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ANHANGUERA EDUCACIONAL S.A. Faculdade Anhanguera de Dourados P贸s de Psicologia Organizacional
Jeovan Maciel Rodrigues
Estresse Ocupacional, S铆ndrome de Burnout, Hardiness e Coping em Bombeiros Militares
Dourados 2011
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Jeovan Maciel Rodrigues
Estresse Ocupacional, Síndrome de Burnout, Hardiness e Coping em Bombeiros Militares.
Monografia apresentada, como exigência parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Psicologia, na Faculdade Anhanguera de Dourados, sob a orientação da profa. Esp. Josikelli de Souza Andrade.
Dourados 2011
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Jeovan Maciel Rodrigues
Estresse Ocupacional, Síndrome de Burnout, Hardiness e Coping em Bombeiros Militares.
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como exigência parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Psicologia da Faculdade Anhanguera de Dourados.
Aprovado em 07 de dezembro de 2011. ________________________________ Profa. Esp. Josikelli de Souza Andrade Faculdade Anhanguera de Dourados Orientadora
________________________________ Prof. Ms, Roberto Padim Silveira Faculdade Anhanguera de Dourados Avaliador
________________________________ Profa. Ms, Verônica Pinto Berzuini Faculdade Anhanguera de Dourados Avaliadora
Dourados 2011
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Dedico este trabalho a ti meu Deus, pois o Senhor é a minha força, o meu refúgio, a minha canção. Dedico também para todos aqueles que não desistem de seus sonhos. Para aqueles que lutam que perseveram que estremecem que se cansam, mas não desistem. Pois o melhor de tudo ainda está por vir, para aqueles que não desistem de lutar.
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Vida Alheia e Riquezas Salvar! Escombros, lama, dor! Solidariedade! Vidas ceifadas num piscar de olhos... sonhos desfeitos, lagrimas! Estranhos que se confortam num abraço... A esperança de que alguém ainda tenha sobrevivido! A cada corpo encontrado, menos um sorriso! A madrugada fria, insensível... Vozes que ecoam em busca de esperança: “Há alguém aí?” Mãos que procuram avidamente por vida... Um sopro que seja! E não há mais nada, senão a si mesmo... Em meio aos destroços, fotografias... Brinquedos, documentos... vidas perdidas! Mas ainda temos heróis... Homens comuns, destemidos, desbravadores. Que dão de si o melhor para os outros! Homens que se emocionam, choram... Que buscam no sol ou na chuva, uma vida salvar! E não importam as tragédias... eles estão lá! Também são pais, são filhos, são humanos! São bombeiros por profissão, São bombeiros por vocação!
Mia Malafaia – Escritora, palestrante e comunicadora de rádio e tv
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AGRADECIMENTOS
Primeiramente a Deus, pelo sopro da vida e por um amor que não mereço. Ao meu pai (in memoriam) que em seu tempo de vida conseguiu me passar valores que levarei por toda minha vida. A minha mãe, por zelo e cuidado que sempre teve por mim. A minha linda namorada, por estar comigo nesta caminhada. Aos meus irmãos, que sempre que estarão comigo. Aos professores e minha orientadora, pelo conhecimento e dedicação. Aos meus colegas de turma, e em especial a Sandra Ernica, Tábata Nayara, Marcia Silveira, Nice, Leonir, Ana Dias, Cristiane e Carlos Henrique, esses que fizeram os cindo anos de faculdade se tornar mais proveitosos. Aos meus grandes e velhos amigos, William, Junior, Augusto, Val, Jean, Valério, Marcos, Robson e Jonathas, vocês não fazem ideia de como são importantes. Aos meus amigos Gunter Junior, André Machado, João Victor, Ariela, Luiz Junior, Gabriel Prado e Rodilso, todos que de forma direta e indiretamente me ajudaram nesta conquista. Aos meus irmãos da Igreja Batista Boas Novas, minha família em Cristo. A todos os meus amigos, colegas e irmãos de farda, o nosso trabalho de bombeiro militar realmente é satisfatório, orgulho em ser bombeiro!
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Hino do Soldado do Fogo (Bombeiros) Letra: Ten. Sérgio Luiz de Mattos Música: Cap Antônio Pinto Júnior
Contra as chamas em lutas ingentes Sob o nobre e alvirubro pendão, Dos soldados do fogo valentes, É, na paz, a sagrada missão. E se um dia houver sangue e batalha, Desfraldando a auriverde bandeira, Nossos peitos são férrea muralha, Contra a audaz agressão estrangeira. Missão dupla o dever nos aponta. Vida alheia e riquezas salvar E, na guerra punindo uma afronta Com valor pela Pátria lutar. Aurifulvo clarão gigantesco Labaredas flamejam no ar Num incêndio horroroso e dantesco, A cidade parece queimar. Mas não temem da morte os bombeiros Quando ecoa d’alarme o sinal Ordenando voarem ligeiros A vencer o vulcão infernal.
Missão dupla o dever nos aponta Vida alheia e riquezas salvar E, na guerra punindo uma afronta Com valor pela Pátria lutar. Rija luta aos heróis aviventa, Inflamando em seu peito o valor, Para frente o que importa a tormenta Dura marcha ou de sóis o rigor? Nem um passo daremos atrás, Repelindo inimigos canhões Voluntários da morte na paz São na guerra indomáveis leões. Missão dupla o dever nos aponta Vida alheia e riquezas salvar E, na guerra punindo uma afronta Com valor pela pátria lutar.
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RESUMO
RODRIGUES, Jeovan Maciel. Estresse Ocupacional, Síndrome de Burnout, Hardiness e Coping em Bombeiros Militares. 2011. 63f. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharel em Psicologia) – Faculdade Anhanguera de Dourados, Anhanguera Educacional S.A., Dourados-MS, 2011.
O serviço desempenhado pelo Corpo de Bombeiros Militares é realmente admirável, são homens e mulheres que assumem seguir uma carreira na qual a principal função é salvar vidas alheias e preservar os patrimônios da nação, sendo eles privados ou públicos. O objetivo deste trabalho é fazer um levantamento bibliográfico de caráter exploratório, sobre os trabalhos realizados pelos bombeiros militares, e como é a relação destes trabalhadores com seu ambiente de trabalho e de que maneira são afetados através das ocorrências que atendem. Para tanto foi levantado um tema, onde se abordou os efeitos do estresse ocupacional e síndrome de burnout em relação ao serviço de bombeiro. Feita também uma pesquisa sobre hardiness, para poder explicar sobre a teoria da personalidade resistente, algo demonstrado pelos bombeiros, pois atendem muitas de suas ocorrências sem se deixar envolver, por mais difícil e chocante que seja a situação. O estudo de coping leva a ter uma compreensão de como os bombeiros lidam com os fatores estressantes que surgem no dia-a-dia de seu trabalho, usando estratégias de forma a amenizar os efeitos do estresse ocupacional. É de suma importância realizar mais trabalhos focados nessa classe de trabalhadores e de conscientizar aos próprios bombeiros e aos Estados ao qual estão subordinados, que é necessário um acompanhamento psicológico constante, pois por mais satisfatório e prazeroso que seja o serviço de bombeiro, ainda assim são homens e mulheres que possuem sentimentos, que se emocionam, que sentem dor, e por mais que sejam vistos como heróis pela população, também são homens e mulheres que necessitam de ajuda. Palavras-chave: Corpo de Bombeiros Militar, estresse ocupacional, síndrome de burnout, hardiness, coping.
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ABSTRACT
RODRIGUES, Jeovan Maciel. Occupational Stress, Burnoutsyndrome, Hardiness and Coping in Fire Brigade. 2011. 63f. Completion of course work (Bachelor of Psychology) – Faculty of Anhanguera Dourados, Anhanguera SA, Dourados-MS, 2011.
The service performed by the Fire Brigade Military is really admirable, are men and women who take a career in which the main function is to save lives of others and preserve the heritage of the nation, with private or public. The purpose of this paper isto review the literature and exploratory on the work performed by military firefighters, and how is the relationship of these workers with their work environment and how they are affected by the events they attend. For this one issue was raised, where headdressed the effects of occupational stress and burnout relation to the fire service. Also made a research on hardiness, in order to explain the theory of strong personality, something shownby firefighters, serving as many of its occurrences become involved without, however difficult and shocking that the situation is. The study of coping takes to have an understanding of how firefighters deal with the stressors that arise in day-to-day work, using strategies in order to mitigate the effects od occupational stress. It is very important to carry out more focused work in this class of workers and to educate themselves on fire and the States to which they are subordinate, that it takes a psychological constant, because a more satisfying and enjoyable to be the fire service, they are still men and wome who have feelings, they get excited, they feel pain, and even if they are seen as heroes by the population, are also men and women who need help. Key-words: Fire Brigade Military, occupational stress, burnout, hardiness, coping
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Modelo Conceitual dos processos de coping e estresse de Moos. .............. 41
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LISTA DE SIGLAS
AESA CBM CBMMS DE EE EO MBI RP SB TCC
Anhanguera Educacional S.A. Corpo de Bombeiros Militar Corpo de Bombeiros Militar do Mato Grosso do Sul Despersonalização Exaustão Emocional Estresse Ocupacional Maslach Burnout Inventory Realização Pessoal Síndrome de Burnout Trabalho de Conclusão de Curso
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SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS ..................................................................................... iv RESUMO ................................................................................................viii ABSTRACT ............................................................................................. viiii LISTA DE FIGURAS ..................................................................................... ix LISTA DE SIGLAS ........................................................................................ x Introdução ............................................................................................. 12 Capítulo 1 - Estresse Ocupacional ................................................................. 15 1.1 1.2
Conceito de Estresse .......................................................................15 Sobre o Estresse Ocupacional .............................................................18
Capítulo 2 - Síndrome de Burnout................................................................. 23 2.1 2.2
Histórico .....................................................................................23 Definições de Síndrome de Burnout .....................................................26
Capítulo 3 – Hardiness (Personalidade Resistente) ............................................ 31 Capítulo 4 – Coping................................................................................... 37 Capítulo 5 – Corpode Bombeiros Militar .......................................................... 42 5.1 5.2 5.3 5.2 5.3
Histórico .....................................................................................42 O Serviço Bombeiro Militar ................................................................44 Estresse Ocupacional em Bombeiros Militares..........................................47 Síndrome de Burnout em Bombeiros Militares .........................................50 Hardiness e Coping em Bombeiros Militares ............................................53
Capítulo 6 – Considerações Finais ................................................................. 56 Referências Bibliográficas .......................................................................... 59
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Introdução
O pesquisador do presente trabalho, por ser bombeiro, e observar as diferentes reações apresentadas por seus companheiros de farda em relação às atividades que desempenham e a maneira com que enfrentam as mais diversas situações estressantes advindas do local de trabalho ou das ocorrências que atendem, viu a importância em realizar esta pesquisa bibliográfica. O estresse pode ser causado por qualquer fator que cause certa tensão sobre a pessoa, como raiva, mudanças na rotina, frustração, e vários outros. Ele está cada vez mais presente na vida moderna. Um fator que cresce juntamente com a evolução da humanidade, pois cada vez mais se exigi uma nova adaptação, um novo aprendizado, um novo conhecimento, uma nova mudança. E com isso os fatores estressantes também aumentam, porque cada vez mais as pessoas se sentem sem tempo para relaxar e descansar um pouco, por causa da incessante corrida pela adaptação. Fraga (2004) mostra que Hans Selye, no ano de 1936, com estudos que realizou, disse que, uma pessoa quando busca se adaptar a algo, ela sofre um conjunto de reações em seu organismo, devido ao esforço empenhado. Mas o estresse é algo que pode ser controlado, embora seja difícil de ser evitado, pois adaptar-se faz parte do dia-a-dia, o que se deve é não deixar que se torne algo nocivo para a saúde. Um estresse não controlado pode gerar diversas complicações físicas e emocionais, como doenças cardiovasculares ou depressão. Porém, uma vez que se saiba a conviver e lidar com os fatores estressantes, esses podem ajudar em uma melhor preparação para as mudanças, e a incitar a buscar sempre um novo conhecimento.
