Projeto da Faculdade

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Editora APERITIVO edição 01 - ano 01 - nº01 - 01 a 14 de dezembro de 2008

Projeto Faculdade

VILA MADALENA HISTÓRIAS, CURIOSIDADES DO BAIRRO MAIS BOÊMIO DE SÃO PAULO • TODOS OS CAMINHOS DA VILA • LIGAR É PRECISO • ELETROCOOPERATIVA • BEISEBOL NA PERIFERIA • O COVEIRO FILÓSOFO DO ARAÇÁ • ALICE • DUBLAGEM: DE QUEM É VOZ? • O PERNIL DO PACAEMBU E SEUS ÓRFÃOS



EDITORIAL Falar de São Paulo é complicado e ao mesmo tempo divertido. Na cidade que de tudo se é possível encontrar, o desafio de escrever é interessante. É difícil fugir do clichê, do comum. É difícil encontrar algo que o paulistano não saiba. É sempre difícil, mas é recompensador. Histórias incríveis, fantásticas, fantasiosas e comuns. De tudo é possível pensar. Por isso, apesar de reconhecer essa dificuldade, criamos aqui um propósito: falar de cultura em São Paulo, mas sem a obviedade que em nada tem a ver com todo nosso universo. Este, portanto, é um guia cultural, entretanto, um guia que busca a diferença, o inusitado. E diferente do que se possa imaginar, a busca pelo inusitado não é simplesmente a busca pelo estranho. Pelo contrário, a busca do inusitado ressalta o que está na nossa vida e que ás vezes sequer percebemos. Falar do incomum é até falar do comum, mas que de tão próprio se torna invisível. É encontrar um personagem que seja diferente, fantástico, folclórico e incomum, mas é, sobretudo, paulistano e que sabe o que é São Paulo. Não é a toa que o nome da revista seja “APERITIVO”. Não pretendemos esgotar São Paulo e falar tudo que nessa terra tem. Absolutamente. Aliás, nossa função é viajar contigo, caro leitor. Seremos apenas um APERITIVO, que através de um conteúdo divertido e diversificado, temos como missão levar a você o desejo de viver São Paulo. Aqui, cada bairro é especial. Tem sua alma, que misturada a tantas outras monta esse imenso quebra-cabeças. Nessa edição a alma mostrada será a da Vila Madalena. O bairro boêmio de São Paulo. O lugar da festa, o lugar da cultura e de tudo o que não pode faltar e que nem sabíamos existir. Agora, a missão é escrever e pensar, tentar ver São Paulo com outros olhos, mesmo que aqui seja diferente cada olhar. Parece difícil, mas é um tanto legal. Resta-nos dizer: Bom apetite, pois o APERITIVO está na sua mão. Da Redação

ÍNDICE LIGAR É PRECISO - 04

ARTE DE ‘SE VIRAR’ - 06

ALICE - 08

DE QUEM É A VOZ - 09 CAMINHOS DA VILA - 10

GELO E FOGO: - 12

24 horas de tudo no ar - 14 Deixa isso pra lá, vem pra cá o que quê tem... - 16

A Vila como a Vila é - 17

GELAAADA! - 18

PULSA O CORAÇÃO DA VILA - 20 TESOUROS NA AVENIDA - 22

A VILA NO FOLHETIM - 23

A FEIRA DE TODOS OS GOSTOS - 24

ORFÃOS DE PERNIL - 25

TEM GAIJIM NO BEISEBOL - 26

COVEIRO FILÓSOFO - 28

CRÔNICA, SÃO PAULO - 30 TREMOÇO - CARTUM - 30

EXPEDIENTE

Ana Carolina de Jesus

Ciro Solfa Godoy

André Geniselli

Denis Henrique

Renato Medeiros

Silmara Andrade


LIGAR É PRECISO Como você consegue ficar sem celular!? Essa era a indagação que as pessoas me faziam. Por causas, sem lá com muita importância, me vi por duas semanas sem o bendito aparelho. No final, eu mesmo me indagava: como ficar sem o celular!?

Ciro Godoy

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maginar que no Brasil há mais de 133 milhões de aparelhos celulares habilitados - são 69,5 aparelhos a cada 100 habitantes – e agora, por isso, eu pertencia a uma minoria “silenciosa”: os “sem-celular”. Em pensar que no início dos anos 1990 o celular era luxo, coisa de rico, e hoje, com a sua rápida popularização, qualquer mortal poderia ter uma dessa pequena maravilha. O celular virou mais do que um simples meio de comuni-

cação, um telefone que podia ser carregado para todo lugar, se tornou um símbolo de destaque social. Apesar de ter modelos com preços irrisórios, o desejo por modelos de último tipo alguns com televisão, sistema de localização, o tal de GPS, que mostra mapinhas dizendo onde você está e para onde você vai, além de outras habilidades, muitas vezes inúteis. Para mim é o bastante que ligue para outro telefone, no máximo mandar uma mensagem de texto, aliás, o aparelhinho

ainda manda mensagens escritas, o que já tornou o antes revolucionário e-mail em uma coisa ultrapassada. Sempre compro o modelo mais em conta. Escolha que me leva a situações inusitadas, como em uma vez numa festa de família, quando em um determinado ponto, onde os assuntos chatos se esgotaram, alguém saca seu celular e enumera suas habilidades, não demora começam a parecer cada vez mais aparelhos cada um mais moderno e equipado que o outro.


de seu anatômico falecida Telesp so100 habitantes.” formato que pabre a morte de orerece uma orelha lhão, que como se humana. Ele parecia ter desativesse vida, começava a se parecido diante do domínio do debater no chão até morrer. celular, mas foi eu precisar que ele ressurgisse, sem o glamour Isso foi no começo da década de outros tempos, sozinho e es- de 1980, ainda em seu auge e quecido em cantos escuros es- que ainda poucos tinham teleperando alguém lhe por o cartão - ainda lembro quando se usava fichas, para se completar uma ligação.

fone, mesmo em casa. Agora no reinado do celular os orelhões estão à própria

Em plena Avenida Paulista, tendo que ir a Vila Madalena, precisando ligar nos celulares de meus colegas para marcar um ponto de encontro (hoje esse é único modo de se achar alguém em São Paulo), onde faríamos uma matéria para essa revista, minha única opção se tornou ele: o Orelhão. Nas calçadas existiam vários deles. A principio não haveria problema algum, porém chegando a eles a primeira coisa

A morte do orelhão - campanha da Telesp nos anos 80

sorte, são peças de museu a céu aberto, dos 2.500 telefones públicos instalados no Brasil no ano passado 60% nunca foram usados. Com tal panorama, a morte de orelhão, da tal peça publicitária, parece cada fez mais real. Antes que isso aconteça é melhor pegar meu celular de volta.

