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A Educação Desportiva Sociedade Eco-centre Heol


II / SUPLEMENTO abril 2007

A Educação Desportiva ta finança. E não lhe perguntem por que aumenta a desigualdade, a exclusão, a despolitização, o individualismo possessivo e competitivo, a violência urbana, precisamente em plena democracia neoliberal. À tona da sua resposta sobrenadará uma funda antipatia por um ou outro político e deixará incólume o sistema. A árvore não lhe deixa ver a floresta.

II — A concepção de Homem como ser essencialmente egoísta e egocêntrico, determinado, como besta selvagem, por estímulos de castigo ou recompensa, revivesce as velhas definições de Homem

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I — O processo democrático encontra-se reduzido ao ritual eleitoral, a decretos-lei e a periódicas e verbais contestações de rua O neoliberalismo é o modelo que define a economia hodierna, a qual desta forma permite que alguns interesses privados controlem, com mão resoluta, a vida social, visando maximizar o seu lucro pessoal, sob a mão tutelar dos presidentes e governantes norte-americanos e britânicos, nomeadamente a partir de Ronald Reagan e Margareth Thatcher. O neoliberalismo, como doutrina, poucos a conhecem e, quando dele se fala, os “opinion maker’s” escondem a crítica, mesmo a civilizada e suave, no incenso da adoração à liberalização e flexibilização dos mercados, à competitividade e livre iniciativa empresariais, proclamando, com exuberância emocional, a inutilidade de qualquer socialismo controlador da iniciativa privada e promotor de um movimento ininterrupto de nacionalizações. Demais, “o neoliberalismo actua melhor quando existe uma democracia eleitoral formal, mas desde que a população seja desviada das fontes de informação e dos debates públicos, que habilitam à formação participativa de uma tomada de decisão” (Noam Chomsky, Neoliberalismo e Ordem Global, Editorial Notícias, Lisboa, 2000, p. 9). E assim bem podem repimpar-se, nos seus fofos cadeirões, os que enriquecem à sombra do status quo. Depois de uns minutos de circunspecção, eles ficam a saber que muitos dos marginalizados, iletrados e acríticos, hipotecariam a alma, por meia dúzia de cêntimos. Após o colapso do “socialismo científico”, o neoliberalismo triunfou, sem outro modelo político que lhe desse luta. E assim a globalização (que não é necessariamente prejudicial) tornou-se o meio privilegiado de expansão da economia capitalista, se bem que “a liberdade das trocas, da circulação do capital e da especulação financeira, da competição selvagem e da fusão dos mercados num só mercado universal, sendo importantes” não sejam “as únicas dimensões do fenómeno” (António Almeida Santos, Globalização, um processo em desenvolvimento, Instituto Piaget, Lisboa, 2005, p.44). A globalização, acompanhada da infoglobalização (ou da universalização das informações) chegaram à vida toda de cada um de nós e da sociedade em geral, originando uma crise de tamanha monta, a todos os níveis e estruturas, que não há por aí ninguém que, diante dela, seja capaz de remeter-se a um cómodo desdém. Os valores, sempre de pulso forte, que informavam a juventude; os laços comunitários que permitiam uma vida suave e sem solavancos; o patriotismo, como sentimento acrisolado, inultrapassável – tudo isto o vento da globalização levou, ao mesmo tempo que o capitalismo mundializado parece ser o “fim da História” (Fukuyama). Com os aplausos de Gorbachev, então dono do Kremlin, ao presidente Ronald Reagan – era caso para ponderar: estamos mesmo no “fim da História”? As democracias, onde o capitalismo actual viceja e onde, portanto, a ortodoxia neoliberal se instala, limitam-se a certos formalismos essenciais, mas que não pretendem desmantelar um mercado, uma publicidade, um marketing, sem escrúpulos, que nos pretendem reduzir a simples espectadores e consumidores. Correu mundo a afirmação de Margaret Thatcher: “diante da democracia neoliberal, não há alternativa”, retomada, no Brasil, por político de renome: “dentro da globalização não há alternativas e fora dela não há salvação”. Bichanava-lhes ao ouvido, de certo, o velho lema: What’s good for the General Motors, is good for the USA. Ora, se não há alternativa ao modelo dominante, onde a democracia é escrava do mercado, vibra-se um golpe de morte na democracia, pois que esta manifesta um ostensivo debilitamento, diante do “pensamento único”. O processo democrático encontra-se reduzido ao ritual eleitoral, a decretos-lei e a periódicas e verbais contestações de rua. O povo nada sabe e nada pode, delegando o seu saber e o seu poder, nos governantes, nos deputados e na al-