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Em relação ao estrese, o assunto é muito amplo, mas como este trabalho se refere ao estresse em uma classe de trabalhadores, bombeiros militares, vamos nos atentar ao estresse ocupacional e para a intensificação de seus sintomas, a síndrome de burnout. Realizando também um levantamento bibliográfico sofre a personalidade resistente (hardiness), e sobre as estratégias de enfrentamento (coping), que estes profissionais utilizam para amenizar os efeitos dos agentes estressores advindos de seu trabalho. O trabalho desenvolvido pelos bombeiros militares é visto pela população como um trabalho nobre, são como heróis. Natividade (2009) diz que os próprios bombeiros gostam do que fazem, embora seja um trabalho considerado de risco, mas ao final de cada ocorrência a sensação é satisfação e dever cumprido. Mas como é que esses homens e mulheres, integrantes de uma das organizações de maior prestígio pela sociedade, enfrentam os estímulos estressores de seu ambiente de trabalho? São vários os estímulos geradores de estresse existentes na vida laboral de um bombeiro, Murta e Tróccoli (2007) mostram que eles têm que atender situações extremamente calamitosas, estando presente quase que em todas as ocorrências o sofrimento dos outros. E ainda assim devem realizar o serviço sem se deixarem envolver com a emoção da situação. Sem esquecer os estímulos estressores que existem dentro de seus quarteis, tomando como exemplo o “brado”, o sinal que é utilizado para anunciar uma ocorrência. Este afeta não só os que desempenham a atividade “fim”, operacional,
mas
também
os
que
trabalham
no
serviço
“meio”,
administrativo. A síndrome de burnout é caracterizada pelo esgotamento dos métodos de enfrentamento de uma pessoa, quando já não tem mais como se defender dos estímulos estressores então há o surgimento do burnout, esse que se diferencia do estresse ocupacional por ser apenas de qualidade negativa (MAGALHÃES, 2006). E em relação à síndrome de burnout, será que a classe dos bombeiros militares está isenta de sofrer desse mal, já que eles são satisfeitos com o
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seu serviço e admirados pela população? Ou o prazer em servir a comunidade
e
ter
o
sentimento
de
dever
cumprido
são
fatores
suficientemente fortes para manter os bombeiros protegidos da síndrome de burnout? Algo interessante a ser estudado nos bombeiros, é a resistência que possuem com o desgaste do trabalho. O estudo que poderá nos ajudar nessa compreensão é sobre o constructo de hardiness. Sobre esse assunto Vieira (2007) fala sobre um estudo realizado por Kobasa (1979), onde evidenciou dois grupos de trabalhadores, uns que são mais vulneráveis aos estímulos estressores, e aqueles que possuem maior resistência, sendo categorizados como possuidoras da hardy personality, personalidade resistente. Mas todos os bombeiros possuem essa personalidade resistente? O processo de seleção que é realizado pelos Estados, já que o bombeiro é um militar
estadual,
separa
aqueles
que
apresentam
esses
traços
de
personalidade? Ou a hardiness, em relação ao bombeiro, é algo que ele desenvolve devido ao prestigio do serviço? Natividade (2009) diz que assumir ser bombeiro, é ter consciência que irá ter que desempenhar um serviço que é perigoso e estressante. E como será que esses profissionais se defendem dos efeitos negativos do serviço? Quais são as estratégias de enfrentamento que eles utilizam para manter uma boa harmonia homem-trabalho? O estudo sobre coping, que é as maneiras que uma pessoa enfrenta as situações desagradáveis (COMPAS, 2001; apud DINIZ, 2009), criando estratégias que irá utilizar para combater o estresse proporcionado pelo meio laboral, poderá nos amparar nessas perguntas, e nos levar a ter uma compreensão melhor de como os bombeiros se defendem dos efeitos do estresse ocupacional. Com o objetivo de fazer um levantamento bibliográfico sobre o serviço de bombeiro militar, levou a esta pesquisa sobre o estresse ocupacional, síndrome de burnout, hardiness e coping em bombeiros militares, onde no decorrer
deste
Trabalho
de
Conclusão
de
Curso
(TCC),
poderá
se
compreender um pouco mais sobre esses assuntos abordados e suas relações com o trabalho do Corpo de Bombeiros Militar (CBM).
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Capítulo 1 – Estresse Ocupacional (EO) 1.1
Conceito de Estresse
Os conceitos de saúde e doenças sempre passam por mudanças significativas, e da mesma maneira o estresse teve as suas, cujo termo vem do inglês “stress”, mas neste trabalho será utilizado o termo em português estresse. Lipp (1996), apud Silva (2006), diz em seu trabalho que no século XIV a palavra “stress” teve como primeiro significado a “aflição e adversidade”, e no século XVII “opressão, desconforto e adversidade”. Fraga (2004) escreveu que em 1936 o termo “stress” foi introduzido no campo da saúde, por Hans Selye, que era um fisiologista canadense, e após estudos e trabalhos realizados, disse que o estresse era o conjunto de reações que um organismo apresentaria após submeter-se a ocasiões que exigissem esforço para sua adaptação. Selye (1956), ainda se refere ao estresse como sendo “uma síndrome específica, constituídas por todas as alterações inespecíficas e produzidas num sistema biológico”, onde o organismo apresentaria uma inquietude, mal estar e sofrimento, por se apresentar frente a uma situação estressora, tendo assim dificuldade em se adaptar a mesma (apud SILVA, 2006). Segundo o Dicionário Didático Brasileiro de língua portuguesa, o estresse é um conjunto de agentes agressores que causam perturbação orgânica e psíquica, tais agentes pode ser o frio, uma doença infecciosa, pressão nos estudos, um choque cirúrgico, e outras capazes de perturbar a homeostase.
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E segundo Selye (1956), apud Silva (2006), o estresse pode se consistir em três fases: 1- Reação de alarme ou alerta, que é quando inicialmente a pessoa se confronta com sua fonte estressora. Esta fase possui duas divisões. Sendo a primeira o choque, formado pelo aparecimento do agente nocivo ou ativador. E a segunda, é o contrachoque, momento este que o organismo põe em funcionamentos as defesas que possui. Nesta fase podem ocorrer sintomas tipo: respiração ofegante, sudorese excessiva, fadiga, tensão muscular, aumento ou queda de pressão arterial, entre outras; 2- Resistência ou adaptação, onde o organismo continuará a dar seguimento
com
as
repostas
de
defesa,
aumentando
sua
resistência ao agente nocivo particular, mas por conseqüência possui menor resistência a outros estímulos. É uma fase onde se gasta muita energia, fazendo com que o indivíduo sofra com cansaço excessivo, medo, nervosismo, apetite oscilante, ansiedade, isolamento social, esquecimento. Então, se o agente estressor for muito intenso ou de longa duração, o organismo tentará restabelecer a homeostase de modo reparador. Se conseguir resistir, adaptando-se ou eliminando os agentes estressores, o organismo então se recuperará. Caso contrário, o organismo se enfraquecerá ficando vulnerável a doenças; 3- Exaustão ou esgotamento, considerada a mais perigosa, é quando o pseudo-equilíbrio da fase de resistência fica perdido. Embora esta fase tenha semelhança com as manifestações orgânicas da primeira fase, nesta há um comprometimento físico e emocional muito maior. Em uma visão bio-psico-social, o estresse pode possuir os seus estímulos tanto no meio externo (físico ou social) quanto em meio interno (emoções, pensamentos, fantasias, sentimentos). O indivíduo também possui sua parcela na equalização desses estímulos. As crenças e compromissos pessoais são fatores que individualmente nortearão o processo de avaliação. (RODRIGUES, 2005).
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Pode-se perceber a presença do estresse quando surge um cansaço que parece não ter fim, um sofrimento por antecipação que faz se sentir inseguro, incapaz, ameaçado, ansioso, etc. (LOBÃO, 1999). Esses sentimentos, e outros sinais e sintomas ocorrem, pois o estresse ocasiona uma ruptura no equilíbrio interno do organismo, faz com que o coração comece a bater rápido demais, perde-se o sono, o estômago não digere bem os alimentos, pode gerar tensão muscular, dores de cabeça, agitação, dores nas costas, deixar a boca e garganta seca, fazer transpirar, dentre muitas outras reações. (LIPP, 2000). Figueiras e Hippert (1999), dizem que segundo o estudioso Hans Selye (1959), que foi o primeiro a tentar definir este assunto, o estresse é totalmente inerente a qualquer doença e que causa certas modificações tanto na estrutura como na composição química de uma determinada pessoa. E que ele é nada mais que um estado da Síndrome Geral da Adaptação. Sendo assim é um estado que se manifesta através de uma determinada síndrome, mas que é constituído por todas as alterações não específicas que são produzidas por um sistema biológico. O estresse então é algo que pode ser ocasionado devido a diversos fatores, podendo ser de origens desagradáveis como perder um emprego, alguém muito próximo falecer, uma doença, sofrer um acidente, etc. Como também pode ser gerado a partir de alguma situação que pode ser considerada prazerosa como ganhar dinheiro, ter filhos, passar em um concurso, se casar, etc. Não importa se é uma pequena preocupação com uma prova que vai ser realizada na outra semana, ou se tem que tomar a decisão urgente de algo que afetará drasticamente sua vida, basta deixar tenso que o estresse já poderá ocorrer. (ISTOÉ – Guia da Saúde Familiar STRESS). Lipp (2000) fala que o estresse não cuidado pode ocasionar no desenvolvimento de ulceras, hipertensão, crises de pânico, herpes, vitiligo, entre outras. Mas o estresse não gera nenhuma doença nas pessoas, ele pode ser o desencadeante para doenças a quais a pessoa já possuía predisposição. Devido ao distúrbio que ele ocasiona no corpo ocorre uma
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baixa na defesa imunológica, e assim abre-se espaço para que algumas doenças se manifestem. Para se manter com uma boa defesa contra o estresse, e poder enfrentá-lo, o melhor é manter uma boa saúde e uma mente saudável. Podese defender o organismo contra o estresse que está presente na vida, tendo o entendimento do que o está causando, e por mais incrível que pareça às principais defesas estão dentro da própria pessoa e consistem basicamente em manter uma boa forma física e mental. (ISTOÉ – Guia da Saúde Familiar - STRESS). 1.2
Sobre o Estresse Ocupacional
Para falar sobre estresse e o trabalho que é desenvolvido pelos militares do Corpo de Bombeiros, deve-se estreitar um pouco o assunto para que haja um melhor entendimento. Quando fala-se sobre estresse o assunto é bem amplo, mas como se trata dos efeitos devido ao trabalho, o assunto em questão é o estresse ocupacional. Estresse está relacionado com a resposta do organismo aos eventos estressores que a ele é imposto, e estresse ocupacional se trata do produto da relação entre um determinado indivíduo e seu ambiente de trabalho (SANTOS, 2009). Embora a literatura sobre estresse nos anos 70 tivesse como abordagem o estresse no trabalho, e discussões sobre a saúde mental dos indivíduos tomando como base as demandas das tarefas, os trabalhos sobre estresse, fortemente realizados pelos psicólogos clínicos, seguiam ao modelo de Seyle, que mostrava o estresse como sendo demanda versus a capacidade do indivíduo. Sendo assim, o estresse relacionado ao trabalho teve raras menções, mesmo sua importância de controle sendo reconhecida na literatura sobre a satisfação no trabalho (ARAÚJO, GRAÇA E ARAÚJO, 2003) Bicho e Pereira (2007), dizem que alguns autores se referem ao estresse ocupacional como sendo um conjunto de perturbações psicológicas geradoras de sofrimento psíquico que estão ligadas as experiências no trabalho. Dolan (2006), apud Cremasco, Constantinidis e Silva (2008),
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mostram que o estresse ocupacional se dá quando ocorre um desequilíbrio entre as expectativas do indivíduo com a realidade da condição de seu trabalho, onde o torna incapaz de realizar as exigências profissionais. Vieira (2007) mostra alguns conceitos de EO segundo outros autores: Zimbardo
(1988)
definiu
EO
como
sendo
a
alteração
da
homeostase devido a fatores que interagem com o trabalhador; Segundo Ramos (2011), EO se definirá como a resposta física e emocional que tem caráter nocivo, e que ocorre quando as exigências do trabalho não compatíveis com as necessidades, capacidade e recursos do trabalhador. Caiaffo (2003) relatou em seu trabalho, que Grandjean (1998) definiu o estresse ocupacional como um estado emocional, ocasionado pela diferença entre o grau de imposições do trabalho e recursos disponíveis para controlá-los. É um fenômeno de caráter subjetivo, resultante do produto entre a relação de uma pessoa e seu ambiente de trabalho, onde as exigências do ambiente são muito maiores do que a capacidade que a pessoa tem
para
enfrentá-las,
interferindo
assim
no
desempenho
pessoal
prejudicando o seu desempenho ocasionando desgaste excessivo e dessa maneira interferindo em sua produtividade. Em uma visão particular, o estresse ocupacional se define como sendo as situações que tornam o ambiente de trabalho um lugar hostil para determinada pessoa, onde suas necessidades tanto profissionais como de realização pessoal e até mesmo sua integridade física e mental estão sendo prejudicadas, por se sentir de certa forma ameaçado pelo trabalho. Neste ponto a integração entre a pessoa e seu trabalho, e até mesmo seu próprio ambiente, começa a ficar prejudicada, pois o ambiente começa a mostrar demandas excessivas nas quais a pessoa não possui recursos necessários para enfrentá-las (CAIAFFO, 2003). O trabalho pode ser uma fonte de prazer para as pessoas, trazendo para elas o sentimento de realização, contribuindo para a formação de suas identidades, mas também por outro lado pode acabar se tornando nocivo a
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saúde, quando começa a representar sofrimento (SELIGMANN-SILVA, 1987; DEJOURS, 1987; apud VIEIRA, 2007). Os fatores que levam ao estresse ocupacional podem ser muito variados e possuem efeitos que vão se acumulando. O estresse é gerado através das exigências mentais exageradas, mas poderá ter um efeito muito maior naquelas pessoas já afetadas por outros fatores, tipo divergência com a chefia, complicações de saúde e até mesmo problemas familiares (LIDIA, 2001, apud CAIAFFO, 2003). Silva (2006) mostra que os estressores ocupacionais de subdividem em dois grupos. O primeiro sendo os estressores do ambiente físico, que podem trazer conseqüências psicológicas e desestruturação da organização racional do trabalho, estes estressores pode ser: ruídos, vibrações, higienização, luminosidade, ventilação, adequação do espaço físico, dentre outros. O segundo grupo são as demandas estressantes do trabalho e de seu conteúdo, este é o grupo de maior interesse para o estudo de estresse ocupacional. Carvalho e Serafim (1995) destacaram alguns principais fatores que podem levar uma pessoa a sofrer de estresse ocupacional, são eles: Aumento do volume de trabalho; Conflitos diários no trabalho; Pressões no trabalho; Incompreensão da chefia; Ambiente desfavorável ao indivíduo; Função não adequada ao indivíduo. Já Fontana (1994), apud Caiaffo (2003), afirma que o estresse no trabalho tem como causas gerais: Apoio Insuficiente; Longas jornadas de trabalho; Baixa perspectiva de promoção; Rituais e procedimentos desnecessários; Incerteza e insegurança.
