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CRESCENDO COM AS FASES DA VIDA O Homem em Busca de Sua Autenticação
Antônio Ayres Crescendo com as fases da vida
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1. INTRODUÇÃO
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este exato momento, quando você está começando a ler estas linhas, milhões de pessoas, em todos os lugares do planeta, de alguma forma, estão procurando, desesperadamente, vencer diferentes etapas de suas vidas e, dessa forma, autenticar-se. O homem deste século parece estar convencido, mais do que seus ancestrais, de que não existe tempo a ser gasto com aquilo que não é relevante. Ou, pelo menos, com aquilo que ele não considera relevante. Por essa razão busca, por diferentes caminhos, uma forma de encontrar relevância. É a essa procura pertinaz por relevância que, neste livro chamamos busca por autenticação. O que equivale a dizer que ser alguém, ser reconhecido como alguém, sentir-se importante, possuir alguma forma de status é sentido como autenticidade. As pessoas realizam-se, então, através da busca por relevância e autenticação, o que é, sem dúvida, um objetivo saudável. O que não é saudável é fechar os olhos para a sensatez e transformar esse objetivo em batalhas frenéticas para “subir na vida”. Aí, essas lutas convertem-se, doentiamente, em neuroses obsessivas de quem quer obter sucesso, a qualquer preço.
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Nesse caso, enxergam-se os meios como os fins e deixa-se a vida passar, sem se dar conta de que o tempo não tem volta e que ser apenas uma engrenagem na máquina do progresso de hoje pode significar o erro percebido tarde demais, amanhã. Não é possível mais continuar apenas a viver o “ser” como “ter”; e o “viver” como “acontecer”. É preciso mais do que isso. Na verdade só se autentica quem aprende com a vida e dela retira cada uma de suas preciosas lições. E como a vida não nos é entregue pronta, mas constitui um mapa em branco, no qual cada um de nós traçará os seus próprios caminhos, devemos ter discernimento. Isso, dito de outra forma, significa reconhecer que viver é um processo, no qual passamos por muitas e diversificadas experiências até que atinjamos a maturidade. Sobre essas experiências, que são gradativas e acontecem desde o momento da concepção até o momento da morte, é que estaremos falando, neste livro. Se soubermos o script dos eventos mais ou menos pontuais que acontecem na construção de nossos caminhos, então estaremos no rumo certo para o entendimento da vida. Em outras palavras: estaremos aptos para nos autenticarmos de maneira plena, soberana e feliz. Um objetivo que, sem dúvida, se mostra desejável a todos nós.
O autor
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2. INQUIETAÇÕES, MUDANÇAS E SUAS CONSEQUÊNCIAS
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iver não é fácil. Viver no século XXI é menos fácil ainda.
Há apenas algumas décadas, nossos pais e avós vivenciavam uma existência na qual não sentiam necessidade de questionamentos, a não ser em casos muito raros, que se encaixam, como sempre, no campo das exceções; não das regras. O trabalho, a família, alguns amigos e a religião eram suficientes para certo grau de sentimento de plenitude, que em nossos dias não se consegue mais, a menos que não existam preocupações com a mediocridade e a alienação. Hoje, continuar vivendo à moda antiga não é mais possível e, mais do que isso, não é nem mesmo desejável. Os que têm o privilégio ou a desventura de viver o nosso tempo são assaltados por todo tipo de inquietações, que constituem o ônus de se ser testemunha ocular de um período histórico em que se nasce num estágio civilizatório e se morre em outro, completamente diferente. Em pouco mais de quatro décadas fizemos a transição entre o mundo moderno e o mundo pós-moderno. Nesse processo, fomos testemunhas de um tão fenomenal aporte de mudanças, que milênios de civilização não puderam alcançar. Freud, o pai da psicanálise, que viveu entre 1856 e 1939 deixou registrado em vários de seus escritos a sua convicção de que vislumbrava um futuro em que o avanço cientíCrescendo com as fases da vida
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fico proporcionaria não só a confirmação da veracidade de sua ciência (a psicanálise) como também uma radical mudança no modo de viver da humanidade. Sua profecia se cumpriu embora ele não pudesse imaginar três detalhes desse cumprimento: a abrangência, a magnitude e a rapidez dessas mudanças. A abrangência nos mostra que essas mudanças se processam em todas as áreas do saber, em todos os níveis de conhecimento, em todos os continentes e em todos os regimes políticos. A magnitude diz respeito à profundidade, à dimensão não apenas quantitativa, mas, principalmente, qualitativa daquilo que está sendo mudado. O mundo passa por um verdadeiro salto qualitativo em todos os setores, com ênfase especial nas áreas tecnológica e científica. E, finalmente, a rapidez com que essas mudanças acontecem, por vezes, chega a ser estonteante. O que foi anunciado como novidade ontem ganha o caráter de sofisticado hoje, para ser considerado obsoleto amanhã. A área de informática, por exemplo, constitui um modelo, por excelência, em que esses três critérios (abrangência, magnitude e rapidez) acontecem simultaneamente. Obviamente, um mundo mutante a esse nível, sem dúvida traz consigo consequências e é também sobre essas conseqüências que estaremos tratando no presente trabalho. Acreditamos que trilhar por esse caminho; observar os seus percalços e inquietações nos diferentes estágios do desenvolvimento do ser poderá tornar-se muito útil para o entendimento de como se processa a nossa maturação.
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E, eventualmente, nos fornecerå o caminho das pedras para entendermos como se processa a nossa verdadeira autenticação.
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3. O NASCIMENTO DA ETAPA EXISTENCIAL DO HOMEM
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s começos sempre fascinaram o ser humano. Talvez porque neles residam as sementes de toda espécie de especulações que a mente humana possa produ-
zir.
A Bíblia, o livro sagrado dos cristãos, se inicia com estas palavras: “No princípio, criou Deus os céus e a terra” 1. Já São João inicia o seu evangelho com estas: “No princípio era o verbo...”2. Os homens que não se contentam ou não conseguem crer no Criacionismo, buscam, a todo custo, explicações. Desejam saber sobre a origem da Terra, a origem da vida, a origem do homem, a origem dos planetas, a origem das galáxias e a origem do Universo. Chegam a cogitar até sobre a origem de vários Universos. É essa curiosidade pelos começos a responsável pelo avanço científico, pois, onde quer que se encontre um laboratório com um homem debruçado sobre um microscópio, haverá sempre incluída em suas preocupações, a curiosidade pelo início de algum processo, de alguma reação química, de algum organismo vivo rudimentar ou de alguma patologia ainda desconhecida. Também é esse encantamento pelos começos que move os arqueólogos a escavarem infindáveis sítios, os historiadores 1 2
Gên. 1.1 Jo. 1.1
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a empreenderem exaustivas pesquisas e os naturalistas a fazerem inumeráveis expedições. Na verdade, o ser humano se surpreende com a própria supremacia diante dos outros animais. Quando lhe sobrevém a idade da razão, ele compreende (pois já passou da época da mera intuição) ser o único, entre todos os mamíferos, que possui lembranças de seu passado; consciência de seu presente e projetos para o seu futuro. Essa sua inquietude diante da disparidade entre ele e o mundo animal que o cerca, produz sobre sua mente o desejo inquisidor de descobrir-se a si mesmo, uma vez que já não pode satisfazer-lhe um mundo de obviedades. É, então, em meio a esse emaranhado de perguntas, entre as quais as que não podem ser respondidas aguçam ainda mais a vontade de desvelá-las, que se desenvolve aquela que, em época crucial de sua existência, surgirá à tona de sua mente consciente, não sem angústias e inquietações, normalmente com a questão: “Quem sou eu?”, que logo, trará em seu encalço outras duas: “Para que estou aqui?” e “Para onde irei?”. Está inaugurada, neste ponto, a etapa existencial consciente de todo ser humano. Essa etapa, no entanto, depende daquilo que foi vivido na infância, que é o que veremos a seguir.
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4. INFÂNCIA, A BASE ONDE TUDO É CONSTRUÍDO
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ntes de prosseguirmos, seria oportuno lembrar que o objetivo maior deste trabalho é oferecer uma alternativa para um maior entendimento daquilo a que nos referimos como a necessidade de autenticar-se – necessidade que certamente existe e está presente em cada pessoa. Embora essa seja uma questão adulta, característica de uma maior maturidade atingida pelo indivíduo, as suas raízes estão, como de resto, todas as ambivalências, na infância; desde a do recém-nascido até a do adolescente púbere. Imaginemos uma metáfora: uma casa de espelhos distorcidos, fabricados para produzir risos, num parque de diversões. Conforme as ondulações dos espelhos, diferentes serão as imagens por eles mostradas. Uma pessoa de físico e estatura normais poderá parecer ridiculamente baixa e gorda, se as ondulações forem horizontais. A mesma pessoa, colocada diante de outro espelho, com ondulações verticais, se verá alta e fina como um poste. Essas “falhas” de fabricação dos espelhos é que produzem as falsas e engraçadas imagens, com o objetivo deliberado de produzir alegria e risos, a partir das “caricaturas” refletidas.
