Tudo e Ainda Mais Antonio Miranda

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ANTONIO MIRANDA

TUDO e ainda mais

poemas e esculturas

poexílio Brasília, 2017


Uma poesia metafísica, mas voltada para a sua forma, ampliando o registro do mundo. Autoajuda? Mística? Não e não. Cósmica, talvez. Experimental, não apenas no sentido estético, também teórico, ético. Nada de manuais de conformidade, de rebanhos submissos, adoradores de totens vazios, ao custo da uniformidade! As esculturas do livro, Antonio Miranda concebeuas em sua materialidade: cimento ou madeira, no espaço da Chácara Irecê, em meados da década de 80 do século passado, no município de Cocalzinho de Goiás. Duas delas estão agora no acervo do Museu Nacional de Brasília, na Esplanada dos Ministérios, expostas em várias oportunidades. Mas elas não estão na presente seleção. Tampouco outra que foi executada no jardim de uma mansão às margens do Lago Paranoá. Na sua concretude, reflexos do geometrismo exposto nos poemas visuais e nos experimentais do presente livro. Fotografias de Nildo.



TUDO E MAIS

reviver o passado, animar o presente, antecipar o futuro. fatídica tríade: ONTEM – HOJE – AMANHÃ no mesmo tempo da real consumação. SIM, TALVEZ, NÃO!

(Brasília, 1/6/17)



NASCER S >R E S< R RENASCER



somos todos biodegradáveis. eu, deus, adeus! sobre camadas de lixo é que edi ficamos. Terra erra dicamos poder podre ode pó

. (voo Brasília-Fortaleza, 9/4/10)



GÊMEOS Meu irmão gêmeo esconde-se no espelho, no útero de um pretérito que se esboça diuturno ou soturno, no inferno de nossa memória alada, desenterrada, mas tísica, perdão, física mente transtornada. Timidez subindo pelas entranhas noturnas, acordando os sentidos: estranhos pressentimentos — diletantes e distantes de nós, em nosso ser gêmeo, transgênero, oxidante, desconcertante! Na distância irrecorrível, sentida e desconcentrada — equidistante... — vou em busca de meu outro por onde fiquei (transitei) intransitivo e inconstante.



que é intangível e inatingível? precisamos de tempo para ler os tantos livros que empilhamos, mais tempo ainda — infindo — para ouvir as pessoas que encontramos por aí, distraídas. (não as que indagamos porque só ouvimos o que queremos)



não sou uma pedra no caminho mas a pedra em transição; ave de arribação no descaminho da dissuasão; pedra arremessada e em dissolução. (para Carlos Drummond de Andrade, pedra nas asas do infinito)



há uma parede de cimento na praia que impede a visão do mar. as jangadas agora transportam turistas que devoram lagostas (uns aos outros); a parede sobre as dunas escondem casebres e febre e fome e abandono; só vejo o mar refletido na vidraça: da janela não avisto o mar. mas sou visto e revisto no aeroporto. íncubos e súcubos alternando-se.




AFINIDADES ELETIVAS Buscando-nos em outrem, destino em construção, eficácia em eleição e desidério. Mistério! Desiguais mas convergentes! Na direção do dissídio ou do pacto, do igualitarismo sem submissão ou obrigação, do ser e renascer na tensão ou obstinação, , sem tutela ou submissão... Antíteses, antenas aguças na pretensa inquisição dos valores voláteis, insustentáveis; corpo pagão, instrospectivo e com medo da carne exacerbada, devorada por si mesmo, masturbatória ou menstrual, afinal sem controle, superando convenções e orientações éticas e religiosas. Odiosas. Gula, autofagismo, conversão sem remissão ou convicção. Com as afinidades eletivas.

Brasília, 13/07/2017


n


TRAVE

TRAVÉS ATRAVERSO



NÓS SÓS N OSSOS INCONS ÚTEIS UTEN CÍLIOS EM BRAS ANTE SÓIS

IN CONFORMADOS ESSENCI AIS...



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SENTIMENTOS



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RECE A mos As sumimos Sem pre conceitos



SONETO ECONÔMICO SOBRE O TITÂNICO E TIRÂNICO

1

PRIVILÉGIO

2 3

= DIREITO ADQUIRIDO... ÉTICA,

4 5

QUESTÃO DE ÓTICA? ORÇAMENTO

6 7

É SÓ FINANCIAMENTO? INVESTIMENTO: SINÔNIMO

8 9

DE IMPOSTO E PROPINA. RENDA — PRENDA E ARRENDA.

10

ARRECADAÇÃO:

11 12

PREVISÃO - PREDAÇÃO? SUBORNO

13 14

E SUBORDINADO. HÃO

OU

NÃO ?

Brasília, 13/07/2017



RADICAL CONSTANTE Tensão e equilíbrio determinante no instante do juízo edificante. Energia submetida ao desígnio que modela tempo e espaço do homem. Desejo e ensejo criativo, proativo, essencial, vibração construtiva de uma personalidade em ascese. Forma dominante, estilo de vida, semente. Exceção na Ordem interposta. Interstício. Potência e ordem. Ser. Uma ética, um compromisso, escolhas. Risco e limites em expansão. Aspiração! Abismos exultantes, superação constante. Plantar destinos — sêmen evolutivo, nietzschiano além do bem e do mal. Voluntarismo transcendente, obstinada individualidade.