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Não podemos afirmar que o EO poderá ser originado de apenas um único fator, podendo ser ambiental ou individual, pois é um processo que não irá atingir somente o trabalhador, mas também seu ambiente de trabalho. Ambos são interligados, indivíduo e local de trabalho, então se o indivíduo está sofrendo desgaste físico e ou emocional, proveniente dos fatores estressantes do trabalho, irá lhe causar uma baixa no desempenho, e dessa forma afetando o contexto organizacional (VIEIRA, 2007). Ainda descrevendo alguns fatores que podem gerar o estresse ocupacional, Mendes (2002), apud Silva (2006), mostra os seguintes: sobrecarga de trabalho, relações interpessoais no trabalho, estágios de desenvolvimento de carreira profissional, status profissional e o salário, novidade ou variedade das tarefas e controle de atividades. É de suma importância, salientar que os trabalhadores não separam a idéia de bem estar psicológico da dimensão do trabalho, uma vez que a qualidade de vida ocupacional vai além dos limites de trabalho, buscando o bem estar para o indivíduo em qualquer ambiente que esteja (CARDOSO, 200; apud SILVA, 2006). Caiaffo (2003) revisou alguns trabalhos que tratavam dos sintomas referentes ao EO, e agrupou os sintomas em quatro modalidades fundamentais: físicos/mentais, psicológicos, comportamenais e fisiológicos. Os sintomas físicos e mentais são relatados por Dias e Silva (2002), onde fala que um nível de estresse muito alto no ambiente de trabalho resultará na queda de produtividade da pessoa, isso podendo gerar erros e até acidentes graves, pois a uma perda de capacidade e concentração. Os sintomas físicos seriam basicamente: dor de cabeça, palpitação, azia, reações alérgicas, dores lombares, insônias, indigestão, aumento do apetite, suor, gagueira. E os sintomas mentais são: dificuldades de concentração, agressividade, tomadas
de
irritabilidade, decisões,
passividade,
sensação
de
ansiedade,
fracasso,
dificuldade
superatividade,
nas
medo,
depressão, comportamento não-cooperativo. Os sintomas psicológicos, comportamentais e fisiológicos, Caiaffo (2003) mostra através do trabalho de Robbins e Coulter (1998). Os sintomas
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psicológicos se encontram na insatisfação do trabalho, na tensão, ansiedade, irritabilidade, tédio e protelação. Os sintomas comportamentais são observados na mudança de produtividade do indivíduo, no absenteísmo, turnover, tabagismo, consumo de álcool e falar rápido. Os sintomas fisiológicos se relacionam com a mudança de metabolismo, aumento nos batimentos cardíacos e freqüência respiratória, aumento da pressão sangüínea.
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Capítulo 2 – Síndrome de Burnout (SB)
2.1
Histórico
Três estudiosos de saúde mental marcaram o surgimento dos estudos sobre burnout, foram eles: Bradley, em 1969, Freudenberger, em 1974 e Maslach em 1976 (LOPES, 2010). Silva (2010) diz, segundo o trabalho de Benevides (2002), que os créditos pela expansão e divulgação dos estudos sobre burnout, devem ser dados para Freudenberger, Christina Maslach e Susan Jackson, pelas publicações de seus artigos nos anos 70, artigos que foram o pontapé inicial para o aprimoramento do estudo deste fenômeno. Burnout, expressão de origem inglesa usada para demonstrar aquilo que deixou de funcionar através da exaustão de energia. Utilizada em sua primeira vez por Bradley, 1969, em um trabalho para falar sobre o desgaste de trabalhadores assistenciais, ele então utilizou o termo staff burn-out. (SCHAUFELI & EZMANN, 1998; apud LEITE, 2007). Leite
(2007),
ainda
continua
a
dizer
em
seu
trabalho
que,
Freudenberger, 1974, um psiquiatra americano, foi quem usou pela primeira vez de forma sistemática este fenômeno. Ele trabalhava em um serviço alternativo para atendimento às pessoas com dependência química, e junto com ele trabalhava outros voluntários, os quais ele passou a analisar o estranho padrão de comportamento. Esses voluntários, no princípio, demonstravam grande motivação, já que desenvolviam o serviço por livre escolha. Com o passar do tempo começaram a demonstrar desmotivação, perda de energia, falta de comprometimento e outros sintomas ainda de caráter psíquico, comportamental e físico. Então, Freudenberger utilizou-se
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da expressão “burnout”, para definir tais conjuntos de sintomas, sendo também utilizada na gíria dos profissionais de saúde, ao se referirem ao uso exagerado e crônico de drogas. Shaufeli, Leiter e Maslach (2009), apud Lopes (2010), dizem que o termo de burnout na década 70 surgiu como um conceito muito importante, pois demonstrava de maneira crítica a relação de experiência da pessoa com o seu trabalho. E valendo lembrar que mesmo após vários anos de seu lançamento na literatura psicológica e trabalhos realizados, ainda é fonte de inspiração para pesquisadores que procuram estudar uma maneira de enfrentá-lo, combatê-lo e preveni-lo. Tal importância a este assunto está no motivo de o burnout fazer parte de um problema social, ao quais pesquisadores e profissionais dão a devida atenção e cuidados. Christina Maslach, que era uma psicóloga social, estudava as emoções no ambiente de trabalho, e de forma particular o estresse emocional decorrente do trabalho. O que veio a chamar a atenção dessa psicóloga para estudar o burnout foi às investigações sobre a influência da carga emocional do trabalho, em entrevistas que estavam realizando com profissionais de serviços humanos. Ela identificou que este serviço causava uma forma particular de estresse e sobrecarregava o trabalhador (LOPES, 2010). Ainda a mesma autora continua a dizer que Maslach, ao tratar com as pessoas que estavam sofrendo de burnout, identificou que estas apresentavam certas regularidades identificáveis, e a exaustão emocional era a resposta frequente à sobrecarga. E que para compreender melhor o burnout, teria que ser feita uma análise contextual de todos os fenômenos que envolvessem a interação entre cuidador e receptor, e que também estratégias de enfrentamento seriam de suma importância para implicações referentes à identidade profissional das pessoas e seus comportamentos no trabalho. Maslach (in Iwanicki, 1981), apud Burger (2003), para definir o burnout usou-se da função de três componentes: 1- Exaustão emocional e/ou física;
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2- Perda
do
sentimento
de
realização
do
trabalho,
tendo
a
produtividade rebaixada; 3- Despersonalização extrema, manifestada através de atitudes negativas com as pessoas relacionadas ao trabalho. Leite (2007), de acordo com uma revisão que fora publicada no ano de 2001, diz que Maslach, Schaufeli e Leiter (2001) traçaram uma trajetória dos estudos teóricos e metodológicos sobre burnout, estudos estes que foram surgindo no decorrer dos últimos anos, e então dividiram a história dele em duas fases: A pioneira, que surge na década de setenta, e a fase empírica, esta ultima se dividindo também em dois momentos: durante os anos oitenta e a partir da década de noventa. A mesma autora continua a dizer que a fase pioneira, conforme esses autores, deu-se pelo caráter exploratório, foi o momento em que começaram a descrever o fenômeno, através dos estudos de casos, entrevistas e observações. Fase onde se buscou uma melhor compreensão da síndrome de burnout, através das investigações aprofundadas entre a relação da pessoa e seu trabalho. Continuando, a autora ao falar da segunda fase dos estudos sobre burnout, a fase empírica, diz que esta teve início nos anos 1980 com o foco mais no recolhimento de dados de forma mais sistemática. Conseguiram realizar pesquisas com um amplo numero populacional, empregando-se material padronizado para a execução dessa coleta de informações. E o instrumento que até hoje é mais utilizado é o Maslach Burnout Inventory – MBI, de autoria de Maslach e Jackson (1981). Neste momento podemos destacar também a contribuição das teorias e metodologias provenientes da psicologia organizacional que desenvolveram as visões precedentes de burnout, que sobrevieram das psicologias clínica e social. Ainda para este período, podemos destacar a participação de Cherniss, para este o relacionamento de um indivíduo com seu local de trabalho sofrem influencias da natureza da organização e do ambiente sóciocultural a qual o seu trabalho está encaixado (FARBER, 1991; CHERNISS, 1980; apud LEITE, 2007).