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Ironicamente, muitas dessas pessoas que pagam para se divertir diante da própria imagem caricaturizada, são vítimas sofridas de seus verdadeiros espelhos familiares que, por maldade ou por falta de informação, não funcionaram como espelhos planos e sem defeitos, os únicos que podem refletir uma imagem fiel para aqueles que neles precisam se espelhar. Em outras palavras: nossos pais e nossos familiares são os nossos espelhos que devolvem para nós, a imagem que construímos de nós mesmos, durante os anos de nossa formação. Dessa forma, para o bem ou para o mal, nossa primeira identidade será formada a partir dos feedbacks que tivermos recebido de nossos pais, nossos familiares ou de suas figuras substitutivas. Neste ponto, é de importância decisiva, para o ser humano, o fato de ter nascido numa família sadia ou numa família disfuncional. Exemplificando: Se Joãozinho nasceu numa família bem estruturada, com pai e mãe amorosos, compreensivos e incentivadores, capazes de colocar limites com bom senso, sempre que for preciso; e de oferecer colo e conforto, quando isso se fizer necessário, Joãozinho tem todas as chances de se tornar um adulto saudável e emocionalmente equilibrado. Todavia, se Joãozinho teve a infelicidade de nascer em uma família desestruturada, na qual o pai bebe, a madrasta o espanca e, por qualquer coisa o ameaça com impropérios e acusações; com boa dose de possibilidade, Joãozinho carregará pela vida afora o peso da culpa e da baixa autoestima, causados pela sua família disfuncional.
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É bem verdade que, ao atingir a maturidade, Joãozinho poderá compreender que tal fato não é absolutamente determinista e, com boa vontade, eventualmente aliada à ajuda terapêutica adequada e ao desejo de mudar; poderá ter suas feridas cicatrizadas e deixar de viver uma maldição, pois, a vida também nos proporciona, a todos, a oportunidade de sermos os construtores de nossa própria história e identidade. Isso porque, conforme já se encontra fartamente provado, o homem maduro possui dentro de si, sempre presente, o menino, o adolescente e o jovem que foi. Essa constitui uma realidade que não pode ser mudada, a não ser em raríssimas exceções. É bem verdade também que, a despeito de todo esse caos infantil enfrentado por muitos filhos e filhas, a constituição psíquica de cada indivíduo e a maneira como ele interage com a realidade, poderá encaminhá-lo para a direção oposta. Essa é a razão pela qual uma criança nascida em meio ao tráfico de drogas e violência, na Favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, poderá vir a ser um bem sucedido médico ou engenheiro; enquanto uma menina rica, de classe média alta, moradora numa mansão, no bairro do Morumbi, em São Paulo, poderá tornar-se uma ladra ou uma garota de programa. De qualquer forma, no entanto, seja a criança bem ou mal educada; nela estará sendo plantado o gérmen até certo ponto determinante de todo o resto de sua existência. Esse fato terá um peso altamente significativo sobre o modo pelo qual ela enxergará a religião ou a transcendência; e poderá fazer dela um agnóstico, um ateu ou um ser humano com uma atitude respeitosa pelo sagrado, conforme teremos oportunidade de ver adiante. Crescendo com as fases da vida
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5. AS DUAS IDENTIFICAÇÕES
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udo o que dissemos sobre a o período infantil, no capítulo anterior, refere-se ao mundo da criança mais imediato; ou seja, a sua família e a forma como em seu seio foi criada. O que ela absorve e aproveita, nesse período, servirá como matéria prima para a formação de sua identidade (imperativo pelo qual todo ser humano precisa passar) a fim de viver de maneira autônoma ou, em outras palavras, autenticar-se. Essa é, então, a época que chamaremos de fase das primeiras identificações, na qual, como o próprio nome diz, a criança se identifica com valores (que podem ser bons ou maus) de seus pais ou substitutos, os quais serão introjetados por ela. Mais tarde, entretanto, a criança ainda deverá passar em seu desenvolvimento, pela fase das segundas identificações, que envolverá outras figuras importantes e seus valores, fora de seu universo familiar Nesse caso, um professor querido, uma figura da TV, um herói de ficção, um rabino, um padre, um pastor protestante; ou até figuras arquetípicas, como Ghandi, Madre Tereza de Calcutá, Martin Luther King ou o próprio Jesus Cristo poderão servir como modelos que serão introjetados, com maior probabilidade, por ocasião ou logo após a puberdade.
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Essa introjeção será especialmente providencial e assegurará um modelo positivo, caso as figuras parentais não tenham sido modelos apropriados. Nem é preciso pensar muito para se perceber que essas identificações resultarão em cosmovisões individuais diferentes, até ao nível extremo do fanatismo. Mas nada garante que as coisas transcorram exatamente assim. O importante é deixar claro que, quer tenha havido identificações na primeira fase (introjeção dos pais ou figuras parentais); quer tenha havido identificação na segunda fase (figuras referenciais ou arquetípicas), um determinado sistema de valores, uma determinada ética e uma determinada visão-de-mundo serão assumidos pelo sujeito que as introjetou, como sendo necessários à sua autenticação. A questão identificatória, portanto, deve ser vista de uma forma responsável, pois ela é suficiente para explicar de modo plausível a diversidade de pensamentos, a quantidade de códigos de ética e a multiplicidade de alteridades, no mundo pluralista em que vivemos. Pensamos que cabe fazer aqui uma pequena digressão. Sabemos que a criança e todo o seu mundo infantil são regidos por aquilo que Freud denominou de princípio de prazer. Quantos de nós já não vimos, num passeio pelo shopping, uma mãe tentando acalmar, sentada em um banco, seu filho que chora e bate os pés a seu lado, querendo, a todo custo, um sorvete. De nada parecem adiantar os argumentos da mãe, dizendo que a criança não pode tomar o sorvete por causa de seu resfriado e de sua infecção de garganta.
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Às vezes, somente uma atitude drástica e pouco simpática (na visão infantil), impondo limites de uma forma mais efetiva, é que surtirá efeito. A mãe poderá dizer, por exemplo: “Se você tomar o sorvete, voltará a ficar com febre e terá de retornar ao pronto socorro para tomar outra injeção”. A visão mental da enfermeira aproximando-se, com a agulha na ponta da seringa, trará à mente da criança que, se continuar insistindo, correrá sérios riscos de tomar outra injeção (coisa que ela detesta). Então ela pára de chorar. Isso acontece porque ela foi confrontada com outro princípio, conceituado por Freud: o princípio da realidade. É por meio do princípio da realidade que todo adulto, assim como a criança, aprende que o prazer deve ser adiado para uma ocasião mais oportuna. A vida é, portanto, uma sucessão de acontecimentos, nos quais sempre estará intermediando as ações do sujeito para com o objeto ou para com o mundo externo, uma alternância entre o princípio de prazer e o princípio da realidade. Podemos, então, após essa digressão, voltar à nossa linha de raciocínio. Dizíamos que a questão identificatória explica a diversidade de pensamentos e a quantidade de códigos de ética vigentes no mundo plural em que vivemos. Ora, cremos não estarmos incorrendo em equívoco, ao afirmarmos que um indivíduo só pode autenticar-se, ao defender e lutar por alguma ideologia ou por alguma idéia em que creia firmemente. Portanto, em alguma coisa que, não apenas dá sentido à sua vida, como também lhe proporciona, além de muito es-
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forço, prazer. Mesmo que seja um prazer intelectual, ou mesmo um prazer místico. Mas esse prazer somente será válido enquanto, no decorrer da linha do tempo e dos enfrentamentos inerentes à vida humana, puder suportar as adversidades impostas pela realidade. Em outras palavras, é preciso, para manter uma crença ou um ideal que se sustente no espírito do indivíduo, a preponderância, pelo menos em alguns momentos, do princípio de prazer sobre as limitações impostas pelo princípio da realidade. Concluímos, então, provisoriamente, que, em relação à segunda etapa, as identificações acontecem na vida de todos os seres humanos.
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6. AS PRIMEIRAS DECEPÇÕES
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á, na vida de todo ser humano um relógio biológico a ser cumprido. Ele tem início ainda no útero materno e somente terá seu término com a morte.
Citamos como alguns momentos importantes desse relógio: o nascimento, a primeira dentição, a segunda dentição, a primeira e a segunda infância, a puberdade, etc. Entretanto, paralelamente ao desenvolvimento biológico, ocorre também o desenvolvimento psicológico, que igualmente passa por momentos extremamente importantes. Não é o objetivo de nosso trabalho entrar em minúcias do desenvolvimento psicossexual infantil, com suas diversas fases, pois isso seria assunto para outro livro. Basta que deixemos claro o fato de que essas fases precisam ser corretamente atravessadas e vencidas para que o indivíduo cresça emocionalmente sadio. Afora isso, aqui e ali, faremos menção de algumas dessas fases, se isso se fizer necessário para o entendimento do assunto em pauta. Por ora, basta que entendamos que haverá um momento cronologicamente variável, de indivíduo para indivíduo, mas que em geral ocorre após quatorze ou dezesseis anos de idade; no qual os valores aprendidos através das identificações começarão a ser questionados. É importante destacar que, nessa fase, já ocorreu a resolução de uma inquietação psicológica, presente em todos os meninos e meninas, que foi denominada por Freud, de
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Complexo de Édipo3, o que se constituiu num aspecto crucial para a formação da identidade do adolescente. Livre da problemática edipiana, o indivíduo jovem alça vôo para ser ele mesmo, o que, na maior parte dos casos deve ser visto como um período positivo, considerando-se a sua necessidade de auto-afirmação como ser autônomo perante a vida. Ocorre, porém, que essa auto-afirmação coincide (pois tem tudo a ver com ele) com um período de rebeldia e de contestação dos valores até então aprendidos. É, por assim dizer, uma época de turbulência e de revisão de tudo o que foi incorporado nos períodos de identificação, que passa por uma avaliação ou por um crivo da nascente personalidade. Sabemos que essa fase conturbada logo passará e a turbulência terminará com um saldo positivo, pois, a maioria daquilo que foi introjetado permanecerá, fazendo parte do código moral e de ética do indivíduo. Mas, nem por isso, essa fase será fácil e poderá ser atravessada sem certa dor psíquica, uma vez que algo da credulidade e da inocência será perdido e, por conseguinte, alguns valores e crenças serão revistos. É por essa razão que chamamos a este período de fase das primeiras decepções. Essas decepções poderão ser ilustradas, com os relatos a seguir: Júlio, um rapaz de cerca de 20 anos nascera de um romance fortuito entre sua mãe e um homem casado e não fora reconhecido como filho legítimo deste. Recebera pouco amor da mãe que, durante toda a sua infância estivera ocupada em manter o seu romance com seu pai. A princípio, identificou-se com seus meio-irmãos que, de certa forma, supriram a ausên3
Época da vida em que a criança, inconscientemente, sente-se atraída pelo progenitor do sexo oposto e sente o progenitor do mesmo sexo como rival.
