O alerta da serpente

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Luciana Sgarbi


Nanning, no sul da China, é uma das 12 cidades daquele país, que vive em permanente estado de alerta. Situada numa área em que os abalos sísmicos são freqüentes, as autoridades investem em equipamentos de última geração para monitorar os terremotos. A mais sofisticada tecnologia criada pelo homem, no entanto, começa agora a perder espaço para outra eficiente “tecnologia” criada pela própria Natureza: trata-se do instinto das serpentes! Os geólogos passaram a utilizá-las como se fossem um apurado sismógrafo ao perceberem que elas “detectam” com precisão, os mínimos tremores no solo provocados pelos movimentos das placas tectônicas - gigantescos blocos rochosos sobre os quais se formou a crosta terrestre.


Tecnicamente, os sismógrafos foram desenvolvidos para “sentirem” os menores abalos de terra instantaneamente. O problema é que esses dados precisam ser estudados por especialistas que gastam algum tempo na conclusão da análise das medições.

Computadores acoplados a esses equipamentos ajudam a acelerar os cálculos por meio dos quais se localiza o epicentro dos tremores, mas qualquer erro pode ser fatal, porque é a partir desse processamento de informações que se mapeiam as regiões a serem protegidas do terremoto em formação.


No mês passado, duas pessoas morreram e dezenas ficaram feridas com o desabamento de três prédios na ilha chinesa de Taiwan porque, apesar de os sismógrafos registrarem os abalos, o serviço de monitoração não conseguiu decifrá-los a tempo.

No final de 2004, os aparelhos que patrulham o subsolo terrestre só deram conta da aproximação do maremoto que deu origem ao tsunami e devastou o Sudeste Asiático com um dia de antecedência. O aviso chegou às autoridades em cima da hora e cerca de 280 mil pessoas foram mortas pelo poder das ondas que engoliram, principalmente, a Tailãndia e o Sri Lanka.


“Com as serpentes aumentam as chances de previsões seguras”, diz o geólogo Jiang Weisong, responsável pela vigilância da região de Guangzi, no sul da China. “De todas as criaturas, talvez elas sejam as mais sensíveis a terremotos!” Para o fisiologista José Eduardo de Carvalho, do Instituto de Biologia da Unicamp, a capacidade das serpentes em prever terremotos se explica pela existência de um diminuto osso, chamado columela auris, que une a ponta da mandíbula à caixa craniana. Essa estrutura “capta” vibrações sempre que o animal está com a cabeça sobre o solo. “Elas saem de seus ninhos na iminência de um abalo sísmico!” - diz Weisong.

Outro sinal das cobras é o seguinte: elas se contorcem e se jogam contra barreiras naturais de seus habitats para escaparem da destruição.


Em Nanning, por exemplo, o serviço sismológico montou 143 unidades de monitoramento. Nelas, câmeras registram dia e noite o comportamento das cobras. “Elas tem uma habilidade que serve tanto para escapar de predadores quanto para detectar tremores”, diz Carvalho. Luciana Sgarbi FONTE: REVISTA “ ISTO É” 17/01/2007 - N°1942 - ANO 30


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