“Peças de museu a céu aberto, dos 2.500 orelhões instalados no Brasil no ano passado 60% nunca foram usados”

Arquivo AAP

meu sabor

Bom, obviamente meu apare- que se nota é a sujeira e mal lhinho básico e envergonhado, trato dispensado ao antes henão saia do bolso. róico servidor publico. Mal chei Voltando ao ponto em que eu, ro, pixação e pequenos anúnsem celular, tinha que sobrevicios de moças com, digamos, ver na selva de pedra paulistana. Por conta disso acabei por habilidades exóticas colados por todo aparelho, me lembrar de e ainda o pior: boa outro aparelho, antes indispensáparte deles nem “No Brasil são vel, que povoava mais de 133 mi- funcionam. as calçadas da Na hora me veio cidade, o tal de lhões de aparea lembrança um cotelefone publico, lhos celulares, mercial, mais correno Brasil conheta uma campanha são quase 70 cido como “Orelhão”, por causa aparelhos a cada na TV, feita para a

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A Arte de ‘Se Virar’ Denis Henrique

O que pode acontecer quando se junta tecnologia e música com a periferia? Inclusão musical é a resposta. Vindo do Pelourinho para a Vila Madalena há pouco mais de um ano, a Eletrocooperativa faz essa mistura em oficinas e ações que dão oportunidade a jovens de 15 a 25 anos, que tenham interesse na área musical, de terem uma renda através da produção digital.

Foto Divulgação

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Eletrocooperativa em Salvador

E l etrocooperati va é uma ONG onde o foco inicial é promover a Inclusão Musical. Desenvolvendo o projeto, na Bahia, desde 2003, a idéia é de trabalhar com jovens que já tenham algum contato com a música e o desejo de aprender mais. Aproximadamente por um ano, o aluno passa por um processo de formação onde tem contato com técnicas de Produção Musical, Teoria Musical, Técnicas de estúdio e Oficina de DJs, que permite a ele iniciar uma segunda fase do projeto: a prática. É quando começam trilhar seu caminho produzindo suas próprias músicas, formando bandas, gravando CDs. É hora de colocar em funcionamento o que chamam de ‘sevirologia’ ou simplesmente aprender na prática a ‘se virar’ com a própria música. “Nosso desejo é que cada um aprenda a se virar na vida e se aproprie dos meios de produção e do ambiente digital para encontrar seu caminho n o m u n d o ”, c o m e n t a


conhecer o mais sobre o trabalho dessa cooperativa musical fica os sites:

www.eletrocooperativa.art.br e

www.eletrocooperativa.org E o endereço do escritório em São Paulo Rua Belmiro Braga, 154 Vila Madalena.

bis!

relacionamento maior com a música brasileira fazendo junções entre as referências paulistas e baianas de música. Sem querer criar leis e regras a idéia é fugir de modelos internacionais para ter novas experiências com a música nacional. Esse diálogo cultural se fez presente no primeiro trabalho da Eletrocooperativa no Jaçanã onde em Outubro aconteceu o evento Bairro Musical, que foi um encontro inventivo e harmônico de elementos tipicamente brasileiros com conceitos, idéias e sonoridades entre Salvador e São Paulo. Para quem quiser

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Foto Divulgação

Reinaldo Pompanet, um dos fundadores da cooperativa. O primeiro passo na estrada desses alunos, para encontrar esse caminho, começa pela ação da Usina Digital, onde eles passam a ter visão de mercado e trabalhar diariamente para oferecer produtos e serviços, além de aprenderem a cuidar dessa renda investindo a longo prazo. Para difundir esse trabalho, a Eletrocooperativa conta também com o portal na internet que é usado para disponibilizar e divulgar o trabalho dos alunos. Em São Paulo, além do modelo de ação junto aos jovens, a proposta é criar um

Instrutores durante a aula do curso de Teoria Musical.


Na São Paulo Das Maravilhas Renato Medeiros

Alice é uma jovem que vive uma rotina segura e tranqüila, mas que inesperadamente embarcará numa viagem a um mundo desconhecido repleto de oportunidades e figuras excêntricas. Se a principio essa parece ser a sinopse de Alice no País das Maravilhas, saiba que qualquer referência ao clássico de Lewis Carroll não é apenas uma mera coincidência quando o assunto é Alice, o novo seriado de HBO. Terceira produção nacional da emissora e a primeira a ter São Paulo como cenário, Mandrake e Filhos do Carnaval foram ambientadas no Rio de Janeiro, a série foi criada e dirigida pelo cearense Karim Aïnouz, dos longas Madame Satã (2002) e O Céu de Suely (2006), e pelo baiano Sérgio Machado, de Cidade Baixa (2005), e transcorre ao longo de treze episódios com custo médio de um milhão de reais cada. Na trama, a jovem Alice,

protagonizada pela mineira Andréia Horta, vive uma rotina segura em Palmas, no estado de Tocantis, com o irmão (Felipe Massuia), a avó (Walderez de Barros) e o noivo (Marat Descartes), quando precisa viajar às pressas à São Paulo para o enterro do pai, que se suicidou. Quando perde o vôo de retorno, Alice se vê obrigada a prolongar sua estada na casa de sua tia Luli, a dona de um brechó que costuma dar uns ‘tapas na pantera’ para relaxar e mantém um romance lésbico com a personagem Dora (Denise Weinberg, criadora do grupo teatral Tapa). Luli só não resvala para o caricato graças à interpretação da veterana Regina Braga, que esbanja humanidade e tridimensionalidade ao personagem. A trama aparentemente clichê sobre a jovem deslocada que chega a São Paulo para disputar a herança do pai é apenas o mote para mergulharmos na espiral de conflitos dos

vários personagens urbanóides, oportunidades amorosas (a cargo de Eduardo Moscovis) e para o despertar da crise existencial da protagonista, que ao investigar as motivações que levaram a morte de seu pai, acaba aprofundando a busca de sua própria identidade. Seguindo uma linha próxima ao da matriz norte-americana, que produziu séries como Família Soprano, Sex and the City, Oz e Os Assumidos, Alice também abusa dos temas polêmicos (uso de drogas, homossexualismo), linguagem forte, violência, cenas de nudez e sexo que escapam do padrão das emissoras convencionais, optando por criar um mosaico, sem maniqueísmos ou falsos moralismos, da metrópole e das vidas que pulsam na paulicéia desvairada.

Confira a nova série da HBO. Assista aos domingo, às 22h.


De quem é a voz?

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Mas não pense você que dublar é mamão com açúcar. A dublagem requer interpretação dos personagens, agilidade na fala, timbre de voz marcante, incorporar a personagem em sua essência, e antes de mais nada,

dublador de Seiya do desenho

para ser um dublador é preciso ser um ator profissional. Entretanto, para Zodja Pereira, uma das fundadoras do estúdio, a arte de dublar não é um trabalho difícil: “Difícil é aquilo que não queremos fazer e para o que não temos talento. A dublagem é uma especialização da profissão do ator/atriz. Se você tem uma boa formação profissional como ator e está disposto a aprender a cada novo trabalho já tem meio caminho andado”, explica. A Dubrasil Este ano, o estúdio de dublagem completa 3 anos e é o primeiro centro de treinamento

e m d u b l a g e m d o B ra s i l , buscando capacitar atores e crianças para esse setor. O trabalho desses profissionais da voz, já formou cerca de 165 dubladores. Além de cursos de capacitação profissional, a Dubrasil também promove as oficinas lúdicas. São atividades que permitem que leigos e curiosos degustem essa arte mágica. Já para os profissionais, as oficinas servem como uma experiência para saberem se estão no caminho certo. E para quem não é um dublador ou não se encaixa no perfil, não fica a tristeza. Se não podemos ser a voz famosa, somos o público assíduo, que ri, chora, se emociona, briga e sem dúvida nenhuma volta para a próxima sessão.