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cia paterna. Mais tarde, a identificação foi feita com um professor do ginásio, a quem muito admirava e, em cuja matéria ia muito bem, recebendo elogios e incentivos, por parte do mesmo. Embora fosse católico, nos anos de sua pré-adolescência converteu-se ao protestantismo e sentiu que, pela primeira vez na vida, tinha verdadeiros irmãos, e um Pai amoroso e bom, com o qual podia “falar” e no qual podia confiar. Na medida em que os anos foram passando, Júlio esmerou-se em ser um cristão exemplar, até que algo veio perturbar a sua fé. Ao dar início à leitura do Velho Testamento, encontrou as narrativas de um Deus irado e vingativo, cuja imagem não se coadunava com o Jesus bom e misericordioso que havia conhecido.
Embora haja aqui implicações claras entre a imagem que construiu de Deus a partir da leitura bíblica e a imagem de seu próprio pai, que não o reconhecera como filho, o caso deixa evidente a primeira decepção que Júlio veio a ter com a fé que aceitara. Com o auxílio da psicoterapia, eventualmente Júlio conseguiu harmonizar a figura de Deus com a figura de Cristo e prosseguiu em sua fé. Isabel, uma jovem universitária de 22 anos, embora muito bonita e com olhos vivazes, revelou-se, em sua primeira sessão, profundamente deprimida e desalentada em prosseguir seu curso na área de Humanidades. Filha única de pais amorosos, Isabel, desde muito cedo, revelou-se possuidora de um caráter pacífico, que se importava com as demais pessoas. Admiradora de figuras pacifistas e possuidora de uma alma muito sensível, tinha, desde criança, uma admiração pela figura de Ghandi, a quem sempre teve como herói. Em seu segundo ano de faculdade, Isabel sofreu um choque, ao tomar ciência de que Ghandi tratava com muita rudeza, sua esposa e filhos. Crescendo com as fases da vida
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Como no caso de Júlio, Isabel vivenciou, na faculdade, uma primeira decepção que abalou seu sistema de valores, respaldado em sua índole, aprendida dos pais e de uma figura arquetípica, posteriormente introjetada. Ao término da terapia, Isabel saíra da depressão, e embora reconhecesse os seus méritos, não mais nutria pela figura de Ghandi, a admiração anterior. Esses dois exemplos, ainda que resumidos, servem para mostrar-nos que as mudanças estão se processando. E que elas darão ensejo à estruturação de uma nova (e diferente para cada indivíduo) visão-de-mundo. Esse é o assunto do qual nos ocuparemos, a seguir.
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7. ESTRUTURAÇÃO DA NOVA VISÃO-DE-MUNDO
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destino do homem é caminhar sempre no sentido da maturidade. É somente ela que poderá trazer-lhe a sabedoria que lhe conferirá a tão almejada autenticação, que não advém apenas dos bancos de escolas. Advém muito mais da escola da vida. Desse modo, pode-se dizer que nada na existência é por acaso. Tudo tem um sentido e leva a um fim: o crescimento do ser humano. Olhando-se por esse prisma, percebe-se que tanto os fatos da infância, que redundaram em identificações e introjeções imediatas e posteriores; assim como as contestações e pequenas “revoltas” que ocorrem posteriormente, possuem, na verdade, um objetivo. Esse objetivo nada mais é do que a formação da identidade e a emancipação do ser humano de seus traços infantis. Isso, dito assim em algumas linhas pode até sugerir que estejamos falando de alguma coisa fácil de ser conseguida, uma mera etapa a ser cumprida. Mas, na realidade, constitui uma verdadeira guerra, que contém em si pelo menos duas grandes batalhas: a batalha do homem contra o menino e seus pensamentos infantis acerca do mundo; e a batalha contra si mesmo – a aceitação do próprio mundo negro de sua personalidade. Na primeira batalha precisam ser eliminados todos aqueles traços do egoísmo e do narcisismo infantil, que faziam com
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que se tivesse a impressão de que o mundo girava ao redor do próprio umbigo. Já na segunda, exige-se mais coragem: nela o jovem adulto terá de admitir suas incoerências e ambigüidades, o seu desamparo perante situações da vida que fogem a seu controle. Terá também que enfrentar os seus próprios fantasmas, confrontar os seu medos e, dar-se conta de que por baixo da bela sala de estar de suas verdades aparentes residem os negros porões de sua alma (ou, a chamada sombra, conceituada por Jung4) com toda espécie de trastes e entulhos que sua mente consciente, até então não dera conta de suportar. É o momento de admitir as imperfeições, de se dar conta de que juízos de valor geralmente encerram preconceitos, de perceber que, por detrás do que é privilegiado como educado e intelectual, esconde-se uma forte e recalcada natureza instintual. Essa guerra é, portanto, difícil; e não são poucos os que adoecem emocionalmente por não conseguirem vencê-la a contento. Todavia, depois de passado todo esse vendaval, as irrealidades começam a ser eliminadas, os porões da alma começam a ser ventilados, os preconceitos, à custa, vão sendo postos por terra, a inflexibilidade herdada da adolescência começa a ser revista e o ser humano passa a ter condições, então, de abrir-se para uma nova visão-de mundo. É bem verdade que, nessa etapa, ele, com certeza é ainda jovem, em sua idade cronológica. Mas, passa a ter consciência das profundas mudanças que em si se operou.
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JUNG, Carl Gustav, O eu e o inconsciente, 21ª Ed, Vozes, Petrópolis, RJ, 2008, pg. 113
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Está mais flexível, menos contestador e mais afável. Sabe que compreende melhor o mundo e por ele é compreendido. Poderia se dizer que tem um vislumbre de que seu sistema mental e psicológico amadureceu. E, embora não se dê conta que, essa guerra ainda não foi a batalha final, adquire uma nova perspectiva. Melhor, mais estável, mais tolerante e, portanto, mais feliz. Isso ensejará um período de bem estar para com o mundo e para consigo mesmo. Pensamos, então, que não será improdutiva aqui mais uma pequena digressão. Ela servirá para nos mostrar que autenticar-se, no mundo pós-moderno não mais comporta o racionalismo iluminista, que considerava a razão, como o único ente digno de confiança e os afetos e sentimentos dignos de desprezo. Erich Fromm, ao referir-se aos filósofos iluministas, diz: “Eles não viram, conforme Spinoza vira, que afetos, como o pensamento, podem ser tanto racionais quanto irracionais, e que o pleno desenvolvimento do homem requer a evolução de ambos, pensamento e sentimento. Não viram que, se o pensamento do homem for dissociado de seu sentimento, tanto o pensamento como o sentimento ficarão deturpados, e que a visão de homem, baseada na admissão de tal dissociação também será deturpada”5
Esse é um trecho em que Fromm fala da convicção de Freud em manter em seus estudos e pesquisas uma atitude estritamente racional, estribada no método científico (nesse tempo, o pai da psicanálise era ainda muito jovem, embora tal posição não mudasse no decurso de toda a sua vida). Hoje, no entanto, tal concepção de mundo não é mais aceita, uma vez que enxerga o indivíduo como um ser uno, no qual razão e emoções não podem ser vistas dicotomica5
FROMM, Erich, A missão de Freud, Zahar Editores, Rio de Janeiro, RJ, 5ª Ed, pg. 16, 1969.
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mente, assim como mente e corpo possuem a mesma unicidade – pressupostos que estamos levando em conta na confecção do presente trabalho. O que só corrobora a conclusão de que a elaboração de novas cosmovisões e o amadurecimento da nascente identidade autônoma de que tratamos neste capítulo, constituem um empreendimento de extrema coragem. Veremos, no próximo capítulo, alguns aspectos característicos da vivência desse período da existência humana.
