmo recordas quando vagavas pelas grandes capitais essas ganas de vender-te por qualquer preço ante de que o dono de teu quarto te tombasse a porta entre gritos e ameaças “os europeus são bem frios” me dizias. E no entanto lembras de que o ardor de tua face quando entraste neste albergue de Amsterdã dormiam jovens muito brancos afundados em seus beliches e nessa noite tornaste voraz como o anjo que sai de passeio pela cidade e se esquece de atender seus doentes. (e apesar de tudo, não perdeste o sentido o dever com as outras criaturas: agora dizes que detestas os poetas porque pensas vivem da nudez dos animais.
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José Carlos Irigoyen Em seus textos sempre há personagens vestidos de peles ou de plumas que encarnam o heroísmo e o progresso ou ao menos uma celebrada elegância. O que não sabes é que em cada poema mesmo não sendo mencionado também existe um machão que todas as manhãs canta coberto de carne humana para despertar todos os habitantes da cidade) Disso se encarregou a História com seu passo pelas ruas e pelo ar: por tornar-nos todos culpados. Assim em poucos anos os estudiosos não terão mais afã que viajar por terras estranhas para buscar fortuna e decifrando seus escritos inconclusos poderão identificar os corpos despidos que encontrem dispersos pelo curvo remanso do espelho. E de nós dois ninguém dirá nada porque esses anos difíceis passamos dentro deste restaurante amarelo cuidando sempre para que não sermos vistos montando pacientemente uma história que ninguém jamais quisera filmar. Nunca perseguimos uma verdadeira valentia porque o destino dos heróis sempre cabe na palma da mão; nem tiramos um centavo das quatro estações como outros em nosso tempo falso como o colar dependurado no pescoço da camareira. Mas sei que isso pouco te importa. não é acaso a História uma imagem imprudente de um poeta que sabia demais? O problema surge quando a distância
José Carlos Irigoyen que nos separa da sabedoria é propriedade do prazer: nesse caso melhor nem tentar o regresso. Melhor guiemo-nos às cegas pelo refeitório e a cozinha sem preocupar-nos por pisar os discretos e pequenos animais que viajam pela escuridão até torná-la uma lenda para afinal fazer-nos da beleza de tudo aquilo que nos é incompreensível. Já seu que isto parece a canção de um trapaceiro: sinais e formas. Mas todo corpo que abandonas durante uma longa estação requer uma teoria se pretendes recuperá-lo.
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José Geraldo Neres A QUARTA LÍNGUA DA LUA A quarta língua da lua passa pelo corpo & a primavera soluça espectros de pétalas sua semente — o manso golpe do machado —¯ rasga o peito saem dois girassóis com a idade do silêncio um com os pés de criança-órfã o outro com as mãos de trigo a língua perfura o pensamento congela os olhos do tempo (beijos a devorar a música do orvalho) um grito pesca uma estrela — sela o abismo —
NA PELE DO SOL na pele do sol pintura de janeiro em pêlo de serpente
José Geraldo Neres uma outra roupagem no cemitério andaluz o espírito da noite despe a violeta do seu corpo nas frestas da lua oculta na guitarra dorme um anjo meio-menino sente a dor da poesia colhida no abismo dos séculos choro de inverno os olhos doutra criança amamentam um sol de cobre
O DORSO DE LUA O dorso de lua na asa de anjo caído barca de sombras deserto de mil línguas retalhos de estrelas & som de folhas rasgadas em três partes a rocha virgem sangra o rio calado canto de luzes abissais
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José Geraldo Neres
poeira de rosas azuladas gozo a colorir o vento negro
EPISÓDIO Metal impuro medalhão da sorte sem poderes ocultos moeda cunhada nos tempos do sofrimento Estas foram as primeiras hipóteses para descrever o objeto que estava cravado entre os dedos daquele incógnito ser na angustiada mesa de necropsia Ele fora encontrado no cume da montanha [ironicamente denominada Paraíso] Ainda não atingira a idade do lobo Concluídos os primeiros exames tentava eu montar o quebra-cabeça do devorador de minha tranqüilidade Não saí da primeira peça Nenhum indício de sua morte os órgãos internos estavam perfeitos o que era incomum para alguém de sua idade Uma luz artificial refletiu-se em meu rosto & o Senhor das Dúvidas percorreu-me o corpo A moeda abandonou seu hospedeiro furtando-me a concentração nas análises A ampulheta é invertida As runas traçam diferente destino O vento noturno conduz a uma estranha sensação estou na montanha Paraíso
José Geraldo Neres Solitário Vestígios de sanidade Abruptamente o cenário é invadido por outra criatura mas ela não sente minha presença Senta-se em posição de lótus parece admirada com o horizonte Num movimento angelical ela retira um objeto circular de suas entranhas Olha-o & seu semblante transforma-se Grita & atira furiosamente o objeto montanha abaixo Vira-se para mim olhar vago um quê de decepção Chove A chuva cobre seu corpo num lamento Uma gota rubra remete-me à cena inicial [Metal impuro ¯ Forja mestra de almas invento impondo sua cadência arquitetando o cotidiano monarca das ilusões Sou servo banhando-me em espelhos de lágrimas] Permitiram-me o sol mas há dias não sinto sua luz
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Juan Carlos Pajares SALVE En el recuerdo de tu cuerpo caliente reposo a menudo las serpientes dóciles de mis sueños, donde anidar y apacentarse puedan, junto a riberas de cursos lácteos e hirvientes que jamás se agostan, deltas que a las mismas fuentes desembocan, llanuras infinitas, valles tiernos y fértiles, bosques de dorados frutos y rosas y panales. Impecable tu abrazo por inédito de Eva eterna, orfebre del gen, inmaculada entre los vertederos, de las bestias y de los elementos apaciguadora, victoria sobre la muerte, refugio seminal. Lo que en mí haya de esencia vomitaré en tu regazo. PRECIPITACIONES Mirabas hacia arriba y los astros no eran sino los puntos suspensivos de tu sereno silencio. Algo dije entonces: una piedra cayó al estanque, o la sombra de una nube. Se dilató el iris, le sucedió un parpadeo y se vinieron al suelo como un granizo las altas luces. AUTISMO Tras el lienzo del deseo descubrí mis viejos juguetes, mis derrotas. Cripta virgen los años detenidos,
Juan Carlos Pajares
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mecanismos intactos sin aliento, y al posar mi mano en ellos, la síncopa genial, destartalada sinfonía de giros, tropezones y empeños absurdos, infractores de la ley de la gravedad. Arrecian los gritos de la pelea, se encienden hogueras, tabletean las armas con su vómito, como espigas se doblan los metales, los niños lloran como hombres. Traza un círculo en el suelo el compás improvisado de mi cuerpo, del que no saldré, una línea que será un abismo. Traduções SALVE Na lembrança de teu corpo quente repouso seguidamente as serpentes dóceis de meus sonhos, onde aninhar e aparentemente possa, junto às ribeiras de cursos lácteos e ferventes que jamais esgotam, deltas que às mesmas fontes desembocam, planícies infinitas, vales tenros e férteis, bosques de dourados frutos e rosas e favos de mel. Impecável teu abraço por inédito de Eva eterna, ourives do gênero, imaculada entre os desaguadouros, das bestas e dos elementos apaziguadora, vitória sobre a morte, refúgio seminal. O que em mim seja essência vomitarei em teu regaço.
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Juan Carlos Pajares PRECIPITAÇÕES Olhavas para cima e os astros não eram senão pontos suspensivos de teu silêncio sereno. Algo disse então: uma pedra caiu no tanque, ou a sombra de uma nuvem. Dilatou-se a íris, aconteceu um pestanejo e caíram no chão como um granizo as altas luzes. GÓLGOTA Não lança a luz seu brilho nem seu alento sobre esta torpe, ignorante, suja morte, que transpassa lenta e descuidada como se com ela não fosse, a todas horas despiedosa, de ágrio e fedorento condimento, feroz em todos os caminhos, harpia o fruto excepcional que palpita inconsciente como se com ele fosse em tudo aquilo que dizemos vivo, que se abstrai com embelezamento nos negócios: a extração precisa, o estalo da carcaça, a exangue aparência do que é sua essência. POÉTICA Pátria desolada de meus sonhos solar do desterro lamaçal da febre traspasso por não poder atender AUTISMO Detrás do lenço do desejo descobri meus velhos brinquedos, minhas derrotas. Cripta virgem os anos detidos, mecanismos intactos sem alento,
Juan Carlos Pajares e ao pousar minha mão sobre eles, síncope genial, destrambelhada sinfonia de giros, tropeções e empenhos absurdos, infratores da lei da gravidade. Aumentam os gritos da briga, acendem fogueiras, matraqueiam as armas com seu vômito, como espigas se vergam os metais, as crianças choram como homens. Traça um círculo no chão o compasso improvisado de meu corpo, do qual não sairei, uma linha que será um abismo.
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Juan Carlos Reche Para ti, mi conciencia, y para mí, hay reservada una isla en el futuro, donde toda raíz tiene su frontera. Para entonces habrá dejado el corazón de hablar por la boca del tiempo; las cosas serán cosas, mis ojos sabrán cortejarlas y cada palabra tendrá su verdad o su horca. Podrá el mar entonces asomarse a mis ojos para peinar sus barcos. Será como este poema cuando acabe con la palabra nombre: aire de una mina que soñando se cierra con nosotros dentro, volcán que al nacer se desenlaza. Para ti, mi corazón, para que estés siempre contigo he elegido el rumor de las letras cuando alargan sus cuerpos para formar tu nombre. Traduções do autor
Para ti, minha consciência, e para mim, está reservada uma ilha no futuro, onde toda a raiz tem uma fronteira.
Juan Carlos Reche Nessa altura, já o coração terá deixado de falar pela boca do tempo; as coisas serão coisas, os meus olhos saberão cortejá-las e toda a palavra terá a sua verdade ou a sua forca. Poderá o mar, então, espreitar os meus olhos e pentear os seus barcos. Será como este poema quando acabar com a palavra nome: ar de uma mina que ao sonhar se encerra connosco dentro dela, vulcão que ao nascer se destrinça. Para ti, meu coração, para estares sempre contigo eu escolhi o rumor das letras quando estendem os seus corpos para formar o teu nome. Já não vou à procura de nada. Nem da palavra que podia mover o mundo nem do sonho que se não realiza porque o seu valor é apenas ser sonho. Não tenho nada a atirar-lhes à cara, não tenho coisas a propor. Sei que irão ser eles a levar o barco até ao estaleiro, que, para já, não se move, e ainda que se movesse, o que faríamos à chegada? Divertirmo-nos? Como agora? Olho para a lua. Os meus dedos tocam-me
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Juan Carlos Reche como se fossem os seus. Conservo ainda a parte de um segredo, mais nada. Fico feliz. Resignado. Todas as ilhas ficam a um coração de distância. Talvez não esteja nelas, nas coisas, bússolas loucas que ocultando viajam o íman do belo, ou em mim, ninguém de mim, que por vezes sou eu, e se engana. Demora-se a luz universal espalhando pedaços de quinquilharia no tapete do mundo. Converte-nos no seu açougue, na sua cola, no dom de emoldurar a linha e a matéria, união de luz e território sonhado, fusão da cor e da forma, do lábio e o seu beijo e o seu lábio. É para ver no que dá que estamos nas coisas, para vermos se entre elas e aquilo que somos salta a lebre e a bruxa se orienta, se alguém por cá nos endireita a tarde.
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Katia Chiari o Rumbo a tu pecho un molusco en mi boca se metió. Se sacudía por siete mares. …y de pronto todo un mar me regaló. o Alargo mi espuma hasta el rompeolas de tu cuerpo. Son de conchas nuestros besos, son de arena los te quiero. Alargas tu espuma hasta el rompeolas de mi cuerpo. Son de agua nuestros cuerpos, son de sal los calendarios. La espuma se alarga. o Siento un torbellino atrapado en mi pecho, grita tu nombre y se bate en el impulso.
Katia Chiari
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Lo reprimo, me reprimo y oculto la desnudez y sus debilidades. o Dos meses, un instante, siete lunas, la vida que me queda, tú. o Detente, hay semillas en la risa. Tu pico risueño. Cautiva mi flor. Acuna el viento una carcajada, ríe, ríe una lágrima. Detente, un pichón los pétalos abrió. o Seca venía sudando aguardabas. Tome de ti hasta embriagarme y no saberte mi madre o mi amante. Despierta solo recuerdo el caer de mis olas.
Katia Chiari
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Traduções o Rumo ao teu peito um molusco em minha boca se meteu. Se sacudia por sete mares. … e de repente todo um mar me ofereceu. o Amplio minha espuma até o arrecife de teu corpo. São de conchas nossos beijos, são de areia os te quero. Amplio minha espuma até o arrecife de teu corpo. São de água nossos corpos, são de sal os calendários. A espuma se amplia. o Sinto um remoinho preso em meu peito, grita teu nome e embate no impulso. Reprimo-o, me reprime
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Katia Chiari e oculto a desnudez e suas debilidades. o Dois meses, um instante, sete luas, a vida que me resta, tu. o Detém-te, Há sementes no riso. Teu bico risonho. Cativa mina flor. Embala o vento uma gargalhada, ri, ri uma lágrima. Detém-te, pombinho de pétalas abriu. o Seca vinha suando aguardavas. Bebi de ti Até embriagar-me e não saber-te minha mãe ou meu amante. Seca venía sudando aguardabas. Desperta só lembro o cair de minhas ondas.
Katia Chiari
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FOTO AMANHECE Daqui por diante chamaremos lugar-comum ao já dito por outros que não seja eu. Esta é a foto de um lugar-comum na história da poesía. Amanhecer não tem sinônimo. Dever meu silêncio às evocações alheias, quando o instante pousa de eterno no encontro entre a terra e o sol e meu corpo pende de uma taça de café, não posso. Tenho urgência de contar-lhes que o eu que me habita não entende porque alguém dorme enquanto o milagre se repete. Necessito dizer-lhes, não é marca de uma nova jornada, nem o prolongamenteo do calendário, é presente, origen, êxtase, silêncio. Diminuto eu, desperta! A chuva brinca de quando em vez. Não há momento mais laranja nem relógio mais exato. Amanheceu em meus olhos. Outro eu para contar-lhes. Afortunado lugar-comum para nós, os sinónimos de tantos outros.
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Lourdes Sarmento
DESEJOS Onde meu desejo floresceu não me encontro quanto mais olho atrás de mim fico perdida no ciclo fechado do Tempo os que me perturbaram não têm rostos o deserto agonizante de mim própria, secou a fonte das feras
então caminho
Onde meu desejo floresce ordeno-te: segue teu destino procura de outras caças estrangulo tua voz serpente do mal línguas e setas envenenadas Não quero pensar no futuro o futuro talvez seja o agora o desejo floresce na minha pele
então caminho
METADE DO CAMINHO Sob o olhar vazado da pedra estirei tua pele que durma com as pedras
Lourdes Sarmento tua sedução minha alma olha tua pele retirada do meu corpo; morta Sou canto de pássaro liberto da gaiola eras a chuva que vinha vinha e voltava e eu o esperava com o desejo atravessado na pele à porta de março acordei olho o mundo assustada (na esquina da rua o olhar de desejo do jovem) olhos negros noturnos não sei se ainda é verão
ESTRANHAS VISÕES Estranhas visões caminham no jardin dormem no orvalho do corpo corpo das madrugadas estendido no horizonte do desejo Estranhas visões despertam a manhã rosas vermelhas bordam a terra crivada de relva espaço de vôo das borboletas e uma revoada de andorinhas riscando o céu escarlate escarlate como o batom
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Lourdes Sarmento esquecido no teu paletó cinza PARA QUE NÃO TARDES O galope do cavalo chama a tarde sonolenta e fria abre a flor pouco a pouco pouco a pouco como regente de uma sinfonia comanda músculos e nervos abre perfumes embriaga a tarde para que não tardes ao banquete banquete das flores à beira do Sena
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Luiz Otávio Oliani CASA faço do silêncio a morada do ser não lhe digo palavras duras nem amorteço quedas apenas guardo concha em que abrigo a solidão dos homens RESGATE como posso resgatar o que não existe em mim? ao beijar a solidão eu me dispo por inteiro da escória que é o homem na inútil tentativa de ser Deus por um minuto
HERANÇA não deixo bens aos que ficam de mim restará a palavra (antes cinzel) agora verso a burilar os homens
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Luiz Otávio Oliani EXPIAÇÃO a Terra é a expiação dos homens no inconsciente a culpa transita em meio a fantasmas a penitência alivia a dor mas o passado condena ninguém escapa da cruz
DESCOBERTA nada detém a vida esvai-se o tempo o tempo em mim caramujo do imo guardo porta-retratos aqueço a memória: a infância me foi roubada
FATALIDADE a vida pulsa em hiatos e não sei pedir socorro camaleão fora do ventre transmudo a cor à revelia mas a morte não é daltônica PARTILHA a mão estendida abençoa o trigo à procura do ponto
Luiz Otávio Oliani ágeis dedos manipulam a massa do mundo mas a vida só faz sentido quando se reparte o pão
LABUTA em sua própria vida o homem finca raízes atravessa árvores mata fungos sem olhar para trás e perceber: os frutos não mera conseqüência
BOEMIA hoje a lua é verso de loucos, de putas e de poetas hoje a lua é verso prazer bêbado regaço
IMBATÍVEL o tempo não se rende a nada que o prenda contra ele não há relógio nem ampulheta embora não corra
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Luiz Otávio Oliani abocanha os homens silenciosamente
COTIDIANO há vísceras em todos os lugares quem se indigna diante de quem sangra? TESSITURA no bordado de linhas o fio trançado ao revés destecer o sentido das coisas — um jeito tosco de urdir o mundo no silêncio dos nós POÉTICA dar nome a tudo desde os bois até o pasto impondo à palavra o significado de pedra enquanto em poesia a palavra voa e nunca é o imaginado
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Manuel Orestes Nieto LA POESÍA TE ESCOGE, NO LA ESCOGES 1. La poesía te escoge, no la escoges. Te acoge, como un tibio vientre de mujer en el centro del amor. Todo lo da en el acto de saber que todo le debe ser quitado. No trama, teje para otros. A veces con dolor. Su principal virtud consiste en maltratarte lo gratuito. Acosar la turbiedad de tus días, es su oficio. 2. Exorcizarte para que puedan vivir contigo las vidas que rondan en los diámetros que es capaz de trazar tu corazón. Te abandona cuando intentas sortear sus consecuencias. Huye de los lugares donde la imaginación y el asombro han muerto y evita pasar por donde cohabitan los ruines de espíritu. Está hecha de presencias porque tiene el don de desdoblarse sin dejar de ser entera. 3. Hija de la palabra la han vituperado sin poder tocarla. Hermana de la historia ha sido quemada y puesta bajo custodia de los carceleros. Con esa cualidad única de no necesitar del reposo, no desfallece ni conoce la fatiga. Falsificados sus textos,
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Manuel Orestes Nieto deshonrados sus leales oficiantes, distorsionada hasta el cansancio, prefiere la ruta del viajero antes que vivir en los templos que pudo edificar por la magnitud de su luz. 4. Humilde como ella sola, entra sin ruido en la casa del hombre, barre sus rincones, limpia el polvo más apartado, repara lo roído y se encarga de lo roto. Vidente de los hechos con que se cuenta el tiempo, la edad y lo pleno de la conmoción de quienes se reúnen. Andamio de lo venidero. Fragua, constancia, fuelle, criadora. 5. Ante ti hay una vergüenza confesa que aspira a su purificación. Alguien que ha desenterrado su piedra angular para rehacer su pirámide antes de que la maleza la oculte. Has clamado porque se detenga el sacrificio irracional y la rajadura de los bárbaros se cierre. Te has interpuesto entre la daga y lo indefenso. Aprendiste que la conmiseración tiene sus surtidores en el ojo de agua de lo injusto. A pesar de tus razones, te tocó errar como los despatriados forzosos, cercados y reducidos a la prohibición.
