Sobre Fé & Espírito Desenhos e apontamentos
Uma apresentação da série de desenhos «Sobre Fé & Espírito», incluindo imagens e textos que expandem nos tópicos de cada desenho.
António Pinho
Livreto
Sobre Fé & Espírito Desenhos e apontamentos
António Pinho
Sobre Fé & Espírito | Desenhos e apontamentos
António Pinho
Nota introdutória Este livreto tem como objetivo apresentar a série «Sobre Fé & Espírito» e os textos que acompanham os trabalhos desta série de desenhos. A série «Sobre Fé & Espírito» é um conjunto de vários desenhos a grafite, com o objetivo de apresentar tópicos relacionados com a Fé e a Espiritualidade, tais como as diferentes religiões e formas de espiritualidade, e também algumas ideias destas, como qual o valor da oração, o papel que a Fé joga ao longo da nossa vida, como encarar aquilo que nos transcende, e mais. Os textos aqui apresentados complementam e expandem estas ideias e são, também, pequenas reflexões e comentários sobre os desenhos. Assim, espera-se que este livreto seja combustível que alimenta a reflexão sobre os tópicos da série, nutrindo os assuntos para debate e reflexão daqueles interessados neles.
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António Pinho
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António Pinho
Criança a rezar Uma peça que pretende representar a sensação inicial da comunicação com Deus – ingénua, ainda incompleta e receosa, hesitante, mas sempre pura. A suave e leve natureza da grafite complementa a temática da criança, que inocentemente reza. A obra tenta representar os primeiros passos da crença religiosa – a ingenuidade e inocência com que se aborda um tópico tão denso.
Detalhes Material
Grafite
Suporte
Papel Canson
Dimensões
35 x 27 cm
Ano
2019
A linha branca que interrompe a continuidade natural do desenho, simboliza a presença metafísica que, embora nunca expressa de forma tão visível, o impacto que causa quando se manifesta é tão sentido quanto a representação visual desta no desenho. Esta interrupção que causa a quebra do fluxo natural da composição é também representativa do natural desconforto que por vezes é sentido quando proferimos as primeiras palavras a Deus, especialmente se nunca antes as tivermos proferido. E, tal como uma criança, não sabemos o que o futuro nos reserva, mas seguimos em frente confiantes no destino, tantas vezes guiados pela fé e esperando que sejamos capazes de falar com sinceridade, de forma a ver as coisas com maior clareza.
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António Pinho
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Aceitação Inserida nesta série, de representação principalmente religiosa, poderá ser estranho encontrar a temática da Maçonaria. Mas a temática de espiritualidade encontra-se perfeitamente dentro do contexto.
Detalhes Material
Grafite
Suporte
Papel Canson
Dimensões
35 x 27 cm
Ano
2019
O desenho pretende ser uma representação da Maçonaria Liberal e Adogmática – mostrando que existem outros caminhos de fé e espiritualidade que poderão não ser óbvios à primeira vista. Evitando tópicos como a regularidade das diferentes correntes maçónicas, a obra tem apenas um objetivo, a representação da aceitação da espiritualidade e simbologia, tão característica da Maçonaria. A aceitação é representada pela bola branca, segura nas mãos da figura feminina que a mostra ao público, iluminada pela vela nas mãos de uma segunda pessoa, invisível na obra.
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António Pinho
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Tradição judaica O judaísmo e o povo judeu são indispensáveis na temática da série pela sua rica, velha e original tradição religiosa. A escolha da vertente ultra ortodoxa do judaísmo foi principalmente uma decisão estilística, pela força visual e reconhecimento imediato que provoca, pelo que conceptualmente é também justificável, como símbolo de uma tradição religiosa mais próxima e literal aos conteúdos originais do texto.
Detalhes Material
Grafite
Suporte
Papel Canson
Dimensões
35 x 27 cm
Ano
2019
Abordar temáticas contenciosas é sempre abrir a porta à má interpretação, pelo que a obra não pretende ser uma afirmação de uma posição moral ou política, mas sim, uma ilustração do conceito da passagem de conhecimento de geração em geração. A escrita, fundamental a esta passagem, não descorando, no entanto, a tradição oral, mas sim destacando a escrita na tradição verbal, está representada pela pena, segurada pela mão velha, que escreve em frente à criança, como símbolo direto da passagem de conhecimento. A criança, com um olhar confuso e marcado por um aspeto perdido, absorve o conhecimento que a guiará pelo caminho, e transformará o olhar perdido num olhar mais confiante – da mesma forma que o conhecimento das gerações passadas nos guia, mesmo que num momento inicial não nos apercebamos disso, e lentamente é absorvido por nós, concretizando-se assim a passagem do testemunho, com todos os seus vícios, e benefícios.