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8. A VIVÊNCIA DE ACORDO COM OS PRINCÍPIOS ADOTADOS
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mbora haja sempre exceções, o ser humano cumpre neste mundo a sua função natural, pré-determinada pela natureza, que, em última instância, é contribuir com a sua parcela de responsabilidade para a perpetuação da espécie. Tal missão poderia ser exatamente como acontece com os demais animais sexuados, se o homem não fosse um ser civilizado. A civilização tem suas vantagens, mas também possui preços a serem pagos. Um desses preços é o ter de cumprir com o script imposto pela sociedade, e que, na verdade engloba em sua pretensão, as formas, os limites e as expectativas das identificações e introjeções que moldam a identidade de cada indivíduo, conforme temos visto até aqui. Em outras palavras: embora cada criança, para tornar-se um adulto independente, precise crescer biológica e psicologicamente; tal crescimento só se dará no contexto do grupo social maior, que estará sendo levado em conta o tempo todo, para a estruturação das regras e dos princípios por ela adotados em sua nova concepção de mundo. Assim é que, em linhas gerais, em nossa sociedade ocidental, o jovem deve estudar e fazer a escolha de sua profissão; estruturar-se profissionalmente, estabelecer-se financeiramente, para, só então, começar a pensar em casamento.
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É dentro do casamento monogâmico onde deve ocorrer, idealisticamente falando, a sexualidade e a geração de filhos, que passam a ser educados no contexto da família. Essa fórmula - devemos destacar - tem sofrido profundas modificações nos últimos anos, uma vez que o conceito de família atual pode ter uma imensa gama de significações, até ao ponto de cônjuges divorciados e com filhos, casarem-se novamente e, em pouco tempo, referirem-se à prole como: os meus, os seus e os nossos. Por outro lado, todos sabem das mazelas que se apresentam como verdadeiras patologias sociais e que, a cada dia, nos fazem descrer mais e mais desse desenvolvimento ideal de que temos falado. A mídia apresenta-nos, diariamente, o retrato nu e cru de um mundo no qual o próprio processo civilizatório corroeuse, em suas bases. O fantasma da pedofilia, a utilização de mão de obra escrava, o tráfico de drogas, a prostituição infantil, o processo de favelização das grandes cidades, a corrupção que atinge todas as esferas do poder e a ausência dos antigos valores transcendentes são apenas alguns exemplos dessa corrosão. Todavia, a despeito disso tudo, o mundo segue o seu curso e essa é a razão pela qual, os seres humanos ainda lúcidos vivenciam suas vidas, de acordo com os princípios introjetados, que tem sido e continuarão sendo o objeto de nossa reflexão neste trabalho. No próximo capítulo veremos como a maturação continua e como, como as águas da ressaca, acabam desaguando no processo da chamada segunda adolescência.
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9. A SEGUNDA ADOLESCÊNCIA: PROVÁVEIS NOVAS DECEPÇÕES
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emos tratado, até aqui, do processo de maturação biopsicológico por que passa o ser humano, desde o seu nascimento até a adolescência; e daí até a tornar-se um adulto jovem. Por essa ocasião, ele já terá passado pela primeira e segunda identificações e vivenciado o lapso de tempo que imaginamos como sendo uma espécie de período de latência6 ao contrário. Estamos nos referindo, portanto, a uma longa e produtiva época da vida, na qual acontecem profundas mudanças no indivíduo. Nela, ocorrem as conquistas e realizações, antes, apenas sonhadas. Por esse tempo, provavelmente, ele já estará casado e terá vivenciado plenamente sua sexualidade. Com certeza, terá experimentado também a paternidade ou a maternidade; estará realizado profissional e socialmente; terá atingido metas e objetivos traçados anteriormente, como a aquisição da casa própria, a realização “da viagem dos sonhos” e, não raramente, o acúmulo de considerável soma de dinheiro7. Como se percebe, falamos da fase que coincide com aquela que é vista e vivida como a mais feliz para grande parte das pessoas, nascidas em países do mundo ocidental. 6
Época do desenvolvimento psicossexual estudado por Freud durante o qual a criança, geralmente entre os 6 e 11 anos de idade, deixa de sentir desejo inconsciente pelo genitor de sexo oposto, nutrindo por ele apenas afetos de amor e de ternura. 7 Evidentemente, aqui, estamos nos referindo a um indivíduo em situação, de certa forma, privilegiada; ou por já possuir bens de raiz, ou por ter sido bem sucedido, nas situações adversas da vida.
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É claro que, nem sempre isso é assim, mas, em geral, essa quadra da existência humana é tida como um período de bonança e de desfrute daquilo que se conseguiu amealhar, ao longo do período de vida já vivido, ao mesmo tempo em que novos planos e objetivos continuam a ser feitos. Mas, como veremos, nem tudo são flores nesse tempo, uma vez que a conquista dos valores visíveis que podem ser vistos e ostentados, como que cega o ser humano para os valores mais altos que, embora não tangíveis, são os que enriquecem o espírito. Por isso dizemos que até a metade da vida, o ser humano acumula bens que nutrem o corpo, envaidecem o ego, mas deixam faminta e sedenta a alma que, desnutrida, se atrofia, perdida dentro de si mesma. E, uma vez que valores transcendentais há muito deixaram de ser de “bom tom” no mundo pós-moderno, o homem que nele vive, mesmo sendo cedo bem-sucedido na vida, logo terá de enfrentar percalços e dificuldades que vêm trazer turbulência à sua aparente paz. Inicia-se, por assim dizer, segunda adolescência. Essa é uma época que faz-nos refletir no fato de que somos todos novatos na vida. Ela constitui uma viagem que nunca fizemos antes e, portanto, desconhecemos os caminhos e ignoramos cada curva da estrada. Em cada guinada que damos, somos surpreendidos por dilemas e questões sobre os quais nunca havíamos pensado antes, ainda que tenhamos a intuição verdadeira de que os nossos ancestrais, sem dúvida, já os vivenciaram, com soluções bem diferentes das nossas. Além disso, quando vivemos a nossa primeira adolescência, tínhamos o respaldo de mentores e da escola. Mas, na épo-
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ca da segunda adolescência, chegamos a ela neófitos e completamente despreparados. É sozinho que o ser humano se dá conta de que o tempo passou, os filhos cresceram, a aparência mudou e o outono da vida chegou. O espelho mostra um rosto começando a vincar, uma cabeça já um tanto calva ou, na melhor das hipóteses, os cabelos grisalhos avançando. Em alguns casos, o cardiologista passa a ser solicitado; a visita ao urologista ou ao ginecologista passa a ser obrigatória e o homem ou a mulher começam a sentir saudades de seu tempo de criança. Novos sentimentos e novas sensações passam a fazer parte da vida: estresse, insônia, fobias, lapsos de memórias são preocupações novas, em meio ao corolário de outras tantas – que trazem consigo um impreciso e confuso sentimento de desamparo. De repente, perde-se um amigo querido que parecia ter a vida toda pela frente. Não foi doença, não foi acidente, foi simplesmente a morte. Dá-se conta, então, de que a vida não é resistente como um diamante, e sim frágil como as asas de uma borboleta. É quando o homem, até então imponente, percebe que o carro de luxo na garagem e a conta bancária avantajada quase nada significam diante do ocaso da vida, não obstante ele poder estar distante, ainda. O homem, por vezes, não percebe; mas a verdade é que ele está vivenciando a segunda adolescência e é preciso ter coragem para vencer mais esse período conturbado da existência neste planeta.
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10. CAUSAS E EFEITOS DA SEGUNDA ADOLESCÊNCIA
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leitor há de lembrar-se dos períodos de turbulência de sua primeira adolescência, aquela época em que não se deseja ser mais criança, mas que ainda não se consegue ser um adulto. Houve mudanças físicas, um significativo aumento do sistema músculo-esquelético. Mas, sobretudo, houve um fenomenal incremento hormonal (testosterona, nos meninos; progesterona e estrogênio, nas meninas) que, além das transformações físicas, trouxe consigo outras, não menos importantes, de caráter emocional. A conseqüência foi uma mudança radical no rumo dos interesses e nas fugazes mutações das ideologias e das formas de se enxergar o mundo, nas quais não faltaram extremismos que beiravam o fanatismo. Pois bem, esse inesquecível e turbulento período da vida humana é exatamente o protótipo de sua segunda adolescência que ocorre, mais ou menos, entre os 40 e 50 anos de idade. Com a diferença de que, aqui, o que determina as mudanças é, não o incremento; e sim o decréscimo da produção hormonal. O homem começa a perceber que sua libido parece já não ser a mesma; o mesmo acontecendo com a mulher. A natureza já cumpriu a parte mais importante de sua missão e agora retira o pé do acelerador.