26
A fase empírica, com início nos anos de 1990, oferece novos meios de estudos teóricos e metodológicos. Agora o conceito de burnout vai além das ocupações relacionadas com serviços humanos e educação, tem-se uma visão mais ampla desse fenômeno. Utilizando de uma metodologia e instrumentos mais aprimorados para coleta de dados, pode-se realizar um trabalho com um número muito mais amplo de pessoas, e assim tornando viável uma visão temporal necessária através de testes de hipnoses causais, e
avaliação
do
choque
da
mediação
de
intercessão
organizacional
relacionadas à síndrome (MASLACH et. al.2001, apud LEITE, 2007). 2.2
Definições da Síndrome de Burnout
Para que possamos considerar o burnout como um fenômeno de importância, primeiramente devemos diferenciá-lo do estresse, que embora sejam semelhantes, mas possuem constructos diferenciados. A SB é a intensificação da sintomatologia daquilo que venha a ser o estresse laboral. Burnout é diferenciado por sua relação temporal, quando os métodos de enfrentamento que são utilizados pela pessoa não são suficientes. A SB tem sua base na tensão emocional, se diferenciando ainda do estresse por sua qualidade negativa, crônica e inadaptada. É a fase final das frustradas tentativas, que a pessoa teve em lidar com o estresse relacionado com as condições de trabalho negativo (MAGALHÃES, 2006). A SB é definida, segundo França e Rodrigues (1999), como um produto da relação entre o indivíduo e a tensão emocional que é produzida pelo contato exacerbado e estressante com o trabalho. E dessa maneira vaise corroendo de forma progressiva a interação da pessoa com sua atividade profissional, gerando no indivíduo os seguintes sintomas: mal-estar, fadiga, esgotamento, sentimento de infelicidade, desamparo e perda do entusiasmo com a profissão (CAIAFFO, 2003). Burger (2003) vem dizer que a SB não se trata do resultado de um trabalho excessivo, mas da abertura que se cria entre o esforço empregado pela pessoa e a recompensa que se espera receber pelo trabalho realizado. No inicio, o termo burnout era mais utilizado para a reação de estresse
27
crônico
nos
profissionais
cujas
atividades
eram
um
alto
nível
de
aproximação com outras pessoas, atividades essas que eram mais conhecidas como “profissões de ajuda”. Após algum tempo, a definição de burnout se estendeu para todas as demais áreas profissionais, pois seja qual for à profissão que uma pessoa desenvolva, este estará sujeito a pressões e exigências cada vez maiores. Dessa maneira a SB tem-se apresentado como um dos principais problemas psicossociais, pois é o gerador de conseqüências individuais e organizacionais, assim ele tem despertado o interesse e a inquietude tanto da comunidade científica internacional, quanto de entidades, sejam elas governamentais, empresariais, educacionais ou sindicais (FERENHOF; FERENHOF, 2001; apud VIEIRA, 2007). Magalhães (2006) afirma em seu trabalho que o desgaste que uma pessoa venha a sofrer em seu ambiente de trabalho pode ocasionar no aparecimento de doenças, pois os agentes estressores psicossociais são tão nocivos quanto a microorganismo ou a insalubridade. E dentro de uma organização, seja ela qual for, todos estão sujeitos a SB, desde o executivo até o operário poderão apresentar alterações devido aos agentes estressores psicossociais. A mesma autora continua a dizer que o desgaste emocional que as pessoas sofrem por causa da relação com o trabalho, é um elemento de valor muito significativo para a definição de transtornos relacionados ao estresse, podendo citar as depressões, ansiedade patológica, pânico, fobias, doenças psicossomáticas, etc. Sendo o ambiente de trabalho o maior responsável pela maioridade das síndromes ou doenças ocupacionais. O grande avanço das tecnologias, o processo de globalização, o mercado e ambiente de trabalho altamente competitivo, a perda da sensatez daquilo que é comum e o valor do trabalho sendo substituído pelas recompensas, que nem sempre são bem vindas, são os motivos para que os profissionais sejam afetados de alguma forma em seu bem-estar físico ou mental, pois nem sempre o trabalhador conseguirá perceber o que está se passando com ele, muitas vezes só percebe quando já está com sua saúde debilitada (MAGALHÃES, 2006).
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A forçada versatilidade dos profissionais acaba por afetá-los, tanto em áreas laborativas, quanto em suas particularidades. Causa danos subjetivos que afeta na relação com o outro, no ambiente de trabalho e com as atividades que exerce. Seu desempenho é afetado de modo que passa a sentir sensações de impotência e incapacidade, gerando sentimentos que lhe causam sofrimento (PIMENTA, 2004). Pimenta (2004) se refere à SB como uma síndrome de caráter ocupacional, cuja idéia é tridimensional, como é exposto por Maslach e Jackson (1981), mostrando três fatores determinantes: Exaustão Emocional (EE), Realização Pessoal no Trabalho (RP) e Despersonalização (DE). Ainda afirmando que a SB se caracteriza como um estado muito grande de descontentamento, frustração e esgotamento afetivo, que são conseqüências do desgaste continuo do trabalho. Potter (1998a), apud Burger (2003), faz sua referencia à SB se direcionando á ela como uma doença do espírito, onde a motivação foi de certa forma danifica ou destruída, dizendo que ela é a “depressão do emprego”, ocorrendo a perda no interesse na atividade que exerce , podendo atingir casos extremos se tornando incapaz de trabalhar, embora suas habilidades continuem intactas, mas o burnout impede que a pessoa consiga desenvolvê-las, extinguindo a motivação pelo trabalho, de modo que a pessoa não se interesse mais. O termo burnout na Espanha foi utilizado para expressar a o sentido de estar “consumido” ou “queimado”, buscando mostrar a perda de interesse e esperança pelo trabalho, ou a sensação que qualquer esforço empenhado no trabalho seria inútil. Seria o produto de um estresse crônico, resultante do trabalho, principalmente daqueles que existisse demasiada pressão, ambiente conflituoso, pouca gratificação e pouco reconhecimento (GILMONTE & PEIRÓ, 1997; GIL-MONTE, 2002, apud LOPES, 2010). Leite (2007) diz que em toda a literatura não há uma única definição para burnout, mas que podemos defini-la através de algumas perspectivas. Tendo origem através das abordagens clínica e psicossocial, e, na seqüência agregando mais conhecimento na compreensão e estudo da SB temos as
29
abordagens organizacional, sócio-histórica e a psicologia do trabalho, podemos defini-las desse modo: Abordagem clínica: Burnout é visto como um estado mental negativo, que envolve a pessoa em um intenso estresse laboral; Abordagem psicossocial: O termo de burnout que nessa abordagem foi mais consensual e difundido é o de Maslach e Jackson (1981), que o mostram como uma síndrome psicológica resultante de estressores
interpessoais
crônicos
que
estão
presentes
no
ambiente de trabalho, podendo-se caracterizar em três aspectos: como sendo um processo e não um estado; a etiologia mostra como causas principais os elementos do ambiente de trabalho; e construto multidimensional que se divide em exaustão emocional, despersonalização e baixa realização pessoal; Abordagem organizacional: Alavancada através dos trabalhos de Cary Cherniss realizado em meados dos anos setenta do século passado. Nesta abordagem busca-se a compreensão da SB, como um sistema que ocorre em um plano transicional, pois as características do ambiente de trabalho se interligam com as da natureza pessoal; Abordagem sócio-histórica: O principal responsável por esta abordagem foi Seymour Sarason (Sarason, 1981-1983; citada por Farber, 1991), que defendia que burnout não era apenas um problema individual e sim da sociedade, pois as características psicológicas poderiam refletir em todos; Abordagem da Psicologia do Trabalho: Abordagem fundamentada em Marx e Leontiev, sendo desenvolvida por Codo e colaboradores no Laboratório de Psicologia do Trabalho da UnB. Defende a permanência de certo elo afetivo entre trabalhador e seu objeto de trabalho e a impossibilidade de realizá-lo. E temos os sintomas que Caballero e Millán (199), apud Vieira (2007), dizem que a SB apresentam, sendo divididos nas seguintes ordens:
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1- Fisiológica: Falta de apetite, cansaço, insônia, dor cervical, ulceras; 2- Psicológica:
Irritabilidade
ocasional
ou
instantânea,
gritos,
ansiedade, depressão, frustração, respostas rígidas e inflexíveis; 3- De
conduta:
Expressão
de
hostilidade
ou
irritabilidade,
incapacidade em conseguir se concentrar no tralho, aumento das relações conflitivas com os demais colegas, chegar tarde ao trabalho ou sair mais cedo, estar com freqüência fora de seu setor de trabalho e ficar fazendo pausas demoradas para descanso; 4- Outros: Aumento do absenteísmo, apatia frente a organização, isolamento, empobrecimento da qualidade de trabalho, cinismo e fadiga emocional, aumento do consumo de café, álcool, cigarros, etc.
31
Capítulo 3 – Hardiness (Personalidade Resistente)
Vieira (2007) diz em seu trabalho que Kobasa (1979), publicou o primeiro trabalho sobre hardiness. Após realizar um estudo que teve duração de oito anos, com executivos, ele descobriu dois grupos diferentes de pessoas em relação ao enfrentamento com o trabalho. Um grupo seria aqueles que são mais vulneráveis, apresentando mais sintomas referentes ao estresse, sendo necessária intervenção médica. O outro grupo é os das pessoas que não demonstraram alteração nos sintomas durante o tempo que levou para realizar seu trabalho, aliás, apresentaram uma aparência saudável e robusta. E assim foram nomeadas de possuidoras de hardy personality, ou hardiness, personalidade resistente. O conceito de hardy personality, ou hardiness, é sumariamente o termo que considera as pessoas ativas e criativas perante os momentos consideráveis ruins, e tendo uma ligação entre a Psicologia Social e a da Saúde (MALLAR; CAPITÃO, 2004; apud OLIVEIRA, 2008). Kobasa (1981), apud Guimarães e Grubits (2008), conceitua o hardiness como sendo um traço de personalidade, que surge de forma a combater o estresse, permitindo à pessoa enfrentar a adversidade e utilizá-la para seu crescimento nas áreas laborativas ou familiares. Ele contribui para a amenização dos confrontos que um indivíduo tem entre o seu meio profissional e familiar. Batista (2011), para explicar o hardiness, vem dizer que o método que a personalidade resistente se utiliza para combater o estresse, age como um elemento de resiliência, se desenvolvendo desde cedo na pessoa e estabilizando-se com o passar do tempo, mas podendo ser adquirida em determinadas condições. Guimarães e Grubits (2008) falam que as pessoas
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podem melhorar seu hardiness, e assim alcançando uma diferença significativa para a saúde em seus diferentes níveis. Hardiness, traduzindo, significa robustez, dureza, solidez, severidade, um termo para melhor exemplificar a condição de moderador que reduz a possibilidade de surgimento de estresse ocupacional ou da Síndrome de Burnout. Característica própria das pessoas que se “auto-reconstroem”, ou seja, que utilizam dos acontecimentos para proporcionar seu crescimento pessoal (GUIMARÃES; GRUBITS, 2008). Dias e Queirós (2010) fazem a conceituação de hardiness através de alguns autores. Eles dizem que se trata de uma personalidade resistente ou resiliente (Kobasa, Maddi & Khan, 1982), onde o indivíduo no decorrer de sua existência constrói sua personalidade mediante as situações que causam o estresse (Peñacoba & Moreno, 1998). Tal conceito não deve ser compreendido como traço inerente e estático, mas sim como o produto do relacionamento indivíduo-meio, onde o hardiness se resume na capacidade que a pessoa tem em resistir às adversidades (Kobasa, 1979). É um traço de personalidade responsável pelo aumento do desempenho, conduta, moral, força e saúde, se tornando um agente de combate contra o estresse (Mallar, 2003). Torna a vida menos estressante, pois os mecanismos que a personalidade
resistente
utiliza
preservam
a
saúde,
aumentam
o
desempenho e promove mudanças na vida da pessoa que tem esse traço de personalidade (Moreno-Jimenez, Garrosa & Gonzalez, 2000). Tal resistência ao estresse pode ser comparada a um “colete a prova de bala”, que utiliza de característica de personalidade como a ousadia, ausência de sentimentos de desamparo (Salton, 2002). Serrano (2009) definiu hardiness, conforme Maddi (2002), como a coragem para prosseguir, de enfrentar a vida, de formular pensamento mesmo com a pressão que o mundo impõe, e ainda gerando motivação para realizar tarefas difíceis. A mesma autora continua a dizer que o hardiness gera efeitos de forma direta e indireta na saúde e bem-estar da pessoa, pois de um lado ele promove o uso de recursos sociais e facilita o coping transformacional, e de contrapartida altera diretamente, através do otimismo, o agente estressor,
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gerando uma tensão bem menor, diminuindo a doença e elevando o bemestar. As pessoas que são caracterizadas hardy, então, são aquelas que se comportam
diferente
no
enfrentamento
contra
o
estresse,
seus
comportamentos são de forma saudável e robusta. Batista (2011), diz que os indivíduos hardy levam vantagem sobre aqueles que são desprovidos dos traços de personalidade resistente, pois as pessoas que já são naturalmente hardy tem a certeza de que podem alterar o que está a sua volta, e que de acordo com suas vontades podem influenciar os agentes estressores, pois tem o controle da situação. Tem compromisso com aquilo que fazem, sentem prazer na vida e nela procuram por algo que lhes dê sentido. Encaram as adversidades como desafios a serem superados, buscando aprimoramento e crescimento. Kobasa (1979), apud Guimarães e Grubits (2008), diz que hardiness é o construto concernente à personalidade de determinada pessoa, que tem a capacidade de resistir e proteger sua saúde mental e física, onde frente aos fatores nocivos do estresse consegue amortizá-los, moderá-los ou anulá-los, e ainda assim usá-los para seu crescimento. Ainda segundo os mesmos autores, conforme Kobasa e Pucceti (1983), dizem que os portadores da personalidade resistente também são dotados de um alto nível de autoconfiança, fazendo com que possam enfrentar de forma positiva as situações de estresse. E de acordo com Later, Kobasa, Maddi e Kahn (1982), o hardiness pode proteger contração de duas maneiras: 1) altera a percepção de estresse e 2) criação de planos de coping efetivos. Vieira (2007) vem dizer que desde sua concepção, entende-se que hardiness, termo usado para a personalidade resistente, é a qualidade atribuída a aquelas pessoas que possuem a capacidade de se defenderem dos agentes estressores e amortecendo seus efeitos, e assim diminuindo as conseqüências e transtornos associados. O autor extraiu do trabalho de Maddi e Kobasa (1984) as vias que mostram tal efeito mediador entre estressor e enfermidade, são elas: 1) O hardiness contribui para modificar as percepções acerca dos estímulos estressantes, tornando-os mais amenos, com tendência
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de diminuição da resposta ao estresse. As pessoas com alto hardiness
são
mais
propensas
a
perceber
os
estímulos
estressantes como positivos e controláveis. Ainda é impossível determinar se a personalidade resistente altera a percepção dos acontecimentos ou, se o estresse produzido pelos acontecimentos torna o indivíduo com mais ou menos hardiness. Existe consenso, no
entanto,
que
indivíduos
com
alto
hardiness
possuem
percepções mais positivas diante de situações estressantes; 2) A personalidade resistente leva a um determinado tipo de conping (estratégia
de
enfrentamento),
denominado
conping
transformacional. Essa hipótese demonstra que uma vez que o estímulo é percebido como estressante, as características da personalidade resistente podem moderar seus efeitos facilitando estratégias de coping adaptativas e inibindo estratégias de coping pouco adaptativas. De acordo com essa concepção, a pessoa com personalidade resistente faz uso de coping transformacional, e assim percebe os estímulos potencialmente estressantes como oportunidades de crescimento; como resultado dessa percepção a pessoa os enfrenta de forma mais otimista e ativa; 3) O hardiness pode repercutir nas estratégias de coping forma indireta por meio de sua influência e apoio social. Os efeitos do hardiness nas estratégias de coping podem se estabelecer tanto diretamente quanto indiretamente, através do apoio social. O apoio social pode moderar os efeitos do hardiness e tem relação direta com as dimensões de comprometimento e desafio, mas não com a dimensão controle; 4) A personalidade resistente favorece estilos de vida saudáveis que reduzem a probabilidade de aparecimento de enfermidades. Beneficia a saúde por meio de estilos de vida saudáveis. Desse ponto de vista, o hardiness influência determinadas práticas como o exercício e o descanso, que repercutem finalmente na saúde do indivíduo.