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Os Cavaleiros do Zodíaco é um dos desenhos dublados pela Dubrasil.

Fotos: Divulgação

magine você andando pelas ruas de São Paulo, mais especificamente na Vila Madalena, e dar de cara com Al Pacino, Keanu Reeves ou com a Jane Fonda. Isso mesmo, você pode encontrá-los num barzinho, tomando uma cervejinha. Mas um aviso, eles estão disfarçados. As vozes marcantes de atores famosos não têm rosto para quem as o u v e e m u m Hermes Barolli, filme, mas na Vila muitas delas se encontram em uma só fisionomia. É lá que a Dubrasil marca sua história, com dublagens que nunca imaginaríamos que são feitas aqui na nossa cidade, do lado da nossa casa. No Brasil, as pessoas não têm o costume de assistir filmes legendados, mesmo porque não é da nossa cultura aprender outros idiomas como em alguns países, daí a película ser chata e maçante para algumas pessoas. A dublagem entra justamente nesse cenário. Ela tem como objetivo permitir que as pessoas possam ter acesso às obras cinematográficas, independente de qual seja o seu idioma original.

degustação

Silmara Andrade


OS CAMINHOS OS DA VILA DA


Foto AAP


Do Gelo uma mistura cham

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ilhares de carros disputando espaços pelas ruas, enfeitadas por néons e árvores, que parecem também disputar o espaço nos olhos de quem assiste paralisado a situação. As filas vão aumentando e por onde quer que se olhe é possível ver, invariavelmente, as pessoas rindo. A cena descrita acima pode não fazer muito sentido. Para nós, paulistanos, o trânsito já é algo absolutamente comum, mas daí ver as pessoas rindo é um pouco demais, não é? Não. Pelo menos quando estamos falando de um sábado a noite na Vila Madalena. O congestionamento parece fazer parte do início da festa. Desde a rua é possível ver que estamos entrando em um outro mundo. Harmonia, Simpatia, Purpurina e outros tantos exemplos mostram que a Vila, como é carinhosamente conhecida, não é mesmo um bairro comum. Elas são parte desse mundo, onde tudo que se procura é possível encontrar.

Essa reunião cultural está ligada a alma da região. Antigamente vista como o ponto de encontro da boêmia paulistana, hoje a Vila Madalena é a casa de muitos estilos e gostos. O cardápio da Vila é exemplo desse imenso caldeirão. Tem comida italiana, grega, árabe, japonesa, chinesa, inglesa, alemã, francesa, e lógico, muita comida brasileira. Mas o bairro vai muito além da culinária, na verdade tem tanta coisa que é até difícil apontar o que não tem. “Aqui é um lugar que quem não conhece fica até assustado, mas que depois do choque sabe que aqui é um bom lugar, com muita coisa para se fazer e principalmente com muita festa”, conta Thiago Moreti, 21, estudante de Ciências da Computação, freqüentador assíduo da região. Opiniões, como as de Thiago, não são difíceis de encontrar. Principalmente quando está em jogo a fama festiva do bairro.

Alguns dos melhores bares


ao Fogo: ada Vila Madalena da cidade estão aqui (veja mais página 18). São, na sua imensa maioria, casas cheias de decorações atraentes e detalhes que formam um delicioso e inconteste mosaico sem forma, mas que tem seus inúmeros significados para quem está lá querendo, no mínimo, ir além do dia-a-dia. A variedade de opções chega ainda mais forte quando o assunto é música. É provável que o visitante viaje por um indiscriminado mundo musical andando por entre bares, restaurantes, g a l e r i a s , r u a s e p ra ç a s . É possível, por exemplo, andar pelas ruas e ouvir de longe um fundo musical variadíssimo. Em algumas regiões por certo o visitante ouvirá o que há de mais clássico na MPB, em outras escutará o velho rock e em outras o moderno som eletrônico, que embala algumas das baladas da região.

Isso sem esquecer das casas de Jazz, Soul, Black, Pop e Samba. Samba, aliás, que tem destaque na Vila Madalena. Bares e até uma Escola de Samba, a Pérola Negra (veja mais página 20), que está no grupo especial do carnaval paulistano, fazem parte do coro sambista que nasceu no bairro. A noite é, sem dúvidas, um dos principais atrativos da região, mas o que pouca gente sabe é que na verdade a Vila, feito a cidade de São Paulo, não pára. Festas, ações culturais e muitos pontos para visitação garantem o agito durante todo dia. Se o fogo cultural arde na Vila tem até quem apague. O bairro, além dos tradicionalíssimos bares e restaurantes, conta também com uma gama de respeito quando a pedida é inovação. Até um bar de gelo, o Ice Espaço, foi instalado na rua Purpurina para “resfriar” a região, que num verdadeiro caldeirão coloca fogo na cultura paulistana.


24 horas de tudo no ar A Vila Madalena para os paulistanos é sinônimo de agito. Baladas, festas, bares e restaurantes que traduzem bem a referência que todos temos da Vila: a noite. Mas não é só isso. A Vila, conhecida pelo seu badalado cardápio noturno, também possui uma intensa vida durante o dia. Além, é claro, das características que transformam o bairro paulistano em um exemplo claro do caldeirão de culturas e formas que é São Paulo. Como se não bastasse a existência de uma variada gama de atrações culturais, a Vila é também um delicioso ponto de lazer. Praças, becos, ruas e avenidas que se encon-

tram em largas ladeiras, enfeitadas por árvores cujos nomes estão aos olhos de todos, em placas que parecem dizer muito mais que o simples nome “natural” das espécies. A identidade da Vila Madalena vai além da simples balada. Roteiros culturais não são raros nem difíceis de se encontrar. Aqui você pode escolher o que quer fazer muito antes do sol cair. Caminhos embalados por Grafites, árvores que se transformam numa verdadeira aula de geografia e praças cujas áreas são um convite para exercícios ao ar livre, são algumas das opções que você pode escolher.