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Eventualmente, a depressão pode avizinhar-se. No homem, por algum grau de disfunção erétil. Na mulher, pela entrada no climatério e, posteriormente, na menopausa. Embora os dois exemplos do parágrafo anterior já não constituam mais um fantasma, eles continuam a assustar, mesmo que as preocupações que despertam sejam mais de ordem emocional do que físicas. Todavia, ainda que assim fosse, existem fármacos muito eficazes para o tratamento da disfunção erétil, para o homem; e uma eficiente reposição hormonal para as mulheres. Acontece que problemas de outra ordem começam a pipocar. E eles não apenas parecem ser como, de fato, são mais importantes do que aqueles que têm a ver apenas com a saúde física, com o sucesso no trabalho, ou com a eventual conquista de fama. O homem, na metade da existência e, de repente, se dá conta de que está sofrendo de alguma coisa que lhe parece, por vezes, muito difícil de ser identificada. O que ele sabe se resume apenas no que sente. E o que ele sente é descrito, freqüentemente, com uma sensação de vazio, uma espécie de solidão e uma perda de significação. Ele olha para si mesmo e fica-lhe ainda mais difícil perceber a razão dessa crise que está vivendo. Não é raro que constate ter conseguido atingir todos os objetivos com os quais sonhara nos tempos de sua juventude. Obteve sucesso na carreira, galgou todos os postos que desejava, foi exitoso e ganhou muito dinheiro. Não se vê, de modo algum, como um derrotado. Mas não pode evitar a pergunta que, em geral, é traduzida por estas palavras: “De que vale tudo isso?” Crescendo com as fases da vida
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Aos poucos, não sem sofrimento, vai aflorando à sua consciência alguns pensamentos ainda tênues, mas que, com o passar do tempo vão assumindo contornos mais nítidos até que; enfim, se for bem sucedido em sua sondagem interior, percebe que o que sente provém de, pelo menos três áreas de sua existência. A primeira delas desperta-o para a realidade de que tem subordinado a sua vida às sucessivas demandas de funções exercidas. Dá-se conta de que não foi percebido como um homem, mas como: um assistente de projetos, um projetista sênior, um gerente de projetos e um diretor. Isso, agora, o assusta, pois lhe parece muito insignificante ter a própria essência do estar vivendo, reduzida a uma mera funcionalidade, própria do mundo do trabalho e dos negócios. Percebe-se, então, com o sentimento incomum de não ter identificado as dimensões que a vida comporta. Sua sensação poderia ser comparada à de um homem que, ao analisar um mapa cartográfico, percebeu e dimensionou apenas como uma ilha, toda a imensidão representada por um continente. A segunda refere-se a sua perda do senso de ser, na medida em que se percebe como sendo apenas mais um na massa amorfa e coletivista de nossa cultura. Dá-se conta de que sua vida foi moldada por modelos préestabelecidos e de que sacrificou o que é verdadeiramente genuíno, em detrimento daquilo que era tido como politicamente correto ou que, de alguma maneira, valorizava-o mais diante das outras pessoas. Foi apenas mais uma vítima, levada de roldão pelo conformismo generalizado, vigente em nossa sociedade. Tem, assim, a sensação de haver traído a si mesmo exatamente no que lhe era mais legítimo e mais ansiado por sua Crescendo com as fases da vida
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essência para a autenticação de seu ser como pessoa de significado e significação, perante a própria existência. E, finalmente, em terceiro lugar, dá-se conta de que dimensionou demais a sua racionalidade na conquista de seus objetivos, negligenciando quase que totalmente as coisas da alma, que agora, percebe faminta. Relembra toda a energia que gastou e todo e tempo que despendeu com o objetivo de ganhar dinheiro. Percebe que investiu pouca coisa ou quase nada no enriquecimento de sua alma e na elevação de seu espírito. Pode contar nos dedos das mãos quantas vezes se permitiu assistir a um concerto musical, a uma peça de teatro, a uma representação lírica ou a um culto religioso. A mesma coisa se pode dizer sobre suas leituras que, durante décadas, foram apenas de ordem técnica e acadêmica. Quando foi a última vez que passou um fim de semana ou um dia sequer de suas férias anuais, mergulhado e absorto na leitura de um bom livro de ficção? É, mais uma vez, obrigado a constatar a sua falta de cuidado para com o seu próprio ser. Reconhece que, em questões literárias, filosóficas e existenciais não passa de um analfabeto, pois aquilo que até agora lhe parecia apenas “perfumaria” ou pura perda de tempo, faz-lhe enorme falta para nutrir a sua alma. De repente, na metade da existência, dá-se conta desses estranhos questionamentos que afloram à sua consciência e que o intrigam e o assustam. Faz a constatação de que a tudo aquilo que até agora viveu pode não ter sido o ideal. Novamente, arrepia-se em pensar que gastou anos e anos de sua vida indo e vindo para o trabalho, cumprindo as mesmas enfadonhas funções e participando das mesmas infindáveis reuniões. Crescendo com as fases da vida
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Tem a estranha sensação de que os filhos cresceram e ele nem percebeu. Sente culpa e é tomado por um sentimento de insegurança e de um estranho desamparo. Percebe que o que está fazendo, afinal, é um importante balanço da vida. Percorre novamente, com a mente, a estrada da existência que já percorreu, começa a se perguntar se é um fracassado ou um vencedor. E, num ímpeto de realismo, imagina com mais seriedade a morte e a fragilidade da existência. Faz uma projeção forçada de quanto tempo de vida ainda lhe resta neste planeta. Inseguro e incerto como o menino adolescente que já foi uma vez; certamente sofrendo, começa então a vislumbrar a sua vida sob outras perspectivas e o mundo sob novas óticas. Chegou, afinal, a seu momento maior de crise existencial. Não sairá dele da mesma forma. Ou seguirá o mesmo caminho, muito mais amadurecido; ou dará uma guinada de cento e oitenta graus, mudando radicalmente.
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11. O DESPERTAR PARA UMA NOVA VIDA
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amos início a este capítulo, contando uma estória que, há muitos anos, lemos em um velho livro:
“Dizem que um famoso pintor, ao chegar certa manhã em seu local de trabalho que ficava no segundo andar de um velho sobrado; ao abrir as janelas de seu atelier, surpreendeu-se com a figura de um pobre mendigo que, sujo e cercado de moscas, dormia sobre a calçada, do lado oposto da rua. O pintor imediatamente teve uma inspiração: tomou rápido dos pincéis e das tintas e, com traços precisos, começou a retratar numa tela, o mendigo. Demorou-se, deliciado, na confecção de sua obra. Mas, subitamente, ocorreu-lhe uma idéia, que passou imediatamente a pôr em prática. Esticou, no retrato, o rosto do pobre homem, colocou-lhe na boca um leve sorriso, transformou os seus olhos fundos e abatidos em outros, brilhantes e vivazes, dando-lhe, no conjunto, uma aparência bonita e jovial. Satisfeito com a sua obra, ocorreu-lhe mostrá-la ao mendigo, a quem logo mandou chamar, para ver-lhe a reação. - Reconhece este homem? – perguntou o pintor ao mendigo, colocado diante de seu próprio retrato. Após observar a pintura por longos momentos, percebendo nela algo de si, de repente o homem esboçou um sorriso e murmurou, ainda perplexo: - Poderia ser eu?...Sou...eu? - Sim – respondeu-lhe enfaticamente o pintor – este homem é você mesmo!
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Depois de respirar profundamente, o mendigo aprumou o corpo, endireitou as pernas, levantou os ombros e disse ao pintor, num largo sorriso: - Se este é o homem que o senhor vê em mim, este é o homem que, de hoje em diante, serei!”
Pois bem, prezado leitor, embora sejam muitas as transformações que podem ocorrer na “segunda adolescência do homem”, a mudança retratada na estória acima simboliza muito bem a intensidade desse fenômeno, característico do ser humano. No caso ilustrado, houve uma mudança (ou, no mínimo, uma pretensão de mudança) para melhor no ser humano retratado. Essa, como dissemos, é uma das possibilidades dentre as duas que podem ocorrer com alguém que esteja saindo da segunda adolescência. A outra é radicalmente oposta: Após esse período de turbulência, o indivíduo (homem ou mulher) como que percebe que não viveu como gostaria. Nesse caso, é possível que tome atitudes drásticas para corrigir o que entendeu ter sido o equívoco de sua vida: Pode, por exemplo, pedir demissão do emprego, lançar-se com ardor numa nova profissão em que se sinta desafiado (a), divorciar-se, permitir-se apaixonar novamente, contrair novas núpcias e mudar completamente o seu estilo de vida. Qualquer seja a escolha que venha a fazer, ela trará conseqüências que se refletirão diretamente na vida que tinha anteriormente. Sejam elas consideradas positivas ou negativas, serão enfrentadas corajosamente, pois o homem ou a mulher, neste período de sua vida, julga nada mais ter a protelar. E, embora o tempo tenha passado, não é por acaso que o nome escolhida para designar esta fase seja segunda adolescência, pois esse tempo será vivido com o mesmo ardor Crescendo com as fases da vida
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e a mesma paixão, que caracterizaram a sua primeira adolescência. Para o bem ou para o mal, tem início aqui, o principal período de mudanças demandado para a autenticação do ser humano. Na seqüência deste trabalho, veremos um pouco mais detalhadamente aspectos dessa “segunda natureza”, vivenciada pelo indivíduo, no curso de sua existência.