Manuel Orestes Nieto
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Y te han llevado en andas largas filas de hombres serios, estremecidos hasta la perturbación por lo que puede provocar la ignominia. 6. Han querido hacer madre de la lamentación y la desesperanza. Velada de colorete, gracia de feria. Te han prendido inciensos y construido urnas de cristal. Han difundido , sin cesar, que naciste para el ensueño y que la vida poco tiene que ver con tus costumbres. Han tratado de adornarte como joya de escaparate y te han regalado todos los espejos para ver en ellos reflejadas sus conciencias. Y tu has sabido decirles que no. Traduções A POESIA TE ESCOLHE, NÃO A ESCOLHE A poesía te escolhe, não a escolhes. Te acolhe, como um tíbio ventre de mulher no centro do amor. Tudo doa no ato de saber que tudo deve ser tomado. Não trama, tece para os outros. Às vezes com dor. Sua virtude principal consiste em maltratar-te por banal. Acossar o turvamento de teus días, é seu ofício.
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Manuel Orestes Nieto 2. Exorcizar-te para que possam viver contigo as vidas que rondam nos diâmetros que teu coração é capaz de traçar. Te abandona quando tentas sortear suas conseqüências. Foge dos lugares onde a imaginação e o assombro morreram e evita passar por onde coabitam ruindades do espírito. Está feita de presença porque tem o dom de desdobrar-se sem deixar de ser inteira. 3. Filha da palabra vituperaram-na sem poder tocá-la. Irmã da história foi queimada e posta em custódia dos carcereiros. Com esta qualidade única de não necessitar de repouso, não desfalece nem conhece a fadiga. Seus textos falsificados, desonrados seus leais oficiantes, distorcida até o cansaço, prefere a rota do viajante do que viver nos templos que pôde edificar pela magnitude de sua luz. 4. Humilde como só ela, entra sem ruído na casa da fome, varre seus rincões, limpa o pó mais afastado, conserta o roído e se encarrega do roto. Vidente dos fatos com que se mede o tempo,
Manuel Orestes Nieto a idade e a plenitude da comoção dos que se reúnem. Andaime do porvir. Frágua, cosntância, fole, criadora. 5. Diante de ti há uma vergonha confessa que aspira a sua purificação. Alguém que desenterrou sua pedra angular para refazer sua pirámide antes que o matagal a oculte. Clamaste para que se detenha o sacrificio irracional e a rachadura dos bárbaros se feche. Te interpuseste entre a adaga e o indefeso. Aprendeste que a compaixão tem seus fornecedores no olho da agua do injusto. Apesar de tuas razões, te cabe errar como os despatriados forçados, cercados e reduzidos à proibição. E te levaram em um andor longas filas de homens sérios, estremecidos até a perturbação pelo que pode provocar a ignominia. 6. Quiseram transformá-la em mãe da lamentação e da desesperança. Velório de cosmético, graça de feira. Acenderam incensos e construíram urnas de cristal. Difundiram, sem parar, que nasceste para o sonho e que a vida pouco tem a ver com teus costumes. Tentaram de enfeitar
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Manuel Orestes Nieto como j贸ia de cristaleira e te presentearam todos os espelhos para neles veres refletidas suas consciencias. Mas soubeste dizer-lhes que n茫o.
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Manuel Pantigoso GÉNESIS A la hora de nuestra hora padre nuestro WIRACOCHA sembrador de astros que NAZCA diciendo nuestra tierra madre nuestras señas cardinales que nazcan nuestras piernas nuestras manos (lenguas de fuego) que nazcan haciendo QUE NAZCAN DICIEND0 DEL FRUTO ENCALLADO DE TU VIENTRE N U E S T R O NUESTROSNOMBRES N O M B R E S
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Manuel Pantigoso VERDEMAR En tus lomas el mar nuestro de cada día mi tentación y su peligro tus onda perfectas por mi jardín a la altura de tus hojas me invento todos los capullos del árbol de la vida hostia en suspenso sacrificada del paraíso mi lengua comulga sus cruces con tu boca ¡qué buena cosecha reptando vertical contigo a la hora de nuestra sed y nuestra hambre! (por dilatar el cielo que a mi amada olea y expulsarnos en la hora violeta y rezar impúdicos así en la tierra como en el mar vida vacante eterna) ¿cuánto más arborizada en mí por el veneno de arder a pocos tu manzana? a horcajadas vámonos mudando tu piel y tus sabores de tanto en tanto apuro vámonos por la falta y por el gozo en absoluto desnudos de espirales y de astros lascivos y constelados por el verde origen.
Manuel Pantigoso
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Traduções G NESE Na hora de nossa hora pai nosso WIRACOCHA * semeador de astros que NAZCA** dizendo nossa terra mãe nossos sinais cardiais que nasçam nossas pernas nossas mãos (línguas de fogo) que nasçam fazendo QUE NASÇAM DIZENDO DO FRUTO ENCALHADO DE TEU VENTRE N O S S O NOSSOSNOMES N O M E S
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Manuel Pantigoso
*Deus andrógeno criado por si mesmo, hermafrodita, imortal, introduzido durante a expansão Wari-Tiwanaco, é o deus principal, criador do Universo e tudo que nele existe: a terra, o sol, os homens, as plantas. Adotava distintas formas, e se acreditava que ele estava em toda parte. **Peru abriga um dos maiores mistérios do mundo: as famosas Linhas de Nazca, situadas próximo à costa, são desenhos que só podem ser vistos do alto, observados do chão não passam de sulcos no solo macio e arenoso do deserto. VERDEMAR Em tuas colinas o mar nosso de cada dia minha tentação e seu perigo tuas ondas perfeitas por meu jardim à altura de tuas folhas invento todos os botões da árvore da vida hóstia em suspenso sacrificada do paraíso minha língua comunga suas cruzes com tua boca que boa colheita reptando vertical contigo à hora de nossa sede e nossa fome! (por dilatar o céu que minha amada ondeia e expulsar-nos em hora de violeta e rezar impudico assim na terra como no mar vida vaga eterna) quanto mais arborizada em mim pelo veneno de andar aos poucos tua maçã?
Manuel Pantigoso agachados vamos mudando tua pele e teus sabores tanto em tanto apuro vamos por falta e pelo gozo em absoluto desnudos de espirais e de astros lascivos e constelados pela verde origem.
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Márcia Theóphilo A NOITE No princípio havia noite não se sabia o que era noite havia somente luz e era tão intensa, nos trópicos que se tinha a sensação de passar períodos de azul de vermelho, de verde era tão forte a luz que as pessoas tinham a sensação de flutuar dentro das cores dentro das plantas tudo o que hoje não fala, falava intercomunicava-se entre si as árvores falavam e estimulavam o pensamento com suas flores não se sabia o que era negro existiam somente as cores que emanavam da luz e distribuíam energia-pensamento mas não se dormia porque a música nasceu com o silêncio e com a noite a música nasceu com a consciência dos primeiros ritmos e com a noite nasceu o primeiro canto. OS COQUEIROS O rosto daquela mulher impressionou-me muito éramos cinco um morreu pelo caminho e os outros será que estão vivos?: olha o puxa-puxa criançada olha o puxa-puxa! outro dia viajei
Márcia Theóphilo por terras desconhecidas nos contornos das praias os coqueiros água de coco gela água de coco gelada! as porções de açúcar estão crescendo o fôlego estou perdendo fôlego está havendo aumento de terra não existe mais água. OS MENINOS JAGUAR I É imóvel a terra, quando a deusa Jaguar de noite entra na aldeia e com ela Urucu, Pajurá Japicahy, Tauari Arari, Mangalô os rostos iluminados, um facho de luz baila um guerreiro dentro de cada um II é ela a divindade Jaguar. abre o universo fechado escuro a concha, ninho de todos os seres Murucu Maracá III os meninos guerreiros cada um encarna um mito ornados com trançados de penas de arara brincos de penas de arara cinturas de penas de arara colares de unhas de jaguar braçadeiras de caramujos do rio
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Márcia Theóphilo CXLII entram na cidade os meninos Mucura se muda em jaguar as pessoas se fecham dentro das casas: os frutos amadurecem, as árvores germinam o grito dos animais infunde medo CXLIII a deusa Jaguar se transforma em todas as coisas que vivem n´água se transforma em todas as coisas que vivem na terra plantas e animais rios e chuvas XXLIV na noite um perto do outro dormem os meninos enrolados em jornais, em casas de cartões um olho fechado um outro aberto olhos em forma de lua nascente por boca um triângulo e o braço em ângulo reto.
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Márcio Almeida AS PRESENÇAS IMPURAS Por que fica uma palavra perdida, sem função, a mais, a apodrecer a lavra do poema com um mas? Que pensar permite o ruim na surpresa da emoção? Por que, se rígido, o sim condena à exceção? É desse consentir o erro que a poesia faz sua função: ser o sujeito da falta, semente do nada, paixão? Por que tantas perguntas, dúvidas latifundiárias, se a poesia é coisa junta de seus exemplos e párias? Se não existisse, a poesia faria alguma diferença, ao fundar signos de pia com seus ócios e ciência? Mas o que fundar num tempo alvo de pleno desígnio, o universo a vão do vento, a filosofia do signo? A contradição,a profecia belomaldita da vida, paródia, secular via já do que antes era dúvida?
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Márcio Almeida A poesia serviu ou servil à semelhança do criado serviço de linguagem fio fundo a destino do dado? OSSOS DO OFÍCIO O poema tem por função dar prazer, ser a crítica de si mesmo, matar a fada, o direito de sentir e de não ser, promover a recepção do nada. E dito assim malícia natural, que de tão óbvio é de si estranhamento, voz que vê fundo numa forma de coral, ritmo que pensa e faz festa de momento. Trazer para fora o que é preciso não dizer, que é “dito, dado, consumado”, tudo. restam o diálogo e a memória do escrever, a escritura que reinventa o seu futuro. RITMO O que mais atrapalhou foi o seu melhor: a logopéia que dançou o seu sentido, metro musak, diálogo de condor, palavra ao pé do verso, letra de ouvido. Culpa sonora esse opus para surdo, em que o soneto piora a forma mais tribal, mais menestrel que imagina o absurdo, coisa de rua , assovio, voz geral. Pois é esta forma de falar que fala coisas dançadas em pauta de papel: teoria do sentir que se dá e cala para ouvir outras vozes e assopros plugados, todos, nos fonemas da babel, rastros sonoros, tropicaliente, corpo.
Márcio Almeida INEXISTENTE IMPRESCINDÍVEL Enfim, o que conta é o saber que incomoda. A fronteira do outro lado, a ilusão consciente de haver algo-começo, um certo conforto para a resposta que não voltou ainda como disse. A falta de um corpo vivo como prova de existência alimenta o imaginário. Não houve nem haverá futuro para o que nunca existiu. Contudo, pleno. O que passa é o homem. O eterno não dura. Ele não é o que habita a própria criação. É a criação. Deus não é uma explicação. O dado é Outro. POUNDeração De minuto a minuto de mim nutro diminuto. MATRACAS Matracas são maracas sacras, gritos para dentro, agônicos estalos secos, vozes magras de luto, motetos monotônicos. Avisos de que suas carcaças arremedam a paixão do horto. A eternidade está sem graça. Deus é a vida. E está morto.
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Marcos Caiado o por fora, trago o sabor da amora; por dentro, uma saudade que devora. por fora, comemoro a vida; por dentro, sou veia cava obstruída. por fora, um banquete sobre a mesa; por dentro, essa dinamite acesa. morreu o cravo, sonhando a margarida. pelo próprio espinho, se fez a rosa, ferida. por fora, a poesia move; por dentro, o verso suicida.
Marcos Caiado o nada a declarar. a não ser que estou cansado e sem escudos. que depois que você foi embora, os deuses ficaram mudos. que as borboletas voaram pra outros mundos e eu fiquei só. só eu e os meus cadernos, à mercê dos mais profundos invernos… nada a declarar: a não ser que eu estou cansado e sem horizontes. que depois da sua partida, os amigos se debandaram aos montes dizendo o quanto fiquei chato e intragável. e quando até o automóvel se nega a dar partida, repito comigo mesmo: coisas da vida… vai passar! a droga, é que nunca passa. o foda, é que tudo perdeu a graça. (vale acrescentar!) vale acrescentar que, cada vez que bato à porta da alegria, ela grita de longe: passa outro dia! tá tudo muito escuro. sequer o futuro acredita num claro despertar… ficamos então combinados: vou dormir com mais este maço de desagravos e se por acaso acordar do meio deste pesadelo, peço desculpas a ele. viro de lado e digo: coisas da vida, amigo… pode continuar!
o eu te amo paralelepípedo inconstitucionalíssimamente
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Marcos Caiado
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te amo igual a tanta gente que mal sabe que ama assim tão diferente oma et ue ed sárt arp etnerf
o de dentro pra fora te amo e te reamo de dentro pra frente te amo ausente presente menos aqui e mais adiante te amo olho no olho te amo caolho te amo sem olho
te amo miopia: lua noiva de dia (astigmatismo) te amo budismo, aula de catecismo e além do que cismo te amadoro pra sempre ou de repente só agora como quem mente
Marcos Caiado o você roubou os meus salvo-condutos, os meus lábios sujos e minha ausência de parafusos… roubou-me inúmeras dúzias de preciosos 50 minutos. abraços dementes, idades, idéias e eus confusos. você roubou a arquitetura do meu educandário, a margarida da praça, a praça, e o relógio do rosário. relegou meu abecedário ao molho,
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Margot Ayala de Michelagnoli A RAMONA (NADA CAMBIA) Ensimismada ves pasar la vida tu reloj El día la noche el verano la mañana la muerte Tus arrugadas manos siguen fregando las ropas de tu hombre Como ayer como hoy mañana y siempre FORTIN TOLEDO Ventiscas de arena fustigan los cañaverales del Chaco. Espirales de polvo como hilacha de nubes desgajadas. De la embrollada voz del bosque la tricolor embate atormentada al enhiesto mástil. Del frio y eterno bronce emerge el soldado oteando el horizonte. Hacia la cruz de los caídos en la batalla. Hacia la frontera de la pátria. Hacia el rincón remoto de la historia. Hacia la vasta región de las trincheras donde tantos supieron morir mirando el cielo. Están allí retando al tiempo entre esteros y picadas resuena la proclama tormenta de arena blanca y esponjosa. Destaca en el paisaje chaqueño uniformes verde
Margot Ayala de Michelagnoli
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olivo. Gime el clarín en ese otro tiempo esfumado en polvareda y viento norte. Incólume emergen de la otredad los puestos de comando desfilan oficiales en hilera. Descuella el rostro del militar de hierro. Casco gris Charretera Talabarte Largas botas Sus sueños de gloria… La guerra… La sed… Traduções A RAMONA (TUDO CONTINUA IGUAL) Ensimesmada ves passar a vida teu relógio O dia a noite o verão a manhã a morte Tuas mãos enrugadas continuam esfregando as roupas de teu homem Como ontem como hoje amanhã e como sempre
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Margot Ayala de Michelagnoli
FORTE TOLEDO Ventanias de areia fustigam os canaviais do Chaco. Espirais de pó como fiapos de nuvens desgarradas. Da enredada voz do bosque a tricolor* embate atormentada no erguido mastro. Do frio e eterno bronze emerge o Soldado vigiando o horizonte. À cruz dos caídos na batalha. À fronteira da pátria. Ao rincão remoto da história. À vasta regiãop Hacia la cruz de los caídos en la batalla. Hacia la frontera de la pátria. Hacia el Rincón remoto de la historia. Hacia la vasta región de las trincheras donde tantos supieron morir mirando el cielo. Están allí retando al tiempo entre esteros y picadas resuena la proclama tormenta de arena blanca y esponjosa. Destaca en el paisaje chaqueño uniformes verde olivo. Gime el clarín en ese otro tiempo esfumado en polvareda y viento norte. Incólume emergen de la otredad los puestos de comando desfilan oficiales en hilera. Descuella el rostro del militar de hierro. Casco gris Charretera Talabarte Largas botas Sus sueños de gloria… La guerra… La sed…
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Maria Romeu Hay rayas en el água peces hay redes pescadores La magia no interviene e ese mundo que se dice verdadero Tenemos detenida la memória em los canales del ser tenemos el carecer Caracol escalera se puede salir hacia los lados se puede entrar por la ventana Puedes ir y venir cuando quieras pero tienes que querer No me gusta el amanecer del muelle las barcas despiertan amarradas Prefiero los celos a la incertidumbre Ahora mi casa tiene golodrinas o Esa tarde al encontrarnos Polifemo enmudeció Eres como la naturaleza vuelta a acomodar después de la lluvia Te daré café y te amare caliente Dejar ser al deseo es solo Hay atisbos de libertad ruiseñores
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Maria Romeu hay abismos Dicen que en el fondo hay un hediondo rio yo solo recuerdo la caída y las estrellas Mi cuerpo es la parte de mi que toca el mundo Fuera de ti todo es afuera ¿Quién es pastor de quién quién es oveja? Traduções o Há raias na água peixes há redes pescadores A magia não intervém nesse mundo pretendido verdadeiro Temos a memória detida nos canais do ser temos o carecer Caracol escada podemos sair para os lados podemos entrar pela janela Podes ir e vir quando queiras mas tens de querer Não gosto do amanhecer no cais os barcos acordam amarradas Prefiro os céus da incerteza Agora minha casa tem andorinhas tem o ar que voa e no qual voa
Maria Romeu o Nessa tarde ao encontrar-nos Polifemo emudeceu És como a natureza que se acomoda depois da chuva Te darei café e te amarei ardente Deixar ser ao desejo é só deixá-lo fazer Há vislumbre de liberdade rouxinóis há abismos Dizem que no fundo há um hediondo rio eu só recordo a queda e as estrelas Meu corpo é a parte de mim que toca o mundo Fora de ti tudo é fora Quem é pastor de quem quem é ovelha?