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Foi Susanne Kobasa (1979) que propôs como robustez psicológica o constructo de personalidade que seria capaz de explicar a resistência e o coping perante os momentos estressantes. Teve como abordagem o existencialismo sendo composto por três dimensões: o comprometimento, o controle e o desafio (CLAUDINO, MOREIRA E COELHO, 2009). Nos trabalhos de Guimarães e Grubits (2008), Serrano (2009), Batista (2011) e Oliveira (2008), eles descreveram sobre essas três dimensões, onde podemos dizer que: Comprometimento:
tendência
de
algumas
pessoas
em
se
envolverem em tudo que fazem, elas se comprometem e se identificam nas mais diferentes áreas da vida: familiar, laboral, social e recreativa. Possuem sentimento de comunidade, sempre dispostas
a
ajudar
outras
pessoas.
Pessoas
que
são
comprometidas são mais saudáveis do que as que são alienadas. São pessoas que tem características que diminuem os efeitos do estresse, e que enfrentam sem hesitar situações de estresse; Controle: característica da personalidade resistente que é mais estuda em psicologia da saúde. É a tendência de pensar e atuar com a certeza de que não é o acaso ou os demais (passividade e impotência), que irão decidir, estipular ou controlar o curso dos eventos, pois as pessoas que tem o controle de tudo que se passa em suas vidas, são mais saudáveis do que as que as que sentem impotentes frente as forças externas.
O controle reforça a
resistência contra o estresse, mostrando que os eventos que são experimentados são de causas naturais dos atos e conseqüências e não o contrário. A capacidade do controle faz com que o indivíduo manipule os estímulos em seu favor, conseguindo ser beneficiado devido ao alto grau de autonomia; Desafio: é assumir as mudanças e não a estabilidade, como se estivesse ligada á existência humana. Ver a mudança como desafio, ajuda a permanecer mais saudável do que a vê-las como uma ameaça. O desafio diminui os estressores, devido à percepção de que diante de eventos que necessitam de ajustamento, são
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vistos como oportunidades e não como ameaças. O desafio de mudança é uma oportunidade, um incentivo para o crescimento pessoal, e assim evita os estímulos estressores, fazendo como que não sejam uma ameaça à segurança da pessoa.
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Capítulo 4 – Coping
Coping se refere à forma que um sujeito enfrenta situações desagraveis, é o conjunto de estratégias que se utiliza para enfrentar os problemas advindos de situações estressantes que surgem no cotidiano (COMPAS, 2001; apud DINIZ, 2009). Diniz (2009) em referência ao trabalho de Antoniazzi, Dell’Aglio e Bandeira (1998), mostra que em revisão teórica sobre o conceito de coping, eles vêem dizer que: desde o início do século, pesquisadores vinculados à psicologia do ego tem concebido coping, enquanto correlato aos mecanismos de defesa, motivado interna e inconscientemente (...) e que eventos externos e ambientais, posteriormente incluídos como possíveis desencadeadores dos processos de coping foram, a exemplo dos mecanismos de defesa, categorizados hierarquicamente no sentido dos mais imaturos aos mais sofisticados e adaptativos (...)
Oliveira (2009), segundo o trabalho de Savoia (1999), diz que diferentes perspectivas sobre o conceito de coping tem-se destacado. Afirma ainda, que coping se trata das habilidades que se desenvolvem com a finalidade de defesa, domínio e adaptação das situações que geram estresse. Define coping como um aglomerado de esforços em prol do controle de uma situação, contexto ou emoção, trata-se, portanto de uma resposta ao estresse, podendo ser comportamental ou cognitiva, com o objetivo de minimizar os efeitos negativos advindos de situações, contextos ou experiências emocionais. Foi a partir da década de 1960 que os primeiros conceitos que ligavam o coping aos mecanismos de defesa foram modificados, esse termo assumiu uma postura mais flexível, tomando como ponto de vista uma cognição mais elaborada aliada a adaptação situacional. As teorias sobre os
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traços de personalidade já era a fonte de influencia para o estudo sobre o coping (DINIZ, 2009). As atitudes que as pessoas tomam durante o decorrer da vida são estratégias de enfrentamento, pois o coping se dá na interação entre a pessoa e o ambiente. Ele é o produto do efeito cognitivo gerado a partir da existência de um efeito estressante que excede os recursos que um indivíduo tem para se defender de tal agente estressor, podendo ser avaliado de duas formas: primeiramente o indivíduo analisa a situação observando qual o risco que ela causa, e qual sua proporção, realizando uma avaliação cuja finalidade é o bem-estar do sujeito, e assim podendo gerar conseqüência tanto positivas como negativas. Secundariamente, faz um levantamento das opções e dos recursos que lhes é disponível, tendo como objetivo melhorar e modificar a situação, assim poderá escolher as melhores opções de estratégias para enfrentamento do problema (FOLKMAN, 1984; apud QUEIROZ, 2007). Silva (2009) diz que a revisão teórica sobre o conceito de coping, realizadas pelos autores Lazarus e Folkman (1991); Aldwin (1994); Suls, David e Harvey (1996) e Antoniazzi, Dell’Aglio e Bandeira (1998), apresentam os diferentes enfoques da teoria, o tradicional, o transicional e, uma nova teoria que surgiu mais recentemente, com visão mais integrada no conceito. Na
visão
tradicional,
o
coping
que
foi
elaborado
pelos
primeiros
pesquisadores, foi dividido em duas visões distintas: a primeira visão foi a da experimentação animal, com forte influência do pensamento darwiniano e da teoria psicológica do ego, de referencial psicanalítico. Esta visão explicava que o coping era o ato de controlar as diferentes condições de adversidades existentes no ambiente, de modo a minimizar o aparecimento de problemas psicofisiológicos. A segunda visão, cuja base também é a da teoria psicológica do ego, de fundamento psicanalítico, explica que o coping é equivalente aos meios que o ego usa para se defender. Por esse aspecto de defesa, Silva (2009) relata o resultado do estudo de Vaillant (1994), onde após analisar processos psíquicos do relacionamento de pessoas com o ambiente, elaborou quatro níveis de mecanismos de defesa referente ao coping:
39
1) Mecanismos projetivos: medo distorção e desilusão projetiva; 2) Mecanismos
imaturos:
fantasia,
projeção,
hipocondria,
comportamento passivo-agressivo e acting-out; 3) Mecanismos neuróticos: intelectualização, repressão, formação reativa, deslocamento e dissociação; 4) Mecanismos
maduros:
sublimação,
altruísmo,
supressão,
antecipação e humor. Silva (2009) diz que a segunda geração de pesquisadores surgiu na década de 1960, apresentando o coping como um processo transicional entre pessoa e ambiente, dando importância tanto no processo como no traço de personalidade.
Importantes
avanços
aconteceram
neste
período,
proporcionando a elaboração de vários estudos. Esta visão priorizou ainda os determinantes cognitivos e situacionais referentes aos comportamentos de coping. Aldwin
(1994),
apud
Assunção
(2010),
descreveu
o
processo
transicional baseando-se em quatro suposições: na primeira ele diz que na maioria das vezes, uma pessoa irá lidar com determinado problema através da avaliação da situação; na segunda diz que as pessoas são flexíveis na hora de escolher as estratégias de coping, podendo alterá-las conforme a particularidade do problema; na terceira fala que as tentativas de coping são direcionadas ao problema, e nas emoções que são direcionadas ao problema e para a emoção, respectivamente; e na quarta a importância de identificar quais estratégias de coping está sendo usadas em situações específicas e de qual forma estas estratégias estão sendo empregadas a fim de proporcionar resultado positivo. Folkman e Lazarus (1980), apud Mazza (2010), fala que esse modelo pode ser dividido em duas modelos funcionais, o coping focado no problema e o focado na emoção. O coping focado no problema tem como função mudar aquele relacionamento que causa problema, agindo diretamente no problema ou sobre o comportamento do indivíduo que descobre o problema. Já o coping focado na emoção pode-se agir de duas maneiras: a) Mudança no tratamento do relacionamento que causa estresse, através do trabalho com
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as emoções que são despertadas ou até evitando o relacionamento; b) ou a mudança do significado relativo do acontecimento, dando outro significado para o relacionamento, e assim diminuindo o estresse, mesmo sabendo que as verdadeiras condições do contexto não foram alteradas. A terceira geração de pesquisadores surge com uma visão mais ampliada e integrada sobre o conceito de coping, voltando-se para os estudos das relações entre os elementos sociodemográficos, características de personalidade, fatores do contexto social e estratégias de enfrentamento (PARKES, 1984, 1986; apud SILVA, 2009). Tal interesse de estudos foi despertado devido a evidencias que os fatores situacionais não eram suficientes para explicar toda a variação nas estratégias de coping, e também pela credibilidade adquirida através desses estudos sobre os traços de personalidade (SILVA, 2009). Moos (1995) ampliou a definição de coping após avaliação dos problemas e conseqüências para a saúde devido à interação pessoa e ambiente. Melhor explicado na Figura 1 (BORGES, 2009). A explicação para a Figura 1, a respeito dos processos de coping e estresse, é dada por Zanini (2003), conforme o modelo explicativo de Moos (1995), conforme está a seguir: Painel I: O ambiente está representado pelos estressores atuais e os recursos sociais; Painel II: O sistema pessoal está representado por recursos como a auto-estima e a habilidade cognitiva; Painel III: O ambiente e o sistema pessoal interagem e influenciam a vivencia de crises ou de grandes mudanças da vida; Painel IV: É esse conjunto, segundo o autor, que modera a apreciação do problema e das respostas pessoais de coping; Painel V: E nesse modera o estado de saúde e bem-estar da pessoa.