O Beco dos Grafites, que fica na descida da sugestiva Rua Simpatia, é uma dessas opções. Ruas e vielas estreitas são o habitar de muros decorados com grafites e inscrições. Nem o movimento intenso das ruas que cercam o lugar é capaz de diminuir a sensação provocada pelo beco. Pouco movimento, cores fortes e desenhos que mimetizam as idéias de seus criadores, dão o tom para uma divertida incursão no interior de uma Vila Madalena bem diferente da que a nossa primeira idéia nos trás. Outra sugestão é um passeio ecológico. O projeto “Vila Viva!”, promovido pela asso-


para teatro e shows, livrarias e até loja de artesanatos no mesmo lugar. Enfim, mas não por fim, realmente na Vila tudo pode se encontrar. Definitivamente em qualquer hora e em qualquer lugar.

saboreie

se vende por aí. E claro: o que se vende na Vila acompanha a lógica de todo o bairro. Há de se encontrar de um tudo nas ladeiras íngremes, paralelas e transversais que cortam todo o ambiente. Livrarias, lojas de móveis, produtos de beleza, roupas, cosméticos, brechós, antiquários, sex shops, enfim, o que se procura é possível se achar. A quantidade de produtos oferecidos é realmente um dos atrativos. No Ice Espaço, onde também há o Bar de Gelo, por exemplo, é possível almoçar e comprar os móveis para sua nova mobília. Outros exemplos, também se ligam a parte cultural. Não é raro encontrar Cafés, que misturam ambientes virtuais, oficinas, palcos

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Fotos AAP

ciação do bairro em parceria com o Herbário do Departamento de Botânica do Instituto de Biociências da USP e a Prefeitura de São Paulo, quer dar nome a quem nunca sai da Vila: as árvores. Idealizada por Rosely Bancaglione, e executada pelo Professor José Rubens Pirani, do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo, o projeto já identificou cerca de 500 árvores na região. As placas, que são fixadas nos troncos e proteções, informam aos moradores e visitantes as espécies que povoam e decoram as áreas livres, fica indicado o nome científico, além do nome popular. E por que não simplesmente comprar. Andar na Vila Madalena é acompanhar o que


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Deixa isso pra lá,

vem pra cá

Fotos AAP

o que quê tem...

ue a Vila Madalena é um misto de tudo o que se pode encontrar na cidade, isso a gente já sabe, mas saber o porquê desse histórico cultural é um tanto mais complicado. Apontar um “início” para o aquecimento cultural, segundo os próprios moradores, é difícil de marcar, entretanto nenhum outro fato contribuiu tanto para a formação desse imenso caldeirão cultural: a presença dos jovens, de vários estilos e gostos, que basicamente eram estudantes da USP. Foi aí que surgiu um novo horizonte ao bairro: a Boemia, que unindo a nova massa de moradores – cada um literalmente no seu estilo – e mais uma leva de imigrantes e moradores que desde o início do século XX dava cores as ladeiras da região, tornou a Vila num imenso balcão do mundo. A Vila Madalena foi se transformando em um lugar de pura boemia. Foi lá que uma legião de alunos da USP e outras faculdades se instalaram, formando Repúblicas e dando novas cores as casas e aos gostos da Vila. Isso ao mesmo tempo em que tradicionais moradores também transformavam a região num intenso baluarte do estilo de vida paulistana. Com todas essas variáveis e diferenças, a Vila criou em suas ruas e praças a multiplicidade que nós conhecemos. Bares e restaurantes variadíssimos, que nasceram dessa presença diversa de gostos e estilos, construções tradicionais, surgimento de galerias de arte, aumento do número de livrarias e sebos e muito mais. Mas o tempo passou e a Vila evoluiu. Calma a Vila Madalena não deixou de ser o caldeirão proposto, entretan-


saboreie

to, é óbvio: a Vila mudou. Hoje, a presença de condomínios e prédios suntuosos não é mais raro. O público se dissipou também. Ali não existem apenas estudantes da região. Na verdade, parece que São Paulo inteiro converge para o mesmo lugar. A noite parece eterna. Filas gigantes, baladas eletrônicas que se sobrepõem e irrompem o antes tradicional sem número de gêneros, luzes espalhadas e comércio, sem mais a pureza de uma simples república. Mas na essência o bairro permanece com a mesma alma. Agito, badalação, mas um eclético e variado cartel de opções. Na Vila parece que todo mundo se encontra, às vezes no mesmo lugar, outras vezes na esquina. Casas antigas, algumas até abandonadas, ainda dizem bem o que é a região. A Vila parece evoluir, mas basta andar por suas ruas pra saber que o mundo inteiro, nas cores, gostos, drinques, pratos, desenhos, telas e tudo mais ali está. A Vila não passa. Então é melhor não deixá-la pra lá.

A Vila como a Vila é “Fazer poema lá na Vila é um brinquedo”. A frase em questão é de Enio Squeff, jornalista, artista plástico, gaúcho, radicado em São Paulo há mais de três décadas, amante da Vila Madalena, seu habitat ideal nos tempos paulistanos, e responsável por uma das obras mais completas sobre o bairro mais charmoso de São Paulo. Enio é o autor de “Vila Madalena – crônica histórica e sentimental”, que através de breves histórias – muitas delas da lembrança do autor e moradores – conta a história da Vila, da sua formação até os dias “atuais”. No livro são apresentadas fotos e aquarelas, algumas do próprio artista, que compõem um cenário mítico

para o enredo mágico da região cuja história vai além das baladas e festas. Editado pela Boitempo Editorial o livro, que faz parte da coleção “Paulicéia”, possui 207 páginas de pura diversão e conhecimento sobre a Vila Madalena e também sobre a capital. Curiosidades e brincadeiras, passando até por um pensamento de independência da Vila como país, são alguns dos ingredientes que tornam este livro um irresistível volume de aprendizado e reverencia ao boêmio bairro paulistano. Este também é um pedido para conhecer melhor os sebos da cidade. Uma boa forma de se divertir e aprender mais sobre a Vila.

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ão Paulo. Os t e r m ô m e t r o s m a r c a r a m -15° C neste final de semana, na capital paulista. Menos quinze graus? Isso está certo? Sim, está. Encontramos, na Vila Madalena, um bar feito de gelo, uma “balada” que tem feito sucesso pelo mundo e agora também está conquistando os baladeiros de plantão aqui no Brasil.

por Silmara Andrade


balcão e até os copos. Na geladeira, que, aliás, é todo o bar, são servidas apenas bebidas à base de vodka, uma vez que o destilado é um dos únicos que não congela em baixas temperaturas.

A temperatura do ambiente principal pode variar entre -7º e -15º C. Toda a iluminação do local é feita com lâmpadas de LED, que não aquecem, assim não correse o risco do bar derreter. No bar também foram instalados aparelhos de circulação de ar para garantir ar renovado e possível para respiração. O espaço, com 40 metros q u a d ra d o s , l e v o u q u a t r o meses para ficar pronto. A decoração álgida deve ser mudada a cada três meses, e as empresárias já estão contratando dois chineses que virão ao Brasil para fazer as novas esculturas no gelo.

Gostou da idéia? Quer entrar nessa fria? O Ice Espaço está localizado na Rua Purpurina, 46, na Vila Madalena, em São Paulo. O horário de funcionamento é de quinta à sábado, das 19h à 1h, e aos domingos, das 14h às 20h. A entrada custa R$ 30.

Fotos AAP

Construído com 12,5 toneladas de gelo, o Ice Espaço foi uma idéia da empresária Mary Lúcia Resende, 36, e da arquiteta Vanessa Vilela Siqueira, 39, que se inspiraram em bares de gelo já existentes em países como Austrália, Dubai, China e Chile. Segundo suas criadoras, o bar gelado é o único do tipo no Brasil e atrai cerca de 200 pessoas por dia. Nessa gelada só podem entrar 20 pessoas de cada vez e o tempo máximo de permanência é de 30 minutos dentro da câmara fria. Antes de adentrar existe toda uma preparação. As pessoas são vestidas com casacos térmicos, botas e luvas de pelúcia para manter o corpo aquecido, além de ficar durante alguns minutos em uma antecâmara, uma sala com uma temperatura de 5° C, para se ambientarem e diminuir assim o impacto do choque térmico. A temperatura do ambiente principal pode variar entre -7° e -15° C. Tu d o é f e i t o d e g e l o : poltronas, paredes, esculturas,


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PULSA O CORAÇÃO DA VILA Ciro Godoy

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m meio a uma confusão de sons e músicas vindas dos bares e restaurantes, de motores de carros presos em um congestionamento de pessoas atrás de diversão, na noite de domingo; o que se ouve mais alto é o estrondo do coração da Vila Madalena pulsando. Esse coração bate na quadra, praticamente escondida, da escola de samba Pérola Negra.