o Separar-se é perder-se na árdua tarefa de existir A dor se fará ao mar com uma vela em cada pacto Bebendo dever e devir
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Maria Romeu Dobradiça que vences a porta que sustentas sangram tuas costuras rotas Conceber não é nascer poema ferido Se o outono fosse um mês seria ainda mais cruel que abril Somos como a flor transparente o amor nos ameaça Ao cair-me ficaste ao lado assim as mulheres conhecem o mundo pelas noites o Quantas tormentas e quantas secas haverão de suceder-se quantas vezes A vida e a morte jogam o tempo todo ninguém ganha ninguém joga para ganhar Imaginei o mundo alguma vez em relação comigo era como um trem e tudo o que diz a toda velocidade Somos seres procedentes do mar estrelas anônimas arredor do sol caminhos insinuados pelo vento somos fogareiros milagres pastores de desertos congelados somos água sólida adolescentes perfurando o pasto chuva de baixo para cima sol líquido
Maria Romeu detritos diluídos pontes suspensas vilas de pescadores pássaros sorvendo espelhos de água nuvens (…) Eu não entendia dentedeleão por que o vento e a vara desnuda: estava ameaçada de silêncio.
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Matias Lockkart
la cabeza sobre la hoja tiene los minutos contados multitud de números — o signos— algunos de pie uno acompaña al otro que yace (ahorcado-dividido) en dos las figuras se suceden ¿fue suicidio o se ajustó el cinturón más de la cuenta? me ofreces un banquete con el clavel en la boca — y mastico los pétalos masticoatraganto con devoción — hasta que la muerte no sé pare
Matias Lockkart
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Traduções a cabeça sobre a folhe tem os minutos contados multidão de números 1. ou signos – alguns de pé um acompanha o outro que jaz (enforcado-dividido) em dois as figuras se sucedem foi suicidio ou se apertou o cinturão mais da conta? me ofereces um banquete com o cravo na boca 1.e mastigo as pétalas mastigoatragantado com devoção – até que a norte não se(i) pare a umidade levanta pinceladas da parede enquanto ninguém se pregunta e segue respirando apenas às vezes em época extremas se ouve quando despertam as crostas
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Matias Lockkart a cantilena (ainda não) a umidade imprime movimentos crê ser deus e revive tudo o que pode não há mais paredes quietas não mata a umidade sem o fundo da casa se foi sem aviso a intimidade no fundo do dizer alguém elegiría o nome para abrir todas as entradas 1. não é possível – sem o fundo do ar perde-se a perspectiva do vôo e não há ponto de fuga mutilar o fundo acomodar-se como pode na parte dianteira
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Miguel Ángel Zapata
ÁRBOLES Cada árbol es un río de voces que nos sigue por las tumbas Las aguas se mueven lejos de los ríos y las dunas El cuervo vuela en círculos por la copa de los pinos dándonos la bienvenida y el buen augurio para la noche El cuervo escribe en el bosque porque hay un lago dentro de su corazón Hay un árbol en mi puerta que me habla de mañana Su corazón es un campo por donde baja un arroyo fresco lleno de vino. YA NO TENGO ÁNGEL DE LA GUARDA Ya no tengo ángel de la guarda. Un día inesperado se perdió en la llanura buscando la plenitud y el reposo. A pesar de todo, el movimiento del cielo no cesa todavía. Sigo caminando por el bosque con los ojos abiertos, y a veces siento en el aire una breve eternidad. Pienso que mi ángel de la guarda por ese inmenso cariño por las islas - está de custodio de las profundidades del mar, que después de todo, es la otra cara del cielo. Sé que no está en el monte Nebo contemplando el tiempo que vendrá. Mi ángel tenía una larga cabellera negra y sus ojos te seguían por todas partes. Cuando iba de paseo en mi bicicleta su cabello era una llamarada de fuego negro que llamaba la atención en todo el vecindario. Nadie la podía ver, excepto mi perro que agachaba la cabeza cuando volaba por encima de los geranios. Ya no tengo ángel de la guarda. Ahora camino solitario por las oscuras calles de los pinos y presiento que alguien todavía me vigila.
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Miguel Ángel Zapata Traduções
ÁRVORES Cada árvore é um rio de vozes que nos seguem pelos túmulos As águas se movem longe dos rios e das dunas O corvo voa em círculos pela fronde dos pinheiros dando-nos as boas vindas e o bom augúrio para a noite O corvo escreve no bosque porque há um lago dentro de seu coração Tem uma árvore em mina porta que saúda pela manhã Seu coração é um campo por onde baixo um arroio fresco repleto de vinho. JÁ NÃO TENHO ANJO DA GUARDA Já não tenho anjo da guarda. Um dia inesperado perdeu-se na planície buscando a plenitude e o repouso. Apesar de tudo, o movimento do céu não cessa ainda. Sigo caminhando pelo bosque com os olhos abertos, e às vezes sinto no a ruma breve eternidade. Penso que meu anjo da guarda –por esse imenso carinho pelas ilhas– está custodiando as profundezas do mar, que depois de tudo, é a outra face do céu. Sei que não está no monte Nebo contemplando o tempo por vir. Meu anjo tinha uma longa cabeleira negra e seus olhos te seguiam por toda parte. Quando saía de passeio em minha bicicleta seu cabelo era uma labareda de fogo negro que chamava a atenção de toda a vizinhança. Ninguém a podia ver, exceto meu cão que baixava a cabeça quando voava por cima dos gerânios. Já não tenho anjo da guarda. Agora caminho solitário pelas ruas escuras dos pinheiros e pressinto que alguém ainda me vigia. MEU CORVO ERMITÃO Meu corvo brilha com o sol e ninguém consegue vê-lo como um canário. Escreve com seu bico a solidão da noite e tamborila seu canto que o contempla sem uma letra. Meu corvo é um pássaro ermitão, canário cinzelado com
Miguel Ángel Zapata
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carvão. O corvo que penetrava pelos aposentos é mais vivo que papagaio verde repetindo sílabas sem som. Meu corvo brilha e brilha melhor que um cometa preso ao seu cristal. Já não pousa em meus papéis quando falo com ele sem pensar, e quando me olha é um ar emplumado, flauta de tinta que goteja minha moldura. ENSAIO SOBRE A ROSA Unas rosas re-raras oh
Oscar Hahn
1 Busco sempre rosas raras para meus floreiros de barro. Rosas que apaguem a tinta cinza e as cores exageradas do céu. Rosas que não chorem mas que sintam o vazio dos pátios amplos de memória, as portas que se fecharam e esperam alguma mão para voltar a viver. A chuva nos molha sem sabê-lo, e a rosa pensa que tem voz de ouro, não sabe que é som de uma sílaba incolor. 2 Os melros carcomem o peito colorido que sente uma doce dor inexplicável. A rosa da cidade é diferente de uma rosa do campo. Uma é mundana e gosta da noite, os avisos luminosos e a gente que a mira com pressa. A outra é como a tinta verde dos geranios e conhece o céu como a própria morte. Talvez por isso sempre rosas raras para meus floreiros de barro: rosas mais caldas, menos pretensiosas, rosas de bosque ou de pátio particular. 3 Numa época fui entregador de rosas. Levava beleza às casas. Alegrava os corações das pessoas, e muitas vezes vi dependurar-se as ilusões detrás das portas e das janelas. Algumas vezes levei rosas aos cemitérios onde a morte se confundia com a formosura do gramado. Também trouxe rosas em floreiros de barro, talvez por isso me atraem tanto os vasos, as tulipas e os pistilos da Geórgia. 4 Minha mãe é uma rosa plena de rios. Formosa curiosidade sua pele: uma perfeita combinação de canela com mel, apenas comparável aos campos intermináveis de Chulucanas. Minha mãe é uma rosa de noventa e seis pétalas bem dispostas pela alfarrobeira e a mangueira. Cada espaço em seu lugar: a voz que entoa canções dos novecentos e o coração aberto como uma maçã.
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Miguel Ángel Zapata
É a rosa mais bela de meu jardim. 5 Em outra época colecionei uma variedade especial de rosas. Minhas filhas foram as rosas mais belas da California. As roas não caem nem fenecem, ao contrario, se levantam como um Carvalho quando querem, são o sol e a sombra de cada dia: a trança das meninas, o sol da ingrata fortuna. 6 Às vezes pensou na rosa de Blake e seu prazer carmesim, ou nos mares interiores da rosa de Rilke e suas câmaras ardentes respirando pela abertura de uma tarde vã. 9 Aqui minha lâmpada de ferro não sufoca minhas inquietações, nem a cinza nem a pedra destroçam minha fé. Além de tudo estão as rosas vermelhas de Milton e de Borges roçando-lhes a face enquanto miram um quadro de Bosco. Depois de tudo o caminha é a pedra ou a cinza. O floreiro suplica: deixe-me ver a cinza, depois a rosa.
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Miguel Márquez LA CARPA
Para la Negra Maggi
El arte de la perdida tal vez consista finalmente en aceptar que el trapecista es español, el elefante tiene gripe y los monos continuarán neuróticos. La perdida usa lentes de miope, aumenta los detalles, y desnuda de virtud la casa arde. Pero el arte de veras nuestro quizá sea ese cuarto donde um mago preserva con mirra las funciones y da la bienvenida cada tarde. En esta trégua donde el dolor de piel negra da vueltas en la jaula con una herida en el pecho. En esta carpa lo único que nos llena de sentido es ese acrobata suspendido en el aire y vamos con él
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Miguel Márquez al borde del precipício de un lado a outro de la cuerda y rogamos mano a mano todos las velas los mecheros para que no se caiga nunca jamás Traduções
A TENDA DO CIRCO
Para la Negra Maggi
A arte da perda talvez consista finalmente em que o trapezista seja espanhol, o elefante tenha gripe e os macacos continuem neuróticos. A perda usa lente de míope, aumenta os detalhes, e desnuda de virtude a casa arde. Mas a arte de veras nossa quiçá seja este quarto onde um mágico preserva com mirra as funções e as boas-vindas cada tarde. Nesta trégua onde a dor de pele negra dá voltas na jaula com uma ferida no peito.
Miguel Márquez Nesta tenda o único que nos enche de sentido é esse acrobata suspenso no ar e vamos com ele à beira do precipício de um lado a outro da corda e rogamos mão a mão todos as velas os isqueiros para que não despenque nunca jamais
INÚTIL DESVELO O poema me escapa como um preso. Escondido em algum pavilhão da alma, seu gemido me desperta. Não consigo encontrá-lo por estes longos corredores de inútil desvelo. O poema que se encarapita pelas paredes, calcula o ir e vir do refletor, os espessos arames, a cerca de puas, os olheiros, os cães. Nestes anos me converti em carcereiro Não entendo nada. Vigio por ofício. Como ele, apenas saio deste quarto estreito contemplando os úmidos corredores onde as lâmpadas iluminam e se apagam. Estou seco, apartado do mundo, diante da televisão.
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Miguel Márquez EM VOZ BAIXA Em voz baixa, quando ninguém os pressente, surgem da negada arquitetura da luz, da tácita fenda eu precedo o vôo dos alcatrazes, da necessidade convertida em pedras de Damasco. Surgem dessa entonação sem pergunta que recebe as provas palpáveis do assombro a já afundada paciência das coisas. O relâmpago do amor os estremece e brota da terra uma árvore. Viajam em grandes navios, onde não chega o sol e é apenas o rumor da multidão os que escutam os velhos marinheiros do Báltico. Apenas o mal estar da vista nova os anuncia e é preciso preparar o terreno aos jorros de sangue, à viscosa aparição de uma promessa cumprida que nos abruma com tristes cantos e doloridas ossaturas. As focas se enchem de areia e gemem, se rompe a rompe de pálpebras cristalinas, e uma dança litúrgica faz do corpo um animal sagrado, arrependido, talvez culpado. Surgem os poemas em voz baixa, quando ninguém os pensa e ninguém tampouco os merece.
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Moacir Amâncio
(fragmentos) Vazio, e sem nada que fendê-lo, na mesa coloquemos uma ausência. Pode ser o papel, mas é da mão. Estava ali, o potencial de fogo, resta um ovo do qual saiu a cria e cujos restos foram retirados, mesa posta que a fresta é deles pássaros, caso a suposição de lhes bastar o ausente se confirme nesta sala. * A pele separando ar e cor absorve brilhos, as figuras plenas desse através se fazem e circulam por causa da inteireza ao modo líquido – mas tudo transparece pela sala num mover sem tropeços, caracóis capazes de um ao outro fecundar, como a seqüência escapa em espirais. Mas até o recolher de novo à casca. Passando entre outro tema se coloca. * Movimentos contidos em um vaso deixado sobre a mesa, quê, vazio, refaz dentro da sala o estar depois. Confunde-se com ar, pois a matéria nunca o envolve e o situa sem notícia ao tato, semelhante um astro morto, porém sensível quando a lua oculta no armário de recuerdos, luz em pó, inunda a mesa com efeitos brancos.