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12. A SEGUNDA ADOLESCÊNCIA – DUAS POSSIBILIDADES EM PERSPECTIVA
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emos nos esforçado até aqui em mostrar, ainda que, em rápidas pinceladas, todo o processo que chamamos de maturação, o qual o ser humano precisará viver, a fim de conseguir emancipar-se e cumprir o seu papel de pessoa realizada, em sua passagem por este planeta. Nessa caminhada, acabamos por perceber que a vida, ainda que perigosa, é plena de possibilidades, mas que existem critérios e exigências para que o indivíduo se torne capaz de realizar suas mais íntimas potencialidades. Entre o ostracismo e o reconhecimento; entre a depressão e a realização, entre a inércia e o estar em movimento e, afinal, entre o sentimento de estar perdido e a autenticação sempre existe uma ponte e, para atravessá-la, apenas uma condição é requerida de quem quer aventurar-se a ser feliz e autenticar-se na vida. Essa condição chama-se CORAGEM. Que ninguém, nesse rito de passagem, se engane. É preciso ter coragem para dar um salto do escuro na aventura de uma nova vida totalmente diferente, sob novos paradigmas. Mas é preciso ter coragem também para fazer apenas uma transição leve de acomodação e assentamento na vida, agora vista sob nova perspectiva Ambas as possibilidades são possíveis, ambas são passíveis de serem escolhidas como a nova estrada, ambas são váli-
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das para o encontro da realização e da felicidade humanas e ambas precisam superar o medo e a estagnação. Os que resistem a fazer essa transição não discerniram que ela é uma imposição ditada pelo relógio biopsicológico da vida, assim como a adolescência, a menarca e o aparecimento dos dentes do siso. Em outras palavras: chegar, vivenciar e atravessar a segunda adolescência é algo que, por estranho que possa parecer, é natural; e constitui mais uma das inúmeras contingências humanas que mexem com o corpo e com a alma de quem a esteja vivenciando. Nesse rito de passagem, como a ela temos nos referido, tudo pode ser visto como “permitido”, ainda que precisem ser respeitados a dignidade e os princípios éticos que tenham a ver com o bem estar das pessoas que dela indiretamente participarão. De outra forma, por mais feliz e realizada que a pessoa possa passar a se sentir, cedo ou tarde sua consciência lhe cobrará um alto preço, por negligenciar aqueles que sempre lhes foram caros. Ditas essas coisas, podemos nos aprofundar um pouco mais no lado prático dessa fase existencial, que alguns chamam de a idade do (a) lobo (a), talvez pelo valor simbólico que esse animal tem no imaginário popular 8. A evocação da imagem do homem lobo e da mulher loba logo desperta em nós a lembrança de alguma pessoa que esteja atravessando a fase dos 40 anos que; de pacato pai de família ou de acomodada dona de casa, de repente passa como que por um furacão, que geralmente tem início por reais ou imaginárias insatisfações dentro do casamento.
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Para Jung, a simbologia de animais nos contos sugere a natureza instintiva e primitiva do ser humano.
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O estereótipo que construímos é o de um homem que, de uma hora para outra, passa a ser um Don Juan, ávido por fazer novas conquistas ou a de uma mulher que se torna coquete e sedutora. Acontece que essa imagem construída nem sempre é apenas um estereótipo, pois, como já deixamos claro antes, a mudança radical é mesmo uma das duas possibilidades; mas as coisas não precisam ser exatamente como descritas no parágrafo anterior. Tornar claro esse ponto é uma dos principais objetivos da escrita deste trabalho. Por isso, veremos, a seguir, cada uma das possibilidades, relembrando, antes de tudo, que a despeito da profundidade das mudanças que a segunda adolescência pode provocar, ele constitui como a primeira, apenas um período que passa. A turbulência certamente terminará e chegará logo o dia em que as coisas se assentarão outra vez.
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13. PRIMEIRA POSSIBILIDADE: PERÍODO DE MUDANÇAS RADICAIS
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esejamos, nesta fase de nosso trabalho, fazer algumas considerações. Lembramos que, a priori, como nos referimos anteriormente, tratamos de um período da vida que deve ser considerado natural, como a menarca ou o nascimento dos dentes do siso. Por outro lado, não é possível desconsiderar que falamos aqui do homem, um ser condicionado pela civilização e suas regras. Portanto, não se pode separar o social do que é meramente biológico. É importante ressaltar esse detalhe, haja vista o ser humano possuir relógios existenciais diferentes para marcar o seu tempo de aptidão para a reprodução (logo após a puberdade); para o casamento (no geral, entre os 20 e 30 anos) e para a sua realização/autenticação (entre os 40 e 50 anos). Acontece que o segundo tempo acima mencionado, o de aptidão para o casamento leva em conta apenas aspectos sociais (estudos concluídos, carreira escolhida, atividade laborativa condizente); mas não a aptidão emocional ou psicológica, dificilmente já atingida nessa época da vida. É claro que existem as exceções e, graças a elas, alguns casamentos dão certo. Mas, no geral, o que se vê nesse período, é o florescimento do chamado amor romântico (altamente idealizado) e da paixão, que é um sentimento com prazo determinado para acabar.
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Quando um casal se enamora por essa época da vida; sem dúvida cada um de seus componentes estará projetando no outro todas as suas idealizações. Os planos sobre a vida futura, os sonhos, os objetivos estarão, dessa forma, sendo feitos em bases equivocadas (distorcidos pela paixão e pelas idealizações). Pois é exatamente sobre essas bases que os noivos se casam, tornam-se marido e mulher. Ainda é sobre elas que vem o primeiro, o segundo e, talvez, até o terceiro filho. É claro que a vida real de trabalho, altamente competitiva, aliada às responsabilidades dos novos papéis de esposo-pai e esposa-mãe, irá colidir de frente com todas as idealizações. A impressão que cada um dos cônjuges tem é a de que o outro “mudou muito”, mas a realidade não é bem essa. A realidade percebida somente agora, quando a paixão já não é a mesma de antes, é que se pode enxergar o outro pela primeira vez como realmente ele é; e não mais com o viés das idealizações. Claro que essa percepção não deixa de ser decepcionante, mas não suficiente ainda para romper o vínculo matrimonial. Afinal de contas, é comum ainda existirem sonhos de felicidade juntos, muito investimento emocional foi feito e, mais do que tudo isso, existe a preocupação com a educação dos filhos; fatos que validam a continuidade do investimento. Mas a roda do tempo não pára. Os anos passam rapidamente e quando o casal se dá conta, os filhos estão crescidos, possivelmente já na universidade; aproxima-se (se é que já não ocorreu) a comemoração das bodas de prata, os hormônios estão em fase de decréscimo, acumulam-se decepções, a paixão apagou-se há muito – fatos inequívocos
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como prenúncio de que a época de balanço da vida é chegada. Tanto o homem quanto a mulher chegam à conclusão de que se casaram cedo demais, que a paixão desapareceu e que o amor não pôde virar companheirismo e que, portanto, vivem apenas uma vida de hipocrisia, que não pode continuar. Um casal vivendo essa situação, depois de analisar os fatos; freqüentemente, decide não mais permanecer junto. Discute-se, então, a guarda dos filhos, a partilha de bens e a separação, que posteriormente, será convertida em divórcio, o que, nesta altura da existência, é vista por muitos como uma guinada de 180 graus. Aqui, embora ocorra um significativo período de luto, realmente pode acontecer o que foi definido lá atrás como a idade do (a) lobo (a), que abrange uma fase de intensa procura por um novo amor, por alguém que, de fato, venha complementar a vida. Desta vez, contudo, se os ex-cônjuges aprenderam a “lição de casa”, a escolha não será feita de forma fortuita, idealista ou imatura. É com muito cuidado, com precaução para não se machucar, muito mais exigente, pisando o terreno firme da maturidade e consciente do que realmente busca que o homem e a mulher poderão entrar numa segunda relação para a vida, cuja solidez e comprometimento constituirão o solo firme para a auto-realização pessoal e, portanto, para a autenticação tão buscada na vida. Embora uma solução como essa possa parecer drástica demais para a maioria de nós e a despeito dessa situação nem sempre ser resolvida dessa forma; as estatísticas de-
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monstram que a grande parte dos casamentos termina desse modo e por essa época da vida. De qualquer maneira; essa é mais uma contingência trazida pela pós-modernidade e, a despeito de representar mais ou menos sofrimento, o fato é que o ser humano, homem ou mulher, caminha a passos largos em busca de sua autenticação.
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14. A OUTRA POSSIBILIDADE: UM PERÍODO DE AJUSTES E ACOMODAÇÕES
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erminamos o capítulo anterior mencionando o período pós-moderno que estamos atravessando e chegamos a falar dele, no início deste trabalho, como uma época em que, na verdade, ocorre um choque de civilizações. Uma das conseqüências características de um tempo como esse é a supervalorização do material, isto é, a busca por valores financeiros, poder e prestígio, valores que podem ser ostentados como símbolos de sucesso. Mas, não raro, os anos da meia-idade levam também a uma reflexão que pode redundar em algo completamente diferente. O homem ou a mulher sabe que trabalhou muito, correu atrás de conquistas profissionais e notoriedade. No entanto, a despeito de ter alcançado a maior parte de seus objetivos, percebe que, de repente, o seu entusiasmo desapareceu. Depois de analisar todas essas questões e passar em revista as suas realizações, parece haver um insight que pode levar à conclusão de que a vida tem de ser mais do que isso. Intuem-se, nessa análise, valores, sentimentos e atitudes que podem ser resumidos em apenas duas palavras: falta e omissão.
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Percebe-se a falta de amigos, de pequenos prazeres como a leitura e um bom livro, de contato com a natureza e de conhecimento do próprio interior. Por outro lado, conscientiza-se também da omissão cometida junto ao cônjuge, aos filhos, à família de origem, aos vizinhos e às pessoas da comunidade. Lembremos que falamos aqui também de pessoas que estão vivenciando o furacão causado pela meia-idade, com todos os seus questionamentos, incoerências e ambigüidades. Como as do capítulo antecedente, também se casaram com base em idealizações, passaram pelas mesmas experiências e, com certeza, tiveram, como não poderia deixar de ser, as suas decepções. Mas para estas, a chegada da idade do (a) lobo (a) não significa conflitos tão importantes que venham provocar algo tão radical, como a ruptura do casamento. Há conflitos contundentes, há perguntas que exigem respostas, Há, enfim, a consciência de que alguma coisa está errada e precisa urgentemente ser mudada. Não é raro a procura de um conselheiro, de uma pessoa sábia ou de um psicoterapeuta. Os esforços são dedicados, no entanto, à reconstrução do que eventualmente se desconstruiu e ao soerguimento do que possa ter desmoronado. O homem sente a necessidade de tornar-se emocionalmente mais próximo de sua mulher e dos seus filhos. A mulher, geralmente, mais sensível, intui a mudança do marido, e procura se conectar a ela, visto que é algo que no íntimo de seu ser, pode realmente desejar.