Qualquer crítico pouco, mesmo pouco sagaz, sabe hoje que o sistema educativo (e o sistema desportivo) é um subsistema do sistema social e assim a escola (e o desporto) está condicionada pelo que ocorre na sociedade toda. Mas também a escola (e o desporto) pode ser factor de transformação social, ajudando a formar especialistas e técnicos, que sejam cidadãos livres e libertadores. Também aqui há um corte epistemológico a fazer, ao romper com a ideia clássica, adveniente das obras de T.R. Malthus e D. Ricardo, de que os factores de produção decisivos, para o bem-estar das populações, seriam o espaço, a energia e a terra cultivável. T. W. Schultz sustenta, ao contrário, que “os factores de produção decisivos são a melhoria, na qualidade das pessoas, e os avanços no conhecimento (Invertiendo en la gente, Biblioteca Ariel, Argentina, 1985, p. 9). Portanto, os gastos com a educação, com a formação especializada, com a saúde, etc. representam investimentos em capital. A hipótese fundamental desta teoria consiste no facto de que a qualidade do capital humano é a “causa das causas” do progresso e do desenvolvimento. Os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio

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(ODM), traçados pela Assembleia-Geral das Nações Unidas, no ano de 2000, pelos 189 Estados-Membros, apontam, como meta, entre outras, a atingir até 2015, “garantir que todas as crianças possam completar um ciclo do ensino básico”, já que “actualmente, existem 115 milhões de crianças, em idade escolar, que não frequentam a escola. Trata-se, na sua maioria, de crianças pobres, cujos pais não receberam também qualquer tipo de educação formal” (A página da educação, Janeiro de 2006, p. 35). Na economia global do século XXI, a qualificação científica e profissional da força de trabalho (man-made comparative advantage) produz um efeito mobilizador, nas empresas e na sociedade. Só que a civilização do consumo pelo consumo, do crescimento pelo crescimento, da competição pela competição, incapaz de uma síntese entre a liberdade e a igualdade (os socialistas dizem potenciar a igualdade, os neoliberais inculcam pujança na liberdade) – reduziu o homo sapiens a homo oeconomicus e é lamentável a marginalização que grassa, mesmo entre os licenciados, mestres e doutores de países da Europa Ocidental, para descrédito da própria democracia. Se o ser humano não passa de coisa ou de simples objecto ao serviço do lucro, não surpreende o desemprego e o subemprego, onde se implantou um desenvolvimento sustentável, baseado no aumento da produtividade. Por outro lado, a concepção de Homem como ser essencialmente egoísta e egocêntrico, determinado, como besta selvagem, por estímulos de castigo ou recompensa, revivesce as velhas definições de Homem (homo homini lupus) e de Sociedade (bellum omnium contra omnes) e dá lugar ao surgimento de minorias dominantes e de um Estado como executor e zelador dos interesses do Big Business. Maurice Allais, Prémio Nobel da Economia em 1988, alerta-nos para o facto de vivermos sob o “livre-cambismo mundialista” mais conhecido por “globalização” confeccionada pela Administração dos Estados Unidos. Tal como analisa Bernard Perret: “Não se pode negligenciar que a lógica do capital coincide, em larga medida com os interesses e as estratégias da nação norte-americana” (Bernard Perret, Les nouvelles frontières de l’argent, Le Seuil, Paris, p. 117). Nesta sociedade, que educação e que desporto? Tenho para mim que existe uma contradição insanável entre os dois pilares da sociedade actual: o liberalismo económico e a democracia. É que o liberalismo económico, se não gera regimes totalitários, produz “regimes globalitários”, na expressão de Ignacio Ramonet, os quais se fundam nos dogmas da globalização e do pensamento único. O capitalismo triunfante, sempre que resolve um problema, origina outro inevitavelmente, já que não põe limites à ganância privada. Aqui, os bens deixam de referir-se à reprodução da vida, porque se centram na reprodução do capital. Assim, há que criar um desporto que seja contra-poder ao poder da sociedade mercantil, em que tudo se compra e se vende e em que o próprio Desporto deixa de propiciar vivências de superação, na generosidade e na solidariedade. Como escreve Emir Sader, no seu livro A Vingança da História: o neoliberalismo não é só uma política económica, “trata-se de um projecto hegemónico internacional, que tem na supremacia norte-americana o seu agente fundamental e no livre comércio a sua ideologia” (Boitempo Editorial, S. Paulo, 2003, p.170). Ora, se este projecto hegemónico é factor de subdesenvolvimento para um quinto da humanidade – bem é que o desporto se transforme numa prática donde ressalte uma ideologia (para mim, um

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neo-socialismo que seja uma cultura do ser). Sugerimos assim um novo Desporto que resulte de uma nova Política e uma nova Política que resulte também de um novo Desporto que respeite as constantes tendenciais da biologia, mas não faça da concorrência o seu fim último. III — Substitua-se, na Escola, a disciplina de Educação Física pela disciplina de Educação Desportiva que integre o que hoje se pratica na Educação Física e no Desporto Escolar