Moacir Amâncio
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* (O não proposto estar neste terreno devoluto ou a página, um sol em luas que não cabem num só plano da página e da pele qual vibrátil diamante o tornar contrária luz.) (O não proposto afasta o se fazer solitário, montar neste terreno devoluto ou a página, um sol diamante o tornar contrário cai e ocorre claro impulso de contorno em luas que não cabem num só plano da página e da pele qual vibrátil.) (O entalhe se reduz ao avançar do lápis caso se comprove o termo matéria secundária. Para a destra deverás o relógio transferir e ali permanecer o sem programa de memória: dispersa a borboleta respostas em azuis alguns e brancos.) tal esta mão ferente com senões tateia o antes do texto pronto a fala se retrai, engrenagem caracóis e então alguma espécie de maré
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Ricardo Corona TAMBOR ouvido atento, colado som lusitano, lento meu cérebro no centro de Stambul (de um lado, feras do outro, heras) o giro incerto mastiga o ruído metal ruim de um lado da estampa, azul do outro, coisas grudam na agulha na ferrugem na pane do som letal de um lado, folhas caem pétalas do mesmo lado vão vira crisálida borboletas-bomba coração tam bor tam tambor tam tam tambor tam tam tambor TAM
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Ricardo Corona ENTRE ‘bientôt un espace’ quer dizer ‘em breve um espaço’ bonito isso na raridade que é esta manhã na qual aspiro ao desconhecido decolo ao meu labirinto no pulso de todos os tempos entre ‘bientôt un espace’ e a menina com narina balalaica
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Roberto Bianchi línea fronteriza uno que no quiere morir lo sabe inevitable incendia una pradera de relojes invade cautivo los espejos da una ridícula batalla contra las arrugas uno se despide diariamente se renueva en melancólicos saludos duerme con temor al no retorno sobrevive a sus adversidades y respira desmayos en la incierta línea fronteriza
llamarse como siempre Y me han dolido los cuchillos de esta mesa en todo el paladar César Vallejo
convivo con patines mágicos dedos fugaces forcejeo con mi planta de pie mi enredadera las columnas amorfas del silencio salario de granizo en las espaldas en la nube vertical de asombros deseo despertarme siempre entre tus piernas
Roberto Bianchi
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si me descarta la piedad en el final del juego apostaré a las cartas de viento de las constelaciones y cuando acabe la salud abiertos medallones de ternura como un único universo en que se esconde el amor en una cápsula Traduções linha fronteiriça a gente não quer morrer mas sabe que é inevitável incendeia um campo de relógios invade cativo os espelhos trava uma ridícula batalha contra as rugas a gente despede-se diariamente renova-se em saudações dorme temendo não voltar sobrevive a suas adversidades e respira desmaios na duvidosa linha fronteiriça
Chamar-se como sempre convivo com patins mágicos dedos fugazes forcejo com a planta do meu pé minha trepadeira as colunas amorfas do silêncio salário de granizo nas costas
Roberto Bianchi na nuvem vertical de assombros desejo despertar-me sempre entre tuas pernas se me descarta a piedade no final do jogo apostarei às cartas de vento das constelações e quando acabe a saúde abertos medalhões de ternura como um único universo em que se esconde o amor em una cápsula
…e não obstante abrem-se os jasmins com seus olhos brancos suas lágrimas vermelhas seus braços sem dormir cercados pelas paredes que nos encerram muros absurdos rígidos debaixo da pele crescem as máscaras do medo têm a cabeça turva acovardada de acontecimentos calafrios marginais todo se passa debaixo da pele em um canto isolado gatos de ira arranham as paredes escondem impactos onde crescem gelos …e não obstante abrem-se os jasmins com seus olhos brancos suas lágrimas vermelhas por que vamos seguir tão abraçados trocando-nos terrores e a luz ainda nos pronuncia
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Ronaldo Werneck maCio
para Daniela Aragão
terra molhada terra tecer esse corpo só esse ser geo graficamente aqui a meu lado amor maCio amor melado & meta-poema a Affonso Romano de Sant´Anna [ erra quem no poema introduz a puta palavra puta não pelo que em si encerra luz! luz! mas pela forma impoluta. mais vale égua – trepada sem trégua mais vale vaca – estuprada a faca mais vale lady – mesmo que ela peide mais vale mãe – quer ganhe ou não ganhe corte de seu poema puta palavra pura este alazão esconso cravado em sua gema o que fica é um resto de pica que freme – sans cesse
Ronaldo Werneck endurece enobrece & dignifica o que dobra e fica é só sua obra o que sobra do poema germe sêmen que salta & – upa – se catapulta de sua garupa RE/TOMADA VISUAL O Poeta na Praça
A Ferreira Gullar
findo o seu cantar manhã já no meio o galo-gullar não cisca: antes levanta a crista e logo ei-lo esguio elegante pela praça do lido: ereto e no prumo rumo-leme passa apressado o poeta -ZAZ! esbaforido o poema bufa atrás: – a poesia freme
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Ronaldo Werneck
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Pound/O Mergulho I would bathe myself in strangeness: (…) On to be out of this, This that is all I wanted save the new. Ezra Pound A Sérgio Ribas Câmara
nas entranhas das estranjas me banhar lá quero estar lá onde vou fico relax & magnífico lá quero estar eu queimo eu ardo eu me acabo lá quero estar de novo mais uma vez make it new lá quero estar um mergulho onde new faces luas ares um mergulho onde o sol não se esconde
Ronaldo Werneck lá quero estar como fora daqui está o estopim claro alarido ensolarando o sonho lá quero estar CENA 2 tudo que em mim criança e circo e clowns e dança tudo que em mim convida para a festa da vida e roda roda-rota rota-roda de acordes tudo que me recorde tutto che me a m´acord ch´é una festa la vita os pés sujos de infância tem-pó e água límpida as mãos suja de dolce vita em meio: estrada rota-receio-ponte de vida e vitelloni alegria que dança tutto tutto que em mim rimini-relembrança minas em mim redime tudo que em mim menino rota-rito-fellini
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Rubenio Marcelo GRAAL DAS METÁFORAS Nestas cálidas tardes peregrinas, Se estiveres já sem inspiração, Ante espelhas da desfiguração. Que perverte a céu das tuas retinas … Se estas haras infaustas de rotinas Demudarem teu ser, tua alegria; E se vires fugir a primazia, Devida — deste mundo. — à avareza … Vem saciar tua sede de beleza Nas sagradas águas da poesia! … Na devir deste cetro venerando, Um clarão logo exclui as ignotos. Na rota das indômitos pilotos, Os mistérios azuis vão rebrotando … O graal das metáforas vai doirando Os brasões da Verbo, com sutileza; E a Arte, esta divina alquimia, Vai transfazendo sanha em realeza. Nas sagradas águas da poesia, Vem saciar tua sede de beleza! A NOITE DAS PARCAS Somos mais impuros que campos sórdidos de batalhas. Piores que tormentas devastadoras em tardes frias.
Rubenio Marcelo Nosso interior: Um pélago de melancolias revestido por um lívido corpo repleto de máculas e falhas. Somos mais sinistros que um bando de corvos e noturnas gralhas. Amores?… Em nós no restaram nem migalhas; e assim, encenando falsas alegrias, entoando réquiens, sem mortalhas, semeando insânias em travessias e passeando no fio das navalhas, nada temos a oferecer nas nossas noites e dias. Estamos mais perdidos que os seixos-rolados-do-despenhadeiro que afundam no leito do rio… Mais desolados que os infaustos derrotados da guerra, em desvario… Mais infirmes que os deserdados da sorte, em imanes embaraços… Nossos combalidos passos, vera-efígie dos nossos insones e languescentes corações, há muito que percorrem as curvas e contracurvas das mesmíssimas sendas vãs… … E nas antemanhãs, já não temos os fulgores das auroras; já não vemos novos dias, novas horas; já esquecemos a pureza das menarcas… Por tudo isso é que já está próxima a noite das soturnas Parcas. A derradeira note,
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Rubenio Marcelo na qual sucumbirá nossa alma triste e, com ela, tudo que em nós existe: nossa dialética matéria, nossos corpos clandestinos! Nessa noite cálida, sem sereno — sem o tristíssimo repicar dos velhos sinos — nesse fragmento inexato do destino secará, enfim, nossa fonte de veneno. Posto que, da morte seremos inquilinos!
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Rui Mascarenhas
A FRUTA (fragmento) “Proíbo-lhe tocar-me os dedos, sequer lembrar-se de mim após a despedida” Balancei a cabeça negando diversas vezes até que finalmente deu de ombros e com passos apertados, afastou-se. …foi a última vez que o vi. Num lento ruflar de asas adentrou o inferno azul e quente onde jazia seu corpo pênsil presa de angústias em delicado movimento trazia o semblante vazio, a alma amputada, os pés frios; mãos que já não apalpam, nem a susto se arregalam! a boca não urge arrogante, nem os olhos falam! R disfarçado, já não suspira à espera de maiores acontecimentos DEVER DE CASA À Marilena Eles me ensinaram o que sentir e como sentir! Me ensinaram o que pensar e como pensar! Ensinaram o que dizer e como dizer! O que fazer e como fazer! …me ensinaram tudo errado! De modos que eu me tornei parvo e preguiçoso Me calaram aos poucos E assim que fiquei mudo, Me tomaram o corpo!
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Rui Mascarenhas SOBREVOANDO CIDADES Nos dia de hoje Nesta cidade Não deveriam existir torres Nem pontes Ou prédios imensos Como se fosse possível voar Tampouco esses momentos Poderiam existir entre as horas: Momentos debruçados sobre a fraga Como a águia do arranha-céu mais alto Saber que num instante de lucidez Num salto de amor sobre a cidade Eu poderia escapar de toda essa pobre vida de solidão. BAHIA! BAHIA! Com todo teu espírito primitivo O sebo de tua eterna sujeira Tuas crenças amarrotadas Regurgitadas sobre teus filhos lúdicos! BAHIA! Tuas cores pastéis Teus becos esguios e maliciosos Teu inconfundível cheiro de humanidade e restos! Mas … Eu queria falar de tuas meninas nuas Com lábios rosados no centro da cidade Mas …
Rui Mascarenhas Eu queria falar de teus meninos nus E seus paus famintos no centro da cidade BAHIA! Eu conheço o menino que corre assustado! Eu conheço a menina que brinca Com a Gilete na boca! BAHIA! Eu conheço o Menino revirando o lixo! Eu conheço a menina das coxas Perfumadas e Rasgadas! BAHIA! Eu conheço o menino de suave dorso [e sorriso lindo! Eu conheço a menina segurando o Caralho e Rindo! Eu não tenho dinheiro Garota! Eu não tenho trocado Pivete! Eu não guardo miúdo Meu Velho! Passa! ! Se afasta!! Seu guarda! Tire essa gente daqui!
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Susana Cabuchi ENCUENTRO Pensábamos que era tarde. Que los fuertes resplandores del deseo habían sucedido en las calles del río, entre la hierba, o algún automóvil detenido frente a los trenes que pasaban, interminables y ajenos, o en las eternas noches dedicadas a medir la respiración y la duración de los besos. Ya pasó. Nada hemos perdido. Para este encuentro sumamos países y tristezas, los rostros de los que hemos amado, los libros que leímos, la belleza del mundo. Serenos, como antiguos amantes, sorprendidos, como Eva o Adán, inhábiles, peritos, actores de un instante definitivo, afirmados en el temblor y en el instinto, entregados a una victoria más: la gravitación del fuego, la claridad de su mandato. PASOS He bebido las aguas del Shu Am como si no estuvieran contaminadas. A orillas
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del río silencioso crecen flores amargas sobre las que he descansado, leyendo. Y no he pecado sino lo necesario. ÁLBUM FAMILIAR Los padres fueron una vez a Mendoza. Me dejaron una foto con nieve a orillas del camino con un gran auto negro y con amigos. Me dejaron una foto con nieve y este frío. Traduções ENCONTRO Pensábamos que já era tarde. Que os fortes resplendores do desejo haviam acontecido na ruas do rio, sobre a relva, ou algum automóvil detido diante dos trens que passavam, intermináveis e alheios, ou em noites eternas dedicadas a medir a respiração e a duração dos beijos.
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Susana Cabuchi Já passou. Não perdemos nada. Para este encontro somamos países e tristezas, os rostos dos que tanto amamos, os livros que lemos, a beleza do mundo. Seremos, como antigos amantes, surpresos, como Eva e Adão, inábeis, peritos, atores de um instante definitivo, firmados no tremor e no instinto, entregues a uma vitória a mais: a levitação do fogo, a claridade de seu mandato. PASSOS Bebi das águas do Shu Am como se não estivessem contaminadas. Ás margens do rio silencioso crescem flores amargas sobre as que eu descancei, lendo. E pequei apenas o necessário. ÁLBUM FAMILIAR Meus país foram certa vez a Mendoza. Me deixaram uma foto com neve
Susana Cabuchi na margen do caminho com um carro grande negro e com amigos. Me deixaram uma foto com neve e este frio. A CARTA A carta chegou. Está em cima da mesa, ao lado das flores. Eu a vejo detidamente. Conheço a letra. Mas só a lerei à meia-noite, quando os trens que passam para o norte façam tremer os vidros da casa.
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EJASNEEM Estremecimiento enternecido con segundos ríos de cristales corren sus aguas queriendo pasar sedientas gaviotas viéndose en el espejo encima del oleaje de aire corriente Sonido a colores blanco y amarillo lucen deteniendo al mismo tiempo encantado observar maravillas de chispas sutiles, un canal de ánimo al avizorar arroja los intensos deseos dolorosos Sal a descansar peldaño perdido tapia barreras duras l i d alcanza anunciando sus manos El mensaje
Susy Morales Cos
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Tradução
EJASNEEM Estremecimento enternecido com segundos rios de cristais correm suas águas querendo passar gaivotas sedentas mirando-se no espelho sobre o marulho do ar corrente Sons a cores branco e amarelo luzem detendo ao mesmo tempo encantado observar maravilhas de faíscas sutis, um canal de ânimo ao espreitar arremessa os intensos desejos dolorosos Sai a descansar degrau perdido muro barreiras duras lide alcança anunciando suas mãos A mensagem
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Sylvio Back artes tenho ciúme desses dedos tan ledos sinto calafrios dessas unha tan cunhas tenho sede dessa greta tan peta que doutros lábios soluças gritos tan traídos que doutras línguas inoculas saliva tan doída que doutras bucetas colecionas vagidos tan esvaídos tuas atas Onã quero ser imã
Sylvio Back coisa-feita minha paixão é coisa feita (de botes) minha paixão é coisa-feita (de mineteiro) minha paixão é coisa-feita (de punheteiro) minha paixão é coisa-feita (de bodes) minha paixão é coisa feita (de putanheiro) minha paixão é coisa feita (de motes)
falaz felácio feros falos falhos faros feras falas feroz falácia eros erosa erros
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Sylvio Back pomba-gira membranas de fogo em fodas insones herdeiros inermes de gozos romeiros corpos e prazeres reduzidos a haveres traveste-se o que se foi do que fora e basta-se dor rouca perverte pouco amor se indo linda o vindouro lágrimas solas escorregando por dentro das aortas tolas olhar pra frente asneira mor detrás a seiva é que consente M., G., O., sempiternas trigêmeas Vocalistas deste leão onanista
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Testa Garibaldo UN DIAS POR TODOS... Propongamos un día por todos los que se han ido y quienes vienen a pasar revista a la estatura de sus héroes. Un día donde se pueda rememorar las victorias y sus himnos inclusive derrotas incapaces de ser derrotadas de aquellos donde logres bienvenida a los abrazos y al más triste de los adioses. Un día para sacarle nombre y apellidos agenda para atiborrarlas de otras fechas henchidas de sucesos que aún te logran mariposas sobrevenir a la voz. Un día en que exigir la aurora del mañana sean los itinerarios donde se levanten épicos aconteceres El día que nos conduzca
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Testa Garibaldo frente a los derroteros manera sutil de salir del cuarto oscuro la luz donde revelasen otroras viñetas álbumes compilados cual ahorros como lo ahorrado para dispensar los zapatos y el camino. Días como la indeleble que reformula intraspapelables episodios autorías para alborear un nuevo libro con tu voz tu firma. Un día con el cual engendrar nuevas estaciones heredando verdales y hojarascas haciéndote musa tal vez poeta entonces árbol. Precisemos ese día ya sea en noviembre mayo o abril quizá en los agostos que el sol y la lluvia se impregnan en el tragaluz ah o probablemente en esos diciembres de olores indescriptibles propicios para resolver cuestionarios e inventariar las tantas invasiones al corazón.
Testa Garibaldo
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Un día por cuanto volver a los vecinos y a nuestra primera calle señale el recuento en que /partimos a construir otra casa. Un día para enarbolarnos en los sitios que eran prohibidos o simplemente para hablarnos de otro beso bajo la sombra de la bandera. Propongamos ese día por ti por mí por quienes se fueron y vendrán a reclamar su historia un nombre y la palabra Y para otro centenario igual se recuerde que esto lo concebimos ante el canto prevenido de un día como hoy. Tradução UM DIA POR TODOS... Proponhamos um dia por todos os que se foram e pelos que vêem passar em revista a estatura de seus heróis. Um dia onde se possa rememorar
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Testa Garibaldo as vitórias e seus hinos até mesmo as derrotas incapazes de ser derrotadas daqueles onde logres boas vindas aos abraços aos mais tristes dos adeuses. Um dia para lembrar nome e sobrenomes agenda para completá-las com outras datas plenas de êxitos que ainda logram mariposas sobrepor-se à voz. Um dia em que exigir a aurora da manhã sejam os itinerarios onde se levantem épicos aconteceres Um dia que nos conduza diante dos derroteiros maneira sutil de sair do quarto escuro à luz onde revelassem vinhetas de outrora álbuns compilados tal qual poupança como o econimizado para dispensar os sapatos e o camino. Dia como a indelével que reformula intranspapeláveis episódios
Testa Garibaldo autorias para alvorecer um novo livro com tua voz tua assinatura. Um dia com o qual engendrar novas estações herdando verdejos e folharias tornando-te musa talvez poeta então árvore. Precisemos este dia seja ele em novembro maio ou abril quiçá nos agostos que o sol e a chuva se impregnam na clarabóia ah ou provavelmente nesses dezembros de odores indescritíveis propícios para resolver questionários e inventariar as tantas invasões no coração. Um dia em que voltar aos vizinhos e a nossa primeira rua assinale o reconto em que /partimos para construir outra casa. Um dia para erigirmos nos lugares que eram proiblidos ou simplesmente para falarmos de outro beijo na sombra da bandeira. Proponhamos este dia por ti
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Testa Garibaldo por mim pelos que se foram e virão reclamar sua história um nome e a palavra. E para um outro centenário também recordemos que isto o concebemos ante o canto prevenido de um dia como hoje.
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Trina Quiñones Insomnio Urbano, 2002
Dedicado al poeta Anderson Braga Horta
1 La habitación se há quedado completamente seca. 2 Me acompañan los edificios y el asfalto. Mido agresividades con conductores de últimos modelos. Los portadores de celulares nos lanzamos miradas oblicuas. Soy la última habitante. 3 La noche no quiere dormirse. Los de la calle defecan en las aceras y le dan la última pincelada a sus instalaciones de desarmadas cajas de cartón. Vacías botellas de cervezas de color marrón. 4 Soy una persona que se lanza a la calle sola, mal vestida, sin dinero, mirando al piso, buscando lo otro o lo mío o lo nuestro. No asisto a reuniones sociales ni invito ni soy invitada escribo montañas de poemas que los connacionales no leen. Yo vengo de otras fronteras. 5 Los habitantes del concreto se deslizan lujosamente desvestidos. Sus atavíos gritan deleznables fantasmas solos. 6 Las mujeres dejaron sus tribus y con los hijos yacen en las aceras. Infelices adormecidos colgados de un seno vacío. ¿Quién los insertó en la mugre de la urbe? 7 Ahora el Metro es de todos. El informalismo se trepa por sus bocas que arrojan un vaho marginal sobre los usuarios. Los vagones nos refrescan del agobiante murmullo de los “rumores”.