ALÉM DA AUTOAJUDA “A força é o contrário da violência. MICHEL ONFRAY” Refundar, e superar. Obstáculos. Obstinações, e a incompletude desafiante. Tentáculos, determinações e adversidades, divergências, desordem estabelecida. Oráculos sombrios, pelo poder espúrio, latente. Valores espúrios, subjugantes, solipsismos — gnosiológico, metafísico ou moral. Além do "cogito, ergo sum". Descartar tudo! Metafísica na perspectiva construtiva. Energia criadora, ação hercúlea e ecumênica: ascendência e ascese, ativa e sem amarras, imortal pela edificação de sua/nossa causa. Libido e libelo pela obstinação espermática. Multiplicadora. Fraquezas e superações. Construir o impossível e superável – Por vir. Virtude: o hedonismo da verdadeira Criação.



KAIRÓS ORIGINAL

“O que não me mata me fortalece.” NIETZSCHE

Ser para si mesmo: indivíduo que informa seguidores. Contra os fanáticos que formam segui dores. Submissos. A palavra na direção exata: não é a coisa, no sentido verdadeiro sem ser o da verdade definitiva — em construção. Virtude, compromisso, objetividade. Energia em movimento, futuro em gestação mas induzido, criativo, ético e épico. Júbilo, no único devir da própria realização. Livre das amarras da submissão, da sub serviência, do indiferenciado: um singular no espaço plural. Sem fanatismo. Solar, radiante! Não à subordinação castradora, de rebanho e abdicação. Curral eleitoral, torcida ou prosélito sectário. Autoajuda ao contrário: Não à conformidade, pela singularidade. Momento próprio.



ESPELHOS REFRATÁRIOS Na galeria dos espelhos: ângulos multiplicados, vendo-se em situações diversas, indefinidas mas interrogantes — buscando onde não estou, sendo além de mim! Sempre um antes no agora, um depois, talvez, jamais! Narciso contestado, imagem refratária, interrogante, potencial. Onde encontrar o que somos? Em si, estratega, na paisagem em movimento, externa: portas, ruas, veredas, atalhos! Escolher os caminhos, deambular, sem regresso. Controle de uma situ ação in possível! Eventual, transitória. Transformacional. Seu, sem fim. Até onde a vista alcança e a razão considera. Mera construção em andamento. Momento e memento... e seus significados. Sem a fé definitiva: em transição.



O CONFORMISTA (Poema do Barão de Pindaré Júnior, heterônimo de Antonio Miranda) “O homem das multidões quer encontrar o reflexo do outro”. MICHEL ONFRAY

Mediado pela alteridade, imita, copia, segue e venera. Obedece. Não transcreve nem interpreta: plagia, repete. Sempre exterior. Servidor fiel das divindades ao seu alcance... Mimético, segue a moda vigente, ou o uniforme da conformidade. Horror ao contraditório, identidade emprestada e se diz feliz sendo outro. Aderente, ardente e ferveroso seguidor do evidente, corta-e-cola da mesmice. Você que lê, como se vê? Igual ou diferente? Indiferente?

Brasília, 15/07/2017



RELATIVISMO

As coisas, os seres, os valores não são do bem nem do mal: estarão onde pusermos: a madeira vira calvário ou relicário, o homem salva ou mata e o poder redime ou maltrata.



Quase, sempre

: sempre quase (dia de sĂŁo nunca)



BUSTROFEDISMO

missa a s s i m esmo e veja: “pode ser que seja, mas também pode ser que não seja”



IMAGEM a imagem não é o que a gente vê — nem é o que se prevê — é o quê? é o que se... é, si é, ou ... ou ou tro ou viu ?



LIBERTAS QUAE SERA TAMEN Poema do Barão de Pindaré Júnior (heterônimo de Antonio Miranda para escarnio e maldizer)

A escravidão é redundante, não é circunstante... Ou não? Até escravos de si mesmos! De religiões, em procissões e até perseguições, bem ou mal in-tensionadas. Animais sujeitos às circunscrições e circuncisões do autoritarismo: os escravos vieram da África, ou sempre existiram? Mentiram os historiadores: os colonizadores comprava-os na costa da África, de outros vendedores — enjaulados nos mercados (lá e aqui) para serem transportados às Américas... Onde, agora, alforriados, educados tentam salvar-se dos preconceitos. Seus ascendentes africanos, ainda mais pobres: subjugados em ditaduras e castas. Castrados! (Brasília, 13 de agosto de 2017)



PROPAGANDA ENGANOSA

“Seja você mesmo!” Outro, agora, eu não sou! Amanhã, talvez, no futuro, com certeza...



AFETIVO E EFETIVO

Diversidades e adversidades — envolvimento e desenvolvimento na relação com o mundo, das artérias íntimas às redes externas, nós no mundo e o mundo em nós! Nós, em qualquer lugar e momento — em vez de espelho, o uni verso: ver-se em outros. Penso, logo me conecto — força do intelecto e sensibilidade: Idade da Razão em comunhão.