Eis aí a nossa proposta: 1. Um Desporto que não seja apenas uma actividade física (refiro-me a qualquer movimento corporal produzido pelos músculos esqueléticos, que resulte em dispêndio de energia) mas também consciencializada por problemas sociais e políticos. Os efeitos preventivos da motricidade humana, na forma de jogo e desporto, no que respeita a diversas patologias e como experiência de desenvolvimento humano, é indiscutível. Só que uma abordagem sistémica do Desporto atribui de facto grande importância ao esforço físico, mas não esquece que o ser humano só se realiza, quando o ter se orienta em direcção ao ser. Ter saúde é pouco, se nela não há significação e sentido, para além de um conformismo massificador, testemunha de proezas físicas bestiais... dos outros! A relevância “que o desporto assume na sociedade actual requer um maior investimento da classe política e dos partidos, para o estudarem e compreenderem” (Gustavo Pires, Gestão do Desporto – desenvolvimento organizacional, apogesd, Porto, 2005, p.182). Mas como fazer do Desporto um aspecto da luta necessária por uma sociedade mais equitativa? Fazendo do Desporto uma construção cultural, onde o conhecimento científico apareça como um compósito de princípios epistemológicos, sociológicos e políticos. É de lastimar, por exemplo, que, por interesses pessoais e institucionais, a epistemologia e a política ainda não figurem, como disciplinas, nos cursos de Ciências do Desporto, nas nossas universidades. Uma prioridade científica há-de ter sempre uma justificação epistemológica e o apoio político. Só que o neoliberalismo não é simplesmente um modelo, é uma ideologia total que penetrou na própria universidade; que inquinou o Desporto, desfazendo o mito da existência de um “Desporto pelo Desporto”; que emerge dos espectáculos desportivos, verdadeiros espaços de violência verbal e física. 2. O Desporto deve considerar como um dado a ter em conta a questão dos valores. “Os valores do mercado penetraram em sectores da sociedade a que anteriormente presidiam condições de não mercado” (George Soros, A Crise do Capitalismo Global, Temas e Debates, Lisboa, 1999, p. 105). Ora, a vocação do Desporto é Ética, antes do mais. O Desporto (repito-me) não radica, unicamente, em princípios biológicos. A prática desportiva parte de uma zona de sobrevivência (a motricidade humana como factor de desenvolvimento), para uma zona do ter (ter condições para uma vida plena), acabando numa zona do ser (do Desporto ao Homem, na sua plenitude). A primeira missão da Educação é promover a formação de valores. Ora, o Desporto não é apenas um saber-fazer, próprio da especialização técnica dos profissionais, mas também um saber-agir, decorrente do cuidado ou do cuidar. H.-G. Gadamer, no livro O mistério da saúde – o cuidado da saúde e a arte da medicina (Edições 70, Lisboa, 1997) acentua a diferença fundamental entre saber fazer e saber agir. Diz o filósofo, em diálogo com o médico Vitor von Waisacker, que as sociedades contemporâneas vivem sob o império do saber fazer operatório. Para ele, a acção divide-se em teoria, em técnica e em práxis e é precisamente no agir (onde há teoria e técnica e práxis) que realizamos e nos realizamos, sempre com solicitude e amor. Donde o concluir-se que os licenciados em Desporto e os técnicos desportivos não poderão desprezar nem a teoria, nem a técnica, nem a práxis, desde o jogo e o lazer desportivos até à alta competição. Não será de repensar, por isso, os cursos de treinadores das várias modalidades e... as licenciaturas em Ciências do Desporto? É que, na esteira de Gadamer, o Desporto,