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Trina Quiñones
Torsos al aire, piercings a granel, escotes abusivos, parejas complacidas, niños barrocos, pre-púberes de tacones altos, matronas de bocas y uñas decoradas, estudiantes en juerga, pequeños escolares independientes, piernas mutiladas o llagosas, récipets de medicinas importadas, colectas para operaciones o entierros, madres desquiciadas, vendedores de chocolates y bolígrafos, ejecutivos engominados, jóvenes redondeadas de silicón. 8 Veo rostros envejecidos tareas claudicadas. Miríades arrastran sus zapatos viejos. Las muecas se agolpan en el Seguro Social. 9 Hace demasiado silencio y el caos acecha a mi puerta. Comienzo a divagar por calles y plazas. Una bruma envuelve a los edificios y al cerebro mismo. Mi boca conversa desatada y el Mensajero me presta oídos. Si. Parece comprender su misión. 10 Desde mi cama veo cómo me trepo por el techo y miro este rictus que en mí se há instalado, como me busco en mis propios libros y en pensamientos adecuados. Algunas ideas salen de mi cabeza y flotan por la habitación. Caracas, 22-9-02
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Traduções Insônia Urbana, 2002 Dedicado ao poeta Anderson Braga Horta
1 A casa acabou ficando completamente seca. 2 Seguem-me os edifícios e o asfalto. Meço agressividades com motoristas dos últimos modelos. Os portadores de celulares lançamo-nos olhares oblíquos. Sou a derradeira habitante. 3 A noite nega-se a dormir. Os da rua defecam nas calçadas e dão os últimos retoques em suas instalações de caixas desarmadas de papelão. Garrafas vazias de cerveja de cor marrom. 4 Sou uma pessoa que sai à rua sozinha, mal vestida, sem dinheiro, olhando pro chão, buscando o outro o meu ou o nosso. Não freqüento reuniões sociais não recebo nem sou convidada escrevo montes de poemas que os conterrâneos não lêem. Eu venho de outras paragens. 5 Os habitantes do asfalto desfilam luxuosamente despidos. Seus adornos denunciam desagradáveis fantasmas solitários. 6 As mulheres deixaram suas tribos e estão jogadas com os filhos pelas calçadas. Infelizes dormindo sugando um seio vazio. Quem os despejou na imundície da urbe? 7 Agora o metrô é de todos. O informalismo avança pelas bocas que exalam um bafo marginal sobre os usuários. Os vagões nos refrescam do exasperante murmúrio dos “rumores”.
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Torsos nus, piercings a granel, decotes indecorosos, casais satisfeitos, crianças barrocas, adolescentes de saltos altos, matronas de bocas e unhas decoradas, estudantes em farra, pequenos escolares independentes, pernas mutiladas ou em chagas, bulas de remédios importados, coletas para cirurgias e enterros, mães transtornadas, vendedores de chocolate e lapiseiras, executivos engomados, jovens arredondadas pelo silicone. 8 Vejo rostos envelhecidos tarefas claudicantes. Miríades arrastam seus sapatos velhos. Caretas se precipitam no Seguro Social. 9 Faz um silêncio exagerado e o caos bate à minha porta. Começo a divagar por ruas e praças. Uma bruma envolve os edifícios e o meu cérebro mesmo. Minha boca conversa desatada e o Mensageiro me presta atenção. Sim. Parece compreender sua missão. 10 Da cama vejo como subo pelo teto e vejo este rito que instalou-se em mim, como me procuro nos próprios livros e em pensamentos adequados. Algumas idéias saem de minha cabeça e flutuam pela habitação. Caracas, 22-9-02
Cobre-Me
Trad. de Anderson Braga Horta
Noite! cobre-me de ti atravessa-me com o teu silêncio. Ilumina-me de constelações e galáxias.
Trina Quiñones
Faz-me Imperatriz da Escuridão. Que de meus cabelos pendam tuas jóias mais preciosas e que de meus lábios brotem estrelas mudadas em palavras.
Quero
O que eu quero é tomar a Verdade entre as mãos sentir seu alento tocar sua pele. Imagino-te lindamente hermafrodita e, talvez, investida de ardor siamês. Eu quero tomar-te em teu dual horror porque esta noite quero te amar, amor. Quero-te auriga do corcel de minhas loucuras e que num beijo de tua boca sábia possa meu verbo crepitar em lucidezes.
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Trina Quiñones
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Manhattan
Os novos modos cara a cara ante o medo os instintos farejam nas trevas. As cabeças estão perdidas: ou rubro ou pálido
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Vadinho Velhinho
E SÓ NESSE DIA OUTRO BORGES NÃO SERÁS Nos teus deslumbrados olhos um tigre inteiramente doirado E um outro inteiramente preto disputam os anjos De Blake. Frios, esperam os espelhos que acordes Para que te nomeiem. Já não sabe o labirinto Nem o sul e as pampas ou o degolado templo De Dagon o sabem – do antigo e secreto caminho Que a teus olhos de volta conduz. A mão dita-te O epitáfio e lê-te a rosa o esquecimento qu’inda luz. O caixão, que por Genebra ninguém viu passar, cru Levam-no Muraña e, reconciliados, os irmãos Iberra. Um dia, quando do teu sono acordares, Georgie, Banhada em êxtase e tango, terás defronte a ti, sob a Lua, Um infame, um vil, a limpar-te na glande o resto do sêmen Com uma navalha que a mais nenhuma mão obedecerá.
MÁSCARAS De que fingimos Não se dão conta As Máscaras Para coisas maiores Foram feitas
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Vadinho Velhinho UM POETA FALANDO A NIETZCHE Deus morreu, Nietzsche, Mas no teu interior, Dentro de ti, Está mais vivo do que nunca. Mil vezes mais vivo. Disso eu sei porque De vocês os dois Sou eu a sepultura.
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Veronica Volkow PETICIÓN Dame la humildad del ala y de lo leve, de lo que pasa suave y suelta el ancla, la despedida ingrávida, y el abandono al vuelo, la cicatriz que avanza como ala en su desierto Dame la humildad del alma sin cuerpo y ya sin cosas. Ser la poesía y su luz, tan sólo la poesía y la región más de aire, inaccesible al desastre. Dame la luz sin límites acechando adentro y la noche que soy también y el barro, con la estrella distante que la sed no sacia. Dame la humildad que suelte las cadenas, la verdad que desnuda el polvo, el hueso que me fraguan. Sólo en lo que soy caigo, me derrumbo. Déjame andar sin equipaje, leve, abierta al horizonte. LIBERTAD A mí me gusta la libertad, viajar rodeada de horizonte, en el gran círculo sin muros andar casi volando,
Veronica Volkow
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y desde el corazón nacerme que en sí ya es mudo e invisible vuelo, solitario impulso, no sé si afuera de lo real o en realidad adentro, o donde ya no importa porque no soy muro y fui abandonando mi peso en cada orilla. Somos ave por dentro, vuelo, y soy -no en la tierra o el fierro¯ soy un sueño, una múltiple ala, fuego interno. Y me gusta la soledad y el mar y el horizonte y ese dejarse ser como una apuesta de pájaros o flor o estrella en desbandada y el amor me gusta que a la libertad, como el de Dios, se parece. Amo la libertad, sí, que es la creación de las cosas y de leves, inexplicables razones me ilumina Traduções PETIÇÃO Dê-me a humildade da asa e da leveza, do que passa suave e solta a âncora, a despedida ingrávida, e o abandono do vôo, a cicatriz que avança como asa em seu deserto Dê-me a humildade da alma sem corpo e já sem coisas. Ser a poesia e sua luz, apenas a poesia
Veronica Volkow e a região mais do ar, inacessível ao desastre. Dê-me a luz sem limites espiando lá dentro e a noite que sou também e o barro, com a estrela distante que a sede não sacia. Dê-me a humildade que solte as correntes, a verdade que desnuda o pó, e o osso que me forjam. Apenas no que sou caio, me derrubo. Deixe-me andar sem equipagem, leve, aberta ao horizonte. LIBERDADE E aprecio a liberdade, viajar cercada de horizonte, no grande círculo sem muros andar quando voando, e desde o coração nascer que em si já é mundo e invisível vôo, solitário impulso, não sei se fora do real ou em realidade dentro, ou onde já não importa porque não sou muro e fui abandonando meu peso em cada margem. Somos ave por dentro, vôo, e sou – não na terra ou o ferro – sou um sonho, uma asa múltipla, fogo interno. E gosto da solidão e o mar e o horizonte e esse deixar-se ser como uma aposta de pássaros ou flor ou estrela em debandada
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Veronica Volkow e o amor me agrada que à liberdade, como o de Deus, se parece. Amo a liberdade, sim, que é a criação das coisas e de leves, inexplicáveis razões me ilumina O INÍCIO Estás despido e tua suavidade é imensa tremes em minhas mãos tua respiração voa dentro de meu corpo és como um pássaro em minhas mãos vulnerável como apenas o desejo poderia tornar-te vulnerável essa dor tão suave com que nos tocamos essa entrega em que nos conhecemos o abandono das vítimas o prazer como uma fauce nos lambe nos devora e nossos olhos se apagam se perdem. JARDIM Há em meu jardim rosas que desfolham um coração aberto ao descampado. Assim é a flor, sua nudez é magia. Peço à rosa me guarde, na fragilidade, dons secretos e o espinho me conceda a humildade e suas mãos precisas.
Veronica Volkow Peço um teto que não tape, que lembre o céu e uma cidade que é sempre nova porque não esgota seus caminhos, e peço ao rio seu fluir, sua morte ao instante que também é vôo.
LABIRINTO Com minha vida escrevo o rastro de uma estrela, um labirinto em que acesa ando. Imersa na sombra mirada plena, Há um vôo que abre a luz no interior um caminhar sensível, e cuidado do coração desperto.
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Viviane Mosé VIDA/TEMPO Quem tem olhos pra ver o tempo? Soprando sulcos na pele soprando sulcos na pele Soprando sulcos? O tempo andou riscando meu rosto Com uma navalha fina. Sem raiva nem rancor O tempo riscou meu rosto com calma. Eu parei de lutar contra o tempo. Ando exercendo instante. Acho que ganhei presença. Acho que a vida anda passando a mão em mim. Acho que a vida anda passando. Acho que a vida anda. Em mim a vida anda. Acho que há vida em mim. A vida em mim anda passando. Acho que a vida anda passando a mão em mim Por falar em sexo quem anda me comendo É o tempo. Na verdade faz tempo, mas eu escondia Porque ele me pegava à força, e por trás. Um dia resolvi encará-lo de frente e disse: Tempo, se você tem que me comer Que seja com o meu consentimento. E me olhando nos olhos. Acho que ganhei o tempo. De lá pra cá ele tem sido bom comigo. Dizem que ando até remoçando RECEITA PRA LAVAR PALAVRA SUJA Mergulhar a palavra suja em água sanitária, Depois de dois dias de molho, quarar ao sol do meio dia. Algumas palavras quando alvejadas ao sol adquirem consistência de certeza, por exemplo a palavra vida.
Viviane Mosé Existem outras e a palavra amor é uma delas que são muito encardidas e desgastadas pelo uso, o que recomenda esfregar e bater insistentemente na pedra, depois enxaguar em água corrente. São poucas as que ainda permanecem sujas depois de submetidas a esses cuidados mas existem aquelas. Dizem que limão e sal tiram as manchas mais difíceis e nada. Todas as tentativas de lavar a piedade foram sempre em vão. Mas nunca vi palavra tão suja como a palavra perda. Perda e morte na medida em que são alvejadas, soltam um líquido corrosivo que atende pelo nome de amargura capaz de esvaziar o vigor da língua. Nesse caso o aconselhado é mantê-las sempre de molho em um amaciante de boa qualidade. Agora se o que você quer é somente aliviar as palavras do uso diário, pode usar simplesmente sabão em pó e máquina de lavar. O perigo aqui é misturar palavras que mancham no contato umas com as outras. A culpa, por exemplo, mancha tudo que encontra e deve ser sempre clareada sozinha. Uma mistura pouco aconselhada é amizade e desejo, já que desejo sendo uma palavra intensa, quase agressiva, pode, o que não é inevitável, esgarçar a força delicada da palavra amizade. Já a palavra força cai bem em qualquer mistura. Outro cuidado importante é não lavar demais as palavras sob o risco de perderem o sentido. A sujeirinha cotidiana quando não é excessiva produz uma oleosidade que conserva a cor e a intensidade dos sons. Muito valioso na arte de lavar palavras é saber reconhecer uma palavra limpa. Para isso conviva com a palavra durante alguns dias. Deixe que se misture em seus gestos que passeie pelas expressões dos seus sentidos. Á noite, permita que se deite, não a seu lado, mas sobre seu corpo.
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Viviane Mosé Enquanto você dorme a palavra plantada em sua carne prolifera em toda sua possibilidade. Se puder suportar a convivência até não mais perceber a presença dela, então você tem uma palavra limpa. Uma palavra limpa é uma palavra possível. TODA PALAVRA Procuro uma palavra que me salve Pode ser uma palavra verbo Uma palavra vespa, uma palavra casta. Pode ser uma palavra dura. Sem carinho. Ou palavra muda, molhada de suor no esforço da terra não lavrada. Não ligo se ela vem suja, mal lavada. Procuro uma coisa qualquer que saia soada do nada. Eu imploro pelos verbos que tanto humilhei e reconsidero minha posição em relação aos adjetivos. Penso em quanta fadiga me dava o excesso de frases desalinhadas em meu ouvido. Hoje imploro uma fala escrita, não pode ser cantada. Preciso de uma palavra letra grifada grafia no papel. Uma palavra como um porto um mar um prado um campo minado um contorno carrossel cavalo pente quebrado véu mariscos muralhas manivelas navalhas. Eu preciso do escarcéu soletrado Preciso daquilo que havia negado E mesmo tendo medo de algumas palavras preciso da palavra medo como preciso da palavra morte que é uma palavra triste. Toda palavra deve ser anunciada e ouvida. Nunca mais o desprezo por coisas mal ditas. Toda palavra é bem dita e bem vinda.
Viviane Mosé TUDO O QUE VEJO Era tarde nas janelas da sala, Um gosto de tarde que eu queria lamber. Tenho vontade de lamber as coisas que gosto, Mesmo as que não gosto costumo lamber sem querer. Às vezes com a língua mesmo. Molhada e escorrida. Outras vezes uso a língua da palavra, Quando tem cheiros ruins Ou asperezas estranhas ao paladar de minha pessoa, Ou por nada mesmo por gosto Passo a língua nas coisas que vejo E passo as coisas que vejo pra língua.
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Wilfredo Machado
Brevis Su mundo fue tan breve que apenas tuvo tiempo de verlo, antes de que desapareciera frente a sus ojos. Ahora sólo resta imaginarlo y pensarlo en las noches a la página en blanco que permanece vacía como una pálida mortaja bajo la luz del bombillo eléctrico. Animalia Vamos de un lado aotro sin parar. Atacando, mordiendo , destrozando todo lo que se opone. De loselefantes a los rinocerontes, de los jabalíes a los leones de gran melena, delas hienas a los chacales. Todos huyen del filo de nuestras lanzas y el brillode nuestras antorchas. Frutos Conoceréis a los hombre por seusfrutos… y ¿y qué de los que como yo no hemos sembrado siquiera un rábano? Sin Frenos Escribir como quien maneja un vehículo sin frenos por una carretera oscura. Cada momento puede ser el último, así como cada palabra puede ser la última. Pero, de alguna manera, siempre sobrevivimos, aunque el sabor de la muerte se mantenga en nuestros labios por siempre. Soltar el volante en la última curva y apostar al azar, siempre apostar al azar.
Wilfredo Machado
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Traduções Brevis Seu mundo foi tãobreve que apenas teve tempo para vê-lo, ante que desaparecesse diante de seusolhos. Agora somente resta imaginá-lo e pensálo nas noites pela página embranco que permanece vazia como um pálida mortalha sob a luz da lâmpadaelétrica. Animalia Vamos de um ladopara outro sem parar. Atacando, mordendo, destroçando tudo o que se nos opõe.Dos elefantes aos rinocerontes, dos javalis aos leões de grande juba, das hienasaos chacais. Todos fogem do fio de novas lanças e do brilho de nossastochas.
Frutos Conhecereis os homens por seus frutos… e os que como eu não semeamos nem mesmo um rabanete?
Sem freios Escrever como quem dirige um carro sem freios por uma estrada escura. Cada instante pode ser o último, assim como cada palavra pode ser a última. Mas, de certa forma, sempre sobrevivemos, ainda que o sabor da morte continue em nossos lábios para sempre. Soltar o volante na última curva e apostar na sorte, sempre apostar na sorte.
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William Ospina POEMA Estuvo aquí hace poco. Como una diosa en fuga llevaba débilmente sus temblores divinos. Por un instante el cielo detuvo a la hilandera y la muchacha hermosa se detuvo un momento. Ahora ha partido. Carne que sabe la sentencia, comprendo que mis ojos la han perdido por siempre. Roja sombra, has de ser la ceniza de un sueño. Dulce, fugaz sonrisa… ¿No estarás en mi cielo? Nada nos pertenece. Todo sigue um oscuro rumbo. Son sueño el árbol, el castillo, la esfinge. El mar abre sus líquidos brazos de cruel sirena hacia donde incesantes naves se precipitan. Adiós, sagrada imagen. En la tarde solemne despido astros y Dioses que otorgan oro y sangre. Muero un poco con todas las flores abatidas y se apaga el crepúsculo, pero la noche es grande. AMOR La piedra ama a la nube, pero ese amor es sólo desesperación de su propia quietud. Se lo dije, pero ella replico que ese amor también es siglos de nube en su alma. NIETZSCHE Está muriendo un Dios en el centro de un ópalo del color del crepúsculo, Está muriendo una hoja de hierba en el pecho de Cristo Está muriendo una rosa en el aire estancado de la catedral de Maguncia, Traspasada en el aire por una quemante aguja de sol.