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Jovem mulher com olho tapado Este é o segundo desenho com uma temática onde o Catolicismo está presente na representação da Fé. Como que uma parte dois do desenho «Criança a rezar», a obra representa uma fase posterior à primeira obra, onde a fé está agora presente, mais envelhecida, embora continue jovem. Com o passar do tempo, com o passar das orações a Deus, vai acontecendo uma transformação, onde a pessoa sente mais à vontade e uma maior confiança na palavra, que traz mais abertura, permitindo passar a luz. No entanto, os olhos ainda não estão completamente descobertos – ou seja – a escuridão ainda não desapareceu por completo. Esta é a simbologia do olho tapado. Só o tempo e a persistência nos permitem ver com clareza. Só os anos e o conhecimento contínuo trazem a luz.
da escuridão? O recordar que esta está presente mesmo quando procuramos a luz? Ou até mesmo, especialmente quando procuramos a luz. Porque procurar a luz é aceitar que o seu oposto existe. Procurar o bem é aceitar que o mal continuará presente. Mas aceitar, não como um ato de complacência e inação. No fundo, poderá ser admitir, ou reconhecer, que a escuridão existe. Que o mal está presente. E que o trabalho que o individuo faz em busca da luz contraria aquilo que é negro. Um trabalho interior, um aperfeiçoamento de si mesmo, uma contínua busca. Mesmo quando esta é dolorosa, mesmo quando esta parece em vão, ou não é reconhecida, a procura da luz é o contrariar da escuridão. Pois o mal combate-se eternamente – esta é a natureza do mal, eterno. Mas a cada batalha bem-sucedida, derrotado. Esta é a principal reflexão deste desenho.
A mão que tapa o rosto da figura principal não é da própria figura – isto pretende comunicar que nem sempre temos controlo sobre o que nos escurece – é por vezes um agente externo, mesmo quando vem de dentro. Isto pretende também refletir sobre o facto de, não tendo controlo sobre a escuridão, qual deverá ser a nossa postura quanto a ela? E é uma reflexão sobre a aceitação da mesma. No desenho, a figura principal comunica perplexidade e inação quanto à escuridão. Assim, pretende-se refletir sobre a dificuldade em aceitar que, mesmo após a maturidade na procura da luz, mesmo após a vencida a batalha pela fé, a escuridão continuará presente. Deverá então ser a nossa posição o aceitar
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Detalhes Material
Grafite
Suporte
Papel Canson
Dimensões
35 x 27 cm
Ano
2019
António Pinho
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António Pinho
Hinduísmo A inclusão do Hinduísmo é o reconhecimento de uma das religiões mais antigas, considerada a, ou uma das, originais. A temática é semelhante ao desenho «Criança a rezar», e inclui assim uma religião não-abraâmica, mas que em diversos conceitos são semelhantes, precedendo até a origem destas religiões.
Detalhes Material
Grafite
Suporte
Papel Canson
Dimensões
35 x 27 cm
Ano
2019
A linha branca é o conceito omnipresente por entre os desenhos desta série, representando aquilo que nos transcende. Incluir esta religião expande o leque de representação das diferentes religiões na série, mostrando também a beleza e riqueza de sabedoria por detrás dela.
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António Pinho
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Islamismo Representação da Fé Islâmica, como parte integrante das três religiões abraâmicas, que estão presentes nesta série. A partilha de tantas raízes, e tantas ligações comuns faz com que estas religiões (Cristianismo, Judaismo e Islamismo) estejam ligadas entre si de forma única.
Detalhes Material
Grafite
Suporte
Papel Canson
Dimensões
35 x 27 cm
Ano
2019
Diferentes manifestações de Fé, com pontos de diferenciação bastante notáveis, tornado-as em tanto iguais como diferentes.