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Ocorre, então, uma metamorfose. Marido e mulher deixam de ser dois estranhos vivendo debaixo do mesmo teto. Começa a haver prazer e empatia entre eles e aquilo que era considerado meramente de caráter doméstico deixa de ser uma obrigação para ambos. A vida comum passa a ser apreciada, começa a acontecer uma agradável troca de sentimentos, idéias, sonhos e as prioridades passam por uma reorganização total. A alma dos cônjuges, como que ganha vida nova, os filhos passam a conviver com pais cheios de paixão e passam a sentir que podem contar com eles em suas vitórias e fraquezas, uma vez que se sentem agora parte de uma família real. Como se percebe também aqui, a segunda adolescência se fez presente, os alicerces da relação chegaram a ser sacudidos pelo vendaval de sentimentos ambivalentes, mas não chegaram a ser abalados, a ponto de se desmoronar. Houve ajustes de ambos os lados, houve perdas e ganhos de ambas as partes, mas, sobretudo, houve uma acomodação para melhor, como a terra que se acomoda, depois de um terremoto. Embora por um caminho bem diverso, também aqui houve a autenticação tão desejada e o resultado dela será, sem dúvida, a continuidade de uma vida mais profícua, mais feliz e mais realizada.
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15. A CHEGADA DO OUTONO DA VIDA
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á apenas algumas décadas, quando sobrevinha a menopausa, as mulheres como que cumprindo um rito, sentiam-se aliviadas por não terem mais de se preocupar com as desconfortáveis “regras”. Por outro lado, com certo saudosismo antecipado, inscreviam-se no rol das “velhas” e davam por encerrada sua vida sexual que, na verdade, em boa parte dos casos, nunca chegara a ser plena ou relativamente feliz. Os homens, por sua vez, viam na aposentadoria o “passaporte para a velhice” e, sem muito constrangimento trocavam a atividade laborativa pela de vovô que cuida dos netinhos e que passa o tempo livre, jogando bocha com os amigos. O cessar a atividade sexual para eles também não causava muito trauma uma vez que coincidia quase que certamente, com algum grau de perda da libido e de disfunção erétil. Isso, todavia, deixou de ser assim, quando chegou a essa etapa da vida, a geração dos anos 1960, que protagonizou a chamada revolução sexual. Uma feliz coincidência (?) fez com que essa mesma geração, ao chegar à terceira idade, protagonizasse também o boom da reposição hormonal, da popularização das modernas técnicas cosmetológicas e do advento do Viagra. Isso tudo, em conjunto com novas descobertas científicas em prol da melhoria da saúde e da qualidade de vida estendeu o período da juventude, a tal ponto de mudar paradigmas, por muito tempo, intocáveis. Crescendo com as fases da vida
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Um exemplo pode servir para clarificar essa significativa questão, característica da pós-modernidade: Recentemente, o psiquiatra Flávio Gikovate, ao atender num programa de rádio 9 a um ouvinte jovem, que relatava a sua inquietação por estar namorando uma mulher cerca de 20 anos mais velha do que ele, aconselhou-o de uma forma que até a alguns anos, nem seria admissível. Disse-lhe o médico terapeuta que uma diferença desse tipo deixou de ser relevante em dias que mulheres de 40 ou 50 anos, com os recursos médicos e da cosmetologia não apenas são sexualmente ativas, mas também são esteticamente atraentes, nada deixando a desejar às jovens de 20 anos. Assim é que o término da segunda adolescência, que corresponde ao início da chamada terceira idade ou, como metaforicamente nos referimos: o outono da vida deixou de ser visto como a ante-sala da velhice, para se transformar num período de realizações de muitos sonhos, no qual juntos estão unidas disponibilidade, juventude e experiência de vida. Livres das pesadas responsabilidades do trabalho, com os filhos já criados e, em muitos casos, com uma relativa independência financeira; não há dúvida de que essa é uma época muito propícia à vivência de sonhos há muito acalentados, ao conhecimento de novas culturas e novos saberes, além do contínuo aprofundamento do próprio senso de realização pessoal. Paralelamente a tudo isso, o outono da vida pode também ser um período de aprendizado de novas experiências, como um novo curso universitário por puro prazer, o tocar um instrumento musical apreciado, o cultivo da espiritualidade 9
Referimo-nos ao programa: No divã do Gikovate, transmitido pela Rádio CBN de São Paulo, 90.5 Kz.
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(que não deveria ser negligenciado em nenhum período da vida humana) e o viver uma sexualidade renovada e realizadora. Enfim, o outono da vida, longe de representar a acomodação ou o conformismo com um modo de pensar a vida ultrapassado, pode se transformar num período das mais altas realizações humanas, perpetradas não apenas em benefício do indivíduo, como em benefício das pessoas de seu universo próximo ou distante.
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16. A METADE DA VIDA: O QUE ELA PODE SIGNIFICAR?
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leitor percebeu que fizemos uma caminhada por este pequeno livro, repassando cada uma das fases significativas da existência humana; abordando dilemas, evidenciando decepções; mas também identificando o lado positivo e o crescimento produzido pelas vivências e superações de cada uma das etapas que aqui têm sido pontuadas. Ora, alguém que se propõe a escrever sobre qualquer assunto não pode fazer isso como se o ato de escrever fosse alguma coisa de somenos importância. De nossa parte, norteou-nos aqui o pensamento de Viktor Frankl: “O menor serviço que o escritor pode prestar ao leitor deveria ser o despertar do senso de solidariedade... Se o escritor não for capaz de imunizar o leitor contra o desespero, deveria ao menos abster-se de inoculá-lo10.”
De acordo com essa proposta, dispusemo-nos a fornecer um panorama do caminho que é percorrido pelo homem em busca de sua superação, de sua maturidade, de sua emancipação. Ou, como reiteramos em diversos pontos, em busca de sua autenticação. Ora, temos a convicção de que não é preciso que cada homem ou que cada mulher atinja a meia idade para começar a ser feliz.
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FRANKL, Viktor E. Um sentido para a vida, 5ª Ed., Editora Santuário, pg. 83, Aparecida, SP.
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Ao contrário, cremos que a felicidade, embora não seja um continuum, pode e deve ser vivenciada em cada uma das etapas que temos estudado como necessárias ao crescimento, no decorrer de toda a sua vida. Nesse sentido, o que neste trabalho foi delineado, servirá como um roteiro vivencial, não inventado por este autor, mas constatado nas experiências vivenciais de milhões de seres humanos, que habitaram e que habitam o planeta Terra. Ora, temos a consciência de que, quanto mais o indivíduo se mantém informado sobre aquilo que com ele acontece em sua vida, no curso de sua existência, menor será a sua possibilidade em se tornar um alienado e maior será a sua probabilidade de se desenvolver e ser feliz. Nesse ponto, reconhecemos como positiva a nossa pequena, mas bem intencionada contribuição. Mas, a despeito de tudo o que já dissemos, o fato é que a leitura levou-nos às conseqüências da segunda adolescência; um período que, cronologicamente falando, corresponde aproximadamente à metade da vida humana e a pergunta que logicamente surge é: “O que ela pode significar?” Numa linguagem figurada, tratamos até agora, nesta obra, das etapas que correspondem à primavera, ao verão e, como vimos no capítulo anterior, ao início do outono da vida, afirmando que ele deixou de ser visto como a ante-sala da velhice. É natural que perguntemos, então: Como vivenciaremos o inverno de nossas vidas? A pergunta é pertinente e traduz a nossa pequena ou grande angústia existencial, que representa, em parte, a consciência que todos temos de nossa própria insignificância diante da magnitude da existência.
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O fato, contudo, é que, por modesta que seja a nossa vida, ela não precisa ser insignificante, pois, afinal os destinos das empresas, das instituições, dos estados, das nações e do próprio planeta estão, em grande parte, nãos mãos do homem. E como o homem é quem escreve a sua própria história, em última instância ele é o ser responsável pelo tipo de história que escreverá. Uma conclusão deveras desafiadora.