William Ospina
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Está muriendo una llanura donde retozan embriagados leopardos. Está muriendo un ángel sobre un glaciar blanquísimo. Está muriendo un barco lleno de ancianos en una colina del cielo, en un aire cargado de delfines livianos y azules. Está muriendo una cúpula bajo el asedio de las mariposas. Está muriendo un lupanar lujoso y sonoro de besos enfermos. Está muriendo mi corazón bajo los crueles halcones del olvido de Lou. Me estoy borrando en sus pupilas bellas y esperanzadas como comienzos. Está muriendo un pájaro en un bosque de nubes. Está muriendo uma luna glacial bajo mis sábanas de seda. Algo muy bello está borrándose por las bahías de mi infancia. Algo muy triste calla en sus violines. Traduções POEMA Esteve aqui recente. Como uma deusa em fuga portava debilmente seus tremores divinos. Por um instante o céu estancou a fiandeira e a moça formosa deteve-se um instante. Agora se foi. Carne que sabe a sentença, entendo que meus olhos a perderam para sempre. Rubra sombra, hás de ser a cinza de um sonho. Doce, fugaz sorriso… Não a verei em meu céu? Nada nos pertence. Tudo continua em escuro rumo. Um sonho a árvore, o castelo, a esfinge. O mar abre seus líquidos braços de sereia cruel até onde incessantes naves se precipitam. Adeus, sagrada imagem. Na tarde solene despeço astros e deuses que outorgam ouro e sangue. Morro um pouco com todas as flores abatidas e se apaga o crepúsculo, mas a noite é enorme.
William Ospina
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AMOR A pedra ama a nuvem, mas esse amor é apenas desespero de sua própria quietude. Eu lhe disse, mas ela replicou que esse amor também é séculos de nuvem em sua alma. SABEREI O SEGREDO Saberei o segredo destes velhos bosques ao dissipar-se a névoa indecisa. Algo como um faisão virá aos meus olhos, denso de orgulho e vida, e haverá um verde em meus lábios como de ramos novos. Saberei o segredo desta noite em brasa, extintas as lâmpadas, quando uma pele de lua cubra o campo. Saberei o que ocultam estas grutas quando, sob as árvores da alma, a rede do visível se separe nas pupilas e surja, afinal, o rosto de qual todos os meus sonhos foram máscaras. NIETZSCHE Está morrendo um Deus no centro de opala da cor do crepúsculo. Está morrendo uma folha de erva no peito de Cristo. Esta morrendo uma rosa no ar estancado da catedral de Magúncia. transpassada no ar por uma ardente agulha de sol. Está morrendo uma planície onde saltam embriagados leopardos. Está morrendo um anjo sobre um glaciar branquíssimo. Está morrendo um navio pleno de anciãos numa colina do céu, num ar carregado de delfins leves e azuis.
William Ospina Está morrendo uma cúpula sob o assédio das mariposas. Está morrendo um lupanar luxuoso e sonoro de beijos enfermos. Está morrendo meu coração sob os cruéis falcões do olvido de Lou. Estou me apagando nas pupilas belas e esperançosas como os começos. Está morrendo um pássaro em um bosque de nuvens. Está morrendo uma lua glacial debaixo de meus lençóis de seda. Algo realmente belo está apagando-se pelas baías de minha infância. Algo verdadeiramente triste cal em seus violinos.
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Zélia Bora A GARCIA LORCA Inventei uma dedicatória santa, como se tu tivesses oferecido a mim o teu último poema. Assim, pensei arrancar de ti o fluxo poético desta descontinuidade chamada vida, interrompido pela morte assassina. Porém, sabias que bendita e antiga é a morte e então, aprendeste a aplacar esta agonia difícil de conter chamada vida, comunicada pela ilusão das palavras. Por isso penso: é tempo de arrancar de mim essa agonia, esse amor incurável de inventar, não mais resistir ao apelo impessoal e descomedido das palavras que atordoam o espírito como uma dor pungente de adeus. Ainda assim, entrego-me à solidão das palavras. Gostaria de nada desejar esta noite a não ser O sono dos inocentes, repousar minha cabeça cansada sobre um travesseiro quieto. Não sonharia, porque os sonhos projetam nossos desejos fatigados pelas perdas e ganhos. Dormiria e acordaria sem alegria, sem tristeza e sem saudade, enquanto o momento seria um leve reconhecimento do que chamamos vida. E, se eu desejasse algo, lembraria, repentinamente, quem sabe, teus olhos;
Zélia Bora depois, tocaria meu lençol de flores miúdas de um verão imaginário, dormiria feliz e, pela manhã, o sol brilharia lá fora e desafiaria inerte minha tola existência. Todas as flores morrem em silêncio, lindas, elas emitem por algumas horas discretas singularidades, que nos lembram a vida ameaçada apesar de ausente. LEMBRA-TE: ainda estamos no mundo e além de mim, o outro lado onde não nasci e provavelmente nunca irei; porém, desejo fora da luz fora do escuro desejo desmedidamente.
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Informações Biobibliográficas Affonso Romano de Sant´Anna – Nasceu em Belo Horizonte (MG), 1937. Formou-se em Letras Neolatinas na Faculdade de Filosofia da UFMG, em 1962. Em 1964, tornou-se doutor em Literatura Brasileira pela UFMG, com tese sobre Carlos Drummond de Andrade. No ano seguinte seria publicado seu primeiro livro de poesia, Canto e Palavra. Na época, trabalhava como colaborador em periódicos como Estado de Minas Gerais, Diário de Minas, Tendência e Leitura. Entre 1970 e 1983, foi diretor do Departamento de Letras e Artes da PUC/RJ, onde organizou a Expoesia (1973). Na década seguinte foi professor na Universidade do Texas (Estados Unidos), na Universidade de Colônia (Alemanha) e na Universidade de Aix-en-Provence (França). Entre 1990 e 1996 foi presidente da Fundação Biblioteca Nacional. Além de poesia, publicou vários livros de ensaios e crônicas. Reynaldo Jardim – Nasceu em São Paulo no dia 13 de dezembro de 1926. Entre suas atividades jornalísticas, destaque para a participação, nos anos 50, da reforma do Jornal do Brasil – onde criou e editou o Suplemento Dominical do Jornal do Brasil, o Caderno de Domingo e o Caderno B. Ainda no mesmo grupo, dirigiu a Rádio Jornal do Brasil. Ao se demitir do Jornal do Brasil, em 1964, continuou a exercer atividades na imprensa do Rio de Janeiro: foi diretor da revista Senhor e de telejornalismo da recém-inaugurada TV Globo. Em 1967, criou o jornalescola O Sol. Dirigiu o Correio da
Manhã no período de 1967 a 1972. Trabalhou em diversas capitais brasileiras até chegar a Brasília, em 1988. Tem dez livros de poesia publicados, entre eles Joana em Flor e Maria Bethânia, Guerreira, Guerrilha. A Lagartixa Escorregante na Parede de Domingo é seu mais recente livro. Como poeta, manteve a única coluna diária de poesia em jornal, no Caderno B do Jornal do Brasil, de 2004 a 2006. Em 1968, havia tido a mesma experiência de publicação diária de um poema no Jornal de Vanguarda, exibido pela TV Rio, quando, ao vivo, comentava em versos sobre acontecimentos do dia. Encontra-se em Brasília, onde já exerceu diversas atividades nas áreas de jornalismo e cultura.
Thiago de Mello – Nasceu na cidade de Barreirinha (AM), em 30 de março de 1926. Depois de escolarização inicial em Manaus, foi para o Rio de Janeiro, onde ingressou na Faculdade de Medicina, que não chegou a concluir. Viveu exilado no Chile, onde permaneceu até a queda de Allende. É membro da Academia Amazonense de Letras e mora na cidade natal em casa projetada pelo arquiteto Lucio Costa. A sua vasta obra é traduzida para vários línguas e recebeu em 2008 homenagem na Câmara dos Deputados pelo transcurso de seu 80º aniversário. É tradutor de Pablo Neruda, T.S. Eliot e Ernesto Cardenal, entre outros e sua obra aparece com freqüência em gravações, alguns discos com locução do autor. De sua vasta bibliografia, podem ser destacados os seguintes livros de
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Informações Biobibliográficas
poesia: Silêncio e Palavra (1951), Narciso Cego (1952), Vento Geral (reunião dos livros anteriores e mais três inéditos: Tenebrosa Acqua, O Andarilho e a Manhã e Ponderações que Faz o Defunto aos que lhe Fazem o Velório (1960), Faz Escuro mas Eu Canto (1965), A Canção do Amor Armado (1966), Os Estatutos do Homem (com desenhos de Aldemir Martins, 1977), Horóscopo para os que Estão Vivos (1966), Mormaço na Floresta (1981), De uma Vez por Todas (1996, Prêmio Jabuti de 1997) e Os Estatutos do Homem, em edição de luxo pela Valer, em 1999. Publicou livros em prosa, tais como Borges na Luz de Borges (1993) e Amazonas, Pátria da Água (edição de luxo, bilíngüe – português e inglês –, com fotografias de Luiz Cláudio Marigo, em 1991).
Wlademir Dias-Pino – Nasceu em 1927 no Rio de Janeiro. Pioneiro da poesia visual brasileira, participou da gestação da poesia concreta, nos meados dos anos 50, junto com Haroldo de Campos, Décio Pignatari, Augusto de Campos, Ronaldo Azeredo e Ferreira Gullar. Criador dos livros-poema Ave (1954) e Sólida (1956) e propulsor do movimento Poema/Processo. Participou da Primeira Exposição Nacional de Arte Concreta, em São Paulo, em 1956, e no Rio de Janeiro, em 1957. Em 1958, realiza no carnaval a primeira decoração geométrica das ruas cariocas. Publica Poemas para Armar e Poemas Manipuláveis (1967). Participa da IX Bienal de São Paulo, com os Objetos Sensoriais. Em 1968, é convidado a participar da Primeira Bienal de Arte Moderna de Nuremberg. Publica, em 1986, o livro-poema Numéricos
– síntese das principais propostas do experimentalismo desenvolvidas pelo poeta durante a fase da poesia concreta. Desde 1994, dedica-se à Enciclopédia Visual, que consiste em 1.001 volumes e 200 mil imagens. “Não se trata de uma enciclopédia ilustrada, mas sim de um trabalho em que a iconografia substitui o caráter ordinal da ordem alfabética” — segundo suas palavras. Lecionou Comunicação Visual nas universidades Católica, Rio (1973/78) e Federal de Mato Grosso, Cuiabá (1978/93).
Alice Ruiz – Nasceu em Curitiba, em 22 de janeiro de 1946. Começou a escrever na adolescência, mas durante muitos anos divulgou o trabalho poético só em revistas e jornais. Foi casada com Paulo Leminski. Obras publicadas: Navalhanaliga (1980); Paixão Xama Paixão (1983); Pelos Pêlos (1984); Hai-tropikai (1985); Rimagens (1985); Nuvem Feliz (1986); Vice Versos (1988); Desorientais (1996); Haikais (1998); Poesia Pra Tocar no Rádio (1999) e Yuuka (2004). Site oficial: www.aliceruiz.mpbnet. com.br.
Alice Spíndola – Nasceu em Nova Ponte (MG), em 26 de setembro de 1940, mas foi em Goiás – para onde se mudou em 1951 – que se formou e vem construindo sua obra. Graduada em Letras Anglo-Germânicas pela Universidade Católica de Goiás. Poeta, contista, tradutora e artista plástica. Detentora do Prêmio Nacional Jorge Fernandes (Rio de Janeiro) e Prêmio Auta de Souza (Rio Grande do Norte). Bibliografia: Fio do Labirinto (1996), A Chave de Vidro (contos, 2001), Na Essência da Palavra Inteligente (homenagem a Ascendino Leite), O Loire – Poema Fluvial da França,
Informações Biobibliográficas (2006), que recebeu a Medalha Henri Bernier, da União Brasileira de Escritores.
Amparo Osório – Nasceu em Bogotá, em julho de 1951. Poeta, ensaísta e romancista. Editora geral da Revista Común Presencia e Codiretora da “Colección Internacional de los Conjurados”. Desde 1989 é a presidenta da Fundacão Literária Comum Presença. No ano 1989, obteve a primeira Menção do concurso Plural do México e, em 1994, bolsa nacional de estudo do Ministério da Cultura. Publicou os livros: Huracanes de Sueño (1983); Gota Ebria (1987); Territorio de Máscaras (1990); La Casa Leída (1996) e Migración de la Ceniza (1998). Foi traduzida para o inglês, francês, português e húngaro. Página virtual: www.amparoiosorio.blogspot.com Antonio Brasileiro – Nasceu em 1944, em Rui Barbosa (BA), onde viveu até 1955, quando se transferiu para Salvador. Desde 1972 vive em Feira de Santana. É doutor em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais. Ensina Teoria da Literatura na graduação em Letras da Universidade Estadual de Feira de Santana. Dos 22 livros que publicou, considera como os mais importantes: Caronte (romance, 1995), Antologia Poética (1996), A História do Gato (conto, 1997), Da Inutilidade da Poesia (2002) e Poemas Reunidos (2005). Detentor de vários prêmios nacionais. Antonio Carlos Secchin – Nasceu no Rio de Janeiro, em 1952. É professor titular de Literatura Brasileira da Faculdade de Letras da UFRJ, de onde é Doutor em Letras. Poeta com 5 livros publicados, destacando-se
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Todos os Ventos (poesia reunida, 2002), que obteve os prêmios da Fundação Biblioteca Nacional, da Academia Brasileira de Letras e do PEN Clube para melhor livro do gênero publicado no país em 2002. Eleito em junho de 2004, tornou-se o mais jovem membro da Academia Brasileira de Letras.
Antonio Cisneros – Nasceu em Lima, em 27 de dezembro de 1942. Estudou nas universidades Católica e de San Marcos. Doutor em Letras (1974), sendo Professor universitário e jornalista. Dirigiu revistas e suplementos literários, entre eles, o El Caballo Rojo, 30 Días e El Búho. Publicou dez livros de poesia: Destierro (1961), David (1962), Comentarios Reales (1964), Canto Ceremonial Contra un Oso Hormiguero (1968), Agua que no has de Beber (1971), Como Higuera en un Campo de Golf (1972), El Libro de Dios y de los Húngaros (1978), Crónica del Niño Jesús de Chilca (1981), Monólogo de la Casta Susana (1986) e Las inmensas Preguntas de Celestes (1992). Em 1978 foi bolsista da Fundação Guggenheim de Nova York. Ministrou aulas de literatura no Peru, na Inglaterra, França e Hungria. Em 1978 e 1979 foi pesquisador na Universidad de Berkeley. Em 1965 ganhou o Prêmio Nacional de Poesia do Peru “José Santos Chocano” e, em 1968, o de poesia Casa de Las Américas (Cuba). Em 1980, obteve a Primeira Menção Internacional de Poesia “Rubén Darío” (Nicaragua).
Antonio Vicente Pietroforte – Nasceu em 1964, na cidade de São Paulo (SP). Formado em Português e Lingüística, é mestre e doutor em Semiótica e Lingüística Geral pela FFLCH/USP,
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Informações Biobibliográficas
onde leciona atualmente. Nos anos de 2005-2006, coordenou, ao lado de Frederico Barbosa, o projeto “Rompendo o Silêncio”, na Casa das Rosas; e em 2006, o “Escritor nas Letras”, junto com o Centro Acadêmico de Estudos Literários e Lingüísticos Oswald de Andrade. Autor do romance Amsterdã SM (Editora Dix, 2007); e dos livros Semiótica Visual: Os Percursos do Olhar (2004) e Análise do Texto Visual: A construção da Imagem (2007), editados pela Contexto.
Aricy Curvello – Poeta, autor de ensaios e artigos literários e tradutor. Durante os governos da ditadura militar (1964-1985) sofreu prisões e perseguições. Viveu no Rio de Janeiro, na Amazônia e em outras regiões do Brasil, e também na Europa. Correspondente no Brasil da revista literária portuguesa Anto, integrando também o Conselho Editorial de Literatura Revista do Escritor Brasileiro e da revista de poesia Augusta. Livros de poesia: Los Días Salvajes te Enseñan (1979), Vida Fu(n) dida (1982), Mais que os Nomes do Nada (1996), A Poesia de Minas Gerais no Século XX (1998), El Campamento (2004), 50 Poemas Escolhidos por el Autor (2007). Traduzido para o espanhol, francês, italiano, inglês e sueco. Aristóteles España – Nasceu em Castro (Chile), em 1955. Destacado dirigente estudantil, tendo sido preso político. Participou das atividades do Taller Literario Aumen. Integrou a diretoria da Sociedade de Escritores do Chile e fundou e dirige a revista de poesia La Gota Pura, com Ramón Díaz Eterovic e Leonora Vicuña. Sua obra inclui títulos como Incendio
en el Silencio (1978), Equilibrios e Intercomunicaciones (1980), Dawson (1985), Contra la Corriente (1989), El Sur de la Memoria (1992), a antologia La Generación NN (1993), Los Pájaros de Post-Guerra (1995), Tardes Extranjeras y Otros Poemas (1998), e Materia de Eliminación (1998). Em 1983, obteve o Prêmio Gabriela Mistral de Santiago; em 1985, o Prêmio Especial Rubén Darío do Ministério da Cultura da Nicarágua, e, em 1998, o Prêmio Alerce da Sociedade de Escritores do Chile e do Conselho Nacional do Livro. Uma edição brasileira de Dawson, traduzida por Antonio Miranda, saiu em 2008 pela Editora Thesarus.