Pérola Negra surgiu em meio à ebulição cultural que se iniciava na Vila. A escola foi formada pela comunidade do bairro, que com a valorização e a transformação em um bairro comercial, foram na maioria se mudando para outros locais, mas não deixaram de freqüentar a Pérola. “Dividiu um pouco a freqüência desse publico que vem das raízes da Pérola Negra e que hoje estão em bairros vizinhos, com visitantes da Vila Madalena”, é o que diz Edílson Casal presidente da Escola de Samba.

O chefe de h a r m on i a d á o s i n a l p a r a q u e u m s om poderoso desabe s ob r e os ou v i d os dos presentes Domingo após as sete horas da noite a quadra começa a ficar cheia. É dia e hora de ensaio. Os componentes da bateria esquentam seus instrumentos, o publico se aproxima e o chefe de harmonia, feito um regente ensandecido de uma orquestra, dá o sinal para que um som poderoso, com ritmo inquietante, desabe sobre os ouvidos dos presentes. O coração da Vila bate alto. Mas essas batidas não agradam a todos. Semanas antes a quadra foi lacrada pelo PSIU, divisão da Prefeitura de fiscalização do silêncio

urbano, por reclamação dos vizinhos pelo som alto que ecoa nos ensaios. Após um acordo, entre ambas as partes, a Pérola se comprometeu a ensaiar mais cedo e a “diminuir o volume dos tambores”, sob risco, caso descumprisse, da agremiação ficar sem ter onde ensaiar. O samba enredo para próximo carnaval tem o tema pomposo “Guiados por Surya a caminho da Índia em busca da pérola sagrada”, a principio não é fácil entender direito sobre o que era o enredo, mas coincidia com a marca de um perfume que patrocina a Perola. “A perspectiva no carnaval de 2009 é ficar entres as cinco maiores”, fala com a sincronia exigida o esperançoso Casal de MestreSala e Porta-Bandeira, que também ressalta a dificuldade de manter uma escola de samba, somente com taxas e recursos que recebe da prefeitura, da televisão, além da venda de fantasias. O Grêmio Recreativo Social Cultural Escola de Samba Pérola Negra é um centro de resistência de cultura popular na valorizada região de Pinheiros. Ao mesmo tempo, que é uma atração turística, um símbolo da “autentica cultura brasileira” na badalada Vila Madalena, se torna um dos últimos redutos de tradição do bairro, que com a valorização perdeu muito de sua identidade.

Fotos AAP

F u n d a d a e m 1 9 7 3 , a

SAMBA ENREDO 2009 ¨GUIADO POR SURYA, PELOS CAMINHOS DA INDIA, EM BUSCA DA PÉROLA SAGRADA ¨ O VENTO SOPROU... AROMA NO SONHO LINDO... UM JARDIM DE ALEGRIA UMA VOZ SOBERANA ME FEZ VIAJAR PARAÍSO DE ENCANTO E MAGIA PELOS CAMINHOS DA INDIA – SHANGRILA A PÉROLA SAGRADA FUI BUSCAR O SÍMBOLO MAIS PURO DO AMOR ALIANÇA ENTRE O HOMEM E O DIVINO TROUXE PAZ, SABEDORIA SURYA, LUZ QUE IRRADIA MISTÉRIO DA FÉ MILENAR CULTURA PRA ENRIQUECER, AO DESVENDAR EM GOA RESPIREI FELICIDADE DE CORPO E ALMA NA ESPERANÇA DE ENCONTRAR E PASSO A PASSO, AMOR O SOL ME ORIENTOU CHEGUEI AO TEMPLO DO IMPERADOR SENTI A MESMA PAIXÃO MAS NÃO VI BRILHAR MINHA JÓIA RARA VOLTEI AO JARDIM AQUELA VOZ DISSE ASSIM O CARNAVAL VALE OURO E A INDIA É INSPIRAÇÃO ENCONTREI VOCÊ NO MEU CORAÇÃO! MEU BATUQUE FAZ A VILA MADALENA DESPERTAR A COMUNIDADE ABRAÇOU COMPOSITORES: MYDRAS, CARLINHOS, BOLA, LADISLAU E MICHEL


Tesouros na Avenida

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André Geniselli

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O Fotos AAP

ambiente quente e abafado era intenso e só dava trégua, de tempos em tempos, com o sopro frio de um ventilador fixado na parede cuja rota panorâmica levava um vento sereno àqueles corredores labirínticos. Os minutos passavam sem sequer

serem notados, assim como o silêncio que reinava, exceto pelo som do ventilador. Tudo permanecia inalterado até que um disco raro da Elis surgiu na minha frente. A felicidade apareceu e logo depois tudo voltou ao normal. A cena se repetiria se a minha busca fosse um gibi raro ou um livro cuja edição já estivesse ausente das prateleiras das livrarias há um bom tempo e, por mais estranho que seja, se repetiria com o mesmo cenário, no mesmo lugar. Estamos na Avenida Pedroso de Morais, em Pinheiros, na região oeste de São Paulo. A concentração de sebos chama a atenção por aqui. Numa mesma quadra é possível, por exemplo, ter opções variadas de acervo e preços e ainda uma super loja, onde de tudo pode ser encontrado. A avenida, que recebeu o nome de um dos mais importantes Bandeirantes do desbravamento do interior paulista, é hoje sinônimo de cultura. Ao lado de outras avenidas da região, como a Teodoro Sampaio, a “Pedroso” é um dos principais pólos culturais da cidade, além de ser também uma das vias de acesso, ou de retorno, à Vila Madalena. Aliás, para muita gente a Pedroso de Morais é uma das opções da Vila que se estendem


para outros bairros. Situada em Pinheiros, bairro vizinho a Vila Madalena e sede de uma das 31 regiões administrativas de São Paulo, a avenida serve de caminho para inúmeras rotas paulistanas e principalmente como um roteiro gastronômico e cultural invejável. Mas de longe é possível notar que os sebos realmente fazem parte da tradição do lugar. Os carros e pessoas vão se acumulando e quase nunca os sebos ficam vazios, muito embora seja neles uma fonte de silêncio e paz dentro do ambiente urbano. Além dos Sebos outro destaque fica por conta da FNAC. A “super-livraria”, instalada próximo a travessa da Pedroso com a Avenida Cardeal Arcoverde, para muitos poderia significar um perigo real aos sebos da região, porém nem isso é capaz de causar preocupação aos livreiros. “A FNAC tem o público dela, mas nós temos o nosso”, anuncia João Freitas, 42, dono do sebo “Red Star”, que há 6 anos está na avenida, mas que há 18 já faz parte do hall dos principais sebos da capital – outra filial do Red Star fica na Teodoro Sampaio. “As pessoas podem até vir por conta da FNAC, só que na hora “H” conhecem os sebos, que normalmente saem mais em conta e possuem títulos mais raros”, continua Freitas em sua análise. João não fica sozinho com esta opinião. Para grande parte do público, composto basicamente por estudantes, admiradores e colecionadores, a FNAC tem outro papel e outro foco. Outro destaque dos sebos fica a cargo do Sebo Avalovara, de Bernardo Ajzenberg,