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17. A PASSAGEM DO OUTONO PARA O INVERNO DA VIDA
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s metáforas são formas simbólicas muito eficazes que utilizamos para representar ou exemplificar grandes lições ou grandes verdades da vida a fim de torná-las mais compreensíveis. É claro que elas também poderiam ser utilizadas como eufemismos, isto é, como um recurso para tornar mais amena ou mais palatável uma realidade aparentemente muito rude ou muito cruel. Um exemplo de eufemismo que nos vem à memória é aquele que constava de nosso livro de Português, no ginásio: “Não vou muito bem” – dizia o filósofo, em seu leito de morte”. Preocupamo-nos em dar essas explicações com o objetivo de deixar claro ao leitor que as metáforas que utilizamos neste trabalho não possuem conotações eufemísticas, mas têm a intenção apenas de correlacionar a vida humana com a natureza, representada pelas quatro estações do ano. Assim, utilizamos a primavera, para designar a infância; o verão, para designar a juventude; o outono, para designar a meia-idade; e, finalmente, o inverno, para designar a velhice. Aliás, depois de termos lido o livro Desfiz 75 anos, de Rubem Alves, aprendemos com ele que o termo “idoso”, apesar de ser considerado politicamente correto, não é muito bem visto pelas pessoas de sua idade, que preferem que se refiram a elas como velhas mesmo: Crescendo com as fases da vida
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“Idoso” é palavra de fila de banco e de supermercado; “velho”, ao contrário, pertence ao universo da poesia. Já imaginaram se o Hemingway tivesse dado a seu livro clássico o nome de O idoso e o mar? Já imaginaram um casal de cabelos brancos, o marido chamando a mulher de “minha idosa querida”?”11
Isto posto, podemos retomar nosso raciocínio e dizer que podemos, para efeito de referência, apenas, tomar a época da vida ao redor de 65 anos de idade para dizer que esse pode ser considerado o período em que o ser humano está saindo do outono existencial e começando a entrar no inverno de sua vida – um período que pode se tão bom como qualquer outro anterior. Se for positiva e criativamente vivido, pode certamente ultrapassar os 85 ou 90 anos, tendo a morte como uma perspectiva boa de quem soube viver bem a vida, ao invés de um inimigo indesejável, que comete uma apropriação indébita (o que, de fato, pode ser visto assim por alguém que não soube priorizar os valores de sua existência). Essa é uma das razões pelas quais dissemos que por mais modesta que seja a vida de alguém, ela não precisa ser insignificante, uma vez que as dimensões de significância ou falta dela serão traçadas pelo próprio indivíduo que vive. Mas, algumas observações podem ser sugeridas às pessoas que se encontram no inverno da vida, no período que, sem eufemismos, é chamado em nossa sociedade como velhice: 1. Não se deixar influenciar pelo marketing da mídia - todos sabem que o objetivo do marketing é criar imagens, com o objetivo de “vender” um determinado produto. Assim, o marketing da mídia acaba criando uma idéia negativa da velhice, de duas maneiras: Em primeiro lugar, colocando, na maioria de suas campanhas publicitárias, pessoas jovens. Dessa forma, desde as 11
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propagandas de chocolates e bebidas até aquelas que, a rigor, na prática, necessariamente, deveriam envolvem pessoas da terceira idade, como as relacionadas ao Dia das Mães, por exemplo, utilizam a juventude (mães ainda jovens, no caso) para associá-la ao produto a ser vendido. Deixar de se importar com essas campanhas idealizadas constitui, portanto, uma decisão determinante, para não se sentir excluído da sociedade. 2. Manter-se Ativo Sempre Que Possível – essa é uma recomendação que todos os dias é feita, mas todos os dias é também negligenciada. Uma máxima da chamada evolução darwiniana é: “Tudo o que não se usa se atrofia”. Ela deveria ser levada á sério, principalmente pelas pessoas na época da velhice. É importante, sobretudo, além das atividades físicas altamente recomendadas, como as caminhadas, por exemplo, manter o interesse por atividades culturais, como ler, escrever, freqüentar o cinema e o teatro; familiarizar-se com o computador e com todo o universo que, através da Internet, ele pode oferecer. 3. Cuidar da Saúde Como Prioridade – é quase folclórica, entre nós, a conhecida “rabugice” representada pelos velhos que se recusam ir ao médico. É como que se, nessa idade, o indivíduo assumisse um sentimento de onipotência, como o único conhecedor de suas condições de saúde e de seus limites. Ou, por outro lado, convencesse a si mesmo de que “ir ao médico nessa idade já não vale mais a pena”, colocandose a si mesmo, como “carta fora do baralho”. Nada mais enganoso. Como sabemos, alguns fatores metabólicos como o aumento das taxas de colesterol, dos tri-
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glicérides e a alta incidência do diabetes são fatores próprios dessa época da vida. Portanto, o controle desses fatores, através de visitas regulares ao médico e a realização periódica de exames é condição fundamental para se obter qualidade de vida. 4. Manter-se sempre antenado com os mais jovens – aqui está um dos grandes segredos para o clube da terceira idade: nutrir e conservar amizades jovens. Não é verdade que os jovens não apreciam a companhia dos velhos. O que eles não gostam é de suportar velhos rabugentos. Mas afeiçoam-se sinceramente a todo velho que aprende a falar a língua deles e que, sem implicâncias nem censuras, procura partilhar de seus interesses. Pessoalmente, conhecemos velhos na casa dos 90 anos, altamente respeitados pela turminha de adolescentes e jovens com quem convivem, porque são jovens de espírito: torcem a favor ou contra o time deles, discutem os lances do “último jogo”, criticam “aquele jogador perna-de-pau”, comentam a arbitragem e os erros do técnico, reclamam do “pênalti roubado”; e assim por diante. São velhos felizes, amorosos e amados, que vivem intensamente o presente, ao invés de recitar diariamente a ladainha do passado ou deixar-se amedrontar pelo “fantasma do futuro”. Ao terminar essas considerações sobre o inverno da vida, gostaríamos de deixar claro que, nem de longe, deixamos de considerar as limitações próprias de quem já chegou a essa etapa da existência humana. Sabemos que os músculos já não têm a mesma força, que as articulações estão mais rígidas, que os ossos estão mais Crescendo com as fases da vida
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frágeis, que os órgãos dos sentidos já têm suas limitações. Reconhecemos também que o medo da perda da independência e de se tornar “um fardo” se fazem, mais do que nunca, presentes. Entretanto, em meio a tudo isso, ter a consciência de que essas são contingências que fazem parte de todo ser humano que teve o privilégio de chegar a essa idade e o cultivo da alegria, que não tem idade para ser curtida e aproveitada; aliada à confiança que pode muito bem advir da vivência de uma espiritualidade não necessariamente religiosa são fatores que certamente proporcionarão uma velhice bem aproveitada e feliz.
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18. EPÍLOGO
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issemos, na introdução deste trabalho que a vida não nos é entregue pronta, mas constitui um mapa em branco, no qual cada um de nós traçará os seus próprios caminhos, o que devemos fazer com discernimento. Procuramos deixar clara a idéia de que a vida é um processo – portanto, com inúmeras etapas a serem, a seu tempo, vencidas; com suas respectivas barreiras a serem também, a seu tempo, transpostas. A essa vontade de vencer cada etapa e a essa disposição de transpor cada barreira com consciência, que é prerrogativa do ser humano; e não de outros animais, chamamos de processo de autenticação, que nada mais é do que os passos que o homem deve dar na vida para a conquista de si mesmo. Agora, ao concluirmos nosso trabalho, desejamos também deixar clara a noção de que, a nosso ver, esse processo de autenticação nada mais é do que um processo de autoafirmação do ser. Mas, um processo de auto-afirmação que compreende, para a sua consecução, a superação de algo que existe, pelo menos em potência, no interior de cada pessoa, e que “trabalha contra” essa realização pessoal, através da vida. Esse “algo que trabalha contra” certamente possui nome preciso no âmbito da psicanálise de Freud ou da psicologia profunda de Jung. Todavia, o que menos nos interessou aqui foi “dar nome aos bois”, posto que a nossa intenção foi
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tentar descrever e explicar o processo, acima de qualquer coisa. Dizendo em outras palavras: a autenticação sobre a qual estivemos falando até aqui significa a superação de todas as dificuldades que trabalham no sentido oposto à realização das potencialidades do indivíduo. Ela certamente exigirá sempre um considerável incremento de esforço cognitivo e, por vezes, uma extraordinária demanda de energia psíquica. Mas, ao final, trará a recompensa traduzida pela inequívoca sensação de quem realmente foi e está sendo feliz: a sensação de quem sabe que venceu e está vencendo as etapas da vida. E, que deu passos certos na conquista de si mesmo. Uma recompensa nada desprezível.
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19. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. ALVES, Rubem. Desfiz 75 anos, Campinas: Papirus, 2009. 2. – Bíblia Sagrada, Nova Versão Internacional, São Paulo: Vida, 2007. 3. ELKINS, David N. Além da religião. São Paulo: Pensamento, 2000. 4. FRANKL, Viktor E. Um sentido para a vida. Aparecida: Santuário, 1989. 5. FROMM, Erich. A missão de Freud. 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1969. 6. FILLOUX, Jean-Claude. O inconsciente. São Paulo: Martins Fontes, 1988. 7. JUNG, Carl Gustav. Psicologia e religião. 6 ed. Petrópolis: Vozes, 1999. 8. JUNG, Carl Gustav. O eu e o inconsciente. 21 ed. Petrópolis: Vozes, 2008. 9. LYOTARD, Jean-François. O pós-moderno. 3 ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1990. 10. DIAS DA SILVA, Marco Aurélio. Quem ama não adoece. São Paulo: Best Seller, 2002. 11. MAY, Rollo. A coragem de criar. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982. 12. MAY, Rollo. A descoberta do ser. 4 ed. Rio de Janeiro: Rocco, 2000. Crescendo com as fases da vida
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13. KAHN, Michael. Freud básico. 3 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007. 14. TILLICH, Paul. A coragem de ser. 5, ed. São Paulo: Paz e Terra, 1992.
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