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Painel I MEIO AMBIENTE (ESTRESSORES ATUAIS, RECURSOS SOCIAIS)
Painel II
Painel III
Painel IV
Painel V
CRISES E GRANDES MUDANÇAS DA VIDA (FATORES RELACIONADOS AOS EVENTOS)
APRECIAÇÃO DO PROBLEMA E RESPOSTAS DE COPING
SAÚDE E BEM-ESTAR
SISTEMA PESSOAL (FATORES DEMOGRÁFICOS E RECURSOS PESSOAIS)
Figura 1. Modelo Conceitual dos processos de coping e estresse de Moos. Fonte: Moos (1995), apud Borges (2007)
A importância do coping está ligada com a noção da maneira de se tratar o momento de estresse, e que varia de acordo com os traços de personalidade, diferenciando-se de acordo com a situação em questão e com o passar do tempo (ANTOZIAZZI; AGLIO; BANDEIRA, 1998). Tamayo e Troccoli (2002), apud Silva (2006), acreditam que o estresse dentro das organizações teria menos custos através dos estudos sobre o coping. A importância desse estudo está refletida nas evoluções econômicas e necessidades que o trabalhador tem de ser compensado por seu esforço, devido a queixas relacionadas ao EO. Os autores ainda fazem sugestão à elaboração de estratégias de ascensão, promoção e salários dentro das organizações, assim gerando um efeito minimizador de exaustão emocional e agente estressantes. E devido a estes motivos que os estudos sobre coping são de suma importância, com trabalhos teóricos, mas principalmente os empíricos que venham a gerar programas de intervenção e beneficiem a população proporcionando verdadeiras políticas sociais.
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Capítulo 5 – Corpo de Bombeiros Militar (CBM)
5.1
Histórico
O serviço de Bombeiro é o serviço público mais antigo. Na história da humanidade, a partir que o homem deixa as cavernas para constituir núcleos sociais, leva com ele o fogo que servia para lhe proporcionar calor e comodidade, mas também era um fator de grandes transtornos, quando este se virava contra ele. Para se prevenir, o homem primitivo regulava o uso do fogo e quando se ausentavam do povoado em busca de alimentos, montavam equipes
de
vigilância
para
cuidá-lo
(Fonte:
http://www.uefs.br/3bbm/historico.html - acessado em 03 de outubro de 2011). Lopes (2010) diz em seu trabalho que, segundo um relato da Brigada Militar do Rio Grande do Sul do ano de 2008, desde a antiguidade o ser humano já conhecia o poder destrutivo do fogo, e ficava sempre em alerta para ocasionais desastres, pois se não controlasse o incêndio já em seu princípio a destruição seria enorme. Na Roma por volta de 300 a.C é que se têm os primeiros registros de equipes para combater a destruição causada pelo fogo. Tal responsabilidade era atribuída às “famílias públicas”, assim que eram denominados os grupos de escravos que eram ensinados para combater os incêndios e manter a vigilância. O autor ainda diz que, na Europa em torno do ano de 872, em Oxford na Inglaterra, deu-se o registro dos primeiros regulamentos de prevenção contra incêndios, mas a evolução desse serviço se deu de forma lenta, uma vez que, consideravam os incêndios como algo que não podiam evitar. Em meados do séc. XVII, machados, enxadões, baldes e outras ferramentas
43
eram os materiais praticamente utilizados para se combater os incêndios. Apenas os países mais modernizados possuíam rudimentares máquinas hidráulicas, as quais eram utilizadas para puxar água dos poços, que enxiam os baldes, que eram passados de mão em mão até a linha de combate do incêndio. De acordo com a Apostila EPOQS/2008 (Apostila do Estágio Probatório para Oficiais do Quadro de Saúde) do CBM do estado do Rio de Janeiro, no Brasil, até o ano 1856, embora já houvesse alguns registros de incêndios históricos, não havia um serviço de combate a incêndio no país. O combate aos incêndios era realizado por voluntários e força militares, que sem instrução nenhuma faziam o que podiam para controlar as chamas. No surgimento de um incêndio o aviso era dado através de três disparos de canhão feitos do morro do Castelo, e também pelos toques dos sinos da igreja de São Francisco de Paula e que eram reproduzidos pela igreja matriz da freguesia. No dia dois de julho de 1856, foi publicado o Decreto Imperial 1.776, onde o Ministério da Justiça organizou o Serviço de Extinção a Incêndio por intermédio do Imperador D. Pedro II. Tal fato ocorreu, pois o Teatro São João (atual Teatro João Caetano) no Rio de Janeiro havia sido completamente destruído no ultimo incêndio que ocorreu. Foi criado o Corpo Provisório de Bombeiros da Corte, enquanto o Corpo de Bombeiros não estive totalmente organizado. O perfil estipulado para poder fazer parte desta organização, seria os operários mais robustos e ágeis, que possuíssem ofícios, que fossem moralizados e de preferência os mais habilitados. Este perfil ainda é o mais exigido até os dias atuais. O dia 02 de julho só foi instituído como o dia do Bombeiro Brasileiro no ano de 1954, pelo decreto nº 35.309, devido a um trágico acontecimento. Um incêndio em um depósito de inflamáveis na Ilha de Braço Forte deixou o Corpo de Bombeiros em luto no dia 07 de maio do presente ano. A luta contra o incêndio neste lugar resultou na morte de vinte e três bombeiros, depois de uma grande e violenta explosão dos produtos. O decreto também estipula a semana do dia 02 de julho de cada ano, como a “Semana de Prevenção Contra Incêndio”.
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5.2
O serviço Bombeiro Militar
Juramento do Corpo de Bombeiros Militar: Ao ingressar no Corpo de Bombeiros Militar do Estado de (...) prometo, regular a minha conduta pelos preceitos da moral, cumprir rigorosamente as ordens das autoridades a que estiver subordinado e dedicar-me inteiramente ao serviço Bombeiro Militar, à manutenção da ordem pública e a segurança da comunidade, mesmo com o risco da própria vida.
Natividade (2009), diz que a atividade profissional do Militar do Corpo de Bombeiros, é de colocar em risco a sua própria vida para salvar a de terceiros, defender os bens públicos ou privados da sociedade. Cremasco, Constantinidis e Silva (2008) falam que os bombeiros devem estar sempre preparados para qualquer tipo de ocorrências, por se tratarem de equipes de emergências. São profissionais que, pelos trabalhos que realizam, são vistos como heróis pela população e encarnam a síntese da coragem individual. O serviço desempenhado pelo Corpo de Bombeiros Militar é muito amplo, e ainda assim desenvolvem um trabalho com excelência frente à população, necessitando assim de um devido equilíbrio entre corpo e mente. Realizam atendimentos como simples transportes e auxílios à comunidade, palestras educativas de prevenção a acidentes diversos e primeiros socorros, resgates dos mais diversos tipos de animais que estão presos em algum lugar, trabalho de parto (quando este é natural), acidentes de trânsito, incêndios urbanos ou florestais, salvamentos aéreos, aquáticos ou terrestres, vistorias em edificações, etc. (SILVA, KATO, CÂMARA e SANZ, 2011). Vai dos casos mais comuns até aos incidentes mais graves e perigosos, pode-se citar como exemplo o ataque do dia 11 de setembro de 2001 ao World Trade Center, que resultou na morte de milhares de pessoas, entres elas 343 Bombeiros
de
Nova
Iork/EUA.
(fonte:
http://pt.wikipedia.org/wiki/World_Trade_Center - Acessado em 05 de outrubro de 2011). Embora o serviço realizado pelo CBM seja visto de maneira tão positiva, dando ao profissional desta organização um grande prestigio
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perante a sociedade, tornando-se o padrão do ideal de potência total, aquele que é o profissional salvador supercompetente. Tanta responsabilidade, dedicação e cobrança pelo serviço, pode se tornar em uma pressão muito maior do que o trabalhador pode suportar, uma pressão psicológica que poderá
afetar
sua
saúde
(BARCELLOS,
2006;
apud
CREMASCO,
CONSTANTINIDIS e SILVA, 2008). A missão básica do serviço do CBM é a preservação da vida, do meio ambiente e do patrimônio. E por ser um órgão militar, além de atuar na execução de atividades de defesa civil (prevenção e extinção de incêndios, proteção e salvamento de vidas humanas, busca e salvamento em afogamentos, inundações, desabamentos, acidentes em geral, catástrofes e calamidades públicas), também realiza trabalhos de preservação da ordem pública, serviço que compete a Polícia Militar (GONZALES; DONADUZZI; BECK; STEKEL, 2006). Tendo como fonte o site do CBMMS (Corpo de Bombeiros Militar do Mato Grosso do Sul), o CBM tem como lema: “Vida Alheia e Riquezas Salvar”, e cumprindo então a sua missão de instituição de defesa civil, que abrange os serviços de prevenção e de combate a incêndios, os serviços de buscas e salvamentos e os de socorro público. Hoje são vários os serviços executados pelo Corpo de Bombeiros, realiza nas edificações vistorias técnicas que são exigidas por leis, faz serviços de atendimento diversos à comunidade e também o de atendimento pré-hospitalar, atendimentos operacionais em acidentes ou nos casos que há situação de risco, sem se esquecer do combate a incêndios e orientação à comunidade dos riscos destes. Ainda com informações tiradas do site do CBMMS, segue-se abaixo uma definição sobre os seguintes serviços de: Salvamento, Atendimento PréHospitalar e Combate a Incêndios. Salvamento – Ele é iniciado na chegada ao local do acontecimento, onde será empregado o conjunto de operações necessárias para o salvamento de vidas ou remoção de bens do local que está acontecendo um incêndio, ou se estiver em situação de risco.
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Atendimento Pré-Hospitalar (APH) – É o primeiro atendimento que uma vítima recebe fora do hospital. Essas que podem ser dos mais variados
tipos:
vítimas
de
acidentes
domésticos,
aéreos,
industriais, de trânsito; as que sofrem algum tipo de emergência clínica; vítimas de violências urbanas; etc. Em primeiro lugar é retirar a vítima do lugar de risco e levá-la com segurança para um lugar seguro onde poderá receber os primeiros atendimentos préhospitalares, para então ser transportada com segurança para um posto de atendimento médico mais próximo. Um dos critérios mais importantes para o APH, que também é chamado de Resgate, é chegar até a vítima no menor tempo possível.
Combate a Incêndio – É a combinação dos serviços de extinção dos focos de incêndios sejam eles em edificações, veículos ou rural. O serviço se torna mais eficiente à medida que o tempo resposta (tempo de deslocamento do quartel do Bombeiro até o local do sinistro) for o menor possível. Pois à medida que o tempo passa as chamas evoluem tornando-se difícil o socorro às vítimas e retiradas dos bens.