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A Mentira / Ilusão Uma representação da mentira. Da distorção da realidade, propositadamente, contada com intenção, com saber. Da incapacidade que a mentira traz para que se consiga ver a realidade por aquilo que ela é. Do calculismo necessária que a mentira traz, e a maneira como esse calculismo distrai a mente de outros assuntos mais importantes.
Detalhes Material
Grafite
Suporte
Papel Canson
Dimensões
35 x 27 cm
Ano
2019
Na representação a figura revela uma postura casual, aborrecida, como que alheia ao impacto de que esta distorção da realidade traz, representando a casualidade com que muitas pessoas mentem e enganam. Representa a teia complexa que a mentira cria, criando um nó quase impossível de desenvencilhar, afetando profundamente a nossa capacidade de ver a realidade. É assim desejável tentar representar a realidade o mais próxima possível daquilo que ela é, sendo competente nesta capacidade, em todos os aspetos das nossas vidas. Fui apresentado a estas ideias por Peterson, percebendo assim a presença delas no contexto religioso. É, assim, uma reflexão sobre estes tópicos.
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Pede «Pedi, e ser-vos-á dado; procurai, e encontrareis; batei, e hão-de abrir-vos. Pois, quem pede, recebe; e quem procura, encontra; e ao que bate, hão-de abrir. (...)» Entendo esta reflexão como: só aceitando que preciso, é que poderei pedir. E um, ao aceitar que precisa, teve que passar por uma fase de reflexão própria, ser humilde consigo mesmo e perceber que algo está em falta. E ao aceitar isto, terá que ter, novamente, a humildade suficiente para pedir, mostrando a alguém que precisa. É portanto um apelo à reflexão pessoal neste sentido.
Detalhes Material
Grafite
Suporte
Papel Canson
Dimensões
35 x 27 cm
Ano
2020
Mas, depois de aceitar a sua condição, deve agir - deve bater e deve procurar, simbolizando a ação. É assim também um apelo à ação, ao manifestar de um desejo, e ao procurar as coisas que necessitamos. O desenho reflete nesta ideia, em específico no ato de pedir, representado pela figura que olha o céu e pede, e pela mão que à sua frente se extende.
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António Pinho
Salto de Fé Acreditar em algo que está para lá da razão. Sustentar a crença em algo cuja visão não observa e o tato não sente. Contexto do termo
Detalhes Material
Grafite
Suporte
Papel Canson
Dimensões
35 x 27 cm
Ano
2019
O termo é comummente atribuído ao filósofo Søren Kierkegaard, não tendo o mesmo usado este termo, mas sim «salto qualitativo». Contexto no desenho Representa a necessidade de acreditar em algo que nos transcende, em algo não palpável, que não é mesurável. Pois este algo, que nos transcende, existe, e encará-lo como uma realidade é melhor do que negá-lo. Representa também a esperança, o desejo, de que algo corra bem, de que as coisas corram da melhor forma, mesmo quando não sabemos se irão correr ou não. Do pedido ao transcendental que jogue a nosso favor, que nos dê força para continuar a avançar, mesmo sem provas palpáveis de que o caminho é o correto. É, assim, a Fé em algo melhor que nos move.
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Homem velho a rezar Uma reflexão sobre a maturidade da fé, no sentido do convívio com a mesma durante um longo período de anos e a maneira como esta se mantém presente, mesmo após tantos anos de experiências e aprendizagem. Mesmo após sermos pais e avós, continuaremos filhos. Mesmo com a toda a sabedoria, continuaremos ignorantes e mesmo com todas as respostas, continuaremos a ter perguntas.
Detalhes Material
Grafite
Suporte
Papel Canson
Dimensões
35 x 27 cm
Ano
2020
O homem que reza, reflete. E pede. E honra a sua fé e as suas crenças. Rezar é um ato que continua jovem, mesmo quando realizado ao longo da vida. E continua a ser força para quem o realiza, mesmo após repetido centenas de vezes. Pode ser assim considerado fonte inesgotável de força e de vontade. Uma ligação direta com aquilo que nos transcende e uma forma de organização do pensamento. Nas palavras de Sir Roger Scruton «rezar coloca-nos de volta em relação com Deus, da qual estamos constante a afastar-nos». O homem velho que reza é um símbolo de tudo isto.
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