considerado um dos melhores da capital principalmente pela recepção, à base de jazz e muito conforto, do público que aproveita os mais de 15 mil títulos em seu vasto acervo. Basicamente a riqueza dos acervos não está ligado somente a quantidade de volumes na biblioteca. “Temos quase 40 mil títulos, 8 mil LPs e 10 mil gibis, mas o que nos torna diferente é a presença dos livros que realmente são especiais”, explica Freitas. O exemplo de Freitas pode ficar mais claro quando o a s s u n t o é a p r o c u ra p o r determinados livros. As vendas são extremamente variadas, entretanto, a diferença está na raridade. Enquanto volumes mais comuns podem aparecer por 3 reais, um exemplar da primeira edição de “Grande Sertão Veredas”, de Graciliano Ramos, pode superar a barreira dos mil reais. “Aqui você encontra o livro que você precisa, a música que você gosta, o gibi que você quer e o filme que falta na sua coleção, no mesmo lugar, sempre mais em conta e com o sentimento de conquista que não existe fora desse ambiente”, diz Leonardo Cunha, 23, estudante de Administração da PUC. Leonardo faz parte de um público variado que consome o que precisa e o que quer nas ruas da região. “Nada melhor que achar um livro bom num Sebo no sábado de manhã e depois, a noite, cair numa balada da Vila”, afirma Leonardo. Assim como ele milhares de pessoas seguem o mesmo caminho, curtindo no ar a cultura e o clima alegre de felicidade.

A Vila no Folhetim Que a Vila Madalena é um pólo cultural para os paulistanos já é mais do que certo. Agora, o que pouca gente se lembra é que a Vila já foi até tema de novela, que levou as ruas e becos do bairro mais charmoso de São Paulo para todo Brasil. A novela não podia ter outro nome: “Vila Madalena”, que foi ao ar em 1999, pela Rede Globo. Na trama, escrita por Walter Negrão, o bairro foi o cenário da história de Solano, personagem de Edson Celulari, e de Eugênia, vivida por Maitê Proença. A história mostrava a saga de Solano que fora preso injustamente e que tentava reencontrar a felicidade ao lado de Eugênia, sua ex-mulher e atualmente casada com o homem que provocou sua prisão. Solano ainda teria de resolver um envolvente triângulo amoroso, que envolvia além dele próprio e de Eugênia a jovem Pilar - interpretada por Cristiana Oliveira -, mulher do seu melhor amigo. Foram 155 capítulos, sempre às 19h, com uma curiosidade: não havia abertura. Pois é, a novela global resolveu inovar. Ao invés de uma abertura fixa, a direção do folhetim passou a divulgar alguns clipes com as músicas que compunham a trilha da novela. Entre eles Lenine e Maurício Manieri. Dirigigida por Jorge Fernando, a novela teve um grande elenco. Antônio Abujamra, Herson Capri,Ary Fontoura, Flávio Migliaccio e Laura Cardoso, além de Celulari e Maitê. “Vila Madalena” foi exibida até maio de 2000, mas seu sucesso não parou por aí. Além da apresentação tupiniquim a novela ainda aterrisou em Portugal, Nicarágua, Equador e Venezuela.


A Feira

de todos

os gostos

saboreie

André Geniselli

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A

noite passa na Vila Madalena. A rua nunca está vazia. As horas passam numa velocidade feroz para quem curte as baladas e num marejar quase de conta-gotas para quem espera o sol raiar. E tem gente que quer ver logo o sol nascer. Não passa de 3h30 da manhã. Ainda alguns bares recebem seus notívagos freqüentadores, quando de repente a rua Mourato Coelho se transforma. O antes movimentado cruzamento com a rua Aspicuelta, que leva ao encontro com a Fradique Coutinho, agora começa a descansar. As filas intermináveis se transformam em pequenos grupos que ainda insistem viajar pelo asfalto denso e as fachadas enfeitadas e brilhantes da Vila. Até que um caminhão invade a pista e põe um novo sonho, sobreposto ao anterior. Começa ali uma nova forma de cultura e festa: a feira. Do outro lado, a altura da esquina com a Rua Inácio Pereira da Rocha, uma barraquinha de pastel solitariamente vive seus momentos de balada. Ali os grupos isolados começam a se encontrar. Gostos e estilos variados dividem o mesmo espaço em nome do sabor inigualável do pastel de feira.

Pastel durante a madrugada

Não interessa que ainda sequer passe das 4h da manhã. Na espera pelo primeiro ônibus, pela carona, táxi, ou na espera de uma longa caminhada ou simplesmente no intervalo entre festas, é ali que o povo pára. “Tem como escapar de um pastelzinho depois de uma balada? Tem que aproveitar”, diz Juliana Campos, 21, estudante de Propaganda e Publicidade, que freqüenta as casas da região. Juliana não está só. A cena incomum realça um ambiente bem diferente do início da noite. As pessoas se acumulam sobre o olhar da Lua, enquanto matam a fome. Mas a Vila não pára. Logo ao lado uma série de caminhões começam a montar as barracas que logo cedo se transformarão em uma das mais

tradicionais feiras da capital - símbolo de um dos elementos mais marcantes da cultura paulistana. “Aqui tem que começar cedo. O pessoal está saindo das festas e a gente montando a feira. Mas têm alguns daqui que sequer dormem, tem feirante que também está saindo de festa. Isso é normal”, afirma Valdemar Moura, 42, feirante. O sol nasce. A impressão é que um novo lugar se ergueu. As luzes, filas e agitos da noite anterior dão lugar as cores, sabores, cheiros e sons da feira. Por um instante tudo parece comum. A feira é dona do espaço, pelo menos até às 14h, quando a festa volta a ser a rainha, de um lugar que de dona em dona, simplesmente não pertence a ninguém.


Órfãos do pernil Ana Carolina de Jesus

petisco

Vendido por cerca de R$ 5, o sanduíche de pernil é tostado na chapa, tem vinagrete, maionese, catchup, tudo dentro do tradicionalíssimo pão francês, também torrado na chapa. “Hoje você vai ao jogo, passa fome, e não tem como comer aquele delicioso lanche de pernil’, lamenta José Luis Cecílio, 27. Corintiano, ele faz questão de usar até o gosto pelo lanche para alfinetar a torcida rival: “O lanche de pernil é muito apreciado por nós pois sua carne é suína, e o Corinthians adora acabar com a porcada, ou seja, o Palmeiras, nosso maior rival!”, brinca Cecílio.