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porque é acção, deverá entender-se como uma ciência que jamais poderá interpretarse, como puro comércio ou simples técnica. 3. “Método e teoria são interdependentes. A metodologia, por simples ou básica que seja, depende de um conjunto de supostos teóricos. Por exemplo, a recolha de dados sobre o desporto requer (...) uma definição de desporto de modo que, antes do mais, ela esteja presente em tudo o que se faz. Sem esta orientação conceptual, não há parâmetros, nem fronteiras, nem limites” (Kendall Blanchard y Alice Cheska, Antropologia del Deporte, ediciones bellaterra, s.a., Barcelona, 1986, p.43). Para mim, o Desporto, como motricidade humana e como moral em acção, é epistemologicamente um dos aspectos de uma nova ciência humana e politicamente poderá visar o nascimento de um novo socialismo (que se confunde com uma democracia participativa e uma economia distributiva), ou de uma nova cultura do ser. Para tanto, há que rejeitar qualquer política reformista que pretenda “humanizar” o que não tem humanização possível: um desporto ao serviço do neoliberalismo, promotor da sociedade de mercado que, por sua vez, se funda na exploração e alienação como fonte de acumulação do capital. E rejeitar também o Desporto como actividade (ou educação) física porque, quando se trabalha o físico tão-só, ajuda-se ao nascimento de máquinas a-desejantes e a-céfalas. O próprio treino desportivo deverá significar vontade de transcendência ou superação – o que supõe a criação de espaços, onde a transcendência seja possível, ou seja, de uma sociedade diferente. Como saber agir, o Desporto comunica um mundo novo! Comunica, na Escola, na Saúde, no Trabalho, no Lazer. O Desporto, como competição-diálogo e não competição-hostil, estabelece uma comunicação baseada na verdade, na coragem, na solidariedade. Por isso, na Escola, o professor de Desporto deve educar educando-se e conduzir sem impor e guiar sem dirigir. É evidente que, no desporto de elites (ou de alta competição, ou de alto rendimento), o treino prepara para um combate supremo mas em que a firmeza e a coragem não signifiquem ódio ou até antipatia pelo adversário. 4. “O jogo é menos um divertimento que uma atitude fundamental e talvez mesmo específica da existência humana (...). Com efeito, como já o mostrou Huizinga, quase tudo é jogo na existência humana” (Nicolas Grimaldi, Traité de la banalité, PUF, Paris, 2005, pp. 155/156). Ora, porque o desporto é jogo, depressa é possível concluir-se que a Educação Desportiva, na Escola, afirmará a pessoa do educando como fim último de todo o processo educativo e radicará, solidamente, na sua liberdade e autonomia. Mas a Educação Desportiva deverá estar presente também na Universidade não só como prática extra-curricular, mas também como paradigma que se estuda e investiga, em colaboração, se possível, com outras instituições, tendo em conta que a Universidade deixou de possuir o exclusivo da investigação e produção do conhecimento científico. O clube desportivo poderá contribuir também ao desenvolvimento do desporto, procurando uma incontroversa mudança social. Mas será isso possível, quando para ele se canalizam dinheiros públicos e o Desporto se considera “um direito que o Estado deve procurar assegurar, na medida do que é justo e legítimo” (Gustavo Pires, op. cit., p.328)? Mas será isso ainda possível quando os clubes desportivos se encontram, tantas vezes, nas mãos de pessoas interessadas na manutenção do neoliberalismo vigente, ou incapazes de um questionamento da democracia puramente representativa, onde o cidadão só decide sobre uma oferta previamente estabelecida de nomes e programas? Na sociedade actual, a Educação Desportiva chega às pessoas, pelos mídia e pela internet, destituídos de preocupações éticas, bem mais do que pela Escola e pela Família (instituição, aliás, em crise). E sabemos o que isso representa! 5. Substituição, na Escola, da disciplina de Educação Física pela disciplina de Educação Desportiva que, por sua vez, integraria o que hoje se pratica na Educação Física e no Desporto Escolar. A Educação Física “desportivizou-se” e, portanto, deixou de existir. Aliás, epistemologicamente, já há muito tempo que morreu. Por outro lado, sugere-se a criação da Educação Desportiva, como disciplina opcional, em todos os cursos universitários. A valorização da Educação Desportiva, visando a melhoria da Qualidade de Vida de todos os cidadãos, precisa da investigação, do conhecimento universitários, para que se transforme numa das prioridades nacionais.

uma tecnocultura electrónica que desvaloriza o pensamento e a teoria, o livro e a leitura, promovendo em sua substituição as opiniões de jornalistas e de locutores, ao serviço do mercado e da alienação das pessoas – o Desporto perde o seu carácter de moral em acção, deixa de ser instância normativa, dissolvendo-se numa prática inteiramente física e até tecnológica, absolutamente acrítica! Não se esconde que os atletas dos grandes desempenhos, ao identificarem-se com a sua Pátria, exercem funções importantes de consciência e unidade nacionais. No entanto, para quem vê no Desporto um subsistema do sistema Motricidade Humana, não pode centrar-se unicamente no espectáculo, no mercado, nos mídia, no poder da técnica, num certo magma pseudoteórico da ideologia biomédica, onde espectadores, praticantes, educandos são vistos como uma espécie de “tábua rasa” (John Locke) e, portanto, onde se legitima todo o tipo de autoritarismo dos dirigentes, dos treinadores, dos professores, do próprio Estado. Dizia o Lenine que “nada é mais prático do que uma boa teoria”. Assim, em nome de um Desporto e uma Sociedade diferentes, invoco a necessidade de uma Educação Desportiva que se transforme numa Educação Problematizadora (Paulo Freire) e, por consequência, através de uma teorização constante da prática desportiva, na Escola, no Clube, na Reabilitação, no Espectáculo, na Universidade. A propósito, poderemos escutar Manuel Ferreira Patrício: “Valorizar ou não valorizar a prática é em si mesmo um dilema pouco interessante, se não definirmos convenientemente a prática, nem a posicionarmos num sistema de pensamento que lhe dê sentido” (Lições de axiologia educacional, Universidade Aberta, Lisboa, 1993, p.85). De facto, o que o costume consagra precisa de ser, periodicamente, interrogado por critérios de ordem científica, ética e política. Porque sabemos que o Desporto é um dos ramos de uma nova ciência humana; porque sabemos que um currículo nunca é neutro, emergindo dele valores de toda a ordem; porque, em Portugal, a Educação Desportiva ainda não é uma Educação Problematizadora – propõe-se, por fim, a criação da disciplina de Epistemologia da Motricidade Humana e a revisão curricular, em todos os cursos universitários de Desporto e que os programas do Ministério da Educação, para esta área do conhecimento, sejam revistos também – é que a Educação Desportiva é Educação e esta deverá decorrer de um conhecimento-emancipação, que se transforme em cidadania científica, em cidadania cognitiva e em cidadania política (servindo-me de palavras de Boaventura de Sousa Santos). Que o mesmo é dizer: o Desporto não é só uma actividade física é, sobre o mais, humana. Importa retirar daqui todas as consequências, rejeitando qualquer dualismo, designadamente o que separa a alma do corpo como reflexo do antagonismo senhor-servo, explorador-explorado. Dir-se-á que, em Portugal, a Secretaria de Estado da Juventude e do Desporto nada tem a ver com o que se adianta, neste texto. Permito-me discordar, dado que o Desporto, como sistema, não é igual à soma das partes, não é compartimentável, é um todo coerente nas várias dimensões da vida em sociedade e no universo da pluralidade dos saberes. É preciso, no meu entender, transformar o Desporto em Cultura e a Cultura em Desporto, dois elementos da mesma complexidade – a democracia participativa, o neo-socialismo, onde tudo é política, porque tudo é pensado e vivido, em ordem à construção de um mundo novo!