DEPOIS DA GERAÇÃO DE 1945

“escrever é agora atividade intransitiva". João Cabral de Melo Neto

Não há (mais) lugar para o Eu na Poesia. Nós, vós, eles no eu de quem lê: descupem, Eus. Deuses absolutos, sem convicção. Não há (mais) redenção na Poesia. Heresia? Diante do espelho se espalha ou atrapalha seu diário. No sentido contrário: Pasárgada virou Maracangalha — migalha!



PENSANDO NUVENS plumagens aragens passa tempo NUVENS de esplendor estavam ali mento em cresci arredor pensamento de onde vem pra onde vai esvaindo-se indo e sem direção


Placa à entrada da chácara, na rua de acesso.


SENDO

“a vida, /só de sonho/ de ser/ é sustentada” Cecília Meireles

Muros, musgos, limos, desassossegos. Sombras moventes. Entes irreais convencidos de existência — aparência de mais. Havidos ou por haver no fingimento do ser parecer parece ser ( para ser ) .


Antonio Miranda na Chácara Irecê, no município de Cocalzinho de Goiás, em meados da década de 80 do século 20, projetando fases da construção de uma das esculturas.



Trabalho do artista espanhol Gómez de Zamora (Chema) com areia, em homenagem a Antonio Miranda.

BIOGRAFIA ANTONIO Lisboa Carvalho de MIRANDA é maranhense, nascido em 5 de agosto de 1940. Foi colaborador de revistas e suplementos literários como o Suplemento Dominical do Jornal do Brasil e também o La Nación (Buenos Aires, Argentina) e Imagen (Caracas, Venezuela). Criou o grupo Poegoespacialismo em 1960, com exposições de Arte Verbal no Rio de Janeiro e Petrópolis (1960); também em Buenos Aires e La Plata, Argentina (viagem a partir de um Prêmio da Embaixada Argentina no Rio de Janeiro, por uma monografia sua sobre arte, em concurso com o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, em 1962). “Licenciado” em Bibliotecologia é da Universidad Central de Venezuela, UCV, Venezuela, 1970. Chegou a ser chefe do setor de bibliografia da Biblioteca Nacional da Venezuela, e diretor de uma biblioteca pública em Caracas. Escreveu o texto poético do espetáculo Tu País está Feliz, com música de Xulio Formoso, direção de Carlos Giménez, estreia em fevereiro de 1970 em Caracas, dando início ao Grupo Rajatabla, ainda em atividade. A peça viajou por muitos países, recebeu prêmios — inclusive o do Festival de Teatro de Puerto Rico e o de Manizales, Colômbiia —, edição de livros e discos, e ensejou a criação do Grupo Cuatro Tablas, em Lima, Perú, com o diretor Mario Delgado, que montou o espetáculo e também participou de festivas internacionais, e remontagem, a última em 2016.


Fez mestrado em Librarianship na Loughborough University of Technology, LUT, Inglaterra, 1975. Doutor em Ciência da Comunicação (Universidade de São Paulo, 1987). Esteve como Assessor de Planejamento Bibliotecário da CAPES-MEC, e trabalhou como consultor em planejamento e arquitetura de Bibliotecas e Centros de Documentação para o MEC e a Unesco. Professor e ex-coordenador do Programa de Pósgraduação em Ciência da Informação do Departamento de Ciência da Informação e Documentação da Universidade de Brasília, Brasil, ministra aulas e cursos por todo o Brasil e países ibero-americanos. Aposentado, é professor Colaborador Sênior, e orientador de teses e pesquisas. Organizador e primeiro Diretor da Biblioteca Nacional de Brasília, de fev. 2007 a out. de 2011. fev. 2015-maio 2017. Antonio Miranda já publicou mais de 50 títulos de livros de poesia, novelas, contos, crônicas, e de obras científicas publicadas em vários idiomas, em diversos países. É professor Emérito pela Universidade de Brasília, e honoris causa pela Universidad Ricardo Palma, de Lima, Perú. Página web: PORTAL DE POESIA IBERO-AMERICANA: http://www.antoniomiranda.com.br/ Organizador e primeiro Diretor da Biblioteca Nacional de Brasília, de fev. 2007 a out. de 2011, e de fev. 2015-maio 2017. Antonio Miranda já publicou mais de 50 títulos de livros de poesia, novelas, contos, crônicas, e de obras científicas publicadas em vários idiomas, em diversos países.



COLOFÃO Livro-de-artista de Antonio Miranda, com os poemas e esculturas do autor, fotografias de Nildo, na presente obra — TUDO, E AINDA MAIS — publicado em Brasília pela editora independente POEXILIO, em 2017. Oito exemplares em papel especial, em caixa artesanal, para os bibliófilos, depósito na Biblioteca Nacional de Brasília e críticos literários, assinados pelo Autor. Também disponível como e-book publicado no repositório ISSUU e também no Portal de Poesia ibero-americano: www.antoniomiranda.com.br: https://issuu.com/antoniomiranda

EX. No.



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