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Pastel é opção Nem só do espetáculo dentro das quatro linhas vive o torcedor brasileiro. Além da fome de gols, ele quer recarregar suas energias. Os famosos pasteis do Pacaembu, a feira mais cara de São Paulo, passaram a ser opção de alimentação para os órfãos do pernil que, para fugir dos lanches “horríveis” e caros vendidos internamente nos estádios, encontraram no também tradicional pastel, a solução para sanar a fome. As barracas preferidas, segundo a maioria dos entrevistados, são as dos japoneses conhecidos por Maria e “Zé”, que juntos, chegam a vender cerca de 3 mil pastéis num sábado.

Torcedores apreciando o lanche de pernil

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J

á dizia o velho ditado pronunciado por nãose-sabe-quem, mas extremamente verdadeiro: estádio sem sanduíche de pernil, não é estádio. Quem freqüenta os estádios do Brasil, sabe a importância das barracas cobertas de lona laranja no pré e no pós-jogo, do cheiro embriagante de pernil assado que impregna toda a região. Não importa se o palco é o Morumbi, Pacaembu, Palestra ou Canindé, a atmosfera do jogo perdeu um pouco do brilho após o banho de água fria dado pelo Governador José Serra (PSDB) e o prefeito Gilberto Kassab (DEM), com a proibição das barracas. A alegação é o “combate ao comércio ilegal”. A reação ao chegar no estádio e se deparar com os espaços vazios, sem o colorido das barracas é de perda. Torcedores órfãos de uma maravilha da culinária brasileira, injustamente pouco lembrada. É como feira livre sem pastel e caldo-de-cana. Provavelmente, Serra e Kassab pouco conhecem dos estádios e o ritual das torcidas: chegar mais cedo para comer lanche e bater papo com os amigos. “Devolvam o pernil”, grita a torcida corintiana no Pacaembu. O coro se repete entre palmeirenses, sãopaulinos, lusos... “Eles têm que entender que é ótimo pra população ir ao jogo e poder comer um belo sanduíche desses antes. Não estão prejudicando só o comerciante, mas os freqüentadores principalmente”, opina o torcedor Anderson Garcia, 28.


várzea 26 Foto Eric Akita CBBS Jogo entre as seleções Juvenis de Brasil e Japão

TEM GAIJIN NO BEISEBOL Ciro Godoy

Em uma Kombi velha, que é preciso ser empurrada para funcionar, portas que abrem sem aviso a cada curva feita pelo veiculo e com gasolina contada para o uso do dia, é assim que Agnaldo Veríssimo recolhe garotos em comunidades da zona norte de São Paulo, para treiná-los no novíssimo campo de beisebol em Pirituba, ainda a ser inaugurado pela prefeitura paulistana. Agnaldo é um ex-garoto de rua que conheceu o beisebol no inicio anos de 1980. Para ele o esporte lembrava muito o jogo de taco que ele brincava na rua. Em 1995 começou a treinar um grupo de escoteiro em Pirituba, quando um missionário americano começou a lhe fornecer material para pratica

do esporte. A partir de uma reportagem em um jornal local, começam a aparecer interessados, que levou a formação de diversos times de “rua”. Hoje, treinando cerca de 60 meninos de comunidades pobres, Agnaldo, em conjunto com a CBBS - Confederação Brasileira de Beisebol e Softbol -

implantou o programa Beisebol Social, que visa divulgação da modalidade, além de formar jogadores para os times da colônia japonesa, que tem dificuldade para seduzir novos adeptos entre os descendentes. “Como os times estavam com falta de jogadores eles abriram as portas aos gaijins”, ressalta


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o confiante treinador. alavanca para a modalidade. O beisebol foi popularizado O secretário acrescenta, “o no Brasil pela colônia japonesa, beisebol é um esporte que e ainda hoje é basicamente pode ter uma dimensão bem praticado por seus descendentes. maior no Brasil, e São Paulo Aos poucos estamos tirando essa dará sua contribuição”. coisa de que o beisebol é coisa Mas diferente do que diz de japonês, essas são palavras o secretário, o beisebol ainda do nipônico enfrenta muitas “ A o s p o u c o s dificuldades. presidente da CBBS, Jorge e s t a m o s t i r a n d o Agnaldo se O t s u k a . M a s essa coisa de que o s u s t e n t a assistindo ao beisebol é coisa de c o m a p e n a s jogo do Brasil 300 dólares japonês”. contra o Japão mensais, a impressão é Jorge Otsuka, enviados por presidente da CBBS. u m a i g r e j a outra. No ultimo americana e dia sete de setembro, um enfrenta desconfianças dos pais jogo amistoso entre a seleção dos garotos que não conseguem juvenil do Brasil contra a ver de que jeito um esporte sem seleção colegial do Japão, em projeção no país dará futuro aos comemoração a centenário da seus filhos, até porque a partir de imigração japonesa, causava certa idade surge a necessidade graça em Agnaldo, quando o dessas crianças se lançarem Cabeção, um menino franzino no mercado de trabalho para treinado por ele que o apontava ajudar no sustento da família como um prodígio no esporte, em detrimento até mesmo da indagava qual dos dois times era a seleção brasileira, visto que os dois times eram formadas por jogadores com pares de olhos puxados. O que se refletia nas arquibancadas, “aqui nós é que somos estrangeiros”, a f i r m a va o t r e i n a d o r d e Pirituba, em meio a milhares de espectadores de descendentes de japoneses que lotavam quase que completamente o estádio municipal de beisebol Mie Nishi no Bom Retiro. A construção do novo campo de beisebol em Pirituba da um novo ânimo ao projeto de popularização do esporte implantado pela CBBS junto com a prefeitura. Essa construção e a reforma do Estádio do Bom Retiro são apontadas pelo Secretário de Esporte do Município de São Paulo, Walter Feldman como

escola e ainda sob risco de serem aliciados por traficantes de drogas. Jorge Otsuka afirma que sustentar projetos sociais, como o feito em Pirituba, é muito caro e sem verbas não se consegue tocá-los. A Confederação conta com quase 70 times e cerca 5000 atletas filiados, são poucos se comparado a outros países Latino-Americanos como Venezuela e Cuba. Então é necessário popularizar o esporte. O futuro do beisebol no Brasil esta fora da comunidade j a p o n e s a . O e xe m p l o d o trabalho feito em Pirituba e a implantação do esporte em escolas públicas e universidades, pode ser a chave para projetar o jogo no Brasil, que na opinião de Feldman, pode ser a solução para o crescimento não apenas do beisebol, mas também de outros esportes.