Toassi
(2008)
ressalta
em
seu
trabalho
que
as
atividades
desenvolvidas pelo Corpo de Bombeiros Militar são de suma importância para a população em geral, e que exige de seus profissionais uma atualização e treinamentos constantes dos serviços e técnicas utilizadas, para assim poder alcançar cada vez mais a excelência nas ocorrências atendidas. Em pesquisas aplicadas, sobre o trabalho de bombeiro, ela obteve a seguinte resposta de um bombeiro entrevistado: “É um trabalho que exige realmente conhecimento, exige uma vontade de correr atrás, porque ninguém é obrigado a fazer curso nenhum, só que se tu não fizer também não adianta, vai sair numa viatura, vai pegar uma ocorrência que tu nem sabe o que tem que fazer. Então, tu tem que tá sempre se atualizando, correndo atrás e agarrando o que aparece, os cursos que aparecem...” (Mike)
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Assim a autora mostra, com o próprio pensamento de um bombeiro, a necessidade de treinamentos dos serviços desenvolvidos por esses militares, e que eles mesmos veem que precisam atualizar constantemente os seus conhecimentos, mesmo que não seja exigido que o militar faça os cursos que lhe são disponibilizados. 5.3
Estresse Ocupacional em Bombeiros Militares
Dolan (2006), apud Cremasco, Constantinidis e Silva (2008), diz que o estresse ocupacional se dá quando ocorre um desequilíbrio entre as expectativas do indivíduo com a realidade da condição de seu trabalho, onde o torna incapaz de realizar as exigências profissionais. Natividade (2009) verificou com sua pesquisa que os próprios bombeiros consideram sua profissão perigosa e estressante, pois possui um grau de perigo muito alto. Mas ainda assim, quando estão em atendimento a alguma ocorrência, os sentimentos são de satisfação, de dever cumprido e competência. Mostrando que embora existam dificuldades, eles se realizam com sua profissão. Mas ainda no mesmo trabalho, Natividade (2009) mostra que estes profissionais precisam de um acompanhamento psicológico constante, eles mesmos sentem essa necessidade de terem que discutir sobre os mais diversos tipos de trabalhos que realizam, e precisam desse apoio para que a sua vida profissional não venha afetar a vida em um contexto geral, de modo a provocar algum mau a sua saúde. Estresse é um dos mais citados por eles. Esse tipo de acompanhamento psicológico se faz extremamente necessário, pois eles devem saber gerenciar as emoções que vivem em cada ocorrência. Ballone (2002), apud Cremasco, Constantinidis e Silva (2008), explica pelo ponto de vista fisiológico, que o nosso corpo ao receber um sinal de perigo, sendo falso ou não, se apronta para lutar ou fugir. Já o bombeiro, ao receber o sinal de alerta de uma ocorrência, vai contra o instinto natural, e avança em direção ao perigo. Essas atitudes com o tempo poderá manifestar no corpo do bombeiro alguns problemas cardíacos, respiratórios, intestinais, psíquicos, desequilíbrio emocional, entre outros.
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Van der Heck & Plomp (1997), apud Ferreira (2010), diz que os bombeiros estão expostos a altos riscos de estresse ocupacional, fazendo deles um grupo de trabalhadores que precisam seriamente de um programa de controle do estresse ocupacional, podendo tais programas ser variados devido o foco. O autor faz aqui uma lista de intervenções, são elas: Focadas no indivíduo: podendo ser baseadas em estratégias comportamentais e cognitivas de coping, meditação, educação em saúde e atividades físicas; Focadas
na
relação
indivíduo-organização:
buscando
uma
melhoria na comunicação e trabalho em equipe; Focada na organização: realizações de treino e mudanças físicoambientais; Intervenções combinadas: aplicação de duas ou mais intervenções com focos distintos. O serviço de bombeiro está entre algumas profissões que causam grande desgaste emocional, devido a ter que realizar o trabalho sob uma grande pressão, e não se pode correr o risco de acabar tomando uma decisão precipitada, e ainda devem estar prontos para atender a qualquer tipo de ocorrência. Dessa forma acabam desenvolvendo seus próprios mecanismos de defesa, para evitar expor suas emoções, e assim preservar a sua integridade psicológica, manobrando contra os agentes estressores a que estão sujeitos (CREMASCO, CONSTANTINIDIS e SILVA, 2008). A profissão Bombeiro Militar é umas das que mais estão sujeitas ao estresse no trabalho, o desempenho de sua função os levam a terem que lidar com a morte ou acidente com os colegas de trabalho, prestar socorro às pessoas que podem estar seriamente feridas ou mortas, se exporem não só há riscos psicossociais, mas também aos biológicos, onde ficam em contato direto com as vítimas e com sangue contaminado (MURTA e TRÓCCOLI, 2007). Ferreira (2010) também vem dizer que, de acordo com um estudo realizado por Outlinger no ano de 1998, com bombeiros americanos, esta é uma classe de profissionais que está mais sujeita ao estresse no trabalho.
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Identificando como principais causas, os acidentes e mortes com colegas de trabalho durante a execução de uma ocorrência, atendimento a pessoas jovens que estivessem com sérios ferimentos e o enfrentamento de algum problema do qual não teriam o controle e que se repete e ninguém toma as devidas precauções para minimizar ou saná-los. O mesmo autor ainda diz que os bombeiros são muito suscetíveis a sofrerem de problemas imunológicos, pois a atividade desenvolvida por estes profissionais requer muitas vezes privação do sono e ciclos longos de trabalho-descanso, e a privação do sono é um dos estressores que estão ligados à diminuição de células do sistema imunológico. Mas muito trabalho e melhorias, para um bom ambiente de trabalho, vêm sido realizados ao longo da história dos bombeiros. Podemos citar a escala de serviço para os que realizam as atividades operacionais, estas foram ajustadas para proporcionar um descanso devido, e o desuso do “brado”, na maior parte dos quartéis, para o chamado das ocorrências. Este que era um fator que gerava estresse tanto nos que desempenham a atividade “fim”, quanto nos que trabalham no serviço “meio”, que é o serviço administrativo (SANTOS, 2009). Em suma, ser bombeiro militar é assumir uma profissão que é perigosa e estressante, fato que os próprios integrantes desse grupo dizem a respeito de suas atividades, porém também gera um grande sentimento de satisfação, gostam do que fazem, pois a cada ocorrência terminada sentemse realizados e orgulhosos por sua profissão. O próprio juramento da profissão já demonstra os riscos e o fardo que carregarão (NATIVIDADE, 2009). Monterio, Maus, Machado, Pesenti, Bottega e Carniel (2007), dizem que os bombeiros realmente trabalham por amor a sua profissão, e sabem o quanto pesa carregar o título de “Bombeiro”, que é muito maior do que ser “Militar”, pois diz que na visão da população e na deles mesmos, o bombeiro é aquele que é chamado para resolver tudo. Então é de suma importância ao Governo de cada Estado, já que os bombeiros são militares estaduais, darem o suporte necessário para que haja uma boa qualidade de vida, atendendo às suas necessidades, proporcionar um bom ambiente de trabalho,
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capacitação, salários dignos, materiais adequados para o atendimento das ocorrências, tratamento de saúde, entre outros, e assim buscar cada vez mais a excelência no trabalho e manter o alto nível de prestígio com a população. 5.4
Síndrome de Burnout em Bombeiros Militares
O trabalho e a vida profissional são vistos como uma fonte de autoestima para as pessoas, contribuindo para a definição de sua identidade e proporcionando vontade de crescimento através das fontes de crescimento profissional. Mas na vida profissional não só existem fontes de crescimento, há também fontes de estresse, que podem levar o indivíduo a exaustão física e psicológica. E se chegar a este ponto, de ser influenciado pelas fontes de estresse, o trabalhador pode chegar a perder o interesse em sua carreira, os ambientes tanto dentro como fora do serviço podem se tornar conflituosos, começa-se a sentir oprimido em seu ambiente de trabalho devido as exigências que lhe são feitas e apresenta sintomas físicos e psicológicos negativos. Tais efeitos são conseqüências do estresse ocupacional crônico, sendo chamado de Burnout (VARA; QUEIRÓS, 2008). O Burnout trata-se de uma síndrome psicológica correspondente dos efeitos dos estressores crônicos existentes no ambiente de trabalho, podendo ser distinguido através dos sintomas que o trabalhador começa a demonstrar: exaustão emocional, despersonalização e reduzida satisfação pessoal com o trabalho, sendo associados aos sentimentos de incompetência e ineficácia (JACKSON & MASLACK, 1981; apud BAPTISTA; MORAIS; CARMO; SOUZA; CUNHA, 2005). Segundo Baptista, Souza e Xidieh (2001), aqueles trabalhadores que estão envolvidos diretamente com os problemas das pessoas, acabam por se envolverem profundamente com os problemas psicológicos, sociais e físicos daqueles que são clientes de seus serviços. Estes profissionais em decorrência do meio de trabalho, atividades desenvolvidas, limitações institucionais, dentre outros fatores, tornam-se alvo do estresse crônico. E levando em considerações esse ponto de vista, pode-se afirmar que os
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bombeiros é uma classe de trabalhadores que estão mais sujeitos aos estímulos
potencialmente
estressantes
(BAPTISTA;
MORAIS;
CARMO;
SOUZA; CUNHA, 2005). Mas, o autor ainda diz que, embora os bombeiros sejam potenciais profissionais a desenvolver depressão e transtorno de estresse póstraumático, estes profissionais apresentam um ânimo mais elevado do que outros que atuam em atividades semelhantes. Silva, Lima e Caixeta (2010) dizem em seu trabalho, segundo Burger (2003), que o termo Burnout primeiramente era relacionado à reação de estresse crônico naqueles trabalhadores que mantinham grande contato com as pessoas, as chamadas “profissões de ajuda”, podendo dar como exemplo os bombeiros, policiais, enfermeiros, e outros. E estes profissionais que lidam com situações de emergências em saúde são mais vulneráveis ao estresse ocupacional, inclusive os bombeiros. A profissão de bombeiro exige de seu atuante que ele tenha que se expor aos riscos psicossociais e riscos biológicos. E tais fatores de riscos que os bombeiros estão quase que frequentemente expostos, os tornam pessoas de fácil desenvolvimento de doenças cardíacas, estresse pós-traumático e burnout (SILVA; LIMA; CAIXETA, 2010). Mesmo com alguns estudos mostrando a existência de burnout em profissionais do CBM, são poucos os trabalhos que fornecem suporte empírico. E tal escassez de estudos abre espaço para um trocadilho, será que os teóricos, pesquisadores, estudiosos não acreditam que os firefighters (combatentes do fogo – bombeiros em inglês) possam sofrer de uma síndrome que possa consumir o seu ânimo pelo trabalho, uma síndrome que é caracterizada pela “queima” total dos recursos emocionais e enfrentamento que a pessoa possui (BAPTISTA; MORAIS; CARMO; SOUZA; CUNHA, 2005). Silva, Lima e Caixeta (2010) dizem segundo o trabalho de Baptista et al. (2005), que diversos profissionais são levados a sofrerem um alto nível de estresse devido à exposição a situações que lhes exigem demasiado nível de controle emocional, exemplo de policiais e bombeiros, levando-os a mascarar as emoções que sentem, e demonstrar em seus lugares, emoções e
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expressões mais adequadas a sua posição de “salvador”, sendo isso uma caracterização da despersonalização. Saraiva, Adami, Boff, Bernardi e Scherer (2006), apud Lopes (2010), realizaram uma investigação de ocorrência da SB em 81 profissionais do CBM de Cascavel/PR. Para este trabalho eles aplicaram nos participantes um questionário de caracterização do perfil sócio-demográfico e o MBI. Ao final da pesquisa os autores chegaram à conclusão que não havia sintomas significativos de SB, pois através do MBI obtiveram o seguinte resultado, que estes profissionais apresentam um nível médio de realização profissional, seguidos de baixos escores de despersonalização e exaustão profissional. Em suma, gostam do que fazem e sentem-se orgulhosos de seu trabalho, fazendo-se necessário então que as instituições desenvolvam meios para estes níveis continuem a se manterem baixos. Outro estudo realizado por Baptista et al. (2005), com um quorum de 101 bombeiros, para a verificação de depressão, síndrome de burnout e qualidade de vida, mostraram na pesquisa aplicada grande satisfação nos itens que eram relacionados com as situações de trabalho. Este estudo tem igual resultado nos estudos de Kalimo et al., mencionado no trabalho de Baptista (2005), onde 260 bombeiros se demonstraram satisfeitos com o trabalho que exercem, sendo esse o motivo para possuírem raros sinais de problemas psicológicos crônicos. Vara e Queirós (2009) em seu trabalho com os bombeiros que atuam na área de emergência pré-hospitalar, revelaram que estes profissionais apresentam, em grande quantidade, grande satisfação com o trabalho. Dizem
ainda
que
estes
profissionais
procuram
aliar
o
papel
que
desempenham a um ideal e dedicação a uma causa. Salientam ainda que embora a satisfação pelo trabalho seja enorme e demonstrando baixo burnout, pertencem a um grupo que está sujeito a elevadíssimo nível de exigência emocional, e ainda faz o seguinte apontamento, o da importância de aumento das fontes motivacionais para estes profissionais, garantindo assim um clima proporcionador de produtividade e realização pessoal, e assim prevenindo o sofrimento psicológico, e desta forma contribuindo para a saúde e bem-estar desses profissionais.