IV — O Desporto não é só uma actividade física é, sobre o mais, humana.

Por fim, cabe a Educação Desportiva, na racionalização das escolhas, em matéria de política desportiva? Tem o Desporto, na Escola, uma atitude problematizadora, diante do Desporto, da Escola e da Sociedade? Entendem os praticantes e os espectadores que o Desporto pode ser um factor de comunicação, emancipação e realização do ser humano? O Desporto tomou da cultura helénica a ideia de rivalidade, num campo de igualdade de oportunidades e ainda de espaço inigualável de êxito pessoal. Só que, quando se procura o êxito, pode chegar-se ao risco. E, em situação de risco, somos tentados a não olhar aos meios para conseguir os fins. Nesta circunstância, seria bom que o Desporto surgisse como um saber agir, ou seja, como teoria e técnica e praxis, nos termos em que o propõe Gadamer. O que vem sendo difícil, pois com

Manuel Sérgio Professor jubilado da Faculdade de Motricidade Humana da Universidade Técnica de Lisboa (FMH/UTL) Presidente do ISEIT (Instituto Piaget-Almada) Este texto foi apresentado pelo seu autor no último Congresso do Desporto.


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Sociedade “Isso a que chamam sociedade não existe. O que há são homens e mulheres individuais, e famílias.” Margaret Thatcher

(cit. por M. Strathern, em Key Debates in Anthropology; ed. T. Ingold, London, Routledge, 1996, p. 64)