Agnaldo orientando os pequenos jogadores


O que te faz feliz? André Geniselli

primeiro plano

Surreal. A chuva em São

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Paulo parecia cada vez pior. A quarta-feira ia embora e o céu nublado e chuvoso dava lugar ao tom negro da noite. Os carros parados mostravam bem o caos que a chuva criava. Todos parados e nosso caminho aberto parecia cada vez mais longo. Andávamos pelo Cemitério do Araçá, um dos mais antigos e importantes cemitérios da cidade paulistana. Os túmulos silenciosos tilintavam ao som das gotas. O portão trancado impedia nossa passagem. Finalmente nos demos como “perdidos”, na administração de um dos mais povoados velórios de toda a cidade. O cheiro adocicado das flores contrastava com o ar carregado pela intensa movimentação de corpos. Caixões, velas e coroas de flores enfeitavam um cenário mórbido para minha irrefutável pergunta: “Por favor, o Osmair está?” A resposta, depois de uma pausa longa, foi um simples “só um instante”. Permanecemos vendo a dor estampada nos rostos que nos faziam companhia. Até que no fundo surge um sorriso. Era ele. Osmair. Osmair Camargo Candido, coveiro do Araçá e um daqueles

personagens que só São Paulo pode ter. A proximidade da morte simplesmente ruiu quando, enfim, nos apresentamos. Um “Hi, Boy!” alegre destruiu todo e qualquer estereótipo que nós ainda poderíamos ter. Mas o que de tão especial poderíamos ver naquele simples coveiro? Formado em Filosofia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e mestrando também em filosofia, Osmair se destaca. A habilidade com as palavras, algumas carregadas com o sotaque carioca de sua terra natal, mostram outra de sua especialidade: Conversar. Professor de cursinho popular durante muito tempo, chegou a ser apontado em pesquisa da “Folha de S. Paulo” como um dos cinco melhores educadores dos cursinhos de São Paulo, como ele mesmo conta. “Já dei aulas, escrevi durante algum tempo as tirinhas dos “escrotinhos” do Angeli, fui guia turístico no cemitério, estudo arte, fiquei entre os cinco melhores professores de cursinho na opinião da Folha, já fui entrevistado pelo Jô [Soares], quer dizer sou um cara que fez o que gosta e que vivi o que quis viver”, resume com o sorriso no rosto o animado coveiro. Mas sua grande paixão é realmente a filosofia. Leitor e conhecedor assíduo dos grandes nomes da ciência que,

na opinião dele, “busca o conhecimento universal dentro do homem”, não hesita em talhálos como “fundamentais”. “A filosofia persegue a verdade, que jamais pertencerá ao homem”, diz o coveirofilósofo. “Ela [a filosofia] dá ao homem essa busca incessante em pensar, em fomentar e querer entender a ética, a moral e a civilidade em nós mesmos”, continua Osmair em sua análise apaixonada. São Paulo, aliás, é outra p a i x ã o d e O s m a i r. “ H o j e olhei São Paulo e todo seu movimento e resolvi dizer que a amava. Tem lugar mais lindo que esse? Isso aqui não tem dono. É o mundo todo no mesmo lugar, é cosmopolita, mas te dá chance de não ser mais um”, reverencia o coveiro em sua avaliação da cidade. Segundo Osmair, a cidade dá a chance de se tornar único, fugir da massa, como julga ser seu ideal. “O homem não pode ser comum, não pode ser “com nada”, tem que ser singular e aqui você tem essa chance, tem lugar que as pessoas morrem de fome. São Paulo é uma ilha que tem problemas, mas que se você lutar pode chegar a ser o que sonhou”, dispara o filósofo. Aliás, fugir da massa e vencer preconceitos parece ser uma rotina na sua vida. Flamenguista e carioca, de Campos de Goitacázes, o coveiro, que não revela a idade, conquistou sua faculdade a base de muito suor e ainda vive com o preconceito, mesmo velado, por conta de sua profissão. Conseguiu sua bolsa no Mackenzie na época em que trabalhava como faxineiro nos prédios da Universidade. Fo r m o u - s e c o m l o u vo r e


apesar da disparidade social que enfrentava na sala de aula, conseguiu ainda estudar e aprender alemão, num curso da faculdade Ibero-americana, além do inglês, espanhol e francês. Mas nem por isso Osmair consegue deixar de se comover com seu trabalho. “O trabalho é duro, cansativo, e sempre mexe com a gente, mas eu precisava do dinheiro e não tinha o que fazer. Hoje eu me acostumei, mas ainda me emociono. Eu procuro separar a lógica do meu trabalho, pois por mais que eu tente é impossível não se comover com o que nós vemos. O homem quando olha pro próximo quer ver um sorriso. Quando se vê a dor no outro é difícil suportar”, conta Osmair. “Cazuza dizia, e eu concordo, que na dor todo mundo é igual, então é isso. Eu sinto a dor do outro e não posso fazer nada”, conclui o coveiro. Nesse instante o sorriso sumiu. A conversa parecia caminhar para a tristeza da comoção, mas num breve acenar e na fala mansa tudo mudou: “vamos embora que senão minha patroa vai chiar”, sorriu Osmair. A conversa que começou no velório do Araçá, às sete da noite, percorreu Higienópolis e Consolação até parar numa mesa de bar, já beirando a madrugada. Tudo até que num sorriso esguio o filósofo resolveu sair. No seu último recado a surpresa: “Tem que viver, rapaziada! Senão não dá!” e assim o sorridente Osmair foi embora, no último vagão do seu silencioso trem. Definitivamente deu pra esquecer o Araçá.

“A filosofia persegue a verdade, que jamais pertencerá ao homem”

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Osmair Cândido


CRÔNICA, SÃO PAULO. O MUNDO NO PONTO FINAL Num instante tudo mudou. Pela minha frente passava o mundo e meus pés me faziam caminhar sem que eu soubesse a direção. A respiração forte e densa seguia o compasso do coração, que acelerava com o passar daquela “Torre de Babel” inusitada. As pessoas passavam. Cada uma com um gosto diferente. Todas se falavam, mas nenhuma falava a mesma língua. Nem por isso havia discórdia, lá havia Harmonia. Andava em círculos, girava pelos quarteirões em busca de uma razão que me explicasse o poder daquele momento. Nada surgia, a não ser novas pessoas e suas novas línguas. O riso contagiante dava conta da felicidade que reinava. Eu era o único, que por entender nada, não pude dizer que era feliz. Os sons mudavam, minha angústia também. Os ritmos variavam na mesma proporção que a quantidade de idiomas que se falava. Era de tudo. Rock, samba, reggae, salsa, mambo, axé, bolero, tango, tecno, house, psy, funk e muito mais. Havia também as fusões. Era samba-rock, afro-reggae, tango-tecno e etc. Era tudo. Nada ficava quieto. Nada ficava parado. A noite pulsava no marejar de luzes e

sons que escapavam das ruas. Tudo parecia incrivelmente feliz. Era a percepção de que o mundo não precisava de mim para tentar ser feliz. O mundo sorria e eu não. Por medo, puro medo. Não percebi que mesmo diferente eu fazia parte daquele momento. Minha cabeça rodou, fiz de tudo para permanecer em pé, mas não consegui. Cai e vi que o mundo não parava a meus pés. Tive que arranjar forças para me levantar. O susto passava num conta-gotas lento. Fiz da minha noite o meu pensamento. Estava só, mesmo dentro de tudo. O tempo ruiu. Percebi que não havia motivos para me incrustar naquela falsa solidão. Resolvi sorrir, antes que o mundo acabasse fatalmente eu iria ser feliz, mas o tempo passou. Num passe de mágica o sol raiou. Trouxe consigo o dia e de novo o mundo me abandonou. Todos, cada um com sua língua, escaparam pelas ruas e vielas daquele lugar. A vila ficou quieta. Vazia. E eu, outra vez, só. Pelo menos até próxima noite, quando o mundo todo aqui estará. André Geniselli

Tremoço




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