Betty Chiz – Nasceu em Montevideu (Uruguai), escreve poesia e narrativa, além de ser jornalista e fotógrafa. Recebeu vários prêmios e menções em concursos de fotografia e poesia, e de expor trabalhos com outros artistas plásticos. Atualmente, coordena com Mónica Marchsky, o Espaço Mixtura, multidisciplinar de arte e cultura. É coordenadora geral para o Uruguai do Movimento aBrace Internacional. Participou de várias antologias de poesia e contos no Uruguai, México e Chile, além de apresentações nos Encontros aBrace no Chile, Cuba e Uruguai.
Carlos Ortega Guerrero – Reconhecido por sua intensa atividade no campo das letras e das artes como Adido Cultural da Embaixada do México em diversos países, além de ser destacado poeta e ensaísta. Publicou o livro de ensaios Ciudadanía Independiente; e versão de Hsin Hsin Ming, primeiro poema zen, além de poemas, contos, ensaios e desenhos em revistas do México,
Informações Biobibliográficas Costa Rica, Guatemala e El Salvador. Seu último livro de poemas, Travesía, comprova a alta qualidade de seu trabalho criador.
Daniel Chirom – Nasceu em 1955, é advogado, jornalista e autor de livros como Crónica de Robledo Puch (1975), Los Atlantes (1979), La Diáspora (1983) e El Hilo de Oro (1989), pelos quais recebeu prêmios e reconhecimentos da crítica especializada. Apresenta programa de poesia e música na Rádio Nacional da Argentina, e dirige a revista ilustrada de poesia El Jabalí, que circula desde 1993. Seus poemas já foram traduzidos para outros idiomas e incluídos em destacadas antologias. Aparece na revista Laufschriet recopilando versos de poetas judeus da diáspora.
Diego Mendes Sousa – Nasceu em Parnaíba (PI), em 1989. Começou a escrever poesia aos quatorze anos de idade e, aos dezessete, lançou o livro Divagações, de poesia. Intitulase “leitor consuetudinário”, amante da música erudita, da pintura e admirador de Ferreira Gullar e Gerardo Mello Mourão, duas ascendências poéticas que levitam em esferas bem distintas, apontando para direções opostas... Eduardo García – Nasceu em São Paulo em 1965, filho de espanhóis. Permaneceu no Brasil até os sete anos, passa a viver em Madrid. Estudou Filosofía, especializando-se em Pensamento Estético. Professor de Filosofía, mora em Córdoba desde 1991. Destacam-se os seus livros de poesia: Las Cartas Marcadas (1995), No se Trata de un Juego (1998) e Horizonte o Frontera (2003). Por
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No se Trata de un Juego ganhou o Prêmio Hispano-americano de Poesia Juan Ramón Jiménez, e o Prêmio Ojo Crítico, da Rádio Nacional de Espanha. Horizonte o Frontera obteve o Prêmio Internacional de Poesia Antonio Machado em Baeza.
Eduardo Mora-Anda – Nasceu no Equador em 1948, é autor de Historia de los Ideales, cuja tradução foi publicada no Brasil pela Thesaurus editora, em 2006. Embaixador do seu país no Brasil. Os fragmentos de Los Salmos del Mar (2003). Elena Medel – Nasceu na Espanha, em 1985. Publicou os livros de poemas: Mi primer Bikini (Prêmio Andalucía Joven, 2001; DVD, 2002), Vacaciones (2004) e Tara (DVD, 2006), bem como o caderno Un Soplo en el Corazón (2007) e ficção em Calle 20, Eñe, Público, Cuentos eróticos de San Valentín (2007), El arca (Lima) e Sangría (Santiago de Chile), ambas em 2008. Aparece em numerosas antologias, em traduções para o árabe, inglês, italiano y português. Colabora em diversos meios de comunicação (El Mundo, El País, Cadena SER) e é uma das coordenadoras das atividades de agitação cultural de La Bella Varsovia. Página virtual: www.elenamedel.com
Emilia Currás – É doutora pela Technische Universität Berlin, entre 1955 e 1958. Ensina documentação científica na Universidade Autônoma de Madrid desde 1970. Dirigiu o Gabinete de Documentacão Científica do Departamento de Química Física Aplicada até 1996. Para Fina de Calderón, a sua “poesia tenta recolher o momento de sua emoção, para não deixá-la cair no esquecimento.
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Informações Biobibliográficas
Seus versos, a maioria curtos, estão impregnados de suas mais inquietas vivências e de seus sentimentos à flor da pena, à flor da alma”.
Enrique Hernández d´Jesús – Nasceu em Mérida (Venezuela), em 1947. Poeta militante de diversas disciplinas: imagista, fabulador, fotógrafo, colecionador de objetos, artífice de caixas negras, de obras vivente da criação em imagem e palavra. Os gestos rurais, a autobiografia, os objetos mágicos e a palavra coloquial traçam um almanaque de fabulações, de aparências, de humor sutil, delirante e nostálgico. Autor de vasta obra poética e detentor de prêmios de literatura, fotografia e desenho. É também editor e organizador de exposições de obras em que conjuga a poesia e objetos em desuso, dandolhes novos significados. Fabio Morabito – Nasceu em Alexandria (Egito), de pais italianos, em 1955. Passou a infância em Milão. Desde os 15 anos de idade vive na cidade do México, onde escreveu, em espanhol, dois livros de poesia: Lotes Baldios (Prêmio Carlos Pellicer, 1995), e De Lunes Todo el Año (Prêmio Nacional de Poesia Aguascalientes, 1991), e o livro de prosa, Caja de herramientas (1989); a coletânea de contos, La Lenta Furia, e dois livros de ensaios, El Viaje y la Enfermedad e Los Pastores sin Ovejas, além de textos infantis e traduções para o italiano. Fabrício Carpinejar – Nasceu em Caxias do Sul (RS), em 23 de outubro de 1972. Mestre em Literatura Brasileira pela UFRGS. Bibliografia: As Solas do Sol (1998), Um Terno de Pássaros ao Sul (2000), Terceira Sede (2001), Biografia de uma Árvore
(2002), Caixa de Sapatos (2003), Porto Alegre e o Dia em que a Cidade Fugiu de Casa (2004), Cinco Marias (2004), Como no Céu e Livro de Visitas (2005), O Amor Esquece de Começar (2006), Filhote De Cruz Credo (2006) e Meu Filho, minha Filha (2007). Detentor de inúmeros prêmios, além de ser reconhecido pela crítica e merecer acolhida nas apresentações públicas.
Fernando Pinto do Amaral – Nasceu em Lisboa, em 12 de maio de 1960. É crítico literário e professor universitário. Freqüentou a Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, do qual desistiu pelo de Letras. É, desde 1987, professor do Departamento de Literaturas Românicas da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Colaborou em revistas como Ler, A Phala, Colóquio/ Letras e o jornal Público. Traduziu As Flores do Mal, de Baudelaire, que lhe valeu o Prêmio do Pen Club e o Prêmio da Associação Portuguesa de Tradutores, e Poemas Saturnianos, de Verlaine. Traduziu toda a poesia de Jorge Luís Borges. Página web: www. criticaliteraria.com/fernando-pintoamaral Frederico Barbosa – Nasceu em Recife (PE), em 20 de fevereiro de 1961. Poeta, crítico literário e professor de literatura brasileira. Formou-se em Física e Grego pela Universidade de São Paulo, onde se especializou em Língua Portuguesa, Literatura Brasileira e Portuguesa. Crítico literário do Jornal da Tarde e Folha de S. Paulo. Dirigiu a Casa das Rosas — Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura. Obras Publicadas: Rarefato, 1993; Contracorrente, 2000; Louco no Oco sem Beiras Anatomia da Depressão,
Informações Biobibliográficas 2001; Cantar de Amor entre os Escombros, 2002; Brasibraseiro (em parceria com Antonio Risério), 2004; e A Consciência do Zero, 2004.
Gilberto Mendonça Teles – Nasceu em Bela Vista de Goiás, em 30 de junho de 1931. Formou-se em Direito e Letras Neolatinas pela Faculdade de Filosofia da Universidade Católica de Goiás e em Direito pela UFG, sendo professor-fundador destas duas universidades. Doutor em Letras e Livre-docente em Literatura Brasileira pela PUC-RS. É professor catedrático visitante de literatura brasileira nas universidades de Lisboa, Universidade de Rennes, Chicago e Salamanca. Recebeu pelo conjunto de sua obra, o prêmio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras. Autor de vasta bibliografia, que inclui poesia, crítica e historiografia literária.
Hector Collado – Nasceu na cidade do Panamá (Panamá), em 1960. É poeta, ficcionista, redator de obras didáticas e documentarista. Prêmio Nacional de Literatura Ricardo Miro nos anos de 1990 e 2004. Coordenador do Colectivo de Escritores José Martí. Obra poética: Trashumancias, El Genio de la Tormenta, Poemas Abstractos para una Mujer Concreta, En Casa de la Madre, Entre Mártires y Poetas, Toque de Diana, Estaciones del Água – Libro de Camila, Poemas de Sol y Lluvia, De Trompos y Rayuelas, Kakiri Kakiri, Artefactos, Cuentos de Precaristas, Indigentes y Damnificados.
Henryk Siewierski – Nasceu em Wroclaw, na Polônia, em 1951. Formou-se em Letras pela Universidade Jaguelloniana de
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Cracóvia, onde também era professor. Vive no Brasil desde 1986. Publicou Encontro das Nações (1984), Como Ganhei o Brasil de Presente (1998), Um Paraíso Imperdível: Silva Rewrum Amazônico (2006), em polonês; e História da Literatura Polonesa (2000). Organizou Vida Conversível, de Agostinho da Silva (Assírio & Alvim, 1994). Traduziu obras de Bruno Schulz e Andrzej Szczypiorski, entre outros. É professor da Universidade de Brasília. Indicado oficialmente pela embaixada da Polônia para a I BIP.
Jorge Tufic – Nasceu em Sena Madureira (AC) e reside em Fortaleza (CE). Poeta e jornalista, iniciou a formação na cidade de origem, transferindo-se posteriormente para Manaus, onde concluiu os estudos. Em 1976, foi agraciado com o diploma “O poeta do Ano”, do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Amazonas. É sócio fundador da Academia Internacional Pré-Andina de Letras, com sede em Tabatinga (AM). Autor da letra do Hino do Amazonas. Vive atualmente no Ceará.
José Carlos Capinan – Nasceu em Esplanada (BA). Letrista, poeta, publicitário, jornalista, médico… Começou a escrever poesia aos 15 anos. Em 1960, mudou-se para Salvador, iniciando o Curso de Direito na Universidade Federal da Bahia. Por essa época, estudou teatro no Centro Popular de Cultura, ligado à UNE, e conheceu Caetano Veloso e Gilberto Gil. No ano de 1966, publicou o livro de poemas Inquisitorial; e, em 1996, Uma Canção de Amor às Árvores Desesperadas, também de poemas — ao qual se seguiriam vários outros. Considerado um dos grandes letristas
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Informações Biobibliográficas
de sua geração, tendo participado ativamente do movimento tropicalista.
José Carlos Irigoyen – Nasceu em Lima, em 1976. Estudou Comunicações e Direito. Seus livros de poesia: El Libro de las Moscas (1997), El Libro de las Señales (1999), Lesley Gore en el Infierno (2003) y Los Días y las Noches de José Carlos Yrigoyen (2005). A publicação de seu livro Hosokop ( 2007) confirmou seu talento junto à crítica. Sobre sua obra diz Faverón: “Sua poesia, que acontece de forma trepidante e que é tanto autoexplorativa como épica, tem momentos (sobretudo a partir de Lesle Gore en el Infierno) desse tom de monólogo dramático das primeiras obras de Hinostroza e de alguma poesia de Verástegui, mas también recoge o molde de outros compatriotas, como Jorge Pimentel e (este que é cada vez menos lido, o que é um pena) Juan Ojeda.”
José Geraldo Neres – Nasceu em Garça (SP) em 1966. Produtor cultural, poeta/escritor, roteirista, dramaturgo, co-fundador do Grupo Palavreiros (escritores/poetas sediados em Diadema/SP), arte-educador, atual coordenador de Comunicações e Webmaster do site “Palavreiros”. Coeditor da revista eletrônica “Poética Social”. Associado da UBE e assessor de Literatura da Secretaria de Cultura do Município de Diadema. Participou do 1º Festival Internacional de Poesia de Granada (Nicarágua, 2005). Juan Carlos Pajares Iglesias – Nasceu em Huelva (1961). Colabora como docente na Área de Biblioteconomia e Documentação da Universidade de León, onde reside. Vem distribuindo
suas atividades entre agropecuária, teatro independente, administração, programação cultural em bares noturnos, docência, cinema... Em 1984, na extinta editorial Margen, publicou Relatos Incompletos o el Hundimiento del Kizilirmak e outros poemas na Revista Internacional de Literatura y Arte Francachela. Publicou ainda Descalzos sobre las Brasas, em 2008.
Juan Carlos Reche – Nasceu em Córdoba (Espanha), em 1976. Graduado em Filologia Hispânica. Atualmente vive em Montevidéu (Uruguai) e realiza pesquisa de doutorado sobre o poeta argentino Roberto Juarroz. Viveu em Roma e Lisboa, lecionando espanhol no Instituto Cervantes das referidas cidades. Como poeta publicou as plaquetes La Cítara de Plástico, em 1996, e El Maletín de la Pantera Rosa, em 1998 poesia experimental e dois livros de poemas: El Dolor y la Velocidad (Sevilla, 1999) e Carrera del Fruto, (Valencia, 2006), Carreira do Fruto/Carrera del Fruto (tradução de Pedro Santa María de Abreu, Portugal, 2007). É tradutor de poesia em italiano e português.
Katia Chiari – Nasceu na cidade do Panamá (Panamá), em 4 de setembro de 1969. Bacharel em Ciências, Letras e Filosofia. Realizou estudos de francês e japonês. Coordena múltiplas atividades literárias, com destaque para “El Perote de las Musas”. Por sua obra, já recebeu o Prêmio Gustavo Batista, 1999; o III Prêmio León A. Soto, 2001; o II Prêmio Esther María Osses, 2003; o I Prêmio Esther María Osses, 2007. Bibliografia: Lagartijas y Estrellas (2000); Palabrabierta (2002); Aguaspiedras (2003); Fotos,
Informações Biobibliográficas Recortes, Poemas, Recibos y una que Otra Confesión (2003); Más Allá de tu Humedad (2004).
Lourdes Sarmento – Nasceu no Recife (PE). Poeta, ficcionista, pesquisadora, biógrafa e jornalista. Possui 20 livros publicados em português, inglês, francês e espanhol, participação em quase uma centena de antologias nacionais e internacionais. Organizou a antologia Poésie du Brésil, e, juntamente com Beatriz Alcântara, o Projeto Literatura dos Trópicos. Pertence a diversas entidades culturais e é detentora de numerosas homenagens e prêmios. Obra poética: Poemas do Despertar, 1965; Explosão das Manhãs, 1973; Tatuagens da Solidão, 1991; Vingt-Cinq Poèmes de Passion, 1994, lançado pela UNESCO, em Paris/94; 7 Cartas e uma Confissão de Amor, 2004. Luiz Otávio Oliani – Nasceu no Rio de Janeiro, em 12 de abril de 1977. É graduado em Letras e Direito. Atuou como editor, revisor e colunista da Revista Literária Sociedade dos Poetas Novos, de 2000 a 2003, tendo entrevistado grandes nomes da literatura contemporânea. A partir da década de 90, participou de diversos eventos poéticos: Poeta, saia da gaveta; Panorama da Palavra; Terça conVERSO no Café; Poesia nos Arcos; Santa Poesia; Ponte de Versos; Novos Sentidos; Poesia no Sobrado; Soltando o Verso; Sarau João do Rio; Bom Dia Poesia; Arte na Arena; Versos Noturnos, entre outros, além de outros espaços como UNATI/UERJ, Escola Estadual Central do Brasil, Biblioteca Lima Barreto, ambos no Méier, espetáculos teatrais, etc. Publicou Fora de Órbita, 2007.
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Manuel Orestes Nieto – É panamenho, graduado em Filosofia e Letras. Autor de doze livros de poesia. Além de outros, recebeu por quatro vezes o Prêmio Nacional Ricardo Miró (1972, 1983, 1999 e 2002) com os livros Reconstrucción de los Hechos, Panamá en la Memoria de los Mares, e El Mar de los Sargazos e Nadie Llegará Mañana. Ganhou o Prêmio Casa de las Américas em 1975 com Dar la Cara. Atualmente, é embaixador do Panamá em Buenos Aires. Outros livros: Poemas al Hombre de la Calle; Enemigo Común; Poeta de Utilidad Pública; Oratorio para Victoriano Lorenzo; Diminuto País de Gigantes Crímenes; De Monstruos y Palomas y Otros Poemas (1975), Los Muertos Dolerán de Otra Manera (1979), Baldomera Murió de Pie ... y Otros Poemas (1980), Rendición de Cuentas (1991); El Pais Iluminado (2001); Ala Grabada en Blanco (2001).
Manuel Pantigoso – Nasceu em Lima (Peru), em 1936. Professor universitário, com estudos em Literatura, Pedagogia e Arte. Doutor em Literatura e Filologia, e Doutor em Educação, professor emérito da Universidade Nacional de San Marcos, membro da Academia Peruana da Língua. Especialista em Educação pela Arte. Representante da chamada Geração de Sessenta, traz à poesia peruana escritura própria onde os elementos gráficos e fonéticos contribuem para edificar livros integrais que se enlaçam com a música, o teatro, a arquitetura e as artes plásticas. Obra poética: Salamandra de Hojalatan (1977), Sydal (1978), Reloj de Flora (1982), Contrapunto de la Mitomanía (1980, Nazca (1986), Amaraomar (1993), Arte-Misa y Calicantos de la Pared
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Informações Biobibliográficas
del Viento (1998), e o recente Sueños al Canto – os al Canto – Rever/so an/ Verso (2006). Obteve os Prêmios nacionais Javier Prado (1970), de Teatro Escolar (1980 e 1983) do Teatro Universitário de San Marcos (TUCSM).