Confesso que nunca pensei citar na minha vida a personagem política acima referida, cuja simples aparição televisiva me indispunha até à náusea; mas já vão compreender (espero) por que é que o faço. É bem conhecido quanto o nosso pensamento ocidental tende a ser dicotómico, e uma dessas grandes divisões consiste na oposição indivíduo-sociedade. Esta oposição é aliás apenas a manifestação particular de uma outra, mais ampla, entre o todo (a totalidade) e as partes (as unidades) que o constituem, sendo habitual a ideia de que o todo é mais do que a soma das partes, ou seja que, interagindo entre si, em sistemas, estes têm propriedades emergentes, resultantes dessa mesma inter-actividade própria de cada um. Assim, a hierarquia todo-partes não é apenas uma hierarquia de escalas, uma questão de grandeza, de quantidade, mas uma diferença de natureza, porque, interagindo entre si, as unidades constituem continuamente realidades diferentes a cada escala. Por exemplo, as sociedades são compostas de indivíduos, e estes são realidades naturais, mas socialmente construídas, quer dizer, trabalhados secundariamente pela sociedade para se integrarem nela. A partir da abstracção que é a sociedade, as “relações sociais” viriam juntar-se aos indivíduos para os “socializar”. O modo de “socialização” em que pensava a senhora Thatcher era largamente baseado na ideia de indivíduos como realidades autónomas, simultaneamente consumidores e dispensadores de serviços (ver Strathern, op. cit.). Esta estratégia ideológica neo-liberal permitiu-lhe, como é sabido, proceder ao desmantelamento de muitas características do “estado social” britânico (liderando e acompanhando uma tendência mundial, que se consolidou com a queda do muro de Berlim e o fim da “guerra fria”). Quer dizer, um conceito que tinha permitido a Durkheim autonomizar a sociologia, permitindo-lhe desvinculá-la de “psicologismos”, e levando à ideia de uma “mentalidade colectiva”, viria mais tarde a derivar para consequências ideológicas nefastas e a voltar-se contra os cidadãos, tornados simples máquinas artificialmente individualizadas, de trabalho/consumo no Estado pós-moderno. A raiz desta situação liga-se intimamente à dicotomia sociedade - indivíduo. Através dela formar-se-ia uma divisão harmónica da realidade social, acompanhada da repartição de “objectos” a que academicamente se consagram diferentes disciplinas: a “sociedade” (mente/acção colectiva) como objecto da sociologia, a “mente” (comportamento individual) como objecto da psicologia, etc. (a cultura seria o objecto da antropologia, pelo menos da dita “social”, o passado o objecto da arqueologia e da história, e por aí adiante). O mal-estar provocado por estas compartimentações estanques deriva também, paradoxalmente, da própria contradição em que se encontram com a fluidez típica da pós-modernidade, que a senhora Thatcher anunciava, e que de certo modo é a condição/ideologia do capitalismo tardio e global (com tendência para o esbatimento de fronteiras, conceptuais e outras, e o acentuar das decisões “autónomas” de agentes supostos livres). É essa tendência para a dissolução que tem levado um ambiente tendencialmente conservador (em relação à acção política) a progressivas formas híbridas, como “sociopsicologia”, e muitas outras. Trata-se de um processo de adição, ou de complementaridade, que associa disciplinas diferentes em torno de problemas considerados comuns, interdisciplinares. Mas em boa verdade esse processo de complementaridade tende, quase sempre, a ocultar hierarquias internas: ou domina o aspecto que privilegia o todo (a realidade é uma construção social e os indivíduos, melhor ou pior, ajustam-se a tal realidade, o que teve o seu cúmulo no fascismo, nazismo e comunismo), ou aquele que começa pelas partes, centrando-se no indivíduo, e considerando que a sociedade é fundamentalmente um “contrato” de pessoas, de individualidades, tácito ou explícito, que as leva a unirem-se para defenderem princípios comuns (desde logo a sua segurança e dos seus bens) em troca de alguma perda de liberdade individual (o que tem o seu culminar no neo-liberalismo reinante). Certos autores (J. Urry, por exemplo, mas também Ingold o refere) têm de facto mostrado como, perante a fluidez actual e a mobilidade das pessoas, o conceito de sociedade é capaz de se tornar obsoleto, e de ter sido enfatizado pelos fundadores da sociologia em relação com o nascimento e a consolidação ideológica do estado-nação, pelo que também

não seria aplicável antropologicamente como mais um “universal”. Por outro lado, não fazendo sentido uma dicotomia indivíduo/sociedade, então a sociologia e a psicologia tenderiam, não apenas a unir-se complementarmente, mas a dissolver-se numa perspectiva de saber mais geral. Os rearranjos de conhecimentos, as “modernizações”, podem ter aliás consequências positivas e negativas – levando por vezes a efeitos perversos, em que apenas se extinguem linhas de financiamento em favor de pesquisas mais tecnologicamente rentáveis. O “mesmo” discurso pode vir de muitos emissores e interesses diferentes, convindo ver o que lhe está subjacente. Não é difícil descortinar, por detrás de muitas discussões, a luta pela hegemonia no espaço académico e a vontade de cada grupo, a partir do seu ponto de vista, de ganhar mais uns pontos no tabuleiro de xadrez da divisão dos poderes/saberes/orçamentos/ visibilidades, isto é, na competição por espaços de influência. Sempre, evidentemente, em nome do interesse colectivo e da racionalização. Tudo tem a ver, em última análise, com uma economia política de um tipo novo, relacionada com uma sociedade onde o “conhecimento” e a “comunicação”(noseusentidomaisamplo,difuso e ambíguo) são um valor estratégico cada vez maior, configurando aquilo que às vezes se chama um tanto abstractamente “o sistema”. Ou seja, a invenção, desenvolvimento, e colonização de novos campos conceptuais constituem em última análise a ideologia invasora, imperial, holística, do mercado global. Os cientistas criativos seriam assim equiparados horizontalmente a outros produtores de novas realidades, quaisquer que sejam as suas formas, suportes, ou aplicações: se tiverem mercados, passam a ser importantes, a ter direito à existência. São indivíduos/ grupos autónomos dispensadores de serviços e de novos produtos consumíveis, por vezes altamente sofisticados. Duas dicotomias estão ainda aqui implicadas: a de natural/artificial e a de génese/desenvolvimento (ou origem e história). Tudo gira em volta da infantil pergunta do que é que existia primeiro: a galinha ou o ovo, consubstanciada, a nível do conhecimento, na velha e “angustiante” aporia: há ou não há uma realidade para além de nós (dicotomia material/espiritual)? Claro que os “realistas” defendem que a realidade existe independentemente da nossa consciência e da nossa capacidade para a formular e pensar na linguagem, e os seus opositores (“idealistas”, relativistas, ou como se lhes queira chamar), caricaturalmente, tendem a considerar que a própria realidade só existe porque alguém tem consciência dela, e a objectiva através da mente e da sua rede de conceitos aprendidos pelo indivíduo, academicamente preparado ou até não. Em qualquer opção (e sobretudo na primeira), é o carácter “naturalizador” da linguagem que oferece à consciência espontânea a evidência mais ou menos indiscutível de que a realidade existe, ou seja, corresponde ao real externo, numa ingenuidade frequente. Às vezes, estas discussões lembram os eternos e improdutivos debates entre crentes ingénuos, seja em que ideologia for, tornada dogma. Não se lembrando de que a crença é da ordem da adesão afectiva, e portanto largamente inconsciente, argumentam com “provas” (por exemplo, da existência de Deus) num terreno onde elas são fúteis. Ao contrário, as senhoras Thatcher deste mundo (há muitos clones) não estão com meias medidas: por uma enunciação, provocam um efeito de verdade indiscutível, que as suas políticas confirmam, e que são confirmadas por elas. Realidade e discurso sobrepõem-se. O poder tem a sua banda de Mobius perfeita.