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Para os integrantes do CBM faz-se necessário acompanhamento psicológico, para assim preveni-los dos sintomas que possam prejudicar o bom andamento de seus serviços, estes que devem ser prestados com excelência, pois em suas mãos está a responsabilidade de cuidar da sociedade que deles necessitam (SILVA; LIMA; CAIXETA, 2010). 5.5
Hardiness e Coping em Bombeiros Militares
Hardiness, como fora mencionado através dos autores de referência deste TCC, é um construto que se diz respeito à robustez da personalidade, ou
melhor,
dizendo,
personalidade
resistente.
Kobasa
(1982),
apud
Guimarães e Grubits (2008), diz que hardiness é o moderador responsável pela diminuição dos fatores que levam uma pessoa a sofrer de estresse ocupacional ou Síndrome de Burnout. O serviço desempenhado pelos bombeiros, embora haja diversos fatores estressantes, tomando como exemplo o que fora mencionado pelos autores Murta e Tróccoli (2007), onde assumir essa profissão é também assumir o risco de sofrer de algum tipo de problema psicossocial ou biológico. Mas Natividade (2009) também disse que eles têm pleno conhecimento dos riscos que a as obrigações de sua profissão podem leválos a enfrentar, e embora tenham que desempenhar os mais diversos tipos de serviços sendo às vezes demasiadamente perigosos e estressantes, ainda assim sentem prazer no que fazem, pois ao final de cada ocorrência terminada o sentimento é de satisfação e obrigação cumprida. Às vezes, por mais que uma pessoa ao ingressar no CBM não possua todas as aptidões exigidas aos olhos da sociedade, pois a grande maioria da população acredita que determinada pessoa por ser bombeiro ela é totalmente capaz de fazer tudo, é o que nada e mergulha melhor, é o que não tem medo de encarar as situações de perigo, sejam elas nas alturas, na terra ou em água. Toassi (2008) a respeito disso vem falar sobre capacitação e aprendizado, pois hoje para ingressar no CBM deve-se: prestar um concurso público; se passar na prova objetiva dentro da quantidade de vagas, tem que estar apto nos testes médicos e físicos; e ser aprovado no curso de formação.
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Passando por estas fazes então se tornará um bombeiro, mas isso não significa que a pessoa seja boa em todas as áreas de atuação do bombeiro. Então para se tornar cada vez melhor e oferecer um serviço excelente, devese buscar capacitação e aprendizado constantes para que o bombeiro não coloque a vida de outras pessoas em risco e nem sua própria vida. Tal busca pelo servir bem, e o grande nível de gozo pelo serviço desempenhado, gera na pessoa um aumento da auto-estima, proporciona saúde, moral e força, que segundo Dias e Queirós (2010) são considerados traços da personalidade resistente que combate os agentes estressores. E aqueles que são possuidores desses traços, tornam suas vidas menos estressante, pois acabam por aumentar seu desempenho e preserva a saúde (MORENO-JIMENEZ, GARROSA & GOZALES, 2000; apud DIAS; QUEIRÓS, 2010). Alguns estudos mostram o auto nível de satisfação que os bombeiros têm por seu trabalho, por exemplo, os estudos realizados por Baptista et al. (2005), revelando que os bombeiros gostam de seu serviço e apresentam baixo nível de estresse e Síndrome de Burnout. Comparando o resultado desses estudos em relação ao construto de hardiness, pode-se chegar a uma conclusão, onde a maioria dos bombeiros são indivíduos hardy, como diz Batista (2011), aqueles que se comportam de maneira diferente na presença dos estímulos estressantes, encarando-o de forma menos nociva a saúde e de forma mais robusta. Pois o indivíduo hardy é aquele que tem compromisso com sua obrigação, buscam cada vez mais se especializar para aprimorar seus conhecimentos, para encararem os problemas não como obstáculos, mas sim, como desafios a serem vencidos. Em relação ao coping e o serviço de bombeiro, pelo trabalho de Diniz (2009), podemos dizer que é a maneira que cada um desses profissionais enfrenta as situações desagradáveis de sua profissão, é os métodos que eles criam para encarar os problemas e amenizar a pressão das situações estressantes que surgem. O serviço de bombeiro é um trabalho que trás ao profissional dessa área grande prestígio e orgulho devido às ocorrências que realiza. É visto de forma positiva pela sociedade, são aqueles que salvam vidas. Mas assumir
55
vestir a farda de bombeiro é também carregar a obrigação, responsabilidade e dedicação pelas vidas alheias e riquezas da nação, e tal compromisso muitas vezes leva a sofrer uma pressão maior do que se pode suportar, podendo comprometer a saúde física e psicológica (BARCELLOS, 2006; apud CREMASCO, CONSTANTINIDIS e SILVA, 2008). No trabalho de Murta e Tróccoli (2007), através de uma pesquisa realizada com um grupo de bombeiros, chegaram ao resultado que as estratégias de enfrentamento contra os efeitos estressores do serviço, utilizadas por aquele grupo, se baseavam em dois focos, segundo o que foi proposto por Lazarus e Folkman (1984): o coping focado na emoção e o focado no problema. Sendo a maior parte dos entrevistados mostrando que o seu coping era mais focado na emoção, onde para esquecerem ou amortizarem os problemas advindos do serviço dizem se dedicar mais ao lazer, praticar esportes, passar mais tempo com a companheira, sair com amigos para beber, fingir que os problemas que estão acontecendo no serviço não são com ele, dormir para esquecer o mundo, conservam o bom humor brincando com os colegas de serviço, usufruir da regalia da profissão para entrarem em alguns eventos sem pagar e também vão à igreja. Já os que mostraram que o seu coping é focado no problema, mostraram apenas três maneiras de enfrentamento, sendo elas: procurar levar quanto menos problemas possíveis a chefia, buscando resolver mais entre
eles
mesmos;
procuram
não
se
envolver
emocionalmente
no
atendimento as vítimas que socorrem; e se contentam na satisfação que o ofício de bombeiro lhe dá.
56
Capítulo 6 – Considerações Finais
O presente TCC almejou compreender um pouco mais sobre os trabalhos realizados pelos profissionais do Corpo de Bombeiros Militar, seus sentimentos em relação aos serviços que realizam e apontar alguns riscos psicológicos e físicos que a responsabilidade deste ofício poderá acarretar em suas vidas no decorrer de seu tempo de carreira. Para tanto, foi realizada uma pesquisa bibliográfica sobre os efeitos do estresse ocupacional e da Síndrome de Burnout em relação a essa classe de trabalhadores. Foi levantada também uma pesquisa bibliográfica em relação à personalidade resistente (hardiness), para compreender por que os efeitos dos agentes estressores, advindos do trabalho, podem fazer mais efeitos em algumas pessoas do que em outras, e também mostrar sobre as estratégias de enfrentamento (coping), maneiras pela qual o trabalhador encara as situações conflituosas de seu ambiente de trabalho, buscando amenizar os efeitos gerados pelo estresse ocupacional. Em relação ao trabalho de bombeiro, alguns autores relatam como sendo um dos ofícios mais antigos, pois em épocas mais remotas quando o homem deixou as cavernas e dominou o fogo, com isso veio à necessidade de controlá-lo, pois ao mesmo tempo em que trazia certa mordomia aos homens, era também um agente de grande destruição quando fora de controle, causando grandes incêndios e destruição (TOASSI, 2008). Como o passar do tempo foi-se aprimorando os serviços de combate a incêndios, este que era exclusivamente o único serviço designados aos bombeiros. Lopes (2010), como já foi relatado neste trabalho, mostra que na Roma antiga, 300 a.C, os responsáveis por executarem a tarefa de combater os incêndios eram grupos de escravos, e que por volta do séc. XVII os
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materiais utilizados nesses serviços eram basicamente machados, baldes, enxadões, entre outros. Atualmente podemos ver o quanto evoluiu os equipamentos utilizados pelo CBM e também como aumentou a sua área de atuação. Hoje já não se restringe basicamente ao combate a incêndios, mas a um serviço muito mais amplo.
Silva, Kato, Câmara e Sanz (2011) fazem uma lista dos serviços
desempenhados pelos bombeiros, podendo ir de um simples transporte até o socorro
em
casos
extremamente
graves,
e
todos
os
serviços
são
desempenhados com excelência junto à população. Para resumir o trabalho de bombeiro militar, podemos dizer conforme Natividade (2009), que é aquele que põe a sua vida em risco para salvar a vida de outros, e proteger os bens públicos e privados da sociedade. Ser bombeiro é assumir diversas situações que muitas vezes colocarão a própria vida em situação de perigo. É aquele que ao receber um sinal de alerta, em vez de seguir o extinto natural e fugir do perigo, vai contra a situação calamitosa e a enfrenta. É um serviço que, devido ao alto nível de dificuldades que se tem que enfrentar, pode ser fonte de grande estresse na vida daqueles que desempenham essa atividade. No trabalho de Natividade (2009) os próprios bombeiros concordam com essa afirmação, mas embora seja um serviço de alto grau de perigo, ainda assim sentem-se realizados no que fazem, pois por mais perigos que possam enfrentar, no final a sensação é de satisfação e dever cumprido. Tal amor pelo serviço e pelo o que representam à sociedade, fazem dos bombeiros indivíduos hardy. Como diz Batista (2011), esses são aqueles indivíduos que encaram as dificuldades de maneira diferente, tratam os estímulos estressantes de maneira a não deixar se tornar algo nocivo para a sua saúde e as dificuldades são vistas como oportunidades de crescimento. Isso faz com que os tornem menos vulneráveis aos efeitos do estresse ocupacional ou vítimas da Síndrome de Burnout. Mas é claro, nem todos os bombeiros vão possuir a mesma característica de personalidade resistente. Em alguns a hardiness será maior que em outros. Isso se deve ao fato, que embora a sociedade veja os
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bombeiros como profissional salvador supercompetente (BARCELLOS, 2006; apud CREMASCO, CONSTANTINIDIS e SILVA, 2008), são pessoas que prestaram um concurso público, fizeram um curso de formação e agora são bombeiros, não significando que sabem e podem fazer tudo. São homens e mulheres comuns que possuem seus medos e dificuldades em algumas áreas. Mas a hardiness como diz Batista (2011), é algo que se pode melhorar, e é nesse ponto que se pode utilizar da parte do trabalho de Toassi (2008), onde fala da busca pelo conhecimento e a necessidade que o bombeiro sente em se aprimorar, fazendo cursos, reciclagem, especializações e treinamentos constantes, pois quanto mais conhecimento e preparo possuir para a execução das ocorrências, mais gosto se tem em trabalhar, e assim a hardiness é melhorada. Ao ingressar no CBM faz-se um juramento, onde se termina dizendo: “(...) mesmo com o risco da própria vida”. No próprio juramento pelo exercício da profissão, vê-se que é um trabalho que exige muito daquele que o exerce. E para poderem levar uma vida profissional saudável os bombeiros criam as suas estratégias de enfrentamento, resumindo o resultado da pesquisa de Murta e Tróccoli (2007), eles procuram se dedicar ao lazer e aos esportes, aproveitar o tempo de folga para ficar com a família, passear, conservam o bom humor, vão à igreja, isso para os que possuem o coping focado na emoção. Aqueles que têm o coping focado no problema, apenas mostraram que procuram resolver a maioria dos problemas para não ter que levar aos superiores, não deixar-se se envolver emocionalmente nas ocorrências que atendem e se comprazem com o prestígio de ser bombeiro. Em suma, se faz totalmente necessário mais estudos nessa área de atuação do CBM, pois por mais que gostem e se contentem com o que fazem, ou sejam profissionais de grande prestígio para com a sociedade, ainda assim precisam de acompanhamento psicológico constante e tratamento com o grupo familiar. É de grande importância aprimorar os estudos de hardiness e coping com essa classe de trabalhadores, com o intuito de diminuir cada vez mais a incidência de EO e SB entre os bombeiros, e para que cada vez mais possam alcançar a excelência em seus bons serviços.
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Referências Bibliográficas
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