Márcia Theóphilo – Nasceu em Fortaleza (Ceará), em 1940. Antropóloga, estudou música na Europa. Toda a sua obra se inspira na floresta amazônica. Sua poesia vem sendo traduzida para vários idiomas e já foi indicada para o prêmio Nobel. Detentora de prêmios europeus, como o Città di Roma, Fregene, Nuove Scrittrici, Calliope, Sant’Egidio, Carsulae, Histonium e Parco Majella. Vive na Itália. De suas obras, destaque para I Bambini Giaguaro/Os meninos jaguar, com Fregene Prize; Kupahuba Albero dello Spirito Santo, e Amazonia Respiro del Mondo. Márcio Almeida – Nasceu em Oliveira (MG). É formado em Letras, com curso de Especialização em Ciências da Religião. Mestre em Literatura. Membro efetivo da Comissão Mineira de Folclore. Verbetista da Enciclopédia Barsa. Criador, com Hugo Pontes, do Grupo Vix, em 1963. Criador do Movimento de Resgate do Autor Inédito e Anônimo. Detentor de dezenas de prêmios nacionais de Literatura, entre eles: Prêmio Emílio Moura e Cidade de Belo Horizonte. Crítico literário desde a Década de 70; colaborador do Estado de Minas, Suplemento Literário do Minas Gerais. Autor dos livros: Lavrário, Assassigno, Previsão de Haveres na Terra do Puka, Orelhas Negras, Oficina de Nomes, Mel Perverso, Paixão, Antologia Poética II; Doce Veneno, Lápis Impuro; infanto-juvenis: WHYK, É Isso aí, Bicho! O Céu é um Zoológico, Minha
Escola é Sopa, Hoje é Dia de Rock, entre outros. Traduzido para diversas línguas.
Marcos Caiado – Nasceu em Salvador (BA), em 29 de outubro de 1965. Além de escritor, é roteirista, artista plástico, publicitário, marchand e compositor musical. Já publicou três livros. Sua obra tem sido premiada em Goiás e em outros estados. Prepara o lançamento de três novos trabalhos: a peça-musical A Diva e o Poeta, ao lado da cantora Cláudia Vieira; o segundo CD solo, Cinza, Azul e Ventania; e o livro de poemas intitulado Cartas à Algema. O Jornal Opção assim o apresenta: “Dono de inteligência ímpar, senso de humor ácido e texto idem, Marcos tem a rara capacidade de transformar situações do dia-a-dia em poesia.” Margot Ayala de Michelagnoli – Nasceu em Paris, em 1935. Reside em Assunção desde os três anos. Poeta e artista plástico do Paraguai. Presidenta do Grupo ADAC (Associação de Apoio à Cultura) e Vocal da Cultura do Conselho Nacional de Mulheres do Paraguai. Publicou Entre la Guerra el Olvido (1993) e Más allá del Tiempo (1995), Ventana al Tiempo (1987), Murmullo Interior (1991) e Cielos Interiores (1994).
Maria Romeu – Nasceu no México D.F., em 1955. Licenciada em Sociologia Educativa pela Universidad Autónoma Metropolitana. Participou do desenho e implementação de diversos projetos do Programa Nacional de Alfabetização e Diretora da Secretaria de Relações Exteriores do México. Co-fundadora de Ortega y Romeu — sociedade civil dedicada a projetos de bens educativos e
Informações Biobibliográficas culturais. Publicou os livros de poemas hojalata y lámina, dientedeleón e Los motivos de Jaín. É autora do Sistema de jogos para a aprendizagem creativa Gaspar y Polaris. Em 1979, recebeu o Prêmio Nacional de Poesia Carlos Pellicer (México).
Matias Lockkart – Nasceu em Buenos Aires (Argentina), em 1976. Participou da oficina literária coordenada por Ana Guillot. Em 2001, recebeu o quarto prêmio no gênero poesia, no concurso realizado pela S.A.D.E. zona norte. Em junho de 2004, editou o primeiro livro: la primera sed. Em 2006, participou da antologia poética organizada por Alejandrina Devescovi para comemoração dos sessenta anos da editora Botella al Mar. Miguel Ángel Zapata – Nasceu em Piura (Peru). Estudou na Universidade Nacional Maior de San Marcos (Lima) e fez doutorado em Filosofia na Washington University (EUA). Atualmente mora em Long Island (Nova York), onde é professor de literatura latinoamericana na Universidade de HOFSTRA. Alguns de seus livros: El Cielo que me Escribe (2002, Prêmio Latino de Literatura, do Instituto de Escritores Latinoamericanos de Nueva York); Moradas de la Voz – Notas sobre la poesía hispanoamericana contemporánea (2002, Prêmio José María de Hostos); Escribir bajo el Polvo (2000); Nueva Poesía Latinoamericana (1999)); Lumbre de la Lletra (1997); El Bosque de los Huesos – Antología de la Nueva Poesía Peruana (1995); e Imágenes los Juegos (1987).
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Miguel Márquez – Nasceu em Caracas (Venezuela), em 1955. Poeta, editor, e promotor cultural; cursou Filosofia na Universidade Católica Andrés Bello. Membro fundador do grupo literário Tráfico. Pesquisador do Centro de Estudos Latinoamericanos Rómulo Gallegos e colaborador da Biblioteca Nacional, da livraria Ateneo de Caracas, Monte Ávila Editores, e da Fundação Kuai-Mare. Publicou Cosas por Decir (Prêmio Fernando Paz Casillo, 1982), Soneto al Aire Libre (Fundarte, 1986), La Casa, el Paso (1992), Poema de Berna (1991) e Salvao em la Penumbra (1999), além de LInaje de Ofrenda (2004). Moacir Amâncio – Nasceu em São Paulo, em 1949. Poeta e jornalista. Pós-graduação em Comunicação Social e doutorado em Língua Hebraica, Literatura e Cultura Judaica. Professor da Universidade de São Paulo (USP). Obra poética: Do Objeto Útil (1993), O Olho do Canário (1998), Colores Siguientes (1999), Contar a Romã (2001), Óbvio (2004).
Ricardo Corona – Nasceu em Pato Branco (PR), em 1962. Graduou-se em Comunicação em 1987 (Febasp). Criou em parceria com Eliana Borges as revistas Medusa (1998/2000) e Oroboro (2004/2006). Em 1999, publicou Cinemaginário (Iluminuras). Em 2003, também com Eliana Borges, publicou Tortografia (Iluminuras). De 2005 a 2007, percorreu o país com a apresentação Távivaaletra. Em 2005, publicou Corpo Sutil (Iluminuras). Além de outras, participa da Antologia Comentada da Poesia Brasileira do Século 21 (PubliFolha, SP, 2006); Papertiger: New World Poetry (Austrália, 2004); Cities of Chance: New Poetry From the United States
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Informações Biobibliográficas
and Brazil (EUA, 2003); Na Virada do Século Poesia de Invenção no Brasil (Ed. Landy, SP, 2002).
Roberto Bianchi – Nasceu em Montevidéu (Uruguai), em 30 de março de 1940, tendo residido em Buenos Aires de 1973 a 1995, regressando então ao seu país. Poeta e animador cultural, ganhador de vários prêmios internacionais. Foi representante, até 1999, do Projeto Cultural Sur, inciando em seguida a carreira de editor e fundador do Movimento aBrace. Sua obra poética é vasta e difundida sobretudo no meio virtual. Obras impressas: Bordes (1992), Lugar em Marcha (1993), Abro Montevideo (antologia, 1993, em La Habana), Esto es Cuba (poesia-ensayo 1995), Montevide-o-dios (1997), Los Amores son Arcos Formidables (1999) e Tração a 4 Poemas y una Cuerda (Bianchi, 2002).
Ronaldo Werneck – Nasceu em 23/10/1943 em Cataguases (MG). Poeta e jornalista, crítico de artes e cronista. Co-editor/fundador de O Muro (1962), SLD (1968), Totem (1974) e Cataguarte (anos 80/90). Nos anos 60, integrou o grupo do Poema Processo e foi um dos organizadores do Festival Audiovisual de Cataguases. Morou por mais de trinta anos no Rio de Janeiro. De volta à sua terra em 1998, passa a assinar a coluna de crônicas “Há Controvérsias”, no jornal Cataguases. Atualmente, é Diretor de Comunicação do CINEPORT. Editou cinco livros de poemas: Selva Selvaggia (1976), Pomba Poema (1977), “minas em mim e o mar esse trem azul’ (1999), Ronaldo Werneck revisita Selvaggia (2005), e Noite Americana/Doris Day by Night (2006).
Rubenio Marcelo – Nasceu no Ceará. É bacharel em Direito e reside na capital sul-mato-grossense, onde é membro da Academia Sul-MatoGrossense de Letras. Além de poeta, é músico, compositor e animador cultural. Autor de vários livros, de livretos de cordel e de composições com letras próprias e de outros autores. Sua obra circula no meio virtual. Rui Mascarenhas – Nasceu em Salvador (BA). Em 2007, publicou Meiohomem — Eternidade, Meu Canto Que Fica! “Rui Mascarenhas é um poeta que reinventa brilhantemente as dualidades de nossas realidades impossíveis, cabendo a nós, leitores cruéis e também compassivos, saborearmos esses versos com os pés nus, no chão úmido, imundo, olhando para as estrelas deslumbrantemente assombrosas, apocalípticas” – Steven F. Butterman, Phd. University of Miami. Página virtual: www. meiohomom.blogspot.com
Susana Cabuchi – Nasceu em Jesus Maria (Córdoba, Argentina), em 1948. Publicou El Corazón de las Manzanas (Córdoba, 1978), Patio Solo (Córdoba, 1986), Álbum Familiar (Córdoba, 2000), El Dulce País y Otros Poemas (Buenos Aires, 2004). Suas obras foram traduzidas para o italiano (Poetesse Argentine, Plural Poesia, Acquaviva Picena, 1994), ao árabe (AtQataffa, antología pessonal, Damasco, Siria, 1991), ao francês (Entresilences, Editions L’ Inventaire (Paris, 2004) e para o português (Poetas de Córdoba para o Mercosul, antologia individual, Agencia Córdoba Cultura (2004).
Informações Biobibliográficas Susy Morales Cos – Nasceu em Huanchayo, em 1980, e estuda na Universidade Garcilaso de la Vega, em Lima. Começou a escrever aos 8 anos de idade. Participou de recitais poéticos em Lima, Ica, Huacho, Quito (Equador) etc, e em feiras internacionais do livro e em encontros internacionais de poetas. Seus poemas saíram em plaquetes como Buscando un Cantar (1977), Destino del Amanecer (1998) e em várias antologias.
Sylvio Back – Nasceu em Blumenau, em 1937, onde nunca morou. O conhecido cineasta também é poeta. Ex-bancário e ex-jornalista, iniciouse na produção cinematográfica no ano de 1962. Seu primeiro livro é O Caderno Erótico de Sylvio Back. Depois vieram Moedas de Luz (1988); A Vinha do Desejo (1994); Yndio do Brasil – poemas de filme (1995); boudoir (1999); Eurus (2004); Traduzir é poetar às avessas – Langston Hughes traduzido (2005) e Eurus – bilíngüe – português-inglês (2006); kinopoems (e-book, 2006); e As Mulheres Gozam pelo Ouvido (2007). Back tem igualmente editados livros de contos, ensaios e dez roteiros de seus filmes. Tem mais de setenta láureas nacionais e internacionais.
Testa Garibaldo – Nasceu no Panamá em 1962. Além de poeta, é educador e ambientalista, sendo o Coordenador Geral da Associação dos Guardiões da Natureza. Licenciado em Ciências da Educação e professor do Ensino Médio. Membro do Colectivo de Escritores José Martí, em Santiago (Chile) e entusiasta da Corriente Literaria Post-invasión (1989). Bibliografia: Parte y Novedades (1995); Estaciones Ocupadas (1998);
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Un día por todos (2003). Ganhou os seguintes prêmios: Gustavo Batista Cedeño (1996), León A. Soto (2002), o de poesía Esther María Osses (IPEL, 1997, 1999 y 2002), o Demetrio Herrera Sevillano (Universidad de Panamá, 2000).
Trina Quiñones – Nasceu na Venezuela em 1950. Advogada, poeta, tradutora. Publicou seis livros de poesia traduzidos ao inglês, português e russo, detacando-se entre eles Mutación (o de cómo la cautiva escapó del espejo), Nairobi 1991; Fugitiva (Brasilia, Thesaurus, 1993); Nómada de lo Invisible (Moscou, Globus, 2000). Obteve Menção Honrosa no Concurso Nacional de Poesia “Das edições de Minas, Cartão Alegoria, Brasil, 1994”. É membro correspondente da Academia de Literatura de Moscou. Atualmente vive em Caracas.
Vadinho Velhinho – Nasceu em Calheta de São Miguel, interior de Santiago Nascido (Cabo Verde), em 29 de maio de 1961. Começou a escrever quando freqüentava o Seminário São José, na Praia. Colaborador de revistas e jornais. Dono de uma poesia noturna, onde a solidão, a morde, o abandono, a loucura, Deus e a conseqüente expulsão do paraíso são temas recorrentes. Admirador dos poetas Fernando Pessoa, Luís de Camões, Augusto Anjos e Eugénio Tavares, ele anuncia o lançamento de Noites ao Cair da Noite – mais um título de poesia. Bibliografia: Relâmpagos em Terra (1995), Adeus Loucura, Adeus (1997), No ponto de rebuçados (2001) e O Túmulo da Fénix (2003), e Tenho o Infinito Trancado em Casa (2008).
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Informações Biobibliográficas
Veronica Volkow – Doutora em Letras e professora universitária da UNAM. Foi bolsista do Sistema Nacional de Criadores durante três períodos. Recebeu em 2005 o Prêmio José Revueltas de Ensaio literário pelo texto El Retrato de Jorge Cuesta. Alguns dos seus de livros de poesia: La Siblia de Cumas (Martín Pescador, 1974); Litoral de Tinta (Universidad Autónoma de México, 1979); El Início (Municipalidad Popular de Juchitán, 1983;) Los Caminos (Ediciones Toledo, 1989); Arcanos (Colección Práctica Mortal, 1996); Oro del Viento (Editorial Era, 2003), que mereceu o Prêmio de Poesia Carlos Pellicer. A mais recente publicação é Litoral de Tinta e Outros Poemas (Renacimiento de Sevilla, 2006). Tem um livro de ficção, La Noche Viuda (FCE, 2004). Viviane Mosé – É capixaba e vive no Rio desde 1992. É psicóloga e psicanalista, especialista em políticas públicas pela Universidade Federal do Espírito Santo. Mestra e doutora em Filosofia pelo Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro. É autora do livro Stela do Patrocínio – Reino dos Bichos e dos Animais é o Meu Nome (Azougue Editorial). Organizou, junto com Chaim Katz e Daniel Kupermam o livro Beleza, Feiúra e Psicanálise (Contracapa, 2004). Publicou Nietzsche e a Grande Política da Linguagem (Civilização Brasileira, 2002). Escreveu e apresentou, em 2005 e 2006, o quadro “Ser ou Não Ser”, no Fantástico. Seus livros de poesia: Escritos (1990), Toda Palavra (1997), Pensamento Chão (2001), e Desato (2006). Participou em 1999 do livro Imagem Escrita (Graal, 1999). É autora dos textos poéticos da personagem Camila no filme Nome
Próprio (2008), de Murilo Salles. Tem parcerias com Mart’nália.
Wilfredo Machado – Nasceu em Barquisimeto, Lara (Venezuela), em 1956. Graduado em Letras pela Universidade dos Andes. É também contista e romancista. Publicou os livros Contracuerpo (Fundarte, 1988), Fábula y Muerte del Ángel (Ediciones Dharma, 1990), Libro de Animales (Monte Ávila, 1994), Manuscrito (Ananda Editores) e Poética del Humo (2003).
William Ospina – Nasceu em Pádua, Tolima (Colômbia), em 1954. Viveu na Europa entre 1979 e 1982, para depois se instalar em Bogotá. Poeta, ensaista, novelista e tradutor. Estudou Direito e Ciências Políticas em Cali, dedicando-se ao jornalismo depois de experiências publicitárias. Trabalha nas Universidades do Valle, dos Andes e Nacional da Colômbia. É autor dos livros de poesia Hilo de Arena (1986), La Luna del Dragón (1992), El País del Viento (1992) e ¿Con Quién Habla Virginia Caminando Hacia el Agua? (1995). Em 1992, obteve o Prêmio Nacional de Poesia do Instituto Colombiano de Cultura. Zélia Bora – A autora tem doutorado em Estudos Portugueses e Brasileiros, pela Brown University, (USA) e, atualmente, é professora de Literatura Brasileira da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Para Julio Ortega, a “poesia de Zélia Borá é uma aposta na intimidade da comunicação. Num mundo saturado de discursos e poder e de controle, a voz de Zélia se eleva como um idioma que reconhecemos imediatamente como necessário: não o ouvíamos no ruído, e imeadiatamente chega a sua palavra que nos identifica”.
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Este livro foi impresso em Brasília em agosto de 2008. A tipologia do miolo é Memoir, corpo 10/13, impresso em papel Croma Silk 90g da Suzano Papéis e Celulose, nas oficinas da thesaurus editora de brasília. ooo
LAVS DEO