Victor Oliveira Jorge Faculdade de Letras da Universidade do Porto


VI / SUPLEMENTO abril 2007

Eco-centre Heol Chegamos ao Ecocentro Heol – Casa Autónoma de Patrick Baronnet – em Moisdon la Rivière – Bretanha (França) eram 16h do dia 19 de Fevereiro de 2007. Víinhamos do Porto, no pequeno Peugeut do Amândio. Foi quase uma directa. Paramos apenas algumas horas numa residencial acima de Bayone. Na condução, o Amândio era revezado pelo Emanuel. Eu, sentado no banco de trás, alimentava a conversa para que o sono não assaltasse os condutores. Quando chegamos, o Patrick Baronnet estava à volta duma eólica avariada. Fomos ajudar. Era necessário descerrar os cabos para que a haste de 20 e poucos metros tombasse lentamente até encostar a um cavalete. As hélices e o dínamo ficavam agora à mão. O Patrick diagnosticou a avaria: eram os carvões gastos e sujos que impediam o contacto com a bobine. Foi fácil a reparação e em breves minutos estávamos a erguer a eólica graças a um macaco fixo ao tirante, para voltar a repor a eólica vertical ao solo. Em seguida, o Patrick levou-nos a visitar uma construção em forma de zome. Essa zome fora construída com 84 losangos e o revestimento era feito de cânhamo e cal. O número de ouro estabelecia a relação entre a altura e a largura do zome. Esta edificação conseguira ter licença de construção por ser considerada uma forma construtiva experimental. E de facto é um laboratório para vários estudos sobre a relação do espaço e a vida, e também serve de campo de investigação para a geobiologia. Os trabalhos de Yann Lipnik, que trabalha desde há alguns anos nas “arquitecturas vivas e formas biodinâmicas” inspiraram a realização desta zome. O estudo da geometria sagrada e a investigação nos domínios inovadores duma ciência telúrica onde se procuram estudar efeitos de correntes telúricas e cósmicas como as redes de Hartmann, Curry e Peyré, interessaram Patrick Baronnet que é um “procurador de verdade” e por isso não é alheio a este tipo de investigações que valorizam antigos saberes com a ciência contemporânea, nomeadamente o paradigma quântico da Física.

O dia estava bonito e o sol entrava pela transparência das vidraças coloridas que mais pareciam rosáceas. A porta da entrada estava especialmente decorada. Dir-se-ia que a zome estava revestida de antigos vitrais de catedrais que davam colorações e ambientes lumínicos ao espaço. Depois de vermos as particularidades construtivas e de analisarmos os materiais e as formas geométricas subtis fizemos algumas experiências: sentir o espaço circular ascendente. Também percepcionamos os vários matizes das cores e ouvimos os sons que ecoavam nessa campânula em forma de zome. A voz era nítida mesmo quando falávamos baixo. E quando J. Ph Marie Moisson, director do Institut William Bates, usou aparelhos de medição electromagnética, vimos um bom comportamento do edifício em relação aquilo que se considera em geobiologia como pontos patogénicos do habitat.


SUPLEMENTO abril 2007 / VII

Eco-escola de Patrick Baronnet

Fomos para casa do Patrick, onde fomos recebidos pela Brigitte. Conversamos enquanto comíamos uma salada e uma boa sopa de legumes, trocando algumas ideias sobre o momento político e a situação ecológica mundial. Fomos dormir para o sótão da velha casa rural depois de escutarmos uma bela música que a Brigitte tocou na sua harpa. Na manhã seguinte, terça-feira, tomamos o pequeno-almoço com os Baronnet. Depois, o Patrick mostrou-nos um powerpoint com alguns pormenores da casa 3E (economia, ecologia e entreajuda). Referiu também a abordagem holística e sistémica subjacente à construção desta casa e à envolvente territorial. O elemento central deste habitat era o ecossistema, base da nova arquitectura ecológica. Fomos então visitar a casa 3E. Foi importante perceber a relação do todo: O solo, edificado sobre tijolo de terra, é o acumulador radiante. As fundações, que vêm dum fundo de grânulos de argila expandida, aproveitam a inércia térmica da terra que, a cerca de 1,5 metros está sempre a uma temperatura constante de 10 a 12 graus. Assim, a base da casa no Verão é fresca em relação ás temperaturas de 30 a 35 graus do exterior, e no

Inverno, por exemplo, os zero graus do exterior encontram-se a 10/12 graus no interior. Deste modo o edifício funciona como um forno, no Inverno. Serve-se da temperatura acumulada pelo pavimento e, graças à captação solar (infravermelha) feita pela larga vitrina cuja concentração é facilitada pelo reflexo da parede branca do telhado inclinado, o perímetro das paredes de tijolo de terra é aquecido. Esse aquecimento pode ser reforçado, especialmente durante a noite, com o fogão de sala, envolvido em porcelana refractária e onde circula também a serpentina do cilindro termo-solar. A bioclimatização solar passiva, completa-se com o poço canadiano utilizado no Verão. Esse poço canadiano feito no momento dos caboucos é constituído por dois tubos que, a cerca de 1,5 metros, se distendem em forma de serpentina, trazendo para dentro de casa o ar do exterior que foi arrefecido pelo solo.


VIII / SUPLEMENTO abril 2007

A casa é revestida nas paredes exteriores pela palha recoberta de madeira, à qual se junta um reboco quase todo em cal. Esta é a parte isolante do edifício. No interior, as paredes e o pavimento, de tijolo de terra, funcionam como o acumulador da casa. Interessa salientar que a palha não pode ficar húmida. Por isso, junto ao solo está um muro baixo que com uma camada de óleo não permite a osmose da humidade térrea para a palha. O geobiólogo Moisson voltou a fazer medições com a sua panóplia de aparelhos. Verificamos alterações nas radiações electromagnéticas. Os nossos telemóveis faziam interferência nos ponteiros do medidor electrónico. Depois, no exterior, vimos como a água da chuva era recolhida numa cisterna. E vimos como em relação às águas usadas se usava a fitodepuração. O sistema energético provinha duma pequena central que aproveitava a corrente contínua do dínamo da eólica que, articulada com uma estrutura de foto-pilhas, auto-orientável e pousada no jardim, fornecia carga eléctrica às baterias. Um sistema de conversão permitia obter 220 volts para se utilizarem os electrodomésticos habitualmente feitos para essa voltagem.

As sanitas secas existentes permitiam que a reciclagem dos detritos orgânicos (restos de comida e dejectos) se tornassem nutrientes do composto previsto para o jardim, horta e pomar. A antiga casa rural, comprada pela família Baronnet, foi totalmente renovada através da auto-construção, tornando-se também autónoma ao nível da água e da electricidade desde há 25 anos. A eólica fornece anualmente 1,8 megawatts ou seja cerca de 4 a 5 kilowatts por dia. E o painel de foto-pilhas auto-orientável fornece energia complementar. O aquecimento solar passivo foi conseguido através da estufa colocada à entrada da casa. Esta organização espacial — solar passiva — que conta com a inércia térmica das largas paredes da construção vernacular, tem também o complemento de um forno de lenha, embutido num revestimento de tijolo burro, coberto com cerâmica. Existem ainda 4 m2 de captores termo-solares inteiramente construídos pelo Patrick e que fornecem energia para aquecer cerca de 150

litros de água a mais de 40º. Para a água potável aproveitam-se as águas pluviais que são recolhidas em duas cisternas com mais de 4000 litros cada uma. Com esta logística básica (água, luz e aquecimento) construída há mais de 25 anos, a família Baronnet foi consolidando a actividade agro-ecológica para uma alimentação de base vegetariana. Com estas necessidades essenciais resolvidas, a família pode viver com meio salário de um dos cônjuges e assegurar a manutenção das outras despesas e a educação dos filhos. Pouco a pouco, os Baronnet edificaram um eco-centro, escola de vida com formação nos fins-de-semana sobre agro-ecologia, dietética, gestão de água e energias renováveis. Foram-se organizando estágios que ensinavam, através do trabalho prático, as téc-

nicas de construção ecológica (materiais naturais. terra, palha, cânhamo e cal, etc.) e bioclimatização com técnicas passivas e energias renováveis (sol e vento). Uma pequena associação com actividade editorial foi publicando livros e organizando festivais. E das conferências, formação geral, estágios e festivais realizaram‑se em simultâneo a zome e a casa 3E que analisamos. Foi um desenvolvimento orgânico, metamorfoseando no tempo as várias etapas, que permitiu aos Baronnet a consciência de viver em harmonia com o lugar e com os projectos sociais com que sonharam.

Jacinto Rodrigues Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto fotos de Amândio Cunha e Emanuel Cardoso design adriano rangel  colaboração qb design [ este suplemento é parte integrante do jornal a página da educação de abril 2007 e não pode ser vendido separadamente]


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